Rio de Janeiro
2019
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
Maj Eng FRANCISCO MACHADO PARENTE NETO
A evolução do pensamento marxista e a luta pela hegemonia cultural.
1
Maj Eng FRANCISCO MACHADO PARENTE NETO
A evolução do pensamento marxista e a luta pela hegemonia cultural.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa Nacional.
Orientador: Ten Cel Cav SANDRO SILVA RUIZ
Rio de Janeiro 2019
2
P228e Parente Neto, Francisco Machado
A evolução do pensamento marxista e a luta pela hegemonia cultural. / Francisco Machado Parente Neto一2019.
65 f. : il. ; 30 cm.
Orientação: Sandro Silva Ruiz. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Política, Estratégia e Alta
Administração do Exército)一Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2019.
Bibliografia: f. 64-65
1. ESCOLA DE FRANKFURT. 2. GRAMSCISMO. 3. FABIANISMO. 4. REVOLUÇÃO CULTURAL. I. Título
CDD 303.482
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Maj Eng FRANCISCO MACHADO PARENTE NETO
A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO MARXISTA E A LUTA PELA HEGEMONIA CULTURAL.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa Nacional.
Aprovado em 09 de outubro de 2019.
COMISSÃO DE AVALIAÇÃO
___________________________________________ SANDRO SILVA RUIZ – TC Cav – Presidente
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
_____________________________________________ GIL VALADÃO FORTES – TC Eng – Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
_____________________________________________________ ANDERSON LUIZ ALVES FIGUEIREDO– Maj Eng– Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
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Ao Grande Arquiteto do Universo por ter me apresentado alguns poucos raios da luz que compõe a sapiência divina e cuja verdade é único proprietário.
5
AGRADECIMENTOS
Inicialmente, agradeço a Deus, pela saúde e oportunidade de estar nesta
Escola de alto nível e assim ter a oportunidade de formar profundos laços de amizade
com tão seleto universo de nossa instituição.
À minha fortaleza familiar personificada na minha esposa Márcia, na minha filha
Fátima, no meu filho Anastácio e na minha filha Rute, fontes de compreensão, apoio,
amor e altruísmo nas longas jornadas em que este trabalho foi confeccionado.
Aos meus pais Antônio e Maria pelo amor com que conduziram a minha
formação moral e por terem me proporcionado uma educação que me permitiu seguir
a minha vocação profissional.
Ao meu leal orientador, TC Cav Ruiz, os meus sinceros agradecimentos pela
orientação assertiva e pela dedicação para a realização deste trabalho.
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RESUMO
Este trabalho de conclusão de curso apresentou a formação de uma ideologia arquitetada por pensadores e filósofos marxistas integrantes da Escola de Frankfurt, cuja Teoria Crítica foi apresentada à sociedade ocidental no início do século XX, buscando fazer uma contraposição analítica às ideias marxistas praticadas em território soviético, na busca por um criticismo kantiano com uma sinergia de esforços apontadas à democracia capitalista da civilização judaico-cristã ocidental. A revolução cultural embasada na Teoria Crítica frankfurtiana arrancaria a civilização ocidental de suas amarras morais, onde o conservadorismo cristão, figurava como objetivo principal a ser desconstruído para que a implantação de uma nova cultura moderna fosse possível, com uma engenharia social maestral conduzida por intelectuais e apoiada pelos meios midiáticos, fomentando hedonismo, a desconstrução da família e o laicismo. A aplicação das ideias da Teoria Crítica levam à superação da Cultura Ocidental Cristã, com um permanente reformismo intelectual e moral alimentado por uma dialética fantasiosa e relativizadora da verdade, que norteiam uma civilização ao senso comum. A alteração sistêmica do senso comum é absorvida por parcela considerável da sociedade alvo, que imersa num ambiente danoso de patrulhamento ideológico, pratica com automatismo e irracionalidade a cultura do “politicamente correto”. Antônio Gramsci assume as ideias frankfurtianas e desenvolve estudos para executar a Guerra de Posição, criando com brilhantismo maquiavélico novas interpretações da visão marxista, redirecionando os ataques ao capitalismo e rocando suas armas para área cultural. O Fabianismo apresenta uma reforma evolutiva do Socialismo moderno que substitui os pensamentos gramscistas, levando ao atual cenário global um novo patamar do Estado democrático e liberal, como meio para alcançar território no mundo ocidental, travestido com uma nova roupagem das ideias utópicas marxistas. Palavras-chave: 1. Escola de Frankfurt, 2. Gramscismo, 3. Fabianismo, 4. Revolução
Cultural.
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RESUMEN
Este trabajo de conclusión de curso presentó la formación de una ideología construida por pensadores y filósofos marxistas integrantes de la Escuela de Frankfurt, cuya Teoría Crítica fue presentada a la sociedad occidental a principios del siglo XX, buscando hacer una contraposición analítica a las ideas marxistas practicadas en territorio soviético, en la búsqueda de un criticismo kantiano con una sinergia de esfuerzos apuntando a la democracia capitalista de la civilización judeocristiana occidental. La revolución cultural basada en la Teoría Crítica frankfurtiana arrancaría la civilización occidental de sus amarras morales, donde el conservadurismo cristiano, figuraba como objetivo principal a ser desconstruido para que la implantación de una nueva cultura moderna fuese posible, con una ingeniería social matrimonial conducida por intelectuales y apoyada por los medios mediáticos, fomentando hedonismo, la deconstrucción de la familia y el laicismo. La aplicación de las ideas de la Teoría Crítica lleva a la superación de la Cultura Occidental Cristiana, con un permanente reformismo intelectual y moral alimentado por una dialéctica fantasiosa y relativizadora de la verdad, que orientan una civilización al sentido común. La alteración sistémica del sentido común es absorbida por una parte considerable de la sociedad reto, que se inmersa en un ambiente dañino de patrullaje ideológico, practicada con automatismo e irracionalidad la cultura de lo políticamente correcto. Antônio Gramsci asume las ideas frankfurtianas y desarrolla estudios para ejecutar la guerra de posición, creando con brillo intensivo melancólico nuevas interpretaciones de la visión marxista, redireccionando los ataques al capitalismo y rotando sus armas para el área cultural. El Fabianismo presenta una reforma evolutiva del Socialismo moderno que sustituye a los pensamientos gramscistas, llevando al actual escenario global un nuevo nivel del Estado democrático y liberal, como medio para alcanzar territorio en el mundo occidental, travestido con un nuevo ropaje de las ideas utópicas marxistas.
Palabras clave: 1. Escuela de Frankfurt, 2. Gramscismo, 3. Fabianismo, 4. Revolución
Cultural.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Senso comum modificado, criado pelos intelectuais marxistas/ Fonte:
Coutinho, 2010...........................................................................................................28
Figura 2 – O Movimento Comunista Internacional/ Fonte: Coutinho, 2010................ 28
Figura 3 – A Revolução Cultural/ Fonte: Coutinho, 2010.............................................29
Figura 4 – A superação da cultura ocidental cristã/ Fonte: Coutinho, 2010.................29
Figura 5 – Estratégia gramscista/ Fonte: Coutinho, 2010............................................44
Figura 6 – Luta pela hegemonia/ Fonte: Coutinho, 2010.............................................44
Figura 7 – Síntese histórica do anarquismo revolucionário/ Fonte: Coutinho, 2010....45
Figura 8 – Organizações de esquerda no Brasil/ Fonte: Coutinho, 2010.....................45
Figura 9 – A democracia como instrumento de tomada do poder/ Fonte: Coutinho,
2010........................................................................................................................... 46
Figura 10 – Via pacífica para o socialismo/ Fonte: Coutinho, 2010..............................46
Figura 11 – Organismos privados internacionais/ Fonte: Coutinho, 2010....................57
Figura 12 – Personalidades do Sistema Fabiano nos Estados Unidos / Fonte:
Coutinho, 2010...........................................................................................................57
Figura 13 – Movimentos ambientalistas e indígenas mundiais/ Fonte: Coutinho,
2010............................................................................................................................58
Figura 14 – Esquema de antagonismos/ Fonte: Coutinho, 2010................................58
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LISTA DE ABREVIATURAS
CUT Central Única dos Trabalhadores
DI Diálogo Interamericano
ECEME Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
EUA Estados Unidos da América
FBSP Fórum Brasileiro de Segurança Pública
FHC Fernando Henrique Cardoso
FMI Fundo Monetário Internacional
FSM Foro Social Mundial de Porto Alegre
IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
LGBT Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais ou Transgêneros
MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
NED Fundo Nacional para a Democracia
ONGs Organizações não Governamentais
ONU Organização das Nações Unidas
OMC Organização Mundial do Comércio
PCB Partido Comunista Brasileiro
PCO Partido da Causa Operária
PC do B Partido Comunista do Brasil
PDT Partido Democrático Trabalhista
PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro
PPS Partido Popular Socialista
PSB Partido Socialista Brasileiro
PSDB Partido da Social Democracia Brasileira
PSI Partido Socialista Italiano
PSol Partido Socialismo e Liberdade
PSTU Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado
PT Partido dos Trabalhadores
PV Partido Verde
RIIA Instituto Real de Assuntos Internacionais
UNE União Nacional dos Estudantes
URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................11 1.1 O PROBLEMA .................................................................................................13 1.2 OBJETIVOS .....................................................................................................16 1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................16 1.2.2 Objetivos Específicos .....................................................................................16 1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ...........................................................................16 1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO .............................................................................17 2 METODOLOGIA ...................................................................................................18 2.1 TIPO DE PESQUISA ..........................................................................................18 2.2 UNIVERSO DA AMOSTRA ................................................................................18 2.3 COLETA DE DADOS .........................................................................................18 2.4 TRATAMENTO DOS DADOS.............................................................................19 2.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO ...............................................................................19 3 A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO MARXISTA E A LUTA PELA HEGEMONIA CULTURAL ..............................................................................................................20 3.1 AS IDEIAS DA ESCOLA DE FRANKFURT PARA PROMOVER A SUPERAÇÃO DA CULTURA OCIDENTAL CRISTÃ........................ ................................................20 3.2 O PENSAMENTO FORMULADO PELA REVOLUÇÃO GRAMSCISTA NO BRASIL.......................................................................................................................30 3.3 A ATUAÇÃO DO SOCIALISMO FABIANO NO BRASIL .....................................47 4 CONCLUSÃO .......................................................................................................59 REFERÊNCIAS ........................................................................................................64
11
1 INTRODUÇÃO
A seguir será abordado um pequeno histórico da evolução do pensamento
marxista, iniciando com a Escola de Frankfurt, dando continuidade com o pensamento
filosófico de Antônio Gramsci e tendo como marco introdutório as ideias do Socialismo
Fabiano.
Segundo Grass (2016), o marco inicial da formação do pensamento socialista
da Escola de Frankfurt foi o lançamento da pedra fundamental e conceitual do
“politicamente correto” (usado para descrever linguagens ou ações que devem ser
evitadas por serem vistas como excludentes ou ofensivas), abordou assim a liberdade
de ideias (pensamentos estes que sejam totalmente alinhadas com o pensamento do
filósofo alemão Karl Marx) e a liberdade de expressá-las sem sofrer censura moral (a
repressão corretiva causa sofrimento humano e isto não é desejável pelos marxistas
que investem no existencialismo carnal), relativizando assim a verdade universal,
autorizando por procuração o domínio generalizado da narrativa marxista dentro da
grande mídia e das universidades brasileiras. O período gestacional de Frankfurt
ocorreu entre os anos 1930 e 1968, quando um grupo de intelectuais e filósofos se
uniu para criar uma escola de pensamento que tinha como foco essencial a destruição
da civilização Ocidental (por ser a guardiã da democracia) e tudo o que ela representa
(inclusive seu sistema econômico baseado no capitalismo) por meio da "emancipação
civilizacional".
De acordo com Telles (2018), Antônio Gramsci, nascido na Itália e filósofo
neomarxista, é um dos maiores responsáveis pelo processo de completa degeneração
moral verificado no Brasil, embora muitos sequer tenham ouvido falar em seu nome.
Foi membro-fundador e secretário-geral do Partido Comunista da Itália, acabou sendo
preso por ação de Mussolini e do Fascismo em 1926, o que não o impediu de escrever
suas notas, que saíam da prisão por intermédio de sua cunhada, funcionária da
embaixada soviética em Roma. Notas que viriam a se tornar a bíblia da estratégia
revolucionária (Cadernos do Cárcere e Cartas do Cárcere).
Conforme Carvalho (1994), Gramsci meditou e formulou na cadeia sua
estratégia de implantação do marxismo na civilização Ocidental. Benito Mussolini,
líder fascista que o mandara prender, acreditava estar prestando um serviço ao mundo
com o silêncio que impunha àquele cérebro que julgava temível. Aconteceu que, no
silêncio do cárcere, o referido cérebro não parou de funcionar; apenas germinou ideias
12
que dificilmente lhe teriam ocorrido na agitação das ruas e nas manifestações
ativistas. Antônio Gramsci reformulou a estratégia comunista para o Ocidente, de um
grosso amálgama de retórica e imposição da força bruta, numa delicada orquestração
de influências sutis, penetrante como a Programação Neurolinguística e o
empreendimento de uma guerra cultural à longo prazo.
Rockwell (2016) explana sobre a nova corrente marxista fundada exatamente
no ano da morte de Marx (1883) com o intuito de promover as ideias do filósofo alemão
por meio do gradualismo, a Sociedade Fabiana almejava "condicionar" a sociedade,
como disse a fabiana Margaret Cole, por meio de medidas socialistas
disfarçadas. Ao atenuar e minimizar seus objetivos, a Sociedade Fabiana tinha o
intuito de não incitar os inimigos do socialismo, atuando no submundo da
"esgotosfera" de forma silente, tornando-os menos combativos. Ao contrário dos
revolucionários marxistas corriqueiros, os socialistas fabianos conheciam muito bem
o funcionamento das políticas públicas britânicas. Sendo os especialistas originais,
eles fizeram várias pesquisas, elaboraram planos de implantação, editaram livros,
publicaram panfletos, e criaram várias propostas legislativas, sempre contando com a
ajuda de aliados nas universidades, igrejas e jornais. Eles também treinaram
oradores (com foco na dialética), escritores (domínio da elite intelectual) e
políticos. Sidney Webb foi além e fundou a London School of Economics em 1895
para ser o quartel-general desse trabalho. Embora a Sociedade Fabiana jamais
houvesse tido mais do que 4.000 membros, foram eles que criaram, promoveram e
conduziram pelo Parlamento a maior parte das políticas sociais britânicas até o início
da década de 1980. O resultado final da atuação do Socialismo Fabiano foi uma
economia em frangalhos e uma sociedade "esclerosada", situação esta que só
começou a ser revertida quando Margaret Thatcher começou a "desfabianizar" a
Inglaterra.
Na continuação da evolução histórica da Sociedade Fabiana, Rockwell (2016)
relata que os fabianos foram bem-sucedidos em seu objetivo de criar um "Estado
provedor", um Estado assistencialista (mesmo assistencialismo copiado por políticos
brasileiros da era "lulopetista") que cuidaria não apenas dos pobres, mas também da
classe média, do berço ao túmulo. Outra inovação fabiana: reformas sociais
invariavelmente envolviam algum tipo de "seguridade". A população seria induzida a
aceitar o Socialismo Fabiano caso este fosse apresentado por meio de modelos
oriundos das ciências atuariais, tendo empresas de seguro como base. Empresas de
13
seguro genuínas, baseando-se em estatísticas de distribuição aleatória de acidentes,
coletam dinheiro de seus segurados na forma de um consórcio e concentram-no em
um fundo, desta forma tornando o mundo menos incerto para seus membros. Os
fabianos adotaram esse modelo e concentraram a riqueza de todos nas mãos do
Estado. Aneurin Bevan, o ministro da saúde fabiano do governo trabalhista dos pós-
guerra, que criou o National Health Service - o sistema estatal de saúde britânico,
chegou realmente a argumentar utopicamente que tal modelo iria aumentar de forma
drástica a expectativa de vida de todos, chegando ao ponto de postergar a morte
indefinidamente.
Frente ao cenário evolutivo do comunismo acima descrito, o Brasil é alvo das
ideias propostas pela Escola de Frankfurt, por Antônio Gramsci e pelo Socialismo
Fabiano, por meio da luta pela hegemonia cultural, apresentando diversos reflexos
para sistema educacional brasileiro. A década de 1960 foi de muita polarização
política no Brasil, particularmente após o início dos governos militares. A adoção de
restrições de liberdade de expressão após o AI-5, fizeram a política de Golbery ceder
espaço no campo educacional para as ideias marxistas e com isto houve uma
intensificação ideológica socialista no ambiente acadêmico das universidades
brasileiras.
Diante disso, constata-se a problemática da ideologização da sociedade
brasileira e a existência de diversas iniciativas para a redução da influência
neomarxista. Ademais, nota-se o protagonismo da ala conservadora neste cenário,
dificultando o avanço do movimento socialista no Brasil.
1.1 O PROBLEMA
Grass (2016) aborda a ascensão do marxismo cultural onde a Escola de
Frankfurt criou o dogma utópico e fantasioso de que "liberdade e justiça" são termos
dialéticos (contrapostos), significando que eles estão em completa oposição um ao
outro, conduzindo à inferições inverídicas em que "mais liberdade significa menos
justiça" e "mais justiça é igual a menos liberdade". Baseado nessa dialética, a
liberdade era a tese e a justiça era a antítese, buscando dessa forma fragilizar as
instituições estatais e a real importância do funcionamento jurídico das nações. Essa
enviesada abordagem dialética foi extraída das ideias e das obras de Friedrich
Hegel. A Escola de Frankfurt, no entanto, alterou e distorceu o núcleo conceitual deste
14
pensamento Hegeliano e desnaturou sua lógica consequencial, fomentando assim o
cerne ideológico baseado num conhecido filósofo alemão (Friedrich Hegel). Em
síntese, a principal diferença entre as duas abordagens dialéticas de Hegel e
Horkheimer está em suas respectivas conclusões: Hegel era um idealista que
acreditava, assim como Kant, na capacidade espiritual de criar a matéria, ao passo
que, para Horkheimer que era um discípulo intelectual de Karl Marx e de sua teoria
materialista, onde ao contrário, a matéria que é a criadora do espírito. O filósofo
alemão Karl Marx afirmava que o mundo e a sua realidade objetiva podiam ser
explicados por sua existência material e por seu desenvolvimento, e não pela
concretização de uma ideia espirituosa de absoluta divindade ou como resultado do
pensamento racional humano, que é a postura adotada pelo
idealismo. Consequentemente, para a Escola de Frankfurt, a imposição de limites
sobre a materialidade mundana, colocar regras externas e diretrizes sobre o ambiente
no qual os indivíduos vivem, pensam e operam, seria uma medida que, na visão deles,
seria suficiente para moldar a experiência cognitiva dos indivíduos e, com isso,
confinar seus espíritos aos parâmetros "desejados".
Ainda de acordo com Grass (2016), esse é o ponto-chave que liga a Escola de
Frankfurt àquilo que hoje conhecemos como o "“politicamente correto”". No cerne do
“politicamente correto” está a crença de que menos liberdade (fortalecimento estatal
e controle social) garante mais justiça e, consequentemente, mais segurança. O
controle social exercido pelo engrandecimento da máquina estatal leva adiante temas
da agenda progressista global (eugenia, aborto, assistencialismo e massificação do
pensamento) e a falácia do ganho de segurança é desmistificada pelo aumento anual
das taxas de homicídios relatado no Atlas da Violência 2018 1.
1 Segundo Nitahara (2018) no ano de 2016, 62.517 pessoas foram assassinadas no Brasil,
corroborando para apresentar o quadro instabilidade social gerado pelo crescimento e aparelhamento
estatal do Brasil, onde o Estatuto do Desarmamento (Lei 10.826/03) após mais de 15 anos fracassou
no propósito de controle numérico de homicídios, o que equivale a uma taxa de 30,3 mortes para cada
100 mil habitantes. Os dados são do Ministério da Saúde e foram divulgados hoje no Atlas da Violência
2018, apresentado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e pelo Fórum Brasileiro de
Segurança Pública (FBSP). A análise apresenta uma taxa de homicídios no Brasil corresponde a 30
vezes a da Europa, e o país soma 553 mil pessoas assassinadas nos últimos dez anos.
15
Grass (2016) continua informando que este mantra é regurgitado por meio de
instituições acadêmicas e discursos políticos, inserido em valores sociais e plantado
nas mentes das gerações mais jovens (futuros eleitores marxistas) por meio das
escolas e faculdades, exatamente como era intenção da Escola de Frankfurt. Em vez
de criar uma plataforma que estimule o desenvolvimento do indivíduo por meio do
raciocínio lógico, do questionamento e dos diálogos estimulantes, o sistema
institucional funciona como uma linha de montagem mecanizada, que tem o objetivo
de padronizar e homogeneizar os indivíduos, condicionando-os a se submeter
ao status quo, sempre dizendo 'sim' e jamais questionando (formando o “politicamente
correto”), modificando o senso comum e atingindo o consenso no universo de pessoas
influenciadas pela Revolução Cultural. Esta é a lógica da Teoria Crítica da Sociedade
e o elemento central do "“politicamente correto”". Trata-se de uma tentativa de
controlar a inerente entropia das ideias humanas e todo o tipo de pensamento
independente; de controlar o fluxo das ideias humanas e de conformar as experiências
humanas a um imobilismo anti-natural.
Como complemento Grass (2016) explana que em última instância, o objetivo
de quebrar o espírito do indivíduo (amoralidade e fomento ao laicismo) e deixar sua
mente de joelhos perante os ditames dos filósofos (por meio de repetição de factóides
e palavras de ordem ideológicas). Daí vem o termo "marxismo cultural": os marxistas
praticamente abandonaram a velha retórica da "luta de classes", que envolvia as
classes capitalistas e proletárias, e a substituíram pelas classes opressoras e
oprimidas, empreendendo assim a guerra cultural velada. As classes oprimidas
incluem as mulheres que sofrem pelas regras da sociedade patriarcal conservadora,
as minorias (quilombolas, indígenas, grupos afrodescendentes, moradores de
comunidades, nordestinos atingidos pela seca e outras classes de perseguidos sociais
que possam alavancar a divisão da sociedade brasileira), os grupos de Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Transexuais ou Transgêneros (LGBT) que são alvos da
heteronormatividade social, e várias outras categorias de mascotes. Já a classe
opressora é formada por homens brancos heterossexuais que não sejam
ideologicamente marxistas (que em sua grande maioria preservam a unidade familiar
e os valores morais), como os próprios fundadores da Escola de Frankfurt. O
marxismo cultural nada tem a ver com a liberdade, com o progresso social ou com um
suposto esclarecimento cultural, embora seja este o "canto da sereia" para seduzir os
inocentes desavisados. Ao contrário, e como o próprio Horkheimer deixou claro, tem
16
a ver com a criação de indivíduos idênticos (anulando qualquer raciocínio lógico e
crítico, onde a unidade de pensamento conforta os integrantes do grupo ideologizado)
que não se confrontem entre si e que não troquem ideias (consenso mecanicista de
repetição de falácias, bordões revolucionários e chavões marxistas), operando como
máquinas automáticas e sem emoção.
É neste contexto e no assunto descrito anteriormente que as ideias
disseminadas por Gramsci sucedem a Escola de Frankfurt e são complementadas
pelo Socialismo Fabiano, emergindo assim a problemática da pesquisa que ora se
delineia. Diante do histórico de evolução do pensamento marxista que se pergunta:
quais seriam os avanços positivos da guerra pela hegemonia cultural empreendida
por partidos de viés socialista no Brasil?
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
A evolução do pensamento marxista alcançada pelos socialistas, conduziu ao
aparelhamento institucional brasileiro, assim como ao domínio esquerdista nos meios
acadêmico e midiático? Ao contestar esta pergunta, este trabalho encontra o seguinte
objetivo geral conforme descrito a seguir: verificar quais são os avanços da guerra
pela hegemonia cultural empreendida por partidos de viés socialista no Brasil.
1.2.2 Objetivos Específicos
A fim de dar viabilidade ao objetivo geral apresentado foram formulados alguns
objetivos específicos, que nortearam o sequenciamento lógico do pensamento
descritivo apresentado neste estudo e que serão elencados em seguida:
a) Descrever as ideias da Escola de Frankfurt para promover a superação da
cultura ocidental cristã no Brasil;
b) Identificar o pensamento formulado pela revolução gramscista no Brasil; e
c) Apresentar a atuação do Socialismo Fabiano no Brasil.
17
1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO
Por meio da guerra cultural, os movimentos socialistas brasileiros buscam
promover a ocupação de cargos dos corpos docentes em universidades, além do
domínio midiático e aparelhamento estatal com grande expansão de postos de
serviços trabalhando em benefício do socialismo no Brasil.
Em suma, esta pesquisa focou, especificamente, na busca pela hegemonia
cultural (na área acadêmica e midiática) promovida por partidos de esquerda com viés
socialista no Brasil, desde o início do século XX até os dias de hoje, descrevendo as
ideias da Escola de Frankfurt para promover a superação da cultura ocidental cristã,
identificando o pensamento formulado pela revolução gramscista, além de apresentar
a atuação do Socialismo Fabiano no Brasil, finalizando com a verificação dos avanços
da guerra pela hegemonia cultural empreendida por partidos brasileiros de viés
socialista.
1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO
A pesquisa é relevante na medida em que mostra o avanço dos ideais
socialistas em grande parte da mídia e considerável parte do mundo acadêmico
nacional, contribuindo significativamente para a compreensão do discurso marxista
uníssono no campo cultural brasileiro.
18
2 METODOLOGIA 2.1 TIPO DE PESQUISA
Tendo como base os conceitos teóricos apresentados no Manual de
Elaboração de Projetos de Pesquisa da Escola de Comando e Estado Maior do
Exército (ECEME), a metodologia que foi empregada na confecção do trabalho
científico está conforme o descrito a seguir. Seguindo a taxionomia de Vergara (2009),
essa pesquisa foi qualitativa, explicativa, bibliográfica e documental. Qualitativa, pois
privilegiou análises de documentos e relatos para entender a evolução histórica e as
atuações dos esquerdistas na busca pela hegemonia cultural no Brasil, deduzindo os
possíveis avanços dessas ações empreendidas por partidos de viés socialista no país.
Explicativa porque o autor buscou tornar o assunto o menos complexo possível.
Bibliográfica porque teve sua fundamentação teórico-metodológica na investigação
dos assuntos abordados e na criação do conhecimento disponíveis em livros,
manuais, artigos e redes eletrônicas de acesso livre ao público em geral. Documental
porque se utilizou de documentos de trabalhos e relatórios.
2.2 UNIVERSO DA AMOSTRA
O universo foi composto pelo Brasil que tem em seu território grande atuação
de partidos esquerdistas de viés socialista e a amostra foi constituída por diversas
correntes de pensamento marxista, pela afinidade cultural e extremada influência
exercida sobre a sociedade brasileira.
2.3 COLETA DE DADOS
Essa pesquisa iniciou-se com uma pesquisa bibliográfica na literatura (livros,
manuais, revistas especializadas civis e militares, jornais, artigos, internet, trabalhos
acadêmicos) com dados pertinentes ao assunto. Nesta oportunidade, foi feita a
seleção de toda a documentação utilizada no trabalho. Em prosseguimento, utilizou-
se, nos arquivos do Estado-Maior do Exército e Centro de Doutrina do Exército, onde
se buscou documentação que porventura existia sobre as correntes de pensamento
marxista da Escola de Frankfurt, do Gramscismo e do Socialismo Fabiano. As
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conclusões decorrentes desta pesquisa permitiram verificar quais os avanços da
guerra pela hegemonia cultural empreendida por partidos de viés socialista no Brasil.
2.4 TRATAMENTO DOS DADOS
A abordagem escolhida para o tratamento dos dados, privilegiou procedimentos
qualitativos de pesquisa. Isto em razão da natureza do problema dessa pesquisa e do
perfil do pesquisador. Os dados foram tratados pela análise do conteúdo, que,
segundo Vergara (2009), é “uma técnica para o tratamento de dados que visa
identificar o que está sendo dito a respeito de determinado tema”. Isto ocorreu durante
toda a investigação, tanto na pesquisa bibliográfica quanto na documental.
2.5 LIMITAÇÕES DO MÉTODO
O método escolhido possui limitações, pois por se tratar de uma pesquisa
bibliográfica limitou-se às consultas realizadas pelo autor, que buscou a maior
variação possível, é de extrema importância a seleção das fontes que foram utilizadas
no trabalho, a fim de se evitar que a análise subjetiva fosse tendenciosa. Enfim, a
metodologia utilizada buscou evidenciar de forma objetiva e clara, os seus tipos,
universo e amostra, tratamento de dados e as limitações dos métodos elencados. Com
isso, acredita-se que o método escolhido foi acertado e possibilitou alcançar com
sucesso o objetivo final desta pesquisa.
20
3 A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO MARXISTA E A LUTA PELA HEGEMONIA CULTURAL
Esta seção promove uma conceituação e embasamento teórico sobre os
principais termos que servem de lente para a consecução da presente pesquisa: 1)
As ideias da Escola de Frankfurt para promover a superação da cultura ocidental cristã
no Brasil; 2) O pensamento formulado pela revolução gramscista no Brasil; e 3) A
atuação do Socialismo Fabiano no Brasil.
3.1 AS IDEIAS DA ESCOLA DE FRANKFURT PARA PROMOVER A SUPERAÇÃO
DA CULTURA OCIDENTAL CRISTÃ NO BRASIL
De acordo com Grass (2016), Max Horkheimer (1895-1973), um sociólogo e
filósofo marxista de origem alemã, era judeu de origem, filho de um industrial chamado
Moses Horkheimer, foi um dos pais fundadores da Escola de Frankfurt, a qual
incorporava toda a moderna Teoria Crítica da Sociedade e que, em grande escala, se
caracterizava como neomarxista (marcado pelos estudos posteriores às teorias
originais de Karl Marx e cujo cerne principal era a degradação moral da sociedade),
objetivando assim a destruição da democracia capitalista da civilização judaico-cristã
ocidental. Horkheimer teve como importante fonte de inspiração o filósofo alemão
Schopenhauer de quem tinha um retrato no escritório. Aproximou-se "obliquamente"
do marxismo no final dos anos 1930, mas segundo testemunhos da época raramente
citava os nomes de Marx ou de Lukács em discussões. Apenas com a emergência do
nazismo, Horkheimer se aproxima de fato de uma perspectiva crítica (criticismo
kantiano) e revolucionária (revolução cultural) que o fará escrever, já diretor do
Instituto para Pesquisas Sociais, o ensaio-manifesto, Teoria Tradicional e Teoria
Crítica (1937).
Santos (1963) aborda a crítica de Kant como uma análise profunda da crise do
conhecimento, impondo os limites da percepção e da experiência, como formulação
de uma posição Metafísica, cujo criticismo julgava ser a única verdadeira. O
tradicionalismo é tratado como sendo uma doutrina para conservar as tradições, onde
a verdade religiosa não pode ser descoberta por um indivíduo, mas é absorvida numa
transmissão feita por quem recebeu-a de Deus. O hedonismo aponta a voluptuosidade
do prazer corporal como bem supremo. O reformismo é a arte de advogar mudanças
21
sociais, políticas ou religiosas, alterando de forma gradual, de modo a fortalecer o
status quo adquirido. A dialética aparece na obra de Santos como sendo a arte de
discutir usando palavras, cabendo ainda ser interpretada como o Estado da arte de
enganar ou persuadir. A entropia aparece como uma involução humana e a
bestialidade é apresentada como sendo uma conduta assemelhada ao animal
(irracional e repugnante). O materialismo surge como a pretensão de alcançar o bem
estar e o maior gôzo material possível. O pacifismo conceitualmente é a sujeição
consciente ao mal.
Na sequência, Santos (1963) expõe o materialismo histórico sendo analisado
como doutrina de Karl Marx segundo a qual os fatos econômicos são a base dos fatos
sociais, históricos e éticos, onde a estrutura econômica da sociedade é a base real
sobre a qual se eleva a superestrutura jurídica e política, e a qual correspondem as
formas determinadas da consciência social. O modo de vida material condiciona o
conjunto de todos os processos da vida social, política e espiritual.
Grass (2016) continua relatando que Horkheimer, junto com Jürgen Habermas
(nasceu em 1929, é um sociólogo e filósofo marxista de origem alemã), Theodor W.
Adorno (1903-1969, foi um sociólogo, musicólogo e filósofo marxista de origem
alemã), Herbert Marcuse (1898-1979, foi um sociólogo e filósofo marxista de origem
alemã) e Erich Fromm (1900-1980, foi um psicanalista, sociólogo e pensador marxista
de origem alemã), para citar apenas alguns, criaram a Escola de Frankfurt e
seu Instituto para Pesquisa Social, uma instituição que moldou o pensamento cultural
do Ocidente como um todo e da Alemanha em particular. De acordo com Horkheimer,
a teoria crítica tinha o objetivo de "libertar os seres humanos das circunstâncias que
os escravizam", fomentando o existencialismo da precedência existencial humana
com a governança sobre sua essência (base do pensamento ateísta e materialista),
onde a definição de realidade torna-se propriedade individual de cada homem e
afirmando a total liberdade espiritual (apartando os seres racionais de amarras
teológicas, da própria fé cristã, negando uma entidade divina superior e difundindo o
laicismo). Assim sendo, seu principal objetivo era criar uma plataforma teórica e
ideológica para uma revolução cultural. Ato contínuo, esse grupo de "filósofos" centrou
seus esforços especificamente na cultura. É a cultura o que forma os fundamentos
que modelam a mentalidade (por meio da ética dos costumes moralistas) e a visão
política das pessoas. Alterando-se a cultura, altera-se a mentalidade e a visão política
22
das pessoas. Para alterar a cultura, é imprescindível controlar a linguagem e as
ideias, buscando a superação da cultura baseada cosmovisão judaico-cristã.
Os estudos de Gordon (2017) apontam o nível de corrupção da inteligência da
sociedade brasileira, onde a intelectualidade (incluindo os jornalistas, os professores,
os historiadores e a classe artística) trabalha de mãos dadas com os políticos
marxistas esquerdistas na disputa pelo poder no Brasil. O encontro com a verdade é
apresentado como uma quebra da hegemonia do discurso esquerdista brasileiro, com
domínio principalmente no meio acadêmico e midiático. As redações das revistas, dos
periódicos e das notícias televisionadas estão dominadas por pessoas ligadas ao
socialismo, onde os profissionais do jornalismo atuam de forma nociva como agentes
da corrupção, superando em alcance de danos inclusive à classe dos políticos e dos
empresários. O afastamento gradativo da intelectualidade brasileira da produção
qualitativa e consequente aproximação desta com a "avareza mexeriquenta", que é
típica da vida provinciana, faz referência a todos que possuem afinidade e atuam como
militantes do esquema de poder globalista da esquerda e destaca a longa marcha
empreendida para o aparelhamento institucional brasileiro com foco nos órgãos
públicos e nas universidades.
Segundo Grass (2016) para se fazer essa revolução cultural, era imprescindível
se infiltrar nos canais institucionais, particularmente a educação. Em suma, a Teoria
Crítica é a politização da lógica, anulando assim qualquer resistência intelectual nos
meios acadêmicos em que ela for praticada. Horkheimer declara que "a lógica não é
independente de conteúdo", quis dizer assim que um argumento é lógico se ele tem o
objetivo de destruir as bases culturais tradicionais da civilização Ocidental, e é ilógico
se ele tem o objetivo de defendê-las, condenando dessa maneira qualquer pensador
que ouse contrapor suas ideias ou até mesmo raciocine em defender a cultura judaico-
cristã. Este, obviamente, é o pilar do "“politicamente correto”", e explica por que o
debate aberto e sem censura é vituperado como sendo algo subversivo e inflamatório,
causando incontrolável histeria por parte dos que praticam este pensamento amoral e
ilógico. Os imensuráveis danos advindos da prática rotineira da filosofia politicamente
correta, conduz o homem à uma paralisia racional quase irreversível e à imersão num
irrealismo que ulcera a sua espiritualidade. O “politicamente correto” despreza e
ignora com um histerismo exacerbado o debate aberto porque o vê como um gerador
de discórdias, questionamentos aos ilogismos e dúvidas, algo que estimula a análise
crítica e impede uma uniformidade (e uma hegemonia cultural) intelectual. Em suma,
23
o debate aberto e sem censura evita a predominância do chamado "pensamento de
manada", que é o cerne da revolução cultural.
Segundo Coutinho (2010), em 1923, Felix Weil - filho de um rico comerciante,
mas que se tornara marxista - tomou a iniciativa de reunir na Alemanha Georgy Lukács
(1885-1971), teórico marxista, filósofo, historiador, literário e revolucionário húngaro e
outros intelectuais da mesma linha ideológica. Lukács foi um dos fundadores da
ocidentalização do pensamento de Karl Marx, uma tradição interpretativa que se
afastou da ortodoxia marxista ideológica da União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas. Ele desenvolveu a teoria da reificação (para o marxismo, processo
inerente às sociedades capitalistas, definido pela sobreposição ou supervalorização
da produção, em detrimento das relações humanas e sociais (apartando os filhos do
convívio com os pais e delegando a educação por procuração ao Estado), podendo
ocasionar a perda da subjetividade característica do ser humano, atribuindo-o uma
natureza inanimada e automática, como coisas ou mercadorias) e contribuiu para a
teoria marxista com o desenvolvimento da teoria da consciência de classe de Karl
Marx.
Coutinho (2010) apontou a Primeira Semana de Trabalho Marxista como palco
para debates das diferentes tendências dessa linha de pensamento. Esse evento
aconteceu logo após o fracasso das várias tentativas revolucionárias marxista-
leninistas ocorridas entre 1921 e 1923 na Estônia, Polônia, Alemanha, Hungria,
Bulgária e Irã. O sucesso do modelo da Revolução Bolchevista na Rússia não se
repetiu na Europa. Lukács já havia reconhecido a causa do fracasso: “O movimento
comunista não entra na Europa Ocidental em virtude da cultura predominantemente
cristã”, direcionando os esforços dos intelectuais do marxismo para um objetivo
comum que é a destruição da cultura judaíco-cristã. Depois desse encontro, foi criado
o Instituto de Pesquisa Social, ainda em 1923, associado à Universidade de Frankfurt,
Alemanha, inicialmente com o objetivo de promover e discutir as diferentes
interpretações do marxismo, sem privilégio de uma doutrina em particular, unindo
dessa forma a intelectualidade marxista numa tentativa de unificar o pensamento
filosófico reinante na Europa do século XX.
Na sequência, Coutinho (2010) assinala uma evolução interpretativa do
pensamento marxista para um criticismo não só da sociedade capitalista, ocidental e
cristã, mas do próprio marxismo soviético. O primeiro diretor a ser nomeado para o
instituto foi o economista austríaco Carl Grunberg que lhe deu orientação um tanto
24
acadêmica. O segundo diretor indicado foi Friedrich Pollock, que o sucedeu em 1927.
Em 1930, assumiu o filósofo alemão Marx Horkheimer, o qual abriu caminho para o
entendimento do marxismo sob critério cultural (orientando o movimento comunista
mundial na busca pela hegemonia cultural) em vez de traduzi-lo em termos apenas
econômicos, tendo em vista o fracasso histórico de aplicabilidade dos pensamentos
de Karl Marx nas economias dos países do leste europeu durante o início do século
XX.
Coutinho (2010) passa a abordar a Teoria Crítica como a exposição da
alteração interpretativa, denominando assim o conjunto de trabalhos e obras dos
pensadores e filósofos da “Escola de Frankfurt”. Nessa teorização se destaca o
reconhecimento da relação das ciências empíricas com a filosofia, forjando um elo das
ciências sociais com a teoria marxista. A Revista de Pesquisa Social e as obras dos
intelectuais de Frankfurt foram os veículos de difusão dessa corrente revolucionária
de pensamento. Os membros do Instituto de Pesquisa Social eram na maioria
marxistas e judeus. Com a subida de Hitler e dos nazistas ao poder na Alemanha em
1933, tiveram que fugir do país por serem praticantes do judaísmo e não por serem
socialistas. Muitos deles se refugiaram nos Estados Unidos e ali o Instituto foi recriado
com o apoio da Universidade de Columbia, Nova York. A Escola de Frankfurt ganha
então uma nova projeção mundial rompendo as barreiras fronteiriças do continente
europeu que se constituirá numa verdadeira Revolução Cultural. Baseada na Teoria
Crítica expressa particularmente no desconstrucionismo (emprego da engenharia
social para remodelar a cultura ocidental judaico-cristã e fomentar a amoralidade), no
existencialismo ateu e no pós-modernismo desenvolvidos pelos seus notabilizados
filósofos, pensadores e continuadores: Max Horkheimer (1895-1973), Walter Benjamin
(1892-1940), Erich Fromm (1900-1980), Theodor W. Adorno (1903-1969), Jürgen
Habermas (1929), Leo Lownthal (1900-1993), Franz Neumann (1900-1980), Jean-
Paul Sartre (1905-1980), Michel Foulcault (1926-1984) e outros. Nos Estados Unidos
da América (EUA) o contexto europeu da Teoria Crítica foi alterado no seu foco original
pelos pensadores de Frankfurt, fazendo uma adaptação para a sociedade americana
ocidentalizada, passando a exercer grande influência ideológica no âmbito docente e
discente das universidades dos EUA.
O período posterior à Segunda Guerra Mundial é abordado por Coutinho
(2010), relatando o retorno do Instituto para a Europa e reorganização em Frankfurt
no ano de 1950. No entanto, muitos dos seus intelectuais permaneceram nos Estados
25
Unidos. O pensamento, trabalhos e militância de alguns deles (de Marcuse, em
especial) contribuíram para o surgimento da Nova Esquerda (New Left) naquele país.
Uma aliança tácita e rebelde de estudantes radicais, comunistas dissidentes,
anarquistas, socialistas revolucionários e intelectuais críticos da cultura tradicional
atuava nos diversos movimentos contestatórios surgidos depois da guerra: o
feminismo (ideologia que defendiam a igualdade, nos aspectos social, político,
econômico, entre os sexos e estimula a “libertação erótica”, fomentando a
emancipação econômica e sexual da mulher), os hippies (pessoas que, seguidoras
do movimento jovem da década de 1960 e 1970, se recusavam a viver tendo em conta
os valores tradicionais, de consumo, e defendiam o lema “paz e amor”, afrontando
diretamente o estilo de vida de países capitalistas), direitos civis (facilitação da
separação conjugal tornando-a episódica ou temporária, estímulo à defesa dos
direitos humanos e criação de um ambiente de proteção estatal com assistencialismo
exacerbado aos delinquentes contemporâneos, alimentando dessa maneira, uma
vitimização minoritária classicista), pacifismo (doutrina dos que julgam que as
negociações pacíficas resolvem melhor os problemas entre as nações do que as
guerras, “faça amor; não faça guerra”, frase de Marcuse), ecologia (ecocentrismo
exagerado como meio de barrar o avanço capitalista e o desenvolvimento dos
Estados-Nações subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, onde o estabelecimento
de leis ambientais rígidas avançam em consonância com áreas de proteção
ambientais, áreas quilombolas e áreas de proteção indígenas, impedindo a produção
agrícola de extensões territoriais consideráveis de países cuja base econômica são
as commodities como é o caso do Brasil) etc. Os contravalores (estimulando a
amoralidade social corruptível) gerados pela Revolução Cultural foram assimilados e
difundidos por todas as tendências político-ideológicas como expressão da
“modernidade” (com uma atraente e inebriante alcunha de agenda progressista),
estabelecendo uma visão moral permissiva (onde o hedonismo tornou-se o centro da
pauta marxista com uma valoração do prazer carnal, erotização juvenil, libertinagem
sexual, culto ao corpo ideal e estímulo a uma felicidade pessoal inatingível por conta
do desconstrucionismo espiritual das pessoas) e um novo comportamento social
informal e amoral (bestializando o ser humano por completo, lutando por pautas como
a liberação do consumo recreativo de drogas ilícitas e incentivando o assassinato de
vidas embrionárias em sua fase gestacional).
26
Alguns acontecimentos emblemáticos da nova cultura permissiva estabelecida
pela Escola de Frankfurt são narrados por Coutinho (2010) como foi o Festival de
Woodstok (novembro de 1969), reunindo cerca de 500 mil jovens em um só lugar
durante três dias de sexo promíscuo libertino, drogas ilícitas inebriantes e música
frenética, formularam o que passou a ser usado em todo o mundo para atrair de forma
sorrateira a mocidade à “novacultura” pré-revolucionária de cerne marxista. Em dado
momento, no final dos anos de 1940, o anarquismo (teoria política que afirma ser a
sociedade uma instituição independente do poder do Estado, cabendo ainda a
conceituação de uma teoria social e política que não aceita a submissão da sociedade
aos poderes governamentais e/ou à autoridade do Estado-Nação, sendo um período
de mudança política estatal que precede a implantação do regime totalitarista
comunista) associou-se à Revolução Cultural, acrescentando à Nova Esquerda a sua
prática ativista e o seu sistema difuso de organizações (aparecimento de
Organizações não Governamentais (ONGs) que sobrevivem em sua maioria com
recursos públicos e militam em sua grande maioria por pautas globalistas) e
movimentos alternativos de âmbito mundial, ativismo antissocial e de inconformismo
com a moral e costumes tradicionais (ataque frontal ao Conservadorismo que é uma
doutrina que defende a conservação ou a mudança gradual do que, numa sociedade,
é considerado tradicional, opondo-se a reformas sociais ou alterações político-
econômicas radicais). O clima de rebeldia então criado na juventude acabou por levá-
la à desobediência civil e ao confronto, fragilizando a autoridade paternal e criando
um ambiente propício à desconstrução familiar. Valendo-se desse clima de revolta, os
anarquistas mobilizaram os estudantes e os usaram como massa de manobra. Assim
desencadeou-se uma rebelião estudantil manifestada nos violentos distúrbios de
1968, em Paris, contra o governo de De Gaulle (Revolução da Sorbonne), em
Washington e em São Francisco contra a Guerra do Vietnã, na Cidade do México, em
Bonn e no Rio de Janeiro. Esses casos episódicos, desencadeados em sequência e
em várias capitais, culminaram com os distúrbios na Tchecoslováquia, na Cortina de
Ferro, terminando com a intervenção do Exército soviético (“Primavera de Praga”).
A seqüência de atuação da Revolução Cultural, conforme relata Coutinho
(2010), foi a difusão por intermédio do proselitismo (empenho continuado para atração
de pessoas que venham a militar pela ideologia marxista, para este caso emblemático)
de intelectuais de diferentes tendências de esquerda (buscando uma unificação da
militância socialista global), permeados na mídia, na cátedra, na literatura, nas
27
manifestações artísticas, na música (valorização de produções artísticas sem
qualidade e que hipersexualizem o público-alvo dessa desconstrução das artes)
associada ao uso de drogas, e por uma rede de organismos voluntários (ONGs e
movimentos sociais). Tornaram-se best-sellers Eros e a civilização, de Marcuse, O ser
e o nada, de Sartre, e outros livros que muito influenciaram jovens e adultos. Realizou-
se assim profunda revisão dos valores da cultura ocidental, apresentando sedutora
novicultura caracterizada pelo hedonismo, pela desconstrução da família e pelo
laicismo (um “neopaganismo”). Na década de 1970, com a morte de Adorno e
Horkheimer e a saída de Habermas do Instituto de Pesquisa Social, a Revolução
Cultural perdeu a impulsão, declinando progressivamente. No entanto, deixou
definitivas a “modernidade”, as palavras de ordem do “Humanismo Libertário” (paz,
direitos humanos e ecologia), ideologia intermediária ainda muito bem usada pelo
ativismo da rede mundial de ONGs (movimento globalista) ligadas ao anarquismo e
ao progressismo transnacional. E deixou uma força de inibição à prática dos valores
ocidentais cristãos e à liberdade de expressão com a criação de fórmulas
estereotipadas e de conceitos ““politicamente correto”s”. A Escola de Frankfurt não se
propunha realizar a Revolução Proletária, mas remover as resistências culturais da
sociedade capitalista e democrática à sua realização. De certo modo, preparou a
imersão do gramscismo que ocorreu na mesma década. A revelação da concepção
revolucionária de Gramsci dá continuidade ao movimento de superação cultural
iniciada pelos pensadores de Frankfurt, agora sob impulso da reforma intelectual e
moral da sociedade, e à mudança do senso comum burguês como empreendimentos
da luta pela hegemonia das classes subalternas.
28
Figura 1: senso comum modificado, criado pelos intelectuais neomarxistas
Fonte: COUTINHO, 2010
Figura 2: o Movimento Comunista Internacional
Fonte: COUTINHO, 2010
29
Figura 3: a Revolução Cultural
Fonte: COUTINHO, 2010
Figura 4: a superação da cultura ocidental cristã no Brasil
Fonte: COUTINHO, 2010
30
3.2 O PENSAMENTO FORMULADO PELA REVOLUÇÃO GRAMSCISTA NO BRASIL
Na sequência desse estudo veremos o paralelismo de esforço adotado por
Antônio Gramsci iniciado em 1937 com a sua Guerra de Posição em consonância com
os investimentos da Escola de Frankfurt cujo embrião de empreendimento marxista
surgiu em 1923 e cujo fruto mais fecundo foi a Teoria Crítica, traçando em comum
novos rascunhos da visão marxista, reorientando as investidas do campo econômico
para a esfera cultural (corrompendo assim a intelectualidade ocidental) e cujo objetivo
final comum é a destruição da sociedade democrática capitalista (por meio da
hegemonia cultural neomarxista).
De acordo com Coutinho (2010), Antônio Gramsci (1891-1937), marxista e
intelectual italiano, foi na sua mocidade socialista revolucionário e membro do Partido
Socialista Italiano, no seio do qual fez sua iniciação ideológica. Tornou-se imediato
simpatizante da revolução bolchevista de 1917. Participou do congresso que
constituiu a fração comunista do Partido Socialista Italiano (PSI), e, já em janeiro de
1921, os delegados dessa facção decidiram fundar o Partido Comunista Italiano. Em
outubro de 1922, os fascistas chegam ao poder. Em 1926, endureceram o regime a
pretexto de um alegado atentado contra a vida de Mussolini. Gramsci é preso e
processado do que resultou sua condenação há mais de 20 anos de reclusão. A partir
dos primeiros meses de 1929, Gramsci começou a redigir suas primeiras notas e
apontamentos que vieram a encher, no transcorrer de seis anos, 33 cadernos do tipo
escolar. O tema mais importante, aliás conteúdo central da matéria contida nos
chamados "Cadernos do Cárcere", é o pensamento político do autor que traz
contribuições inéditas e atualizadas ao marxismo e uma concepção da estratégia para
a tomada do poder a que chamou “transição para o socialismo”. Uma concepção
melhor aplicável às sociedades “ocidentais” (países capitalistas e de democracia
adiantada) do que a estratégia marxista-leninista vitoriosa na Revolução Bolchevista
da Rússia, país de sociedade do tipo “oriental”, com inexpressiva “sociedade civil”. Na
época, a Revolução Russa tornara-se o modelo clássico, dogmático, para a
Internacional Comunista.
Em consonância com Vieira (2002), a compreensão do pensamento gramscista
com todas as suas implicações teóricas e práticas, é primordial tomá-lo como um
pensador marxista-leninista (nos levando à um patamar de aplicabilidade prática do
marxismo na URSS após a Revolução Comunista de 1917 e tentando rearranjar a
31
ideologização vivida pelo leste europeu na primeira metade do século XX). Essa
assertiva não deixa dúvidas quanto ao escopo principal, a inspiração básica dos
pressupostos e o delineamento geral da obra de Antônio Gramsci, conduzindo os seus
escritos para um fim do Estado (anarquismo) e posterior implantação do socialismo.
Gramsci aborda como fundamentos de seu pensamento a atuação sobre a educação
e a cultura, complementando-se com observações acerca do jornalismo e a
conformação da opinião pública, seguido por um estudo da estratégia de ação
revolucionária escrita, onde fica evidente a importância da técnica de modificação do
senso comum (em comunhão com o ideário da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt).
A concepção de Gramsci de revolução passiva é termo instigante e associado a
diversas histórias factuais.
Vieira (2002) apresenta que atualmente fica latente a difusão e impregnação
de novas ideias e conceitos que contrariam as tradições (ataque massivo aos valores
éticos e morais da civilização judaico-cristã), hábitos e costumes da civilização
ocidental (afronta ao conservadorismo que é compartilhado pela maioria da população
brasileira), buscam adesão à nova cultura (em consonância com as ideias levantadas
pelos filósofos frankfurtianos), ao novo senso comum (busca inconsciente da
população alvo do projeto marxista de destruição da sociedade democrática
capitalista), e abrem corações e mentes às mudanças políticas, sociais e econômicas
de caráter ideológico (incutindo no imaginário popular a Teoria Crítica e preparando a
sociedade do Brasil para a Revolução Cultural em curso). A complexidade das ideias
de Gramsci é característica de sua obra e como foi escrita, com ampla base filosófica
e detalhado aprofundamento histórico (buscando assim um entendimento para a falha
da penetração das ideias de Karl Marx no mundo ocidental), permitindo múltiplas
facetas de interpretação, entendimento e aplicação (cujo objetivo final da Guerra de
Posição é a conquista da hegemonia cultural).
De acordo com Vieira (2002), as pessoas precisam identificar as características
e se posicionar a respeito do pensamento de Gramsci, a fim de evitar que, sem
conhecê-lo sejam utilizadas como instrumentos revolucionários (segundo o filósofo
Olavo de Carvalho, seriam os participantes do processo revolucionário cultural de
Gramsci como "idiotas úteis" ou até mesmo integrantes do que ele batizou de "imbecil
coletivo") e propagandistas de ideias socialistas (o fenômeno de ocupação do
pensamento marxista domina a maioria da imprensa impressa e televisionada
brasileira). Reconhecer as ideias de Gramsci, como são divulgadas, quais os objetivos
32
com que, repentinamente, vêm à tona e ganham repercussão, constitui o método que
permite contraposição e possibilita neutralizar a falsa argumentação apresentada.
Estudar Gramsci significa, portanto, o melhor antídoto contra a imposição de um
retrógrado socialismo no limiar do século XXI.
Segundo Coutinho (2010) a concepção e estratégia desenvolvida
essencialmente nos textos dos Cadernos do Cárcere é o que se pode chamar de
gramscismo ou, mais abrangentemente, marxismo-gramscista. Os comentadores e
intérpretes da obra gramsciana geralmente restringem-se à discussão de seus
fundamentos e conceitos político-ideológicos. Não revelam com maior clareza
descritiva a atuação e a prática revolucionárias que Gramsci propõe e que passam
necessariamente pela crise orgânica (institucional), pela “ruptura”, pela tomada do
poder, pela destruição do Estado burguês e fundação do “Estado-Classe” (totalitário,
“estatolatria”) e pela implantação da nova ordem socialista marxista. Assim, o
conhecimento da concepção revolucionária gramscista fica incompleto para as
pessoas comuns. Gramsci foi um convicto marxista-leninista.
Vieira (2002) aborda os Cadernos do Cárcere em duas partes, onde a primeira
seção é constituída por artigos jornalísticos e outros estudos produzidos até a prisão
em 1926, escritos em linguagem direta, voltando-se para temas conjunturais,
particularmente para implantação do comunismo na Rússia, direcionando seu trabalho
para o movimento sindical italiano. A segunda seção é constituída pelo escopo
principal de sua obra, inteiramente escrita no período carcerário, até 1935, redigida
de modo reflexivo, estendendo-se em profundas análises conceituais. As chamadas
"categorias" que compõem as ferramentas ou vocabulário próprio para entender
Gramsci, expressam importantes conceitos e ideias-chave da sua teoria política.
Intérpretes do pensamento político de Gramsci consideram que ele foi um inovador
que introduziu novo enfoque e novas concepções no caminho de transição para o
socialismo (a serem implantadas à longo prazo no mundo ocidental). A grande maioria
das categorias de Gramsci tem fundamentos nas obras de Hegel, Marx e Lenin que
estabeleceram os clássicos pressupostos do comunismo. No entanto, a formulação
do pensamento gramscista difere da doutrina clássica do marxismo-leninismo ao
deixar de enfatizar fatores econômicos (aprofundando assim as ideias levantadas pela
Escola de Frankfurt de objetivar a conquista da hegemonia cultural) e, principalmente,
quanto ao posicionamento da categoria "sociedade civil" no contexto da concepção
de estrutura e de superestrutura.
33
Em seguida Vieira (2002) aborda em seus estudos as categorias gramscistas,
que segundo o autor não atuam ou não subsistem de modo sistemático e determinista,
mas sim, exercem influências (por meio da formação da opinião pública por parte dos
intelectuais) e motivam ações (como as doutrinações que ocorrem no universo
acadêmico brasileiro) com maior ou menor intensidade dentro do mundo concebido
por Gramsci no contexto de uma etapa temporal da história. De acordo com o
pensamento gramscista, sociedade civil engloba o espaço social público (não estatal),
na esfera da qual as pessoas desenvolvem sua iniciativa e adquirem os elementos
próprios de identidade coletiva, fomentando a doutrinação da consciência de classe
(a ser empregada no desenvolvimento do processo revolucionário como parte do
"imbecil coletivo"). Como grupo social, se organizam em aparelhos voluntários
privados (organizações sindicais e estudantis) e exercem a hegemonia. Sociedade
política na concepção revolucionária de Gramsci corresponde ao Estado (de forma
análoga o Partido dos Trabalhadores governou de forma "cleptocrática" por 13 anos
e acumulou recursos para perpertuar a lenda no poder do Brasil) com seus
instrumentos de controle e de direção, ou seja, as organizações estatais civis, o
judiciário, as instituições militares, representando assim a força e a coerção da
máquina pública, enquanto a sociedade civil seria constituída pela complexa rede
formada dos elementos ideológicos, em função dos quais a classe dominante
exerceria a direção intelectual (controlando dessa forma o imaginário popular e o
processo revolucionário) e moral sobre a sociedade. No âmbito da sociedade civil, as
classes buscam exercer sua hegemonia, ou seja, buscam ganhar aliados para os seus
projetos por intermédio da direção e do consenso.
Segundo Vieira (2002), é por meio da sociedade política (que Gramsci também
chama de Estado em sentido restrito, de "governo dos funcionários" ou simplesmente
de "Estado-coerção") que se implementa uma ditadura ou um governo totalitário, com
uma forma de domínio baseada na força e na imposição. A sociedade civil engloba
essa "prisão das mil janelas" formada pelas organizações, instituições e aparelhos em
que se faz a produção, a difusão e a reprodução das ideologias (normalmente
conduzida pela mídia impressa e televisionada). A sociedade civil constitui a arena, o
terreno sobre o qual ocorre a disputa pelo poder ideológico, em que se exerce a
hegemonia cultural das classes dominantes sobre o corpo social. A Hegemonia possui
várias acepções para Gramsci. De modo geral, é entendida como governo de uma
classe. O gramscismo faz referência à história da unificação italiana (rissorgimento) e
34
ao assalto contra o Estado conduzido pelos fascistas como exemplo de hegemonia
por coerção. No entanto, não é apenas pela força que é obtida. A partir desse
entendimento, Gramsci faz reagir o conceito de Estado com as diversas fases
evolutivas de sua teoria política. Estabelece a distinção entre Oriente e Ocidente,
compreendendo os dois termos não em sentido geográfico, mas sim, histórico-político:
enquanto no Oriente o Estado seria tudo e a sociedade civil permaneceria primitiva e
gelatinosa, no Ocidente haveria, ao contrário, um capitalismo moderno e de
democracia adiantada (dificultando o desenvolvimento do processo revolucionário),
caracterizando-se pela sociedade civil forte, ativa e razoavelmente articulada à
sociedade política, o Estado em si.
Na continuação de sua abordagem Vieira (2002) apresenta a concepção de
bloco como a unidade ou aliança circunstancial de elementos antagônicos, distintos,
não necessariamente opostos ou contraditórios. O objetivo da formação do bloco, ao
estilo de Gramsci, consiste em obter um resultado político. Um bloco cultural-social,
por exemplo, abrigaria intelectuais orgânicos e massa na luta pela hegemonia (União
Nacional dos Estudantes - UNE). Um bloco econômico-político envolveria
representações dos meios de produção e facções políticas de relevo (Central Única
dos Trabalhadores - CUT). Da mesma forma, poderia ocorrer a formação de um bloco
político-militar, implicando em apoio mútuo à determinada ação militar ou
posicionamento político. O conceito de bloco histórico aparece como "unidade entre a
natureza e o espírito (estrutura e superestrutura), unidade dos contrários e dos
distintos".
De acordo com Vieira (2002) a expressão catarse ou tomada de consciência,
para o gramscismo designa uma das fases finais do processo revolucionário. A
catarse ocorre após a sociedade civil ter-se tornado hegemônica culturalmente e sob
controle dos marxistas. No sentido dado por Gramsci, como concepção de mundo,
senso comum é a visão mais difundida no seio das classes sociais subalternas. A
perspectiva gramsciana volta-se para a concepção de mundo unitária, coerente e
homogênea e fundamentada na intensa experiência política da classe. Essa classe
então, participando ativamente, tornaria realidade seu destino histórico e social
(agindo assim como "idiotas úteis" conduziriam o processo de tomada do poder para
os marxistas e, na sua catarse, acreditariam estar conduzindo os seus destinos,
materializando assim o automatismo pensado anteriormente pelos frankfurtianos).
35
A superação do senso comum em conformidade com o trabalho de Vieira
(2002) ocorreria no contexto da história, das tradições e costumes, da cultura etc
(superando definitivamente a cultura ocidental cristã). Essa idéia consiste em apagar
certos valores tradicionais (ligados ao conservadorismo) e uma parte significativa da
herança cultural (intelectual e moral) da sociedade burguesa e substitui-la por
conceitos novos e pragmáticos, abrindo as mentes das pessoas para as mudanças
políticas, econômicas e sociais que farão a transição para o socialismo (implantando
a agenda progressista global). No novo senso comum, podem ser preservados alguns
velhos conceitos para servir como instrumentos, bastando aprimorá-los para que
possam contribuir para a formação da nova mentalidade (relativização conceitual). O
objetivo é a implantação ou a geração do "novo" em substituição ao "velho", em
qualquer área do conhecimento, que é típica de pensamento dialético de Gramsci e
forma um dos fundamentos da revolução gramsciana. Por sua vez, consenso envolve
aceitação, concordância e adesão ativa à nova filosofia. Implica em tornar-se
protagonista (no Brasil são representados por políticos socialistas de viés esquerdista,
grande parte dos jornalistas da grande mídia e uma considerável maioria dos
professores universitários). Ocorre a transformação dos indivíduos até então egoístas,
passionais e corporativos, em sujeitos ativos do movimento socialista.
A integração das categorias gramscianas expostas por Vieira (2002) resume
que o Estado (sociedade política) é o conjunto dos órgãos por meio dos quais a
hegemonia e a coerção da classe dominante são exercidas sobre a classe subalterna.
No âmbito da superestrutura, confrontam-se a sociedade civil e a sociedade política.
A sociedade civil organizada (ONGs, Sindicatos, Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra e União Nacional dos Estudantes) ocupa espaços e,
progressivamente, sufoca a sociedade política. As classes subalternas, ao
conquistarem a hegemonia na sociedade civil, passam a exercer a direção política e
moral sobre o Estado, substituindo a direção das classes dominantes (espaço este
aberto pelo próprio Estado por meio dos governos de ideologia utópica socialista). Nas
escolas, ensinam-se novas lições (com a intenção de desconstruir a realidade
histórica, relativizar o conteúdo das matérias básicas e assim formar uma sociedade
de robôs irracionais automatizados) e novas abordagens temáticas de filosofia,
história e política (temas eixados com o pensamento revolucionário marxista). Esse é
o cenário no qual as ideias de Gramsci ganham força e tomam corpo, onde o papel
dos intelectuais orgânicos (políticos, jornalistas, músicos e professores universitários)
36
e a função desempenhada pela educação têm capital importância. A intelectualidade
e a educação são colocadas a serviço da luta pela hegemonia (ou revolução cultural)
das classes subalternas (operários, camponeses e marginais da sociedade). Gramsci
confere grande importância à cultura, à ideologia, à política e à religião como espaços
de transformação social ou como dimensões do processo revolucionário imaginado.
Essa postura é direcionada para a valorização dos agentes sociais que exercem
atividades de natureza intelectual: o professor, o líder religioso, o militante político, o
jornalista, o artista, o cientista, entre outros. Os intelectuais, de acordo com o
pensamento gramsciano, têm funções relacionadas com a formação, com a
deformação ou com a superação do senso comum, do bom senso e com a formação
do consenso (fatores basilares a serem atingidos para o rompimento com os valores
tradicionais da cultura ocidental).
Gramsci (1999) conjecturou implementar uma escola unitária como "escola
ativa" e que isso poderia ocorrer em fases distintas. Num primeiro passo, seria
necessário obter uma certa espécie de "conformismo" com a mudança e num segundo
momento, a ''fase criadora", atingiria a base da "coletivização" do tipo social. A
aprendizagem deveria ocorrer sob a supervisão do professor como um "guia amigável"
(o educador, pedagogo e filósofo brasileiro Paulo Freire (1921-1997) foi um dos
pensadores influenciados pelo marxismo e aderiu ao movimento chamado pedagogia
crítica que é ligado à democracia radical, ao anarquismo e ao feminismo, conduzindo
sua prática didática sócio construtivista fundamentado na crença de que o educando
assimilaria o objeto de estudo fazendo uso de uma prática dialética com a realidade,
em contraposição à por ele denominada educação bancária, tecnicista e alienante)
em busca da maturidade intelectual, o que permitiria chegar às novas verdades
(relativizando a propriedade indivisível da verdade divina e fomentando o discurso
“politicamente correto”). Paulo Freire é portanto o grande mentor intelectual da
falência vexatória do atual sistema educacional brasileiro.
Dessa maneira, Gramsci (1999) assinala que as modificações nos modos de
pensar, nas crenças e nas opiniões não ocorrem mediante "explosões" rápidas e
simultâneas, mas sim, que as transformações culturais são lentas e graduais, exigindo
um trabalho meticuloso de longo prazo. Tal concepção será fundamental para o
desencadear do processo revolucionário gramsciano. Antônio Gramsci parte do
princípio de que a luta contra a classe dirigente situa-se no âmbito da sociedade civil,
onde a obtenção da hegemonia cultural ocorre pelo desenvolvimento de diversas
37
ações. Simultaneamente, em processo gradual e persistente no tempo, são
desencadeadas ações direcionadas para a ocupação de espaços (principalmente nas
redações e editoriais, além das cátedras) deixados pelo Estado (a sociedade política),
ações no campo da mídia e da educação voltadas para o domínio das mentes e da
opinião pública e ações com vistas ao conformismo, à passividade e à neutralização
das vontades. Na civilização ocidental o Estado representa a trincheira avançada, por
trás da qual se situa uma robusta resistência num encadeamento de fortalezas e
casamatas. Nesse ponto, Gramsci reconhece que o processo revolucionário varia de
Estado para Estado, exigindo "um acurado reconhecimento de caráter nacional",
dedicando grande parte dos Cadernos do Cárcere, a tratar da filosofia da práxis no
contexto de Marx, estabelecendo intensa relação entre história, filosofia e política. A
filosofia da práxis é portanto um dos fundamentos ideológicos do gramscismo,
procurando ludibriar a censura dos seus escritos no cárcere, Gramsci utilizava o
eufemismo ''filosofia da práxis" para se referir ao marxismo. Segundo Vieira (2002) o
conceito de práxis como o agir individual e social está no centro da filosofia marxista
pelo seu modo de abordar os problemas da produção e da ciência. Segundo Marx, a
produção ou práxis humana engloba não apenas o trabalho, mas também, todas as
atividades derivadas das relações sociais. Para Gramsci (1999), a filosofia da práxis
compreende a realidade do homem e do mundo em ação, em permanente formação,
onde o homem não é engolido pelo mundo e este não é dissolvido dentro da
subjetividade humana. Um dos efeitos perseguidos pela teoria política de Gramsci é
justamente o amortecimento da vontade de reação de setores influentes das
sociedades.
Vieira (2002) relata que para o gramscismo a revolução não é apenas a
conquista violenta do poder. A revolução é portanto toda a aceleração política que
arrasta um povo para um processo que não domina e nem compreende (atingidas as
metas educacionais propostas pelo gramscismo, voltadas para o domínio das mentes
e da opinião pública e ações com vistas ao conformismo, à passividade e à
neutralização das vontades, o imobilismo social é garantido e a presença do ilogismo
domina a sociedade). A força das revoluções provém menos da violência, que do caos
e da opacidade que as acompanham, e que faz perder o sentido dos valores e das
proporções, instaurando a desorientação e dispondo a população a aceitar, em nome
da segurança, quaisquer exigências dos novos poderes. Conforme o pensamento
original de Gramsci, o modelo de revolução aplicado na Rússia de 1917 deveria ser
38
modificado para que se adequasse às sociedades ocidentais. Nessas, a sociedade
civil apresenta articulação mais complexa e o Estado é muito amplo. Gramsci havia
portanto compreendido a necessidade de uma mudança da guerra manobrada,
aplicada vitoriosamente no Oriente em 1917, para a guerra de posição, que era a
única possível no Ocidente. Uma revolução ocidental só poderia ser feita por rupturas
que se acumulariam progressivamente, uma vez que o aparato estatal apresenta-se
mais forte e coeso sob a égide da democracia. É sob esse enfoque que Gramsci
introduz na sua teoria política as concepções de guerra de movimento (ou guerra
manobrada) e de guerra de posição, ambas extraídas da arte militar.
Coutinho (2010) continua abordando que as ideias novas que Gramsci propõe,
permanecem sempre ligadas, intelectual e ideologicamente, ao marxismo; não é um
dissidente nem um “herético”, mas um inovador. No momento em que constatou o fato
histórico de que a estratégia marxista-leninista de tomada do poder, vitoriosa na
Rússia em 1917, não teve êxito nos países europeus (entre 1921 e 1923 na Alemanha,
Polônia, Hungria, Estônia e Bulgária) de economia capitalista e de sociedade
democrática, passou a considerar outro modelo revolucionário. Fez assim a distinção
entre sociedade “oriental” e sociedade “ocidental”, compreendendo que a “transição
para o socialismo” deveria ter concepções diferentes em uma e em outra condição
político-social. O ataque frontal ao Estado para a tomada imediata do poder, com o
emprego da violência revolucionária, foi comparado por Gramsci à “guerra de
movimento”. É a concepção estratégica original de Lenin. Nas sociedades
“ocidentais”, a luta deveria ser semelhante à “guerra de posição”, longa e obstinada
conduzida no seio da sociedade civil para conquistar cada “trincheira” e cada defesa
da classe dominante burguesa. Em outras palavras, disputar com a burguesia a
hegemonia no seio da sociedade civil e conquistá-la como prelúdio da tomada da
sociedade política (o Estado) e do poder. A partir dessa visão original, Gramsci
desenvolveu seu conceito estratégico de transição para o socialismo. A grande
invenção contida na concepção revolucionária de Gramsci está na mudança da
direção estratégica de tomada do poder. Em vez de realizar o assalto direto ao Estado
e tomar imediatamente o poder como na concepção de Lenin, a sua manobra é de
“desgaste”, designando a sociedade civil como primeiro objetivo a conquistar, ou
melhor, a dominar. Dominar a sociedade civil significa lutar pela hegemonia, isto é,
elevar as classes subalternas (operários, camponeses e excluídos da sociedade
burguesa), inferiorizar a burguesia e enfraquecer o Estado burguês. Isso será feito
39
predominantemente pela guerra psicológica ou pela mudança cultural para minar e
neutralizar as “trincheiras” e defesas da sociedade e do Estado burgueses. Nessa
longa luta de desgaste incluem-se a “neutralização do aparelho de hegemonia” da
burguesia e do “aparelho de coerção” estatal e a “superação” dos meios materiais e
dos valores intelectuais e morais das classes subalternas e das classes burguesas,
fazendo-as aceitar (ou a se conformar com) a transição para o socialismo como coisa
natural, evolutiva e democrática. A luta pela hegemonia desenvolve-se
preliminarmente na realização de uma profunda reforma intelectual (ideológica) e
moral (cultural) da sociedade civil.
A concepção estratégica revolucionária de Gramsci, de acordo com Vieira
(2002) utiliza uma progressiva e constante reforma intelectual e moral como resultante
do senso comum modificado. Nesse estratagema, intelectuais orgânicos
(gramscistas) divulgam ideias que alteram tradições históricas, mostram
comportamentos distorcidos como sendo normais e procedem uma inversão de
valores sociais, morais e religiosos. Tudo isso produz um perturbador efeito na
percepção do julgamento do certo e do errado (amoralidade), dos hábitos e costumes,
contaminando importantes segmentos da sociedade. A reforma intelectual e moral da
sociedade civil e dos indivíduos inicia na superação do senso comum tido como
"burguês" e dominante na civilização ocidental. A superação é feita pela mudança,
substituição, eliminação e inclusão de novos e sutis conceitos numa roupagem de
modernismo (inclusão sorrateira da agenda progressista global). As mudanças
também ocorrem pelo uso de palavras de ordem (chavões, clichês e jargões
neurolinguísticos programados e histericamente esbravejados no automatismo
mecanicista) buscando a conscientização coletiva (baseada na ideologia ufanista e
utópica do marxismo) voltada para a política e para a ideologia. Segundo Gramsci
(1999) a revolução é passiva pela ausência de participação das classes subalternas
no processo revolucionário. As modificações na estrutura política são introduzidas
pelas classes dominantes, que, de certa forma, incorporam e executam parte das
reivindicações do proletariado.
Telles (2018) complementa que o marxista Gramsci foi o responsável por unir
doutrinariamente Maquiavel e Marx. Ele ensinou que, para o marxismo triunfar, deve
haver uma abdicação do radicalismo ostensivo a fim de ampliar a margem de alianças
(Guerra de Posição). Ensinou que a zona mais profunda da sabotagem psicológica
deve prevalecer em relação ao combate político direto, principalmente, na busca por
40
dizimar as bases morais (amoralidade) e culturais do adversário (garantia da
hegemonia cultural) é mais importante que ganhar votos. Chegou à referida conclusão
ao analisar a postura do governo russo para implementação do comunismo e logo
percebeu que algo havia de errado. As massas, predominantemente religiosas e
conservadoras, ofereciam resistência ao plano revolucionário que estava sendo
imposto, eternizando a etapa de transição, a ditadura do proletariado, e impedindo o
advento, de fato, do comunismo. Para contornar essa dificuldade, seria necessário o
adestramento do povo durante a vigência do capitalismo. Assim, com o advento do
comunismo, não existiria resistência e todos aceitariam de bom grado um regime que
rompesse com valores até pouco tempo considerados sacros pela população. Em
suas notas, escritas durante o tempo em que esteve preso, dois termos eram sempre
diferenciados: poder e hegemonia. Poder é “o domínio sobre o aparelho de Estado,
sobre a administração, o exército e a polícia”, enquanto hegemonia é “o domínio
psicológico sobre a multidão”. Daí a característica essencial do Gramscismo: o poder
fundado numa hegemonia prévia, absoluto e incontestável, diferindo bastante das
estratégias adotadas por Lenin, em que o controle deveria ser conquistado meramente
pelo uso da força (mudança de foco para o campo cultural).
Gordon (2017) apresenta o avanço das conquistas das propostas gramscistas
de revolução cultural no Brasil, onde a total sujeição da classe intelectual brasileira ao
pensamento progressista mundial, e onde temas como o feminismo, homofobia,
valoração minoritária, laicismo, liberação do consumo recreativo da maconha e aborto
preenchem as principais matérias diárias. Em seguida, apresenta um aprofundamento
na origem dos problemas educacionais brasileiros, abordando o pensamento do
filósofo marxista italiano Antônio Gramsci, com a práxis, a dialética e o materialismo
histórico ganhando espaço no cenário acadêmico brasileiro, com as suas origens na
década de 1960 e num clima de restrições de liberdade de produção jornalística
proporcionado pelo AI-5. Na sequência, o escritor faz uma analogia da obra de Miguel
de Cervantes com a intelectualidade brasileira, onde a elite sofre um forte ataque
midiático seguido de uma vil valorização da mediocridade, com exposto viés
desconstrucionista e pragmático, onde lutas de gênero, de hipersexualização social
e de tribalização, dividiram profundamente a nação. O idealismo social é abordado
por Gordon onde é apresentado o enviesamento jornalístico da cobertura midiática,
com uniforme generalização no Brasil, fantasiosa percepção, alto grau de alucinação
e preocupante subjetivismo. Na continuação de seu estudo Flávio referencia a prisão
41
temporal do estilo de vida do guerrilheiro esquerdista (encarcerado no ano de 1968) e
expondo ao mundo contemporâneo a vitória na guerra cultural empreendida pelos
socialistas. Gordon inicia esta etapa falando da sua experiência acadêmica como
universitário, explicita a falência dos anseios milenaristas e expõe a hegemonia
uníssona do pensamento esquerdista (proletariado intelectual) neste universo
estudantil brasileiro.
Na abordagem seguinte, Flávio Gordon (2017) aborda como o vórtex do
comunismo tragou toda a intelligentsia num sentimento envolvente de brasilidade
revolucionária e no momento posterior apresenta alguns comunistas que leram Karl
Marx entendendo o que de fato estava escrito pelo filósofo e como estes militantes
viveram o seu momento kronstadt. Flávio inicia então uma análise dos governos
militares, enfatizando a doutrina Golbery, destacando o espaço aberto no sistema
educacional que foi ocupado pelos comunistas e finaliza com a hegemonia cultural
alcançada pela esquerda durante todo este período. O ato seguinte de Gordon é expor
a atuação da filósofa uspiana Marilena Chauí dentro do universo acadêmico brasileiro,
onde é passado para os universitários de forma unilateral e sem discussão de mérito
ou lógica toda a falácia progressista da esquerda marxista do gramscismo que é
inserida por repetição e que logo entra no automatismo da maioria dos estudantes,
contribuindo assim para a formação do "imbecil coletivo" dominante e fomentando o
analfabetismo funcional reinante no Brasil. A seguir, Flávio Gordon envereda pelo
mundo do "idiota útil" acadêmico, mergulhando num universo de exemplos bizarros
de manifestações ditas culturais, praticadas por idiotas que só expressam o quanto
bestializado está o universitário brasileiro, que só consegue oferecer ao mundo
mostras fálicas ou fecais, que deveriam ser utilizadas para suprir as necessidades
mais pueris de um ser humano normal e intectualmente evoluído. Regados a drogas
ilícitas os habitantes do mundo acadêmico destroem os seus neurônios para
afastarem-se do mundo real e assim submergirem num mundo sombrio e utópico de
mentiras comunistas, regados a inebriantes doses de ideologias mesquinhas.
Conforme Coutinho (2010), trata-se “de elaborar uma filosofia que se torne o
senso comum renovado, coerente com a filosofia popular” e com os fins buscados no
processo político - ideológico no qual tudo deve estar inserido. Para isso, é preciso
estabelecer amplo sistema orgânico e também “espontâneo” no interior da sociedade
civil, abrangendo variados canais informais, desligados das organizações políticas
(partidos e Estado), por meio do qual se fará a penetração dos novos sentimentos,
42
conceitos e expectativas. Subversão cultural cujo objetivo é a formação do consenso
que criará as condições para a tomada do poder. O agente dessas ações é o
intelectual orgânico (políticos de partidos socialistas, artistas, professores
universitários e filósofos). Todos os membros do partido revolucionário devem ser
considerados “intelectuais”, não importa em que níveis funcionais se encontrem. O
novo intelectual não é apenas um orador eloquente, o eletrizador de multidões, mas
aquele que se tornou dirigente (amparado pela eloquência dialética do “politicamente
correto”, o esbravejador pode vociferar qualquer tipo de histeria irracional que seja
benéfica para a tomada do poder); aquele que orienta, influencia e conscientiza
(“especialista + político”). Os intelectuais tradicionais, cujo tipo é vulgarmente
reconhecido como cientista, filósofo, literato, artista e profissional dos meios de
comunicação social, estão ligados a valores e cultura antigos, sem identificação com
uma ideologia de classe, formando grupo isolado sem ligação com as massas. O
grupo que luta pela hegemonia e pelo domínio (conquista do poder) vai lutar também
pela assimilação e conquista ideológica dos intelectuais tradicionais. Os intelectuais
estão difundidos nos partidos (Partido dos Trabalhadores - PT), nos órgãos de
comunicação social, nas cátedras, nos “aparelhos privados de hegemonia”, nas
ONGs, nas comunidades (de moradores de favelas, acadêmicas, de minorias etc.) e
na manifestação artística, ativos e conscientes politicamente, mas sem evidências
nítidas de vinculação com as organizações políticas.
Coutinho (2010) relata que o gramscismo atua de forma difusa, abrangente,
anônima na generalidade, mas muito efetiva, “moderna” e uníssona dos intelectuais
orgânicos cuja unidade de ação é dada pelo “consenso” e pela “vontade coletiva”,
consciência dos objetivos revolucionários que perseguem. Assimilando ou tomando
os intelectuais tradicionais, “permeados”, adesistas ou ingênuos como aliados,
“inocentes úteis” (idiotas úteis ou integrantes do imbecil coletivo) ou “companheiros
de viagem”, os intelectuais orgânicos constituem uma oligarquia autoritária que,
fazendo a censura de fato e assumindo o monopólio do discurso, exerce a direção
cultural e política da sociedade e do próprio Estado. O projeto gramsciano de
superação do senso comum burguês é um elemento desencadeador de um fenômeno
em cadeia, criando clima de mudanças, naturalmente estimulador, que elimina a
estabilidade dos valores (desconstrução ética e moral) e conceitos da sociedade,
enfraquecendo suas convicções culturais e suas resistências morais e cívicas.
43
Na sequência Coutinho (2010) explana que quando uma pessoa supera
criticamente o senso comum e aceita novos valores e conceitos culturais e sociais,
terá aceito uma filosofia nova e estará em condições de compreender nova concepção
do mundo e contribuir para a sua concretização. Gramsci admite, porém, a
possibilidade de ocorrer um instante crítico e delicado no processo de transformação
intelectual e moral da sociedade; um vácuo ético-social e individual, um período de
relaxamento e de dissolução moral decorrente da perda momentânea dos valores e
tradições anteriores. O risco para ele é necessário e se justifica porque uma “nova
concepção se está formando”. O empreendimento revolucionário, apesar de tudo, é
“ético” porque é adequado aos fins pretendidos. Superando Lenin, sem o negar
entretanto, Antônio Gramsci propôs nova estratégia de “transição para o socialismo”.
Depois do colapso do comunismo soviético em 1991, suas ideias passaram a ter
especial interesse em todo o mundo como uma alternativa e como um modelo
revolucionário próprio, para as sociedades do tipo “ocidental”. Por isso, a estratégia
gramscista é hoje acolhida por importante parcela da esquerda marxista brasileira e
vem tendo significativo êxito na sua aplicação prática, particularmente a partir de 1980,
dando continuidade à Revolução Cultural iniciada em Frankfurt, em 1923. Mesmo os
partidos revolucionários marxista-leninistas e “heterodoxos” aceitam a praxe
gramscista própria da luta pela hegemonia que bem simula o jogo democrático
legítimo, mascara seus propósitos e objetivos e ilude fazendo crer que adotam uma
linha social-democrata. Os avanços revolucionários no campo das mudanças
intelectuais e morais chegaram a um ponto tal que alguns intelectuais democratas
acham que já é irreversível. Entretanto, o movimento revolucionário apresenta
deficiências e vulnerabilidades que, exploradas inteligentemente, permitem ainda a
sua contenção e reversão. Contudo, se a sociedade nacional permanecer como
espectadora impassível, complacente e até mesmo simpática à reforma intelectual e
moral que vem sofrendo, certamente a revolução marxista-gramscista será vitoriosa
em médio prazo. E, assim, o Brasil poderá vir a ser o exemplo histórico de ter sido o
primeiro país no mundo onde a concepção gramscista de tomada do poder teve êxito.
44
Figura 5: estratégia gramscista Fonte: COUTINHO, 2010
Figura 6: luta pela hegemonia
Fonte: COUTINHO, 2010
45
Figura 7: síntese histórica do anarquismo revolucionário Fonte: COUTINHO, 2010
Figura 8: organizações de esquerda no Brasil Fonte: COUTINHO, 2010
46
Figura 9: a democracia como instrumento de tomada do poder
Fonte: COUTINHO, 2010
Figura 10: via pacífica para o socialismo
Fonte: COUTINHO, 2010
47
3.3 A ATUAÇÃO DO SOCIALISMO FABIANO NO BRASIL
Rockwell (2016) aborda que o período que antecedeu a Revolução Russa, o
Partido Comunista tinha duas alas: Bolchevique e Menchevique. Os Bolcheviques
acreditavam na imediata imposição do comunismo (inclusive com a implementação
da economia planificada) por meios violentos e revolucionários, com confisco armado
das propriedades privadas, das fábricas, e das fazendas, ou seja, apropriação estatal
de todos os meios de produção, e o assassinato dos burgueses e reacionários que
porventura oferecessem resistência. Já os Mencheviques (que se auto-rotulavam de
serem social-democratas) defendiam uma abordagem mais gradual, não-violenta e
não-revolucionária para o mesmo objetivo de implantação das ideias marxistas na
Rússia. Para as lideranças russas mencheviques, a liberdade individual e a
propriedade privada deveriam ser abolidas pelo voto da maioria. Os Bolcheviques
venceram a Revolução Russa e implantaram o terror comunista. Contudo, após o
cometimento de inúmeros e inimagináveis crimes, os Bolcheviques praticamente
desapareceram do cenário. Já os Mencheviques, no entanto, não apenas seguem
vivos como também se fortaleceram e se expandiram, e estão no poder de boa parte
dos países democráticos. Os Mencheviques modernos seguem, em sua essência, as
mesmas táticas dos Mencheviques russos: em vez de abolirem a propriedade privada
e a economia de mercado, como queriam os Bolcheviques, os atuais mencheviques
entenderam ser muito melhor um arranjo em que a propriedade privada e o sistema
de preços são mantidos, mas o Estado mantém os capitalistas e uma truncada
economia de mercado sob total controle, regulando, tributando, restringindo e
submetendo todos os empreendedores às ordens do Estado socialista, configurando
a atual realidade de nações como a República Popular da China, onde tem-se um país
e dois sistemas. Para os mencheviques atuais, tradições burguesas como
propriedade privada e economia de mercado devem ser toleradas, mas a economia
tem de ser rigidamente regulada e tributada. Políticas redistributivistas são
inegociáveis. Uma fatia da renda dos indivíduos produtivos da sociedade deve ser
confiscada e redistribuída para os não-produtivos. Grandes empresários devem ser
submissos aos interesses do regime e, em troca, devem ser beneficiados por
subsídios e políticas industriais, e também protegidos por tarifas
protecionistas. Acima de tudo, cabe aos burocratas do governo, os próprios
mencheviques, intervir no mercado para redistribuir toda a riqueza e manter a
48
economia funcionando de acordo com seus desígnios. No entanto, a estratégia
menchevique não se resume à economia. A questão cultural (mesma importância
dada por Gramsci) é tão ou mais importante. Para os mencheviques atuais, a cultura
burguesa deve ser substituída por uma nova mentalidade condicionada ao modo de
pensar social-democrata, e a estratégia para isso consiste na imposição lenta e
gradual de uma revolução cultural. Os mencheviques, fiéis ao seu ideal "democrático",
sempre se sentiram desconfortáveis com a ideia de revolução, preferindo muito mais
a "evolução" gradual produzida pelas eleições democráticas. O Estado deve ser
totalmente aparelhado por intelectuais partidários (intelectuais orgânicos) e
simpatizantes, de modo a garantir uma tomada hegemônica das instituições culturais
e sociais do país. Daí a desconsideração pelos gulags (sistema de campos de
trabalhos forçados para criminosos, presos políticos e qualquer cidadão que se
opusesse ao regime da URSS) e pela revolução armada.
Continuando com sua abordagem histórica Rockwell (2016) aborda que as
raízes do menchevismo atual não estão na Rússia de Lênin, mas sim na Londres de
1883, quando um grupo de socialistas adeptos do gradualismo fundou a Sociedade
Fabiana. Liderada por um cidadão chamado Hubert Bland, os mais famosos
membros da sociedade eram o dramaturgo George Bernard Shaw, os
autores Sidney e Beatrice Webb e o artista William Morris. A Sociedade Fabiana tem
este nome em homenagem a Quintus Fabius Maximus, político, ditador e general da
República Romana (275-203 a.C.) que conseguiu derrotar Aníbal na Segunda Guerra
Púnica adotando a estratégia de não fazer confrontos diretos e em larga escala (nos
quais os romanos haviam sido derrotados contra Aníbal), mas sim de incorrer apenas
em pequenas e graduais ações, as quais ele sabia que podia vencer, não importa o
tanto que ele tivesse de esperar. Em suma, Quintus Fabius Maximus era um
estrategista militar que evitava qualquer confrontação aberta e decisiva; em vez disso,
ele preferia fatigar seus oponentes com táticas procrastinadoras e cansativas,
manobras enganadoras e assédios contínuos.
Em conformidade com Coutinho (2010) surge o fabianismo como uma doutrina
e como um movimento político - ideológico social - democrata, reformista e não
marxista, de concepção inglesa, originado na Fabian Society que foi fundada em
Londres (no final de 1883 e início de 1884), onde um grupo de jovens intelectuais de
distintas linhas socialistas, com a finalidade de reconstruir a sociedade com o mais
elevado ideal moral possível (buscando desvencilhar-se do pensamento marxista
49
dominante e lançando um pensamento socialista de viés esquerdista). A Fabian
Society objetivava promover uma progressiva e gradual difusão dos ideais socialistas
(buscando ocupar os espaços deixados pelos marxistas sejam eles soviéticos,
italianos e alemães), compreendidos numa nova roupagem interpretativa como o fim
das injustiças econômicas (desenvolvendo políticas redistributivas) e sociais (criação
do Estado provedor assistencialista) da sociedade liberal, burguesa e capitalista
(convivendo harmonicamente socialistas e capitalistas, onde utopicamente seriam
extraídas as melhores práticas dos dois sistemas). A rejeição doutrinária fabiana
atingiu em cheio os planos expansionistas dos marxistas e mais diretamente a
transformação pela revolução violenta (condenando assim as práticas marxistas
comunistas, nazistas, fascistas, maoístas e foquistas de tomada do poder). O foco
principal era realizar uma transição do capitalismo (sem com isso extinguir a economia
de mercado) para o socialismo; tal transição poderia ser realizada empregando
pequenas e progressivas reformas, dando início ao sistema socialista inserido no
contexto da própria sociedade capitalista (caracterizando o modelo chinês de
convivência harmônica de um país e dois sistemas). O fabianismo abomina portanto
disputa classicista (luta tão praticada e difundida como modo de operação pelos
marxistas). A política redistributiva fabiana foi idealizada para atender a necessidade
de ajudar os trabalhadores a conquistar a igualdade econômica, tirando recursos da
população produtiva e repassar capital para os menos favorecidos, prática que não
funciona em países com regimes marxistas implantados (por conta da economia
planificada e da força opressora de acúmulo de capital nas mãos dos dirigentes
socialistas que gozam dos benefícios proporcionadas pelo agigantamento estatal). O
Estado não é mais encarado como um organismo de classe a ser tomado (uma vez
que o total aparelhamento estatal é mais eficiente e estável para a difusão das ideias
do socialismo fabiano), mas um aparelho a ser conquistado (por via democrática e
sem expressar os meios utilizados para a conquista do poder) e usado para promover
o bem-estar social (remodelando assim as concepções marxistas). A vanguarda
fabiana foi fortemente influenciada pelo marxismo, alterando inicialmente os seus
conceitos da esfera econômica, abandonando os pensamentos de Karl Marx (teoria
do valor, cuja fonte e medida é o trabalho), passando a inspirar-se em John Stuart
Mills e Willian Stanley Jevons (critério da utilidade). As modernas condições
econômicas do final do século XIX direcionavam o mundo para uma crescente
50
intervenção estatal na economia com o objetivo de promover a felicidade da
sociedade.
Coutinho (2010) aborda que Sidney Webb e Bernard Shaw tinham o comum
entendimento de que o desenvolvimento proporcionado pelo laisser faire (o
capitalismo liberal) corresponderia, em contrapartida, também a uma intervenção do
Estado em defesa do trabalhador ou, ao menos, na melhoria da qualidade e condições
de vida (antecipando a "terceira via"), refutando os ideais marxistas de admitirem uma
economia planificada como possível para a promoção do bem comum e do progresso
social. A progressiva instalação da "terceira via" ocorre com a mudança de legislação
sobre salários, condições e jornada de trabalho e sobre a gradual taxação dos ganhos
capitalistas, sendo um meio inicial de realizar a equitativa distribuição de benefícios
(promovendo assim um acúmulo de capital na mão do Estado para a prática de
politicas redistributivas). A próxima etapa da caminhada rumo ao socialismo, em
termos de profundas e consistentes reformas sociais, é a adoção da propriedade e
administração estatais das indústrias e dos serviços públicos (concentrando no Estado
os meios de produção, a jurisdição patrimonial e o domínio burocrático da prestação
de serviços para criar dificuldades com o fim de vender facilidades) sendo que os
fabianos preferem municipalizar à nacionalizar os meios de produção e os serviços
públicos (fortalecendo as bases eleitorais e a capitalização de recursos para o menor
escalão do poder executivo).
Coutinho (2010) continua relatando que, efetivamente, a Fabian Society tem
sido caracterizada ao longo de sua existência por ser um grupo de intelectuais, sendo
que a partir de 1887 assumiu o seu caráter socialista. O fabianismo utilizou o
proselitismo e continuou atuando na conversão de mais adeptos ao socialismo,
seguindo uma prática de “permeação” das suas ideias socialistas entre os liberais e
conservadores, sobretudo pessoas que estejam ocupando pontos-chave do poder,
em todos os níveis e campos. O uso da argumentação socialista de forma objetiva e
racional, foi uma ferramenta utilizada pela Sociedade Fabiana (abandonando a
retórica passional e de debates públicos empregada por marxistas). Os fabianos
buscaram convencer as pessoas que o socialismo é desejável e que melhor realizará
a felicidade humana (coincidindo neste aspecto com o pensamento materialista e
existencialista da Escola de Frankfurt), sendo realistas, sensatos e coerentes com sua
doutrina de progressividade (agenda progressista global). A Sociedade Fabiana
estende seu modo de operação para atuar junto às instituições existentes que tenham
51
poder ou meios de influência, “permeando” este ou aquele ponto da sua doutrina
(dosando ideais socialistas de forma homeopática), ministrando “duas ou três gotas
de socialismo”, na justa medida (expandindo de forma silente e imperceptível sua
influência global). Os fabianos têm a convicção de que não exite uma diferença nítida
entre socialistas e não socialistas, abrindo grande espaço para que todos possam ser
persuadidos a colaborar de forma participativa no reformismo social para a
concretização do socialismo (encarado sem separação social pelos fabianos). No ano
de 1889, sete dos seus principais membros fundadores, capitaneados e liderados por
George Bernard Shaw, publicaram as bases doutrinárias da Sociedade Fabiana num
livro que levou o nome de Fabian Essays in Socialism (Ensaio fabiano sobre o
socialismo). A London School of Economics (Escola de Economia de Londres) surgiu
em 1895 e passou a ser o principal centro de difusão do pensamento fabiano
(buscando a difusão do pensamento fabiano nas cátedras de produção de
conhecimento). A Sociedade Fabiana era apartidária até o ano de 1905, atuando de
forma sorrateira nas sombras pueris da percepção social como um movimento
ideológico. Entretanto, em 1906, um grupo de fabianos e sindicalistas fundou o Labour
Party (Partido Trabalhista britânico) que adota o fabianismo como fonte ideológica
partidária, sendo seguido pelo Partido Liberal britânico (iniciando sua permeação na
busca pelo poder e objetivando expandir sua atuação parlamentar). No ano de 1912
ocorreu a criação do Departamento Fabiano de Pesquisa (Fabian Research
Department) que passa a conduzir as principais atividades da sociedade (buscando
por meio deste órgão aperfeiçoar os ideais fabianos e criar ambientes de
experimentação doutrinária). Um desentendimento interno levou à separação do
Departamento (1915), o qual passou a ter vida autônoma (espécie de federação) com
a denominação de Departamento Trabalhista de Pesquisa (Labour Research
Department). Em 1930, um ativo grupo de deputados trabalhistas fundou,
independente da Fabian Society, o New Fabian Research Bureau. Em 1938, esse
órgão fundiu-se à Sociedade Fabiana, recriando a instituição que recupera a vitalidade
que vinha perdendo desde 1915. Logo são estabelecidas agências fabianas especiais
no exterior e nas colônias (fundando suas bases para a posterior internacionalização
organicista do movimento socialista fabiano), ampliando a sua área de atuação. Em
1945 o Labour Party chega ao poder na Grã-Bretanha expandindo o fabianismo. O
partido no governo consegue realizar boa parte do ideário dos fabianos. Em 1952 são
publicados os New Fabian Essays, enfatizando a meritocracia e o emprego de
52
técnicos competentes na gestão dos negócios públicos (contrariando frontalmente os
ideais marxistas).
Segundo Rockwell (2018) políticos em todo o mundo adotaram um modelo
econômico idealizado pela Sociedade Fabiana denominado "terceira via", adotando
ideias do capitalismo e do socialismo e extraindo o que ambos os sistemas têm de
melhor. A projeção principal da ”terceira via” ocorreu na década de 1990 (nos EUA,
na Grã-Bretanha e na Alemanha), sendo liderada por Bill Clinton, Tony Blair e Gerhard
Schröder. A principal finalidade da ”terceira via” é mesclar de forma homogênea e
imperceptível a eficicácia econômica do capitalismo com a utópica "justiça social" do
socialismo idealista, representando de forma verdadeira e honesta um achatamento
da sociedade imposto pelo crescimento estatal ( por meio de uma cobrança mais
ferrenha de impostos, mais assistencialismo, mais privilégios e mais
regulamentações) característico de uma situação de totalitarismo governamental. Os
adeptos do fabianismo admitem uma convivência harmônica com as "tradições
burguesas" como propriedade privada e economia de mercado, sendo a economia
rigidamente regulada e tributada pelo Estado. O estamento burocrático atua por meio
de intervenção no mercado global para fomentar a redistribuição da riqueza produzida
e assim manter a economia funcionando de acordo com seus desígnios (empresários
amigos do regime recebem subsídios governamentais). A redistribuição de renda da
sociedade produtiva para a improdutiva, além do beneficiamento da classe
privilegiada que possui laços governamentais é outra pauta Fabiana. A submissão
empresarial ao regime vigente é amparada por protecionismo tarifário e benefícios
escusos, sintetizando assim o cerne do conceito fabianístico de ”terceira via” que
finalisticamente objetiva a manutenção do status quo ou do stablishment. O
efetividade da ”terceira via” Fabiana é dependente direto de economias ricas e
consolidadas, limitando sua implantação aos países desenvolvidos. Ludwig von Mises
(1921) desmistificou o ideal da ”terceira via” que aborda a mescla das melhores
práticas do socialismo e do capitalismo, concluindo em seus escritos que a menor
quantidade de socialismo é ferramenta suficiente para corromper funcionalmente a
liberdade de uma sociedade. As modernas economias de mercado prósperas e
capitalizadas conseguem sobreviver ao fardo tributário imposto pelas políticas da
"terceira via" com notório vigor, situação distinta do que as economias menos
desenvolvidas enfrentam. A "terceira via" ao ser adotada e implementada por antigas
repúblicas socialistas do Leste Europeu minou diversas tentativas de reforma após o
53
fim da década de 1980. Atualmente a mastodôntica regulamentação burocrática
estatal continua encarcerando múltiplos segmentos populacionais da América Latina,
da África e do Oriente Médio na prisão da restrição orçamentária.
Rockwell (2018) continua apresentando Amartya Sen, que é considerado o
idealizador do pensamento conceitual da "terceira via", por introduzir uma "face mais
humanizada" (presença de uma "dimensão ética" e uma "preocupação com os pobres"
em seus ensaios) na ciência econômica (medicina socializada, o agigantamento do
assistencialismo e um grande papel do governo em planejar a economia). Em seguida
Rockwell (2018) aponta que Amartya Sen escreveu sobre a prosperidade das nações
ocidentais, onde cita que "não é o resultado de nenhuma garantia fornecida pelo
mercado ou pela busca por lucros, mas sim devido à seguridade social que o Estado
ofertou", significando assim o mundo só tem prosperidade por conta da tributação de
riqueza promovida pelo Estado (vale destacar que a ampla rede de proteção social
soviética nunca gerou prosperidade e sim igualdade na miséria).
Ainda de acordo com Rockwell (2018), a impressão que se tem a respeito da
"terceira via" é a de que o Estado, além de ser um grande indutor da criação de
riqueza, é também formado por funcionários competentes, atenciosos e de uma
onisciência divinal, em Estado de prontidão eterna para amparar e confortar os
angustiados, fornecendo seguridade para os marginalizados, sendo que nenhum
Estado com essas características jamais existiu e não existirirá, por uma única razão:
a característica estatal única e inconfundível é o seu uso da coerção, da ameaça e da
violência, e não a sua oferta de amor. O Estado não possui recursos próprios (tudo o
que ele adquire é por meio da agressão contra as pessoas e suas respectivas
propriedades), regulamentando sua atuação por meio da violência (os subsídios, na
forma de dinheiro dado diretamente a determinados grupos de interesse, são
violentos, pois transferem riqueza de um grupo para outro sem a permissão daqueles).
Rockwell (2018) continua sua análise inferindo que a inflação monetária é uma
forma sutil e insidiosa utilizada como ferramenta estatal velada para roubar o cidadão
contribuinte, pois subtrai poder de compra do dinheiro que o Estado nos obriga a
utilizar, sendo que a "terceira via" é instável (as intervenções criam efeitos nocivos e
imprevistos), resultando numa inexorável marcha rumo à economia planejada, a
menos que alguns passos definitivos sejam dados com o intuito de retroceder o
agigantamento estatal. A "terceira via", destituída e despida de toda a sua travestida
retórica, apresenta sua real face de sistema de concentração de poder estatal e de
54
redistribuição de riqueza, o qual supostamente fará com todas as pessoas produtivas
continuem trabalhando duro para bancar todo este arranjo, não obstante o confisco
cada vez maior de sua riqueza. A verdadeira dinâmica existencial da "terceira via" não
é o préstimo ou a compaixão: trata-se, ao contrário, da batalha cruel e selvagem pelo
controle das alavancas do poder e, consequentemente, de toda a riqueza propiciada
por esse poder.
Coutinho (2010) aponta que as reformas políticas propostas pelos marxistas,
antes recomendadas para a implementação das transformações socialistas, agora
deveriam ser essencialmente reformas econômicas (redistribuição de renda) e sociais
(principalmente a seguridade social). A Sociedade Fabiana atua como um centro de
discussão intelectual (sobretudo nos dias de hoje), de propaganda e de difusão da
social-democracia (diferindo dos ideais marxistas na defesa de vários pontos, como a
conquista do governo sendo buscada no jogo político legítimo e não pela violência
revolucionária, a aceitação do pluripartidarismo, a luta de classes sendo reivindicatória
e conduzida de forma a atingir a emancipação do proletariado por meio de reformas
institucionais progressivas e a propriedade privada sendo aceita, porém condicionada
ao interesse e à sua função social) inglesa e como uma referência na Grã-Bretanha
para os socialistas, em especial de classe média, que não desejam comprometer-se
com o Labour Party. Antes da Primeira Guerra Mundial (1914-18), os fabianos tinham
pouca preocupação com o movimento socialista em outros países. Durante o conflito
adotaram até uma posição nacionalista exacerbada. Na prática política, parece que
os fabianos não têm dificuldade de entendimento com os socialistas revolucionários
(marxistas), podendo apoiá-los ou com eles fazer alianças, particularmente para
atingirem algum objetivo imediato. Na década de 1930, os fabianos acompanharam
com atenção a experiência de implantação do socialismo na União Soviética
conduzida por Lenin e Stalin. Em 1931, visitaram aquele país Bernard Shaw e, em
seguida, o casal Webb. Dão um testemunho entusiasmado da produção planejada
(economia planificada) e do controle burocrático soviético. De alguma forma dão
também uma explicação e mesmo uma justificação para a tirania e os horrores do
regime, de que já se começava a ser notícia.
Coutinho (2010) continua abordando que o fabianismo adota como uma
conduta pragmática a aceitação do “pluralismo da esquerda” (orientação política de
viés ideológico marxista da maioria dos partidos brasileiros), a alternância no poder
(ocorrida entre o PSDB e o PT nas últimas décadas no Brasil), o exercício da influência
55
político-ideológica na administração política do Estado (aparelhando grande parte das
instituições, das universidades e da mídia) e a “permeação” ideológica dos membros
do governo de modo a minar as bases do poder econômico capitalista. A "terceira via"
aceita o risco ou conveniência de facilitar a atuação do socialismo revolucionário, se
isso contribuir para a evolução da social-democracia (unindo marxistas e socialistas
fabianos para o fortalecimento da ideologia de esquerda ufanista a nível global). As
três últimas décadas testemunharam a acomodação partidária dos socialistas e
trabalhistas fabianos, moderando e acomodando sua atuação ao capitalismo. Em
termos de internacionalismo, o fabianismo tem sido sempre considerado a ala mais à
direita do movimento socialista (embora não ultrapasse o centro do espectro
ideológico e político). Ideologicamente, coloca-se em posição intermediária (viés
ideológico de centro-esquerda) entre o capitalismo liberal (viés ideológico de centro-
direita) e o marxismo revolucionário (viés ideológico de esquerda), tendo o
totalitarismo ou a ditadura um viés ideológico de extrema esquerda (Chavismo,
Maoísmo, Foquismo, Comunismo, Nazismo e Fascismo), o liberal representa o viés
ideológico de centro-direita, o conservadorismo assenta os ideais da direita e a
Anarquia (fim do Estado) ocupa o espectro ideológico da extrema direita. A sedutora
"terceira via" volta a entoar seu canto após o colapso da União Soviética (1991),
atraindo as esquerdas desnorteadas e com seus intelectuais idealistas sempre
sensíveis às novidades (os socialistas estão sempre reinventando e adaptando suas
ideologias na luta pela conquista do poder global por meio da hegemonia cultural).
Desprezando o conceito de luta classicista marxista, os socialistas fabianos em sua
maioria aceitam que a lealdade ao seu próprio país vem antes do que qualquer
lealdade ao movimento internacional do proletariado, corroborando para que
trabalhem pela preservação da paz mundial e pela crescente cooperação econômica
(formação de blocos econômicos com zonas de preferências tarifárias, zona de livre
comércio, união aduaneira, mercado comum e união política e monetária) e política
internacional (onde a consolidação do Parlamento Europeu opera como órgão
legislativo diretamente eleito da União Européia, favorecendo a expansão do
globalismo no continente europeu). Bernard Shaw, em discordância com a atitude
nacionalista fabiana, foi a favor de uma unificação do mundo em unidades políticas e
econômicas maiores (colaborando com o globalismo financiado por empresários como
George Sorel e David Rockefeller).
56
Na sequência Coutinho (2010) passa a descrever o surgimento dos ideais do
globalismo, onde os socialistas fabianos manifestaram a aspiração de um Estado
mundial do tipo tecnocrático (onde o laicismo é fomentado na sociedade), cujo germe
deveria ser o Império Britânico, com a função de planejar e administrar os recursos
humanos e materiais do planeta (governança regional progressiva até o
estabelecimento de governo global). A esse respeito, chamam a atenção as relações
de afinidade, se não de filiação, entre os fabianos e círculos globalistas anglo-saxões
como o Royal Institute of Internacional Affairs (inglês) e o Council on Foreign Relations
(americano, criado em 1919), contribuindo efetivamente para a pauta progressista
mundial e a atuação de grandes investidores do globalismo. Provavelmente, foi a partir
do conhecimento dessa ideia de império mundial e de governança transnacional
(globalismo), da existência de relações dos socialistas fabianos com intelectuais e
políticos americanos e da atuação de certas organizações não governamentais nos
Estados Unidos da América (EUA), que o Sr. Lyndon H. La Rouche Jr. engendrou a
teoria conspiratória de um eixo Londres-Nova York da oligarquia financeira
internacional para a criação de um império mundial de língua inglesa (cuja pauta dos
ideais progressistas foi seguida e difundida por organismos regionais e mundiais como
a Organização dos Estados Americanos, a Organização do Tratado do Atlântico Norte
e a Organização das Nações Unidas), com a supressão dos Estados nacionais
(minando de forma sorrateira as soberanias nacionais). Entre as organizações não
governamentais americanas, está uma denominada Diálogo Interamericano, fundada
em 1982, cujos integrantes são notáveis personalidades “permeadas” pelo socialismo
fabiano. Foi por intermédio do Diálogo Interamericano (cuja governança global dirigiu
de forma anônima os passos da nação brasileira por mais de uma década com a
conivência do chefe do poder executivo e obscurecida pela ignorância complacente
da maioria da população do Brasil) que o Sr. Fernando Henrique Cardoso uniu-se em
1982 ao movimento socialista fabiano, tendo tentado atrair também o Sr. Luiz Inácio
Lula da Silva (o líder do Partido dos Trabalhadores atuou de forma visionária e criou
o Foro de São Paulo para articular e financiar a ascenção ao poder de diversos países
da América Latina) .
57
Figura 11: organismos privados internacionais
Fonte: COUTINHO, 2010
Figura 12: personalidades do Sistema Fabiano nos Estados Unidos
Fonte: COUTINHO, 2010
58
Figura 13: movimentos ambientalistas e indigenistas mundiais
Fonte: COUTINHO, 2010
Figura 14: esquema de antagonismos Fonte: COUTINHO, 2010
59
4 CONCLUSÃO
O pensamento marxista passa por constante mutação e adaptação desde o
final do século XIX, convergindo em comum a constante luta pela hegemonia cultural.
A Escola de Frankfurt com a sua teoria crítica, Antônio Gramsci com a guerra de
posição e o Socialismo Fabiano com a sua "terceira via" têm divergências de
pensamentos (ideais), seguindo um pensamento materno marxista de agigantamento
estatal para aumentar os benefícios sociais e cujo objetivo final é a implantação do
socialismo global por meio da revolução cultural.
A superação da cultura ocidental cristã no Brasil foi articulada com base no
pensamento formado por filósofos marxistas da Escola de Frankfurt (Horkheimer,
Lukács, Benjamin, From, Adorno, Habermas, Lownthal, Neumann, Jean-Paul Sartre,
Michel Foulcault e Marcuse), cuja Teoria Crítica foi arquitetada na primeira metade do
século XX como uma autocrítica da aplicação das ideias de Karl Marx na União das
Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), principalmente no campo econômico e
cultural, além da aplicação de um criticismo kantiano direcionado ao sistema
democrático capitalista da civilização judaico-cristã ocidental. O Nazismo alemão e a
eclosão da Segunda Guerra Mundial nas décadas de 1930 e 1940 transferiram
temporariamente as ideias frankfurtianas para os EUA e seu retorno para o solo
europeu ocorreu após o fim do conflito global. Dessa maneira, estava alicerçada a
plataforma teórica e ideológica para o empreendimento de uma revolução cultural
marxista.
A descrição dos ideais da revolução cultural constante na Teoria Crítica da
Escola de Frankfurt serviria para arrancar as grades da prisão que encarcera a
civilização ocidental (onde enquadramos o Brasil), enraizada à um conservadorismo
tradicionalista moral e cristão, seria agora alvo da implantação de uma nova cultura
moderna cuja engenharia social era formulada no hedonismo (valorização do prazer,
erotismo, sexo livre, culto ao corpo, felicidade pessoal e utilitarismo), desconstrução
da família (emancipação econômica e sexual da mulher, união conjugal episódica ou
temporária, erotização precoce da criança e homossexualismo) e laicismo
(anticatolicismo, cristianismo informal e eclético, seitas ateístas, materialismo,
existencialismo, ética ateísta e amoralidade). Estavam lançadas as ideias para a
superação da Cultura Ocidental Cristã, onde um reformismo intelectual e moral
60
fomentado por palavras de ordem, factóides, jargões automatizados e clichês
mecanicistas conduziriam a sociedade alvo à um senso comum. A modificação do
senso comum é absorvida por uma atmosfera de patrulhamento ideológico onde
impera o universo do “politicamente correto” incontestável por concepção marxista e
histérico por ilogismo de atuação.
Na sequência, este estudo identifica a contribuição do pensamento do filósofo
marxista-leninista Antônio Gramsci para a superação do senso comum, busca da
hegemonia cultural e o enfoque gramscista diferenciado para o movimento socialista
global. O compilado de ideias gramscistas utilizou os principais ensinamentos
passados pela Escola de Frankfurt e redirecionou os esforços da esquerda
revolucionária do campo econômico para o terreno cultural. Dessa maneira, Gramsci
reuniu as ideias de seus pensamentos numa obra conhecida como Cadernos do
Cárcere escritos durante o período que permaneceu preso nos porões do Regime
Fascista Italiano. Nesse estudo gramscista são abordadas as categorias fundamentais
do seu ideário, abordando conceitos de sociedade civil, sociedade política e Estado.
A concepção de bloco, bloco histórico, catarse, senso comum, bom senso e consenso,
fundamentam assim o seu referencial teórico. O grande diferencial de Gramsci é
apresentado como o papel dos intelectuais, da educação, do jornalismo, da opinião
pública e da cultura para a implementação do processo revolucionário. A sequência
do tratado de Gramsci aborda estratégia revolucionária, filosofia da práxis, ação
revolucionária, senso comum modificado e por fim a concepção de revolução passiva.
A Guerra de Posição (via democrática para o socialismo) idealizada por
Gramsci e cujos fundamentos teóricos basilares foram herdados da Escola de
Frankfurt, aborda todo o postulado de ideias para a superação do senso comum e
posterior conquista da hegemonia cultural. A tomada do poder por meio da revolução
cultural (via pacífica/etapista ou luta pela hegemonia) iniciaria com a organização dos
intelectuais orgânicos, dentre os quais estão políticos socialistas das mais variadas
correntes de pensamentos, músicos, artistas, jornalistas, escritores, editores e
professores universitários. Esse conflito velado ocorreria num longo prazo, de forma
sorrateira e silente, até a chegada ao poder máximo do país hospedeiro. A conquista
do poder pela via democrática seria consolidada por uma atmosfera de aparente
normalidade onde uma suposta oposição, que também possui um viés marxista na
sua concepção, oferecia uma resistência ao governo de mandato vigente. A sucessão
61
governista ocorreria entre esquerda revolucionária, esquerda reformista e esquerda
filo-socialista, gerando um clima interno de normalidade institucional democrática.
O ponto de inflexão do processo revolucionário de implantação do socialismo e
do comunismo ocorre no momento de tomada do poder. A Revolução Russa de 1917
gerou uma crise interna no país, causou uma ruptura com o sistema político, tomou o
poder, anulou o Estado burguês, impôs uma nova ordem, rompeu com a tradição
cultural e implantou o comunismo. A dissimilitude do processo revolucionário socialista
marxista para o comunista russo, ocorre quando o primeiro chega ao poder máximo
do país pela via democrática eleitoral, enquanto que o segundo se apodera do poder
de forma violenta como foi apresentado anteriormente.
Após a chegada ao poder, os partidos de esquerda de viés socialista marxista
iniciam a implementação de um corporativismo partidário, aparelhando rapidamente a
máquina administrativa do Estado (conquista do governo e acumulação de forças),
criando novos cargos em diversos escalões do governo federal, estatal e municipal.
Novas empresas estatais são criadas durante a gestão esquerdista para aumentar a
capilaridade partidária e o alcance governamental. Os principais cargos institucionais
de 1º escalão começam a ser mobiliados por indicação ideológica, facilitando o
rastreamento de ações investigativas que pudessem retirar do poder governantes que
praticassem a cleptocracia. Neste momento a etapa econômica de assalto aos cofres
públicos é lançada, a diretoria dos bancos estatais é ocupada por socialistas que
concedem financiamentos para regimes totalitários amigos de outros países para
financiamento de obras de grande envergadura e construtoras de países que cederam
os empréstimos executam as construções superfaturadas para repassar os recursos
excedentes para os partidos governistas que o benefiaram. Dessa maneira, o partido
esquerdista que está exercendo a governabilidade (democracia como instrumento de
tomada permanente do poder) aumenta de forma exponencial o seu fluxo de recursos
que servirão no futuro para o enriquecimento ilícito dos líderes marxistas e ainda
financiarão as campanhas eleitorais, servindo para catapultar a permanência no poder
(continuísmo no Governo, ocupação do Estado e acumulação de Forças).
Vencida a etapa econômica (idealizada pela Escola de Frankfurt), os partidos
esquerdistas passam a financiar a luta pela hegemonia cultural gestacionada por
Gramsci (reforma intelectual e moral, superação do senso comum, conscientização
político-ideológica e chegada ao consenso). O imaginário popular é agora construído
por canções, novelas, noticiários, notícias de jornais e reportagens de revistas, cujos
62
editoriais recebem uma considerável quantidade de recursos públicos para
promoverem a agenda progressista global. A rede televisionada local de maneira
enviesada alavanca a carreira dos artistas que compactuam de seus pensamentos
ideológicos. O corpo jornalístico é formado dentro da utopia ideológica do ambiente
universitário dominado por um corpo docente de maioria marxista. As universidades
tomadas por socialistas mediocrizam a produção do capital intelectual da nação,
passando diplomas a uma legião de analfabetos funcionais.
Após o domínio exercido sobre a intelectualidade orgânica é chegado o
momento de formar um consenso de ideias sobre a sociedade civil. O homem
“politicamente correto” entra em cena, vomitando frases de efeito pré-programadas,
recebendo apoio irrestrito de toda a mídia e da máquina estatal. Sob a direção da nova
intelectualidade orgânica (além dos partidos marxistas) e conduzidos pela
amoralidade institucionalizada, a classe burguesa é anulada (organização do aparelho
privado de hegemonia, organização das classes subalternas, neutralização das
trincheiras da burguesia e reorganização da sociedade civil) de forma passiva e o
Estado segue mais fortalecido. Excluída do cenário nacional, a classe burguesa abre
o caminho para a imposição da nova ordem socialista. A vitória na luta pela hegemonia
cultural (hegemonia das classes subalternas, democracia, governo do povo, onde a
burguesia é não povo) pavimentou e antecipou o processo transitório para o
socialismo, a direção intelectual/moral permite a prática da Democracia Direta (a
democracia como homônimo de socialismo, sendo de classe, popular, profunda e
radical) e confirma a eficiência da concepção revolucionária de Antônio Gramsci.
A Sociedade Fabiana entra em cena no ano de 1889 buscando essa transição
para a social-democracia proposta por Gramsci. O Fabianismo é parte do Socialismo
reformista que observa o contexto do Estado liberal-democrático como sendo um
aliado para alcançar os objetivos da classe trabalhadora, abandonando algumas
ideias utópicas marxistas e tornando-se a alternativa preponderante do socialismo
ocidental.
As organizações de esquerda no Brasil se dividem em Esquerda
Revolucionária, Esquerda Reformista e Esquerda Filo-socialista. A esquerda
Revolucionária é historicamente ligada aos movimentos libertários (Revolução
Francesa) sendo organizada em Marxista-leninista (Comunista), Socialista
(Heterodoxo), Anarquista e Campesina (Maoísta e Foquista). A Esquerda Reformista
é integrada pelos Fabianistas e pela Internacional Socialista. A Esquerda Filo-
63
socialista é composta pela Esquerda Clerical e pela Esquerda Populista. O Marxismo-
leninismo da Esquerda Revolucionária é composto por dissidências ortodoxas (Partido
Comunista do Brasil-PC do B e Partido Comunista Brasileiro-PCB), Trotskistas
(Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado - PSTU, Partido da Causa Operária -
PCO e Partido Socialismo e Liberdade - PSol) e Gramscistas (Partido Popular
Socialista - PPS e Partido Socialista Brasileiro - PSB). O Socialista (Heterodoxo) da
Esquerda Revolucionária é integrado por Socialismo Laborista (Partido dos
Trabalhadores - PT) e Socialismo Ecologista (Partido Verde - PV). O Anarquismo da
Esquerda Revolucionária é liderado pelo Movimento Sectário (Foro Social Mundial de
Porto Alegre - FSM e ONGs). A dissidência Campesina (Maoísta e Foquista) da
Esquerda Revolucionária é composta pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST). O movimento Fabianista da Esquerda Reformista é composto por
dissidências da Social-democracia Inglesa (Partido da Social Democracia Brasileira -
PSDB). O movimento Internacional Socialista da Esquerda Reformista é integrado por
dissidências da Social-democracia Europeia (Partido Democrático Trabalhista - PDT).
O movimento da Esquerda Clerical da Esquerda Filo-socialista é composto pelo
Movimento da Teologia da Libertação (cujo mentor intelectual é o teólogo Leonardo
Boff) e a Igreja Progressista. O movimento Esquerda Populista da Esquerda Filo-
socialista é composto por dissidências do Antigo Trabalhismo brasileiro atuante no
período entre 1930 e 1960.
Por fim, os frankfurtianos propuseram reformas econômicas e culturais (teoria
crítica) como um estudo crítico às ideias propostas por Karl Marx, sendo seguidos por
Gramsci e a sua busca de superação do senso comum (guerra de posição) para a
conquista hegemônica cultural e os socialistas fabianos ("terceira via") contrapondo
grande parte do pensamento marxista e admitindo uma convivência harmônica entre
o capitalismo e o socialismo convergindo esforços de partidos de viés esquerdistas,
agindo de forma silente e dominando o cenário político global. A guerra pela
hegemonia cultural teve consideráveis vitórias ao longo de mais de um século e o
mundo caminha a passos largos rumo à implementação de um governo global.
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