VIVIANE RODRIGUES FERRACCIOLI
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE SALSICHAS DO TIPO HOT DOG
DURANTE O ARMAZENAMENTO
SÃO CAETANO DO SUL 2012
VIVIANE RODRIGUES FERRACCIOLI
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE SALSICHAS DO TIPO HOT DOG
DURANTE O ARMAZENAMENTO
Dissertação apresentada à Escola de Engenharia Mauá do Instituto Mauá de Tecnologia para obtenção do título de Mestre em Engenharia de Processos Químicos e Bioquímicos
Linha de Pesquisa: Desenvolvimento e otimização de processos da indústria de alimentos
Orientadora: Profa. Dra. Antonia Miwa Iguti
SÃO CAETANO DO SUL 2012
Ferracioli, Viviane Rodrigues Avaliação da qualidade de salsichas do tipo hot dog durante o
armazenamento / Viviane Rodrigues Ferracioli. -- São Caetano do Sul, SP: CEUN-EEM, 2012.
117p.
Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-Graduação. Linha de pesquisa: Desenvolvimento e Otimização de Processos da Indústria de Alimentos - Escola de Engenharia Mauá do Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia, São Caetano do Sul, SP, 2012.
Orientadora: Profa. Dra. Antonia Miwa Iguti
1. Salsicha 2. Nitrito e Nitrato I. Instituto Mauá de Tecnologia. Centro
Universitário. Escola de Engenharia Mauá II.Título.
Dedico este trabalho com muito carinho à minha amada família, ao meu noivo e à minha orientadora, por terem sempre acreditado nos meus objetivos.
Aos meus pais,
Cid e Eunice
Ao meu irmão e cunhada, Ricardo e Patrícia
Ao meu Noivo, Adriano
À Minha Orientadora, Antonia
AGRADECIMENTOS
A Deus pelo dom da vida, pelo entendimento concedido, saúde para obter conquistas e
coragem para enfrentar adversidades.
Agradeço em especial a minha Orientadora, Dra. Antonia Miwa Iguti pelas sugestões e
criticas que contribuíram para o meu crescimento profissional, que confiou e acreditou em
mim, jamais permitiu que minhas dúvidas e angústias nos momentos de crise me
desestimulassem. Suas qualidades, profissionais e humanas, serão eternamente fonte de
inspiração.
À banca examinadora desta dissertação, Prof. Dr. Alfredo Tenuta Filho e Prof. Dra. Elisena
Aparecida Gustaferro Seravalli, pelas sugestões e correções que em muito valorizaram este
trabalho.
Ao Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia representada pelo seu Reitor Otávio
de Mattos Silvares e à Escola de Engenharia Mauá nas pessoas do seu diretor Mário Cavaleiro
Fernandes Garrote, do Coordenador do Mestrado em Engenharia de Processos Químicos e
Bioquímicos Dr. Léo Kunigk e do Coordenador da Graduação em Engenharia Química e de
Alimentos Dr. Marcelo Nitz que proporcionaram a oportunidade da realização de um grande
objetivo em minha vida e pela disponibilização de suas instalações laboratoriais.
A todo o corpo docente que conseguiu, por meio do entusiasmo de suas aulas, propiciar-me
momentos de reflexão, me indicando as possibilidades e perspectivas, diante da complexidade
e dilemas dos temas abordados.
À técnica Inês Aparecida Santana que gentilmente disponibilizou o laboratório instrumental e
equipamentos necessários, aos nossos cuidados para a elaboração desta dissertação.
Às técnicas do departamento de Engenharia Química e de Alimentos, Daniela Cristina do
Couto Vasconcelos e Ana Paula Buriti Santa Rosa, pelo auxilio na preparação e execução das
análises. A equipe de apoio, Marinês dos Santos e Sandra Maria do Nascimento que tiveram
participação ativa no preparo e higienização de todas as vidrarias laboratoriais.
Ao estagiário Wesley Prieto, pela colaboração na execução das análises.
Ao amigo Alessandro Henrique Fonseca Cevilha, pela inestimável ajuda e colaboração.
À Empresa Kienast & Kratschmer Ltda. (KRAKI) representada pelas famílias de Dr. Franz
Kienast e Dr. Peter Kratschmer, ao Diretor Wilson Mathias e à Gerente da divisão de aditivos,
Engenheira Matilde Faustino Marques, pela compreensão e apoio na disponibilização do uso
das instalações, insumos e equipamentos que tornaram viáveis o processamento das 03
formulações de salsichas hot dog. Aos colegas de empresa, do setor de pesquisa &
desenvolvimento (Carnes), Márcio Hatano, Flavio Andrade, Aline Diniz e Airton José Roque
pela inestimável e indispensável ajuda na elaboração dos produtos na planta piloto. Aos
colegas do Laboratório físico químico - Controle de Qualidade, pelo respeito e convivência no
decorrer destes anos.
À Dra. Jussara Carvalho de Moura Della Torre, pesquisadora cientifica do Instituto Adolfo
Lutz, sem os seus ensinamentos não teria chegado até aqui.
Agradeço a minha família, especialmente meus pais Cid e Eunice, meu irmão Ricardo e
cunhada Patrícia, pelo entusiasmo, compreensão, força e otimismo nos momentos de
desânimo e cansaço, souberam entender meus inúmeros momentos de ausências, o meu
isolamento necessário para a realização dos trabalhos e das pesquisas que se fizeram
necessárias ao longo deste curso e por compartilhar das minhas leituras e descobertas.
Ao meu noivo Adriano, pelo carinho e companheirismo ao longo dos últimos anos.
A todos os meus amigos, em especial à Marta Cezar de Souza e Marlene Cezar de Souza que
me acompanharam no decorrer de toda a minha vida, compartilhando comigo maus e bons
momentos.
Enfim, a todos que de alguma maneira contribuíram para a execução deste trabalho, seja pela
ajuda constante ou por uma palavra de amizade. MUITO OBRIGADO!
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo produzir salsichas hot dog com três diferentes formulações e verificar se atendem aos regulamentos técnicos de identidade e qualidade, estabelecidos pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, ao longo do armazenamento. Essa avaliação incluiu determinação dos residuais de nitrito e de nitrato, além das características físico-químicas e microbiológicas. Para a escolha do método de análise de nitrato, quinze amostras de salsicha hot dog comercializadas na região metropolitana de São Paulo foram analisadas pelos dois métodos analíticos oficiais. Essas amostras foram analisadas também quanto ao teor de nitrito e ao pH. Este resultou em valores entre 5,93 e 6,80, variação que pode ser decorrente de diferenças nas formulações e da presença de bactérias láticas. Quanto ao nitrito, nenhuma apresentou teor superior ao limite legal, de 150 mg/kg. Ao mesmo tempo, duas amostras merecem destaque por terem apresentado teores inferiores a 10 mg/kg. Quanto ao teor de nitrato, os resultados pelos dois métodos mostraram-se coerentes, sendo que duas amostras ultrapassaram o limite estabelecido de 150 mg/kg, por ambos os métodos. Ambos os métodos apresentaram bons resultados de eficiência. Quanto às salsichas produzidas para este estudo, todas obedeceram ao Regulamento técnico de Identidade e Qualidade de Salsicha sendo que os teores de umidade, cinzas, gordura e proteína foram bem semelhantes nas 3 formulações. Esse resultado era esperado, já que apenas as quantidades dos conservantes foram variadas nessas formulações. A atividade de água variou entre 0,968 e 0,970 e o pH de 6,54 a 6,83 indicando que estes parâmetros não formam barreiras suficientes para proporcionar a estabilidade microbiológica dos produtos. É necessária a aplicação de mais obstáculos ao desenvolvimento microbiano no produto, principalmente por fornecer condições ideais para crescimento do Clostridium botulinum. A redução do nitrito foi evidenciada no processamento e acondicionamento das salsichas sendo que, somente no processamento, houve perda de 33 a 38% frente à quantidade adicionada. No acondicionamento a queda ocorreu em menores proporções. Com relação ao nitrato, as análises indicaram a presença desse íon na composição dos produtos mesmo sem a sua adição. As análises indicaram ainda uma tendência de aumento com o decorrer do tempo de armazenamento em condições controladas. As análises microbiológicas indicaram que a vida de prateleira estabelecida para a comercialização destas 3 formulações estaria adequada, uma vez observadas as condições de temperatura de armazenamento e os cuidados de higiene. Palavras-chave: Salsicha. Nitrito e nitrato. Análises. Vida de prateleira.
ABSTRACT
This work aimed to process hot dog sausages with three different formulations to check if they meet technical regulations of identity and quality established by the Ministry of Agriculture, Livestock and Supply, during the storage. This assessment included determination of residual nitrite and nitrate in addition to physico-chemical and microbiological analysis. The method of nitrate analysis was chosen after analyses of fifteen samples of sausage commercialized in the metropolitan region of São Paulo by two official analytical methods. These samples were also analyzed on nitrite content and pH. The variation of pH values, between 5.93 and 6.80, may result from differences in formulations or presence of lactic acid bacteria. No nitrite content over the legal limit of 150 mg·kg-1 was observed. At the same time, two samples presented content below 10 150 mg·kg-1. The nitrate content by both methods showed consistency and good efficiency. Two samples exceeded the limit of 150 mg·kg-1, by both methods. All sausages produced for this study obeyed the Technical Regulation of Identity and Quality and the contents of moisture, ash, fat and protein were very similar in the three formulations, which were expected, since only the amounts of preservatives varied in these formulations. The water activity varied between 0.968 and 0.970 and the pH from 6.54 to 6.83 indicating that these parameters are not enough barriers to provide microbiological safety of the products. More obstacles against microbial growth, particularly of Clostridium botulinum are necessary. Nitrite reduction was observed in processing and storage of sausages. In the processing 33 to 38% of nitrite added was lost. Smaller proportions were reduced during storage. With respect to nitrate, the analysis indicated the presence of this ion in the product even without its addition. The analysis also indicated an increasing trend of nitrate during the shelf-life. Microbiological analyzes indicated that the shelf life established for commercialization of these three formulations would be appropriate, if the storage temperature and hygiene care were observed. Keywords: Sausage. Nitrite e nitrate. Analysis. Shelf life.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 - Reação de Cura ................................................................................................ 16
FIGURA 2 - Número de casos suspeitos e confirmados de botulismo no Brasil -
Período 1999 a 2008 ........................................................................................ 25
FIGURA 3 - Número de casos confirmados por local de ocorrência de botulismo no
Brasil - Período 1999 a 2008 ........................................................................... 26
FIGURA 4 - Número de casos confirmados e taxa de letalidade de botulismo no Brasil
- Período 1999 a 2008 ...................................................................................... 26
FIGURA 5 - Fluxograma do processamento da Salsicha hot dog ........................................ 40
FIGURA 6 - Reações envolvidas na análise de nitrito ......................................................... 47
FIGURA 7 - Amostras solubilizadas após a adição de tetraborato de sódio e água
quente ............................................................................................................... 48
FIGURA 8 - Amostras no banho maria etapa de extração .................................................... 48
FIGURA 9 - Amostras precipitadas em balão volumétrico em repouso .............................. 49
FIGURA 10 - Etapa de filtração das amostras após precipitação ........................................... 49
FIGURA 11 - Reação de cor aguardando leitura no espectrofotômetro ................................. 50
FIGURA 12 - Fluxograma da determinação de nitrito e nitrato pela metodologia do
Instituto Adolfo Lutz........................................................................................ 51
FIGURA 13 - Funil de separação acoplado a coluna de cádmio............................................. 52
FIGURA 14 - Coordenadas de cor - Sistema CIELAB ........................................................... 56
FIGURA 15 - Processo de fabricação das salsichas ................................................................ 60
FIGURA 16 - Curva padrão de Nitrito de Sódio ..................................................................... 66
FIGURA 17 - Curva - Comportamento dos residuais de nitrito durante o processamento
e acondicionamento das 3 formulações .......................................................... 79
FIGURA 18 - Curva - Comportamento dos residuais de nitrato expresso em nitrito
durante o processamento e acondicionamento das 3 formulações ................... 82
LISTA DE TABELAS
TABELA 1- Tipos de botulismo notificados confirmados no Brasil - Período 1999 a
2008.................................................................................................................. 24
TABELA 2 - Casos de botulismo alimentar notificados por tipo de alimento no Brasil -
Período 1999 a 2008 ........................................................................................ 25
TABELA 3 - Limite dos conservantes nitritos e nitratos empregados em diversos
países ................................................................................................................ 29
TABELA 4 - Vendas de produtos cárneos industrializados 2010 a 2011 ............................. 34
TABELA 5 - Técnicas de quantificação de nitritos e nitratos em alimentos ......................... 42
TABELA 6 - Formulações de salsicha hot dog ..................................................................... 59
TABELA 7 - Resultados de pH e residual de nitrito ............................................................. 65
TABELA 8 - Resultados de residual de nitrato expresso em nitrito - Redução coluna de
cádmio - IAL .................................................................................................... 68
TABELA 9 - Resultados de residual de nitrato expresso em nitrito - Redução sistema
com agitação- IN 20 MAPA ............................................................................ 70
TABELA 10 - Resultados de residual nitrato expresso em nitrito - Compilados -
Redução Coluna de Cádmio (IAL) x Redução Sistema Aberto com
agitação (MAPA) ............................................................................................. 71
TABELA 11 - Composição centesimal das salsichas processadas ......................................... 74
TABELA 12 - Atividade de água das salsichas processadas .................................................. 75
TABELA 13 - pH das salsichas processadas........................................................................... 76
TABELA 14 - Nitrito residual das salsichas processadas ....................................................... 77
TABELA 15 - Nitrato expresso em nitrito residual das salsichas processadas ....................... 80
TABELA 16 - Contagem Padrão de Microrganismos Mesófilos Aeróbios e Anaeróbios
Facultativos das salsichas processadas ............................................................ 83
TABELA 17 - Bactérias láticas das salsichas processadas ..................................................... 84
TABELA 18 - Atributo L* - Cor interna das salsichas durante o tempo de
armazenamento ................................................................................................ 86
TABELA 19 - Atributo a* - Cor interna das salsichas durante o tempo de
armazenamento ................................................................................................ 87
TABELA 20 - Atributo b* - Cor interna das salsichas durante o tempo de
armazenamento ................................................................................................ 87
TABELA 21 - Atributo L* - Cor externa das salsichas durante o tempo de
armazenamento ................................................................................................ 89
TABELA 22 - Atributo a* - Cor externa das salsichas durante o tempo de
armazenamento ................................................................................................ 89
TABELA 23 - Atributo b* - Cor externa das salsichas durante o tempo de
armazenamento ................................................................................................ 90
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 13 2 OBJETIVO ............................................................................................................ 15 2.1 OBJETIVO GERAL......... ...................................................................................... 15 2.2 OBJETIVOS ESPECIFICOS .................................................................................. 15 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................ 16 3.1 NITRITO E NITRATO ........................................................................................... 16 3.2 ASPECTOS TOXICOLÓGICOS E DE EXPOSIÇÃO AOS NITRITOS E ......... NITRATOS ............................................................................................................. 20 3.3 BOTULISMO ......................................................................................................... 21 3.4 PANORAMA MUNDIAL SOBRE O USO DE NITRITO E NITRATO EM
PRODUTOS CÁRNEOS ........................................................................................ 28 3.5 SALSICHAS ........................................................................................................... 30 3.5.1 Definição ................................................................................................................ 30 3.5.2 Mercado e tendências ........................................................................................... 32 3.5.3 Ingredientes utilizados na elaboração ................................................................. 35 3.5.4 Processo de fabricação .......................................................................................... 39 3.6 METODOLOGIAS PARA A QUANTIFICAÇÃO DE NITRITOS E NITRATOS
EM PRODUTOS CÁRNEOS ................................................................................. 42 4 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................ 45 4.1 MATERIAIS ........................................................................................................... 45 4.1.1 Obtenção e preparo das amostras ....................................................................... 45 4.1.2 Vidrarias, reagentes, ingredientes e equipamentos .......................................... 45 4.2 MÉTODOS ............................................................................................................. 46 4.2.1 pH ........................................................................................................................... 46 4.2.2 Nitritos ................................................................................................................... 47 4.2.3 Nitratos ................................................................................................................... 50 4.2.3.1 Redução do nitrato em coluna de cádmio ............................................................... 51 4.2.3.2 Redução do nitrato através de sistema aberto -Agitação ........................................ 53 4.2.4 Análise de umidade ............................................................................................... 54 4.2.5 Análise de cinzas ................................................................................................... 54 4.2.6 Análise de proteína ............................................................................................... 55 4.2.7 Análise de lipideos ................................................................................................. 55 4.2.8 Análise de atividade de água ................................................................................ 56 4.2.9 Análise de cor ........................................................................................................ 56 4.2.10 Análises microbiológicas ...................................................................................... 57 4.2.10.1 Contagem total de bactérias mesófilas aerobias e/ou facultativas .......................... 57 4.2.10.2 Contagem de bactérias láticas ................................................................................. 57 4.2.11 Análise estatística .................................................................................................. 58 4.2.12 Formulações e fabricação das salsichas hot dog ................................................ 58 4.2.12.1 Elaboração da massa ............................................................................................... 61 4.2.12.2 Embutimento ........................................................................................................... 61
4.2.12.3 Cozimento ............................................................................................................... 62 4.2.12.4 Resfriamento ........................................................................................................... 62 4.2.12.5 Depelagem .............................................................................................................. 62 4.2.12.6 Tingimento .............................................................................................................. 63 4.2.13 Tempo de armazenamento e periodicidade de retirada das amostras de salsicha hot dog ..................................................................................................... 63 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................... 65 5.1 AVALIAÇÃO DAS SALSICHAS DE MERCADO .............................................. 65 5.1.1 pH e Nitrito residual ............................................................................................. 65 5.1.2 Nitrato residual ..................................................................................................... 67 5.2 AVALIAÇÃO DAS SALSICHAS PROCESSADAS ............................................ 73 5.2.1 Composição centesimal ......................................................................................... 73 5.2.2 Atividade de água .................................................................................................. 75 5.2.3 pH ........................................................................................................................... 76 5.2.4 Nitrito residual ...................................................................................................... 77 5.2.5 Nitrato residual ..................................................................................................... 80 5.2.6 Análises microbiológicas ...................................................................................... 82 5.2.6.1 Contagem padrão de microrganismos mesófilos aeróbios e anaeróbios facultativos .............................................................................................................. 82 5.2.6.2 Bactérias láticas....................................................................................................... 84 5.2.7 Cor .......................................................................................................................... 85 5.2.7.1 Cor interna ............................................................................................................. 86 5.2.7.2 Cor externa .............................................................................................................. 88 6 CONCLUSÃO ....................................................................................................... 91 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 93 ANEXOS.................................................................................................................98
13
1 INTRODUÇÃO
Com o crescimento da população mundial, a globalização e o avanço tecnológico, o
consumidor passa a exigir, cada vez mais, alimentos que sejam de preparo e consumo
facilitado, qualidade superior, com características de um produto mais próximo ao original e
que não tragam riscos à saúde.
Ao lado de fatores como a introdução de novos produtos, da associação de processos de
conservação, e muitos outros procedimentos básicos, o uso de aditivos, representa para a
fabricação de produtos alimentícios, um dos seus mais importantes recursos, sendo hoje,
totalmente indispensável (EVANGELISTA, 1987).
Os embutidos, particularmente, estão dentre as formas mais antigas de processamento de
carnes, sendo que o emprego de substâncias químicas com a finalidade de melhorar a
conservação e a aparência dos alimentos é quase tão antigo quanto à existência da civilização.
O termo inglês sausage, da forma que é usado atualmente, é derivado do latim, salsus, que
significa salgado ou, literalmente, preservado. Este termo foi empregado primeiramente pelos
antigos romanos para denominar carne preservada pelo uso do sal (PARDI et al., 1995).
Dentre os embutidos, a salsicha é um dos mais populares no mundo e também no Brasil. Essa
importância pode ser ilustrada pelo volume estimado de produção desse alimento no nosso
país. O volume de salsichas produzidas no ano de 2008 atingiu 511196 toneladas e estima-se
que em 2013 a produção atinja 701140 toneladas (DATAMARK, 2009).
Nitritos e nitratos são os únicos aditivos, com função conservante, previstos para uso na
massa de salsichas contemplados na lista positiva do regulamento técnico brasileiro de
atribuição de aditivos e seus limites da categoria de alimentos 8: Carne e Produtos cárneos
(BRASIL, 1999; BRASIL, 2006). Em produtos de origem animal a adição de nitrato e de
nitrito, associada ou não ao NaCl, somada à temperatura de refrigeração, são recursos
adequados para o controle do desenvolvimento de Clostridium botulinum impedindo, desta
forma, a produção da substância causadora da intoxicação decorrente da ingestão de alimentos
contendo neurotoxinas causadoras do botulismo. O nitrato e nitrito, de sódio ou de potássio,
além de inibirem o crescimento do Clostridium botulinum, são estabilizadores da cor
vermelha da carne (FRANCO et al., 2001).
14
Ao mesmo tempo em que se verifica a necessidade de adição dessas substâncias para garantia
da segurança microbiológica desses produtos, há a preocupação com os possíveis efeitos
tóxicos ao organismo exposto, que dependem da quantidade ingerida e de sua
susceptibilidade. Especificamente nesse caso, a preocupação decorre da presença de
compostos potencialmente carcinogênicos, resultantes de reação dos nitritos com aminas, as
nitrosaminas. Esses compostos têm sido causa de preocupação por parte das autoridades
sanitárias por todo o mundo há pelo menos 40 anos.
Isso posto, verifica-se a necessidade de estudos que visem à avaliação do prazo de vida
comercial de alimentos contendo esses conservadores, tanto para a segurança dos
consumidores quanto da indústria fabricante. Este trabalho com salsichas do tipo hot dog teve
dois objetivos principais: comparar os métodos oficiais de análises de nitratos por meio da
determinação dos teores de nitritos e de nitratos de salsichas comercializados na região
metropolitana de São Paulo e avaliar a segurança de salsichas produzidas em escala piloto
durante o armazenamento, por meio de análises microbiológicas e dos citados aditivos.
15
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Este trabalho teve como objetivo avaliar os residuais de nitrito e nitrato durante o
armazenamento da salsicha hot dog.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Comparar os dois métodos analíticos oficiais utilizados para a
quantificação de nitrato e determinar nitrito, avaliando os residuais em
salsichas hot dog comercializadas na região metropolitana de São Paulo. Com
esses resultados, verificar se a regulamentação quanto o emprego destes
conservantes está atendida.
• Processar 3 formulações de salsichas do tipo hot dog e analisá-las
quanto às características físico-químicas e microbiológicas e verificar se
atendem aos regulamentos técnicos de identidade e qualidade, estabelecidos
pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, ao longo do
armazenamento.
• Estudar a variação dos residuais de nitrito e nitrato durante o
armazenamento das 3 formulações de salsichas hot dog elaboradas. Também
foram avaliados parâmetros como pH e cor (externa e interna) no decorrer da
vida de prateleira destes produtos.
16
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 NITRITO E NITRATO
Como é de comum conhecimento, o nitrito de sódio (NaNO2), seja utilizado puro ou em
mistura com nitrato de sódio (NaNO3), é o principal componente na reação de cura,
propiciando as características de cor/sabor e conservação para a classe de produtos
conhecidos como curados (CASSENS, 1997).
A reação de cura envolve a modificação química do pigmento hemoglobina, com a mudança
no seu grupo Heme devido à presença do óxido nitroso, oriundo da decomposição do nitrito
em meio aquoso (FIGURA 1).
FIGURA 1 – Reação de Cura.
Tal reação é responsável não somente pelos efeitos bacteriostáticos, especialmente em relação
ao gênero Clostridium, mas também pela formação de sabor e cor característicos desta
categoria de produto. Outro efeito da utilização de nitrito e de nitrato é a redução dos
processos oxidativos, muito comuns em produto cárneos industrializados (PARDI et al.,
1995).
Dentre as muitas questões relativas à segurança alimentar, a presença de compostos
potencialmente carcinogênicos em alimentos tem sido fortemente estudada e é causa de
preocupações por parte das autoridades sanitárias por todo o mundo há pelo menos 40 anos.
17
As nitrosaminas são uma classe de compostos químicos que foram primeiramente descritos na
literatura química há mais de 100 anos, mas até 1954 não receberam muita atenção. Nesse ano
dois cientistas britânicos, John Barnes e Peter Magee, cujos trabalhos foram os primeiros a
relacionar danos ao DNA com câncer, publicaram resultados que ligavam a
dimetilnitrosamina com a produção de tumores em fígados de ratos. Essa descoberta foi
realizada durante uma investigação toxicológica sobre dois casos de cirrose hepática que
acometeu uma equipe de três homens que trabalhavam em um laboratório de pesquisa de uma
grande indústria química da Inglaterra (BARNES; MAGEE, 1954).
A descoberta de Magee e Barnes fez com que cientistas de todo o mundo começassem a
estudar as propriedades carcinogênicas de outras nitrosaminas e compostos N-nitrosos.
Aproximadamente 300 desses compostos foram testados e 90% deles apresentou
carcinogenicidade em uma ampla gama de estudos experimentais com animais (SCANLAN,
2000).
As nitrosaminas são compostos N-nitrosos, que apresentam uma estrutura genérica R1 R2N=O,
em que R1 e R2 podem ser grupos alquila ou arila. Dependendo dos radicais R1 e R2, esses
compostos podem se encontrar nas formas sólidas, líquidas ou gasosas. De modo geral, as N-
nitrosaminas são estáveis, decompondo-se em soluções ácidas ou por radiação ultravioleta
(MAFF, 1992).
Estes compostos estão presentes em diferentes meios como água, solo e ar. Podem ser
encontrados como contaminantes de alimentos, rações, drogas, cosméticos e pesticidas. É
absorvido pela pele, vias aéreas e trato alimentar. Existem evidências de que os compostos
nitrosos podem ser gerados in vivo a partir de nitritos ou nitratos combinados com aminas
primárias, secundárias e terciárias em órgãos de pessoas que aparentemente não foram
expostas a estes compostos (BRENDLER et al., 1992).
As N-nitrosaminas são formadas em uma reação de substituição eletrofílica do nitrogênio
orgânico com um composto nitrosante. O nitrogênio orgânico é derivado das aminas
primárias, secundárias e terciárias, hidroxiamina ou peróxidos de aminas, os quais são
produtos de transformação de fertilizantes e herbicidas fenoxiacéticos. Os agentes nitrosantes
(N2O3) podem ser formados por nitritos, nitratos, ou compostos nitrosos diversos
(ROSTKOWSKA et al., 1998).
18
Os sais de nitrito e de nitrato, especialmente os combinados com o cátion sódio, têm sido
empregados durante décadas pela indústria de processamento de carne como conservante
evitando o envenenamento por toxinas bacterianas, em especial a toxina botulínica. De acordo
com os trabalhos de Hustad et al. (1973) e Christiansen et al. (1973), a presença de nitrito é
essencial na redução do risco de envenenamento por toxina botulínica em salsichas e carne
enlatada. Sua presença em produtos caracterizados como curados é essencial, não somente
pelo aspecto de segurança alimentar, mas também por questões de sabor.
Dada a natureza da carne, rica em proteínas, e por conseqüência, rica em aminas, o uso de sais
de nitrito e nitrato poderia levar a formação de nitrosaminas. Com os sais de nitrito, as reações
mais extensivas aplicam-se a substâncias amínicas fracamente básicas (aminas aromáticas,
amidas, ureia) sob condições aquosas ácidas. Para aminas secundárias e aminoácidos, a
formação dos seus derivados N-nitrosos geralmente ocorre a um máximo entre pH 2,5 – 3,5,
em que o rendimento da reação é inversamente proporcional a basicidade da substância
amínica. Estas reações são catalisadas por substâncias como haletos, tiocianatos e
formaldeídos (ANDRADE, 2004).
As aminas terciárias reagem similarmente às aminas secundárias, mas usualmente em menor
quantidade. Com a redução do nitrito, ocorre a formação de anidrido nitroso (NOx), muito
mais reativo, com substâncias amínicas de alta basicidade, em condições não aquosas, neutras
ou aquosas alcalinas. Nessas condições, o oxigênio, o iodo e vários sais metálicos têm efeito
catalisador, enquanto que em condições ácidas são inibitórias. Amidas, peptídeos, ureia e
guanidina não reagem com óxidos de nitrogênio em meio aquoso. As condições ácidas do
estômago são propicias para as reações de conversão de nitrato e nitrito dos alimentos e da
saliva. A nitração gástrica é mais dependente do consumo de nitrato do que de nitrito
(CHALLIS, 1985).
A formação do anidrido nitroso não se dá apenas pela decomposição do nitrito, mas também
ocorre na atmosfera (especialmente em áreas com muita poluição causada por automóveis),
pela fumaça de cigarro (contém em torno de 1000 ppm de NOx) e pela formação por
processos de oxidação intracelulares. Com base no conhecimento químico da reação de
produção de nitrosaminas, é possível que o NOx produzido endogenamente possa reagir com
oxigênio e, subsequentemente, nitrosar aminas secundárias e produzir N-nitrosaminas
carcinogênicas in vivo (TANNENBAUM; WISHNOK; LEAF, 1991).
19
Como forma de inibir a formação de N-nitrosaminas, a utilização de substâncias
antioxidantes, especialmente o ácido ascórbico e seus isômeros e sais, como ascorbato de
sódio, ácido eritórbico e eritorbato de sódio tem mostrado resultados efetivos. O ácido
eritórbico e o eritorbato de sódio combinam-se com o NOx produzindo oxido nitrico, um
agente de nitração relativamente inefetivo (ANDRADE, 2004).
Segundo Andrade (2004), a formação de nitrosaminas pode ocorrer sob condições específicas,
que envolvem: a presença de umidade em níveis altos o suficiente para permitir as interações
moleculares necessárias para a reação; valores de pH baixos o suficiente; presença dos
reagentes em quantidades e disponibilidades suficientes; ausência de inibidores de reação e
energia térmica (calor).
Assim, a presença de antioxidantes como os já citados (tecnologicamente conhecidos como
auxiliares de cura ou fixadores de cor) reduzem em muito a possibilidade de formação de
nitrosaminas, especialmente em produtos cárneos processados dentro dos padrões de
identidade de qualidade estabelecidos. A literatura científica também apresenta várias
indicações da não formação de nitrosaminas em produtos cárneos (DUTRA, 2006; HUSTAD
et al.,1973; CHRISTIANSEN et al., 1973).
Outro fator a ser considerado é a dosagem de nitrito/nitrato empregada durante o
processamento tecnológico dos produtos cárneos. Dado o grau de complexidade das reações e
da matriz cárnea, bem como das interações entre ingredientes e limites de legislação, a
dosagem de adição de nitritos e nitratos não apresenta uma relação direta clara com os valores
residuais. Alguns fatores a serem considerados para tal:
• O nitrito é uma substância química muito reativa com forte ação óxido-redutora e
nitrosante, podendo ser convertido a formas como nitrato, óxido nítrico, trióxido de
dinitrogênio e ácido nítrico.
• A evidência empírica mais forte da reatividade do nitrito, além dos aspectos de cor,
sabor e vida de prateleira é a redução do seu teor em relação às quantidades inicialmente
adicionadas.
• A redução do teor ocorre continuamente e é influenciada principalmente por fatores
como tempo, temperatura, pH, tipo de matéria prima cárnea, interações entre ingredientes,
além de outros.
20
• Em geral, menos de 50% do nitrito adicionado pode ser quantificado quimicamente
após o término do processo de cura.
Desta forma, a adição de dosagens iniciais conforme preconizada pela legislação pode, em
determinadas situações, ser até insuficiente ao objetivo final na redução do gênero
Clostridium. De acordo com Sofos, Busta e Allen (1979) dosagens de 80 ppm de nitrito não
foram efetivas na redução do crescimento de Clostridium botulinum, assim como na não
produção da toxina botulínica em emulsões com CMS (carne mecanicamente separada) de
frango. Outros trabalhos (CHRISTIANSEN et al.,1974; FIDDLER et al., 1972; HUSTAD et
al., 1973) demonstram a rápida queda dos teores residuais de nitrito a níveis tão baixos como
10 ppm em prazos inferiores a 7 dias, ao se partir de dosagens iniciais de 150 ppm. Assim, a
manutenção dos valores de segurança para nitrito/nitrato atualmente preconizados pela
Legislação Brasileira apresenta-se no limite.
3.2 ASPECTOS TOXICOLÓGICOS E DE EXPOSIÇÃO AOS NITRITOS E NITRATOS
O comitê FAO/WHO, do inglês Food and Agriculture Organization/World Health
Organization de Peritos em Aditivos Alimentares (JECFA), em sua 59ª Reunião, reavaliou os
limites de IDA (ingestão diária aceitável) para os íons nitrito e nitrato, com base nos últimos
estudos toxicológicos existentes. A IDA é a quantidade de um aditivo (no caso nitrito e
nitrato) que pode ser ingerido por toda a vida sem provocar um dano à saúde humana
(ANDRADE, 2004).
Para o nitrito, o JECFA estabeleceu uma IDA de 0 – 0,07 mg kg-1 de peso corpóreo, expresso
como íon nitrito (WHO, 2003). Para o nitrato, o comitê manteve a IDA de 0 – 3,7 mg kg-1 de
peso corpóreo, expresso como íon nitrato, a qual tinha sido estabelecida na sua 44ª Reunião
(WHO, 1996).
A exposição diária da população em geral ao nitrato e nitrito é influenciada tanto pelos
hábitos culturais como pelo estilo de vida e localização geográfica. A dieta ocidental é rica em
peixes salgados e queijos que contribuem com valores relativamente altos de nitritos
(WALKER, 1990). Já os vegetarianos consomem, de 50% a 100% mais vegetais do que
21
outros consumidores, conseqüentemente ingerindo alto teor de nitrato (STOPES et al., 1988).
Os alimentos de origem vegetal são a principal fonte da ingestão de nitrato pelo homem,
representando aproximadamente 80% do total de nitrato ingerido.
Atualmente, as pesquisas estão se voltando para a desmistificação dos males causados pelo
nitrato, surgindo inclusive citações sobre importantes funções do nitrato no organismo
humano, principalmente com funções de defesa contra patógenos. Pesquisando casos de
metahemoglobinemia no Reino Unido, Leifert et al. (1999) mencionaram que a última
ocorrência registrada em bebês foi em 1972. Além disso, os autores citam que não existem
evidências epidemiológicas comprovando a ligação do nitrato com o câncer causado por
nitrosaminas. Recentes pesquisas vêm trazendo evidências de que o nitrato apresenta
destacado papel benéfico, protegendo a área gastrintestinal contra patógenos que se
desenvolvem nos alimentos. Estudos nutricionais e epidemiológicos mostram que a adição de
nitrito ao ácido estomacal controla melhor patógenos como Salmonella, Escherichia coli e
Helicobacter pylori, que poderiam sobreviver apenas com o ácido estomacal. Além disso,
indicam que dietas ricas de saladas e vegetais e, portanto, com alto conteúdo de nitrato são
protetoras contra alguns tipos de câncer, particularmente câncer gástrico (ADDISCOTT;
BENJAMIN, 2000; ARCHER, 2002). Porém, Mcknight et al. (1999) mostraram que
experimentos tentando ligar o aparecimento de câncer à dieta rica em nitratos têm
demonstrado resultados contraditórios.
Pesquisas freqüentes devem ser efetuadas para avaliar a quantidade de nitratos e nitritos em
alimentos a fim de que a Ingestão Diária Aceitável (IDA) relativa a esses íons não seja
ultrapassada, já que ainda existe grande divergência no que tange ao assunto nitrito e nitrato à
saúde humana.
3.3 BOTULISMO
O termo botulismo, utilizado para designar a intoxicação provocada pelo Clostridium
botulinum, provém de botulus, que significa salsicha em Latim, devido ao envolvimento deste
alimento nos primeiros casos de botulismo cientificamente comprovados (FRANCO et al.,
2001), que ocorreram na Europa, mais exatamente na Alemanha no século XVII (CVE, 2008).
22
Este microrganismo foi descrito, pela primeira vez, em 1897, por Emile Pierre Van
Ermengem, após uma investigação de um surto com 33 casos decorrentes de uma refeição
comum (presunto, entre outras coisas) servida por um restaurante na cidade de Ellezelles, na
Bélgica. O botulismo de origem alimentar é relativamente raro, mas pode matar rapidamente,
e por meio de uma fonte comum alimentar contaminada pode expor muitas pessoas ao mesmo
tempo (CVE, 2006).
O Clostridium botulinum é um bacilo Gram positivo, produtor de esporos, encontrado com
freqüência no solo, alimentos, fezes humanas e animais (FRANCO et al., 2001). São
bastonetes retos ou levemente curvos com flagelos piritríquios, apresentam cápsula e são
móveis, anaeróbicos, com esporos ovais e sub-terminais. Para produzirem a toxina necessitam
de pH básico ou próximo do neutro e faixa de atividade de água ideal de 0,95 a 0,97 (CVE,
2008).
Atualmente, três formas de botulismo são conhecidas. A primeira é o botulismo clássico, que
corresponde à intoxicação causada pela ingestão de alimentos contendo neurotoxinas. A
segunda, é o botulismo de lesão, que é uma doença infecciosa causada pela proliferação e
conseqüente liberação de toxinas em lesões infectadas com Clostridium botulinum. A terceira,
é o botulismo infantil, que é também uma doença infecciosa causada pela ingestão de esporos
de Clostridium botulinum e subseqüente germinação, multiplicação e toxigênese no intestino
de crianças com menos de um ano de idade. Uma vez que a toxina é responsável pela
sintomatologia do botulismo, as três formas dessa doença são clinicamente muito semelhantes
(FRANCO et al., 2001).
Muitos são os alimentos associados em casos de botulismo, tais como embutidos de carnes
em geral (por exemplo salsicha, mortadela, salame, presunto), conservas em lata ou vidro
como doces; hortaliças; legumes (por exemplo palmitos, aspargos, cogumelo, alcachofra,
pimentões, berinjela, alho, picles); peixes; frutos do mar, e outros, especialmente
acondicionados em embalagens a vácuo, sem oxigênio, sem o tratamento adequado, que
favorecem o desenvolvimento da bactéria, e assim, a produção da toxina (TRABULSI et al.,
1999).
O botulismo de origem alimentar tem um período de incubação que, em geral, varia de 12 a
36 horas, dependendo da quantidade de toxina ingerida. A doença inicia-se às vezes com
problemas gastrintestinais como náuseas, vômitos e diarréia, mas estes efeitos não são
23
causados pela neurotoxina, já que inexistem nos casos de botulismo de lesão e de botulismo
infantil. Às vezes, a diarréia ocorre nos primeiros estágios da doença, e, em seguida, é
substituída pela constipação intestinal (FRANCO et al., 2001). A anamnese e o exame físico e
neurológico do paciente são imprescindíveis para o diagnóstico do botulismo. Na suspeita de
botulismo alimentar, também devem ser verificados: tipos de alimentos ingeridos, tempo
decorrido da ingestão e aparecimento da doença, existência de outros casos, fonte comum de
ingestão, alem dos sinais e sintomas apresentados (CVE, 2008).
O início da ação da neurotoxina botulínica provoca fadiga e fraqueza muscular. O quadro
neurológico se instala com manifestações de cefaléia, vertigem, ptose palpebral, disfagia,
paralisia facial bilateral, redução dos movimentos da língua e dificuldade para sustentar o
pescoço. A paralisia se instala e não há alteração do nível de consciência (FIGUEIREDO;
DIAS; LUCENA, 2006). A musculatura que controla a respiração é progressivamente
paralisada, podendo provocar a morte em três a cinco dias por parada respiratória (FRANCO
et al., 2001).
O botulismo é diagnosticado através dos sinais e sintomas, pela detecção e triagem da toxina
no sangue do paciente e pelos testes complementares nos alimentos suspeitos. A ocorrência de
um único caso de botulismo de origem alimentar representa uma emergência de saúde
pública, pois pode ser um prenuncio de um grande surto, devido à possibilidade de haver
outros casos resultantes da ingestão de uma fonte única de alimentos contaminados, os quais
podem ainda estar disponíveis para o consumo (PARDI et al., 1995). O médico, ao se deparar
com quadros neurológicos abruptos, em pacientes geralmente saudáveis, e com história de
ingestão de alimentos suspeitos (conservas em latas ou vidros, embutidos, ou compotas) deve
discutir o caso imediatamente com o serviço de Vigilância Epidemiológica local/municipal,
regional ou estadual. As autoridades de saúde pública do estado devem contatar
imediatamente a Central de Vigilância Epidemiológica, cujos profissionais estão preparados
para orientar sobre todos os aspectos técnicos e operacionais relativos à doença (CVE, 2008).
Segundo o CVE (2008), nos casos de botulismo alimentar, o diagnostico laboratorial é
baseado na análise de amostras clínicas e de amostras bromatológicas. Os exames visam
evidenciar a presença de toxina botulínica em material procedente dos casos e em alimentos
suspeitos. A cultura do Clostridium botulinum pode ser considerada auxiliar do diagnostico,
24
em condições especiais, como exemplo no caso de suspeita de botulismo intestinal e por
ferimentos.
A ocorrência da doença é baixa no mundo, porém, com alta letalidade se não tratada adequada
e precocemente. Em todos os países do mundo, são conhecidos casos esporádicos ou em
grupos de pessoas, relacionados a ingestão de alimento preparado e conservado em condições
que permitam a produção da toxina pelo bacilo. Alguns casos de botulismo podem estar
subnotificados devido às dificuldades diagnósticas (CIÊNCIA RURAL, 2008).
No Brasil, o botulismo passou a ser doença de notificação compulsória a partir da Portaria
1.943/MS, de 18 de outubro de 2001 (BRASIL, 2001). A vigilância epidemiológica alerta que
apesar da toxina botulínica ser letal apenas uma pequena quantidade dela causa doença, já que
a toxina e termolábil e pode ser destruída se aquecida a 80 °C por, no mínimo, 10 minutos. O
levantamento dos dados frutos das notificações ao Ministério da Saúde com os casos suspeito
e confirmados sistematizados sobre a incidência, formas de botulismo, mortalidade
distribuição geográfica apresentados nas tabelas (TABELA 1 e 2) e gráficos (FIGURAS 2, 3 e
4), lembrando que as doenças transmitidas por alimentos são uma preocupação muito recente,
sendo este levantamento realizado de 1999 a 2008 (CVE, 2008).
TABELA 1 – Tipos de botulismo notificados confirmados no Brasil – Período 1999 a 2008
Tipo de botulismo Número de casos %
Botulismo Alimentar 37 95
Botulismo por ferimento 1 2,5
Botulismo intestinal 1 2,5
Total 39 100
Fonte: (CVE, 2008)
25
FIGURA 2 – Número de casos suspeitos e confirmados de botulismo no Brasil – Período 1999 a 2008 Fonte: (CVE, 2008).
TABELA 2 – Casos de botulismo alimentar notificados por tipo de alimento no Brasil – Período 1999 a 2008.
Alimentos Número de casos %
Produtos suínos 15 41
Palmito 4 11
Torta de Frango 8 21
Tofu 4 11
Peixe em conserva 1 2
Ignorado 5 14
Total 37 100
Fonte: (CVE, 2008)
26
FIGURA 3 – Número de casos confirmados por local de ocorrência de botulismo no Brasil – Período 1999 a 2008 Fonte: (CVE, 2008).
FIGURA 4 – Número de casos confirmados e taxa de letalidade de botulismo no Brasil – Período 1999 a 2008 Fonte: (CVE, 2008).
O tratamento deve ser feito em unidade de terapia intensiva (UTI), abrangendo os seguintes
aspectos principais (CVE, 2008):
27
1. Administração de antitoxina botulínica, na tentativa de prevenir a progressão neurológica
da doença, nos casos moderados e de progressão lenta, ou para encurtar a duração da falência
das funções ou dificuldade respiratória, nos casos severos e de progressão rápida.
2. Monitoração cuidadosa da capacidade vital respiratória e suporte respiratório efetivo para
aqueles com insuficiência ventilatória (o monitoramento da capacidade vital respiratória deve
ser iniciado tão logo o diagnóstico é estabelecido);
3. Cuidado intensivo e meticuloso apropriado para uma doença paralítica de longa duração.
Do ponto de vista de prevenção e controle, três aspectos são de extrema importância: o
controle na indústria, na comercialização e os cuidados preventivos por parte do consumidor
(PARDI et al., 1995).
Na indústria, os principais fatores que influenciam a germinação e multiplicação do
Clostridium botulinum são temperatura, pH e atividade água (SILVA, 2002). Além disso, no
caso de produtos de origem animal, a adição de nitrato e nitrito, associada ou não ao NaCl
(sal), e temperaturas de refrigeração, são controles adequados contra o desenvolvimento da
bactéria impedindo, desta forma, a produção da toxina.
Na comercialização, a higiene dos estabelecimentos industriais e de processamento é
importante no sentido de que eles não sejam transformados em fonte de contaminação. É
fundamental também que a rede varejista obedeça ao prazo de validade e as exigências de
manutenção dos diferentes produtos, à constância das temperaturas prescritas e as condições
de umidade e de higiene em geral principalmente no fracionamento dos produtos (PARDI et
al., 1995).
Ao consumidor, recomenda-se, independentemente da adoção de cuidados quanto à
procedência do alimento, pressionar para que os varejistas obedeçam às boas regras de
manutenção dos produtos (STEPHEN, 2001).
28
3.4 PANORAMA MUNDIAL SOBRE O USO DE NITRITO E NITRATO EM PRODUTOS
CÁRNEOS
Os nitratos e nitritos, de sódio e de potássio, usados na elaboração de produtos de origem
animal, conforme o Decreto Nº 30.691, de 29 de Março de 1952, não devem conter metais
pesados, nem substâncias tóxicas ou não permitidas em regulamento técnico específico. Os
estoques de nitritos, bem como de misturas prontas que os contenham é de responsabilidade
do estabelecimento ficando a cargo da inspeção federal a verificação sempre que julgar
necessário do teor de nitritos em produtos ou misturas prontas (BRASIL, 1952).
O Decreto supracitado determina ainda que o emprego dos nitratos e nitritos, sejam eles de
sódio, potássio ou qualquer combinação entre eles, só pode ser feito em quantidades tais que,
no produto pronto para o consumo, o teor em nitrito não ultrapasse 200 ppm e de nitrato até
uma parte por mil, separadamente. Existem ainda, fixadas nesta legislação, proporções
máximas de uso: 1) 240 g (duzentos e quarenta gramas) para cada 100 (cem litros) de
salmoura; 2) 60 g (sessenta gramas) para cada 100 kg (cem quilogramas) de carne, na cura a
seco, de mistura com o sal (cloreto de sódio); 3) 15 g (quinze gramas) para cada 100 kg (cem
quilogramas) de carne picada ou triturada, de mistura com o sal (cloreto de sódio) (BRASIL,
1952).
A legislação brasileira em vigor, que limita a adição de aditivos em produtos cárneos, está
expressa na Portaria nº 1004, de 11 de dezembro de 1998 – MS e na Instrução Normativa nº
51, de 29 de dezembro de 2006 – MAPA sendo esta harmonizada com a Resolução
MERCOSUL GMC Nº 73/97, que aprovou o Regulamento Técnico Mercosul de Atribuição
de Aditivos, e seus limites das seguintes categorias de Alimentos 8: Carne e Produtos
Cárneos. Em ambas as normas referenciadas, a quantidade residual máxima expressa como
nitrito de sódio é de 0,015 g/100 g para o conservante nitrito de sódio ou de potássio e de
0,030 g/100 g para o conservante nitrato de sódio ou potássio, sendo que quando houver
mescla de aditivos com igual função, a soma de todos os limites não pode ser superior ao
limite máximo de nenhum deles. Cabe ressaltar que os únicos conservantes previstos nesta
norma para uso na massa de salsicha é o nitrito e nitrato sejam eles de sódio ou potássio. Estes
mesmos limites são praticados pelos países membros do Mercosul: Argentina, Paraguai e
Uruguai (BRASIL, 1998; BRASIL, 2006; MERCOSUL, 1997).
29
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, através do Departamento de Inspeção
de Produtos de Origem Animal, que monitora por meio de análises físico-químicas e das
formulações enviadas para registro, esclarece as legislações vigentes de uso de nitrito e
nitrato. No esclarecimento, por meio do MEMO CGI nº 40, de 24 de outubro de 2008,
posteriormente revogado pelo Oficio Circular nº 15, de 08 de maio de 2009, consta o
procedimento de registro de rótulos e fiscalização do uso de conservantes e aditivos em
produtos cárneos. Esse documento orientativo é direcionado aos Chefes das SIPAG´s (Serviço
de Inspeção de Produtos Agropecuários), Chefes de Divisão Técnica e aos Superintendentes
Federal de Agricultura onde detalha que em uma unidade fabril casos de reincidência na
violação dos níveis dos conservantes no mesmo produto ou no terceiro desvio em diferentes
produtos é instituído o regime especial de fiscalização pelo Departamento de Inspeção de
Produtos de Origem Animal que poderá acarretar na suspensão total ou parcial da
comercialização de produtos que levam em sua composição os conservantes/aditivos com
limitação de uso podendo em alguns casos mais sérios de desvio ocorrer o cancelamento do
registro do produto/rótulo (BRASIL, 2008; BRASIL, 2009).
A TABELA 3 apresenta o órgão regulamentador responsável e os limites máximos permitidos
dos aditivos nitrito e nitrato de sódio ou potássio em diversos países e blocos econômicos.
TABELA 3 – Limite dos conservantes nitritos e nitratos empregado em diversos países
País Órgão regulamentador O que diz a legislação
Máx. 200 ppm Nitrito no produto acabado
Máx. 500 ppm Nitrato no produto acabado
Máx. 150 ppm de Nitrito adicionado ao produto
Máx. 300 ppm de Nitrato adicionado ao produto
Canadá Departamento de Justiça Máx. 200 ppm de Nitrito calculado antes do processamento
Máx. 0,070 g/kg de Nitrito no produto final
Máx. 0,070 g/kg de Nitrato no produto final
Austrália Food Standards Agency Máx. 125 ppm de Nitrito no produto final
MéxicoSecretaría de Agricultura Y Ganadería
Máx. 200 ppm de Nitrito no produto final
EUA FDA
EU Parlamento europeu
JapãoMinistry of Health, Labour and Welfare
30
Na TABELA 3, podemos evidenciar duas formas de limitação do emprego dos conservantes
nitrito e nitrato de sódio ou potássio em produtos cárneos, no processamento (adição) ou
através do seu residual no produto final.
A comunidade européia e o Canadá limitam o uso no processo de fabricação, ou seja, o limite
máximo é controlado na adição durante o processamento do produto cárneo, conforme
apresentados na TABELA 3. Já nos demais países, este controle é realizado por meio do
residual no produto final mesma tratativa adotada pelos países do MERCOSUL.
3.5 SALSICHAS
3.5.1 Definição
Entendem-se como produtos cárneos processados ou preparados, aqueles em que as
propriedades originais da carne fresca foram modificadas através de tratamento físico,
químico ou biológico, ou por meio da combinação destes métodos. O processo envolve
geralmente cortes ou cominuições mais ou menos intensos, adição de condimentos,
especiarias e aditivos diversos (PARDI et al., 1996).
O Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA)
define embutido como sendo todo produto elaborado com carne ou órgãos comestíveis
curados ou não, condimentado, cozido ou não, defumado e dessecado ou não, tendo como
envoltório, tripa, bexiga ou outra membrana animal (BRASIL, 1952).
O regulamento técnico de identidade e qualidade, Instrução Normativa nº 04 do Ministério da
Agricultura, descreve salsicha como produto cárneo industrializado, obtido da emulsão de
carne de uma ou mais espécies de animais de açougue, adicionados de ingredientes, embutido
em envoltório natural, ou artificial ou por processo de extrusão, e submetido a um processo
térmico adequado. As salsichas poderão ter como processo alternativo o tingimento,
depelação, defumação e a utilização de recheios e molhos (BRASIL, 2000).
A Portaria nº 1002 do Ministério da Saúde regula a lista dos produtos comercializados no
país, enquadrando nas subcategorias que fazem parte da Categoria 8 – Carnes e Produtos
31
Cárneos. A salsicha encontra-se enquadrada na sub-categoria 8.2.1 Produtos industrializados
mais especificadamente no item 8.2.1.3 Produtos Cozidos Embutidos ou não (BRASIL,
1998).
Como consta em sua definição e enquadramento na lista de produtos comercializados, a
salsicha é um produto cozido e de acordo com a sua classificação, permite diferentes
composições de matéria prima e diferentes técnicas de fabricação. A regulamentação em vigor
detalha os ingredientes obrigatórios e opcionais empregados na fabricação deste produto. A
salsicha obrigatoriamente deve conter em sua composição carnes das diferentes espécies de
animais de açougue conforme a designação do produto e sal. A carne mecanicamente
separada é permitida até o limite máximo de 60%. Nos ingredientes opcionais contempla o
emprego de miúdos e vísceras comestíveis (coração, língua, rins, estômagos, pele, tendões,
medula e miolos) ficando limitado a 10% utilizados de forma isolada ou combinada. Outros
ingredientes opcionais que também podem ser utilizados neste produto é a gordura animal ou
vegetal, água, proteína vegetal e/ou animal (permite-se a adição de proteína não cárnea de no
máximo 4% como proteína agregada), agentes de liga, aditivos intencionais, açúcares,
aromas, especiarias e condimentos com diferentes funcionalidades tecnológicas (BRASIL,
1998).
As salsichas são produtos cárneos emulsionados. A emulsão é definida como suspensão
coloidal de dois líquidos não solúveis entre si (imiscíveis), mas que, no entanto, mantém-se
harmoniosamente dispersos um no outro, pela ação de um agente emulsificante interfacial.
Para que ocorra a união entre o óleo e a água, há a necessidade da presença de um terceiro
componente: a proteína, que é o agente denominado emulsificante. A proteína, por possuir
uma porção hidrofílica (polar) e outra hidrofóbica (apolar), atua na interface entre a gordura e
a água, diminuindo a tensão interfacial entre as duas, unindo-as e evitando a saída e
coalescência da gordura. As emulsões cárneas são chamadas de emulsão óleo em água, no
qual a fase dispersa é o óleo ou gordura e a fase contínua é o meio aquoso (SHIMOKOMAKI
et al., 2006).
A eficácia emulsificante das proteínas e, em última análise, a estabilidade da emulsão cárnea,
depende tanto do pH da carne como da quantidade de sal empregada na formulação. Se o pH
situa-se acima de 5,7 e o conteúdo de sal supera a concentração de 4%, seja separadamente ou
em combinação, melhora-se a eficácia das proteínas miofibrilares (ORDÓÑEZ et al., 2005).
32
A salsicha tipo hot dog é enquadrada tecnicamente na classificação de salsicha. Avaliando o
regulamento técnico pertinente e com isso todos os ingredientes obrigatórios e opcionais,
verifica-se que são os mesmos direcionados a fabricação de salsicha, sendo que os padrões de
identidade e qualidade a ser obedecidos para a sua fabricação também deverão atender aos
mesmos requisitos (BRASIL, 1998).
A salsicha tipo hot dog deverá atender aos padrões higiênicos sanitários descritos na
Resolução RDC nº 12, de 11 de dezembro de 1998 – MS que determina os padrões
microbiológicos para alimentos, estando classificada na categoria 5 Carnes e produtos cárneos
– item i - produtos cárneos cozidos ou não, embutidos ou não (mortadela, salsicha, presunto,
fiambre, morcela e outros) onde os parâmetros e seus respectivos limites são para os seguintes
microorganismos: Coliformes a 45 oC , Estafilococos coagulase positiva, Clostridium sulfito
redutor a 46 °C e Pesquisa de Salmonella sp. Neste trabalho iremos avaliar dois importantes
microrganismos as bactérias láticas e a contagem Padrão de Microrganismos Mesófilos
Aeróbios e Anaérobios Facultativos porém que não foram contemplados nesta
regulamentação já que são microorganismos deteriorantes e indicadores e que não possui
limite máximo normatizado (BRASIL, 2001).
Deve-se salientar ainda que os aditivos nitrito e nitrato são considerados ingredientes
opcionais utilizados na fabricação da salsicha hot dog e estão contemplados na categoria
aditivos intencionais sendo tratados em uma regulamentação especifica conforme já
mencionado anteriormente.
3.5.2 Mercado e tendências
O mercado de embutidos tem apresentado alta competitividade na última década, uma vez que
o consumo de produtos cárneos como salsichas, lingüiças, mortadelas e outros, tornou-se
parte do hábito alimentar de uma parcela considerável de consumidores brasileiros (MELO,
1998).
33
Price e Schweigert (1994) citam que nos Estados Unidos, em torno da décima parte da carne é
consumida sob a forma de embutidos, e Pardi et al.(1996), descrevem que na Alemanha a
produção de embutidos é de 50% da produção cárnea.
As salsichas já representaram o mais vendido produto cárneo industrializado no Brasil, cuja
produção atingiu 25 mil toneladas em 1986, evoluindo para alcançar em 1993 cerca de 55 mil
toneladas. O preço acessível de algumas marcas, a praticidade do preparo e o valor protéico
desses produtos, especialmente da salsicha, contribuem, para a redução do déficit nutricional,
principalmente da população de menor renda. Todavia, convém considerar os principais
diferenciadores entre os fabricantes: a qualidade, o preço e a apresentação do produto
(SILVA, 1995).
Os produtos cárneos emulsionados como as salsichas, são bastantes populares, sendo
consumidos tanto no âmbito doméstico como no mercado da alimentação rápida. Estima-se
um consumo per capita de aproximadamente 5 kg de produtos cárneos emulsificados,
mostrando fazer parte integrante de nossa dieta e ter considerável importância em nossa
economia (SHIMOKOMAKI et al., 2006).
O volume de vendas em 2008 aponta que lingüiça e salsicha tiveram queda no consumo, algo
em torno de 3%, enquanto do hambúrguer manteve-se estável. Quanto ao prato pronto, houve
um salto de quase 18%. A queda dos dois primeiros ocorreu depois de um forte crescimento,
o que mantém a importância das categorias nas vendas. Lingüiça e salsicha perderam volume
em função da alta nos preços. Com o aumento do valor das commodities agrícolas,
principalmente soja e milho, utilizadas na alimentação dos suínos, o preço surpreendeu os
consumidores. Mas é bom lembrar que o aumento ocorreu após um período de variação
abaixo da inflação. Não é à toa que produtos mais baratos tiveram bom desempenho. É o caso
de uma marca consagrada, que pratica o chamado smart choice (preço econômico). Ela
cresceu com embutidos em 2008, 2% em volume, puxado por lingüiças. E obteve alta de 33%
em volume com congelados, principalmente hambúrguer e pratos prontos. Outra marca
igualmente importante, também garante que alcançou ganhos em volume neste mesmo
período (SUPERMERCADO MODERNO, 2009).
Segundo Datamark (2009), o volume de salsichas produzidas no ano de 2008 atingiu 511196
toneladas e estima-se que em 2013 a produção atinja 701140 toneladas.
34
A TABELA 4, originalmente apresentada por Nielsen e detalhada no estudo de Mattanna
(2012), descreve os produtos cárneos industrializados com sua respectiva representatividade
em vendas. Analisando os dados da tabela, o volume de vendas em 2010/2011 continua
apontando a salsicha com a tendência de queda no consumo.
TABELA 4 – Vendas de produtos cárneos industrializados 2010 a 2011
Os dados revelam, além da oscilação natural do mercado em função de preço, a concorrência
dos produtos em queda com categorias de produto de maior valor agregado (BERNARDES,
2010).
Segundo Felipe Abofialho, analista de mercado da Nielsen, o brasileiro está diversificando
sua refeição. “Em vez de colocar três salsichas no prato, ele passa a colocar duas e acrescentar
um pedaço de torta salgada pronta”. Eduardo Bernstein, diretor de marketing de um dos
principais frigoríficos, concorda. Segundo ele, graças ao aumento na renda, o consumidor tem
migrado para produtos de maior valor agregado. “O prato pronto é um deles. Está cada vez
mais presente nas refeições de quem trabalha fora, leva uma vida cheia de compromissos e
quer conveniência.” (SUPERMERCADO MODERNO, 2009).
35
Alguns analistas acreditam que a redução na venda dos embutidos e a estabilidade na de
linhas como hambúrguer podem indicar início de uma tendência: de substituição por produtos
mais saudáveis. A indústria, atenta a esta “nova” necessidade do consumidor, aposta em
produtos menos gordurosos. É o caso das linhas light adotadas por vários fabricantes
lembrando apenas que as versões menos calóricas mantêm uma larga distância nas vendas
frente aos produtos tradicionais. A tendência de linhas light com uma “roupagem nova”, mais
chamativa no ponto-de-venda, cresce ano a ano, porém sua participação nas vendas ainda é
pequena. A procura do consumidor por produtos com apelo de saudabilidade não inviabilizará
as salsichas e demais embutidos cárneos. Ao contrário, as empresas processadoras estão
otimistas em relação às vendas no mercado interno mesmo com a crise financeira mundial.
Essas categorias de produtos integram a cultura culinária do país e dificilmente serão
abandonadas. Afinal, não é possível imaginar o brasileiro sem o churrasco, o cachorro-quente
ou mesmo o cheeseburguer (SUPERMERCADO MODERNO, 2009).
Opiniões de especialistas em mercado indicam que existe espaço para aumento nas vendas e
crescimento no consumo de salsichas, bastando saber usar as ferramentas certas e extrair o
melhor de cada categoria de produto.
3.5.3 Ingredientes utilizados na elaboração
Existe muita versatilidade nos ingredientes usados na elaboração de embutidos. Os
ingredientes mais utilizados são aqueles que possuem os seguintes requisitos: fácil obtenção
ou compra, baixo preço, disponibilidade durante todo o ano, além de segurança
microbiológica (PARDI, 1994).
A água é o ingrediente mais importante de quase todos os alimentos. Na elaboração de
salsichas desempenha papel fundamental no auxílio à distribuição dos aditivos e demais
ingredientes do produto, reduz a temperatura das massas cárneas quando de seu
processamento. É o agente fundamental de textura, influencia diretamente no rendimento e
possui ação direta no crescimento de bactérias, mofos e leveduras (GUERREIRO, 2006).
36
O sal, além de ser usado como um agente de sabor fundamental, fornecendo características
únicas quando combinado com a carne, contribui também na solubilização das proteínas
miofibrilares. Quando aquecida, esta proteína solubilizada fixa-se como uma estrutura de
rede, imobilizando a água, tornando esta pasta com a consistência de um gel e melhorando
consequentemente a textura das salsichas (SHIMOKOMAKI et al., 2006). Matulis et al.
(1995) comentam que o mínimo usado de sal para que se tenha uma boa emulsão em salsichas
é de 1,3%. Já Pardi (1994) comenta que a adição de 2% de sal em uma emulsão cárnea é
adequada, porém a eficácia é maior com 3%. No entanto, o sódio contido no sal (NaCl) é um
mineral que, se ingerido em excesso, pode contribuir com uma série de problemas fisiológicos
tais como aumento do volume de fluido extracelular, alterações na secreção gástrica e
alterações na permeabilidade e morfologia das 26 membranas celulares (SGARBIERI, 1987).
Portanto, a quantidade de sal usada deve ser a mínima suficiente que possa resultar em uma
emulsão de características sensoriais aceitáveis.
A proteína de soja é um ingrediente usado na elaboração das emulsões de produtos embutidos,
por possuir propriedades como geleificação, retenção de água e estruturação. A proteína de
soja apresenta-se como a mais barata e abundante fonte de proteína para uso em produtos
cárneos. O ingrediente proteico é normalmente classificado em isolado proteico (±90%),
concentrado proteico (±70%), proteína texturizada (±50%), conforme o teor. Apresenta a
desvantagem de apresentar certo sabor residual, principalmente nas versões com menor teor
de proteína. Desempenha papel fundamental na textura, emulsificação e rendimento do
produto. No Brasil, no entanto, o máximo permitido pela legislação de inclusão da proteína de
soja em salsichas é de 4% (BRASIL, 2000).
Os agentes de ligas são adicionados ao embutido cárneo para melhorar a capacidade de ligar
água, contribuir de forma positiva às características de corte, melhorar o rendimento durante a
cocção e muitas vezes reduzir os custos de formulação. O amido é o ingrediente amplamente
usado em embutidos cárneos, devido a sua capacidade de formar gel quando submetido ao
calor e à ligação com a água (PARDI, 1994), sendo que o máximo permitido pela legislação
brasileira para salsichas é de 2% (BRASIL, 2000).
Os estabilizantes são substâncias utilizadas para evitar que emulsões (misturas de gordura e
água) se separem provocando liberação de gordura e perdas dos produtos. Os polifosfatos
básicos (tripolifosfatos/hexametafosfatos) aumentam a capacidade de retenção de água pelas
37
proteínas, devido ao aumento de pH e conseqüente aumento das cargas negativas do músculo.
Estas cargas aumentam a repulsão eletrostática entre as fibras musculares o que aumenta a sua
hidratação. O tripolifosfato ajuda na extração das proteínas miofibrilares (actina/miosina) não
pelo aumento de pH, mas principalmente, pela redução promovida pelas enzimas fosfatases
presentes na carne à forma de pirofosfatos. Estes são muito mais efetivos na extração protéica.
Assim como forma de acelerar/melhorar o processo de extração, podem ser adicionados
pirofosfatos diretamente. Os fosfatos ainda protegem contra a perda de umidade, aumentando
a suculência e melhorando a textura (PARDI, 1994).
O sal de cura (nitrito e nitrato de sódio) são substâncias conservantes utilizadas nos alimentos
para inibir e retardar o crescimento de microorganismos. O nitrato e o nitrito, por exemplo,
são também responsáveis pelo sabor e aroma característicos e agradáveis dos produtos
curados, e responsáveis também pela cor avermelhada destes produtos (GUERREIRO, 2006).
A função do antioxidante na indústria de carnes é combater as reações oxidativas dos
alimentos, evitar o ranço e ajudar a evitar as alterações de cor não desejadas. Em produtos
cárneos ajudam a manutenção da cor vermelha atrativa e reduz os níveis de nitrito residuais,
reduz a oxidação das gorduras evitando a rancidez e conseqüentemente aumenta a vida de
prateleira do produto (ADITIVOS..., [200?]).
O corante natural é utilizado para melhorar ou atribuir cor aos alimentos. A funcionalidade
está relacionada com a melhora da cor e da aparência do produto, garantindo maior
estabilidade de cor e deixando a salsicha mais atrativa, além de também corrigir eventuais
alterações ocorridas durante o processo de fabricação (perdas de cor). O corante de urucum,
de cor laranja avermelhado, é produzido a partir das sementes do urucumzeiro (Bixa
orellana), árvore nativa da América do Sul. É muito utilizado em salsichas na superfície
externa devido ao alto poder corante, baixo preço e estabilidade (GUERREIRO, 2006).
O glutamato monossódico possui a função principal de realçador de sabor, ou seja, agrega aos
produtos sabores conhecidos e conferem continuidade e harmonia, além de estabilidade por
longos períodos de armazenamento. Estes componentes possuem propriedades de modificar
as características organolépticas dos alimentos, mascarando sabores indesejados, como os
crus, notas de terra, amargo, fécula de mandioca, proteína de soja e carne mecanicamente
separada (ADITIVOS..., [200?]).
38
Segundo Pardi (1994), os espessantes são substâncias utilizadas para aumentar a viscosidade
das soluções, emulsões e suspensões onde são empregados. A funcionalidade no
processamento de embutidos está relacionada com a melhora da textura. Tornam mais
atrativos, reduzindo a perda de umidade, evitando que os alimentos percam textura após o
congelamento, auxiliam na emulsificação das gorduras quando do processamento e
promovem uma melhora do fatiamento em produtos emulsionados.
O lactato de sódio proveniente do ácido láctico natural é amplamente utilizado na indústria da
carne para melhorar a segurança alimentar. A vida de prateleira pode aumentar de 30% a
50%. O mecanismo específico antimicrobiano é bastante complexo. Em primeiro lugar, o
lactato diminui a atividade de água, que é um parâmetro importante no controle do
crescimento microbiológico. Além disso, o lactato apresenta uma específica atividade
antimicrobiana, o chamado efeito do íon lactato. Esta atividade é devido ao fato de que, em
solução, existe um equilíbrio entre as formas dissociadas e não dissociadas. A forma não
dissociada é capaz de passar facilmente através da membrana celular e dissociar-se dentro
dela e, conseqüentemente, acidificar o seu interior. Isto explica porque a eficácia do lactato
aumenta em valores mais baixos de pH. A vida de prateleira de produtos emulsionados é
limitada devido à contaminação após o cozimento causado pela manipulação, no processo de
embalagem ou retirada da tripa. As bactérias lácticas normalmente são as que
predominantemente causam a deterioração em salsichas embaladas a vácuo. Limo ou
bactérias lácticas produtoras de gás podem crescer na superfície da salsicha ou no líquido
liberado pela salsicha dentro da embalagem. O lactato de sódio provou ser altamente eficaz no
controle do crescimento das bactérias lácticas (ADITIVOS..., [200?]).
Os condimentos ou especiarias são substâncias aromáticas e saborosas, com ou sem valor
alimentício, empregadas com a finalidade de temperar as conservas e demais alimentos.
Muitas vezes, são os temperos que desenvolvem o sabor e o aroma característicos dos
produtos cárneos (PARDI, 1994).
39
3.5.4 Processo de fabricação
O processamento de produtos embutidos apresenta, em geral, etapas básicas, que podem
sofrer variações dependendo do tipo de produto que se deseja obter, bem como do fabricante.
Desde que a legislação seja obedecida, o fabricante poderá seguir o seu método de
processamento, o que inclui variação na escolha da carne, nos condimentos usados e outros.
As operações que procedem à elaboração de produtos cárneos envolvem cominuição e
reestruturação. A etapa de fragmentação dos tecidos musculares e adiposos ocorre sob o efeito
de forças de corte, esmagamento e ruptura, através da utilização de energia mecânica para
desorganizar as estruturas dos tecidos. A importância relativa de cada uma destas forças influi
na capacidade de a carne sofrer transformações posteriores, necessárias para a elaboração dos
produtos. Esta etapa é utilizada para reduzir de tamanho os pedaços de carne in natura, como
também para quebrar os blocos de Carne Mecanicamente Separada (CMS) que porventura
estejam congelados e unidos, formando uma pasta ao final. As características das matérias-
primas cominuídas dependerão, em grande parte, do tipo de equipamento utilizado na
cominuição. Os equipamentos disponíveis estão classificados nas seguintes categorias
básicas: moedores, cutter, cubetadoras, floculadoras e moinho coloidal. O processo de
cominuição não só influencia as características físicas e sensoriais dos produtos, mas também
seu rendimento após a secagem ou cocção. Cuidados com a manutenção das facas amoladas e
bem ajustadas ao equipamento são muito importantes para atingir uma cominuição adequada.
A reestruturação é a etapa seguinte à fragmentação e pode ser executada no mesmo
equipamento. As partículas tornam-se cada vez menores e ocorre à coesão entre os lipídeos,
proteínas e água. Nesta etapa, acrescentam-se os outros ingredientes: especiarias, fécula,
aditivos e outros. O produto formado denomina-se pasta fina (GUERREIRO, 2006).
O processo de mistura, quando realizado após a moagem das matérias-primas, é muito
importante para a qualidade do embutido obtido. Neste sentido, o desenho do equipamento
(misturadeira), principalmente no que se refere à disposição das pás e seu formato,
influenciam a capacidade de mistura, bem como a possibilidade de realizar vácuo. O tempo de
mistura deve ser tal que permita extração parcial das proteínas, sem emulsificação da gordura,
especialmente nas lingüiças e similares. No caso dos embutidos emulsionados, a extração das
40
proteínas deverá ser mais efetiva e geralmente, todo o processo é realizado em um só
equipamento o cutter (SHIMOKOMAKI et al., 2006).
O processo de fabricação de uma salsicha se dá conforme fluxograma apresentado na
FIGURA 5.
FIGURA 5 – Fluxograma de processamento da Salsicha Hot-Dog
Fonte: (GUERREIRO, 2006)
Cutter
Ingredientes e
Aditivos
Gelo
Embutimento
Cozimento
Resfriamento
Depelagem
Tingimento
Embalagem
Proteína Texturizada de
Soja
Carne Bovina; Carne Mecanicamente
Separada
41
As matérias primas congeladas são passadas pelo quebrador de blocos. Logo a seguir, as
carnes e a carne mecanicamente separada (CMS) são levadas ao cutter e adicionadas da
metade da quantidade de água e sal. Refina-se no cutter e adicionam-se os demais
ingredientes com exceção do conservante e da fécula. A seguir, incorpora-se a fécula, o
restante da água gelada e o por último os conservantes (nitritos e nitratos). Concluída a
elaboração da massa deve-se verificar a sedosidade. Cabe salientar que nesta etapa, quando o
músculo, a água, a gordura e o sal são misturados e submetidos à mistura eficiente através do
cutter, forma-se uma massa cárnea que apresenta características de uma emulsão de gordura
em água. A formação da massa típica de produto emulsionado é formada em duas etapas:
inicialmente ocorre absorção de água pelas proteínas e formação de uma matriz viscosa, a
seguir ocorre a solubilização das proteínas com emulsificação dos glóbulos de gordura. O
rompimento das fibras musculares expõe as proteínas à água. As proteínas, naturalmente
insolúveis, principalmente miosina e actina ou actomiosina, formam um gel capaz de reter
água se a força iônica do meio, o pH e a temperatura forem favoráveis. A absorção de água
pelo gel protéico na presença de sal e tripolifosfato de sódio (estabilizante), provoca
inchamento das proteínas com aumento de viscosidade. Naturalmente, algumas proteínas
permanecem intactas, na fibra muscular ou no tecido conjuntivo, enquanto outras solubilizam
e servem como agentes emulsificantes. A formação estrutural, na massa emulsificada,
estabiliza a estrutura ao imobilizar a água livre, impedindo perda de água e a coalescência dos
glóbulos de gordura durante o aquecimento (GUERREIRO, 2006).
Segundo Pardi (2004), a massa fina é embutida em tripa celulósica de 20-24 mm de diâmetro,
na seqüência o produto deve ser levado para o cozimento em estufa ou tanque de cozimento.
O objetivo desta etapa do processo é cozinhar a massa, dando características de paladar
adequado (cor, sabor e consistência), além de estabilizar a mistura e melhorar a conservação.
Recomenda-se cozinhar a 60 ºC por 30 minutos. A seguir eleva-se a temperatura da estufa até
que a temperatura no interior da salsicha atinja 74 ºC.
Concluído o cozimento, as salsichas são resfriadas, inicialmente, sob aspersão de água fria, a
seguir em câmara fria até a temperatura de 5º C. Retira-se a tripa sintética e passa-se à etapa
de coloração das salsichas sendo que posteriormente a sua secagem são embaladas em sacos
plásticos onde é feito o vácuo, termossoldagem e termorretração. A embalagem secundária da
salsicha é a caixa de papelão (PARDI, 2004).
42
3.6 METODOLOGIA PARA A QUANTIFICAÇÃO DE NITRITOS E NITRATOS EM
PRODUTOS CÁRNEOS
Existe um grande número de métodos empregados para a determinação e monitoramento de
nitritos e nitratos em alimentos. As técnicas normalmente utilizadas estão compiladas na
TABELA 5 (ANDRADE, 2004).
TABELA 5 – Técnicas de quantificação de nitritos e nitratos em alimentos. FIA: análise
por injeção em fluxo, HPLC: cromatografia líquida de alta eficiência.
Técnica Analito
Espectrofotômetria NO3- / NO2
-
Quimiluminescência/FIA NO3- / NO2
-
Espectrofotômetria/FIA NO3- / NO2
-
HPLC/UV NO3- / NO2
-
HPLC/ Quimiluminescência NO2-
HPLC/Fluorescência NO3- / NO2
-
HPLC/detecção condutimétrica NO3- / NO2
-
HPLC/detecção eletroquímica NO3- / NO2
-
Potenciometria NO3-
Polarografia NO3-
Eletroforese capilar NO3- / NO2
-
Fluorescência NO2-
Espectroscopia de absorção atômica NO3- / NO2
-
A quantificação de nitrato, por meio das diversas técnicas apresentadas na literatura, se
diferencia quanto à determinação que pode ocorrer de forma simultânea ou seqüencial. Como
exemplo de técnica que realiza a determinação de nitrato e nitrito simultaneamente podem-se
43
citar as técnicas voltamétricas e a eletroforese capilar, embora a detecção dos analitos seja
independente um do outro em uma única medida (MOORCROFT; DAVIS; COMPTON,
2001). A determinação seqüencial se baseia na detecção do íon nitrito inicialmente, seguido
da redução do íon nitrato ao íon nitrito para sua posterior quantificação. Os valores dos teores
de nitrato são obtidos por diferença. A estratégia de análise na determinação de nitrato e
nitrito é dependente da metodologia a ser usada (ANDRADE, 2004).
A técnica mais amplamente utilizada é, sem dúvida alguma, a espectrofotométrica na região
do visível sendo a determinação realizada seqüencialmente. A metodologia preconizada pela
AOAC (1997) para nitrito em produtos cárneos prevê o uso da técnica espectrofotométrica,
bastante semelhante ao descrito nas normas analítica brasileiras, com diferenças apenas nas
etapas de extração e precipitação. Outro método contemplado pela AOAC (1997) está
baseado em uma destilação com posterior reação colorimétrica, quantificando nitrato e nitrito
empregando o xilenol.
O Ministério da Agricultura oficializa a Instrução Normativa n° 20 de 21 de julho de 1999 da
Secretaria de Defesa Agropecuária detalhando os métodos analíticos físico-químicos para
controle de produtos cárneos e seus ingredientes a ser adotado pelos laboratórios do próprio
Ministério da Agricultura – Laboratório Nacional Agropecuário (LANAGROS) ou na rede de
laboratórios credenciados. O controle de produtos cárneos coletados pelos fiscais do Serviço
de Inspeção Federal (SIF) e nos planos de autocontrole implementados pelos frigoríficos é
pautada na técnica de espectrofotometria na região do visível sendo a determinação realizada
seqüencialmente (BRASIL, 1999).
O Instituto Adolfo Lutz, Laboratório Central de Saúde Publica no Estado de São Paulo,
responsável por executar as análises das amostras coletadas pela Vigilância Sanitária no
Estado, também segue para as análises fiscais a metodologia espectrofotométrica. A execução
do procedimento é bastante similar quando o parâmetro é o nitrito de sódio em ambas as
metodologias. Já quando abordamos a análise de nitrato embora o fundamento do método seja
o mesmo, a etapa de redução de nitrato a nitrito ocorre de maneiras distintas. As Normas
Analíticas do Instituto Adolfo Lutz prevê a redução em uma coluna de cádmio compactada. Já
a Instrução Normativa 20/MAPA adota como mecanismo a redução através de um sistema
aberto com agitação (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2005; BRASIL, 1999). A metodologia
44
adotada empregando a coluna de cádmio e sua confecção foi baseada na literatura descrita em
Strickland e Parsons (1972).
Existe uma variedade de agentes redutores que foram avaliados quanto à eficiência na redução
do nitrato a nitrito, entre eles, redutores a base de zinco, cobre-hidrazina e cádmio. Uma nova
técnica para reduzir nitrato a nitrito por foto-indução foi avaliado por Takeda e Fujiwara
(1993), que reportaram o uso da radiação UV entre 200 e 300nm, resultando na formação de
nitrito e oxigênio. Esta técnica se mostrou atrativa uma vez que não há utilização de
substâncias tóxicas como o cádmio, porém, às vezes este agente redutor pode provocar uma
redução incompleta do nitrato ou levar à formação de amônia.
A mecanização e/ou automação dos procedimentos visando à determinação quantitativa de
espécies químicas, tem sido proposta como alternativa aos procedimentos convencionais
quando se pretende analisar um grande número de amostras por unidade de tempo, minimizar
o consumo de amostras e de reagentes, diminuir problemas de contaminação e melhorar a
precisão dos resultados analíticos (ANDRADE, 2004).
Atualmente no Brasil, para fins de análises fiscais, as metodologias empregadas pelos órgãos
regulamentadores não prevêem a automação dos procedimentos quando se trata da matriz
cárnea e produtos cárneos, trazendo com isso desvantagens como a de analistas em contato
com substâncias potencialmente carcinogênicas, elevado consumo de reagentes e
impossibilidade de realização de grande número de amostras por unidade de tempo.
45
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 MATERIAL
4.1.1 Obtenção e preparo das amostras
Amostras comerciais: no período de setembro/2009 a março/2010, foram coletadas quinze
amostras de salsicha hot-dog de quinze diferentes marcas comerciais. Todas as salsichas
foram adquiridas em supermercados da região metropolitana de São Paulo. As amostras
coletadas foram devidamente identificadas, trituradas e avaliadas quanto ao pH. Em seguida,
foram analisadas pelos dois métodos analíticos propostos para nitrato e por um único método
analítico para o nitrito. As análises foram realizadas no mesmo dia para que os resultados
pudessem ser comparados já que a tecnologia de fabricação e o armazenamento podem
proporcionar a redução dos teores de nitrito/nitrato.
Amostras de salsichas processadas para este trabalho: foi realizado o processamento de três
formulações de salsichas hot-dog, na Planta Piloto de produtos cárneos da empresa Kienast &
Kratschmer Ltda. Após o processamento os produtos foram armazenados e amostras foram
coletadas nesse período. Após a coleta, foram imediatamente trituradas e analisadas.
4.1.2 Vidrarias, reagentes, ingredientes e equipamentos
As vidrarias utilizadas foram as de uso comum em laboratórios, com exceção da coluna de
cádmio, que foi produzida conforme especificações do método analítico (INSTITUTO
ADOLFO LUTZ, 2005).
Os reagentes analíticos empregados foram todos de grau analítico.
Os ingredientes e matérias primas cárneas utilizados no processamento das salsichas foram
adquiridos de diferentes fornecedores e doados pela empresa Kienast & Kratschmer Ltda.
Salientamos que todos os aditivos empregados são de grau alimentício e que o nitrito de sódio
e o nitrato de sódio utilizado são provenientes da Badische Anilin und Soda-Fabrik (BASF).
46
Os equipamentos utilizados nas avaliações laboratoriais foram: mini
processador (modelo HC31, marca Black & Decker), mixer (modelo Robot
Classic, marca Mallory), balança analítica (modelo AB204-5, marca Mettler
Toledo), estufa (modelo515, marca Fanem), banho-maria (modelo NT 232C, Nova Técnica),
banho-maria com agitação (modelo NT 246, marca Nova Técnica), agitador magnético
(modelo TE-085, marca Tecnal), pHmetro (modelo TEC-2, marca Tecnal),
espectrofotômetro UV/VIS faixa espectral entre 190 e 900 nm (modelo Carry
100, marca Varian), higrômetro para determinação de atividade de água
(modelo Aqualab Série 3 TE, marca Decagon Devices Inc), determinador de
gordura (modelo TE -044, marca Tecnal), bloco digestor (modelo 008750-04,
marca Tecnal), destilador de nitrogênio (modelo TE-0363, marca Tecnal),
colorímetro (modelo Colorflex, marca Hunterlab), estufa (modelo 315SE,
marca Fanem) e mufla (modelo EDG 3P-S, marca EDG).
Para o processamento das salsichas foram empregados os seguintes equipamentos na planta
piloto: balança (modelo 9091, marca Toledo), serra (modelo: 282 I, marca: CAF), moedor
(modelo MEW 603, marca: Mado Primus), cutter (modelo: EX 3000RS, Marca Kilia),
embutideira (modelo VF 50, marca Handtmann) e estufa (Modelo MC 500, marca Bastra).
4.2 MÉTODOS
As determinações conduzidas neste trabalho foram realizadas em triplicata, exceto as
avaliações microbiológicas.
4.2.1 PH
O potenciômetro foi calibrado com as soluções tampão de pH 4,00 e 7,00. Cerca de 50 g de
amostra foram pesados e homogeneizados com 20 mL de água destilada. O pH da amostra foi
medido logo após sua preparação (BRASIL, 1999).
47
4.2.2 Nitritos
A análise de nitritos é fundamentada na reação de diazotação dos nitritos com ácido
sulfanilico e copulação com cloridrato de α-naftilamina em meio ácido, formando o ácido α-
naftilamino-p-azobenzeno-p-sulfônico de coloração rósea (FIGURA 6). O produto resultante
é determinado espectrofotometricamente a 540 nm (INSTITUTO ADOLFO LUTZ, 2005).
FIGURA 6 – Reações envolvidas na análise de nitrito
Preparo da amostra: Para esta análise foram pesados 10 g de amostra triturada e
homogeneizada em um béquer de 200 mL. 5 mL de solução de tetraborato de sódio foram
adicionados (FIGURA 7). Após mistura com bastão de vidro, cerca de 50 mL de água quente
(80 oC) foram acrescentados. Esta suspensão, frequentemente agitada com bagueta,
permaneceu em banho-maria por 15 minutos (FIGURA 8).
48
FIGURA 7 – Amostras solubilizadas após a adição de tetraborato de sódio e água quente
FIGURA 8 – Amostras no banho-maria etapa de extração
Com auxilio do bastão de vidro e de um funil, o conteúdo foi transferido quantitativamente
para balão volumétrico de 200 mL. O béquer foi lavado com aproximadamente 50 mL de
água. Após resfriamento do conteúdo do balão, 5 mL de K4Fe(CN)6 e 5 mL de ZnSO4 foram
adicionados. O balão volumétrico foi agitado por rotação após a adição de cada reagente e, ao
final, o volume foi completado com água e vigorosamente homogeneizado (FIGURA 9).
49
FIGURA 9 – Amostras precipitadas em balão volumétrico em repouso
A amostra permaneceu em repouso por 15 minutos, sendo várias vezes agitada com vigor
nesse período (FIGURA 9). Em seguida, o filtrado foi separado em papel de filtro qualitativo
e recolhido em um frasco Erlenmeyer de 250 mL (FIGURA 10).
FIGURA 10 – Etapa de filtração das amostras após precipitação
O mesmo procedimento foi executado com um “branco” de reagentes (sem a adição da
amostra).
Reação de cor: 10 mL dos filtrados (“branco” e amostras) foram pipetados para balões
volumétricos de 50 mL. Após adição de 5 mL de sulfanilamida, e repouso por 3 minutos,
3 mL de cloreto de alfa-naftilenodiamina (NED) foram adicionados em cada um, e o conteúdo
imediatamente agitado (FIGURA 11). O volume foi completado com água e homogeneizado.
50
Após 15 minutos de repouso, a leitura da absorbância a 540 nm contra o “branco” de
reagentes foi executada no espectrofotômetro.
FIGURA 11 – Reação de cor aguardando leitura no espectrofotômetro
Curva padrão: foram pipetadas alíquotas de 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7 mL da solução padrão de
trabalho de NaNO3 (8 �g/mL) para balões volumétricos de 50 mL. A cada um dos balões
foram adicionados, 5 mL de reagente sulfanilamida, misturados por rotação e, após 3 minutos,
adicionados 3 mL de reagente alfa-naftilenodiamina. Os volumes foram completados e
homogeneizados. Após aguardar 15 minutos para o desenvolvimento da cor, foi determinada
a absorbância a 540 nm contra o “branco” de reagentes, utilizando cubeta de 1 cm. A curva
foi construída com os valores de absorbância (variável dependente) e de concentração de
nitrito de sódio 0,16; 0,32; 0,48; 0,64; 0,80; 0,96 e 1,12 �g/mL (variável independente), por
meio de ajuste ao modelo linear, tornando possível o cálculo dos coeficientes linear e angular
da reta (absortividade).
4.2.3 Nitratos
O nitrato é reduzido a nitrito por ação do cádmio esponjoso em meio alcalino. Esta redução
foi avaliada por meio de dois métodos distintos. O primeiro preconiza o uso de coluna
compactada recomendado pelas Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz (2005); o
segundo, o sistema aberto com agitação conforme descrito pela Instrução Normativa 20 de 21
51
de julho de 1999 – MAPA. A seguir, é realizada a análise de nitritos como já descrito em
4.2.2.
4.2.3.1 Redução do nitrato em coluna de cádmio
O método de análise de nitrito e nitrato em coluna está detalhado na FIGURA 12:
FIGURA 12 – Fluxograma da determinação de nitrito e nitrato pela
metodologia do Instituto Adolfo Lutz (2005)
52
Preparo do cádmio esponjoso: barras de zinco metálico foram mergulhadas em 500 mL de
solução de CdSO4 a 20%. À medida que o cádmio esponjoso se depositava nas barras, era
removido e transferido para um béquer contendo água. Com o auxilio de um mixer, o material
foi homogeneizado e peneirado, com o cuidado de mantê-lo sempre imerso em água. Após a
fração sólida ficar visualmente bem separada, a água sobrenadante foi removida por
decantação. O cádmio foi, então, coberto com HCl 2 mol/L e deixado em repouso por 2
minutos. Decorrido este período, o ácido clorídrico foi removido por decantação e o cádmio
foi lavado com água até pH neutro. O cádmio foi completamente coberto com ácido clorídrico
0,1 mol/L e, após repouso de 15 minutos, o ácido foi removido por decantação e o cádmio foi
novamente lavado com água até pH neutro. Após decantação da água, foi adicionada solução-
tampão de pH 9,6 – 9,7 (1+9), que permaneceu em contato por, no mínimo, 15 minutos.
A coluna de vidro foi preparada com lã de vidro e areia na extremidade. O cádmio esponjoso
foi transferido em pequenas porções com o auxilio de água, até atingir uma altura de 10 cm.
No topo da coluna foi adaptado um funil de separação de 100 mL, com haste de 10 mm de
diâmetro e 25 cm de comprimento. Na extremidade da haste, foi adaptada uma rolha de
silicone, capaz de encaixar-se perfeitamente à coluna, e prevenir a entrada de ar. O sistema,
ilustrado na FIGURA 13, permite o controle do fluxo.
FIGURA 13 – Funil de separação acoplado a coluna de cádmio.
53
Regeneração/ativação da coluna: a coluna deve ser regenerada sempre na primeira utilização
do dia e, depois, a cada duas passagens de amostras. A regeneração é realizada por passagem
de soluções na coluna a um fluxo de 10 mL/min respeitando a seguinte ordem: 25 mL de HCl
0,1 mol/L, 50 mL de água e 25 mL de solução tampão diluída (1+9).
Redução do nitrato: 20 mL de cada filtrado obtido no preparo das amostras e do “branco” da
determinação de nitritos foram transferidos quantitativamente para béqueres de 100 mL, onde
foram adicionados 5 mL da solução-tampão pH (9,6-9,7) e 2 mL de solução de EDTA 5%.
Cada amostra foi transferida para a coluna a um fluxo ≤ 6 mL/minuto, recolhendo diretamente
em balão volumétrico de 100 mL. As paredes do béquer foram lavadas com água e esta foi
passada pela coluna de cádmio. O volume do balão volumétrico foi completado com água
passada pela coluna. Após homogeneização, 10 mL (“branco” e amostras) foram transferidos
para balões volumétricos de 50 mL. 5 mL de sulfanilamida foram adicionados em cada,
seguidas de agitação por rotação. Passados 5 minutos de repouso, 3 mL de NED foram
adicionados. O volume foi completado com água e, após agitação e 15 minutos de repouso, a
absorbância foi lida a 540 nm.
Eficiência ou controle da capacidade redutora da coluna: a eficiência da coluna deve ser
verificada, passando por ela solução padrão de nitrato de sódio e determinando a quantidade
de nitrito formado. Para isso, misturou-se em um béquer de 100 mL, uma alíquota de 20 mL
da solução padrão de nitrato de sódio (10 �g/mL) e 5 mL da solução tampão pH (9,6-9,7).
Essa solução foi passada pela coluna e foi realizada a reação de cor, conforme o procedimento
já descrito. Se a recuperação for inferior a 90%, isto é, a concentração de nitrato calculado
menor que 90% do valor teórico esperado, a coluna de cádmio deve ser regenerada.
4.2.3.2 Redução do nitrato através de sistema aberto – agitação
No sistema aberto, o cádmio esponjoso deve permanecer imerso no tampão diluído durante a
condução da análise, sendo lavado posteriormente com água e deixado em repouso, sempre
imerso em água até que seja recuperado. O cádmio esponjoso não usado deve ser mantido em
água. A água do cádmio esponjoso deve ser substituída por tampão pH 9,6 - 9,7 diluído (1+9)
pelo menos 15 minutos antes da sua utilização para a ativação (BRASIL, 1999).
54
20 mL de filtrados (“branco” e amostras) obtidos na determinação de nitrito (4.2.2) foram
transferidos quantitativamente para erlenmeyers de 125 mL. 5 mL de tampão pH 9,6-9,7 e
aproximadamente 20 g do cádmio esponjoso foram adicionados em cada erlenmeyer. As
paredes do erlenmeyer foram lavadas com o mínimo de água. Após agitação em shaker por no
mínimo 15 minutos, permaneceram em repouso para sedimentar. O sobrenadante foi filtrado
em papel de filtro qualitativo, e o filtrado foi recolhido diretamente em balão volumétrico de
100 mL. O erlenmeyer foi lavado no mínimo 3 vezes com água, agitado por 2 minutos a cada
lavagem, deixado em repouso para sedimentar e o conteúdo foi filtrado. O papel de filtro foi
lavado e o volume do balão completado com água. 10 mL (“branco” e amostras) foram
transferidos para balões volumétricos de 50 mL e a reação de cor foi realizada conforme já
descrito.
A curva padrão utilizada para a quantificação dos íons nitrato é a mesma já explicitada na
determinação dos íons nitrito.
4.2.4 Análise de umidade
Fundamenta-se na perda de água e substâncias voláteis a uma temperatura determinada. A
umidade das amostras de salsicha foi calculada após a desidratação em estufa a 105 ± 2 ºC até
peso constante (BRASIL, 1999).
4.2.5 Análise de cinzas
Fundamenta-se na eliminação da matéria orgânica e inorgânica volátil a 550 ºC. O produto
obtido é denominado de resíduo mineral fixo. 3 g de salsichas foram utilizadas nessa análise,
que foi realizada em triplicata. As amostras permaneceram por 3 horas na mufla a 550 ºC,
antes do resfriamento e pesagem. (BRASIL, 1999).
55
4.2.6 Análise de proteína
Para a análise de proteínas foi utilizado o método de Macro-Kjeldahl que é fundamentado na
transformação do nitrogênio da amostra em sulfato de amônio através da digestão com ácido
sulfúrico P.A. e posterior destilação com liberação da amônia, que é fixada em solução ácida
e titulada. O nitrogênio existente na amostra foi expresso em protídios, multiplicando a
porcentagem do nitrogênio total pelo fator específico de carnes e derivados que é de 6,25
(BRASIL, 1999).
A digestão da amostra foi realizada da seguinte forma: em um tubo de digestão (Kjeldahl),
foram adicionados 5 g de mistura catalítica e 1 g da salsicha e por fim 20 ml de H2SO4 PA. O
tubo foi colocado no bloco digestor, gradativamente aquecido até atingir 400 °C, temperatura
em que o tubo permaneceu até finalização da digestão. A destilação da amônia presente no
tubo após a digestão foi realizada após neutralização dos ácidos nele presentes com NaOH
50%. A amônia foi recolhida em solução de ácido bórico 4%, contendo vermelho de metila e
verde de bromocresol como indicadores. A titulação do destilado foi realizada com solução
fatorada de ácido clorídrico 0,1 mol/L.
4.2.7 Análise de lipídios
A análise utilizada para determinação de lipídios fundamenta-se na solubilidade da gordura
em solventes orgânicos. É um método gravimétrico em que a gordura extraída pelo solvente é
pesada após evaporação do solvente (BRASIL, 1999). As amostras de salsichas foram
pesadas e secas em estufa a (105 ± 2) ºC por 2 horas antes da análise. O éter de petróleo foi o
solvente empregado nesta avaliação.
56
4.2.8 Análise de atividade de água
A atividade de água foi determinada em triplicata, utilizando-se higrômetro Aqualab (modelo
Série 3 TE, Decagon Devices Inc). Esse equipamento mede a atividade de água, com
fundamento no ponto de orvalho, em que a água é condensada em superfície espelhada e fria e
detectada por sensor infravermelho. As amostras foram colocadas em recipientes plásticos e
as leituras foram realizadas em temperatura controlada de 25,0 °C.
4.2.9 Análise de cor
Para determinação objetiva da cor foi usado o colorímetro (Modelo Colorflex, Hunterlab),
programado com o Sistema L*. a*.b* de acordo com a CIALAB (do francês: Comission
Internationale de L’eclairage: Comissão Internacional de Iluminação/Cor), sendo L* a
medida da luminosidade, a* a intensidade da cor vermelha e b* a intensidade da cor amarela
(FIGURA 14). O feixe de luz foi emitido primeiramente na região interna das salsichas e
posteriormente na superfície da salsicha.
FIGURA 14 – Coordenadas de cor – Sistema CIELAB
57
4.2.10 Análises microbiológicas
Todas as análises microbiológicas foram executadas em um laboratório terceirizado,
credenciado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e pelo Instituto
Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO). Os certificados de análises
estão detalhados no Anexo II.
Para as determinações microbiológicas, foram coletadas 25 gramas das salsichas e
adicionadas em 225 ml de solução diluente (água peptonada estéril 0,1%) e homogeneizadas
por 60 segundos.
As diluições decimais necessárias foram feitas no mesmo diluente, e alíquotas das diluições
apropriadas foram semeadas em duplicata em meios de cultura seletivos e não seletivos para a
enumeração da microbiota presente.
4.2.10.1 Contagem total de bactérias mesófilas aeróbias e/ou facultativas
A partir das diluições obtidas e descritas no item anterior, foi realizada a contagem de
mesófilos pela técnica de semeadura em profundidade “pour plate” utilizando-se para isso
Plate Count Agar (PCA). As placas foram incubadas a 35-37 ºC/48h seguindo as
recomendações dos métodos analíticos do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, publicados pela Instrução Normativa 62 de 2003 (BRASIL, 2003).
4.2.10.2 Contagem de Bactérias Lácticas
A quantidade de bactérias ácido-lácticas das amostras de salsichas foi determinada pela
técnica de semeadura em profundidade (pour plate), com a adição de sobrecamada, em placas
com Ágar Man, Rogosa e Sharpe (MRS) adicionado de azul de anilina, depois de incubadas
em estufa por 48 h a 35 ºC.
58
4.2.11 Análise estatística
Todos os ensaios foram executados, no mínimo, em triplicata. Seus valores descritivos estão
apresentados na forma de média, desvio padrão e coeficiente de variação.
Os valores aparentemente discrepantes (outliers) foram submetidos a teste Q para rejeição de
resultados.
Para a comparação entre métodos diferentes aplicados a uma mesma amostra foi utilizado o
teste t pareado. Este mesmo teste foi também utilizado para comparar resultados obtidos em
tempos diferentes de armazenamento. Foram comparadas análises subsequentes no tempo e
também cada tempo com relação ao tempo inicial.
A partir da análise de variância (ANOVA), o teste F avaliou a existência ou não de diferença
entre as 3 formulações propostas, ao nível 5% de significância. Quando encontrada diferença
significativa neste teste (p<0,05) investigou-se através do teste post hoc de Tukey quais
formulações diferiram entre si.
Todos os cálculos estatísticos deste trabalho foram executados em planilha Excel (Microsoft
Office) e no software Origin 7.5.
4.2.12 Formulações e fabricação das salsichas hot dog
Para testar o efeito do conservante nitrito de sódio e nitrato de sódio foram feitas 03 partidas
de salsichas empregando uma formulação padrão praticada pelo mercado de salsicha hot-dog.
Os ingredientes e os percentuais utilizados estão descritos na TABELA 6.
59
TABELA 6 - Formulações das salsichas hot dog
A B C
CMS de aves 60 60 60
Carne Bovina 20 20 20
Sal Refinado 1,2 1,2 1,2
Proteína Texturizada de Soja 4 4 4
Fécula de mandioca 2 2 2
Condimento Salsicha 1 1 1
Nitrito de Sódio 0,015 0,025 0,02
Nitrato de Sódio - - 0,005
Eritorbato de Sódio 0,05 0,05 0,05
Tripolifosfato de Sódio 0,25 0,25 0,25
Glutamato monosódico 0,1 0,1 0,1
Gelo 9,385 9,375 9,375
Lactato de Sódio 2 2 2
TOTAL 100 100 100
INGREDIENTESFORMULAÇÕES (%)
As três formulações de salsichas foram elaboradas seguindo as Boas Práticas de Fabricação
conforme ilustração e detalhado no memorial descritivo a seguir apresentados (FIGURA 15).
60
•
Carne Bovina; CMS; Gelo
Ingredientes e Aditivos
Proteína Texturizada de Soja, Fécula Mandioca
Resfriamento
Embutimento
Cozimento
Tingimento
Fixação da cor
Câmara fria
Salsichas prontas
Cutter
Massa
Depelagem
FIGURA 15 – Processo de fabricação das salsichas.
61
4.2.12.1 Elaboração da massa
• Todos os ingredientes empregados foram pesados de acordo com as
formulações propostas.
• A matérias-prima cárnea, com exceção da carne mecanicamente separada de
aves (CMS), foi moída em disco 5 mm a fim de facilitar a formação da massa cárnea
emulsionada definida como massa.
• A carne mecanicamente separada de aves (CMS) foi fragmentada em
quebrador de blocos.
• Foi adicionado primeiramente no cutter a matéria prima cárnea (bovina), a
carne mecanicamente separada e o gelo. Após a extração das proteínas miofibrilares,
adicionou-se o sal, tripolifosfato de sódio, nitrito de sódio, nitrato de sódio, glutamato
monossódico, condimento para salsicha e todos os demais ingredientes.
• A massa foi misturada até completa homogeneização.
4.2.12.2 Embutimento
• No processo de embutimento foram utilizadas tripas celulósicas de calibre 24
milímetros.
• A tripa foi torcida em forma de gomos de 9 a 12 cm de comprimento
(equipamento mecânico de torção).
• Após o embutimento, os gomos foram colocados em varas e estas em gaiolas
para serem transportados à estufa de cozimento.
62
4.2.12.3 Cozimento
• Esta etapa foi conduzida com o auxilio de uma rampa de aquecimento da
seguinte forma:
- 15 minutos a 60 ºC, com chaminé semi aberta, calor seco.
- 15 minutos a 65 ºC, com chaminé semi aberta, calor seco.
- 15 minutos a 70 ºC, com chaminé semi aberta, calor seco.
- 15 minutos a 75 ºC, com chaminé semi aberta, calor seco.
- 80 ºC até temperatura interna de 74 ºC, chaminé fechada, 80% de umidade.
4.2.12.4 Resfriamento
• O resfriamento é feito em chuveiros, ou seja, jatos de água em temperatura ambiente
por aproximadamente 5 minutos.
• Foi empregada água potável e tratada para evitar contaminação do produto
• Após o choque térmico, as salsichas foram resfriadas em câmara fria até 5 ºC.
4.2.12.5 Depelagem
• A salsicha após o resfriamento foram depeladas, ou seja, retirado o seu envoltório
celulósico (tripa) utilizado inicialmente para dar forma ao produto.
63
4.2.12.6 Tingimento
• Neste estudo, utilizou-se o processo de tingimento a frio. Foi preparada uma
solução partindo do Corante Urucum 900 (Norbixina = 0,9%) com 5% de
concentração do corante (5 kg de Corante Urucum 900 para cada 100 litros de água).
• Em outro tanque, foi preparada a solução ácida da seguinte maneira: 0,2 litro
de ácido fosfórico concentrado grau alimentício (85%) para cada 100 litros de água.
• As salsichas foram mergulhas na solução de urucum a 5% por
aproximadamente 3 a 5 minutos.
• Em seguida, as mesmas salsichas foram mergulhadas em solução ácida por
aproximadamente 2 a 3 minutos para fixação do corante.
• A salsicha foi secada sob refrigeração em câmara fria.
• As formulações foram fracionadas e embaladas em sacos plásticos simulando a
condição de comercialização a granel e armazenados sob refrigeração para
posteriormente serem analisados.
4.2.13 Tempo de armazenamento e periodicidade de retirada das amostras de salsichas
hot dog
Após o processamento das 3 formulações de salsichas descritas acima, foi possível iniciar o
estudo do residual dos conservantes nitrito e nitrato no decorrer do armazenamento.
O estudo foi realizado após acondicionar o produto em sacos plásticos, sob refrigeração,
simulando as condições praticadas nos estabelecimentos comerciais, de venda do produto a
granel, que seria a forma mais crítica de exposição da salsicha hot dog.
A composição centesimal e a atividade de água foram determinadas nas 3 fórmulas propostas.
64
Os parâmetros pH, residual de nitrito e residual de nitrato expresso em nitrito foram realizadas
na massa após a mistura dos ingredientes e posteriormente nos tempos zero, 1 dia, 3 dias, 5
dias e 7 dias. Os tempos estabelecidos para a realização dos ensaios foram escolhidos por ser
o período praticado por cinco grandes redes de supermercados na vida de prateleira do
produto.
As avaliações microbiológicas e de cor interna e externa foram conduzidas nos tempos zero, 3
dias, 5 dias e 7 dias.
65
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1 AVALIAÇÃO DAS SALSICHAS DE MERCADO
5.1.1 pH e Nitrito Residual
A TABELA 7 apresenta resultados de pH e de nitrito residual em 15 amostras de salsicha,
obtidas no mercado varejista, identificadas como A até P.
TABELA 7 - Resultados de pH e residual de nitrito
Nitrito
(mg/kg)
A 6,80 27± 1 4,2
B 6,26 34,8±0,5 1,2
C 6,00 9,6±0,3 2,7
D 6,23 38,5±0,4 1
E 6,35 21±2 7,5
F 6,42 55,6±0,2 0,4
G 6,37 30,9±0,6 1,9
H 6,18 48,8±0,3 0,6
I 5,93 26,2±0,2 0,7
J 6,13 4,6±0,7 15
L 6,51 52±1 2,1
M 6,30 64,4±0,4 0,6
N 6,18 40±2 5,7
O 6,38 48±3 5,7
P 5,67 2,0±0,3 15
Amostras pHCoeficiente de variação (%)
*Resultados das médias de três determinações em cada amostra.
Os resultados de pH variaram de 5,67 a 6,80. É provável que essa oscilação seja decorrente de
dois fatores principais: características do antioxidante e do estabilizante utilizados no
66
processamento da salsicha e a possível presença de bactérias láticas, importantes
microorganismos deteriorantes em embutidos cozidos.
Para as análises de nitrito foi preparada uma curva padrão de nitrito de sódio por data de
ensaio, ressaltando que os coeficientes de correlação encontrados variaram entre 0,99945 e
0,99998, o que indica excelente ajuste ao modelo linear. A FIGURA 16 apresenta, a título de
ilustração, uma das curvas obtidas.
FIGURA 16 – Curva Padrão de Nitrito de Sódio
Quanto ao nitrito residual, pode-se observar que o desvio padrão para as amostras avaliadas
foi baixo assim como o coeficiente de variação analítico, exceto para as amostras J e P, que
apresentaram coeficiente de variação 15%, mostrando, portanto, que esta análise possui boa
repetibilidade quando executada nas mesmas condições e na mesma data. Os menores
coeficientes de variação foram obtidos para os teores mais altos de nitrito. O inverso foi
verdadeiro também, possivelmente por conta do limite de detecção da metodologia
empregada. Boa repetibilidade, portanto, é obtida quando os teores de nitrito não forem muito
baixos.
Observou-se também que valores de nitrito residual obtidos durante os ensaios merecem
destaque, pois nenhuma das marcas analisadas apresentou quantidade superior ao permitido
pela legislação em vigor, de 150 mg/kg, indicando, portanto, um uso racional do conservante.
67
Por outro lado, embora os níveis de nitrito tenham sido reduzidos pelos fabricantes mostrando
uma melhoria quanto aos riscos dos efeitos toxicológicos, este fato pode implicar em riscos
quando os teores não garantirem a segurança quanto à preservação do produto principalmente
relativa às bactérias potencialmente perigosas como o Clostridium botulinum. Na TABELA 7
evidenciamos alguns resultados preocupantes, com destaque para as amostras C, J e P que
apresentaram respectivamente 9,6, 4,6 e 2,0 ppm de nitrito residual.
Mello Filho, Biscontini e Andrade (2004) analisaram 54 amostras de salsichas do tipo hot
dog, que classificaram em grupos e subgrupos conforme a região de origem e marcas: A e B
produzidas sob inspeção federal, coletadas em supermercados, e provenientes da região Sul e
Nordeste, respectivamente. As do grupo C foram produzidas em indústrias locais, sem marca
e inspeção definidas e obtidas em feiras livres. As amostras do grupo A, do Sul do Brasil,
apresentaram teores de nitrito variáveis entre 27,50 e 76,50 mg/kg (média de 48 mg/kg),
contra 2,0 a 64,4 mg/kg (média de 37,6 mg/kg) deste trabalho, sendo que nenhuma
ultrapassou o limite máximo permitido. Dentre as amostras do grupo B, embora com média
significativamente maior, de 81 mg/kg, apenas uma ultrapassou o limite máximo permitido.
Entretanto, dentre as do grupo C, com média de 143 mg/kg, 67% das amostras ultrapassou o
limite legal, indicando a importância da Inspeção Federal na fiscalização desses produtos.
Também Souza, Faleiros e Souza (1990) analisaram 20 amostras de salsichas coletadas na
região de Jaboticabal e verificaram que nenhuma ultrapassou o limite máximo permitido.
5.1.2 Nitrato Residual
A TABELA 8 apresenta resultados de nitrato residual expresso em nitrito em 15 amostras de
salsicha, obtidas no mercado varejista, identificadas como amostras A até P, sendo aplicada a
redução em coluna de cádmio.
Deve-se salientar que a aplicação das duas metodologias ocorreu na mesma data para evitar
que os resultados fossem influenciados pela variação do nitrito/nitrato durante o
armazenamento.
68
TABELA 8 - Resultados de residual de nitrato expresso em nitrito – Redução coluna de cádmio
– IAL.
Eficiência
(%) Desvio
Padrão
A 94,6 79 3 4
B 94,6 63 3 5
C 84,3 92 3 3
D 91,4 74 3 5
E 91,4 31 2 5
F 110,9 41 4 9
G 110,4 32 2 7
H 110,4 36 2 6
I 94,9 30 1 4
J 105,4 257 3 1
L 105,4 31 2 7
M 94,9 29 4 15
N 94,2 145 10 7
O 94,2 28 3 10
P 90,5 58 5 9
Amostras
Nitrato expresso em nitrito (mg/kg)
MédiaCoeficiente de variação (%)
Resultados das médias de três determinações em cada amostra.
Analisando os resultados encontrados para o nitrato residual, expresso em nitrito pelo método
analítico preconizado nas Normas Analíticas do Instituto Adolfo Lutz (2005), pode-se
observar que nenhuma das amostras excedeu o limite individual regulamentado para este
atributo. Porém a norma regulamentadora detalha que quando há mistura de aditivos com
igual função, neste caso conservante, a soma de todas as concentrações na salsicha não deve
ser superior ao limite máximo de nenhum deles. De acordo com o exposto, os resultados desta
soma, apenas para as amostras J e N (13%) ultrapassaram o limite estabelecido de 150 ppm ou
0,015 g/100 g. Salientamos que esta metodologia é empregada nas análises das amostras de
controle, fiscais e de orientação dos produtos cárneos coletados pela Vigilância Sanitária do
Estado de São Paulo.
Cabe ressaltar que todas as análises realizadas foram acompanhadas de ensaios de eficiência
da coluna de cádmio para a concentração de trabalho – 10 µg/mL, dos quais recuperações na
69
faixa de 84,3 a 110,9% foram obtidas. Com isso conclui-se que a coluna está atuando de
forma eficaz, reduzindo o nitrato a nitrito e por isso pode ser usada com segurança nas
determinações realizadas. O método analítico recomenda que quando a recuperação for
inferior a 90%, isto é, a concentração de nitrato calculado menor que 90% do valor teórico
esperado, a coluna de cádmio deve ser regenerada e a amostra avaliada novamente.
Considerando esse critério, em apenas uma das amostras este fato foi evidenciado, a amostra
C que resultou em 84,3% sendo, portanto, o resultado obtido nesta avaliação passíveis de
desvios. É importante mencionar que as Normas do Instituto Adolfo Lutz, não especificam os
limites aceitáveis para os casos em que a recuperação seja superior a 110%.
Com base na TABELA 8, podemos verificar ainda que, os dois maiores coeficientes de
variações determinados foram nas amostras M e O que apresentaram 15 e 10% coeficiente de
variação, sendo que nestas mesmas amostras foram quantificados os menores residuais de
nitrato expresso em nitrito, 29 ppm e 28 ppm, respectivamente. Com isso conclui-se que estes
resultados provavelmente devem-se ao fato dos valores quantificados estarem próximo do
limite de quantificação do método e por isso apresenta uma maior dispersão.
Paralelamente nas mesmas amostras foi conduzida a análise de nitrato expresso em nitrito
conforme estabelecido pela Instrução Normativa 20 (MAPA), reiterando que os produtos
coletados pelo Serviço de Inspeção Federal são avaliados quanto a sua conformidade em
laboratórios credenciados ou nos LANAGROS empregando esta metodologia.
O intuito desta comparação foi também evidenciar a possibilidade de uma avaliação do
mesmo produto no mesmo período por diferentes órgãos regulamentadores ANVISA
(Vigilâncias Sanitárias estaduais) e pelo MAPA e possuir parecer técnico divergente devido
os resultados analíticos obtidos (TABELA 9).
70
TABELA 9 - Resultados de residual de nitrato expresso em nitrito – Redução sistema aberto
com agitação – IN20/MAPA
Eficiência
(%) Média Desvio padrãoCoeficiente de variação (%)
A 100,3 83 3 3
B 100,3 69 2 2
C 91,4 71 1 1
D 90,5 61 4 7
E 90,5 38 2 4
F 113,6 43 3 7
G 121,0 42 7 17
H 121,0 50 6 11
I 97,8 26 2 7
J 98,2 246 4 2
L 98,2 32 3 10
M 97,8 25 3 10
N 89,8 100 10 10
O 89,8 28 - -
P 130,9 25 2 9
Amostras
Nitrato expresso em nitrito (mg/kg)
Resultados das médias de três determinações em cada amostra.
Avaliando os resultados obtidos de residual de nitrato expresso em nitrito pelo método
analítico preconizado na Instrução Normativa do MAPA pode-se observar que nenhuma das
amostras excedeu o limite individual regulamentado para este atributo com resultados
bastante similar ao encontrado na metodologia seguida pelo Instituto Adolfo Lutz. Os
resultados da soma dos aditivos de igual função apenas para as amostras J (7%) analisada
ultrapassaram o limite estabelecido de 150 ppm ou 0,015 g/100 g lembrando que no parecer
técnico obtido com a metodologia empregada da coluna de cádmio teríamos a reprovação das
amostras N e J.
As análises de eficiência para a concentração de trabalho – 10 µg/mL foram acompanhadas
das análises das salsichas, onde recuperações na faixa de 89,8 a 130,9% foram obtidas. Com
isso conclui-se que o sistema aberto com agitação está reduzindo de forma eficaz o nitrato a
nitrito e, por isso, pode ser usado com segurança nas determinações realizadas.
71
Compilando os resultados dos residuais de nitrato expresso em nitrito pelos dois métodos
propostos na TABELA 10, é possível constatar que o método de sistema aberto resultou em
coeficientes de variação superiores aos obtidos pela metodologia da coluna. É possível que
isso decorra devido o maior controle da velocidade da solução ao percorrer o cádmio na
coluna.
TABELA 10 - Resultados de residual de nitrato expresso em nitrito – Compilados – Redução
Coluna de Cádmio (IAL) x Redução Sistema Aberto com agitação (MAPA)
IAL IAL MAPA
Coluna Coluna Sistema Aberto
A 79 ± 3 83 ± 3 4 3
B 63 ± 3 69 ± 2 5 2
C 92 ± 3 71± 1 3 1
D 74± 3 61± 4 5 7
E 31 ± 2 38± 2 5 4
F 41 ± 4 43± 3 9 7
G 32 ± 2 42± 7 7 17
H 36 ± 2 50± 6 6 11
I 30 ± 1 26± 2 4 7
J 257 ± 3 246± 4 1 2
L 31 ± 2 32± 3 7 10
M 29 ± 4 25± 3 15 10
N 145 ± 10 100± 10 7 10
O 28 ± 3 28 10 -
P 58 ± 5 25± 2 9 9
Amostras MAPA Sistema Aberto
Coeficiente de variação (%)Nitrato expresso em nitrito (mg/kg)
Resultados das médias de três determinações em cada amostra (± desvio padrão).
A avaliação estatística dos resultados foi realizada inicialmente aplicando o teste Q para
rejeição de resultados sendo que em nenhum dos casos estudados o valor resultou acima do
valor crítico de Q, portanto todos os dados foram considerados nos cálculos. A seguir, foi
aplicado o teste T pareado para cada uma das marcas, onde apenas as amostras C e P
apresentaram uma diferença significativa entre os métodos. A comparação global dos
métodos utilizando as médias mostrou não haver diferença entre os dois métodos analíticos
aplicados.
Conforme Mello Filho, Biscontini e Andrade (2004) analisaram 54 amostras de salsichas do
tipo hot dog, que classificaram em grupos e subgrupos conforme a região de origem e marcas:
72
A e B produzidas sob inspeção federal, coletadas em supermercados, e provenientes da região
Sul e Nordeste, respectivamente. As do grupo C foram produzidas em indústrias locais, sem
marca e inspeção definidas e obtidas em feiras livres. As amostras do grupo A, do Sul do
Brasil, apresentaram residuais de nitrato expresso em nitrito variáveis entre 62,50 e 329,4
mg/kg (média de 149 mg/kg), contra 28 a 257 mg/kg (média de 68,4 mg/kg) deste trabalho,
sendo comparado com o método da coluna de cádmio adotado pelo autor como método
controle, observamos que 22% excedeu o limite individual regulamentado para este atributo
sendo que nenhuma amostra coletada em nossos testes apresentou estes desvios. Avaliando os
resultados da soma dos aditivos de igual função, 33% amostras ultrapassaram o limite
máximo permitido frente aos 13% obtidos neste estudo. Dentre as amostras do grupo B,
apresentaram média significativamente maior, de 310 mg/kg, sendo que 100% dos produtos
analisados ultrapassaram o limite máximo permitido quando aplicado o uso de forma
combinada e 83% excedeu o limite do parâmetro individual. Com as amostras do grupo C não
foi diferente, com média de 367 mg/kg, 100% das amostras ultrapassaram o limite legal
aplicado individualmente e aplicando o uso dos aditivos de forma combinada, indicando
novamente a importância da Inspeção Federal na fiscalização e ressaltando alguns hábitos
regionais no emprego dos conservantes. Salientamos que para o produto pronto para
consumo, os níveis destes aditivos deverão atender o estipulado na Instrução Normativa nº
51/06, o produtor deverá garantir residuais de 150 ppm para nitrito (de sódio ou de potássio),
ou 150 ppm para combinações de nitrito (de sódio ou de potássio) com nitrato (de sódio ou de
potássio), ou ainda, 300 ppm de nitrato (de sódio ou de potássio).
Já Souza, Faleiros e Souza (1990) analisaram 20 amostras de salsichas coletadas na região de
Jaboticabal e verificaram que avaliando os resultados da soma dos aditivos de igual função,
35% amostras ultrapassaram o limite máximo permitido frente aos 13% obtidos neste estudo.
Valores superiores aos limites máximos estabelecidos pelas normas vigentes podem ocorrer
por diversos fatores, sendo o mais freqüente a adição de uma dose excessiva do aditivo,
salientando que esta condição não foi evidenciada nas amostras coletadas. Contudo, quando
se utiliza a quantidade de nitrito e nitrato dentro do limite estabelecido, são necessários ajustes
de alguns parâmetros do processo tecnológico como tempo e temperatura de cocção, o tipo de
tratamento térmico, a quantidade de matéria prima dentre outros.
73
Destacamos ainda, a importância da reavaliação da legislação atual com relação ao emprego
de aditivos de mesma função onde a legislação harmonizada preconiza que o uso de misturas
de aditivos com igual função, a soma de todas as concentrações não seja superior ao limite
máximo de nenhum deles. Acreditamos ser de extrema relevância a alteração destes dizeres
lembrando que em outros regulamentos de aditivos mais recentes vem sendo adotado o
seguinte critério (por ex.: para cereais e produtos de ou a base de cereais e para snacks):
Quando, para uma determinada função são autorizados dois ou mais aditivos com limite
máximo numérico estabelecido, a soma das quantidades a serem utilizadas no alimento não
pode ser superior ao limite máximo correspondente ao aditivo permitido em maior
concentração, e a quantidade de cada aditivo não poderá ser superior ao seu limite
individual. Se um aditivo apresentar duas ou mais funções permitidas para o mesmo alimento,
a quantidade a ser utilizada neste alimento não poderá ser superior ao limite indicado na
função em que o aditivo é permitido em maior concentração.
5.2 AVALIAÇÃO DAS SALSICHAS PROCESSADAS
5.2.1 Composição Centesimal
Os resultados referentes à composição centesimal das salsichas processadas são apresentados
na TABELA 11.
74
TABELA 11 - Composição centesimal das salsichas processadas
Cinzas Gordura Proteína Carboidratos(%) (%) (%) (%)
A
150ppm NO2
B
250ppm NO2
C
200ppm NO2 e 50ppm NO3
Formulações Umidade (%)
Composição centesimal
6,2
62,16a ± 0,06 3,61
a ± 0,03 12,7
a ± 0,4 14,9
a ± 0,6 6,7
63,0b ± 0,4 3,55
a ± 0,01 12,5
a ± 0,2 14,8
a ± 0,4
62,9b ± 0,1 3,46
b ±0,04 12,5
a ± 0,4 14,3
a ± 0,3 6,9
* Letras minúsculas iguais na mesma coluna, não diferem significativamente quanto ao macronutriente (p≤0,05) independente do tratamento. **Resultados das médias de três determinações em cada formulação (± desvio padrão).
Os teores de umidade, cinzas, gordura e proteína estão bem semelhantes nas 3 formulações
(TABELA 11). Estes resultados já eram esperados, pois apenas as quantidades dos
conservantes foram variadas nestas formulações.
Pela análise de variância (ANOVA), existe uma diferença significativa entre as formulações
quanto à umidade. Aplicando o teste de Tukey foi possível identificar que existe uma
diferença significativa entre as formulações A e B e entre as formulações A e C. Não há
diferença significativa entre as formulações B e C.
Na avaliação das cinzas também existe uma diferença significativa entre as formulações. Para
encontrar entre quais formulações, o teste de Tukey foi aplicado evidenciando que existe uma
diferença significativa entre as formulações A e C e entre as formulações B e C. Não há
diferença significativa entre as formulações A e B para o teor de cinza.
As análises de proteína e gordura não apresentaram diferença significativa entre nenhuma das
formulações.
Ressaltamos que todas as formulações obedeceram ao Regulamento técnico de Identidade e
Qualidade da Salsicha que preconiza limites máximos de 65% umidade, 30% gordura e 7%
carboidratos e limite mínimo de 12% proteína (BRASIL, 2000).
75
5.2.2 Atividade de Água
A atividade de água é um dos fatores mais relevantes para a multiplicação microbiana e
conseqüentemente para a estabilidade dos alimentos. Para o parâmetro atividade de água nas
formulações avaliadas, os valores obtidos não variaram conforme evidenciado na TABELA
12.
TABELA 12 - Atividade de água das salsichas processadas
Formulações
A
150ppm NO2
B
250ppm NO2
C
200ppm NO2 e 50ppm NO3
Atividade de Água
0,969 ± 0,001
0,970 ± 0,001
0,969 ± 0,001
*Resultados das médias de três determinações em cada formulação (± desvio padrão).
A maioria dos microrganismos, incluindo as bactérias patogênicas, se desenvolve rapidamente
a níveis de aw entre 0,99 a 0,98. A faixa de atividade de água de 0,95 a 0,97 propicia
condições ideais para que o Clostridium. botulinum assuma a forma vegetativa e produtora de
toxina. Avaliando os resultados obtidos nas formulações elaboradas, a salsicha hot dog
demanda cuidados do ponto de vista higiênico sanitária, o processo produtivo bem como a
formulação deve ser assistido com a finalidade da criação de barreira adicional ao crescimento
deste microrganismo (CARRASCOSA; CORNEJO, 1989).
76
5.2.3 pH
Os resultados das variações de pH às quais as salsichas foram submetidas durante o período
de armazenamento por 7 dias, sob condições comerciais de aquisição a granel simuladas,
denominadas de ensaio comercial, estão apresentados na TABELA 13.
TABELA 13 - pH das salsichas processadas
A150ppm NO2
B
250ppm NO2
C200ppm NO2 e 50ppm NO3
AmostrapH
Massa 1 dia 3 dias 5 dias 7 diasTempo Zero
6,82Aa±0,01 6,81Aa±0,01 6,54Ba±0,01
6,72Aa±0,02 6,82Aa±0,02 6,83Aa±0,01 6,83Aa±0,01 6,80Aa±0,02 6,55Ba±0,01
6,72Aa±0,01 6,81Aa±0,01 6,82Aa±0,01
6,70Aa±0,02 6,82Aa±0,02 6,83Aa±0,01 6,82Aa±0,01 6,82Aa±0,01 6,55Ba±0,01
*Letras maiúsculas iguais na mesma linha não diferem significativamente quanto ao pH (p≤0,05) ao longo do tempo. Letras minúsculas iguais na mesma coluna, não diferem significativamente quanto ao pH (p≤0,05) independente do tratamento. **Resultados das médias de três determinações em cada formulação (± desvio padrão).
Os valores de pH obtidos não apresentaram grandes oscilações entre as formulações
estudadas. Tal fato demonstra que diferentes dosagens de nitrito e nitrato não influenciam o
pH do produto. Este resultado era esperado, uma vez que em todas as formulações foram
utilizados os mesmos ingredientes.
É possível verificar que no tempo 7 dias, o pH sofreu uma redução significativa em toda as
amostras, este fato pode ser decorrente de alterações microbiológicas principalmente
ocasionadas pela ação de bactérias lácticas sobre os açúcares com conseqüente produção de
ácido láctico.
Nas amostras analisadas, as medidas de pH ficaram entre 6,54 e 6,83. É importante salientar
que a germinação dos esporos do Clostridium botulinum no alimento ocorre em condições
anaeróbicas (alimentos embalados ou lacrados) em que o pH é superior a 4,5 e com uma
77
elevada atividade água. Nessas condições, a forma esporulada se transforma na forma
vegetativa produzindo a toxina dentro do recipiente durante o armazenamento (SCARCELLI;
PIATTI, 2002).
Dessa forma, em se verificando que o pH e a atividade de água não formam barreiras
suficientes para proporcionar a estabilidade dos produtos, existe a necessidade da aplicação de
mais obstáculos ao desenvolvimento microbiano.
5.2.4 Nitrito Residual
A TABELA 14 apresenta os resultados dos ensaios da determinação de nitrito residual nas 03
formulações durante o período de armazenamento por 7 dias.
TABELA 14 - Nitrito residual das salsichas processadas
Massa Tempo zero 1 dia 3 dias 5 dias 7 dias
A
150ppm NO2
B
250ppm NO2
C
200ppm NO2 e 50ppm NO3
160Bb±1 155Cb±1 152Cb±3
119,8±0,9 93,1Aa±0,9 90,5Ba±1,2 89,9Ba±0,6 89,0Ba±0,2 83,4Ca±0,3
Nitrito residual (ppm)
122Bc±1
Formulações
163±1 131,9Ac±0,5 131Ac±1 123Bc±1
205±2 168Ab±1 164ABb±1
120,9Bc±0,4
*Letras maiúsculas iguais na mesma linha não diferem significativamente quanto ao nitrito residual (p≤0,05) ao longo do tempo. Letras minúsculas iguais na mesma coluna, não diferem significativamente quanto ao nitrito residual (p≤0,05) independente do tratamento. **Resultados das médias de três determinações em cada formulação (± desvio padrão). Os resultados obtidos reiteram as evidências cientificas e tecnológicas da redução do nitrito
durante as etapas de produção. Na produção de salsicha este fato é evidenciado em dois
momentos distintos: na elaboração da massa e no cozimento do produto (BRASIL, 2008).
78
Em ambas formulações, podemos constatar que a quantidade adicionada de nitrito de sódio na
massa elaborada foi quantificada com perdas equivalentes a 20,1%, 18% e 18,5%
respectivamente, sendo esta perda proveniente das interações com os demais componentes da
formulação e do processamento para elaboração da massa fina. Este efeito já havia sido
evidenciado em outros trabalhos científicos apontando que após o contato com a carne ocorre
uma redução de nitrito média 16 a 20% do adicionado (HUSTAD et al., 1973;
CHRISTIANSEN et al., 1973).
Após a finalização do processo de cozimento e conclusão do processo produtivo da salsicha
foram avaliados os residuais no tempo zero das 3 formulações. Esta avaliação indica que
durante o cozimento ocorreram perdas equivalentes a 22,3%, 18,2% e 18,9% respectivamente.
O processamento do cozimento pode ser responsável pela redução do nitrito apenas em alguns
casos. Estudos apontam que na elaboração de Carne Curada Cominuida a redução na etapa do
cozimento não foi evidenciada mas em casos de salsichas relatos apontam perda que podem a
chegar a 35% do nitrito adicionado (HUSTAD et al., 1973; CHRISTIANSEN et al., 1973).
Com isso, pode-se concluir que na etapa de processamento parte do nitrito é degradada, sendo
esta perda nas formulações sucessivamente de 38%, 33% e 34% frente à quantidade
adicionada. Trabalhos apontam que a perda na etapa de processamento pode alcançar redução
de cerca de 51% na etapa de processamento, assim, aproximadamente 33% da adição de
nitrito permaneceria no produto após preparação. Portanto países e mercados comuns que
regulamentam os limites máximos de uso do conservante nitrito nos seus produtos cárneos
pela quantidade adicionada devem tomar um cuidado adicional frente a estes resultados
obtidos já que este conservante é uma importante barreira ao crescimento de microorganismos
patogênicos.
Na etapa de acondicionamento também ficou evidenciada a redução do nitrito, porém em
menores proporções quando comparado à etapa do processamento. Esta situação deve-se ao
fato de que ambas as formulações foram preservadas em condições controladas de
temperatura durante o estudo simulando a condição de refrigeração doméstica. Estudos
apontam que a redução do nitrito é dependente da temperatura. Algumas citações mencionam
que quando utilizada a refrigeração ocorre uma perda de pequena parcela do residual do
nitrito. Já em produtos mantidos em condições ambientes pode ocorrer a perda total do
79
residual nos 3 primeiros dias após sua elaboração (HUSTAD et al., 1973; CHRISTIANSEN
et al., 1973).
A análise estatística dos resultados foi realizada e evidência que em alguns momentos ocorre
uma diferença significativa entre ensaios. Contudo, não é possível identificar um padrão
comum a todos principalmente devido à complexidade cinética do sistema.
A FIGURA 17 apresenta o comportamento do nitrito residual nas 03 formulações desde a
adição até o término do período de armazenamento.
FIGURA 17 – Comportamento dos residuais de nitrito durante o processamento e o
acondicionamento das 3 formulações.
Ressaltamos que a redução evidenciada na FIGURA 17 varia de produto a produto, quer seja
pela tecnologia empregada, quer seja pelos teores de mioglobina e hemoglobina presentes na
massa muscular (BRASIL, 2008). Portanto a redução verificada neste estudo corresponde a
formulação e processo produtivo empregado e em caso de substituição de ingredientes ou
alteração no processamento realizado nova avaliação deve ser realizada.
80
5.2.5 Nitrato Residual
Ambos os métodos analíticos empregados para a quantificação de nitrato nas salsichas de
mercado se mostraram eficientes, mas a metodologia empregando a coluna de cádmio
apresentou coeficiente de variação médio ligeiramente inferior. Por este motivo foi escolhido
para ser utilizado no estudo cinético da variação do teor de nitrato.
A TABELA 15 apresenta os resultados dos ensaios da determinação de nitrato residual nas 03
formulações durante o período de armazenamento por 7 dias.
Tempozero
A150 ppm NO2
B250 ppm NO2
C200 ppm NO2 e 50 ppm NO3
54±6 56Bc±4 58ABc±1 61ABc±2 64Ac±2 64Ac±2
21±3 19Db±3 24,5BCb±0,6 21CDb±1 26Bb±2 30Ab±1
14±2 11Aa±2 17Aa±1 14Aa±1 15Aa±3 24Ba±2
Nitrato expresso em nitrito residual (ppm)
Massa 1 dia 3 dias 5 dias 7 diasFormulações
*Letras maiúsculas iguais na mesma linha não diferem significativamente quanto ao nitrato expresso em nitrito residual (p≤0,05) ao longo do tempo. Letras minúsculas iguais na mesma coluna, não diferem significativamente quanto ao atributo b* (p≤0,05) independente do tratamento. **Resultados das médias de três determinações em cada formulação (± desvio padrão).
Através dos resultados apresentados na TABELA 15, mesmo o conservante nitrato não sendo
adicionado na formulação o mesmo foi quantificado nas salsichas. Tal resultado era esperado,
uma vez que o residual de nitrato pode ser decorrente da interação de ingredientes da composição
da salsicha sendo que a presença deste íon pode ser proveniente da água utilizada no
processamento, assim como de especiarias e de resíduos de nitrato do próprio nitrito e no sal
utilizado. Este efeito também pode ser proveniente de reações químicas já que o nitrito é uma
substância química muito reativa com forte ação óxido-redutora e nitrosante, podendo ser
convertida a formas como nitrato, oxido nítrico, trióxido de dinitrogênio e ácido nítrico
(ARAUJO, 1999).
81
A detecção de residuais de nitratos onde o aditivo conservante empregado foi o nitrito não é
uma surpresa. Vários autores (CHEAH, 1976; HERRING, 1973; LEE et al., 1978; MÖHLER,
1971, 1974; NEWMARK et al., 1973; WALTERs et al., 1967) atribuem a formação de nitrato
a partir do nitrito adicionado a carne devido a uma oxidação simultânea de nitrito a nitrato e
do ion Fe3+ da oximioglobina para o ion Fe2+ da metamioglobina.
A presença de eritorbato de sódio parece ter um papel catalisador nesta reação, aumentando a
formação do nitrato. Mesmo em sistemas cárneos onde não existe a presença de eritorbato a
formação de nitrato se explica pela presença de enzimas redutoras que atuam da mesma forma
que o antioxidante, porém com menor intensidade. O mecanismo proposto envolve a redução
inicial da metamiglobina a mioglobina sendo que posteriormente, na presença de oxigênio a
mioglobina e o nitrito são oxidados a metamioglobina e nitrato, respectivamente. O ascorbato
é então regenerado da redução do dehidroascorbato.
Ressalte-se que a constatação supracitada é bastante importante do ponto de vista das regras
atuais sobre rotulagem de alimentos embalados onde o fabricante obrigatoriamente deve
declarar na lista de ingredientes apenas os componentes da formulação. Nos casos das
formulações A e B, o nitrato não seria mencionado na lista de ingredientes, porém foi
quantificado no produto. Infelizmente algumas autoridades sanitárias por desconhecimento
das reações que envolvem a formação do nitrato acabam autuando as empresas por não
mencionar o nitrato na lista de ingredientes alegando não conformidade com a Resolução
RDC nº 259, de 20 de setembro de 2002 (BRASIL, 2002).
A análise estatística dos resultados de nitrato expresso em nitrito foi realizada com o mesmo
mecanismo do nitrito e evidência que em alguns momentos ocorre uma diferença significativa
entre ensaios. Contudo, também não foi possível identificar um padrão comum a todos
principalmente devido à complexidade cinética do sistema estudado.
A FIGURA 18 apresenta o comportamento do nitrato expresso em nitrito residual nas 03
formulações desde a adição até o término do período de armazenamento.
82
FIGURA 18 – Curva comportamento dos residuais de nitrato expresso em nitrito durante o
processamento e o acondicionamento das 3 formulações.
Outra evidência verificada foi o aumento gradativo dos residuais de nitrato durante o
armazenamento observado nas 3 formulações. Este aumento foi evidenciado principalmente
nas composições onde o nitrato não foi adicionado.
5.2.6 Análises Microbiológicas
5.2.6.1 Contagem padrão de microrganismos mesófilos aeróbios e anaeróbios facultativos
A pesquisa dos microrganismos indicadores é utilizada para avaliar a qualidade
microbiológica dos alimentos e apontar riscos de contaminações de origem fecal com a
provável presença de patógenos ou ocorrência de deterioração do alimento. Além disso,
83
fornecem indicações relevantes sobre as condições higiênico-sanitárias durante o
processamento, a produção e o armazenamento (FRANCO; LANDGRAF, 1996). A maioria
dos microrganismos que se encontram em produtos cárneos são os aeróbios mesófilos, e
poucos conseguem se desenvolver em temperaturas inferiores a 7 ºC. Sua contagem tem sido
usada como indicador de qualidade higiênica dos alimentos e, quando presente em grande
número, indica falhas durante a produção (CARDOSO et al., 2005).
Para a Contagem Padrão de Microrganismos Mesófilos Aeróbios e Anaérobios Facultativos
das salsichas processadas observam-se que a variação nesta pesquisa foi de <10 UFC/g a
5×103 UFC/g lembrando apenas que não existe limite regulamentado para este microrganismo
na legislação brasileira. Os resultados indicam que no tempo 3 dias ocorre um aumento na
contagem e no tempo 7 dias esta tendência é novamente confirmada nas 3 formulações,
embora tais variações não tenham sido constatadas no tempo 5 dias.
TABELA 16 - Contagem Padrão de Microrganismos Mesófilos Aeróbios e Anaérobios
Facultativos das salsichas processadas
Tempo zero 3 dias 5 dias 7 dias
A
150ppm NO2
B
250ppm NO2
C
200ppm NO2e 50ppm NO3
< 10 100 < 10 250
Contagem padrão em placas (UFC/g)
< 10 50 < 10 950
< 10 100 < 10 5000
Formulações
Os resultados obtidos compilados na TABELA 16 demonstram condições higiênico-sanitárias
semelhantes nas 3 formulações elaboradas. Nogueira Pinto et al. (1999) observaram em seu
estudo que 44,7% das amostras de salsichas de mercado avaliadas apresentaram contagens de
mesófilos entre 102 e 103 UFC/g e 28,94% apresentaram contagens acima de 105 UFC/g. Com
84
estes resultados podemos afirmar que os níveis de contagem entre 102 e 103 UFC/g
evidenciados por Nogueira Pinto et al. (1999) foram alcançados apenas no final da vida de
prateleira das 3 formulações propostas neste trabalho.
Não foi possível constatar diferenças entre as dosagens empregadas dos conservantes e o
desenvolvimento desses microrganismos no produto. Provavelmente a manutenção dos
residuais principalmente de nitrito nas amostras aliada ao controle de temperatura com os
cuidados na manipulação tenham contribuído favoravelmente para os bons resultados
microbiológicos alcançados.
5.2.6.2 Bactérias Láticas
Os resultados das avaliações microbiológicas às quais as salsichas foram submetidas durante
o período de armazenamento por 7 dias, sob condições de aquisição a granel, estão
apresentados na TABELA 17.
TABELA 17. Bactérias Láticas das salsichas processadas
Tempo zero 3 dias 5 dias 7 dias
A
150 ppm NO2
B
250 ppm NO2
C
200 ppm NO2 e 50 ppm NO3
< 10 < 10 < 10 10
< 10 < 10 < 10 20
< 10 < 10 < 10 20
FormulaçõesBactérias láticas (UFC/g)
85
Por meio destas análises verificou-se que condições controladas de temperatura sem
oscilações térmicas durante o armazenamento das salsichas e cuidados higiênicos no
manuseio do produto evitaram o crescimento de bactérias láticas, o principal grupo de
microrganismos deteriorantes deste tipo de embutido. É bom salientar que nem sempre essas
condições e cuidados são observados nos produtos comercializados a granel. Não foi possível
constatar diferenças significativas entre as dosagens empregadas dos conservantes e o
desenvolvimento deste microorganismo no produto.
Geralmente as salsichas expostas à venda a granel têm duas formas de acondicionamento:
embaladas a vácuo resfriada ou a vácuo congelado. As embalagens de salsicha são abertas
quando estão refrigeradas e expostas ao consumidor em prateleira refrigerada para que possa
ser pesada em sacos plásticos e conferida nova vida de prateleira que pode variar de 3 a 7 dias
conforme o ponto de venda. Nos casos das salsichas congeladas, previamente ocorre o
descongelamento em câmara fria para posteriormente exposição à venda.
A enumeração de bactérias láticas somente resultou em valor acima do seu limite de
quantificação no tempo 7 dias, quando foi possível constatar concomitantemente, uma
pequena queda no pH frente aos resultados obtidos nos demais tempos. É possível que esta
oscilação tenha sido ocasionada pela ação de bactérias láticas sobre os açúcares com
conseqüente produção de ácido lático.
5.2.7 Cor
A avaliação objetiva da cor tornou-se uma medida muito importante para obtenção de
informações sobre a qualidade dos embutidos cárneos em geral. Neste sentido, mesmo sem
padrões para cor de salsicha, foi mensurada a cor interna e a superficial das amostras em
questão.
86
5.2.7.1 Cor – Interna
Os resultados de L* (luminosidade), a* (intensidade da cor vermelha), b* (intensidade da cor
amarela), para as amostras de salsicha não apresentaram alteração em relação ao tempo de
armazenamento, mantendo-se praticamente inalterados (TABELAs 18,19 e 20).
TABELA 18 - Atributo L* - Cor interna das salsichas processadas durante o tempo de
armazenamento
Tempo zero 3 dias 5 dias 7 dias
A
150ppm NO2
B
250ppm NO2
C
200ppm NO2 e 50ppm NO3
FormulaçõesL*
55,8ABa±0,8 57Aa±1 55Ba± 1 56ABa±1
56Aab±1 57Aa±1 56Aa±2 56Aa±1
58,0Ab±0,7 58,0Aa±0,7 56ABa±2 55Ba±1
*Letras maiúsculas iguais na mesma linha não diferem significativamente quanto ao atributo L* (p≤0,05) ao longo do tempo. Letras minúsculas iguais na mesma coluna, não diferem significativamente quanto ao atributo L* (p≤0,05) independente do tratamento. **Resultados das médias de três determinações em cada formulação (± desvio padrão).
87
TABELA 19 - Atributo a*- Cor interna das salsichas processadas durante o tempo de
armazenamento
Tempo zero 3 dias 5 dias 7 dias
A
NO2=150ppm
B
NO2=250ppm
C
NO2=200ppm e NO3=50ppm
Formulaçõesa*
15,4ABa
±0,6 13,9Ca
±0,3 16,2Aa
± 0,9 14,8BCa
±0,6
15,2Aa
±0,6 14,7Aa
±0,8 15Aa
± 1 15,4Aa
±0,9
14,5ABa
±0,5 14,3Ba
±0,3 14,8ABa
±0,3 15,2Aa±0,6
*Letras maiúsculas iguais na mesma linha não diferem significativamente quanto ao atributo a* (p≤0,05) ao longo do tempo. Letras minúsculas iguais na mesma coluna, não diferem significativamente quanto ao atributo a* (p≤0,05) independente do tratamento. **Resultados das médias de três determinações em cada formulação (± desvio padrão).
.
TABELA 20 - Atributo b*- Cor interna das salsichas processadas durante o tempo de
armazenamento
Tempo zero 3 dias 5 dias 7 dias
A
150ppm NO2
B
250ppm NO2
C
200ppm NO2 e 50ppm NO317,1ABa±0,4 16,9Aab±0,4 17,9ABa± 0,4 18,1Ba±0,9
17,4Aa±0,5 16,2Aa±0,4 19Ba± 1 17,4Aa±0,6
17,6Aa±0,9 17,5Ab±0,7 18Aa± 1 18,0Aa±0,9
Formulaçõesb*
*Letras maiúsculas iguais na mesma linha não diferem significativamente quanto ao atributo b* (p≤0,05) ao longo do tempo. Letras minúsculas iguais na mesma coluna, não diferem significativamente quanto ao atributo b* (p≤0,05) independente do tratamento. **Resultados das médias de três determinações em cada formulação (± desvio padrão).
88
As avaliações de cor das amostras em colorímetro foram realizadas a fim de constatar a
influência do nitrito e nitrato nesta característica física. O nitrito e o nitrato, dentre outras
funções, também são responsáveis por conferir e fixar a cor rósea avermelhada, característica
dos produtos cárneos. A cor de um produto cárneo está associada à conformação química e
concentração dos pigmentos heme, mais especificamente da mioglobina, nítrico proveniente
da redução do nitrito (FARIA et al., 2001).
Os resultados apresentados de cor interna, foram submetidos ao teste T para verificar se
ocorreram mudanças significativas na cor das salsichas. Foi possível evidenciar algumas
mudanças significativas pontuais, porém, sem retratar uma tendência.
Salientamos que o atributo a* (intensidade da cor vermelha) não apresentou diferenças
significativas entre as 03 dosagens empregadas dos conservantes. Este fato evidencia que
salsichas com maior residual de nitrito não necessariamente apresentarão coloração vermelha
mais atraente ao consumidor.
A perda de cor interna durante o armazenamento não ocorreu de forma significativa. Este fato
pode ser explicado com base na efetividade do sistema redutor de pigmentos, cujo principal
agente é o eritorbato de sódio que preserva a manutenção da nitrosilmioglobina (FARIA et al.,
2001).
5.2.7.2 Cor – Externa
Quanto à cor externa das salsichas processadas, os resultados estão apresentados nas
TABELAs 21, 22 e 23.
89
TABELA 21 - Atributo L*- Cor externa das salsichas processadas durante o tempo de
armazenamento
Tempo zero 3 dias 5 dias 7 dias
A
150ppm NO2
B
250ppm NO2
C
200ppm NO2 e 50ppm NO344,3
Aa±0,6 44,0
Aa±0,2 44,5
Aa±0,4 44,6
Aa±0,9
44Aa
±1 44,0Aa
±0,4 45,1Aa
± 0,6 44Aa
±1
43,9ABa
±0,7 43,7Ba
±0,3 44,8Aa
±0,8 44,8Aa
±0,5
FormulaçõesL*
*Letras maiúsculas iguais na mesma linha não diferem significativamente quanto ao atributo L* (p≤0,05) ao longo do tempo. Letras minúsculas iguais na mesma coluna, não diferem significativamente quanto ao atributo L* (p≤0,05) independente do tratamento. **Resultados das médias de três determinações em cada formulação (± desvio padrão). TABELA 22 - Atributo a*- Cor externa das salsichas processadas durante o tempo de
armazenamento
Tempo zero 3 dias 5 dias 7 dias
A
150ppm NO2
B
250ppm NO2
C
200ppm NO2 e 50ppm NO333,8Ac±0,4 32,2Bc±0,6 33,3Ab±0,7 31,3Bc±0,2
31,9Aa±0,5 30,2Ba±0,4 29,6Ba± 0,6 30,2Ba±0,4
34,6Ab±0,5 33,8Ab±0,7 32,7Bb±0,5 32,5Bb±0,4
Formulaçõesa*
*Letras maiúsculas iguais na mesma linha não diferem significativamente quanto ao atributo a* (p≤0,05) ao longo do tempo. Letras minúsculas iguais na mesma coluna, não diferem significativamente quanto ao atributo a* (p≤0,05) independente do tratamento. **Resultados das médias de três determinações em cada formulação (± desvio padrão).
90
TABELA 23 - Atributo b*- Cor externa das salsichas processadas durante o tempo de
armazenamento
Tempo zero 3 dias 5 dias 7 dias
A
150ppm NO2
B
250ppm NO2
C
200ppm NO2 e 50ppm NO3
48Aa±2 48Aa±2 49Aa±2 47Aa±2
45Ab±1 48ABa±2 49Ba±2 47ABa±1
46Aab±2 47ABa±1 49Ba±2 47ABa±1
Formulaçõesb*
*Letras maiúsculas iguais na mesma linha não diferem significativamente quanto ao atributo b* (p≤0,05) ao longo do tempo. Letras minúsculas iguais na mesma coluna, não diferem significativamente quanto ao atributo b* (p≤0,05) independente do tratamento. **Resultados das médias de três determinações em cada formulação (± desvio padrão).
Com base nos resultados apresentados nas TABELAs 21, 22 e 23, a cor superficial foi
avaliada por meio do teste T com o objetivo de verificar se ocorreram mudanças significativas
na cor das salsichas. A avaliação demonstrou que existe uma mudança significativa no
atributo a* em todas as dosagens empregadas dos conservantes nas formulações.
Esta avaliação torna-se importante, pois os pigmentos de carnes curadas estão susceptíveis à
descoloração promovida pela ação de bactérias, que desenvolvem uma coloração verde na
superfície do produto. Sob condições aeróbias, a bactéria responsável pelo esverdeamento
produz peróxido de hidrogênio, que oxida diretamente o pigmento da carne. A descoloração é
geralmente acompanhada pela formação de um limo, oriundo de um crescimento excessivo de
microrganismos (FARIA et al., 2001).
91
6 CONCLUSÃO
Os resultados das análises das salsichas de mercado indicam que nenhuma das amostras
excedeu os limites individuais regulamentados para o atributo nitrito. Quando o nitrato foi
analisado por redução em coluna de cádmio, dois dos quinze fabricantes de salsichas
comercializadas na região metropolitana de São Paulo não atenderam às normas legais
vigentes quanto ao limite de uso de aditivos conservantes quando aplicada a soma de aditivos
de mesma função. Já no método de quantificação do nitrato por meio de agitação em sistema
aberto um único fabricante de salsicha seria acionado legalmente.
Ambos os métodos analíticos empregados para a quantificação de nitrato se mostraram
eficientes e com resultados bastante semelhantes, sendo que, em coluna o coeficiente de
variação médio apresentou-se ligeiramente inferior.
As salsichas hot dog processadas para este trabalho atenderam aos requisitos da legislação
brasileira sobre os padrões de identidade e qualidade de salsichas. Os parâmetros pH, cor
interna e cor externa apresentaram pequena variação durante o acondicionamento. A redução
do nitrito foi evidenciada na fabricação e no acondicionamento do produto sendo o
comportamento do nitrato inverso, ou seja, mesmo em formulações isenta deste aditivo, o íon
foi quantificado e foi demonstrado que ao longo da vida de prateleira existe um acréscimo
deste componente. A vida útil da salsicha a granel empregada na comercialização pelas redes
de supermercados na região metropolitana de São Paulo demonstrou ser adequadas do ponto
de vista microbiológico nas 3 formulações avaliadas desde que permaneçam sob controle
adequado da temperatura de armazenamento e de higiene na manipulação, tanto no ponto de
venda quanto na residência do consumidor.
92
PROPOSTA PARA CONTINUAÇÃO DO TRABALHO
Sugere-se, de acordo com as conclusões acima e com apoio na literatura, que mais estudos
sejam realizados no sentido de:
a) Avaliar o comportamento microbiológico das formulações em outras temperaturas de
acondicionamento, simulando eventuais abusos.
b) Avaliar a alteração dos teores de nitrito e de nitrato conforme variações na proporção
das matérias primas empregadas com a finalidade de realizar uma modelagem. Com isso os
frigoríficos teriam uma equação a ser utilizada para estimar o residual de nitrito e nitrato ao
final do processamento e da vida de prateleira, de acordo com os insumos e matérias primas
cárneo empregadas no seu processo tecnológico.
93
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94
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98
ANEXO A - INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 4, DE 31 DE MARÇO DE 2000
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO
SECRETARIA DE DEFESA AGROPECUÁRIA
INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 4, DE 31 DE MARÇO DE 2000
O SECRETÁRIO DE DEFESA AGROPECUÁRIA DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, no uso da atribuição que lhe confere o art. 83, inciso IV do Regimento Interno da Secretaria, aprovado pela Portaria Ministerial nº 574, de 8 de dezembro de 1998, considerando que é necessário instituir medidas que normatizem a industrialização de produtos de origem animal, garantindo condições de igualdade entre os produtores e assegurando a transparência na produção, processamento e comercialização, e o que consta do Processo nº 21000.003863/99-12, resolve:
Art. 1º. Aprovar os Regulamentos Técnicos de Identidade e Qualidade de Carne Mecanicamente Separada, de Mortadela, de Lingüiça e de Salsicha em conformidade com os Anexos desta Instrução Normativa.
Art. 2º. Esta Instrução Normativa entra em vigor na data de sua publicação.
LUIZ CARLOS DE OLIVEIRA
ANEXO IV
REGULAMENTO TÉCNICO DE IDENTIDADE E QUALIDADE DE SALSICHA
1. Alcance
1.1. Objetivo: Fixar a identidade e as características mínimas de qualidade que deverá apresentar o produto cárneo industrializado denominado Salsicha.
1.2. Âmbito de Aplicação: O presente regulamento refere-se ao produto Salsicha destinado ao comércio nacional e/ou internacional.
2. Descrição
2.1. Definição: Entende-se por Salsicha o produto cárneo industrializado, obtido da emulsão de carne de uma ou mais espécies de animais de açougue, adicionados de ingredientes, embutido em envoltório natural, ou artificial ou por processo de extrusão, e submetido a um processo térmico adequado.
99
Nota: As salsichas poderão ter como processo alternativo o tingimento, depelação, defumação e a utilização de recheios e molhos.
2.2. Classificação
Trata-se de um produto cozido.
De acordo com a composição da matéria-prima e das técnicas de fabricação: Salsicha. - Carnes de diferentes espécies de animais de açougue, carnes mecanicamente separadas até o limite máximo de 60%, miúdos comestíveis de diferentes espécies de animais de açougue (Estômago, Coração, Língua, Rins, Miolos, Fígado), tendões, pele e gorduras.
Salsicha.Tipo Viena - Carnes bovina e/ ou suína e carnes mecanicamente separadas até o limite máximo de 40%, miúdos comestíveis de bovino e/ ou suíno (Estômago, Coração, Língua, Rins, Miolos, Fígado), tendões, pele e gorduras.
Salsicha.Tipo Frankfurt - Carnes bovina e/ ou suína e carnes mecanicamente separadas até o limite de 40%, miúdos comestíveis de bovino e/ ou suíno (Estômago, Coração, Língua, Rins, Miolos, Fígado) tendões, pele e gorduras.
Salsicha.Frankfurt - Porções musculares de carnes bovina e/ ou suína e gorduras.
Salsicha.Viena -Porções musculares de carnes bovina e/ ou suína e gordura.
Salsicha.de Carne de Ave - Carne de ave e carne mecanicamente separada de ave, no máximo de 40%, miúdos comestíveis de ave e gorduras.
2.3. Designação (Denominação de Venda): Será denominada de Salsicha e opcionalmente poderá ter as seguintes denominações, isoladas ou combinadas de acordo com a sua apresentação para venda:
Salsicha Salsicha.Viena Salsicha.Frankfurt Salsicha Tipo Viena Salsicha Tipo Frankfurt Salsicha de Carne de Ave Salsicha de Peru Outras
3. Referências
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- Code of Federal Regulations, Animal and Animal Products, USA, 1982.
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100
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- Programa Nacional de Controle de Resíduos Biológicos. Portaria nº 110 de 26 de Agosto de 1996, Ministério da Agricultura, Brasil.
- Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal - RIISPOA
Decreto nº 30.691, de 29 de março de 1952.
- Resolução 91/94- Mercosul, Portaria 74 de 25/05/95, Ministério da Ind., Com. e Turismo, Brasil.
- Resolução GMC 36/93- Mercosul, 1993.
- Portaria nº 368, de 04/09/97 - Regulamento Técnico sobre as Condições Higiênico- Sanitárias e de Boas Práticas de Elaboração para Estabelecimentos Elaboradores/ Industrializadores de Alimentos- Ministério da Agricultura e do Abastecimento, Brasil.
- Portaria nº 371, de 04/09/97 - Regulamento técnico para Rotulagem de Alimentos - Ministério da Agricultura e do Abastecimento, Brasil.
- Normas ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) - Plano de Amostragem e Procedimentos na Inspeção por atributos- 03.011- NBR 5426 - Jan/1985 Portaria n º 1004 de 11.12.98 - Regulamento Técnico Atribuição de Função de Aditivos, Aditivos e seus Limites Máximo de uso para a Categoria 8 - Carne e Produtos Cárneos - Ministério da Saúde, Brasil
- Instrução Normativa n. 20 de 21.07.99, publicada no DOU de 09.09.99 - Métodos Analíticos Físico-químicos para Controle de Produtos Cárneos e seus Ingredientes
- Sal e Salmoura - SDA - Ministério da Agricultura e Abastecimento, Brasil.
4. Composição e Requisitos
4.1. Composição
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4.1.1. Ingredientes Obrigatórios: Carnes das diferentes espécies de animais de açougue, conforme designação do produto, observando definição estabelecida no Codex Alimentarius. Sal.
4.1.2.Ingredientes Opcionais
4.1.2.1 - O emprego de miúdos e vísceras comestíveis (coração, língua, rins, estômagos, pele, tendões, medula e miolos), fica limitado no percentual de 10%, utilizados de forma isolada ou combinada, exceto nas Salsichas Viena e Frankfurt.
4.1.2.2. - Outros Ingredientes Opcionais
Gordura animal ou vegetal Água Proteína vegetal e/ ou animal Agentes de liga Aditivos intencionais Açucares Aromas, especiarias e condimentos
Nota: Permite-se a adição de proteínas não cárnicas de 4,0% (max.), como proteína agregada. Não será permitida a adição de proteínas não cárnicas nas salsichas Viena e Frankfurt, exceto as proteínas lácteas.
4.2. Requisitos
4.2.1. Características Sensoriais 4.2.1.1.Textura : Característica 4.2.1.2.Cor : Característica 4.2.1.3.Sabor : Característico 4.2.1.4.Odor : Característico 4.2.2. Características Físico-Químicas Amido (máx.)1 - 2,0% Carboidratos Totais (máx.)1 - 7,0% Umidade (máx.) - 65% Gordura (máx.) - 30% Proteína (mín.) - 12% PRODUTO TEOR DE CÁLCIO EM BASE SECA Salsicha 0,9 % Salsicha Viena 0,1 % Salsicha Frankfurt 0,1 % <Salsicha> Tipo Viena 0,6 % Salsicha Tipo Frankfurt 0,6 % Salsicha de Ave 0,6 %
(1)A somatória dos açúcares totais (carboidratos totais incluindo os de origem do amido ou da fécula) não deverá ultrapassar o teor de 7% (sete por cento), sendo que o teor máximo de
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amido se limita a 2% (dois por cento).(Redação dada pela Instrução Normativa
36/2011/SDA/MAPA)
4.2.3. Acondicionamento: As salsichas deverão ser embaladas com materiais adequados para as condições de armazenamento e que assegure uma proteção apropriada contra a contaminação.
5. Aditivos e Coadjuvantes de Tecnologia/ Elaboração Deverá obedecer a legislação vigente.
6. Contaminantes: Os contaminantes orgânicos e inorgânicos não deverão estar presentes em quantidades superiores ao limite estabelecido pelo regulamento vigente.
7. Higiene
7.1. Considerações Gerais
7.1.1. Sugere-se que as práticas de higiene para a elaboração do produto, estejam de acordo com o estabelecimento no:
- "Código Internacional Recomendado de Práticas de Higiene para os Produtos Cárnicos Elaborados" (Ref. CAC/RCP 13 - 1976 (rev. 1, 1985)
- "Código Internacional Recomendado de Práticas de Higiene para a Carne Fresca" (CAC/RCP 11-1976 (rev. 1, 1993)
- "Código Internacional Recomendado de Práticas - Princípios Gerais de Higiene dos Alimentos" (Ref.: CAC/RCP 1 - 1969 (rev. 2 - 1985)) - Ref. Codex Alimentarius, vol. 10, 1994.
7.1.2. Toda a carne usada para elaboração de Salsichas deverá ter sido submetida aos processos de inspeção prescritos no RIISPOA - "Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal" - Decreto nº 30691, de 29/03/1952 .
7.1.3. As carnes cruas, miúdos e gorduras e as Salsichas já elaborados, deverão ser manipuladas, armazenadas e transportadas em locais próprios de forma que as carnes, gorduras e miúdos e as Salsichas não deverão ficar expostos à contaminação ou adicionada de qualquer substância nociva para o consumo humano.
7.1.4. As Salsichas deverão ser tratadas termicamente em conformidade com as seções 7.5 e 7.6.1 à 7.6.7 do "Código Internacional Recomendado de Práticas de Higiene para Alimentos pouco Ácidos e Alimentos pouco Ácidos Acidificados Envasados".
7.2. Critérios Macroscópicos: Deverá atender a regulamentação especifica.
7.3. Critérios Microscópicos: Deverá atender a regulamentação especifica
7.4. Critérios Microbiológicos
Aplica-se a legislação vigente.
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8. Pesos e Medidas
Aplica-se o Regulamento vigente.
9. Rotulagem
9.1. Aplica-se o Regulamento vigente (Portaria n° 371, de 04/09/97) Regulamento Técnico para Rotulagem de Alimentos - Ministério da Agricultura e do Abastecimento, Brasil).
10. Métodos de Análises Físico-Químicos Instrução Normativa n. 20 de 21.07.99 , publicada no DOU de 09.09.99 - Métodos Analíticos Físico-Químicos para Controle de Produtos Cárneos e seus Ingredientes - Sal e Salmoura -SDA -Ministério da Agricultura e Abastecimento, Brasil.
11. Amostragem
Seguem os procedimentos recomendados na Norma vigente.
D.O.U., 05/04/2000
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ANEXO B – LAUDOS DO LABORATÓRIO BIOAGRI ALIMENTOS SILLIKER –ANÁLISES MICROBIOLÓGICAS
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