CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO ENGENHEIRO COELHO
LETRAS
JOSÉ ALEXANDRE DE SOUZA MONIZE DINIZ DA SILVA
SHEILA RODRIGUES DOS SANTOS
A NOVA ORTOGRAFIA, SEU IMPACTO NO MEIO EDUCACIONAL E NA IMPRENSA
ENGENHEIRO COELHO 2013
JOSÉ ALEXANDRE DE SOUZA MONIZE DINIZ DA SILVA
SHEILA RODRIGUES DOS SANTOS
A NOVA ORTOGRAFIA, SEU IMPACTO NO MEIO EDUCACIONAL E NA IMPRENSA
Trabalho de conclusão de Curso do Centro Universitário adventista de São Paulo do curso de Letras, sob orientação do prof.Dr. Walter Mendes dos Santos.
ENGENHEIRO COELHO 2013
Trabalho de Conclusão de Curso do Centro Universitário Adventista de São Paulo, do curso de Letras apresentado e aprovado em __/__/__.
_______________________________________________ Orientador: Prof. Dr. Walter Mendes dos Santos
_________________________________________ Segundo Leitor: Prof. Dr. Milton Torres
RESUMO
Esta pesquisa busca trazer o impacto causado com a chegada do novo
Acordo Ortográfico. As mudanças que estão acontecendo na ortografia portuguesa
vêm sendo o foco de grandes discussões positivas e negativas no Brasil, Portugal e
demais países de Língua Portuguesa. Aqueles que se preocupam com as novas
regras muitas vezes esbarram nas dificuldades de absorção desse conhecimento. O
objetivo da pesquisa é problematizar as dificuldades enfrentadas por professores e
alunos quanto à adaptação e aceitação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa
(1990), realizando uma análise avaliativa do impacto na sociedade e que abrange o
meio educacional e a imprensa. Pretende-se, ainda, identificar, por meio da
aplicação de questionário, o nível dos alunos no que tange à compreensão do novo
Acordo Ortográfico. Nossa hipótese fundamenta-se no fato de que as dificuldades
percebidas quanto à aceitação do Acordo podem estar relacionadas a uma suposta
metodologia ineficiente de ensino e discussão dele nas escolas, principalmente nas
fases onde o Acordo anterior já foi estudado por alguns anos. O estudo seguirá os
padrões da pesquisa exploratória, pois serão desenvolvidas a partir de levantamento
bibliográfico sobre o tema e a partir de questionário aplicado a professores e alunos
quanto à questão da inserção do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990).
Palavras chave: Acordo Ortográfico; Língua Portuguesa; Ensino.
ABSTRACT
This research seeks to bring the impact caused by the arrival of the new
agreement spelling. The changes that are happening in portuguese spelling has
been the focus of large positive and negative discussions in Brazil, Portugal and
other Portuguese-speaking countries. Those who care about the new rules often face
difficulties of absorption of this knowledge. The goal of the research is to discuss the
difficulties faced by teachers and students regarding the adaptation and acceptance
of the Portuguese language orthographic agreement (1990), performing an
evaluative analysis of the impact on society comprising the educational environment
and the press. We also identify, by means of questionnaires, the level of the students
regarding the understanding of the new agreement spelling. Our hypothesis is based
on the fact that the perceived difficulties with regard to the acceptance of the
agreement may be related to an alleged inefficient teaching methodology and
discussion of it in schools, especially at the stage where the previous agreement has
already been studied for some years. The study will follow the patterns of exploratory
research, as will be developed from bibliographical survey on the topic and from
questionnaire applied to teachers and students on the issue of the insertion of the
Portuguese language orthographic agreement (1990).
Keywords: orthographic agreement; Portuguese; Teaching.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 7
1 HISTÓRICO DA ORTOGRAFIA NO BRASIL .......................................................... 9
1.1 História do Português ........................................................................................... 12
1.2 História do Português do Brasil ........................................................................... 14
2 OBJETIVO DO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA (1990) 16
2.1 Opiniões sobre o Novo Acordo ............................................................................ 16
2.1.1 Opiniões desfavoráveis de Portugal ............................................................... 17
2.1.2 Opiniões desfavoráveis do Brasil ..................................................................... 21
2.1.3 Opiniões favoráveis de Portugal....................................................................... 24
2.1.4 Opiniões favoráveis do Brasil ........................................................................... 26
2.2 Mudanças nos materiais didáticos ..................................................................... 27
2.3 Os novos dicionários ............................................................................................ 29
2.3.1 Dicionário de Portugal ....................................................................................... 29
2.3.2 Dicionário do Brasil ........................................................................................... 30
2.4 Assinando o Acordo ............................................................................................. 31
2.5 Adiamento do Acordo no Brasil ........................................................................... 32
3 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA .............................................. 34
7
INTRODUÇÃO
Este trabalho procurou avaliar o impacto no meio educacional e imprensa
causados pelo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990). Com o objetivo de
unificar a ortografia da Língua Portuguesa, ao facilitar as relações comerciais e
evidenciar os países lusófonos no cenário mundial, os quais fazem parte: Angola,
Brasil, Cabo Verde, Portugal, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, e
Timor-Leste, elaboraram e assinaram em 1990 o Acordo que tornaria padrão a
ortografia da Língua Portuguesa. O texto original previa que o Acordo entrasse em
vigor em janeiro de 1994, após a ratificação de todos os países.
Todavia, após adiamentos e muita polêmica, este processo estendeu-se.
Foram inseridos dois protocolos modificativos, o primeiro que retirava do texto
original a data para sua entrada em vigor, e o segundo que permitia a entrada do
Timor-Leste, e previa que ao invés da ratificação por todos os países, seria
necessário que apenas três países lusófonos ratificassem o Acordo para que
entrasse em vigor. Atualmente, o Acordo ainda causa muita polêmica. São muitas as
opiniões contrárias e favoráveis nos países envolvidos onde a unificação da
ortografia da Língua Portuguesa, até então não é realidade. Com base nestas
inúmeras implicações, este estudo justifica-se na tentativa de analisar estes
contrapontos.
A linha de pesquisa deste trabalho está inserida na proposta: “Língua
Portuguesa, ensino e formação do professor”, que está disponível nas linhas de
pesquisa do curso de Letras, uma vez que a pesquisa baseia-se e fundamenta-se
nas ramificações existentes dentro desta temática.
O objetivo deste trabalho é avaliar o impacto que o Acordo Ortográfico causou
na imprensa e no meio educacional, através das pesquisas de opiniões disponíveis
nos diversos meios de comunicação; e identificar através da aplicação de
questionário com professores e alunos do ensino fundamental e médio, de escolas
pública e particular, a aprendizagem dos alunos no que tange à compreensão das
novas regras ortográficas. Baseados nestas informações, e através da reflexão e
diagnóstico obtido nas pesquisas, pretende-se trazer o objetivo principal deste
estudo: O impacto no meio educacional e imprensa, causado pelo Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa (1990). A pesquisa se desenvolveu de forma
8
bibliográfica. Apresenta-se o histórico da Ortografia no Brasil, além de relatos e
opiniões divulgados nos meios de comunicação.
O trabalho segue formado por três capítulos; o primeiro fará a abordagem
histórica da Ortografia no Brasil, inclui-se a história da Língua Portuguesa, pois esta
esclarece o processo dos Acordos Ortográficos que se desenrolaram ao longo dos
anos, inicia-se de sua origem, o latim até o Acordo Ortográfico de 1990 que pretende
simplificar regras da ortografia da língua escrita. No segundo, serão apresentadas
opiniões de Portugal, Brasil e demais países lusófonos quanto ao Acordo
Ortográfico, como também as apreciações e críticas de profissionais da área
educacional e imprensa, dos países que constituem a Comunidade de Países da
Língua Portuguesa. No capítulo final, expõe-se a pesquisa exploratória realizada
através de questionário em duas escolas, a fim de verificar como está sendo a
adaptação de professores e alunos quanto à prática do Acordo Ortográfico.
9
1 HISTÓRICO DA ORTOGRAFIA NO BRASIL
No começo do século XX Portugal e Brasil teve a mesma ortografia, mas a
Proclamação da República em Portugal (1911) fez a ortografia mudar entre os dois
países. O governo nomeou uma comissão para estabelecer uma ortografia
simplificada, ajudando o aprendizado e que aproximava da realidade da sua
pronúncia. O Brasil recusou e manteve as correntes tradicionais por não ter se
envolvido na reforma portuguesa. Assim Portugal ficou com uma ortografia
reformada e o Brasil com velha ortografia, a etimológica.
As alterações ocorreram na eliminação de todos os dígrafos de origem grega,
substituindo por grafemas simples: th, ph e y, por t, f, i, e o ch com valor de k por qu
antes de e, i, e por c em qualquer outra situação e rh por r ou rr de acordo com o
contexto. A eliminação do y por i e de algumas consoantes mudas em final de silaba
gráficas, quando não se influiu na pronúncia da vogal que as antecedia. Na redução
das consoantes dobradas, com exceção de rr e ss e introdução de numerosa
acentuação gráfica nas palavras proparoxítonas.
Portugal estabeleceu em 1911 o primeiro modelo ortográfico de referência
para as publicações oficiais e para o ensino, mas não sendo aceitas pelo Brasil, deu-
se início a um desacordo entre as ortografias dos dois países. Algumas alterações
do Acordo Ortográfico de 1911: conservação do h inicial, quando a etimologia o
justificasse, ex: homem, hoje, e eliminação onde é errôneo, ex: hontem, hir, etc.;
conservação das consoantes usualmente mudas, ex: reacção, direcção, etc.; hífen
nos vocábulos composto cujos elementos foram conservados a sua independência
fonética ex: água-pé, pára-raios, etc.; acentuação gráfica nas palavras esdrúxulas,
ex: Antónia, insónia, etc.
A Academia Brasileira de Letras e a Academia das Ciências de Lisboa em
1931 aprovou o primeiro Acordo Ortográfico entre os dois países, mas sem uma boa
aceitação. As alterações no Acordo Ortográfico foram: não aceitar a escrita de
qualquer consoante muda, ex: excetuar. Acentuação nas oxítonas terminadas em i e
u, ex: tupí, ururbú, etc.; Acentuação nas proparoxítonas ou paroxítonas não vulgares
que pudessem suscitar dúvidas de pronúncia, ex: afébo, pegáda, etc.; ausência de
acentuação para marcar hiato, ex: ciume e reune.
10
A partir da primeira Convenção Ortográfica de 1943 as duas Academias
publicaram o Formulário Ortográfico. As alterações na acentuação gráfica do acento
agudo nos ditongos abertos, ex: éi, ói, éu, quando tônicos: assembleia, jiboia, etc.;
hífen nos compostos que figurou-se elementos fonéticos reduzidos, ex: mal-pecado,
bel-prazer, etc. Passou a não se escrever h depois de c, p, r, t; o ph é substituído por
f, o ch por qu antes de e ou i e por c antes de outra qualquer letra, ex: teatro, cristão,
etc.
Através dos representantes das Academias em 1945 foi realizado um novo
encontro que conduziu à chamada Convenção Ortográfica Luso-Brasileira de 1945,
sendo adotada somente por Portugal. Alterações no Acordo Ortográfico foram: o
emprego do h por força etimológica, ex: hera, hélice e em virtude de tradição gráfica,
ex: húmido, humor, etc.; emprego de apóstrofo na forma pronominal por meio de
inicial maiúscula, ex: d’Ele, n’Ele, m’O, t’O, etc. emprego da maiúscula inicial nas
palavras que nomeiam indeterminadamente pessoas, ex: Fulano, Beltrano, etc.;
No Brasil as alterações foram promulgadas em 1971, reduzindo as
divergências ortográficas com Portugal. Em Portugal as alterações foram
promulgadas em 1973, apesar de persistirem as sérias divergências entre os
sistemas ortográficos dos dois países. A Academia das Ciências de Lisboa e a
Academia Brasileira de Letras elaborou-se em 1975 um novo projeto de acordo que
não foi aprovado em Portugal por questões políticas. Portugal, Brasil e cinco
representantes de países africanos lusófonos, conseguiu-se na reunião do Rio de
Janeiro, o Acordo Ortográfico de 1986, que ficou inviabilizada pela reação polêmica
contra ele movida, sobretudo em Portugal. Obviamente tem reações emocionais
neste processo, mas esqueceu-se que houve outras reformas anteriormente. Os
portugueses se sentem donos, proprietários da língua. O novo Acordo afeta mais
palavras de Portugal (1,2%) e do Brasil (0,2%). Acreditam que o Acordo Ortográfico
foi feito sem consultar a sociedade portuguesa.
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 foi adotado (é um
tratado assinado) pelos países, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique,
São Tomé, Príncipe, Brasil e Portugal. Mas foi ratificado por Timor-Leste em 2004.
No Brasil esse Acordo entrou em vigor no início de 2009, tendo um período de
transição de três meses. Em Portugal o Acordo entrou no dia 13 de maio do mesmo
ano, com um período de seis anos.
11
A Comissão de Lexicologia e Lexicografia da Academia Brasileira de Letras
sobre os procedimentos metodológicos do Vocabulário Ortográfico da Língua
Portuguesa, em harmonia com o que dispõe no novo Acordo Ortográfico e pela nota
explicativa aprovada em Lisboa em 1990, fez uma minuciosa análise nos textos
oficiais do novo Acordo pela Comissão e sua Equipe, para que corresponda aos
propósitos unificadores e simplificadores das delegações oficiais no uso de sinais
diacríticos auxiliares do sistema ortográfico e do emprego parcial dos acentos
gráficos com função semântica e gramatical. Sendo assim devolvida ao contexto
escrito a tarefa de desfazer possíveis duplicidades de interpretação motivadas pelas
homografias entre palavras.
Por meio das ideias e participação do contexto, o Acordo propôs-se uma
limitação no emprego do hífen nas locuções, para desfazer ambiguidades. Por
causa do crescimento de homografias provocado pela falta do hífen nas locuções
houve dificuldades para que o homem comum entendesse, não tendo fundamento
lógico e histórico. Os quatro princípios metodológicos foram estabelecidos para
garantir um fiel compromisso aos propósitos dos oficiais que escreveram. Esses são
os quatro princípios metodológicos do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa
feito pela Academia Brasileira de Letras: fazer com que seja respeitada a lição do
texto do Acordo; manter esta linha de coerência como um todo; acompanhar o
espírito simplificador do texto do Acordo; preservar a tradição ortográfica nos
formulários e vocabulários oficiais anteriores, mesmo quando houver falta do texto
do Acordo.
A Comissão tomou algumas medidas sobre o trema, hífen e alguma
eliminação no acento gráfico. No trema que marcava o acento do u quando
precedido de g e q e seguido de e e i foi suprimido, como em aguentar(ü),
linguiça(ü), cinquenta(ü), frequência(ü). No hífen composto emprega-se o hífen nos
vocábulos onomatopaicos formados por elementos repetidos, com ou sem
alternância vocálica ou consonância, como blá-blá-blá, lenga-lenga, tique-taque,
trouxe-mouxe, etc, não se emprega hífen nos composto por justaposição com termo
de ligação, como pé de moleque, folha de flandres, tomara que caia, quarto e sala,
exceto nos composto que designam espécies botânicas e zoológicas, como ipê-do-
cerrado, bem-te-vi, porco-da-índia, etc.
Nas formações com prefixos ou radicais emprega-se o hífen quando o
primeiro elemento terminado por vogal ou consoante igual à que inicia o segundo
12
elemento, como anti-inflamatório, micro-ondas, auto-observação. Mas quando não
houver perda do som da vogal final do primeiro elemento, e o elemento seguinte
começar com h, podem ser usadas duas formas gráficas distintas, como bi-
hebdomadário e biebdomadário, zoo-hematina e zooematina. Quando o primeiro
elemento termina por m e o segundo começa por vogal, h, m ou n, como circum-
murado, circum-navegação. Quando o segundo elemento começa por h, como anti-
herói, mega-hertz.
Não se emprega hífen nas formações com os prefixos co, re, pré e pro,
mesmo nos encontros de vogais iguais ou quando o segundo elemento começa por
h, como coautor, coabitar, coerdeiro, reabilitar, reescrever, preexistência e proativo.
Mas quando as formações em que o primeiro elemento termina por vogal e o
segundo começa por r ou s, devendo estas consoantes duplicar-se como em
antissocial, minissaia, suprarrenal.
Na acentuação gráfica foi eliminado o timbre aberto dos ditongos ei e oi das
palavras paroxítonas, como em assembleia (é), heroico (ó), desde que não incluído
em outra regra geral de acentuação, como em destróier, gêiser. Quando indicava o
hiato de duas vogais iguais como em voo, enjoo, desde que não incluído em outra
regra geral de acentuação, como herôon. Quando usado sobre o i ou u tônico
precedido de ditongo decrescente em palavras paroxítonas, como feiura, baiuca.
Quando usado como diferencial nas palavras paroxítonas que têm a vogal tônica
aberta ou fechada, como em pelo (ê), polo (ó), pera (ê). Quando usado como
diferencial em para, flexão do verbo parar, como em para-brisa, para-choque.
1.1 História do Português
Na parte ocidental da Península Ibérica, onde o latim era a língua falada,
desenvolveu-se o português utilizado pelos soldados romanos desde o século III
a.C. Com a queda do Império Romano e das invasões bárbaras no século V, a
língua latina começou a diferenciar-se das outras línguas românicas, sendo usada
em documentos cerca do século IX, já no século XV a língua latina é tomada como
uma literatura rica. Existiram duas províncias na época romana, a antiga província
13
romana da Lusitânia e a província da Galécia ao norte, que seriam os territórios em
que formou a Língua Portuguesa. Ela desenvolveu-se principalmente ao norte de
Portugal e na Galiza, mas a configuração atual da língua foi influenciada por dialetos
moçárabes falados no sul, na Lusitânia. O dialeto latino dessa província romana
permaneceu por bastante tempo, e depois se desenvolveu apenas como uma língua
falada do Reino Suevo, ficando o latim reservado para a língua escrita.
Portugal ao se tornar independente em 1143 com o rei D. Afonso I, e com a
separação política entre os dois países, Portugal e Galiza e Castela, permitiu que
desenvolvessem o seu latim vernáculo em direções opostas. A língua falada na
parte ocidental era o galego-português, no sul o português e ao norte o galego. Pois
no ano de 1290 o rei D. Diniz criava a primeira universidade em Lisboa e obrigou em
decreto o uso oficial da Língua Portuguesa. O português se tornou uma língua
madura pelo século XIV, com uma riquíssima tradição literária que foi adotada por
vários poetas.
Tornam-se notáveis dois grandes períodos na evolução do português para
alguns estudiosos na história da Língua Portuguesa do século XIV, o arcaico e o
moderno, e outros se baseiam nas divisões tradicionais da história ou nas escolas
literárias, isto é, história cultural e literária. Foi da cultura humanista que nasce a
gramática em Portugal com Fernão de Oliveira, e aparecendo outras gramáticas
normativas e de tratados de ortografia até o século XIX. A lexicografia portuguesa é
filha do humanismo. Jeronimo Cardoso é o primeiro lexicógrafo que escreveu vários
dicionários de português-latim e latim-português (1551, 1562,1562-1563, 1569-
1570). O galego se afastou do português por causa de uma série de evoluções
fonéticas.
No término do século XVI houve redução dos quatro fonemas para dois, em
favor das pré-dorsodentais. Ex.: pré dorsodental surda /s/; paço e passo
confundidos, e pré-dorsodental sonora /z/; cozer e coser confundidos. Para manter a
ortografia antiga a língua escrita esforça-se, sem poder desviar-se das incoerências
do tipo socegar e Brazil em vez de sossegar e Brasil. Algumas dessas estranhezas
serão eliminadas na reforma ortográfica do século XX. A segunda pessoa do plural
foi retirada desde o século XIX no uso falado normal. Com alguns termos que
qualifica conceitos e objetos relativos à civilização científica e técnica, como outras
línguas contribuíram muito para o enriquecimento do vocabulário do português.
14
1.2 História do Português do Brasil
O Brasil contribuiu muito no século XX para que a Língua Portuguesa torne-se
uma língua de importância internacional. A população de origem no Brasil era
indígena antes da chegada dos portugueses e dos escravos trazidos da África. Os
índios, africanos e mestiços aprenderam o português, mas não o manejavam muito
bem. A principal língua dos indígenas das regiões costeiras era a língua geral, o tupi.
Língua estudada pelos jesuítas e diante disso, tornando-se uma língua comum. Os
bandeirantes utilizavam a língua tupi nas suas expedições. O português e o tupi
viviam lado a lado como línguas de comunicação. Com a chegada de vários
imigrantes portugueses, e por causa do ouro, diamantes e Diretório que proibiu o
uso do tupi e obrigava o uso da Língua Portuguesa, fazendo com que a língua tupi
entrasse em decadência.
O Brasil uniu certa diversidade geográfica em sua língua. Tendo uma variação
de diferentes maneiras de falar, em determinado lugares, entre um homem culto e
outro analfabeto. Houve alguns aspectos inovadores da fonética brasileira, como na
pronúncia a oposição entre os timbres abertos e fechados das vogais tônicas a, e e
o seguidas de uma consoante nasal, que ocorreu apenas no timbre fechado, ex:
cantamos com [ã] no pretérito perfeito como no presente do modo indicativo; o
timbre fechado da vogal estende-se a Antônio, quando no português europeu se diz
António com [o]. As oposições fonológicas entre Portugal para essas três vogais
estavam entre o timbre aberto e o timbre fechado, no Brasil é neutralizado diante de
consoante nasal. É através da pronúncia das vogais que o português do Brasil se
distancia do português europeu. O vocabulário do português do Brasil se distancia
do de Portugal em parte, mas os dois países tem uma forma de escrita diferente de
certas palavras; ex.: no Brasil diretor, ação e ótimo, em Portugal director, acção e
óptimo.
A questão da língua para os escritores se colocou no Brasil com o
Romantismo que se estendeu até depois de 1870. O escritor José de Alencar foi
alvo de crítica na publicação de Iracema em 1865, pelo escritor português Pinheiro
Chagas e de outros censuradores dos dois países, que o acusaram de escrever
numa língua incorreta. Na Semana da Arte Moderna de São Paulo, realizada em
fevereiro de 1922, no qual o Modernismo no Brasil passa por uma mutação cultural e
15
artística, os filólogos estabeleceram processo e uma precoce revisão crítica sobre a
história do português do Brasil, escolhendo métodos científicos que não levariam a
nenhuma consequência na questão da língua1.
1 O conteúdo foi retirado do Portal da Língua Portuguesa.
16
2 OBJETIVO DO ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA (1990)
O Objetivo da reforma ortográfica foi a unificação da ortografia da Língua
Portuguesa. Atualmente é o único idioma do ocidente que possui duas grafias
oficiais, sendo uma de Portugal e a outra do Brasil. A grafia do Brasil é regida pela
lei 2.623 de 21 de outubro de 1955, que restabeleceu a vigência do Formulário
Ortográfico de 12 de agosto de 1943 e pela lei 5.765 de 18 de dezembro de 1971.
Desde 1924 buscou-se uma ortografia comum, porém o Brasil, por não ter ratificado
o Acordo de unificação de 1945, e continuar utilizando o que regia as disposições de
1943, ocasionou o impasse que temos até hoje.
Com a tentativa de resolver a situação e buscar a disseminação de uma
Ortografia única, em 1990 os países lusófonos assinaram em Lisboa um Acordo
Ortográfico que entraria em vigor em 1º de janeiro de 1994, após ratificação dos
países envolvidos. No entanto, não houve ratificação e o Acordo não entrou em
vigor. Em 2004 se propôs que ele vigorasse com a ratificação de três dos oito países
lusófonos, essa proposta foi ratificada por todos os países, exceto Angola. Desta
forma, o Acordo está vigente, mas a grafia da Língua Portuguesa não está unificada.
Com essa medida existiria a facilitação e redução de custos na disseminação da
língua, também facilitaria as relações internacionais e comerciais e como
consequência, os países lusófonos estariam mais evidentes no cenário mundial.
2.1 Opiniões sobre o Novo Acordo
O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa vem sendo avaliado,
elaborado e discutido desde a década de 1980, são muitas as polêmicas que
envolvem esse processo. Pretende-se mostrar a seguir as opiniões favoráveis e
desfavoráveis ao Acordo.
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2.1.1 Opiniões desfavoráveis de Portugal
De acordo com pesquisa realizada no “Jornal Correio da Manhã”, publicado
em 19 de março de 2009 em Portugal, sobre o novo Acordo Ortográfico,
percebemos uma resistência no período inicial do processo.
Acompanhe abaixo os resultados:
Notoriedade
Já ouviu falar 68,6%
Não ouviu falar 31,4%
Posição
É a favor 30,1%
É contra 57,3%
Nem a favor, nem contra 11,0%
Sem opinião 1,6%
Aplicação das novas regras
Vai continuar a escrever da mesma
maneira
66,3%
Vai passar a escrever da nova maneira 22,1%
Nuns casos sim, noutros não 6,8%
Sem opinião 4,8%
Avaliando os resultados, percebemos a resistência do povo português em
relação ao Acordo.
O Presidente da República de Portugal, Cavaco Silva (2012), admitiu na
inauguração da Feira do Livro em Díli no Timor-Leste, que tem dificuldades em se
adaptar ao novo Acordo Ortográfico. Afirma: “Todos os meus discursos saem com
Acordo Ortográfico, mas quando estou a escrever em casa tenho alguma dificuldade
e mantenho aquilo que aprendi na escola”.
Notícia publicada em 03 de fevereiro de 2012 no “Jornal Público” Vasco
Graça Moura (2012), novo presidente do Centro Cultural de Belém, contrariando a
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prática adotada desde setembro de 2011, ordenou aos serviços internos que não
aplicassem mais o Acordo Ortográfico. Ele alegou que é inconstitucional a resolução
aprovada em janeiro de 2011 pelos ministros, que determina que o Acordo fosse
adotado por todos os serviços do Estado e entidades tuteladas pelo Governo, pelo
fato de Angola e Moçambique não terem ainda ratificado o Acordo. Moura afirmou
que o Acordo Ortográfico não está nem pode estar em vigor.
Em entrevista à TVI-24 o secretário de Estado da Cultura de Portugal
Francisco José Viegas, em nome do governo informou que o Acordo Ortográfico
será alterado até 2015:
Do ponto de vista teórico, a ortografia é uma coisa artificial. Portanto, podemos mudá-la. Até 2015 podemos corrigi-la, temos essa possibilidade e vamos usá-la. Nós temos que aperfeiçoar o que há para aperfeiçoar. Temos três anos para fazê-lo (VIEGAS, 2012).
Viegas (2012), quando questionado sobre a decisão de Vasco Graça Moura,
de não utilizar no Centro Cultural de Belém as regras da Nova ortografia esclareceu:
Para mim é um não problema. Os materiais impressos e oficiais do Centro Cultural de Belém obedecem a uma norma geral que vigora desde primeiro de janeiro de 2012, em todos os organismos sob tutela do Estado. O Vasco Graça Moura, um dos grandes autores da nossa língua, escreverá como lhe apetecer.
Vasco Graça Moura, ao fazer a declaração do cancelamento do uso do novo
Acordo no Centro Cultural de Belém, disse não esperar tanta repercussão. Afirmou
em declaração ao programa “Gente que Conta” em 12 de fevereiro de 2012, nove
dias após sua decisão no Centro Cultural de Belém:
Não contava que tivesse este efeito, contava meramente com um efeito interno, mas pode promover uma coisa que me perece útil, uma reflexão mais aprofundada, quer no plano da universidade ou da sociedade em geral (MOURA, 2012).
Artigo publicado no site do “Jornal O Globo”, mostrou preocupação do Brasil
após declaração de apoio do secretário de Estado da Cultura de Portugal, Francisco
José Viegas ao fato de Vasco Graça Moura ter mantido a antiga ortografia no Centro
Cultural de Belém. O Brasil teme que após mais de duas décadas, o Acordo acabe
não respondendo ao seu objetivo: a unificação.
“Lusa” publicou em 13 de fevereiro de 2012, entrevista com Ivo Miguel
Barroso (2012), professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa que
19
considera utilizar a Língua Portuguesa segundo as normas do novo Acordo
Ortográfico ser inconstitucional, e por isso apresentou queixa na Provedoria da
Justiça, alegando que não se muda a língua por decreto.
Em julho do mesmo ano Barroso entregou na Provedoria da Justiça a
fundamentação da queixa contra o Acordo Ortográfico com um total de 275 páginas.
Ele considerava inválida a ratificação por três Estados para entrar em vigor o novo
Acordo. Neste documento Barroso (2012) advertiu:
A Assembleia da República deve repor a normatividade violada, operando um autocontrole da validade, fazendo aprovar um ato que, reconhecendo a inconstitucionalidade das normas contidas no Acordo Ortográfico e também, na Resolução parlamentar n. 35/2008, retire eficácia a essa, autodesvinculando o Estado português.
Na queixa ele apontou vários argumentos, entre eles “a inexistência de um
vocabulário ortográfico comum não preclude a vigência da totalidade das normas do
Acordo. E o prazo de transição não serve juridicamente para promover alterações ao
tratado”.
Sobre a Nova Ortografia, ainda afirmou que:
A norma padece de inconstitucionalidade formal a duplo título: por violação da reserva de lei parlamentar e por carência da forma de decreto regulamentar, constitucionalmente resultante de desconformidades ortográficas com a Constituição.
Vasco Graça Moura, um dos principais críticos da implantação do novo
Acordo Ortográfico em Portugal, falou em 09 de janeiro de 2013, sobre o adiamento
da aplicação do Acordo no Brasil, alegando que Angola e Moçambique vão manter o
status quo, e que esta decisão se torna mais concreta após a prorrogação do prazo
no Brasil, que segundo ele, não sendo adotada nos outros países, Portugal também
não inseriria as regras no Estado. Salientou que muitas coisas já estavam de acordo
com as novas regras, e que isso gerará um custo alto no sentido de retroceder as
regras, mas que o custo não pode ser desculpa. Disse ele:
Há, dir-se-á, muita coisa que já se escreve em conformidade com as suas bases, muitos livros escolares que também já são impressos nesses termos, muitas práticas públicas que procuram já aplicar as normas referidas. E, portanto, voltar atrás implicaria custos muito consideráveis que a crise atual não nos permite suportar. É óbvio que os custos não poderão deixar de ser elevados. Os erros, por vezes, pagam-se muito caro, e este é um desses casos. Mas os
20
custos, nesse caso, não podem ser desculpa para não se fazer nada (MOURA, 2013).
Ainda sobre o adiamento do Brasil na obrigatoriedade do Acordo a Sociedade
Portuguesa de Autores (SPA) de Portugal declararam que vão continuar a utilizar a
norma antiga nos documentos e comunicação com o exterior em virtude da decisão
do Brasil, e também que segundo eles, Angola ter assumido posição contrária ao
Acordo.
O Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e defensor
do Acordo Ortográfico, Carlos Reis (2013), acusou a SPA de “andar atrás de lebres
mal informadas ou tendenciosas”, ele afirmou: “o Brasil não adiou uma decisão final
sobre o Acordo Ortográfico, o que fez foi prolongar por mais algum tempo o período
de transição até à sua aplicação obrigatória [em 2016]”.
Segundo Helena Buescu (2013), professora universitária da Faculdade de
Letras de Lisboa e coautora de Metas Curriculares de Português para o ensino
básico, considerou:
Este adiamento sublinha a bondade das críticas feitas ao “Acordo”, mostrando que nem em Portugal nem no Brasil (nem nos outros países lusófonos, que mostraram grandes reticências, sendo que Angola ainda não ratificou) ele conseguiu um consenso mínimo em termos científicos.
Vasco Graça Moura (2013) reforçou este argumento e afirmou que “não faz
qualquer sentido aplicar-se uma “reforma” que se tornou substantivamente
inaplicável e cujos objetivos e pressupostos se evaporam na prática com o
adiamento brasileiro”.
Maria Alzira Seixo (2013), também professora da Faculdade de Letras de
Lisboa, arrematou:
Se isto acontecesse, não há mais razão para Portugal continuar vergado ao torcilhão que já está sofrendo a sua Língua Pátria, com uma utilização abusiva nas escolas, em publicações, nos documentos do Estado.
Uma carta com 200 assinantes foi enviada ao Ministério da Educação e
Ciência de Portugal com o objetivo de revogar o Acordo Ortográfico vindo conclamar
o Ministro Nuno Crato a uma tomada de posição sobre uma matéria que é fulcral
para a identidade portuguesa: a língua.
21
João Pereira Coutinho, escritor português, publicou em quatro de junho de
2013, em coluna na “Folha de São Paulo” uma crítica ao Acordo Ortográfico. Entre
vários pontos abordados, Coutinho criticou o protocolo modificativo que vigorava a
partir de três ratificações dos países lusófonos. Veja:
Perante este aborto ortográfico, que fazer? Curiosamente, Angola e o Brasil já fizeram muito: a primeira, recusando-se a ratificá-lo; o segundo, adiando a sua aplicação. Só os portugueses continuam a remar contra a parede --e, pior, a remar contra uma ilegalidade: o tratado original do Acordo Ortográfico de 1990 garantia que o mesmo só entraria em vigor quando todos os intervenientes o ratificassem na sua ordem jurídica. Essa intenção foi reafirmada em protocolo modificativo de 1998. Mas eis que, em 2004, há um segundo protocolo modificativo segundo o qual bastaria a ratificação de três países para que o Acordo entrasse em vigor. Não é preciso ser um gênio da jurisprudência para detectar aqui um abuso grosseiro: como permitir que o segundo protocolo tenha força de lei se ele nem sequer foi ratificado por todos os países? (COUTINHO,2013)
2.1.2 Opiniões desfavoráveis do Brasil
Ernani Pimentel professor, presidente da Editora Vestcom e do Movimento
Acordar Melhor, foi considerado um dos maiores críticos do Acordo no Brasil. Para
ele, deve-se aproveitar o adiamento da implantação do Acordo para mudar o
conteúdo da Nova Ortografia, simplificando as novas regras e ajustando os
problemas que não foram percebidos. Segundo Pimentel o maior problema se dá
pelo fato de o Acordo ter sido pensado na década de 1970, quando a educação era
baseada na didática da memorização, o que difere significativamente de hoje, que
os alunos estão sendo instigados a racionalizar, a pensar e entender as regras. Ele
ainda afirmou que com tantas regras, é impossível falar português fluentemente. Por
tantos motivos, é que desde 2008, ele já colheu mais de 20 mil assinaturas de
brasileiros contra o novo Acordo, entre eles, professores que não têm familiaridade
com as novas regras. A respeito dos educadores ele indagou:
Você não pode fazer um Acordo de ortografia sem ver o que os professores acham. Se os professores não aprenderem [as novas regras], eles não podem ensinar. Essas regras são ilógicas, não pode impor á sociedade.
22
Ele afirmou que os professores calcularam gastar 400 horas de aula no
ensino de ortografia no ciclo básico, e mesmo assim, os brasileiros saem da escola
sem dominar as regras; por isso a simplificação auxiliaria a melhor qualidade da
educação.
A “Revista Veja” publicou em 06 de maio de 2012 uma reivindicação do
Senado Brasileiro sobre o novo Acordo Ortográfico. Em abril reuniram-se os
senadores Ana Amélia lemos (PP-RS), Cristovam Buarque (PDT-DF), Cyro Miranda
(PSDB-GO), Paulo Bauer (PSDB-SC), o professor e escritor Pasquale Cipro Neto e
o presidente do movimento Acordar Melhor Ernani Pimentel, para promover uma
audiência pública na Comissão de Educação, Cultura e Esporte para discutir a
revisão da reforma ortográfica. Pimentel acusa a Academia Brasileira de Letras de
fazer modificações no texto original do Acordo, sem autorização, e que o
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa está em desacordo com as regras.
No entanto, o Gramático Evanildo Bechara (2012), responsável pelo Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa, afirmou que as acusações não são reais.
A senadora Ana Amélia, autora da requisição da audiência pública, passou a
defender a revisão das novas regras após ser procurada por Pimentel em dezembro
de 2011. E enfatizou que Bechara foi convidado a participar da audiência, e não
compareceu, fato que segundo ela, “mostrou falta de vontade de debater o assunto”.
Bechara defendeu-se em entrevista a “Veja”:
Logo que fui chamado a compor a mesa, informei ao Senado a impossibilidade de comparecer à reunião. Apresentei duas possibilidades: de a reunião ser transferida para outra data e a outra possibilidade de marcar uma nova reunião para eu prestar esclarecimentos aos senadores (ANA AMÉLIA, 2012).
Como a data não foi alterada, em 18 de abril, um dia após seu retorno ao
Brasil enviou uma carta ao Senado, colocando-se a disposição dos senadores, com
o intuito de mostrar-lhes todo o histórico de acontecimentos que levaram a
elaboração do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa em harmonia com o
novo Acordo. No entanto, o Senado não lhe enviou resposta. A respeito da
elaboração do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, ele afirmou:
Em 2008 estávamos com a quarta edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa esgotada. Quando partimos para a quinta edição estava em plena efervescência a discussão sobre a implantação do novo Acordo Ortográfico. Por isso, acreditamos aqui
23
na Academia que havia chegado o momento de implantarmos o Acordo na quinta edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (BECHARA, 2012).
O Senado, a partir de então se movimentou para criar um grupo de trabalho
na Comissão de Educação, Cultura e Esporte da Casa para manterem se
informados sobre o andamento do Acordo. O Senador Cristovam Buarque sugeriu
que o grupo seja misto, envolvendo deputados e senadores. Explicou que “para nós,
ficou claro que existiu pressa na implantação do Acordo, e precipitação sempre dá
errado. Nosso objetivo é melhorar o Acordo e não impedir que ele entre em vigor”.
Para o senador Paulo Bauer, um dos objetivos dos parlamentares era realizar
uma série de reuniões para que fossem esclarecidos todos os pontos em torno do
novo Acordo Ortográfico. Afirmou: “precisamos descobrir se os problemas têm
soluções, se podemos fazer mudanças sem ferir o Acordo e a nossa língua. Por
enquanto, as novas regras estão afrontando a língua”.
A Senadora Ana Amélia não descartou a possibilidade de anulação e refutou
a ideia ao dizer: “podemos tomar uma posição mais firme em relação ao Acordo,
como propor o fim do Acordo ou pedir o adiamento dele, para que não entre em
vigor a partir de janeiro de 2013”.
Durante a audiência pública, foi proposto o acompanhamento da discussão do
Acordo nos outros países, o adiamento da implantação e uma nova reunião
internacional com os representantes da Comunidade de Países de Língua
Portuguesa para rediscutir todos os pontos do novo texto.
O Jornal a “Folha de São Paulo” publicou em 21 de dezembro de 2012 a
movimentação de senadores para a mudança do novo Acordo. Para muitos o
adiamento aconteceu para que se pudessem rever algumas divergências frente às
mudanças. Miranda (2012) disse que havia descontentamento. Se não tivesse,
ninguém pediria um adiamento de três anos. Se fosse por problemas de aplicação
um ano bastaria.
A senadora Ana Amélia – Partido Progressista/RS também defendeu
mudanças ao dizer que não se quer mutilar o Acordo. “A gente quer aperfeiçoá-lo
para que seja de boa aceitação”, afirmou. No entanto, o Itamaraty e o Ministério da
Educação alegaram que a revisão não é o ponto a ser discutido, que o único motivo
do adiamento era se alinhar aos prazos de Portugal que tem o prazo até 2015 para
concretizar permanentemente as mudanças.
24
O ministro Mercadante não quis prestar esclarecimentos, então Cesar
Callegari (2012), atual secretário de Educação Básica do Ministério da Educação e
secretário da Educação Da Prefeitura de São Paulo, descartou alterações e afirmou:
"A posição do governo é no sentido de respeitar acordos, produzir os resultados que
dele devem derivar e se colocar à disposição, quando necessário, em processos
revisores".
Sobre o adiamento do Acordo no Brasil, Arnaldo Niskier, doutor em educação,
membro da Academia Brasileira de Letras e presidente do Centro de Integração
Empresa-Escola (CIEE-RJ), publicou no Jornal a “Folha de São Paulo”, em 14 de
janeiro de 2013, sobre as perspectivas dessa decisão. Ele alegou que foram muitas
movimentações tomadas pelo Brasil, e que o adiamento seria algo desrespeitoso.
Ele disse:
O Brasil aderiu com entusiasmo ao Acordo. Livros, jornais e revistas passaram a ser escritos com as novas normas. Centenas de concursos públicos, como é o caso do Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem (4 milhões de jovens), foram realizados com essa marca, aparentemente irreversível. São quase 200 milhões de brasileiros que hoje escrevem de forma simplificada. Mudar esse quadro não foi desrespeitoso? (NISKIER, 2013)
Pasquale Cipro Neto em entrevista ao Jornal “Folha de São Paulo” em junho
de 2009, na cidade de Ribeirão Preto criticou a reforma ortográfica, justificando que
o texto da reforma foi mal escrito. Afirmou:
A reforma gerou confusão. O texto foi mal escrito e houve desperdício de dinheiro, água, papel e energia elétrica por um Acordo que entrou em vigor precipitadamente, pois nem sequer Portugal ainda o adotou (CIPRO NETO,2009).
2.1.3 Opiniões favoráveis de Portugal
Vital Moreira, político e professor da Universidade de Coimbra, em apoio a
Nova Ortografia afirmou:
[...] não existe nenhuma razão lógica para que uma mesma língua mantenha tantas divergências ortográficas entre duas normas nacionais, quando elas não correspondem a uma divergência real na sua expressão oral. (MOREIRA, 2009).
25
Edite Estrela, professora e eurodeputada, mesmo em meio a tantas
reivindicações desfavoráveis ao Acordo colocou:
[...] é necessário pôr termo a esta singularidade de termos, uma língua com dupla ortografia, situação que tem dificultado a internacionalização do nosso idioma, quer em universidades estrangeiras, quer em organismos em que Portugal e o Brasil têm assento. A unificação ortográfica não faz milagres, mas é o primeiro passo para uma política da língua coerente. (ESTRELA, 2009).
Henrique Monteiro dedicou em 22 de fevereiro de 2012 uma publicação na
“Revista Atual” a Vasco Graça Moura e a todos os opositores do Acordo Ortográfico.
Em uma declaração que chegava ter um tom cômico, rebateu inúmeros argumentos
colocados contra o Acordo Ortográfico. Para iniciar Monteiro (2012) disse:
A minha adesão pessoal ao Acordo Ortográfico (AO) tem a ver simultaneamente com confiança e humildade. Confio na sabedoria de quem o fez (não na sua infalibilidade) e sou suficientemente humilde para reconhecer que muitos aspetos que dizem respeito à etimologia e à fonética, tais como outros menos relevantes para este caso me escapam. Além da confiança e respeito por nomes como Lindley Cintra ou António Houaiss, de que não vejo muita gente comungar, mas antes desprezar, dediquei eu próprio algum tempo ao assunto. E, uma vez que faço da escrita a minha profissão há mais de 30 anos, penso ter algo a dizer.
Neste texto Monteiro fez aplicações práticas sobre os mais variados aspectos
da Nova Ortografia. Utilizou a fonética em diversos exemplos, mostrando ao leitor
que a construção desfavorável ao Acordo mais prejudicava do que favorecia. Ele
afirmou que algumas palavras modificadas, não perdem a familiaridade no país, mas
que por um simples receio da perda da identidade, de mais vê-la da forma que
sempre foi, causa-se uma rejeição inexplicável. Henrique Monteiro (2012) em seus
últimos parágrafos esclareceu:
Posto isto, o Acordo Ortográfico é importante porque aproxima da fonética uma série de palavras. E falo, pela primeira vez, em função de um idioma que, sendo português, é também propriedade, matriz e identidade de outros povos e de outras latitudes. Cedemos? Não sei, nem me importa. Não quero uma língua para me distinguir do Brasil. Prefiro uma que me aproxime. E quem diz Brasil, que tem 200 milhões de falantes, diz naturalmente Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Timor-Leste.
26
2.1.4 Opiniões favoráveis do Brasil
Ao término de janeiro de 2009, José Antonio Pinto Ribeiro, ministro da Cultura
no Brasil, declarou que para evitar a fragmentação da língua o Acordo Ortográfico
deveria ser aplicado em todos os meios de comunicação social e em caráter oficial o
mais tardar em 01 de janeiro de 2010. O ministro Ribeiro (2009) mostrou o Acordo
como caráter resolutivo para afirmar que “há muitos sítios onde as autoridades se
recusaram a ensinar português porque não sabiam se o hão de fazer na versão
escrita brasileira ou europeia”.
Como ferramenta útil neste processo de mudança, o ministro disse que uma
arma fundamental seria a produção de um corretor de texto aplicável a várias
plataformas de informática. O pensamento de Pinto Ribeiro era focalizado na
pretensão de ver o português como uma língua padrão no meio internacional, e para
afirmá-lo o ministro acrescentou que seria importante para a defesa da língua que os
acervos, literatura, técnica, entre outros, estivessem na internet, que é um
mecanismo de fácil divulgação.
O Ministério da Educação afirmou em entrevista a Agência Lusa em 28 de
fevereiro de 2009, ter sido positiva a entrada da Nova Ortografia no Brasil. O
assunto gerou discussão sobre a Língua Portuguesa, o que é bom para o
crescimento educacional. Em dois meses após a entrada em vigor das novas regras
ortográficas não houve nenhuma objeção coletiva ou movimento contrário ao
Acordo. O assessor especial do Ministério da Educação, Carlos Alberto Xavier
(2009), comentou que “o Acordo Ortográfico provocou uma grande conversação
sobre a Língua Portuguesa no país. Discordando ou concordando todos estão a
discutir a Língua Portuguesa e este é o saldo mais positivo disso”.
Xavier informou que o Ministério da Educação aguarda o novo Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa com cerca de 370 mil palavras, que seria
elaborado pela Academia Brasileira de Letras. Após a publicação que estava
prevista para março seriam desenvolvidas ações para divulgar as novas regras, e a
publicação de um documento destinado aos professores e diretores contendo
orientações sobre a aplicação nas escolas do novo Acordo. O documento seria
entregue a mais de 200 mil escolas públicas do país, e a distribuição seria ainda no
primeiro semestre.
27
Em julho, representantes dos membros da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras e da Academia das Ciências de
Lisboa, reuniram-se no Brasil para debater a implantação do Acordo, afirmou Xavier.
Domício Proença Filho, professor, pesquisador em Língua Portuguesa e
Literatura, membro da Academia Brasileira de Letras, e autor do livro “Nova
Ortografia da Língua Portuguesa – Guia Prático”, que seria lançado em março de
2009, informou que o novo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa já estava
em fase final de edição. Acerca do novo Acordo, Proença Filho (2009) afirmou que
“a resistência à mudança era muito menor que a sedução do novo. Além disso, as
mudanças no Brasil atingiram penas 0,5% das palavras”.
Para ele, o Acordo representou “uma concordância dificílima entre os países
de Língua Portuguesa” e as diferenças de ortografia autorizadas pelas novas regras
“não prejudicaram a unificação do consenso”.
No entanto, em posição contrária a essa opinião, a jornalista e escritora
brasileira Dad Squarisi (2009) refutou:
Não houve unificação. A reforma adotou o critério da flexibilidade e, desta forma, Portugal continuará a escrever ‘económico’ e ‘cómodo’, enquanto a grafia no Brasil será ‘econômico’ e ‘cômodo’, por causa da diferença das duas pronúncias. Não houve o acerto que deveria ter havido.
Segundo Nery Neto, coordenador de Língua Portuguesa do Colégio Sigma,
uma das maiores escolas particulares de Brasília, “a utilização do hífen era o que
suscitava mais dúvidas e a nossa orientação era de que os alunos sempre fizessem
consultas”.
Após montar uma estratégia para aplicação das novas regras em todas as
séries da escola, ele percebeu que as mudanças causaram alguma estranheza, mas
crítica geral por parte dos discentes.
2.2 Mudanças nos materiais didáticos
No ano de 2007, o Ministério da Educação no Brasil, já aguardava a definição
da Comunidade de países da Língua Portuguesa (CPLP) sobre a vigência do novo
28
Acordo Ortográfico para então iniciar os trabalhos de modificação dos materiais
didáticos a serem distribuídos na rede pública de ensino do nível básico.
O prazo mínimo para que todos os livros didáticos distribuídos pelo MEC
incluíssem todas as mudanças ortográficas era de um ano após o início da vigência,
segundo o assessor especial do MEC, Carlos Alberto Xavier (2007), que assegurou
que “teríamos também um período de dois anos para adaptação à Nova Ortografia.
Durante esse tempo as duas formas ortográficas seriam consideradas corretas”.
O secretário de Educação Básica, César Callegari explicou ao “Jornal G1”,
em 28 de dezembro de 2012, que o MEC era favorável em alinhar o cronograma
brasileiro com o cronograma de outros países, entre eles, Portugal, mesmo tendo
sido o país que mais avançou na implantação do Acordo entre os oito países.
Segundo Callegari, o Ministério da Educação, o maior provedor de materiais
didáticos do país, logo após a ratificação do Acordo pelo Brasil, solicitou a mudança
de seus materiais com a inclusão das novas regras. No entanto, ele disse que no
que se refere a preparação e formação de professores, isso deveria ser feito nas
universidades, e sistema de ensino. O que competia ao ministério, e já está sendo
realizado, encaminhado e orientado.
Em Portugal, Miguel Freitas da Costa, secretário geral da Associação
Portuguesa de Editores e Livreiros, queixava-se da falta de informação e resolução
do Acordo. Em meados de Junho de 2010, as editoras ainda aguardavam decisão
do Ministério da Educação. Costa (2010) assegurou “ser claro que, à medida que o
tempo passa, há cada vez menos tempo e é cada vez mais apertado o prazo para
poder pôr isso em prática nesse ano letivo’.
O único fator conflitante era o tempo, uma vez que os manuais didáticos
foram preparados com muita rapidez e pouca antecedência. A urgência das editoras
se dava pelo fato de haver todo o processo de aplicação das novas regras, da grafia,
da revisão e podendo haver alterações de paginação devido ao fato de alterar a
grafia de algumas palavras.
Os editores tinham por preferência que o Acordo Ortográfico fosse realizado
em fases, nos três anos letivos, iniciando pelo primeiro ciclo. Sobre essa
perspectiva, Costa (2010) colocou:
Penso que pode ser essa a ordem, mas de qualquer maneira que não seja todos de uma vez, o que seria "mais complicado". Pensamos que é uma ideia que não é mal acolhida pelo Ministério da
29
Educação, que provavelmente optará por uma solução desse gênero, mas ainda não sabemos de nada.
A ministra da Educação, Isabel Alçada (2010), remeteu em fevereiro para o
ano letivo 2011/2012 a aplicação do novo Acordo nas escolas:
O ministério está no quadro dos vários ministérios para definir quando é que o Acordo entra em vigor para os vários domínios e para o livro escolar. O que terá de ser com o tempo necessário para que o trabalho se possa fazer de forma que não haja avanços e recuos, a fim de que não haja “desperdício", garantiu na altura a ministra.
2.3 Os novos dicionários
O dicionário seria uma ferramenta indispensável neste processo de mudança,
é a ele que se recorre nos casos de dúvida, principalmente para Portugal que terá
alterações na forma escrita em 1,6%, quando o Brasil mudará em apenas 0,5%.
Muito importante principalmente também, pelo fato de ser a partir dos dois
vocabulários, que poderia ser elaborado o Vocabulário Ortográfico unificado da
Língua Portuguesa.
2.3.1 Dicionários de Portugal
O linguista português Malaca Casteleiro criticou os atrasos de Portugal, no
que se refere às iniciativas do Ministério da Educação que, em meados de setembro
de 2009, ainda não tinha elaborado nenhum dicionário, porém, aguardava-se da
Academia de Ciências Portuguesa até o final do ano um documento neste sentido.
Malaca Casteleiro publicou um vocabulário com 180 mil palavras à luz do novo
Acordo, editado pela Porto Editora, sem vínculo algum com o Ministério da
Educação.
Ainda em 2009, no dia 30 de dezembro a jornalista Alexandra Padra Coelho
em reportagem ao “Jornal Público”, em Portugal fez um panorama do novo Acordo
30
no país. Alexandra apresentou uma peculiaridade bastante interessante a respeito
de uma ferramenta prevista no Acordo, e que o Brasil já possuía um vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa. O que gerava maior curiosidade era o fato de em
Portugal existirem três entidades diferentes, causando assim a possibilidade de
elaboração de três Vocabulários Ortográficos da Língua Portuguesa, um pela Porto
Editora, que já estava editado; outro pelo Instituto de Linguística Teórica e
Computacional, e o terceiro pela Academia das Ciências.
Em 15 de novembro do ano seguinte, O Parlamento de Portugal decidiu por
unanimidade aplicar o novo Acordo Ortográfico em primeiro de janeiro de 2012,
sendo adotado o Vocabulário do Instituto de Linguística Teórica de Computacional
(ILTEC).
2.3.2 Dicionários do Brasil
No início de 2009, o ainda Ministro da Educação, Carlos Alberto Xavier
(2009), informou que o Ministério aguardava o novo Vocabulário Ortográfico da
Língua Portuguesa, com cerca de 370 mil palavras que foi elaborado pela Academia
Brasileira de Letras. Após a publicação que estava prevista para março do mesmo
ano, seriam desenvolvidas ações para divulgar as novas regras e a publicação de
um documento destinado aos professores e diretores, contendo orientações sobre a
aplicação nas escolas do novo Acordo. O documento seria contemplado por mais de
200 mil escolas públicas do país, e seria distribuído ainda no primeiro semestre.
Domício Proença Filho (2009), professor, pesquisador em Língua Portuguesa
e Literatura, membro da Academia Brasileira de Letras, e autor do livro “Nova
Ortografia da Língua Portuguesa – Guia Prático”, que seria lançado em março do
mesmo ano, informou em 28 de fevereiro de 2009 que o novo Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa já estava em fase final de edição.
Em 18 de março de 2009, Cícero Sandroni, presidente da Academia Brasileira
de Letras, entregou aos ministros Fernando Haddad (Educação), Juca Ferreira
(Cultura) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) a quinta edição do
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, em 976 páginas, com alterações do
novo Acordo Ortográfico e coordenação de Evanildo Bechara, da ABL. No dia
31
seguinte, na cidade do Rio de Janeiro aconteceu o lançamento oficial do Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa na Academia Brasileira de Letras.
Segundo Bechara, especialistas portugueses não foram consultados por não
se tratar ainda de um vocabulário comum.
2.4 Assinando o Acordo
O Parlamento de Portugal decidiu em 15 de dezembro de 2010, por
unanimidade aplicar o novo Acordo Ortográfico no sistema educativo no ano letivo
2011/2012 e na administração pública a partir de 1º de janeiro de 2012. O
vocabulário adotado foi o do Instituto de Linguística Teórica de Computacional
(ILTEC).
O Lince, um software desenvolvido para conversão de texto criado pela
Fundação da Ciência e Tecnologia e disponibilizado gratuitamente, foi utilizado na
conversão de documentos apresentados na grafia anterior ao Acordo.
A resolução foi apresentada em Conselho de Ministros pelo titular da pasta da
Presidência, Pedro Silva Pereira (2010). Declarou:
Está a decorrer um período de transição de seis anos para a plena aplicação do Acordo Ortográfico. A partir de primeiro de janeiro de 2012, o Acordo Ortográfico será aplicado no próprio Diário da República eletrônico e em toda a atividade do Governo e dos serviços dependentes da administração pública.
No Brasil, em 28 de setembro de 2008, o então presidente Luís Inácio Lula da
Silva, assinou o decreto para promulgação do Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa que tem o propósito de unificar a ortografia da Língua Portuguesa.
Passou a vigorar a partir de 1º de janeiro de 2009, com implantação gradual, sendo
introduzido nos materiais didáticos a partir de 2010 e com obrigatoriedade em 2012.
A data foi propositalmente escolhida por ser o aniversário da morte de Machado de
Assis, um grande escritor brasileiro e um clássico do idioma português.
Além de Portugal e Brasil, também São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Timor-
Leste e Guiné-Bissau já ratificaram o Segundo Protocolo Modificativo do Acordo
32
Ortográfico de 1990, embora estes últimos países não o tinham ainda aplicado.
Moçambique ratificou em 06 de junho de 2012, faltando apenas a ratificação de
Angola.
Oliveira Encoge, diretor para assuntos da CPLP no ministério angolano das
Relações Exteriores, garantiu que seu país faria a ratificação, mas que queria a
introdução de termos do vocabulário nacional. O Ministro Da Educação Pinda
Simão, em julho de 2013, disse que Angola defendia que o Acordo precisava ser
adequado às realidades culturais de cada Estado da CPLP, para que todos ficassem
atendidos em suas necessidades. Acrescentou que o fato de Angola ser o único país
que ainda não havia ratificado o Acordo Ortográfico, não significava que ele seria
contrário ao Acordo.
2.5 Adiamento do Acordo no Brasil
Em Novembro de 2012 uma comissão parlamentar reuniu-se para apresentar
a ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann, algumas ponderações sobre o risco da
implantação das regras do novo Acordo. No dia seguinte, representantes do
Ministério das Relações exteriores, Cultura, Educação e Casa Civil, perceberam a
necessidade de mudança na data de implementação do novo Acordo. Para Domício
Proença Filho, professor e autor de obras didáticas, e membro da Academia
Brasileira de Letras, seria pouco notória a diferença percebida na realidade
brasileira, pois as novas regras já estavam sendo usadas na sociedade. Explicou
Proença Filho (2012):
O que vai acontecer é que as regras vigentes vão continuar convivendo com as novas regras. A mídia brasileira com pouquíssimas exceções adotou as novas regras. O mesmo ocorreu em relação aos livros didáticos, ás novas obras publicadas pelas editoras e às escolas. O que vai acontecer é que as novas regras do Acordo de 1990 estão em vigor no Brasil e funcionando. A única coisa que muda com o decreto é que elas vão continuar convivendo com as anteriores. Ou seja, o período de adaptação é ampliado. Não vejo nenhum outro efeito, em um primeiro olhar.
O Ministro da Educação do Brasil, em declaração a “Agencia Lusa”, em 08 de
dezembro de 2012, durante jantar em comemoração ao Centenário da Câmara
33
Portuguesa de Comércio de São Paulo, disse estar estudando o adiamento do
Acordo Ortográfico, proposta já recomendada pelo Ministério das Relações
Exteriores, e que também passaria pela avaliação da Educação, antes de tornar-se
decreto presidencial. Aloísio Mercadante (2012) afirmou que “o Acordo faria o papel
de simplificar a ortografia, mas ainda estava muito aquém do que se poderia”.
Diante de vários questionamentos, o Governo brasileiro, através de decreto
da Presidente Dilma Rousseff publicado em 28 de dezembro de 2012, adiou a
implementação definitiva do novo Acordo Ortográfico para 31 de dezembro de 2015.
Muitas foram as especulações e opiniões apresentadas a respeito. Então, para que
o país se preparasse melhor, o período de adaptação passou de três para seis anos.
34
3 Avaliação dos Resultados da Pesquisa
Realizou-se uma pesquisa com questionário de dez perguntas para alunos e
professores de duas escolas, uma pública e outra particular, alunos do 6º ano do
Ensino Fundamental II e alunos da 1ª série do Ensino Médio, além de professores
de português. As questões buscavam verificar a presença de dificuldades na
adaptação e compreensão do Acordo Ortográfico de 1990.
Expõe-se primeiro os resultados dos questionários dos professores.
1. Você assimilou bem o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa?
Apenas um professor respondeu que não assimilou, percebe-se que a
aceitação foi positiva quanto a inserção do novo Acordo nas escolas.
2. Você achou claras as regras desse novo Acordo Ortográfico?
100%
0%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
75%
25%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
100%
0%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
75%
25%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
35
O mesmo professor da pergunta anterior respondeu não achar claras as
regras. Portando, a avaliação positiva permanece.
3. Você teve dificuldades ao passar as regras do novo Acordo Ortográfico
para os alunos?
Dos seis professores, três tiveram dificuldades. Nas duas escolas metade dos
professores tiveram dificuldades em passar aos alunos as novas regras, pode-se
concluir através desse dado que a metodologia utilizada não tenha sido eficaz.
4. Você usou alguma dinâmica ou estratégia para aplicar o conteúdo em
sala de aula?
Todos os professores responderam afirmativamente, ou seja, houve a
tentativa por parte de todos de utilizarem metodologias diferenciadas para passar de
forma atrativa as mudanças do novo Acordo para os alunos.
50% 50%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
50% 50%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
100%
0%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
100%
0%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
36
5. Como foi a receptividade dos alunos para aprender as novas regras do
Acordo Ortográfico?
Quatro dos seis professores responderam como boa a receptividade dos
alunos e nenhum optou como ótima. Na escola pública observa-se que metade dos
professores avaliou como ruim a receptividade dos alunos, enquanto, na escola
particular todos os professores julgaram como bom essa receptividade. Volta-se a
questão da metodologia, será que existe diferenciação na qualidade do ensino
destas instituições?
6. Você acha que os alunos tiveram muita dificuldade para assimilar as
novas regras do Acordo Ortográfico?
0%
100%
0%
ESCOLA PARTICULAR
ÓTIMO BOM RUIM
0%
50% 50%
ESCOLA PÚBLICA
ÓTIMO BOM RUIM
50%
0%
50%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO NÃO OPINOU
100%
0%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
37
Com exceção de um professor que não respondeu a questão, todos
responderam positivamente, quanto ao fato dos alunos terem dificuldades para
assimilar as novas regras, afirmações que contradizem absolutamente com a
questão anterior.
7. Entre as regras do novo Acordo Ortográfico, qual você achou mais difícil
de assimilar?
O emprego do hífen foi a regra que todos os professores assinalaram, isso
provavelmente se deve ao fato de dificuldades com as regras anteriores, pois o novo
Acordo simplificou o emprego do hífen.
8. Você teve acesso a um material adequado para aplicação do conteúdo?
0% 0% 0%
100%
0%
ESCOLA PARTICULAR
ALFABETO TREMA
ACENTUAÇÃO HÍFEN
DUPLA GRAFIA
0% 0% 0%
100%
0%
ESCOLA PÚBLICA
ALFABETO TREMA
ACENTUAÇÃO HÍFEN
DUPLA GRAFIA
50% 50%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
100%
0%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
38
Somente um professor da escola particular respondeu que não teve acesso a
um material adequado, porém, outro educador da mesma escola teve acesso,
ficando contraditória a resposta de ambos por se tratarem da mesma instituição.
Podemos reinterar que o acesso ao material pode ter vindo do interesse do
professor ou por parte da escola.
9. Desde quando você começou a estudar as novas regras do Acordo
Ortográfico?
Todos os professores começaram a estudar em 2009, quando foi aprovado o
Acordo. Percebe-se que não houve interesse por parte de profissionais da educação
em estudar as regras que seriam aprovadas.
10. O debate sobre esse novo Acordo Ortográfico começou já faz um tempo.
Você estava acompanhando alguma informação a esse respeito?
0% 0%
100%
ESCOLA PARTICULAR
Quando estavam debatendo
1990 - Assim que assinaram
2009 - Quando foi aprovado
0% 0%
100%
ESCOLA PÚBLICA
Quando estavam debatendo
1990 - Assim que assinaram
2009 - Quando foi aprovado
50% 50%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
75%
25%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
39
Quatro dos seis professores responderam afirmativamente. Houve interesse
maior por parte da escola pública em acompanhar o debate. Entretanto, observa-se
na questão anterior a falta de estudo das regras.
Total de professores: 2 professores de escola particular e 4 professores de
escola pública.
40
Resultados da pesquisa realizada com alunos do 6º ano do Ensino
Fundamental II
1. Você já domina as novas regras do Acordo Ortográfico?
Seis dos dez alunos da escola pública responderam afirmativamente e todos
os sete alunos da escola particular responderam do mesmo modo. Analisamos a
discrepância das escolas.
2. Você concorda que houve tempo suficiente para os professores se
atualizarem com essas novas regras do Acordo Ortográfico?
Apenas dois alunos de cada escola concordam que o tempo foi insuficiente.
100%
0%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
40%
60%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
71%
29%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
80%
20%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
41
3. O material que foi utilizado na escola ajudou na aprendizagem das novas
regras do Acordo Ortográfico?
Um aluno da escola pública e dois alunos da escola particular responderam
negativamente, ou seja, maior parte dos alunos apreciou o material disponibilizado
nas escolas na aprendizagem do novo Acordo.
4. Quando você procurou estudar as novas regras do Acordo Ortográfico?
Nove alunos das duas escolas responderam ainda não ter estudado e apenas
um aluno de cada escola respondeu ter começado a estudar antes de 2009. Nota-se
uma variação de opiniões, prevalecendo a falta de interesse dos alunos em estudar.
5. Você reconhece as mudanças do novo Acordo Ortográfico em materiais
impressos?
71%
29%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
90%
10%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
14%
29% 57%
0%
ESCOLA PARTICULAR
Antes de 2009
Depois de 2009
Ainda não estudei
10%
40% 50%
0%
ESCOLA PÚBLICA
Antes de 2009
Depois de 2009
Ainda não estudei
42
Na escola pública seis alunos e na escola particular cinco responderam que
não reconhecem as mudanças. Observa-se os contrários resultados das escolas,
porém não fica claro a analise dos resultados da pesquisa, pois em algumas
questões a mesma linha de raciocínio é respondida de forma diferente. Cita-se como
exemplo a questão um, que alunos da escola particular dizem dominar
completamente as regras e nessa questão 71% dizem não reconhecer as regras do
novo Acordo em materiais impressos.
6. Você sabe quais são os países de Língua Portuguesa?
Sete alunos da escola pública responderam que sabem quais são os países e
na escola particular quatro responderam do mesmo modo.
7. Você tem conhecimento que foram 20 anos de debate para chegarem a
esse novo Acordo Ortográfico?
29%
71%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
60%
40%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
71%
29%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
70%
30%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
43
Sete alunos da escola pública responderam negativamente e um aluno da
escola particular respondeu afirmativamente. Em virtude da reação dos alunos na
aplicação dos testes, supõe-se que algumas afirmativas não sejam verídicas, pois
estes alunos não vivenciaram a transição dos Acordos, não possuindo esse histórico
da ortografia.
8. As explicações dos (das) professores (ras) sobre o novo Acordo
Ortográfico ficaram claras para você?
Na escola pública oito alunos assinalaram positivamente e todos da escola
particular também. Mais uma vez a pesquisa fica contraditória e até essa questão
prevalece o domínio das regras nas respostas dadas.
9. Qual das regras do novo Acordo Ortográfico você tem mais dificuldade
em aprender?
14%
86%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
30%
70%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
100%
0%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
90%
10%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
44
Os alunos da escola pública sentiram dificuldades maiores na acentuação e
dupla grafia, a maioria dos alunos da escola particular assinalou acentuação e
muitos assinalaram sobre o emprego do hífen e dupla grafia.
10. Você tem dificuldades para escrever usando as novas regras do Acordo
Ortográfico?
A metade dos alunos da escola pública respondeu afirmativamente e na
escola particular apenas três dos sete alunos responderam da mesma forma.
Total de participantes de cada escola: dez alunos da escola pública e sete alunos
da escola particular.
46%
8% 0%
23%
23%
ESCOLA PARTICULAR
ALFABETO TREMA
ACENTUAÇÃO HÍFEN
DUPLA GRAFIA
29%
23% 0%
24%
24%
ESCOLA PÚBLICA
ALFABETO TREMA
ACENTUAÇÃO HÍFEN
DUPLA GRAFIA
43%
57%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
50% 50%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
45
Resultados da pesquisa realizada com alunos da 1ª série do Ensino Médio
1. Você já domina as novas regras do Acordo Ortográfico?
Apenas um aluno de sete da escola pública respondeu afirmativamente e na
escola particular dois de sete alunos responderam do mesmo modo. Encontra-se a
dificuldade dos alunos quanto a assimilação das novas regras.
2. Você concorda que houve tempo suficiente para os professores se
atualizarem com essas novas regras do Acordo Ortográfico?
Na escola pública cinco alunos e na escola particular quatro alunos
concordam que houve tempo suficiente, ou seja, nas duas escolas a maioria dos
alunos responde afirmativamente a essa questão.
29%
71%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
14%
86%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
71%
29%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
71%
29%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
46
3. O material que foi utilizado na escola ajudou na aprendizagem das novas
regras do Acordo Ortográfico?
Quatro alunos na escola pública e cinco alunos na escola particular
responderam positivamente. Também nessa questão a maioria dos alunos concorda
que o material utilizado na escola ajudou no ensino das novas regras.
4. Quando você procurou estudar as novas regras do Acordo Ortográfico?
Todos os alunos da escola pública assinalaram depois de 2009 e na escola
particular quatro assinalaram da mesma forma. Apenas um aluno da escola
particular assinalou antes de 2009 e mais dois alunos que assinalaram ainda não ter
estudado. A escola particular foi a única que apresentou variação nas respostas, o
que é um fator positivo, pois mostrou que 14% dos alunos tiveram interesse em
buscar as novas informações do Acordo Ortográfico, antes que ele tivesse sido
aprovado.
71%
29%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
57%
43%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
14%
57%
29% 0%
ESCOLA PARTICULAR
Antes de 2009
Depois de 2009
Ainda não estudei
0%
100%
0%
ESCOLA PÚBLICA
Antes de 2009
Depois de 2009
Ainda não estudei
47
5. Você reconhece as mudanças do novo Acordo Ortográfico em materiais
impressos?
Quatro alunos da escola pública e dois alunos da escola particular
reconhecem as mudanças. Essas respostas reafirmam os resultados da primeira
questão e apenas na escola pública encontra-se uma contradição. Nesta pergunta
57% diz reconhecer as mudanças do Acordo e na primeira questão diz não dominar
as novas regras.
6. Você sabe quais são os países de Língua Portuguesa?
Na escola pública quatro alunos e na escola particular três alunos
responderam não saber quais são os países. As respostas mostram-se equilibradas.
29%
71%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
57%
43%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
57%
43%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
43%
57%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
48
7. Você tem conhecimento que foram 20 anos de debate para chegarem a
esse novo Acordo Ortográfico?
Com exceção de um aluno da escola particular, todos os alunos responderam
negativamente.
8. As explicações dos (das) professores (ras) sobre o novo Acordo
Ortográfico ficaram claras para você?
Três alunos da escola pública e quatro alunos da escola particular
assinalaram afirmativamente e um aluno da escola pública não respondeu a
questão. As opiniões foram divididas em ambas as escolas.
9. Qual das regras do novo Acordo Ortográfico você tem mais dificuldade
em aprender?
14%
86%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
0%
100%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
57%
43%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
43%
43%
14%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO Não opinaram
49
Na escola pública a maioria marcou acentuação e na escola particular marcou
o emprego do hífen. Contudo, também observa-se dificuldades em todas as outras
opções.
10. Você tem dificuldades para escrever usando as novas regras do Acordo
Ortográfico?
Todos os alunos da escola pública e quatro alunos da escola particular
responderam positivamente. Traduz-se que estes alunos demonstram muitas
dificuldades na escrita utilizando as novas regras.
Total de participantes de cada escola: sete alunos.
Pode-se observar que professores e alunos apesar de afirmarem ter
conhecimento sobre as regras, a maioria possui dificuldades em pelo menos uma
18%
18%
0% 37%
27%
ESCOLA PARTICULAR
ALFABETO TREMA
ACENTUAÇÃO HÍFEN
DUPLA GRAFIA
50%
22%
0%
21%
7%
ESCOLA PÚBLICA
ALFABETO TREMA
ACENTUAÇÃO HÍFEN
DUPLA GRAFIA
57%
43%
ESCOLA PARTICULAR
SIM NÃO
100%
0%
ESCOLA PÚBLICA
SIM NÃO
50
regra específica: o emprego do hífen. A acentuação, segundo dados da pesquisa,
também tem causado dificuldades na língua escrita. Os alunos do 6º ano do Ensino
Fundamental II parecem não entender as mudanças, pois não passaram pelo
momento de transição entre um Acordo e outro. Acrescentamos que estes alunos
demonstraram muitas contradições nas respostas, gerando inconfiabilidade no
resultado da pesquisa. Já os alunos da 1ª série do Ensino Médio demonstraram ter
dificuldades, mas entenderam que houve um momento de transição entre Acordos.
Apresentaram bastante segurança, e as respostas condiziam.
51
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho tomou como base a investigação sobre o possível impacto que
as regras do Acordo Ortográfico de 1990 poderiam estar causando na sociedade e
na imprensa. A intenção era verificar como alunos e professores estavam
enfrentando esse momento de adaptação ás regras do Acordo e se havia alguma
hesitação na prática do mesmo, dificuldades de aprendizagem ou se as regras foram
aceitas sem enfrentar obstáculos. Na imprensa a intenção era saber como estavam
as opiniões divulgadas na mídia. O que os críticos no Brasil e em Portugal estavam
falando e como reagiram depois da ratificação do Acordo.
Houve dificuldades na aplicação dos questionários em uma das escolas, pois
não houve interesse na pesquisa, levando duas semanas para conclusão. Já na
outra escola em poucos dias concluiu-se a pesquisa com um número maior de
alunos e professores. Pôde-se observar que apesar de todos os professores
estarem atualizados com o Acordo, não conseguiram passar esse conhecimento de
forma a obter um resultado qualitativamente bom. Isso pode ser devido ao pouco
tempo que tiveram para ensinar ou a metodologia que não foi eficiente, além da
dispersão dos alunos com relação ao conteúdo.
O resultado da pesquisa com os alunos não ficou claro, pois as respostas
foram divergentes estando na mesma linha de raciocínio, tanto de uma escola como
da outra. Os alunos do ensino médio apresentaram entender melhor as regras,
apesar das dificuldades de utilização das regras na escrita.
Na imprensa há muitos que discordam, outros que discordam e tem os que
querem que haja mudanças no Acordo antes que passe a ser obrigatório. As
resistências no Brasil e em Portugal foram substanciosas. Mas as opiniões
favoráveis são consistentes e tendem a triunfar, pois o Acordo já foi ratificado. As
propensões são de que as resistências tal vez possam ocasionar qualquer
modificação em alguma regra, todavia o Acordo deverá ser obrigatório a partir de
2015.
Essa pesquisa foi limitada pelo tempo e propósito do trabalho, mas poderia
ser mais aprofundada e buscar respostas para as dificuldades encontradas pelos
professores, que destacaram o emprego do hífen como sendo a regra com maior
dificuldade em assimilar. Também sobre metodologias mais eficazes para
52
assimilação das regras, ou um estudo sobre a falta de interesse dos alunos em
aprender.
E a respeito do impacto na imprensa, são muitas as informações e
comentários disponíveis, apesar de alguns não terem tanta significação, a maior
parte são de grande relevância. E a polêmica continua com novas informações e
opiniões diferentes a cerca da obrigatoriedade do uso do Acordo a partir de 2015.
Esse estudo mostrou que houve impacto na educação e na sociedade, que
professores têm conhecimento, mas precisam continuar desenvolvendo esse
conhecimento até que consigam passar para os alunos de forma que a
aprendizagem seja completa. E muitos alunos estão apenas informados, todavia
não entendem as regras do Acordo Ortográfico.
Na imprensa podemos ver o impacto nas divergentes opiniões que circulam e
na quantidade de notícias a cada dia argumentando e questionando as regras, além
de ideias sobre como estabelecer o novo Acordo.
Com isso, podemos observar que a unificação da Língua Portuguesa causou
impacto na educação e na imprensa e que os vinte anos de debate tal vez não
conseguiram diminuir as polêmicas que só tem aumentado a cada dia.
53
REFERÊNCIAS
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Especial: reforma ortográfica. 2009. Disponível em: <www.bibliotecavirtual.sp.gov.br/especial/200904-reformaortografica1.php>. Acesso em: 14 out. 2013. Falta acertar data para nova ortografia nos documentos oficiais. 2008. Disponível em: <www.ciberduvidas.com/acordo.php?rid=1979>. Acesso em: 02 out. 2013. GUERRA, F. Os falsos argumentos de direito contra o Acordo Ortográfico. 2013. Disponível em: <www.portaldalinguaportuguesa.org/?action=acordo-historia>. Acesso em: 22 out. 2013. Mec se prepara para a unificação ortográfica da língua portuguesa. 2007. Disponível em: <www.portal.mec.gov.br/index.php?option=com content&id=8276>. Acesso em: 01 out. 2013. MENDES, V. Decreto adia implementação do acordo ortográfico. 2012. Disponível em: <www.estadao.com.br/noticias/geral,decreto-adia-implementação-do-acordo-ortofrafico,978535,0.htm>. Acesso em: 02 out. 2013. MONTEIRO, H. O Acordo 20 anos depois. 2012. Disponível em: < http://expresso.sapo.pt/o-acordo-20-anos-depois=f706306>. Acesso em: 01 out. 2013. MOURA, V. G. Urgentemente. 2013. Disponível em: <http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=2982647&seccao=Vasco%20Gra%E7a%20Moura&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco&page=-1>. Acesso em: 02 out. 2013.
54
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