AVALIAÇÃO DOS MOVIMENTOS POSTURAIS
DE OPERADORES DE UMA PRODUÇÃO DE
BLOCOS DE CONCRETO PELO MÉTODO RULA
Priscilla Caroline Fernandes Flavio (UEM)
Nathully El Rafih (UEM)
Denise Flamia Bandeira (UEM)
Tatyanne Frederico Zanatta (UEM)
Caroline Apoloni Cionek (UEM)
O presente trabalho tem como objeto de estudo aplicar o método RULA na
Empresa Y, que exerce a função de produzir blocos de concreto, sendo que a
maior parte de suas atividades são efetuadas manualmente, e portanto, seus
operadores estão sujeitos a executarem as atividades de forma a prejudicar
sua saúde física. Houve-se a necessidade de coletar dados fotográficos e
informações sobre as condições ergonômicas que o posto de trabalho
oferecia, para assim, implantar este método no setor produtivo
proporcionando uma eficácia na produção e uma satisfação dos operadores.
Esse método divide os membros corporais em dois grupos, A e B, e no estudo
em questão ambos os grupos obtiveram a mesma pontuação, superior a 7, o
qual representa a necessidade de serem tomadas ações corretivas e
imediatas.
Palavras-chave: método RULA; ergonomia; produção de blocos de concreto.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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1. Introdução
Ao decorrer da evolução da ciência ergonômica, observou-se que o homem sempre utilizou
métodos ergonômicos para melhor se adaptar ao seu ambiente, porém teve- se a percepção
desta ciência depois de muitos anos, quando finalmente em 1949, esta foi realmente decretada
como ciência. A partir deste momento definiu- se Ergonomia como sendo o estudo das
interações do homem com a tecnologia, com as organizações e com o ambiente, buscando
projetos que visem melhorar, de forma integrada, a segurança do operador, o conforto, o bem-
estar e a eficácia das atividades do mesmo (MARQUES, et al, 2009).
Juntamente com a Ergonomia, surgiu as análises Biomecânicas para o estudo do movimento
humano, avaliando os riscos das tarefas a fim de reduzir as tensões nos músculos e
articulações, e consequentemente, contribuir para a postura do operador nos postos de
trabalho. Portanto, a realização da avaliação ergonômica dos postos de trabalho e das tarefas
exercidas pelos trabalhadores pode ser feita por meio de métodos biomecânicos tais como:
OWAS, RULA, REBA, dentre outros.
O método RULA (Rapid Upper Limb Assessment) foi desenvolvido por Mcatemney e
Corlett, em 1993, sendo uma adaptação do método OWAS, baseando-se na avaliação rápida
dos danos potenciais aos membros superiores em função da postura adotada, utilizando
diagramas para facilitar a identificação das amplitudes de movimentos das articulações,
avaliando também a contração muscular estática, as forças, repetição, e alcance que são
exercidos pelos elementos analisados (CARDOSO JUNIOR, 2006).
Por essa razão, este trabalho busca estudar e aplicar o método RULA na Empresa Y, e
verificar as possíveis dores constatadas pelos operadores devido a movimentos realizados com
os membros superiores e inferiores, e se estão condicionadas a má projeção do posto de
trabalho em seus setores produtivos. Sendo assim, realiza-se uma analise dos movimentos
para posteriormente, propor melhorias a fim de minimizar os riscos aos trabalhadores,
proporcionando a eles uma melhor condição de trabalho, satisfação e incentivo com relação
aos níveis de produtividade, contribuindo assim, no aumento da mesma.
2. Procedimentos metodológicos
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2.1. Posto de trabalho observado
Este estudo foi realizado em uma microempresa de blocos de concreto situada numa cidade
do interior do Paraná, sendo que esta contava com apenas três operadores fixos para estar
realizando a produção. Seu processo contava com três atividades principais, fabricação,
processo de cura, e paletização, porém a que será analisada é a paletização dos blocos, que
aparentemente exigia mais do esforço físico dos operadores devido ao fato de que para formar
cada palete eram necessários agrupar aproximadamente 450 blocos manualmente.
Esta atividade era composta por dois movimentos principais: pegar o bloco pronto, e coloca-
lo no palete principal. Devido a semelhança do movimento corporal executada pelo operador,
o movimento escolhido para análise do método RULA, foi o movimento de pegar o bloco
pronto.
2.2. Materiais utilizados
Para o desenvolvimento deste trabalho foi utilizado um equipamento fotográfico para capturar
os movimentos realizados pelos operadores, e também do posto de trabalho onde se
encontravam e extrair os dados necessários a serem analisados.
2.3. Desenvolvimento do método RULA
Com a necessidade de estar realizando uma análise do setor produtivo, principalmente da
exposição dos operadores aos fatores de riscos associados a má postura, utilizou-se o método
RULA, já que este é um método ergonômico que investiga os riscos associados aos membros
superiores relativos ao trabalho.
Foi necessário também, fazer registros fotográficos para poder avaliar a posição de alguns
membros do corpo, e para fazer esta avaliação, pelo método RULA, divide- se os membros
em dois grupos: A, representando os membros superiores, que são os braços, antebraços e
punhos; e B constituído por pescoço, tronco e pernas.
Por meio desta divisão, temos que as posturas são classificadas de acordo com as angulações
que os membros realizam em relação ao corpo, atribuindo pontuações de 1 a 7, onde 1
representa postura ou movimento com menor risco de lesão, e 7 representa riscos maiores de
lesão corporal. Temos a seguir as pontuações detalhadas de cada grupo:
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Grupo A
Braços: a postura do braço após ser analisada pode receber uma pontuação de 1 a 4 conforme
mostra a Figura 1, devido a amplitude do movimento durante a realização da atividade.
Figura 1- Posições do braço
Fonte: Ergonautas.com – Portal de Ergonomia da Universitat Politecnica de Valencia
Dependendo se o braço está abduzido ou com o ombro elevado, deve-se somar mais 1 ponto,
ou se o braço tiver um apoio de forma a atenuar a carga, deve-se subtrair 1 ponto conforme
mostra a Figura 2.
Figura 2- Posições que modificam a pontuação do braço
Fonte: Ergonautas.com – Portal de Ergonomia da Universitat Politecnica de Valencia
Antebraços: a analise necessária é semelhante com a dos braços, portanto verifica-se a Figura
3 e atribui pontos (1 ou 2) às posturas.
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Figura 3- Posições do antebraço
Fonte: Ergonautas.com - Portal de Ergonomia da Universitat Politecnica de Valencia
A esta pontuação deve-se adicionar 1 ponto caso o antebraço cruza a linha média do corpo ou
se há afastamento lateral conforme é indicado na Figura 4.
Figura 4- Posições que modificam a pontuação do antebraço
Fonte: Ergonautas.com – Portal de Ergonomia da Universitat Politecnica de Valencia
Punhos: para estes devem ser atribuídos pontos de 1 a 3, dependendo do ângulo necessário
para realizar o movimento conforme mostra a Figura 5.
Figura 5- Posições do punho
Fonte: Ergonautas.com – Portal de Ergonomia da Universitat Politecnica de Valencia
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De acordo com a Figura 6, é necessário acrescentar 1 ponto se o pulso apresentar desvio
lateral. E se houver rotações do punho, deve ser acrescentado 1 ponto para amplitude média
ou 2 pontos para grandes amplitudes.
Figura 6- Desvios ou giro do punho
Fonte: Ergonautas.com – Portal de Ergonomia da Universitat Politecnica de Valencia
Grupo B
Pescoço: observando a Figura 7, temos que a postura do pescoço varia de 1 a 4, dependendo
da amplitude do movimento.
Figura 7- Posições do pescoço
Fonte: Ergonautas.com – Portal de Ergonomia da Universitat Politecnica de Valencia
Para obter a pontuação correta do pescoço, adiciona-se 1 ponto quando o pescoço está
inclinado lateralmente ou rodado conforme indica a Figura 8.
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Figura 8- Posições que modificam a pontuação do pescoço
Fonte: Ergonautas.com – Portal de Ergonomia da Universitat Politecnica de Valencia
Tronco: a postura do tronco de acordo com a Figura 9, possui sua pontuação oscilando de 1 a
4, dependendo da atividade que estará sendo analisada.
Figura 9- Posições do tronco
Fonte: Ergonautas.com – Portal de Ergonomia da Universitat Politecnica de Valencia
Da mesma forma que para o pescoço, acrescenta-se 1 ponto quando o tronco estiver rodado
ou inclinado lateralmente conforme mostra a Figura 10.
Figura 10- Posições que modificam a pontuação do tronco
Fonte: Ergonautas.com – Portal de Ergonomia da Universitat Politecnica de Valencia
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Pernas: para estes membros, deve-se atribuir 1 ponto quando ambas as pernas estão apoiadas
(sentado ou de pé), ou 2 pontos quando não estão apoiadas ou se o peso do corpo não está
simetricamente distribuído conforme mostra a Figura 11.
Figura 11- Posição das pernas
Fonte: Ergonautas.com – Portal de Ergonomia da Universitat Politecnica de Valencia
Após a análise dos movimentos posturais referentes aos grupos A e B, utiliza- se as Tabelas 1
e 2, para realizar o cálculo da pontuação referente a contração muscular, força e carga
exercida pelo operador durante a tarefa.
Tabela 1- Pontuação referente a contração muscular
Pontuação Contração Muscular
+1 Postura estática prolongada por período superior a 1 minuto
+1 Postura repetitiva, mais de 4 vezes por minuto
0 Postura fundamentalmente dinâmica e não repetitiva
Fonte: PINTO, et al (2012)
Tabela 2- Pontuação referente à força e carga
Pontuação Valor da força Tipo de aplicação
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0 Inferior a 2 kg Intermitente
+1 2 a 10 kg Intermitente
+2 2 a 10 kg Postura estática superior a 1 min ou repetitiva mais de 4/min
+2 Superior a 10 kg Intermitente
+3 Superior a 10 kg Postura estática superior a 1 min ou repetitiva mais de 4/min
+3 Qualquer Aplicação brusca, repentina ou com choque
Fonte: PINTO, et al (2012)
Verificado as pontuações de cada grupo, aplica- se o critério de escore (1 a 7) para cada
posição adotada pelo operador. Sendo assim, as medidas a serem tomadas para os resultados,
obtidos a partir da análise do método RULA, se encontram na Tabela 3.
Tabela 3- Ações para tomadas de decisão
Escores Ações a serem tomadas
1 – 2 Postura aceitável se não repetida durante longos períodos
3 – 4 Investigar, possibilidade de requerer mudanças
5 – 6 Investigar, realizar mudanças rapidamente
7 ou mais Mudanças imediatas
Fonte: Adaptado de PAVANI; QUELHAS (2006)
3. Resultados e discussão
Por meio de observações e registros fotográficos, pôde-se notar que na atividade de
paletização, os operadores executavam os movimentos de maneira incorreta, como pode ser
notado na figura 12.
Além disso, devido a repetição excessiva dos movimentos, no qual o operador desloca em
cada movimento 3 a 4 blocos de 2 Kg até obter aproximadamente 450 blocos no palete
principal, temos que o operador está exposto a ocasionar danos maiores aos seus membros
inferiores e superiores.
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Figura 12- Retirada do bloco para alocação no palete principal
Fonte: Próprio autor
Sendo assim, com base nessa figura, segue a Tabela 4 com as análises de pontuações para o
movimento executado, baseando-se na pontuação detalhada de cada grupo que foi
apresentado no desenvolvimento do método RULA neste trabalho.
Tabela 4 - Pontuação dos grupos
Grupo A Grupo B
Braço Antebraço Punhos Pescoço Tronco Pernas
Angulação 20°- 45° 0°- 60° 15° >20° >60° -
Pontuação 2+1 2+1 2 3 4 1
Contração Muscular +1 +1
Força +2 +2
Pontuação Total 11 11
Fonte: Próprio autor
Nota-se que ambos os grupos apresentam uma pontuação total acima de 7 pontos, portanto
com base na tabela 3 podemos definir o nível de ação a ser tomada, que no caso, os dois
grupos fazem parte do nível 4, e portanto, precisam ser tomadas ações imediatas para mudar
as posturas adotadas pelos operadores.
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Sendo assim, pode-se concluir que os membros mais afetados com os esforços repetitivos
foram o tronco, braço, antebraço e o pescoço. Portanto, as medidas preventivas devem focar
na melhor forma de executar a atividade sem prejudicar os membros citados.
Desta forma, uma das medidas a serem tomadas para solucionar o problema, seria a utilização
de uma bancada de aproximadamente 60 cm para executar a atividade de paletização, pois
assim, o operador não forçaria o tronco e o pescoço com uma inclinação muito elevada.
Uma outra medida preventiva, seria em relação ao alcance das mãos, pois de acordo com Itiro
Iida (2005), objetos colocados fora da área de alcance máximo, exige maior atividade
muscular dos ombros, portanto, o palete principal deveria estar entre os operadores, de forma
que suas tarefas repetitivas fossem colocadas à sua frente, dentro de sua área normal de
trabalho.
4. Considerações finais
Ao concluir este estudo, notou-se uma visão destorcida dos operadores quanto a forma de
operar, pois estes priorizavam a agilidade no processo, e não se preocupavam com o manuseio
correto da atividade, prejudicando o sistema músculo- esquelético, que poderia acarretar a
longo prazo doenças ocupacionais.
Desta forma, verificou-se a necessidade de aplicar um método ergonômico afim de
proporcionar uma avaliação rápida em relação a postura, função muscular e forças exercidas
pelos operadores, e comprovar que a má execução de seus movimentos poderia acarretar em
dores e desconfortos futuros, sendo necessário então, achar soluções rápidas ao modo de
executar as tarefas, para que os membros afetados não sofressem mais com a realização de
movimentos incorretos.
REFERÊNCIAS
DIEGO-MÁS, J. A.; CUESTA, S. A. Universidad Politecnica de Valencia. ergonautas.com. Disponivel em:
<http://www.ergonautas.upv.es/metodos/rula/rula-ayuda.php>. Acesso em: 22 jul. 2014.
IIDA, I. Ergonomia: Projeto e Produção. 2ª. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2005. 204-206 p.
JUNIOR, M. M. C. Avaliação Ergonômica: Revisão dos Métodos para Avaliação Postural. Revista Produção
Online, Florianópolis, 6, Dezembro 2006. 10. Disponivel em: < HYPERLINK "http://www.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fproducaoonline.org.br%2Frpo%2Farticle%2Fview%2F630%2F668&h=hAQGLidEH" \t "_blank" http://producaoonline.org.br/rpo/article/view/630/668 >.
Acesso em: 12 mai. 2014.
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Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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MARQUES, B. C. D. et al. Aplicação do Método RULA na investigação dos efeitos causados pelas posturas
adotadas por operadores de uma casa lotérica. XXIX Encontro Nacional de Engenharia de Produção,
Salvador, 6-9 Outubro 2009. 1-11. Disponivel em:
<http://www2.ufersa.edu.br/portal/view/uploads/setores/63/Artigos/ENEGEP%202010/enegep2009_TN_STO_0
94_635_14248.pdf>. Acesso em: 16 mai. 2014.
PAVANI, R. A.; QUELHAS, O. L. G. Avaliação dos riscos ergonômicos como ferramenta gerencial em saúde
ocupacional. XIII SIMPEP, Bauru, 6-8 Novembro 2006. 1-9. Disponivel em: <
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PINTO, R. S. et al. SEPRONE, 20012. Aplicação do método RULA na avaliação ergonômica de um posto de
trabalho de costureira de uma indústria de confecção. Disponível em:< HYPERLINK "http://www.seprone2012.com.br/sites/default/files/et17.pdf" http://www.seprone2012.com.br/sites/default/files/et17.pdf >. Acesso em: 12 mai. 2014.