Fundamentos da Psicanálise
Tema de abertura:
A histeria e a invenção do setting analítico Coordenação Alexandre Simões
ALEXANDRE SIMÕES
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Proposta geral do curso:
abordar os conceitos e as circunstâncias clínicas que fundamentam a experiência psicanalítica,
dando especial atenção aos efeitos da pulsão sobre as subjetividades e ao campo do inconsciente para,
daí, se pensar no manejo clínico das neuroses na atualidade
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Agosto:08/08: A histeria e a invenção do setting analítico.
22/08: Sexualidade e psicanálise: uma nova paisagem.
Setembro:05/09: A pulsão e sua ruptura com a natureza.19/09: A pulsão e sua aventura.
Outubro:03/10: A tópica do inconsciente.17/10: O inconsciente e seu sujeito.
Novembro:07/11: A clínica das neuroses na contemporaneidade.21/11: Subjetivação e atualidade.
Nosso percurso:
Freud e o encontro com o sujeito histérico:
Deu-se, inicialmente, por meio de mulheres histéricas que, em larga medida, até então deparavam-se com o
‘niilismo terapêutico’ que lhes era reservado ao final do
século XIX
Niilismo terapêutico:
A maior parte destas mulheres apresenta seus sintomas com uma marca típica da posição subjetiva histérica: a queixa atrelada à reivindicação;
Não só se lamentavam de amores, decepções, frustrações e demais situações nas quais eram preteridas por outros, contudo, portavam um corpo fartamente capturado pelo excesso;
O corpo, capturado pelo excesso, surge como a superfície na qual o sintoma se aloja e desliza: temos, assim, as paralisias de partes do corpo, perda de sensibilidade (à dor, ao tato), suspensão de funções (visão, audição, olfato, locomoção), etc.
Esta escrita do mal-estar no corpo não se submetia a nenhuma geografia prévia do corpo (geografia demarcada por saberes biologicistas tais como a Anatomia e a Fisiologia).
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Isto deixava este corpo renegado à dupla posição de enigma e farsa, obstaculizando o sofrimento histérico (esta espécie de sofrimento sem adoecimento) a ser assumido clinicamente.
Daí, o niilismo terapêutico;
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Voltemos ao encontro de Freud com o sujeito histérico ...
Este ‘encontro’ de Freud com as histéricas é composto por várias
cenas:
Cena na qual a associação livre é proposta:
a demarcação do ato clínico e a produção do psicanalista
pela histérica
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Vejamos esta cena nos Estudos sobre a histeria:
O encontro de Freud com a Sra. Emmy von N.: “... Comecei o tratamento de uma senhora de cerca de quarenta anos, cujos sintomas e personalidade me interessaram de tal forma que lhe dediquei grande parte de meu tempo e decidi fazer tudo o que estivesse ao meu alcance para recuperá-la.” (p.79)
“Essa foi minha primeira tentativa de lidar com aquele método terapêutico [a hipnose]. Estava ainda longe de tê-lo dominado; de fato, não fui bastante à frente na análise dos sintomas, nem o segui de maneira suficientemente sistemática” (p.79) ALEXANDRE
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“Sugeri que ela se separasse das duas filhas, que têm governanta, e se internasse numa casa de saúde, onde eu poderia vê-la todos os dias. Concordou com isso sem levantar a menor objeção.” (p.81)
“Aproveitei também a oportunidade para lhe perguntar por que ela sofria de dores gástricas e de onde provinham. Creio que todos os seus acessos de zoopsias são acompanhados por dores gástricas. Sua resposta, dada a contragosto, foi que não sabia. Pedi-lhe que se lembrasse até amanhã. Disse-me então, num claro tom de queixa, que eu não devia continuar a perguntar-lhe de onde provinha isso ou aquilo, mas que a deixasse contar-me o que tinha a dizer.” (p. 91)
Cena na qual o espaço da clínica é
desdobrado:
Caso Katharina:
“Nas férias de verão do ano de 199... Fiz uma excursão ao Hohe Tauern [uma das mais altas cordilheiras dos Alpes Orientais] para que por algum tempo pudesse esquecer a medicina e, mais particularmente, as neuroses. Quase havia conseguido isso quando, um belo dia, desviei-me da estrada principal para subir uma montanha que ficava um pouco afastada e que era renomada por suas vistas e sua cabana de hospedagem bem administrada. Alcancei o cimo após uma subida estafante e, sentindo-me revigorado e descansado, sentei-me, mergulhado em profunda contemplação do encanto do panorama distante. Estava tão perdido em meus pensamentos que, a princípio, não relacionei comigo estas palavras, quando alcançaram meus ouvidos: ‘O senhor é médico?’. Mas a pergunta fora endereçada a mim, e pela moça de expressão meio amuada, de talvez dezoito anos de idade, que me servira a refeição e à qual a proprietária se dirigira pelo nome de ‘Katharina’. A julgar por seus trajes e seu porte, não podia ser uma empregada, mas era sem dúvida filha ou parenta da hospedeira. (...) [continua ->]
Assim, lá estava eu novamente às voltas com as neuroses – pois nada mais poderia haver de errado com aquela moça de constituição forte e sólida e de aparência tristonha. Fiquei interessado ao constatar que as neuroses podiam florescer assim, a uma altitude superior a 2000 metros; portanto, fiz-lhe outras perguntas.(...)” (p.143)
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Cena na qual a posição de intervenção do analista é
estabelecida:
Temos aqui Dora (Ida Bauer), uma jovem que quando chega a Freud, estava em vias de completar 18 anos de idade.
O pai de Dora (Philipp Bauer) a conduz a Freud e, de início, apresenta a filha como uma enferma, mas já indicando que suas crises afetam a toda a família, ou seja, o próprio pai, a mãe eclipsada e o irmão.
A harmonia havia sido quebrada dois anos antes e desde então a família (e, em especial, Dora e seu pai) vivia em um incerto equilíbrio em função de uma situação que o pai de Dora, na sua exposição da situação, ocultou de Freud:
O pai tinha como amante uma mulher casada chamada Senhora K (Peppinz Zellenka) e, além disto, havia uma espécie de quarteto entre o Sr. e a Sra. K, de um lado e o pai de Dora e ela própria, de outro. A mãe de Dora, como em tudo mais, permanecia a parte dessa situação.
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Em suas primeiras sessões, Dora expõe para Freud uma reivindicação bem nítida quanto ao amor de seu pai em relação a ela. Ela afirma que toda a situação entre seu pai e a Sra. K havia interferido na grande
atenção que, até então, seu pai lhe concedia.
Junto a isto, Dora tem seguido muito de perto todos os acontecimentos do quarteto até o ponto deles se
mostrarem insuportáveis para esta jovem.
A resposta que Freud dá a Dora é finamente demarcadora do lugar desde onde o psicanalista
intervém:
‘tudo o que acaba de me contar, toda esta situação na
qual você se vê envolvida: por acaso não é algo do qual você
também tem participado?’
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A histeria como posição subjetiva:
o sujeito se apresenta dividido - em conflito, em dúvida, aprisionado em
uma encruzilhada amorosa, profissional, familiar, etc. - e, tipicamente, se dirige
a alguém investido de uma posição especial/privilegiada (reconhecido, na
abordagem lacaniana, como um Mestre/Senhor).
Este direcionamento ao Mestre ocorre sobretudo mediante a sedução e se fará acompanhar da demanda de resolução da divisão, mas, notemos: para fazê-lo
fracassar repetidamente.
Histeria:
Não se resume a manifestação de sintomas.
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Histeria:
ser afetado pelo desejo do Outro
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CAMINHOS DA AFETAÇÃO:
DissociaçãoConversão
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Subjetivação e Corpo:
a morada do sujeito
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A construção do setting analítico na experiência
clínica da histeria:
Versatilidade -> nomadismo ... ou a indagação acerca da
configuração/conceituação permanente do espaço e do
lugar da clínica
Standard -> critério, fundamento.
Quais são as condições requeridas para que um ato clínico tenha um efeito
analítico? ALEXANDRE SIMÕES
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Prosseguiremos no próximo encontro (22/08) com o tema:
Sexualidade e psicanálise: uma nova paisagem.
Até lá!
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