Arquitetura, Conforto e Iluminação – a importância do estado da transcendência janeiro/2013
Arquitetura, Conforto e Iluminação – a importância do estado da
transcendência
Tamires Oliveira Cabral [email protected]
Design de Interiores e Iluminação IPOG
Resumo
A relação entre arquitetura, conforto e iluminação e a emoção produzida por esses fatores é
o que aborda esse artigo, que busca responder se os ambientes podem emociona e qual seria
a importância dessa emoção na percepção ambiental. Sendo a percepção ambiental a
resposta à interpretação dos espaços; os espaços os ambientes físicos que estimulam os
nossos sentidos e pensamentos, e que buscam suprir nossas necessidades; e a emoção uma
das necessidades do ser humano, acredita-se que as sensações e emoções provocadas por um
ambiente é de fundamental importância para a sua compreensão. Assim o objetivo desse
trabalho é verificar se todo ambiente precisa, entre outras coisas, emocionar o seu
observador/usuário; averiguar se a emoção proporcionada pelo ambiente depende de como
este estimula nossos sentidos, nossos valores pessoais, familiares, sociais e culturais; e
constatar como o mais ativo dos cinco sentidos pode influenciar a percepção ambiental. As
questões levantadas nesse artigo puderam ser solucionadas a partir de uma pesquisa
bibliográfica, que está focado no livro de SCHMID, e uma pesquisa rápida para verificar se
a teoria se aplica a prática. Como resultado constatou-se que a emoção é elemento de
fundamental importância para a percepção do ambiente, e consequentemente para a relação
entre o homem e o espaço, e que os conceitos de arquitetura e conforto são indiciáveis e a
iluminação é um dos elementos que os compõem.
Palavras-chave: Arquitetura; conforto; iluminação; emoção; percepção ambiental.
1. Introdução
A grande ruptura provocada pelo modernismo, nos conceitos de arquitetura e de conforto, é
hoje bastante questionada por grande parte das vertentes da arquitetura contemporânea.
As expressões forma segue a função e máquina de morar, assim como a busca implacável pela
racionalidade e funcionalidade são características bem típicas do modernismo, e produziram
uma arquitetura demasiadamente fria e utilitária, sem maiores importâncias ao aconchego e
afeto.
Além disso, o bom desenvolvimento tecnológico da época introduziu na construção novas
possibilidades para a iluminação e a ventilação. Essas conquistas ocasionaram por sua vez a
substituição gradual dos sistemas naturais pelos artificiais, o que gerou o aparecimento de
edifícios isolados do meio, através de imensos painéis de vidro, numa falsa idealização de
interação entre os espaços internos e externos; e onde pairava uma alienação temporal e uma
dependência energética.
Apesar do próprio Le Corbusier acreditar que a arquitetura é para emocionar, a distância entre
a domesticidade e a funcionalidade, dificultou essa característica na arquitetura moderna, e no
lugar de uma arquitetura ímpar com plena capacidade emotiva, deu-se lugar a uma produção
repetitiva, monótona e não convidativa.
Contrapondo-se a toda essa padronização e rigidez moderna, aparecem na arquitetura
contemporânea teorias que buscam retornar a valorização dos sentimentos proporcionados
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pela edificação; da domesticidade; e do transcendental. Essa arte passa a ser enxergada de
uma nova forma: A arquitetura vai além do abrigo das necessidades e atividades e, no meu entender,
seria um meio de favorecer e desenvolver o equilíbrio, a harmonia e a evolução
espiritual do homem, atendendo às suas aspirações, acalentando seus sonhos,
instigando as emoções de se sentir vivo, desenvolvendo nele um sentido afetivo em
relação ao locus e ao topo. (OKAMOTO, 2002, p. 15)
A partir dessa descrição percebemos que o que se busca na arquitetura é a ideia de conforto
em seus quatro contextos: físico, psico-social, sócio-cultural e ambiental. Dessa forma busca-
se neste artigo entender de forma superficial cada um desses contextos, suas relações, focar as
questões do conforto ambiental, a importância do fator emocional dentro da arquitetura, e
como a arquitetura e a iluminação podem interferir na questão do conforto e na percepção dos
espaços.
2. O prazer na arquitetura
A preocupação de Tschumi, nos anos 70, com a “exclusão do corpo e de sua experiência de
todos os discursos sobre a lógica da forma” nos faz pensar na existência da relação entre
corpo, experiência e arquitetura, e refletir sobre o conceito dessa ciência/arte.
Para Pinto, a arquitetura é reconhecida a partir de seus valores técnicos, práticos e artísticos:
do programa de necessidade é que decorrerão os valores arquitetônicos referentes às
necessidades materiais e às espirituais, as primeiras definindo os valores práticos da
arquitetura, e as segundas, consequentemente, os valores artísticos, que se prendem
no campo do conhecimento estético. Na realização das necessidades aparecem os
valores técnicos. (PINTO, apud SCHMID, 2005, p. 37 e 38).
- Valores técnicos e práticos
Enquanto ciência, a arquitetura nos remete a elementos racionais, a medidas precisas e a
cálculos matemáticos, onde o prazer é aqui traduzido pelo prazer da ordem, da proporção, e
do conceito.
Nesse contexto a arquitetura pode ser definida, segundo a Enciclopédia Britânica, de 1773,
como “governada pelas proporções, a arquitetura deve guiar-se pela régua e pelo compasso.”
(apud NESBITT, 2010, p.576).
Em busca dessa proporção, da racionalidade, da geometrização das formas e da ordem das
coisas, lembramos que já em 1492, Leonardo Da Vince lança no meio científico a ideia do
Homem Vitruviano, o qual mostra que as medidas do traçado e proporções do corpo humano
são perfeitas, e as insere no conceito do divino e clássico de beleza. Esta ideia nos faz então
entender essa relação entre corpo e arquitetura.
- Valores artísticos
Para o entendimento da inter-relação entre a arquitetura e a experiência, sentimento e emoção,
é necessário enxergar a arquitetura como arte difícil de ser retratada em palavras, sendo mais
viável descrevê-la através da vivência.
Para Schmid, é então admitir que essa arte pode chegar ao nível da transcendência, onde
“deseja-se que o ambiente atue sobre o estado de espírito” e acredita-se que “Interagimos com
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o ambiente construído, enquanto uma realidade física e matemática representável, através de
sensações.” (SCHMID, 2005, p. 38 e 42)
A toda sensação, que é percebida através dos sentidos, equivale uma emoção única e
individual, em que o contexto cultural e pessoal vão então criar esse momento ímpar, e dessa
forma fica claro a proximidade entre a arquitetura e o prazer.
- Interação entre os valores arquitetônicos
Apesar da dualidade entre esses valores, essa ciência/arte não poderia existir sem a presença
de ambos, é o que afirma Nesbitt em seu livro Uma nova agenda para a arquitetura “nem o
prazer do espaço nem o prazer da geometria são (por si sós) o prazer da arquitetura”.
(NESBITT, 2010, P. 576).
E esse conceito é então reafirmado por Abade Laugier em sua obra Observations sur
l’Architecture: Quem souber projetar bem um parque não terá dificuldade alguma para traçar o
plano de construção de uma cidade, em conformidade com a área e a situação dadas.
Deve haver regularidade e fantasia, relações e contrastes, e elementos casuais,
inesperados, que dão variedade a cena; grande ordem nos detalhes, confusão,
excitação e tumulto, no conjunto. (LAUGIER, apud NESBITT, 2010, p. 577).
Assim passamos a encarar a arquitetura como um elemento composto por controvérsia, que
surpreende as expectativas, e por isso está sempre em movimento e nos fazendo questionar.
Uma arte rígida e precisa, mas também maleável e encantadora capaz de produzir sensações,
as mais diversas possíveis.
No entanto, esses conceitos são pontos de vistas específicos de determinados grupos, não
sendo, portanto, verdades absolutas e admitidas em todo o meio acadêmico. Por isso vale
ressaltar que a linha de pensamento utilizada neste artigo é a de que arquitetura é sim uma
ciência/arte, com a capacidade de produzir sensações físicas, fisiológicas e emocionais em
seus observadores/usuários.
3. Percepção ambiental
Segundo Okamoto “As percepções decorrentes das sensações vão além das simples reações
aos estímulos externos, pois são acrescidas de outros estímulos internos, que intervêm e
conduzem o comportamento.” (OKAMOTO, 2002, p. 10).
Sendo a percepção o resultado de um estímulo externo que é captado através dos sentidos, e
processada e interpretada a partir dos valores pessoais, sociais, familiares e culturais, conclui-
se que para uma edificação ou um objeto ser plenamente compreendido ele precisa estimular
através de suas características físicas, e acima de tudo induzir um estímulo espiritual, uma
sensação e uma emoção nas pessoas.
Partindo-se desse pressuposto e contextualizando-o com a arquitetura verificamos que para
essa arte, ser percebida e compreendida, não a pode resumir a ideia de abrigo, onde se possam
satisfazer todas as necessidades básicas e utilitárias do homem, mas também é preciso que ela
venha atender as aspirações humanas.
No entanto, a cultura dos dias de hoje, derivada do modernismo, está pautada na valorização
da edificação e de suas soluções básicas e utilitárias, sobrepondo-se aos sentimentos, às
aspirações qualitativas e à psicologia dos usuários, e como afirma Okamoto “A arquitetura,
nessa conjuntura, transforma-se no palco da imagem expressiva dos valores objetivos de seus
autores.” (OKAMOTO, 2002, p. 12)
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Os edifícios passaram a corresponder a finalidades meramente funcionais, de estética abstrata,
onde o efeito público de demonstração da sua importância e do status social são mais
relevantes. Assim “a cidade passa a ser vista apenas como uma coleção de edifícios com
várias finalidades e usos” (OKAMOTO, 2002, p.12).
Podemos então destacar, neste tipo de arquitetura, a presença de uma escassa relação de
afetividade e apego com relação aos espaços de moradia, trabalho e lazer, o que afeta a
percepção visual e o entendimento dessas obras e faz perder a essência e o sentido da relação
entre o homem e o espaço.
Na tentativa de evitar a proliferação dessa arquitetura superficial, que transforma a nossa
percepção e faz a arquitetura se transformar em mero invólucro funcional, mostra-se que a
busca para atender também as aspirações humanas é de fundamental importância para a
percepção ambiental e a relação entre o homem e o espaço.
4. A ideia de conforto
O conforto é mais que a ausência de dor e pode ser apropriado, mesmo se a dor não
pode ser tratada inteiramente, através da atenção à transcendência. O incremento do
conforto envolve aumento da esperança e pode diminuir as complicações
relacionadas à alta ansiedade dos pacientes. (KOLCABA e WILSON, apud
SCHMID, 2005, p. 22).
O conceito da enfermagem, atribuído por Kolcaba e Wilson ao conforto, nos faz perceber que
a presença deste não se restringe ao simples alívio da dor. Para ser uma qualidade duradoura,
ele necessita ir além, passar pelo estágio da liberdade, onde se garanta a distância do risco de
a dor voltar; como também é necessário que haja uma compensação da dor, de modo que se
esqueça e se concentre em outros fatos.
Apesar de ser um conceito da saúde, esta definição é bastante defendida por Schmid, que
acredita ser o conforto um “sub-sistema de valores fundamental da arquitetura, que
compreende valores técnicos, práticos e artísticos”(SCHMID, 2005, p.5). Ele afirma, ainda,
que a visão limitada e retardatária do Modernismo que vê o conforto como item funcional,
estanque e precisamente definido não é suficiente. Para o autor “conforto não se limita a
neutralidade através da supressão dos fatores indesejáveis, mas também envolve algo mais.”
(SCHMID, 2005, p.22).
E assim como a arquitetura, o conforto é formado por aspectos físicos, fisiológicos e
emocionais e, para compreender o que seria esse algo mais, é necessário ter uma visão
holística, onde segundo os conceitos defendidos por Schmid o conforto possui duas
dimensões: os níveis e os contextos.
- Níveis
a) Alívio: o contraste entre uma situação de desconforto e uma de conforto;
b) Liberdade: a prevenção de outras formas do desconforto;
c) Transcendência: os pontos positivos do conforto que compense o desconforto.
- Contextos
a) Físico: ligado aos mecanismos homeostáticos e as sensações corporais;
b) Psico-espiritual: seria a consciência interna de si, estima, conceito e sexualidade;
c) Sócio-cultural: relações interpessoais, familiares e sociais;
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d) Ambiental: a base externa da experiência humana (temperatura, cor, luz, som, odor, entre
outros).
É ainda necessário perceber que para cada contexto existem os níveis e que a idéia de
conforto só é concretizada quando uma dada pessoa em determinada situação atinge os três
níveis dos quatro contextos.
Mesmo sabendo que a idéia de conforto não pode ser segregada, o artigo retratará, mais
especificamente, de um de seus contextos, o ambiental, buscando entende-lo a partir de uma
visão holística, e assim poder responder como a arquitetura e a iluminação podem interferir na
percepção do ambiente.
5. O conforto ambiental
Contexto de máxima relação com a arquitetura, o conforto ambiental, assim como essa arte,
tem o objetivo de garantir a seus usuários o abrigo, a proteção e a segurança.
Aproximando-se do contexto corporal nos níveis de alívio e liberdade, o ambiental busca a
prevenção das agressões de ordem física, ou seja, em relação à luz, som, ar, superfícies e
calor, e desta forma Schmid denomina essas qualidade de comodidade, afirmando ainda que
esta “É a condição encontrada, por excelência, dentro de casa”(SCHMID, 2005, p. 38).
Os demais contextos psico-espiritual e sócio-cultural estão relacionados com o nível da
transcendência, já que a ideai de conforto ambiental é bastante específica a cada pessoa, e
consequentemente a cada cultura, pois o que provavelmente é confortável para um, seja por
valores pessoais ou culturais, não o será para outro.
Na transcendência, espera-se que o espaço induza emoção, modificando positivamente o
estado de espírito. Sendo esta um produto do espaço, Schmid atribui-lhe os termos
“expressividade” ou “adequação”, onde o primeiro é usado para habitações e o segundo para
espaços públicos.
Na casa, a expressividade se dá de forma contida, ela não busca o monumental, o ostensivo, o
que verdadeiramente se deseja de uma casa é “estar acolhidos, protegidos, estáveis, supridos
em nossas necessidades fisiológicas, guarnecidos para o futuro, flexíveis para enfrentar os
imprevistos, aptos a repousar e sonhar e entretidos para que o vazio existencial não nos venha
a corromper a paz” (SCHMID, 2005, p. 39), e é por isso que se diz que é a casa onde se
alcança o ápice do conforto, onde se tem privacidade, intimidade e comodidade plena, pois
sua função está intimamente ligada às condições máximas de conforto.
Já nos espaços públicos o conceito muda. Aqui é mais provável a presença do exagero e,
diferentemente das casas, nesses ambientes as pessoas permanecem por razões outras como o
trabalho, o estudo ou o lazer. Deste modo não se tem a mesma privacidade, intimidade e
comodidade da casa, é necessário abdicar de certo conforto para se adequar as exigências
produtivas. No entanto, ainda se mantém certas condições necessárias a sobrevivência, e por
isso Schmid, convenientemente, chama esta qualidade de adequação. Para ele “a adequação é,
pois, a modificação no ambiente que, reduzindo o conforto, é necessária para o
desenvolvimento do trabalho.” (SCHMID, 2005, p. 40).
Baseado nessa visão holística percebe-se que conforto ambiental é uma sensação produzida
pelo ambiente que pode ocorrer de forma positiva ou negativa, dependente de seus
condicionantes físicos (comodidade) ou transcendentais (expressividade ou adequação).
6. Os sentidos humanos
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Os sentidos são os mecanismos de interface com a realidade. Interpretando os
estímulos externos, tem-se a percepção do ambiente, do evento, e pode-se atuar
nesse meio exterior, no qual se praticam as ações projetadas pelos pensamentos
conscientes ou inconscientes. (OKAMOTO, 2002, p. 116).
Tradicionalmente podemos falar da existência de cinco sentidos – visão, olfato, tato, audição
e paladar – que nos auxiliam na percepção dos espaços. Estes sentidos provocam um
comportamento não linear e imprevisível, que se modificam de acordo com o estado
emocional, o instinto, a memória, as necessidades e os valores pessoais, fazendo com que
captemos os fatos de uma forma individual e específica.
Como resultado da nossa percepção sensorial surge uma emoção, que pode ser ocasionada de
modo acidental, por circunstância pessoal, por fatores do inconsciente ou até mesmo de modo
proposital, sendo esta última a emoção própria das artes.
Mesmo não vivendo dentro de obras de artes, nem fazendo parte delas, interagimos
emocionalmente com o ambiente construído através dos sentidos. São eles que nos fazem
perceber o espaço e atribuir-lhe um conceito, uma interpretação. Logo percebemos que os
sentidos, influenciados pelas condições do espaço físico, entre elas o conforto, influenciam a
nossa percepção ambiental.
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- A visão
Dentre os cinco, a visão poderia ser considerada como o principal, já que ela é o mais
importante meio de aquisição do conhecimento dos espaços e gerador de estímulos. Ao
pararmos e analisarmos calmamente um objeto ou um espaço, segundo Okamoto, passamos
gradativamente por três níveis de percepção: a configuração dos objetos e seres; o volume,
pelo jogo de luz e sombra; e a ideia de peso, através da textura e padrão.
Em decorrência de tanta informação adquirida através de um simples olhar, o sentido da visão
é responsável por antecipar sensações, e assim ocupa aproximadamente 87% das atividades
entre os cinco sentidos, por isso ele nos dá a impressão de que o que vemos é a pura realidade.
No entanto, essa impressão pode muitas vezes está equivocada, pois uma das grandes
características da visão é a possibilidade de criar ilusão de ótica. O nosso olho capta as
imagens e, através do sistema nervoso, são transferidas para o cérebro, onde adquirem a
tridimensionalidade e são então interpretadas. Okamoto completa esse raciocínio dizendo que
“Pelo principio da compleição, sempre tendemos a completar as imagens, o que nos
possibilita criar ilusões de ótica. A visão pode ter imagens distorcidas ou mal interpretadas;
também pode ocorrer que visualizemos o que desejamos ver.”
Diante de tamanha importância da visão na percepção dos ambientes, nos deteremos a falar
sobre os aspectos envolvidos pelo sentido da visão.
7. Conforto visual
Seja natural ou artificial a luz tem a função primária de nos fazer enxergar, é ela a responsável
por estimular a visão humana, e então fazer com que enxerguemos as coisas a nossa volta. A
luz também é responsável por estimular nosso corpo e impor sensações. Dessa forma o
conforto visual se pronuncia através de duas esferas: a física (comodidade) e a emocional
(expressividade).
Em termos de comodidade, resume-se o conforto visual em seus níveis relativos e absolutos
de luminância específico para cada espaço. No entanto, nem mesmo a própria luz natural se
mantém constante durante o dia e o ano, ela se altera tanto em intensidade como em cor,
atingindo em um único dia os extremos, máxima claridade, durante as horas de sol a pino e
céu aberto, e a escuridão, durante a noite.
Logo se compreende que a luz artificial não precisa atender a padrões rígidos e rigorosamente
invariáveis, pois o nosso olho, para se adequar às condições naturais, possui uma grande
capacidade de adequação.
Segundo Schmid “Procuramos ver sem ferir os olhos e sem sofrer estresse; ver mais daquilo
que cada tarefa nos pede, e menos daquilo que nos desvia a atenção da tarefa.” (SCHMID,
2005, p. 275). Dessa forma, para garantir bons índices de comodidade, o que se busca é o
estado de sentir-se bem e o de enxergar.
Para garantir o bem-estar, o que se faz necessário em um ambiente é a eliminação da principal
manifestação de desconforto, que seria o ofuscamento – efeito provocado por um objeto
excessivamente brilhante dentro do campo visual.
Com relação à ação do enxergar, o conforto visual seria o resultado daquilo que a pessoa
busca no ambiente, uma conveniência entre o que se deseja ser visto ou não. Baseado nessa
intenção preestabelecida se chegaria a um resultado satisfatório dos índices de luminância do
ambiente. Uma lanchonete, local onde as pessoas normalmente permanecem bem despertas,
pode ser imersa em tensão visual, dada por desproporções (formas agressivas:
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pontas), intensidade, descontinuidades e contrastes. Este, com os efeitos objetivos e
subjetivos que vêm associados, poderia ser explorado na iluminação de um bar de
uso noturno. E numa danceteria a iluminação se desenvolve na dimensão temporal,
seguindo o ritmo da música. Já um ambiente destinado ao sono deve ser quase
estático, de maneira tal a não provocar estímulos – comumente o que se quer admitir
a luz do dia, motivo natural do despertar. (SCHMID, 2005, p. 288).
A expressividade do espaço, resultante das suas formas, cores, sombras, brilhos e
movimentos, é captada inicialmente pelo observador através da visão, como conseqüência da
presença de luz nesses espaços. No entanto a sensação provocada pela luz, que pode alterar a
percepção do ambiente, é o resultado do contraste, da presença da sombra e da luz, das cores e
texturas, pois como afirma Schmid “A iluminação muda significativamente a sensação do
espaço (...) a luz em si tem expressividade. Luz dirigida e sombra projetada modificam a
percepção do objeto.” (SCHMID, 2005, p. 294)
Dessa forma iremos analisar como os determinados tipos de luz – luz concentrada, de fonte
primária e secundária, e difusa, de fonte primária e secundária - podem interferir no nosso
estado de espírito.
- Luz Concentrada: fonte primária
Próprio desse tipo de luz são os efeitos de fechamento do espaço e a dramaticidade, que
geram uma atmosfera de sociabilidade, intimidade, acolhimento e de valorização.
Seja através de uma fogueira inserida em um espaço aberto e escuro, ou de um ponto de luz
no interior de uma sala escura, a sensação é semelhante, pois um único ponto de luz, de
intensidade suave, inserido na escuridão criará “uma caverna de luz circunscrita por uma
muralha de escuridão.” (RASMUSSEN, apud SCHMID, 2005, p. 294). E é através desse jogo
de sombra e luz que se produz a intimidade, sociabilidade e o acolhimento do ambiente.
No caso de uma escultura, onde a iluminação busca destacá-la do entorno, o jogo de luz e
sombra produzido por uma regularidade direcional da luz ressaltará sua forma e textura
valorizando ainda mais a obra.
- Luz difusa: fonte primária
Ao contrário da luz concentrada, em ambientes de luz difusa se ganha o efeito da abertura e
uniformidade, aqui a atmosfera se torna fria, podendo ser calma, produtiva, ou eufórica.
Espaços com luz difusa possuem maior claridade e pouca sombra, assim a percepção visual
mantém uma constância, e esta falta de contrastes expressivos e a presença da uniformidade
acaba gerando a monotonia e ausência de envolvimento, que ocasionam a frieza.
A calma, a produtividade e a euforia são consequências do uso de uma luminância mais tênue,
precisa ou exagerada, que varia de acordo com o que se deseja no ambiente.
Na cultura japonesa a luz difusa é utilizada de uma forma tênue, valorizando-se a penumbra
alcançada pela filtragem da luz natural através dos shoji (painéis de papel de seda). Nesses
espaços a luz penetra difusa e diluída criando assim uma atmosfera intemporal, que remete a
eternidade, ao ancestral, à calma.
Ao contrário dessa luz diluída e tênue podemos ter a utilização de uma superiluminância,
como é o caso da Catedral de Brasília, onde seu teto e parede – elementos uníssonos nesse
espaço – translúcidos permitem uma excessiva penetração da luz natural, que se dá de forma
difusa, mas, diferente da atmosfera calma dos espaços japoneses, temos a euforia e não
recolhimento.
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Apesar de existirem casos específicos de iluminação difusa, como os citados a cima, o que é
bastante corriqueiro e característico dessa iluminação é o seu uso como iluminação geral dos
ambientes, onde se busca a uniformidade e índices padrões de luminância, que sejam
específicos para determinado tipo de trabalho. Dessa forma a atmosfera criada se caracteriza
por grande frieza, monotonia e produtividade.
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- Fonte de luz secundária
Quanto ao efeito das superfícies refletoras de luz, apesar de ser mais discreto, sua
expressividade não pode ser esquecida. No caso da luz concentrada, Schmid exemplifica:
a refletividade especular de grandes superfícies cria efeitos irreais, como o de uma
amplidão inexistente, ou surreal. Assim é o assoalho lustroso de um salão de baile
vazio, dando aos ocupantes a impressão de flutuar, de levitar sobre um chão fluido,
imaginário. (SCHMID, 2005, p. 300).
Na luz difusa o que podemos destacar são os objetos que dependendo da cor e da presença de
refletividade, funcionam como fontes de luz secundária, fazendo-se perceber com maior
riqueza de detalhes esses objetos.
8. A expressividade da noite
Além dessas expressividades que envolvem o ato de enxergar tudo o que nos cercam, em
decorrência da função da luz de estimular o nosso organismo, temos o que Schmid chama de
expressividade da noite e está relacionada com a informação repassada pela iluminação
natural com a sua modificação de cor e intensidade ao longo do dia.
- Expressividade da noite
Naturalmente o dia e a noite são opostos, no primeiro reina a luz solar com uma imensa
claridade que se altera durante o dia em termos de cor e intensidade; no segundo a luz da lua,
que não tem luz própria e repassa a luz que recebe do sol, de forma suave e tênue dá as cartas
juntamente com a escuridão.
No dia temos uma ampla visão do espaço, conseguimos ver muito além da proximidade que
nos cerca; a luz natural estimula nosso organismo e então adquirimos disposição para o
trabalho, o estudo e o lazer, o espaço se caracteriza pela ação e movimento; nossa visão é
muito solicitada, e por isso, estamos sempre excitados, acordados.
Já durante a noite, o espaço parece se reduzir, as grandes distancias, que víamos durante o dia,
se camuflam na escuridão, e passamos então a enxergar alguns palmos distantes do nosso ser,
as solicitações visuais são reduzidas, nosso organismo passa a se sentir mais calmo, relaxado
e acolhido; preparamo-nos para o descanso depois de um longo dia agitado.
Assim a noite adquire o caráter de reflexão e proteção, onde a escuridão faz com que a pessoa
encontre-se consigo mesma, como é afirmado por Minkowski a escuridão “toca-me
diretamente, me envolve... me penetra e me atravessa... tanto que poderíamos dizer quase que
sou transparente para a escuridão, enquanto não o sou para a luz”. (apud SCHMID, 2005,
p.306).
No entanto esse caráter biológico natural foi em muito alterado pela intervenção humana,
onde os ocidentais “buscam sempre mais claridade e passaram da vela à lâmpada de petróleo,
do petróleo à luz do gás, do gás à luz elétrica, ate acabar com o menor resquício, com o ultimo
refugio da sombra”. (TANIZAKI, apud SCHMID, 2005, p. 309). E agora o que antes era
função especifica do dia, também se encontra na noite, pela introdução da luz natural.
Mesmo não se comparando a claridade da luz natural, a noite nas cidades é excessivamente
iluminada, o nosso espaço de apreensão foi ampliado; as solicitações são as mais diversas,
existem luz no teto, no piso, na lateral e em objetos em movimento; criou-se
propositadamente uma atmosfera antinatural para que se possa iluminar o desejado.
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A agitação e movimentação do dia, em partes, foi transferida para a noite, que agora é
“melhor” aproveitada, temos liberdade para sair e explorar o mundo tanto de dia quanto a
noite, pois a escuridão e consequente falta de segurança, que nos amedrontavam e nos faziam
ficar em casa, já não existem mais. Contudo, perdeu-se também a referencia no tempo e o
caráter acolhedor, intimo, reflexivo e místico da noite.
Os ambientes se tornaram monótonos, frios de expressividade ingrata, a iluminação pobre e
inadequada adquiriu uma expressividade desnecessária, despropositada e insensível, e agora
quando nos deparamos com ambientes com luz amena, presença de luz e sombra e
temperatura de cor âmbar nos sentimos confortáveis e acolhidos e nos questionamos sobre
esta percepção.
9. Pesquisa
Tomando como base toda essa conceituação teórica, buscou-se fazer um levantamento de
dados reais, para assim constatar se a teoria realmente se aplica na prática.
Partiu-se então para a realização de uma pesquisa, de caráter rápido e prático, onde foram
colhidos dados de um grupo de 20 pessoas, que foram divididas em 03 subgrupos:
- Grupo 01: sete jovens arquitetos;
- Grupo 02: nove jovens de diversas áreas profissionais, sendo alguns estudantes e outros
jovens formados que trabalham;
- Grupo 03: quatro adultos de áreas profissionais semelhantes.
A pesquisa se baseou na seleção de 20 imagens de ambientes internos, externos, naturais ou
projetados e com iluminação natural ou artificial, que buscava passar a ideia de tranqüilidade
ou de agitação.
Foi então solicitado a cada entrevistado que respondesse a 03 perguntas:
- Quais imagens representam um ambiente tranquilo, e quais representam um ambiente
agitado?
- Qual grupo você mais se identifica?
- Cite três razões para a escolha do grupo.
Após a realização da pesquisa cada informação foi analisada e transformada em dados
percentuais, dessa forma, pode-se montar uma tabela-resposta para cada grupo e assim
facilitar o entendimento das informações.
Grupo 01 – 07 Pessoas
ITEM GRUPO QUANTIDADE PERCENTUAL
IMAGEM 01 01 07 100%
02 - -
IMAGEM 02 01 - -
02 07 100%
IMAGEM 03 01 07 100%
02 - -
IMAGEM 04 01 01 14,29%
02 06 85,71%
IMAGEM 05 01 07 100%
02 - -
IMAGEM 06 01 07 100%
02 - -
IMAGEM 07 01 07 100%
02 - -
Arquitetura, Conforto e Iluminação – a importância do estado da transcendência janeiro/2013
IMAGEM 08 01 - -
02 07 100%
IMAGEM 09 01 - -
02 07 100%
IMAGEM 10 01 06 85,71%
02 01 14,29%
IMAGEM 11 01 02 28,57%
02 05 71,43%
IMAGEM 12 01 02 28,57%
02 05 71,43%
IMAGEM 13 01 01 14,29%
02 06 85,71%
IMAGEM 14 01 03 42,86%
02 04 57,14%
IMAGEM 15 01 03 42,86%
02 04 57,14%
IMAGEM 16 01 - -
02 07 100%
IMAGEM 17 01 07 100%
02 - -
IMAGEM 18 01 - -
02 07 100%
IMAGEM 19 01 07 100%
02 - -
IMAGEM 20 01 07 100%
02 - -
Fonte: Montagem da autora
Tabela 1 – Seleção das imagens
Grupo Quantidade Percentual
01 07 100%
02 - -
Fonte: Montagem autora
Tabela 2 – Grupo de preferência
Motivo Quantidade Percentual
Iluminação acolhedora 03 42,85%
Sensação de tranqüilidade 06 85,71%
Sensação de intimidade 03 42,85%
Sensação de aconchego 04 57,14%
Sensação de conforto 03 42,85%
Iluminação de permanência 01 14,28%
Conforto térmico 01 14,28%
Jogo de luz e sombra 01 14,28%
Cores 01 14,28%
Disposição do elementos 01 14,28%
Fonte: Montagem da autora
Tabela 3 – Razões da escolha grupo 01
Grupo 02 – 09 Pessoas
ITEM GRUPO QUANTIDADE PERCENTUAL
IMAGEM 01 01 09 100%
02 - -
IMAGEM 02 01 01 11,11%
Arquitetura, Conforto e Iluminação – a importância do estado da transcendência janeiro/2013
02 08 88,89%
IMAGEM 03 01 07 77,77%
02 02 22,23%
IMAGEM 04 01 04 44,44%
02 05 55,56%
IMAGEM 05 01 08 88,89%
02 01 11,11%
IMAGEM 06 01 09 100%
02 - -
IMAGEM 07 01 09 100%
02 - -
IMAGEM 08 01 07 77,77%
02 02 22,23%
IMAGEM 09 01 - -
02 09 100%
IMAGEM 10 01 05 55,56%
02 04 44,44%
IMAGEM 11 01 06 66,66%
02 03 33.34%
IMAGEM 12 01 02 22,23%
02 07 77,77%
IMAGEM 13 01 - -
02 09 100%
IMAGEM 14 01 04 44,44%
02 05 55,56%
IMAGEM 15 01 01 11,11%
02 08 88,89%
IMAGEM 16 01 06 66,66%
02 03 33.34%
IMAGEM 17 01 05 55,56%
02 04 44,44%
IMAGEM 18 01 - -
02 09 100%
IMAGEM 19 01 09 100%
02 - -
IMAGEM 20 01 09 100%
02 - -
Fonte: Montagem da autora
Tabela 4 – Seleção das imagens
Grupo Quantidade Percentual
01 06 66,65%
02 02 22,24%
Relativo 01 11,11%
Fonte: Montagem da autora
Tabela 5 – Grupo de preferência
Motivo Quantidade (pessoas) Percentual
Sensação de intimidade 02 22,24%
Introspecção 03 33,30%
Relaxamento 03 33,30%
Personalidade 05 55,56%
Limpeza 01 11,11%
Sensação de tranquilidadr 02 22,45%
Sensação de conforto 03 33,30%
Arquitetura, Conforto e Iluminação – a importância do estado da transcendência janeiro/2013
Sensação de aconchego 03 33,30%
Recordação 01 11,11%
Paz interior 02 22,24%
Melhor percepção visual 01 11,11%
Inclinação a permanência nos
locais 01 11,11%
Fonte: Montagem da autora
Tabela 6 – Razões da escolha grupo 01
Motivo Quantidade (pessoas) Percentual
Agitação 02 22,24%
Novidade 02 22,24%
Informação 02 11,11%
Fonte: Montagem da autora
Tabela 7 – Razões da escolha grupo 02
Grupo 03 – 04 Pessoas
ITEM GRUPO QUANTIDADE PERCENTUAL
IMAGEM 01 01 04 100%
02 - -
IMAGEM 02 01 - -
02 04 100%
IMAGEM 03 01 03 75%
02 01 25%
IMAGEM 04 01 02 50%
02 02 50%
IMAGEM 05 01 04 100%
02 - -
IMAGEM 06 01 04 100%
02 - -
IMAGEM 07 01 04 100%
02 - -
IMAGEM 08 01 01 25%
02 03 75%
IMAGEM 09 01 - -
02 04 100%
IMAGEM 10 01 04 100%
02 - -
IMAGEM 11 01 01 25%
02 03 75%
IMAGEM 12 01 02 50%
02 02 50%
IMAGEM 13 01 01 25%
02 03 75%
IMAGEM 14 01 - -
02 04 100%
IMAGEM 15 01 - -
02 04 100%
IMAGEM 16 01 01 25%
02 03 75%
IMAGEM 17 01 04 100%
02 - -
IMAGEM 18 01 - -
02 04 100%
Arquitetura, Conforto e Iluminação – a importância do estado da transcendência janeiro/2013
IMAGEM 19 01 04 100%
02 - -
IMAGEM 20 01 04 100%
02 - -
Fonte: Montagem da autora
Tabela 8 – Seleção das imagens
Grupo Quantidade Percentual
01 04 100%
02 - -
Fonte: Montagem da autora
Tabela 9 – Grupo de preferência
Motivo Quantidade (pessoas) Percentual
Sensação de tranqüilidade 03 75%
Sensação de conforto 02 50%
Liberdade 01 25%
Reflexão pessoal 02 50%
Sensação de aconchego 01 25%
Personalidade 02 50%
Sensação de intimidade 01 25%
Fonte: Montagem da autora
Tabela 10 – Razões da escolha grupo 01
Estudando-se os dados e as justificativas, observou-se que a determinação de agitado e
tranquilo se alteram bastante de pessoa para pessoa, principalmente quando se trata de
ambientes internos que são compostos por outros elementos como mobiliário, cores e
texturas.
Já nos ambientes onde a iluminação era bastante expressiva e os demais elementos que
compunham o espaço não tinham uma significativa presença, as respostas foram quase
unanimes.
Desse modo pode-se observar que a iluminação, apesar de ter grande capacidade de
transformas os ambientes, não é a única determinante para a percepção e qualificação de um
espaço.
Quanto ao segundo questionamento, sobre a personalidade da pessoa entrevistada que se
reflete na escolha entre um ambiente agitado e tranquilo, observou-se que para os jovens
arquitetos e os adultos a permanência em lugares calmos e tranquilos foram à escolha de todos
os entrevistados.
Porem para os jovens, apesar de a maioria preferir lugares mais amenos, a constatação de duas
pessoas que preferem a agitação e, uma que se declara indiferente a um dos grupos e se
justifica afirmando que a escolha entre tranquilo e agitado irá depender da ocasião, nos faz
perceber que é necessário a existência dos dois tipos de ambiente e que cada um tem suas
particularidades e público alvo.
A última pergunta vem nos mostrar que os ambientes têm sim a capacidade de produzir
sensações e que as justificativas entre Grupo 01 e Grupo 02 refletem bem a ideia de que
espaços com jogo de luz e sombra e temperatura de cor quente, são buscados por transmitir
conforto, aconchego e bem estar, já a escolha por ambientes com luz uniforme e temperatura
de cor fria são escolhidos por traduzir agitação, novidade e informação.
10. Conclusão
Arquitetura, Conforto e Iluminação – a importância do estado da transcendência janeiro/2013
A partir da visão holística, proposta por este artigo para o entendimento da arquitetura, do
conforto e da iluminação, pode-se constatar que para o ser humano se sentir confortável em
um espaço é preciso atender além de suas necessidades básicas, as suas aspirações pessoais e
culturais, e estas por sua vez não deve ser satisfeitas de modo simplório, envolvendo apenas
elementos funcionais, é necessário produzir estímulos emocionais para que esta arquitetura
venha ganhar sentido para o seu observador/usuário.
A presença do estimulo emocional é então fundamental para uma boa percepção do ambiente,
pois tudo aquilo que emociona e surpreende marcam as pessoas, o que auxilia na relação
homem e espaço, seja facilitando o contato entre ambientes favoráveis de lazer, trabalho,
estudo ou moradia, ou dificultando a relação com espaços que ofereçam perigo.
Constatou-se também que toda sensação presente em um espaço é captada pelos nossos cinco
sentidos, e a nossa interpretação dependerá de nossos valores pessoais, familiares, sociais e
culturais, logo estes sentidos e valores implicará na nossa percepção ambiental.
Verificou-se ainda que o conforto é o atributo da arquitetura sempre necessário e almejado
pelas pessoas, e que a iluminação, por estimular o sentido da visão, é o elemento
arquitetônicos que mais produz sensações e percepções, chegando ao ponto de antecipar
sensações produzidas por outros sentidos.
Com relação a iluminação percebeu-se que, seja ela natural ou artificial, tem grande
capacidade de expressividade e de interferência na nossa percepção ambiental, e que sendo o
nosso padrão biológico de iluminação a luz solar, quando tentamos mudá-lo criamos
atmosferas antinaturais que correm o risco de obter uma expressividade ingrata.
As emoções dão colorido a toda experiência humana, incluindo os níveis mais altos
do pensamento. Até mesmo quando, por exemplo, afirmam os matemáticos que a
expressão de seus teoremas e orientada por critérios estéticos, noções de elegância e
simplicidade, que respondem a uma necessidade humana. O pensamento dá colorido
a toda experiência humana, incluindo as sensações primarias de calor e frio, prazer e
dor. (TUAN, apud, OKAMOTO, 2002, p.255).
Finalizando a pesquisa, todas essas conclusões teóricas puderam ser então comprovadas
através de uma pesquisa, onde constatou que a percepção ambiental muda de pessoa para
pessoa, devido a todos os fatores físico, psico-social, sócio-cultural e ambiental, contudo a
ideia de conforto permanece constante e a preferência claramente se dá aos lugares calmos e
aconchegantes.
Referências
SCHMID, Aloísio. A Ideia de Conforto – Reflexões sobre o Ambiente Construído. Curitiba: Pactoambiental,
2005.
OKAMOTO, Jun. Percepção Ambiental e Comportamento – Visão Holística da Percepção Ambiental na
Arquitetura e na Comunicação. São Paulo: Editora Mackenzie, 2002.
NESBITT, Kate. Uma Nova Agenda para a Arquitetura. Cosac e Naify, 2006.
ANEXO
Imagens utilizadas na pesquisa
Arquitetura, Conforto e Iluminação – a importância do estado da transcendência janeiro/2013
Arquitetura, Conforto e Iluminação – a importância do estado da transcendência janeiro/2013