7/18/2019 Christopher Hill - Os Pobres e o Povo Na Inglaterra Do S Éculo XVII (4)
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fíl
IDEOLOGI E PROTESTO POPUL R
NOS SÉCULOS
XVII
XIX
Organizado
or Frederick Krantz
Jo r e Zaha r Editor
7/18/2019 Christopher Hill - Os Pobres e o Povo Na Inglaterra Do S Éculo XVII (4)
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Pobres
e o Povo na
nglaterra
do
Século XV
hristopher
Hill
Para
começar, preciso deixar claro
um
ponto.
A
palavra
povo
é com
frequência
maltratada hoje, como
nas
ocasiões
em que
políticos dizem
que
o povo quer isto ou o povo não tolerará isto , quando, estatisticamente,
não têm a
mínima ideia
do que o
povo quer.
Mas o
fato
de
podermos com-
preender que estão maltratando a palavra mostra que há um significado
acordado. O povo da Inglaterra significa os habitantes deste país, todos
eles, homens
e
mulheres, ricos
e
pobres. Conforme veremos, porém,
as
coisas
não
eram
tão
simples assim
no
século
XVII.
Pouquíssimos,
na
ver-
dade,
que
usavam
á
palavra
povo
incluíam todos
os habitantes.
O
emprego linguístico,
naturalmente,
relaciona-se
com a
prática
políti-
ca.
Constitui quase
um
choque recordar
que só
neste século
todos os
adul-
tos
foram
considerados como povo no sentido de ter direito a um voto para
eleger
o
Parlamento. Historiadores
do
século
XIX
aceitavam
com
toda
se-
riedade
alegações do século
XVII
de que o Parlamento representava o povo
da
Inglaterra porque lhes parecia que
s u
Parlamento representava-o, em-
bora apenas uma minoria da população tivesse direito ao voto. Só no pre-
sente século
é que os
historiadores
se
tornaram conscientes
da
importân-
cia
deste ponto cego. Como acontece com tanta frequência, a
história
teve
que ser
reescrita
não
porque nova prova tivesse sido descoberta
mas por
causa de
mudanças
na
sociedade
em que
viviam
os
historiadores. Neste
caso,
a
adoção
do
sufrágio
universal tornou-os mais conscientes
de sua au-
sência no
século XVII.
Ao
irromper
a
guerra civil entre
Rei e
Parlamento
em
1642, este últi-
mo
teve
que
arranjar argumentos para justificar
sua
posição contra o pri-
meiro,
que
fora aceito como Ungido pelo Senhor, governando
por
direito
divino,
e não
apenas
por
tradição,
por
direito histórico
e
legal.
Que
direito
tinha
o
Parlamento
de se
opor
a
ele?
A
resposta encontrada
foi que o
Par-
lamento representava
o
povo
da
Inglaterra
e que o
povo,
em seu
todo,
era
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Chrislopher
H iU 5
superior até mesmo ao Rei. Alegaram mesmo alguns, para horror dos con-
servadores, que o
texto bíblico Não toqueis
nos
meus ungidos referia-
se
a
sujeitos
inferiores...
Esse perigoso dogm a , escrevia
um
panfletário
já
em 1642, foi martelado nos ouvidos do povo como se ele apenas
fosse
o
ungido, ninguém mais
mas
apenas
ele .
Mas
ainda
que o
povo fosse
superior
ao
Rei, perguntas incómodas foram
feitas em
discussões livres
por
volta
da
década
de
1640 sobre
a
medida
em que o
Parlamento
era real-
mente representativo.
O
realista
Sir
Robert Filmer divertiu-se muito obser-
vando que, longe de representar o povo da Inglaterra, o eleitorado parla-
mentar na
verdade incluía talvez
um em
cada
dez
ingleses
— dez da
classe
alta.
Os
Niveladores apresentaram
o
mesmo argumento
do
ponto
de
vista
oposto. Mas eles — ao contrário de Filmer — pensavam que o
sufrágio
devia ser
ampliado,
de
modo
a
tornar
o
Parlamento representativo
de
toda
a
população masculina.
Neste ponto os pensadores políticos parlamentaristas meteram-se em
águas fundas. A retórica da acusação no julgamento de
Carlos
I,
quando
ele foi
condenado
à
morte
como
traidor
do
povo
da
Inglaterra,
e da
legis-
lação que abolia a monarquia em 1649, explorou muito a superioridade do
povo em relação ao Rei. Mas ainda que o Parlamento Longo de fato
representasse
o povo, era
fato
bem sabido que, antes de
o
Rei ser levado
a
julgamento, uma grande maioria de membros do Parlamento teve que
ser expurgada pelo coronel
Pride.
O Remanescente que sobrou do Parla-
mento,
sentado sobre
as
baionetas
do
Novo Exército Modelo,
dificilmente
se
parecia com o povo da Inglaterra — e menos ainda com
o
próprio exér-
cito,
pensavam muito contemporâneos.
Mas,
neste caso, quem
era o
povo?
A
pergunta permaneceu.
Fora
fo r -
mulada
um
século antes. Quando
um dos
propagandistas
de
Henrique VIII,
William
Marshall, traduziu
o Defensor
Pacis
de
Marsiglio
de
Padua,
em
1535, viu-se
obrigado, irritantemente, a
interromper
o
texto
de
tempos
em
tempos com
notas marginais, explicando
aos
leitores que,
a
despeito
das
aparências, quando Marsiglio falava no povo ele não se referia a todo o
povo. Em
toda esta longa crónica,
ele não
fala
da
multidão vil,
mas do
Parlam ento ; nos casos
em que fala em tal
multidão,
ele se
refere
a que
está reunida
no Parlamento .2 No
reinado
de
Elizabeth,
Sir
Thomas
Smith
declarou que a com unidade consiste apenas de homens livres . Diaristas,
agricultores pobres e outros que não possuem propriedades livres e alo-
diais nem têm voz nem autoridade em nossa
comunidade
e não se os deve
levar em conta, salvo para serem governados .
3
Um assustado baronete
insistiu
nesse ponto em
1641:
os arcebispos, os nobres,
juntamente
com
a
pequena nobreza,
as
gentes
de boa
família
e
educação, consultam-se entre
si
e estabelecem as regras de governo; os plebeus se submetem e as obede-
cem .4
Em 1641, porém, os plebeus não estavam se submetendo e obede-
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gg a outra história
cendo cegamente, como se esperava deles. Após
1 < S 6 0 -
porém, ó duque de
Albefrriarle podia dizer com mais confiança
que
"os mais pobres e mais
humildes
não
têm
interesse
ria
comunidade, salvo
o de
respirar".
5
Os ho-
mens
de propriedade do século XVII herdaram um horror ao Monstro de
Muitas Cabeças, a população ignorante e irracional.6
Dessa
maneira, escritores de classe superior tendiam a excluir os po-
bres Ho
"povo
livre , embora não o
fizessem
de
forma
muito precisa ou de-
liberada. Eles
simplesmente
não pensavam nas classes mais baixas (não
mais do que
pensavam
em mulheres) quando se referiam ao "povo" que o
Parlamento representava. O anónimo
The
Lawes
of
England provavelmen-
te
escrito
por um
puritano
nas décadas de 1620-ou
1630, citava como
um
dos direitos
do
"povo" — "aquelas
jura
f
amiliae consistindo de esposas,
filhos, servos, bens e terras", sobre os quais todos os pais de família são
senhores e reis em
suas
próprias
casas".
7 O exemplo mais conhecido
'no
particular
é
o do capitão Adam
Baynes,
membro
do-
Parlamenta por York-
shire, em discurso; nessa assembleia em 1659.
Discutindo
as causas da guer-
ra civil, disse ele que "o povo como dono de propriedades era
insuportá-
vel para ò Rei; e, 'em armas', 'insuportável demais... A propriedade em
geral está agora com o
povo..'-. Todo
governo se baseia na propriedade,
pois;
hão
fosse1
assim,
os
pobres
é
que
governariam .
Aparentemente,
pobre
não
é
povo porque não tem
propriedades.8
A questão, aliás, surgira antes, em outubró-novembró de 1647; no
Conselho Geral-
do
Exército,' reunido em Pútney. O
exército acabara
de
vencer
a
;guerra
contra o Rei e este Conselho - Geral, formado de generais,
de alguns oficiais representantes das fileiras è de alguns Niveladòres lon-
drinos,
discutia
qual devia
ser a
futura Constituição
da
Inglaterra
— uma
ocasião
excepcional.
O coronel Rainborough e
os
Niveladòres pediram —
ou
pareceram
pedir
— 'o
sufrágio
masculino sobre
o
fundamento
'de que
todos
os
homens tinham direito natural
ao
voto.
Os
Niveladòres
e
seus
correligionários
em
Pútney ficaram muito confusos quando
o
Comissário-
Geral Ireton
sugeriu
que os mesmos argumentos podiam
ser
usados para
defender um direito natural de todos os
homens
a propriedade — isto é,
para justificar o comunismo. A maioria dos Niveladòres era favorável à
propriedade
privada
e talvez não tivesse
pensado
bem em
todas
as
impli-
cações de frases retumbantes, como a
de Lilburne,
de que "os mais
pobres
têm
um
direito
tão
autêntico
a
votar...
corrio
os
mais ricos
e
mais
nobres".
9 Rainborough
pronunciou
ás palavras famosas o
mais
pobre
que há
na
Inglaterra
tem
tanto
uma
vida para viver
como o
mais rico- é,
por
conseguinte...
Eu
penso
que o
homem mais pobre
na
Inglaterra (todo
homem nascido ria Inglaterra") não
está
em absoluto sujeito em sentido
estrito ao governo no qual não
teve voz
em se submeter . Ireton,
repetindo
Sif Thomas 'Smith,
retrucou
que "o fato de um homem nascer aqui não
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Çhristoph r íill 37
lhe dá direito a um voto: o sufrágio
1
está vinculado à propriedade. Por
povo, susten tou Ireton , entende-se aqueles que poss uem interesse perma-
nente na terra . O
coronel
Rich
acrescentou
que se
senhor
e
servo fossem
eleitores iguais, então
a
maioria pode,
por uma
lei...
destruir
a
proprie-
dade . Se
qualquer qualificação
de propriedade :
fos se man tida, disse ele,
cinco sextos do povo seriam excluídos do direito ao voto. Que garantias
têm os
senhores, perguntaram
Rich e
Ireton, de
que se o
voto
for conce-
dido aos
pobres-eles não
votarão pelo comunismo e pela divisão das pro-
priedades
dos
ricos?10
insígixs
i r c
- y . . :
-r:o ) n k
Os Niveladores não
possuíam
uma resposta pronta. Provavelmente, es-
tavam
divididos entre
si.
Alguns deles estabeleciam
uma
distinção entre
os
homens livres e os pobres;
Todos
os habitantes que não perderam seu
di-
reito-inato , disse Maximilian Petty , devem
ter
voto igual
nas
eleições .
E sugeriu que os pobres haviam perdido sua liberdade inata tornando-se
— r
pelo menos
temporariamente.—
dependentes
de outrem. Isto se
aplicava
também a aprendizes e a
serviçais
que
residiam
com os patrões.
Alguns
dias
depois, o Conselho Geral do
Exército
votou no sentido de estender o su-
frágio a
todos, menos
a
.serviçais
e a
mendigos.,
11
,
í - . r . ' , ; ; , , . ; . . - • •
distinção
aventada por; Petty era na
verdade
muito sofisticada. A
maioria dos teóricos
políticos
parlamentaristas
continuou
a falar no
povo ,
e apenas quando pressionados é que reconheciam que não incluíam
os
po-
bres. Assim,
Marchamont
Nedham, propagandista do governo republicano
na década de 1650, declarou que quando mencionamos o povo não nos
referimos
ao corpo confuso
e
promíscuo
do povo ;
por povo entendemo s
aqueles que serão devidamente escolhidos para representar sucessivamente
o povo em suas assembleias supremas .
12
Para todos os efeitos, ele poderia
estar quase lendo
as
notas
de Marshall à sua
tradução
da
obra
de Marsi-
glio
e isto foi o mais
perto
que chegou de uma definição. Em 1653, Robert
Norwood
afirmou
que os Parlamentos são o povo reunido , que entre
si escolheu pessoas
em
todas
as
partes
da
terra . Respondendo
a uma
per-
gunta sobre quem deveria julgar a
justiça
das leis do Parlamento respondeu
que ora, todos os ingleses, todo o povo da Inglaterra, em e por suas vá-
rias cortes e
servidores. . .
centenas de cortes, cortes de condado, cortes
de investigação,
xerifes,
júris e coisas
assim .13
Aqui, todo o povo signi-
fica no máximo todos os chefes de família.
Thomas
Hobbes chegou perto de uma descoberta im portan te quando
argumentou
que o
estado
é
fundado
no
consentimento
do
povo
e
que,
a
este respeito, todos
os
homens
são
iguais.
Hobbes,
porém, incluíra
o
indi-
vidualismo competitivo
na sua
psicologia básica
do
homem
e o
objeto
de
sua análise nem de longe era o estabelecimento de uma democracia. Muito
ao contrário, arg umentou que a for m a de governo era irrelevante, enquan-
to os súditos fossem protegidos da anarquia a que, de outra forma, levaria
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38 outr históri
sua com petitividade inerente. De modo que o
efeito
disto consistia em de-
fender
o st tus quo — qualquer velho st tus quo — contra mudanças de
todos os tipos, ainda que, uma vez,
ocorrida
a mudança, ela devesse ser
aceita.
James Harrington (Baynes
era
harringtoniano) elaborou
um a
teoria
política republicana na qual sempre falava no governo
como
baseado no
povo, embora, em sua comunidade ideal, criados não fossem cidadãos. A
distinção entre homens livres e criados parecia-lhe por assim dizer natu -
ral , não
derivada
da Constituição mas existente antes da formação do es-
tado.14 Criados nem tinham direito ao voto nem podiam portar armas. Na
Inglaterra, argumentou, o poder económico no século anterior a 1640 pas-
sara para
o
povo ,
que
subvertera
o
equilíbrio tradicional adqu irindo
terras
à
Coroa, à Igreja e à aristocracia. A revolução de 1640 fora simplesmente
uma questão de ajustar a superestrutura política de modo a restabelecer o
equilíbrio. Por povo Harrington evidentemente entendia pessoas detentoras
de alguma propriedade.
Os
camponeses,
não
participando
do
equilíbrio,
não
podem
(em
relação
ao
governo)
ser
levados
em conta e por
conse-
guinte não
é
chamado
de o
estado comum,
m as
apenas
o
terceiro estado,
ao passo
que a
pequena burguesia rural
na
Inglate rra constitui
o
comum,
o verdadeiro povo.
15
D e modo que havia distinções estabelecidas entre povo
e povo. Em um dos diálogos de Harrington, pe rgu nta Publicola: O Par-
lamento declarava
que
todo poder reside
no
povo,
m as
apenas
o
melhor
tipo
de
povo? Va lerius, (qu e parece representar Harrington) responde:
O Parlamento consistia exclusivamente do melhor
tipo...
Não era,
diria
você, uma democracia... Ainda assim, esta tinha origem na eleição livre
pelo povo . Publicola continuava insatisfeita.
Livre
até que ponto? Obser-
vando-se que pessoas subordinadas a senhores não ousavam eleger quem
os desagradasse .
Há
nisso algo
de
verdade ,
reconheceu
Valerius, mas
estou
convencido de que as pessoas não subordinadas a senhores preferi-
riam
ainda assim o melhor tipo .
Isto
é verdade , concordou Publicola.16
Em outubro de 1659, Henry Stubbe, que lera o seu Harrington, fazia
uma
distinção entre
a
nação (todos
os
homens,
exceto os
criados,
que
idealmente deviam ter o direito de votar em uma comunidade livre) e o
povo (na verdade os defensores da Boa e Velha Ca usa ). Reconhecia
Stubbe que este não era o emprego normal da palavra povo : para ser
parte
do
povo
não é
necessário
que o
indivíduo possua
terra .
Soldados
sem
terra deviam desfrutar os direitos dos cidadãos.
O povo
controlaria
o
Senado;
o
Pa rlam en to seria escolhido
por
toda nação,
e não
pelo povo
apenas .
17
Na
opinião
de Algernon Sidney, também (que mais
tarde
se tornaria
o
herói -dos Liberais)
nem
todas
as
pessoas eram cidadãos plenos. Ne-
n h u m homem enquanto for criado pode ser membro de uma comunidade,
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hristopher Hill
39
pois aquele que não é dono de si mesmo não pode tomar parte no gover-
no de outros .
18
Locke repetiu os argumentos de Harrington. Seu estado
tinha origem em um contrato social entre o povo. Mas o povo que fun-
dava esse estado possuía criados no estado de natureza, antes de existir o
estado:
a
relva
que meu
criado corta
a mim
pertence. James Tyrell, amigo
e seguidor de Locke, de maneira alguma admitia que a
ralé,
ou turba, de
qualquer nação se levantasse em armas contra um governo civil, mas ape-
nas
toda
a
comunidade
de
pessoas
de
todos
os
graus
e
ordens, comandadas
pela nobreza e gente de boa família e educação . Criados sem propriedade
em bens ou terras não tinham mais razão do que
crianças
para ter voz
na instituição do governo . (E não mais razão do que mulheres: esta ati-
tude,
aliás, ajuda a explicar por que nem mesmo os Niveladores defendiam
o direito do voto às mulheres). Os Liberais do século
XVIII
tendiam a
pensar
que povo significa gente de boa família e educação .19
No
século XVII,
a
prática
era
mais clara
do que a
teoria,
mas
também
igualmente desfavorável aos pobres. Em 1640, era opinião da
Casa
(dos
Comuns)
que
nenhum mendigo
ou
homem
que
recebeu ajuda
pública,
nem
está suje ito a pagamento de imposto, é capaz de ter voz na eleição de bu r-
gueses .
20
Esta era a prática normal nas eleições em distritos. Analoga-
mente, nas eleições paroquiais, aqueles que não pagavam taxas para os
pobres
e a
igreja tampouco podiam
votar.
21
Aos 'homens de
propriedade
do século XVII
isto
parecia apenas justo: os que eram eleitos gastavam
o dinheiro dos contribuintes de impostos e taxas e, por conseguinte, deviam
ser eleitos por eles e perante eles serem responsáveis. No campo, além do
mais,
observou Richard Baxter,
na
maioria
das
paróquias,
a
maior parte
do
voto
dos
vu lgares . ..
é
governada pelo dinheiro
e, por
conseguinte, pelos
senhores de terras . Aqueles cuja pobreza é tão grande que os leva a ser
criados de outros e os priva de sua liberdade inata devem perder o direito
ao voto.
22
Sir Simonds D'Ewes que, em 1640, de forma muito surpreenden-
te ,
argumentou
que os
pobres deviam
ter
direito
a
voto, ressalvou esta opi-
nião
um ano depois, de modo a excluir os vagabundos. Ainda assim, fo i
mais liberal que a maioria de seus
contemporâneos.
23 O
pastor
presbite-
riano
Thomas Edwards, por exemplo,
considerava como
um reâuctio
aã
absurdum
toda
e
qualquer ideia
de
sufrágio universal
que
concedesse
o
voto
a
indigentes e a
mulheres.
24
Deveriam as mulheres, crianças, em pregad os
domésticos, loucos e imbecis , pergun tava o arcebispo Ussher, ter a mes-
ma liberdade
de
votar
que
homens
de
idade, fortuna
e
compreensão?
ffi O
conde
de
Shaftesbury.
por
volta
de
1680, declarou
que
todo
paterfamí-
l i a s . . .
tem...
os votos de toda sua família, homem, mulher e
filho
nela
incluídos . Locke achava natural
que os
pobres, criados
e
mulheres
não
tivessem direito
ao
voto.26
Por
razões análogas,
o
tipo mais baixo
de
pes-
soas e criados era habitualmente excluído de serviço na milícia.
27 Fornia-
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ftf
buíra história
vam contudo, ;a'prihcipapqfdritg de conscritos para o
serviço militar
no
ultramar. G i r a r a s : ,
• •
- . • •
r i > u p "ovoq" - o • • •
: > • •
(íjsiínoa
m u
i magno B i f n i i
tijaixâ
b ( n a . m • . . • . - . • . . : 3 E V
Há um fundo teológico nessas' Atitudes que talvez valha a pena estudar
por um momento: Quando,
no' reinado
dê Eliza beth, puritanos presbiteria-
nos
argumentaram que leigos idosos deviam
ser eleitos
pelas congregações
das
paróquias
pára compartilhar com
o pastor
da
administração
da disci-
plina dá igreja
oficial,1
ouviram-se altos gritos'
de protesto
no
sentido de que
isto significaria que
:
o rebotalho
dó
povo escolheria aqueles
que
supervi-
sionariam a conduta moral de seus superiores na sociedade. O arcebispo
Parker
deplorava todo
e
qualquer
sistema^
que
permitisse
quê - "o
povo
fosse
6
órdetiador dás coisas .28 Defensores
do
'prebiterianismo tiveram grande
trabalho
para explicar
que não 'tinham
ein rhente èssé
:: tipo de democracia.
William
Stóughton,
1 por'
exemplo,
falou
em 1604
sótíé 'o
direito
inato
db' povo, ab mesmo tempo em que especificamente
excluída
"a
multidão"
dó
direito c f è
eleger os
presbíteros.29
Não
'devia• haver'
mèdó
da
palavra de^'
rriócracia,
"contanto que a coisa
que
a
pa l av ra '
repiresèntava não fosse peri-
gosa. 'Só os ' ánábá tistas
é que
defendiam'a ' igua ldade
de
eriados e senhores^
áfirrtíóti
;
William Goúgei
30
"Os anabatistas
são;
homens
que não
admitem
que
lhe
escamoteiem'ó
direito
inato
de pessoas nascidas'livres na Inglaterra ,
declarou'-' ufn"deles;
81
'' •
0 j
'P
80
roteot •
sn qs
fifcmBq
oiai
I1VX oluoòg
ob
• 'Em 1593,
Richard: Hoóker
''
chamou átençatf
paTâ
:
a ambiguidade exis-
terite riós -argúíneritós
presbiterianos: "Quando dizem
que os
pastores devem
ser
escolhidos
corrr: 'ó cótíseritiménto de muitos,; por rriuit s entendem a mul-
tidão, ou Ó
ptívó
comum; irias ao exigir que os muitos se juntem ao
bispo
na administração":'das'censuras da :igreja, entendem por muitos
alguns
pou-
cos
presbíteros,
escolhidos
1
no
meio
dó povo
p'ará
esse
fim".
32
Meio século
depois, O S
; Niveladores'
"andavam igualmente e m ; círculo, 'não conseguindo
definir 'Ó que '
entendiam
por povo .
33 ;
«sneíoq o insmui; ;
Puritanos de épocas
posteriores
1
mostrarairi-sè
-ihai^'cautelosos
do "quê
Stoúghton. Quando
Os 'Peregrinos
embarcaram para a América, "alguns es-
tranhos entre
eles
íizeram "discursos descontentes e
'sediciosos",
insinuan-
do que
"ninguém tinha
o poder de dirigi-íos e; que
''quando desembarcas-
semv
usariam
sua
própria
liberdade . "O povo',
por conseguinte , como disse
Thomas Prince :uin
século
deipois, "antes de
desembarcar ,
sabiamente se
transformou
em um
corpo político:..
mediaiite
:
cbntrato
solene"
- — o
quê
efetivamente excluía não só
os1 estranhos
mas também -empregados domés-
ticos .^ Na Nova Inglaterra, a exclusão da filiação à igreja implicava ex -
clusão do direito àO: voto. Isto tornou explícito ó que era implícito na
Inglaterra,
onde
a
paróquia
s'è transformara em uma
unid ade simultanea-
mente eclesiástica e política. A s mesmas pessoas exerciam o direito de vote
7/18/2019 Christopher Hill - Os Pobres e o Povo Na Inglaterra Do S Éculo XVII (4)
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Chrístopher Hill
em
cada
um a
dessas
condições.
Patifes, indigentes, vagabundos ,
argumen-
taram Williám Perkins
é
outros puritanos, geralmente
não
participam
de
sociedade
ou
corporação
civil";
não
se
filiam
a
qualquer congregação
es-
tabelecida para obter
ingresso
no reino de
'Deus".
Permaneciam à parte da
igreja
e da comunidade, a menos e até que pudessem ser recuperado pela
disciplina
e trabalho árduo;
35
Há
U ma curiosa analogia
entre
a teoria
que
vimos estudando,
que al-
gumas pessoas são cidadãos plenos enquanto criados e pobres não são, e
Ò
significado duplo
que os
calvinistas deram
à palavra Igreja. Em
certo
sentido, a Igreja ê toda a comunidade; em outro, os piedosos nessa comu-
nidade.
Em
i i m ' m u ndo ideal, Igreja
é
estado seriam
governados
pela mino-
ria
piedosa"
Na prática, isto dificilmente fo i alcançado
'em virtude
da difi-
culdade
d'e
identificai
os
1 eleitos
dê
Deus na terra: havia os relapsos e Os
hipócritas.
A
distinção teórica,
no
entanto, permaneceu clara. Derivava
ela
da teologia.' Desde toda a eternidade os
eleitos
estavam predestinados à
salvação.'Por
conseguinte;
em
um
sentido,1 Cristo'
morreu 'por:
todos Os ho-
rriénk'; em
outro, apenas
pelos
eleitos. Pessoas educadas nessa
tradição
teo-
lógica,
que
pensavam na igreja como
simultaneamente
toda comunidade e
como
minoria eleita nela, facilmente descambavam pára pensar no povo.
como todos
os
habitantes, para
"o
povo"
como
a
minoria respeitável. Mil-
ton considerava corno "o
povo1*' os chefes
de
família.
Por povo entendemos
todos' os cidadãos de ' todos os grátis",' m ás aparentemente; sobretudo "a
cíâssè
rriédia.
que
produz
o
ihaior
numero
de
Homens
de
bòní-senso
e co-
nhecimento
dos
assuiitos
do mundo"i
36
Ele virtualmente
repetia
os
argumen-
tos expendidos pelos rebeldes
holandeses'eerba
:
de
60
aíios antes. O s Estados
fi^o" J é Õ : representavam " mas feràm^Selécibfrados
'("feitos") pelo'
povo.' Mas
-ex-
cluídos do povo' estão todos que
chamamos
de1 '
falé
;
.:
• . erri contraste com
os
cidadãos
bons
e
decentes"
:
37
-
>
T
'Ôg'dois'conceítõs
; estavani
íigados
ria
Suposição
de Stoughton de que
os
presbíteros eleitos seriam homens de ocupação . Na postura parlamen-
tar
dê Í646,
que crioií uma
Igreja Oficial Presbiteriarià na' Inglaterra,
os
presbíteros deviam ser eleitos por
membros
das congregações que não fos-
sem criados
que não têm
família".38'Tampouco fo i
a
mudança
de
povo
para eleitor peculiar
aos
presbiterianos.
De
idêntica maneira,
o
bispo Lan-
celot Andrewes
fez Uma
distinção entrb
"os
tipos'
comuns**
í
è
;;
"õ§
verdadei-
ros
cristãos".^
• • ' •
OÍO(
V
ob
'
jrific
l
bn
q o
ieup
un
O B D f i i i n í
em u
icJíia-jíno
sup Eiínil
oi5?6Jijqoq j j f a
G ? ? ( , / Í
o í í J s r n i i G o 3 ,ari3d eoiíwo ab sup i b . b i q à - t ^ i s j m « ;du?
•
Por analogia, o perisgnle.ny
i
reli
g
ioso contribuiu pára
explicar
por que ho-
mens
esqueciam
"os pobres quando
falavam
de "povo". Mas havia tam-
bém
fenómenos
sociais que ajudam a explicar'por que isso era tão
fácil.
Em
primeiro
lugar,
temos
que nós
lembrar
da
natureza patriarcal
da
socie-
7/18/2019 Christopher Hill - Os Pobres e o Povo Na Inglaterra Do S Éculo XVII (4)
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42 outra história
dade do século XVII. Grande parte
da
população
—
provavelmente
a
maio-
ria —
vivia
em famílias que
eram também unidades
de produção, fossem
oficinas
industriais ou
fazendas
familiares. O chefe da família era o gerente
da firma
e
supervisionava
não só a
esposa
e filhos, mas
também seus apren-
dizes e
domésticos residentes.
Era
considerado responsável pelo bem-estar
moral
e
religioso
de
todos, educação
e
treinamento vocacional,
e não me-
nos que
pelos seus próprios
filhos. A
exclusão
de
mulheres, crianças,
cria-
dos e aprendize s era justificad a pela suposição de que os mesmo s eram
virtualmente representados pelo chefe
da
família.40 Quando
o
aprendiz
ou
o
criado residente casava
e
constituía família,
eles,
também, tornavam-se
livres e
po ssivelmente qualificados para votar.
Em
1647, argumentava-se
que muitos no exército eram criados e aprendizes, não livres ainda e,
por definição,
incapazes
de representar qualquer
pessoa.
41
Indigentes e va-
gabundos não contavam, absolutamente.
Em segundo, claro, todas as ideias políticas eram formuladas por in-
telectuais, homens
de
alguma educação. Isto
se
aplicava mesmo
a
radicais
temporários
como os Niveladores, os iggers
( Carpidores )
e os Meto-
distas
Primitivos. Entre
os
três principais
Niveladores,
Richard Overton
ti-
vera educação universitária, William Walwyn — neto de um bispo — era
leitor muito sofisticado de M ontaigne;
Lilburne
— filho de um cavalheiro
— tivera algum treinamento em advocacia; Winstanley,
o
Digger ,
cursara
escola primária e fazia citações em latim. No século anterior a 1640 ha-
viam se aprofundado as
linhas
da divisão
educacional.
Nesse
século ocor-
re u o que o
professor
Stone.
chamou
de
revolução educacional .
Era
muito
maior o número de escolas na Inglaterra, isto devido principalmente a
gene-
rosas doações
de
comerciantes
e
cavalheiros.
Uma vez que a
sociedade
se
tornava crescentemente comercializada,
era
muito maior
a
necessidade
de
pessoas que podiam ler, escrever e fazer
contas.
No século da revolução educacional, porém, ocorreu também maior di-
visão
económ ica. Alg uns comerciantes, pequenos
proprietários
e artesãos
estavam prosperando — os qualificados, os felizardos, os que viviam pró-
ximos a um mercado urbano em expansão (Londres, principalmente), e,
no campo, os que tinham longos contratos de arrendamento com aluguel
fixo que os
protegia contra
os
preços
em
alta. Embo ra constituíssem
m i-
noria, eram também um grupo empreendedor, autoconfiante, que logo de-
pois
formaria
grande
parte
do
apoio
recebido
pelos revolucionários radicais,
A massa da população tinha que enfrentar uma inflação na qual o preço
dos alimentos subia mais rápido
do que o de outros
bens,
e o
alimento
dos
pobres mais fortemente
que o
alimento
dos ricos. Uma das
consequências
disso foi que os donos de terra sentiram-se encorajados a enfrentar os pre-
ços crescentes cobrand o alugueres extorsivos, erguendo cercas
e
instalando
excesso
de animais nas terras com uns, e graças a um sem-número de outros
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hristopher íill
43
expedientes que os
salvava
às
expensas
dos
pobres.
O
cerco
da
terra
poi
acordo entre
os
ocupantes mais ricos da aldeia aumentava-lhes o poder so-
bre a comunidade.
Como resultado, consolidou-se
um a
classe permanente
de
pobres numa
ocasião
em que
oportunidades económicas
se
abriam para
uns
poucos afor-
tunados.
A
pobreza
da
massa, claro nada tinha
de
novo;
o que era
novo
era
a
possibilidade
que
alguns membros
de
grupos sociais situados abaixo
da pequena nobreza pudessem transpor a barreira entre a indigência e a
prosperidade. E a educação era vital
para
a transposição dessa barreira.
Os
pobres,
no
entanto,
não
podiam dispensar
o
trabalho
dos
filhos,
não ti-
nham
meios para mante-los na escola logo que atingiam a idade em que
podiam contribuir para
a
renda
da
família
—
sete
ou
oito
anos
de
idade.
42
Apenas
uma
insignificante minoria
dos
filhos
dos
pobres tinha sorte
de en-
contrar
um
benfeitor
que
lhes custeasse
a
estada
na
escola primária. Menos
ainda chegavam à universidade. O fato por todos
observado
de que os fi-
lhos das famílias de boa situação e educação estavam usurpando as vagas
gratuitas
em escolas inicialmente destinadas às crianças pobres não consti-
tuía tanto prova de ganância e egoísmo da pequena burguesia quanto da
impotência económica
dos
desvalidos. Desta maneira, consolidaram-se
as
linhas
da divisão social: a vasta massa dos filhos dos pobres era excluída
de
acesso
à
escada educacional,
que os
filhos
de
seus superiores mais afor-
tunados galgavam rapidamente.
Era
quase impossível ao indigente escapar
da
herança com a qual nascera.
A lei
elisabetana
de
ajuda
aos
pobres teve curso legal após
a fome da
década
de
1590. Aceitando
a
existência
de uma
classe permanente
de
indi-
gentes, dispunha
a lei e
legitimava
o
pagamento
de
ajuda
aos
pobres
que
a
merecessem, diferenciando-os dos ociosos, dos patifes e dos vagabundos ,
e colocou sua aplicação, sob os
J.P.s.
nas mãos dos policiais e sacristãos
de
aldeia.
43
Estes eram recrutados na camada intermediária, abaixo da pe-
quena nob reza, en tre os 10 superiores de aldeões relativam ente próspe-
ros. À medida que uma classe de pobres permanentes se diferenciava das
elites
das
paróquias
nos
dias desesperadamente difíceis
das
décadas
de
1590.
1620 e
1640
—
crise económica
e
tributação
de
guerra
— os
problemas
de
manutenção
da lei e da
ordem começaram
a
preocupar cada
vez
mais
as
elites
das
paróquias
e a
pequena nobreza.44 Destituídos
de
direitos, impo-
tentes, analfabetos, o único recurso dos pobres no estado de quase inanição.
era
a revolta
cega.
Eles
existiam
não
apenas para serem governados: man-
te-los
em sujeição e
obrigá-los
a
trabalhar constituía
um dos
grandes obje-
tivos do governo e das classes ricas, nesse momento com o apoio da cama-
da
intermediária.
Uma lei de 1610 estatuiu que todos os homens ou mulheres válidos
que ameaçassem fugir de sua paróquia estavam sujeitos a serem enviados
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44
butra históri
a uma casa de correção e tratados como vagabundos.4^ Quando necessário,
podiam ser recrutados para
trabalho»-
como eram recrutados para as for-
ças armadas, embora "o tipo
maisx
vil de pes soas e criados" fosse
em ge-
ral
excluído
da:
milícia,
o
exército
da
propriedade,
porque "o
governo
te-
m ia , armar e treinar
;as:-iordens mais
baixas".46 Esta
separação cada vez
mais profunda entre "os pobres" e o resto da população
explica
até certo
ponto
a
tendência
do
puritanismo inglês,
de
William Perkins
na
década de
1590
e daí em
diante,
que salientava a
perversidade, aparentemente irrepa-
rável,
dos pobres. As doutrinas calyinistas de predestinação da maioria da
humanidade à
condenação
eterna reflétia as;
realidades
sociais da vida in-
glesa e m princípios e meados do século XVII.4?
[-êíasn
v ;
. . . . .
Em um discurso ao seu Parlamento em;
1645,
Qliver
;Croinwell
disse
que os Niveladores queriam reduzir "todos à
dgualdade'V
objetivo este que
julgava
provável que interessasse a
"todos
-os
homens,
pobres.... ei a
todos
os
homens maus';'. Harrington, analogamente,
falou/ nos:. "ladrões; ou Nive-
ladores",
48
(A maioria
dos
líderes
dós Niveladores^oiâ
jíeréadeíí;ôra; defen-
sora da
propriedade
privada-. Gromwell; e Harririgton estavam provavel-
mente
pensando em i Winstanley,,ie «©s .Niveladores r Autênticos,
que:; discuti-
remos
logo;
em
seguida.:),:
u r
B Í Í iQ
b i f i
f Z b íob
B o r m
; 'onôíoqíni
A
maldade
dos pobres
contribui
também
para explicar
a ênfase de pu-
ritanos
e
do Parlamento
na
disciplina
do
trabalho,
e
:
na
pècaminosidade
do
ócio.
As
-classes' inferiores "debochadas"
te "profanas" preferiam,
sabida-
mente, a indolência ao trabalh o, consideravam todos : os
;
dias
santos
como
feriados,1
isto
-de
^ u m a
maneira lamentavelmente
ipapista; -e
a lei de ajuda
dós
pobres
estabelecia uma
clara
• distinção
entre
'os merecedores e os
pa-
tifes indolentes. Súpunha-^se
que
;
os
pobres ' t rabalhariam
apenas
para evitar
a
morte pela
fome.
49
Uma
postura
de
1550 permitia
a
construção
de pe-
quenas cabanas
em
terras devolutas
e públicas. Essa gente formava
:
um a re -
serva
conveniente
de
mão-de-òbra
barata
para ' ' a s
;
novas indústrias rurais.
As
terras
públicas e
devolutas davam-lhe algo
de que viver quando não h a-
via emprego.
^Há
menos
pobres
onde
h á
menos terras
públicas", observou
Samuel
Hartlib,
O aumento
da
produção
agrícola
inglesa, e
os lucros dós
fazendeiros,
porém, dependiam
de pôr
em cultivo terras devolutas.
Os
abas-
tados
começaram
a antipatizar com
esses
"residenteg pobres",
como Bacon
os- chamava.
50 O cerco; dás 'terras públicas;^
disse, Adam
Moore em
1653,
"dará aos
pobres um interesse
fio
'trabalho
1
-que o terror nunca
conseguiu
até agora instilar". Os asilos de pobres
foram
deliberadamente tornados
de-
sagradáveis
a fim de
desestimular
os candidatos à
ajuda.51
A
possibilidade de ocupar terras não-cultivadas era o último
refúgio
dos
pobres migrantes.
No
século
XVII,
florestas foram postas
sob
cultivo
e tomadas medidas
para
l imitar
a
mobilidade
da
classe mais baixa.
A Lei
de Colonização de
1662
fez-se
acompanhar
de uma
campanh a contra
as
7/18/2019 Christopher Hill - Os Pobres e o Povo Na Inglaterra Do S Éculo XVII (4)
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Christopher Hill 45
cabanas. Isto se tornou possível porque terminara a explosão demográfica
e, na verdade, logo depois foi necessário, por razões económicas, permitir
mobilidade limitada.52 No início, medo; de excesso de
população;
no fim,
medo de
.carência
de braços: da importação para a exportação-de cereais.
Sir
Dalby Thomas
expressou a nova-ideia quando:
disse,
em 1690, que
o
povo
é a
riqueza
da; ;nação.'Mas apressou-se a acrescentar que ,por
:"povo"
entendia as pessoas laboriosas
e
industriosas, não ©s desempregados, : tais
como
b i s e a t e i r o s
• • • •
mendigos
• - > - ;
e maliciosamente acrescentou, "ai
pequena
nobreza,<
o clero, e -
L O S
: advogados".53
Swift,
analogamente*
distinguia
entre
artesãos'pobres,: peqiíteBos.negociantesderitrabalhadores;
.braçais, .por
um lado,
e a
íale:
ociosa, pelo, outr.Q;.5*o)iijM .oBjnavnoo K 2
oir^ibfnt s moo
j - j q r r ; : ; - K
•"•Visto-o assunto. dd »utro lado,
.'temos
que recordar
í
ódio
sentido
por
muitos
pobres
- a
• •
uma-
vida
'db^trabalhovássalariadói
permanente.^:;
que
«eonsii
deravam como; uma
íormã derfalta
de
liberdade.--'Esta
tipo der trabalho e a
lei;
de
ajuda
aos^
pobres surgiram juntos,55 Bernard ;M andeville,
em
princí-
pios
1
do século
XVIII,'esclareceu
a diferença entre os pobres e o resto da
sociedade quando disse: "Quase não
temos
pobres em número suficiente
para fazer o necessário a fim de que nós possamos
subsistir":
..(Note-se ia '
diferença entre "eles", os
pobres^
e
"nós", para
quem eles trabalham.) "Ho-
mens que estão .destinados a permanecer e terminar seus dias em -uma la-
boriosay .cansativa*
i e
'dolorosa '.situação
de:i vida*
•<
quanto; n mais cedo
fo.reni
colocados nessaj eondiçãoi mais.
pacientemente
se submeterão; a
ela para
sempre
(grifo nosso).^6
; Y .^ go
sup ioq ovi)om o siaH
. « o b e < > ' ' •
Se -estudamos dessa perspectiva^
fenómenos \ •
ocorridos^
no
século
XVII,
emergem vários pontos relevantes; para1 nosso
tema,;
Recentemente,:•
argu-
mentou John Moril l .^de forma muito convincente, que o século
XVII
nã&
dispunha
de palavra que abrangesse esses pequenos
proprietários
rurais, ar-
tesãos e comerciantes que prosperavam à época da grande cisão económica.
E disse, menos convincentemente, que por isso mesmo o historiador não
devia
tentar distinguir entre eles um
grupo
social ligado pela mesma situa-
ção económica.57 Acho, porém, que podemos reconhecer agora que o século
XVII tinha, de fato, uma palavra
para
descrevê-los, embora seu emprego
seja tão
diferente do
nosso que não conseguimos notá-lo. A palavra é "povo"
— os que ficavam entre a nobreza em cima e os permanentemente pobres
embaixo e dos quais eles se encontravam em processo de se diferenciarem.
Em
segundo
lugar, a obra de Derek Hirst mostra-nos que em princí-
pios do século XVII o eleitorado parlamentarista —- o tipo
médio
e mais
baixo, embora
acima
dos muito pobres
das-cidades,
os pequenos proprietá-
rios rurais e donos de terras livres e alodiais no campo—
f
estava desenvol-
vendo um: interessa
àovè
e
crescentemente
ativo pela política nacional-rias
eleições para o
Parlamento;
5
?:
>Ia
grave-depressão
económica ocorrida nos
20 anos•-•que precederam>a década de 16401
que, segundo o professor
7/18/2019 Christopher Hill - Os Pobres e o Povo Na Inglaterra Do S Éculo XVII (4)
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^g
outr
históri
Bowden foi talvez a pior de toda a história inglesa no que interessava aos
pobres
59
— houve medo permanente de uma revolta popular. Em princí-
pios da década de 1640, líderes do Parlamento Longo utilizaram apelos ao
povo e a ameaça de violência de turba a fim de pressionar o rei, embora»
no fim, conseguissem mais do que haviam barganhado.
Em terceiro, os
mais radicais entre
os
revolucionários par lam enta ristas
eram originários da camada média de pequenas cidades e do campo, das fi-
leiras
de
homens autoconfiantes
que
estavam prosperando
mas
eram
excluí-
dos
dos
privilégios sociais
e
políticos, ainda
que por
educação
e
cultura
se
distinguissem dos
permanentemente pobres. Esses homens estavam dispostos
a romper
com a
tradição
e a
convenção. Muitos deles ingressaram
no
Novo
Exército Modelo. Deliberadamente, Oliver
Cromwell
recrutou seus Ironsi-
des
entre proprietários
de
terras livres
e
alodiais
e
seus filhos ,
capitães
que
se vestiam com lã grosseira . Esses hom ens da cam ada média estavam
prontos
a
enfatizar
os
direitos
do
povo contra
os
privilégios
dos
pares
do
reino, nobreza e grandes comerciantes: queriam que o direito ao voto lhes
fosse concedido
e não sentiam inibições em utilizar o apoio da classe baixa.
Mas —
exceto
em
momentos
de
emoção
— não
queriam realmente
que os
pobres também ganhassem direito ao voto. Os abastados das cidades e pa-
róquias rurais queriam que fosse oficialmente confirmada e aceita sua voz
crescente
nos
assuntos públicos.
Em
última análise, porém, esses pequenos
proprietários possuíam mais
em
comum
com a
nobreza
do que com os des-
privilegiados. Este
o ̂ motivo por que os
Niveladores entraram
em colapso
logo
que se
tornou claro
que não
conseguiriam dominar
o
exército.
Em
quarto,
o
papel desempenhado pelo arcebispo Laud
e
seus
segui-
dores talvez pareça diferente
a
esta perspectiva.
Os
puritanos
criticaram-no
porque suas inovações teológicas
e
cerimoniais, segundo pensavam,
estavam
trazendo
a
Inglaterra
de
volta
ao
papismo (catolicismo romano).
Os lau-
dianos, que
dominaram
a
igreja
e o
estado
na
década
de
1630, eram com-
batidos não
menos
por
motivos sociais
que
teológicos.
Sob Laud, as
cortes
da
igreja estimularam abertamente
a
indolência
ao
castigarem
os que tra-
balhavam nos dias santos. O
Livro dos Esportes
publicado em 1633, in-
centivava
homens e mulheres a participarem nos domingos dos tradicionais
passatempos
da aldeia. Os puritanos achavam que deviam nesses dias me-
lhorar a m ente ou , pelo m eno s, descansa r após seis dias de trabalho. As
elites das
paróquias concordavam
com os
puritanos
em que os
ritos
de fe-
cundidade
subjacentes aos esportes tradicionais subvertiam a disciplina no
tra-
balho,
que se
esforçavam
por
impor. Laud opunha-se
ao
cerco
de
terras
pú-
blicas
porque o despejo de pequenas propriedades implicava perda de con-
tribuintes,
de homens treinados para a milícia e de dízimo à igreja, além
de
acenar
com o
perigo
de distúrbios e
inquietação
social.
Na
década
de
1630, o Conselho Privado interferiu no controle local da ajuda aos pobres
7/18/2019 Christopher Hill - Os Pobres e o Povo Na Inglaterra Do S Éculo XVII (4)
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hristopher Hill
47
e regu lam entaç ão de salários. Os laudianos, note-se, não eram tan to
a
favor
dos pobres como contrários às elites das paróquias, contra o controle cres-
cente
dos
assuntos locais pela camada média
da
população,
em
aliança
com
as oligarquias urbanas e pequena nobreza. Achamos tão natural que
deva
ter
havido
um
ininterrupto
aumento
de
poder
das
oligarquias locais
no
século
XVII que
esquecemos
a
tentativa laudiana
de
reverter esse pro-
cesso. Assim
fazendo,
deixamos
de
levar
em
conta
a
importância social
da
derrubada dessa
corrente na
década
de
1640
e da abolição das cortes
ecle-
siásticas que
impunham o laudianismo. Restabelecidas
na
década
de
1660,
as
cortes eclesiásticas abstiveram-se
de
tentar controlar
a
vida social
e
eco-
nômica.
Tudo isto poderá talvez
nos ajudar a
compreender
a
restauração
da mo-
narquia
em
1660. Após
a
guerra civil, parecia
que as
coisas pareciam estar
fugindo ao controle — no exército, agitadores exigiam o sufrágio de todos
os adultos, ativistas entre os artífices reuniam congregações das classes mais
baixas
e
pregavam
a sedição, sem
qualquer
restrição. O regicídio e a
abo-
lição da Câmara dos Lordes pareciam pôr em dúvida a subordinação social.
Niveladores,
Carpidores, Ranters * e
Quacres organizavam
as
classes baixas.
Os
revolucionários moderados sentiam autêntica indignação
e
medo. Haviam
sido abandonados por aqueles a quem tinham libertado. Em 1650, um In-
dependente disse
que o
governo
do
Grande Turco seria preferível
ao da
ralé.
60
Tais preocupações
de
natureza social acabaram
por
levar
os
homens
de
propriedade a restaurar a monarquia e colocar
Carlos
II no trono —
não certamente o Grande Turco, mas sem dúvida melhor do que a gen-
talha.
Durante algum tempo no período 1647-49, alegou-se que o Novo Exér-
cito Modelo
era
o povo e, de fato, ele dem onstravelm ente constituía um
corte long itudin al mais justo que o eleitorado, um a vez que incluía nas fi-
leiras conscritos oriundos da classe baixa. O povo em
bruto ,
declarou
William
Sedwick
em 1649, nada mais é que um monstro, uma massa rude
e incontrolável, mas, no exército, está reunida e
transformada
em vida ex-
celente . . .
Isto
porque um exército tem em si todo o governo e partes do
governo, ordem,
justiça,
etc., e sua ignorância e desvalimento são supera-
dos: ele é realme nte o povo, não como um rude emp ilhamento ou um
corpo
estúpido
e
pesado,
mas de
forma selecionada,
escolhida .
61
O
exército
era controlado pelo
povo .
Grupo religioso inglês
do
século XVII,
panteísta e
antinomista. (N.R.)
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outr
/ws/ária
„ .Isto, pode
,ter
sido , plausível,
no
período
1647-49,,
quando o Novo Exér-
cito Modelo, alegando, que mo era mais "um exército mercenário", assumiu
o poder. Na década de 1650, porém, o exército foi repetidamente expur-
gado
de
radicais, prpfissionalizadp
e
usado
cada
vez
mais, para reprimir
o
povo
que
alegava representar. Assim,
embora-um panfletista
de 1653 ainda
argumentasse
que o
exército
era "o
poder
do
povo, escolhido pelo
povo,
en-
carregado
do
bem-estar
e defesa do ,
povo",
teve que admitir que "por povo
se,
entende,a.
parte
válida,
bem
educada-,
o
.resto,
é a
parte conquistada
ou
submetida,
que não
pode reivindicar direito algum
nessa eleição
livre
que
é o
fruto
da
conquista",
6
?
O
; exército
tprnpu-s.e,
cada vez.
mais
impopular
à
medida que transcorria a década de 1650 e deixou uma duradoura herança
de
antipatia
por
exércitos permanentes,
que era
compartilhada
não
menos
por
radicais
do que por conservadores. Foi meramente patético quando, em
165,9,
jn>,jpanfjetista alegou,.^M,
"o
exéreitgj.é^.principal.:Ç£$po
do
;ppvo"p
representando,
melhor, p
"grosso ordinário e comum doP°YO,", ;que o Parla-
mento. Q
.poder devia, caber "ao povo bom
cprporificado;nq,,exército
i e
nar
queles,uque a . e l e .aderiram"-63 ; .
• .
.
. . . . - . • • . . • ; - . •
. - ;
< n i f i a
? p . t y i v h i : . ;
Q -que.
sugerimos
aqui é que a
distinção entre
"os
pobres"
e o "povo '
possuía fundas raízes na
realidade
social da Inglaterra do século XVII* O di-
lema
dos
radicais
na Revolução Inglesa — e que/reapareceu em revoluções
posteriores.;,---r era
;
que,
p
povo,-fora
rnantido durante séculos- distantes 4a
política
e . d a . educação.,
Em
1.6.42, Milton denunciava, ps bispos,
que
"com
armais desuman,a crueldade.;. . :arranca priraeirp os olhos ,do; jpovp" e .de-
pois "o
censura
por
sua
.cegueira", S.entia.-se,
f eliz.
epm,
,a maneira como
"aquele látego;;de, ferro,, o, tpovo" derrubou violentamente O ; governo
dos
bispos em
1640-41,
Esses atos, porém, não ofereciam; uma soluçãx> de longo
prazo para os problemas da Inglaterra. Rapidamente, Milton perdeu con-
fiança no povo logo
que
o viu em
ação.
("É em abuso que
.pensa
quando
grita por liberdade")- Na década de 1650, ele, ,como,,outros, compreendeu
que
a consequência provável da introdução do direito amplo ao voto de-
fendido pelos Nryeladores
não
seria
uma
república democrática,
mas a
volta
dos realistas ao poder, e comparou o
"povp"
à
"turba".
Os governadores
da Comunidade "são agora
o
povo".164
"Em toda
parte
o
maior número
e
pelo Rei", escreveu um Independente em outubro de 1648. "Se governa
a voz da multidão inebriada... com que rapidez seus próprios interesses,
a paz e a segurança seriam abandonadas e contrariadas?".65 Na década de
1640, Richard Overton mencionara
a
"Rude Multidão" entre
os que
apoia-
vam o Sr. Perseguição.66 Os presbiterianos demonstraram que, rião íríérios
que os
Independentes, podiam usar
as
"turbas" urbanas' pára
fins
conserva-
dores. Em 1688, Roger Morrice observara som briam ente "há outro poder
(embora injustificável)
que a
turba
possuía",
além
do de
"governantes
na-
turais do país,6? No;,firtal
:i
do, séçujp,, posem-, a:, "turba" era notoriamentes in-
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hristopher
Hill
9
constante: os tories
podiam levantar turbas
pró-rei ou pró-igreja
para
reprimir dissidentes.
Dessa
maneira, qual poderia ter sido a solução?
Cromwell
defendia o
que é
para
o bem
deles,
não o que os
agrada .
Thomas
Scot
falava
de
nosso
novo povo, escasso,
mas já proselitizado .
Nós
. . .
teríamos dado
o
direito
do
voto
ao
povo , declarou
o
regicida John Cook,
se a
nação
não
tivesse
se deliciado mais com a servidão . Hugh Peter falava em utilizar o exército
para
fazer
com que os camponeses com preendessem o que era liberdade.
68
Configurava-se aí o
dilema
de
Rousseau,
de
obrigar
o
homem
a ser
livre,
o
dilema
que o
Partido Comunista Soviético tentou resolver
com a
ditadura
do proletariado. O PC, porém, afastou-se
do
povo, exatamente como acon-
teceu
com o
exército
de
Cromwell:
o que
Trotski chamou
de
substitutis-
mo ,
o
governo
de uma
minoria
em nçme de um
povo que,
em
teoria repre-
senta, inevitavelmente
degenera em
algo menos
que
admirável.
O
problema
não
acabou
com o
fracasso
do
século
XVII de
solucioná-lo
em
1817:
ad-
mitia
Shalley que as consequências da extensão imediata do sufrágio para
cargos
eletivos a
todos
os
homens adultos
implicaria
colocar
o poder nas
mãos
daqueles que
foram tornados
brutais, estúpidos e ferozes por eras
de escravidão .69
Laurence Clarkson, th e Ranter, foi em outubro de 1647 um dos pou-
cos que
tentaram agitar
o
povo
e
levá-lo
a
agir
com
base
em uma
análise
classista
da
política. Constitui, declarou ele, tendência
congénita da
maior
parte da nobreza e de gente de boa família e educação oprimir pessoas
que
não são tão
ricas
e
respeitáveis como elas mesm as . Julgam
os po-
bres como estúpidos e a si mesmas como sábias e, por conseguinte, con-
fiam
em que
quando
a
comunidade eleger
um
Parlamento,
ele
deve
ser
es-
colhido entre os mais nobres e os mais ricos... A escravidão do povo ê
sua
liberdade,
a
pobreza
do
povo
sua
prosper idade. . .
Quem
são os
opres-
sores, senão a nobreza e as pessoas de boa família e educação? E quem são
os oprimidos, senão o pequeno proprietário rural, o fazendeiro, os comer-
ciantes
e os
trabalhadores
braçais?. . . Não
escolheu
o
povo opressores
para
resgatá-los
da opressão? ™
Part indo
de
supostos semelhantes
aos de
Harrington (ver pág. 38), Clarkson defendia
conclusões
radicalmente dife-
rentes.
Numerosos
reform adores m anifestaram receios, especialmente
nos
anos
de fome de
1648-49,
das
consequências perigosas
que
poderiam resultar
se
alguma coisa
não
fosse
feita
para aliviar
a
situação
dos
pobres,
profunda-
mente
atingidos
por más
colheitas, além
da
tributação
de
guerra,
aloja-
mento
gratuito de tropas e pilhagens. Em
janeiro
de 1648. os pobres
estavam confiscando cereal destinado ao mercado e
dividindo-o
entre si,
na cara de seus donos, dizendo-lhes que não podiam morrer de fome .71
No dia 3 de
abril
de
1649, Peter
Chamberlen manifestou
receio
de que os
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50 outra história
que
passavam fome
po r fal ta de pão
passassem
à
ação direta,
a
menos
que
alguma coisa fosse feita por eles. Pregava a nacionalização das te rras con-
fiscadas
à Igreja, Coroa e realistas e sua entrega aos pobres para que as
cultivassem,
jun tam ent e com as terras públicas e brejos.
72
Mas apenas um
pensador, segundo penso, seguiu Clarkson em enfocar o problema do ponto
de vista dos pobres, e foi além dele, propondo medidas específicas, bem
pensadas,
que não
teriam sido meros paliativos
mas que
visavam
à
abolição
to ta l
da
pobreza
—
possibilidade esta
que
Bacon concebera,
mas que
nin-
guém fizera
nada para
pôr em
prática. Este homem
foi Gerrard Wins tan ley ,
líder dos Autênticos Niveladores, ou Carpidores Diggers).
Carpidores
Diggers)
começaram
a
carpir
(capinar,
cultivar)
as
terras
públicas (com un s) situadas nas proximidades de Co briam, Surrey, em abril
em
1649. Ao defe nder a atitu de dessas pessoas, W instanley
falou
delibera-
damente em
nome
de
todo
o
povo oprimido
da
Inglaterra
e, na
realidade,
de
todo mundo .
A
Inglaterra
é uma
prisão , disse,
e os
pobres
são os
prisioneiros . Tod as
as leis ,
declarou
ele em
1652, depois
da
destruição
da colónia,
foram feitas
nos
dias
dos
reis
a fim de
facilitar
a
vida
dos
ricos latifundiários .
Os
trabalhadores pobres foram deixados
em
servidão .
Essas leis
que
escravizavam
os
pobres
aos
ricos eram apoiadas pelo clero,
que
prometia recompensa
no
céu,
no
além. Winstanley
e os Carpidores
que-
riam um céu
mais tangível,
na
terra, naquele momento.
A
vitória sobre
o
Rei na
guerra civil fora conquistada
pelo
povo, incluindo
os
pobres,
que
na
verdade
se
encarregara
da
maior parte
da
luta
e
suportara
o
maior peso
da tributação e alojamento gratui to de tropas e era apenas justo que, nesse
momen to , se
beneficiasse
com a
vitória sobre
o
poder
real.
73
Acreditava
Winstanley
que as
Escrituras
que
dizem
que os
pobres her-
darão
a
terra
devia
ser
real
e
concre tamente cumprida;
m as
consignou
a
relutância
dos bem-nascidos e
ricos
de
partilhar
com o
povo comum
os
frutos da
vitória.
A
dureza
das
pessoas bem-nascidas
e
educadas contra
o povo poderia
levar à catástrofe no caso de uma invasão estrangeira.
Isto
porque o povo compreende que, se lu ta r e vencer o inimigo, ele... ainda
a s s i m . . .
provavelmente continuará
escravo . Diz
ele: Bem
que
podemos
viver sob o
inimigo estrangeiro, trabalhando
por
salário, como vivemos
hoje sob nossos irmãos . Por tod os os motivos, por conseg uinte, era im-
portante reconhecer
que o
povo comum (en t re
o
qual W instanley espe-
cificamente incluía dos trabalhadores pobres) é parte da nação .
74
Isto
constituía um
desafio frontal
aos
tradicionalistas,
que
sustentavam
que os
pobres existem apenas para serem go vernados .
Esta é a servidão de que os pobres se queixam , de serem mantido s
pobres por seus irmão s em um a terra onde há tanta abund ância para
todos
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hristopher Hill
51
U m a
organização económica racional, baseada
na
propriedade coletiva,
acabaria com a opressão e exploração dos pobres. Só desta maneira pode-
ria ser
estabelecida
a
igualdade real.
A
solução preconizada
por
Winstan-
ley assemelhava-se
a de
Chamberlen, mas,
em vez de
instar
com os
ricos
para que
fizessem concessões caritativas, apelava
ao próprio
povo para
que
ocupasse e
cultivasse
as
terras públicas
e
devolutas,
que por
direito
lhes
pertencia e que lhes eram negadas
apenas
por leis assassinas . Isto por-
que o homem jnais pobre tem um título tã o verdadeiro e justo à terra
como
o
mais rico .
Deste
modo,
ele
ampliava
os direitos
naturais ,
do
direito ao voto ao direito à propriedade, exatamente como Ireton previra
nos Debates Putney. Os Carpidores consideravam
ium
dever demonstrar que
todos deviam, como herança legítima, ter o benefício e a liberdade de
sua
criação, sem levar em conta pessoas . Querem ser ainda escravos e
mendigos quando podem ser homens livres? , perguntavam eles.75
A
implantação
da lei
justa virá
dos
pobres ,
acreditava Winstanley.
A
magistratura
significa o
maior
dos
laços...
que
liga,
no
amor,
as
pes-
soas ,
preserva a todos a nenhum despreza. E perguntou: Será assim a
magistratura das
nações?
A
resposta
só
poderia
ser
Não:
ela
favorece
os
ricos, despreza e ignora os pobres. Em m uitas paróquias , observou Wins-
tanley, dois ou três dos grandes possuem
todo
poder para lançar impostos,
intimidar
os
policiais
e
outros servidores
— as
elites
das
paróquias
a que
nos
referimos.
A
verdadeira magistratura deveria
ser procurada
entre
os
pobres
e
desprezados
da
terra, pois
é
entre eles
que o
Cristo
reside .
Ali-
mentava W instanley a esperança de que a Revolução n a In glaterra assina-
lasse o início de um melhor estado de coisas, no qual a verdadeira liberda-
de seria tornada possível pela abolição da propriedade privada e do traba-
lho assalariado e pela implantação de uma sociedade comunista igualitá-
ria.
7
'
6
Na comunidade ideal que bosquejou, o
sufrágio
seria estabelecido, m as
privados do
direito
ao
voto
os que
haviam apoiado
Carlos I
durante
a
guerra
e os
especuladores
em terras
confiscadas.
Os
aprendizes seriam tam-
bém
privados
do
direito
ao
voto durante
o
período
de
aprendizagem (pelas
razões tradicionais), como também deviam ser
privados
de sua
liberdade
na comun idade aqueles que houvessem cometido crimes particularmente
abomináveis,
tais como comprar, vender e pregar por dinheiro. Todos os
magistrados seriam eleitos anualmente (incluindo juizes, policiais e pasto-
res)
por
todo
o
corpo
da
paróquia . Eles
e os
deputados
(M .
Ps.) seriam
responsáveis
perante seu senhor, o povo, que os elegeu . A sanção invo-
cada
por
Winstanley
era o
poder
de
todo
o
povo armado,
que
defenderia
a liberdade da com unidade contra o inimigo extern o, os servidores dege-
nerados e
todos aqueles
que
por perfídia
se
esforçam
para
destruir
as
leis da liberdade comum . N ão haveria exército permanente.
77
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52 z outr históri
Winstanley,
por conseguinte, levava a sério a igualdade entre cria-
dos e patrões proclamada anteriormente pelos anabatistas p. 40) . Ele
imaginava uma reorganização da
sociedade
que permitiria aos pobres se
afirmarem como parte
da
nação.
Ele foi o
único homem, tanto quanto
sei, que tentou realmente enfrentar o problema de preparar todo o povo
para dirigir uma democracia. Reconhecia que isso exigiria um longo perío-
do de educação e reeducação política a fim de libertar o povo da depen-
dência da pequena nobreza e do clero, dos quais havia sempre recebido
suas ideias políticas. Propunha leis e
instituições
que incorporassem os ver-
dadeiros interesses do povo, mas este conservaria sempre o controle do
governo
representativo
que
aplicaria
as
leis,
apoiado na autoridade final
do povo armado.
E
como povo Winstanley entendia realmente todo
o
povo.
Talvez possamos pensar
que
essas propostas foram insuficientes em bora
tivessem
sido elaboradas em muito mais detalhes do que pudemos sugerir/
aqui . Ele, finalmente, desesperou de que viessem a ser aceitas. Mas
elas,
pelo menos, colocam e ten tam solucionar alguns problemas atinen tes ao
estabelecimento de uma sociedade comunista — nisto muito à frente de
seu tempo.
Conforme demonstra o fracasso dos Niveladores e dos
Carpidores,
os
pobres
no
século
XVII
era não só
pouco educados
m as
estavam também
divididos pela situação económica. Os Niveladores apelavam para os pe-
quenos
proprietários
e
Lilburne atacava o experimento comunista
dos
Car-
pidores, embora alguns de seus seguidores se mostrassem mais simpáticos
à
ideia.
Os
Niveladores conseguiram
seu
apoio inicial principalmente
em
Londres
e no
exército.
Em
1649, lançaram
uma
campanha
de
propaganda
nas pequenas cidades em torno de Londres e começaram a atribuir mais
importância
ao
campo, dando nova ênfase
à
oposição
ao
cerco
das
terras
e defesa dos direitos de proprietário aos pequenos ocupantes. Imediatamen-
te, foram reprim idos. Os Carpidores surgiram no ponto socialmente pe ri-
goso em que pobres rurais e urbanos deram-se as mão s.
Eles,
também,
foram
reprimidos, talvez por coincidência, depois que enviaram emissários
de Surrey para
dez ou
mais grupos
de
simpatizantes espalhados pelos Mid-
lands.
O que mais tarde alarmou mais as classes respeitáveis sobre os nada
respeitáveis e belicosos primeiros Quacres foi que eles aceitavam muitas
das
idiéas
dos
Niveladores
e
Carpidores
e que
possuíam
um a
organização
nacional. Essas preocupações desempenharam papel de vulto na criação do
pân ico social que culm inou na restauração de Carlos II. A
questão
agora,
disse Richard Baxter à Câmara dos Comuns em abril de 1660, não é se
vamos ter ou não bispos mas se haverá ou não disciplina.78 Embora ele fosse
um
velho inimigo
dos
bispos, nesse momento
as
questões teológicas tiveram
que ceder lugar ao medo social.
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hristoph r
M 53
Iniciamos este estudo com um problema de teoria política: por que sérios
pensadores
políticos
do século XVII não
ppderam compreender
que- os
pobres
faziam
parte do povo? Sugiro uma possível analogia com
a'- teolo-
gia puritana:
Cristo
morreu
por
todos
os
homens,
mas
principalmente pelos
eleitos. Mas, no fim, fomos levados para a história social: a diferenc iação
entre povo
e
pobres pode
ser
entendida
(o que não
significa dizer justifi-
cada)
-apenas
se compreendermos alguma coisa do estado deprimido e igno-
rante
dos
pobres
na
sociedade pré-industrial inglesa,
da
mesma maneira
que
só podemos compreender
o
ponto cego semelhante
em
relação
às
mulheres
se
reconhecermos como era inteiramente patriarcal a sociedade dessa época.
O ponto que desejo finalmente salientar não é a incapacidade dos ho-
mens
do
século
XVII
de
incluir
os
pobres
no
povo,
o que nos
poderia levar
a
concluir
hipocritamente que somos
muito
mais inteligentes e melhores
que eles. O que quero
enfatizar
é que o pensamento deles foi suficiente-
mente
longe para
que
surgisse absolutamente
a
questão
de
pobre
ser
povo
também. Esta
questão
não foi postulada em parte alguma da Europa no
século XVII
e só
reapareceu
na
Inglaterra
no
século XIX, depois
de a
Revolução Industrial
ter
transformado
os pobres em
classe operária.
E
não foi solucionada na prática, form alm ente,
pelo
menos, até o presente
século.
Os radicais do século XVII deram um fantástico salto intelectual
nas
circunstâncias revolucionárias
da
década
de
1640, culminando
com as
propostas
de
Winstanley
para uma
reorganização
da
sociedade
que
permi-
tiria aos pobres fazer valer
seus
direitos como
parte
da nação . Sugiro
ainda que o salto intelectual foi tornado possível pela evolução rápida da
economia
caseira, à
medida
que o
capitalismo
se
desenvolvia
na
agricultu-
ra e na
indústria.
E foi a
preponderância excepcional
da
família
na econo-
mia
inglesa
e dos
chefes
de
família entre
os
defensores
do
Parlamento
que
tornou teoricamente possível
a
concepção
de
soberania
do povo.. E,
tam-
bém,
foi a
estratificação
que
ocorreu entre
os
chefes
de
família
que
tornou
impossível aos pobres serem aceitos como povo.
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286 a
outra história
1 1 A discussão d e Rude neste par t icular , como al iás em outros contextos, aborda
a espinhosa que stão de se ou em que sentido (s) os estratos populares pré-
mòdernos const i tuem u m a classe
e
da amiú de incorreta aplicação a grupos
tradicionais
de
camponeses e artesão s de um a teoria social e ideológica m ar-
xista, desenvolvida sobre a base das posteriores burguesia
industrial
do século
XIX e da classe operária. A elaboração de um marco concei tual- teór ico apro-
pr iadamente
flexível con t inua
a ser um a
questão muito v iva
na
historiografia
popular pré-mo derna.
12.
Ver F.
Krantz ,
Sans
Erudi t ion, pás d'Histoire... , in History
from
Below...
in Honour of George Rude 3-33 a 23-6.
1 3. Para uma lista parcial de inf luênc ias , e especialmente do
The Making of
the
English Working
Class
(1963), de Thompson, e do anterior Primitive
Rebcls
(1959), de Hobsbawm, ver Changing
Face... ,
pp. 196-7.
capítulo 2 (pp. 34-53)
1 .
(Anon . ) , The Soveraignity of King: Or An absolute
Answer
and
Conful'j
tion
(o f schismatics) (1642), Sig. A Iv .
2 .
G.R.
Elton,
The Political Creed
of
Thomas Cromwell ,
Transactions
of the
Royal Histórica Soe. 1956, p. 86. No The Tudor
Constitution
(Cambridge,
Universíty
Press, 1960), Elton
parece
aceitar essa suposição
de que os
par-
lamentos
da época Tud or representavam o povo,
todos
(pp. 230, 300, 303).
3. Org. L. A lston, De Republica Anglorum: A Discourse of the Commonwealth
England (Cambrid ge. Un ivers ity Press, 1960), pp 20-2.
4. Sir T. Aston,
A Remonstrance
against Presbytery (1641), Sig. l 4v. :
;
5.
G. Monck,
d u q u e
d e
Albermale,
Observations
Upon
Military
and
Political
Affaire (167 1), p. 146.
6. Discu ti este assunto em maior extensão no Change and Continuity in
Sevea-
teenth-Century England (1974), Cap.
8.
7 . Citado por M.A. Judson, The
Crisis
of the Constitution (Rutgers Univer s i ty
Press, 1949), p. 337.
8.
Org.
J.T.
Rut t , Diary of Thomas
Burton
(1828), III, pp. 147-8.
9. J. Lílburne, The
Charters
of
London
(1646), p. 4.
1 0.
Org. A.S.P. W ood house, Puriianism and Liberty (1938),
pp.
53-6,
63.
11. Ibid. p. 53: D.E. Underdown, The Parl iamentary Diary of John Boys, 1647-8 ,
Bulletin of the
Institute
of
Historical Research,
XXXIX
(1966), pp . 152-3.
12. Mercurius
Paliticus, n. 78, 27 de
novembro-4
de
dezembro
de
1651,
p.
1237:
c f . n. 77, p. 1222, e Marchamont N e d h a m , The Excellencie of a Free State
(1656),
p. 244, c i tado em J. Frank,
Cromwell 's
Press
Agent: A Criticai Bio-
graphy of
Marchamont Nedham,
1620-1678 (Lanham, Maryland, 1980), pp
99-100.
13.
Rober t Norwood , An Additional Discourse (1653), pp. 44-8.
1 4.
Org. J.G.A. Poco ck,
The
Political Works
of
James Harrington (Cambridge
Universi ty Press, 1977),
pp.
786-8.
15. Ibid. pp.
436-7.
16. Ibid., pp.
786-8;
cf. p. 764.
17.
H.
Stubbe,
A
Letter
to an Officer of the Army (1659), pp. 52-4, 59-62, ci-
tado por J.R. Jacob no seu Henry Stubbe, Radical Protestantism and the
Early Enlightenment
(Cam bridg e e Nov a York, 1983), cap. 2.
Metts '
agra-
7/18/2019 Christopher Hill - Os Pobres e o Povo Na Inglaterra Do S Éculo XVII (4)
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notas
287
dec imentos
ao professor Jacob por me ter permitido ler e citar este livro antes
de sua publicação.
18. A. Sidney Discourses Concerning Government
(1698),
p. 79.
19.
James Tyrell, Patriarcha
non
Monarcha (1681), pp. 83-4, citado por J.
R í -
chards, L. Mulligan e J.K. Graham, 'Property' and 'People': Political Usages
of
Locke and Some Contemporaries , Journal of the History of Ideas XLII
(1980), p. 34; cf. p. 42, e H.T. Dickinson, Liberty
and
Property (1977), p.
78.
De.vo
esta última referência
a
Antony Arblaster.
20. M.R. Frear, The Election at Great Marlow , Journal of Modern History
XIV, p. 435; M.F. Keeler,
The Long Parliament 1640-1641: A Biographical
Study of its Members (Filadélfia, 1954), pp. 33, 35; Derek Hírst, The Repre-
sentative
of the
People? Voters
and
Voting
in
England
under the Early
Síuarts
(Cambridge Universíty Press, 1975), cap. 5.
21. H.
Prideaux, Directions
to
Churchwarden
(Norwich,
1701),
p. 51.
22. R. Baxter, The Holy Commonwealth (1659), pp. 243, 218-19.
23. G.P. Gooch e H.J. Laski, The History of English Democratic Ideas in the
Seventeenth
Century
(1927), p. 154.
24.
T. Edwards Gangraena Parte II (1646), p. 16c.
25.
J. Ussher,
The Power communicated by God to the Prince
(3 ̂ ed. 1700),
Síg
D
6v-7. Primeira edição, póstuma,
em
1661. Ussher faleceu
em
1656.
26.
Shaftesbury Some
Observations ,
em
Somers Tracts
(1809-15), VIII, p.
401;
J. Dunn, The Political Thought of John Locke (Cambridge University Press,
1969), pp. 122-3, 131.
27. Ver
nota
46, p.
288.
28.
Citado em P. Collinson,
Archbishop
Grindal: The Struggle for a Reformed
Church (1979),
p.
289;
cf. pp.
205, 247-8.
29. W. Stoughton,
An
Assertion
for
true
and
Chrisíian Church-Policie (1604),
pp. 193-5, 362-72.
30.
W . Gouge, Of Domesticai Duties (1626),
pp.
331-2.
31.
(J. Sturgion), Queries
for His Highness to
Answer (1655), citado por D.B.
Heriot, Anabaptism in England during the 17th century , Transaciions of the
Congregational
Hist.
Soe. XIII (1937-9), p. 29.
32. R. Hooker, Works (Oxford University Pres, 1890), II, p. 405.
33.
J.
Frank,
The Beginnings of the
English
Newspaper
1620-1688
(Harvard
University Press, 1961), p. 343, referindo-se a A Modest Narrative n. 7, 12-19,
maio
de
1649.
34.
W .
B r a d f o r d Histoi-y of Plymouth Plantation (Collections
of the
Massachusetts
Hist.,
Soe.,
III, 1856),
pp.
89-90;
T.
Prince, A
Chronological History
of New
England in the Form of
Annals Part
II Seção l (1736), em An English Gar-
ner
(org. E. Arber, 1895-7), II, pp. 410-11.
35.
Ver meu Puritanism and Revolution (1958), pp. 225-7; Society and Puritanism
in
pre-Revolutionary England
(1964),
pp.
274-5.
36. Org. D.M. Wolfe, Complete Prose Works of John Milton
(Yale
ed., 1953),
III, pp. 236-7; cf. IV, pp. 389, 471, e meu Milton and the English Revolution
(1977), p. 186.
37. P. Geyl The Interpretation of Vrancken's Deductio ,of 1587 on the Nature
of
the
Power of the State of Holland , em
From Renaissance to the Coun-
ter-Reformation: Essays in Honor of Garrett Mattingly (org. C.H.
Cárter,
Nova York, 1965), p. 239,
38. Org. C.H. Firth e R.S. Rait, Acts
and Ordinances of the
Interregnum (1911),
I, p. 749.
7/18/2019 Christopher Hill - Os Pobres e o Povo Na Inglaterra Do S Éculo XVII (4)
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288 c outra história
39.
L. Andrewes, XVI
Sermons
(2 ̂ e.d.,
1631),
p. 459.
40. Ver, por exemplo, John Eliot, The Christian Commonwealth (1659), pp. 5-6.
41. (Anon.), The Case o f the Army
Soberly
Discussed (1647), p. 6.
42.
Joan Simon, Education
and
Society in Tudor England (Cambridge Univer-
sity Press, 1966), pp. 195, 217, 370.
43.
R. H. Tawney, The
American
Labour Movement and
other Essays (ed. J.M.
Winter, Brighton, 1979), pp. 179-80; cf. meu Puritanism and
Revolution
p.
233; Change
and
Continuity
in
Seventeenth-Century England (1974),
p.
202.
44.
Ver K.
Wrightson
e D.
Levine, Poverty and Piety in an Essex Village: Ter-
ling 1525-1700 (1979),
passim; e
também
William
Hunt,
The
Puritan Mo-
ment (Cambridge, Mass., 1983), que ele bondosamente me permitiu que lesse
antes
da
publicação.
45.
Meu Reformation to
Industrial Revolution
(ed.
Penguin),
p. 58.
46.
L.
Boynton,
The
Elizabethan Militia 1558-1638 (1967),
pp. 62,
108-11,
220-1.
47. Society and Puritanism pp. 274-5.
48. Harrington, Works p. 292; cf. pp. 129-30, 657-60, 840.
49. Ver meu Century of Revolution (ed. revista,
1980),
pp. 18-21, 131, 177-8.
50. Reformation to Industrial
Revolution
pp. 56, 98-9.
51. Adam Moore, Bread
for the
Poore (1653), p. 39.
52. P. Styles,
Studies in Seventeenth-Century West Midlands History Kineton,
1978),
pp.
186-93.
53. Dalby Thomas, An Historical Account of the Rise and
Growth
of the West
índia
Colonies
(1690),
em
Harleian
Miscellany
(1744-5),
II, p.
343.
54. J.
Swift,
Works (1814),
VIII,
pp.
111-12.
55. Argumentei
isto
em Change and Continuity cap. 10.
56. (Bernard de Manderville), The Fable of the Bees (3$
ed.,
1724), I, pp. 328-
30; cf. pp.
210-13.
57.
J.S. Morrill,
Seventeenth-Century
Britain 1603-1714 JFolkestone, 1980),
pp.
108-9.
58.
D.
Hirst,
op.
cit. passim.
59.
P.J.
Bowden, Agricultural
Prices,
Farm
Profits,
and
Rents ,
in The
Agra-
rian
History
o f
England
and
Wales,
IV 1500-1640
(org.
J.
Thirsk, Cambridge
University Press, 1967), p. 621.
60. John Price, The Cloudie
Clergy
(1650), p. 14.
61. W. Sedgwick, A Second View of the Army Remonstrance (1649), p. 13;
cf .
M.
Kishlansky, The Rise of the New Mode l Army (Cambridge Univer-
sity Press,
1979).
62. T.
Lock, The Extent of the
Sword
(1653-4),
p. 2.
63. (Anon.), The Armies Vindication of This Last Change 1659), pp.
3-6,
ci-
tado
por
Austin Woolrych
em sua
Introdução
ao
Vol.
VII do
The Complete
Prose Works
o f
John Milton
(Yale
University Press, 1980), VII, pp . 124-5.
64. Milton, Complete Prose Works
I, pp.
923-3,
IV, p.
635.
65. (Anon.),
Salus
Populi Solus Rex (1648),
citado
por
H.N. Brailsford,
The
Levellers and the
English
Revolution
(1961),
pp. 345-6.
66. R. Overton, The Araignement of Mr. Persecution in
Tracts
on Liberty in
the Puritan Revolution
org. W. Haller (Columbia University Press, 1933),
III, p. 213.
7/18/2019 Christopher Hill - Os Pobres e o Povo Na Inglaterra Do S Éculo XVII (4)
http://slidepdf.com/reader/full/christopher-hill-os-pobres-e-o-povo-na-inglaterra-do-s-eculo-xvii-4 25/25
notas 289
67 . Citado por Howard Nenner, Constitutional Uncertainty and the Declara-
tion
of Rights , in After the Rejormation:
Essays
in Honor of
J.R.
Hexter
org. Barbara C. Malament
(Manchester
University Press, 1980), p. 294.
68.
M r.
Peters
Last
Report
of the English Warres
(1646),
p. 6.
69.
P.B.
Shelley,
A
Proposal
fo r
Putting
Reform
to the
Vote (1817),
em
Prose
Works
(1912), I, p. 365.
70.
L. Clarkson, A Generall Charge or
Impeachment
of High Treason in the
name of
Justice Equity,
against the Communality of
England
(1647), pp .
10-18.
71.
J. Wildman,
Truths Triumph (1648),
p. 4.
72.
P.
Chamberlen, The Poore Mans Advocate (1649), passim.
73 .
Gerrard Winstanley, The L aw of Freedam and
other Writings
(ed. Pen-
guin) , pp. 97, 108-9, 136, 170, 201-2, 373-4.
74 .
Ibid. pp.
182, 372-4.
75 .
Ibid.
pp. 49, 104-6, 340; org. G. H. Sabine,
The
Works of Gerrard Wins-
tanley (Cornell University Press, 1941),
p.
408.
76. The Law of Freedom pp. 244-5, 281; Sabine, op. cit., p. 205; meu The
Religion of
Cerrará
Winstanley Past and Present Supplement, n. 5, 1978),
pp. 26-7.
77. The Law of Freedom, pp . 314-21, 324, 345, 356-7, 361-2, 383-9.
78 R. Baxter, A Sermon of Repentance (1660), p. 43.
capítulo
3 (pp.
54-79)
1. C.V. Wedgwood, The
King's Peace 1637-1641 (1955; edição londrina, 1966),
p. 53.
2. J.E. Handley, Scottish Farming in the Eighteenth
Century
(Londres, 1953),
pp . 88-90.
3 . Patríck Gordon, citado por Andrew Lang, A
History
of
Scotland (3?
1
ed.,
Edimburgo, 1924), Vol. 3, p. 151.
4. James Níchols, Calvinism and Arminianism (Londres, 1824), pp. xli, 205.
5. Basilikon Doron (1603), citado por Lang,
op.
cit. Vol. 2, pp. 438-9.
6.
1.1.
Rae, Scotland
in
th
e
Time
of
Shakespeare
(Cornell
Univ.
Press, 1965),
p. 21.
7. A. Peterkin, org., The Booke of the
Universal
Kirk of Scotland
(Edim-
burgo, 1838), pp. 434-5.
8 . Willíam
Ferguson, Scotland's Relations
with
England: a Survey to 1707
(Edim-
burgo, 1977), p. 120.
9. Rae,
op.
cit. p. 30; Anon. (? James Myles),
Chapters in the
Life o
a
Dun-
dee Factory Boy (Dundee, 1887), p. 27.
10. J.M. Reid, Kirk and Nation. The Story of the Reformed Church of Scotland
(Londres, 1960),
pp.
68-9.
í
l .
Gordon Donaldson, Scotland,
th e
Making
of the
Kingdom
James
V — Ja-
mes Vil
(1965, edição
de
Edimburgo, 1978),
pp.
315-6.
12.
Reid,
op.
cit.
p. 75.
13 . David Stevenson, The Scottish Revolution 1637-1644. The Triumph of the
Covenanter (Newton Abbot, 1973),
pp.
224-6.
14. Ibid. p. 200.