CAMPO, COMIDA & CIDADANIA
Guia do Encontro online
Campo, Comida & Cidadania
Guia do Encontro Online
Angela Küster e Jaime Ferré Martí
Janeiro 2017
1. Primeiras palavras ..........................................................................2
2. Os sistemas agroalimentares .........................................................3
3. Campo – a transição agroecológica................................................9
4. Comida –boa para você e o planeta..............................................10
5. Cidadania – plantar e comer são atos políticos.............................11
6. Ideias para conquistar a sua soberania alimentar.........................12
7. Para saber mais ...........................................................................14
CONTEÚDO
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.... porque seguir da mesma maneiranão é uma opção!
Existem hoje principalmente dois sistemas agroalimentares ,
vistos como diferentes modelos de se fazer agricultura.
A agroindústria transformou a agricultura, introduzindo
tecnologias para aumentar a produção de al imentos de forma
signif icat iva para a crescente população.
A capitalização e privatização das terras iniciou já no
século XIV na Inglaterra com a expulsão de comunidades
rurais dos seus terr i tórios.
Com a industr ial ização da agricultura surgiram impérios
agroindustriais , que estão levando os agroecossistemas, e
toda a civi l ização global izada, ao colapso.
A agricultura campesina , com base famil iar e de pequenas
propriedades, foi vista como antiquada e em vias de extinção.
Mas as comunidades rurais e indígenas persist iram ao longo
do tempo. Hoje são consideradas guardiões da terra e das
sementes, e a agricultura ecológica é vista como a única
opção viável, se queremos ter um futuro como civi l ização
humana.
2. Os sistemas agroalimentares
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A interação dos sistemas sociais na agricultura
O sistema agroindustr ial provoca crises
al imentárias, cícl icas e global izadas.
Mais de seis milhões de crianças, menores de 5 anos,
morrem ao ano por causas relacionadas com a fome,
ou seja, uma criança a cada seis segundos.
Crises alimentárias
O número dos que passam por períodos de fome é
estimado entre 1,4 bi lhões a 2 bi lhões de pessoas.
É um paradoxo que entre 75 a 80% dos famintos vivem no
campo e dependem do uso da terra, da qual não se podem
alimentar de forma segura.
“Uma crianca que morre hoje por causa da fome é assassinada”.
JEAN ZIEGLER
“A fome e a guerra não obedecem a qualquer lei natural, são criações humanas”.
JOSUÉ DE CASTRO
Cada vez mais famíl ias perdem seu sustento pela
degradação de suas terras ou são expulsas.
A comida, essencial para a sobrevivência das pessoas, virou
um negócio, e o objet ivo da agricultura deixou de ser a
al imentação da população, o negócio é produzir dinheiro.
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Carne Bovina e Gases do Efeito Estufa | GGN
O maior foco para o sistema agroindustr ial é a produção de
carne e produtos animais. A cada ano são sacri f icados 60
bilhões de animais no mundo, seres que passaram sua vida
confinados, para a produção de carne, leite e ovos.
Além da questão ética , os animais tem o direito à uma vida
digna, o consumo de carne faz mal para a saúde e tem uma
grande part icipação nos problemas ambientais, entre esses
a emissão de gases que contr ibuem para
as mudanças climáticas
O outro lado da fomeAo mesmo tempo mais de um bi lhão de pessoas no mundo
são obesos e sofrem de doenças crônicas , devido ao
consumo de al imentos industr ial izados com alto teor de
gordura e açúcar.
Os produtos altamente processados fazem mal à saúde e
tem pouco valor nutr i t ivo.
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O sistema agroindustrial surgiu com a industr ial ização há 200
anos e tem como base energética o petróleo, ut i l izado para a
fert i l ização química e a produção de agrotóxicos, vistos como
necessários para garantir a produção.
A part ir de venenos inventados nas duas Guerras Mundiais, a
indústr ia iniciou uma verdadeira guerra contra a natureza.
Os nove limites do Stockholm Resiliance Institute
A agroindústria
As consequências são mudanças cl imáticas,
desmatamento das f lorestas tropicais, acidif icação dos
oceanos, sal inização e desert i f icação dos solos,
contaminação e desperdício de água doce.
Estamos passando dos l imites da resi l iência do planeta em
várias áreas, como consta o Stockholm Resil iance Inst i tute.
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A agricultura familiar
Ainda existem uns 200 milhões de famíl ias campesinas no
mundo, que garantem a al imentação da população rural e
urbana. Enquanto a indústr ia produz para o mercado
globalizado e investe na produção de grãos para a
criação de animais, ou a produção de biocombustíveis, a
agricultura famil iar disponibi l iza entre 70 a 80% dos
alimentos , que chegam na sua mesa.
As famíl ias campesinas sofrem pressão por todos os lados, e
mal conseguem sobreviver, mesmo trabalhando pesado.
Recebem pouco pelos produtos, pelos quais nós consumidores
pagamos um preço alto. Se endividam e não conseguem
financiamentos, enquanto as grandes empresas vivem de
subvenções , recebem incentivos e podem ficar abaixo do
preço de produção, numa competição injusta nos mercados.
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A agroecologia oferece um novo paradigma , que impulsiona
mudanças sistêmicas a part ir de uma consciência do
agroecossistema como unidade integral e concreta.
A part ir do manejo ecológico da propriedade famil iar se
transformam as relações sociais e se faz possível uma co
criação com a atuação em conjunto entre o governo,
empresas e sociedade.
O desafio é superar as divisões sociais, econômicas
e holíst icas e criar novos sistemas sócioeconômicos que
promovem a preservação e recuperação dos ecossistemas,
enriquecendo a natureza ao invés de degradála.
A part ir de uma mudança da consciência , do mapa mental,
com a superação da divisão espir i tual, podemos reconhecer
nosso papel no mundo e fazer a nossa parte.
Gráfico do Presencing Institute, traduzido para português e adaptado
No sistema agroindustr ial existe uma divisão social,
ecológica e espir i tual, provocando várias bolhas que estão
prestes a explodir. Segundo a teoria U, desenvolvida no
Massachusetts Inst i tute (LINK), para a transformação desse
sistema se faz necessária uma mudança da consciência do
ego ao ecossistema .
A transformação do ego - ao ecossistema
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A transição agroecológica avançou nos últ imos
anos, tanto na ampliação de cursos e núcleos
nas universidades, como também aumentaram as
comunidades e grupos que se orientam na agroecologia
para construir sistemas agroal imentares
mais sustentáveis e justos.
3. Campo – processos de transição agroecológica
No interior do Brasil, e em muitas cidades, existem
milhares de vivências de uma mudança no manejo dos
agroecossistemas, nas formas de organização familiar e
comunitária, e em muitas localidades existem
empreendimentos solidários.
Veja a página
www.agroecologiaemrede.org.br
com o registro de mais de 1.000
experiências agroecológicas.
Procure uma experiênciaperto de você e vá conhecêla!Não existe uma melhor formade comprovar pessoalmente, que é possível transformar
o campo em oásis,cuidar da natureza eviver dignamente.
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São real izados encontros
nacionais e
internacionais, com um
intercâmbio de
conhecimento e a
construção colet iva dos
saberes.
4. Comida – boa para você e o planeta
A escolha dos al imentos tem consequências para a
saúde, e o que colocamos no prato faz a diferença também
para o meio ambiente, os animais e as comunidades rurais.
Cada vez mais se indica como solução para a fome e a
degradação planetária uma mudança da dieta com
alto consumo de produtos animais para uma al imentação
baseada em vegetais.
O consumo de produtos animais é considerado um
grande fator de risco , relacionado com as principais
doenças crônicas, consideradas civi l izatórias.
somente com a produção de grãos que são uti l izados na criação de animais
se poderia al imentar 20% da população mundial, 1,4 bi lhões de pessoas.
a produção industr ial de animais precisa 10 vezes mais terras para a
produção de proteína animal que para a mesma quantidade
em proteínas vegetais.
Para produzir um qui lo de carne se gastam 15.500 l i tros de água doce, para
produzir um qui lo de batatas somente 900 l i tros.
Reduzindo o Consumo de produtos animais vamos ganhar em saúde e
reconquistar a soberania al imentar.
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5. Plantar e comer são atos político
Os protestos mais poderosos contra a global ização giram em
torno da al imentação. Cada vez mais pessoas percebem suas
relações com a agricultura quando comem.
Somos “coagricultores” e criamos nosso sistema agroal imentar
com as opções que fazemos pelos al imentos, entendemos que
comer é um ato ecológico, polí t ico e de cidadania.
“A política de alimentação envolve, como qualquer política, nossa liberdade.
Lembramos ainda (as vezes) que não podemos ser livres se nossas mentes e vozes
são controlados por alguém. Mas negligenciamos de entender que não podemos ser
livres se nossos alimentos e suas fontes são controlados por alguém. Essa condição
de consumidor passivo de alimentos não é uma condição democrática. Uma razão
para comer responsável é de viver livre.”
Wendell Berry, agricultor e poeta americano
Para a cientista e at ivista indiana
Vandana Shiva também o ato de
plantar uma horta se
transforma num ato de resistência
contra o poder concentrado nas
mãos das grandes corporações.
Ela defende a Democracia da
Terra , basada no amor à vida e a
preservação das sementes como
base da soberania al imentar.
No Brasi l existe um dos maiores movimentos agroecológicos do
mundo, que defende a soberania al imentar e just iça social.
Os desafios são enormes você pode fazer a diferença.
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6. Algumas ideias para conquistara sua soberania alimentar
A al imentação é decisiva para manter nossa saúde.
Hoje as crianças já sofrem com a má nutr ição, comendo
açúcar, farinhas e gorduras saturadas em excesso, além
de diferentes substâncias nocivas.
É importante procurar produtos com menos desses
ingredientes possíveis, leia as etiquetas com atenção .
Fuja dos grandes armazéns , reduzindo suas compras aos
produtos, que somente consegue por lá.
Evite produtos transgênicos observando
se o óleo de soja ou milho tem o selo e
consultando listas como as do Greenpeace.
Esses produtos levam altas cargas de
agrotóxicos, e diferentes estudos indicam
possíveis problemas de saúde. http://www.natursan.net/cuales
sonlosalimentostransgenicos
lista/
Nas feiras ecológicas locais se encontram al imentos, que
além de não levar agrotóxicos são mais nutr i t ivos e
variados. Veja se encontra uma na sua cidade e se
programe para visi tála, ou procure um serviço de entrega
e lojas especial izadas. Pode visi tar o produtor e colher
seus al imentos diretamente do campo, mais fresco
impossivel!
O lanche já pronto é a fruta, é melhor oferecer uma ao
seu f i lho do que uma caixinha de suco com muito açúcar.
Prefira os al imentos ecológicos da agricultura famil iar
regional, das feiras ou com selo de orgânico
A melhor opção é cozinhar, nada melhor que uma comida
caseira. Se acha que não tem tempo para preparar algo,
existem muitas receitas, que são super rápidas e cabem em
qualquer bolso. Prefira os al imentos regionais e frescos.
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Plante ervas e verduras na sua casa, mesmo em pequenos
espaços é possível cult iválas e enriquecer sua cozinha.
Junte se a alguma iniciativa ou grupo para apoiar a uma família
agrícola e receber diretamente alimentos plantados com sua ajuda.
Isso só são algumas ideias vamos juntar mais!
Contenos as suas experiências!
7. Para saber mais...
Miguel Altieri: Agroecologia a dinâmica produtiva
da agricultura sustentável
Francisco Roberto Caporal (Org.): Extensão rural e Agroecologia:
para um novo desenvolvimento rural, necessário e possível
O livro define os conceitos da agroecologia
e princípios metodológicos.
A análise de experiências ajuda a enfrentar os
desafios colocando a agroecologia como
bandeira de luta e instrumento de ação social e
mudanças culturais. Uma publicação
fundamental para interessados em agroecologia
como novo paradigma do desenvolvimento rural
sustentável.
Editora UFRGS, 2009
Os artigos elaborados pelo Dr. Francisco Roberto
Caporal, professor da Universidade Federal Rural
de Pernambuco em parceria com outros autores,
analisam a defesa histórica da extensão rural no
Brasil, a experiência inovadora da EMATER/RS na
perspectiva agroecológica, indo até reflexões mais
atuais, do período pósPnater de 2003.
O livro pode ser adquirido pelo valor de R$ 40,00.
Contato: [email protected].
ASPTA – Agricultura Familiar e Agroecologia
Emma Siliprandi: Mulheres e Agroecologia
transformando o campo, as florestas e as pessoas
Emma Siliprandi é Engenheira Agrônoma,
MS em Sociologia Rural e Doutora em
Desenvolvimento Sustentável, e estudou
na sua tese de doutorado histórias de
vida de lideranças femininas do campo
agroecológico, focando na sua trajetória
para conquistar o reconhecimento de seu
papel de sujeitos políticos.
Editado pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
ABA Associação Brasileira de Agroecologia
Articulação Nacional de Agroecologia
Redes e ONGs
Anotações
CAMPO
Anotações
CIDADE
Anotações
CIDADANIA