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7/29/2019 Captulo 4. Outras experincias no sculo XX - pensando o Pan-africanismo, a negritude e o movimento negro
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Captulo IV
Outras experincias no sculo XX: pensando o oPan-
africanismo, a Negritude e o Movimento Negro.
Paulino de Jesus Francisco Cardoso
Willian Robson Soares Lucindo
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Captulo 4.
Outras experincias no sculo XX:
pensando o Pan-africanismo, a Negritude e o Movimento Negro.
Paulino de Jesus Francisco Cardoso1
Willian Robson Soares Lucindo2
Nesse captulo nosso objetivo realizar alguns apontamentos queconsideramos necessrios sobre os movimentos identitrios de combate ao racismo
elaborados pelas populaes de origem africana em dispora. O sculo XX um dos
sculos mais emblemticos da Histria, se no for o mais, marcado por inmeras
mudanas, acontecimentos e, em suas ltimas duas dcadas, passado rapidamente
esquecido e substitudo por um presente que se apresenta e sem vnculos com qualquer
outra coisa j vista, totalmente novo. Como aponta Eric Hobsbawm, um dos fenmenos
caractersticos do final do sculo XX a destruio do passado ou melhor, dos
mecanismos sociais que vinculam nossa experincia pessoal das geraes passada
(1995), parte dessa destruio ocorre como parte de projetos violentos ediscriminatrios, que foram marcantes nesse sculo.
Em pases da Amrica, a violncia institucional e simblica referentes
questo das populaes de origem africana ganharam fora entre os sculos XIX e XX.
Nos estudos sobre o ps-Abolio perceptvel que ao acabar a escravido, as
sociedades em diversos pases americanos debatiam como conceder a cidadania s
populaes oriundas do cativeiro. Assim, reconhece-se que o processo de destruio da
escravido moderna esteve visceralmente imbricado com o processo de definio e
extenso dos direitos de cidadania, em que as novas produes de hierarquia ecategorias raciais esteve relacionada diretamente com o alcance desses direitos
(LUGO; MATTOS, 2005:21). Desta maneira, no Brasil, por exemplo, ora as pessoas
afrodescendentes foram consideradas somente como indivduos, sem direitos civis, ora
foram vistas como cidads, mas sempre na condio de segunda classe (HERNANDEZ,
2008:131).
1 Doutor em Histria Social pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC/SP), Presidente daAssociao Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), Professor da Universidade do Estado deSanta Catarina (UDESC) e Coordenador do Ncleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB/UDESC)2
Mestre em Histria do Tempo Presente pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC),Professor da Secretaria Municipal de Educao de So Paulo, Pesquisador Associado do Ncleo deEstudos Afro-Brasileiro (NEAB/UDESC).
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A racializao dos corpos provavelmente tem sua origem marcada pelos
estudos do Conde Henri de Boulainvilliers, segundo Hannah Arendt. Este nobre e
historiador francs dos sculos XVII e XVIII entendeu que a histria da formao de
seu pas era pautada pela relao de duas naes: gauleses e o povo de origem
germnica. Este teria dominado os demais e se estabeleceram como a nobreza, por issosua proposta era de que ela negasse ter a origem comum ao povo, e a nao a qual
pertencia teria a qualidade natural da conquista, ou seja, os nobres teriam um direito
superior s demais camadas da populao adquirido historicamente, mas ele nada mais
era que o resultado das suas qualidades naturais (1998:192-193).
Com o passar do tempo, as ideias do conde foram discutidas, expandidas para
as relaes de povos, naes, pessoas, at que o Conde de Gobineau escreve seu clebre
Ensaio sobre a desigualdade das raas humanas, na dcada de 1850. Neste ensaio, o
autor defende a existncia de hierarquias raciais, em que os arianos seriam os maisaptos a desenvolver grandes civilizaes do que as outras raas humanas, desta forma a
miscigenao seria um processo de degenerao humana. Ideias como esta foram
fundamentais para justificar o imperialismo colonial promovido por diversos pases
europeus no final do sculo XIX que se seguiu no sculo XX, em que o ponto de partida
era o pressuposto de que apenas os ocidentais mais aptos e mais capazes podiam, de
acordo com a nova conscincia planetria, conceber e apresentar ideias sobre os povos
coloniais, ento a dominao europeia era algo natural (HERNANDEZ, 2008:131).
Ento, podemos considerar que no sculo XX houve uma espetacularizao da
raa. As ideias de raas foram se aprimorando cada vez mais e se rompe com a tradio
fundamental da condio humana. Estudos sobre medidas dos crnios das pessoas de
diversas condies sociais foram feitos por diversos cientistas, que desejavam
comprovar as inmeras diferenas sociais, tanto para reconhecer uma mente criminosa,
como para exemplificar que as populaes africanas eram as mais prximas do
chimpanz, ou seja, tinham o desenvolvimento mental em estgio incompleto se
comparado com as populaes ocidentais da Europa, as quais tinham o
desenvolvimento completo. Apesar de realizar estudos de diversas raas o binmio que
teve maior destaque foi entre brancos e negros.Estes ocupavam o setor mais baixo da escala da hierarquia racial, que tratava
de suas aptides intelectuais, patrimnio gentico e moralidade, logo seriam os menos
criativos, de moralidade duvidosa, negligente, governado somente pela arbitrariedade de
seus senhores. Os brancos se governavam pelas leis, eram inventivos e determinados.
Por conta de tal oposio, surgia a dvida se ambos teriam a mesma origem.
Um fato que respondia essa dvida era a independncia do Haiti, que teve ao
menos duas interpretaes opostas. Para Gobineau, ela era o exemplo histrico da
legitimidade de explorao europeia. Enquanto que Antenor Firmin, e outros/asafrodescendentes americanos/as, questionava o colonialismo usando esse fato. Assim, a
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independncia do Haiti foi representada para alm do prprio fato e rompeu "a
naturalizao das diferenas transformadas em desigualdades e afirma a igualdade de
aptides intelectuais e caractersticas morais entre negros e brancos" (HERNANDEZ,
2008:135).
Outras manifestaes contra a dominao foram surgindo no perodo. Comoorganizaes de congressos, conferncias, produziam textos, criavam fundaes e
associaes, que procuravam a aglutinao de pessoas com histrico comum de
humilhao e precariedade por causa da tonalidade de pele e reabilitar as populaes de
origem africana.
Pan-africanismo
O Pan-africanismo pode ser explicado como um movimento politico-ideolgico centrado na noo de raa, a qual se torna primordial para unir aqueles que,
a despeito de suas especificidades histricas, so assemelhados por sua origem humana
e negra (HERNANDEZ, 2008:138). Desta forma, utiliza o mesmo conceito que serviu
de dominao e excluso para se colocar contra elas.
Esse movimento surge na segunda metade do sculo XIX. No continente
africano teve maior fora nas regies das fricas Ocidental (predominante no
movimento) e Oriental Inglesa, Ocidental e Equatorial Francesa e Portuguesa. Por ser
um movimento de caracterstica letrada, as regies onde existiu um processo de
escolarizao mais antigo - Serra Leoa, Gmbia, Costa do Ouro, Lagos - e uma camada
grande da populao mais abastadas, que podiam garantir os estudos de seus filhos nos
ensino secundrio, e at mesmo nas universidades estrangeiras, tiveram maior
participao. Aponta Hernandez, que os jornais tiveram grande relevncia nesse
momento, influenciados pelas organizaes dos Estados Unidos da Amrica e da
Inglaterra, "os proprietrios e administradores dos jornais tornaram pblicas suas
indignaes sobre a precariedade da vida dos negros e a condio de aviltamento a que
eram submetidos, destacando o racismo prprio dos sistemas coloniais" (137). O incio,
entretanto, foi na Amrica, nos Estados Unidos da Amrica.Foram os afro-americanos que comearam o pan-africanismo, Alexander
Crummel e Edward Wilmot, segundo Kwame Antony Appiah, foram articuladores da
ideologia, enquanto que W. E. B. Du Bois lanou as bases intelectuais e prticas
(1997:53). Este ltimo intelectual entendia que a humanidade era dividida em 8 grupos
raciais, comprovadas pela histria, e que cada uma delas era portadora de uma
mensagem, uma contribuio civilizao humana, por isso era dever dos norte-
americano de ascendncia negra, como um corpo, de manter sua identidade racial at
que fosse possvel a fraternidade humana e o povo negro tivesse cumprido sua misso
(apud APPIAH, 1997:55).
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Deste modo, os pan-africanistas, baseados em Du Bois, no negavam a
diferena, ao contrrio acreditavam nela, mas rejeitavam a relao de superioridade e
inferioridade entre brancos e negros. Para eles as raas mantinham relaes
complementares, a mensagem da raa branca era to importante quanto a mensagem
negra, que faziam parte de algo maior, mensagem da humanidade.A raa, ento, foi norteadora nesse movimento, com um sentido distinto da
viso eurocntrica, mas influenciada por ela. Tambm foi marcante a importncia do
continente africano que teve presena em um discurso montado sobre imagens
mticas, resgatando o passado de Egito Antigo, Nbia, Etipia e criando um
movimento pelo retorno frica (HERNANDEZ, 2008:140).
O padre episcopal Alexander Crummell (1819-1898), nascido nos Estados
Unidos e cidado Liberiano por adoo, foi um dos pais do nacionalismo africano. Para
ele, o continente africano era formado pelo povo negro e afro-americanos/as e afro-caribenhos/as tambm eram membros desse povo. A sua noo de raa definia-se
como uma populao compacta e homognea de uma nica ascendncia e linguagem
sanguneas (HERNANDEZ, 2008:141). E, como representante da raa negra,
considerava-se no direito de arquitetar de dentro do continente o futuro dele. Algo
importante na unificao do povo era a lngua, por acreditar que a lngua inglesa fosse
superior s vrias lnguas e dialetos das populaes nativas africanas, escreveu o artigo,
A Lngua Inglesa na Libria, publicado em 1862, em que afirmou que as populaes
de origem africana exiladas pela escravido receberam essa lngua como uma
compensao.
No foi s a lngua que foi vista negativamente. Os afro-americanos pan-
africanistas, ao importar os conceitos europeus, no viram virtude alguma na frica e,
por conta do vnculo racial concebido por eles aos povos africanos, as opinies
negativas sobre o continente recaam sobre os negros (APPIAH, 1997:22).
Movimento da Negritude
O pan-africanismo nas regies francfonas da frica surgiu depois dascolnias inglesas, entre as duas grandes guerras. Suas ideias ficaram restritas ao
pequeno grupo de africanos das colnias radicados em Paris, que encontraram
compreenso e acolhida nos meios intelectuais, artsticos e polticos ao contrrio dos
africanos das colnias inglesas em Londres (HERNANDEZ, 2008:147). Talvez o
maior expoente deste movimento tenha sido Lamine Senghor, um senegals que lutou
na Primeira Guerra Mundial, foi estudante da Sobornne e um dos fundadores do Comit
de Defesa da Raa Negra (Comit de Defense de la Race Ngre). Este comit tinha a
funo de aglutinar os negros que, sem distino, eram todos irmos unidos pela
mesma raa e sofriam o mesmo destino (sob formas diferentes, bem entendido)
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escravagista, dominado pelo imperialismo internacional (APUD HERNANDEZ,
2008:149).
Cabe ressaltar que a palavra Ngre era um termo pejorativo francs at o incio
do sculo XX, que tinha a intenso de ofender, em contraposio a palavra Noir que
tinha um tom mais respeitoso e se refere cor. A escolha do termo Ngre era paraenfatizar a honra das pessoas das colnias das Antilhas e frica em serem negras,
revalorizando o sentido usado pela dominao (DOMINGUES, 2005:28). Como era um
filiado do Partido Comunista, Lamine Senghor entendia que as populaes negras eram
oprimidas por causa da cor de pele, alm da colonizao e do trabalho. Desta forma a
defesa da raa se fazia contra o imperialismo, um sinnimo do colonialismo, e o
capitalismo.
Em 1927 morreu Lamine Senghor, e Timeko Kouyat assumiu seu lugar de
destaque no rgo de expresso do comit La Voix des Ngres (A Voz dos Negros).Por mais de uma vez o novo lder pediu a unio das pessoas negras para uma ao em
prol da liberdade das colnias, tendo como exemplo o Haiti, que se tornou independente
no sculo XIX. Antes do surgimento do Comit, foi criada a Liga Universal pela Defesa
da Raa Negra (Ligue Universelle por la Defense de Race Noir), tendo como um grande
expoente o ento prncipe de Daom, Tovaloir Honenou, alm do prprio Senghor. O
prncipe foi preso e deportado depois de ser preso porque tentou promover a libertao
de Daom e pregava a revolta para desorganizar o sistema colonial, no incio da dcada
de 1920. Desta forma, o pan-africanismo francfono ao mesmo tempo que se inseria na
poltica, buscando a libertao do imperialismo, tambm procurou criar uma identidade
traduzida na negritude (HERNANDEZ, 2008:151).
No cenrio mundial, a fundao do movimento da Negritude acontece em 1934
e, alm do pan-africanismo francfono, est atrelado a vrios movimentos culturais,
artsticos e polticos na Amrica, Europa e frica que buscaram ressignificar o termo
negro e enaltec-lo. A responsabilidade do surgimento mundial do termo da revista
criada na Frana intitulada Ltudiant Noir (O Estudante Negro) e a proclamao de
Lon Damas publicada no primeiro nmero, a qual afirmava que eram estudantes
negros e no mais martinicanos, senegaleses ou malgaches (DOMINGUES, 2005:28).Alm de Damas (Guiana Francesa), estavam na revista Lopold Sdar Senghor, que
mais tarde foi presidente do Senegal, Aim Csaire (Martinica) quem criou o termo
negritude.
Os movimentos Pan-Africanismos e Negritude se pautaram pela suposio da
solidariedade racial dos negros (APPIAH:1997:23). Em ambos foi buscada uma
ancestralidade africana para unir as vtimas do racismo a partir da noo de raa,
baseando-se nas teorias de Du Bois. A contradio de se pautar pela mesma lgica que
oprimea raapara super-la compreensiva quando reconhecemos que at a derrotanazista era um conceito que organizava o mundo ocidental, fazendo parte dos estudos
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cientficos. Depois as populaes africanas conviveram com diferentes graus de racismo
e, por conta disso, tiveram graus distintos de preocupao com isso e, ademais, para
aquelas pessoas africanas que lutaram na Segunda Guerra Mundial a lio aprendida
no foi o perigo do racismo, mas a falsidade da oposio entre uma modernidade
europeia humana e o barbarismo do mundo no-branco (APPIAH, 1997:24). NoNovo Mundo, onde a discriminao racial no ps-Abolio foi responsvel por disputas
pelas cidadanias chegando ao ponto de se forjar cidados de segunda classe , tal
noo nem sempre foi a mais usada pelas pessoas discriminadas, como veremos mais
adiante, seu uso se torna mais frequente quando se tentava dar-lhe uma conotao
positiva e criar o orgulho racial.
Mauricio Waldman e Carlos Serrano distinguem o Pan-africanismo da
Negritude pela ampla insero nas massas negras que teve o primeiro movimento
(2008:235). A Negritude pode ser entendida como a reao branquitude, ou seja, aassimilao cultura europeia de algumas classes nas colnias. Nas colnias da frica e
da Amrica o grupo que estava entre as massas trabalhadoras e a minoria branca, que
representava a metrpole, era uma espcie de elite de origem africana, que fazia de tudo
para se portar como as populaes europeias. Assim, usavam os mesmos modelos de
roupas, cabelos dos colonizadores e buscavam at mesmo clarear a pele, esta
incorporao dos valores europeus, entretanto, no a retirava da condio de
marginalizada, principalmente quando estavam nas metrpoles (FANON, 2008). Foram
os membros dessa classe de pequenos-burgueses que elaboraram o movimento de
resgate e ressignificao da cultura e identidade das populaes de origem africana.
O termo negritude foi usado pela primeira vez no poema Dirio de um Retorno
ao Pas Natal (Cahier dun Retour au Pays Natal), de Aim Cesaire, publicado em 1939.
No comeo o movimento teve um carter cultural, mas se estendeu para modos de
realizar pesquisas histricas. Sempre focado em elevar a autoestima das populaes de
origem africana, tanto em frica quanto em dispora.
Com objetivo de negar a superioridade e a assimilao cultura europeia, o
movimento buscava valorizar aspectos culturais das culturas africanas. Leopold Sedar
Senghor, poeta senegals, deu prefernciapela combinao entre os valores do mundonegro resgatados e combinados com os valores franceses (HERNANDEZ, 2008: 151).
Por outro lado, Cheikh Anta Diop, historiador e seu conterrneo, buscou o rompimento
total com a Frana, que para ele mantinha relaes assimtricas com a frica. Ele
valorizou o continente pr-colonial, em 1955 publicou Naes negras e culturas
ressaltando as origens da civilizao, em especial o Egito, tambm valorizava as lnguas
africanas, para resgatar a autoestima das populaes e construir a modernidade africana.
No entendimento de Csaire trs aspectos eram importantes na Negritude
identidade, fidelidade e solidariedade. Isso significava reconhecer e orgulhar-se em sernegro; manter um vnculo com a terra-me e a herana ancestral africana; por fim estar
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em unio com as demais pessoas que so oprimidas pelo racismo e de pele escura,
irms de cor do mundo e buscar preservar a identidade comum. O outro expoente do
movimento, Sdar Senghor, existia uma alma negra na estrutura psicolgica de
africanas/os e ela seria de natureza emotiva se contrapondo a racionalidade de
brancos/as. Isto , para ele Enquanto a civilizao europeia seria fundamentalmentematerialista, os valores negro-africanos estariam fundados na vida, emoo e no amor
(DOMINGUES, 2005:30), temos a o perigo de reforar o preconceito da incapacidade
de africanos/as e descendentes em realizar algumas faanhas, como organizar
sociedades complexas, desenvolver conhecimento cientfico, entre outras. Na verdade a
noo de raa, no importando a sua finalidade libertar ou oprimir, tem vis
essencialista e implica em reforos de preconceitos.
Para o movimento da Negritude, todos os africanos e todos os povos de
ascendncia africana tinham um patrimnio cultural comum. Da o esforo dosescritores desse movimento literrio para estabelecer laos entre os diversos mundos
negros na Europa, Amrica e frica (HERNANDEZ, 2008:152. GRIFOS DO
ORIGINAL). Baseado nisso, a maioria dos participantes da Negritude rejeitou associar
o termo a qualquer grupo em opresso, sem se importar com o tom da pele, como
fizeram um nmero reduzido de intelectuais.
O objetivo mudou aps a Segunda Guerra Mundial, alm de forjar uma
conscincia negra positiva, entrou nas pautas de discusso a emancipao dos povos
africanos. Essa nova fase classificada por Petrnio Domingues como etapa militante.
Ela foi responsvel por impulsionar ideologicamente a luta das organizaes polticas e
dos sindicatos africanos (DOMINGUES, 2005:31), na Amrica foram ressaltadas as
culturas de origem africana nos projetos nacionalistas de alguns pases, como a
Martinica. A Negritude tambm impulsionou as novas organizaes de combate ao
racismo e a discriminao de cor no Brasil, fundadas a partir da dcada de 1960
quando a Negritude atinge seu auge mundial.
Movimento Negro no Brasil
A Negritude foi importante para formular a unificao de pessoas a partir da
raa no Brasil tambm, mas no foi com esse movimento que iniciou o combate
antirracista. Antes da aglutinao racial, as populaes afrodescendentes criaram vrias
formas de combater a discriminao, que para elas eram de cor. As Irmandades
funcionaram desde o perodo colonial, sendo espaos privilegiados de construo da
solidariedade entre as populaes africanas e descendentes, criando salas de aulas,
fundos de auxlio, eventos em homenagens s/aos santas/os padroeiras/os. Aps a
Abolio da escravatura, as sociedades beneficentes e centros cvicos passaram a ser
outra forma importante de aglutinao de afrodescendentes, preocupadas em despertar a
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solidariedade entre as pessoas de origem africana no combate discriminao. Isso
pode ser considerado como incio do Movimento Negro.
Algumas anlises julgaram que os jornais, as associaes e as irmandades
foram os embries do Movimento Negro consolidado na dcada de 1970. Entretanto,
todos esses espaos foram formas de gestes autnomas de afrodescendentes, ondebuscaram construir laos de solidariedade e mecanismos de ascenso social (ROSA,
2011:25).
As Irmandades e as sociedades beneficentes fundadas entre o final do sculo
XIX e a dcada de 1930 no se organizavam a partir da noo de raa. Local de origem,
tom de pele, ascendncia, posio social foram usadas para demarcar seus/suas
frequentadores/as. Deste modo, existiram irmandades de pretos e outras de mulatos,
alm da diviso por naes que foi mais comum na Bahia. Em Laguna, mulatos/as
frequentavam a Sociedade Recreativa Unio Operria, enquanto que pretos/asparticipavam do Clube Cruz e Souza, no incio do sculo XX (ROSA, 2011). Em So
Paulo, quem frequentava baile das sociedades se diferenciava dos demais pelas suas
roupas e emprego, ficando conhecidos como negros de baile, alm disso em meados
da dcada de 1910, nas festas do cordo Camisa Verde os Negros da Glete, no
podiam participar, ou melhor, eles ficavam espontaneamente do lado de fora, bebendo
pelos botecos e garantindo a segurana.3
Entretanto, quando se propuseram a debater os problemas sociais sempre
expuseram a existncia da discriminao s populaes consideradas oriundas daescravizao, e para elas elaboraram discursos e aes em favor de sua ascenso
econmica e reconhecimento de suas culturas. Por esses motivos so reconhecidas como
parte da histria dos movimentos sociais negro, mesmo sem reconhecer e/ou rejeitar a
ideologia da raa.
A primeira grande manifestao antirracista pautada pela raa no Brasil foi a
Frente Negra Brasileira, entre 1931 1937. Ela foi fundada em So Paulo por membros
Centro Cvico Palmares, o qual foi criado para ser um lugar de debate em contraponto
s sociedades beneficentes, que focavam mais no baile e nas recreaes. Quando o
Palmares no conseguiu se sustentar, ao tentar construir um salo para funcionar como
escola para crianas afrodescendentes, Arlindo Veiga dos Santos e outros membros
continuam a se encontrar para discutir a situao de pobreza que viviam as populaes
de cor. O jornalista estava atento aos debates sobre a raa no mundo e foi um dos
responsveis pela mudana de postura nos jornais controlados por afrodescendentes,
que incorporaram o termo negro para autodenominao no final da dcada de 1920.
3 Depoimento de Dionsio Barbosa BRITTO, Ieda Marques. Samba na cidade de So Paulo (1900-1930): um exerccio de resistncia cultural. So Paulo, FFLCH-USP, 1986. p.69. Negros da Glete eram
moradoras/es pobres da parte baixa da alameda Glete do bairro operrio da Barra Funda, l tambmexistiu um time de futebol, So Geraldo, que seus jogadores ficaram conhecidos por sua violncia nosjogos.
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A FNB teve como veculo de comunicao o peridico A Voz da Raa, que
alm de denunciar a discriminao racial, trazia discurso de unio e forjamento da raa
brasileira, e no s raa negra. Baseado na experincia das outras associaes paulistas
cobrou de seu quadro associativo uma conduta que no fosse criticada por nenhum
outro setor da sociedade, conseguiu criar salas de aulas para crianas negras, manteveum grupo cnico e exaltou a importncia das populaes africanas escravizadas na
construo da sociedade do nosso pas, a fim de elevar a autoestima de seus/suas
descendentes.
Assim como os jornais anteriores, A Voz da Raa tambm lutava contra a
apatia das populaes negras frente aos seus problemas e na busca pela elevao social.
Porm, nas primeiras organizaes acreditavam que a apatia se formava por estarem
oprimidos de um lado pelas ideias escravocratas que de todo no desapareceram e de
outro pela nefasta ignorncia em que vegetam (O ALFINETE, set.1918), enquantoque para Frente ela criada pelos vcios da raa. Para combater esses vcios criaram
diversas campanhas contra o alcoolismo, a desunio, a prostituio feminina.
Maria Anglica Maus (1991), ao analisar a trajetria do discurso racial,
aponta que a no discurso das lideranas das instituies da dcada de 1930 possvel
encontrar a assimilao da ideologia do branqueamento, ao se referirem como culpados
pelos ditos vcios da raa. De fato as falas das lideranas eram carregadas de valores
das elites brancas, isso tambm encontrado nas aes dos membros das primeiras
sociedades beneficentes, e buscavam incorporar esses valores ao restante das
populaes negras, mas a assimilao tambm foi uma maneira de luta, uma vez que ao
agirem da maneira dita correta desarmavam o discurso que o problema estava nos
modos como viviam. Assim escreviam no nmero 8 do A Voz da Raa
E havemos de vencer. Vencer antes a ns mesmos; vencer as paixes ruinsque nos dominam; as qualidades ms, o lcool, o samba desenfreado, odescrdito imerecido; vencer a incompreenso, a cobia, o orgulho, odespeito que vem confirmar a lgubre frase de Patrocnio - inimigo do negro o prprio negro.
Ao passo que acreditavam que poderiam superar os vcios da raa, possvel
notar que a FNB acreditava que todos esses problemas ocorriam por conta da situao
vivida e no por ordem biolgica. O perigo est na fcil concluso de que as populaes
negras tm uma predisposio a esses vcios.
A FNB foi dissolvida no governo Vargas em 1937, o qual manteve poucas
associaes desse carter abertas. Na verdade o combate discriminao racial era feito
por associaes que valorizao a recreao e cultural, de forma pontual. A partir da
dcada de 1940 as associaes de afrodescendentes voltam a ter fora, atravs de
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centros de culturas e humanitrios, companhias de teatros e jornais. Sensveis s criticas
procuraram no abrir conflito direto contra a discriminao (ANDREWS, 1998).
Podemos destacar as instituies de afrodescendentes criadas ps-Estado
Novo: Unio dos Homens de Cor, Teatro Experimental do Negro, Centro de Cultura
Negra, Cruzada Social e Cultural do Preto Brasileiro, o Centro de Cultura Luiz Gama,Frente Negra Trabalhista; os jornais Alvorada, Niger, Novo Horizonte, Mundo Novo, A
Tribuna Negra, Quilombo e a revista Senzala. Todas elas se preocuparam em debater e
valorizar a cultura de origem africana, elevar a autoestima das populaes negras e
cuidar da educao delas. Conforme o tempo passava, em especial na cidade de So
Paulo,
surgiu um grupo de afro-brasileiros mais jovens que tendiam a ser melhor
instrudos que a maior parte dos brasileiros negros (ou brancos),politicamente conscientes e profundamente perturbados em relao ao seustatus de negros em uma sociedade racialmente estratificada (ANDREWS,1998:300).
Estes jovens acreditavam que tudo que vinham fazendo no era o suficiente,
entendiam que a discriminao continuava oprimindo e no importava o grau de
instruo. Eles estavam atentos/as Negritude e aos processos de libertao dos pases
africanos e de luta antirracista nos Estados Unidos da Amrica.
Abdias Nascimento fundou o Teatro Experimental do Negro e editava o
peridico Quilombo, que se espalharam pelo pas. Nascimento era crtico postura
conciliadora das organizaes anteriores, apontava as dificuldades de ascenso de
negros e os males da discriminao. Antes dele, em 1943, em Porto Alegre foi fundada
a Unio dos Homens de Cor, que esteve presente em doze estados do pas, que
retomando atividades de outras associaes zelava pela ajuda mtua e combate
discriminao. Em 1978, na cidade de So Paulo surgiu o Movimento Negro Unificado
Contra Discriminao Racial que at hoje chamado de Movimento Negro
Unificado ou MNU.
O surgimento do MNU est combinado ao aniversrio de 90 anos da Abolioda escravatura e dois fatos extremos de discriminao racial que ganharam se tornaram
pblicos. Em 28 de abril Robson Silveira, um jovem negro, foi morto enquanto estava
sob custdia policial, com sinais de torturas e sem nenhuma denncia contra ele, e duas
semanas depois quatro jovens negros foram expulsos do Clube de Regatas Tiet, onde
jogavam vlei. Durantes os debates em comemorao ao 13 de maio de 1888,
intelectuais, professoras/es, artistas e estudantes negras/os que frequentavam as
associaes culturais e cvicas apontaram para a necessidade de combater o racismo
com outras armas, alm da instruo e conscientizao de negras/os. Era precisopressionar as organizaes pblicas e privadas tambm combater e criar aes para
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expandir as oportunidades econmicas, educacionais, sade e etc. (ANDREWS,
1998:302).
Desta maneira, o discurso e as aes mudam totalmente. Se antes as falas eram
carregadas de valores das elites brancas, comeam a question-los, entendendo que so
responsveis pela discriminao. Portanto, no bastaria mais se educar, precisodiscutir a educao e como ela atua no reforo das prticas discriminatrias. Ao invs
de somente dizer que as/os negras/os no buscam estudar, procuram saber o porqu
disso e qual ao seguir para a eliminao desse problema. Ou seja, o problema do
negro se torna o problema da sociedade brasileira.
Os problemas de se pensar a partir da noo de raas
Como bem anotou Kwame Anthony Appiah (1997), as ideologias raciais queemergiram nos ltimos dois sculos, foram frutos de uma tentativa de compreenso da
diversidade humana por parte dos intelectuais ocidentais. Tais teorias produziram uma
doutrina que o autor denominou de racialismo. Desta forma, no ocidente se agrupou as
pessoas a partir de suas caractersticas fsicas e as colocaram em uma hierarquia racial,
acreditando que existiam caractersticas hereditrias inalienveis aos membros de um
grupo racial (1997:33). Tais caractersticas conformariam uma essncia racial que
deveria ser conservada. No melhor dos casos, cada uma das raas teria uma mensagem a
dar ao mundo.
A raa, enquanto termo que designa um grupo populacional, tende a reduzir as
pessoas que so colocadas neste grupo a um amontoado de esteretipos, ideias pr-
concebidas, sem respeito a individualidade dela. Como aponta Ralph Ellison (1991),
escritor norte-americano de origem africana, ao olhar para um conjunto racial, a pessoa
racista no capaz de perceb-lo, s enxerga os fantasmas de sua prpria imaginao.
Quando movimentos de combate ao racismo tem como base uma identidade
geralmente africana, eles evidenciam a eficcia da dominao, pois esto pensando a
partir dos parmetros dos grupos dominantes. E, ao colocar ou aceitar algumas
caractersticas como fundamentais na formao da identidade racial reforam aopresso, impondo um modo de ser e estar a pessoas que j so discriminadas por conta
da cor da pele, que passaro a ter que seguir determinadas prticas para pertencer ao
grupo que foi colocada.
Desta forma, a identidade e o destino de povos a partir do essencialismo da
noo de raa so temas caros aos movimentos antirracistas. Appiah indica que existem
ideias errneas herdadas dos ocidentais que precisam ser eliminadas (1997). Que os
povos europeus e seus descendentes vejam os demais povos como raas uma coisa,
outra opresso termos raciais. Mas que os oprimidos se percebam como uma raa
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terrvel. Mesmo que digam que a noo de raa diferente, na prtica tal noo se
baseia na naturalizao da solidariedade racial.
Quando acaba a dominao colonial na maioria dos pases africanos, afro-
americanos e afro-caribenhos foram visitar o continente e perderam o encanto, no
reconheciam a alma negra universal presente nas produes literrias da Negritude.De fato, a ideologia da negritude tinha um componente de romantismo e a frica foi
construdas nas obras como um smbolo utpico de inocncia e pureza (DOMINGUES,
2005:39).
Ainda as teorias raciais, transformadas em polticas institucionais, foram
responsveis por uma racializao de inmeras tenses sociais, principalmente aquelas
vinculadas ao desmonte do sistema escravistas. No contexto da luta abolicionista, tais
ideologias permitiram uma atualizao das hierarquias sociais, que contriburam para
excluir as populaes no europeias do acesso riqueza, ao poder, ao prestgio e, atmesmo, cidadania. Sidney Chalhoub, (1996), Raquel Rolnik (1981), Clia Azevedo
(1987) entre outros, apontaram em seus trabalhos, como esta doutrina racialista norteou
a poltica de imigrao europeia e os processos de modernizao dos espaos urbanos
nas regies sul e sudeste do Brasil. Assim, branqueava-se a populao acreditando que
com isso o pas estivesse no caminho da civilizao.
Apesar dos problemas apresentados, a raa usada ainda para o combate ao
racismo. Ela uma concepo biologicamente insustentvel, mas socialmente relevante
para distribuio de poder, riqueza e honra social, principalmente em sociedades como abrasileira. Sem buscar aprisionar pessoas em uma identidade de grupo e considerando
que as pessoas so discriminadas racialmente no Brasil pelos fentipos, o uso da raa, a
partir da associao de pessoas pela cor da pele, tipo de cabelo, tamanho de nariz e
lbios, entre outras caractersticas fsicas, til para denunciar e criar aes contra a
discriminao racial.
A defesa de aspectos culturais de origem africana, como as religies, msicas,
festas e danas, so pautas das agendas dos movimentos antirracistas porque entre os
seus objetivos esto: garantir o direito da liberdade de expresso; dar visibilidade e
reconhecer s mais variadas formas culturais que contriburam para a formao da nossa
sociedade; desqualificar as interpretaes estereotipadas sobre quaisquer grupos sociais;
respeitar e tornar respeitvel todas as formas de diversidades. E no porque concorda
com as ideias racistas de que determinadas praticas pertencem exclusivamente s
populaes negras ou afrodescendentes. Na verdade, o que se busca o fim dessas
amarras e que sejamos vistos como pessoas sem caractersticas pr-existente de um
grupo, seja ele racial, de gnero, social.
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Referncias Bibliogrfica
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Faculdade de arquitetura e urbanismo da Universidade de So Paulo (FAU/USP), SoPaulo.
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