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A SENSIBILIDADE NA MEDIAÇÃO DE CONFLITOS EM BUSCA DA
CULTURA DA PAZ 1
Fabiana Cristina Hansen2
RESUMO: o presente artigo pretende abordar acerca da relevância da sensibilidade na
mediação como meio interativo na solução de conflitos escolares, analisando seus aspectos
conceituais e gerais especialmente na visão de Warat. Ainda, refletir-se-á algumas
considerações que se precisa ter com relação à mediação escolar numa ótica da comunicação
não-violenta e, como forma rápida e ágil para chegar a solução do conflito. A sociedade em
que vivemos se caracteriza pela complexidade multicultural. Para as pessoas em geral, talvez
seja difícil de se entender em função dos conflitos que emergem. Nos ambientes escolares,
muitas crianças e adolescentes se encontram por força de obrigação legal e, muitas vezes, em
contrariedade a seus desejos e a seus hábitos familiares. O grande desafio é ao mesmo tempo
sustentar as diferenças e garantir os direitos de aprendizagem e desenvolvimento a todos,
obrigação legal da instituição escolar. Daí a importância do diálogo e da sensibilidade por
parte dos profissionais da educação. Destaca-se o valor da palavra, da comunicação, da escuta
entre os sujeitos.Tema este apresentado na conclusão do Curso de Pós Graduação Lato Sensu
em Orientação Educacional pela Universidade Federal da Fronteira Sul – Campus Cerro
Largo/RS.
Palavras-chave: Mediação; Sensibilidade, Comunicação.
INTRODUÇÃO
Este artigo é fruto de uma pesquisa bibliográfica para a conclusão de Curso de Pós
Graduação em Orientação Educacional e busca refletir sobre a mediação de conflitos nas
1 Grupo de Trabalho GT – 06 Direito, Cidadania e Cultura. 2 Pedagoga e Especialista em Educação pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões; Especialista em Orientação Educacional pela Universidade Federal da Fronteira Sul. E-mail: [email protected]
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instituições escolares, acentuando a dimensão humana da sensibilidade nos relacionamentos
por parte do mediador.
O surgimento de projetos abordando a mediação como método para o tratamento de
conflitos nas escolas tem sido crescente e as experiências obtidas com a mediação mostram-
se exitosas, especialmente quando se trata de ações em rede de apoio escolar. No Brasil,
ainda são poucas as experiências em mediação escolar, contudo as que existem já servem de
inspiração e de referência nas ações de prevenção à violência nas escolas.
Esta pesquisa aborda formas de entendimento de como se dá a mediação na resolução
de conflitos, trazendo a sensibilidade e a valorização das diferenças como ponto
imprescindível das ações de mediação. Para tanto, a pesquisa se vale especialmente das
reflexões de Luis Alberto Warat, jurista de renome internacional que critica o formalismo
jurídico e insiste na participação efetiva e afetiva do processo de resolução do conflito pelos
sujeitos nele envolvidos, razão pela qual propõe a ativação da faculdade da imaginação tanto
quanto a do pensamento objetivo.
Para desenvolver alguns aspectos atinentes ao conceito waratiano de mediação,
desconsideram-se aqui possíveis controvérsias acerca desse tema. Tecem-se considerações
sob a inspiração do pensamento original de Warat, trazendo-o para a abordagem dos conflitos
escolares, de modo que, em perspectiva pedagógica, a administração positiva e resolutiva dos
conflitos escolares adquira um caráter manifestamente educativo e reconstrutivo em relação
às formas de relacionamento entre os sujeitos que atuam nos ambientes escolares como
aprendizes, mestres e gestores.
A sociedade em que vivemos se caracteriza pela complexidade multicultural. Para as
pessoas em geral, isso é difícil de entender em função dos conflitos que emergem.
Especialmente nos ambientes escolares, nos quais muitas crianças e adolescentes se
encontram por força de obrigação legal e, muitas vezes, em contrariedade a seus desejos e a
seus hábitos familiares. O grande desafio é ao mesmo tempo sustentar as diferenças e garantir
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os direitos de aprendizagem e desenvolvimento a todos, obrigação legal da instituição
escolar. Daí a importância do diálogo e da sensibilidade por parte dos profissionais da
educação. Destaca-se o valor da palavra, da comunicação, da escuta entre os sujeitos.
Diante deste contexto, algumas indagações frente à resolução de conflitos apontam
para tendências humanistas, da justiça restaurativa e da mediação de conflitos fora dos
tribunais. Mediadores de conflitos ocupam o lugar do terceiro nas relações dialógicas a fim
de promover o diálogo através da escuta, do envolvimento das partes, e, do reconhecimento
da individualidade humana, em busca de uma cultura de paz. A escola, como espaço social e
cultural, vem possibilitar a preparação necessária da criança e do jovem para atuar na
sociedade, no mercado de trabalho e saber conviver em sociedade. Assim sendo a escola
como protagonista deste cenário necessita conhecer a diversidade cultural dos alunos,
administrá-la e contribuir para a evolução do conhecimento de si e do mundo. Os
profissionais da educação, orientador educacional, mediadores deste processo,viabilizam
estratégias para concretizar os objetivos de aprendizagem e conflitos de convivência social e
restauração das relações.
Desta forma, a mediação dos conflitos na escola, possui um sentido de facilitar a
comunicação entre duas ou mais pessoas em conflito, pode levar a um caminho de acordo
mas acima de tudo ele é “um encontro transformador entre as partes que, de algum modo,
possuem diferenças, interesses opostos e coincidentes” (WARAT, 1988 p.31).O interesse por
esta metodologia de resolução de conflitos se deu em função de que a mediação de conflitos
trabalha com pessoas e não casos. Esta assertiva propõe demonstrar que o eixo central de
referência da atividade constitui-se nas próprias pessoas. Este sustentáculo pressupõe acolhê-
las em suas habilidades e limitações, promovendo seu fortalecimento como indivíduos
objetos de direitos e deveres. Tal fato acaba por levar a um grande aprendizado para as
pessoas, que melhor saberão lidar com seus conflitos aí o caráter didático do procedimento,
pois as pessoas passam a adotar outras atitudes quando outros conflitos ocorrerem no futuro,
depois de passarem pelo método. Para tanto, a cooperação e a boa fé devem se fazer presentes
sempre através do diálogo.
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O diálogo negociado entre as partes envolvidas numa determinada situação
conflituosa reflete cumplicidade na diferença dos interesses remetendo um olhar a outra parte
numa empatia de relação através da sensibilidade pela diferença e de re-interpretação do
conflito.
Enquanto os homens não conseguirem encontrar uma forma de
desistir da violência para resolver seus conflitos, e não encontrarem uma
forma de conviver sem recorrer à violência, quer se trate de violência das
instituições, quer da violência daqueles que tentam destruir essas
mesmas instituições, o curso da história continuará a ser o que sempre
foi, ou seja, uma monótona e quase obsessiva tragédia de lágrimas e
sangue. (BOBBIO, apud BALESTRERI, 2008, p.17).
Assim dizendo, pensar em mediação de conflitos nas escolas é pensar em mudanças
de paradigmas culturais. A cultura como instrumento de ordem mantém o padrão até o
momento que for necessário modificá-lo. Diante destas colocações, reflete-se sobre que
implicações a sensibilidade tem no discurso restaurativo para o processo de medicação de
conflitos em unidades escolares. Ao ver de Luis Alberto Warat, a realidade deve sempre ser
construída poeticamente, a vida é algo que deve ser amado com fervor. O cidadão deve se
construir como um sujeito poético e sensível. A construção do conhecimento de objetos e a
possibilidade de saborear a vida estão condicionadas ao estabelecimento de vínculos
positivos com outros sujeitos. Por isso os profissionais de educação devem estar atentos para
as possibilidades de conexões poetizadas com os educandos. Neste estudo busca-se
demonstrar a relevância do polimento da sensibilidade como condição para otimizar as
relações humanas nas instituições escolares, como condição contextual para a aprendizagem e
o desenvolvimento de todos.
1. A MEDIAÇÃO – LINGUAGEM QUE VEM DO CORAÇÃO
Mediação, método dialógico de resolução de conflitos, consiste na intervenção de um
terceiro, pessoa física, independente, imparcial, competente, diligente e escolhido em
consenso, que coordena reuniões conjuntas ou separadas para que as pessoas envolvidas em
conflitos construam conjuntamente a melhor e mais criativa solução. Este método, indicado
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pela Organização das Nações Unidas (ONU) como a mais adequada maneira de promoção da
cultura da paz, pode ser empregado em inúmeras áreas. Costuma-se afirmar que é eficaz na
resolução de qualquer tipo de conflito onde existam vínculos passados ou a ser desenvolvidos
no futuro entre as pessoas, sejam físicas ou jurídicas.
A atividade baseia-se no princípio consagrado no Direito Contratual da Autonomia
das Vontades, o que significa dizer que ela poderá ser utilizada se houver pessoas que, ao a
conhecerem, a elegeram para buscar solução para seus conflitos. Vale dizer que não há como
impor às pessoas que utilizem o método, dado seu caráter eminentemente voluntário.
Entendido este caráter no seu patamar máximo, pois as pessoas devem manter seu interesse
em serem mediadas ao longo de todo o processo. Esta característica também vale para o
terceiro, o mediador, que ao identificar não existir elementos para a continuidade de seu
trabalho deverá interrompê-lo a qualquer tempo.
A atividade é marcada pela confidencialidade com relação a qualquer informação
apresentada ao longo do processo ou mesmo nele produzido. Constitui-se em momento
sigiloso para promoção de conforto entre as pessoas a fim de que elas falem abertamente o
que está se passando com elas e ao mesmo tempo não permitam que fatores externos
interfiram no processo. Cabe lembrar aqui que muitas pessoas, tanto jurídicas quanto físicas,
têm optado pela mediação de conflitos nos últimos anos em nosso país, justamente pelo
caráter sigiloso do processo, pois não desejam que terceiros tenham conhecimento do conflito
que estão a gerenciar e muito menos das soluções que alcançaram com o método.
Neste capítulo se descreve os aspectos conceituais surrealistas acerca da mediação
segundo Warat bem como trazer as contribuições humanísticas da linguagem e da emoção
estudada por Maturama fazendo uma conexão à mediação de conflitos.
Reconectar as relações mediante uma turbulenta vida social cheia de preconceitos que
invadem a privacidade humana e permite uma abusiva forma selvagem de ser, é um desafio
que a todos cabem repensar a que viemos neste mundo. Perceber as coisas no mundo da vida
de um olhar que possamos sentir as vibrações que estão na sintonia das aproximações e da
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convivência humana nos traz meditar a uma cultura da paz – tão necessária para reestabelecer
relações e reconexões para a restauração dos sonhos e desejos das pessoas.
A vida precisa ter sentido. As coisas precisam fazer sentido para existirem. E nesse
existir, a consolidação do devir é fundamentada pelo único sentimento universal que move as
barreiras subjetivas – o amor.
Segundo Maturana:
A emoção fundamental que torna possível a história da
hominização é o amor. O amor é constitutivo da vida humana... O amor é
o fundamento do social, mas nem toda convivência é social. O amor é a
emoção que constitui o domínio de condutas em que se dá a
operacionalidade da aceitação do outro como legítimo outro na
convivência, e é esse modo de convivência que conota-se no social
(MATURANA, 1998, p. 23)
Por que falar do amor para falar em mediação? Amor é vida, um religamento com a
natureza e com os outros. Transforma o mundo movendo barreiras e preconceitos através de
uma religiosidade, da espiritualidade. É, segundo Warat, a melhor forma de administração de
um conflito. Para que esse amor exista na mediação, é necessário que se saiba o quanto a
sensibilidade fundamenta a linguagem dos sentimentos, pois, no diálogo, faz necessário
reconhecer que o outro é, nas suas semelhanças, profundamente diferente, produzindo na
relação mediada um vínculo diferente, um novo tempo e modo de ser,inscrito no amor, num
reencontro com o outro. Essa linguagem amorosa, não há estratégica, meta para atingir, e sim
um acordo mediado. A linguagem não está ligada à ciência lógica. Pois esta, é uma
linguagem fática, pautada em resultados esperados e comprovados.
Como diz Warat:
A ciência não pode dar significado à vida.A vida só tem sentido,
para nós por meio do coração, sendo impossível viver unicamente pela
mente, pela razão lógica... A mediação é um processo do coração; o
conflito, precisamos senti-lo ao invés de pensar nele; precisamos, em
termos de conflito, sê-lo para conhecê-lo. Ser e conhecer, não há outro
conhecimento. (WARAT, 2004, p. 14-15).
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Está-se no mundo para conviver com os outros, reencontrando-se a cada relação, a
cada momento. Entender o mundo com nossa sensibilidade, é estar aberto a novos olhares, a
novos sentidos de vida, usando a criatividade e a inteligência para fundamentar o pensamento
de reservas selvagens e nos transferir na alteridade para as relações humanas.
Captar as emoções para mediar – permite-se perceber a forma de ser e fazer mediante
os conflitos que surgem no cotidiano. A sintonia que se precisa é estar conectados aos
sentimentos que movem o movimento humano, para entender a validade do momento e para
que possamos provocar possíveis direções para a melhor forma de resolver os problemas
enfrentados, porque todos perdem nas relações de conflitos, não há uma única verdade, há um
acordo para ambas verdades. Compreender o que para o outro é a verdade significativa, é
assimilar que todos possuem uma cultura e uma identidade que traz em si complexas redes de
conceitos constituídos pelas suas relações sociais. Esse entendimento do lugar do outro no
conflito requer uma linguagem dos afetos, uma linguagem poética, que transmita aquilo que
não pode ser transmitido pela linguagem fática (intelectual), e sim, uma linguagem que
comunica reservas selvagens, que revela uma significação mágica das coisas do inconsciente.
Essa mediação fundamentada nos princípios do amor, é um processo que recupera a
sensibilidade e promove a simplicidade do conflito, recuperando o sentimento. Assim, o
tempo da mediação é um tempo que ressalta o momento certo – uma ocasião para a decisão e
um auto-alteração na resolução do conflito, com possibilidade de falar da alteridade na
resolução de conflitos, como forma de revalorização do outro transformando o conflito e
transformando-se com o conflito num re-olhar a partir de um olhar do outro.
2. COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA – UMA FORMA DE DIALOGAR E
BUSCAR A PAZ.
Em 2002, a Organização Mundial da Saúde (OMS) elaborou a definição de violência,
sendo considerado o “uso intencional da força ou poder em uma forma de ameaça ou
efetivamente, contra si mesma, outra pessoa ou grupo ou comunidade, que ocasiona ou tem
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grandes probabilidades de ocasionar lesão, morte, dano psíquico, alterações do
desenvolvimento ou provações” (BRASIL, 2008).
A violência é um problema social que acompanha a humanidade. O mundo que se faz
hoje é o mundo que se faz dele. Assim Rosenberg aponta como pode-se ter o mundo que se
quer. Pode-se criar um mundo melhor – se assim se deseja. Pode-se construir caminhos
positivos ao invés de criar barreiras que impedem de viver melhor e escolher melhor a forma
de resolver problemas. A comunicação não-violenta surge como uma estratégica dentro da
mediação de conflitos para facilitar e compreender as diferenças e transformar conflitos e
prevenir violência.
A não-violência significa permitirmos que venha à tona aquilo que
existe de positivo em nós e que sejamos dominados pelo amor, respeito,
compreensão, gratidão, compaixão e preocupação com outros
(ROSENBERG, 2006, p. 15).
No contexto escolar, a comunicação é o “fermento da receita” que está contida no
âmago da missão de educar e aprender. Socializar e vivenciar infinitas oportunidades que
surgem no espaço e no tempo escolar provavelmente se torne insuportável à convivência
quando ela é pautada de violentas atitudes, atos agressivos e tempestuosos momentos de
indisciplina em seu cotidiano. Não se quer aqui abordar as possíveis causas de violências nas
escolas e nem tão pouco refletir a posição da família neste caso, mas sim evidenciar formas
de melhorar a convivência na escola uma vez que ela é um espaço de formação e uma
representação social na vida dos alunos. Neste intuito que se traz a metodologia da
comunicação não-violenta para acertar o passo para uma cultura da paz e contribuir para o
desenvolvimento da cidadania e da democracia.
Sales coloca:
Ensina-se a paz quando se resolve e se previne a má administração
dos conflitos; quando busca o diálogo; quando se possibilita a discussão
sobre os direitos e deveres e sobre a responsabilidade social; quando se
substitui a competição pela cooperação – o perde-ganha pelo ganha-
ganha (SALES, 2007, p. 38).
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Mas como prevenir a má administração dos conflitos que Sales aponta.
A mediação como meio para facilitar o diálogo entre as pessoas,
estimula a cultura da comunicação pacífica. A mediação estimula a
prevenção da má administração pois incentiva: a avaliação das
responsabilidades de cada um naquele momento (evitando atribuição de
culpas); a conscientização de adequação das atitudes, dos direitos e
deveres e da participação de cada indivíduo para a concretização desses
comportamentos; a transformação da visão negativa para a visão positiva
(percepção do momento do conflito como oportunidade para o
crescimento pessoal e aprimoramento da relação) e, finalmente, o
incentivo ao diálogo possibilitando a comunicação pacífica entre as
partes, criando uma cultura do “encontro por meio da fala”, facilitando a
obtenção e o cumprimento de possíveis acordos (SALES, 2007, p. 36).
Neste sentido, a comunicação entra como viés do reencontro com o outro, a fim de
compreender possíveis situações turbulentas que ocasionam o stress do desentendimento. A
não violência permite aflorar sentimentos, necessidades e pedidos através de uma forma
pacífica de comunicação. Interessante ressaltar que a comunicação pode alienara vida
quando o uso é de julgamento moralizador que subentendem uma natureza errada ou
maligna nas pessoas que não agem em consonância com nossos valores – como afirma
Rosenberg.
A comunicação alienante da vida nos prende num mundo de ideias
sobre o certo e o errado – um mundo de julgamentos, uma linguagem
rica em palavras que classificam e dicotomizam as pessoas e seus atos.
Quando empregamos essa linguagem, julgamos os outros e seu
comportamento enquanto nos preocupamos com o que é bom, mau,
normal, anormal, responsável, irresponsável, inteligente, ignorante.
(2006, p. 38).
Rosenberg coloca que:
As análises de outros seres humanos são expressões trágicas de
nossos próprios valores e necessidades. Trágicas porque quando
expressamos nossos valores e necessidades de tal forma, reforçamos a
postura defensiva e a resistência a eles nas próprias pessoas cujos
comportamentos nos interessam. Ou, se essas pessoas concordam em
agir de acordo com nossos valores porque aceitam nossa análise de que
estão erradas, é provável que o façam por medo, culpa ou vergonha
(2006, p. 50).
Diante desta posição, percebe-se o quão é importante que mediadores façam
primeiramente e si mesmo uma reciclagem de vida. Abrir sua visão com olhos voltados ao
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horizonte onde para tudo tem lugar e espaço para existir. Lá se pode enxergar novos
paradigmas de vida. Voltadas na esperança, no amor, no respeito e na emancipação humana.
A mediação de conflitos através de uma comunicação não-violenta necessita de novas lentes
que possam proporcionar uma nova forma de viver, estar e ser no mundo. Portanto,
paradigmas culturais e conceituais moralistas não podem fazer parte deste momento de
reencontro com o outro. Momento que deve-se deixar a linguagem do coração falar. Sem
medo, culpa ou vergonha.
Outra forma alienante de vida é o julgamento através de comparações- classificando e
estimulando a violência. Quando fazendo as comparações começa-se a ficar infeliz – diz
Rosenberg, e as relações pessoais comprometidas. A negação da responsabilidade é outro
tipo de alienação da vida.
O uso corriqueiro da expressão “ter de” (como em “Há algumas
coisas que você tem de fazer, quer queira, quer não”) ilustra o modo que
a responsabilidade pessoal por nossos atos fica obscurecida nesse tipo de
linguagem. A expressão “fazer alguém sentir-se” (como em você me faz
sentir culpado”) é outro exemplo da maneira pela qual a linguagem
facilita a negação da responsabilidade pessoal por nossos sentimentos e
pensamentos (ROSENBERG, 2006, p. 42)
O desejo de mudança parte do interior de cada um. Pontuar questões imprescindíveis
para expressar nossas vontades, necessidades e sermos compreendidos em nossas escolhas,
requer que tenhamos um testemunho de vida através da compaixão, através do amor do
reencontro com o outro. Alienar a vida em função de culpabilidade, não serve mais na
cultura da paz. O que hoje se necessita é um novo recomeço, é uma reintegração social
mediante um conflito, um perdão diante do acontecimento. Necessita-se de um lugar ao sol
ao qual temos direito. Conquistar os desejos requer que se tenha uma posição de empatia e
compaixão. Deve-se falar com o coração, sem exigências ou ameaças, mas falar ao outro
numa linguagem de sentimentos e compreensões. É desta forma que a comunicação não
violenta surge, como estratégia na mediação de conflitos escolar, com o objetivo de
estabelecer relacionamentos baseados em honestidade e empatia e acabarão atendendo às
necessidades de todos através de uma linguagem de ações positivas.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como se sabe, várias são as tentativas para a resolução de conflitos. As escolhas
sempre imprimem valores. A mediação de conflitos no ambiente escolar, como uma
metodologia para resolução de divergências promove o sentido da colaboração, empatia,
compreensão, autonomia e reconstrução de uma realidade pautada na sensibilidade da
diferença e na comunicação não violenta. É a aposta para a reintegração de convivência
social onde todos ganham, através do diálogo, a oportunidade de um recomeço, de uma nova
forma de viver através de uma cultura pela paz.
Fortalecer a metodologia através da mediação para resolução de conflitos escolares
revitaliza paradigmas voltados à mudança de cultura, da violência para a paz, para a inclusão
e ampliação de direitos e deveres cidadãos, pressupondo um reconhecimento humano pelo
diálogo, pelo fazer, pelo pensar e pelo agir na busca da qualidade social.
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