A PRESERVAÇÃO DO ACERVO IMAGÉTICO DO ARTISTA
FRANKLIN JOAQUIM CASCAES 1
Vanilde Rohling Ghizoni2
Aline Carmes Krüger3
RESUMO:
A Coleção Professora Elizabeth Pavan Cascaes é composta por desenhos a bico de pena e grafite, esculturas em argila e gesso policromados e manuscritos. Esta coleção denomina a obra do artista Franklin Joaquim Cascaes que foi incorporada ao patrimônio da Universidade Federal de Santa Catarina, sob a guarda do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral em junho de 1981. Neste artigo apresentaremos nossas pesquisas constituintes do estudo da preservação de uma coleção de arte em um Museu.Através da reunião de um acervo num só lugar e da preservação do mesmo, busca-se demonstrar a importância da preservação do acervo imagético na produção do conhecimento histórico e artístico da cidade de Florianópolis.
Palavras chave: Cascaes. Coleção. Preservação.
Franklin Joaquim Cascaes nasceu no município de São José, em um bairro hoje
pertencente à cidade Florianópolis, Santa Catarina em 1908 e faleceu em 1983. As
experiências para suas produções artísticas deram-se desde a infância e muito cedo
manifestou sua criatividade esculpindo esculturas em argila ou na areia da praia.
Cascaes dedicou-se aos temas e motivos que irão assinalar sua obra, onde seus
referenciais plásticos e de iconografia foram sendo elaborados a partir de sua forma
intensa de contemplar o mundo: a paisagem interiorana da Ilha de Santa Catarina, as
cenas rurais, bem como a rotina cotidiana da cidade. Cascaes criou sua obra a partir de
apropriações da realidade que o cercava e do contexto na qual estava inserido.
A Coleção Professora Elizabeth Pavan Cascaes é composta por desenhos a bico
de pena e grafite, esculturas em argila e gesso policromados e manuscritos. Esta coleção
que denomina a obra do artista Franklin Joaquim Cascaes foi incorporada ao patrimônio 1 Agradecemos ao Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral da Universidade Federal de Santa Catarina por nos possibilitar o trabalho na conservação do acervo, nos permitindo desenvolver este relato de experiência e por nos possibilitar o acesso a pesquisa no acervo para nossa qualificação em mestrado. 2 Mestre em Arquitetura e Urbanismo- PósARQ - UFSC, restauradora do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral – UFSC. [email protected] 3Mestre em Artes Visuais PPGAV-UDESC, doutoranda em Museologia e Patrimônio PPGPMUS-UNIRIO.
da Universidade Federal de Santa Catarina, sob a guarda do Museu Universitário
Professor Oswaldo Rodrigues Cabral em junho de 1981. Tendo em vista o relato de
experiência, apresentaremos nossas pesquisas constituintes do estudo da preservação de
uma coleção de arte em um Museu, observando que a construção do conhecimento a
partir da preservação de objetos contribui para o desenvolvimento histórico e artístico.
Ressaltando que o resultado esperado nesse trabalho é a promoção de discussão
a respeito dos estudos da imagem, da representação e da preservação de um acervo
imagético, apresentaremos neste artigo a participação do museu na conservação e
preservação da Coleção Professora Elizabeth Pavan Cascaes, especificamente os
desenhos e esculturas. Através da reunião de um acervo num só lugar e do cuidado com
o mesmo, busca-se demonstrar a importância da preservação do acervo imagético na
produção do conhecimento histórico e artístico da cidade de Florianópolis.
É sabido que o museu tem uma história e através dos anos muitas modificações
ocorreram na forma de pensá-lo e executá-lo, tanto nas suas práticas expositivas quanto
no trato com o acervo. Ao lidar com o acervo e trabalhando no museu, questões desta
natureza estão presentes na atividade museológica. Observamos que os museus
ofereceram às obras de arte um espaço de exposição, criando um ambiente mítico e
sacralizado, dando às obras a noção de imutabilidade e posteridade. Segundo Mario
Chagas, pode também ser um espaço de conflito e contradição, construindo memória e
idealizando tradições:
Os museus, lugares privilegiados de construção de memórias, são também palco apropriado para a invenção e a teatralização de tradições. Esta é uma das razões pelas quais eles freqüentemente são associados ao tradicionalismo conservador, em termos artísticos, culturais e sociais. Deriva-se desta constatação um certo incomodo que favorece a emersão de questões do tipo: um museu pode ser ruptura? Há nos museus espaço para o novo? (CAVALCANTI, 2005, p. 119).
O museu é então arena, espaço de conflito, campo de tradição e contradição,
aberto para novos diálogos, interlocuções e contextualizações. A trajetória do Museu
Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral4 deve ser vista como a trajetória de
4 Historiador catarinense, sua bibliografia se concentra em assuntos da história, antropologia e medicina. Criou o Instituto de Antropologia, atualmente Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral.
uma instituição responsável pela produção do conhecimento da Antropologia e da
Arqueologia na Universidade Federal de Santa Catarina. A formação do acervo do
Museu Universitário é vinculada à antropologia. Há coleções etnográficas indígenas,
arqueológica, de artes e ofícios, com peças originárias de várias regiões brasileiras, com
boa documentação e valor acadêmico. A inexistência de espaços para exposição5 neste
momento, limita o acesso do público ao conhecimento de seu acervo, restringindo a
exposições extramuros que acontecem eventualmente. Esse fato fez com que o Museu
Universitário se aprofundasse nas atividades de conservação, visando à preservação de
suas coleções. E é da conservação que neste momento iremos tratar.
A obra de Franklin Joaquim Cascaes esta sob a responsabilidade da
Universidade Federal de Santa Catarina, é portanto, de respeitável importância e
obrigação do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral a correta
conservação desta coleção. Adaptando-se à realidade das verbas, e conhecendo
conscientemente e tecnicamente os problemas dos materiais e do espaço no Museu
Universitário, é que museólogos, pesquisadores, restauradores, educadores e técnicos,
assumem uma postura ética e prática, procurando auxilio de ações não governamentais e
da iniciativa privada.
O desenvolvimento da área de ciências aplicadas à conservação e restauração de
obras de arte é relativamente recente no Brasil e no exterior. No início do século XIX,
as escavações realizadas em Pompéia e no Egito, quando da invasão deste último por
Napoleão, provocaram a execução de diversos trabalhos pioneiros nesta área. A grande
diversidade de materiais antigos recolhidos levou os arqueólogos a contar com a
colaboração de sábios e cientistas de renome - mineralogistas, botânicos, zoólogos e
químicos. No início do século XX, vários laboratórios estabeleceram-se na Europa e
alguns outros na América do Norte, nos Estados Unidos e Canadá.
As questões relacionadas a conservação do acervo são de fundamental
importância não apenas pela permanência física do objeto, mas pela potencialidade
desse, enquanto obra de arte. Sendo que, por meio da conservação a matéria original da
5 È importante salientar que na década de 1990 se iniciou o processo de qualificação da equipe do museu e melhoria da infra-estrutura, com a construção da sua primeira Reserva Técnica e a reforma da estrutura principal. A Reserva Técnica, 200m2, foi construída entre 1995/1996 e hoje abriga a totalidade da Coleção Professora Elizabeth Pavan Cascaes. O novo pavilhão de exposição encontra-se em fase final de construção, tendo previsão para a conclusão dos trabalhos ainda para este ano.
obra permanece íntegra, possibilitando a apreciação estética sem nenhum
comprometimento por perda de material original. A preservação do patrimônio
histórico6, artístico e cultural tem cada vez maior relevância na atualidade, dado a
importância da transmissão da nossa herança cultural para as futuras gerações. Assim, o
Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral priorizou as questões relativas
a conservação da Coleção Professora Elizabeth Pavan Cascaes, reconhecendo a
seriedade e a emergência, devido a fragilidade dos materiais envolvidos na confecção das
obras.
1 – A conservação dos desenhos
A produção de desenhos é extremamente vasta, composta por 1179 desenhos
tombados em 944 suportes7 em papel. São trabalhos sobre a pesca, cultivos da
mandioca, festas profanas e religiosas, arquitetura, bruxaria, boitatás, lobisomens,
cotidiano, vendedores, mitologia marinha, processos políticos, especulação imobiliária e
seres imaginários (pode ser exemplificada na figura 1).
Figura 1: O Caipora – 1973 – Nanquim sobre papel – 65,4 x 49,3 cm – Acervo do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral – UFSC.
6 Do Decreto lei nº25 de 30/11/1937, Patrimônio Histórico “é o conjunto de bens móveis e imóveis existentes no país cuja conservação seja de interesse público, quer por se acharem vinculados a fatos memoráveis da história do Brasil, que por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”. 7 Muitas obras apresentam desenho dos dois lados.
O papel no qual o artista Franklin Cascaes utilizou como suporte para elaborar
sua obra possui características muito específicas e peculiares. Nas obras executadas a
bico de pena, com requinte e riqueza de detalhes, utilizava papel de melhor qualidade,
geralmente do tipo Canson. E nos seus esboços, na sua grande maioria a grafite, buscava
o papel que estava à disposição, não se importando com questões técnicas de estabilidade
do material. Sendo que muitas delas foram realizadas com papéis reaproveitados e uma
obra pode apresentar vários tipos de papéis, pois foram emendados com adesivo para ter
a dimensão desejada pelo artista. Todos os papéis utilizados pelo artista como suporte de
sua criação apresentam acidez8 propiciando a hidrólise ácida, o que acelera o seu
envelhecimento. E é conhecido que fatores externos, como a temperatura, umidade
relativa, a luminosidade tanto do ambiente de exposição, quanto o de armazenagem e
outros agentes de degradação, mesmo quando controlados, não impedem o
envelhecimento natural dos materiais orgânicos. A conservação preventiva, por meio da
observação constante e a ação de conservação curativa são necessárias para que o
registro histórico e artístico seja preservado e intervenções restauradoras não sejam
necessárias. Com prioridade as obras de arte sobre papel da Coleção Professora
Elizabeth Pavan Cascaes foram devidamente higienizadas e alguns procedimentos foram
necessários, como a consolidação de rupturas do suporte causadas pelo manuseio
incorreto, posteriormente, acondicionadas com materiais específicos, como podemos
observar na figura 2:
Figura 2: Rupturas aparentes no suporte dos desenhos consolidadas com fita de papel japonês – 2009 - Acervo do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral – UFSC.
8 De maneira geral, com exceção daqueles papéis produzidos para a conservação de acervos no Brasil ou os importados, possuíam pH neutro ou alcalino. Somente a partir de 1999 que as indústrias brasileiras passaram a se adaptar a normas internacionais o começaram a produzir papel alcalino, com pH acima de 7.
Os procedimentos e técnicas adequadas foram realizados por profissionais
qualificados, em função da fragilidade dos suportes empregados, e das evidências da
necessidade de prevenir e deter as ações degenerativas em ação. Até o ano de 1999, os
desenhos eram armazenados em gavetas, enrolados em papel cristal. Após a execução do
projeto de Acondicionamento das obras de arte sobre papel da Coleção Profa. Elizabeth
Pavan Cascaes, projeto apresentado à Fundação VITAE no Programa de Apoio a
Museus no ano de 1997, este panorama foi mudado. O Museu Universitário adquiriu três
novas mapotecas com tratamento anticorrosivo e pintura em alta temperatura para o
armazenamento do acervo em papel. Os desenhos foram todos desenrolados, planificados
e acondicionados em cartão para passe-partout neutro e em envelopes de papel salto
neutro9, na qual minimizaram os danos causados por agentes externos, tendo a função de
barrar as ações do meio ambiente, desacelerando o processo de degradação.
Ampliando as ações em conservação, no ano de 2003, com o apoio do Santinho
Empreendimentos Turísticas S.A., foram realizados os procedimentos de higienização,
entrefolhamento com papel alcalino sob a obra e substituição das bases que
apresentavam algum tipo de degradação. Geralmente o cartão passe-partout devido à
falta de controle ambiental, envelhecimento natural do material ou por migração/contato
com pontos escurecidos nas obras, apresentava pequenos pontos de oxidação. Todos
estes procedimentos são fundamentais e mantenedores da preservação dos desenhos de
Cascaes. Durante este trabalho também se efetuou um diagnóstico mais exato do estado
de conservação, com seleção das obras que necessitavam intervenção restauradora.
No ano de 2007 concluiu-se a catalogação - com a inclusão de informações em
um Banco de Dados – das obras da “Coleção Professora Elizabeth Pavan Cascaes –
desenhos e esculturas” através do Programa de Adoção de Entidades Culturais da Caixa
Econômica Federal. Neste banco de dados encontra-se inventariado todas as informações
disponíveis até o momento, como por exemplo, a técnica, as dimensões, a descrição, o
estado de conservação e imagens de cada obra produzida pelo artista.
9 pH se refere ao valor tomado para representar o grau de acidez ou alcalinidade de um material, grandeza associada à concentração de íon de hidrogênio.
Já em 2009, mais uma vez com o apoio do Programa de Adoção de Entidades
Culturais da Caixa Econômica Federal, concluímos a conservação, com troca de
acondicionamento de todos os desenhos da Coleção Professora Elizabeth Pavan Cascaes.
Figura 3: Montagem da obra em base de cartão neutro com fita de papel japonês e no novo acondicionamento em com passe-partout e envelope – 2009 – Acervo do Museu Universitário Professor
Oswaldo Rodrigues Cabral – UFSC.
2 – A conservação das esculturas
A coleção escultórica é dividida em 46 conjuntos temáticos, totalizando 1707
peças. São esculturas de pequeno porte representando figuras homens, animais,
acessórios, ferramentas, instrumentos, utensílios e outros objetos. Cada conjunto
representa um episódio cenográfico, projetando relação de interdependência entre as
diferentes figuras. Na Procissão do Senhor Jesus dos Passos, por exemplo, cada figura é
um personagem da procissão, cumpre função específica e está interligada à mesma ação.
A relação entre as figuras é enfatizada, ainda, pelo modo como o artista elaborou suas
peças, dando unidade na forma e na homogeneidade da cor, em sua apresentação
estética, como podemos notar na figura 4. Em um de seus cadernos, o artista resume
esta interdependência: “Cada Conjunto representa um livro e cada figura uma página.
Portanto, se vender uma figura arrancarei uma página do livro, e um livro com falta de
uma página, apresentar-se-a trincado”10.
10 CASCAES, Franklin Joaquim. Caderno 60. Florianópolis: Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral / UFSC. Sem data. Manuscrito.
Figura 4: Procissão da Mudança – Exposição Franklin Cascaes Desenhos e Esculturas – 2010 – Museu Histórico de Santa Catarina – Palácio Cruz e Sousa.
A coleção escultórica do artista Franklin Joaquim Cascaes se diferencia, entre
outros aspectos, pela fragilidade do material utilizado como suporte da maioria das
esculturas: argila não estabilizada e gesso, com policromia. Sendo que a argila não
cozida não apresenta resistência mecânica a impacto, o que causou ao longo dos anos,
diversas fraturas, de maior ou menor proporção às obras. As variações da temperatura e
da umidade relativa, ocasionados pela falta de controle ambiental, associado à
policromia realizada pelo artista com tintas não compatíveis com o suporte, geraram
intensos craquelês e desprendimentos com perdas de camada pictórica (ver figura 5,6 e
7). Somam-se a este quadro, inúmeras intervenções inadequadas realizadas nas obras,
que interferiam em suas características físicas, históricas e estéticas.
Figura 5: Craquelês generalizado e perda da camada pictórica - Menino IV com uma vara na mão esquerda observando a pandorga no ar – Conjunto Soltando Pandorga – 1957 – Argila Policromada - 35,0 x 16,0 x 12,5 cm – Acervo do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral – UFSC.
Figura 6: Exame de fluorescência com lâmpada de Wood realizado na policromia - Menino IV com uma vara na mão esquerda observando a pandorga no ar – Conjunto Soltando Pandorga – 1957 – Argila Policromada - 35,0 x 16,0 x 12,5 cm – Acervo do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral – UFSC.
Figura 7: Obra restaurada (limpeza química, fixação da camada pictórica, nivelamento das áreas de perdas e reintegração) - Menino IV com uma vara na mão esquerda observando a pandorga no ar –
Conjunto Soltando Pandorga – 1957 – Argila Policromada - 35,0 x 16,0 x 12,5 cm – Acervo do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral – UFSC.
Os grandes problemas que envolvem a arte contemporânea, a partir da
introdução de uma grande diversidade de materiais e poéticas tornam a conservação e a
restauração extremamente complexa. Trata-se de um momento onde a arte utiliza
materiais ainda pouco estudados e, portanto, muitas vezes de difícil compreensão dos
processos de degradação que se instalam, pois faltam conhecimentos específicos e
teorias estabelecidas explicando como lidar com a maioria deles.
Ao elaborar sua coleção escultórica, Cascaes a partir do final da década de 1940,
rompe com padrões pré-estabelecidos pelo academicismo, sendo também influenciado
pelas tendências modernista que vivia Florianópolis na literatura e na arte11. Suas
representações se basearam em modelos de homens que exprimissem a realidade na
qual o artista sempre esteve inserido. Segundo Cascaes, na elaboração de suas esculturas
teve “que deformar o barroco porque foi a única forma de dar graça, aquela beleza
11 Após a segunda Guerra Mundial e a queda da ideologia nazifascista, a região sul do Brasil por possuir características de colonização alemã e italiana, busca sua brasilidade e identidade na colonização açoriana (LEHMKUHL, Luciane. Imagem além do círculo. O grupo de Artistas Plásticos de Florianópolis e a positivação de uma cultura nos anos 50. Dissertação de mestrado – Programa da Pós-Graduação em História, Universidade Federal de Santa Catarina, 1996).
rústica à figura do colono açoriano. Tive que recriar o barroco para poder representar as
pessoas do interior da Ilha”12.
Com a doação das obras do artista para o Museu, podia-se facilmente encontrá-las
ou na sala de exposição ou guardadas onde hoje é o setor de Arqueologia do Museu
Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral. Nesta sala elas encontravam-se
empilhadas na posição vertical em prateleiras de madeira, o que ocasionou muitas
fraturas causada por acidentes.
Com a construção da Reserva Técnica 1, em 1990 foram adquiridos novos
mobiliários. As esculturas foram armazenadas em estantes de metal. As prateleiras foram
mantidas levemente inclinadas, esta posição continuou causando problemas, pois o
choque da peça com o metal era inevitável na sua remoção, sendo que o manuseio por
mais cuidadoso que fosse, continuava incorreto e causava danos às obras, devido a falta
de profissional especializado para realização das ações.
No ano de 2004 e 2005 foi executado o Projeto de conservação e restauração
da coleção profª Elizabeth Pavan Cascaes e coleção Tom Wild13, projeto encaminhado
ao décimo “Programa de Apoio a Museus – Vitae, Apoio à Cultura, Educação e
Promoção Social”, novas medidas foram tomadas. O mobiliário com recursos do
Empreendimento Costão do Santinho, sendo que as prateleira foram colocadas na
posição horizontal, e as esculturas mantidas na mesma posição, sobre uma camada de
ethafoan14. Nesse momento, as esculturas foram restauradas por equipe de profissionais
especializados.
Hoje o acervo escultórico encontra-se armazenado em armário fechado do tipo
deslizante, na posição horizontal e sobre camada de ethafoan, conforme figura 8.
12 CASCAES, Franklin Joaquim. Vida e arte e a colonização açoriana. Entrevistas concedidas e textos organizados por Raimundo C. Caruso. Florianópolis: Editora da UFSC, 1981. p. 82. 13
Acervo Arqueológico - A coleção em questão é o resultado de aproximadamente vinte viagens de coletas
sistemáticas à Ilha de Marajó, em pelo menos oito sítios arqueológicos, de onde Tom Wildi recolheu abundante material para seu Museu particular, parte da qual foi posteriormente doada pela família do arquiteto suíço ao Museu Universitário da UFSC em outubro de 1986. 14 Polietileno expandido ou espuma de polietileno. Possui propriedades básicas de isolamento térmico, acústico e hidráulico, leveza, maleabilidade, flutuação, durabilidade, alta proteção contra impactos, facilidade de manuseio e corte, além de não soltar partículas e não absorver umidade e fixação de fungos.
Figura 8: Armazenamento em armário deslizante das esculturas da coleção Elizabeth Pavan Cascaes – Acervo do Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral – UFSC.
Por meio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional no Edital de
Modernização de Museus 2005-2006 foi executado o projeto de “Sistema de
Climatização, Segurança e Armazenamento do Acervo do Museu Universitário/UFSC”.
Este contemplou a Coleção Professora Elizabeth Pavan Cascaes e demais acervos
armazenados na reserva técnica 1 e 2, garantido que o espaço de guarda tivesse um
condicionamento ambiental, segurança contra incêndio e a ampliação do sistema de
armazenamento como novos mobiliários. No entanto o Sistema Climus15 foi implantado
somente no final de 2010.
A climatização do ambiente, o controle da luminosidade natural e artificial, do
ataque biológico, juntamente com o manuseio correto e sistemas de segurança contra
roubo e incêndio são ações fundamentais para preservação dos acervos. Os fatores de
degradação extrínsecos a obra são controlados e os intrínsecos ao processo de
fabricação são minimizados, prolongando a vida útil dos objetos museológicos.
Através da utilização dos acervos preservados e contextualizados, objetiva-se a
integração do individuo com o mesmo. Apesar de ser compreensível a vida perene da
matéria, a conservação tem por objetivo o prolongamento da sua vida útil, em função do
caráter insubstituível dos objetos artísticos culturais. Em virtude disso, o trabalho de 15 Sistema Climus - trata-se de software desenvolvido por Saulo Guths, professor Dr. da UFSC. Trata-se de sistema para monitoramento e controle da Temperatura e Umidade Relativa em museus e arquivos.
preservação da Coleção Professora Elizabeth Pavan Cascaes é executado, por sua
vulnerabilidade cultural e para que se possa conservar o saber, através do objeto, que foi
construído e anotado pelo artista, sob forma de desenhos e manuscritos em suporte de
papel, ou de esculturas em argila e gesso.
REFERÊNCIAS
CAVALCANTI, Lauro. O quarteto antropofágico: da redescoberta ao moderno e ao contemporâneo. IN: CHAGAS, Mario (org). Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional: Museus: Antropofagia da memória e do patrimônio. Brasília, nº 31, p.58-73, 2005
CASCAES, Franklin Joaquim. Caderno 60. Florianópolis: Museu Universitário Professor Oswaldo Rodrigues Cabral / UFSC. Sem data. Manuscrito. LEHMKUHL, Luciane. Imagem além do círculo. O grupo de Artistas Plásticos de Florianópolis e a positivação de uma cultura nos anos 50. Dissertação de mestrado – Programa da Pós-Graduação em História, Universidade Federal de Santa Catarina, 1996
CASCAES, Franklin Joaquim. Vida e arte e a colonização açoriana. Entrevistas concedidas e textos organizados por Raimundo C. Caruso. Florianópolis: Editora da UFSC, 1981. p. 82.