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A Histria Social: seus significados e seus caminhos
Jos DAssuno Barros1
RESUMO
Este artigo busca esclarecer e discutir alguns aspectos relacionados Histria Social, examinando inicialmente, de um ponto de vista crtico, os diversos usos e significados da expresso como modalidade do saber historiogrfico. So discutidos aspectos diversos, incluindo os objetos, fontes e abordagens mais comuns a este campo. O artigo apresenta como principal referncia importante o livro O Campo da Histria, publicado pelo autor recentemente, e que cujo principal objetivo elaborar uma viso panormica dos vrios campos em que se divide o conhecimento histrico nos dias de hoje, incluindo o da Histria Social e de outras modalidades como a Histria Poltica, a Histria Econmica, a Histria Cultural e a Micro-Histria.
ABSTRACT
This article attempts to clarify and discuss some aspects related to the Social History, discussing the various uses and significances of this expression as a modality of historical knowledge. The aspects to be discussed are diverse, and include the objects, sources and approaches more common in this field. The article presents as principal reference the book named The Field of History, recently publicized by the author ant witch principal subject is to organize a panoramic view of the various fields in which ones the historical knowledge is divided nowadays, including the Social History and much other as the Political History, the Economic History, the Cultural History and the Micro-History.
Palavras-chave: Histria Social, Campos da Histria, escrita da histria. Key Words: Social History, Fields of History, historical writing.
1 Doutor em Histria Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF); Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), nos Cursos de Mestrado e Graduao em Histria. Professor-Colaborador do Programa de Ps-Graduao em Histria Comparada da UFRJ.
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Jos DAssuno Barros LPH - Revista de Histria da UFOP. n 15, 2005
A Histria Social: seus significados e seus caminhos
Jos DAssuno Barros
1. Breve Introduo aos Campos Histricos
Entre as inmeras modalidades e especialidades nas quais se reparte a disciplina e a
prtica da Histria nos dias de hoje, talvez a dimenso historiogrfica mais sujeita a
oscilaes de significado seja a da Histria Social. Modalidade historiogrfica rica de
interdisciplinaridades com todas as Cincias Sociais, e igualmente rica na sua possibilidade
de objetos de estudo, a Histria Social abre-se de fato a variadas possibilidades de definio e
delimitao que certamente interferem nos vrios trabalhos produzidos pelos historiadores
que atuam neste campo intradisciplinar. Veremos, neste artigo, que h razes vrias para essa
oferta de uma diversidade de sentidos que vem tona quando falamos em Histria Social.
Por outro lado, antes de aprofundar a temtica em questo, uma reflexo inicial sobre os
critrios que presidem a partio da Histria nas suas diversas modalidades mostrar-se-
bastante oportuna, e para tal nos basearemos em uma obra especfica recentemente publicada
sobre o assunto com o ttulo O Campo da Histria especialidades e abordagens
(BARROS, 2004).
Antes de mais nada, ser til compreender que existem basicamente duas grandes
ordens de dificuldades que costumam tornar confusos os esforos de classificar e organizar
internamente a Histria em sub-reas especializadas. Uma corresponde a uma intrincada
confuso de critrios que costuma presidir estes esforos classificatrios, questo que
deixaremos para discutir mais adiante. A outra ordem de dificuldades, da qual gostaramos de
falar em primeiro lugar, corresponde ao fato de que uma abordagem ou uma prtica
historiogrfica no pode ser rigorosamente enquadrada dentro de um nico campo.
Apesar de falarmos freqentemente em uma Histria Econmica, em uma Histria
Poltica, em uma Histria Cultural, e assim por diante, a verdade que no existem fatos
que sejam exclusivamente econmicos, polticos ou culturais. Todas as dimenses da
realidade social interagem, ou rigorosamente sequer existem como dimenses separadas. Mas
o ser humano, em sua nsia de melhor compreender o mundo, acaba sendo obrigado a
proceder a recortes e a operaes simplificadoras, e neste sentido que devem ser
considerados os compartimentos que foram criados pelos prprios historiadores para
enquadrar os seus vrios tipos de estudos histricos.
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Preocupados com uma religao dos saberes depois deste conturbado sculo que
de certa maneira foi o sculo das especializaes no faltam os autores que alertam para
os perigos e empobrecimentos do isolamento e da compartimentao:
Sabe-se que o historiador tem o costume de arrumar os fatos em envelopes que se transformaram em entidades trans-histricas, em categorias temporais e universais: o social, o econmico, o poltico, o religioso, o cultural ... Depois de proceder a esta distribuio e a esta etiquetagem, por razes de competncia pessoal ou por escolha disciplinar, o historiador atm-se comumente a uma nica ordem de fatos1
A sada, naturalmente, no utilizar as classificaes como limites ou pretexto para o
isolamento. No se justifica o recuo diante de uma curva demogrfica, quando o objeto de
estudo o exige, sob o pretexto de que a sua apenas uma Histria Cultural. Da mesma forma,
um historiador econmico no pode recuar diante dos fatos da cultura (ou dos aspectos
culturais de um fato econmico). Peter Burke registra em seu livro sobre a Escola dos
Annales um exemplo extrado do grande historiador econmico Witold Kula:
[...] Kula faz uma anlise econmica dos latifndios poloneses nos sculos XVII e XVIII. Mostrou que o comportamento econmico dos proprietrios de terras poloneses era o oposto do que previa a economia clssica. Quando o preo do centeio, seu produto principal, aumentava, produziam menos, e quando o preo abaixava, produziam mais. A explicao deste paradoxo deveria ser encontrada, diz Kula [...] no reino da cultura, ou das mentalidades. Tais aristocratas no estavam interessados em lucros, mas em manter um estilo de vida, da maneira a que estavam acostumados. As variaes na produo eram tentativas de manter uma renda padro. Seria interessante imaginar as reaes de Karl Marx a essas idias2
O fundador do Materialismo Histrico teria possivelmente reagido bem flexibilidade
de Kula, poderamos acrescentar. Afinal, em sua anlise poltica e econmica do 18
Brumrio de Lus Bonaparte (1952), Marx no recua diante dos fatos do imaginrio
(palavra que ainda estava longe de ser cunhada). Sua explicao para a ascenso de Lus
Bonaparte ao governo francs na segunda metade do sculo XIX, com base nos votos dos
camponeses, est ancorada precisamente em uma anlise do imaginrio, do peso que a
imagem de Napoleo Bonaparte (tio de Lus Bonaparte) ainda exercia sobre a populao3.
Em vista destes e de tantos outros exemplos que poderiam ser extrados de obras
historiogrficas magistrais, tem-se a lio nem sempre bem compreendida de que o
esclarecimento do campo ou da combinao de campos em que se insere um estudo no deve
ter efeito paralisante, nem servir como pretexto para justificar omisses. Definir o ambiente
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intradisciplinar em que florescer a pesquisa ou no qual se consolidar uma atuao
historiogrfica deve ser encarado como um esforo de autoconhecimento, de definir os
pontos de partida mais significativos e no como uma profisso de f no isolamento
intradisciplinar.
Uma segunda ordem de dificuldades que costuma confundir as tentativas de
subdividir internamente o Campo Histrico refere-se a uma inadvertida mistura dos critrios
que so habitualmente utilizados para a classificao das vrias histrias. Fala-se por
exemplo em uma Histria Demogrfica ou em uma Histria Poltica, noes que se referem
a dimenses ou a fatores que ajudam a definir a realidade social (a populao, o poder);
fala-se de uma Histria Oral ou de uma Histria Serial, que so classificaes da Histria
que remetem ao tipo de fontes com as quais elas lidam ou s abordagens que os
historiadores utilizam para tratar estas fontes (a entrevista, a serializao de dados); fala-se da
Micro-Histria ou da Histria Quantitativa, que so classificaes relativas aos campos de
observao abordados pelo historiador (a micro-realidade, o nmero); fala-se em uma
Histria das Mulheres ou em uma Histria dos Marginais, que so classificaes
relacionadas aos sujeitos que fazem a Histria (a Mulher, o Marginal); fala-se em uma
Histria Rural ou em uma Histria Urbana, que so subdivises relativas aos ambientes
sociais examinados pelo historiador (o Campo, a Cidade); fala-se de uma Histria da Arte
ou de uma Histria da Sexualidade, que so mbitos associados aos objetos considerados
na pesquisa histrica (a Criao Artstica, o Sexo). Poder-se-ia falar ainda em uma Histria
Vista de Baixo, para simbolizar uma inverso de perspectiva em relao tradicional
historiografia que partia do poder dominante, e at em uma Histria Imediata, modalidade
historiogrfica em que o autor ao mesmo tempo historiador e personagem dos
acontecimentos que descreve ou analisa.
Todos estes exemplos constituem legtimas especialidades da Histria. Mas as
dificuldades comeam a se mostrar quando estas vrias classificaes, oriundas de critrios
bem diferentes e estranhos entre si, so misturadas indiscriminadamente para organizar os
vrios lotes da Histria.
De algum modo, pode-se postular trs ordens de critrios correspondentes a divises
da Histria respectivamente relacionadas a enfoques, mtodos e temas. Uma dimenso
implica em um tipo de enfoque ou em um modo de ver (ou em algo que se pretende ver em
primeiro plano na observao de uma sociedade historicamente localizada); uma abordagem
implica em um modo de fazer a histria a partir dos materiais com os quais deve trabalhar o
historiador (determinadas fontes, determinados mtodos, e determinados campos de
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observao); um domnio corresponde a uma escolha mais especfica, orientada em relao a
determinados sujeitos ou objetos para os quais ser dirigida a ateno do historiador (campos
temticos como o da histria das mulheres ou da histria do Direito).
Desnecessrio dizer que os historiadores podem unir em uma nica perspectiva
historiogrfica uma dimenso (por exemplo, a Histria Econmica), uma determinada
abordagem (a Histria Serial), e um certo domnio (a Histria dos Camponeses). Na verdade,
muitos outros tipos de combinaes sero possveis, at mesmo no interior de um grupo de
critrios, mas por ora avancemos mais nesta clarificao.
A primeira ordem de classificaes a que podemos nos referir aquela gerada pelas
vrias dimenses da vida humana que podem constituir enfoques historiogrficos, embora na
realidade social efetiva estas dimenses nunca apaream desligadas entre si. Teremos ento
uma Histria Demogrfica, uma Histria da Cultura Material, uma Histria Econmica, uma
Histria Poltica, uma Histria Cultural, e assim por diante.
preciso ter em vista, antes de mais nada, que estas dimenses a serem definidas
como instncias da realidade social so em todos os casos construes do historiador,
contendo a sua parcela de arbitrariedade e a sua possibilidade de flutuaes ao longo do
desenvolvimento da histria do pensamento historiogrfico. A cada novo perodo da
historiografia, uma dimenso pode como que se desprender da outra, ou ento duas
dimenses que antes andavam separadas podem voltar a se juntar.
A Histria das Mentalidades, a Histria do Imaginrio e a Histria Antropolgica, por
exemplo, foram enfoques que de certo modo se desprenderam h algumas dcadas da
Histria da Cultura; e a Histria da Cultura Material organizou-se a partir de um certo setor
da Histria Econmica que estava diretamente voltado para o consumo e que passou a se
conectar com certos aspectos enfatizados pela Histria Cultural, ao mesmo tempo em que se
beneficiava das preocupaes crescentes com a vida cotidiana que surgiram no decurso do
sculo XX. H tambm as dimenses que so constitudas pelo contato da Histria com
outras disciplinas, como a Geo-Histria, que surgiu de uma interface do trabalho
historiogrfico com a Geografia.
tambm digno de nota o fato de que algumas dimenses podem comear por ser
construdas por contraste com outras, por vezes gerando certas oposies mais marcantes, at
que em seu desenvolvimento posterior certas interfaces possam ser estabelecidas ou
retomadas. De certo modo, tal como j foi ressaltado no incio deste ensaio, a Histria Social
e a Histria Econmica do sculo XX comearam a ser edificadas a partir de um contraste
com a velha Histria Poltica que se fazia no sculo XIX e isto resultou alis no provisrio
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abandono de alguns objetos por estas novas sub-especialidades (por longo tempo,
desapareceriam da prtica historiogrfica profissional do sculo XX a biografia de
personalidades polticas importantes e a histria das grandes batalhas, temas que depois
retornaram nas ltimas dcadas do sculo XX). Em suma: o caleidoscpio historiogrfico
sofre os seus rearranjos. E estes rearranjos so eles mesmos produtos histricos, derivados
das tendncias de pensamento de cada poca e das suas motivaes polticas e sociais. Os
paradigmas acabam sendo substitudos uns por outros, por mais que tenham perdurado, e
trazem a seu reboque novas tbuas de classificao.
Posto isto, ser possvel dividir a Histria conforme ela hoje compreendida pelos
historiadores profissionais em dimenses relativas a certos enfoques que so priorizados na
apreenso da vida e da organizao de uma sociedade. Uma vez que o objetivo mais
especfico deste artigo delimitar e discutir a Histria Social, no teremos espao para
discutir cada um dos demais campos gerados por este grupo de critrios e que vo da
Histria Social a outras modalidades como a Histria Poltica, a Histria Econmica, a
Histria Demogrfica, a Geo-Histria ou a Histria das Mentalidades. Contudo reenviamos,
para uma continuidade no aprofundamento deste assunto, a uma obra recente que foi
desenvolvida neste sentido4.
Do mbito das dimenses, passaremos agora ao mbito das abordagens. Existem
subdivises possveis da Histria que se referem ao campo de observao com que os
historiadores trabalham. E existem outras que se referem ao tipo de fontes ou ao modo de
tratamento das fontes empregado pelo historiador. Em cada um destes casos, estas divises
da Histria referem-se mais aos modos de fazer a pesquisa do que s dimenses sociais que
enfocadas pelo historiador (modos de ver). Deste modo, os critrios envolvidos por estas
subdivises so divises que esto mais relacionadas com Metodologia do que com Teoria.
o caso, por exemplo, da Histria Oral. Esta subdiviso historiogrfica refere-se a
um tipo de fontes com o qual o historiador trabalha, a saber, os testemunhos orais. Aqui,
entramos em um outro tipo de critrio que no interfere com os do primeiro grupo. Um
historiador pode estabelecer como enfoque a Histria Poltica ou a Histria Cultural, e
selecionar como abordagem a Histria Oral. Isto significa que ele ir produzir o essencial dos
seus materiais de investigao e reflexo a partir da coleta de depoimentos, que depois dever
analisar com os mtodos adequados. Suas preocupaes neste mbito estaro relacionadas ao
tipo de entrevista que ser utilizado na coleta de depoimentos, aos cuidados na decodificao
e anlise destes depoimentos, ao uso ou no de questionrios pr-direcionados, e assim por
diante. Todos estes aspectos mais se referem a mtodos e tcnicas do que a aspectos
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tericos. A Histria Oral, enfim, remete a um dos caminhos metodolgicos oferecidos pela
Histria, e no a um enfoque, a um caminho terico ou a um caminho temtico.
Outro exemplo de modalidade da Histria definida por um critrio estabelecido por
uma abordagem a Histria Serial modalidade da Histria que desempenhou um papel
primordial na historiografia do sculo XX e que,.quando surgiu, foi vista como uma
revoluo nas relaes do historiador com as suas fontes. Ao invs das fontes habituais que
eram tomadas sempre para uma abordagem qualitativa, a chamada Histria Serial introduziu
nas proximidades dos meados do sculo XX uma perspectiva inteiramente nova: tratava-se de
constituir sries de fontes e de abord-las de acordo com tcnicas igualmente inditas.
Neste caso, teremos tambm aqui um campo a ser definido em relao abordagem ou ao
modo de fazer a Histria que a perpassa, j que consideramos que o que define uma
modalidade historiogrfica como Histria Serial precisamente a presena de fontes que so
constitudas em srie e uma determinada maneira de tratar historiograficamente esta srie
ou seja: um tipo de fonte a ser utilizado e uma forma especfica de tratamento destas fontes,
uma fazer histrico, enfim.
Poderamos seguir adiante na descrio de outros campos da Histria que se referem
a abordagens, seja a modos de fazer a histria (escolha ou constituio de determinados
tipos de fontes, ou formas de tratamento destas fontes), seja ao campo de observao no
qual se detm o historiador. A Micro-Histria, por exemplo, uma abordagem historiogrfica
deste ltimo tipo: ela escolhe como campo de observao um recorte micro-historiogrfico
uma vida, um circuito de sociabilidade, uma prtica social e a partir desta gota dgua
cuidadosamente escolhida busca enxergar algo do oceano inteiro. J a Histria Regional a
modalidade historiogrfica que estuda uma regio por ela mesma, examinando-a como
sistema com seu prprio funcionamento ou como sub-sistema que se insere em um sistema
mais vasto notando-se que o prprio historiador quem define o critrio a partir do qual
est definindo este ou aquele campo de observao como uma regio. Esta no coincide,
necessariamente, com a regio administrativa ou geogrfica, pode ser uma regio definida
antropologicamente, culturalmente, ou de qualquer outra maneira.
Mas no nos deteremos mais no mbito das abordagens, j que preciso examinar o
ltimo mbito de critrios que pode presidir uma diviso da Histria em modalidades mais
especficas. Examinaremos em seguida aquilo que denominaremos de domnios da Histria.
Os domnios da Histria so na verdade de nmero indefinido. Alguns domnios
podem se referir aos agentes histricos que eventualmente so examinados (a mulher, o
marginal, o jovem, o trabalhador, as massas annimas), outros aos ambientes sociais (rural,
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urbano, vida privada), outros aos mbitos de estudo (arte, direito, religiosidade,
sexualidade), e a outras tantas possibilidades. Os exemplos sugeridos so apenas indicativos
de uma quantidade de campos que no teria fim, e qualquer um poder comear a pensar por
conta prpria as inmeras possibilidades.
Tal como se disse, os critrios de classificao que estabelecem domnios da Histria
referem-se primordialmente s temticas (ou campos temticos) escolhidas pelos
historiadores. So j reas de estudo mais especficas, dentro das quais se inscrever o objeto
de investigao e a problemtica constitudos pelo historiador.
A maioria dos domnios histricos presta-se a historiadores que trabalham com
diferentes dimenses histricas, e certamente s vrias abordagens. Mas existem domnios
que tm muito mais afinidade com uma determinada dimenso, dada a natureza dos temas
por eles abarcados. Assim, a Histria da Arte ou a Histria da Literatura so praticamente
sub-especialidades da Histria Cultural (embora se deva chamar ateno para uma Histria
Social da Arte, ou uma Histria Social da Literatura, que no deixam de ser possibilidades
dentro da Histria Social).
De modo anlogo, um domnio como o da Histria das Imagens (entendida como
histria das imagens visuais obtidas a partir de fontes iconogrficas, fotogrficas, etc) quase
que um anexo da Histria do Imaginrio. Mas, bem entendido, uma srie de imagens visuais
tomadas como fontes histricas sempre poder dar a perceber qualquer das dimenses que
discutimos atrs, como a Histria Econmica, a Histria Poltica, a Geo-Histria ou a
Histria da Cultura Material. Pense-se em uma iluminura de Livro de Oras, da qual o
historiador lana mo para perceber aspectos da economia rural no ocidente medieval, as suas
representaes polticas, as relaes do homem medieval com o seu meio natural ou traos
de sua cultura material; ou pense-se em uma pintura impressionista utilizada para captar
aspectos da Histria Social na Belle poque; ou ainda nas cermicas gregas utilizadas para
levantar aspectos da Histria Poltica da Atenas da Antigidade Clssica.. Mas de uma
maneira ou de outra, em todos estes casos sempre estar ocorrendo um dilogo evidente da
Histria do Imaginrio com uma destas outras dimenses. De maneira anloga, j a Histria
do Cotidiano, ou a Histria da Vida Privada, abrem-se a inmeros campos de enfoques para
alm da Histria das Mentalidades, como a Histria da Cultura Material, a Histria Social a
Histria Econmica ou a Histria Poltica (neste ltimo caso, focando a questo dos
micropoderes). Raciocnios similares podem ser encaminhados para outros domnios
igualmente abertos, como a Histria das Religies ou a Histria da Sexualidade.
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Conforme estamos vendo, os domnios tendem a ser englobados por uma dimenso
(so poucos os casos) ou ento partilhados preferencialmente por duas ou mais dimenses.
Mas possvel ainda que algum campo que hoje esteja sendo tratado como domnio, mas
que possua uma abrangncia em potencial, possa vir a transformar-se futuramente em uma
dimenso. A Histria da Sexualidade tem sido pouco estudada em relao importncia da
sexualidade para a vida humana na concretude diria, e talvez isto o que lhe d um status de
domnio. Mas seguramente esta poderia ser vista como uma dimenso to fundamental como
a Economia, a Poltica ou as Mentalidades. O que ocorre que estas no apenas so
dimenses significativas que definem a vida humana, elas constituem na verdade macro-
campos, ou tornaram-se macro-campos devido ateno que lhes prestaram os
historiadores e outros pensadores.
As dimenses, deve-se ter percebido, so sempre macro-campos capazes de se
desdobrar em ambientes internos, de produzir interfaces mais diversificadas, e de darem
margem a um nmero significativo de obras historiogrficas. J os domnios correspondem a
caminhos ou campos temticos definidos pelas preocupaes dos historiadores com relao a
determinados mbitos humanos, ambientes sociais ou agentes histricos especficos. Assim,
se de um lado podemos falar de domnios histricos que se referem a mbitos (Arte,
Religiosidade, Representaes), de outro lado existem outras categorias definidoras de
domnios historiogrficos que se referem a agentes histricos especficos (Histria da
Mulher, Histria dos Excludos), ou a determinados ambientes sociais (Histria Rural,
Histria Urbana). Naturalmente que, em um caso ou outro, teremos domnios que se prestam
a todos os enfoques (dimenses) possveis da Histria da Cultura Material Histria das
Mentalidades. Os excludos podem ser historiados com a ateno voltada para as
Mentalidades, como fez Bronislaw Geremek, com a ateno voltada para a Economia, como
fez Kula, ou com a ateno voltada para a Cultura, como fez Thompson, ou com a ateno
voltada para o Social, como fez Michel Mollat. A Histria Urbana ou a Histria Rural podem
ser avaliadas a partir de enfoques direcionados para cada uma das dimenses que j
mencionamos antes, da Economia Cultura e s Mentalidades afinal, estes domnios so
rigorosamente ambientes menores dentro do mundo humano que no deixam de ser unidades
totalizantes (so mundos humanos especficos, que podem ser examinados na totalidade de
seus aspectos).
Vale lembrar tambm que existem os domnios que so aparentemente sub-campos de
um domnio maior. A Histria das Doenas poderia ser inscrita em uma Histria do Corpo. A
Histria da Prostituio poderia ser inserida na Histria dos Excludos (embora em alguns
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aspectos tambm possa ser includa na Histria da Sexualidade). A Histria da Criana, da
maneira como tm funcionado at hoje as nossas instituies familiares, poder ser inscrita
sem maiores dificuldades em uma Histria da Famlia. Tudo isto, por outro lado, ficar bem
se englobado por uma Histria da Vida Privada.
Para alm disto, so inmeros os domnios que se enquadram opcionalmente como
sub-campos em mais de um domnio mais abrangente, ou que se localizam nos interstcios
situados entre dois ou mais outros domnios. A Histria da Medicina, enquadrar-se- na
Histria das Cincias, na Histria dos Sistemas de Pensamento ou dos sistemas repressivos
(como props Michel Foucault) ... estar em afinidade com os j mencionados domnios da
Histria das Doenas ou da Histria do Corpo? Incluir como subconjunto a Histria da
Clnica? Temos nestes e em tantos outros casos um entrelaado de domnios histricos,
abrindo espaos por dentro do labirinto do saber historiogrfico.
Para retornar, em seguida, a nossas reflexes mais especficas sobre a Histria Social,
deixaremos estabelecidos estes trs grupos de critrios capazes de presidir a diviso da
Histria em espaos interdisciplinares: dimenses, abordagens e domnios. Diante destas trs
grandes ordens de critrios, tal como j se disse, a Histria Social dever ser mais
adequadamente classificada como uma dimenso historiogrfica. Neste ponto, retomaremos a
reflexo sobre os diversos sentidos que tm sido atribudos Histria Social, e sobre a seu
enquadramento como campo histrico especfico a partir dos critrios atrs arrolados.
2. A Histria Social como campo histrico relacionado a uma dimenso da vida social
Antes de mais nada, para retornar aos primeiros usos da expresso histria social na
historiografia moderna, podemos fixar a Histria Social como modalidade que comea a
aparecer de maneira auto-referenciada por ocasio do surgimento na Frana do Grupo dos
Annales, e que naquele momento principia a se mostrar claramente construda ao lado da
Histria Econmica por oposio Histria Poltica tradicional. Nesta esteira inicial,
houve quem direcionasse a expresso Histria Social para uma histria das grandes massas
ou para uma histria dos grupos sociais de vrias espcies (em contraste com a biografia dos
grandes homens e com a Histria das Instituies a que tinha sido to afeita a historiografia
do sculo anterior).
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Tambm evidente que a historiografia marxista da mesma poca seguindo os
princpios norteadores que j no sculo XIX haviam sido indicados por Marx e Engels com
vistas a uma nova filosofia da histria direcionava-se na mesma poca para a elaborao de
uma histria preocupada com a conjuno dos aspectos econmicos e dos aspectos sociais. O
que haveria de relevante a ser estudado no era certamente a histria dos grandes homens, ou
mesmo a histria poltica dos grandes estados e das instituies, mas sim a historia dos
modos de produo isto , das bases econmicas e sociais que determinariam toda a vida
social e tambm a histria das lutas de classes, isto , das relaes entre os diversos
grupos sociais presentes em uma sociedade particularmente nas suas situaes de conflito.
A delimitao de um novo campo a ser chamado de histria social surge portanto
sob a forte influncia destes dois campos de motivao que passaram a exercer profunda
influncia no seio da historiografia da primeira metade do sculo XX. De um lado vinham os
ataques desfechados pelo grupo dos Annales contra aquilo que consideravam uma velha
histria poltica, de outro lado comeavam a surgir as primeiras grandes obras da
historiografia marxista, que cumpriam fielmente um programa de filosofia da histria voltado
para o econmico e para o social tal como havia sido proposto pelos fundadores do
materialismo histrico a partir de meados do sculo XIX.
A Histria Social, enfim, surgia no cenrio historiogrfico como campo relevante e
definitivo a se estabelecer no mbito das modalidades historiogrficas que devem ser
definidas pelas dimenses que so trazidas tona quando o historiador se pe a examinar um
processo histrico qualquer. Considerando aquilo que colocado em evidncia em uma
determinada anlise historiogrfica a Poltica, a Cultura, a Economia, as relaes sociais
poderamos ter respectivamente uma Histria Poltica, uma Histria Cultural, uma Histria
Econmica, uma Histria Social, entre outras possibilidades.
Tal como foi explicitado atrs, esta clara tendncia da historiografia contempornea a
constituir e perceber a histria social como campo relacionado a uma dimenso social
especfica liga-se ao fato de que, na primeira metade do sculo XX, os novos historiadores
passam a opor um novo campo de interesses e enfoques Histria Poltica do sculo XIX, o
que de certo modo produzia uma aliana entre a Histria Social e a Histria Econmica na
luta pelo estabelecimento de uma historiografia inteiramente nova no que se refere aos
fazeres historiogrficos do sculo anterior. Histria Social e Histria Econmica como
campos inauguradores de um novo fazer historiogrfico logo se juntariam a Histria
Demogrfica, a Histria Cultural, a Histria das Mentalidades, a Histria do Imaginrio, e
tambm uma nova Histria Poltica, no mais preocupada apenas com o poder institucional
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mas sim com todas as formas de poder que circulam em qualquer sociedade, inclusive os
micropoderes que afetam a vida cotidiana e as relaes familiares. O quadro das dimenses
historiogrficas, portanto, multidiversificava-se e neste contexto que pode ser definido um
primeiro sentido para a Histria Social como uma instncia historiogrfica especfica, no
mesmo nvel da Histria Poltica e da Histria da Cultura, apenas para dar dois exemplos.
Por outro lado, outra indagao que surge nos dias de hoje, quando a expresso
histria social j multiplicou os seus sentidos e as suas aberturas de significados, se a
Histria Social deve ser considerada uma especialidade, com objetos prprios e definidos, ou
se o social que ao seu nome se agrega como adjetivo acaba de um modo ou de outro por
fazer coincidir o seu circuito de interesses com a sociedade o que faria da Histria Social
uma espcie de categoria transcendente que acaba perpassando ou mesmo englobando todas
as outras especialidades da Histria.
3. Os diversos mbitos da Histria Social
Se investirmos na idia de que a Histria Social uma sub-especialidade entre as
outras (o que parece ter sido a proposta da Escola dos Annales nos seus primrdios ao
introduzir esta categoria no ttulo de sua revista), veremos que comeam a se destacar certos
objetos mais evidentes: os modos e mecanismos de organizao social, as classes sociais e
outros tipos de agrupamentos, as relaes sociais (entre estes grupos e entre os indivduos no
seu interior), e por fim os processos de transformao da sociedade.
O Quadro abaixo busca reunir alguns dos objetos e mbitos que poderiam ser
pretensamente visados por uma sub-especialidade chamada Histria Social. Este esquema
complexo foi construdo rastreando os objetos mais especficos que tm sido trabalhados por
alguns dos mais conhecidos historiadores que se autodefinem como inscritos na categoria
Histria Social. Pode-se perceber que a maioria dos campos de interesse que ali foram
assinalados correspondem a recortes humanos (as classes e grupos sociais, as clulas
familiares), ou a recortes de relaes humanas (os modos de organizao da sociedade, os
sistemas que estruturam as diferenas e desigualdades, as formas de sociabilidade). Em um
caso, estudam-se fatias da sociedade (ou os subconjuntos internos sociedade); em outro
caso, estudam-se elementos especficos e transversais que parecem atravessar a sociedade por
inteiro (os mecanismos de organizao social e os sistemas de excluso, por exemplo,
atravessam a sociedade como um todo)5.
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os Grupos e Classes Sociais e as suas relaes
conflituais
Colonizao / Descolonizao Burocratizao
os Movimentos Sociais as Ideologias Modernizao
Para alm dos subcampos citados no pargrafo anterior, indicamos ainda uma
categoria que obviamente uma das mais importantes para a Histria Social: a dos
processos (industrializao, modernizao, colonizao, ou quaisquer outros, inclusive as
revolues, que aparecem includas na rubrica movimentos sociais). muito importante
indicar que a Histria Social tambm estuda estes processos, e no apenas modos de
organizao ou estruturas, pois caso contrrio a Histria Social poderia ser vista como uma
Histria esttica, e no dinmica.
Voltemos por ora aos objetos da Histria Social que coincidem com subconjuntos da
sociedade (grupos e classes sociais, categorias de excludos, clulas familiares). Quando o
historiador volta-se para o exame destes grupos humanos especficos no interior de uma
sociedade, ou ento para as relaes conflituosas e interativas entre alguns destes grupos, seu
interesse poder se voltar tanto para a elaborao de um retrato sintetizado destes grupos
sociais e de suas relaes, como para a incidncia de questes transversais nestes grupos.
Como uma certa classe ou grupo se comporta diante de determinada conjuntura poltica ou
as Comunidades
Populaes
Clula Familiar
os Crculos de
Sociabilidade
as Diferenas e
Desigualdades sociais
Interesses e objetos da
HISTRIA SOCIAL
(considerada como o ramo da Histria que examina a dimenso social de uma
sociedade)
os critrios e prticas de Excluso Social
as Minorias
os Excludos os Marginais
os Discriminados
Raas e Etnias
os Enclausurados
Sindicatos
os Circuitos Profissionais
os Gneros e as relaes de gneros
Circuitos da Festa e dos encontros sociais
Agrupamentos Culturais
Meios Educacionais
Urbanas
Rurais
Industrializao a Hierarquizao Social
as Posies Sociais em relao ao traba-lho e propriedade
os processos de transformao da
sociedade
Os cdigos e a Comunicao Social
os modelos e mecanismos de
Organizao Social
os Interditos Sociais
Cotidiano
Os Circuitos Religiosos
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econmica? Como reage a uma determinada crise poltica, ou a uma determinada crise
econmica? Como reage um grupo, por exemplo, s flutuaes de preos? Como repercutem
certas mudanas polticas na vida social de um grupo?
Embora as questes acima colocadas refiram-se alternadamente aos mbitos poltico
ou econmico, elas podem ser trabalhadas socialmente pelos historiadores. Dito de outra
forma, existe um modo especfico como a Histria Social encara os fatos polticos e
econmicos. As repercusses sociais dos fatos polticos e econmicos, seja nos grupos
especficos ou em um conjunto mais amplo, devem ser tambm objetos privilegiados para os
historia-dores sociais. Isto nos leva quela questo inicial, qual ainda voltaremos outras
vezes: no existem fatos polticos, econmicos ou sociais isolados. No o tipo de fato
poltico, econmico, social ou cultural por definio o que define uma sub-especialidade da
Histria, mas sim o enfoque que o historiador d a cada um destes tipos de fatos. Um
historiador econmico pode dar um destino a determinados fatos econmicos (ao elaborar,
por exemplo, um estudo dos ciclos econmicos no decurso de algumas dcadas), e um
historiador social um outro pois este ltimo estar mais preocupado em perceber como
estas variaes conjunturais afetam diferentemente os vrios grupos sociais, que alteraes
elas provocam nas relaes entre estes grupos, e assim por diante.
Ainda com relao possibilidade de examinar no interior de uma sociedade certos
recortes humanos, uma outra observao deve ser feita. Vimos que a Histria Social pode
dirigir sua ateno para uma classe social, para uma minoria, para um grupo profissional,
para a clula familiar ou seja, para um subconjunto especfico da sociedade. Em contraste
com este tipo de enfoque, existem duas das divises ou subconjuntos possveis que perdem o
seu carter mais especfico por se autoconstiturem de certo modo em totalidades : o estudo
das comunidades (rurais e urbanas) e o estudo das populaes como um todo. Ou seja, em
um caso dois subconjuntos que se complementam e que dividem a sociedade na dicotomia
rural / urbano, e no outro caso um subconjunto que coincide com o conjunto universo da
sociedade, e que chamamos de populao. Estes dois campos so os nicos que esto
especificamente ligados a uma outra acepo da Histria Social que discutiremos a seguir.
4. Histria Social como histria totalizante
Se a Histria Social foi se constituindo desde o princpio como uma sub-especialidade
da Histria, direcionada para objetos bem especficos e que se distinguiam dos objetos das
outras modalidades da histria, por outro lado a noo de Histria Social tambm comeou
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a ser vinculada por alguns pensadores e historiadores a uma histria total, encarregada de
realizar uma grande sntese da diversidade de dimenses e enfoques pertinentes ao estudo de
uma determinada comunidade ou formao social. Portanto, estaria a cargo da Histria Social
criar as devidas conexes entre os campos poltico, econmico, mental e outros o que
implica que nesta acepo a Histria Social deixa de ser uma modalidade mais especfica,
como qualquer outra, para se tornar o campo histrico mais abrangente que se abriria
possibilidade da mediao ou da sntese ... Histria Social como Histria da Sociedade ...
Na verdade, esta ltima acepo foi adotada ainda pela Escola dos Annales, mas a
partir da dcada de 1940, de modo que acaba se contrapondo quela primeira acepo que
procurava fixar a Histria Social como especialidade. Em uma conferncia de 1941, mais
tarde publicada em Combates pela Histria [1942], Lucien Febvre chega a afirmar que no
h histria econmica e social; h somente histria, em sua unidade (Febvre, 1992: p.45).
Trata-se portanto de um programa que assume a perspectiva da Histria Total, ou da
Histria-Sntese, que to bem caracteriza a segunda fase dos Annales sobretudo com as
monumentais obras de Fernando Braudel sobre O Mediterrneo e sobre a Civilizao
Material do Capitalismo (Braudel, 1997 e 1984). Muitos historiadores passaram a entender
Histria Social, a partir de ento, com este sentido mais abrangente (se existem fatos
econmicos ou fatos polticos propriamente ditos, no existiriam rigorosamente os fatos
sociais, ou melhor, todos os fatos seriam sociais, uma vez que estariam ocorrendo no interior
da sociedade a partir dos relacionamentos dos homens e dos grupos de homens uns com os
outros).
A idia de uma Histria Social que tem a seu cargo a tarefa de promover uma sntese
de aspectos relacionados a vrias dimenses ou domnios historiogrficos tambm expressa
por Georges Duby em um texto de 1971 (1971: p.1-13):
Que ela [a Histria Social] deixe de se considerar entretanto a seguidora de uma histria da civilizao material, de uma histria do poder, ou de uma histria das mentalidades. Sua vocao prpria a da sntese. Cumpre-lhe recolher todos os resultados das pesquisas efetuadas, simultaneamente, em todos estes domnios e reuni-los na unidade de uma viso global
Aqui, uma nova noo da Histria Social fazia a sua entrada na histria do
pensamento historiogrfico. Esta nova noo de Histria Social, voltada para a idia de uma
totalidade de aspectos, podia ser aplicada tanto ao estudo de uma sociedade inteira, como
para o estudo de comunidades tomadas como centros de referncia, como as comunidades
rurais e urbanas que comearam a ser examinadas pelos historiadores associados Histria
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Regional. Em um caso ou outro, a Histria Social no apresenta mais objetos especficos
dentro da Histria: seu interesse a sociedade como um todo (esteja ela estudando um pas,
uma grande regio como o Mediterrneo, uma cidade ou uma aldeia).
Mas a verdade que a designao anterior continuou existindo paralelamente, de
modo que a Histria Social assumiu um lugar especfico como sub-especialidade ao lado da
Histria Econmica, da Histria Poltica, da Histria Cultural e de todas as outras.
Rigorosamente, depois da crise da Histria Total (esperana de abarcar todos os aspectos de
uma sociedade em uma grande sntese coerente) esta designao mais especfica ganhou at
mais fora, sobretudo a partir da dcada de 1960. De qualquer modo, a noo de Histria
Social continuou sempre aberta a muitas possibilidades de sentidos.
Os meios acadmicos na Europa e nas Amricas vieram trazer a partir da
institucionalizao de seus programas de ps-graduao uma contribuio para os usos
amplificados da expresso Histria Social. Nestes meios ligados Pesquisa que vem sendo
desenvolvida nas Universidades, esta designao tem sido muito utilizada no seu sentido
mais abrangente, conseguindo assim enquadrar em um mesmo plano de coerncia uma
quantidade multidiversificada de pesquisas. Em certo sentido, argumenta-se que toda a
Histria que hoje se escreve de algum modo uma Histria Social mesmo que direcionada
para as dimenses poltica, econmica ou cultural.
De fato, possvel incorporar uma preocupao social a cada uma das demais
dimenses antes citadas como sub-especialidades da Histria, e tambm s vrias abordagens
e domnios que veremos a seguir. Assim, vimos que a Demografia Histrica pode reduzir-se
a um mero censo retrospectivo por historiadores descritivos e no-problematizadores, ou que
ela pode se transformar em uma verdadeira Demografia Social quando superamos a mera
enunciao do nmero em favor do tratamento problematizado dos ndices populacionais.
Vimos que a Histria da Cultura Material pode ser reduzida mera descrio de objetos, o
que seria questionvel, ou que ela pode enveredar por uma recolocao destes objetos nos
usos sociais que eles teriam na poca e na sociedade em que foram produzidos (neste caso,
poder-se-ia dizer que empreendemos uma espcie de Histria Social da Cultura Material).
Qualquer informao historicizada pode ser tratada socialmente, correto dizer. Mas
tambm verdade que nem toda Histria necessariamente social. Se possvel elaborar
uma Histria Social das Idias ou uma Histria Social da Arte, possvel tambm elaborar
uma Histria das Idias ou uma Histria da Arte que se restrinjam a discutir obras do
pensamento ou da criao artstica sem reestrutur-las dentro do seu ambiente social mais
amplo. Basta percorrer os olhos por uma prateleira livresca de Histria da Arte ou de Histria
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da Literatura para encontrarmos pilhas destas obras em que so descritos os estilos artsticos,
ou at mesmo que oferecem uma sucesso cronolgica de descries das vidas dos principais
artistas e literatos, de modo que estas histrias da arte e histrias da literatura acabam se
tornando um somatrio de pequenas biografias de artistas importantes mais ou menos
encadeadas segundo critrios cronolgicos ou agrupadas conforme os seus pertencimentos
estilsticos. Por isto, encontra-se quem fale em uma Histria da Cultura, preocupada em
descrever produes culturais de vrios tipos, mas contrastando-a com a Histria Cultural
propriamente dita, que tem incorporado tradicionalmente uma preocupao social muito
definida (neste caso, uma Histria Social da Cultura) 6.
Com base em alguns exemplos conhecidos de obras produzidas com pretensas
preocupaes historiogrficas (mas certamente aliceradas em uma outra noo de
historiografia), pode ser questionada aquela idia de que toda histria social. social,
poderemos corrigir, se o historiador tiver efetivamente preocupaes sociais na sua maneira
de examinar o passado.
Com relao aos j mencionados objetos da Histria Social (seja enquanto
especialidade particular, seja no sentido totalizador), convm lembrar que tem se apresentado
nas ltimas dcadas uma tendncia cada vez maior para o exame da sociedade em toda a sua
complexidade, superando o manejo de categorias sociais estereotipadas e de dicotomias
generalizadoras.
Nunca demais nos referimos s conhecidas preocupaes de Edward Thompson
historiador ingls que trabalha na interconexo de uma Histria Social com uma Histria
Cultural em denunciar aquelas abstraes desencarnadas relacionadas ao conceito de
classe social (Thompson, 1987). Thompson um dos autores que melhor representam esta
tendncia da Histria Social que gradualmente se afirma em direo complexidade e ao
tratamento das sociedades como realidades dinmicas e vivas como processos e no
apenas como descries de estruturas perfeitas como se fossem relgios, mas abstradas de
realidade humana.
Afirma-se tambm, mais do que nunca, uma Histria Social que estabelece interfaces
com os outros campos da prpria histria, ou tambm com outros circuitos interdisciplinares.
Se voltarmos ao Quadro atrs exposto, que pretende ser apenas um esboo de possibilidades,
e no mais que isto, veremos ali que os vrios objetos possveis a uma Histria Social
(definida como sub-especialidade que traz as suas prprias idiossincrasias) localizam-se
habitualmente na fronteira com outros campos.
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Posso trabalhar um grupo tnico segregado em uma dada realidade urbana do ponto
de vista de uma Histria Social ou do ponto de vista de uma Etno-Histria. Ou posso
trabalh-lo do ponto de vista de uma interconexo de Histria Social e Etno-Histria. Os
movimentos sociais, por exemplo, dificilmente podem ser trabalhados fora de uma conexo
entre o Social e o Poltico (e que, possivelmente, incluir ainda o Econmico). J um
processo como o da industrializao pode receber um enfoque social, ou um enfoque mais
propriamente econmico (ou o duplo enfoque, que sempre uma boa alternativa). De igual
maneira, a clula familiar pode ser examinada por um vis social ou por um vis de
antropologia histrica. O Cotidiano de uma determinada comunidade ou grupo social pode
ser avaliado do ponto de vista de uma Histria da Cultura Material, pronta a recuperar os seus
bens materiais e os seus usos (sociais), ou pode ser avaliado mais propriamente de uma
perspectiva da Histria Social, manifestando-se a preocupao em recuperar as formas de
sociabilidade, os conflitos entre os indivduos pertencentes aos vrios grupos sociais, os
entrechoques ideolgicos, e toda uma rede de aspectos que constitui inegavelmente um
territrio mais definido da sub-especialidade Histria Social.
5. As fontes e abordagens relacionadas Histria Social
Com relao s conexes da Histria Social com as abordagens isto , com os sub-
campos da historiografia que se referem a mtodos e fazeres histricos elas podem se
estabelecer tanto no nvel dos tratamentos qualitativos, como no nvel dos tratamentos
quantitativos. Da mesma forma, a Histria Social pode ser elaborada tanto do ponto de vista
de uma Macro-Histria, que examina de um lugar mais distanciado aspectos como os
movimentos sociais ou como a estratificao social de uma determinada realidade humana,
como pode ser elaborada do ponto de vista de uma Micro-Histria, que se aproxima para
enxergar de perto o cotidiano, as trajetrias individuais, as prticas que s so percebidas
quando examinado um determinado tipo de documentao em detalhe (por exemplo os
inquritos policiais, os documentos da Inquisio, mas tambm determinadas produes
culturais do mbito popular onde transpaream elementos da vida cotidiana, das relaes
familiares, e assim por diante). As diferenas entre Macro-Histria e Micro-Histria ficaro
mais claras no item relativo a este ltimo tipo de abordagem.
No h limitaes com relao ao que pode ser tomado como fonte para a Histria
Social. possvel encontr-las tanto na documentao de origem privada como na
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documentao oficial, por assim dizer. O que estamos chamando de documentao privada
so aquelas fontes produzidas ao nvel das vidas individuais: os relatos de viagem, os dirios
pessoais, correspondncias entre particulares (sejam indivduos ilustres, ou no).
Documentao oficial ou pblica existe de todos os tipos: desde aquelas que oferecem dados
massivos sobre uma sociedade como os inventrios e registros fiscais, censitrios,
testamentrios, cartoriais, e paroquiais at aquelas mais pontuais, referentes a situaes
especficas. Por exemplo, um material muito rico do tipo que estamos caracterizando como
pontual encontra-se nos arquivos judiciais e policiais (ou seja, na documentao oriunda dos
sistemas repressivos). Os historiadores sociais da atualidade tm precisamente prestado muita
ateno a um vasto manancial de fontes que por muito tempo foi esquecido: os registros de
polcia, os processos criminais incluindo os depoimentos, as confisses e as sentenas
proferidas sobre determinado caso ou ainda, para os primeiros sculos da Idade Moderna,
os processos da Santa Inquisio, que costumavam rastrear obsessivamente a vida dos
indivduos investigados, anotar a sua fala nos mnimos detalhes, registrar rigorosamente os
dados de sua vida cotidiana com o fito de perceber qualquer indcio de comportamento
anormal ou mentalidade hertica.
bastante irnico. Os indivduos pertencentes s classes sociais privilegiadas do-se a
conhecer atravs dos mais diversificados tipos de fontes disposio dos historiadores na
documentao poltica, falam atravs dos deputados e governantes que os representam; nas
notcias de jornais, pode-se at mesmo perceb-los em flashes de sua vida privada nas
colunas sociais; na arte letrada, iremos encontr-los como sujeitos produtores de discurso ou
como referentes dos discursos a produzidos. J ao pobre, e mais ainda ao excludo, s dada
uma voz quando ele comete um crime (ou quando acusado de um). Os registros repressivos
so paradoxalmente os espaos documentais mais democrticos aqueles onde os
historiadores podero encontrar literalmente as vozes de todas as classes, mas sobretudo as
dos indivduos pertencentes aos grupos sociais menos privilegiados do ponto de vista poltico
e econmico. s quando comete um crime que o homem pobre adquire uma identidade para
a Histria!
Existem tambm, preciso reconhecer, as fontes oriundas da cultura popular. Mas
este tipo de fonte mais propriamente relacionado com a Histria Cultural, como j vimos
anteriormente. Tambm no deve ser desprezada a grande literatura. A leitura atenta da
Comdia Humana de Balzac no irrelevante para a compreenso da transio para o
Capitalismo moderno, e a mesma recomendao de atentar para a importncia da literatura
como fonte para este perodo pode ser feita em relao s obras de Victor Hugo. A partir do
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momento em que a perspectiva realista abriu-se como uma possibilidade para os produtores
de obras associadas cultura letrada (literatura, mas tambm artes visuais), o homem comum
tambm comeou a chegar aos historiadores atravs destas fontes, embora elas sempre
requeiram o cuidado de serem trabalhadas com a conscincia de que, nestes casos, o homem
pertencente aos extratos sociais menos privilegiados s recebe a sua voz ou a sua
transparncia atravs de um filtro, que a sensibilidade do escritor ou do pintor pertencente a
outro grupo social (fora, claro, quando o prprio artista oriundo do grupo social que
pretende retratar).
Voltemos s fontes de Histria Social que chegam aos historiadores atravs da
violncia. Alm da violncia individual, que aparece atravs do crime, existe ainda a
violncia coletiva, onde a massa annima deixa suas marcas e conquista tambm a sua voz
atravs de exploses de revolta que podem ficar registradas nas notcias de jornais, ou ento
nas descries dos cronistas para os perodos mais antigos. As revolues e os processos de
transformao social, conforme j observou Thompson muito bem, so momentos
privilegiados para a percepo das identidades de classe, inclusive as relativas aos grupos
sociais menos privilegiados. So nestes momentos que as massas tornam-se visveis,
exprimindo-se atravs dos gestos do protesto (sejam protestos espontneos, sejam os
movimentos organizados, como as greves) ou da violncia coletiva, que podem produzir
desde badernas e motins at revolues com repercusses sociais definitivas. So tambm
nestes momentos que, eventualmente, emergem as lideranas populares por vezes deixando
suas vozes registradas em panfletos e em discursos que foram recolhidos pela imprensa ou
pelos cronistas de uma poca.
No dia a dia, as massas populares so informes: executam como que emudecidas as
tarefas que lhes permitiro assegurar a sua sobrevivncia diria. A Histria conhece os
camponeses do final da Idade Mdia, os operrios urbanos das sociedades industriais, os
escravos do Brasil Colonial ... sempre atravs dos registros massivos, que anotaro as datas
de seus nascimentos, o nmero de filhos, a morte, a ocupao, e as modalidades de
pertencimento (a um senhorio na Idade Mdia ou a uma indstria no mundo capitalista).
Nestes momentos, as massas falam Histria atravs de nmeros que registram a sua
laboriosa e sofrida passividade. Mas quando ocorre um motim, uma insurreio, um protesto
pblico, pela primeira vez a massa de despossudos ser ouvida no atravs da passividade
dos nmeros silenciosos, e sim atravs dos gestos violentos e ruidosos.
Os sem-terra7, por exemplo, so habitualmente encontrados pelos historiadores que
examinam a Histria contempornea do Brasil nos documentos do censo, que os registram
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como camponeses despossudos e desempregados. Mas quando eles ocupam uma fazenda, ou
quando em protesto eles adentram um espao que para eles no estaria previsto como um
shopping center neste momento eles se transformam em atores sociais mais definidos e
ganham espao nas notcias de jornal e outras mdias. Quando a massa excitada derruba uma
bastilha, entra subitamente na Histria no como uma estatstica, mas como sujeito coletivo
que realiza um ato, que produz ou se incorpora a um movimento social. Os camponeses
medievais, de modo similar, chegam aos historiadores como um nmero incorporado terra
atravs dos contratos celebrados entre um suserano e um vassalo, ou atravs de um
testamento que os passa adiante para os herdeiros de um feudo. Mas quando produzirem uma
Jacquerie sero registrados pela primeira vez por algo que fizeram, e no por algo que
fizeram a eles.
So os grandes momentos de protesto ou de violncia coletiva que tornam visveis as
massas, e os pequenos momentos de crimes individuais que do visibilidade ao homem
comum. Por isto o historiador acaba chegando s massas e aos indivduos menos favorecidos
atravs da violncia. So as fontes que expressam os vrios tipos de violncia (ou que
registram a represso a esta violncia) aquelas que permitiro a este historiador examinar as
relaes de classe, as suas expectativas, o seu cotidiano. alis curioso observar que, quando
o criminoso escapa represso, ele perde-se para a Histria.
Na verdade, as fontes de natureza repressiva como os processos criminais ou os
registros inquisitoriais constituem registros mltiplos, polifnicos por excelncia. A prpria
diversidade social pode estar presente em um processo judicial ou inquiridor afinal, o modo
como devem ser organizados os processos, entrecruzando indivduos dos mais diversos tipos,
acaba conferindo a este tipo de fontes uma posio muito rica no repertrio de documentos
disposio de um historiador social. So fontes que habitualmente envolvem um foco
representando o sistema repressivo (no raro expressando contradies internas que podem
aparecer sob a forma de conflitos de autoridade) e um universo multifocal que passa por um
vasto nmero de depoentes e de testemunhas, at chegar ao criminoso ou ao inquirido.
mais raro que a Histria Social, pelo menos no que se refere a perodos mais
recuados, v encontrar fontes relativas aos grupos menos favorecidos na documentao
privada (dirios, livros de memria, relatos de viagem, correspondncia) porque estes tipos
de textos nem sempre so conservados depois que os seus autores desaparecem. Mas, na
medida em que avana para classes mais favorecidas, o historiador j comea a dispor deste
tipo de documentao.
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As fontes da Histria Social, enfim, so de inmeras modalidades. Sua escolha,
naturalmente, ser orientada pelo problema histrico a ser definido e investigado pelo
historiador.
Conforme vimos seja no que se refere a seus campos de interesse e objetos
privilegiados, seja no que se refere a seus mtodos mais recorrentes e fontes historiogrficas
disponveis a Histria Social mostra-se ao historiador contemporneo como um campo
aberto a inmeras possibilidades. Um de seus traos centrais, certamente, continuar para o
futuro a referir-se ao intenso dilogo com todas as Cincias Sociais, o que tem permitido
precisamente essa maior amplitude de objetos e o tratamento de uma maior variedade de
tipos de fontes a partir de metodologias que a Histria pde apreender de diversificados
campos do saber como a Sociologia, a Antropologia, a Lingstica, a Semitica.
1 Serge GRUZINSKI, Acontecimento, bifurcao, acidente e acaso ... observaes sobre a histria a partir das periferias do Ocidente In E. MORIN (org.) A Religao dos Saberes. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. p.391. 2 Witold KULA, Economic Theory of the Feudal System, apud Peter BURKE, A Escola dos Annales 1929-1989, So Paulo: UNESP, 1991, p.110-111. [Edio polonesa original da obra de Witold Kula: 1962]. 3 Karl MARX, O 18 Brumrio de Lus Bonaparte In Os Pensadores, vol. XXXV, So Paulo: Abril Cultural, 1974, p. 329-410 [original alemo: 1852]. 4 BARROS, Jos DAssuno O Campo da Histria Especialidades e Abordagens, Petrpolis: Vozes, 2005. 5 Por exemplo, a ideologia das Trs Ordens atravessava as sociedades medievais, e no mundo que era organizado por ela os trs grupos tpicos (camponeses, guerreiros e clrigos) encontravam cada qual o seu papel social. Da mesma forma, o sistema de excluses do Nazismo incidia transversalmente sobre a sociedade alem das dcadas de 1930 e 1940, colocando de um lado os cidados e de outro os excludos (judeus, eslavos, estrangeiros, etc...). 6 Robert DARNTON distingue uma histria das idias voltada para o estudo do pensamento sistemtico, geralmente em tratados filosficos; uma histria intelectual que se ocuparia do estudo do pensamento informal, dos climas de opinio e dos movimentos literrios; uma histria social das idias, que se voltaria para o estudo das ideologias e da difuso das idias; e uma histria cultural que se ocuparia do estudo da cultura no sentido antropolgico (DARNTON, Robert. Histria Intelectual e Cultural In O Beijo de Lamourette. So Paulo: Companhia das Letras, 1990, p.175-197). 7 Movimento social de homens do campo no-proprietrios de terra que fortaleceu-se no Brasil na ltima dcada, clamando por reformas sociais direcionadas para a Reforma Agrria.
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS
BALZAC, Honor de. A Comdia Humana, Porto Alegre: Editora Globo, 2002. BARROS, Jos DAssuno. O Campo da Histria Especialidades e Abordagens, Petrpolis:
Vozes, 2004. BRAUDEL, Fernando. Civilizao Material, Economia e Capitalismo. 3 vol. So Paulo: Martins
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Jos DAssuno Barros LPH - Revista de Histria da UFOP. n 15, 2005
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1974. DARTON, Robert. Histria Intelectual e Cultural In O Beijo de Lamourette. So Paulo: Companhia
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Cultural, 1974. MORIN, E. (org.) A Religao dos Saberes. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. THOMPSON, E. P. A Formao da Classe Operria Inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, 3
vol. _______________. History from Below, The Times Literary Supplement, 7 de abril de 1966, p.278-
280 [ As peculiaridades dos ingleses e outros artigos. So Paulo: UNICAMP, 2001. p.185-201 ].
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RESUMOEste artigo busca esclarecer e discutir alguns aspectos relacionados Histria Social, examinando inicialmente, de um ponto de vista crtico, os diversos usos e significados da expresso como modalidade do saber historiogrfico. So discutidos aspectos diversos, incluindo os objetos, fontes e abordagens mais comuns a este campo. O artigo apresenta como principal referncia importante o livro O Campo da Histria, publicado pelo autor recentemente, e que cujo principal objetivo elaborar uma viso panormica dos vrios campos em que se divide o conhecimento histrico nos dias de hoje, incluindo o da Histria Social e de outras modalidades como a Histria Poltica, a Histria Econmica, a Histria Cultural e a Micro-Histria.ABSTRACT
Palavras-chave: Histria Social, Campos da Histria, escrita da histria.