Download - Boletim especial - Setembro 2015
Reitor se compromete com a Estatuinte.
Podemos confiar desta vez?
BOLETIM ESPECIALBOLETIM ESPECIALSETEMBRO 2015
A Estatuinte na contramãoda Reforma Universitária do governo
P. 03
A Estatuinte nas UniversidadesBrasileiras
P. 05
Comando Unificado da GreveComando Unificado da Greve
ser inclusivoser inclusivo
mobilização amplamobilização ampla
pelos segmentos legítimos,pelos segmentos legítimos,
EstatuinteEstatuinte
O processoO processo de Estatuinte devede Estatuinte deve
a UFS representadaestará a UFS representadaestará
30 dias após30 dias após o encerramento do movimentomovimentoo encerramento do grevista, tomaremosgrevista, tomaremos todas as todas as providências requeridas,providências requeridas,
O estatuto da Universidade
Federal de Sergipe, que vigora desde
o regime ditatorial militar, explicita
claros sinais de esgotamento,
burocra�zando o ensino e a ação
universitária como um todo. Obvia-
mente, o que restou da ditadura na
UFS tem sido muito bem camuflado
com a falsa crença de que a univer-
sidade tem ampliado sua democra-
�zação, uma vez que realiza constan-
temente mudanças estatutárias, de
maior ou menor porte, só que elas
são desigualmente percebidas pelo
conjunto da Universidade, e nada é
mais falso do que essa democracia
sem par�cipação cole�va.
A Estatuinte é uma rica
oportunidade de se reinventar e
corrigir tantas distorções acumu-
ladas ao longo da história da UFS. A
comunidade universitária precisa,
neste momento ímpar, lutar unida
para fazer jus�ça aos seus servidores
técnicos e docentes, discentes e à
história cole�va da ins�tuição por um
novo estatuto que supere os resquí-
cios autoritários que burlam a
autonomia da universidade, asse-
gure a presença paritária dos três
segmentos nos conselhos superiores
e repense a estrutura da ins�tuição
do ponto de vista dos departa-
mentos, cursos e centros, além de
permi�r transparência total na
gestão dos recursos da universidade
definidos em lei.
Em concreto, o que se tem
visto é uma resistência de diversas
gestões e reitores em dialogar
diretamente com os representantes
das três categorias em greve sobre a
estatuinte, fazendo-o, como dito, por
vias transversas, e, de outro lado,
uma tenta�va quase desesperada
dos trabalhadores e discentes em
buscar meios para ins�gar esse
diálogo.
Apesar das resistências,
há na UFS um anseio social
co l e� vo p o r r u p t u ra , p o r
mudanças estruturantes na
ordem vigente, que projeta a
necessidade de garan�r a
construção de um processo
e s t a t u i n t e a b e r t o e
d e m o c r á � c o n e s s a
ins�tuição. Essa experiência,
por fim, só será possível
mediante o exercício da
cidadania e da constante
m o b i l i za çã o s o c i a l d a
comunidade universitária.
A gestão da UFS agora
propõe a convocação de processo de
Estatuinte em 2015. Mas qual
estatuinte será essa? Do ponto de
vista do direito de greve, como dito, o
diálogo não é um favor da gestão. É
uma obrigação. A abertura de diálogo
sobre a estatuinte é um momento
ideal para se promover a ressigni-
ficação da universidade, para que
seja garan�da a sua função social, o
que só será possível com a par�ci-
pação efe�va de toda comunidade
acadêmica.
É preciso ter em conta que a
democracia envolve sempre uma
experiência de aprendizado e
inclusão. Nesse sen�do, o momento
estatuinte inaugura a formação de
uma cultura ins�tucional como uma
referência para a con�nua constru-
ção e reconstrução dos direitos, o
que, por sua vez, é tarefa de toda a
comunidade.
Estatuinte, pode chegar, mas
que seja livre, plural, autônoma e
democrá�ca!
Por Elayne Cris�na Menezes Silva,
do Comando Local de Greve dos
Técnicos-Administra�vos.
2
Editorial
Estatuinte: sem luta não haverá avanços
DIRETORIA 2014-2016 - GESTÃO ADUFS DE LUTA E PELA BASEPresidente: Jailton de Jesus Costa (CODAP); Vice-presidente: Acácia Maria dos SantosMelo (DQI-CCET); Secretária geral: Brancilene Santos de Araujo (DFS-CCBS); Diretor Administrativo e financeiro: Júlio Cézar Gandarela Resende (DMA - CCET); Diretor Administrativo e Cultural: Otávio Luiz cabral Ferreira (DAVD - CECH); Suplentes: Marcos Antônio da Silva Pedroso (CODAP), Marcos Santana de Souza (DDA - Campus Laranjeiras), Dênio Santos Azevedo (NTU - CCSA).
Boletim produzido pela ADUFS - Seção Sindical dos Docentes da Universidade Federal de Sergipe do Sindicato Nacional dos Docentes de Instituições de Ensino Superior.
Endereço: Av. Marechal Rondon, s/n,bairro Rosa Elze, São Cristovão - SE
Jornalismo e fotografia: Raquel Brabec (DRT - 1517) / Design e ilustrações: Fernando de Jesus Caldas
O conteúdo dos artigos assinados é responsabilidade dos autores e não corresponde necessariamente à opinião da diretoria da ADUFS.
Contato ADUFS: Tel.: (79) 3259-2021 / E-mail: [email protected] / Site: www.adufs.org.brNº de tiragem: 500 exemplares.
EXPEDIENTE
Boletim Especial
A Estatuinte na contramão da Reforma Universitária do governo
O que é uma Estatuinte? é um
processo polí�co mediante o qual a
comunidade acadêmica de uma
universidade (estudantes, técnico-
administra�vos, docentes) associa-se
à comunidade externa (os mais
diversos setores da sociedade tais
como sindicatos, movimentos sociais),
para produzir o Estatuto de uma
Universidade.
Em um processo Estatuinte,
definem-se princípios, prioridades,
obje�vos, forma de organização e
distribuição administrava das unida-
des de ensino e de trabalho, a aplica-
ção do financiamento, a forma de
governo, a orientação polí�ca para as
áreas acadêmicas, de ensino, pesquisa
e extensão.
A comunidade universitária
da UFS anseia por construir uma
universidade autônoma, radicalmente
democrá�ca, referenciada social-
mente, que possa se contrapor ao
processo de mercan�lização da edu-
cação imposto pelos governos
neoliberais, cuja origem dessa
mercan�lização está na Reforma
Universitária de 1968, quando o
Governo militar de Costa e Silva,
propôs um sistema de educação
superior estruturado em um modelo
de empresa educacional voltado à
obtenção de lucro econômico e
atendimento rápido às exigências do
mercado.
Por tanto, reconst ru i r o
Estatuto de uma universidade, implica
em conhecer o conteúdo das sucessi-
vas reformas que levaram também às
próprias universidades a realizarem
adaptações em seus estatutos, a
exemplo da UFS, sem, no entanto,
desenvolver um processo amplo de
par�cipação da comunidade univer-
sitária para de fato orientar os rumos
da ins�tuição a par�r de valores e
pr incípios que sustentem uma
universidade pública. É importante
reconhecer que a luta dos três
segmentos da universidade desde o
período pós-ditadura militar foi a
retomada do debate por meio da
construção de uma Reforma Univer-
sitária que reorientasse a ins�tuição
para além dos interesses do capital,
razão pela qual, foram criados fóruns,
realizados atos e greves, como às que
estão acontecendo neste momento
histórico, para impulsionar tal reforma
na defesa da universidade pública.
A contra-reforma do estado e a
ofensiva à universidade pública de
qualidade
Nos anos 1980 o governo
Sarney (1985-1990), criou o Grupo
Execu�vo para a Reformulação da
Educação Superior (GERES) encarre-
gado de elaborar o anteprojeto de lei,
porém sem sucesso, por conta das
reações do Andes e das en�dades
ligadas à comunidade universitária. A
jus�fica�va era a de que o modelo de
indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extensão era obsoleto, caro
e anacrônico. No governo Collor de
Melo (1990-1992) , o Min ist ro
Goldenberg reforçou a ideia anterior e
propôs uma universidade diversifi-
cada criando uma proposta de
Universidade de Ensino em contra-
posição à pesquisa e à extensão. Tal
modelo reforçou a ideia de centros de
excelência, isto é, universidades
voltadas para a pesquisa, e outras na
per i fer ia do s istema, voltadas
somente para o ensino.
O governo Fernando Henri-
que Cardoso-FHC (1995-2003), deu
sequencia às diretrizes do Banco
Mundial e à polí�ca de base neolibe-
ral, aprofundando a crise da universi-
dade com o projeto de expansão de
abertura de novas vagas, principal-
mente em cursos noturnos, tendo
como referência uma proposta de mo-
delo gerencial (Planeja-mento Polí�co
– Estratégico 1995/1998; MEC, 1995
p. 26). A preocupação principal seria
desenvolver uma universidade a par�r
da o�mização dos recursos humanos e
financeiros e, ao mesmo tempo,
facilitar a entrada da inicia�va privada
no setor da educação superior. Nesse
governo se construiu toda a base do
aprofundamento da mercan�lização
da educação que se manteve intocada
nos governos que o sucederam, basta
que observemos a quan�dade de
matrícula no ensino superior privado
nos úl�mos vinte anos.
A par�r dessas mediadas,
ganhou força a flexibilização da indisso-
ciabilidade entre ensino-pesquisa e
extensão, tal qual explicitado na
própria Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (Lei n°9.394/96 –
LDB), com a previsão de diversas
modalidades de ins�tuições de ensino
superior e a formatação desse ensino
diversificado, regulamentada por meio
dos Decretos n°2.207/97 e n°2.306/97.
A flexibilização visava formar
elites em universidades de excelência;
estruturar universidades para formar
profissionais em cursos de maior
duração como médicos, engenheiros e,
outras ins�tuições, com menos
i nv e s � m e n t o s p a ra fo r m a r o s
profissionais técnicos com cursos de
curta duração, a exemplo dos técnicos
em eletrônica, fis ioterapeutas;
es�mular a formação generalista para
atuar em diferentes situações; assim
como, es�mular inicia�vas como as da
“Universidade Nova” a par�r da idéia
de formação por ciclos básicos e
específicos e, a Universidade Aberta do
B r a s i l ( U A B ) – u m a p r o p o s t a
empresarial para criar cursos de
Educação à Distância para formação
inicial, que se proliferaram em todo o
país.
Os Governos Lula da Silva
(2003-2010) e Dilma Housseff (2011-),
deram con�nuidade ao projeto de
reforma seguindo o mesmo recei-
tuário: estruturou a reforma com base
no PAC – Plano de Aceleramento con-
formando a parceria público-privada e
a separação entre universidades de
ensino e, de pesquisa; criou a Lei de
3
4
I n o v a ç ã o Te c n o l ó g i c a L e i n º
10.973/2004); ampliou a Educação à
Distância e recolocou a formação de
professores no âmbito da CAPES, cujo
es�mulo do pagamento de bolsas só
tem provocado mais precarização e
desvalorização do trabalho docente e
dos técnico-administra�vos; Realizou
a contrarreforma da Educação
Superior cujo obje�vo maior se
concre�zou com o REUNI onde se
ampliou o número de vagas sem
garan�a das condições de trabalho
necessárias à permanência dos estu-
dantes no interior das universidades e,
as necessidades do desenvolvimento
de qualidade da pesquisa, do ensino e
da extensão: realizou e con�nua a
realizar os cortes da educação pública
para es�mular a abertura de vagas no
setor privado por meio do FIES; e, por
fim, enviou um Projeto de Lei de Plano
Nacional de Educação em 2014, que
foi aprovado com a subs�tuição do
termo educação pública por educação
gratuita, que, dentre outros proble-
mas, pode-se afirmar que todas as
inicia�vas apontam para a priva�za-
ção da educação, mostrando clara-
mente o alinhamento com o setor eco-
nômico e quem determina os rumos
da educação no país.
Sem respeitar a comunidade
universitária e a luta em defesa da
educação pública, os reitores vêm
colocando em prá�ca a polí�ca do
MEC.
A criação da EBSERH (Em-
presa Brasileira de Serviços Hospita-
lares), a crescente terceirização dos
serviços no interior das universidades,
são alguns dos exemplos de uma
polí�ca de priva�zação em ascensão.
No caso da EBSERH na UFS, o Reitor
assinou o contrato sem apreciação do
Co n se lh o Su p er ior, u ma c la ra
demonstração de compromisso com a
polí�ca do MEC.
Com o progressivo aumento
dos cortes no orçamento público, os
pactos entre os poderes do Ministério
da Educação e dos Reitores se
ampliam para se materializar tal
projeto de universidade voltada para
os interesses do mercado. Os reitores
vêm sendo chamados para assumirem
os cortes como algo natural diante de
uma crise criada pelo próprio capital e
com isso, se comprometerem, com a
manutenção dos serviços por meio da
racionalização dos gastos. Para dar
cabo de tais exigências, se torna
necessário um gerenciamento que
esteja altamente concentrado no
poder dos reitores em cada univer-
sidade. A UFS, ao manter o seu
estatuto intocável, reforça a polí�ca
de gestão centralizada e autoritária.
As lutas e a atualidade da pauta em
defesa da Estatu�nte
É nessa conjuntura de ataque
por sucessivos governos e empre-
sários que as manifestações tem se
ampliado na defesa da universidade
pública. A greve desencadeada em
2012 (nacional), 2014 (local -UFS) e a
greve atual (nacional), denuncia e
recoloca na pauta a concepção de
universidade mercan�lizada. Elaborar
a Estatuinte na UFS, significa dizer que
a comunidade universitária mobili-
zada como está, tem a tarefa histórica
de realizar a discussão polí�ca sobre a
verdadeira função da universidade
para que ela possa atender às
necessidades da população.
Por isto, quando os Reitores
realizaram alterações no Estatuto
como acontecido na UFS desde 2002
(cinco alterações foram feitas até
2014), cujo objeto esteve centrado em
incluir órgãos suplementares e alterar
a par�cipação da comunidade acadê-
mica em órgãos colegiados, sem
realizar uma ampla discussão, nos leva
a confirmar o quão necessário a criação
de uma Assembleia Estatuinte e, o
porquê os reitores não tem assumido
esse compromisso. O silenciamento
dos gestores da UFS sobre a Estatuinte,
facilita que cada um assuma compro-
misso com uma estrutura econômica e
de poder, cuja finalidade é a de realizar
as transformações no interior da
universidade que correm no mesmo
leito do rio das contrarreformas do
Estado.
Neste sen�do, reafirmamos
que o momento é agora. Essa pauta é
nacional e local, está na ordem do dia
das três categorias da UFS (docentes,
estudantes e técnico-administra�vos).
* Por Profª Sonia Meire Azevedo de
Jesus, do Comando Local de Greve, e
por Levi José Lemes Rocha Júnior, do
Comando de Mobilização Estudan�l.
SETEMBRO 2015
Nome Tema Quando
Marcelo Badaró Estatuto na UFF
Roberto Leher
Francisco Miraglia
Estatuinte e participação
Estatuto na USP
Agenda da Estatuinte
As datas serão divulgadas em breve
Setembro
Outubro
Novembro
Estatuinte nas Universidades Brasileiras Estatuinte numa ins�tuição
universitária, é um processo em que o
documento maior de uma IES é criado (ou
revisto) e tem uma conotação jurídico-
formal, mas também uma natureza
polí�ca, por ter como foco a concepção de
ins�tuição e as formas de organizá-la
d idá�ca , c ien�fica e admin ist ra -
�vamente, o que afeta o co�diano da
ins�tuição. Não se pode perder de vista,
nesse sen�do, que a estatuinte se traduz
em conquista de toda a comunidade
universitária e também da sociedade, por
revelar uma concepção de universidade,
os princípios que a devem reger e a sua
forma de organização.
Assim, apresenta-se aqui um
resumo sobre o processo de implan-tação
e implementação da Estatuinte em
a l g u m a s u n i v e rs i d a d e s fe d e ra i s
brasileiras, baseado em dados cole-tados
da internet, disponíveis para o público em
geral, como um passo importante na
democra�zação da vida universitária.
No Brasil, num rápido levan-
tamento, foi possível encontrar 12
universidades que terminaram ou
desenvolvem a inda um processo
Estatuinte, são elas: UFPE, UFRB, UFOP,
UFPel, UFPB, UNIFESSPA, UFMT, UnB,
UFAM, UFBA, UFRJ e UFU. Entre estas
destacamos nomes de importantes
universidades grandes e clássicas como
UnB, UFOP, UFPB e UFPE.
Em outras universidades, como
por exemplo a UFAL e a UFS, observa-se
que há demanda interna por um processo
Estatuinte, da parte dos segmentos de
servidores públicos e estudantes, que
evidenciam essa demanda a cada
momento nas lutas internas, sem que, no
entanto, efe�ve-se esse processo. Se
t ra t a d e u m a d e m a n d a u r g e n t e
principalmente em decorrência da
expansão das universidades federais,
consequência do REUNI, mas também
pela própria mudança no processo de
administra-ção pública porque passam as
f u n d a ç õ e s m a n t e n e d o r a s d a s
ins�tuições.
A p e s a r d e o p ro c e s s o d e
5
Boletim Especial
Estatuinte já estar em debate na UFS há
mais de 20 anos, tal como comprovam as
demarches realizadas em 1986 pelo então
Reitor Eduardo Garcia e o documento
elaborado pelo Professor Airton Paula
Souza (DEE/CCSA) em 1992, sucessivos
reitores foram deixando esse projeto na
gaveta e este ainda não foi desencadeado
aqui na UFS, mesmo com o empenho da
seção sindical docente que o tem pautado
persistentemente.
Relembramos que essa proposta
voltou a ser destacada na pauta da Greve
de 2012, e que como resultado da greve
de 2014, o atual Reitor Angelo Roberto
Antoniolli, comprometeu-se a dar início a
este processo, não dando depois segui-
mento à sua promessa, fazendo com que
na presente greve de 2015 este fosse o
p r i m e i r o p o n t o d a p a u t a l o c a l .
Atualmente novas propostas meto-
dológicas vêm surgindo e sendo anali-
sadas (Meire, 2015).
Apresentação dos Processos
Em todos estes processos a regra
bás ica é a par�c ipação dos t rês
segmentos universitários, ainda que nem
sempre seja respeitado o princípio da
paridade em todas as Universidades. Em
algumas ins�tuições optou-se também
pela par�cipação de membros externos
da sociedade civil. A contribuição da
comunidade universitária, quando não
pelo envolvimento direto, era permi�da
pela apresentação de propostas a serem
sistema�zadas, o que sinaliza a procura da
par�cipação inclusiva de todos os
interessados em par�cipar no processo
Estatuinte.
Dos documentos, pode-se
apurar alguns dados mais básicos para
compreender semelhanças e diferenças
entre os processos nestas universidades e
notar que não há uniformidade dos
mesmos, o que embora dificultando o
resumo e comparação, é um indicador da
garan�a da autonomia da universidade na
instalação da Estatuinte. Os aspectos
d e s t a c a d o s n o s e g u i n t e q u a d r o
compara�vo foram: estatuto em vigor,
início e término do processo Estatuinte e
quan�dade dos par�cipantes.
Dados gerais sobre processo esta-tuinte
em IES brasileiras
Quanto ao processo as Univer-
sidades adotam diferentes estratégias,
verificando-se que há variação significa�va
no número de membros e na qualidade da
par�cipação (comissões indicadas pelo
gestor ou por segmentos ou dele-gados
e l e i t o s p e l a s b a s e s ) ; o b s e r va - s e
metodologias de ação também diversas,
que podem ampl iar ou reduz i r a
par�cipação da comunidade universitária
– a análise das diversas metodologias é
crucial para o debate da implantação da
estatuinte. Mais detalhes sobre os
processos podem ser ob�dos nos
documentos referenciados.
As experiências dessas uni-
versidades representam uma resposta à
luta da categoria docente e uma conquista
da comunidade universitária. É claro que
há equívocos na condução de alguns
processos , que não pr imam pe la
transparência e democracia, mas a análise
de�da dessa construção, em cada
universidade a que se teve acesso,
demonstra que os ganhos da luta cole�va
podem e devem superá-los.
Para que se tenha uma uni-
versidade autônoma e democrá�ca, o
processo estatuinte deve es�mular a
par�cipação de servidores e estudantes
desde seu início, de forma que essa
construção resulte num processo amplo,
transparente e revelador da universidade
que se pretende SER para a sociedade a
que se quer SERVIR. Ficar atento ao
desenrolar desse processo nas IES permite
compreender sua lógica e preparar para
acompanhá-lo na ins�tuição.
Gostariamos de agradecer à
Professora Rosangela Marques (DSS) pela
elaboração do dossiê inicial sobre as
estatuintes nas Universi-dades Brasileiras.
Por Prof ª Vera Núbia Santos
e Prof. Carlos Sá, do Comando Local de
Greve
6
SETEMBRO 2015
Referências
https://www.ufpe.br/ce/images/estatuinte/metodologia%20novo%20estatuto_2014%20comisso%20especial%20estatuinte%20aprovada%20pelo%20conselho%20universitrio.pdf
http://www3.ufrb.edu.br/cce/attachments/article/4/Metodologia%20da%20Estatuinte.pdf
http://www.ufop.br/index.php?option=com_content&task=view&id=12718&Itemid=196
http://wp.ufpel.edu.br/constituinte/files/2014/09/Forum-Estatuinte-Metodologia-Congresso-09-11_final-1.pdf
http://www.ufpb.br/estatuinte/
https://www.unifesspa.edu.br/images/documentos/comunicados/minuta_regulamento_metodologia_estatuinte_unifesspa.pdf
http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=5103
http://www.ufrj.br/mostraNoticia.php?noticia=12740_Consuni-discutira-propostas-para-o-Forum-Estatuinte.html
http://www.adm.ufba.br/pt-br/noticia/conselho-estatuinte-aprova-novo-estatuto-ufba
http://professoremlutaufal.blogspot.com.br/2015/03/nota-de-esclarecimento-sobre-alteracao.html
Meire S. (2015). Projeto de Construção da Estatuinte Universitária da Universidade Federal de Sergipe. Documento inédito, UFS, 5p.
Souza, A.P. (1992). Sobre a Gestão Democrática. Documento inédito, UFS, 4p.
Em assembleia que ocorreu na
manhã do dia 19/08, os docentes deba-
teram o tema da mesa de negociação
com o reitor, que ocorreu no dia 21:
Condições de Trabalho e Infraestrutura
na UFS. Nos depoimentos durante a
análise de conjuntura, os docentes
expressaram a situação de funcio-
namento na universidade, especial-
mente diante do cenário de cortes que o
governo está empenhando.
O discurso da gestão local é que
ainda não houve cortes na UFS, então
ainda é “cedo” para falar sobre o tema.
Apesar dessa informação, sabe-se que o
governo cortou um total de R$ 9,4
bilhões para a Educação, conforme
anunciado em junho deste ano, o que
resultou numa redução de 10% sobre a
verba de custeio e 47% sobre o capital
das universidades federais.
“Vamos ter bem menos recurso
nesse ano”, disse a professora Brancilene
Araújo na assembleia. "Queremos saber
onde esses cortes estão acontecendo,
mas o reitor não quer informar”. Nas
úl�mas reuniões de negociação da
reitoria com o Comando Local de Greve
(CLG), a equipe gestora apenas informou
como os cortes afetarão a dinâmica das
obras na UFS: as obras em fase inicial
serão interrompidas, as que estão na fase
intermediária serão retardadas, e as
obras em fase final serão concluídas.
Brancilene citou o caso da
Universidade Federal do Maranhão
(UFM), em que o reitor se reuniu com
integrantes da bancada maranhense na
Câmara e no Senado para sensibilizá-los
sobre a crise sem precedentes na
universidade diante dos cortes, que está
comprometendo seu funcionamento. A
primeira consequência dos cortes foi a
demissão de 140 terceirizados.
Cenário semelhante ocorre na
Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), cujo reitor apresentou uma
previsão preocupante: a universidade
chegará ao mês de setembro sem
condições de honrar as contas de
fornecimento básico. A ameaça de
suspensão de energia elétrica está
presente na Universidade Federal da
Bahia (UFBA), Federal de Santa Catarina
(UFSC) e a Federal Fluminense (UFF).
Condições de Trabalho e Infraestrutura foram temas da assembleia
C o n d i ç õ e s d e Tra b a l h o e
Infraestrutura na UFS foram os temas da
mesa de negociação que ocorreu na tarde
do dia 21/08 entre os comandos das
categorias da universidade (docentes,
técnicos e estudantes) e o reitor com sua
equipe administra�va.
No início da reunião, a pro-
fessora Sônia Meire leu o documento
com a solicitação do Comando Local de
Greve (CLG) para que o reitor Angelo
Antoniolli torne público para a comuni-
dade acadêmica a condição financeira da
universidade diante da crise orçamen-
tária na Educação Pública.
Os docentes solicitaram que o
reitor abra as contas da UFS, que mostre o
quan�ta�vo dos cortes, onde eles foram
e serão aplicados e que apresente a
projeção de receitas e despesas até
dezembro de 2015. Outro ponto
reivindicado foi o compromisso do reitor
pela não contratação de docentes via
Organizações Sociais (OS). O comando do
Sintufs e dos estudantes se juntaram à
demanda exposta no documento.
A categoria docente expressou a
necessidade de se conhecer os aspectos
dos cortes e como vão impactar a ro�na
da universidade, seja nas bolsas de
pesquisa, de assistência, nos contratos
Reitor dará resposta sobre contas da universidade diante dos cortes
com terceirizados, e não apenas em
como ficará o andamento das obras. O
reitor informou que até a terça-feira,
25/08, daria a resposta sobre a solici-
tação do documento, porém, quando
chegou a data ele encaminhou para a
ADUFS um comunicado adiando para a
sexta-feira (28/08) a entrega da resposta
da solicitação das categorias. Ele também
informou que não poderia par�cipar da
mesa de negociação agendada para
acontecer no dia 28/08, sobre a pauta:
EBSERH e Cesad. A reunião foi então
adiada para o dia 04/09.
“Não temos intenção de omi�r.
Estamos fazendo um grande esforço para
minimizar os impactos”, disse Angelo. Em
sua fala, ele reforçou que as obras não
vão parar em decorrência dos cortes, mas
não trouxe mais informações em relação
a onde eles ocorrerão. Uma das
estratégias da reitoria é conseguir
recurso de emendas individuais dos
deputados para diminuir o déficit
orçamentário.
Com relação à contratação via
OS, o reitor manifestou total rejeição. “É
um absurdo, é algo que acaba com a
ca r re i ra d o p ro fe s s o r ” a fi r m o u ,
demonstrando apoiar a reinvindicação.
Porém, as categorias lembram que o
discurso foi semelhante quando a
Empresa Brasileira de Serviços Hospi-
talares (EBSERH) estava em discussão na
UFS, e mesmo assim o reitor assinou sua
implantação no Hospital Universitário.
7
Boletim Especial
Se os tubarões fossem homens, eles fariam construir
resistentes caixas do mar, para os peixes pequenos com
todos os �pos de alimentos dentro, tanto vegetais, quanto
animais.
Eles cuidariam para que as caixas �vessem água sempre
renovada e adotariam todas as providências sanitárias,
cabíveis se por exemplo um peixinho ferisse a barbatana,
imediatamente ele faria uma atadura a fim que não
morressem antes do tempo.
Para que os peixinhos não ficassem tristonhos, eles dariam
cá e lá uma festa aquá�ca, pois os peixes alegres tem gosto
melhor que os tristonhos.
Naturalmente também haveria escolas nas grandes caixas,
nessas aulas os peixinhos aprenderiam como nadar para a
guela dos tubarões.
Eles aprenderiam, por exemplo a usar a geografia, a fim de
encontrar os grandes tubarões, deitados preguiçosamente
por aí. aula principal seria naturalmente a formação moral
dos peixinhos.
Eles seriam ensinados de que o ato mais grandioso e mais
belo é o sacri�cio alegre de um peixinho, e que todos eles
deveriam acreditar nos tubarões, sobretudo quando esses
dizem que velam pelo belo futuro dos peixinhos.
Se encucaria nos peixinhos que esse futuro só estaria
garan�do se aprendessem a obediência.
Antes de tudo os peixinhos deveriam guardar-se antes de
qualquer inclinação baixa, materialista, egoísta e marxista e
denunciaria imediatamente aos tubarões se qualquer deles
manifestasse essas inclinações.
Se os tubarões fossem homens, eles naturalmente fariam
guerra entre si a fim de conquistar caixas de peixes e
peixinhos estrangeiros.
As guerras seriam conduzidas pelos seus próprios peixinhos.
Eles ensinariam os peixinhos que entre eles os peixinhos de
outros tubarões existem gigantescas diferenças, eles
anunciariam que os peixinhos são reconhecidamente
mudos e calam nas mais diferentes línguas, sendo assim
impossível que entendam um ao outro.
Cada peixinho que na guerra matasse alguns peixinhos
inimigos da outra língua silenciosos, seria condecorado com
uma pequena ordem das algas e receberia o �tulo de herói.
Se os tubarões fossem homens, haveria entre eles
naturalmente também uma arte, havia belos quadros, nos
quais os dentes dos tubarões seriam pintados em vistosas
cores e suas guelas seriam representadas como inocentes
parques de recreio, nos quais se poderia brincar
magnificamente.
Os teatros do fundo do mar mostrariam como os valorosos
peixinhos nadam entusiasmados para as guelas dos
tubarões.
A música seria tão bela, tão bela que os peixinhos sob seus
acordes, a orquestra na frente entrariam em massa para as
guelas dos tubarões sonhadores e possuídos pelos mais
agradáveis pensamentos.
Também haveria uma religião ali.
Se os tubarões fossem homens, ela ensinaria essa religião e
s ó n a b a r r i ga d o s t u b a r õ e s é q u e c o m e ç a r i a
verdadeiramente a vida.
Ademais, se os tubarões fossem homens, também acabaria
a igualdade que hoje existe entre os peixinhos, alguns deles
obteriam cargos e seriam postos acima dos outros.
Os que fossem um pouquinho maiores poderiam inclusive
comer os menores, isso só seria agradável aos tubarões pois
eles mesmos obteriam assim mais constantemente maiores
bocados para devorar e os peixinhos maiores que deteriam
os cargos valeriam pela ordem entre os peixinhos para que
estes chegassem a ser, professores, oficiais, engenheiro da
construção de caixas e assim por diante.
Curto e grosso, só então haveria civilização no mar, se os
tubarões fossem homens.
*Bertold Brecht (1898-1956), nascido em Augsburgo –
Alemanha. Escritor, dramaturgo, poeta, além de grande
teórico teatral. Desde menino escrevia poesias de forte
conteúdo social. Foi perseguido pelos nazistas pelo seu
comunismo militante.
Se Os Tubarões Fossem Homens, por Bertold Brecht