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Teatro I - Volume 6
Raymundo Magalhes Jnior
( biblioteca educao cultura RJ - 1980)
ORIGEM DO TEATRO ..............................................................................................................3A tragdia clssica ...................................................................................................................5A comdia clssica ..................................................................................................................6
A COMDIA ROMANA ............................................................................................................7A TRAGDIA ROMANA ..........................................................................................................8
O TEATRO NA IDADE MDIA ...............................................................................................9TEATRO NO RENASCIMENTO ............................................................................................10
O primado da comdia ..........................................................................................................16NASCIMENTO DO TEATRO PORTUGUS .........................................................................18O TEATRO INGLS DA RESTAURAO ............................................................................19O TEATRO NA FRANA AT A REVOLUO...................................................................20O TEATRO ALEMO DO SCULO XVIII ...........................................................................21O TEATRO ROMNTICO NA FRANA. ..............................................................................22O TEATRO ESCANDINAVO..................................................................................................23O TEATRO RUSSO ..................................................................................................................24COMPANHIAS ITINERANTES ..............................................................................................25O TEATRO DO ABSURDO .....................................................................................................26TEATRO NORTE-AMERICANO ............................................................................................27O TEATRO NO BRASIL ..........................................................................................................27
O teatro no Brasil Colonial ...................................................................................................27O Teatro depois da Chegada de D. Joo ...............................................................................29O Teatro no Primeiro Reinado ..............................................................................................31
A INFLUNCIA DE JOO CAETANO ..................................................................................32Autores Brasileiros ................................................................................................................33
Novos Autores Nacionais ...................................................................................................... 35Macedo e Alencar ..................................................................................................................35
Outros Autores do Mesmo Perodo .......................................................................................37Autores No Representados ..................................................................................................38A pera Nacional ..................................................................................................................38A Influncia de Furtado Coelho ............................................................................................40O Teatro de Revistas .............................................................................................................42O Teatro de Comdia no Princpio do Sculo .......................................................................44A Companhia de Leopoldo Fres ..........................................................................................44Procpio e os Autores de Seu Tempo ....................................................................................46Companhia Jaime Costa ........................................................................................................47O Teatro-Escola, de Renato Viana .......................................................................................48Companhia Dulcina-Odilon .................................................................................................49
O Teatro de Opereta ..............................................................................................................50Pascoal Carlos Magno e o Teatro do Estudante ....................................................................50Escolas de Teatro ...................................................................................................................51
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Teatro Experimental do Negro ..............................................................................................52Atrizes Cmicas ....................................................................................................................52Teatro Infantil ........................................................................................................................53Os Amadores de Pernambuco ...............................................................................................54
Os Comediantes ....................................................................................................................54Companhias de Curta Durao .............................................................................................55Companhia Eva Todor ...........................................................................................................56Teatro Brasileiro de Comdia ................................................................................................56Companhia Cacilda Becker ...................................................................................................57Companhia Tnia-Celi-Autran ..............................................................................................57Teatro de Bolso .....................................................................................................................58Autores de Monodramas .......................................................................................................59Companhia Srgio Cardoso-Ndia Lcia ...............................................................................60Companhia Maria Delia Costa ..............................................................................................60Companhia Nacional de Comdia .........................................................................................61
Companhia Fernanda Montenegro-Fernando Torres ............................................................62GLOSSRIO ............................................................................................................................63BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................65
ORIGEM DO TEATRO
A palavra teatro e significa um general de arte e tambm uma casa, ou
edifcio, em que so representados vrios tipos de espetculos. Ela provm da
forma gregas theatron, derivada do verbo ver" (theaomil) e do substantivo vista"
(thea), no sentido de panorama. Do grego, passou para o latim com a forma de
theatrum que, atravs do latim, para outras e lnguas, inclusive a nossa. Mas o teatro
no uma inveno grega, espalhada pelo resto do mundo. uma manifestaoartstica presente na cultura de muitos povos que se desenvolveu a
espontaneamente em diferentes latitudes, ainda que, na maioria dos casos, por
imitao. Antes mesmo do florescimento do teatro grego da Antiguidade, a
civilizao egpcia tinha nas representaes dramticas uma das expresses de sua
cultura. Essas representaes tiveram origem religiosa, sendo destinadas a exaltar
as principais divindades da mitologia egpcia, principalmente o Osres e sis. Trs mil
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e duzentos anos antes de Cristo j existiam tais representaes teatrais. E foi do
Egito que elas passaram para a Grcia, onde o teatro e teve um florescimento
admirvel, graas genialidade dos dramaturgos gregos. Para o mundo ocidental, a
Grcia considerada o bero do teatro, ainda que a precedncia seja do Egito.
Mas no continente asitico o teatro tambm existia, com outras
caractersticas, que ainda hoje o singularizam. Na China, por exemplo, o teatro foi
estabelecido durante a dinastia Hsia, que se prolongou o do ano 2205 ao ano 1766
antes da era crist. Portanto, o teatro chins o segundo, cronologicamente, antes
mesmo do teatro grego. Como no Egito, surgem tambm com caractersticas rituais.
Mas, alm das celebraes de carter religioso, passaram tambm a ser evocados
os xitos militares e outros acontecimentos. O assim, as profisses e danas foram
cedendo lugar forma dramtica. A ndia comeou a desenvolver seu teatro cinco
sculos antes da era crist, depois do aparecimento de seus poemas picos
Mahabharata e Ramayana, que so as grandes fontes de inspirao e dos primeiros
dramaturgos indianos. Pases to distantes como a Coria e Japo, mesmo sem
contato com o mundo ocidental, desenvolveram a seu modo formas prprias de
teatro - a Coria ainda antes da era crist e o Japo durante a idade mdia (o
primeiro dramaturgo japons, o sacerdote Kwanamy Kiyotsugu, viveu entre os anos
de 1333 e 1384 da era crist).
O TEATRO GREGO
No mundo ocidental, a influncia do teatro grego foi a avassaladora e se
prolonga at os nossos dias, atravs da sobrevivncia de muitas de suas criaes,
trgicas ou cmicas. O florescimento do teatro grego recebeu grande impulso
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quando um autor e ator chamado Thespis comeou a percorrer as cidades com um
carro que fazia as vezes de um palco, ao redor do qual os espectadores se reuniam.
Thespis rompeu com a tradio das reclamaes em coro, apresentando-se em
papis destacados, como protagonista, isto , como principal (proto) ator (agonista).
Para animar o teatro, com cursos de tragdia foram institudos pelo ditador
Pisstrato, general vitorioso que se apoderou do governo de Atenas, em Thesps foi o
vencedor do primeiro desses concursos, no ano 534 antes de Cristo, mas nem a
tragdia vencedora, nem outras que ele escreveu, chegaram at ns. O carro de
Thespis no tardou a ser substitudo por teatros construdos ao ar livre, com
capacidade para centenas de pessoas, acomodadas em assentos dispostos em
semicrculos que iam se elevando a medida que se distanciavam da plataforma, ou
palco, onde os atores declamavam. As colinas de alguns desses teatros testemunho,
nos nossos dias, o interesse do mundo antigo pelas representaes teatrais, a
principal forma de diverso popular ento existente.
A tragdia clssica
As caractersticas da tragdia eram a linguagem elevada, a luta dos seres
humanos contra a fatalidade, ou destinos adversos, a abertura de e a nobreza dos
sentimentos, o estoicismo em face da morte, do luto, do sacrifcio de vidas. A
finalidade da tragdia era emocionar, comover, provocar a lgrimas, fazer com que o
espectador se identificasse com heris, ou protagonista, e com a causa por ele
sustentada, que enobrecendo-se ou purificando-se. O mais antigo dos autores
trgicos gregos cujas obras chegaram para ns squilo, que viveu entre os anos
525 e 456 antes da nossa era. Por vrias vezes ele concorreu aos concursos de
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tragdias e Atenas, mas s veio obter o primeiro prmio no ano 467 antes de Cristo,
com Sete contra Tebas. Depois, conquistou o por mais doze vezes. Das 70 a 90
peas que escreveu, apenas essa e poucas outras foram preservadas. Entre elas As
suplicantes, Os persas, a trilogia da Orestade (contendo Agamenon, Cforas e
Eumnides) de Prometeu acorrentado.
Contemporneo de squilo e 28 anos mais novo do que este, Sfocles foi
outro competidor assduo dos concursos de tragdias, em que tem um foi nada
menos de dezoito vezes, sendo em vrias outras ocasies o detentor do segundo
lugar. De suas numerosas peas chegaram at ns Antgona, dipo, Electra, As
mulheres de Trquinis etc. Eurpedes, contemporneo de Sfocles, nascido no ano
480 antes de Cristo, completa a grande trindade da tragdia grega. De suas oitenta
e tantas obras, sobreviveram entre outras as tragdias Andrmaca, cuba, As
Troianas, Media, Ifgnia, em Turida, e Hiplito. Foi um verdadeiro reformador da
tragdia, tornando coro independente da ao, comentando-a, mas no participando
dela. Era mais pattico e mais preocupado com a anlise psicolgica dos
personagens, razo pela qual mais moderno e est mais perto da nossa
sensibilidade do que squilo e Sfocles.
A comdia clssica
J existiu algumas peas de carter satrico, de autores trgicos, quando
surgiu na Grcia e o poeta cmico Aristfanes, considerado o pai da comdia
clssica. Enquanto a tragdia exaltava as virtudes e os sentimentos nobres, a
comdia satirizar dos excessos, a dissipao, a falsidade, o embuste, os
sentimentos mesquinhos. E, sendo o avesso da tragdia, no pretendia comover,
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mas fazer rir. No foi outra coisa que Aristfanes pretendeu e conseguiu com As
Vespas, As Rs , As Nuvens , As Mulheres no Parlamento, Lisstrata de outras de
suas obras. Escrevendo com grande liberdade e fantasia, sua atividade de
comedigrafo foi importantssima, contribuindo notavelmente para a popularizao
do teatro e elevando os gregos a identificar seus prprios defeitos e a rir deles.
Aristfanes viveu, ao que se presume, entre os anos 400 e 380 antes da nossa era.
Seu sucessor imediato foi Menandro, que se presume ter vivido entre os anos 342 e
291 antes de Cristo, mas nenhuma de suas obras sobreviveu na forma original. Dele
existem apenas as adaptaes latinas de algumas de suas comdias pelos autores
romanos Plauto e Terncio. Nada sobreviveu de outros autores de comdias que o
sucederam, como Filmon, Dfilas e Posdipo .
A COMDIA ROMANA
Com o apogeu de Roma, os romanos voltados para a cultura ateniense,
admirada a tal ponto que o estudo do idioma grego que se tornou generalizado entre
suas classes superiores, os espetculos teatrais passaram a rivalizar com as lutas
entre gladiadores. O teatro romano era, de incio, uma simples imitao do teatro
grego. Dois notveis imitadores das comdias gregas foram Tito Maccio Plauto e
Terncio Pblio Afro, mais conhecidos como Plauto e Terncio. No se sabe ao certo
quando nem onde nasceu Plauto, mas apenas que ele teve origem humilde e viveu
no segundo sculo antes de Cristo. Autor de uma centena de comdias, delas s a
quinta parte chegou at ns. Entre elas esto Amphitruo ( Anfitrio), Miles Gloriosus
( O soldado fanfarro), Menaechmi (Os ssias) , Pseudolus (O trapaceiro),
Mostellaria (Os espritos) etc. Uma dessas, Menaechmi, que iria ser imitada por
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Shakespeare em A comdia dos erros. E outra, Amphitruo, viria a ser imitada por
Molire em Anfitrio. Quanto a Terncio, era um jovem cartagins que foi
escravizado e levado para Roma, onde passou a servir como criado do poeta
Lucano, que o fez instruir e o libertou, dando-lhe o seu prenome, Terncio. O ex-
escravo escreveu numerosas comdias, entre as quais Andria , O eunuco , Os e
irmos, O punidor de si mesmo, Formione e A sogra. Algumas vezes, valeu-se das
mesmas fontes gregas a que Plauto recorrera, mas dando a essas fontes um
tratamento diverso, com fortes contribuies pessoais. Mas teria deixado se no
houvesse morrido com apenas 34 anos, no naufrgio de um navio, a caminho da
Grcia, no ano 159 antes de Cristo.
A TRAGDIA ROMANA
A tragdia no despertou em Roma o mesmo interesse que as comdias. Seu
principal cultor na Antiguidade romana foi Lucio Aneu Sneca, filsofo que serviu de
preceptor ao futuro imperador Nero. Nascido no ano 4 ou 5 antes de Cristo, Sneca
escreveu uma srie de tragdias, mais destinadas a serem lidas do que a serem
representadas, em geral imitando os grandes autores gregos. Entre outras Hrcules
furioso, As fencias, Media, Fedra, Hiplito, dipo, Agamenon, umas imitadas de
squilo, outras de Eurpedes. Mas no foi simples imitao a tragdia de sua prpria
vida, primeiro desterrado na Crsega pelo imperador Cludio como amante adltero
de sua sobrinha Jlia Livilla, e aos 70 anos condenado morte, como conspirador,
pelo ex-pupilo Nero, tendo abertos s vezes para expirar junto a esposa. Suas
tragdias viriam a ter considerada influncia no teatro europeu, depois de traduzidas
pelos humanistas do renascimento.
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O TEATRO NA IDADE MDIA
Depois do advento do cristianismo, o teatro sofreu acentuado declnio de,
durante a idade mdia a, foi vivamente combatido pela igreja catlica, que no via
com bons olhos a concorrncia que os espetculos, jogos e diverses de toda
espcie faziam as festividades religiosas. As atrizes passaram a ser equipadas as
prostitutas. Contudo, no sculo 6 da nossa era, o imperador Justiniano I seapaixonou por uma atriz, Teodora, admirada em Constantinopla por sua grande
beleza, com ela se casando. Esse soberano do imprio romano do oriente decretou
que os membros do patriciado, isto , da nobreza, poderiam se casar com atrizes,
desde que estas renunciasse sua profisso. Mas, sob presso, acabou por
decretar o fechamento dos teatros de Constantinopla. Os conclios da igreja catlica,
muito antes disso, como acontecerem Cartago e em Arras, este no ano de 452, j
haviam decretado que"histries ( comediantes) no poderiam receber a sagrada
comunho, enquanto permanecessem ligados a tal profisso". Outro conclio, em
691, a ameaou suspender as ordens do sacerdotes que comparecessem
representaes teatrais e tornou os leigos passveis de excomunho. O imperador
Carlos Magno, do imprio romano do ocidente, que reinou do ano 800 ao ano de
814, abaixou um decreto proibindo os atores de se apresentarem no palco em
quaisquer vestes sacerdotais, sob pena de castigo moral o banimento.
Com o abastardamento do teatro e as perseguies cada vez maiores a
profisso teatral, os espetculos foram reduzidos a simples proezas de
saltimbancos, malabaristas, cantores ambulantes, pantomimas e palhaadas, em
feiras e circos, para o gozo da populaa. Mas a reao comeou a se processar, aos
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poucos, e a prpria igreja catlica, pondo de parte seus preconceitos, acabaria por
utilizar o teatro como meio de fazer proselitismo e de se comunicar com o povo.
Cenas bblicas, transformadas em pequenas peas teatrais, chamadas mistrios,
passaram a se representadas em arenas, ou mesmo no adro das igrejas, sendo que
os atores eram algumas vezes recrutados entre padres, monges e irmos leigos.
Alguma dessas pestes se chamava O jogo de so Nicolau( escrita no sculo 13 por
Jean Bodel, poeta francs, autor de canes de gestas) e O milagre de So Tefilo
( escrita pelo trovador francs Rutebeuf), ao passo que outras eram annimas, como
Os milagres da nossa senhora, A ressurreio de Lzaro, A na atividade de nosso
senhor, A matana dos inocentes, O mistrio dos reis magos, O mistrio do ato dos
apstolos etc. Remanescentes desse antigo teatro religioso so ainda em nossos
dias as representaes ao ar livre do drama da paixo de Cristo em Oberamergau,
na Baviera, um dos estados da repblica federal da Alemanha, em Nova Jerusalm,
no estado de Pernambuco, no Brasil, assim como a famosssima Cantata dos
pastores, que os napolitanos em cena um todos os anos na Itlia.
TEATRO NO RENASCIMENTO
Quando a idade mdia chegou fim, a situao do teatro j era bem melhor e
ia comear uma fase ainda mais propcia com o renascimento, como chamada
poca que se seguiu as grandes navegaes, aos descobrimentos de novas terras,
a inveno da imprensa e divulgao das grandes obras da Antiguidade, traduzidas
para os idiomas europeus. As universidades, que eram poucas na idade mdia, se
multiplicaram. Houve um florescimento extraordinrio da arquitetura, da pintura, da
escultura e tambm do teatro. Na Alemanha um simples sapateiro, chamado Hans
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Sachs, tomado de paixo pelo teatro, e escreveu numerosas tragdias, dramas,
comdias e alegorias, ora explorando temas gregos, como o de Clitenestra, ora
temas bblicos. Na Itlia, o poeta Lodovico Ariosto e escreveu comdias encenadas
na corte de Ferrara e o florentino Noccol Machiavelli compor uma das obras-primas
do teatro renascentista italiano, A mandrgora (La Mandragola), ainda hoje
representada e h pouco convertida em filme. No sculo 16, chegou ao apogeu, na
Itlia, a Comedia dell'Arte, a assim chamada porque, nela, o talento e a capacidade
de improvisao dos artistas sobrepujavam o texto literrio. A Commedia dell'Arte
tinha personagens fixos, tais como Arlequim, Scaramuccia, Brighela, Pantalone etc.,
os quais desenvolviam sua representao em de acordo com as caractersticas de
tais tipos. Os autores escreviam apenas um breve resumo da intriga, fixando a linha
geral das situaes, o acontecimentos, que deixavam o dilogo inteiramente por
conta dos intrpretes. Alm disso hbeis improvisadores, os artistas da Commedia
dell'Arte eram tambm grandes mmicos, transmitindo a comicidade tanto por suas
palavras, como por gestos e atitudes. Graas a isso, a Commedia dell'Arte
conseguiu fazer sucesso, por longo tempo, na Frana, influenciando bastante o
teatro francs. Ao mesmo tempo que surgiam atores de talento e melhorava a
qualidade das representaes, realadas por cenrios pintados, um grande arquiteto
italiano Andrea Paldio, iniciava a construo do primeiro teatro coberto, onde erapossvel representar com qualquer tempo, mesmo com chuva ou quedas de neve,
para um pblico de 3000 pessoas. Foi este o teatro Olmpico, de Vicenza,
completada por seu discpulo Vincenzo Scamozzi em 1588 - oito anos aps sua
morte - e at hoje preservados como um verdadeiro monumento histrico.
Quando a Itlia j tinha seu primeiro teatro coberto, verdadeiro primor de
arquitetura, apresentando no palco, em perspectivas, as ruas de uma cidade, como
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cenrio fixo, em outros pases as representaes continuavam ser feitas ao ar livre.
Na Espanha, por exemplo, eram realizadas em ptios de estalagens, estbulos e
currais a abandonados. Era o que fazia a primeira companhia profissional
espanhola, organizada pelo autor, ator e empresrio Lope de Rueda, que viveu entre
1510 e 1565. Os primeiros teatros de Madrid tiveram nomes como Corral de la
Pacheca e Corral de la Cruz, por terem sido estabelecidos em velhos currais. O
primeiro teatro coberto de Madrid foi o Corral de la Pacheca, onde se estabeleceu
uma companhia italiana que, no querendo perder dinheiro na estao chuvosa,
construiu um teto sobre o palco e parte da platia. Em 1582, ou Corral de la
Pacheca foi reconstrudo, como um autntico edifcio, trocando ento o nome, no
para teatro, mas para Corral del Prncipe . O Corral de la Cruz, construdo em 1579
como teatro aberto, mas com algumas novidades, como a colocao de camarotes e
de uma seo s para mulheres, procuro o adaptar-se ao novo estilo. Depois de
Lope de Rueda, surgem na Espanha outras figuras importantes da dramaturgia, a
comear por Juan de la Cueva, que viveu entre 1550 e 1610 e foi autor de
numerosas peas, uma das quais era ainda muito representada no sculo passado,
Os sete infantes de Lara. Outro ator da mesma poca foi Miguel de Cervantes, ator
do drama Cativeiro em Argel, sobre suas prprias aventuras como prisioneiro dos
argelinos, e a tragdia O cerco de Numncia, alm de numerosos entremeses, opeas curtas. Mas a forma do romancista do dom Quixote de la mancha obscureceu
quase inteiramente sua atividade teatral.
A chamada " idade de ouro" do teatro espanhol e comea verdadeiramente
com Lope Flix de Vega Crpio, ou simplesmente Lope de Vega, que escreveu
centenas de peas, algumas das quais permanecem vivas interessantes, ainda hoje,
como Fuente Ovejuna que El Perro del Hortelano. Na sua febre de produo, ele se
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valia de toda espcie escrito alheios, uns tirados da bblia, outros da mitologia, na
histria, das crnicas, baladas, lendas, vidas de santos etc. Entre seus
continuadores est Guilln de Castro, nascido em 1569, sete anos depois de Lope
de Vega, mas desaparecido quatro anos antes desse, num ano de 1631. Guilln de
Castro lembrado principalmente pelas peas que escreveu o sobre Rodrigo Dis
de Bivar, mais conhecido como "El Cid", uma delas intitulada Las Mocedades del
Cid. foi o autor tambm de O conde de Alarcos e fez uma dramatizao do dom
Quixote. Juan Ruiz Alarcn y Mendoza, conhecido apenas como Alarcn, nascido no
Mxico em 1580, mas criada educado na Espanha, escreveu cerca de 20 comdias,
entre as quais A verdade suspeitas (La Verdad Sospechosa), que seria depois
imitada na Frana e na Itlia. Tirso de Molina ps em cena a figura de D. Juan em El
Burlador de Sevilla (burlador tem o sentido de enganador, ou sedutor). Outro
espanhol, Luis Vlez de Guevara, dramticos ou a tragdia de Ins de Castro, sob o
ttulo de Reinar depois de morrer.
Os teatros, na Inglaterra, continuavam a ser abertos, representando os atores
numa plataforma e ficando pblico de p, perto desta, ou no fundo, sentado em trs
galerias dispostas em semicrculo. Ainda assim, foi extraordinrio o florescimento
desse teatro, sob o reinado da rainha Elizabeth I. Prevalecia, naquele pas, o mais
arraigado preconceito contra a profisso teatral, s a exercida por homens. Ospapis femininos eram representados por rapazes, que se vestiam com mulheres,
imitando a voz que fosse ademanes destas. Os autores e eram considerados vadios
e vagabundos. E, para no serem incomodados pela polcia, tinham de obter a
proteo de altas personalidades da nobreza britnica, que os empregavam como
seus criados e, por isso, fora do palco, vestiam a libr da criadagem desses nobres.
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Os autores desse perodo ficaram conhecidos como os " dramaturgos
elizabetanos". Dentre eles, o mais notvel foi William Shakespeare, nascido em
Stratford, em que 1564 e desaparecido em 1616. Deixou ele que cerca de 35 peas
- dramas histricos, tragdias e comdias - ainda hoje representados com sucesso
pelos mais famosos artistas, tanto na Inglaterra como no resto do mundo.
Do mesmo modo que o espanhol Lope de Vega, Shakespeare se valeu de
diversas fontes - crnicas histricas, biografias escritas por Plutarco, contos e
novelas de autores italianos, bem como o peas escritas por seus antecessores.
Assim, comoveu o mundo com a histria dos amores trgicos de Romeu e Julieta,
de Otelo e Desdmona, com as tragdias do rei Lear, de Hamlet e de Macbeth, do
mesmo modo que fez rir com as alegres peripcias das Alegres comadres de
Windsor, com os quiproqus de A noite de reis, com as hilariantes incidentes de A
megera domada e vrias outras comdias. Fez ressurgir do passado as figuras de
Jlio Csar e de Coriolano e, em fundindo extraordinrio vigor dramtico aos
estudos biogrficos de Plutarco. E apresentou um do mgico, cheios de poesia de
fantasia, em A tempestade.
Entre seus contemporneos, um dos que mais se distriburam foi Ben
Johnson, o autor de Volpone, admirvel comdia ainda representada com sucesso e
convertida em filme. Muitos outros autores importantes surgiram, mas o teatro inglsno tardou a sofrer a um grande golpe com a guerra civil que colocou no poder
Oliver Cromwell. Os puritanos, que viam o teatro com maus olhos, conseguiram
fechados por uma lei do parlamento em 1642, permanecendo os artistas teatrais
privados de exercer a sua profisso por nada menos de dezoito anos!
Bem diversa era a situao do teatro na Frana onde passou a ser a diverso
preferida da corte e da alta aristocracia. Os reis e prncipes protegiam autores e
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artistas. Isso propiciou aparecimento de grandes figuras, que deram o oitavo impulso
dramaturgia e a arte teatral francesa. O cardeal Armand Jean Du Plessis, duque
de Richelieu, que governou a Frana como principal ministro de Lus XIII, o jovem rei
por ele completamente dominado, era um entusiasta das letras e do teatro. Em
1636, resolveu ele comissionar cinco jovens autores franceses, a fim de que, bem
remunerados, ocupassem o seu tempo em que escrever peas teatrais para corte. A
essa altura, um deles, Pierre Corneille, tinha 30 anos de idade e j era autor de
algumas comdias, entre as quais A iluso cmica, que de uma tragdia, Media,
baseada na de Eurpides. Corneille durou pouco tempo em tal funo, por ser fora
demais independente e por alterar ou recusar os assuntos que eram sugeridos. Seu
maior sucesso, logo depois de A iluso cmica, foi a pea O Cid, imitada em alguns
trechos e, noutros, literalmente traduzido do original espanhol de Guilln de Castro.
Mesmo depois de rompido o seu contrato, esse drama foi representado, por duas
vezes, no teatro particular do Duque de Richelieu. Outro grande sucesso de
Corneille foi o de Le Menteur (O mentiroso), em que se valeu da trama de outra pea
espanhola, A verdade suspeita (La verdad sospechosa), de Alarcn. Corneille
escreveu tambm tragdias como Cina , A morte de Pompeu, uma nova verso de
dipo etc. tudo isso lhe valeu se eleito para a academia francesa. Mas depois entrou
em declnio, escrevendo peas que no obtiveram o favor pblico, como tila eAgesilau. Algumas foram representadas no castelo do marqus de Sourdac, no
Marais, e outros no do hotel de Bouegogne.
O outro grande dramaturgo da poca, Jean Racine, nasceu em 1639, quando
Corneille contava 33 anos. Amigo de La Fontaine e de Boileau, poetas que ainda
no haviam alcanado a fama, conquistou tambm estima de Molire, ator e autor
de comdias, que em 1658 se fixara Palais-Royal, tempo Paris, com sua companhia,
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sob a proteo da corte de Luis XIV. O talentoso Jean Racine, aos 25 anos, vi esse
representada, no Palais-Royal, pela companhia de Molire, a sua primeira pea, A
Tebida, ou Os irmos inimigos. J a segunda pea, Andrmaca, era assim
reconhecido como um grande dramaturgo e tambm, como um ingrato, pelo menos
por Molire, pois romper com este e se fora para o hotel de Bourgogne, para l
levando a melhor atriz do Palais-Royal, Mlle, Du Parc, de quem se tornar amante.
Mais, ainda: quando Molire comeou a ensaiar a pea de Corneille, Tito e Berenice,
Racine resolveu escrever a pea Berenice, sobre o mesmo assunto ( os amores de
imperador romano com a filha de Salom e sobrinha de Herodes), levada a cena
uma semana depois daquela. A rivalidade entre Racine e Corneille animou bastante
o teatro francs da poca. Outras tragdias de Racine, Britannicus, ainda hoje
representada, teria exercido forte influncia sobre Lus XIV, atravs da severa crtica
s veleidades artsticas de Nero, um dos personagens da pea. Depois disso, o rei
deixou de se apresentar nos bailes e outros divertimentos da corte, em que tinha o
capricho de se exibir. Voltado para o mundo antigo, a assim escreveu peas como
Alexandre, Esther, Mitrdades, Fedra, Ifignia em ulida etc. E s uma vez escreveu
uma comdia, sob tipos franceses contemporneos, Les Plaideurs (Os litigantes),
tambm em versos, como seus dramas e comdias.
O primado da comdia
Jean-Baptiste Pequelin, nascido em 1622, filho de um estofador e tapeceiro,
de desviou-se das atividades paternas para adotar a profisso de comediantes que
se tornou famoso em todo mundo como Molire, nome da pequena cidade em que
representou pela primeira vez em que escolheu como pseudnimo. Cmico, por
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excelncia, a falta de repertrio adequadas o talento o levou a refundir e a compor
peas divertidas e movimentadas. Escrevendo ora em versos, como Corneille e
Racine, ora em prosa, legou ao teatro francs verdadeiras obras-primas, com todo
uma galeria de tipos admiravelmente desenhados, tais como Tartufo ,Harpago ,
Alceste etc. Protegido pelo irmo do rei, comeou por se apresentar no teatro Petit-
Bourbon, no Louvre, e depois no Palais- Royal, em dias alternados, pois a tambm
eram dados espetculos da commdia dell'Arte, cuja companhia era liderado por
Tibrio Fiorelli, um famoso Scaramouche, o Scaramuccia. Em Paris, a primeira de
suas peas, que Molire ousou representar, foi a farsa Le Docteur Amoureux (O
mdico apaixonado), que obteve imediato sucesso. Depois do fracasso de uma
tragdias de Corneille, intitulada Nicomedes, Molire apresentou, no mesmo
programa, duas outras peas suas, L'tourdi, ou Les Contretemps (O estouvado, ou
Os contratempos) Le Dpit Amoureux (O despeito amoroso). Tentou a tragdia,
com um pea de assunto espanhol, dom Garca de Navarra, mas fracassou, porque
o seu domnio era o da comdia e da farsa. Em 1664, escreveu para uma festa em
Versailles Le Mariage Forc (O casamento forado), em que o prprio rei, Louis 14,
tomou parte, no papel de um cigano ( isso aconteceu de 5 anos antes da encenao
e de Britannicus, de Racine). Entre as peas mais famosas de Molire esto O
misantropo, O avarento, As preciosas ridculas, O burgus gentil-homem, Tartufo,Escola de mulheres, Escola de maridos, O doente imaginrio e Les Femmes
Savantes ( conhecida na traduo portuguesa como as sabichonas). Molire morreu
a 17 de fevereiro de 1673, aos 51 anos de idade, ao fim de uma representao de O
doente imaginrio. Sua influncia se estendeu a todo o mundo ocidental, onde o seu
teatro continua a ser at hoje representada. Molire abre o caminho a popularizao
do teatro, com suas comdias e farsas, de esfuziante comicidade.
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Contemporneo de Molire, mas com mais longa vida ( nasceu em 1600 e
morreu em 1681 ), o espanhol Pedro Caldern de La Barca foi o grande continuador
de Lope de Vega. Como este, teve uma vida aventurosa e terminou seus dias como
padre catlico. Mas, antes disso, foi dramaturgo da corte de Felipe IV, de quem
recebeu um ttulo de fidalgo, com direito a tratamento de dom Pedro. Escreveu uma
centena de comdias longas e algumas centenas de peas curtas, de cunho
religioso, chamadas autos sacramentales. Entre suas obras mais famosas esto O
Grande teatro do mundo, A ceia de Baltazar, O alcaide Zalamea, A vida um sonho,
O mgico prodigioso e O mdico de sua honra.
NASCIMENTO DO TEATRO PORTUGUSMe
O desenvolvimento do teatro em Portugal foi mais lento do que na Espanha.
As primeiras peas a representadas foram de cunho religioso, como os mistrios ou
atos sacramentais. O primeiro autor portugus a contestar nomeada foi Gil Vicente,
ator, em senador e autor de cerca de 50 altos - moralidade, comdias e farsas. Entre
as suas obras mais famosas, esto O auto de Mofina Mendes ( 1534 ), O juiz da
beira ( 1525 ), Farsa de Ins Pereira ( 1523 ). Os autos, a princpio religiosos, que se
tornaram crescentemente profanas, que o um de seus cultores foi o grande poeta
pico Luiz de Cames, autor do Auto dos anfitries, do Alto de El Rei Seleuco e
ainda de uma comdia romanesca, Filodemo. Outros seguidores do caminho aberto
por Gil Vicente foram o poeta Francisco S de Miranda, autor das comdias Os
estrangeiros e Os Vilhalpandos, Antnio Ferreira, autor de uma tragdia sobre Ins
de Castro e das comdias Bristo e O cioso, isto , O ciumento, que Jorge Ferreira de
Vasconcelos, autor de Eufrosina, Ilisipo e Aulegrafia, e Simo Machado, autor de O
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cerco de Diu e A pastora Alfeia. Como ensina Luiz Francisco Rabelo, em sua histria
do teatro portugus, sobreveio, em seguida, um perodo tormentoso para cena lusa,
principalmente durante a dominao espanhola, quando se tornou maior a influncia
do santo ofcio. S depois da restaurao do trono portugus veio a surgir um autor
teatral digno de apreo, na pessoa de dom Francisco Manuel de Melo, autor da farsa
O fidalgo aprendiz, com fortes influncias de Gil Vicente e com pontos de contato
com O burgus fidalgo, de Molire, que foi representada alguns anos depois da obra
portuguesa.
O TEATRO INGLS DA RESTAURAO
Depois do desaparecimento de um William Shakespeare e de seus mulos,
Ben Johnson, Philip Massinger, de John Ford, Thomas Kid de Christopher Marlowe,
e do perodo sombrio das ditaduras de Oliver Cromwell e de seu filho Richard,
destitudo em 1659, comeou no teatro ingls um perodo conhecido como o da"
restaurao", pois na verdade que se tratava da restaurao da beleza britnica, sob
rei Charles II, da dinastia Stuart. Houve ento uma liberao to grande nessa
ocasio que os papis femininos deixaram de ser feitos por homens, em travesti,
passando a ser desempenhados por mulheres, algumas das quais ficaram famosas
e tm seus nomes incorporados a histria do teatro ingls como Nell Gwynn, que se
tornou favorita do rei, Mrs. Barry, Mrs. Bracegirdle e Mrs. Mountfort. Elas abriram o
caminho para as glrias futuras de Sara Siddons, mais conhecida como Mrs.
Siddons, que seria a primeira grande atriz trgica inglesa, notabilizando-se
sobretudo pelo papel de Prcia, em O mercador de Veneza, de Shakespeare. O
teatro ingls da" restaurao" caracterizou-se pela alegria, destacando-se entre os
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autores dessa poca William Wycherly e outros, cujos comdias ainda so
representadas. Mas surgiram tambm autores de dramas e tragdias, como o John
Dryden, Thomas Shadwell, Thomas Otway e outros.
O TEATRO NA FRANA AT A REVOLUO.
Depois do desaparecimento de Molire, Corneille e Racine, o teatro francs
passou, por longo tempo, a viver das glrias desses trs grandes autores, sem queaparecessem outras figuras com o talento criador necessrio, no para ultrapass-
los, mas ao menos para igual-los. Para dar continuidade ao teatro francs foi criado
uma companhia permanente, com nome de Comdie- Franaise, em 1680,11 anos
aps a morte de Molire, mas ainda em vida de Corneille e Racine. Mas foi escassa
a produo de autores com Jean de La Chapelle, Antoine de la Fosse, Prosper
Jolyot de Crbillon, Florent Charton Dancourt e Alain-Ren Le Sage, que se
notabilizaria mais como romancista. S dois autores, Charles Rivire Dufresny e
Jean Franois Regnard, deram mais substancial contribuio Comdie- Franaise.
Mas, durante o sculo XVIII, o teatro francs se animou e, com as peas de Voltaire,
pseudnimo de Franois Marie Arouet, cuja primeira tragdia, dipo foi representada
em 1718, quando o autor ainda tinha apenas 24 anos. Escreveu ele ainda as
tragdias Brutus, Zara, Maom, Merope Semiramis e, ainda, algumas comdias,
entre as quais Nanine. Outros surgiram, depois, destacando-se entre eles Pierre
Charlet de Chablain de Marivaux, cujas comdias, leves e espirituosas, foram
escritas para serem representadas pelos comediantes italianos, mas eventualmente
foram encenadas tambm pela Comdie-Franaise. Duas delas se tornaram
famosas: A dupla inconstncia e O jogo do amor e do azar. Mas a grande figura do
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teatro francs, na ltima metade do sculo 18, foi, sem dvida, Pierre-Augustin
Caron de Beaumarchais, cuja primeira pea, Eugnie, foi representada em 1767.
Estava ele ainda sob forte influncia de Denis Diderot, que publicar suas peas O
pai de famlia e O filho natural, mesmo sem terem sido representadas, o que s
aconteceria dois anos depois, a primeira pea de Beaumarchais, como a segunda,
Os dois amigos, teve moderado sucesso. Mas a seguinte, O barbeiro de Sevilha,
obteve tal xito que o autor resolveu continu-la, com o ttulo de Um dia de louco,
logo suplantado pelo de O casamento de Figaro. O que o realou a repercusso
dessas peas, representadas respectivamente em 1775 e 1784, foi a crtica aos
privilgios da aristocracia, quase s vsperas da revoluo francesa, que explodiu
em 1793 e levou o rei Louis XVI a guilhotina.
O TEATRO ALEMO DO SCULO XVIII
O sculo XVIII constituiu um perodo de desenvolvimento para o teatro
alemo. A primeira figura representativa foi Gotthold Ephraim Lessing, autor de
algumas farsas que tiveram grande repercusso: A Senhorita Sara Sampson,
representada em 1755, quando o autor tinha 26 anos, Minna Von Barnhelm,
representada em 1767, Emlia Galotti, representada em 1772, e Nathan, o sbio, em
1.779,2 anos antes da morte do autor. Outros autores surgiram no sculo XVIII. Os
mais importantes dentre eles foram Johann Wolfgang Goethe de Friedrich Schiller,
precursores do romantismo. Goethe e escreveu, entre outras peas, Goetz von
Berlichingen ( em 1773 ), Ifignia em Turida ( em 1787 ), Edmont ( em 1789 ),
Torquato Tasso (em 1790) e, finalmente, a pea que deu maior fama - Fausto,
retomando magistralmente o tema j utilizado, em 1861, pelo ingls Christopher
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Marlowe, em The Tragedy of Dr. Faustus Schiller, que era a de seis anos mais novo
que Goethe que, escreveu Os salteadores (1781) don Carlos (1787), Intriga e amor
(1784), A conjurao do Fieschi em Gnova (cuja representao foi proibida) ,
Wallenstein (trilogia dramtica sobre a guerra dos trinta anos, terminada em 1799),
Mara Stuart (1800) ,A donzela de Orleans (em 1802) , A noiva de Messina (1803) e
Guilherme Tell (em 1804). Seriam transformadas em peras obras de Goethe
(Fausto, com o mesmo ttulo, pelo compositor francs Charles Franois Gounod, e
com o ttulo de Mefistfeles, pelo compositor italiano Arrigo Boito) e de Schiller
(Guilherme Tell, por Gioacchino Rossini, Maria Stuart, por Gaetano Donizetti, Intriga
e amor, por Giuseppe Verdi, com o ttulo mudado para Luisa Miller, don Carlos,
tambm por Verdi, e a Donzela de Orles, Tchaikovsky). Esses dois grandes
talentos, Goethe e Schiller, renovar a teatro alemo e abriram caminho a
dramaturgos como Friedrich Hebbel , modernamente, a Gerhart Hauptmann (O
laureado em 1912 com o prmio Nobel) e, finalmente, a Bertholt Brecht.
O TEATRO ROMNTICO NA FRANA.
O teatro romntico teve, na Frana, o seu apogeu. O ano de 1830
considerado o de seu incio, com a representao, em Paris, do drama Hernani, de
Victor Hugo. Representao to tumultuada que ficou sendo conhecido como" a
batalha de Hernani". Victor Hugo foi o primeiro grande autor de dramas romnticos e
na primeira metade do sculo 19. O entre suas obras teatrais esto ainda Maruon
Delorme, proibido pela censura, Ruy Bls (em 1838), Lucrcia Borgia (em 1833),
Maria Tudor ( em 1833 ), ngelo, tirano de Pdua ( muito representada no Brasil -
1835 ) , Os Burgraves ( um fracasso - 1843 ) ele, finalmente, Le Roi s'amuse,
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proibida aps a primeira representao, mas convertida em pera por Giuseppe
Verdi, em 1851, com o ttulo de Rigoletto. E igualmente foram transformados em
pera Lucrcia Borgia, por Gaetano Donizetti, e Hernani, tambm por Verdi. Outras
figuras destacadas do teatro romntico formam os dois Alexandre Dumas, pai e filho,
este com a famosa dama das camlias, convertida por Verdi, com o ttulo de La
traviata, Alfred de Musset, Theodoro de Banville e outros. Surgiram depois autores
cmicos importantes, como Eugene Scribe de Eugne Labiche, o famoso autor de O
chapu de palha da Itlia, A viagem do sr Perrichon e dezenas de outras peas,
curtas e longas, sempre revividas com sucesso. Labiche encontraria bons
continuadores em Georges Courteline e Georges Feydeau, igualmente engraados
e prolficos.
O TEATRO ESCANDINAVO.
Quando e onde menos se esperava - a Noruega, na segunda metade do
sculo passado - surgiu uma fora renovadora do moderno teatro, na pessoa de
Henrik Johan Ibsen, cuja primeira pea, a tragdia histrica Catilina, escrita em
1850, era ainda uma simples promessa, como vrias outras obras de seu
aprendizado como dramaturgo. Mas graas a isso o conseguiu emprego de
subgerente do teatro de Cristinia em uma penso do governo, que lhe permitiu
viajar pela Europa e conhecer os teatros de outros pases. Suas primeiras peas
foram todas escritas inverso, inclusive Peer Gynt, a primeira de real sucesso. Foi j
em prosa que escreveu A liga da juventude, uma stira contra a desonestidade e a
insinceridade. Logo depois, no mesmo ano - o de 1869 - em acenava uma de suas
obras-primas, O imperador e Galileu. de 1875 a 1877, e escreveu Os pilares da
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sociedade, o estudo da vida pblica baseada mentira. Em seguida, Casa de boneca,
em que o criticavam oposio mesquinha reservados mulheres nas l sociedade
conjugal e, depois, Os espectros, Um inimigo do povo, O pato selvagem, A dama do
mar, Hedda Gabler , Rosmerholm ,Solness, O construtor , Johan Gabriel Borkman ,
Quando despertamos dentre os mortos e outras. A influncia de Ibsen, com seu
teatro de idias e de crtica ao sistema social que, em influenciou profundamente
sua poca, e o dramaturgo de linho e inglesa George Bernard Shaw foi um de seus
mais importantes seguidores. O outro produto das influncias ibsenianas foi o sueco
August Strindberg, autor de O pais, Srta. Julia, Camaradas, H crimes e crimes, a
Dana da morte, A sonata fantstica e outras, alm de duas dezenas de dramas
histricos. Como Ibsen, Strindberg e exerceu tambm forte influncia sobre o teatro
europeu de seu tempo.
O TEATRO RUSSO
o teatro russo era consagrado especialmente a pera e ao bal, sendo as
obras dramticas geralmente importadas de outros pases da Europa. Eram raros os
dramaturgos e comedigrafos russos. E um dos primeiros a conquistar sucesso, no
sculo passado, foi Mikaail Yurevich Lermontov, com a notvel pea Mascarada,
escrita em 1835, mas s representada em 1852 numa verso resumida e
integralmente s em 1864. Na comdia, destacou-se Alexandre Sergeivich
Griboyedov, com A Desvantagem de Ser Inteligente, em 1833, e outras obras. Mas a
primeira grande fora do teatro russo foi Nikolai Vasileivich Gogol, autor da famosa
comdia satrica O Inspetor Geral, que data de 1838. Mais tarde surgiu o prolfico
dramaturgo Alexandre Nikolaevich Ostrovsky, autor de Isto um Assunto de Famlia;
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Ns Mesmos o Resolveremos, e muitas outras peas. Depois, despontaram as duas
maiores foras do teatro russo do fim do sculo passado e do incio deste: Anton
Chekhov e Mximo Gorki (pseudnimo de Alexei Maximovich Pyeshkov), o primeiro
com As Trs Irms, A Gaivota, a Chcara das Cerejeiras etc., e o segundo com O
Filistino, Yegor Bulichev, Moeda Falsa e A Estalagem Noturna, que ficou conhecida
no mundo ocidental como Bas-Fond. O famoso romancista Leo Tolstoi tambm
cultivou o teatro, com o drama O Poder das Trevas e vrias peas histricas.
COMPANHIAS ITINERANTES
Foram os italianos que criaram as companhias que iam de um a outro pas,
dando representaes. Era constante a ida de companhias italianas Frana, antes
da revoluo francesa, e o grande comedigrafo Cario Goldoni era um pensionista
do rei da Frana, quando sobreveio a queda da monarquia em 1793. No sculo
passado, esses priplos foram alargados e, assim, o Brasil foi visitado, durante o
reinado de D. Pedro II, por numerosas companhias estrangeiras, como as de
Adelaide Ristori, Ernesto Rossi, Tommaso Salvini, e Eleonora Duse, ainda usando o
nome de Duse-Cecchi, todas italianas, e as francesas de Sarah Bernhardt e de
Bnoit Coquelin. A visita dessas companhias influiu no s no gosto do pblico,
como na renovao do repertrio das nossas companhias teatrais. Depois de
proclamada a Repblica no Brasil, Sarah Bernhardt nos visitou por mais duas vezes
e Eleonora Duse por mais uma. Giovanni Emmanuel e Ermete Zacconi fizeram
grande sucesso no Brasil. Luigi Pirandello trouxe ao Teatro Municipal uma
companhia liderada por Marta Abba. E as companhias francesas se sucederam,
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desde a de Rjane a , ao ser inaugurado o Teatro Municipal, de Madeleine
Renaud-Jean Louis Barrault.
Assim pudemos acompanhar de perto o movimento teatral europeu,
principalmente o da Frana, vendo e aplaudindo no s Racine, Corneille, Molire,
Hugo e Dumas Filho mas ainda peas de Victorien Sardou, Edmond Restand, Henry
Bataille, Henry Bernstein, Jules Romains, Georges Feydeau, Paul Claudel, Jacques
Deval, Jean Giraoudoux, Marcel Pagnol, Marcel Achard, Jean-Paul Sartre, Albert
Camus e outros. Atravs de companhias italianas, conhecemos desde o teatro
cmico de Goldoni ao teatro trgico de Vittorio Alfieri, das peas romnticas de Paulo
de Giacontti s peas de Gabriel d'Annunzio, Giuseppe Giacosa, Dario Niccodemi
at o teatro mais moderno, de autores como Pirandello, Sem Benelli e outros.
Visitaram-nos tambm incontveis companhias de pera, de bale e de mmica,
desfilando pelos nossos teatros celebridades como Enrico Caruso, Nijinski, Anna
Pavlova, Isadora Duncan, Serge Lifar, Marceal Marceau e outros, reconhecidos
como os maiores em suas especialidades.
O TEATRO DO ABSURDO
O "teatro de absurdo" comea em 1896, com a farsa de Alfred Jarry, Ubu Roi,
que causa grande escndalo, tanto por seus despropsitos, como por sua linguagem
e intenes satricas. E continuada por Guillaume Apollinaire (As Mamas de Tirsias)
e pelos surrealistas, vem a ter seu florescimento, na Frana, especialmente com
Eugne lonesco (nascido na Romnia, mas naturalizado francs), com obras como A
Lio, A Cantora Careca, Os Rinocerontes e outras, que valeram sua eleio para
membro da Academia Francesa. Outra grande expresso desse teatro o irlands
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Samuel Beckett, outro expatriado, que igualmente vive em Paris e escreve
principalmente em francs, autor de uma obra-prima, Esperando Godot, e do
monodrama A ltima Gravao de Krapp.
TEATRO NORTE-AMERICANO
O teatro norte-americano era, a princpio, importado da Inglaterra e de outros
pases da Europa. S neste sculo apareceu o seu primeiro grande dramaturgo,Eugene O'Neill, que deixou uma srie de obras-primas, como Anna Christie,
Imperador Jones, Electra Enlutada, O Macaco Peludo, Desejo Sob os Olmos
(representada no Brasil como Desejo), Alm do Horizonte e muitas outras peas,
que lhe valeram o Prmio Nobel. Depois dele surgiram figuras como Thornton
Wilder, Sidney Howard, Tenessee Williams e Arthur Miller. Sobretudo os dois ltimos
conquistaram renome universal, tendo a maioria de suas peas representada no
Brasil.
O TEATRO NO BRASIL
O teatro no Brasil Colonial
As representaes teatrais no Brasil, durante o perodo colonial, a princpio
foram raras e se limitavam encenao de peas vindas de fora. No existia, no
pas, a profisso teatral. O que havia, principalmente, eram formas primitivas de
teatro popular, como as folias de Reis, ou reisados, mais conhecidas como Bumba-
Meu-Boi, e velhos autos portugueses, como a Chegana dos Mouros, A Nau
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Catarineta e outros. O primeiro teatro surgido no Rio de Janeiro, quando o Brasil j
era um Vice-Reino, foi a Casa da pera, onde eram representadas tradues das
peas de Pietro Metastsio, ainda em vida do famoso autor italiano. O navegador
francs Louis Antoine de Bougainville, no livro que escreveu sobre sua viagem ao
redor do mundo, disse ter ido a convite do vice-rei, Conde da Cunha, a um
espetculo nesse teatro, onde fora assistir "obras-primas de Metastsio,
representadas por uma companhia de mulatos, e ouvir esses trechos divinos dos
grandes mestres da Itlia, executados por uma orquestra ento dirigida por um
padre corcunda em vestes eclesisticas". As peas de Metastsio eram, em geral,
musicadas. E, nos entreatos, o Padre Ventura, que dirigia a Casa da pera, no
hesitava em subir ao palco para tocar ao violo fados e lundus. A Casa da pera era
situada em rua do centro da cidade. Depois do seu incndio, em 1769, quando era
representada a pea Os Encantos de Medeia, de Antnio Jos da Silva, o Judeu,
essa via pblica ficou conhecida como a Rua do Fogo e hoje tem o nome de Rua
dos Andradas.
Nova Casa da pera surgiu no Rio de Janeiro no Largo do Carmo, atual
Praa 15 de Novembro, e foi solenemente inaugurada pelo Vice-Rei D. Lus de
Almeida Portugal. Ficou conhecida como a pera Nova e, ainda, como "o teatrinho
do Manuel Lus". Seu construtor, o portugus Manuel Lus Ferreira, era um protegidodaquele vice-rei. Entre os artistas que nele atuaram destacavam-se Joaquim da
Lapa, Joaquina Maria da Conceio da Lapa, e o inteligente mulato Jos Incio da
Costa, mais conhecido como Capacho, tambm poeta e repentista. A Nova pera
apresentava peas de Metastsio, de Antnio Jos e, ainda, de Molire e Goldoni.
Em outros pontos do Brasil colonial o teatro tambm se propagava, e em Vila Rica
de Ouro Preto, capital de Minas Gerais, eram encenadas peas de Caldern de la
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Barca e de Zorrilla. Tambm em Diamantina, Sabar e outros centros, enriquecidos
com a minerao de diamantes e de ouro, apareceram teatros em que eram
representadas comdias como Os Encantos de Medeia e Anfitrio, de Antnio Jos,
e outras, de autores espanhis, ou franceses. So Paulo, que j tivera antes uma
pequena sala de espetculos, passou a ter um verdadeiro teatro nos fins do sculo
XVIII, quando governava a Capitania o Conde de Sarzedas (D. Bernardo Jos de
Lorena). Como a do Rio de Janeiro, chamava-se Casa da pera e dispunha de
platias e camarotes, podendo acomodar 350 pessoas, e, como nos antigos
corrales da Espanha, na parte reservada aos homens no podiam sentar-se
mulheres. Os camarotes no tinham mobilirio, sendo as cadeiras levadas, a cada
espetculo, pelos escravos dos ricos entusiastas da arte teatral. Esse teatro ficou de
p por muito tempo, s tendo sido demolido no ano de 1870. Tambm nos fins do
sculo XVIII foi construdo em So Paulo um teatro, com o nome de Casa da
Comdia, o mesmo acontecendo em outras reas do Brasil, como a Bahia,
Pernambuco, Maranho, Par etc. A Bahia, alis, se antecipara s demais
capitanias, pois desde 1760 tinha o seu Teatro da Praia, provido de 28 camarotes e
com um palanque para a acomodao de mulheres.
O Teatro depois da Chegada de D. Joo
Quando se deu a invaso da pennsula ibrica, pelas foras francesas, em
1807, embarcou para o Brasil a famlia real portuguesa, tendo frente o Prncipe
Regente D. Joo, que assumira o governo em 1792, por ter a Rainha D. Maria I, sua
me, enlouquecido. Aquele acontecimento teria grandes repercusses na vida
poltica, social e cultural do Brasil. E o teatro no podia deixar de beneficiar-se da
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presena, no Rio de Janeiro, da aristocracia lusa e da vinda de diplomatas
estrangeiros, acreditados, junto ao governo portugus, instalado no Brasil por mais
de um decnio. Manuel Lus tentou adaptar seu teatrinho de modo a que
correspondesse s necessidades de uma corte, mas em vo, pois se tratava de uma
sala modestssima, o que dizer pouco, pois um visitante estrangeiro, John
Luccock, que esteve no Brasil de 1808 a 1818, a descreveu como "uma casa
miservel, apertada e sombria". O antigo barbeiro Fernando Jos de Almeida,
protegido do Marqus de Aguiar, penltimo vice-rei do Brasil, conseguiu o patrocnio
do Prncipe Regente para a construo de uma ampla casa de espetculos, o Real
Teatro de So Joo, num terreno entre o Rocio (hoje Praa Tiradentes) e a Igreja da
Lampadosa. Esse teatro, depois da independncia do Brasil, passaria a ser o Teatro
de So Pedro. Vrias vezes foi reconstrudo, passando finalmente a ter o nome de
Teatro Joo Caetano, que at hoje conserva.
O Real Teatro de So Joo foi solenemente inaugurado a 12 de outubro de
1813, com a presena do Prncipe Regente e de sua esposa, D. Carlota Joaquina,
constando do programa o drama lrico O Juramento dos Nunes, de inspirao
mitolgica, com libreto do fidalgo luso Dom Casto Fausto da Cmara Coutinho e
msica de Bernardo Jos de Sousa e Queiroz, e com a pea de grande aparato
cnico de O Combate do Vimieiro. O nico jornal existente no Brasil na poca, aGazeta do Rio de Janeiro, disse que o teatro fora "traado com muito gosto e
construdo com magnificncia", elogiando "o aparato de formosas decoraes" e a
"pompa do cenrio e vesturio". O elenco de Fernandinho - todos davam ao ex-
barbeiro, de reduzida estatura, esse diminutivo afetuoso - era constitudo geralmente
de artistas portugueses, sobressaindo entre eles o cmico Vtor Porfrio de Borja,
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cuja especialidade era fazer papis femininos, disfarando-se de mulher para
escapar a situaes difceis.
No Real Teatro de So Joo foram representadas tragdias, dramas,
comdias, farsas e, ainda, as primeiras peras ouvidas no Rio de Janeiro. O
Prncipe Regente, que assumiu a coroa de Portugal por morte de sua me, a 20 de
maro de 1816, e foi aclamado rei como D. Joo VI, apreciava imensamente a
msica e o canto lrico, tendo feito vir de Npoles vrios homens com voz de
soprano, ou castrati (castrados), como eram chamados, entre eles Tomasini,
Fasciotti e Bartolozzi, todos de entonao muito feminina e maviosa. Antes de voltar
para a Europa, em abril de 1821, D. Joo VI ouviu no Real Teatro de So Joo
vrias peras, entre as quais Semiramide, La Cenerantola, Aureliano in Palmira,
Tancredo e Otelo, todas de Rossini, seu autor preferido. O Otelo de Rossini
antecipou o de Verdi, mas acabou suplantado pelo deste, composto 61 anos mais
tarde. Ouviu tambm La Vestale, de Gasparo Spontini, e Camila, de Ferdinando
Paer, compositores hoje relegados ao esquecimento.
O Teatro no Primeiro Reinado
Como seu pai, D. Joo VI, D. Pedro I tambm era um entusiasta da msica. O
primeiro imperador do Brasil, alm disso, compunha peas musicais, uma delas o
Hino da Independncia, com letra de Evaristo da Veiga, e tocava alguns
instrumentos, como o cravo, a guitarra e a rabeca (nome outrora dado ao violino). D.
Pedro l era uma presena constante nos teatros do Rio de Janeiro. O Real Teatro de
So Joo, com o nome mudado para Imperial Teatro de So Pedro, ou
simplesmente Teatro So Pedro, foi entregue, pela primeira vez, a uma companhia
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brasileira, constituda predominantemente por artistas nacionais. D. Pedro I procurou
proteg-la, antes mesmo de ter sido proclamado imperador, como se v de um
bilhete seu, ao Ministro Jos Bonifcio, no qual diz que Vtor Porfrio de Borja e
Paulo Rousquelas, ambos portugueses, queriam pr "fora do teatro a companhia
nacional". Aconselhava o ministro "a preferir a nacional" e acrescentava: "Isto
preciso, porque estrangeiros no devem bigodear os nacionais." A interveno de D.
Pedro se justificava, por ter sido o teatro incorporado ao patrimnio nacional, depois
da falncia de Fernandinho. Contudo, continuou a prevalecer, nos teatros do Rio de
Janeiro, forte preponderncia portuguesa. S ao fim do Primeiro Reinado, isto , a
partir de 1831, (durante o perodo regncia), essa influncia seria atenuada, graas
ao aparecimento do primeiro grande ator e empresrio brasileiro, Joo Caetano dos
Santos.
A INFLUNCIA DE JOO CAETANO
Nascido em 1808 no Rio de Janeiro, Joo Caetano dos Santos ainda na
adolescncia comeou a se dedicar ao teatro, como amador, e em 1827 era um dos
intrpretes centrais da pea O Carpinteiro da Livnia. Em seguida, faria parte, no Rio
de Janeiro, da companhia do Teatro Constitucional Fluminense. Unindo-se jovem
atriz e bailarina Esteia Sezefreda, com quem teria quatro filhos, acabou por se
desligar daquele teatro, por estar desgostoso com os papis que lhe davam, e
fundou uma companhia prpria, que estreou em Niteri, a 2 de dezembro de 1883,
com a pea O Prncipe Amante da Liberdade, ou a Independncia da Esccia. Tinha
ento 26 anos incompletos, no cursara nenhuma escola de teatro ou declamao,
mas era dotado de prodigiosa intuio e de um raro talento dramtico. Por isso
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mesmo, enquanto viveu, liderou o teatro brasileiro, mantendo elencos
predominantemente nacionais, mas sem deixar de acolher os grandes valores
portugueses radicados no Brasil, como Ludovina Soares da Costa, Gertrudes
Anglica da Cunha e Gabriela da Cunha De-Vecchy.
Joo Caetano criou vrias obras de Shakespeare, sempre atravs das
tradues e adaptaes francesas interpretadas em Paris pelo grande ator francs
Talma, de quem ansiava por se tornar um sucessor. Entre outras, fez O Mouro de
Veneza (Otelo), O Mercador de Veneza (Shylock), Hamlet e Macbeth. Encantou-se
com o teatro romntico de Alexandre Dumas, de quem representou Don Juan de
Marana, Kean, ou Gnio e Desordem, A Torre de Nesle, Catarina Howard, Antony,
Ricardo d'Arlington e outras. Representou tambm peas portuguesas, como Frei
Lus de Sousa e Um Auto de Gil Vicente, de Almeida Garrett; A Nova Castro, de Joo
Batista Gomes Jnior; e O Cativo de Fez, de Antnio Joaquim da Silva Abranches,
que teve entre seus espectadores o jovem Joaquim Maria Machado de Assis, ento
crtico teatral de O Espelho. Outras de suas criaes marcantes foram A
Gargalhada, de Jacques Arago, e Os Nossos ntimos, de Victorien Sardou. Mas foi
no papel central da pea Oscar, o Filho de Ossian, do francs Antoine Vincent
Arnault, que ele foi imortalizado
pelo escultor Chaves Pinheiro, no monumento inaugurado em frente do TeatroJoo Caetano, a 3 de maio de 1891.
Autores Brasileiros
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Um dos mritos de Joo Caetano foi o de ter suscitado o interesse de
escritores brasileiros pelas letras dramticas. Em 1837, ele representara peas de
um francs que se radicara no Brasil e abrasileirara seus prenomes, passando a
assinar-se Lus Antnio Burgain. Essas peas foram A ltima Assemblia dos
Condes Livres e Glria e Infortnio, ou A Morte de Cames. Mas os primeiros
autores teatrais nascidos no Brasil foram, no drama. Domingos Jos Gonalves de
Magalhes (futuro Visconde de Araguaia), que escreveu especialmente para Joo
Caetano Antnio Jos, ou O Poeta e a Inquisio, sobre Antnio Jos da Silva, o
Judeu, e Lus Carlos Martins Pena que escreveu a comdia O Juiz de Paz da Roa.
Ambas foram representadas em 1838, a ltima sete meses depois da primeira, e no
mesmo teatro - o de Joo Caetano. Com uma diferena, entretanto - a de que em
Antnio Jos, ou O Poeta e a Inquisio o grande ator foi o protagonista, e em O
Juiz de Paz da Roa no fez papel algum, por lhe faltar talento cmico. Alm de
fazer para Joo Caetano tradues de peas de Shakespeare atravs das
adaptaes francesas, Gonalves de Magalhes escreveu uma nova obra
dramtica, intitulada Olgiato, representada no ano seguinte, ao passo que Martins
Pena continuou a escrever incessantemente, legando ao nosso teatro uma srie de
comdias e farsas que ainda hoje podem ser representadas com sucesso. Entreoutras, O Novio, A Famlia a Festa na Roa, Judas em Sbado de Aleluia, Quem
Casa Quer Casa, Os Cimes de um Pedestre, Os Dois ou o Ingls Maquinista ele.
Tentou tambm o drama, mas sem o mesmo resultado, e das peas de tal gnero
somente uma chegou cena, Vitiza, ou o Nero de Espanha, que no alcanou xito
sequer aproximado do que obteve com as peas cmicas.
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Novos Autores Nacionais
O prprio Joo Caetano procurou suscitar o aparecimento de novos autores
nacionais, convocando-os atravs da imprensa.
Foi para corresponder a esse apelo que Antnio Gonalves Teixeira e Sousa
escreveu a tragdia Cornlia e o drama O Cavaleiro Teutnico ou a Freira de
Marienburgo. E que Joaquim Norberto de Souza e Silva escreveu o drama Amador
Bueno, ou A Fidelidade Paulistana. Joo Caetano fez representar esse drama, em
sua companhia, mas sem tomar parte na representao. O mesmo tema fora
versado por Francisco Adolfo de Vernhagen, em Amador Bueno, que no chegou a
ser apresentado.
Macedo e Alencar
Com a morte de Martins Pena e o retraimento de Gonalves de Magalhes,
absorvido primeiro pela poltica e, depois, pela diplomacia, a figura mais importante
que vem ocupar o espao vago em nosso teatro Joaquim Manuel de Macedo, cuja
popularidade comeara em 1844, com o romance A Moreninha, publicado quando o
autor tinha 24 anos. Em 1849, ele escreve sua primeira pea, o drama O Cego,
representado no Teatro de So Janurio. A esse drama, seguiram-se as peas
cmicas O Fantasma Branco e O Primo da Califrnia, muito bem recebidas pelo
pblico, ambas com partes cantadas, como era usual nas burletas. Por burletas
(pequenas burlas) eram designadas as farsas, extravagantes, burlescas,
caricaturais, entremeadas de canes, em geral saltitantes e brejeiras. Depois,
Macedo escreveu os dramas Amor e Ptria e Lusbela; as comdias Luxo e Vaidade,
O Novo Otelo, A Torre em Concurso, O Romance de uma Velha, Cincinato Quebra-
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Loua, O Macaco da Vizinha e, ainda, as burletas Antonica da Silva e A Moreninha
(por ele prprio adaptada cena de seu romance de estria). Outras de suas peas
nunca chegaram cena: os dramas Vingana por Vingana e O Sacrifcio de Isaac,
a comdia Uma Pupila Rica e a burleta Pai Cuco. Mdico, professor, poltico,
romancista, cronista histrico e bigrafo, a atividade de Macedo no teatro foi
intermitente, prolongando-se de 1849 a 1880, dois anos depois de sua morte. Oito
anos depois de sua estria no teatro, surgia o primeiro e o mais importante de seus
rivais, no gnero: Jos de Alencar. A carreira de Alencar no teatro comeou com uma
comdia intitulada O Rio de Janeiro (Verso e Reverso), representada pela primeira
vez a 28 de outubro de 1857, no Teatro Ginsio Dramtico. O autor, que pretendia
fazer carreira na poltica do Imprio, apresentara esse trabalho sem sua assinatura,
achando que no devia comprometer em aventuras literrias o seu nome ilustre (o
pai era senador do Imprio e, por trs vezes, presidira a Provncia do Cear, alm
de ter sido deputado s Cortes Portuguesas e Constituinte de 1823). Alencar era,
na ocasio, o redator-gerente do jornal Dirio do Rio de Janeiro, onde, tambm
anonimamente, publicara em folhetim o romance O Guarani. Mas o segredo no
tardou a ser desvendado. Ainda no mesmo ano, Alencar escreveu e fez representar
sua comdia de maior sucesso, O Demnio Familiar, e a pea O Crdito, que no
teve sucesso e fora muito influenciada por uma das obras de Alexandre DumasFilho, La Question d'Argent. Escreveu ainda As Asas de Um Anjo, em que havia uma
tentativa de incesto e causou certo escndalo, sendo temporariamente proibida, e
sua continuao, A Expiao; o drama Me; a comdia O Que o Casamento?e,
finalmente, o drama O Jesuta, este a pedido de Joo Caetano, que, no entanto, no
ficou satisfeito e, por isso, se recusou a represent-lo. O Jesuta encerrou com uma
nota melanclica a carreira do grande escritor no campo teatral. Guardado numa
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gaveta, desde o ano de 1861, foi exumado quatorze anos mais tarde, para ser
representado apenas trs vezes, para um pblico escasso e indiferente. Mas outra
de suas obras, O Guarani, chegaria cena lrica com grande sucesso, ao ser
adaptado e encenado no Scala de Milo, como pera, pelo grande compositor
brasileiro Antnio Carlos Gomes.
Outros Autores do Mesmo Perodo
Na poca dominada por Macedo e Alencar, surgiram outros talentos
dramticos, dignos de meno. Um deles foi o baiano Agrrio de Meneses, autor de
vrios dramas, um dos quais Calabar, em versos, e que maior contribuio poderia
ter dado ao nosso teatro se no houvesse morrido precocemente, em 1863, cinco
meses antes de completar 30 anos. O mdico Pinheiro Guimares escreveu duas
peas representadas com muito sucesso na dcada de 1860: Histria de Uma Moa
Rica e Punio, alm de ter traduzido o drama de Schiller, A Donzela de Orles.
Constantino do Amaral Tavares escreveu vrios dramas, entre os quais Um
Casamento da poca e Gonzaga, alm de ter dramatizado as proezas do clebre
bandido Lucas da Feira. Quintino Bocaiva, grande jornalista, na juventude se
dedicou ao teatro, traduzindo peras (uma delas Os Diamantes da Coroa, de Auber)
e escrevendo obras originais, entre essas Onflia, A Famlia e Os Mineiros da
Desgraa. Sizenando Nabuco escreveu A Tnica de Nessus. Machado de Assis
escreveu suas primeiras comdias, entre as quais Desencantos e O Caminho da
Porta. E muitas outras.
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Autores No Representados
Entre os autores no representados, mas cuja obra foi publicada, alm de
Francisco Adolfo de Vernhagen, j mencionado como autor de Amador Bueno, o
poeta lvares de Azevedo deixou um drama, Macrio, e o poeta Gonalves Dias
vrias peas, entre as quais Patkul, Beatriz, Cenci, Boabdil e Leonor de Mendona.
Essas peas foram publicadas e uma delas, a ltima, mereceu cuidada encenao
do Teatro Brasileiro de Comdia, em 1954, constituindo, para surpresa de muitos,
um espetculo teatral de grande interesse dramtico.
A pera Nacional
Depois do casamento do jovem imperador Pedro II com a princesa napolitana
Teresa Cristina, crescida numa corte onde o teatro lrico era cultivado com brilho, o
Rio de Janeiro mais do que nunca passou a se entusiasmar pelas peras. Na
primeira dcada do Segundo Reinado, chegaram a atuar simultaneamente no Rio de
Janeiro duas companhias lricas, uma italiana, no Teatro So Pedro, e outra
francesa, no Teatro de So Francisco, de construo mais recente. Era a poca em
que Augusta Candiani rivalizava com Mme. Levasseur, Mme. Mge e outras
celebridades da cena lrica. Tal efervescncia teve como conseqncia imediata a
criao, no Rio de Janeiro, de um Conservatrio Nacional de Msica, dirigido por
Francisco Manuel da Silva, autor do Hino Nacional brasileiro, e inaugurado a 13 de
agosto de 1848, e a edificao do Teatro Lrico Provisrio. Um concurso convocou
poetas brasileiros para que escrevessem libretos de peras. Pouca coisa resultou
desses esforos. Mas o movimento se reanimou com a chegada, ao Brasil, de um
fidalgo espanhol, D. Jos Zapata y Amat, compositor e professor de composio,
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canto e piano. Criou ele uma entidade com o nome de pera Lrica Nacional. Vrios
intelectuais brasileiros tiveram seus nomes ligados, ora traduzindo em portugus
peras estrangeiras, ora preparando libretos para serem musicados no Brasil.
Manuel Antnio de Almeida, o romancista das Memrias de um Sargento de Milcias,
preparou o libreto de Os Dois Amores, inspirado num texto italiano de Francesco
Maria Piave, o libretista favorito de Giuseppe Verdi, que por sua vez se inspirara no
poema O Corsrio, do poeta ingls Byron. Quintino Bocaiva traduzira o libreto da
pera O Trovador, de Verdi, de autoria do poeta italiano Salvatores Cammarano.
Machado de Assis fizera o mesmo com As Bodas de Joaninha, de Lus Olona, e com
Pipelet, libreto de Raffale Berizzone, com msica do maestro italiano Serafino
Amedeo Ferrari. O mrito maior da pera Nacional foi o de ter revelado o talento do
jovem compositor Antnio Carlos Gomes, com a pera A Noite no Castelo, com
libreto de Antnio Jos Fernandes dos Reis, extrado do poema de igual ttulo do
poeta luso Antnio Feliciano de Castilho, ento vivendo no Brasil. Tal foi o xito que
Carlos Gomes, em seguida, comps nova pera, Joana de Flandres, com libreto de
Salvador de Mendona e, graas a isso, obteve o patrocnio do imperador, que lhe
concedeu a bolsa a fim de que fosse se aperfeioar na Itlia, onde permaneceu por
mais de vinte anos. Na Itlia, alm de O Guarani, Carlos Gomes comporia Salvador
Rosa, Fosca, Maria Tudor, Lo Schiavo (O Escravo) e Condor. Outros brasileiros quedeixaram peras: Henrique Alves de Mesquita, que comps O Vagabundo; Alberto
Nepomuceno, Artemise e Abdul; Assis Republicano, O Bandeirante; Francisco
Braga, Jupira; Heitor Villa-Lobos, Aglaia, Izhat, Zoe, Malazarte, A Menina das
Nuvens, Yerma etc.; Assis Pacheco, Moema etc. Uma das mais recentes peras
brasileiras foi O Sargento de Milcias, de Francisco Mignone, baseada no romance
de Manuel Antnio de Almeida.
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A Influncia de Furtado Coelho
O espao que Joo Caetano deixou vago na cena brasileira foi ocupado, nos
decnios de 1860 e 1870, pelo ator portugus Furtado Coelho, que desde 1858 se
encontrava em nosso pas e que apresentou, em suas companhias, atrizes como
Adelaide do Amaral, Eugenia Cmara (famosa por seus amores com o poeta Castro
Alves), Ismnia dos Santos e, por fim, Lucinda Simes, com quem se casou. De
todas, a nica brasileira com quem compartilhou suas glrias foi Ismnia dos
Santos, que com ele aparecia no drama fantstico O Anjo da Meia-Noite, de
Theodore Barrire e Lambert Thiboust, traduzido por Machado de Assis. Com ele e
sua companhia, encontraram trabalho artistas que tinham iniciado suas carreiras ao
lado de Joo Caetano, como Antnio Joaquim Areias, Francisco e Martinho Corra
Vasques, e outros que surgiram depois da morte do grande ator trgico.
Em 1861, o estudante de Direito Joaquim Jos de Frana Jnior, nascido no
Rio de Janeiro em 1838, conseguia levar cena suas duas primeiras comdias,
ambas sobre os costumes estudantis paulistanos: A Repblica Modelo (tomada a
palavra repblica no sentido restrito de penso de estudantes) e Meia Hora de
Cinismo (entendidas por cinismo as patuscadas, dos acadmicos de direito). A
segunda fez tanto sucesso que, mais tarde, acabou por merecer a intercalao de
um nmero musical, A Cano do Bomio, com letra de Castro Alves e msica do
maestro Emlio do Lago. Depois, Frana Jnior escreveu uma srie de comdias de
grande sucesso, ao mesmo tempo em que exercia funes pblicas e se impunha
como folhetinista de jornais cariocas, entre os quais o Correio Mercantil e o antigo O
Globo, dirigido por Quintino Bocaiva. Algumas dessas peas se perderam, ou so
hoje muito raras, mas outras tm sobrevivido, sendo de quando em quando
representadas. A terceira pea foi Tipos da Atualidade, em 1863. No ano seguinte,
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ano em que ocorreu a famosa Questo Christie, que determinou o rompimento das
relaes diplomticas entre o Brasil e a Inglaterra, escreveu a comdia Ingleses na
Costa, levada cena em 1864. Seguiram-se O Defeito de Famlia, Direito por Linhas
Tortas, Amor com Amor se Paga, O Tipo Brasileiro, A Lotao dos Bondes, Entrei
para o Clube Jcome, Os Candidatos, Caiu o Ministrio!, Como se Fazia um
Deputado, Maldita Parentela, O Beijo de Judas etc. Mas nenhuma de suas
numerosas peas teve maior sucesso do que a comdia As Doutoras, na qual
Frana Jnior satirizava as moas que, na dcada de 1880, comearam a ingressar
nos cursos de medicina. A pea era reacionria, mas escrita com tanta graa que
mesmo as mulheres empenhadas no progresso cultural e profissional feminino no
podiam deixar de rir de suas cenas caricaturais. Frana Jnior pode ser considerado
um autntico continuador de Martins Pena. E, do mesmo modo, Artur Azevedo pode
ser considerado o continuador de ambos.
Nascido no Maranho em 1855, ainda adolescente Artur Azevedo escrevera e
fizera representar, em So Lus, sua primeira comdia, Amor Por Anexins, escrita
especialmente para duas meninas-prodgios que excursionavam pelas provncias do
norte, Carolina e Jlia Riosa. Em agosto de 1873, com apenas 18 anos, embarcava
ele para o Rio de Janeiro e passava a trabalhar no jornal A Reforma. O teatro logo o
atraiu e, em 1875, escreveu a comdia Uma Vspera de Reis na Bahia, seguindoindicaes do ator cmico Xisto Bahia, que a estreou em So Salvador, nesse ano,
mas s em 1881 veio a ser conhecida no Rio de Janeiro. Sua popularidade
realmente comeou com uma pardia da opereta
francesa, La Fille de Mme Angot, que transformou em A Filha de Maria Angu,
levada a cena a 21 de maro de 1876. Parodiou tambm a pera cmica francesa
La Petite Marie, em A Casadinha de Fresco, transferindo a ao para o Rio Grande
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do Sul. Mas no lhe faltavam idias originais, como demonstrou nas comdias A
Almanjarra, Casa de Grafes (em colaborao com o irmo, Aluzio Azevedo), O
Orculo, O Retrato a leo, A Jia, O Dote (sobre uma idia colhida numa crnica de
Jlia Lopes de Almeida), Vida e Morte, O Badejo, O Genro de Muitas Sogras (em
colaborao com Moreira Sampaio). Escreveu tambm burletas como A Capital
Federal, ainda hoje representada com sucesso, e como O Mambembe (em
colaborao com Jos Pizza), com xito no menor. Alm disso, foi Artur Azevedo,
com seu colaborador Moreira Sampaio, um dos criadores do teatro de revista no
Brasil.
O Teatro de Revistas
Esse teatro nasceu na Frana e o nome de revue, ou revista, lhe foi dado,
porque se destinava, ao fim de cada ano, a passar em revista os acontecimentos
dominantes nesse perodo, comentando-os em dilogos satricos, em cenas
cmicas, em canes ou em alegorias apoteticas. A primeira revista brasileira foi
dada no Teatro Ginsio, a 15 de janeiro de 1859, com o ttulo de As Surpresas do Sr.
Jos da Piedade. O autor do texto era Justiniano Figueiredo Novais, um carioca de
30 anos de idade. O agrado foi medocre e, depois de um interregno de 16 anos, o
gnero foi retomado pelo maranhense Joaquim Serra, que, a 1. de janeiro de 1875,
apresentou no Teatro Vaudevillea Revista do Ano de 1874, montada pela Companhia
Martins, e no dia 5 do mesmo ms a revista Rei Morto, Rei Posto, que mereceu uma
crtica elogiosa de Machado de Assis. A primeira era em prosa e a segunda em
verso. Machado terminou sua crtica dizendo: "Vejam os nossos leitores ambas as
peas e tero mais uma ocasio de saudar o nome de J. Serra." Trs anos depois,
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Artur Azevedo entrava no campo da revista, com O Rio de Janeiro em 1877, escrita
com o portugus Lino de Assuno e musicada por Gomes Cardim. O xito foi
medocre. S seis anos mais tarde, ao tomar novo colaborador, o espirituoso Moreira
Sampaio, Artur Azevedo passou a dominar o teatro de revista. Os dois escreveram
sucessivamente, a partir de 1884, O Mandarim, Cocota, O Bilontra (termo aplicado a
um trapaceiro que vendia falsos ttulos de nobreza), Carioca, Mercrio e O Homem.
Com esta, terminou a feliz associao dos dois humoristas. Artur escreveu, em
colaborao com Aluzio Azevedo, as revistas Fritzmacke A Repblica e, sozinho, O
Tribofe, O Major, O Jaguno e vrias outras. De uma das cenas de O Tribofe,
habilmente desdobrada e enriquecida com outros incidentes e personagens, ele fez
a burleta A Capital Federal.
Moreira Sampaio, sozinho, escreveu revistas de sucesso, como Dona
Sebastiana, A Inana e O Rio Nu. Outros cultores do gnero foram Valentim
Magalhes e Filinto de Almeida, com A Mulher-Homem e Abolindenrepcotchindeng
- que foi representada a 18 de janeiro de 1889 e que juntava numa s palavra
"abolio, repblica (em que j se falava), indenizao (pretendida pelos ex-
senhores de escravos), Cotegipe (cujo gabinete cara no ano anterior), os mandarins
que vieram tratar da colocao de imigrantes chineses e a chegada do meteorlito
de Bendeg ao Rio de Janeiro"; Oscar Pederneiras, com Z Caipora, O Boulevardda Imprensa e O Bendeg (em colaborao com Figueiredo Coimbra); Augusto
Fbregas, com Cobras e Lagartos e H Alguma Diferena? (em colaborao com o
ator Bernardo Lisboa); Vicente Reis, com Cresa e Aparea, O Abacaxi (com Moreira
Sampaio), O Diabo a Quatro (com Demtrio de Tiledo), O Esfolado (com Raul
Pederneiras); Raul Pederneiras com Berliques e Berloques, O Babaquara, O Rio
Civiliza-se, A ltima do Dudu, O Morro da Graa etc. Joo do Rio, J. Brito, Cardoso
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de Menezes, Carlos Bittencourt, Freire Jnior, Lus Iglsias, Marques Porto, Afonso
de Carvalho, Joracy Camargo, Ari Pavo, Bastos Tigre, Geysa Boscoli, Jardel
Jrcolis, Henrique Pongetti e outros tambm cultivaram a revista, no seu perodo de
maior prestgio, a primeira metade deste sculo.
O Teatro de Comdia no Princpio do Sculo
Novos valores surgiram em nosso teatro, no princpio do sculo, quando Artur
Azevedo ainda vivia. Um deles foi Henrique Coelho Neto, que deixou uma dezena
de obras teatrais, entre as quais a de maior sucesso a comdia Quebranto, muito-
representada por Leopoldo Fres e por Procpio Ferreira. Joo do Rio (Paulo
Barreto) foi outro desses autores, com A Bela Madame Vargas, Eva, ltima Noite,
Que Pena Ser S Ladro! etc. Raul Pederneiras, que era antes de tudo um
caricaturista e um revistgrafo, tambm escreveu comdias, uma das quais O Ch
de Sabugueiro. Mas maior revelao de autor popular do princpio do sculo foi,
certamente, Gasto Tojeiro, que compunha comdias e farsas com a mesma
espontaneidade e graa de Artur Azevedo...E, por isso mesmo, tornou-se um dos
autores favoritos de Leopoldo Fres. Wave
A Companhia de Leopoldo Fres
Esse ator de comdia encheu com o seu nome o teatro brasileiro na segunda
e terceira dcadas deste sculo. Formado em Direito, comeara a representar em
grupos de amadores e, quando lhe acenavam com um posto diplomtico em
Londres, preferiu dedicar-se ao teatro, em Portugal, onde se apaixonara por uma
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atriz e cantora, Dolores Rentini. Sua carreira se iniciou no teatro de opereta e, em
1908, retornou ao Brasil, integrando uma companhia portuguesa, de que ela era a
estrela. Quando a companhia estava em Recife, em 1911, Dolores Rentini morreu de
febre amarela e Leopoldo Fres encerrou suas atividades na opereta. Algum tempo
depois, fundava uma companhia de comdia, cuja primeira figura feminina era a atriz
Luclia Peres. Interessado plos autores brasileiros, Leopoldo Fres representou
com sucesso peas de Cludio de Souza (Eu Arranjo Tudo!, Flores de Sombra); de
Casto Tojeiro (O Simptico Jeremias, O Jovem Presentino, Os Sonhos do Teodoro,
O Modesto Filomeno etc.); Roberto Gomes (Inocncia, adaptada do romance do
Visconde de Taunay); Martins Fontes (Partida Para Citera), Heitor Modesto (O
Bezerro de Ouro), Renato Viana (Luciano, o Encantador e Gigol), Paulo Gonalves
(As Mulheres No Querem Almas), Antnio Carlos da Fonseca, (O Prncipe dos
Gatunos), Lus Peixoto, Tobias Moscoso e Herbert de Mendonza (Esquecer, comdia
escrita a seis mos, e premiada pela Academia Brasileira de Letras), Abadie Faria
Rosa (A Filha da Dona da Penso, Nossa Terra e Longe dos Olhos), Viriato Corra
(Sol do Serto), Veiga Miranda ( Prmio de Robustez), Antnio Guimares,
portugus radicado no Brasil (Querida Vov e No Tempo Antigo), Armando Gonzaga
(A Descoberta da Amrica e O Tio Salvador), Joracy Camargo (A Menina dos Olhos)
e Paulo de Magalhes (Um Corao de Mulher). Alm desses e outros autores,Leopoldo Fres encenava peas de sua prpria autoria, como Mimosa e O Outro
Amor, e revivia grandes sucessos do passado, como O Demnio Familiar, de Jos
de Alencar; As Doutoras, de Frana Jnior; O Dote, de Artur Azevedo; e O Genro de
Muitas Sogras, de Artur Azevedo e Moreira Sampaio etc. Alm de animar os nossos
autores teatrais, Leopoldo Fres lanou tambm vrias atrizes que iriam ter grande
destaque na cena brasileira, como Amlia Capitani, Slvia Bertini e, muito
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especialmente, Dulcina de Morais e Iracema de Alencar (esta nascida Ida Krebs, no
Rio Grande do Sul).
Procpio e os Autores de Seu Tempo
Quando Leopoldo Fres se achava em pleno fastgio, um jovem ator cmico
se revelou com tal fora que, em pouco, estava frente de sua prpria companhia,
convertendo-se num dos atores favoritos das platias brasileiras. Esse ator era
Procpio Ferreira, que sobressara de maneira excepcional no papel de Z
Fogueteiro, na burleta de costumes regionais A Juriti, de Viriato Corra, e logo
depois se dedicara a comdia, ingressando na companhia do Teatro Trianon, dirigida
por Oduvaldo Viana e Viriato Corra, em associao com o empresrio Niccolino
Viggiani. Procpio Ferreira teve em Viriato Corra, Oduvaldo Viana, Casto Tojeiro,
Armando Gonzaga, Paulo de Magalhes e Joracy Camargo os principais autores do
primeiro decnio de sua carreira. De Viriato, representou, entre outras comdias,
Zuzu, Bombonzinho, Sanso e O Pobre-Diabo. De Oduvaldo, Manhs de Sol, A
Casa do Tio Pedro, O Vendedor de Iluses.