ANTÔNIO MAURÍCIO CORREIA
IINNCCLLUUSSÃÃOO DDIIGGIITTAALL EE EESSCCOOLLAA PPÚÚBBLLIICCAA::
CCOOMMOO TTRRAATTAARR DDAA MMIISSÉÉRRIIAA NNAA EERRAA DDAA
IINNFFOORRMMAAÇÇÃÃOO
GGOOVVEERRNNOO DDOO PPAARRAANNÁÁ
SSEEEEDD –– SSEECCRREETTAARRIIAA DDEE EESSTTAADDOO DDAA EEDDUUCCAAÇÇÃÃOO PPDDEE –– PPRROOGGRRAAMMAA DDEE DDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO EEDDUUCCAACCIIOONNAALL
UUTTFFPPRR –– UUNNIIVVEERRSSIIDDAADDEE TTEECCNNOOLLÓÓGGIICCAA FFEEDDEERRAALL DDOO PPAARRAANNÁÁ
CCUURRIITTIIBBAA
FFEEVVEERREEIIRROO –– 22000088
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
2
Antônio Maurício Correia Professor PDE
Professor da rede pública estadual do Paraná desde 14 de fevereiro
de 1992. Docente da disciplina: Uso das Novas Tecnologias da
Informação e Comunicação na Educação Básica do Curso de
Especialização em Novas Tecnologias Aplicadas à Educação da
Faculdade Pe. João Bagozzi de Curitiba. Pesquisador do uso das
TIC’s na escola pública do Paraná.
Profª Dra. Joscely Maria Bassetto Galera
Orientadora
Professora da UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná
nos Cursos de Graduação e Pós-Graduação.
Professora do Programa de Mestrado em Ciência e Tecnologia da
UTFPR e da UEPG – Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Doutora em Políticas Educacionais pela UNICAMP
Membro da ANPAE - PR
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
3
Agradecimentos
Agradeço primeiramente à minha orientadora: Profª Drª. Joscely Maria Basseto Galera que sempre me incentivou e apoiou nesta caminhada. Agradeço também a Profª Drª. Laíze Márcia Porto Alegre, coordenadora do PDE na UTFPR, pelo apoio técnico. À Equipe de Direção do Colégio Estadual Unidade Pólo de São José dos Pinhais, pelas inúmeras possibilidades que abriram na minha pesquisa sobre o uso das TIC’s na escola pública.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
4
Sumário
05 Apresentação
06 Inclusão digital: A nova agenda pública
11 A emergência da sociedade da informação e a ampliação da pobreza
19 Novos excluídos?
24 Porque a infoinclusão é estratégica?
31 O duplo combate à pobreza do conhecimento e a necessidade da alfabetização tecnológica
37 O direito de acesso: a nova face da liberdade de expressão
39 As propostas de inclusão digital
48 Inclusão digital: liberdade, independência tecnológica e democratização da sociedade.
52 Conclusão: Por uma política pública de inclusão digital
53 Referências Bibliográficas
55 Sites Importantes
56 Tabelas
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
5
Apresentação
Prezado Professor,
“Não posso continuar sendo humano se faço desaparecer em mim a esperança.”
Paulo Freire
Este caderno foi idealizado para ser uma ferramenta de discussão de um tema muito atual e muito importante no desenvolvimento cultural da nossa sociedade, tão desigual em vários aspectos. Os vários textos discutem se a Tecnologia da Informação pode ou não combater a pobreza? Quais são os melhores instrumentos para garantir a todos o acesso às tecnologias da informação e combater a exclusão digital em uma sociedade hipercapitalista e multiexcludente? As alterações econômicas, sociais e culturais em curso desde o início da revolução das tecnologias da informação são profundas. A apropriação e os usos destas tecnologias, bem como o controle dos fluxos de informação, dão novo fôlego ás questões políticas e sociais. As disputas em torno das aplicações tecnológicas e de seu futuro já estão ocorrendo. Este caderno trata do ponto essencial da nova agenda pública no interior da revolução tecnológica em curso: o enfrentamento da exclusão digital. A partir daqui, convido você a explorar estas páginas, que espero serem úteis na sua lida com as novas TIC’s no seu dia a dia de escola pública. Para mais informações, mande e-mail para: [email protected] Seja bem-vindo!
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
6
Inclusão digital: A nova agenda pública
Quando Gutenberg criou o processo de impressão com tipos móveis, as idéias ganharam velocidade. O surgimento da
imprensa mudou as formas de convencimento e ampliou as possibilidades de fazer política. A nova tecnologia da comunicação
tomou-se ferramenta indispensável para o envolvimento da nação e para a criação de uma sociedade de massa.
O avanço daquela tecnologia permitiu criar uma opinião pública. Assuntos e fatos distantes eram pautados e lançados ao
olhar de seus leitores. A tecnologia da impressão em larga escala garantiu a existência de uma camada especializada na formação
dos humores e das idéias nacionais. A importância da imprensa para o poder foi tamanha que Max Weber, sociólogo alemão,
afirmou ser o jornalismo a primeira profissão política remunerada. O processo de disseminação de idéias sempre foi fundamental
para a manutenção ou a alteração do poder na sociedade.
As mudanças e revoluções tecnológicas têm distribuído seus impactos pela sociedade e alterado a organização da vida
cotidiana. Grupos dominantes buscam apoderar-se dos novos inventos para alavancar sua dominação. Por outro lado, o domínio
de um novo processo tecnológico pode alterar os círculos do poder e até mesmo a classificação das nações mais poderosas.
Um bom exemplo disso ocorreu durante a Segunda Revolução Industrial-também denominada Segunda Revolução
Tecnológica -, nos últimos anos do século XIX. O uso intensivo das novas fontes de energia, principalmente da energia elétrica e
do petróleo, acabou alterando a vida das cidades, das famílias e das nações. O núcleo da Primeira Revolução Industrial foi a
Inglaterra, no século XVIII; já o centro dinâmico da segunda revolução residiu nos Estados Unidos e na Alemanha. O domínio e a
disseminação da nova tecnologia redesenharam de tal forma o mundo que atualmente não saberíamos como viver em
agrupamentos urbanos sem a energia elétrica. A crise energética brasileira, anunciada desde 1999 e assumida em 2001, deixa
claro quão profundamente uma tecnologia se alastra e penetra no cotidiano. Com racionamento de energia não podemos ampliar
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
7
os empreendimentos econômicos em um modo de produção capitalista cuja acumulação se agigantou a partir da aplicação dos
frutos da Segunda Revolução Tecnológica.
Quem imagina como era o dia-a-dia nos lares antes da popularização da televisão? As tecnologias de transmissão de sons
e imagens por ondas radioelétricas foram mudando a estrutura de relacionamento social. O rádio já havia alterado o imaginário da
sociedade e colocado a formação da opinião pública em outro patamar, de maior velocidade e intensidade. Uma pesquisa
realizada pelo grupo Nielsen, nos anos 70, demonstrou que o norte-americano adulto passava em média 3,5 horas diárias diante
de um aparelho de TV. A tecnologia televisiva atraiu as pessoas para dentro das casas e passou a descortinar desejos
adormecidos ou escondidos. Também constituiu um poderoso instrumento de informação e de disputa ideológica na sociedade.
Grupos econômicos e políticos logo buscaram dominar seus conteúdos e seus canais de transmissão.
O resultado de uma revolução tecnológica em geral só fica evidente quando esta já se alastrou, reconfigurando a sociedade.
Observando a história e os debates entre intelectuais da atualidade, é possível afirmar que estamos vivendo uma revolução
tecnológica que produzirá efeitos tão devastadores quanto a primeira e a segunda revoluções industriais. Como em todas as
anteriores, o alerta do sociólogo Manuel Castells é válido: os grupos sociais em disputa tentam usar o poder da tecnologia "para
servir à tecnologia do poder".
Que revolução é esta? Como ela altera a sociedade, a economia, as comunicações, as disputas políticas e o Estado? Por
que surgiria uma nova agenda de preocupações públicas?
Revolução tecnológica
Vamos por partes. A nova revolução tecnológica tem recebido muitas denominações: Castells a chamou Revolução das
Novas Tecnologias de Informação; Negroponte preferiu denominá-la Revolução Digital, Jean Lojkine nomeou-a Revolução
Informacional e Jeremy Rifkin a apontou como a Era do Acesso, entre tantas outras classificações.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
8
O que parece comum a todos é que no cerne desta revolução está o uso do computador como instrumento vital da
comunicação, da economia e da gestão do poder. Isso porque a linguagem do computador permitiu transformar toda a produção
simbólica em um conjunto de dígitos, de bytes e bits, de O e 1. Podemos traduzir imagens, textos ou sons em um punhado de
dígitos. Também foi importante a integração do computador ao microprocessador e destes aos avanços das telecomunicações,
gerando um processo rápido e contundente de disseminação de informações. A comunicação fundamental da nossa sociedade já
é a comunicação mediada por computador.
Quem não se lembra de ter lido nos jornais "País enfrenta fuga de capitais" ou "Brasil sofre ataque especulativo e perde
bilhões?” Atualmente o capital financeiro circula no planeta ligado pelas· redes informacionais. As famosas fugas de capitais não
passam de transferências de recursos por intermédio de computadores das grandes instituições financeiras e bancos centrais. São
depósitos codificados em bytes e enviados para outras praças financeiras em uma fração de segundos. As redes de comunicação
informacionais recobrem todo o globo como uma camada invisível, tomando instáveis as economias nacionais dependentes dos
fluxos de capital.
As telecomunicações participam dessa revolução informacional como elemento essencial. Quanto mais rapidamente se
transferir informações, mais rapidamente se pode transferir o capital e lucrar com as oscilações do mercado. A largura de banda,
capacidade de transferência de dados em uma rede, é uma preocupação crescente na indústria da informação. Quanto maior a
banda, maior será a velocidade das informações. Não é por outro motivo que o setor financeiro tem apostado boa parte de suas
fichas na informática e nas telecomunicações.
Não foi somente o capital financeiro que assumiu a comunicação mediada por computador. A velha indústria também se
comunica pelas redes. Matrizes e filiais estão cada vez mais conectadas em intranets ou utilizando a própria Internet. François
Chesnais, em 1995, já apontava o surgimento das corporações-rede. São empresas que produzem em suas sedes bens
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
9
simbólicos, marcas e tecnologias estratégicas. Buscam por meio das redes de informação subordinar e controlar um conjunto de
pequenas e médias empresas que trabalham para a matriz com vínculos jurídicos distintos. O caso típico é o da Benetton.
A Benetton, centrada na Itália, exporta praticamente apenas o design. Design é um agrupamento de informações sobre
estilo, forma e cor, ou seja, trata-se da exportação de signos, de bens simbólicos. Toda essa produção pode ser convertida em
linguagem digital e imediatamente enviada para qualquer parte do mundo à velocidade da luz. Na fábrica da Benetton da
Califórnia, com aproximadamente 800 empregados e maquinário sofisticado, o tecido é tingido e os moldes cortados conforme as
instruções transmitidas pela rede. Em seguida, esses moldes são enviados para mais de 400 oficinas no Sudeste Asiático e em
outras partes do mundo. Algo em tomo de 25 mil trabalhadores sem vínculo direto com a Benetton executam suas determinações
e confeccionam as roupas da cobiçada grife mundial.
Esse é apenas um exemplo de que o capital vai se tornando cada vez mais dependente das redes. Já há algum tempo era
evidente que todas as atividades humanas repetitivas, mesmo aquelas de grande complexidade, poderiam ser informatizadas.
Agora também torna-se claro que todas essas operações podem ser realizadas, ordenadas ou compartilhadas de maneira remota
por intermédio das redes informacionais. Para Marcos Dantas, esse processo é vital para o capitalismo aumentar seu valor no
processo de acumulação permanente. O tempo de circulação do capital se reduz quando a mercadoria mais valiosa, o bem de
maior valor agregado, é a informação. Hoje, o que vale mais: uma gigantesca siderúrgica e seu grande maquinário ou as licenças
de uso do sistema operacional Windows da Microsoft?
O capital-dinheiro assume o formato de capital-informação, como afirmou Dantas. A economia tende a ser uma economia
digital, como alegou Tapscott, ou caminha para transfigurar-se na Economia da Informação, na análise de Carl Shapiro e Hal
Varian. Uma das conseqüências da disseminação de um novo paradigma econômico e produtivo baseado na informação é o
desemprego tecnológico. Postos de trabalho estão sendo substituídos por softwares e leitores óticos de código de barras.
Sindicatos europeus, principalmente dos países escandinavos, têm se preocupado nos dissídios em discutir, ao lado das questões
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
10
salariais, o ritmo do investimento das empresas em tecnologia da informação, bem como em avaliar seus impactos na destruição
de empregos. Na pauta de reivindicações dos trabalhadores é cada vez mais comum a exigência de requalificação e treinamento
como uma obrigação do capital, uma vez que as empresas têm sua lucratividade ampliada na economia da informação.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
11
A emergência da sociedade da informação e a ampliação da pobreza
Quando ocorreu a revolução das novas tecnologias da informação? É difícil precisar um ano ou um único fato como marco
do processo, mas foi após a Segunda Guerra Mundial que tivemos o primeiro indício da constituição do turbilhão informacional. Até
então, o computador era uma gigantesca máquina de calcular, ou melhor, de processar certo volume de dados. Muita coisa
aconteceu até que se tomasse a principal ferramenta da comunicação e ocupasse papel de destaque na terceira revolução
tecnológica, a revolução da informação.
O primeiro computador eletrônico foi construído em 1945 para realizar cálculos balísticos, ou seja, o cálculo da trajetória dos
mísseis. Chamava-se Electronic Numerical Integrator And Calculator (ENIAC), ocupava por volta de 100 m2, possuía 18 mil
válvulas, sendo capaz de realizar 4.500 operações por segundo. Foi desenvolvido por matemáticos da Universidade da
Pensilvânia, nos Estados Ungidos, que comemoravam sua velocidade de processamento (dock) de 100 kHz. Suas 30 toneladas
apresentavam 5 milhões de pontos de solda e consumiam 140 quilowatts. Esse computador não possuía monitor, nem teclado, ou
seja, o computador ao nascer não era interativo com o usuário.
Em 1951, depois de grandes avanços da computação, é apresentado pela Remington Rand o UNIVAC (Universal Automatic
Computer), primeira máquina a processar dados numéricos e alfabéticos. Iniciando seu funcionamento em 1952, o UNIVAC
armazenava 1.024 palavras de 44 bits com um clock de 1 MHz, bem menos do que uma miniagenda eletrônica encontrada hoje
nas bancas dos camelôs nas ruas das grandes cidades.
Depois de superar disputas internas a respeito do futuro dos computadores, a IBM resolve entrar nesse mercado. Lança, em
1953, o Defense Calculator, denominado também de IBM 701. Conseguia armazenar 4.096 palavras, superando o UNIVAC. Esses
grandes computadores eram conhecidos como mainframes.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
12
É importante notar que o computador só se tomou um veículo de comunicação quando se ligou a um monitor e um teclado.
Só assim o computador passou a interagir com o seu usuário. Outro passo decisivo foi a invenção do microprocessador, em 1971,
por Ted Hoff, permitindo multiplicar inúmeras vezes a capacidade de processamento das primeiras máquinas. Isso viabilizou a
redução do tamanho dos computadores e permitiu o surgimento dos microcomputadores. Antes disso, Gordon Moore, então diretor
de pesquisa e desenvolvimento da Fairchild Semiconductor, ao analisar a evolução dos chips de silício, acabou concluindo que o
poder de processamento dos computadores dobraria a cada 18 meses, sem alterar o seu custo. Essa afirmação foi escrita em
1965 e passou a ser conhecida como Lei de Moore, já que esclarece a intensa velocidade que a renovação dos computadores tem
adquirido desde 1959, com a invenção do transistor. As placas dos computadores são cada vez menores e o número de
operações possíveis cada vez maiores. Esta é a essência da descoberta de Moore.
Dois ingredientes ainda faltam para discutirmos a revolução informacional: a criação e popularização do microcomputador e
o surgimento da Internet. O salto para os microcomputadores foi dado por Steven Wozniak, engenheiro da Hewlett-Packard, e um
jovem da área de marketing, Steve Jobs. Após fundarem a Apple Computer na garagem de Wozniak, em abril de 1976, receberam
um financiamento de Mike Markkula, da Intel. Em 1978, criaram o Apple II, um microcomputador "caseiro", com monitor colorido e
drive para disquete. Alguns analistas acreditam que o estouro de vendas do Apple II deve ser creditado ao lançamento de uma
planilha de cálculo criada especialmente para aquele computador, o VisiCalc. Este software assegurou que escritórios e pequenas
empresas se interessassem imediatamente pelo novo e estranho computador. O irradiante sucesso da Apple levou à reação a
gigantesca IBM. Diz a lenda que a IBM havia ironizado a idéia de Jobs e Wozniak de vender computadores para pessoas comuns:
"Quem se interessaria por levar trambolhos de calcular para casa?". A história restante, todos conhecem mais ou menos bem. A
IBM faz um acordo com alguns jovens, entre eles o conhecido Bill Gates. Surge o IBM-PC, Personal Computer, que vai conter em
seu interior o MSSDOS, sistema operacional desenvolvido pela Microsoft. Estão postos os ingredientes para o computador se
tornar um utensílio essencial à vida das pessoas.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
13
A Internet
Mas e a rede mundial de computadores?
No final dos anos 70, o computador diminui de tamanho, aumenta constantemente sua capacidade de processar
informações e vai sendo absorvido em várias atividades econômicas, culturais, educacionais e até caseiras. Antes disso, em 1957,
um fato considerado essencial aliterou o desenvolvimento tecnológico no mundo. Em meio à chamada Guerra Fria, os soviéticos
dão um lance que parecia desequilibrar o jogo entre os dois sistemas, entre o mundo socialista e o capitalista. A União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) surpreende a todos com o lançamento do Sputnik, primeiro satélite espacial. Naquele
momento, a superioridade tecnológica soviética aterrorizou a Casa Branca e os militares norte-americanos.
O presidente norte-americano Dwight Eisenhower cria, no mesmo ano, a Advannced Research Projects Agency (ARPA).
Seu objetivo: pesquisar e desenvolver projetos militares que recuperem a vanguarda tecnológica norte-americana. Nesse
processo, a ARPA articula a RAND Corporation (especializada em defesa) e ambas iniciam um estranho processo de contratação
de acadêmicos e cientistas, muitos dos quais ligados aos ideais pacifistas dos precursores da contracultura. Idéias consideradas
visionárias são absorvidas pelos militares em um momento de crise e de empenho máximo para superar o "inimigo vermelho".
Em 1962, a crise dos mísseis em Cuba quase levou o mundo à guerra nuclear. O braço-de-ferro entre norte-americanos e
soviéticos em torno da implantação de uma base de mísseis com ogivas nucleares a alguns quilômetros dos Estados Unidos, na
ilha comandada por Fidel Castro, acirrou o equilíbrio do terror, aumentando as possibilidades de um confronto nuclear.
Para evitar que as comunicações fossem interrompidas em um ataque com armas nucleares, a RAND Corporation chamou
o engenheiro Paul Baran, que produziu o relatório denominado Sobre a comunicação distribuída. A idéia de Baran era construir
uma rede que evitasse a existência de um centro e de uma única rota de comunicação. A comunicação seria feita por pacotes de
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
14
informações enviadas de forma redundante por várias rotas, em uma rede em que todos os pontos se comunicam. Assim, se uma
bomba destruísse alguns pontos da rede, as informações continuariam a ser enviadas pela malha de comunicação intacta.
A despeito da desconfiança que tal idéia gerou nos engenheiros militares, outros fatos permitiram que ela prosperasse.
Como a ARPA deveria fomentar a pesquisa de ponta nas universidades e nos laboratórios norte-americanos, o uso da informática
era vital. O computador permitia compartilhar dados e informações complexas, mas o custo de implantação de mainframes em
todos os pontos do país era demasiadamente elevado. Assim, a rede de comutação de pacotes de informação começou a se
materializar. Sonhada por alguns, tais como Licklider, ex-pesquisador do Lincoln Lab do Instituto de Tecnologia de Massachussets,
que defendia a criação de uma rede intergaláctica de computadores, pensada e detalhada por outros especialistas, como Paul
Baran, Larry Roberts, Ivan Sutherland e Bob Taylor, ela tornasse realidade em 1968 com a formação da ARPANET, acrônimo de
ARPA Network.
A ARPANET, em 1969, consegue interligar quatro centros universitários dos Estados Unidos: Stanford, Berkeley, UCLA e
Utah. Estava surgindo a Internet, a partir de um projeto do Departamento de Estado norte-americano, cujo nascimento esteve
diretamente vinculado à Guerra Fria e ao temor de um ataque nuclear.
Até atingir todo o planeta, a Internet seguiu um longo caminho, passando por várias fases. Para ligar as diversas redes de
comunicação que utilizavam diferentes softwares e linguagens foi decisiva a criação dos protocolos de transferência de dados. Em
1974, Vinton Cerf e Bob Kahn escrevem o primeiro paper fundamentando o protocolo que permitiu a integração de todas as
diversas redes que se multiplicavam com o avanço e a disseminação da informática, o TCP/IP (Transmission Control Protocol /
Internet Protocol). Significa Protocolo de controle de transmissão / Protocolo de Internet. A partir disso, qualquer rede de
computadores poderia configurar o envio de informações naquele determinado padrão, o TCP/IP. Isso assegurou a conectividade,
ou seja, a ligação generalizada entre computadores e entre redes de computadores, mesmo utilizando softwares e máquinas
diferentes.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
15
A partir dos anos 90, ocorre a explosão das conexões à Internet. Antes, a rede era muito restrita aos norte-americanos.
Quando a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, National Science Foundation, em 1984, assumiu o gerenciamento
da rede criada pela ARPANET, menos de dez países estavam a ela conectados. Isso não significa que outras redes de
computador não existissem. A França começou a conectar todo o seu território em uma rede de videotexto, com terminais não
inteligentes, denominada Minitel, em 1981. O Brasil, nos anos 80, também experimentou a ligação de computadores e terminais de
modo muito semelhante ao modelo Minitel. Por outro lado, a ligação em uma única rede de todas as demais redes de computador
só se intensificou depois de 1989, com a queda do Muro de Berlim e com a destruição do bloco soviético. A Internet é apenas isso:
uma conexão mundial de todas as diferentes redes de computador.
Uma aplicação foi decisiva para a rápida popularização da Internet: o sistema de hipermídia para obter informações por
meio da rede conhecido como WORLD WIDE WEB, o hoje famoso www ou simplesmente Web. Inventado pelo Cern (Laboratório
Europeu de Física de Partículas), por iniciativa do pesquisador inglês Tim Berners-Lee, que queria criar um sistema de hipertexto
para uso interno do laboratório. A comunidade de internautas logo assumiu o novo invento. Em 1991, é conectado à rede o
primeiro servidor de Web. O sucesso foi total. Marc Andreesen, estudante de Ilinois, e seu amigo Eric Bina, em 1993, criaram o
navegador que permitiu a explosão da Web, o Mosaic. Hoje bilhões de páginas em hipertexto ocupam o espaço virtual da Internet.
Para navegar na Web todos precisam de um browser ou navegador, um programa que lê os hipertextos e os coloca graficamente
estruturados na tela do computador. A supremacia em relação ao browser foi inicialmente do Netscape e hoje é do Explorer da
Microsoft, que conseguiu monopolizar o mercado acoplando seu navegador ao sistema operacional Windows, que já dominava o
mercado. Ao comprar o Windows, a Microsoft empurrava o Explorer junto. Esta técnica empresarial é chamada de tática de
aprisionamento.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
16
Revolução informacional
Aqui recoloco a questão: quando começou a revolução das novas tecnologias da informação? Quais são seus resultados?
Que revolução é esta?
A revolução informacional se alastrou a partir dos anos 70 e 80, ganhando intensidade nos anos 90 com a propagação da
Internet, ou seja, da comunicação em rede por meio do computador.
Por que chamar esse processo de revolução? Porque a informatização penetrou na sociedade tal como a energia elétrica,
resultante da Segunda Revolução Industrial, reconfigurou a vida das cidades. O computador, ícone da nova revolução, ligado em
rede está alterando a relação das pessoas com o tempo e com o espaço. O computador ressuscitou a escrita após a supremacia
das mídias audiovisuais, principalmente após o império da comunicação televisiva. As redes informacionais permitem ampliar a
capacidade de pensar de modo inimaginável. A nova revolução tecnológica, como bem apontou Pierre Lévy, ampliou a inteligência
humana. Estamos falando de uma tecnologia que permite aumentar o armazenamento, o processamento e a análise de
informações, realizar bilhões de relações entre milhares de dados por segundo.
Enquanto a primeira e a segunda revoluções tecnológicas ampliaram a capacidade física e a precisão das atividades
humanas, esta revolução amplifica a mente. Eis o maior perigo de se chegar atrasado a ela. Essa revolução, exatamente por
fundar-se nas tecnologias da inteligência, amplia exponencialmente as diferenças na capacidade de tratar informações e
transformá-las em conhecimento.
Por isso essa revolução não apenas pode consolidar desigualdades sociais como também elevá-las, pois aprofunda o
distanciamento cognitivo entre aqueles que já convivem com ela e os que dela estão apartados.
Por outro lado, nada indica que o futuro dessa revolução tecnológica esteja previamente definido por alguma "mão invisível"
ou destino historicamente manifesto. A ambigüidade do processo em curso permite lutar por seu direcionamento. Sem luta, é
quase certo que o fosso entre infopobres e info-ricos se alargará. Tal distanciamento se dá não somente entre nações e regiões
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
17
desenvolvidas e não desenvolvidas do planeta, mas também se alastra nas periferias dos países ricos, criando barreiras ainda
mais intransponíveis para a superação de suas carências.
Um fato recentemente divulgado mostra a força de quem domina a tecnologia. O PIB (Produto Interno Bruto) é o medidor do
tamanho da economia de uma região. A Califórnia é o estado nortecano, na costa do Pacífico, em que está situado o famoso Vale
do Silício, local em que se iniciou e ainda se processa a maior parte da Terceira Revolução Tecnológica, Vamos juntar os
ingredientes: o PIB da Califórnia atingiu 1,33 trilhão de dólares no ano 2000. Apenas quatro países têm uma economia maior que a
da Califórnia: os próprios Estados Unidos, Japão, Alemanha e Reino Unido. A França registrou um PIB menor que o da Califórnia,
1,28 trilhãc de dólares. O Brasil deve registrar um PIB em 410 bilhões de dólares, no mesmo período. Mesmo com as imprecisões
e oscilações cambiais, é extremamente grave c fato de uma região com a população do tamanho de São Paulo ter uma produção
três vezes maior que a brasileira. Isso fica mais grave ainda quando lembramos que o Brasil já teve o oitavo PIB do mundo.
As novas tecnologias e os frutos da revolução tecnológica tendem a ampliar c distanciamento entre ricos e pobres.
A "hieraquia de conexão”
Para Philippe Quéau, em seu texto Internet: I'hégémonie américaine est source d'inégalités, pour les régulateurs, à
desigualdade de conexão dos cidadãos entre os Estados Unidos e o resto de países se juntam as desigualdades tecnológicas entre países ricos e países em desenvolvimento. Poderíamos afirmar que o controle tecnológico reforça o controle político das principais definições da rede? Talvez. Os indícios são muitos. A Internet 2 - rede que nasceu para uso inicialmente exclusivo das universidades, para o desenvolvimento de pesquisas científicas, principalmente na área da medicina, de veiculação de imagens e de controle de máquinas remotas - surge sob o controle norte-americano. Recursos vultosos foram destinados pela gestão Clinton para organizar junto ao setor privado as principais linhas e equipamentos da Internet 2. Ligar-se à Internet 2 continua sendo ligar-se aos Estados Unidos. Uma junção de capital e superioridade tecnológica está garantindo a primazia política nas definições globais da rede, por meio do controle dos órgãos técnicos centrais da Internet.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
18
Gustavo Uns Ribeiro, em 1995, já havia alertado sobre a existência de uma hierarquia de conexão, na contramão dos discursos eufóricos da época que batizavam a rede quase como um Pnyx virtual do mundo contemporâneo - Pnyx era a colina onde os atenienses se reuniam em assembléia, no período grego clássico -, onde imperava a completa democracia.
“A Internet não é a imagem e semelhança de um mercado livre, Iiberal, sem controle ou propenso apenas à manipulação individual. Embora devêssemos explorar a idéia de um controle descentralizado, pode-se argumentar que a rede é controlada por uma 'hierarquia de conexão', cujo ponto mais alto localiza-se no Estado americano, na National Science Foundation ou em agências de segurança que poderão sempre exercer seu poder eletrônico."
Questões para debate:
Considerando os textos acima, que apontam as várias revoluções tecnológicas ocorridas ao longo da história da humanidade e
seus avanços significativos, analise as seguintes questões:
• Revolução tecnológica propicia igualdade social? Comente
• Como você analisa o acesso da população em geral aos bens de serviço do capital tecnológico?
• A Internet está acessível e disponível a todas as pessoas e organizações? comente sua resposta.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
19
Novos excluídos?
Quanto custa se conectar à sociedade da informação? Para acessar a Internet, a rede mundial de computadores, é preciso
pagar mensalmente um provedor de acesso e o gasto com a conta telefônica. Além disso, é preciso ter um computador que custa
mais de 1.000 reais. Em um país com quase um terço da sociedade abaixo da linha da pobreza, gastar algo em tomo de 40 reais
por mês pelo uso mínimo de conexão e conta telefônica é impossível para a maioria da população.
Essa é a nova face da exclusão social. Enquanto um jovem das camadas abastadas da sociedade tem acesso ao
ciberespaço e a todas as fontes de informação disponíveis em bilhões de sites espalhados pelo globo, o adolescente das camadas
pobres fica privado de interagir com os produtores de conteúdo, de observá-los, de questioná-los e de copiar seus arquivos. Para a
pessoa incluída na rede a navegação estimula a criatividade, permite realizar pesquisas sobre inúmeros temas e encontrar com
maior velocidade o resultado de sua busca. Quem está desconectado desconhece o oceano informacional, ficando impossibilitado
de encontrar uma informação básica, de descobrir novos temas, de despertar para novos interesses.
Os novos excluídos não conseguem se comunicar com a velocidade dos incluídos pela comunicação mediada por
computador. Ao contrário do que se afirmava, o e-mail (correio eletrônico) não afasta as pessoas. Sua rapidez quase instantânea e
a facilidade de envio, sem necessidade de deslocamento até um posto do correio, ampliaram o contato entre as pessoas,
solidificaram laços afetivos entre amigos distantes e têm permitido compartilhar conhecimentos obtidos em qualquer parte do
mundo.
As oportunidades dos incluídos na sociedade da informação são bem maiores do que as daqueles que vivem O apartheid
digital. Para se obter um emprego, cada vez mais será preciso ter alguma destreza no uso do computador. Com a ampliação da
comunicação em rede, além da informática básica será necessário conhecer bem a navegação e os recursos da Internet.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
20
A exclusão digital ocorre ao se privar as pessoas de três instrumentos básicos: o computador, a linha telefônica e o provedor
de acesso. O resultado disso é o analfabetismo digital, a pobreza e a lentidão comunicativa, o isolamento e o impedimento do
exercício da inteligência coletiva. Estes três resultados podem ser comparados aos estragos que a fome gera nos primeiros anos
de vida de uma criança. Por isso, não é correto classificar a exclusão digital como mera conseqüência da exclusão social.
Além de ser um veto cognitivo e um rompimento com a mais liberal das idéias de igualdade formal e de direito de
oportunidade, a exclusão digital impede que se reduza a exclusão social, uma vez que as principais atividades econômicas,
governamentais e boa parte da produção cultural da sociedade vão migrando para a rede, sendo praticadas e divulgadas por meio
da comunicação informacional. Estar fora da rede é ficar fora dos principais fluxos de informação. Desconhecer seus
procedimentos básicos é amargar a nova ignorância.
Como um excluído terá a mesma destreza no uso do computador, na navegação e na pesquisa na rede, na conversa em
um fórum de debates, na manipulação de um software, que um incluído? Quem obterá as melhores chances? Isso não significa
que o desemprego será eliminado quando todos souberem utilizar o potencial básico dos computadores e das redes de
comunicação. Sem dúvida alguma, é possível crer que com a maciça inclusão das pessoas na sociedade da informação teremos
uma explosão das possibilidades da cidadania. E quanto mais cidadãs forem as pessoas, mais conscientes serão das
necessidades de reinvenção da dinâmica social excludente e desigual.
O enfrentamento da exclusão digital tem aparecido como uma preocupação mundial, mas os números que a refletem estão
longe de ser alterados. Segundo o economista Jeremy Rifkin, no final do século XX, 65% da população mundial nunca haviam
dado um telefonema sequer e aproximadamente 40% não possuíam energia elétrica. É nesse cenário que a rede mundial de
computadores foi implantada e se disseminou. Nosso planeta é tão desigual que somente a rica ilha de Manhatttan, em Nova York,
possui mais linhas telefônicas que praticamente todo o continente africano.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
21
Os números da desigualdade
Os extremos da conectividade são gritantes. Os 24 países mais ricos do mundo integram a OCDE (Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), e apesar de abrigarem apenas 15 % da população da Terra concentram 71 % de
todas as linhas telefônicas. Mas a concentração e a desigualdade não ocorrem somente entre países ricos e pobres, dentro dos
pobres ou não-ricos temos discrepâncias também descomunais. Segundo os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), em 1996 a cidade de São Paulo possuía 26,5' telefones fixos por 100 habitantes, representando 41 % de todo o
tráfego telefônico do país.
Conforme dados preliminares do Censo 2000, divulgados pelo IBGE, o Brasil tem apenas entre 10 e 20 usuários de
informática por 100 mil habitantes, número considerado bem abaixo dos atuais padrões mundiais. No mapeamento do acesso à
Internet, a região Sudeste concentra 58% dos provedores de acesso brasileiros. Somente a capital paulista sedia 12% dos
provedores, seguida do Rio de Janeiro com 8%.
Em 1998, os países altamente industrializados concentravam mais de 88% dos usuários da Internet mundial, enquanto
representavam apenas 15% da população global. Esse quadro tem se alterado lentamente conforme a maioria dos países vai
aumentando o seu grau de conexão. Entretanto, os limites estruturais dos países pobres são cada vez mais nítidos. Se o
percentual das pessoas ligadas à Internet na China atingisse o do Canadá, o número de internautas chineses seria maior que toda
a população norte-americana.
No dia 25 de junho de 2001, a revista Internet Business divulgou uma pesquisa realizada em 27 países, incluindo América
do Norte, Europa, África, Ásia e América Latina, sobre o acesso à rede mundial de computadores no primeiro trimestre de 2001.
Os dados confirmam a estabilidade da exclusão digital: 41 % de todo o acesso mundial concentram-se nos Estados Unidos e no
Canadá. A Ásia, região mais populosa do planeta, detém apenas 20% dos acessos. Nossa América Latina registrou somente 4%.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
22
Carlos Afonso, do RITS (Rede de Informação para o Terceiro Setor), um dos pioneiros da Internet no Brasil, descreveu em seu
trabalho Internet no Brasil: o acesso para todos é possível? (publicado na série Policy Paper, nº26, em setembro de 2000, da
Fundação Friedrich Ebert/ILDES, São Paulo) o quadro de dificuldades para assegurar o acesso universal dos cidadãos à rede
mundial de computadores:
"Dos mais de cinco mil municípios brasileiros, menos de 300 (ou menos de 6%) contam com infra-estrutura
mínima necessária para que possam ser instalados serviços locais de acesso à Internet. Os cerca de cinco
milhões de usuários da Internet no Brasil são menos de 3% da população. O Brasil é de longe o pior
colocado em números per capita de usuários, computadores pessoais, linhas telefônicas e servidores
Internet (hosts) entre as nove maiores economias do mundo. Os circuitos que conectam os provedores de
serviços à Internet estão entre os mais caros do mundo, inviabilizando o pequeno provedor de serviços em
áreas menos ricas". (AFONSO, 2000, p. 12)
A décima Pesquisa Internet POP (disponível no site www.ibope.com.br). realizada de 14 a 27 de maio de 2001 pelo Instituto
Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), recolheu 15.400 entrevistas no Distrito Federal e nas principais regiões
metropolitanas do Brasil, buscando representar uma população de 38,8 milhões de pessoas. As regiões do levantamento foram:
São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife e Fortaleza. A pesquisa demonstrou que 49%
dos usuários afirmam acessar a rede em casa, ante 37% dos usuários que acessam do trabalho. A conexão na casa de amigos e
parentes também apresenta um índice significativo, 27%, assim como a conexão a partir de escolas e universidades, 19%.
Nessas nove regiões desenvolvidas do país, apenas 20% dos moradores usam a web, incluindo os que afirmam utilizá-la
eventualmente. Comparando com a pesquisa anterior, realizada seis meses antes, nota-se uma melhora no acesso, já que a
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
23
percentagem de conectados era ainda menor: 17%. Todavia, o crescimento aconteceu nas classes A e B - 46% dos integrantes
destas classes sociais estão utilizando a Internet, ante 41 % da pesquisa anterior. Entre os extratos mais pobres, o crescimento foi
bem menor: de três pontos percentuais na classe C e de apenas dois pontos nas classes D e E.
O crescimento da comunicação mediada por computador no Brasil não inclui no mesmo ritmo, nem mesmo nas regiões
mais desenvolvidas, todos os extratos sociais. A conectividade dos ricos é bem mais veloz. Assim, tudo indica que a inclusão
digital não será obra da expansão mercantil da Internet no Brasil. Algo precisa ser feito.
Questão:
1. A tecnologia digital está disponível a um preço acessível para a população em geral? Sim ou não?
Discuta com seus colegas e elabore um texto dissertativo.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
24
Por que a infoinclusão é estratégica?
É possível pensar a inclusão social a partir da inclusão digital? A inclusão digital seria uma preocupação relevante em um
país que ainda convive com a fome? Em um país que nunca realizou uma reforma agrária? Que convive com milhares de crianças
fora da escola? Que aceita um desemprego alarmante? Que não construiu um atendimento de saúde de fato universal? A inclusão
digital não seria um modismo?
Primeiro, é necessário entender que a revolução tecnológica em curso destinou à informação um lugar estratégico. A
sociedade é cada vez mais a sociedade da informação e os agrupamentos sociais que não souberem manipular, reunir,
desagregar, processar e analisar informações ficarão distantes da produção do conhecimento, estagnados ou vendo se agravar
sua condição de miséria. O acesso à rede é apenas um pequeno passo, embora vital, que precisa ser dado. Apesar de já ter se
tornado um lugar-comum, sempre é bom frisar que a informação somente gera conhecimento se for adequadamente tratada. É
preciso inserir as pessoas no dilúvio informacional das redes e orientá-las sobre como obter conhecimento. Como qualquer
navegador, somente após um período de introdução e de treinamento é que se obtêm as técnicas próprias para navegar sozinho e
não naufragar diante das marés e intempéries.
Segundo, a organização da economia e do trabalho no mundo rico será cada vez mais mediada pelo computador e pela
comunicação em rede. Portanto, todas as camadas da sociedade precisam se qualificar para acompanhar o desenvolvimento das
tecnologias intelectuais, pois é disso que tratamos quando falamos em inclusão na sociedade da informação. A pobreza não será
reduzida com cestas básicas, mas com a construção de coletivos sociais inteligentes, capazes de qualificar as pessoas para a
nova economia e para as novas formas de sociabilidade, permitindo que utilizem as ferramentas de compartilhamento de
conhecimento para exigir direitos, alargar a cidadania e melhorar as condições de vida.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
25
Terceiro, a proficiência em massa das pessoas para o uso da tecnologia da informação pode gerar a sinergia essencial para
o desenvolvimento sustentado do país. Quantos gênios da informática não estão escondidos pela ignorância e pelo apartheid
digital em nosso país? Quantas soluções criativas e tecnologicamente consistentes não encontraríamos se tivéssemos todos os
nossos jovens inseridos nas redes de comunicação? Hoje, apenas com as parcas minorias que atingem a universidade, já fomos
várias vezes campeões mundiais nas olimpíadas de matemática e já vencemos torneios universitários de robótica.
A sinergia - integração, auxílio mútuo e troca de conhecimentos e experiências - é uma das explicações que o sociólogo
espanhol Manuel Castells dá para o advento e desenvolvimento da Terceira Revolução Tecnológica ter ocorrido em uma reduzida
região do oeste dos Estados Unidos, o Vale do Silício. Muitas vezes foi em uma conversa de bar que o cientista encontrou a
hipótese ideal para solucionar o seu complexo problema. A inclusão digital maciça e a disseminação rápida do uso do computador
podem fermentar e potencializar as forças sinergéticas de que nosso país tanto necessita.
Em busca da riqueza
Pierre Lévy, estudioso da sociedade da informação e da cibercultura, apontou que "as performances industriais e comerciais
das companhias, das regiões, das grandes zonas geopolíticas, são intimamente correlacionadas a políticas de gestão do saber"
(Cibercultura. São Paulo, Editora 34, 1999, p. 175-76). Isso indica que o conhecimento e a constante geração de competências
são as principais fontes de riquezas das empresas, metrópoles e nações. É estratégico disseminar amplamente o acesso aos
instrumentos mais avançados das tecnologias da informação como elemento essencial de valorização do nosso espaço nacional.
O caminho proposto para reduzir e eliminar a miséria é partir em busca da riqueza. Tratar a redução da pobreza apenas como
política assistencial ou focalizada é, na sociedade da informação, como enxugar o gelo.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
26
Sem dúvida, devemos aprofundar um pouco mais estas considerações para não parecer que a tecnologia em si possui o
dom de retirar do processo de acumulação capitalista a permanente geração de desigualdades e injustiças. O saudoso professor
Milton Santos, grande geógrafo brasileiro, escreveu, junto com a professora Maria Laura Silveira, um importante alerta:
"A economia atual necessita de áreas contínuas, dotadas de infra-estruturas coletivas, unitárias, realmente indissociáveis quanto
ao seu uso produtivo. Mas esse equipamento chamado coletivo é, na verdade, feito para o serviço das empresas hegemônicas.
Construídas com dinheiro público, essas infra-estruturas aprofundam o uso seletivo do território, deixando excluída ou depreciada
a maior parte da economia e da população" (O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro, Record, 2001,
p. 140).
É necessário assegurar o acesso às camadas socialmente excluídas como estratégia fundamental de inclusão social. Mas
para que isso não tenha um resultado pífio torna-se indispensável a formulação de políticas públicas de orientação, educação não-
formal, proficiência tecnológica e de uso das novas tecnologias da informação para mudar a vida, ou seja, para fomentar
instrumentos ágeis para organizar reivindicações, realizar referendas e plebiscitos, lutar por prioridades orçamentárias, fiscalizar
governos e expor preocupações e necessidades coletivas.
Deve-se considerar que as ações de inclusão digital são importantes para a redução da miséria, rompendo a reprodução do
ciclo da ignorância e do atraso tecnológico, mas acabam favorecendo os grandes conglomerados da nova economia com uma
mão-de-obra capacitada, com experiência no uso das redes e com habilidade em informática básica, criando também enorme
contingente de consumidores de produtos de informática, hardware, software e serviços de manutenção.
Sendo assim, é justo cobrar dos conglomerados da nova economia a contrapartida do crescimento de seus lucros com a
prática e a manutenção da inclusão digital, já que serão beneficiários diretos dela. O que sucederá com o comércio eletrônico
quando crescer a presença na rede das camadas mais pobres? Uma pequena pista ocorreu recentemente em São Paulo. Ainda
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
27
no primeiro semestre de 2001, o Grupo Silvio Santos decidiu financiar computadores com prestações mais acessíveis às pessoas
de baixa renda. Surpresos com as vendas de mais de 4.000 unidades diárias, o grupo suspendeu a promoção para se reestruturar,
uma vez que suas expectativas foram amplamente superadas e sua capacidade de entrega de produtos esbarrava em entraves
produtivos e logísticos. O que podemos concluir? As pessoas apartadas da sociedade da informação estão percebendo a
importância de sua inserção, buscando as menores brechas para não perderem os bits da história. O computador conectado à
Internet já é para as famílias uma esperança de um futuro melhor para seus filhos.
Externalídades negatívas
Aqui temos de tomar o devido cuidado para não acreditarmos em miragens. O fato de a indústria de hardware e software ser
a grande beneficiária da inclusão digital universal não significa que o mercado é capaz de enfrentar a exclusão digital, reduzindo
drasticamente o número de desconectados e info-pobres. Empiricamente isso não ocorreu nos Estados Unidos, país que enfrenta
a mais tempo a exclusão digital de suas camadas mais pobres e concentra o maior número de megaempresas que comandam a
produção de hardware e software no planeta.
Uma empresa está preocupada em lucrar, não em enfrentar problemas sociais, nem mesmo problemas macroeconômicos.
Uma empresa é uma unidade microeconômica com o olhar voltado para o lucro. Dito de outra forma: não é porque o aumento
generalizado da renda certamente aumentaria o consumo de manteiga que a indústria de laticínios iria se empenhar numa
campanha pelo aumento da renda pessoal dos brasileiros ou ainda distribuir parcelas significativas de seus lucros para aumentar a
renda dos extratos mais pauperizados. Tudo para vender mais manteiga no futuro, o que certamente ocorreria!
A inclusão digital não será uma externalidade positiva obtida com o crescimento da economia informacional, do
desenvolvimento comercial da Internet ou da explosão do comércio eletrônico. O conceito de externalidade nasceu no interior da
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
28
corrente marginalista da economia, ainda no século XIX. Trata-se de um benefício causado por certa atividade econômica não
previsto em seu início e não incorporado em seu sistema de preços. Sem uma política de inclusão digital, tudo indica que a
informatização promovida pelo mercado dificilmente beneficia, na velocidade e na intensidade necessárias, o combate à
desigualdade de acesso e de incorporação das tecnologias da informação. Ao contrário, usando esta terminologia do liberalismo
econômico é possível afirmar que a concentração dessas tecnologias da inteligência nas elites da sociedade, em suas camadas
mais abastadas, nas regiões de maior riqueza, nos lugares que o professor Milton Santos denominava Região Concentrada, tem
gerado, extemalidades negativas.
O mercado conduzido pelo setor público, estatal e não-estatal, pode, sim, ser a fonte dos recursos para "internalizar as
extemalidades negativas", para reduzir a exclusão cognitiva que antes se dava apenas pelo apartheid dos letrados e dos iletrados
e, agora, assume a face da inclusão-exclusão digital. Ou seja, os interesses convergentes do mercado na inclusão digital são
muito genéricos, superficiais e impotentes. Tal como ocorrido na massificação da educação, a inclusão digital não será obra de
uma "mão invisível".
Uma última questão é decisiva para fundamentar o papel estratégico da inclusão digital. Uma política de inclusão digital
pode contribuir para desenvolver um mercado cativo para inovações e experimentos vitais, em software e hardware, para obtermos
maior autonomia estrutural na economia internacional. Somos cada vez mais importadores líquidos de tecnologias da informação e
de elementos essenciais às telecomunicações. De acordo com o IEDI (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Industrial), só 13%
das exportações brasileiras de manufaturados são de produtos de alta tecnologia, ante 35% dos Estados Unidos, 32% da Coréia,
30% da Inglaterra. Nos setores dinâmicos da economia mundial, aqueles em que o crescimento das exportações ficou acima da
média internacional, a participação do Brasil é inferior à da Espanha, à do México e à da Índia. Uma política de inclusão digital
maciça deve estar aliada ao desenvolvimento e à solidificação dos segmentos nacionais da tecnologia da informação.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
29
A Alemanha possuía, em 1993, 121.705 pessoas ocupadas nas empresas com pesquisa e desenvolvimento (P&D). A
França possuía, em 1994, 55.857 pessoas nessa situação; o Japão, em 1995, empregava nesse setor 368.960 trabalhadores. Os
Estados Unidos, líderes isolados da Terceira Revolução Tecnológica, são o país que mais emprega pessoas em P&D: 540.700,
em 1994. Em termos absolutos, o estado de São Paulo possui mais pessoal de nível superior empregado em P&D do que a
Austrália e a Espanha, mas, se comparado ao nível de emprego industrial total, o indicador de intensidade de P&D australiano é o
dobro do brasileiro.
O distanciamento tecnológico entre ricos e pobres é evidente em todos os cenários observados. Se utilizarmos o coeficiente
de inventividade, a razão entre o número de solicitações de patentes por residentes no país e sua população, nos anos 90, tivemos
um coeficiente nacional em média de 4 pedidos por 100 mil habitantes. Esta média é bem inferior às do Canadá (10/ 100 mil), da
Itália (14/1 00 mil), dos Estados Unidos (47/1 00 mil), de Taiwan (139/ 100 mil) e da Suíça (563/1 00 mil).
O agravamento da desigualdade tecnológica na era da informação ocorre por fatores históricos, econômicos e políticos, mas
é sustentado pela exclusão do conjunto da população ao acesso às tecnologias e de seu desenvolvimento. Quanto maior o
número de iniciados e de alfabetizados tecnologicamente, maior será a sinergia indispensável à criatividade e à produção de
tecnologia, fundamental para a inserção autônoma do país no mundo globalizado. Além disso, para combater as velhas mazelas
sociais precisamos assentar nossa sociedade nas novas tecnologias.
Democracia eletrônica
"A idéia de que colocando computadores poderosos na mão dos cidadãos estamos a protegê-los das autoridades totalitárias traz à memória convicções antigas sobre o poder da tecnologia a serviço dos cidadãos. Como escreveu Langdon Winner (um autor de leitura obrigatória para qualquer revolucionário informático) no ensaio Mythinformation:
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
30
“De todas as idéias políticas defendidas pelos entusiastas da informática, não há nenhuma mais pungente do que a crença no destino do computador como poderoso nivelador da sociedade moderna [...] Presumivelmente, o cidadão vulgar equipado com um microcomputador poderia assim contrariar a influência de grandes organizações baseadas no computador. Idéias deste gênero trazem à memória as crenças dos revolucionários do século XVIII, segundo os quais a entrega de armas de fogo aos cidadãos era essencial para a expulsão da autoridade entrincheirada. Na Revolução Americana, na Revolução Francesa, na Comuna de Paris e na Revolução Russa o papel do "povo armado" era um aspecto fundamental do programa revolucionário. Contudo, tal como a derrota militar da Com una de Paris demonstrou claramente, o fato de as forças populares estarem armadas pode não ser decisivo. Numa competição de força contra força, o opositor maior, mais sofisticado, mais impiedoso e melhor equipado consegue quase a vitória. Como tal, a disponibilidade de potência computacional a baixo custo poderá deslocar o limite que define a dimensão eletrônica da influência social, mas não tem necessariamente de alterar o equilíbrio de poderes. Dizer que um computador pessoal confere a um indivíduo um poder semelhante, digamos, ao da Agência Nacional de Segurança é dizer que um piloto de asa delta é adversário para a força aérea”.
O grande poder do conceito de democracia eletrônica reside no fato de as tendências das tecnologias de comunicação poderem
ajudar os cidadãos a acabar com o monopólio da sua atenção por parte dos poderes subjacentes ao paradigma da difusão - os donos das redes televisivas, associações de jornais e associações editoriais. A grande fraqueza do conceito de democracia eletrônica consiste em poder ser mais facilmente transformado num produto do que explicado. A comercialização e a mercadorização do discurso são apenas um dos graves problemas colocados pela sofisticação crescente dos meios de comunicação. A Rede, que funciona maravilhosamente como uma rede lateral, também pode ser usada como uma jaula invisível. A idéia de dirigentes políticos malignos controlarem uma rede desperta o receio de uma violação mais direta das liberdades.” (RHEINGOLD, Howard. A comunidade virtual. Lisboa, Gradiva, 1996, p. 348-49.)
Questão:
1. Considerando o exposto nestes textos, analise as seguintes posições:
Tecnologia acessível X capacitação Recursos disponíveis X tecnologia adequada
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
31
O duplo combate à pobreza do conhecimento e a necessidade da alfabetização tecnológica O economista e jornalista Gilson Schwartz escreveu, em junho de 2000:
"A exclusão digital não é ficar sem computador ou telefone celular. É continuarmos incapazes de pensar, de criar e de organizar novas
formas, mais justas e dinâmicas, de produção e distribuição de riqueza simbólica e material" ("Exclusão digital entra na agenda econômica
mundial". Folha de S. Paulo, São Paulo, 18 jan. 2000).
Quando falamos em riqueza simbólica e pobreza do conhecimento precisamos antes falar dos instrumentos cognitivos de
obtenção do conhecimento, sem os quais este seria impossível. O bom domínio da língua e de sua forma culta é essencial para se
comunicar e para poder criar. O exercício da leitura emula a criatividade e fomenta processos mentais de reflexão cada vez mais
complexos, elevando assim a capacidade de pensar.
Falar em alfabetização tecnológica diante do analfabetismo funcional pode parecer um tanto equivocado. Não deveríamos
então concentrar recursos e tempo para romper as engrenagens que produzem analfabetos funcionais? Para combater o duplo
analfabetismo, o digital e o funcional, a saída não seria a informatização completa das escolas tal como a sugestão do Govemment
Leaders Conference, encontro ocorrido no primeiro semestre de 2001, em Seattle, sob o patrocínio da Microsoft? Sim e não.
Sim. Porque é necessário ter um plano de informatizar e conectar todas as escolas à Internet. Este plano deve buscar
formar os professores para o novo ambiente de ensino, evitando que os computadores fiquem ociosos por falta de competência
em utilizá-los como instrumento pedagógico ou simplesmente por não saber realizar seus procedimentos mais elementares. Na
primeira gestão Clinton-AI Gore, o governo norte-americano havia distribuído computadores para quase todas as escolas do país.
Não deu certo. Em muitas regiões as máquinas viraram sucata. Faltou uma política de requalificação dos professores e uma nova
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
32
diretriz pedagógica que vislumbrasse a revolução tecnológica que já estava em curso. Em resumo, a inclusão digital passa
necessariamente pela escola e por sua transformação.
Não. A política de inclusão digital não pode se restringir à escola e ao ensino formal. Com o maior uso dos equipamentos
nas escolas, fica a pergunta: e quem não está na escola ou já se formou e não possui recursos para obter e manter uma linha
telefônica e um computador conectado à Internet?
Além da questão do acesso para enviar e receber seu correio eletrônico, para fiscalizar seu governo, para participar de uma lista
de discussão sobre um tema de seu agrado, para distribuir seu currículo em busca de um emprego, para discutir com seu mentor
da Cidade do Conhecimento, como será possível se manter atualizado diante de softwares e sites que estão em constante
evolução e mutação? A política de inclusão digital deve abrir outros espaços de acesso.
Por outro lado, há muito o que fazer nas escolas. a Censo Escolar 2000 mostrou que 82% das escolas de ensino médio no
Brasil têm biblioteca e conseguem atender 87% dos alunos. No ensino fundamental, somente 25% possuem bibliotecas,
atendendo 58% dos alunos. a país está convivendo com 42% das crianças sem acesso a uma diversidade mínima de livros para
apoiar sua formação escolar.
O Censo ainda esclareceu que somente 46% das escolas de segundo grau possuem laboratório de ciências, percentual que
cai para 7,3% no ensino fundamental. Temos laboratórios de informática em quase metade das escolas de ensino médio do país,
mas somente 34,8% têm acesso à Internet. No ensino fundamental, apenas 9% têm laboratório e só 6,7% das escolas acessam a
Internet.
Este quadro insuficiente de informatização e conexão das escolas deve ser enfrentado com prioridade. O governo deveria
destinar boa parte das verbas do FUST (Fundo de Universalização das Telecomunicações) para este fim. Por outro lado, é preciso
frisar que a maioria das competências de uma pessoa, obtidas no trabalho ou na escola, mesmo em nível superior, será
rapidamente superada. A renovação veloz e constante do conhecimento é um dos principais elementos que caracterizam a era da
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
33
informação. Assim, também vai se alterando a natureza do trabalho em nossa sociedade. Transacionar conhecimento passa a ser
uma das principais habilidades requeridas pelos empreendimentos da nova economia e pela grande migração de empresas
tradicionais para a economia em rede.
O que é a Cidade do Conhecimento do IEA-USP
A Cidade do Conhecimento é uma rede de comunicação entre o mundo escolar e o mundo do trabalho criada pelo Instituto de Estudos
Avançados da Universidade de São Paulo (www.usp.br/iea/cidade). Criando redes nas quais ocorre a produção compartilhada e cooperativa de conhecimento entre esses dois mundos, sua missão é ampliar e melhorar as oportunidades de emprego no país por meio de tecnologias da informação e comunicação. Cada interação terá como resultado um conteúdo que ficará disponível na Biblioteca Digital da Universidade de São Paulo. Ao mesmo tempo, a Cidade será ela própria um campo de pesquisa sobre novas formas de produção de conhecimento e sobre o uso social das redes de informação, inclusive sobre a infra-estrutura, os softwares, os ambientes e culturas em que é possível construir projetos colaborativos. A Cidade é um projeto de pesquisa e desenvolvimento coordenado pelo professor Gilson Schwartz, jornalista, economista e sociólogo.
Educação e tecnologias intelectuais
A educação que cultiva a idéia do saber consolidado deve ser substituída pela que ensina e prepara a pessoa para o
aprendizado permanente. Agora a escola é apenas um pólo de orientação diante do dilúvio de informações gerado e
constantemente alimentado pela rede mundial de computadores.
A política educacional deve ser formulada para absorver e utilizar as tecnologias intelectuais que amplificaram a inteligência
humana e suas funções cognitivas. A memória foi ampliada pelos bancos de dados, pelos documentos em hipermídia e pelos
arquivos digitais. A imaginação teve nas tecnologias de simulação um enorme avanço. O raciocínio pode atingir complexidade
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
34
inimaginável nos modelos matemáticos estocásticos e nos mecanismos de inteligência artificial. A pesquisa dá saltos com o saber
compartilhado entre cientistas espalhados pelo planeta (o Projeto Genoma é o exemplo mais destacado), e a dedução lógica e a
indução vão sendo secundarizadas pelas simulações de hipóteses com a realidade virtual.
O que está em jogo é o potencial de inteligência coletiva da sociedade. Não podemos aceitar um ensino que desconsidere
esta conjuntura e leve para as comunidades socialmente carentes a noção de um saber falsamente imóvel ou de pouca
mobilidade, uma formação tecnicista e mecanicista, típica da fase taylorista-fordista, centrada na linearidade e na escala piramidal,
enquanto as elites são formadas para navegar no espaço dos fluxos, encontrar informações que produzam conhecimento e
aprender continuamente a aprender e a pesquisar.
A idéia de ensino aberto ao jovem e à sua comunidade deve ser incorporada a qualquer programa de inclusão digital e
alfabetização tecnológica. O combate à exclusão não se resume ao ensino popular de informática ou a cursos rápidos de
montagem de computadores.
É necessário ir além. Uma pedagogia que incentive a aprendizagem personalizada a partir do interesse de cada um e ao
mesmo tempo viabilize a aprendizagem coletiva, a aprendizagem em rede e pela rede: este deve ser o espírito da alfabetização
tecnológica.
Orientar os percursos individuais e entender a educação como algo que não pode mais simplesmente ser definido com
antecedência. Educar não pode ser entendido como aquilo que se pratica dentro dos muros escolares. Educar é cada vez mais
mergulhar na fronteira virtual. Por isso precisamos de novos modelos de formação educacional em que os conhecimentos abertos
e contínuos precisam ser entendidos como singulares, vinculados a alguns objetivos e contextos, devendo ser reconhecidos como
pertencentes às pessoas e às suas comunidades. Compreender e identificar a origem da informação é essencial para a sua
transformação em conhecimento.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
35
O professor será cada vez mais um orientador indispensável, um coordenador de expedições em busca dos saberes
coletivos. Os grandes navegadores de outrora seriam hoje os exploradores do ciberespaço à procura de saberes e inovações. Por
isso, as linhas gerais de uma política de Inclusão Digital-Alfabetização Tecnológica devem superar o mero ensino da informática,
insuficiente para as necessidades de ampliação e consolidação da cidadania nas comunidades numa era da informação. O
manuseio, a elaboração e a compreensão dos softwares são instrumentos primários de uma política de inclusão e alfabetização
tecnológica que deve contemplar os seguintes elementos:
• A aprendizagem é um processo permanente e personalizado.
• Navegar na rede é uma forma de obtenção de informações que pode gerar conhecimento .
• É direito das comunidades obter a orientação presencial de seus jovens e adultos para refletir criticamente em um espaço
de saber flutuante, contínuo e permanentemente renovável.
• A aprendizagem em rede é cooperativa.
• Ao interagir, obtendo e gerando hipertextos, se está praticando e desenvolvendo uma inteligência coletiva.
• É fundamental reconhecer, enaltecer e disseminar pela rede os saberes desenvolvidos pela comunidade.
• Cada cidadã e cidadão deve buscar desenvolver na rede múltiplas competências.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
36
• É preciso assegurar à população o conhecimento básico da informática e incentivar o processo permanente de auto-
aprendizagem.
Questões:
1. Pobreza social significa pobreza intelectual? 2. A escola pode ser um instrumento da redução da exclusão social e/ou digital? Como?
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
37
O direito de acesso é a nova face da liberdade de expressão
O Concise Oxford Dictionary, reunião dos termos mais empregados da língua inglesa, incluiu em sua oitava edição, em
1990, o verbo access (acessar). Esta constatação encontra-se no livro do economista Jeremy Rifkin, A Era do Acesso (São Paulo,
Makron Books, 2001, p. 12). Acessar é um dos termos mais utilizados na sociedade em rede. O acesso à comunicação mediada
por computador' tornou-se sinônimo de direito à comunicação.
Já na Revolução Francesa (1789), a liberdade de expressão só poderia existir se estivesse assegurada a liberdade de uso
do suporte que transmitia a informação. Assim, a liberdade de imprensa era a materialização da liberdade de expressão. Uma
estava intrinsecamente vinculada à outra. Separá-las seria como eliminar a essência de ambas.
Nas sociedades modernas, o acesso às tecnologias de reprodução de informações em larga escala era uma condição
democrática. Na sociedade da informação, a. defesa da inclusão digital é fundamental não somente por motivos econômicos ou de
empregabilidade, mas por razões político-sociais, principalmente para assegurar o direito inalienável à comunicação. Comunicar
na sociedade pós-moderna é poder interagir nas redes de informação.
Não é suficiente ter uma mente livre se nossas palavras não podem circular tal como as palavras de outros.
A maioria da população, ao ser privada do acesso à comunicação mediada por computador, está sendo simplesmente impedida de
se comunicar pelo meio mais ágil, completo e abrangente. O apartheid digital arrebenta uma liberdade formal básica do universo
liberal-democrático. Passam a existir dois tipos de cidadão, aquele que pode acessar instantaneamente o que os outros falam,
com eles podendo interagir, e aqueles que estão privados da velocidade de comunicação.
Entender o acesso à Internet também como um direito de compartilhar as redes de comunicação e informação é
fundamental para assegurar seu uso cultural, social e cidadão, ou seja, para superar os entendimentos de que a rede mundial de
computadores está destinada a ser um grande hipermercado virtual, recuperando o espírito inicial de parte de seus idealizadores.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
38
A diferença qualitativa da comunicação em rede de todas as formas anteriores está na interatividade. Esta característica é
poderosa e deve ser estimulada nas políticas de inclusão. A exploração da interatividade incentiva a criatividade, a curiosidade, o
conhecimento, a sociabilidade e até a criação de mais sites não comerciais em língua portuguesa, arejando e mantendo viva a
presença de nosso universo cultural na rede mundial de computadores.
As ferramentas interativas da rede podem aumentar a fiscalização democrática sobre governos - que, aliás, ainda usam
pouco as possibilidades tecnológicas de relacionamento mútuo cidadão-governo e governo-cidadão. O direito de acesso passa a
viabilizar também o direito de fiscalizar, cobrar e propor medidas aos poderes públicos. Pode até viabilizar o direito de votar pela
rede. Democracia na sociedade da informação deve incluir a democratização do acesso, que pode viabilizar a democracia
eletrônica.
Questões:
1. Você conhece alguma lei que regulamenta ou limita o uso da tecnologia digital?
2. Que mudanças seriam necessárias para normatizar e promover o acesso à tecnologia digital para as pessoas em geral?
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
39
As propostas de inclusão digital
Alguns fatos chamam a atenção: o ex-presidente Bill Clinton veio ao Brasil, no segundo semestre de 2001, e escolheu fazer
uma palestra sobre a divisão digital, ou digital divide. Este termo inglês define o abismo ou o fosso que divide as pessoas que
possuem habilidades para lidar com computadores das não alfabetizadas digitalmente. A preocupação com a exclusão digital é
crescente nos discursos e encontros dos principais dirigentes políticos da Terra. Até um dos fundadores do Fórum de Davos, na
Suíça, Klaus Schwab, tem escrito sobre a importância da extensão da cidadania a partir das novas tecnologias da informação.
Como relatou o jornalista Clóvis Rossi, o próprio presidente do Banco Central brasileiro ficou sensibilizado, em Davos, com a
necessidade de utilizar intensivamente as tecnologias da informação nas escolas.
Pelo menos o discurso não tem separado nitidamente as forças políticas quando se trata de discutir a inclusão digital.
Direita, centro e esquerda, socialistas, neokeynesianos e neoliberais, todos têm concordado com a idéia da alfabetização digital
como prioridade para superar a pobreza. As divergências ideológicas se manifestam nas opções e prioridades da implementação
das propostas de universalização do acesso às tecnologias da inteligência.
Os professores Jorge Ruben Tapia e Renato Dalmazo discutindo a aplicação do conceito de serviço universal nas
telecomunicações, afirmaram em seu trabalho "O significado do serviço universal frente à liberalização das telecomunicações e à
Sociedade da informação" que o elemento definidor essencial "é o papel dos poderes públicos na determinação das escolhas que
definem os objetivos englobados pela noção de serviço público" (p. 84). As disputas sobre o papel do Estado, da sociedade e do
mercado bem como sobre escolhas tecnológicas mais ou menos amplas, tendem a recolocar a tensão entre os vários liberalismos
e os diversos focos de justiça social, ou seja, de distribuição equânime dos benefícios e ganhos da produção e da criação sociais.
O acesso à informática e aos computadores é o primeiro passo da inclusão digital. Inúmeras experiências têm sido
aplicadas em países ricos e pobres. A disseminação de laboratórios e salas de informática nas escolas e bibliotecas da rede
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
40
pública já é uma realidade em quase todos os países. Contudo, não basta levar computadores para as escolas. É preciso discutir
seu uso didático-pedagógico e buscar incorporá-los ao processo de ensino e aprendizagem. Também é necessário formar
adequadamente professores capazes de ensinar informática para evitar a subutilização dos laboratórios. Em várias escolas
brasileiras ainda encontramos laboratórios de informática não utilizados por faIta de instrutores capacitados.
A idéia de abrir salas de informática para a comunidade não-escolar é uma proposta que começa a ser discutida em vários
centros urbanos. E uma forma de potencializar o uso de recursos escassos e relativamente caros para os países pobres ou em
desenvolvimento. Usar essas salas ou laboratórios nos fins de semana também é uma possibilidade importante de alfabetização
tecnológica da comunidade que vive nas proximidades das escolas.
Outra proposta de acesso à informática e à Internet é a constituição de pontos eletrônicos de presença em áreas de grande
fluxo de pessoas. Várias instituições, empresas e governos têm experimentado a instalação de to tens e quiosques com acesso à
rede ou a alguns serviços da rede. Totens são como caixas de banco 24 horas. O projeto mais abrangente desse tipo, até o
momento, é o dos Correios. Em seus totens é permitido acessar sites da web, obter um e-mail gratuito e até participar de chats, as
salas de bate-papo on-line. Isto é feito a partir de quiosques de acesso público à Internet equipados com computador, teclado e
mouse, implantados em várias agências dos Correios espalhadas pelo Brasil.
Outra experiência interessante de acesso ao e-mail por intermédio de totens é a do POP Banco, lançada em janeiro de 2001
na cidade de São Paulo. O POP Banco instala computador, impressora, leitor de código de barras, teclado, trackball, câmara e
microfone em uma caixa vertical, o totem, nas padarias em áreas da periferia das grandes cidades. Essas máquinas, além de
servirem para realizar pagamentos e tomar empréstimos de pequenas quantias, são utilizadas para o acesso restrito à Internet e a
uma caixa postal eletrônica. Junto ao e-mail normal o totem do POP Banco permite enviar mensagens com imagem e som.
O maior problema dos quiosques e totens é sua inadequação para o uso amplo da Internet. São pensados para permitir a
busca veloz de uma informação, o acesso rápido a um ou outro site e, principalmente, para ler e enviar e-mail. Em geral, são
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
41
inadequados para a pesquisa e para o ensino-aprendizado. O usuário, na maioria das vezes, deve ficar de pé diante do totem ou
dentro do quiosque, exatamente para desestimular o uso do equipamento por um período mais longo.
Telecentros
A forma mais ampla de acesso físico ao computador e à Internet tem sido a dos telecentros. Esta experiência foi
amplamente empregada na Escandinávia e dali se espalhou para vários países do mundo. Um telecentro é um espaço físico em
que são alocados alguns computadores conectados à Internet para uso comunitário, em geral gratuito. São sinônimos de
telecentro os termos telecotage, centro comunitário de tecnologia, teletienda, oficina comunitária de comunicação, clube digital,
cabine pública, infocentro, entre outros. Os badalados cibercafés também são telecentros, mas em geral cobram pelo uso da
Internet e estão localizados em regiões mais nobres das cidades.
Existem telecentros dos mais variados tipos. Do ponto de vista de seu uso, existem aqueles que priorizam exclusivamente o
acesso, como, por exemplo, o On-Line Cidad@o, do Senac (Serviço Nacional do Comércio), e o Internet Livre, do SESC (Serviço
Social do Comércio); outros propõem usos múltiplos dos equipamentos, como o projeto Sampa.org, do Instituto Florestan
Fernandes, de São Paulo. Em relação ao financiamento da atividade, existem aqueles que buscam cobrar pequenas quantias da
comunidade para mantê-los e os que são sustentados por doações de empresas, tal como os telecentros geridos pelo CDI (Comitê
pela Democratização da Informática). Também existem aqueles mantidos por verbas públicas, como o Farol do Saber das
bibliotecas da Prefeitura de Curitiba ou os telecentros da Prefeitura de São Paulo do projeto e-cidadania. Uma outra categoria
reúne aqueles que tentam se viabilizar como empreendimentos sustentáveis, tal como a proposta da organização não
governamental Telecentros Brasil.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
42
Atualmente várias organizações estão se empenhando em enfrentar esse desafio. A ONG Global Partnerships, fundada em
Seattle, Washington, em 1993, auxilia as organizações que combatem a pobreza a tornarem-se auto-suficientes, superando a
dependência total de doações. Sua aposta está em aplicar recursos empresariais, habilidades e criatividade para construir
programas eficientes. A Global Partnerships acredita que as novas tecnologias podem ter um grande impacto no combate à
pobreza e na construção de ferramentas para ajudar os mais pobres a se libertar do circuito da exclusão. A idéia é que o cidadão
pobre aprenda a se ajudar, ou seja, se emancipe ao entrar no mundo da informação e do conhecimento. Apesar dos grandes
esforços, os resultados da Global Partnerships ainda são pequenos.
Uma experiência inovadora foi realizada em Ohio, Estados Unidos. Trata-se do programa chamado de Cybercamp. Durante
as férias escolares, dezenas de jovens e professores da zona rural, urbana e suburbana foram reunidos para aprender hardware e
software em um curso intensivo que culminou com a produção de unidades de multimídia.
A idéia era misturar pessoas de realidades distintas na tarefa comum de ensinar e aprender o que sabiam, tendo como pano
de fundo as tecnologias da informação. Quando terminam a estadia no Cybercamp, os jovens voltam para suas escolas e tornam-
se reprodutores da tecnologia que aprenderam. Assim, jovens ensinam jovens a penetrar na sociedade do conhecimento. Em três
verões, o Cybercamp já formou 260 jovens que se tornaram técnicos e estão auxiliando a implementação da tecnologia em regiões
de exclusão. De volta às escolas, os jovens que participaram do programa ganham mais confiança, sentem-se úteis e melhoram
seu desempenho escolar. No Brasil, o projeto Aprendiz (www.aprendiz.org.br) criado e coordenado pelo jornalista Gilberto
Dimenstein, desenvolve práticas semelhantes.
De volta à questão dos telecentros, é claro que as formas de sua gestão também são bastante diversificadas. A principal
diferença está na incorporação da sociedade nas decisões sobre o uso do equipamento. Por receberem forte influência do Partido
dos Trabalhadores (PT), tanto o Sampa.org como o projeto e-cidadania buscam o envolvimento da comunidade na definição das
diretrizes de funcionamento dos telecentros. O primeiro telecentro do projeto e-cidadania inaugurado na Cidade Tiradentes, zona
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
43
Leste da capital paulista, apesar de ser da Prefeitura do Município, é dirigido por um Conselho Gestor eleito em assembléia pela
comunidade da região. Isso assegura que os representantes dos moradores, usuários do equipamento, fiscalizem, avaliem e
encontrem usos inovadores e úteis à comunidade local.
A experiência do Sampa.org é extremamente rica e se consolidou em uma área de grande carência na cidade de São
Paulo, o bairro do Capão Redondo, um dos berços do rap paulistano. O Sampa.org articula pontos eletrônicos de presença em
entidades representativas da comunidade, com dez computadores conectados à Internet em cada uma. Os monitores são
escolhidos pela comunidade, que possui um conselho diretivo da rede. O Instituto Adventista de Ensino (IAE), uma instituição
universitária, participa do projeto, assegurando a manutenção dos equipamentos e o treinamento de multiplicadores de
conhecimento nas comunidades. Além disso, o Sampa.org possui um Comitê Técnico integrado pelas empresas e instituições que
colaboram no projeto - entre elas estão a Microsoft, a 3COM, a Microtec. Este comitê busca fomentar e compartilhar inovações
tecnológicas para aplicar no combate à exclusão digital. O site do projeto utiliza uma tecnologia extremamente interativa e pode ser
acessado no endereço www.sampa.org .
Os telecentros estão em praticamente todo o mundo, da América do Norte à África e à América Latina. O Peru tem uma
experiência bastante extensa de implantação de telecentros e já existe uma comunidade virtual que congrega as experiências dos
telecentros, centrada principalmente na América Latina e no Caribe, conhecida como somos@telecentros (http:// www.tele-
centros.org). O International Development Research Centre (IDRC), sediado no Canadá, dá suporte para várias iniciativas de
inclusão digital.
A idéia de telecentros também está relatada como um dos instrumentos de inclusão digital no Livro Verde do Programa
Sociedade da Informação (ver o site www.socinfo.org.br). Este programa foi criado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)
brasileiro na esteira de ações similares no mundo e visa agrupar esforços para alicerçar a inserção do país na era da informação.
O Livro Verde contém as metas do programa e é "uma súmula consolidada das possíveis aplicações de tecnologias da
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
44
informação". Sua elaboração envolveu representantes do MCT, da iniciativa privada e das universidades. Mesmo não tendo
contemplado amplamente outras unidades da federação e as ONGs, o Livro Verde, no capítulo 3, denominado "Universalização de
serviços para a cidadania", reconhece que
"o desenvolvimento histórico da Internet no Brasil foi marcado, desde os seus primórdios no final da
década de 80, por estreita aliança entre o setor acadêmico e as ONGs, destacando-se a
cooperação entre a RNP, Rede Nacional de Pesquisa, e o Ibase, que culminou com o esforço de
abertura de serviços de Internet para todos os interessados, ocorrida em 1995".
O Livro Verde destacou o VivaRio, o CDI e a RITS como esforços fundamentais de disseminação da informática e da
Internet entre a população mais carente. O CDI é uma iniciativa pioneira de levar cursos de informática para favelas e bairros
pobres, unindo a iniciativa de voluntários e doações de equipamento de informática das empresas. A UNESCO (Organização das
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), a EXXON e a Fundação Starmedia firmaram uma parceria com o CDI
para conectar à Internet aproximadamente 130 comunidades brasileiras, distribuídas em 14 estados. Os telecentros do CDI
oferecem cursos de informática, tais como introdução ao sistema operacional Windows, programas de edição de texto e planilha
eletrônica, mas também desenvolvem dinâmicas que promovam a cidadania, a ecologia e os direitos humanos, por meio das
tecnologias da informação.
Encruzilhadas e dificuldades
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
45
Em maio de 2001, o governo federal organizou uma Oficina de Inclusão Digital que reuniu várias entidades da sociedade
civil, empresas e órgãos estatais para debater o tema. Um documento preliminar contendo as diretrizes para o combate à exclusão
digital no país ficou disponível para receber críticas e sugestões no site www. inclusaodigital.org.br. Neste encontro ficou clara uma
série de encruzilhadas e dificuldades para a evolução da universalização das tecnologias da informação em nossa sociedade. A
participação do Instituto Florestan Fernandes, do Sampa.org, do CDI e da RITS foi decisiva para a organização do evento e para a
produção de um documento que espelhasse o mínimo de diversidade existente nas inúmeras iniciativas de inclusão digital, dentro
e fora do Estado.
Uma disputa que ganhará força no próximo período será pela definição dos recursos públicos para o financiamento dos
telecentros. Duas fontes são evidentes: o FUST (Fundo de Universalização de Serviços de Telecomunicações) e a Lei de
Informática. O FUST concentra recursos que as operadoras de telecomunicações são obrigadas, por lei, a utilizar para
universalizar as telecomunicações, assegurando que estes serviços cheguem onde não são rentáveis comercialmente. As ONGs,
coordenadas pela RITS, reivindicaram que os recursos do FUST fossem utilizados também para a implantação da Internet nas
comunidades socialmente excluídas e pudessem ser geridos pelas ONGs. Obviamente, as empresas operadoras preferem elas
mesmas definir onde aplicar os recursos do FUST, o que seria um absurdo. Recursos de universalização não devem servir para
operações de marketing ou para resolver problemas do capital. A gestão do FUST, hoje de responsabilidade da Anatel (Agência
Brasileira de Telecomunicações), precisa ser alterada. As diretrizes da aplicação de recursos, bem como a análise dos projetos de
universalização e sua fiscalização devem ficar a cargo da sociedade civil. As empresas não podem definir como aplicar o tributo,
que foi delas recolhido, devido à notória incapacidade do mercado em enfrentar problemas socioeconômicos. Além do mais, os
recursos do FUST não podem servir de moeda de troca política para aqueles que estão no governo federal, não devem servir a
uma nova modalidade da política de clientela, o coronelismo eletrônico. Também devemos respeitar o princípio federativo quando
tratamos de recursos públicos - e isto a atual gestão do FUST nem de longe pensa em assegurar.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
46
A Lei de Informática também pode se tornar uma fonte de recursos para o combate à exclusão digital. O maior empenho das
empresas a favor da aprovação da nova lei se deve, sem dúvida, à possibilidade que ela Ihes oferece de pagar menos tributos, o
que permite reduzir custos e aumentar a capacidade de competir. Todavia, a lei exige que as empresas beneficiadas apliquem
pelo menos 5% de seu faturamento bruto, no Brasil, em pesquisa e desenvolvimento. Por um lado, é pouco animador reconhecer
que é preciso recorrer à renúncia fiscal para exigir empenho das empresas na geração de tecnologia. Por outro, a lei abre uma
janela para as empresas de informática utilizarem tais recursos para a construção de telecentros, locais em que deverão
desenvolver ferramentas para a alfabetização tecnológica e para outros usos comunitários que auxiliem uma maior capacitação e
autonomia tecnológica do país.
Outras iniciativas de inclusão digital passam pelo financiamento subsidiado a equipamentos (computadores) e à conexão
(linhas telefônicas e provedores de acesso), pela construção de equipamentos. a preços populares - como o net-computer ou o
computador popular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que será vendido a 250 dólares -, pelas propostas de
capilarização da infra-estrutura necessária à expansão da Internet em todo o território nacional. Em todas elas, é preciso assegurar
a atenção aos deficientes. Várias tecnologias permitem o uso da Internet pelos deficientes visuais, auditivos e motores. Muitas
dessas tecnologias estão disponíveis gratuitamente na própria rede.
A Rede Saci é uma organização que fornece soluções para facilitar a comunicação e a difusão de informações sobre a
deficiência em busca da inclusão social e do exercício da cidadania. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em
tempos de paz estima-se que 10% da população de países do Terceiro Mundo sejam de portadores de deficiência. No Brasil, este
número seria de 16 milhões, mas pode ser maior devido aos nossos trágicos índices de acidentes de trânsito, de trabalho e de
violência urbana. A Rede Saci foi organizada e é mantida pela Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária e de
Atividades Especiais da Universidade de São Paulo (CECAE-USP), pela Rede Nacional de Pesquisa (RNP), pela Amankay e pelo
Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NCE-UFRJ).
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
47
No site da Rede Saci (www.saci.org.br). é possível encontrar o KIT SACI, uma série de programas e ferramentas para os
portadores de deficiência se integrarem à sociedade da informação. Existem softwares que viabilizam a operação do
microcomputador por deficientes visuais, links para manuais e e-mails de técnicos que podem tirar qualquer dúvida sobre
instalação ou utilização dos programas. Também é possível encontrar uma versão compacta do DOSVOX, sistema composto por
60 programas e criado pelo NCE-UFRJ, e até o projeto Teclado Amigo, um dispositivo acoplado a qualquer parte móvel do corpo
do usuário para garantir a interação com o microcomputador.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
48
Inclusão digital: Liberdade, independência tecnológica e democratização da sociedade
Alguns acreditam que a adoção generalizada do software livre pode minorar a dependência tecnológica de países como o
Brasil. O que vem a ser o software livre? São programas abertos, ou seja, livres de restrição proprietária quanto a sua cessão,
alteração e distribuição. O Linux é um programa deste tipo e seu uso mundial vem crescendo, amplificado pelo l1!0vimento
mundial do software livre, cujo pólo dinâmico é a Free Software Foundation, ONG norte-americana.
Um programa aberto deve assegurar a todos o acesso irrestrito ao seu código-fonte, possibilitando a alteração de suas
características originais, seu aperfeiçoamento e sua adequação completa às necessidades dos usuários. Vários especialistas
defendem que, ao esconder o código-fonte, as empresas privam as pessoas de sua liberdade, uma vez que elas não podem
exercer seu direito de adaptação do programa a uma realidade ou vontade específica.
O código-fonte é o recurso preferencial utilizado pelo programador para modificar o programa. Sendo acessível a todos, a
maleabilidade do uso se intensificaria, junto com sua democratização. Os custos da aquisição desses programas também são bem
menores. A grande questão em geral apresentada contra o software livre é como uma empresa ganharia dinheiro produzindo
programas abertos. O software livre não é necessariamente um software gratuito. Várias empresas brasileiras adotaram o modelo
de distribuição gratuita de software e suporte pago. Seus lucros são maiores do que quando utilizavam o antigo modelo de
comercialização de software proprietário.
A essência do software livre reside em quatro liberdades que seus usuários devem exercer:
• Liberdade de executar o programa para qualquer propósito.
• Liberdade para estudar o programa e adaptá-la às suas próprias necessidades, ou seja, ter acesso ao seu código-fonte.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
49
• Liberdade de redistribuir suas cópias originais ou alteradas.
• Liberdade para aperfeiçoar o programa e liberá-lo para benefício da comunidade.
O patrono e maior teórico do movimento do software livre é O norte-americano Richard M. Stallman, presidente da Free
Software Foundation. Stallman trabalhou no laboratório de inteligência artificial do MIT, em 1971. Até aquela época, os pro-
gramadores trocavam seus códigos-fonte livremente. A disseminação da informática como elemento essencial das atividades
econômicas e políticas gerou a completa incorporação da dinâmica capitalista no interior das relações daqueles que a criavam. As
empresas foram assumindo cada vez mais a tecnologia fechada. Stallman sentiu que era necessário criar alguns sistemas que
permitissem aos usuários sua modificação, fundando assim o movimento do software livre. Também para Stallman não é correto
confundir software gratuito com livre. Por outro lado, o movimento cresceu na onda antimonopolista, contra as megaempresas de
software fechados, com a distribuição gratuita das ferramentas básicas e dos principais programas.
Do ponto de vista do setor público, a adoção do software livre traz a vantagem de economizar quantias vultosas com o
pagamento de licenças de programas proprietários. Além disso, pode permitir a melhor formatação e configuração dos softwares
aos interesses da administração. A desvantagem inicial estaria na necessidade de treinamento dos usuários e no custo de
desenvolvimento de ferramentas adequadas. A gestão petista na Procerg, empresa de processamento de dados do Rio Grande do
Sul, tem se empenhado com sucesso na disseminação do uso de software livre na administração pública gaúcha, apesar de essa
iniciativa ainda ser recente. Outra iniciativa importante é o projeto de lei nº. 226, de 1999, do deputado federal Walter Pinheiro (PT-
BA), que, caso aprovado, levará toda a administração pública brasileira a utilizar preferencialmente programas abertos.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
50
O projeto e-cidadania de inclusão digital da Prefeitura de São Paulo implantou em seu primeiro telecentro, no bairro Cidade
Tiradentes, os dois sistemas operacionais, Windows e Linux, em cada um dos computadores. A idéia é vincular a inclusão digital à
possibilidade de escolha do usuário e à realização do debate sobre os softwares proprietários. Os planos de inclusão digital não
podem ser programas de adesão compulsória a softwares proprietários. O poder público e as entidades têm a obrigação de
informar o que é o software livre e assegurar a liberdade de escolha às pessoas. Do contrário, a inclusão digital servirá como um
fator a mais para a formação de usuários aprisionados a um grupo empresarial global, treinados com recursos públicos.
Não devemos abrir mão de buscar uma inserção tecnológica própria no cenário mundial. O simples fato de desenvolver
softwares livres é um elemento de afirmação de nossa cidadania, de nossa inteligência coletiva, de redução da dependência
tecnológica e do pagamento de royalties ao Primeiro Mundo.
Democratização da sociedade
As várias iniciativas de inclusão digital podem confluir para a construção de uma gigantesca rede pública de comunicação,
principalmente pela construção dos telecentros na periferia das cidades. Esta malha de grande capilaridade permitirá viabilizar os
experimentos de orçamento participativo e as eleições eletrônicas para os conselhos municipais (da criança e do adolescente, do
idoso, dos jovens etc.).
Quanto mais telecentros instalados, maior será a possibilidade de envolvimento direto da população nas definições
essenciais do gasto público. As pessoas poderão ser chamadas a acompanhar os fóruns eletrônicos sobre a alocação de recursos
das várias esferas de governo. Também poderão votar eletronicamente nas prioridades que defendem.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
51
O acompanhamento da execução orçamentária também ficará mais próximo do cidadão, uma vez que ele terá acesso
instantâneo a essas informações, que estarão disponíveis nos sites governamentais e nos portais das ONGs. A rede pública de
comunicação ampliará a transparência da gestão estatal e possibilitará um maior controle público e popular sobre os governos.
É estratégica para a defesa de uma cidadania ativa a multiplicação dos telecentros em todas as cidades e áreas de
exclusão social. O telecentro, ou Ponto Eletrônico de Presença, é o elo que une o combate à exclusão digital e a luta pela
democratização profunda do Estado e da sociedade. As tecnologias de informação são poderosos instrumentos que os
movimentos e os indivíduos possuem para alcançar esse fim.
Questões:
1. Na sua opinião existe vontade política dos governos para promover a cultura do acesso à tecnologia digital?
2. É uma tarefa só de governos ou a sociedade também pode participar?
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
52
Conclusão: por uma política pública de inclusão digital O uso das tecnologias da informação para dar maior transparência e agilidade à gestão pública tem se disseminado pelo
planeta. Os governos eletrônicos começam a ser implantados em praticamente todos os continentes, até mesmo em regiões de
baixa conectividade, como o Brasil. A Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada em 2000, exige que o poder público dê trans-
parência à gestão do dinheiro público e à execução orçamentária. Para tanto, esta lei considerou a divulgação das informações por
meio eletrônico como um dos instrumentos aceitáveis e desejáveis de cumprimento da norma legal. Divulgar informações
imprescindíveis para a sociedade pela Internet é muito mais rápido e barato; além disso as possibilidades de interatividade com os
cidadãos são bem maiores do que em qualquer outro veículo de comunicação. Estas vantagens têm levado os serviços públicos
também para o ciberespaço, permitindo seu acesso remotamente, 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Contraditoriamente, esses esforços podem acabar elevando a desigualdade social e assegurando um serviço público mais
completo e veloz somente para os segmentos mais privilegiados da sociedade. Seria completamente injusto e pouco eficaz or-
ganizar o governo eletrônico sem, paralelamente, buscar a inserção na sociedade em rede das camadas excluídas da população.
Governos eletrônicos serão apenas reprodutores de privilégios se não colocarem no centro de sua proposta a inclusão das
camadas mais pauperizadas.
Questão:
1. Como a cultura de acesso à tecnologia digital pode contribuir para promover a inclusão social?
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
53
Referências Bibliográficas
AFONSO, Carlos A. Internet no Brasil: o acesso para todos é possível? São Paulo, Friedrich Ebert Stiftung, Policy Papel', nº. 26, setembro de 2000.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede (A era da informação: economia, sociedade e cultura; v.l). São Paulo, Paz e Terra,
1999. _______. O poder da identidade (A era da informação: economia, sociedade e cultura; v.2). São Paulo, Paz e Terra, 1999. _______. O fim do milênio (A era da informação: economia, sociedade e cultura; v.3). São Paulo, Paz e Terra, 1999. CHESNAIS, François. A mundialização do capital. São Paulo, Xamã, 1996. DANTAS, Marcos. A lógica do capital informação. Rio
de Janeiro, Contraponto, 1996. ERCILIA, Maria. A Internet. São Paulo, Publifolha, 2000. (Coleção Folha Explica.) LASTRES, Helena e ALBAGLI, Sarita (orgs.).
Informação e globalização na era do conhecimento. Rio de Janeiro, Campus, 1999. LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência. Rio de Janeiro, Editora 34, 1993. ______. O que é o virtual. São Paulo, Ed. 34, 1996. _______. Cibercultura. São Paulo, Ed. 34, 1999. LOADER, Brian D. (org.) Cyberspace Divide: equality, agency and policy in the information society. Nova York, Routledge, 1998. LOJKINE, Jean. A revolução informacional. São Paulo, Cortez, 1999. MALDONADO, Tomás. Crítica de Ia razón informática. Barcelona, Paidós, 1998. MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Sociedade da Informação no Brasil - Livro Verde. Brasília, set. 2000.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
54
RANGEL, Ricardo. Passado e futuro da era da informação. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999. RHEINGOLD, Howard. A comunidade virtual. Lisboa, Gradiva, 1996. RIBEIRO, Gustavo Lins. A Internet e a emergência da comunidade imaginada transnacional. Revista Sociedade e Estado, v. X, nU
1, jan-jun. 1995. RIFKIN, Jeremy. A Era do Acesso: transição de mercados convencionais para networks e o nascimento de uma nova economia.
São Paulo, Makron Books, 2001. SANTOS, Milton e SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XX, Rio de Janeiro, Record, 2001. SHAPIRO, Carl e VARIAN, Hall. A economia da informação: como os princípios econômicos se aplicam à era da Internet. Rio de
Janeiro, Campus, 1997. SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Poder no ciberespaço: o Estado-nação, o controle e a regulamentação da Internet. São Paulo,
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas-USP, 2000. Dissertação de mestrado em Ciência Política. Disponível na Biblioteca da
FFLCH-USP. TAPIA, Jorge Ruben Biton e RALLET, Alain (orgs.). Telecomunicações, desregulamentação e convergência tecnológica: uma
análise comparada. Campinas, Instituto de Economia da Unicamp, 1999. (Coleção Pesquisas, 2.) TAPSCOTT, Don. Economia digital. São Paulo, Makron Books, 1997.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
55
Sites importantes
• Comitê Gestor da Internet no Brasil: www.cg.org.br
• Programa Sociedade da Informação: www.socinfo.org.br
• Projeto E-Cidadania: www.prefeitura.sp.gov.br
• Projeto On-Line Cidadão: www.onlinecidadao.com.br
• Projeto Internet Livre: www.sescsp.com.br
• Projeto Aprendiz: www.aprendiz.org.br
• CDI: www.cdi.org.br
• Rede Saci: www.saci.org.br
• Acceso Universal: www.telecentro.cll
• Fundação Chasquinet do Equador: www.chasquinet.org/
• RITS: www.rits.org.br
• SAMPA.ORG: www.sampa.org
• Telecentros Brasil: www.regency.org/telecentro.htm
• 10' Internet Pop: www.ibope.com.br/digitallprodutoslinternetpop/lOpop.htm
• Projeto Kidlink: www.kidlink.org/brasil
• SOMOS@TELECENTROS - Red de Telecentros en América Latina y El Caribe: www.tele-centros.org
• Cabines Públicas - Peru: http://cabinas.rcp.net.pe/
• União Internacional das Telecomunicações: www.itu.int/
• International Development Research Centre - IDRC: www.idrc.ca/
• Free Software Foundation: www.gnu.org/Anatel - FUST: www.anatel.gov.br
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
56
Tabelas
As tabelas abaixo foram extraídas do Livro Verde da Sociedade da Informação e estão disponíveis no site www.socinfo.org.br .
Penetração da Internet X Custo de Acesso
Usuários e Hosts Internet em países latino-americanos
Países Usuários (milhares)
Hosts (p/1 O mil hab.)
Pop. (milhões)
Pop.
Urbana (%)
Telefones Fixos (linhas /100 hab.\
PC (por mil hab.)
Usuários I Pop. (%)
Uruquai 10 49,7 3 91 23.2 21.9 3.33
Chile 45 15,4 15 84 18,0 54.1 3,00
Costa Rica 6 8,1 3 50 16,9' 2,17
BRASIL 3.30 9,9 164 80 10,71 26,3 2,01
Colômbia 40 2,9 40 74 14,8 33,4 1,00
Arqentina 35 15,9 36 89 19,1í 39,2 0,97
México 90 8,8 94 74 9,61 37,3 0,96
Panamá 2 2,8 3 56 13,4 0,83
Venezuela 17 2,9 23 86 11,61 36,6 0,74
R. Dominicana 5 6,0 8 63 8.8, 0,63
Peru 7 1,5 24 72 6,8 12,3 0,31
ParaCjuai 12 1,6 5 54 4,3 0,24
Nicaráqua 12 1,4 5 63 2,9 0,24
Equador 25 1,0 12 60 7,5 13,0 0,21
Bolívia 15 0,6 8 62 6,9, 0,19
Guatemala 18 1,0 11 40 4,1 3,0 0,16
EI Salvador 9 1,1 6 46 5,Ôi 0,15
Cuba 12 0,1 11 77 3,41 0,11
Honduras 5 0,2 6 45 3.7! 0,08
Haiti 3 0,0 7 33 0,8i 0,04
Totais e médias 5996 6,5 484 65 9,6' 27,7 0,90
Fonte: Compilação de dados do Banco Mundial, 1999, e da NUA Internet, 1999, conforme AFO:\SO, CarIos AIberto fi aI.
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
57
Usuários e Hosts Internet nas dez maiores economias (por PIB)
Dez maiores Usuários Hasts(p/lO Papo Pop. Urbana Telefones I PC
Usuários / economias (milhares)mil hab.) Fixos (Iinhasl (p/ mil hab.) Pop.(%)
(porPIB) (milhões) (%)
p/100 hab.)
EUA 110.000 975,9 268 77 64,4 406.7 41.0 Canadá 12.000 336,0 30 77 61,0 271,e 40,0
Inglaterra 14.000 201.8 59 89 54,0 242, 23,7
!Japão 16.000 140,0 126 78 47,9 202,4 12,7 IAlemanha 10.000 140.6 82 87 55,0 255,5 12,2
IFrança 4.700 73,3 59 75 57,5 174,4 7,97 Itál,a 4.200 55,7 58 67 44,7 113,e 7,24 Espanha 2.800 61,9 39 77 40,3 122,1 718 BRASIL 3,300 9,9 164 80 10,7 26,3 2,01 China
sem Hono·Konol 1.700 0.2 1227 32 5,6 6,e 0,14
Totais e médias 178,700 199,5 2112 73,9 44,1 182, 15,4 Totais e médias
excluindo China 177.000 221,7 885 786 48,4 201,5 17,le
Fonte: Compilação de dado, do Banco Mundial, 1999, e da NUA Internet, 1999, conforme AFONSO, CarIos Alberto fi aI.
As duas tabelas seguintes foram extraídas da pesquisa "Cidades Virtuais na América Latina", realizada pela Faculdade Cásper Líbero, Instituto Florestan Fernandes e
ILDES (Instituto Latino-Americano de Desenvolvimento Econômico e Social - Fundação Friedrich Ebert), sobre a presença dos municípios latino-americanos na Internet,
realizada entre junho e outubro de 2000.
Presença dos municípios latino-americanos na rede mundial de computadores
País Colocação relativa
às Prefeituras Nº de Sites
municipais Colocação relativa
aos Hosts Nº de Hosts
BRASIL 1 352 1 446.444
Argentina 2 77 3 142.470
México 3 53 2 404.873
Chile 4 39 5 40.190
Colombia 5 29 4 40.565
Venezuela 6 8 7 14.281
UruQuai 7 5 6 25.385
Bolívia 8 4 11 948
Equador 8 4 9 1922
Honduras 9 3 S/I" S/I
Peru 10 2 8 9230
ParaQuai 11 1 10 1660
Panamá 11 1 S/I S/I
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.
58
País Número de sites
municipais %
Total de municípios
Arqentina 77 6,5 1.175
BRASIL 352 6,3 5.507
México 53 2,1 2.427
Fontes: Subsccrelaria de Programación Regional, Argentina, Centro Nacional de Dcsarrollo Municipal, México. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Brasil.
A tabela abaixo é mais significativa: mostra que o Brasil, apesar de estar entre as dez maiores economias pelo critério do Banco Mundial, que considera o PIE, ocupa
posição muito tímida bem distante da do grupo de países economicamente mais avançados - com relação aos percentuais de hosts por usuários e de usuários pela
população.
Instalação e densidade de linhas no Brasil Serviço telefônico fixo comutado (STFC) e serviço móvel celular (SMC)
Ano Linhas STFC
(milhões) Linhas SMC
(milhões) Linhas STFC (leis. P/1oo hab.)
Linhas SMC (tels. p/1oo hab.)
1998 22,1 7,4 13,6 4,5 1999 27,8 15,0 16,8 9,1 2000 35,0 21,5 20,9 12,9 2001 40,5 29,2 23,9 17.2 2002 45,1 37,5 26,3 21,9 2003 49,6 45,5 28,5 26,2
Fonte: Anatel, Paste 2000,
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Softwarehttp://www.foxitsoftware.com For evaluation only.