“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
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RESUMO
O presente estudo faz uma abordagem acerca da relação família, escola e
comunidade, baseado num projecto de intervenção comunitária, desenvolvido
no Agrupamento Vertical de Escolas da Junqueira, pertencente ao Concelho de
Vila do Conde, em parceria com o Contrato Local de Desenvolvimento Social, a
Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti e a Comissão Social
Interfreguesias Norte do Ave.
O fundamento deste estudo surge da necessidade de revitalizar a
Associação de Pais do Agrupamento de Escolas da Junqueira, o que levou à
implementação de um trabalho junto das Associações de Pais Encarregados
de Educação “activas” do Agrupamento, com o intuito de compreender o é uma
APEE, sua organização e dinâmica, bem como o tipo de iniciativas que podem
ser criadas, com vista à sua sustentabilidade e que envolvam directamente os
pais.
O estudo empírico é de natureza qualitativa, usando como técnicas a
observação e a aplicação de entrevistas que permitiram compreender a
perspectiva que os dirigentes associativos, enquanto pais/encarregados de
educação, têm acerca da escola e como vêem a participação dos pais na vida
da escola.
Este trabalho reconhece que a intervenção comunitária constituiu uma
prática e foi um meio facilitador para a reconstrução e dinamização da
Associação Pais Agrupamento Escolas da Junqueira, na medida em que
possibilitou um conhecimento global da realidade, permitiu a integração,
facultou o trabalho de parceria e fomentou a co-responsabilização de todos os
agentes envolvidos no estudo, particularmente os pais/encarregados de
educação
Palavras-chave: relação escola-família, intervenção comunitária, parceria,
envolvimento parental.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
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ABSTRACT
The present study shows the relation between family, school and community,
based on a community intervention project, developed in the Junqueira’s
Vertical Schools Group, from the municipality of Vila do Conde, in association
with the Local Development Social Contract, the School of Education Paula
Frassinetti and the North Ave Interparish Social Comission.
The purpose of this study arises from the need to revitalize Parents’
Association from Junqueira’s Schools Group, which led to the implementation of
a work with the “most dynamic” Parents’ Associations of the group in order to
understand what is a Parents’ Association, its organization and dynamics as
well as the type of initiatives that can be created in order to promote their
sustainability and a direct involvement of parents.
This is a qualitative empirical study, using techniques such as observation
and interviews that allowed to understand the perspective that the association
leaders, as parents /educators have about the school and how they see parents
participation in school life.
This study recognizes that Community action established a practice and
enabled the reconstruction and promotion of Parents’ Association of Junqueira’s
Schools Group, that conduced to a global knowledge of reality, allowed the
integration, provided the partnership work and encourage the co-responsibility
of all actors involved in the study, particularly parents /educators.
Keywords: school-family, community intervention, partnership and parental
involvement.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
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AGRADECIMENTOS
Muitos foram aqueles que tornaram possível a realização deste trabalho de
investigação e a todos agradeço do fundo coração. Contudo á agradecimentos
que quero expressar quer pelo apoio, pelo interesse, pela disponibilidade, pela
confiança, pela amizade.
Começo por agradecer ao orientador, Dr. Adalberto Dias de Carvalho e co-
orientadora, Mestre Florbela Samagaio, pela dedicação que demonstraram, por
me ouvirem, orientarem e incentivarem.
Uma palavra de agradecimento e valorização para os elementos da equipa
do Centro Investigação Paula Frassinetti e professores que contribuíram para a
minha formação académica, pessoal e social.
Agradeço aos participantes no estudo, em particular aos entrevistados pela
sua disponibilidade e tempo dedicado a esta investigação.
Uma palavra de apreço para com a Direcção do Agrupamento Vertical de
Escolas da Junqueira e a Equipa do Contrato Local de Desenvolvimento Social,
em particular à Dra. Daniela Almeida, pela forma agradável com que sempre fui
recebida, pela atenção e pelo apoio prestado.
Agradeço a todos os amigos e colegas que de alguma forma deram o seu
contributo na realização deste trabalho, em especial à Carla e à Alina.
Agradeço às pessoas com mais significado na minha vida, ao meu marido, à
minha mãe, ao meu pai, à minha irmã, aos meus sogros e cunhadas que
sempre me incentivaram, acompanharam e apoiaram a vários níveis nos
momentos bons e nos mais difíceis deste percurso.
Um agradecimento em especial para o meu filho porque foi a minha força,
embora tenham sido muitos os momentos de ausência.
Um obrigado muito especial ao meu avô porque foi uma referência na minha
vida e ensinou-me o valor da palavra Família.
Por último, o reconhecimento para com todos aqueles que directa ou
indirectamente contribuíram para que este trabalho fosse possível. Muito
obrigada!
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
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ÍNDICE
Resumo ......................................................................................................... 1
Abstract .......................................................................................................... 2
Agradecimentos ............................................................................................. 3
Índice ............................................................................................................. 4
Índice de Quadros.......................................................................................... 6
Índice de Anexos ........................................................................................... 7
Lista de Abreviaturas ..................................................................................... 8
Introdução ...................................................................................................... 9
Capítulo I - Abordagem Comunitária na promoção da relação Família, Escola
e Comunidade .................................................................................................. 12
1.1. A Comunidade e a importância da Intervenção comunitária ................. 12
1.1.1. Intervenção Comunitária vs Desenvolvimento Comunitário ............... 15
1.1.2. Papel do Interventor Social ................................................................ 17
1.2. Família .................................................................................................. 20
1.2.1. Ciclo Vital da Família ......................................................................... 22
1.2.2. Famílias com filhos na Escola ............................................................ 23
1.2.3. Funções da Família ........................................................................... 25
1.3. A Escola ................................................................................................ 26
1.3.1. Funções da Escola ............................................................................ 27
1.3.2. A Escola como comunidade educativa .............................................. 29
Capítulo II - Família, Escola e Comunidade uma relação de
complementaridade .......................................................................................... 32
2.1. A relação família, escola e comunidade ............................................... 32
2.1.1. Família e Escola – Contextos Facilitadores do Desenvolvimento
Saudável .......................................................................................................... 35
2.2. O Envolvimento e a Participação dos Pais na vida da Escola .............. 36
2.2.1. Os benefícios do envolvimento parental na escola ............................ 37
2.2.2. Tipologias do envolvimento e participação dos pais .......................... 39
2.3. A relação família e escola na Legislação .............................................. 43
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2.3.1. Constituição da República Portuguesa .............................................. 43
2.3.2. Lei de Bases do Sistema Educativo ................................................... 45
2.3.3. Estatuto do Aluno ............................................................................... 47
2.3.4. Lei do Regime de Autonomia, Administração e Gestão dos
Estabelecimentos Públicos da Educação Pré-escolar e dos Ensinos Básico e
Secundário ....................................................................................................... 48
2.3.5. Lei sobre Gestão e Autonomia das Escolas – Representantes de
Turma ............................................................................................................... 49
2.3.6. Lei das Associações de Pais e Encarregados de Educação ............. 50
Capítulo III - Trabalho de Intervenção – Revitalização de uma APEE ......... 53
3.1. Opções metodológicas ......................................................................... 55
3.2. Caracterização do meio e do contexto educacional em estudo ............ 57
3.2.1. Breve caracterização de Vila do Conde e da Zona Norte do Ave ...... 58
3.2.2. Breve caracterização Agrupamento de Escolas da Junqueira - AVEJ 62
3.3. Apresentação e Análise dos Resultados .............................................. 66
3.3.1. Participantes no Estudo - Amostra ..................................................... 66
3.3.2. Estabelecimento de contacto com os participantes ........................... 67
3.3.3. Entrevista ........................................................................................... 69
3.3.4. Análise de Conteúdo .......................................................................... 70
3.3.4.1. Entrevista ao Subdirector do Agrupamento (SD) - representante da
Escola .............................................................................................................. 70
3.3.4.2. Entrevistas aos dirigentes associativos das AP, enquanto
representantes dos pais/famílias...................................................................... 77
3.3. Projecto de Intervenção Comunitária - Revitalizar a Associação de Pais
do Agrupamento de Escolas da Junqueira – APAEJ ....................................... 88
3.4. Articulação dos resultados com as hipóteses formuladas .................... 89
3.5. Resposta à Pergunta de Partida ........................................................... 91
Considerações Finais .................................................................................. 94
Bibliografia ................................................................................................... 97
Anexos
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ÍNDICE DE QUADROS
Quadro 1 - Características dos contextos facilitadores do desenvolvimento
saudável ........................................................................................................... 36
Quadro 2 - Número de Alunos ano lectivo 2010-2011 ................................. 63
Quadro 3 - Situações problemáticas/prioritárias .......................................... 65
Quadro 4 - Identificação dos participantes no estudo .................................. 67
Quadro 5 - Associações de Pais .................................................................. 71
Quadro 6 - Associações de Pais no AVEJ ................................................... 71
Quadro 7 - Relação com o Agrupamento .................................................... 73
Quadro 8 - Actividades ................................................................................ 74
Quadro 9 - Estratégias de intervenção ........................................................ 76
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ÍNDICE DE ANEXOS
Anexo 1 – Funções da Escola;
Anexo 2 – Diário de Bordo;
Anexo 3 – Cartas enviadas aos Representantes das APEE;
Anexo 4 – Guiões das entrevistas;
Anexo 5 – Transcrição entrevista a “SD” do AVEJ;
Anexo 6 – Análise de Conteúdo entrevista efectuada a “SD” do AVEJ;
Anexo 7 – Transcrição das entrevistas efectuadas aos Representantes das
APEE;
Anexo 8 – Análise de Conteúdo das entrevistas efectuadas aos
Representantes das APEE;
Anexo 9 – Registo de Reunião;
Anexo 10 – Sessão de Sensibilização sobre “A Importância da Participação
dos Pais na Vida da Escola”
- Planificação e Avaliação da Actividade;
- Cartaz de divulgação;
- Panfleto;
- Folha de Avaliação;
- Ficha para os Pais;
Anexo 11 – Auto de Tomada de Posse da APAEJ.
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LISTA DE ABREVIATURAS
AP – Associação de Pais;
APEE – Associação de Pais e Encarregados de Educação;
APAEJ – Associação de Pais do Agrupamento de Escolas da Junqueira
APEEA - Associação de Pais e Encarregados de Educação de Arcos;
APEEB - Associação de Pais e Encarregados de Educação de Bagunte;
APEET - Associação de Pais e Encarregados de Educação de Touguinha;
AVEJ – Agrupamento Vertical de Escolas da Junqueira;
CLDS – Contrato Local de Desenvolvimento Social;
CONFAP – Confederação Nacional das Associações de Pais;
CRP – Constituição da República Portuguesa;
DC – Desenvolvimento Comunitário;
EE – Encarregados de Educação;
ESEPF – Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti;
FAPCONDE - Federação Concelhia das Associações de Pais e
Encarregados de Educação do Concelho de Vila do Conde;
IC – Intervenção Comunitária;
LBSE – Lei de Bases do Sistema Educativo.
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INTRODUÇÃO
O tema deste trabalho tem por referência a “Família, Escola e Comunidade -
o papel das Associações de Pais no Agrupamento Vertical da Escola da
Junqueira”, foi escolhido por ser um assunto de grande relevo e pertinência nos
dias de hoje, na medida em que é muito mediatizado, mas pouco reflectido e
aprofundado, necessitando, frequentemente, da intervenção de técnicos
especializados e exteriores ao contexto familiar e escolar, a fim de ajudá-los a
encontrar estratégias pró-activas que promovam relações de maior
proximidade e fomentem o desenvolvimento de acções conjuntas.
Embora esta temática tenha já sido alvo de estudo por parte de diversos
investigadores, ela continua a despertar interesse em diversos intervenientes
do processo educativo, na medida em que o diálogo assume um papel de
destaque na relação da escola com a família e vice-versa. Das investigações
efectuadas sobre a importância da relação família-escola, em geral, todas
corroboram a ideia de que o diálogo, a participação e o envolvimento familiar
na vida da escola tem um reflexo positivo quer nos alunos, nos encarregados
de educação, nos professores, nos estabelecimentos de ensino e na própria
sociedade. Dos estudos efectuados relacionados com esta temática destaca-se
o de Davies (1987,1989)1; Epstein (1984, 1987, 1992)2; Davies, Marques e
Silva (1993)3; Diogo (1998)4; Stoer e Silva (2005)5; Montadon e Perrenoud
(2001)6; Silva (2001, 2003, 2009)7.
O presente estudo desenvolveu-se no contexto territorial de Vila do Conde,
designadamente na freguesia da Junqueira e apostou numa abordagem
comunitária, actuando em parceria com o Contrato Local de Desenvolvimento
1 Efectuou um estudo a nível nacional sobre a ligação das escolas aos pais, realçando os obstáculos e benefícios do envolvimento. 2 Desenvolveu uma tipologia sobre a colaboração entre família, escola e comunidade. 3 Investigadores que desde há muitos anos se dedicam ao estudo e à divulgação do envolvimento dos pais no processo educativo e à aproximação das escolas à família. Escreveram um livro baseado em estudos sobre a colaboração possível entre professores e famílias. 4 Realizou um estudo sobre a parceria escola-família e a importância de uma educação participada. 5 Apresentam artigos sobre a relação escola-família, vendo-a como um processo em reconfiguração. 6 Apresentam uma análise sociológica acerca das interacções entre família-escola e a importância de uma comunicação eficaz. 7 Realizou um estudo etnográfico, anos 90, em três comunidades educativas do 1º ciclo no centro–litoral do país. Abordou a relação escola-família enquanto relação armadilhada.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
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Social existente no concelho. A essência deste trabalho prende-se com a
promoção de uma relação de cooperação entre família, escola e comunidade,
tendo por referência as Associações de Pais e Encarregados de Educação
(APEE) existentes no Agrupamento Vertical de Escolas da Junqueira (AVEJ).
Quando abordamos questões ligadas com a família e a escola, emerge a
necessidade de uma intervenção efectiva, que se deseja responsável e, acima
de tudo, multidisciplinar e bastante empenhada. Neste sentido, o trabalho
desenvolvido junto do AVEJ, além de fomentar uma relação de cooperação
entre família-escola, pretende aprofundar as representações que os pais têm
acerca da escola, analisar a importância que eles atribuem à sua integração e
participação no meio escolar, conhecer as APEE existentes no Agrupamento,
sua organização e dinâmica, assim como identificar iniciativas que dêem
sustentabilidade às associações de pais (AP) e que envolvam directamente os
pais/família.
Este trabalho além de promover uma relação de colaboração entre família,
escola e comunidade pretende encontrar respostas concretas e sustentáveis,
que através da mobilização das APEE e a implicação da Direcção do
Agrupamento, potenciem a revitalização da Associação de Pais do
Agrupamento de Escolas da Junqueira (APAEJ), além de demonstrar que “a
intervenção comunitária constitui uma prática facilitadora na reconstrução e
dinamização APAEJ”.
Este trabalho é constituído por três capítulos, sendo que o primeiro e
segundo capítulo apresentam o enquadramento teórico do objecto de estudo e
o terceiro incide sobre a vertente prática do trabalho.
No primeiro capítulo começamos por fazer uma abordagem sobre a
intervenção comunitária na promoção da relação família, escola, e
comunidade. Ao longo deste capítulo são explorados, sobre diferentes
perspectivas, os conceitos de comunidade, intervenção comunitária,
desenvolvimento comunitário, bem como o conceito de família e escola. Face
ao contexto familiar e escolar este capítulo realça:
- ao nível da família: o ciclo vital, em particular as famílias com filhos na
escola, além de identificar as suas funções;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
11
- ao nível da escola: as suas funções e tenta compreendê-la do ponto de
vista de uma comunidade, ou seja, como comunidade educativa.
No segundo capítulo, debruçamo-nos sobre a relação de
complementaridade entre família, escola e comunidade. Damos especial relevo
à relação entre família e escola e tentamos perceber as características que
fazem delas contextos facilitadores do desenvolvimento saudável. Destacamos
a importância do envolvimento e participação dos pais na vida da escola,
analisamos os seus benefícios e explicamos as tipologias de envolvimento
baseadas nos princípios de Joyce Epstein (1997)8. Este capítulo culmina com
uma breve apresentação acerca dos direitos e deveres dos pais, com base em
diversos documentos normativos legais, sendo exemplo a Lei de Bases do
Sistema Educativo, Estatuto do Aluno e a Lei das Associações de Pais.
No terceiro capítulo focamos a vertente prática deste trabalho, fazendo
referência aos objectivos que lhe estão subjacentes, método e técnicas
utilizadas na recolha de dados e à caracterização do contexto em estudo e da
amostra. Posteriormente, apresentamos os dados e fazemos uma articulação
destes com as hipóteses teóricas e a pergunta de partida.
Salientamos que este estudo não pretende ser conclusivo, mas constituir um
ponto de partida para outros trabalhos mais aprofundados quanto à relação
família, escola e comunidade.
8 Joyce Epstein - investigador que desenvolveu uma tipologia sobre a colaboração escola-família-comunidade, composta por seis tipos de envolvimento.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
12
CAPÍTULO I - ABORDAGEM COMUNITÁRIA NA PROMOÇÃO DA RELAÇÃO FAMÍLIA, ESCOLA E COMUNIDADE
“A intervenção no domínio do trabalho social tornou-se, nos nossos dias, uma prática profissional extraordinariamente exigente, não só pela natureza das fracturas pessoais e sociais com que confrontamos, como pela exigência que dimana das próprias sociedades no seu conjunto: enquanto de radicalizam os mecanismos que conduzem à dualidade destas sociedades, crescem igualmente no seu seio exigências acrescidas que impõem, no mínimo, o acompanhamento das situações de ruptura que fustigam vidas e projectos”.9
1.1. A Comunidade e a importância da Intervenção comunitária
Sentir a comunidade como actor social é algo de fundamental nos dias de
hoje, principalmente no que respeita à intervenção comunitária. No entanto, o
conceito de comunidade é algo de complexo, além de diversificado devido às
diferentes interpretações existentes.
Nas palavras de Gómez, Freitas e Callejas (2007) comunidade:
“designa uma entidade social e espacial determinada por um território e pelos seus habitantes, por uma estrutura social e códigos culturais singulares. É um espaço de vida onde se concretizam os problemas, as necessidades, os projectos e as esperanças de um amplo grupo de pessoas que, a partir da sua organização em diversas instituições, pretendem dar resposta aos desafios do seu meio”.10
Desta citação, depreendemos que a comunidade enquanto espaço de vida é
um campo delimitado, envolvendo aspectos territoriais, geográficos, sociais e
culturais. Os mesmos autores defendem também que a comunidade pode ser
vista como um suporte, suporte de unidade, entre o familiar e o social que se
particulariza por uma convivência e uma visão particular e partilhada acerca da
vida e do mundo.
Ander-Egg (1982), relativamente ao conceito de comunidade, afirma que ela
“é uma unidade social cujos membros participam de algum interesse, elemento
9 CARVALHO, Adalberto Dias de, “Prefácio”, in Ana Maria Serapicos, Daniela Gonçalves, Florbela Samagaio Gandra, Gabriela Trevisan, Paula Medeiros (Org.), Actas do Encontro de Intervenção Social Saberes e Contextos, Porto, Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, 2006, pág. 9; 10 GÓMEZ, José António Caride, FREITAS, Orlando Manuel Pereira de, CALLEJAS, Germán Vargas, Educação e Desenvolvimento Comunitário Local – Perspectivas Pedagógicas e Sociais de Sustentabilidade, Maia, Profedições, Outubro 2007, pág. 132;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
13
ou função comum, com consciência de pertença, situados numa determinada
área geográfica, na qual a pluralidade de pessoas interactua mais
intensamente entre si do que noutro contexto”.11 Na mesma linha de
pensamento, Caride (1997:226, cit. por Gómez, Freitas e Callejas 2007) indica
que “a comunidade é (…) uma área da vida social que se singulariza pela
adesão que mantêm os seus integrantes, com um sentido de pertença que não
se entende sem a presença de níveis mínimos de solidariedade e intercâmbio
de significados, características psicológicas e culturais”.12 Tendo em
consideração os elementos presentes em cada uma das definições
depreendemos que existem características que identificam uma comunidade e
que vão além dos aspectos defendidos por Tonnies “a) uma unidade ou base
territorial, b) crenças ou valores comuns; c)relações sociais”.13 Das
características, destacamos:
- População que representa o conjunto humano que constituí a estrutura
social da comunidade. Nela está representada a interacção e os laços
estabelecidos entre as pessoas e a forma como estas organizam-se para
dinamizar a sua cultura a partir das necessidades e interesses, quer sejam de
índole particular ou grupal;
- Território é o suporte geográfico da comunidade e uma fonte de recursos
onde se cultiva a identidade através das práticas comunicativas, educativas e
desenvolvimentais. É o espaço onde se geram laços de solidariedade, pertença
e unidade geográfica e sociocultural;
- Organizações sociais são as entidades que dão um sentido de unidade à
comunidade. Estas organizações apresentam interesses comunitários e
objectivos comuns. Com a presença das entidades a comunidade alcança uma
identidade diferente dando razão à sua existência como colectividade social.
- Interacções são uma exigência central para a estruturação da comunidade.
Ela engloba vivências do passado e do presente, bem como as projecções
futuras que são fundamentais para o fomento da comunicação e dos laços de 11 ANDER-EGG, Ezequiel, Metodologia y Práctica del Desarollo Comunitario, Buenos Aires, Humanitas, 1982, pág. 21; 12
GÓMEZ, José António Caride, FREITAS, Orlando Manuel Pereira de, CALLEJAS, Germán Vargas, Educação e Desenvolvimento Comunitário Local – Perspectivas Pedagógicas e Sociais de Sustentabilidade, Maia, Profedições, Outubro 2007, pág. 132; 13 SILVA, Pedro, “Crianças e comunidades como actores sociais: uma reflexão sociológica no âmbito da interacção entre escolas e famílias”, in Teresa Sarmento (org.), Infância, Família e Comunidade – As crianças como actores sociais, Porto, Porto Editora, 2009, pág. 28;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
14
amizade e solidariedade. Estando as interacções ligadas pela proximidade e
semelhança de interesses fazem com que o grupo tenha uma identidade
singular;
- Pertença é um sentimento de índole individual e colectivo assente na
participação e identidade, este baseia-se nas relações comunicativas o que
facilita a integração e suscita a segurança nas pessoas;
- Interesses comuns são uma qualidade de toda a comunidade e implica a
partilha de interesses, de tal forma que fomentam a criação de acções comuns
e institucionais com vista a regular a convivência e fortalecer a identidade
social;
- Comunicação sendo a capacidade humana de entendimento serve de meio
para o intercâmbio/partilha de ideias e uma utilização comum de significados
que propiciem a construção do sentido de comunidade.
A comunidade sendo um espaço de vida social, nela estabelecem-se
relações e interacções entre pessoas e colectividades alicerçadas na
solidariedade e no intercâmbio de significados próprios relacionados com o
território, a língua e a cultura. O objectivo é que os alicerces tenham uma
continuidade no tempo como defende Carmo (2007) quando indica que na
comunidade existe um “alto grau de intimidade pessoal, relações sociais
afectivamente alicerçadas, compromisso moral, coesão social e uma
continuidade no tempo”. 14
Quando pensamos em comunidade devemos ter em consideração que nela
existem funções que fazem parte da sua natureza. Segundo Gómez, Freitas e
Callejas (2007) as funções da comunidade baseiam-se “a) na
socialização, transmissão e prática das normas culturais; b) no controlo
social dos membros do grupo; c) na promoção da participação social e a
integração dos indivíduos; d) na formação de uma identidade colectiva;
e) na consolidação de laços de solidariedade que assegurem a
14 CARMO, Hermano, Desenvolvimento Comunitário, Lisboa, Universidade Aberta, 2007, pág. 81;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
15
estabilidade e a vivência das pessoas e da comunidade; f) a produção,
distribuição e consumo de bens”. 15
1.1.1. Intervenção Comunitária vs Desenvolvimento Comunitário
Conhecer a comunidade e a sua forma de organização é importante para o
interventor social, mas reflectir sobre a comunidade implica que nos
debrucemos também sobre os conceitos de intervenção comunitária (IC) e
desenvolvimento comunitário (DC) que, embora parecem iguais, são
ligeiramente diferentes.
A IC é um conjunto de práticas que leva o indivíduo a compreender o seu
meio nos aspectos social, cultural, político e económico, ajudando-o a tomar
consciência dos problemas existentes e dos meios que necessita para os
resolver. Neste sentido, podemos afirmar que quando a intervenção surge das
necessidades da comunidade e da consciencialização que os indivíduos têm
acerca dos problemas que os afectam, contribui para que haja motivação,
participação e coesão, tornando-os, assim, interventores no seu próprio
processo de mudança. Deste modo:
“a intervenção comunitária infiltra-se na inter-relação entre o território, a população e as suas exigências e recursos, que directa ou indirectamente determinam e condicionam a vida das comunidades e regulam os processos humanos e sociais que nele se desenrolam […] as intervenções na comunidade esclarecem as possibilidades esclarecem as possibilidades da administração local de agir eficazmente no desenvolvimento local por poder utilizar de formais mais global e coordenada os múltiplos recursos e serviços públicos, privados e voluntários no desenvolvimento de um projecto sustentável”. 16
A IC tem como fundamento o conhecimento global da realidade e a
promoção de práticas que envolvam a integração, parceria e a co-
responsabilização de todos os que nela estão envolvidos. Ela também promove
práticas de inclusão que apostam em valores comunitários, como podemos
verificar em Fernández (2009):
15
GÓMEZ, José António Caride, FREITAS, Orlando Manuel Pereira de, CALLEJAS, Germán Vargas, Educação e Desenvolvimento Comunitário Local – Perspectivas Pedagógicas e Sociais de Sustentabilidade, Maia, Profedições, Outubro 2007, pág. 134; 16 Ibidem, pág. 134;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
16
“o trabalho comunitário ou a intervenção comunitária potencia práticas de inclusão que não só respondem a necessidades de sobrevivência, mas também a valores comunitários, como a cooperação, co-gestão, co-participação, comunicação, contestação do consumismo, solidariedade e participação”17.
De um modo geral, podemos afirmar que as linhas orientadoras da IC,
seguindo a perspectiva de Marchioni (1999, cit. Gómez, Freitas e Callejas
2007: 124) apostam na melhoria contínua das condições de vida, engloba o
protagonismo dos elementos comunitários fundamentais (população,
administração local e recursos técnicos, profissionais e científicos), enfatiza as
relações abertas e democráticas, valoriza o uso equilibrado e coordenado dos
recursos comunitários e passa pela execução de um projecto colectivo. No
entanto, a elaboração de um projecto de intervenção na perspectiva de
Menezes (2010) “envolve um processo de planeamento que implica, em
conjunto com a comunidade, analisar o contexto e os problemas aí sentidos,
aprofundar a forma como esses problemas são definidos e quais os recursos
existentes para os resolver, identificar prioridades e grupos-alvo”.18
Relativamente ao DC Ornelas (2008) refere que ele “é um processo que
parte da participação activa da comunidade e procura criar condições
económicas, sociais, políticas e ambientais satisfatórias para todos os seus
membros, partindo da mobilização das capacidades e recursos da
comunidade”.19 Salienta também que o desenvolvimento comunitário tem na
sua base cinco conceitos fundamentais – capital social, sustentabilidade,
empowerment, construção de capacidades e o desenvolvimento de novos
recursos, sendo uma metodologia de trabalho que acredita e aposta na
mobilidade de pessoas e entidades existentes no meio, a fim de resolverem os
seus próprios problemas e desenvolverem capacidades de intervenção sobre a
própria realidade. Assim, a forma mais eficaz de melhorar as condições de vida
das populações “passa pela criação de organizações locais participativas, pela
existência de governos locais responsáveis, pela melhoria das condições
habitacionais e de emprego, pela existência de recursos recreativos e de lazer
17 FERNÁNDEZ, Xosé Manuel Cid, “Intervenção Comunitária e Práticas de Inclusão”, Saber & Educar, N.º14, 2009, pág. 1; 18 MENEZES, Isabel, Intervenção Comunitária: Uma Perspectiva Psicológica, Oliveira de Azeméis, Livpsic, 2010, pág. 51; 19 ORNELAS, José, Psicologia Comunitária, Lisboa, Fim do Século, 2008, pág. 248;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
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diversificados, de espaços públicos limpos e seguros e pela promoção do
sentimento de vizinhança”20.
Segundo Chistenson, Fendley e Robinson (1989, cit. por Ornelas 2008:248)
existem seis condições fundamentais para o sucesso do desenvolvimento
comunitário, sendo elas: existência de líderes informados e com ligações fortes
externas ao seu contexto; compreensão das condições económicas específicas
e das suas interdependências com as economias globais; uma participação
pública significativa; identificação dos nichos de uma comunidade a nível local,
estatal e global; abertura para a inovação e aceitar possíveis alternativas; e
organizar e maximizar o capital humano e financeiro.
Em suma, trabalhar com a comunidade implica que a intervenção efectue-se
de forma organizada e que tenha em consideração as necessidades e
interesses da própria comunidade para que, posteriormente, seja aplicada uma
metodologia onde esteja implícita a planificação, preparação, conhecimento e
participação dos cidadãos em actividades educativas contextualizadas com a
realidade social e cultural que caracteriza a comunidade. Por sua vez, existem
palavras-chave que devem estar presentes no decurso de todo o processo e
ser proferidas por todos os intervenientes, sendo de referir “o diálogo, a
abertura, a flexibilidade e o convite”.21
1.1.2. Papel do Interventor Social
“A intervenção comunitária implica disponibilidade para trabalhar com as pessoas e as comunidades – e não em vez delas ou apesar delas – a flexibilidade e abertura são características dos profissionais, juntamente com a disposição para improvisar”.22
Aos profissionais que dirigem acções no âmbito da intervenção
social/comunitária é exigida uma contínua reflexão e um conhecimento
profundo acerca das pessoas e do meio sobre o qual dirigem a sua acção,
20 Ibidem, pág. 248; 21
GÓMEZ, José António Caride, FREITAS, Orlando Manuel Pereira de, CALLEJAS, Germán Vargas, Educação e Desenvolvimento Comunitário Local – Perspectivas Pedagógicas e Sociais de Sustentabilidade, Maia, Profedições,
Outubro 2007, pág. 141; 22
MENEZES, Isabel, Intervenção Comunitária: Uma Perspectiva Psicológica, Oliveira de Azeméis, Livpsic, 2010, pág. 51;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
18
reconhecendo que o fundamental é trabalhar com as pessoas e ajudá-las no
processo de mudança, fomentando a coesão e a participação activa.
Segundo Carmo (2007) o interventor deve deter um conhecimento
abrangente acerca do grupo com o qual actua, nomeadamente ao nível cultural
como das suas especificidades; de si próprio e exercer, frequentemente, um
posicionamento autocrítico sobre o seu desempenho, pois só assim é que
consegue evitar determinados preconceitos e estereótipos; dos elementos que
integram o ambiente da intervenção – nível político, económico, social e
cultural, bem como, das ameaças e das potencialidades existentes; e dos
elementos que figuram a interacção social, principalmente o sistema de
comunicações, quer seja presencial ou à distância.
O facto de integrar equipas multidisciplinares e trabalhar junto de
profissionais de diferentes áreas do saber é uma mais-valia, para todo o
interventor social, na medida em que fomenta o trabalho em rede/equipa e
possibilita a troca de conhecimentos, metodologias e práticas.
O interventor social tem que ter a capacidade de reconhecer que o seu
trabalho comporta desafios e escolhas e que é nesse mundo de “aventura e
risco” (Carolyn Swift 2000, cit. por Menezes 2010) que estão presentes os
quatro ofícios da intervenção comunitária que Menezes (2010) identifica de
“ofício da relação (vs. o ofício da récita), ofício do pluralismo (vs. o ofício da
verdade), o ofício de se tornar irrelevante (vs. o ofício de ser insubstituível) e o
ofício de “fazer política por outros meios” (vs. o ofício de “não tomar partido”)”.23
Ofício da relação (vs. o ofício da récita) - O estabelecimento de relações
de proximidade e confiança entre profissionais e cidadãos são fundamentais na
IC. É na relação com os outros que a intervenção ganha “legitimidade e
eficácia”, além de constituir, ao mesmo tempo, “estratégia e contexto de
intervenção”, pois é através da relação que se propiciam condições “para que
os problemas, objectivos e projectos sejam expressos e (re)formulados”.24 É
importante que os interventores não trabalhem unicamente para mostrar
resultados, mas que tenham paciência e evitem a pressa no decorrer de todo o
processo, evitando as récitas. Os resultados devem ser apresentados e
23 Ibidem, pág. 105-110; 24 Ibidem, idem, pág. 106;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
19
divulgados quando fizerem sentido para os intervenientes, de tal modo que não
interferirem na construção da relação.
Ofício do pluralismo (vs. o ofício da verdade) - A IC reconhece que o seu
trabalho envolve muitos agentes e que estes têm perspectivas diferentes.
Neste sentido, torna-se pertinente escutar, perceber e compreender os
diversos pontos de vista que os agentes envolvidos têm sobre os problemas e
as formas de os resolver, em vez de buscar unicamente a verdade. Segundo
Menezes (2010) o importante neste processo é “reconhecer, legitimar e
valorizar as dissensões e os conflitos ao invés de exercer pressão para a
criação de consensos à custa da diversidade e do pluralismo”. 25
Ofício de se tornar irrelevante (vs. o ofício de ser insubstituível) - Deste
ofício destacam-se dois aspectos fulcrais, o primeiro indica que o interventor
social deve intervir no sentido da promoção da autonomia e do empoderamento
das pessoas, grupos e instituições da comunidade, actuando como suporte e
sendo catalizador no processo de mudança, em vez de querer ser visto
eternamente como o salvador. O segundo aponta para o papel do profissional e
nas implicações directas, reconhecendo a necessidade de criar uma rede de
suporte que envolva outros profissionais para que, em conjunto, possam
afrontar questões que vão surgindo na prática, dito de outra forma, é
importante criar espaços de partilha onde os profissionais podem expressar as
suas dúvidas e através do questionamento e do envolvimento, resulte a
reconstrução de saberes e formas de actuação.
Ofício de “fazer política por outros meios” (vs. o ofício de “não tomar
partido”) - Segundo Francesco e Tomai (2001), Prado (2002) (cit. por
Menezes 2010) o “trabalho da intervenção comunitária é um trabalho
comprometido: comprometido com a promoção do bem-estar e da justiça social
e, por isso, inevitavelmente político”.26 Assim, torna-se pertinente que os
profissionais que actuem ao serviço da intervenção comunitária fomentem a
igualdade, a autonomia, o bem-estar e a justiça social junto das pessoas,
grupos, instituições e comunidades, deixando de lado a desumanização.
25
Ibidem, idem, pág. 107; 26 Ibidem, idem, pág. 109;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
20
Em suma, é necessário que os profissionais observem e compreendam as
pessoas e comunidades através dos seus contextos, reconhecendo que elas
contêm valores e propósitos que devem ser tidos em consideração na
construção de processos de mudança que se desejam sustentáveis. O
princípio colaborativo assume assim um papel de destaque, na medida em que
os interventores sociais devem ter capacidade de construir uma relação de
trabalho e confiança com os diferentes participantes, fomentando a sua
colaboração e envolvimento quer na definição e compreensão do problema,
bem como na criação de soluções.
Culminada a abordagem sobre a comunidade e a IC, passaremos a reflectir
sobre a família e a escola, enquanto contextos de intervenção, compreendendo
a sua importância, papel e função para que, numa fase seguinte, nos
debrucemos sobre a relação existente entre eles.
1.2. Família “Família é contexto natural para crescer. Família é complexidade. Família é a teia de laços sanguíneos e, sobretudo, de laços afectivos. Família gera amor, gera sofrimento. A família vive-se. Conhece-se e reconhece-se”.27
A família é o primeiro agente de socialização da criança e pensamos nela
como o lugar onde nascemos, crescemos e morremos, embora no decorrer
deste percurso, possamos ter mais do que uma família. É no espaço familiar
onde se desenvolvem as aprendizagens mais significativas quer no campo das
interacções como das vivências. Segundo Alarcão (2000) na dimensão das
interacções privilegia-se “os contactos corporais, a linguagem, a comunicação,
as relações interpessoais”28, enquanto na dimensão das vivências subsistem
“relações afectivas profundas: a filiação, a fraternidade, o amor, a
sexualidade… numa trama de emoções e afectos positivos e negativos que, na
sua elaboração, vão dando corpo ao sentimento de sermos quem somos e de
pertencermos àquela e não a outra família".29
27 RELVAS, Ana Paula, O Ciclo da Família – Perspectiva Sistémica, Porto, Edições Afrontamento, 1996, pág. 9; 28 ALARCÃO, Madalena, (des)Equilíbrios Familiares, Coimbra, Quarteto, 2000, pág. 35; 29 Ibidem, pág. 35;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
21
Quando falamos em família devemos vê-la como um todo, em vez de a
reduzir à soma dos seus indivíduos. Analisar a família no seu todo implica ter
um olhar abrangente e descentrado dos problemas e desequilíbrios que lhe
estão inerentes, pois através de uma visão global centrada na sua estrutura
(dimensão espacial) e no seu desenvolvimento (dimensão temporal) é que
compreendemos “o que a torna una e única”.30 Ribeiro (2003) apresenta-nos a
família indicando que cada família enquanto sistema é um todo, “mas é
também uma parte integrante de contextos mais vastos como a comunidade e
a sociedade”.31
Hoje existe uma diversidade de modelos familiares que, segundo Gimeno
(2003), estão relacionados com a história e com a cultura, mas “que torna difícil
atingirmos um consenso de definição única de família, mesmo que,
intuitivamente, todos tenhamos em mente uma concepção e até uma atitude
básica em relação a ela”.32 Neste contexto, passaremos a apresentar algumas
definições baseadas na perspectiva sistémica e alguns componentes que lhe
estão inerentes, sendo exemplo termos relacionados com sistema, tempo e
mudança. Maxler e Mishler (1978, cit. por Gimeno 2003) descrevem família
“como um grupo primário, um grupo de convivência intergeracional com
relações de parentesco e com uma experiência de intimidade que se prolonga
ao longo do tempo”.33 Nesta descrição a palavra tempo assume um papel de
destaque, na medida em que é uma dimensão importante para compreender a
realidade familiar, na qual Gottman (1982, cit. por Gimeno em 2003) engloba
“as expectativas de futuro e a história de um passado comum que configuram o
grupo familiar, diferenciando-o de outros grupos primários, dando-lhe
identidade e constituindo-o como o ponto-chave da análise da família no
presente”.34
Burgess (1979, cit. por Gimeno 2003) define família como “uma unidade de
pessoas em interacção”.35 Neste contexto, Gimeno (2003) ressalva que o termo
30 Ibidem, idem, pág. 37; 31 RIBEIRO, Teresa de Jesus Reis Laranja Strecht, Relação Escola-Família – Uma Comunicação Essencial, Porto, Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti Complemento de Formação em Comunicação Educacional e Gestão da Informação, 2003, pág. 15; 32
GIMENO, Adelina, A Família – O Desafio da Diversidade, Lisboa, Instituto Piaget, 2003, pág. 39-40; 33 Ibidem, pág. 40; 34 Ibidem, idem, pág. 40; 35 Ibidem, idem, pág. 40;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
22
de unidade deve ser compreendido na sua totalidade, na medida em que as
pessoas que formam o sistema não funcionam isoladamente, visto que
qualquer mudança num elemento causa mudanças internas nos restantes
membros e modifica o sistema no seu conjunto.
Andolfi (1981, cit. por Alarcão em 2000) descreve família como um sistema
entre sistemas e destaca o quanto é importante a exploração das relações
interpessoais. Ele refere que a família é:
“sistema de interacção que supera e articula dentro dela os vários componentes individuais […] a família é um sistema entre sistemas e que é essencial a exploração das relações interpessoais, e das normas que regulam a vida dos grupos significativos a que o individuo pertence, para uma compreensão do comportamento dos membros e para a formulação de intervenções eficazes.”36
Diogo (1998) interpreta família como “lugar em que as pessoas se
encontram e convivem, a família é também o espaço histórico no qual e a partir
do qual se desenvolve a divisão do trabalho, dos espaços, das competências,
dos valores, dos destinos pessoais”.37 Assim, a família torna-se um espaço
privilegiado de construção social da realidade, uma vez que é um espaço onde
as pessoas encontram-se, convivem e relacionam-se, além de definirem papéis
e desenvolverem competências e valores.
1.2.1. Ciclo Vital da Família
A família é um sistema em evolução e ao longo do tempo vai sofrendo
transformações na sua organização, modificações que, pela sua sequência,
denominam-se de ciclo vital. O ciclo vital é “o caminho que a família percorre
desde que nasce até que morre”38 e comporta duas inter-faces
desenvolvimentais: indivíduo/grupo familiar e família/meio sociocultural. Estas
inter-faces integram de forma interactiva “factores como a dinâmica interna do
sistema, os aspectos e características individuais e a relação com os contextos
em que a família se insere, nomeadamente a sociedade e os seus outros
sistemas”39.
36 ALARCÃO, Madalena, (des)Equilíbrios Familiares, Coimbra, Quarteto, 2000, pág. 38; 37
DIOGO, José, Parceria Escola – Família. A caminho de uma escola participada, Porto, Porto Editora, 1998, pág. 37;
38 SILVA, Luísa Ferreira da, Acção Social na Área da Família, Lisboa, Universidade Aberta, 2001, pág. 48; 39 Ibidem, pág. 48;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
23
A primeira classificação das etapas do ciclo vital da família surge, nos anos
cinquenta com o sociólogo Duvall, que usa como critério para a delimitação dos
estádios a presença das crianças e a idade do filho mais velho. Este identifica
oito etapas, sendo elas: casal sem filhos, famílias com recém-nascidos, família
com criança(s) em idade pré-escolar, família com criança(s) em idade escolar,
família com filho(s) adolescente(s), família com jovem(ns) adulto(s), casal na
meia-idade, envelhecimento.
Relvas (1996) refere que “ a entrada na escola e a adolescência dos filhos
colocam à família questões bem diferenciadas, não tanto em termos do sentido
das mudanças, que será sempre a separação, mas em função do grau,
qualidade e efeitos da própria mudança”.40 Neste contexto Relvas propõe um
esquema do ciclo vital um pouco diferente dividindo-o em cinco etapas:
formação do casal, família com filhos pequenos, família com filhos na escola,
família com filhos adolescentes e família com filhos adultos.
Face ao ciclo vital apresentado por Relvas, a terceira etapa é aquela que
maior importância detém neste trabalho, visto que a intervenção foi
direccionada, como podemos verificar no capítulo III, para famílias com filhos
na escola e a relação existente entre os dois contextos educativos.
1.2.2. Famílias com filhos na Escola
Com a entrada da criança na escola a família tem que se adaptar a uma
série de transformações e lidar com a abertura ao mundo extra-familiar.
Relvas (1996:120) refere que a escola é um sistema social organizado e
hierarquizado, mas mais vasto e complexo que a família, na medida em que
possui uma estrutura integrada e estável, dotada de dispositivos auto-
reguladores e com um considerável grau de autonomia. Possui ainda um
conjunto que regras que influenciam a sua estrutura e funcionamento e que, tal
como a família, tem por função assegurar a coesão e a estabilidade dos
elementos em interacção. Por sua vez, estas regras integram um código que,
no meio escolar, é constituído:
40
RELVAS, Ana Paula, O Ciclo da Família – Perspectiva Sistémica, Porto, Edições Afrontamento, 1996, pág.21;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
24
“por leis escritas que definem as finalidades gerais da escola e sua organização (leis que regulamentam o sistema educativo como obrigatoriedade da escolaridade, definição dos conteúdos programáticos, etc.), tradições (que se referem à concepção do papel da escola na transmissão de valores culturais) e mitos (a escola vista, por exemplo, como trampolim para o êxito social, o sucesso escolar considerado como sinónimo de inteligência, ou ainda, como sucedâneo de um bom meio familiar)[…] o código influencia todos os níveis hierárquicos no seio da própria escola concebida como macrossistema Vai igualmente influir na gestão das relações da escola com o exterior, nomeadamente com a(s) família(s).”41
A criança, quando inserida na escola, fica em contacto com este código que
lhe vai ser imposto pelo novo contexto que integra e transportá-lo-á para o
espaço familiar, dando origem a uma transferência destas normas com as
vivências familiares e para as suas próprias regras. Por sua vez, quando os
dois códigos não se conciliam, ou seja, quando se verifica que apresentam
divergências ou até incompatibilidade entre as regras e os valores que os
caracterizam, a família poderá sentir-se perturbada não sabendo como integrar
essas novas normas ou não sabe até que ponto deverá fazê-lo. Para Relvas
(1996):
“O código da instituição escolar não se limita a influenciar largamente os processos comunicacionais que se desenrolam no interior da comunidade escolar entre as pessoas que a compõem – professores, alunos, gestores e funcionários. A complexidade das relações escola-família aumenta consideravelmente tendo em conta que a escola é realmente um sistema com características muito diferentes do sistema família, particularmente quando se pensa nela como organização ou grande sistema.”42
Nesta perspectiva, denota-se que a complexidade das relações existentes
entre escola-família aumenta consideravelmente quando verifica-se que “o
sistema sócio-político em que ambas se inserem coloca a família numa posição
hierarquicamente inferior à da escola”.43 Com efeito, quer queiram quer não, as
famílias terão que enviar os seus filhos para a escola e, segundo Ana Paula
Relvas (1996:122) sujeitá-los às aprendizagens que ela transmite –
conhecimentos, valores, normas sócio culturais e educativas. Terão que aceitar
os limites de tempo que ela impõe como adequados à evolução da criança e à
realização das suas tarefas individuais. Terão também que se adaptar aos seus
horários de funcionamento e aceitar como válidos os conteúdos programáticos
estabelecidos, além de se confrontarem com a avaliação e a hierarquização
41 RELVAS, Ana Paula, O Ciclo da Família – Perspectiva Sistémica, Porto, Edições Afrontamento, 1996, pág.120-121; 42 Ibidem, idem, pág. 121; 43 Ibidem, pág. 122;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
25
que a escola efectiva em relação aos seus educandos em termos de
capacidade/incapacidade, sucesso/insucesso.
1.2.3. Funções da Família
No desempenho das suas funções, Relvas (1996) indica que o
desenvolvimento da família processa-se através de duas funções e tarefas. As
funções abarcam o desenvolvimento e protecção dos membros (função interna)
e a socialização, adequação e transmissão de determinada cultura (função
externa). Mas, para que a família consiga alcançar as funções de protecção e
socialização é necessário resolver com sucesso duas tarefas: “a criação de um
sentimento de pertença ao grupo e a individualização/autonomização dos seus
elementos”.44
Gimeno (2003) relativamente às funções da família categoriza-as por
desenvolvimento pessoal dos filhos e a socialização, destacando:
“o desempenho destas metas básicas dinamiza a vida familiar e leva a que em cada etapa a família mude e assuma tarefas diferentes que activam recursos e lhe permitem atingir um desenvolvimento pessoal adequado, uma socialização activa dos seus elementos, ao mesmo tempo que mantém a sua própria identidade familiar”.45
Para Gimeno (2003) a função ligada ao desenvolvimento pessoal assenta
em três aspectos fundamentais: a individualização, a auto-realização e nas
diferenças associadas ao sexo, enquanto a função de socialização reporta ao
“processo através do qual o indivíduo interioriza as normas do seu meio
sociocultural, se integra e adapta à sociedade convertendo-se num membro da
mesma e sendo capaz de desempenhar funções que satisfaçam as suas
expectativas”.46 Segundo Gimeno (2003):
“embora a família não seja o único agente de socialização, já que também a escola, os amigos, grupos formais e informais, e, sobretudo, hoje em dia, os meios de comunicação socializam, a sua função socializante mantém-se, e de uma forma bastante estável, durante grandes períodos de tempo […] é a família quem desenvolve na pessoa um sistema de valores, atitudes e crenças, reportados aos aspectos mais importantes da vida: trabalho, família, humanidade, sociedade, cultura, amizade, natureza, transcendência, de forma definitiva é ela quem
44 Ibidem, idem, pág.17; 45 GIMENO, Adelina, A Família – O Desafio da Diversidade, Lisboa, Instituto Piaget, 2003, pág. 54; 46 Ibidem, idem, pág. 60;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
26
contribui decisivamente para criar um modo de perceber a realidade física e social e um modo de se entender a si mesma”. 47
A função socializante “pressupõe que a família tenha projectos, vínculos e
compromissos que vão para além do biológico, para além dos que derivam do
parentesco”48, apostando numa mediação com o social, mas primeiro a família
tem que se adaptar ao meio e ser capaz de se envolver no alcance das suas
metas internas, de tal modo que, posteriormente, possa assumir tarefas e
funções de índole comunitária.
Para o alcance e cumprimento das suas funções a família tem que manter a
sua identidade e coesão, mas para que se mantenha coesa é necessário
harmonizar a identidade pessoal e familiar, de modo a criar aproximação,
ligação e a união de todos em oposição ao distanciamento.
1.3. A Escola Segundo o Observatório de Vida das Escolas49:
“as conturbações e conflitualidades que perturbam hoje o mundo das escolas e a complexidade que o caracteriza justificam a necessidade de um olhar atento e sistemático sobre a realidade educativa; mas um olhar portador de sentidos que se explicitem; capaz de simultaneamente possibilitar a escuta das especificidades dos contextos educativos e dos sujeitos que os constituem e de restituir à comunidade educativa uma interpretação teoricamente informada desse mesmo olhar; uma interpretação que permita dar a conhecer realidades múltiplas e heterogéneas e potenciar a transformação dos contextos educativos formais.”50
A escola enquanto entidade que vive e interage tem objectivos que lhe estão
inerentes, como o instruir, educar e intervir no meio e um papel fundamental
que é o de “formar cidadãos com vista a um determinado perfil nas dimensões
pessoal, social e cultural”.51
A escola, enquanto organização existente no meio actua como um sistema,
um sistema que possui uma certa autonomia e uma organização educativa, na
medida em que compreende um conjunto de elementos estruturados que visam
47 Ibidem, idem, pág. 61; 48 Ibidem, idem, pág. 62; 49 O Observatório de Vida das Escolas integra o Centro de Investigação e Intervenção Educativas (CIIE) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP). O observatório incide a sua actividade na “observação” dos jardins-de-infância e das escolas dos ensinos básico e secundário integrados na área geográfica da Direcção Regional de Educação do Norte, embora sempre que se revela necessário, o âmbito geográfico do observatório é alargado a todo o país.
50 http://www.fpce.up.pt/ciie/obvie/projecto.htm, 22 de Setembro de 2011; 51 ANTUNES, Lara Carmélia de Sousa, A Família e a Escola – Dissertação de Mestrado em Sociologia da Infância, Braga, Universidade do Minho, 2009, pág. 37;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
27
certos fins determinados pela sociedade que estão apoiados em estratégias e
tácticas. A organização educativa é determinada pelas orientações da
sociedade onde está inserida, bem como pelas normas, regras e leis. Assim,
uma das finalidades deste tipo de organização assenta na concretização
destas orientações traduzindo-as em práticas. Bertrand e Valois (1994)
defendem:
“as relações entre a sociedade e a educação têm um duplo sentido […] a organização educativa pode […] contribuir para a modificação das orientações da sociedade. Ela possui uma certa autonomia e pode intervir nas suas próprias orientações, fixadas pela sociedade, quer aceitando-as, adaptando-as ou contestando-as”.52
Bertrand e Valois (1994) concluíram que toda a organização educativa
possui características fundamentais que se reflecte na concretização de
objectivos e certos fins que lhe são indicados pelo meio social; engloba um
conjunto de actividades ou processos que se desenvolvem no tempo e que
concretizam a mudança organizacional; possui uma estrutura e actores; e
exerce as suas funções num ambiente e meio.
1.3.1. Funções da Escola
Carneiro (2000) face às funções da escola indica-nos que outrora a escola
era entendida como:
“um espaço onde se adquiriam saberes e competências fundamentalmente de natureza académica […] a educação escolar providenciava os instrumentos e saberes indispensáveis ao acesso ao conhecimento, aceitando-se que os aspectos mais ligados à formação pessoal, cívica, moral e ética seriam da responsabilidade da acção educativa das famílias. Actualmente, e na sequência das mudanças sociodemográficas que se têm manifestado, verifica-se que a estrutura familiar tem vindo a sofrer alterações profundas que têm consequências importantes nas funções educativas, quer da instituição escolar, quer da instituição familiar.”53
Perante estas modificações e devido a outras transformações que ocorreram
na sociedade, como o facto de a mulher ter uma actividade profissional e os
fenómenos da mobilidade despoletados pela procura de melhores condições
de vida nas grandes cidades, deram origem a uma diminuição significativa da
52 BERTRAND, Yves, VALOIS, Paul, Paradigmas Educacionais – Escola e Sociedade, Lisboa, Instituto Piaget, 1994, pág. 14; 53 CARNEIRO, Roberto (dir.), “Ajudar a Aprender”, Educar Hoje – Enciclopédia dos Pais, Volume II, Novembro de 2000, pág. 70;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
28
família alargada e a um aumento das famílias nucleares, além de um
crescimento substancial das famílias monoparentais. Estas novas realidades
trouxeram à escola um grande desafio, na medida em a escola teve que se
confrontar com novas funções educativas, designadamente a “necessidade de
vir a responsabilizar-se por ministrar uma formação mais abrangente,
concretamente a formação pessoal e social dos jovens”.54
A escola tem uma organização social. Enquanto agente de socialização ela
cria condições ao aluno para que tenha acesso ao conhecimento e à aquisição
de competências fundamentais, como a educação para a cidadania e a futura
inserção social.
A obrigatoriedade da formação escolar levou à presença de uma
heterogeneidade cultural e social no espaço escolar, o que para muitos é visto
como positivo, enquanto outros vêem-na como algo negativo. Face aos
aspectos referidos “importa promover diariamente e de forma consistente laços
entre as diferentes culturas, assumindo a escola e os professores a
responsabilidade de construir pontes e derrubar barreiras”.55 Face a esta
perspectiva tanto a escola como a família assumem um papel de destaque,
nomeadamente na relação existente entre si. É através desta relação
fomentada na participação e numa presença regular que permite à escola
conhecer o universo cultural e social dos alunos, vivências e características e
aos pais conhecer melhor as culturas existentes na escola e a ajudar os filhos a
promover atitudes de tolerância e respeito face à diferença.
Relativamente às funções da escola Ribeiro (1989:33, cit. por Antunes
2009:38) refere que existem quatro funções sociais do sistema educativo que
se articulam entre si, a função cultural, a social, a económica e a político-
institucional56. Por sua vez, Carneiro (2000:72-73) apresenta uma reflexão
acerca das funções da escola e denomina-as por função técnica, social, ética e
a estética57.
A escola, além de constituir um local de aprendizagem, tem vindo
gradualmente a afirmar-se como um local de convivência, proporcionando um
54 Ibidem, idem, pág. 70; 55 Ibidem, idem, pág. 71; 56 Anexo 1 – Funções da Escola; 57 Ibidem.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
29
conjunto de circunstâncias e relações que influenciam os que com ela
interagem. Neste sentido, a aprendizagem e a convivência são elementos
complementares na formação do indivíduo. A aprendizagem poder-se-á
considerar como a aquisição de conhecimentos e aptidões, culminando na
capacidade de estabelecer relações, aprendendo a pensar. A convivência
consistirá na aquisição de hábitos sociais onde o indivíduo irá aprendendo a
viver.
1.3.2. A Escola como comunidade educativa
Abordar a educação e a socialização implica ter em consideração que não é
só a família e a escola que estão envolvidas neste processo de aprendizagem,
pois a comunidade local também exerce uma importância significativa. Daí que
estes três intervenientes – família, escola e comunidade devam ser encarados
como pontos de referência em qualquer política educativa.
Nas palavras de Lourenço (2008) “uma comunidade é uma sociedade
dinamizada e reunida pela comunicação em torno de interesses comuns
partilhados de uma forma interactiva. O crescimento de uma sociedade
democrática é realizado em função da extensão do número de interesses
compartilhados”.58 A escola enquanto comunidade educativa diz respeito a
todos os que estão interessados pela educação escolar e que situam-se no
sistema de interacções com a escola, na medida em que ela não é apenas um
espaço que presta um serviço, mas um lugar que envolve a participação da
comunidade, numa concepção de democracia própria da escola que é
reforçada pela representatividade e a participação.
Hoje em dia, a visão que se tem da escola já não é a de um espaço restrito e
fechado, mas a de um espaço aberto a todos os interessados no processo
educativo, que envolve a direcção, pessoal docente e discente, os alunos e os
encarregados de educação, e a comunidade local (representantes das
autarquias e dos interesses económicos e culturais que colaboram na
elaboração do projecto educativo da escola). Lourenço (2008) defende que a 58 LOURENÇO, Lívia Patrícia Rodrigues, Envolvimento dos Encarregados de Educação na Escola: Concepções e Práticas, Lisboa, Universidade de Lisboa - Faculdade de Ciências Departamento de Educação, Setembro de 2008, pág. 31;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
30
escola enquanto comunidade educativa “pressupõe uma escola com
autonomia, ou seja, com poder para tomar decisões nos domínios estratégico,
pedagógico, administrativo, financeiro e organizacional, no quadro do seu
projecto educativo e em função das competências e dos meios que lhe estão
consignados (artigo 3.º, capítulo I, Decreto-Lei n.º 115/A-98).”59
Uma das grandes transformações ao nível da escola deu-se com a reforma
do sistema educativo que despoletou a descentralização na tomada de decisão
e o reforço da participação da comunidade educativa na vida das escolas,
aliada a uma maior autonomia e uma direcção e gestão mais participada. Ver a
escola desta forma é valorizar a emancipação, a participação e a negociação
entre os diferentes actores sociais em torno de um projecto construído e
negociado, com vista ao desenvolvimento pessoal e social dos alunos.
As Associações de Pais Encarregados de Educação (APEE) também fazem
parte da comunidade educativa. Estas associações devem ter uma atitude de
colaboração e diálogo permanente com a escola e apresentar uma postura de
parceria e acompanhamento. Torna-se fundamental que os pais tenham uma
voz activa e estabeleçam relações de proximidade e presença com o meio
escolar, daí o fundamento da sua participação. Segundo Formosinho (1999):
“o principal fundamento da participação dos pais (e encarregados de educação) na escola é o facto de serem os pais, por direito natural, os principais responsáveis pela educação dos filhos. Mas no seio dos pais perpassam consensos e dissensos quanto à educação, correspondentes aos que existem no todo social. (…) Se pais se associam a pais para defender certos valores concretos e promover actividades específicas já não o fazem apenas como pais, mas também como cidadãos (…) a eficácia das acções dos pais como primeiros responsáveis pela educação dos filhos implica a sua associação e a sua intervenção como público”.60
Uma escola aberta à comunidade local deve ser encarada como uma
estratégia de mudança que aposte na aproximação, na criação de laços e no
envolvimento. Caso contrário, a desconfiança, relativamente ao exterior
dificulta a abertura da escola e a ligação com o meio. Para Antunes (2009):
“a escola não pode ser um mundo estanque, isolado da comunidade, pois os alunos são a própria comunidade dentro dela. De facto, já não se pode dizer que o ensino é um processo que decorre isoladamente dentro de quatro paredes, sem ter algum contacto com os contextos sociais envolventes. A escola, por ser uma instituição educativa formal ao serviço da comunidade deverá ser o núcleo
59 Ibidem, pág. 31; 60 FORMOSINHO, João, “De serviço do Estado a Comunidade Educativa: uma nova concepção para a Escola Portuguesa”, in Formosinho, João (ed.), Comunidades Educativas – Novos Desafios à Educação Básica, Braga, Minho Universitária, 1999, pág. 58;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
31
fundamental da mudança para estabelecer um fio condutor, dar significatividade ao que ocorre na comunidade e ser potenciadora da integração global dos elementos humanos e físicos da colectividade, promovendo a formação integral de todos os seus elementos”.61
Resta salientar que, a educação é responsabilidade de toda a sociedade.
Neste sentido, deve-se procurar estabelecer relação com a comunidade,
conhecendo as realidades naturais e sociais e valorizar experiências. Esta
aproximação favorece a criação de redes de apoio, promove o trabalho
multidisciplinar entre os diversos agentes educativos e o meio, além de
proporcionar actividades de carácter social, cultural e recreativo. As propostas
que advêm do exterior devem ser vistas como, enriquecedoras e desafiadoras
para as escolas, de modo a que ultrapassem o isolamento e a rotina que
caracterizam, ainda hoje, a vida de muitos estabelecimentos escolares.
61 ANTUNES, Lara Carmélia de Sousa, A Família e a Escola – Dissertação de Mestrado em Sociologia da Infância, Braga, Universidade do Minho, 2009, pág. 47;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
32
CAPÍTULO II - FAMÍLIA, ESCOLA E COMUNIDADE UMA RELAÇÃO DE COMPLEMENTARIDADE
2.1. A relação família, escola e comunidade “A interacção entre os pais e os professores tem por finalidades a socialização da criança, a sua iniciação da vida em sociedade e a preparação do seu futuro, pelo que é tempo de compreender melhor a relevância das relações entre a escola e as famílias”.62
Hoje em dia, tanto a família como a escola estão muito dependentes das
características da sociedade que as rodeia e, como a sociedade, está em
constante transformação, exige que a família e a escola se vejam confrontadas
com dilemas no que respeita à educação. Os pais, cada vez mais, sentem que
a vida em família tornou-se vulnerável e muito frágil e, por vezes, delegam na
escola e nos professores a função de educar. Todavia, a escola também é alvo
de adversidades, sofrendo com a influência do meio, que muitas vezes, não é
favorável à própria escola. Neste sentido, família e escola devem unir esforços,
a fim de levar a cabo a difícil tarefa de educar e de preparar as crianças/jovens
para o futuro.
A escola deve ser vista como o prolongamento da família e, ambas, devem
actuar em sintonia e intervir apostando numa abordagem sistémica que
assente num trabalho de parceria. No entanto, o que se verifica é que tanto a
família como a escola têm critérios, normas e valores, por vezes, diferentes o
que dificulta a relação e o estabelecimento de parcerias entre ambas.
No que concerne à parceria, Christenson e Sheridan (2001, cit. por Costa e
Matos, 2006) referem que existe um processo para criar uma parceria entre
família-escola, o processo dos “Quatro AS – abordagem, atitudes, atmosfera e
acções”.63
62 DIOGO, José, Parceria Escola – Família. A caminho de uma escola participada, Porto, Porto Editora, 1998, pág. 59; 63 COSTA, Maria Emília, MATOS, Paula Mena, Abordagem Sistémica do Conflito, Lisboa, Universidade Aberta, 2007, pág. 110;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
33
No que respeita à abordagem os autores referem que ela assenta na
questão de como promover a parceria e apresentam alguns exemplos de como
ela pode ser efectuada, passando pela necessidade de ver a participação dos
pais como algo essencial, em vez de algo desejável; tomar consciência de que
só através de uma relação de colaboração, com uma estrutura consistente,
onde são partilhadas expectativas e aprendizagens, através do apoio mútuo e
confiança é que se consegue um trabalho conjunto para o desenvolvimento do
aluno; promover uma harmonia entre a escola e a família respeitando as
especificidades de cada um dos sistemas; e a existência de comportamentos
de colaboração que desenvolvam a comunicação bidireccional.
Relativamente à atitude, os autores destacam a importância da colaboração
e o facto de esta envolver igualdade (saber ouvir, respeitar e aprender com o
outro) e a paridade (partilha de conhecimentos, competências e ideias) onde
através de um compromisso de interdependência, tanto os pais como os
professores dividem responsabilidades e direitos. Segundo Christenson e
Sheridan (2001), as atitudes são as formas mais poderosas para uma parceria
eficaz, no entanto torna-se fundamental que exista uma abordagem conjunta
dos problemas, evitando assim juízos e conclusões precipitadas; é necessário
promover uma ideia positiva acerca dos pais e dos professores, pois ambos
são co-professores e co-aprendizes; é indispensável apresentar uma visão
sistémica dos problemas onde a tríade pais, alunos e escola fazem parte do
problema; e torna-se imprescindível estimular os pais para que tenham um
envolvimento mais activo durante a idade escolar – informando-os, convidando-
os e incluindo-os.
Quanto à atmosfera ela aposta na criação de um clima facilitador e no
estabelecimento de uma relação de confiança entre pais e professores onde
existe um código comunicacional comum que dê sentido ao quanto se é
importante para a escola, podendo este expressar-se na criação de eventos ou
encontros formais e informais, que sejam potenciadores de uma relação mais
próxima e que dilua barreiras. O fundamental é que os pais e professores se
sintam acolhidos, próximos, optimistas, respeitadores e detentores de poder na
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
34
resolução de problemas e busquem consenso, assumindo a comunicação um
papel de abertura e honestidade.
Por último, temos as acções em que os autores indicam que elas têm por
base a política escolar e defendem que esta deve ser “flexível, apoiante e
securizante”64 necessitando, muitas vezes, de um mediador ou actor social,
podendo caber, muitas vezes, esse papel aos interventores comunitários que
têm uma visão global acerca do território. Neste sentido, torna-se fulcral
constituir equipas de trabalho onde estejam presentes elementos da escola e
da família; desenvolver acções potenciadoras de competências para a
resolução de problemas e a parceria; desenvolver a comunicação e a relação;
que os conflitos sejam identificados e abordados de forma sistémica; e por
último, mas não menos importante o apoio às famílias.
Para que haja uma interacção entre o sistema familiar e escolar é
fundamental que se promova a comunicação. Por sua vez, o que prevalece em
muitas das escolas é que os pais só são chamados quando os filhos têm mau
comportamento. A escola deve comunicar com os pais e pô-los ocorrentes de
tudo o que se passa, quer no contexto escolar quer com os seus filhos, pois só
assim é que os pais sentir-se-ão como elementos integrantes da orgânica
escolar. Neste contexto, Perrenoud (2001) defende que “família e escola são
duas instituições condenadas a cooperar numa sociedade escolarizada”.65
A escola não deve substituir a família, mas a família também não pode
demitir-se das suas funções e fazer da escola um local de “depósito” ou
“armazém”. O fundamental é que se promova hábitos de interacção e
cooperação entre os dois agentes educativos. Para Dourém (1996, cit. por
Antunes, 2009):
“a escola é, hoje, chamada a cumprir a sua missão em estreita colaboração com os pais, com vista a facilitar o processo de inserção social dos filhos. De facto, quando a escola valoriza a criança, valoriza ao mesmo tempo, o trabalho empreendido, de início pelos pais. Isto mostra como é importante o papel de reforço desempenhado pela escola perante práticas familiares em educação: a escola consagra ou elimina o sentido profundo da obra empreendida no seio da família. Daqui resulta que as competências de uns e de outros, pais e professores
64 Ibidem, pág. 112; 65 PERRENOUD, Philippe, (2001). Entre a Família e a Escola, a Criança Mensageira e Mensagem – O go-between, in Montadon, Cléopâtre & Perrenoud, Philippe. Entre pais e professores, um diálogo impossível?, Oeiras, Celta Editora, 2001, pág. 30;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
35
devem ser reexaminadas enquanto forças a mobilizar no sentido de uma cooperação activa”.66
As relações estabelecidas entre a escola e a família assumem
características muito diversas que podem variar de acordo com os grupos
sócio-culturais que frequentam a escola, como também pelo tipo de posição
que os professores e a escola assumem no âmbito das suas acções. A relação
pais/escola é fundamental e a colaboração entre ambos os contextos não pode
estar confinada a contactos pontuais ou a aspectos negativos da relação, aqui
supõem-se a partilha de responsabilidades educativas, numa relação de
carácter sistémico que tem que ser interiorizada. Segundo Antunes (2009), a
relação entre pais/escola e vice-versa deve “ser autêntica, exigente, que
corresponda a uma acção educativa comum dos pais e da escola em todas as
dimensões da pessoa. Aos pais não compete apenas ouvir e informar, cumpre-
lhes decidir em comum com os outros actores educativos sobre o presente e o
futuro da educação”.67
2.1.1. Família e Escola – Contextos Facilitadores do Desenvolvimento Saudável
Em cada etapa do desenvolvimento da criança e do adolescente existem
especificidades que englobam a necessidade de adaptação por parte dos pais.
Por sua vez, desta adaptação surge a interacção entre pais e filhos e a
interacção destes com o meio físico e social, sendo exemplo a escola.
Segundo Barros, Pereira e Goes (2008), a família e a escola são contextos
facilitadores do desenvolvimento saudável durante a infância e adolescência,
havendo entre eles características que “aplicam-se tanto à família, como
principal contexto de desenvolvimento, como à escola, um contexto central
durante a idade escolar e adolescência, que deve complementar a família e,
quando necessário, compensar algumas das lacunas e vulnerabilidades da
família”.68
66 ANTUNES, Lara Carmélia de Sousa, A Família e a Escola – Dissertação de Mestrado em Sociologia da Infância, Braga, Universidade do Minho, 2009, pág. 41; 67 Ibidem, pág. 42; 68 BARROS, Luísa, PEREIRA, Ana Isabel e GOES, Ana Rita, Educar com Sucesso – manual para técnicos e pais, Lisboa, Texto Editores e EPIS – Empresários Pela Inclusão Social, 2008, pág. 85;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
36
Face ao exposto, apresentamos no quadro que se segue as características
inerentes aos contextos facilitadores do desenvolvimento saudável, segundo
Eccles e Gootman (2001, cit. por Barros, Pereira e Goes, 2008:85-86):
Quadro 1 - Características dos contextos facilitadores do desenvolvimento saudável
Característica Descrição
Segurança física e psicológica
Instalações seguras e promotoras de saúde, práticas que encorajam a interacção segura com os pares e diminuem interacções inseguras ou agressivas.
Estrutura apropriada
Estabelecimento de limites, regras e expectativas claras e consistentes, controlo e continuidade, limites claros e monitorização adequada à idade.
Relações de apoio
Calor, proximidade, sentido de pertença, boa comunicação, afecto, apoio, orientação, vinculação segura e responsividade.
Experiência de relações de
pertença
Oportunidades para a inclusão significativa, tais como a inclusão social, integração e compromisso social; oportunidades para a formação da identidade social.
Normas sociais positivas
Regras de comportamento, expectativas, injunções, modos de fazer, valores morais e obrigação de prestar algum serviço a outros (família, comunidade).
Promoção da auto-eficácia
Práticas que apoiam a autonomia e permitem “ser levado a sério”: atribuir responsabilidade e criar desafios adequados, práticas avaliativas centradas no aperfeiçoamento e não em níveis fixos de realização.
Desenvolvimento de competências
Oportunidades para aprender competências físicas, intelectuais, psicológicas, emocionais e sociais; exposição a experiências intencionais de aprendizagem; oportunidades para adquirir competências de comunicação, literacia cultural e proficiência no uso dos media e das novas tecnologias e preparação profissional.
Integração dos esforços da
família, escola e comunidade
Concordância, coordenação e sinergias entre família, escola e comunidade.
Fonte: in Eccles e Gootman (2001, cit. por Barros, Pereira e Goes, 2008:85-86), “Educar com Sucesso – manual
para técnicos e pais”.
2.2. O Envolvimento e a Participação dos Pais na vida da Escola
O envolvimento e participação dos pais nos cenários que constituem a
mundo da criança permite-lhes ter um conhecimento acerca dos seus papéis e
competências para ajudar os filhos a crescer de forma saudável.
Relativamente à escola, o envolvimento e a participação dos pais
caracteriza-se por uma parceria educativa que se baseia no respeito mútuo e
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
37
na negociação, aliada à troca de informação, confiança, aptidões e na tomada
de decisão.
Segundo Marujo (1998) “ o envolvimento dos pais na educação dos filhos é
um direito, tanto como uma responsabilidade e um valor”.69Deste modo, os pais
devem acompanhar os filhos na vida escolar, pois são elementos que podem
contribuir de forma significativa na dinamização da escola, favorecer a
dinâmica social, contribuir para a melhoria da qualidade do ensino e sucesso
escolar, além de ajudar a construir uma sociedade mais democrática.
A relação família-escola contempla vários objectivos. Para Marques (1993)
“um dos objectivos mais importantes da relação escola-família é aumentar o
número de famílias que se envolvem na educação dos seus filhos”.70 Este
envolvimento integra uma comunicação que inclui um diálogo aberto entre
pais/filhos e pais/professores, além de englobar a ajuda ao estudo, apoio à
escola, trabalho voluntário e a participação na tomada de decisão.
2.2.1. Os benefícios do envolvimento parental na escola
Em Portugal, o primeiro estudo efectuado nesta área remete à década de
80, sendo realizado por Don Davies.71 Este estudo indica-nos que o
envolvimento dos pais nas escolas portuguesas era escasso,
independentemente do estrato social. No entanto, apesar de revelar um baixo
índice de participação dos pais na escola, o envolvimento e a participação
pareciam estar intimamente relacionados com o nível económico e cultural das
famílias.
O envolvimento parental na escola tem efeitos positivos na criança, mas
apresenta também benefícios para os pais, os professores/escola e a
sociedade. Todavia, o fundamental é que os pais identifiquem esses benefícios
e reconheçam o quanto eles são importantes para si e para o desempenho da
parentalidade.
69 MARUJO, Helena Águeda, NETO, Luís Miguel e PERLOIRO, Maria de Fátima, A Família e o Sucesso Escolar, Lisboa, Editorial Presença, 1998, pág. 11; 70 MARQUES, Ramiro, A Escola e os Pais - como colaborar?, Lisboa, Texto Editora, 1993, pág. 107; 71 DAVIES, Don, As Escolas e as Famílias em Portugal – realidades e perspectivas, Lisboa, Livros Horizonte, 1989;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
38
Davies (1989) defende que o envolvimento dos pais oferece benefícios, mas
também apresenta obstáculos, ou seja:
“o envolvimento dos pais proporciona múltiplos e diversos benefícios: para o desenvolvimento e aproveitamento escolar das crianças, para os pais, para os professores e as escolas e para o desenvolvimento de uma sociedade democrática […] o acesso a esses benefícios é altamente dependente do “status” social e do rendimento familiar […] os obstáculos incluem as limitações do capital cultural por referência à cultura da escola, os conflitos entre as funções da família e as funções da escola e as características organizacionais das escolas.”72
Relativamente aos benefícios dos pais, Davies (1989), destaca os seguintes
aspectos: “maior apreço pelo seu importante papel, fortalecimento das redes
sociais, mais informação e mais materiais […] aumento dos sentimentos de
auto-estima e aumento da eficiência e da motivação para continuarem a sua
própria educação”.73 No que respeita aos professores/escola indica que “o
trabalho do professor pode ser mais fácil e satisfatório se receber ajuda e
cooperação das famílias e os pais assumirão atitudes mais favoráveis aos
professores se cooperarem com eles e de uma forma positiva”.74 Como forma
de aprofundar a sociedade democrática salienta que o envolvimento deve ser
visto como uma força contrária à tendência de reprodução das desigualdades,
apostando no princípio da igualdade.
Para Barros, Pereira e Goes (2008) os benefícios do envolvimento parental
na escola situam-se, principalmente, ao nível da criança/jovem e da família.
Quanto à criança/jovens os autores destacam como vantagens:
“resultados escolares mais positivos […]os benefícios não se resumem ao domínio cognitivo sendo também evidentes no domínio comportamental e afectivo […] maior consistência entre a família e a escola relativamente a objectivos e normas comportamentais está associada a menos problemas comportamentais e de indisciplina […] os pais transmitem aos seus filhos a importância que a escola tem para si, facilitando nos jovens o desenvolvimento de uma atitude mais positiva relativamente à escola […] quando os pais estão envolvidos na escola, o jovem é, com mais facilidade, alvo de uma atenção mais individualizada por parte dos professores, que, conhecendo melhor a família, conhecem também melhor o aluno.”75
Face aos benefícios da família os autores referem:
“pais estão mais envolvidos na escola, conhecem melhor os professores e o seu trabalho, e podem, com maior facilidade, reconhecer o papel dos professores e
72 DAVIES, Don, As Escolas e as Famílias em Portugal – realidades e perspectivas, Lisboa, Livros Horizonte, 1989, pág. 37; 73 Ibidem, pág. 39; 74 Ibidem, idem, pág. 39-40; 75 BARROS, Luísa, PEREIRA, Ana Isabel e GOES, Ana Rita, Educar com Sucesso – manual para técnicos e pais, Lisboa, Texto Editores e EPIS – Empresários Pela Inclusão Social, 2008, pág. 134;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
39
desenvolver atitudes mais positivas face ao pessoal escolar e à escola […] comunicação mais frequente com o director de turma possibilita também um maior conhecimento dos progressos e dificuldades do filho e respostas mais atempadas às dificuldades […] relação de parceria entre a escola e a família, mais concretamente, entre pais e director de turma, os pais podem, de forma articulada e eficaz, dar resposta às necessidades dos filhos e desenvolvem atitudes mais positivas de si enquanto educadores […] atitude de parceria tem de ser traduzida em acções concretas dos pais no quotidiano, na forma como falam e permitem ao filho que fale da escola e dos professores e funcionários, acompanhada de uma atitude geral de respeito pela instituição e pelo trabalho dos profissionais que a integram […] mostrem interessados e disponíveis para participar nas actividades escolares e resolver os problemas que vão surgindo ao longo da vida escolar do filho”.76
Neste sentido, é importante ajudar os pais para que reconheçam o seu
papel, assim como as consequências negativas das suas atitudes mais
irreflectidas face à escola, ajudando-os a descobrir estratégias de proximidade
e formas de serem parceiros críticos, mas construtivos, perante a escola.
2.2.2. Tipologias do envolvimento e participação dos pais
“As escolas devem ser promotoras de políticas/estratégias que possibilitem um maior envolvimento das famílias na vida escolar do filho. Os pais podem ser envolvidos de diferentes formas, cabe à escola proporcionar uma diversidade de modalidades de envolvimento parental na escola”.77
Joyce Epstein (1997) desenvolveu uma tipologia de colaboração escola-
família-comunidade, composta por seis tipos de envolvimento, que pretende
ajudar as escolas e as famílias a levar a cabo as suas responsabilidades
partilhadas de educação e desenvolvimento da criança/jovem. Esta
metodologia é considerada um importante instrumento de reflexão e acção
para auxiliar professores, escolas e os agrupamentos a desenvolverem
programas de envolvimento parental composto por desafios, desafios em que
os resultados da colaboração estabelecida são diferentes para os alunos, os
pais e a escola. No entanto, torna-se importante analisar em que medida a
escola proporciona o envolvimento em cada uma das modalidades e reflectir se
estas estão de acordo com as necessidades da escola e das famílias.
Segundo Marques (1994) os tipos de envolvimento parental defendidos por
Epstein são:
76 Ibidem, pág. 134-135; 77 Ibidem, idem, pág. 148;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
40
“Tipo 1 – Ajuda da escola às famílias; Tipo 2 – Comunicação escola-família; Tipo 3 - Ajuda da família à escola; Tipo 4 – Envolvimento da família em actividades de aprendizagem em casa; Tipo 5 – Participação na tomada de decisões e na direcção da escola; Tipo 6 – Colaboração e intercâmbio com a comunidade”.78
Ajuda da escola às famílias: compreende as funções parentais e tem como
finalidade ajudar as famílias a estabelecer as condições (alimentação, saúde,
segurança...) que são requisitos básicos para a aprendizagem, a desenvolver
práticas educativas adequadas às necessidades das crianças e a compreender
o desenvolvimento e as necessidades das crianças e adolescentes em cada
período do desenvolvimento. Estas acções podem ser concretizadas através
de acções de formação/informação para pais, do aconselhamento individual
aos pais, de informação escrita e na prossecução de processos de
encaminhamento para outros técnicos e instituições da comunidade.
Comunicação escola-família: diz respeito à comunicação estabelecida
entre escola-família e vice-versa e traduz-se na troca de informações relativas
aos programas escolares, à situação escolar dos alunos e às actividades
desenvolvidas pela escola. Os canais de comunicação podem ser diversos e
englobam as reuniões de pais, reuniões individuais com a família, contactos
telefónicos, caderneta do aluno, boletins da escola e, mais recentemente, o
envio de emails.
Ajuda da família à escola: engloba o envolvimento da família em
actividades de voluntariado na escola. Estas acções contribuem para facilitar o
contacto entre pais, professores e alunos, promovendo um melhor
conhecimento entre todos. Algumas das actividades possíveis a ser realizadas
para e com os pais passam pela organização e participação em
acontecimentos festivos, colaboração em visitas de estudo, supervisão de
recreios, no apoio à biblioteca e sala de estudo, dinamizar actividades de
acordo com as suas profissões e os seus talentos, organização da ocupação
educativa dos tempos livres e pela angariação de equipamentos, meios
humanos e financeiros para a escola.
78 MARQUES, Ramiro, “Colaboração Família-Escola em Escolas Portuguesas: Um Estudo de Caso”, Inovação, Volume 7, Nº. 3, 1994, pág. 374;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
41
Envolvimento da família em actividades de aprendizagem em casa:
compreende actividades em que a escola ajuda os pais a melhorar as suas
competências de acompanhamento ao estudo dos filhos, aprendendo a
monitorizar e a apoiar o seu trabalho escolar. Neste tipo de envolvimento a
escola pode colaborar falando sobre a organização do local de estudo e
factores de distracção a eliminar, além de ajudar a organizar um horário de
trabalho/estudo, explicando as regras a que deve obedecer. Por sua vez, os
trabalhos de casa e a realização dos mesmos devem incentivar os alunos a
discutir e a interagir com a família sobre o que estão a aprender, mantendo as
famílias informadas sobre as aprendizagens que os filhos vão realizando.
Participação na tomada de decisões e na direcção da escola: engloba as
actividades em que os elementos das famílias não agem apenas relativamente
aos seus educandos, mas como representantes dos pais, como acontece com
as associações de pais ou os representantes dos encarregados de educação
de uma turma. Nesta linha de pensamento Barros, Pereira e Goes (2008)
indicam que:
“As famílias devem ser envolvidas nos processos de tomada de decisão, quer através da representação dos pais nos organismos da escola em que esta representação já está prevista, quer em grupos de trabalho criados para a resolução de problemas que visem a melhoria da escola. Isto pode ser concretizado se as escolas ajudarem na formação e manutenção das Associações de Pais (facilitando espaço físico, dando informações sobre os procedimentos necessários à sua formação, alertando para a sua importância, promovendo reuniões de coordenação com a direcção da escola, divulgando a sua existência), se procurarem cativar pais de todas os níveis socioeconómicos, etnias e diferentes grupos profissionais presentes na escola a fazerem parte das Associações e criarem grupos de reflexão sobre problemáticas-chave (por exemplo, problemas de falta de recursos, problemas de indisciplina, etc.), onde incluam representantes dos pais e também dos alunos.”79
Colaboração e intercâmbio com a comunidade: está relacionada o
envolvimento da comunidade, assim é fundamental que a escola procure
partilhar as suas responsabilidades e recursos com diferentes instituições e
organismos locais (Câmara Municipal, Junta de Freguesia, Centro de Saúde,
Instituições de Solidariedade Social e Associações recreativas e culturais), com
o intuito de estabelecer parcerias. Para Barros, Pereira e Goes (2008) é
importante manter as famílias e os alunos informados acerca das actividades e
79 BARROS, Luísa, PEREIRA, Ana Isabel e GOES, Ana Rita, Educar com Sucesso – manual para técnicos e pais, Lisboa, Texto Editores e EPIS – Empresários Pela Inclusão Social, 2008, pág. 157;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
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recursos que podem encontrar junto da comunidade, como actividades de
tempos livres, actividades culturais e recreativas, serviços sociais e de saúde;
colaborar com diferentes entidades de forma a promover actividades de
formação/sensibilização aos pais e aos alunos; desenvolver programas de
ajuda comunitária; e promover a integração e transição dos alunos para outras
instituições de ensino ou trabalho.
Face ao envolvimento e participação dos pais na escola, importa sublinhar
que os programas de envolvimento parental devem iniciar pelo fortalecimento
de laços comunicacionais. Alguns estudos comprovam que quando escola e
família comunicam de forma eficaz:
“os pais têm mais probabilidades de estabelecer uma relação de confiança e um clima de cooperação com o professor e com a escola, as interacções entre a escola e a família aumentam, os pais percepcionam a escola e os seus profissionais de forma mais positiva, entendem melhor as políticas da escola e a acção dos professores, acompanham melhor os progressos da criança”.80
Carneiro (2001) sustenta que os pais devem ter uma participação mais
activa na escola, só que:
“Não há fórmulas mágicas para mobilizar os pais para as questões que dizem respeito à educação e ao ensino e aumentar a sua participação em quantidade e qualidade na vida da escola. o direito de participação, como qualquer outro direito, acarreta um dever, o dever de participar. A democracia participativa não é algo para «os outros», mas para cada cidadão, ainda que seja «incómoda» para o próprio e possa «incomodar» terceiros”.81
Face ao exposto, o autor apresenta algumas iniciativas promotoras de uma
maior participação e envolvimento dos pais na escola, destacando:
desenvolvimento de espaços para que as autoridades ligadas à educação
reconheçam a contribuição dos pais na escola, através de legislação
apropriada, de referências públicas continuadas na comunicação social e de
consideração pelo papel dos representantes das associações; concertação
entre os pais e a escola no que se refere aos horários que melhor se adeqúem
à participação de um maior número de pais; presença dos pais como parceiros,
desde o primeiro momento, seja na elaboração do projecto educativo da
escola, seja nas acções destinadas à sua concretização; assunção de 80 CANAVARRO, José Manuel de Albuquerque Portocarrero, “Envolvimento Parental na Escola e Ajustamento Emocional e Académico – um estudo longitudinal com crianças do ensino básico”, Projecto financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian – Projectos de Pesquisa Educativa no País – 2002, http://www.ese-jdeus.edu.pt/projectoepe/sug/sugestoes.html, 16 de Junho de 2011; 81 CARNEIRO, Roberto (dir.), “Aprender a Participar”, Educar Hoje – Enciclopédia dos Pais, Volume III, Janeiro de 2001, pág. 61;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
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responsabilidades pelos pais, com valorização do seu contributo; divulgação
das boas notícias sobre o comportamento escolar ou educativo; colaboração
para resolver situações menos agradáveis em relação aos filhos e à disciplina
escolar; contribuição nas diversas áreas da sua actividade sócio-económica,
cultural e política e testemunho sobre as suas vivências e perspectivas; e a
deslocação à escola, a fim de apreciarem os trabalhos ou representações dos
seu filhos (peças de teatro, exposições, torneios desportivos, convívios em dias
festivos), sendo desejável e eficaz o envolvimento dos próprios pais nessas
actividades, ao lado dos filhos.
2.3. A relação família e escola na Legislação Aos pais/famílias estão consagrados direitos e deveres, entre os quais o
dever de participar na educação dos filhos e dos membros do agregado
familiar. Dada a sua natureza, os direitos e deveres dos pais/famílias,
relativamente à educação, estão presentes em diversos documentos
normativos legais, destacando a Constituição da República Portuguesa (CRP),
Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE), o Estatuto do Aluno, Lei do
Regime de Autonomia, Administração e Gestão dos Estabelecimentos Públicos
da Educação Pré-escolar e dos Ensinos Básico e Secundário e a Lei sobre
Autonomia e Gestão das Escolas.
2.3.1. Constituição da República Portuguesa
A Constituição da República Portuguesa (CRP) declara no artigo 67.º, n.º 2,
alínea b) e c) que “incumbe, designadamente ao Estado para protecção da
família: promover a criação e garantir o acesso a uma rede nacional de creches
e de outros equipamentos sociais de apoio à família […] e cooperar com os
pais na educação dos filhos”.
Esta cooperação entre Estado e pais, leva a que as famílias tenham o direito
de escolher o projecto de educação que querem para os filhos e sujeita o
Estado a criar condições para concretizar os projectos educativos.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
44
O reconhecimento da missão dos pais enquanto principais e primeiros
responsáveis pela educação dos filhos é também objecto de garantia
Constitucional, quando no artigo 68.º, n.º1, da CRP afirma que “os pais e as
mães têm direito à protecção da sociedade e do Estado na realização da sua
insubstituível acção em relação aos filhos, nomeadamente quanto à sua
educação, com garantia de realização profissional e de participação na vida
cívica do país”.
Por sua vez, a CRP, em defesa dos direitos da criança determina no artigo
68.º, n.º4, que “a lei regula a atribuição às mães e aos pais de direitos de
dispensa de trabalho por período adequado, de acordo com os interesses da
criança e as necessidades do agregado familiar”.
Além dos direitos fundamentais assegurados aos pais, a CRP relativamente
à política de ensino, no artigo 74.º, n.º1, estipula que “todos têm direito ao
ensino com garantia do direito à igualdade de oportunidades de acesso e êxito
escola” e que, artigo 74.º, n.º2, na realização da política de ensino incumbe ao
Estado: “a) assegurar o ensino básico universal, obrigatório e gratuito; b) criar
um sistema público e desenvolver o sistema geral de educação pré-escolar; c)
garantir a educação permanente e eliminar o analfabetismo; d) garantir a todos
os cidadãos, segundo as suas capacidades, o acesso aos graus mais elevados
do ensino, da investigação científica e da criação artística; e) estabelecer
progressivamente a gratuitidade de todos os graus de ensino; f) inserir as
escolas nas comunidades que servem e estabelecer a interligação do ensino e
das actividades económicas, sociais e culturais; g) promover e apoiar o acesso
dos cidadãos portadores de deficiência ao ensino e apoiar o ensino especial,
quando necessário”.
Estes artigos não são mais do que um conjunto de deveres atribuídos ao
Estado, definidos no sentido que cada cidadão possa superar um conjunto de
desigualdades de cariz económico, social e cultural, através das habilitações
que a escola proporciona. Destaca-se aqui, a alínea f) onde é evidenciada a
educação como um processo localizado, o que implica a construção e
implementação de uma escola inserida no meio, que seja comunidade
educativa.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
45
A CRP faz também referência à participação democrática do ensino onde no
artigo 77.º, n.º2, indica que “a lei regula as formas de participação das
associações de professores, de alunos, de pais, das comunidades e das
instituições de carácter científico na definição da política de ensino”. Por sua
vez, esta norma remete-nos para outra norma constitucional mais ampla, artigo
9.º, alínea c), quando declara que uma tarefa fundamental do Estado é
“defender a democracia política, assegurar e incentivar a participação
democrática dos cidadãos na resolução dos problemas nacionais”.
2.3.2. Lei de Bases do Sistema Educativo
A Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE) estabelece o quadro geral do
sistema educativo e corresponde à Lei n.º46/86, de 14 de Outubro. A primeira
alteração à Lei n.º46/86, de 14 de Outubro surge com a Lei n.º 115/97, de 19
de Setembro, seguida da Lei n.º 45/2005, de 30 de Agosto.
A LBSE define o sistema educativo como “conjunto de meios pelo qual se
concretiza o direito à educação, que se exprime pela garantia de uma
permanente acção formativa orientada para favorecer o desenvolvimento global
da personalidade, o progresso social e a democratização da sociedade” (artigo
1.º, n.º2).
Explicita ainda que a educação integral do aluno deve ser considerada um
objectivo estratégico, ao estabelecer, no artigo 3.º, que o sistema educativo
organiza-se de forma a “b) Contribuir para a realização do educando, através
do pleno desenvolvimento da personalidade, da formação do carácter e da
cidadania, preparando-o para uma reflexão consciente sobre os valores
espirituais, estéticos, morais e cívicos e proporcionando-lhe um equilibrado
desenvolvimento físico […] d) Assegurar o direito à diferença […] g)
Descentralizar, desconcentrar e diversificar as estruturas e acções educativas
de modo a proporcionar uma correcta adaptação às realidades, um elevado
sentido de participação das populações, uma adequada inserção no meio
comunitário e níveis de decisão eficientes”.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
46
Relativamente ao acesso à educação, a LBSE, garante a todos os
portugueses o direito à educação e à cultura, a uma justa e efectiva igualdade
de oportunidades no acesso e sucesso escolares. Artigo 2.º, n.º3, ressalva “ no
acesso à educação e na sua prática é garantido a todos os portugueses o
respeito pelo princípio da liberdade de aprender e de ensinar com tolerância
para com as escolhas possíveis, tendo em conta, designadamente, os
seguintes princípios: a) O Estado não pode atribuir-se o direito de programar a
educação e a cultura segundo quaisquer directrizes filosóficas, estéticas,
políticas, ideológicas ou religiosas; b) O ensino público não será confessional;
c) É garantido o direito de criação de escolas particulares e cooperativas”.
Quanto aos pais/famílias e às APEE, a LBSE, estabelece;
- O sistema educativo organiza-se de forma “assegurar o direito à diferença,
mercê do respeito pelas personalidades e pelos projectos individuais da
existência, bem como da consideração e valorização dos diferentes saberes e
culturas”. (artigo 3.º, alínea d);
- O sistema educativo contribui “para desenvolver o espírito e a prática
democráticos, através da adopção de estruturas e processos participativos na
definição da política educativa, na administração e gestão do sistema escolar e
na experiência pedagógica quotidiana, em que se integram todos os
intervenientes no processo educativo, em especial os alunos, os docentes e as
famílias”. (artigo 3.º, alínea l);
- “A administração e gestão do sistema educativo devem assegurar o pleno
respeito pelas regras de democraticidade e de participação que visem a
consecução de objectivos pedagógicos e educativos, nomeadamente no
domínio da formação social e cívica”. (artigo 43.º, n.º1);
- “O sistema educativo deve ser dotado de estruturas administrativas de
âmbito nacional, regional autónomo, regional e local, que assegurem a sua
interligação com a comunidade mediante adequados graus de participação dos
professores, dos alunos, das famílias, das autarquias, de entidades
representativas das actividades sociais, económicas e culturais e ainda de
instituições de carácter científico” (artigo 43.º, n.º2).
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
47
2.3.3. Estatuto do Aluno
A Lei n.º30/2002, de 20 de Dezembro corresponde ao Estatuto do Aluno dos
Ensinos Básico e Secundário. A primeira alteração dá-se com a Lei n.º 3/2008,
de 18 de Janeiro, seguida da Lei n.º 39/2010, de 2 de Setembro.
No que diz respeito ao papel dos encarregados de educação, a Lei n.º
39/2010, no artigo 6.º, ponto 1, reconhece aos encarregados de educação a
“especial responsabilidade, inerente ao seu poder-dever de dirigirem a
educação dos seus filhos e educandos, no interesse destes, e de promoverem
activamente o desenvolvimento físico, intelectual e cívico dos mesmos”.
Ainda no mesmo artigo, ponto 2, nos termos da responsabilidade referida no
número anterior, refere os aspectos que competem aos encarregados de
educação, designadamente:
“a) Acompanhar activamente a vida escolar;
b) Promover a articulação entre a educação na família e o ensino escolar;
c) Diligenciar para que o seu educando beneficie efectivamente dos seus
direitos e cumpra rigorosamente os deveres que lhe incumbem de correcto
comportamento e empenho no processo de aprendizagem;
d) Contribuir para a criação e execução do projecto educativo e do
regulamento interno da escola e participar na vida da escola;
e) Cooperar com os professores no desempenho da sua missão pedagógica,
em especial quando para tal forem solicitados;
f) Contribuir para o correcto apuramento dos factos em procedimento de
índole disciplinar instaurado ao seu educando e, sendo aplicada a este medida
correctiva ou medida disciplinar sancionatória, diligenciar para que a mesma
prossiga os objectivos de reforço da sua formação cívica, do desenvolvimento
equilibrado da sua personalidade, da sua capacidade de se relacionar com os
outros, da sua plena integração na comunidade educativa e do seu sentido de
responsabilidade;
g) Contribuir para o correcto apuramento dos factos em procedimento de
índole disciplinar instaurado ao seu educando e, sendo aplicada a este medida
correctiva ou medida disciplinar sancionatória, diligenciar para que a mesma
prossiga os objectivos de reforço da sua formação cívica, do desenvolvimento
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
48
equilibrado da sua personalidade, da sua capacidade de se relacionar com os
outros, da sua plena integração na comunidade educativa e do seu sentido de
responsabilidade;
h) Contribuir para a preservação da segurança e integridade física e
psicológica de todos os que participam na vida da escola;
i) Integrar activamente a comunidade educativa no desempenho das demais
responsabilidades desta, em especial, informando-se, sendo informado e
informando sobre todas as matérias relevantes no processo educativo dos seus
educandos;
j) Comparecer na escola sempre que julgue necessário e quando para tal for
solicitado;
k) Conhecer o estatuto do aluno, o regulamento interno da escola e
subscrever, fazendo subscrever igualmente aos seus filhos e educandos,
declaração anual de aceitação do mesmo e de compromisso activo quanto ao
seu cumprimento integral”.
O mesmo artigo indica ainda que “os pais e encarregados de educação são
responsáveis pelos deveres de assiduidade e disciplina dos seus filhos e
educandos” (ponto 3).
2.3.4. Lei do Regime de Autonomia, Administração e Gestão dos Estabelecimentos Públicos da Educação Pré-escolar e dos Ensinos Básico e Secundário
Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de Abril, refere-se ao regime de autonomia,
administração e gestão escolar e indica que este regime orienta-se pelos
princípios da igualdade, da participação e da transparência.
No capítulo I, Artigo 3.º, ponto 2, alínea c) indica que um dos objectivos
principais passa pelo “assegurar a participação de todos os intervenientes no
processo educativo, nomeadamente dos professores, dos alunos, das famílias,
das autarquias e de entidades representativas das actividades e instituições
económicas, sociais, culturais e científicas, tendo em conta as características
específicas dos vários níveis e tipologias de educação e de ensino”.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
49
A mesma lei salvaguarda a participação dos pais ao nível dos órgãos de
gestão, destacando no capítulo III, Artigo 10.º, ponto 2, alínea a) e c) que a
administração e gestão são asseguradas por órgãos próprios, designadamente
“O conselho geral; […] O conselho pedagógico”. Relativamente ao conselho
geral o capítulo III, artigo 12.º, n.º 2, indica que “na composição do conselho
geral tem de estar salvaguardada a participação de representantes do pessoal
docente e não docente, dos pais e encarregados de educação, dos alunos, do
município e da comunidade local”.
Face ao conselho pedagógico diz-nos no artigo 31.º que ele é “o órgão de
coordenação e supervisão pedagógica e orientação educativa” e que na sua
composição que haver “representação dos pais e encarregados de educação”
(artigo 32.º, ponto 1, alínea c) e que os “representantes dos pais e
encarregados de educação são designados pelas respectivas associações e,
quando estas não existam, nos termos a fixar pelo regulamento interno” (artigo
32.º, ponto 4).
2.3.5. Lei sobre Gestão e Autonomia das Escolas – Representantes de Turma
Hoje em dia, os encarregados de educação são responsabilizados a
desempenharem um papel mais activo no percurso escolar dos seus
educandos. Assim, o Decreto-Lei n.º 115-A/98, de 4 de Maio, com alterações
da Lei n.º 24/99, de 22 de Abril, define a participação activa dos
pais/encarregados de educação, quer nos órgãos de gestão da escola, quer
nas estruturas de orientação educativa, numa cultura de responsabilidade
partilhada, como contributo para o aumento da qualidade do ensino e da
educação.
Neste documento, no capítulo IV, secção I, artigo 36.º, ponto 1, alínea c), é
referido que “em cada escola, a organização, o acompanhamento e a avaliação
das actividades a desenvolver com as crianças ou com os alunos pressupõem
a elaboração de um plano de trabalho, o qual deve integrar estratégias de
diferenciação pedagógica e de adequação curricular para o contexto da sala de
actividades ou da turma, destinadas a promover a melhoria das condições de
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
50
aprendizagem e a articulação escola-família, sendo da responsabilidade do
conselho de turma, nos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e no ensino
secundário, constituído pelos professores da turma, por um delegado dos
alunos e por um representante dos pais e encarregados de educação”. Assim,
ao nível de cada turma, está considerado o direito de representação colectiva
dos encarregados de educação por um representante. Esse direito está
consagrado e determina que do conselho de turma fazem parte professores,
um delegado dos alunos e também um representante dos pais e encarregados
de educação. Portanto, o representante dos encarregados de educação
participa na organização, acompanhamento e avaliação das actividades a
desenvolver com os alunos e na elaboração de um plano de trabalho. Os pais e
encarregados de educação apenas não participam nas reuniões destinadas à
avaliação sumativa dos alunos (capítulo IV, secção I, artigo. 36.º, ponto 3).
O Decreto-Lei n.º 115-A/98 estabelece ainda, no capítulo V, artigo 40.º, que
“aos pais e alunos é reconhecido o direito de participação na vida da escola”.
2.3.6. Lei das Associações de Pais e Encarregados de Educação
Os direitos e deveres dos pais em relação à sua participação na escola
encontram-se previstos em diversos normativos legais como já referimos
anteriormente. No que respeita às APEE, a Lei das Associações de Pais está
inscrita no Decreto-lei n.º 372/90, de 27 de Novembro, alterada pelo Decreto-
Lei n.º 80/99, de 16 de Março e Lei n.º 29/2006, de 4 de Julho.
Segundo o artigo 2.º as AP “visam a defesa e a promoção dos interesses
dos seus associados em tudo quanto respeita à educação e ensino dos seus
filhos e educandos que sejam alunos da educação pré-escolar ou dos ensinos
básico ou secundário, público, particular ou cooperativo”, além de gozarem “de
autonomia na elaboração e aprovação dos respectivos estatutos e demais
normas internas, na eleição dos seus corpos sociais, na gestão e
administração do seu património próprio, na elaboração de planos de
actividade e na efectiva prossecução dos seus fins” (artigo 4.º).
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
51
As AP aquando da sua constituição “devem aprovar os respectivos
estatutos” (artigo 5.º, ponto 1), para que após aprovação “os estatutos devem
ser depositados na Secretaria-Geral do Ministério da Educação,
acompanhados de uma lista dos respectivos outorgantes, com identificação
completa e morada de cada um, e de certificado de admissibilidade da
denominação da associação, emitido pelo Registo Nacional de Pessoas
Colectivas” (ponto 2). Posteriormente o “Ministério da Educação remeterá cópia
dos documentos referidos no número anterior à Procuradoria-Geral da
República para controlo de legalidade, após o que promoverá a respectiva
publicação gratuita no Diário da República” (ponto 3). Estas podem “agrupar ou
filiar em uniões, federações ou confederações, de âmbito local, regional,
nacional ou internacional, com fins idênticos ou similares aos seus” (artigo 8.º).
Os direitos das AP estão presentes no artigo 9.º e estes podem ser a nível
de estabelecimento ou agrupamento ou a nível nacional, regional ou local. Ao
nível de estabelecimento ou agrupamento o ponto 1 do artigo 9.º sublinha:
a) Participar, nos termos do regime de autonomia, administração e gestão
dos estabelecimentos públicos de educação pré-escolar e dos ensinos básico e
secundário na definição da política educativa da escola ou agrupamento;
b) Participar, nos termos da lei, na administração e gestão dos
estabelecimentos de educação ou de ensino;
c) Reunir com os órgãos de administração e gestão do estabelecimento de
educação ou de ensino em que esteja inscrita a generalidade dos filhos e
educandos dos seus associados, designadamente para acompanhar a
participação dos pais nas actividades da escola;
d) Distribuir a documentação de interesse das associações de pais e afixá-la
em locais destinados para o efeito no estabelecimento de educação ou de
ensino;
e) Beneficiar de apoio documental a facultar pelo estabelecimento de
educação ou de ensino ou pelos serviços competentes do Ministério da
Educação”.
No que respeita às reuniões com os órgãos de administração e gestão estas
“podem ter lugar sempre que qualquer das referidas entidades o julgue
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
52
necessário” (artigo 12.º, ponto 1), assim como “pode a associação de pais
solicitar aos órgãos de administração e gestão do estabelecimento de
educação ou de ensino que sejam convocados para as reuniões outros
agentes do mesmo estabelecimento” (ponto 2). Por sua vez, face aos órgãos
de administração e gestão existe ainda o dever de colaboração (artigo 14.º).
As AP podem ter o estatuto de utilidade pública e tem um reconhecimento
especial usufruindo de benefícios ao nível da “a) organização de actividades de
enriquecimento curricular no âmbito do prolongamento de horário e da escola a
tempo inteiro; b) Organização de actividades de apoio às famílias” (artigo 15.º
A, ponto 2, alínea a) e b)). Por último, importa ainda referir que o artigo 17.º
ressalva que as AP “regem-se pelos respectivos estatutos, pelo presente
diploma e, subsidiariamente, pela lei geral sobre o direito de associação”.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
53
CAPÍTULO III - TRABALHO DE INTERVENÇÃO – REVITALIZAÇÃO DE UMA APEE
Este capítulo apresenta uma reflexão acerca da intervenção realizada, no
Concelho de Vila do Conde, sobre a temática Família, Escola e Comunidade –
O papel das APEE do Agrupamento Vertical de Escolas da Junqueira, dando a
conhecer as diversas etapas de actuação que levaram à concretização do
objectivo final - a revitalização da Associação de Pais do Agrupamento de
Escolas da Junqueira - APAEJ.
O trabalho de investigação/intervenção integrou o protocolo de colaboração
existente no âmbito do Contrato Local de Desenvolvimento Social - CLDS, a
Escola de Ensino Especial do Movimento Apoio ao Diminuído Intelectual -
MADI, a Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti – ESEPF (Centro
de Investigação de Paula Frassinetti – CIPAF e o Departamento de Educação
Social), a Comissão Social Interfreguesias Norte do AVE – CSIFNA e o
Agrupamento Vertical de Escolas da Junqueira – AVEJ. Este protocolo visa
promover e regular a intervenção de diversos actores junto de famílias
vulneráveis e/ou em risco de exclusão social no território de Vila do Conde e
que estão abrangidas pelo CLDS, designadamente as famílias com crianças a
frequentar o AVEJ.
O protocolo de colaboração estabelecido tem a duração de três anos,
iniciando em Novembro de 2009 e decorrendo até Março de 2012
Da análise documental e do trabalho desenvolvido com a Equipa da ESEPF
e do CLDS, resultou um trabalho de colaboração e parceria, onde surgiu a
necessidade de desenvolver um estudo aprofundado, com início em Janeiro de
2011, acerca das APEE do Agrupamento, apostando numa actuação inspirada
na lógica participativa, tão defendida pela intervenção comunitária. Neste
sentido, desenvolver um estudo que apostasse na intervenção comunitária e
que envolvesse agentes educativos (encarregados de educação,
professores/educadores, entre outros interventores) tornou-se fundamental, na
medida em ambicionávamos:
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
54
• Compreender a relação existente entre família-escola-comunidade;
• Perceber a organização e dinâmica das Associações de Pais e
Encarregados de Educação pertencentes ao Agrupamento Vertical de
Escolas da Junqueira - AVEJ, visto que a informação que detínhamos
era a existência de cinco Associações, das quais três estavam
inactivas (Rio Mau, Arcos e Junqueira);
• Incentivar os pais e encarregados de educação para a aproximação
ao meio escolar, fomentando a participação e o envolvimento.
Reconhecendo que a escola, enquanto comunidade educativa, necessita da
participação de todos os intervenientes no processo educativo, em particular os
pais/EE, o problema central deste estudo focalizou-se nas interacções entre
família e escola e através dela pretendeu-se saber se “a intervenção
comunitária constitui uma prática facilitadora na reconstrução e
dinamização da APAEJ”.
A abordagem ao problema central foi facilitada pela colocação de duas
hipóteses teóricas, sendo elas:
• “O envolvimento parental, no contexto escolar, funciona como um
meio facilitador no desenvolvimento de práticas educativas de/para o
sucesso.”
• “A existência de uma Associação de Pais e Encarregados de
Educação activa, na comunidade educativa, desperta os pais e/ou
encarregados de educação para a participação e um maior interesse
por iniciativas que fomentem a relação família-escola.”
Assim, com o intuito de conhecermos a perspectiva das famílias/pais
desenvolveu-se um trabalho de investigação-acção, junto das APEE existentes
no Agrupamento que demonstraram disponibilidade e abertura em colaborar e
ser elementos activos no decorrer de todo o processo. A partir do trabalho
desenvolvido com o Subdirector do Agrupamento e os dirigentes associativos
foi possível entender os problemas que afectam as relações existentes entre os
dois agentes educativos - família e escola, bem como as representações que
existem entre eles, além de percebermos as causas que levam ao surgimento
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
55
de comportamentos/atitudes baseados no afastamento ou quase inexistente
estabelecimento de relações entre ambos.
Neste estudo, como em qualquer investigação os investigadores foram
orientados por determinados objectivos operacionais. Promover uma relação
de cooperação entre família, escola e comunidade foi considerado o objectivo
geral e dele advieram uma série de objectivos específicos, designadamente:
• Conhecer as Associações de Pais e Encarregados de Educação do
Agrupamento, sua organização e dinâmica;
• Conhecer as representações que os pais, que integram a APEE, têm
acerca da escola;
• Analisar a importância que os pais, enquanto dirigentes associativos,
atribuem à sua integração e participação no meio escolar;
• Criar iniciativas que dêem sustentabilidade à Associação de Pais e
Encarregados de Educação do Agrupamento e que envolvam
directamente os pais.
3.1. Opções metodológicas “A aplicação dos conhecimentos teóricos, em diferentes dimensões do saber, e
em estreita articulação com as metodologias e experiências associadas à prática profissional, conduzem à concepção e desenvolvimento de projectos de investigação/intervenção”.82
Toda a pesquisa tem como objectivo a obtenção de dados que possibilitem
chegar a respostas concretas para um determinado problema, daí o seu
objectivo centrar-se na descoberta de respostas para os problemas mediante a
aplicação de diversas técnicas e metodologias.
Considerando que o problema da investigação remete-nos para o estudo
acerca do envolvimento parental na escola, os modos de envolvimento
praticados e os factores facilitadores do envolvimento, pareceu-nos que o
método de investigação, mais eficaz, seria o método qualitativo, apostando
numa abordagem predominantemente interpretativa. Quanto às técnicas,
encaramos que aquelas que podiam constituir um suporte metodológico
82 http://www.esepf.pt/a_2ciclo/docs_intcom/descr_int_com_09_v5.pdf, 12 de Janeiro de 2011;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
56
enquadrador das hipóteses teóricas eram as técnicas de recolha de informação
não documental como a participação e a observação, diário de bordo83 e a
entrevista, tendo sido aplicada dois tipos de entrevista – a exploratória e a
semi-directiva.
No decorrer do trabalho de investigação/intervenção foram realizadas
leituras que permitiram conceptualizar a problemática teórica através da
perspectiva de diferentes autores/investigadores. Foi consultada e analisada
bibliografia de natureza diversa, desde artigos científicos, teses de
mestrado/trabalhos de investigação para a obtenção de grau académico,
particularmente as dissertações de mestrado, além da internet e a análise de
documentos secundários. Para a redacção final do trabalho de
investigação/intervenção utilizamos todas as informações registadas ao longo
do trabalho empírico, resultantes da análise e discussão dos resultados.
Neste estudo, o termos optado pela investigação qualitativa prendeu-se com
o facto de em educação esta assumir muitas formas e poder ser conduzida em
múltiplos contextos, além de que os dados recolhidos, designados por
qualitativos, serem “ricos em pormenores descritivos relativamente a pessoas,
locais e conversas, e de complexo tratamento estatístico”.84 Segundo Bodgan e
Biklen (1994: 47-51) a investigação qualitativa, possui cinco características
fundamentais:
- “A fonte directa de dados é o ambiente natural, constituindo o investigador
o instrumento principal” - o investigador recolhe os dados tendo em atenção o
contacto directo com os sujeitos e os contextos naturais, pois entende que as
acções podem ser melhor compreendidas quando são observadas no seu
ambiente natural;
- “É descritiva” - os resultados escritos assumem particular relevância, na
medida em que contêm citações fulcrais de grande complexidade e “riqueza”.
O fundamental é que a recolha dos dados seja principalmente descritiva acerca
das pessoas e das situações. Os dados podem incluir transcrições de
83 Anexo 2 – Diário de Bordo; 84 BODGAN, Robert, BIKLEN, Sari, Investigação Qualitativa em Educação – Uma Introdução à Teoria e aos Métodos, Porto Editora, 1994, pág. 16;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
57
entrevistas, notas de campo, fotografias, vídeos, documentos pessoais,
memorandos e outros registos oficiais;
- “Interesse focalizado mais no processo do que nos resultados ou produtos”.
As estratégias qualitativas preocupam-se com as actividades, procedimentos,
interacções do quotidiano e focam-se no modo como as definições se formam;
- “A análise dos dados tende a ser feita de forma indutiva”. Vai-se
construindo um quadro que vai ganhando forma à medida que se recolhem e
examinam os dados, e as abstracções são construídas à medida que os dados
recolhidos vão sendo agrupados;
- “O significado é de importância vital na abordagem qualitativa”. Esta
privilegia a compreensão dos comportamentos a partir da perspectiva dos
participantes, os investigadores “estão interessados no modo como diferentes
pessoas dão sentido às suas vidas”85 e no perceber “aquilo que eles
experimentam, o modo como eles interpretam as suas experiências e o modo
como eles próprios estruturam o mundo em que vivem” (Psathas, 1973, cit.
Bogdan e Biklen, 1994: 51).
Importa referir que neste estudo, para melhor conhecer e interpretar as
interacções entre família e escola e toda a sua complexidade, foi necessário
dar “voz” aos pais e à escola para, posteriormente, analisarmos a perspectiva
de cada um dos intervenientes. Este facto levou a que o investigador tivesse
que integrar o mundo dos agentes envolvidos, com o intuito de dar-se a
conhecer, tentar conhecê-los e ganhar a sua confiança.
3.2. Caracterização do meio e do contexto educacional em estudo
Para um conhecimento mais aprofundado acerca do terreno empírico do
trabalho de investigação/intervenção, foi efectuado um estudo prévio acerca do
Concelho de Vila do Conde e do Agrupamento, a fim de conhecer a realidade,
obter dados concretos e detectar necessidades. A recolha destes elementos
tornou-se fundamental para medir os efeitos directos e imediatos do projecto,
85 Ibidem, pág. 50;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
58
assim como verificar o impacto que ele poderia vir a produzir. Esta primeira
fase do trabalho designou-se de diagnóstico.
Do diagnóstico preliminar e da análise documental efectuada a diversos
documentos referenciados pelo CLDS, designadamente Plano de
Desenvolvimento Social da Rede Social de Vila do Conde, o Diagnóstico de
Freguesias do CLDS e o Projecto Educativo do Agrupamento de Escolas da
Junqueira, detectou-se uma necessidade de intervenção no âmbito das
famílias, nomeadamente das famílias “ausentes da escola”. Após identificação
do campo de acção este permitiu perceber que o caminho da intervenção
passava por qualificar a relação entre família, escola e comunidade,
potenciando o sucesso das famílias e trabalhando competências do agregado
familiar em distintos níveis e eixos de intervenção. Assim, passaremos a
apresentar os dados recolhidos na fase de diagnóstico que permitiram ter a
noção do contexto e das pessoas e comunidade alvo da intervenção.
3.2.1. Breve caracterização de Vila do Conde e da Zona Norte do Ave
Segundo o Diagnóstico Social de Vila do Conde (2007) o diagnóstico é um:
“instrumento de planeamento para o desenvolvimento […] permite um conhecimento mais aprofundado e cientificamente fundamentado da realidade social do Concelho e contribui para a […] identificação dos problemas e das potencialidades dos grupos populacionais em relação a padrões de qualidade de vida, considerados a partir dos direitos de cidadania num sentido mais amplo de combate à pobreza e exclusão social.”86
Vila do Conde situa-se a noroeste de Portugal, na costa do Oceano
Atlântico, estando circunscrita pelos municípios da Póvoa do Varzim, Vila Nova
de Famalicão, Trofa, Maia e Matosinhos. O concelho de Vila do Conde integra
o distrito do Porto e pertence à Grande Área Metropolitana do Porto (GAMP),
na NUT III do Grande Porto e na NUT II da Região Norte.
Este Concelho ocupa uma posição privilegiada, na medida que integra um
eixo territorial dinâmico quer ao nível demográfico, quer económico. A sua
posição geográfica constitui uma mais-valia para o desenvolvimento e a
competitividade, devido às acessibilidades, à proximidade com o mar e à 86 Diagnóstico Social de Vila do Conde, Rede Social de Vila do Conde, Junho, 2007, pág. 2-3;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
59
vertente turística e de lazer. A grande ameaça centra-se na proximidade de dos
centros urbanos de Porto e Viana do Castelo, que sendo dinâmicos, tendem a
segregar para o seu território as populações mais próximas.
No que respeita ao território, Vila do Conde é um dos concelhos mais vastos
da Grande Área Metropolitana do Porto contando com uma área de 148,97km2,
por sua vez, apresenta uma das mais baixas densidades populacionais com
apenas 509,94 habitantes /km2.87 Do território fazem parte trinta freguesias –
Arcos, Árvore, Aveleda, Azurara, Bagunte, Canidelo, Fajozes, Ferreiró, Fornelo,
Gião, Guilhabreu, Junqueira, Labruge, Macieira, Malta, Mindelo, Modivas,
Mosteiró, Outeiro, Parada, Retorta, Rio Mau, Tougues, Touguinha, Touguinhó,
Vairão, Vila Chã, Vila do Conde, Vilar e Vilar do Pinheiro. A maior densidade
populacional reside na sede do concelho com 25731 habitantes e na zona
litoral, designadamente na freguesia de Árvore (4271 habitantes), Mindelo
(3402 habitantes) e Vila Chã (2957 habitantes).88
Uma das particularidades do concelho de Vila do Conde prende-se com o
facto de albergar o maior número de empresas ligadas com o ramo da
agricultura e da pesca. As empresas direccionadas ao comércio por grosso e a
retalho, construção, indústrias transformadoras, alojamento e restauração,
também estão presentes e revelam a existência de um grande dinamismo
económico. No entanto, são as explorações agrícolas que assumem um papel
de destaque devido às características do concelho.
No que concerne a problemas sociais, Vila do Conde, é uma zona que
revela a existência de diversos problemas e dificuldades em que os
estrangulamentos e as potencialidades são diferentes entre freguesias. Os
principais problemas do concelho centram-se no “crescente envelhecimento e
regressão populacional, tecido empresarial e produtivo muito frágil, mão-de-
obra desqualificada, elevadas taxas de desemprego e baixos índices de
escolarização”.89 Perante este cenário a Rede Social tem vindo a apostar na
“Constituição de um Território Plural”90 e, para uma melhor detecção dos
problemas, constituíram grupos de freguesias, sendo o grupo de freguesias em
87 Ibidem, pág. 17; 88 Ibidem, idem, pág. 24; 89 Ibidem, idem, pág. 41; 90 Título dado ao Capítulo II do Diagnóstico Social de Vila do Conde, pág. 10;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
60
estudo, o referente à zona Norte do Ave – composta por Arcos, Bagunte,
Ferreiró, Junqueira, Outeiro Maior, Parada, Rio Mau, Touguinha e Touguinhó.
Relativamente às problemáticas sociais existentes nas freguesias a Norte do
Ave, o Diagnóstico da Rede Social de Vila do Conde indica: “isolamento dos
idosos e desertificação; falta de estruturas de apoio social (creches e centros
de dia; ausência de mecanismos de fixação da população juvenil; insuficiência
de transportes públicos para acesso à sede do Concelho; ausência de
habitação/terrenos para construção e reduzida habitação o que se traduz na
saída da população jovem; abandono escolar e fenómenos de dupla ocupação
escola/trabalho; e existência de jovens com necessidades educativas especiais
com falta de perspectivas de integração – ausência de oferta de estruturas de
emprego protegido”91.
O diagnóstico efectuado pelo CLDS de Vila do Conde, também deu
possibilidade de conhecer e compreender a realidade da zona em estudo,
através das entrevistas e dos contactos efectuados com diversos serviços
centrais. As entrevistas aos Presidentes de Junta de Freguesia, permitiram
constatar que as freguesias dispõem de serviços que são dinamizados pelas
Juntas de Freguesia, sendo evidenciada a “forte presença da resposta das
novas oportunidades em praticamente todas as juntas”, o transporte escolar,
serviços de apoio à comunidade e o posto de multibanco. No que respeita aos
recursos humanos as Juntas dispõem de pessoal diferenciado, embora
“nenhuma disponha de recursos técnicos (com excepção das técnicas dos
Gabinetes de Inserção Profissional - GIPs que asseguram os serviços na área
do emprego) ”. Ao nível dos equipamentos estas têm espaços desportivos,
designadamente “ringues, polidesportivos, campos de futebol”.
No que respeita às Associações e Instituições locais prevalece os grupos de
danças e cantares (ranchos folclóricos) e as associações desportivas em que a
maioria centra-se no futebol, sendo “poucas as associações que dinamizam
diferentes modalidades desportivas”. A presença de Instituições Particulares de
Solidariedade Social – IPSS (Junqueira e Touguinha), Escuteiros (Arcos e
Junqueira), Grupo de Teatro (Ferreiró), Conferência Vicentina (Bagunte) e 91
Diagnóstico Social de Vila do Conde, Rede Social de Vila do Conde, Junho, 2007 pág. 44-46;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
61
Escola Música (Arcos) existem na Zona Norte do Ave, mas não têm
representatividade em todas as freguesias.
Relativamente aos problemas e potencialidades foram identificados:
• Problemas - alcoolismo e violência doméstica (Arcos); 1ª infância/ATL
(Arcos, Bagunte e Outeiro Maior); terceira idade (Arcos, Bagunte,
Outeiro Maior e Rio Mau); falta de transporte (Outeiro Maior e
Touguinha); desemprego (Junqueira e Rio Mau); e toxicodependência
(Bagunte e Junqueira).
• Potencialidades - turismo rural (Arcos e Bagunte); agricultura (Arcos);
empresas empregadores (Ferreiró e Touguinha); atrair habitantes
(Ferreiró, Parada e Touguinha); acessos (Rio Mau e Touguinha);
potencialidades naturais (Bagunte e Touguinha); novos equipamentos
(Ferreiró, Junqueira e Touguinhó); centralidade (Junqueira); e boa
rede de transportes (Parada).
Na entrevista ao representante do Agrupamento Vertical de Escolas da
Junqueira, verificou-se que “são identificadas carências a vários níveis,
nomeadamente económicas (alimentares, vestuário) e afectivas, bem como a
dupla ocupação das crianças principalmente durante os períodos de férias
escolares”; o agrupamento “realiza actividades com as famílias – conferências,
visitas, concursos, arraiais e, apesar disso, todos reconhecem as dificuldades
de articulação e comunicação com as mesmas – existe sempre um grupo de
famílias ao qual parece que a escola não consegue chegar”; e existem
respostas educativas diferenciadas como “clubes, CEF, apoio ao estudo,
intercâmbios com o exterior”.
Como problemas foram apontados “a falta de respostas para as crianças
deficientes (pós idade escolar), carências formativas do pessoal não docente,
pobreza escondida de muitas famílias, o alcoolismo, o desemprego claramente
crescente, a má alimentação de muitas crianças, a baixa escolaridade das
famílias, a falta de espaços, a dificuldade de transporte dos alunos, a existência
de algumas freguesias mais problemática, a falta de envolvimento das famílias,
a identificação de vários casos de crianças sinalizadas á CPCJ”.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
62
Como potencialidades “a boa articulação entre ciclos, melhores condições
de funcionamento do ensino especial, a boa relação entre docentes, uma maior
abertura para a participação dos pais nas actividades propostas pelo
Agrupamento”.
No contacto com os Serviços Centrais foram identificados diversos
problemas, destacando-se:
• Educação - “falta de envolvimento dos pais”;
• Segurança Social - “desemprego, a deficitária rede de transportes do
Concelho e a deficitária cobertura de respostas sociais de algumas
freguesias, em especial 1ª infância e idosos […] problemas de
competências familiares, alcoolismo, sendo sugerido que a
intervenção actuasse como forma preventiva […] problemas
decorrentes da muito baixa escolaridade da população”;
• Saúde - “falta de articulação […] importante aproveitar as alterações
verificadas nas respostas na área da saúde (USF, Agrupamentos de
centros de saúde, criação do conselho da comunidade, unidades de
cuidados à comunidade) iniciar um trabalho mais sistemático”.
• Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) - “a
necessidade de trabalhar a relação família – escola e trabalhar sobre
a problemática do alcoolismo e violência doméstica”.
3.2.2. Breve caracterização Agrupamento de Escolas da Junqueira - AVEJ
A caracterização do Agrupamento Vertical de Escolas da Junqueira tem por
base o Projecto Educativo92 e a análise de alguns documentos de
caracterização facultados pela Direcção do Agrupamento, além de informações
relativas ao CLDS e documentos da equipa da ESEPF.
O AVEJ é composto por onze Jardins-de-infância (J.I), dez Escolas Básicas
do 1º ciclo (EB1) e uma Escola Básica do 2º/3º ciclos (EB2/3). No ano lectivo
92 Segundo o Projecto Educativo da AVEJ – Por uma Cidadania com Sucesso (2009-2013: pág. 5), o projecto educativo “é o documento que estabelece as linhas orientadoras e os objectivos a atingir por um Agrupamento, apresentando-se a toda a comunidade educativa como um conjunto de linhas de orientação e actuação, que definem e conferem identidade à instituição que representa”;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
63
2010-2011 acompanhou 1346 crianças/adolescentes, sendo que o número
mais significativo correspondeu ao Pré-escolar com 224 crianças e ao 1º Ciclo
com 450 alunos.
Quadro 2 - Número de Alunos ano lectivo 2010-2011
Pré-escolar 224 13 11 J.I.
1º ciclo 450 24 10 Escolas
2ºciclo 270 12
1 Escola 3º ciclo 334 16
CEF’s 68 5
Total 1346 Turmas 70 22 Edifícios
Quadro de elaboração própria
Os estabelecimentos de ensino do Agrupamento localizam-se em nove
Freguesias - Arcos, Bagunte, Ferreiró, Junqueira, Outeiro Maior, Parada, Rio
Mau, Touguinha e Touguinhó, sendo aquelas que integram a Zona Norte do
Ave.
A filosofia de trabalho do Agrupamento assenta na mudança e aposta na
“lógica de inclusão e participação de todos os seus membros”93, sem esquecer
a exigência, o humanismo, o trabalho, a responsabilidade e o respeito pelas
normas, ou seja “educar para a cidadania”94.
Relativamente à caracterização da comunidade escolar a maioria dos alunos
advém das Freguesias mais afastadas do litoral, com excepção dos de
Touguinha. São alunos que revelam traços de ruralidade “detectáveis numa
postura algures entre o acanhamento … atavismo… e numa postura de
alheamento (…) face a questões cívicas mais mobilizadoras em meio
urbano”95. Todavia os traços de urbanidade também são evidentes revelando-
se no vestuário, nos hábitos alimentares e no lazer.
93 Projecto Educativo do Agrupamento Vertical de Escolas da Junqueira, “Por uma Cidadania com Sucesso”, Quadriénio 2009-2013, pág.5; 94 Ibidem, pág. 10. O Educar para a cidadania visa alargar os “âmbitos do Saber que incluem diferentes tipos de aprendizagem, não apenas conhecimentos, mas também atitudes de saber fazer, bem como, desenvolver capacidades na área da expressão e comunicação”. 95 Ibidem, idem, pág. 9;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
64
Muitos alunos evidenciam vários tipos de carências que vão desde “as
alimentares às de vestuário, passando pelas afectivas”. O contexto familiar, de
muitos desses alunos, revela a existência de:
“famílias com fracos recursos económicos, de trabalhadores por conta de outrem ou pequenos proprietários rurais; famílias com um reduzido grau de alfabetização e, por vezes, com problemas de integração social no seu seio”, além de muitos dos alunos “terem que contribuir, após as aulas e nos períodos de interrupções, com a sua frágil força de trabalho para o avolumar dos magros orçamentos familiares.”96
A existência de alunos com dificuldades de aprendizagem é um problema
que revela grande preocupação para o Agrupamento devido ao:
“elevado número de alunos com Dificuldades Graves de Aprendizagem oriundos de um meio sociocultural desfavorecido, pobre em estimulação, escasso em oportunidades […] com reduzidas expectativas parentais, baixo nível de escolaridade dos pais, reduzido envolvimento dos pais em termos de hábitos e regras de estudo”97
Daí a necessidade de intervir precocemente, se possível desde o pré-
escolar, com vista à detecção de possíveis percursos de insucesso e efectuar-
se um acompanhamento célere com vista à implementação de instrumentos de
intervenção adequados a cada caso.
O AVEJ dispõe de um Serviço de Psicologia e Orientação (SPO) que além
de intervir junto dos alunos que expressam dificuldades efectua avaliação
psicológica e acompanhamento, atende os pais, apoia e desenvolve sistemas
de relações interpessoais entre escola e comunidade, desenvolve o Programa
Pais na Escola, articula com instituições e entidades locais e dinamização as
Associações de Pais no sentido de desenvolverem actividades na escola.
No Agrupamento existem cinco APEE, sendo elas: APAEJ (inactiva); APEE
Arcos (inactiva); APEE Rio Mau (inactiva); APEE Touguinha; e APEE Bagunte
(criada recentemente).
O Projecto Educativo permitiu uma visão acerca das situações
problemáticas/prioritárias no Agrupamento, sendo estas apresentadas, no
quadro que se segue, dando relevo àquelas que envolvem directamente a
relação família, escola e comunidade e respectivos grupos-alvo.
96 Ibidem, idem, pág. 10; 97
Ibidem, idem, pág. 14;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
65
Quadro 3 - Situações problemáticas/prioritárias
Grupo alvo Situações
Jardim-de-infância
- Envolver as famílias e a consequente ligação do jardim-de-infância à comunidade local; - Fomentar a participação activa da comunidade educativa; - Ampliar os saberes básicos relacionados com a vida social, aprendendo valores que promovam condutas socialmente correctas (higiene, saúde, segurança, respeito e ambiente).
1º Ciclo
- Alunos com elevadas carências afectivas e/ou emocionais; - Existência de agregados familiares em situação de pobreza mais ou menos assumida; - Ausência de hábitos de higiene; - Ausência de normas básicas de comportamento dentro e fora da sala de aula; - Baixa expectativa em relação à escola; - Falta de apoio por parte dos pais e baixa escolaridade por parte dos mesmos; - Meio ruralizado; - Poucos estímulos ou experiências culturais; - Ausência de hábitos e métodos de estudo.
2º/3º Ciclos - Elevado insucesso escolar.
Corpo docente
- Dificuldade em envolver os pais na vida da escola; - Dificuldade em responder adequadamente aos problemas dos alunos; - Burocratização.
Pais
- Ausência de motivação/predisposição para participar activamente na vida escolar dos filhos; - Insuficiente acompanhamento/apoio nas actividades escolares dos educandos; - Baixas habilitações académicas; - Pouco envolvimento na organização das actividades extra-curriculares.
Quadro de elaboração própria tendo por base o Projecto Educativo do AVEJ
Quanto aos objectivos prioritários, metas e possíveis estratégias de
actuação, estes também fazem parte do Projecto Educativo, sendo os que
estão direccionados para a relação família-escola e vice-versa, identificados da
seguinte forma:
Objectivos prioritários: promoção do sucesso educativo; combater e
reduzir o abandono escolar; maior envolvimento dos encarregados de
educação na orientação/apoio dos seus educandos; prevenir a indisciplina; e
desenvolver o sentido de pertença em toda a comunidade.
Metas: desenvolver o sentido de responsabilidade dos alunos com o meio
escolar; promover uma educação baseada na exigência; desenvolver
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
66
competências; criar clubes; envolver os encarregados de educação na vida da
escola, apelando à sua participação e responsabilidade; e aumentar a oferta e
divulgação de acções de formação, palestras, cursos dirigidos aos
encarregados de educação.
Estratégias de actuação – as estratégias são muito abrangentes e
englobam toda a Comunidade Educativa, passando pelo corpo docente, corpo
discente, AP, pais/EE e a própria comunidade. Assim, para uma melhor
compreensão destacamos aquelas que vão de encontro com a temática do
trabalho em estudo, designadamente: envolvimento da comunidade educativa
na identificação das situações de abandono e exclusão dos alunos; criação de
mediadores direccionados para alunos em risco de insucesso e abandono;
intervenção personalizada junto dos pais; promoção de actividades pais/filhos;
envolvimento dos pais de forma activa e participante; cooperação com as
Associações de Pais na organização de iniciativas; dinamização de acções de
formação dirigidas aos pais; envolvimento da comunidade na concertação de
atitudes e valores; e a criação de condições para o desenvolvimento de um
“clima” de amizade e convívio entre a comunidade.
Contudo, foi identificada uma estratégia específica de actuação junto dos
pais/EE, dos alunos do 2º/3º Ciclos, que incide no:
“solicitar um maior envolvimento do EE na vida escolar dos seus educandos, designadamente: demonstrar-lhes interesse pelo trabalho por eles desenvolvido; incutir-lhes o sentido de responsabilidade; encorajá-los para o cumprimento dos deveres da escola; incentivá-los para a apresentação de dúvidas ao professor”.98
3.3. Apresentação e Análise dos Resultados
3.3.1. Participantes no Estudo - Amostra
Para a aplicação das entrevistas, seleccionamos cinco elementos
representativos da comunidade educativa, conhecedores da realidade e do
problema em questão – relação escola-família. Como representante da escola
tivemos o subdirector do Agrupamento, quanto às APEE contamos com a
colaboração de quatro dirigentes pertencentes aos movimentos associativos.
98 Ibidem, idem, pág. 33;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
67
Dos cinco entrevistados três eram do género masculino e dois do género
feminino, com idades díspares, situadas entre os 35 e os 61 anos.
Quadro 4 - Identificação dos participantes no estudo
Participantes Profissão Idade Género
Representante da Escola
SD (Subdirector do Agrupamento) Professor 52 Masculino
Representantes dos pais/famílias
AC (Presidente APEE “activa”) Psicóloga 35 Feminino
NS (Presidente APEE “activa”) Gestor de Clientes 35 Masculino
JS (Vice-presidente APEE “activa”) Professor 44 Masculino
MN (Ex-presidente APEE “inactiva”) Reformada (Médica) 61 Feminino
Quadro de elaboração própria
Nas palavras de Quivy e Campenhoudt (1998) estes interlocutores são
considerados “testemunhas privilegiadas”99, constituindo fontes de informação
de grande utilidade, no âmbito dos interesses e objectivos do estudo. A
selecção dos participantes prendeu-se com o facto de serem considerados
“pessoas que, pela sua posição, acção ou responsabilidades, têm um bom
conhecimento do problema”100.
3.3.2. Estabelecimento de contacto com os participantes
O subdirector foi contactado e solicitado a participar neste estudo tendo de
imediato aceite a cooperar. Após a sua entrevista demonstrou disponibilidade
em facultar as moradas de todos os dirigentes associativos, ressalvando que
algumas poderiam estar desactualizadas, porque a Direcção da Escola utiliza
este meio de comunicação com as AP e muitas vezes “nem resposta nos dão”.
Face ao exposto, foi enviada carta registada a cada dirigente101 a solicitar a
sua participação, explicitando a temática e o propósito do estudo, bem como o
processo de recolha de dados. Paralelamente foram estabelecidos contactos,
99 QUIVY, Raymond, CAMPENHOUDT, Luc Van, Manual de Investigação em Ciências Sociais, Lisboa, Gradiva, 1998, pág. 71; 100 Ibidem, pág. 71; 101 Anexo 3 – Cartas enviadas aos Representantes das APEE;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
68
via telefone e email, com as coordenadoras de escola que demonstraram
receptividade e facultaram os contactos telefónicos dos dirigentes e outras que
tomaram a iniciativa de articular a informação com os dirigentes e serem meio
de informação para o agendamento das entrevistas.
Ressalva-se que nenhum representante das AP tomou a iniciativa de
contactar com a equipa de investigação, sendo necessário recorrer aos
contactos telefónicos cedidos pelas coordenadoras de escola e contactá-los
individualmente. Os dirigentes das AP “activas”, após contacto, de imediato
aceitaram cooperar e assim foi combinado o dia, a hora e o local considerado
mais apropriado à realização da entrevista. Relativamente aos dirigentes das
AP “Inactivas” só obtivemos resposta positiva de uma, sendo necessário
articular com a equipa do CLDS, que após solicitar ao representante a sua
participação no estudo, demonstrou abertura e aceitou ser membro integrante
da investigação.
As entrevistas foram realizadas individualmente com cada participante,
excepto com os dirigentes da APEE Touguinha, em que estiveram presentes
simultaneamente o Presidente e Vice-presidente. Aquando das entrevistas foi
solicitado aos entrevistados autorização para gravação da entrevista, uma vez
que se iria proceder à transcrição das mesmas, para efeitos de análise de
conteúdo, pelo que se obteve o seu consentimento, tendo sido garantido pela
investigadora a confidencialidade, no que diz respeito às respostas e ao
anonimato dos participantes no estudo.
A entrevista ao subdirector do Agrupamento decorreu no seu gabinete, mas
este não foi o espaço mais apropriado devido às constantes interferências. As
entrevistas aos dirigentes associativos foram realizadas em locais
considerados adequados, por serem sossegados e sem interferências, a
entrevista à APEE Bagunte realizou-se na sala dos professores, a da APEE
Touguinha concretizou-se na Junta de Freguesia (espaço onde a AP reúne). À
excepção destas, a entrevista à APEE Arcos, realizou-se na residência da ex-
dirigente, por lhe ser mais conveniente e assim o desejar.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
69
3.3.3. Entrevista
Em investigação qualitativa, a entrevista pode ser utilizada como estratégia.
Nas palavras de Bogdan e Biklen (1994) a finalidade da entrevista passa pelo
“recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao
investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os
sujeitos interpretam aspectos do mundo”102. Os dados descritivos são
apresentados em detalhe e permitem ao investigador perceber a maneira como
os sujeitos interpretam as questões. Desta forma, “a recolha de dados é feita
através da interacção verbal entre entrevistador e entrevistado, possibilitando
explorar questões específicas, como se pretendia neste estudo”103.
Segundo Bogdan e Biklen (1994), as entrevistas qualitativas oferecem ao
entrevistador uma amplitude de temas considerável, que lhe permitem levantar
uma série de temas e oferecer ao sujeito a oportunidade adequar o seu
conteúdo, mesmo quando é utilizado um guião. Elas variam quanto ao grau de
estruturação, que vai desde a entrevista estruturada até à não estruturada,
passando por um grau intermédio de estruturação das questões colocadas.
Neste estudo, optou-se pela entrevista semi-estruturada, visto que os dados
obtidos a partir de vários sujeitos podem ser comparáveis, “embora se perca a
oportunidade de compreender como é que os próprios sujeitos estruturam o
tópico em questão”104.
Deste modo, começou-se por elaborar um guião de entrevista105 em função
das questões estruturantes do estudo, dos objectivos traçados e com algumas
referências teóricas decorrentes da revisão de literatura.
A condução da entrevista pressupôs a criação de condições favoráveis ao
seu desenvolvimento, baseada num clima propício de confiança e à-vontade,
para a captação imediata da informação desejada sobre os mais diversos
aspectos, assim, as entrevistas efectuadas foram semelhantes a conversas.
Seguidamente procedeu-se à transcrição textual das entrevistas para
102 BODGAN, Robert, BIKLEN, SARI, Investigação Qualitativa em Educação – Uma Introdução à Teoria e aos Métodos, Porto Editora, 1994, pág. 18; 103 LOURENÇO, Lívia Patrícia Rodrigues, Envolvimento dos Encarregados de Educação na Escola: Concepções e Práticas, obtenção de Mestrado em Educação -Especialização em Administração e Organização Escolar, Lisboa, Universidade de Lisboa Faculdade de Ciências Departamento de Educação, Setembro de 2008; 104
BODGAN, Robert, BIKLEN, SARI, Investigação Qualitativa em Educação – Uma Introdução à Teoria e aos Métodos, Porto Editora, 1994, pág. 135; 105 Anexo 4 – Guiões das entrevistas
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
70
consequente tratamento dos dados e análise. As entrevistas foram transcritas
na íntegra e procurou-se reproduzir o mais fielmente possível a versão áudio,
nomeadamente no que concerne à pontuação. Completa a transcrição das
entrevistas e após algumas correcções, os textos escritos foram enviadas por
e-mail aos entrevistados, para que fizessem as alterações que considerassem
necessárias. Destaca-se que nenhum dos participantes procedeu a qualquer
tipo de alteração.
3.3.4. Análise de Conteúdo
3.3.4.1. Entrevista ao Subdirector do Agrupamento (SD) - representante da Escola
A entrevista efectuada a SD decorreu no seu gabinete, na Escola EB 2/3 Dr.
Carlos Pinto Ferreira, dia 25 de Fevereiro de 2011, pelas 11h e teve a duração
de cerca de 30 minutos. Esta tinha como objectivos: conhecer a perspectiva, do
SD, face às APEE; recolher informação sobre as APEE existentes no
Agrupamento; compreender as dimensões de actuação aplicadas em prol da
relação Associação de Pais e Encarregados de Educação /Família/Escola; e,
por último, descobrir as mudanças ocorridas com a presença das APEE desde
que SD exerce funções directivas/coordenação no Agrupamento.
Após a transcrição da entrevista106 procedeu-se à análise de conteúdo107,
sendo identificadas categorias que “constituem um meio de classificar os dados
descritivos […] de forma a que o material contido num determinado tópico
possa ser fisicamente apartado dos outros dados”108. Foram identificadas seis
categorias: 1- AP; 2- AP no AVEJ; 3- Movimentos Associativos; 4 - Relação
com o Agrupamento; 5- Actividades; e 6 – Estratégias de intervenção.
No que respeita à categoria da AP foi possível identificar duas
subcategorias:
106 Anexo 5 – Transcrição entrevista a “SD” do AVEJ; 107 Anexo 6 – Análise Conteúdo entrevista “SD” do AVEJ; 108
BODGAN, Robert, BIKLEN, Sari, Investigação Qualitativa em Educação – Uma Introdução à Teoria e aos Métodos,
Porto Editora, 1994, pág. 221;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
71
Quadro 5 - Associações de Pais
Subcategorias Excertos
Função
“Toda a gente sabe que as Associações de Pais e Encarregados de Educação são importantes, até porque educar é cada vez mais uma tarefa difícil e se não nos envolvermos todos na educação não adianta nada […] realmente, não adianta nada andarmos aqui com regras se os pais e a escola não pautarem a educação também por essas regras”.
Articulação
“é fundamental que os pais e a escola funcionem em conjunto e que puxem todos para o mesmo lado e, infelizmente, aqui não temos tido esse tipo de comportamentos.” Não é que a gente tenha queixa dos pais, não é. Há pais que nos dizem que não se interessam porque não têm problemas, mas o não ter problemas não é resposta nenhuma. Não têm eles, mas têm outros e, como fazemos parte da mesma divisa, todos temos que ajudar. Nesse aspecto, eu acho que os pais são um parceiro fundamental que deveriam ter um papel mais activo do aquele que têm.”
Quadro de elaboração própria
Face a estas duas subcategorias depreende-se que as AP assumem um
papel e importância preponderantes. A articulação entre pais/família e escola é
essencial e necessária, embora os pais devessem ter um papel mais activo e
demonstrar mais interesse pela escola. O SD indica que falar de educação
implica um envolvimento por parte de todos os que fazem parte da comunidade
educativa, logo torna-se fundamental que as regras existentes sejam
transversais ao contexto escolar e familiar.
Relativamente à segunda categoria - AP no AVEJ esta compreende três
subcategorias:
Quadro 6 - Associações de Pais no AVEJ
Subcategorias Excertos
Existência de
APEE
“Existem cinco Associações de Pais. Uma foi formada há pouco tempo (…) é a Associação de Pais de Bagunte. Outra é a de Touguinha, é a semi-activa (…) temos três que estão paradas que são a de Arcos, Rio Mau e a Associação de Pais do Agrupamento, que funcionou enquanto esteve à frente da Associação o Engenheiro, depois foi-se embora e, neste momento, não há meio de a pôr em funcionamento, nem resposta nos dão.”
Motivo da
constituição
“As quatro que são de Freguesias diferentes tiveram a ver com rivalidades, nitidamente com rivalidades. Aliás, nós notamos isso em algumas medidas que quisemos impor e vimos a reacção em termos do 1º Ciclo.” “Há uma rivalidade muito grande (…) se bem que a de Touguinha é mais antiga e os pais sempre revelaram, para com o Agrupamento, alguma dinâmica.” “A outra surgiu quando o Agrupamento foi formado com um grupo de pais que achou que deveria haver uma Associação só no Agrupamento todo (…) fizeram um estudo acerca do que os pais
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
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pensavam da escola e como poderiam envolver-se.”
Constrangimentos
“Touguinha (…) praticamente só se preocupam com o Jardim e a Escola do 1º Ciclo. Enquanto esteve à frente o Sr. Sérgio esse comparecia sempre às reuniões, estava sempre pronto para participar. Desde que ele saiu nunca mais se fizeram representar no Conselho Geral, nem no Conselho Pedagógico. A gente pode convocar, mas nunca aparece ninguém, mas acho que essa proliferação tem a ver com rivalidades entre Freguesias.”
Quadro de elaboração própria
Destas subcategorias percebe-se que no AVEJ existem cinco APEE,
havendo uma que foi recentemente criada (Bagunte), uma semi-activa
(Touguinha) e três inactivas (Arcos, Rio Mau e Agrupamento). SD destaca que
têm tentando fomentar a reactivação da APAEJ, mas têm-se revelado um
processo difícil.
Segundo SD, constituição das AP baseou-se, essencialmente, em
rivalidades, embora a de Touguinha tenha evidenciado sempre alguma
dinâmica. Reconhece que APAEJ constituiu-se porque havia um grupo de pais
que entendia que só deveria existir uma AP no Agrupamento, tendo os
elementos que a integraram realizado um estudo acerca da escola e o
envolvimento dos pais.
Indica que ao nível da participação das AP existem alguns
constrangimentos, na medida em que existem AP que se preocupam
unicamente com o seu espaço escolar, sendo exemplo disso a AP de
Touguinha. Ressalva que os elementos desta direcção, além de não
comparecerem quando são convocados, também não se fazem representar no
Conselho Geral, nem no Pedagógico, como já acontecera anteriormente.
Quanto à terceira categoria – Movimentos Associativos esta permitiu
detectar se as AP integram ou integraram movimentos associativos concelhios
como a Federação Concelhia das Associações de Pais e Encarregados de
Educação do Concelho de Vila do Conde - FAPCONDE ou nacionais como a
Confederação Nacional das Associações de Pais - CONFAP, sendo
referenciado:
“A Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento estava representada e inscrita. As outras, muito sinceramente, não sabemos. A Associação de Pais do Agrupamento estava, pelo menos era o que o Engenheiro referia no Pedagógico quando dava conhecimento das reuniões.”
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
73
A quarta categoria, Relação com o Agrupamento, após a análise dos
dados permitiu formar três subcategorias:
Quadro 7 - Relação com o Agrupamento
Subcategorias Excertos
Relação
“De parceria não é, infelizmente não é. Não sei se lhe hei-de chamar de alheamento. A única coisa que posso constatar é que, mesmo quando os convocamos para reuniões ou para indicarem elementos para representar a comissão com objectivos vários, quer seja do Projecto Educativo, entre outros, nunca nos aparece resposta”. “Ainda esta semana fizemos uma reunião com os representantes dos pais e a verdade é que apareceram bastantes pais, não apareceram todos os representantes (…) e ficamos com a impressão (…) que eles vêm lá falar no que diz respeito aos filhos deles ou às Freguesias e, se isso atinge o Agrupamento então também diz respeito ao Agrupamento, se não, não. O mais engraçado é que nenhum dos pais falou sequer das Associações de Pais. Numa reunião de duas horas e tal ninguém quis saber se eles têm funcionado, se funcionam ou se não funcionam.”
Representatividade
APEE
“Não têm voz activa (…) vamos lá ver se esta mais recente, a de Bagunte, consegue mexer-se mais um bocado, mas também fico com a impressão (…) que a ideia é a mesma olhar pelo que diz respeito a Bagunte e não pensar em termos de Agrupamento. Em qualquer uma delas e, mesmo na do Agrupamento, a gente ficava sempre com essa impressão que eles não conseguem pensar no Agrupamento enquanto Agrupamento, querem é proteger o nicho deles e ver o que é que conseguem fazer em favor de.”
Mobilização
“Nós (…) quando há alguma actividade convidámo-los sempre. Geralmente da parte deles só recebemos convites quando fazem alguma Festa de Final de Ano, algum Jantar. (…) Em Touguinha fazem sempre muitas actividades, envolvem os pais (…) e convidam-nos para assistir às actividades, não é para participar, mas sim para assistir.”
Quadro de elaboração própria
Quanto à relação e postura das APEE com o Agrupamento, esta não é
identificada como de parceria, mas SD também não sabe se a pode classificar
de alheamento. O que têm constatado enquanto Agrupamento é que as AP
quando solicitadas ou convocadas não dão resposta, tendo que recorrer aos
representantes dos pais nas turmas, que também não questionam sobre as AP,
nem evidenciam interesse por saber se estes estão a funcionar.
Salienta que as AP não têm voz activa, nem conseguem agir e actuar
pensando na globalidade do Agrupamento, a tendência é para protegerem-se e
procurar alcançar objectivos individuais. Perante esta realidade, verbaliza que
espera que a AP de Bagunte seja o inverso das restantes, visto ser recente.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
74
No que respeita às estratégias de mobilização, quando as actividades são
promovidas pelo Agrupamento convidam sempre as AP. Todavia, quando as
AP organizam acções convidam a Direcção do Agrupamento para assistir, mas
não para participar.
Relativamente à quinta categoria – Actividades, foram constituídas sete
subcategorias, que permitiram a obtenção de dados concretos,
designadamente:
Quadro 8 - Actividades
Subcategorias Excertos
Actividades
desenvolvidas
“As acções que são feitas têm mais a ver com festas.” “Dia do Agrupamento e o Magusto, Prémios de Mérito Escolar, Acções de Formação, Mesas de Outono e Dia de Vila do Conde.”
Acções de
Formação
“Mesmo as acções de formação que a gente tenta promover para os pais, nunca têm muita adesão. Além de que, no ano passado, tivemos uma agradável surpresa (…) a equipa do PES fez uma acção por causa da Educação Sexual e convidamos os representantes das turmas todas e as Associações de Pais (…) apareceram cerca de cento e cinquenta pessoas.” “Há dois anos fizemos uma sobre os perigos da internet e pensávamos que era um tema que interessava a toda a gente, que íamos ter muita gente, de tal maneira que pedimos o auditório em Vila do Conde. Resultado, se não fossem os professores a sala ficava completamente vazia, pais só lá estavam entre três a quatro. Há coisas que realmente não se conseguem explicar.”
Auscultação
dos Pais
“com a construção do Projecto Educativo (…) pedimos aos pais que estavam na equipa, que também eram representantes dos pais, temas que gostassem de ver tratados, acções de formação e, portanto, não houve propostas.”
Divulgação
“Eles pensam todos em termo de paróquia. Touguinha faz a festa e é para os de Touguinha e convidam os elementos da Direcção. Não abrem aquilo, é como eu digo, eles não conseguem pensar numa Associação de Pais como uma Associação de todo o Agrupamento.”
Planificação
“Não. Há alturas em que desejam fazer uma Festa de Natal ou como já há a Festa de Natal da Escola eles podem participar e aí vai o Plano a Pedagógico. É um Plano que é apresentado pela Professora da Escola com a colaboração dos pais.” “Em termos de autonomia ao nível dos Planos nunca tivemos nenhum apresentado por eles.”
Participação dos
pais
“Touguinha funciona bem e tem sempre muita gente e participam muitos pais.” Acção de Formação sobre Educação Sexual “muita gente, muita para além do que estávamos a contar e, sobretudo os pais mostrarem-se muito interessados.” “No Magusto não aparecem tantos, mas no dia do Agrupamento lá aparecem mais e a actividade é durante o dia todo. Se ao longo do dia vierem cem pais será muito e, se calhar, não vêm de certeza absoluta. Ora no Agrupamento temos cerca de mil e trezentos, mil e quatrocentos alunos, por isso não é nada significativo. Os que vêm são pais dos filhos que se envolvem na actividade.” Entrega “prémios de Mérito Escolar tem-nos acontecido haver alturas
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
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em que estamos a entregar os prémios e os pais não estão presentes.” “houve uma altura em que a gente tinha uma actividade que, embora fosse feita turma a turma, os responsáveis últimos eram os pais. Eram chamadas de “Mesas de Outono” (…) embora fosse uma actividade que trouxesse os pais à escola, tínhamos que acabar, até porque depois sobrava comida que era uma coisa doída (…) era um desperdício tremendo (…) ali o mais grave era que os pais participavam naquilo com outro intuito – o de vencer.” “há uma actividade que a Câmara organiza todos os anos que é o Dia de Vila do Conde (…) todas as escolas participam, assim como, cada Agrupamento (…) é em Vila do Conde, é à noite, geralmente a uma sexta-feira ou sábado, pois a maior parte dos pais dos alunos que participam, nem sequer vão ver. Não comparecem e depois nós temos que ter o cuidado de ver se os pais comparecem para os ir buscar ou se temos que os levar a casa.”
Comunidade
local
“Aquilo é um meio pequeno e praticamente todos têm filhos ali na escola, portanto vai quase tudo.” “São pais, avós, tios e levam as famílias por arrastamento.”
Quadro de elaboração própria
Os dados indicam que as actividades desenvolvidas estão relacionadas com
festividades e momentos significativos - Dia do Agrupamento, Magusto, entrega
de Prémios de Mérito Escolar, acções de formação, Mesas de Outono e o Dia
de Vila do Conde.
As acções de formação realizadas para os pais debruçaram-se sobre as
temáticas da Educação Sexual e os Perigos da Internet. A primeira contou com
a presença e receptividade dos pais, tendo comparecido cerca de cem a cento
e cinquenta pessoas. A segunda já não teve a mesma adesão (participação de
três a quatro pais), ficando aquém das expectativas. Aquando da elaboração
do projecto educativo foram questionados os representantes dos pais sobre
temáticas do seu interesse, não havendo qualquer tipo de propostas.
Relativamente à divulgação das actividades SD destaca que as actividades
desenvolvidas baseiam-se, essencialmente, em festividades. AP de Touguinha,
actua em termos locais, não sendo capaz de alargar as actividades a todo o
Agrupamento. SD não identificou as estratégias utilizadas para a divulgação
das iniciativas.
No que respeita à planificação das acções esta não existe, o que acontece é
que quando os pais desejam fazer/participar numa festa o plano vai a Conselho
Pedagógico, mas é um Plano apresentado pela professora evidenciando a
colaboração dos pais. As AP nunca tiveram um plano apresentado por elas.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
76
Quanto à participação dos pais nas actividades indica que em Touguinha
participam muitos pais. Face ao Agrupamento a acção de formação sobre
Educação Sexual teve muita adesão e os pais revelaram interesse; Dia do
Agrupamento, não aparecem mais de cem pais, e os que participam são os
que têm filhos envolvidos nas actividades; entrega Prémios de Mérito Escolar
acontece que, por vezes, na entrega dos prémios os pais não estão presentes;
mesas de Outono trazia muitos pais à escola, mas teve que terminar devido ao
desperdício de comida e ao facto de os pais participarem com o intuito de
vencer; Dia de Vila do Conde os pais dos alunos que participam na actividade
nem sequer vão assistir, sendo a escola quem se responsabiliza por levar os
alunos a casa.
A comunidade local está presente em grande parte das acções e SD
considera que esta presença reflecte-se devido aos meios serem pequenos e
como a maioria da população tem filhos na escola acabam por envolver-se e,
por arrastamento, implicam a família alargada.
A sexta e última categoria – Estratégias de intervenção, foram
identificadas três subcategorias:
Quadro 9 - Estratégias de intervenção
Subcategorias Excertos
Propostas “ Nós já tentamos tanta coisa que às vezes, a gente, já nem tem ideias para uma resposta a uma pergunta como esta.”
Dificuldades “Eu acho que eles não se preocupam com a escola, preocupam-se com o que tem a ver com o filho e se o que tem a ver com o filho está relacionado com a escola, aí preocupam-se.”
Envolvimento
das AP
“ (…) Acho um disparate haver tantas Associações de Pais no Agrupamento, até porque não é tão grande. Aquilo é para estar no papel (…) a maior parte deles não faz nada. Preferia ter só uma Associação de Pais que fosse activa, dinâmica e que estivesse presente quando a gente precisasse, além de ser capaz de dizer “olhem, cuidado com isto ou com aquilo”, como o que se passou agora com as refeições, mas não temos.”
Quadro de elaboração própria
SD revela que é difícil identificar propostas de intervenção, visto que já
tentaram desenvolver vários tipos de acções que já não conseguem propor
outras iniciativas. Tal facto prende-se com as dificuldades existentes,
designadamente o facto dos pais não se preocuparem com a escola e quando
o fazem é por motivos que envolvem os filhos.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
77
Destaca que as AP inactivas existem unicamente no papel e que é
despropositada a existência de tantas AP num Agrupamento de pequenas
dimensões. O fundamental seria a existência de uma APEE que fosse activa,
dinâmica e que estivesse presente.
Face a esta categoria, importa salientar que parece não haver estratégias
devidamente planificadas e que é tudo bastante vago.
3.3.4.2. Entrevistas aos dirigentes associativos das AP, enquanto representantes dos pais/famílias
As entrevistas semi-directivas efectuadas aos dirigentes associativos tiveram
as seguintes características:
• AC decorreu dia 4 de Abril de 2011, pelas 17h30 minutos, na sala de
professores da EB1/JI de Vilar Bagunte, tendo a duração de 30
minutos;
• NS e JS ocorreram, em simultâneo, na Junta de Freguesia de
Touguinha, dia 6 de Maio de 2011, pelas 17h, com a duração de
cerca de 50 minutos;
• MN realizou-se a 25 de Maio de 2011, pelas 15h, na residência da
entrevistada, contando com a duração de cerca de 70 minutos.
Estas entrevistas tinham como objectivo identificar os principais contributos
das AP, conhecendo a perspectiva dos representantes face à existência deste
tipo de associações; recolher informação relativa às APEE “activas” e
“inactivas” do Agrupamento; compreender as dimensões de actuação aplicadas
em prol da relação AP/Família/Escola; e descobrir as mudanças ocorridas com
a presença das AP ao nível das Escolas e do próprio Agrupamento.
Após a transcrição das entrevistas109 procedeu-se à análise de conteúdo110,
e à identificação das categorias, sendo identificadas oito categorias: 1- AP; 2-
AP Bagunte/ AP Touguinha/ AP Arcos 3- Movimentos Associativos; 4 –
Relação da AP com a Escola; 5- Actividades; e 6 – Relação entre AP; 7-
Propostas de actuação; e 8 – Representação dos pais acerca da escola.
109 Anexo 7 – Transcrição das entrevistas efectuadas aos Representantes das APEE; 110 Anexo 8 – Análise de Conteúdo das entrevistas efectuadas aos Representantes das APEE;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
78
A primeira categoria AP subdivide-se em duas categorias que são a
Importância e a Função. Os entrevistados revelaram que as AP têm uma
importância e papel significativo num Agrupamento, na medida em que podem
contribuir para o sucesso educativo, sendo necessário existir colaboração e
articulação. No que respeita aos pais, elas também assumem um papel
preponderante contribuindo, muitas vezes, para a resolução/minimização dos
problemas que vão surgindo nas famílias, nomeadamente com o
prolongamento.
“considero que é extremamente importante uma Associação de Pais dentro de um órgão, dentro de uma instituição, como um Agrupamento de Escolas. Acho que é muito importante, dependendo também da perspectiva que a Associação tem em colaborar ou não”. (AC) “é extremamente importante para o sucesso educativo dos alunos (…) quando uma Associação de Pais está com uma actividade, com uma forte actividade, consegue uma articulação com o corpo docente e ajuda o corpo docente nos problemas que surgem no dia-a-dia da escola. Desta forma, consegue também resolver muitos problemas que as famílias têm, sobretudo, quando são pais em idade activa e laboral e que, muitas vezes, têm problemas com o transporte da criança, alimentação, apoio no âmbito escolar e extracurricular”. (MN) “Associação que assegura uma pessoa, a quem paga, para fazer aquilo a que chamamos de prolongamento, ou seja, assegurar a segurança e o bem-estar dos alunos na escola enquanto não chegam os Professores e as aulas não começam”. (JS)
No que respeita à função das AP, ela assenta numa articulação saudável
entre os órgãos de gestão, corpo docente e os pais, visto que eles fazem parte
da comunidade educativa e a sua presença é fundamental. A AP funciona
como uma ponte de ligação e de proximidade entre os agentes educativos,
com o intuito de se alcançar o sucesso educativo.
“é de extrema importância permitir uma articulação saudável entre os órgãos de gestão e os pais que a constituem, os pais também são comunidade educativa”. (AC) “Eu considero que uma Associação de Pais para funcionar bem necessita de ter uma articulação com o corpo docente da escola, pois só assim é que conseguem alcançar o sucesso educativo”. (MN)
“funciona (…) como uma ponte entre pais e Professores. (…) funciona também para o lado dos pais, porque qualquer coisa que seja necessário sabem que têm uma Associação que os defende, protege, que intervém junto da Escola, Professores e do Agrupamento em função dos alunos desta Escola”. (JS)
A segunda categoria AP Bagunte/ AP Touguinha/ AP Arcos permitiu ter
uma visão global acerca das AP, sendo detectadas as seguintes subcategorias:
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
79
tempo de existência, processo de constituição, objectivos, papel dos pais,
papel da comunidade, número de associados, tipo de associados, adesão dos
pais, renunciação e constrangimentos.
As AP’s são recentes, constituídas no início do ano lectivo 2010-2011,
embora a “inactiva” tivesse sido constituída em 1988. O processo de
constituição das AP nasce do colmatar necessidades, não é um processo
difícil, contudo é preciso ultrapassar resistências e constrangimentos.
“não considero este tipo de exercício de constituir esta Associação de Pais difícil, mas por ser algo totalmente novo em Bagunte, deparámo-nos com as normais resistências: o que é, para que serve, quem vai representar, dúvidas (…) depois de desmistificadas as dúvidas considero que foi fácil (…) mas confesso que realmente a adesão dos pais tornou tudo mais fácil.” (AC) “Na altura verificou-se que existiam muitas empresas de confecção nesta zona e que os pais para ir trabalhar tinham que se deslocar e as crianças tinham de fazer um percurso enorme para irem almoçar a casa, algumas andavam quilómetros para ir almoçar e voltar para a escola (…) o jardim como era muito pequeno, começou-se a fazer uma sopinha à hora de almoço. Ainda não existia Associação de Pais e já havia uma panelinha onde se fazia a sopa e as crianças já comiam pelo menos uma sopa e entretanto iam embora, uns sozinhos, outros…como a escola era muito longe, os mais velhos levavam os mais pequeninos”. (MN)
As AP alicerçadas na trilogia aluno-família-escola, têm como objectivos
apoiar as famílias e o apostar no desenvolvimento de uma cultura de
participação activa, junto da comunidade educativa, apostando numa escola de
sucesso. O facto de terem os filhos integrados na escola e quererem
acompanhar o seu percurso escolar, foi outro objectivo enunciado.
“Esta necessidade de apoiar as famílias, o primeiro objectivo foi esse, apoiar as famílias (…) a Associação tinha sobretudo esta trilogia aluno-família-escola. Os principais objectivos foram o apoio nas refeições escolares e nas actividades dos miúdos do jardim-de-infância”. (MN) “o desenvolvimento de uma cultura de participação activa, junto dos elementos que constituem a comunidade educativa, para desta forma contribuir para uma escola de sucesso, dando sentido e significado à expressão comunidade educativa”. (AC) “o facto de terem os filhos integrados na escola, quererem acompanhá-los”. (NS)
Quanto ao papel dos pais, estes devem ter um papel mais participativo,
activo e pró-activo. Com a existência de uma AP os pais sentem-se mais
apoiados e preparados para favorecer o desenvolvimento biopsicossocial das
crianças. A comunidade também tem um papel de destaque sendo uma
referência para as AP, embora, por vezes, as pessoas não estejam motivadas
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
80
para integrar/colaborar, porque estão envolvidas e apoiam outras entidades e
associações locais.
“extremamente importante (…) tem sido uma base, uma pedra basilar, na construção desta própria Associação de Pais”. (AC) “o que acontece cá na Freguesia, infelizmente, é que a motivação para qualquer coisa não é muita (…) as mesmas pessoas estão inseridas em tudo o que se faz nesta Freguesia (...)são sempre as mesmas pessoas que estão envolvidas em diversas Entidades e Associações”. (NS)
Os pais costumam aderir à AP e contribuem porque sentem-se identificados
com os seus objectivos, além de serem detectadas situações em que os pais
aderem porque precisam da AP, sendo exemplo ao nível da alimentação e do
prolongamento.
“pais reflectiram-se de alguma forma naqueles que foram os nossos objectivos e daí a adesão deles à criação e à constituição desta Associação de Pais”. (AC) “Os pais estavam envolvidos em tudo, nas festas, no melhorar isto, no informar. Havia uma motivação, eu acho que é isso. Os pais precisavam da Associação”. (MN)
As subcategorias referentes ao número de associados, tipo de associados e
existência de situações de renunciação, os dados recolhidos permitiram
compreender que em quase todas as AP o número de associados corresponde
ao número de crianças que integra o estabelecimento de ensino, além de que
os associados são compostos essencialmente por pais/EE. Quanto à
renunciação houve o caso numa das AP recentemente formada.
“Tínhamos, tínhamos associados, sócios e beneméritos. Todos aqueles que frequentavam a escola e o jardim eram sócios efectivos”. (MN)
“Exclusivamente pais, pais ou então encarregados de educação”. (AC) “Somente os pais”. (NS) “Nós não temos esse tipo de sistema de quotização ou de sócios, mas pelo que se percebe e pela prática cada pai sente-se membro desta Associação”. (JS) “tivemos uma mãe que desistiu. Sentia-se desmotivada (…) é política da nossa Associação de Pais que não é condição obrigatória, está quem quer, estamos para ajudar e se para aquela mãe foi importante desistir naquele momento, teve o nosso apoio, como o terá quando resolver regressar”. (AC)
A terceira categoria – Movimentos Associativos, permitiu saber se as AP
conhecem os movimentos existentes a nível concelhio (FAPCONDE) e
nacional (CONFAP) e se estão representadas. No que respeita à AP “inactiva”
MN referiu que quando integrava a AP Arcos não estavam inscritos porque não
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
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existia. Os restantes entrevistados conhecem os movimentos mas não estão
integrados, embora reconheçam a sua pertinência.
“nosso objectivo é o de uma vez constituída esta Associação consolidá-la, mas de uma forma segura (…) não há nenhuma razão em especial para não estarmos inscritas na CONFAP ou na Rede Social, mas é algo que vamos e está projectado para fazer”. (AC) Temos conhecimento, mas não estamos inscritos porque não estamos legalizados. A nossa Associação tem os Estatutos, mas não estamos oficialmente legalizados”. (JS) “Não sei se é esse o objectivo da Associação de Pais cá em Touguinha”. (NS)
A categoria – Relação da AP com a Escola permitiu detectar a existência
de cinco subcategorias, relação, estratégias, representação nos órgãos de
gestão e motivo de inactividade.
Perante os dados recolhidos constatamos que a relação das AP com a
escola é de articulação, colaboração, entendimento, parceria e envolvimento,
devendo esta relação ser transversal aos órgãos de gestão, coordenadora de
escola, quer com os professores.
“postura é de parceria, de colaboração, de entendimento, de articulação (…) uma Associação de Pais nunca poderá actuar à margem de um Agrupamento de Escolas, portanto é assumido pela nossa Associação uma parceria que seja a mais profícua possível, com todos os elementos, quer sejam os próprios órgãos de gestão, quer seja a Coordenadora de Escola, quer sejam os Professores do estabelecimento de ensino”. (AC)
Com o Agrupamento “há mais burocracias (…) nós não somos um órgão legal, mas a nossa função também não é complicar mas sim simplificar (…) estamos aqui para simplificar tudo o que seja Escola/Agrupamento, Escola/Pais, Pais/Agrupamento. O nosso objectivo é ajudar e não estamos cá para complicar nada”. (NS)
As estratégias de mobilização utilizadas baseiam-se no contacto directo e o
trabalho em equipa com os professores e a coordenadora de escola,
apostando numa relação de proximidade e complementaridade. Segundo NS e
JS os pais costumam recorrer à AP e dão sugestões, são pessoas atentas,
activas e dão apoio sempre que necessário.
No que respeita aos órgãos de gestão MN refere que s sua AP quando
estava activa tinha representação no Conselho Pedagógico; AC sublinha que a
AP que integra já tem um representante no Conselho Pedagógico; NS frisa que
têm um membro, no Conselho Geral, mas que pertence à antiga APEE.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
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Face à última subcategoria, MN ressalva que a inactividade da APEE Arcos
prende-se com questões políticas, tendo a sua actividade cessado em Março
de 2005.
“O motivo foi essencialmente político, infelizmente, mas foi. Eu acho que foi em 2005 em Março, isto parou em Março de 2005”. (MN)
A quinta categoria – Actividades facultou dados que permitiram delinear
várias subcategorias – acções desenvolvidas, propostas, plano de actividades,
divulgação e avaliação.
As acções que as AP implementam baseiam-se na comemoração de datas
festivas, sendo as mais comuns Festa de Natal, Festa de Final de Ano,
Carnaval e Magusto, por sua vez, existem AP que desenvolvem acção de
formação, fomentando a presença de pais e filhos no mesmo espaço. Estas
actividades são propostas tanto pelos pais como pelos professores, mas há
situações em que elas advêm da comunidade.
“As decisões são tomadas em Sede de Associação (…) a informação circula, as ideias, nós falamos sobre isto com alguém, alguém sugeriu isto, trás à Assembleia, a Assembleia leva à discussão e acredito que muitas ou algumas até das nossas actividades sejam actividades que foram pensadas por pessoas extra Associação, mas que foram trazidas à discussão por alguém que faz parte da Associação”. (AC)
Todas as AP têm um Plano de Actividades onde consta as acções que vão
ser realizadas ao longo do ano lectivo, mas é um plano de actividades próprio
que é dado a conhecer à coordenadora de escola e ao Agrupamento para que
conheçam o trabalho a ser realizado.
“temos um Plano de Actividades Próprio (…) no início de cada ano reunimos os órgãos e definimos as nossas estratégias, aquilo a que nos propomos desenvolver ao longo do ano em diferentes eixos: social, económico, educacional, em diferentes eixos (…) por uma questão de ética, damos conhecimento ao Agrupamento de Escolas da nossa pretensão, mas só para que o Agrupamento conheça o nosso trabalho, aquilo que nós nos propomos fazer num determinado momento da vida dos seus alunos, porque eles podem ser os nossos filhos, mas são alunos de uma Escola (…) é assim que baseamos essa parceria, partilha, pois é de bom senso dar conhecimento ao Agrupamento de Escolas, à Coordenadora do estabelecimento de ensino aquilo que nós nos propomos a fazer ao longo daquele ano lectivo”. (AC)
A divulgação das actividades assume diferentes formas. Segundo MN os
pais eram mobilizados “por correspondência” e a coordenadora de escola “por
comunicado e oralmente”. NS indica que “é por entrega na escola de um papel
que é dado a cada aluno e que põem na caderneta para entregar aos pais” e
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
83
“pôr à entrada da escola”. JS sublinha que “é uma comunicação sempre
escrita”, ressalvando que “são sempre actividades direccionadas para a
comunidade escolar, seja a comunidade no sentido docente ou discente ou de
família, portanto pouco sentido teria divulgar pela comunidade”. AC “através da
afixação de cartazes, boca-a-boca, emails (…) nesta primeira fase, estamos a
divulgar através de panfletos de folhas A4 imprimidas (…) e a afixar nos
diferentes locais (…) edifícios (…) os cafés também são um local de
publicidade”.
Relativamente à avaliação os entrevistados destacaram:
“Fazíamos. Reunia a Direcção e posteriormente fazia-se com o grupo todo, viam-se os pontos positivos e os negativos”. (MN)
“fazemos sempre, mas… nunca fazemos. A avaliação vem ter sempre connosco (…) ela é sempre avaliada, mas de fora para dentro e não de dentro para fora. É curioso que após a realização de uma actividade, nós somos contactados pelas diferentes pessoas, intervenientes que tiveram acesso à actividade: “correu muito bem, “têm que repetir”, “foi uma coisa fantástica”, “foi um momento extraordinário”, “têm que fazer mais vezes”, “como é que vocês se lembraram disto?” (AC)
“Não temos tempo para isso”. (JS)
“Isso vê-se no sorriso das crianças e se eles gostarem dizem que gostam e se não gostarem também dizem que não gostam. Avaliação concreta… não fazemos, não faz sentido fazermos avaliação”.
A sexta categoria - Relação entre AP, deu a conhecer a perspectiva que as
AP têm acerca das APEE existentes no Agrupamento e se desenvolvem
projectos comuns. Assim, face à existência de outras AP foi possível apurar
que AC sabe da existência de outras Associações de Pais e Encarregados de
Educação no Agrupamento, mas por ouvir falar. Evidência o nome de algumas
Associações, mas revela desconhecimento quanto às que estão activas e às
inactivas; NS refere que tem conhecimento da presença de uma AP, mas não
indica qual; e JS refere que existe AP em Bagunte e que a Escola Sede
também deve ter, sendo notório um certo desconhecimento.
“sei que existem e conheço de ouvir falar, não que eu tenha intervindo directamente com alguns dos elementos, mas se não estou em erro Rio Mau, Arcos, Touguinha e é só, que eu conheça, que eu ouça falar, não sei... Touguinha esteve… não sei se ainda se mantém activa”. (AC) “Tenho de mais uma”. (NS) “Bagunte, a própria Escola Sede também deve ter”. (JS)
Face ao desconhecimento JS declara que “nós existimos e sabem da nossa
existência, se nós não sabemos dizer de outras é porque nunca nos puseram
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
84
frente a frente ou numa reunião geral. Na minha experiência enquanto
professor, na minha escola eu faço ao contrário, eu convido para.”
Quanto à existência de projectos comuns estes nunca existiram. AC revela
que nunca realizou projectos/actividades com outras Associações, porque
sente que têm necessidade de se conhecer melhor e de dar a conhecer o seu
trabalho. NS confessa que nunca houve projectos em comum, mas admite que
a AP que integra pode ser um meio facilitador de aproximação, assim como a
Direcção do Agrupamento que poderia promover um intercâmbio entre as AP
existentes no Agrupamento da Junqueira.
“nunca pensamos nisso porque ainda temos que nos conhecer a nós próprios, temos que dar tempo de nos conhecermos, de dar a conhecer o nosso trabalho […] porque nós para fazermos parcerias também temos que ser bons naquilo que fazemos”. (AC)
“Não (…) se calhar poderíamos ser nós a promover isso, mas acho que para além de convidar deveria ser o Agrupamento a promover o intercâmbio entre as várias Associações e se eles dissessem que “estes senhores vêm para nos facilitar e para nos ajudar”… porque deveriam ver-nos como um aliado. A Direcção da Escola deveria ser mais pró-activa”. (JS)
A sétima categoria - Propostas de actuação, os entrevistados
apresentaram algumas estratégias e actividades passíveis de concretização
envolvendo elementos da comunidade educativa. Os dirigentes da AP
Touguinha expressam que “deveria haver uma interligação mais próxima com o
Agrupamento” (NS) e “uma grande estratégia seria, por exemplo, promover a
partir das diferentes Associações ou das Escolas que não tivessem Associação
a Coordenadora de Estabelecimento uma actividade ou um dia de actividades
conjunto de Agrupamento na Sede do Agrupamento (…) e com eles realizar um
conjunto de actividade (…) desportivas, variadas com os miúdos, acho que
seria assinalável e seria um desafio” (JS).
JS sublinha a necessidade de presença e envolvimento das AP nas acções
e a importância de trabalhar em conjunto com vista à unificação, demonstrando
que realmente são um Agrupamento.
“no sentido de unificar pois sabemos que fazemos parte de um Agrupamento e devemos demonstrar que somos realmente um Agrupamento” “seria uma forma até das Associações (…) serem convidadas, estarem presentes, participar na organização e nas actividades”.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
85
A última categoria - Representação dos pais acerca da escola, deu a
conhecer a perspectiva que os dirigentes associativos têm, enquanto pais, face
ao contexto escolar. Deste modo:
AC frisa que os pais vêem a escola como um espaço que serve para educar
e que os filhos vão lá para aprender. Mas a escola é mais do que isso e os pais
são uma peça fundamental, pois também são educadores.
“A Escola serve para educar, eles só vão lá para aprender. Os pais viam a Escola como isso, é para aprender, eles vão lá para aprender. Mas a Escola é muito mais do que isso, os pais são muito mais do que pais, os pais também são educadores. Não são só os Professores que são educadores, os pais também têm que ser educadores.”
NS considera que os pais vêem a escola como um espaço que tem o dever
de garantir a educação dos filhos e a obrigação de dar a educação que não
têm em casa. Sente que neste momento os pais desejam que a escola seja
multifacetada e cumpra a função de ensinar, educar e que faça um pouco de
tudo. Destaca o problema da burocratização dentro das escolas.
“Neste momento eu vejo que os pais querem, nem todos, mas a maior parte dos pais pensam que a escola tem que ser o garante da educação dos filhos e tem que ser a escola a dar a educação que os pais não dão em casa aos filhos.” “os pais estão mais preocupados com que a escola ensine, eduque, faça de baby sitter, que faça um bocadinho de tudo”. “a burocracia dentro das escolas também faz com que os Professores se baldem um bocadinho, porque se têm que apresentar/dar um castigo a um aluno na escola tem que haver reuniões, preencher não sei quantos impressos, têm que ser ouvidos, isto tudo só por causa de um castigo.”
JS salienta que a escola é vista como um espaço de depósito onde as
crianças são entregues e que os pais não se preocupam com os filhos a não
ser quando acontece alguma coisa. Destaca que a os pais é que são os
responsáveis pela educação dos filhos, mas estão sempre à espera que o
ensino e a educação sejam assumidos pelos professores e funcionários. Além
de que, alguns dos problemas que ocorrem no espaço escolar prende-se com
o sistema de ensino e o facto de a educação ser diferente da de outrora.
“os pais têm a sua profissão, muitas vezes levantam-se cedo, vêm tarde e a Escola funciona como um depósito para os filhos, colocam-nos ali e eles estão ali, estão entregues, sabem que a Escola é vedada e dali não saem e que tem gente a tomar conta deles (…) não procuram saber como está o filho, como vai como é que não vai, excepto se acontecer” alguma coisa. “Os pais é que devem dar a educação aos filhos, mas estão à espera que sejam os Professores, os funcionários da Escola a fazê-lo, a fazer as duas coisas a ensinar e a educar. Embora não queira dizer que isto não seja também função do Professor, mas há educação que deve ser tida em família pelos pais e família em
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
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geral, e há outra que é um bocadinho diferente e que já pressupõe a anterior, a da família, para ser feita na escola.” “O problema é do sistema e é uma educação diferente”.
NS considera que os pais não têm opiniões positivas acerca da escola
devido aos meios de comunicação social. Hoje exige-se muito da escola e
culpabilizámo-la acerca de tudo o que acontece de mal. Fazemos parte de uma
sociedade complicada e desestruturada, com pais ausentes e com hábitos de
exigência.
“acho que os pais vêm muito mal a escola por causa da comunicação social (…) a comunicação social mata a escola, mata as famílias, mata tudo. Por outro lado, as famílias (…) exigem tudo da escola, mas não dão à escola”. “está muito mal e (…) há uma falta de respeito muito grande, hoje com a escola. Até dá impressão que a escola tem culpa e que é a culpada de tudo”. “os filhos foram criados e habituados a gastar, a esbanjar, mas exigindo. Os pais estiveram muito ausentes, está uma sociedade muito complicada”.
Face a esta categoria, importa sublinhar que a noção de representação
situa-se:
“numa encruzilhada com múltiplos acessos. As representações sociais apresentam-se sob formas variadas, mais ou menos complexas: imagens, sistemas de referência, categorias, teorias (…) no seu sentido mais lato designa uma forma d pensamento social. As representações sociais são partilhadas pelos membros de uma sociedade ou colectividade”111
.
O facto de tentarmos compreender a representação dos pais face à escola,
surge neste estudo, de uma forma indirecta, na medida em que tivemos
necessidade de perceber como se apresentam no campo educativo. Segundo
Gilly (1989, cit. por Neto (1998:486)):
“o campo educativo aparece como um campo privilegiado para ver como se constroem, evoluem e se transformam representações sociais no seio dos grupos sociais e iluminar-nos sobre o papel destas construções nas relações destes grupos com o objecto da sua representação”112
.
As representações sociais não são mais do que a indicação ou orientação
de comportamentos. Elas são uma forma de conhecimento, de saber que serve
para agir sobre o mundo e sobre o outro, situando o indivíduo no seu meio,
marcando as respectivas atitudes e práticas. Tal como refere Denise Jodelet
(1990, cit. por Borges, Monteiro Miranda (2009:64)):
“toda a representação social é representação de qualquer coisa e de alguém. Ela não é nem o duplo do real, nem o duplo do ideal, nem a parte subjectiva do
111 NETO, Félix, Psicologia Social – volume I, Lisboa, Universidade Aberta, 1998, pág. 469; 112 Ibidem, pág. 486;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
87
objecto, nem a parte objectiva do sujeito. Ela é o processo pelo qual se estabelece a sua relação”113
.
Após a análise do conteúdo das entrevistas ressaltam os seguintes
aspectos:
• Existe um desconhecimento acerca das AP que fazem parte do AVEJ,
desconhecimento esse que engloba as próprias AP e que é alargado
ao próprio Agrupamento;
• AP não articulam entre si, não conhecem o trabalho umas das outras,
nem evidenciam interesse em sabê-lo;
• AP de Touguinha está activa, mas não está legalizada;
• AP não estão representadas em todos os órgãos de gestão,
designadamente Conselho Geral e Conselho Pedagógico, sendo esse
papel assumido, muitas vezes, pelos representantes dos pais;
• AP defendem que a relação que têm com a escola baseia-se na
parceria e envolvimento, fomentando a colaboração, a articulação e o
entendimento, mas esta atitude deveria ser transversal ao
Agrupamento, especialmente com a Direcção;
• AP não integram o movimento associativo concelhio – FAPCONDE,
embora reconheçam a importância do movimento;
• AP expressaram vontade de vir a ser elementos constitutivos da Rede
Social de Vila do Conde;
• Entrevistados consideram que a Avaliação das actividades não é
preponderante, debruçando-se esta, unicamente, no feedback dos
participantes;
• Pais/famílias participam e envolvem-se nas actividades da escola,
mas deveriam ser mais pró-activos;
• Pertinência em desenvolver um estudo aprofundado acerca das
representações dos pais face à escola.
113 BORGES, Ana Sofia de Abreu Ferreira, MONTEIRO, Liliana de Jesus Azoia, MIRANDA, Maria de La Salete Carvalho Moreira Ferreira, Perpectivar a (Re) construção da relação entre Família e Escola: (novos) Saberes, (novas) Competências, Porto, Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, 2009, pág. 64;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
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3.3. Projecto de Intervenção Comunitária - Revitalizar a Associação de Pais do Agrupamento de Escolas da Junqueira – APAEJ
Sendo o fundamento deste estudo criar condições para a revitalização da
APAEJ, após a aplicação das entrevistas os dados114 foram apresentados, dia
7 de Julho, aos entrevistados e às entidades envolvidas no projecto. Esta
reunião decorreu no AVEJ e tinha como objectivos apresentar às APEE
“activas” as conclusões das entrevistas efectuadas e identificar acções que as
AP pudessem integrar e desenvolver em prol da comunidade educativa do
Agrupamento.
Nesta reunião, foram debatidos vários aspectos relacionados com a família e
a escola, sendo de realçar o papel dos pais/EE, a pertinência de formar para
uma mudança de cultura e atitudes, criar hábitos de presença e desenvolver o
sentido de utilidade em oposição ao de inutilidade. Face a estas possíveis
mudanças surgiu a seguinte questão: Que participação é esperada dos pais no
Agrupamento? Os elementos das APEE presentes na reunião destacaram que
estavam dispostos a colaborar em algumas acções, mas evocaram que
centram a sua intervenção unicamente ao nível das suas escolas e ao meio
onde foram constituídas as AP. Foram apresentados alguns exemplos de
acções que podem vir a ser desenvolvidas pelos pais/EE, em parceria com as
AP, destacando:
• Criação de iniciativas e programas de formação para pais/EE, como
por exemplo “Clube de Pais? …”,
• Actividades, em contexto escolar, que sejam potenciadoras da
revalorização das pessoas seus conhecimentos e saberes – tradições
culturais;
• “Encontros Familiares” com workshops temáticos que potenciem a
relação pais/filhos/escola;
• Actividades desportivas ou outras com grupos formados por pais e
alunos.
114 Anexo 9 – Registo de Reunião;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
89
Desta reunião surgiu a necessidade de se promover uma Sessão de
Sensibilização para pais/EE sobre “A Importância da Participação dos Pais na
Vida da Escola”, com o objectivo de revitalizar a Associação de Pais do
Agrupamento tornando-a o epicentro da participação dos pais/famílias na
escola e promovendo actividades concertadas de envolvimento ao longo de
todo o ano.
De modo a iniciar o processo, os pais foram convocados pela
responsável do Agrupamento para uma reunião preliminar na escola, com o
objectivo de conhecerem os objectivos e importância de uma AP e de a
poderem reconstituir115. Compareceram à acção, dia 23 de Setembro, cerca de
70 pais, professores e estiveram presentes elementos da CONFAP e
FAPCONDE, com intervenções no sentido de motivarem os pais para a
constituição da associação. Na sequência desta, marcou-se a reunião seguinte,
já com um conjunto de pais com manifestação de interesse em assumirem
essa tarefa. Os pais foram acompanhados neste processo pelas diferentes
equipas envolvidas no projecto – CLDS e ESEPF, contando com a colaboração
da CONFAP e FAPCONDE.
A 25 de Novembro, a APAEJ foi oficialmente constituída, em Assembleia
Geral116, por lista única, com a presença de quarenta e cinco pais/EE. Os
elementos que integram a APAEJ têm representatividade ao nível das
freguesias e dos diferentes ciclos, aspecto este que foi ressalvado como
positivo pelo Director do Agrupamento.
3.4. Articulação dos resultados com as hipóteses formuladas
No que respeita aos resultados, chegada a esta fase do estudo, pode-se
afirmar que as hipóteses teóricas foram um elemento fulcral em todo o
processo de estudo, na medida em que induziram o espírito de descoberta e
foram um fio condutor no decorrer da investigação.
Perante as duas hipóteses levantadas aquando a construção da pergunta de
partida, concluiu-se que: 115 Anexo 10 – Sessão de Sensibilização sobre “A Importância da Participação dos Pais na Vida da Escola” – Planificação e Avaliação da Actividade, Cartaz de divulgação, Panfleto, Folha de Avaliação e Ficha para os Pais; 116 Anexo 11 – Auto de Tomada de Posse da APAEJ;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
90
O envolvimento parental, no contexto escolar, funciona como um meio
facilitador no desenvolvimento de práticas educativas de/para o sucesso,
isto se família e escola estabelecerem laços de proximidade, onde predomine a
comunicação, o envolvimento e a participação. Torna-se fundamental que esta
relação esteja alicerçada numa aproximação onde vigore a confiança e um
clima de cooperação, para que as interacções entre família-escola e escola-
família aumentem.
Este estudo permitiu constatar que se os pais percepcionarem a escola e os
professores de forma mais positiva e revelarem interesse pelo processo
educativo estarão mais predispostos para entender melhor as políticas da
escola, a acção dos professores e acompanhar os progressos dos filhos. Mas,
para que as relações e o envolvimento sejam sustentáveis é imprescindível que
os pais, além de comunicar com a escola, valorizem-na e falem dela aos filhos,
que tentem proporcionar momentos de aprendizagem em casa e na
comunidade e que participem nas actividades da vida da escola.
Desta hipótese, ficam três ideias centrais:
- Pais devem acompanhar os filhos para conhecer a escola e, assim,
defender todas as condições mínimas para um trabalho de qualidade;
- Escola é um espaço para se fazer e colaborar, mas isso depende da
cooperação, participação e entrega por parte dos pais, professores e toda a
comunidade educativa;
- Envolvimento parental na escola sendo promotor de partilha de saberes e
recursos, contribuirá significativamente para uma educação de sucesso, com
sucesso, para o sucesso.
A existência de uma Associação de Pais e Encarregados de Educação
activa, na comunidade educativa, desperta os pais e/ou encarregados de
educação para a participação e um maior interesse por iniciativas que
fomentem a relação família-escola, isto se tivermos diante de uma AP que
seja dinâmica, mobilizadora (como por exemplo a APEEB) e revele capacidade
de reconhecer o papel e a importância que os pais/EE têm na vida da escola.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
91
Este estudo revelou que os pais/EE estão receptivos e evidenciam interesse
em participar e colaborar com a AP, mas existe uma necessidade premente
que passa pelo:
- saber o que é uma AP, conhecer os objectivos e as metas a que se
propõem;
- constatar se têm uma AP activa, dinâmica e mobilizadora que esteja apta a
intervir e dialogar com a escola em todos os momentos, quer seja para a
resolução de problemas, quer para a concretização de iniciativas. Nesta
perspectiva, Andrade (1994), expõe:
“as associações de pais não são apenas um conjunto de pais e encarregados de educação dos alunos de uma escola, não são um clube privado, não são um grupo de amigos, embora nas associações de pais se privilegie a relação de amizade […] as associações de pais são muito mais do que isso – é uma forma organizada de os pais e encarregados de educação participarem no sistema educativo, mas participarem no sistema educativo juntamente com os seus pares, com os professores, com os outros agentes de acção educativa […] há necessidade de participarmos na escola, escola que […] é uma comunidade educativa, onde tem que haver uma parceria e os pais pretendem estar de corpo inteiro […] sentimos que temos o direito e sobretudo o dever de participar, de estar presentes, naquilo que nos é mais caro, que é a educação dos nossos filhos”.117
3.5. Resposta à Pergunta de Partida
“A intervenção comunitária constitui uma prática facilitadora na reconstrução e dinamização da APAEJ?”
Este estudo permitiu concluir que a intervenção comunitária (IC), além de ser
uma prática facilitadora na reconstrução e dinamização da APAEJ, ela foi um
meio que possibilitou o conhecimento global da realidade, permitiu a integração
na comunidade e o trabalho de parceria, tendo culminado com a co-
responsabilização dos pais/EE, aquando a constituição da APAEJ.
A IC esteve presente no decorrer de todo o estudo e contribuiu para a
criação de condições que possibilitaram aos agentes nele envolvidos, gerar a
mudança, reforçando a capacidade de integração e participação social,
apostando num trabalho de equipa.
117 ANDRADE, Fernando, Educação, Comunidade e Poder Local – Actas do Seminário realizado em 6 e 7 de Dezembro de 1994,no Auditório do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Lisboa, Conselho Nacional de Educação, 1995, pág. 288;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
92
A motivação e envolvimento, participação e mobilização dos pais/EE foram
sem dúvida o resultado que a IC proporcionou junto da comunidade educativa
do AVEJ, assumindo expressão na reanimação da APAEJ. Com a revitalização
desta AP espera-se que os seus interventores tenham voz activa e uma
dinâmica interna própria que aposte em acções que promovam a mudança
social, cultural e comunitária. Todavia, para que as suas acções sejam
passíveis de concretização, torna-se necessário que exista um grupo de pais
mobilizador de boas práticas, que aposte numa dinâmica pró-activa e invista
em acções que sejam sustentáveis e com critérios claramente definidos para
todos.
Sendo a IC um trabalho social, ela permitiu ajudar a comunidade educativa
do AVEJ, principalmente os pais/EE, a compreender o quão importante e
fundamental é a sua presença na/para escola, despertou a consciência crítica
das pessoas fazendo com se superasse a passividade e se promovesse o
associativismo, a descobrir capacidades, além de procurar meios e vontades
no sentido da resolução dos problemas/necessidades existentes na
comunidade educativa. Ressalva-se que a intervenção desenvolvida partiu
sempre de trabalho de parceria e equipa.
Intervir junto da comunidade do AVEJ foi um desafio para todos os
interventores sociais que de forma directa ou indirecta foram estabelecendo
contacto com os intervenientes, mas houve uma virtualidade que esteve
sempre presente – o pressuposto do trabalho comunitário: a inclusão e a
afirmação de valores comunitários, assumindo estes um significado especial
com o estabelecimento de laços baseados na cooperação, participação,
comunicação, envolvimento e parceria.
A mediação foi, sem dúvida, um elemento facilitador na revitalização da
APAEJ, na medida em que favoreceu a mudança social e foi geradora de
revalorização e reconhecimento dos pais/EE face à escola. Destaca-se que
desta mudança adveio a aproximação e o estabelecimento de relações de
carácter interpessoal, comunicativo e educativo, dando ênfase e reforço aos
laços comunitários.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
93
A IC foi o pilar de todo o trabalho desenvolvido. Com ela foi possível
depreender e, ao mesmo tempo, reforçar que a escola tem de ser encarada
como uma comunidade educativa, comunidade esta que está inserida num
espaço e num tempo em que é elementar a mobilização de diversos agentes e
actores em torno de um projecto comum. No entanto, para que este objectivo
seja alcançado torna-se fundamental demarcar espaços próprios de acção que
visem a clarificação de limites, mas que sejam ao mesmo tempo potenciadores
e geradores de uma colaboração efectiva.
Este estudo surgiu de uma necessidade concreta, a de ajudar os pais/EE a
tomar consciência dos problemas/necessidades existentes e dos meios que
necessitavam para os resolver, contando desde o início com o apoio de um
conjunto de entidades e interventores. Assim sendo, podemos afirmar que esta
intervenção surgiu das necessidades da comunidade e da consciencialização
que os pais/EE, bem como a escola, têm acerca dos problemas que os
afectam, contribuindo deste modo para uma efectiva motivação, participação e
coesão, tornando-os, assim, interventores no seu próprio processo de mudança
desenvolvendo projectos e acções que sejam sustentáveis e duradouros.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
94
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho de intervenção/investigação foi uma mais-valia na medida em
que, auxiliado pela intervenção comunitária, tentou perceber a relação
existente entre os contextos educativos, designadamente a família e a escola,
e demonstrou como o envolvimento parental pode trazer benefícios para o
AVEJ, nomeadamente através da participação activa dos pais e com a
revitalização da APAEJ.
A intervenção permitiu detectar que “os pais são um parceiro fundamental”
da escola, embora devessem “ter um papel mais activo e interventivo”, assim,
baseados numa parceria para aprendizagem, aprendizagem de/para o
sucesso, foram envolvidos vários protagonistas da comunidade educativa,
dando um destaque aos pais/EE, que enquanto figuras representativas
contribuíram para uma melhor compreensão acerca da relação existente entre
família, escola e a comunidade, dando expressão ao “valioso contributo que os
outros actores podem dar à escola, em especial os pais”118.
Intervir em prol da revitalização da APAEJ, foi um desafio e uma conquista.
Desafio na medida em que foi necessário quebrar preconceitos e demonstrar
abertura para perceber as perspectivas e interesses dos pais/EE face à sua
participação na vida da escola. Conquista porque os pais/EE mobilizaram-se e
encontraram um núcleo de pais/EE interessados em educar, participar e
envolver outros agentes educativos na transformação de comportamentos e
atitudes face à escola e à família, apostando em acções que promovam a
mudança social, cultural e comunitária, mas sobretudo, com vontade de intervir
no projecto educativo, questionando, debatendo e apresentando soluções.
A intervenção comunitária foi, sem dúvida, uma prática facilitadora para a
revitalização da APAEJ, na medida em que o conhecimento da realidade
potenciou a integração e o trabalho em equipa, apostou na parceria, no diálogo
aberto, na flexibilidade, na mediação, mas, acima de tudo, numa participação
118 BORGES, Ana Sofia de Abreu Ferreira, MONTEIRO, Liliana de Jesus Azoia, MIRANDA, Maria de La Salete Carvalho Moreira Ferreira, Perpectivar a (Re) construção da relação entre Família e Escola: (novos) Saberes, (novas) Competências, Porto, Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, 2009, pág. 62.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
95
activa, entre as entidades que integram o projecto e a comunidade educativa
do AVEJ, culminando com a co-responsabilização de todos, em especial dos
pais/EE, com a efectiva revitalização da APAEJ.
Segundo vários estudos, as práticas de envolvimento parental mais
consistentes e mais benéficas são as que apostam na comunicação e este
trabalho permitiu constatar mais uma vez essa realidade. Realmente as
práticas de comunicação são benéficas e facilitadoras de parcerias, embora a
construção de parcerias leve tempo e dificilmente se estabelecem sem a
colaboração de especialistas e técnicos de mediação, que acreditem nas
pessoas e levem-nos a acreditar em si e nas suas capacidades. A construção
de parcerias deve então ser reflexiva mas desenvolver-se com base na
confiança, na colaboração e na reciprocidade.
Na educação os pais devem ser vistos como co-construtores juntamente
com os professores e, em conjunto, devem desenvolver competências que
permitam um melhor e mais adequado desempenho das funções educativas,
sendo o diálogo a chave que abre as portas da tão desejada participação e
fomentação da relação família-escola/escola-família, através do envolvimento.
Segundo Davies (1989):
“a chave do envolvimento dos pais reside numa boa comunicação. As regras são claras: não se aos pais que se tornem professores, nem aos professores que assumam o papel de pais. Uns e outros têm papéis específicos, mas o desempenho desses papéis é absolutamente necessário para a construção de um programa educativo escolar de qualidade”119.
A participação dos pais na vida da escola é indispensável quer seja
intervindo juntamente com outros pais/EE ao nível do processo educativo
prestando um apoio activo e participando nas decisões, quer ao nível individual
ajudando, motivando e estimulando os seus filhos, com o intuito de dar
continuidade ao esforço desenvolvido pelos professores/educadores. Assim, os
pais devem ser vistos como educadores, colaboradores e/ou parceiros da
escola.
O papel da escola não se restringe unicamente ao apelar os pais/EE para
colaborar, engloba também uma visão mais alargada que passa por encará-los
119 DAVIES, Don, As Escolas e as Famílias em Portugal – realidades e perspectivas, Lisboa, Livros Horizonte, 1989, pág. 39;
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
96
como parceiros educativos, fazendo com que exista o reconhecimento de algo
em comum, logo torna-se fundamental estabelecer compromissos.
A escola é o reflexo da sociedade actual. Ela defronta-se, diariamente, com
os mais variados problemas/obstáculos, o que justifica muitas vezes a
preocupação constante por parte dos pais/EE, bem como dos professores.
Neste sentido, os profissionais/professores/educadores que a representam
devem ser capazes de manter o equilíbrio e demonstrar capacidade para saber
lidar com as pressões externas, fomentando o respeito pelos valores e a
autonomia. Ela deve ser uma organização aberta, um espaço onde predomine
a partilhar de saberes e de experiências, sinónimo de uma escola construtiva.
Enquanto sistema a escola deve ser dinâmica e activa, evidenciando
abertura ao exterior e a novas atitudes dos agentes educativos. Assim, os
professores devem ser os grandes impulsionadores da mudança, em conjunto
com os pais/EE, mesmo que a sua participação seja informal.
A colaboração e o envolvimento entre família, escola e comunidade deve
ser/estar cada vez mais presente, na medida em que são imprescindíveis, além
de vitais para o sucesso do processo educativo. Os pais devem continuar a ter
voz activa e estabelecer relações de proximidade e presença com o meio
escolar, daí o fundamento da sua participação.
A realização deste trabalho possibilitou o contacto directo com uma
realidade que, embora estando sempre presente no nosso quotidiano, nem
sempre é valorizada. A comunicação entre ambos os contextos é essencial,
mas para que se concretize é necessário que exista uma relação forte e
efectiva, onde se coadunem interesses e expectativas e se complementem
funções. Esperamos que este projecto inacabado continue a ter sucesso e que
percorra um caminho em direcção ao Outro, na medida em que:
“É preciso, é urgente, afirmar outra lógica de relação. O outro não é coisa, alimento ou obra.
O outro é o próximo – um sujeito capaz de segredo. O outro é outra liberdade.”120
120 BAPTISTA, Isabel, “Problemas, Dilemas e Desafios Éticos na Intervenção Sócio-educativa”, in Ana Maria Serapicos, Daniela Gonçalves, Florbela Samagaio Gandra, Gabriela Trevisan, Paula Medeiros (Org.), Actas do Encontro de Intervenção Social Saberes e Contextos, Porto, Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, 2006, pág. 66.
“Família, Escola e Comunidade” O Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
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Estatuto do Aluno: • A Lei n.º30/2002, de 20 de Dezembro; • Lei n.º 3/2008, de 18 de Janeiro; • Lei n.º 39/2010, de 2 de Setembro.
Lei do Regime de Autonomia, Administração e Gestão dos Estabelecimentos Públicos da Educação Pré-escolar e dos Ensinos Básico e Secundário:
• Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de Abril; Lei sobre Gestão e Autonomia das Escolas – Representantes de Turma:
• Decreto-Lei n.º 115-A/98, de 4 de Maio; • Lei n.º 24/99, de 22 de Abril;
Lei das Associações de Pais: • Decreto-lei n.º 372/90, de 27 de Novembro; • Decreto-Lei n.º 80/99, de 16 de Março • Lei n.º 29/2006, de 4 de Julho.
FUNÇÕES DA ESCOLA
Quadro 1 - Funções Sociais do Sistema Educativo
Cultural
Transmissão de valores, normas, modos de pensar e agir característicos da comunidade social que o sistema serve; a escola, através do currículo, é um veiculo de socialização das crianças e jovens, promovendo a sua iniciação em, ou adesão a, normas aceites de comportamento moral e social.
Social
Permitir a selecção e orientação para o desempenho de papéis ou funções sociais de modo competente, fomentando a mobilidade e oportunidades sociais dos indivíduos, na sua adequação aos lugares e funções a exercer na sociedade.
Económica Preparação dos indivíduos para o exercício de profissões e ocupações sociais, servindo necessidades de desenvolvimento económico/social.
Político- Instituccional
Contribuir para a coesão e identidades nacionais assim como para a participação social, cívica e política dos indivíduos nos campos e níveis de actuação em que se inserem.
Fonte: in Antunes (2009:38) - “ A Família e a Escola”
Quadro 2 - Funções da Escola
Técnica Aquisição de um conjunto de habilidades e competências indispensáveis à aquisição de saberes profissionais e ao desempenho de uma actividade socialmente integrada.
Social
Construção de uma educação para a cidadania e para a participação social. Mais do que aprender e ensinar saberes, o ensino deverá orientar-se para o desenvolvimento da capacidade de manifestar saberes e intervir no espaço social.
Ética
Desenvolvimento de um conjunto de valores cuja expressão mais significativa se manifestava, no passado, na preservação de valores tradicionais e manutenção da ordem. Hoje, centra-se no fenómeno da globalização e diversidade cultural, valorizando a diferença como factor de desenvolvimento pessoal e social.
Estética
Situa-se além da reprodução de conhecimentos, expressões e sensibilidades estéticas, no desenvolvimento de competências críticas e na afirmação de um pensamento criativo, renovador em todas as formas de expressão. No plano pedagógico determina a evolução de um discurso em que o fundamental se situava no professor, para um discurso que promove, nos alunos, a autonomia e a diversidade de expressão.
Fonte: in CARNEIRO (2000) - “Ajudar a Aprender”
DIÁRIO DE BORDO
O presente diário de bordo, pertence a Cátia Brás e nele estão registados
um conjunto de intervenções efectuadas com vista ao desenvolvimento do
trabalho de investigação/intervenção.
A temática do trabalho de projecto é “Família, Escola e Comunidade – O
Papel das Associações de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento
Vertical de Escolas das Junqueira – AVEJ”. Assim, foi criado este diário de
bordo com o intuito de o investigador registar o trabalho desenvolvido,
constituindo desta forma, um testemunho real do caminho percorrido no
decorrer do trabalho de investigação/intervenção.
No presente diário de bordo constam as actividades desenvolvidas,
reflexões e comentários sobre o modo como o trabalho individual e em equipa
foi sendo processado. Este elemento de apoio permitiu criar o hábito de pensar
as práticas e a própria aprendizagem, além de ajudar a reflectir sobre os
problemas que vão surgindo, os obstáculos que decorrem do desenvolvimento
do trabalho e da forma de os superar.
O presente diário de bordo está organizado por meses, desde Outubro de
2010 a Novembro de 2011, sendo de realçar que os meses referentes ao ano
de 2010 foram, essencialmente, para a pesquisa de livros e planificar o projecto
de investigação/intervenção, conforme se pode verificar no quadro seguinte:
2010
Mês A fazer…
Outubro Pesquisa de livros, documentos, Internet e outro
tipo de fontes bibliográficas
Novembro Resumo das pesquisas
Dezembro Planear o projecto de investigação
2011 – Projecto de investigação/intervenção.
Outubro de 2010
Pesquisa de livros, documentos, Internet e outro tipo de fontes bibliográficas
sobre os conceitos de família, escola e comunidade.
3 de Outubro de 2010
Programa RTP1 – Apresentação do “Projecto Sim ou Não”, desenvolvido em
Lisboa, por Joana Richard. Este tem por base a educação parental e um
trabalho directo com crianças e jovens, um dos 5 aos 13 anos e outro dos 14
aos 18 anos. Contactos – 213637629.
4 de Outubro de 2010
Investigação na internet – Tese de Mestrado de Lara Carmélia de Sousa
Antunes, Universidade do Minho, sobre “A Família e a Escola”. Esta aborda a
relação entre a família e a escola, designadamente com crianças integradas
em jardim-de-infância. Enviar email à autora a solicitar o envio da tese
explicando que está relacionado com o tema do meu trabalho de investigação.
6 de Outubro de 2010
Lara Carmélia de Sousa Antunes responde ao email e envia Tese de
Mestrado.
Pensar na problemática teórica e na possível pergunta de partida.
7 de Outubro de 2010
Pesquisa na internet sobre Contrato Local de Desenvolvimento Social –
CLDS:
• Instituto de Segurança Social, Acção Social – Programa CLDS;
• Portaria nº. 396/2007, de 2 de Abril (cria o programa e aprova o
respectivo regulamento);
• Portaria nº. 285/2008, de 10 de Abril (altera a portaria anterior);
• Projecto Redescobrir – CLDS de Vila do Conde.
Pesquisa na internet sobre Projecto Educativo do AVEJ “Por uma Cidadania
com Sucesso”, Projecto Curricular do AVEJ, Rede Social de Vila do Conde.
Novembro de 2010
Resumo das pesquisas efectuadas.
Começo a ter dificuldade ao nível da investigação, pois sinto que a gravidez
de risco não está a facilitar as pesquisas e, por indicação médica, vou ter que
parar por uns tempos.
Dezembro de 2010 e Janeiro de 2011
Planear o projecto de investigação.
Janeiro de 2011
Estou mais motivada para desenvolver o trabalho de
investigação/intervenção. Em breve vou iniciar o trabalho com a equipa da
ESEPF, em parceria com o CLDS de Vila do Conde e o AVEJ.
11 de Janeiro de 2011
Recepção de email da equipa projecto da ESEPF sobre a integração na
Equipa. Este trazia em anexo documentos importantes para análise como
elementos de caracterização e de diagnóstico relativos ao Projecto.
Pesquisa na página da Câmara Municipal de Vila do Conde.
31 de Janeiro de 2011
Programa Prós e Contras, na RTP1, sobre “Educação”, com a presença do
Presidente da CONFAP – Professor Albino Almeida.
8 de Fevereiro de 2011
Programa Sociedade Civil, na RTP2, sobre “Educação”, com a presença da
CONFAP.
9 de Fevereiro de 2011
- Reunião na ESEPF para conhecer os elementos da equipa da ESEPF e
expor o que gostava de desenvolver no AVEJ, com os pais/EE.
- Recepção de email da equipa do projecto da ESEPF com uma série de
documentos para análise, designadamente as sínteses das entrevistas
realizadas às famílias.
- Envio de email para equipa do projecto solicitando que informassem a
equipa do CLDS do meu trabalho e informando que necessito de entrar em
contacto com eles e com o Subdirector do AVEJ.
- Recepção de email da equipa da ESEPF confirmando a reunião do dia 18
de Fevereiro, pelas 10h30 para produzirmos a síntese/apresentação para a
reunião com a Vereadora da Câmara Municipal de Vila do Conde. Este email
pedia para eu elaborar uma síntese relativamente à pertinência da revitalização
da Associação de Pais do Agrupamento.
15 de Fevereiro de 2011
Envio de email à coordenadora do CLDS, fazendo uma breve apresentação
do meu trabalho e solicitando o seu apoio a fim de contactar com o Subdirector
do Agrupamento.
18 de Fevereiro de 2011
- Envio de email para todos os elementos da equipo da ESEPF com a
Síntese que elaborei sobre a pertinência da Revitalização da Associação de
Pais do Agrupamento.
- Reunião na ESEPF com todos os elementos da Equipa do Projecto.
- Recepção de email da equipa da ESEPF com os Guiões das entrevistas e
com o Decreto-lei nº 115-A/98 referente ao regime jurídico de autonomia e
administração e gestão dos estabelecimentos de educação pré – escolar e dos
ensino básico e secundário.
22 de Fevereiro de 2011
Contacto com Subdirector do AVEJ explicitando a temática e o propósito do
estudo, bem como solicitar a sua participação. Demonstrou receptividade e
focou marcada entrevista para dia 25 de Fevereiro, pelas 11h.
24 de Fevereiro de 2011
Envio de email ao Subdirector do Agrupamento com o Guião de Entrevista e
relembrando-o da data e hora da entrevista.
25 de Fevereiro de 2011
Entrevista ao Subdirector do AVEJ, pelas 11h, com a duração de 27m10s.
Esta decorreu no seu gabinete, mas este não foi o espaço mais apropriado
devido às constantes interferências.
Cedência das moradas das APEE existentes no AVEJ, para contactar os
dirigentes associativos informando do estudo e auscultar a sua disponibilidade
em colaborar.
Iniciar a transcrição da entrevista e fazer análise de conteúdo.
3 de Março de 2011
Apresentação do Pré-projecto na ESEPF.
14 e 15 de Março de 2011
Estabelecimento de contactos, via telefone e email, com as coordenadoras
de escola que demonstraram receptividade e facultaram os contactos
telefónicos dos dirigentes e outras que tomaram a iniciativa de articular a
informação com os dirigentes e serem meio de informação para o
agendamento das entrevistas.
21 de Março de 2011
Envio de carta registada com aviso de recepção a todos as Presidentes das
APEE pertencentes ao AVEJ, a solicitar a sua participação, explicitando a
temática e o propósito do estudo, bem como o processo de recolha de dados.
4 de Abril de 2011
Entrevista à Presidente da APEEB, pela 17h30, com a duração de 35m06s.
Esta decorreu na Sede da APEE Bagunte - EB1/JI de Vilar Bagunte, que é
também a sala dos professores. O local escolhido foi considerado adequado,
por ser sossegado e sem interferências.
Iniciar a transcrição da entrevista e fazer análise de conteúdo.
5 de Abril de 2011
Envio de email ao Presidente da APEET auscultando a sua disponibilidade
em colaborar no estudo.
6 de Abril de 2011
Reunião com os professores na Escola da Junqueira.
11 de Abril de 2011
Contacto telefónico com o Presidente da APEET.
5 de Maio de 2011
Recepção de email do Presidente da APEET confirmando a disponibilidade
da entrevista para dia 7 de Maio, pelas 17h, na Junta Freguesia Touguinha.
7 de Maio de 2011
Entrevista ao Presidente da APEET com a presença do Vice-presidente (não
era combinado estar presente e participar), pela 17h, com a duração de
50m53s. Esta decorreu na Junta de Freguesia de Touguinha. O local escolhido
foi considerado adequado, por ser sossegado e sem interferências.
Iniciar a transcrição da entrevista e fazer análise de conteúdo.
20 de Maio de 2011
Reunião com a equipa da ESEPF, pelas 10h, para preparação da formação
na Junqueira, quer para professores, técnicos e pais/EE (APEE).
Coordenadora do CLDS ficou de articular com a Ex-dirigente da APEEA a
fim de auscultar a sua disponibilidade em colaborar no estudo.
21 de Maio de 2011
Pesquisa sobre Legislação relacionada com a participação dos pais na vida
da escola, designadamente:
Lei sobre Gestão e Autonomia das Escolas – Representantes de Turma: • Decreto-Lei n.º 115-A/98, de 4 de Maio; • Lei n.º 24/99, de 22 de Abril;
Lei das Associações de Pais: • Decreto-lei n.º 372/90, de 27 de Novembro; • Decreto-Lei n.º 80/99, de 16 de Março • Lei n.º 29/2006, de 4 de Julho.
A Lei de Bases do Sistema Educativo: • Lei n.º46/86, de 14 de Outubro; • Lei n.º 115/97, de 19 de Setembro; • Lei n.º 45/2005, de 30 de Agosto);
Estatuto do Aluno: • A Lei n.º30/2002, de 20 de Dezembro; • Lei n.º 3/2008, de 18 de Janeiro; • Lei n.º 39/2010, de 2 de Setembro.
23 de Maio de 2011
Contacto telefónico com a Ex-dirigente da APEEA, tendo a entrevista ficado
marcada para dia 25 de Maio, pelas 15h, na sua residência por ser o local mais
favorável.
Contacto telefónico com a Psicóloga escolar do AVEJ, tendo a mesma
referido que nunca fez um levantamento das temáticas que os pais/EE
consideram pertinentes e que gostassem de ver debatidas. Todavia vai-se
apercebendo das situações, mas através dos contactos pontuais que vai tendo
com os pais/EE das crianças que acompanha, além das reuniões de turma e
de pedagógico em que participa. Tem conhecimento que foi pedido aos
Directores de Turma para fazerem esse levantamento, mas o ideal será
contactar com o subdirector do Agrupamento.
25 de Maio de 2011
Entrevista com a Ex-dirigente da APEEA, pelas 15h, com a duração de
66m42s. Esta decorreu na residência da entrevistada, em Arcos. O local
escolhido foi considerado adequado, por ser sossegado e sem interferências.
Iniciar a transcrição da entrevista e fazer análise de conteúdo.
30 de Maio de 2011
Contacto com o Subdirector do AVEJ sobre as temáticas de interesse para
os pais/EE, tendo referenciado que a Equipa de Avaliação da Escola fez esse
levantamento, mas que não têm muitos dados, mas que estão disponíveis para
deixar analisar o material até então recolhido. Fico a aguardar contacto da
colega responsável pela Equipa de Avaliação Escola.
31 de Maio de 2011
Contactada pela colega responsável pela Equipa de Avaliação Escola, tendo
ficado marcada reunião para dia 2 de Junho, pelas 15h15.
2 de Junho de 2011
Reunião no AVEJ com a Equipa de E.A.A., tendo recolhido os seguintes
dados:
- foi efectuado um inquérito transversal a todos os ciclos e aos pré-escolar;
- pais/EE tinham que entregar os inquéritos até 30 de Maio;
- vão fazer o tratamento dos dados e posteriormente enviam-nos;
- a E.A.A está disponível para actuar em parceria com as APEE
Agrupamento.
Fui convidada a assistir à festa de fim de ano da escola, no antigo cineteatro
de Vila do Conde.
9 de Junho de 2011
Festa de fim de ano no antigo cineteatro de Vila do Conde, pelas 21h.
Estavam presentes muitos pais/EE, assim como professores e funcionários.
28 de Junho de 2011
Reunião com as APEE no AVEJ, pelas 17h, para apresentação dos dados
recolhidos. Esta ficou sem efeito devido à indisponibilidade dos dirigentes da
APEET. Ficou marcada nova reunião para dia 7 de Julho, pelas 17h.
07 de Julho de 2011
Reunião para apresentação dos dados recolhidos com as APEE. Esta
contou com a presença de, pelo menos, um elemento de cada entidade
envolvida no Projecto. Quanto à APEE de Touguinha o Presidente fez-se
representar pelo Vice-presidente.
Os assuntos tratados na reunião foram:
• Comunicação dos resultados das entrevistas efectuadas às APEE
“activas” e apresentação da questão “O que podemos fazer, enquanto
Associações de Pais e Encarregados de Educação, envolvendo a
comunidade educativa?”
• Breve exposição sobre o Projecto, as entidades nele envolvidas e dar
a conhecer algum do trabalho desenvolvido, até então, com os
elementos da comunidade educativa (entrevistas famílias, “focus
groups” com professores, educadores, alunos, entre outros).
Ficou combinado na reunião:
- APEE irão abordar com os restantes elementos de cada Associação,
nomeadamente aqueles que têm educandos que vão integrar o 2º ciclo, a
possibilidade de revitalizarem a APEE Agrupamento, encontrando figuras de
liderança;
- Marcar nova reunião no início do próximo ano lectivo, em Setembro;
- Contactar com a APEE de Touguinhó, recentemente criada (informação
dada pela Subdirectora do Agrupamento);
- Fazer uma acção para pais/EE, no início do ano lectivo, sobre a
importância dos pais na escola, com a participação do Presidente da CONFAP
e da FAPCONDE. Esta acção poderá vir a intitular-se de “Os Pais são úteis” ou
a “Participação dos Pais na Vida Escolar”.
18 de Julho de 2011
Encontro com a coordenadora do CLDS a fim de analisar a data para a
Sessão de Sensibilização sobre “A Importância da Participação dos Pais na
Vida da Escola”, pelas 11h30. Ficou combinado ser eu a estabelecer contacto
com a CONFAP e a FAPCONDE, a fim de convidar os presidentes a estar
presentes na Sessão e assumirem o papel de oradores com temáticas
específicas.
25 de Julho de 2011
Reunião com a Co-orientadora para analisar documentos e trabalho
desenvolvido. Fiquei de enviar parte teórica do trabalho até Setembro de 2011.
Agosto/Setembro de 2011
Preparação da Sessão de Sensibilização sobre “A Importância da Participação dos Pais na Vida da Escola”, designadamente: - Cartaz de divulgação; - Fichas de inscrição para os Pais e Encarregados de Educação da AVEJ; - Convites para os oradores – via email; - Convites para as entidades que fazem parte do Projecto – via email; - Convites para as APEE Agrupamento – via email; - Convite para a Vereadora da Educação da Câmara Municipal de Vila do Conde; - Questionário de avaliação para os participantes; - Ficha para os Pais/Encarregados Educação – auscultação para ser membro da APAEJ.
12 de Setembro de 2011
Reunião com toda a equipa do projecto, na ESEPF, pelas 15h, para
preparação da formação na Junqueira.
23 de Setembro de 2011
Sessão de Sensibilização sobre “A Importância da Participação dos Pais
na Vida da Escola”, no AVEJ, pelas 18h30, com a presença da CONFAP e
FAPCONDE. Estavam presentes cerca de 70 pais/EE.
Preenchida folha de avaliação e passada folha para registo de pais/EE
interessados em fazer parte da nova APAEJ.
10 de Outubro de 2011
Coordenadora do CLDS contactou-me referenciando que:
- continua sem conseguir os Estatutos e o Livro de Actas da antiga APAEJ,
tendo sido informada que os mesmos se encontram na posse do Ex-
presidente, que está ausente do país. Teve conhecimento de uma mãe que
fazia parte da antiga Associação e que obteve o mesmo tipo de informação,
embora esta destaca-se que não queria envolver-se neste tipo de situações,
pois a sua participação na APEE da Junqueira foi pontual não detendo grandes
informações. Assim, ficou combinado que eu enviarei emails para a
FAPCONDE e a CONFAP solicitando a sua colaboração no que respeita aos
documentos da Antiga APEE, nomeadamente Estatutos e informação no Diário
da República.
- esteve a conversar com o pai/EE responsável pela dinamização da nova
APEE, por causa da Assembleia de Pais do dia 21 de Outubro, tendo o mesmo
referenciado que primeiro quer agendar uma reunião com pessoas
representativas e, que possivelmente, a data terá que ser alterada (mais uma
vez a questão política a ser evidenciada). Informou ainda que, relembrou o
Encarregado de Educação que na Assembleia está combinado a presença um
elemento da ESEPF e um elemento da FAPCONDE, o que é necessário
comunicar as entidades caso surja alguma alteração.
14 de Outubro de 2011
Coordenadora do CLDS contactou-me informando que a Assembleia de
Pais, dia 21, ficará adiada. Face ao exposto, a técnica pediu-me para dar
conhecimento à FAPCONDE, AVEJ e restante equipa da ESEPF desta
alteração, via correio electrónico.
Envio de respectivos emails a comunicar o adiamento da Assembleia de
Pais.
27 de Outubro de 2011
Participação no “I Encontro de Intervenção Social da Póvoa de Varzim”,
promovido por “A Beneficiente”, entidade coordenadora do Contrato Local de
Desenvolvimento Social da Póvoa de Varzim.
Temáticas abordadas:
I Mesa - Crescer em Risco: abordagem sobre a gravidez na adolescência e
a avaliação de crianças e jovens em risco;
II Mesa – Problemas Sociais Contemporâneos: reflexão sobre maus tratos
nos idosos, mediação em famílias multiproblemáticas e o desemprego;
III Mesa – Intervenção em Comportamentos Aditivos: tratou assuntos sobre
a toxicodependência e o alcoolismo;
IV Mesa – Reinserção: Um Imperativo de Mudança: intervenção com
reclusos e ex-reclusos e violência doméstica.
Encontro abrangente, mas ficou aquém das minhas expectativas, pois
pensava que as temáticas evidenciassem alguma novidade no campo da
investigação e intervenção o que não se veio a revelar.
Passagem pelo CLDS de Vila do Conde para articular informação sobre a
reunião da APEE Junqueira, tendo a coordenadora comunicado que aguarda
novo contacto do pais/EE, pois este já teve a reunião com a Vereadora da
CMVC, mas ainda vai reunir com o Presidente da CMVC.
Coordenadora do CLDS ficou de pedir as folhas dos pais/EE que na reunião
preencheram as folhas indicando que estão interessados em fazer parte da
APEE Junqueira, a fim de ficarmos com um registo.
5 de Novembro de 2011
Coordenadora do CDLS contacta-me a comunicar que o pais/EE revela
interesse que a reunião da APEE se realize durante este mês, mas que
surgiram algumas dúvidas, nomeadamente:
- Na reunião é para definir-se já os Órgãos Sociais da APEEJ?
- Será que não é possível haver uma Comissão Instaladora que,
temporariamente, irá desenvolvendo a APEE, enquanto não houver eleições?
(pois pode haver pais/EE que faltem à reunião e demonstrem interesse em
constituir uma lista e assim dar-se tempo para haver eleições).
Face a estas hesitações a coordenadora do CLDS vai contactar com o
Presidente da FAPCONDE.
9 de Novembro de 2011
Envio de email para o CLDS, com o intuito de saber se já articularam a
informação com o Presidente da FAPCONDE e se necessitam de algum apoio.
Coordenadora CLDS responde ao email informando que já contactou com o
Presidente da FAPCONDE e enviou os esclarecimentos ao pais/EE, estando a
aguardar a data da reunião.
11 e 12 de Novembro de 2011
Participação no “IV Encontro sobre Maus tratos, negligência e Risco na
Infância e na Adolescência”, organizado pela Associação de Solidariedade e
Acção Social de Santo Tirso – ASAS, a decorrer no Fórum da Maia.
16 de Novembro de 2011
Recepção de email da coordenadora do CLDS, informando que está
confirmada a Assembleia de Pais, para 25 de Novembro, pelas 21h, no AVEJ.
Pede para informar a CONFAP.
25 de Novembro de 2011
Assembleia Geral para constituição da APAEJ, contanto com a participação
das entidades integrantes do projecto, CONFAP e FAPCONDE. A APAEJ foi
oficialmente constituída, em Assembleia Geral, por lista única, com a presença
de quarenta e cinco pais/EE. Os elementos que integram a APAEJ têm
representatividade ao nível das freguesias e dos diferentes ciclos, aspecto este
que foi ressalvado como positivo pelo Director do Agrupamento.
Exmo(a). Senhor(a) Presidente da Associação de Pais e Encarregado de Educação de Arcos Rua da Ponte, 25 4480-025 Arcos Vila do Conde
Santo Tirso, 21 de Março de 2011 Assunto: Marcação de Entrevista
Vimos por este meio saber junto de Vossa Exa. a possibilidade de marcação de uma entrevista sobre a Associação de Pais e Encarregados de Educação de Arcos.
Tal pedido prende-se com o facto de estarmos a desenvolver um trabalho de investigação, no Agrupamento Vertical de Escolas da Junqueira em parceria com o Contrato Local de Desenvolvimento Social de Vila do Conde, sobre a relação escola-família.
Com esta entrevista pretendemos saber como está organizada a Vossa Associação, motivo que levou à sua constituição, tempo de existência, actividades desenvolvidas, tipo de relação estabelecida com os agentes educativos e a comunidade. Todavia, caso a Vossa Associação não esteja activa pedíamos que fosse receptivo(a) à realização da mesma, pois torna-se pertinente conhecer os motivos que levaram a essa inactividade.
Para contactar-nos poderá fazê-lo por email ([email protected]) ou
telemóvel (966503706). Ao dispor para qualquer esclarecimento, apresentamos os melhores
cumprimentos. Cátia Brás Mestranda da Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti - ESEPF Nota: A morada indicada foi cedida pelo Subdirector do Agrupamento
Vertical de Escolas da Junqueira, Professor Domingos Pinto.
Exmo(a). Senhor(a) Presidente da Associação de Pais e Encarregado de Educação de Rio Mau Rua Central, 1539 4480-404 Rio Mau Vila do Conde
Santo Tirso, 21 de Março de 2011 Assunto: Marcação de Entrevista
Vimos por este meio saber junto de Vossa Exa. a possibilidade de marcação de uma entrevista sobre a Associação de Pais e Encarregados de Educação de Rio Mau.
Tal pedido prende-se com o facto de estarmos a desenvolver um trabalho de investigação, no Agrupamento Vertical de Escolas da Junqueira em parceria com o Contrato Local de Desenvolvimento Social de Vila do Conde, sobre a relação escola-família.
Com esta entrevista pretendemos saber como está organizada a Vossa Associação, motivo que levou à sua constituição, tempo de existência, actividades desenvolvidas, tipo de relação estabelecida com os agentes educativos e a comunidade. Todavia, caso a Vossa Associação não esteja activa pedíamos que fosse receptivo(a) à realização da mesma, pois torna-se pertinente conhecer os motivos que levaram a essa inactividade.
Para contactar-nos poderá fazê-lo por email ([email protected]) ou
telemóvel (966503706). Ao dispor para qualquer esclarecimento, apresentamos os melhores
cumprimentos. Cátia Brás Mestranda da Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti - ESEPF Nota: A morada indicada foi cedida pelo Subdirector do Agrupamento
Vertical de Escolas da Junqueira, Professor Domingos Pinto.
Exmo(a). Senhor(a) Presidente da Associação de Pais e Encarregado de Educação da Junqueira
Rua da Ponte, 202 4480-020 Arcos Vila do Conde
Santo Tirso, 21 de Março de 2011 Assunto: Marcação de Entrevista
Vimos por este meio saber junto de Vossa Exa. a possibilidade de marcação de uma entrevista sobre a Associação de Pais e Encarregados de Educação da Junqueira.
Tal pedido prende-se com o facto de estarmos a desenvolver um trabalho de investigação, no Agrupamento Vertical de Escolas da Junqueira em parceria com o Contrato Local de Desenvolvimento Social de Vila do Conde, sobre a relação escola-família.
Com esta entrevista pretendemos saber como está organizada a Vossa Associação, motivo que levou à sua constituição, tempo de existência, actividades desenvolvidas, tipo de relação estabelecida com os agentes educativos e a comunidade. Todavia, caso a Vossa Associação não esteja activa pedíamos que fosse receptivo(a) à realização da mesma, pois torna-se pertinente conhecer os motivos que levaram a essa inactividade.
Para contactar-nos poderá fazê-lo por email ([email protected]) ou
telemóvel (966503706). Ao dispor para qualquer esclarecimento, apresentamos os melhores
cumprimentos. Cátia Brás Mestranda da Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti - ESEPF Nota: A morada indicada foi cedida pelo Subdirector do Agrupamento
Vertical de Escolas da Junqueira, Professor Domingos Pinto.
Exma. Senhora Presidente da Associação de Pais e Encarregado de Educação de Bagunte Travessa da Aldeia Nova, 19 4480-243 Bagunte Vila do Conde
Santo Tirso, 21 de Março de 2011 Assunto: Marcação de Entrevista
Vimos por este meio saber junto de Vossa Exa. a possibilidade de marcação de uma entrevista sobre a Associação de Pais e Encarregados de Educação de Bagunte.
Tal pedido prende-se com o facto de estarmos a desenvolver um trabalho de investigação, no Agrupamento Vertical de Escolas da Junqueira em parceria com o Contrato Local de Desenvolvimento Social de Vila do Conde, sobre a relação escola-família.
Com esta entrevista pretendemos saber como está organizada a Vossa Associação, motivo que levou à sua constituição, tempo de existência, actividades desenvolvidas, tipo de relação estabelecida com os agentes educativos e a comunidade. Todavia, caso a Vossa Associação não esteja activa pedíamos que fosse receptiva à realização da mesma, pois torna-se pertinente conhecer os motivos que levaram a essa inactividade.
Para contactar-nos poderá fazê-lo por email ([email protected]) ou
telemóvel (966503706). Ao dispor para qualquer esclarecimento, apresentamos os melhores
cumprimentos. Cátia Brás Mestranda da Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti - ESEPF Nota: A morada indicada foi cedida pelo Subdirector do Agrupamento
Vertical de Escolas da Junqueira, Professor Domingos Pinto.
Exmo. Senhor Nuno Silva Presidente da Associação de Pais e Encarregado de Educação da Touguinha Rua Rui Silva Gomes, 84 4480-513 Touguinha Vila do Conde
Santo Tirso, 21 de Março de 2011 Assunto: Marcação de Entrevista
Vimos por este meio saber junto de Vossa Exa. a possibilidade de marcação de uma entrevista sobre a Associação de Pais e Encarregados de Educação da Touguinha.
Tal pedido prende-se com o facto de estarmos a desenvolver um trabalho de investigação, no Agrupamento Vertical de Escolas da Junqueira em parceria com o Contrato Local de Desenvolvimento Social de Vila do Conde, sobre a relação escola-família.
Com esta entrevista pretendemos saber como está organizada a Vossa Associação, motivo que levou à sua constituição, tempo de existência, actividades desenvolvidas, tipo de relação estabelecida com os agentes educativos e a comunidade. Todavia, caso a Vossa Associação não esteja activa pedíamos que fosse receptivo à realização da mesma, pois torna-se pertinente conhecer os motivos que levaram a essa inactividade.
Para contactar-nos poderá fazê-lo por email ([email protected]) ou
telemóvel (966503706). Ao dispor para qualquer esclarecimento, apresentamos os melhores
cumprimentos. Cátia Brás Mestranda da Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti - ESEPF Nota: A morada indicada foi cedida pelo Subdirector do Agrupamento
Vertical de Escolas da Junqueira, Professor Domingos Pinto.
GUIÃO ENTREVISTA SUBDIRECTOR DO AGRUPAMENTO
VERTICAL DE ESCOLAS DA JUNQUEIRA - AVEJ
O entrevistado será informado dos objectivos da entrevista, propósitos de
utilização da informação, permissão para gravação da mesma e garantia de
anonimato e confidencialidade das informações recolhidas. Será comunicado,
ainda, que não existem respostas “certas ou erradas” a nenhuma das questões
colocadas.
Objectivos da Entrevista:
• Conhecer a perspectiva do Subdirector do AVEJ face às
Associações de Pais e Encarregados de Educação (APEE);
• Recolher informação sobre as APEE existentes no Agrupamento;
• Compreender as dimensões de actuação aplicadas em prol da
relação APEE /Família/Escola;
• Descobrir as mudanças ocorridas com a presença das APEE
desde que o Subdirector exerce funções directivas/coordenação no
Agrupamento.
GUIÃO ENTREVISTA
Dados de caracterização pessoal e profissional do entrevistado
Idade, habilitações literárias, tempo de serviço como docente, tempo de
serviço em funções directivas/coordenação.
Dados referentes às APEE
Qual a importância que atribui às Associações de Pais e Encarregados de
Educação?
Na sua opinião qual é o papel estas devem assumir junto da comunidade
educativa?
Dados referentes às APEE que integram o Agrupamento
Neste Agrupamento existem Associações de Pais e Encarregados de
Educação?
• Se sim, quantas? Qual o tempo de existência e fundamentos da
sua constituição?
• Se não, porquê?
Tem conhecimento se as Associações integram a FAPCONDE – Federação
das Associações de Pais e Encarregados de Educação do Concelho de Vila do
Conde?
Qual a postura que as Associações de Pais e Encarregados de Educação
adoptam ou têm vindo adoptar face à Escola?
Que estratégias as Associações aplicam para a mobilização de diferentes
agentes da comunidade educativa, nomeadamente: pais, alunos e
professores? E com a Direcção da Escola?
Que tipo de actividades desenvolvem?
• Como é feita a divulgação dessas acções?
• Essas actividades constam no Plano de Actividades do
Agrupamento?
Alguma vez foram criados projectos em parceria com as Associações de
Pais e Encarregados de Educação e a Escola?
• Se sim, quais e que resultados advieram dessas experiências?
• Se não, porquê?
Se pudesse propor/pensar em estratégias de actuação para as Associações
de Pais e Encarregados de Educação deste Agrupamento, quais seriam?
Muito obrigado pela colaboração!
GUIÃO ENTREVISTA PARA OS REPRESENTANTES DAS
ASSOCIAÇÕES DE PAIS E ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO
“ACTIVAS”
Os entrevistados serão informados dos objectivos da entrevista, propósitos
de utilização da informação, permissão para gravação da mesma e garantia de
anonimato e confidencialidade das informações recolhidas. Será comunicado,
ainda, que não existem respostas “certas ou erradas” a nenhuma das questões
colocadas.
Objectivos da Entrevista:
• Identificar os principais contributos das Associações de Pais (AP):
o Conhecer a perspectiva dos Presidentes das Associações
de Pais e Encarregados de Educação (APEE), face à
existência deste tipo de Associações;
o Recolher informação sobre cada uma das APEE existentes
no Agrupamento;
o Compreender as dimensões de actuação aplicadas em prol
da relação APEE/Família/Escola;
o Descobrir as mudanças ocorridas com a presença das
APEE ao nível das Escolas e do próprio Agrupamento.
GUIÃO ENTREVISTA
Dados de caracterização pessoal e profissional dos entrevistados
Idade, habilitações literárias, profissão, tempo de serviço em funções de
Presidente na Associação de Pais e Encarregados de Educação.
Dados referentes à APEE
Qual a importância que atribui às Associações de Pais e Encarregados de
Educação?
Há quanto tempo existe a Associação de Pais e Encarregados de Educação
à qual preside?
Quais os fundamentos que estiveram presentes para a constituição desta
Associação?
Quantos associados tem a Vossa Associação?
• Os associados são constituídos maioritariamente por pais ou integra
outras entidades?
• Quais as razões que levam os Pais ou Encarregados de Educação a
aderirem à Associação?
o Já tiveram situações de renunciação de associados? Qual o
motivo dessa renunciação?
Esta Associação integra a FAPCONDE – Federação das Associações de
Pais e Encarregados de Educação do Concelho de Vila do Conde ou a
CONFAP – Confederação Nacional das Associação de Pais?
• Se sim, há quanto tempo?
• Se não, porquê?
Postura APEE face à escola e ao Agrupamento
Qual a postura que esta Associação de Pais e Encarregados de Educação
adopta ou têm vindo adoptar face à Escola?
Que estratégias aplicam para a mobilização de diferentes agentes da
comunidade educativa, nomeadamente: pais, alunos e professores?
• E com os Órgãos de Gestão, designadamente a Coordenadora de
Escola e da Direcção do Agrupamento Vertical de Escolas da
Junqueira?
Os Pais ou Encarregados de Educação costumam “recorrer” à Associação
de Pais e Encarregados de Educação da Escola?
• Se sim, em que situações?
• Se não, porquê?
Actividades das APEE
Que tipo de actividades desenvolvem?
• As actividades são definidas unicamente pelos elementos da
Associação ou existem outras pessoas a contribuir com propostas?
• Qual o papel dos Encarregados de Educação face às actividades
propostas?
• As actividades vão de encontro com as necessidades reais da
Escola?
• Como é feita a divulgação dessas acções?
• As actividades constam no Plano de Actividades do Agrupamento?
• Como costumam avaliar as actividades? Que estratégias utilizam?
Projectos comuns entre as AP do Agrupamento
Alguma vez foram criados projectos em parceria com outras Associações de
Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento?
• Se sim, quais e que resultados advieram dessas experiências?
• Se não, porquê?
Propostas
Se pudesse propor/pensar em estratégias de actuação para a Vossa
Associação de Pais e Encarregados de Educação, quais seriam?
Muito obrigado pela colaboração!
GUIÃO ENTREVISTA PARA OS REPRESENTANTES DAS ASSOCIAÇÕES DE PAIS E ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO
“INACTIVAS”
Os entrevistados serão informados dos objectivos da entrevista, propósitos
de utilização da informação, permissão para gravação da mesma e garantia de
anonimato e confidencialidade das informações recolhidas. Será comunicado,
ainda, que não existem respostas “certas ou erradas” a nenhuma das questões
colocadas.
Objectivos da Entrevista:
• Identificar os principais contributos das Associações de Pais (AP):
o Conhecer a perspectiva dos Presidentes das Associações
de Pais e Encarregados de Educação (APEE), face à
existência deste tipo de Associações;
o Recolher informação sobre cada uma das APEE existentes
no Agrupamento;
o Compreender as dimensões de actuação aplicadas em prol
da relação APEE/Família/Escola;
o Descobrir as mudanças ocorridas com a presença das
APEE ao nível das Escolas e do próprio Agrupamento.
GUIÃO ENTREVISTA
Dados de caracterização pessoal e profissional dos entrevistados
Idade, habilitações literárias, profissão, tempo de serviço em funções de
Presidente na Associação de Pais e Encarregados de Educação.
Dados referentes à APEE
Qual a importância que atribui às Associações de Pais e Encarregados de
Educação?
Durante quanto tempo existiu a Associação de Pais e Encarregados de
Educação à qual presidiu?
Quais os fundamentos que estiveram presentes na constituição e na
desmobilização dessa Associação?
Quantos associados tinha a V. Associação?
• Os associados são constituídos maioritariamente por pais ou
integrava outras entidades?
• Quais as razões que levava os Pais ou Encarregados de Educação a
aderirem à Associação?
o Chegaram a ter situações de renunciação de associados? Qual
o motivo dessa renunciação?
Esta Associação chegou a integrar a FAPCONDE – Federação das
Associações de Pais e Encarregados de Educação do Concelho de Vila do
Conde ou a CONFAP – Confederação Nacional das Associação de Pais?
• Se sim, durante quanto tempo?
• Se não, porquê?
Postura APEE face à escola e ao Agrupamento
Qual a postura que a V. Associação de Pais e Encarregados de Educação
adoptava face à Escola?
Que estratégias aplicavam para a mobilização de diferentes agentes da
comunidade educativa, nomeadamente: pais, alunos e professores?
• E com os Órgãos de Gestão, designadamente a Coordenadora de
Escola e da Direcção do Agrupamento Vertical de Escolas da
Junqueira?
Os Pais ou Encarregados de Educação costumavam “recorrer” à V.
Associação de Pais e Encarregados de Educação?
• Se sim, em que situações?
• Se não, porquê?
Actividades das APEE
Que tipo de actividades desenvolviam enquanto Associação?
• As actividades eram definidas unicamente pelos elementos da
Associação ou existiam outras pessoas a contribuir com propostas?
• Qual o papel que os Encarregados de Educação assumiam face às
actividades?
• As actividades iam de encontro às necessidades reais da Escola?
• Como era feita a divulgação dessas acções?
• As actividades constavam no Plano de Actividades do Agrupamento
ou existia um Plano próprio da Associação?
• Como costumavam avaliar as actividades? Que estratégias
utilizavam?
Tinha conhecimento da existência de outras Associações de Pais e
Encarregados de Educação existentes no Agrupamento?
Projectos comuns entre as AP do Agrupamento
Alguma vez foram criados projectos em parceria com essas Associações de
Pais e Encarregados de Educação?
• Se sim, quais e que resultados advieram dessas experiências?
• Se não, porquê?
Propostas
Se pudesse propor/pensar em estratégias de actuação para as Associações
de Pais e Encarregados de Educação existentes neste momento, quais
seriam?
Muito obrigado pela colaboração!
GUIÃO ENTREVISTA SUBDIRECTOR DO AGRUPAMENTO
VERTICAL DE ESCOLAS DA JUNQUEIRA - AVEJ
O entrevistado será informado dos objectivos da entrevista, propósitos de
utilização da informação, permissão para gravação da mesma e garantia de
anonimato e confidencialidade das informações recolhidas. Será comunicado,
ainda, que não existem respostas “certas ou erradas” a nenhuma das questões
colocadas.
Objectivos da Entrevista:
• Conhecer a perspectiva do Subdirector do AVEJ face às
Associações de Pais e Encarregados de Educação (APEE);
• Recolher informação sobre as APEE existentes no Agrupamento;
• Compreender as dimensões de actuação aplicadas em prol da
relação APEE /Família/Escola;
• Descobrir as mudanças ocorridas com a presença das APEE
desde que o Subdirector exerce funções directivas/coordenação no
Agrupamento.
GUIÃO ENTREVISTA
Dados de caracterização pessoal e profissional do entrevistado
Idade, habilitações literárias, tempo de serviço como docente, tempo de
serviço em funções directivas/coordenação.
Dados referentes às APEE
Qual a importância que atribui às Associações de Pais e Encarregados de
Educação?
Na sua opinião qual é o papel estas devem assumir junto da comunidade
educativa?
Dados referentes às APEE que integram o Agrupamento
Neste Agrupamento existem Associações de Pais e Encarregados de
Educação?
• Se sim, quantas? Qual o tempo de existência e fundamentos da
sua constituição?
• Se não, porquê?
Tem conhecimento se as Associações integram a FAPCONDE – Federação
das Associações de Pais e Encarregados de Educação do Concelho de Vila do
Conde?
Qual a postura que as Associações de Pais e Encarregados de Educação
adoptam ou têm vindo adoptar face à Escola?
Que estratégias as Associações aplicam para a mobilização de diferentes
agentes da comunidade educativa, nomeadamente: pais, alunos e
professores? E com a Direcção da Escola?
Que tipo de actividades desenvolvem?
• Como é feita a divulgação dessas acções?
• Essas actividades constam no Plano de Actividades do
Agrupamento?
Alguma vez foram criados projectos em parceria com as Associações de
Pais e Encarregados de Educação e a Escola?
• Se sim, quais e que resultados advieram dessas experiências?
• Se não, porquê?
Se pudesse propor/pensar em estratégias de actuação para as Associações
de Pais e Encarregados de Educação deste Agrupamento, quais seriam?
Muito obrigado pela colaboração!
GUIÃO ENTREVISTA PARA OS REPRESENTANTES DAS
ASSOCIAÇÕES DE PAIS E ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO
“ACTIVAS”
Os entrevistados serão informados dos objectivos da entrevista, propósitos
de utilização da informação, permissão para gravação da mesma e garantia de
anonimato e confidencialidade das informações recolhidas. Será comunicado,
ainda, que não existem respostas “certas ou erradas” a nenhuma das questões
colocadas.
Objectivos da Entrevista:
• Identificar os principais contributos das Associações de Pais (AP):
o Conhecer a perspectiva dos Presidentes das Associações
de Pais e Encarregados de Educação (APEE), face à
existência deste tipo de Associações;
o Recolher informação sobre cada uma das APEE existentes
no Agrupamento;
o Compreender as dimensões de actuação aplicadas em prol
da relação APEE/Família/Escola;
o Descobrir as mudanças ocorridas com a presença das
APEE ao nível das Escolas e do próprio Agrupamento.
GUIÃO ENTREVISTA
Dados de caracterização pessoal e profissional dos entrevistados
Idade, habilitações literárias, profissão, tempo de serviço em funções de
Presidente na Associação de Pais e Encarregados de Educação.
Dados referentes à APEE
Qual a importância que atribui às Associações de Pais e Encarregados de
Educação?
Há quanto tempo existe a Associação de Pais e Encarregados de Educação
à qual preside?
Quais os fundamentos que estiveram presentes para a constituição desta
Associação?
Quantos associados tem a Vossa Associação?
• Os associados são constituídos maioritariamente por pais ou integra
outras entidades?
• Quais as razões que levam os Pais ou Encarregados de Educação a
aderirem à Associação?
o Já tiveram situações de renunciação de associados? Qual o
motivo dessa renunciação?
Esta Associação integra a FAPCONDE – Federação das Associações de
Pais e Encarregados de Educação do Concelho de Vila do Conde ou a
CONFAP – Confederação Nacional das Associação de Pais?
• Se sim, há quanto tempo?
• Se não, porquê?
Postura APEE face à escola e ao Agrupamento
Qual a postura que esta Associação de Pais e Encarregados de Educação
adopta ou têm vindo adoptar face à Escola?
Que estratégias aplicam para a mobilização de diferentes agentes da
comunidade educativa, nomeadamente: pais, alunos e professores?
• E com os Órgãos de Gestão, designadamente a Coordenadora de
Escola e da Direcção do Agrupamento Vertical de Escolas da
Junqueira?
Os Pais ou Encarregados de Educação costumam “recorrer” à Associação
de Pais e Encarregados de Educação da Escola?
• Se sim, em que situações?
• Se não, porquê?
Actividades das APEE
Que tipo de actividades desenvolvem?
• As actividades são definidas unicamente pelos elementos da
Associação ou existem outras pessoas a contribuir com propostas?
• Qual o papel dos Encarregados de Educação face às actividades
propostas?
• As actividades vão de encontro com as necessidades reais da
Escola?
• Como é feita a divulgação dessas acções?
• As actividades constam no Plano de Actividades do Agrupamento?
• Como costumam avaliar as actividades? Que estratégias utilizam?
Projectos comuns entre as AP do Agrupamento
Alguma vez foram criados projectos em parceria com outras Associações de
Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento?
• Se sim, quais e que resultados advieram dessas experiências?
• Se não, porquê?
Propostas
Se pudesse propor/pensar em estratégias de actuação para a Vossa
Associação de Pais e Encarregados de Educação, quais seriam?
Muito obrigado pela colaboração!
GUIÃO ENTREVISTA PARA OS REPRESENTANTES DAS ASSOCIAÇÕES DE PAIS E ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO
“INACTIVAS”
Os entrevistados serão informados dos objectivos da entrevista, propósitos
de utilização da informação, permissão para gravação da mesma e garantia de
anonimato e confidencialidade das informações recolhidas. Será comunicado,
ainda, que não existem respostas “certas ou erradas” a nenhuma das questões
colocadas.
Objectivos da Entrevista:
• Identificar os principais contributos das Associações de Pais (AP):
o Conhecer a perspectiva dos Presidentes das Associações
de Pais e Encarregados de Educação (APEE), face à
existência deste tipo de Associações;
o Recolher informação sobre cada uma das APEE existentes
no Agrupamento;
o Compreender as dimensões de actuação aplicadas em prol
da relação APEE/Família/Escola;
o Descobrir as mudanças ocorridas com a presença das
APEE ao nível das Escolas e do próprio Agrupamento.
GUIÃO ENTREVISTA
Dados de caracterização pessoal e profissional dos entrevistados
Idade, habilitações literárias, profissão, tempo de serviço em funções de
Presidente na Associação de Pais e Encarregados de Educação.
Dados referentes à APEE
Qual a importância que atribui às Associações de Pais e Encarregados de
Educação?
Durante quanto tempo existiu a Associação de Pais e Encarregados de
Educação à qual presidiu?
Quais os fundamentos que estiveram presentes na constituição e na
desmobilização dessa Associação?
Quantos associados tinha a V. Associação?
• Os associados são constituídos maioritariamente por pais ou
integrava outras entidades?
• Quais as razões que levava os Pais ou Encarregados de Educação a
aderirem à Associação?
o Chegaram a ter situações de renunciação de associados? Qual
o motivo dessa renunciação?
Esta Associação chegou a integrar a FAPCONDE – Federação das
Associações de Pais e Encarregados de Educação do Concelho de Vila do
Conde ou a CONFAP – Confederação Nacional das Associação de Pais?
• Se sim, durante quanto tempo?
• Se não, porquê?
Postura APEE face à escola e ao Agrupamento
Qual a postura que a V. Associação de Pais e Encarregados de Educação
adoptava face à Escola?
Que estratégias aplicavam para a mobilização de diferentes agentes da
comunidade educativa, nomeadamente: pais, alunos e professores?
• E com os Órgãos de Gestão, designadamente a Coordenadora de
Escola e da Direcção do Agrupamento Vertical de Escolas da
Junqueira?
Os Pais ou Encarregados de Educação costumavam “recorrer” à V.
Associação de Pais e Encarregados de Educação?
• Se sim, em que situações?
• Se não, porquê?
Actividades das APEE
Que tipo de actividades desenvolviam enquanto Associação?
• As actividades eram definidas unicamente pelos elementos da
Associação ou existiam outras pessoas a contribuir com propostas?
• Qual o papel que os Encarregados de Educação assumiam face às
actividades?
• As actividades iam de encontro às necessidades reais da Escola?
• Como era feita a divulgação dessas acções?
• As actividades constavam no Plano de Actividades do Agrupamento
ou existia um Plano próprio da Associação?
• Como costumavam avaliar as actividades? Que estratégias
utilizavam?
Tinha conhecimento da existência de outras Associações de Pais e
Encarregados de Educação existentes no Agrupamento?
Projectos comuns entre as AP do Agrupamento
Alguma vez foram criados projectos em parceria com essas Associações de
Pais e Encarregados de Educação?
• Se sim, quais e que resultados advieram dessas experiências?
• Se não, porquê?
Propostas
Se pudesse propor/pensar em estratégias de actuação para as Associações
de Pais e Encarregados de Educação existentes neste momento, quais
seriam?
Muito obrigado pela colaboração!
TRANSCRIÇÃO ENTREVISTA A “SD” DO AVEJ
Data: 25 de Fevereiro de 2010 Hora: 11 h Duração: 27m10s
Local: Escola EB 2,3 Dr. Carlos Pinto Ferreira - Junqueira
Entrevistador(a): Mestranda da ESEPF
Entrevistados: SD - Subdirector do Agrupamento de Escolas da Junqueira
Entrevistador – Bom dia!
Subdirector – Bom dia!
Esta entrevista tem como objectivo tentar perceber e compreender se
no Agrupamento Vertical de Escolas da Junqueira (AVEJ) existem
Associações de Pais e Encarregados de Educação (APEE), como estão
organizadas e o tipo de funcionamento que têm.
Para iniciar a entrevista iria começar por o questionar relativamente à
sua idade, habilitações literárias e tempo de serviço enquanto docente e
com exercício de funções Directivas ou de Coordenação no
Agrupamento?
Idade 52 anos, estou quase nos cinquenta e três (risos). Quanto às
habilitações literárias tenho Licenciatura em História, pela Faculdade de Letras
do Porto. Tempo de serviço cerca de trinta anos e desses trinta, dezoito foram
em órgãos de gestão, sendo que aqui na escola são doze anos, indo a
caminho de treze.
Tendo em consideração o fundamento desta entrevista, gostava de
saber qual a importância que atribui às APEE?
Toda a gente sabe que as Associações de Pais e Encarregados de
Educação são importantes, até porque educar é cada vez mais uma tarefa
difícil e se não nos envolvermos todos na educação não adianta nada. Há um
provérbio índio que me vem sempre à memória quando falo sobre as
Associações de Pais, o célebre “para educar uma criança é preciso uma aldeia
inteira” e, realmente, não adianta nada andarmos aqui com regras se os pais e
a escola não pautarem a educação também por essas regras. Logo, é
fundamental que os pais e a escola funcionem em conjunto e que puxem todos
para o mesmo lado e, infelizmente, aqui não temos tido esse tipo de
comportamentos.
Não é que a gente tenha queixa dos pais, não é. Há pais que nos dizem que
não se interessam porque não têm problemas, mas o não ter problemas não é
resposta nenhuma. Não têm eles, mas têm outros e, como fazemos parte da
mesma divisa, todos temos que ajudar. Nesse aspecto, eu acho que os pais
são um parceiro fundamental que deveriam ter um papel mais activo do aquele
que têm.
Então considera que elas deveriam assumir um papel mais activo na
comunidade educativa?
Sim.
Ao nível deste Agrupamento existem APEE?
Existem cinco Associações de Pais. Uma foi formada há pouco tempo,
começou agora a funcionar e é a Associação de Pais de Bagunte. Outra é a de
Touguinha, é a semi-activa, mas aquilo funciona por rivalidades, pois
organizam-se e trabalham em termos de Jardim e Escola de 1º Ciclo de
Touguinha, mas não se envolvem muito com o resto do Agrupamento. Depois
temos três que estão paradas que são a de Arcos, Rio Mau e a Associação de
Pais do Agrupamento, que funcionou enquanto esteve à frente da Associação o
Engenheiro, depois foi-se embora e, neste momento, não há meio de a pôr em
funcionamento, nem resposta nos dão.
Quando as Associações foram criadas sabe o que esteve no cerne da
sua constituição? Qual o fundamento principal?
As quatro que são de Freguesias diferentes tiveram a ver com rivalidades,
nitidamente com rivalidades. Aliás, nós notamos isso em algumas medidas que
quisemos impor e vimos a reacção em termos do 1º Ciclo, pois achávamos
benéfico para os alunos, como há poucos alunos em algumas Freguesias, que
as Juntas deslocando-os de umas Freguesias para as outras, de forma a criar
turmas de um só ano e, foi o cabo dos trabalhos, porque os de um lado não
queriam que os filhos fossem para o outro.
Há uma rivalidade muito grande e acho que essas Associações surgiram um
pouco por causa disso, se bem que a de Touguinha é mais antiga e os pais
sempre revelaram, para com o Agrupamento, alguma dinâmica. Como eu digo,
praticamente só se preocupam com o Jardim e a Escola do 1º Ciclo. Enquanto
esteve à frente o Sr. Sérgio esse comparecia sempre às reuniões, estava
sempre pronto para participar. Desde que ele saiu nunca mais se fizeram
representar no Conselho Geral, nem no Conselho Pedagógico. A gente pode
convocar, mas nunca aparece ninguém, mas acho que essa proliferação tem a
ver com rivalidades entre Freguesias.
A outra surgiu quando o Agrupamento foi formado com um grupo de pais
que achou que deveria haver uma Associação só no Agrupamento todo. No
primeiro ano, fizeram e, já falei disso até, eles fizeram um estudo acerca do
que os pais pensavam da escola e como poderiam envolver-se. Depois
convocaram os pais para fazer a apresentação, que foi feita aqui na escola,
uma sexta-feira à noite. Resultado estavam mais elementos da Direcção do
que pais a assistir, estavam três pais e quatro elementos da Direcção. Foi uma
frustração tremenda, mas foi o que aconteceu.
Recorda-se como foi feito esse estudo?
Foi por inquérito. Pediram autorização para fazer o inquérito aos pais e
foram eles que trataram de tudo.
Foi um trabalho muito autónomo, por parte da Associação de Pais
(AP)?
Sim foi.
Tem conhecimento da existência da FAPCONDE e da CONFAP? Sabe
se as APEE estão ou estavam inscritas em alguns desses movimentos?
A Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento estava
representada e inscrita. As outras, muito sinceramente, não sabemos. A
Associação de Pais do Agrupamento estava, pelo menos era o que o
Engenheiro referia no Pedagógico quando dava conhecimento das reuniões.
Ainda é possível que esteja, mas como não temos feedback não posso afirmar,
mas que fazia parte, isso fazia.
Neste momento, qual a postura que as AP têm vindo a adoptar ou
adoptam face à escola? Acha que é uma postura de parceria ou de
alheamento/afastamento?
De parceria não é, infelizmente não é. Não sei se lhe hei-de chamar de
alheamento. A única coisa que posso constatar é que, mesmo quando os
convocamos para reuniões ou para indicarem elementos para representar a
comissão com objectivos vários, quer seja do Projecto Educativo, entre outros,
nunca nos aparece resposta.
Ainda há pouco tivemos a ver o Projecto Educativo e fazer a revisão do
Regulamento Interno e socorremo-nos dos representantes dos pais nas
turmas, porque das Associações de Pais não veio ninguém.
Mas porque é que isso acontece?
(silêncio) Isso gostava de saber, mas para isso a gente teria que ouvir o que
eles pensam e isso não é fácil. Ainda esta semana fizemos uma reunião com
os representantes dos pais e a verdade é que apareceram bastantes pais, não
apareceram todos os representantes, mas apareceram bastantes e ficamos
com a impressão, nestas entrevistas, que eles vêm lá falar no que diz respeito
aos filhos deles ou às Freguesias e, se isso atinge o Agrupamento então
também diz respeito ao Agrupamento, se não, não. O mais engraçado é que
nenhum dos pais falou sequer das Associações de Pais. Numa reunião de
duas horas e tal ninguém quis saber se eles têm funcionado, se funcionam ou
se não funcionam.
Então podemos dizer que, realmente as AP não têm voz activa, nem
sequer apresentam nenhuma representação para os pais?
É com essa impressão que a gente fica. Vamos lá ver se esta mais recente,
a de Bagunte, consegue mexer-se mais um bocado, mas também fico com a
impressão, até porque conheço algumas pessoas daqui e que fazem parte da
Associação, que a ideia é a mesma… olhar pelo que diz respeito a Bagunte e
não pensar em termos de Agrupamento. Em qualquer uma delas e, mesmo na
do Agrupamento, a gente ficava sempre com essa impressão que eles não
conseguem pensar no Agrupamento enquanto Agrupamento, querem é
proteger o nicho deles e ver o que é que conseguem fazer em favor de.
Tem conhecimento das estratégias que estas Associações têm para
mobilizar diferentes agentes, desde pais, alunos, professores e até a
própria Direcção da Escola? Quais eram os meios que utilizavam para se
aproximar?
(silêncio) Nós em termos de relação com as Associações quando há alguma
actividade convidámo-los sempre. Geralmente da parte deles só recebemos
convites quando fazem alguma Festa de Final de Ano, algum Jantar. Nesse
aspecto mesmo a Associação do Agrupamento nunca fez muitas actividades,
excepto a de Touguinha que sempre foi mais activa. Em Touguinha fazem
sempre muitas actividades, envolvem os pais nas actividades e convidam-nos
para assistir às actividades, não é para participar, mas sim para assistir.
Mesmo as acções de formação que a gente tenta promover para os pais,
nunca têm muita adesão. Além de que, no ano passado, tivemos uma
agradável surpresa, porque a equipa do PES fez uma acção por causa da
Educação Sexual e convidamos os representantes das turmas todas e as
Associações de Pais. Eu estava com medo que acontecesse o de costume,
que só aparecessem cerca de vinte pessoas, mas apareceram cerca de cento
e cinquenta pessoas. Realmente deixou-me impressionado, porque não
contava que aparecesse tanta gente e fiquei surpreendido com isso. Mas, por
exemplo, ainda há dois anos fizemos uma sobre os perigos da internet e
pensávamos que era um tema que interessava a toda a gente, que íamos ter
muita gente, de tal maneira que pedimos o auditório em Vila do Conde.
Resultado, se não fossem os professores a sala ficava completamente vazia,
pais só lá estavam entre três a quatro. Há coisas que realmente não se
conseguem explicar.
Essa acção que falou sobre a questão da Educação Sexual foi mesmo
proposta pela Escola?
Foi.
Não foi nenhum pai que apresentou esse tema?
Não. Foi proposta mesmo pela equipa do PES que achou que devia informar
os pais acerca do que se ia tratar ao longo do ano. Fiquei surpreendido quando
vi muita gente, muita para além do que estávamos a contar e, sobretudo os
pais mostrarem-se muito interessados.
Há ainda outras coisas... costumamos celebrar o dia do Agrupamento e o
Magusto. No Magusto não aparecem tantos, mas no dia do Agrupamento lá
aparecem mais e a actividade é durante o dia todo. Se ao longo do dia vierem
cem pais será muito e, se calhar, não vêm de certeza absoluta. Ora no
Agrupamento temos cerca de mil e trezentos, mil e quatrocentos alunos, por
isso não é nada significativo. Os que vêm são pais dos filhos que se envolvem
na actividade.
Mas têm acontecido coisas piores. No final do ano entregamos os prémios
de Mérito Escolar e tem-nos acontecido haver alturas em que estamos a
entregar os prémios e os pais não estão presentes. Isso é frustrante para os
miúdos. Não é em todos os casos, mas acontece em alguns.
Tendo em consideração a questão dos temas das formações, a escola
alguma vez fez um levantamento, junto dos pais, sobre as temáticas que
são importantes para eles e que gostariam de ver divulgadas e faladas no
contexto escolar?
As únicas hipóteses que formulamos nesse aspecto teve a ver com a
construção do Projecto Educativo em que, no ano passado, pedimos aos pais
que estavam na equipa, que também eram representantes dos pais, temas que
gostassem de ver tratados, acções de formação e, portanto, não houve
propostas.
O que acaba por seu curioso, não é?
Sim é muito curioso.
Das acções ou das actividades que as APEE vão tentando promover
pontualmente, como é feita a divulgação por parte delas?
(silêncio) As acções que são feitas têm mais a ver com festas.
Mas é feita essa divulgação?
(silêncio) Tem a ver com o que lhe indiquei há um bocado. Eles pensam
todos em termo de paróquia. Touguinha faz a festa e é para os de Touguinha e
convidam os elementos da Direcção. Não abrem aquilo, é como eu digo, eles
não conseguem pensar numa Associação de Pais como uma Associação de
todo o Agrupamento.
E trabalhar em parceria e equipa, não sentem essa necessidade?
Não, nada. Mas nesse aspecto tenho de dizer a verdade a Associação de
Touguinha até faz um bom trabalho, só que em termos de Agrupamento não
fazem nenhum. Só fazem o que diz respeito a Touguinha.
As actividades estão expressas ou apresentadas em algum documento,
como o Plano de Actividades do Agrupamento?
Não. Há alturas em que desejam fazer uma Festa de Natal ou como já há a
Festa de Natal da Escola eles podem participar e aí vai o Plano a Pedagógico.
É um Plano que é apresentado pela Professora da Escola com a colaboração
dos pais.
Em termos de autonomia ao nível dos Planos nunca tivemos nenhum
apresentado por eles.
Dessas actividades ou festas que eles vão fazendo para as suas
escolas, as experiências foram positivas ou negativas?
Uma questão é certa, Touguinha funciona bem e tem sempre muita gente e
participam muitos pais.
Costumam a envolver a comunidade local?
Aquilo é um meio pequeno e praticamente todos têm filhos ali na escola,
portanto vai quase tudo.
Será que podemos afirmar que a comunidade está mesmo envolvida?
Sim. São pais, avós, tios e levam as famílias por arrastamento.
Então podemos dizer que os resultados das actividades acabam por
ser positivos?
Em Touguinha sim.
Enquanto SD do AVEJ, se pudesse propor ou pensar em estratégias de
intervenção para as APEE, quais proporia?
(silêncio) Nós já tentamos tanta coisa que às vezes, a gente, já nem tem
ideias para uma resposta a uma pergunta como esta.
(silêncio) Por exemplo, houve uma altura em que a gente tinha uma
actividade que, embora fosse feita turma a turma, os responsáveis últimos
eram os pais. Eram chamadas de “Mesas de Outono”, em que cada turma tinha
que montar uma mesa e os pais é que ficavam encarregados por trazer coisas
para montar a mesa. Fizemos aquilo duas vezes e tivemos que acabar, porque
na última, a gente chegou a um ponto que ficou de boca aberta porque aquilo,
quer dizer… traziam rojões, papas, feijoada, mas era às panelas… depois
ficavam danados quando não era a sua mesa que ganhava. Criava-se ali um
ambiente de cortar à faca. (silêncio)
Daí a rivalidade que falava anteriormente?
(silêncio) Nós chegamos a um ponto que dissemos que o melhor era acabar
com aquilo. Embora fosse uma actividade que trouxesse os pais à escola,
tínhamos que acabar… (silêncio), até porque depois sobrava comida que era
uma coisa doída, as funcionárias diziam que era um desperdício tremendo.
Além do desperdício… (silêncio), ali o mais grave era que os pais participavam
naquilo com outro intuito – o de vencer. Isso não era um bom exemplo, não
era. Depois, ao menos, podiam disfarçar, mas não, no fim ainda demonstravam
desagrado e de uma forma, às vezes, um pouso deselegante e com
insinuações que não foram muito felizes. O júri tinha um professor, um aluno,
um funcionário e um pai e eles é que andavam a correr as mesas todas. Nós
não tínhamos nada a ver com aquilo… acho que tem tudo a ver com a história
das rivalidades. Essa actividade foi uma das que envolveu os pais, mas não me
pareceu ao fim de dois anos que fosse uma actividade que devêssemos
continuar. Aliás, no Pedagógico, todos e até o representante da Associação de
Pais que lá estava, consideraram que seria melhor não continuar porque o que
se passava não era muito bonito.
No dia do Agrupamento, dia trinta de Setembro, mandamos convite para
todos. Temos actividades o dia todo, temos venda de produtos hortícolas,
trazemos até um senhor, que também tem cá o filho, que tem um forno de
lenha e que participa em feiras, que está aí o dia todo a cozer pão, entre outras
coisas. Mesmo assim, temos a escola aberta, já chegamos a trazer ranchos e
tudo para ver se os trazíamos até aqui, mas a verdade é que nunca temos
assim muita adesão, não temos. Já prolongamos as actividades até às 19:30,
para ver se eles, pelo menos, vinham ao final da tarde, mas mesmo assim…
Nesse ano tivemos a preocupação de fazer actividades, sobretudo, voltadas
para os pais, mas nem a cem chegou, o que no universo de mil e quatrocentos
alunos não é nada.
Mas acha que os pais, em geral, preocupam-se com a escola?
Eu acho que eles não se preocupam com a escola, preocupam-se com o
que tem a ver com o filho e se o que tem a ver com o filho está relacionado
com a escola, aí preocupam-se.
Ainda agora estivemos a ver, naquela reunião que tivemos a semana
passada, chegamos lá e ficamos a saber que eles estão descontentes com a
cantina. A empresa mudou e os filhos chegam a casa a queixarem-se que a
comida não presta e que chega fria. Ora, nós é que convocamos a reunião,
nunca nenhum pai nos chegou cá a dizer uma coisa dessas. Se não
tivéssemos feito aquela reunião, nem sabíamos que eles estavam
descontentes com a comida. Nunca nenhum pai, não é, se um filho chega a
casa a dizer que se passa isto assim, deve deixar de ir à escola questionar o
porquê e dizer que se durante os outros anos eles gostavam da comida agora
não gostam o que se está a passar. Se eles estavam descontentes, a
obrigação deles era vir à escola e dizer que não estavam a gostar com o que
se estava a passar na cantina. Se não tivéssemos feito a reunião, nós nunca
saberíamos que estavam descontentes com a cantina.
Isto como eu digo é só um exemplo, mas que se alarga a outras coisas. Há
actividades que são feitas, por exemplo, há uma actividade que a Câmara
organiza todos os anos que é o Dia de Vila do Conde em que, geralmente,
todas as escolas participam, assim como, cada Agrupamento em que tem-se
que trabalhar um tema qualquer que englobe alunos, professores e
funcionários. Isto é em Vila do Conde, é à noite, geralmente a uma sexta-feira
ou sábado, pois a maior parte dos pais dos alunos que participam, nem sequer
vão ver. Não comparecem e depois nós temos que ter o cuidado de ver se os
pais comparecem para os ir buscar ou se temos que os levar a casa.
A escola é que tem que se encarregar pelos alunos. É isso?
Isto não é a totalidade dos pais. Alguns cumprem, mas são uma minoria.
Voltando ao tema central da nossa entrevista, podemos dizer que
algumas das APEE, excepto a de Touguinha e de Bagunte, existem
unicamente no papel porque não estão activas?
Sim, existem no papel porque não estão activas. A de Bagunte já indicou
alguém para o Conselho Pedagógico o que não é mau de todo. Esta acabou
agora de se formar e como nós não temos lá ninguém a representar nenhuma
Associação de Pais, pedimos se podiam indicar alguém.
Touguinha está activa, mas em termos paroquiais, mas as outras não.
E se tentássemos junto dos representantes das APEE, mesmo das que
estão inactivas, procurar perceber o porquê dessa inactividade e o que
levou a essa desmobilização, para assim tentarmos reanimar a
Associação de Pais do Agrupamento e terem uma AP que se preocupasse
e propusesse ideias e actividades. O que acha?
Eu acho uma excelente ideia. Eu até acho um disparate haver tantas
Associações de Pais no Agrupamento, até porque não é tão grande. Aquilo é
para estar no papel. Prontos … a maior parte deles não faz nada. Preferia ter
só uma Associação de Pais que fosse activa, dinâmica e que estivesse
presente quando a gente precisasse, além de ser capaz de dizer “olhem,
cuidado com isto ou com aquilo”, como o que se passou agora com as
refeições, mas não temos.
Mesmo a de Touguinha em termos de Agrupamento, se for alguma coisa
que diga respeito à Escola da Touguinha, aí eles vêm cá falar com a Direcção,
se for um problema que tenha a ver com outra escola já não querem saber.
Muito obrigado por ter colaborado nesta entrevista, os dados
recolhidos serão unicamente para estudo e não serão divulgados.
De nada e tomara nós arranjar uma solução para isto.
ANÁLISE CONTEÚDO ENTREVISTA A “SD” DO AVEJ
Categorias / Dimensões
Análise Excerto
Categoria - Apresentação
Identificação
SD tem 52 anos é formado em História. Exerce a actividade de professor acerca de trinta anos, dos quais dezoito foram em órgãos de gestão. No AVEJ desempenha funções directivas há doze anos.
“Idade 52 anos […] quanto às habilitações literárias tenho Licenciatura em História, pela Faculdade de Letras do Porto. Tempo de serviço cerca de trinta anos e desses trinta, dezoito foram em órgãos de gestão, sendo que aqui na escola são doze anos.”
Categoria - Associação de Pais e Encarregados de Educação
Utilidade
Considera que as APEE são importantes e que é necessário um envolvimento por parte de todos quando se fala em educação. Destaca a pertinência das regras e que estas devem ser transversais ao contexto escolar e familiar.
“Toda a gente sabe que as Associações de Pais e Encarregados de Educação são importantes, até porque educar é cada vez mais uma tarefa difícil e se não nos envolvermos todos na educação não adianta nada. Há um provérbio índio que me vem sempre à memória quando falo sobre as Associações de Pais, o célebre “para educar uma criança é preciso uma aldeia inteira” e, realmente, não adianta nada andarmos aqui com regras se os pais e a escola não pautarem a educação também por essas regras.”
Articulação
Sublinha que a articulação entre pais e escola é fundamental, mas que os pais deveriam ter um papel mais activo e demonstrar mais interesse.
“[…] é fundamental que os pais e a escola funcionem em conjunto e que puxem todos para o mesmo lado e, infelizmente, aqui não temos tido esse tipo de comportamentos.” “Não é que a gente tenha queixa dos pais, não é.
Há pais que nos dizem que não se interessam porque não têm problemas, mas o não ter problemas não é resposta nenhuma. Não têm eles, mas têm outros e, como fazemos parte da mesma divisa, todos temos que ajudar. Nesse aspecto, eu acho que os pais são um parceiro fundamental que deveriam ter um papel mais activo do aquele que têm.”
Categoria – Associação de Pais e Encarregados de Educação no AVEJ
Existência de APEE
No Agrupamento de Escolas da Junqueira existem cinco AP. Bagunte foi criada recentemente, Touguinha está semi-activa, Arcos, Rio Mau e a do Agrupamento estão paradas. Destaca que a do Agrupamento funcionou enquanto esteve o Engenheiro, mas que agora é difícil reactivá-la.
“Existem cinco Associações de Pais. Uma foi formada há pouco tempo […] é a Associação de Pais de Bagunte. Outra é a de Touguinha, é a semi-activa […] temos três que estão paradas que são a de Arcos, Rio Mau e a Associação de Pais do Agrupamento, que funcionou enquanto esteve à frente da Associação o Engenheiro, depois foi-se embora e, neste momento, não há meio de a pôr em funcionamento, nem resposta nos dão.”
Motivo da Constituição
Quanto ao motivo da constituição das APEE refere que este baseou-se, essencialmente, em rivalidades. Todavia a de Touguinha sempre evidenciou alguma dinâmica. A APAEJ formou-se porque havia um grupo de pais que considerava que deveria existir uma única Associação ao nível do Agrupamento e, chegaram mesmo, a fazer um estudo junto dos pais sobre o que estes pensavam acerca da escola e como poderiam envolver-se.
“As quatro que são de Freguesias diferentes tiveram a ver com rivalidades, nitidamente com rivalidades. Aliás, nós notamos isso em algumas medidas que quisemos impor e vimos a reacção em termos do 1º Ciclo.” “Há uma rivalidade muito grande […] se bem que a de Touguinha é mais antiga e os pais sempre revelaram, para com o Agrupamento, alguma dinâmica.” “A outra surgiu quando o Agrupamento foi formado com um grupo de pais que achou que deveria haver uma Associação só no Agrupamento todo […]
fizeram um estudo acerca do que os pais pensavam da escola e como poderiam envolver-se.”
Constrangimentos
Indica que existem alguns constrangimentos, nomeadamente ao nível da participação das AP, revelando que em Touguinha só se preocupam com o Jardim-de-infância e o 1º Ciclo. Não aparecem quando são convocados, nem se fazem representar no Conselho Geral, nem no Pedagógico, como acontecia com a antiga Direcção.
“Touguinha […] praticamente só se preocupam com o Jardim e a Escola do 1º Ciclo. Enquanto esteve à frente o Sr. Sérgio esse comparecia sempre às reuniões, estava sempre pronto para participar. Desde que ele saiu nunca mais se fizeram representar no Conselho Geral, nem no Conselho Pedagógico. A gente pode convocar, mas nunca aparece ninguém, mas acho que essa proliferação tem a ver com rivalidades entre Freguesias.”
Categoria – Movimentos Associativos
Movimentos Associativos
Locais e Nacionais
Segundo a informação que o Agrupamento tinha nas reuniões do Conselho Pedagógico, a APAEJ estava inscrita e representada em movimentos. Relativamente às outras APEE não detém conhecimento.
“A Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento estava representada e inscrita. As outras, muito sinceramente, não sabemos. A Associação de Pais do Agrupamento estava, pelo menos era o que o Engenheiro referia no Pedagógico quando dava conhecimento das reuniões.”
Categoria – Relação com o Agrupamento
Relação
Quanto à relação e postura das APEE com o Agrupamento, salienta que esta não é de parceria, mas também não sabe se a pode classificar de alheamento. O que constatam é que quando solicitadas ou convocadas as AP não dão resposta, tendo o Agrupamento que recorrer aos representantes dos pais nas turmas. Por sua vez, estes representantes dos pais nas reuniões também não questionam sobre as APEE, nem
“De parceria não é, infelizmente não é. Não sei se lhe hei-de chamar de alheamento. A única coisa que posso constatar é que, mesmo quando os convocamos para reuniões ou para indicarem elementos para representar a comissão com objectivos vários, quer seja do Projecto Educativo, entre outros, nunca nos aparece resposta.
Ainda há pouco tivemos a ver o Projecto Educativo e fazer a revisão do Regulamento Interno e socorremo-nos dos representantes dos pais nas
evidenciam interesse por saber se estão a funcionar em pleno ou não.
turmas, porque das Associações de Pais não veio ninguém.
Ainda esta semana fizemos uma reunião com os representantes dos pais e a verdade é que apareceram bastantes pais, não apareceram todos os representantes […] e ficamos com a impressão […] que eles vêm lá falar no que diz respeito aos filhos deles ou às Freguesias e, se isso atinge o Agrupamento então também diz respeito ao Agrupamento, se não, não. O mais engraçado é que nenhum dos pais falou sequer das Associações de Pais. Numa reunião de duas horas e tal ninguém quis saber se eles têm funcionado, se funcionam ou se não funcionam.”
Representatividade APEE
As APEE não têm voz activa. SD considera que as AP não conseguem agir e actuar pensando no conceito de Agrupamento, pois protegem-se e buscam interesses individuais. Espera que a APEE Bagunte, recentemente criada, seja o inverso das restantes.
“Não têm voz activa […] vamos lá ver se esta mais recente, a de Bagunte, consegue mexer-se mais um bocado, mas também fico com a impressão […] que a ideia é a mesma olhar pelo que diz respeito a Bagunte e não pensar em termos de Agrupamento. Em qualquer uma delas e, mesmo na do Agrupamento, a gente ficava sempre com essa impressão que eles não conseguem pensar no Agrupamento enquanto Agrupamento, querem é proteger o nicho deles e ver o que é que conseguem fazer em favor de.”
Mobilização
As estratégias de mobilização passam por quando há actividades organizadas pelo Agrupamento convidar as APEE. Por sua vez, quando são as APEE a concretizar acções convidam a Direcção do Agrupamento para
“Nós […] quando há alguma actividade convidámo-los sempre. Geralmente da parte deles só recebemos convites quando fazem alguma Festa de Final de Ano, algum Jantar. […] Em Touguinha fazem sempre muitas actividades, envolvem os pais
assistir, mas não para participar. […] e convidam-nos para assistir às actividades, não é para participar, mas sim para assistir.”
Categoria – Actividades
Actividades desenvolvidas
As actividades desenvolvidas são diversas tendo SD destacado o Dia do Agrupamento, Magusto, entrega de Prémios de Mérito Escolar, acções de formação, Mesas de Outono e o Dia de Vila do Conde.
“As acções que são feitas têm mais a ver com festas.” “Dia do Agrupamento e o Magusto, Prémios de Mérito Escolar, Acções de formação, Mesas de Outono, Dia de Vila do Conde.”
Acções de Formação
As acções de formação desenvolvidas até então foram sobre a Educação Sexual (organizada pelo PES) e os Perigos da Internet. A primeira contou com a presença e receptividade dos pais, tendo comparecido cerca de cem a cento e cinquenta pessoas. A segunda já não teve a mesma receptividade ficando aquém das expectativas, contando com a presença de três a quatro pais.
“Mesmo as acções de formação que a gente tenta promover para os pais, nunca têm muita adesão. Além de que, no ano passado, tivemos uma agradável surpresa […] a equipa do PES fez uma acção por causa da Educação Sexual e convidamos os representantes das turmas todas e as Associações de Pais […] apareceram cerca de cento e cinquenta pessoas.” “Há dois anos fizemos uma sobre os perigos da internet e pensávamos que era um tema que interessava a toda a gente, que íamos ter muita gente, de tal maneira que pedimos o auditório em Vila do Conde. Resultado, se não fossem os professores a sala ficava completamente vazia, pais só lá estavam entre três a quatro. Há coisas que realmente não se conseguem explicar.”
Auscultação dos Pais
Quando estavam a elaborar o Projecto Educativo, questionaram os representantes dos pais que faziam parte da Equipa sobre temáticas de interesse, não havendo propostas.
“ […] com a construção do Projecto Educativo […] pedimos aos pais que estavam na equipa, que também eram representantes dos pais, temas que gostassem de ver tratados, acções de formação e, portanto, não houve propostas.”
Divulgação Relativamente à divulgação das actividades “Eles pensam todos em termo de paróquia.
SD destaca que as actividades desenvolvidas têm a ver com festas e que as APEE, nomeadamente a de Touguinha, actuam em termos locais, não sendo capazes de alargar as actividades a todo o Agrupamento.
Touguinha faz a festa e é para os de Touguinha e convidam os elementos da Direcção. Não abrem aquilo, é como eu digo, eles não conseguem pensar numa Associação de Pais como uma Associação de todo o Agrupamento.”
Planificação
Planificação não existe. Acontece que quando desejam fazer/participar numa festa o plano vai a Conselho Pedagógico, mas é um plano que é apresentado pela professora evidenciando a colaboração dos pais. Em termos de APEE nunca tiveram um plano apresentado por eles.
“Não. Há alturas em que desejam fazer uma Festa de Natal ou como já há a Festa de Natal da Escola eles podem participar e aí vai o Plano a Pedagógico. É um Plano que é apresentado pela Professora da Escola com a colaboração dos pais.” “Em termos de autonomia ao nível dos Planos nunca tivemos nenhum apresentado por eles.”
Participação dos Pais
Relativamente à adesão dos pais às actividades indica: - Touguinha funciona bem e participam muitos pais; - Acção de formação sobre Educação Sexual tinha muita gente e os pais mostraram-se muito interessados; - Magusto não aparece muitos pais; - Dia do Agrupamento decorre actividades ao longo de todo o dia, mas não aparecem mais de cem pais, e os que participam são aqueles que têm filhos envolvidos nas actividades; - Entrega Prémios de Mérito Escolar acontece que, por vezes, estão a entregar os prémios e os pais não estão presentes; - Mesas de Outono era uma actividade que trazia muitos pais à escola, mas que terminou devido, sobretudo, ao desperdício de comida
“[…] Touguinha funciona bem e tem sempre muita gente e participam muitos pais.” Acção de Formação sobre Educação Sexual “muita gente, muita para além do que estávamos a contar e, sobretudo os pais mostrarem-se muito interessados.” “No Magusto não aparecem tantos, mas no dia do Agrupamento lá aparecem mais e a actividade é durante o dia todo. Se ao longo do dia vierem cem pais será muito e, se calhar, não vêm de certeza absoluta. Ora no Agrupamento temos cerca de mil e trezentos, mil e quatrocentos alunos, por isso não é nada significativo. Os que vêm são pais dos filhos que se envolvem na actividade.” Entrega “prémios de Mérito Escolar tem-nos acontecido haver alturas em que estamos a entregar os prémios e os pais não estão presentes.” “[…] houve uma altura em que a gente tinha uma
e ao facto de os pais participarem com o intuito de vencer; - Dia de Vila do Conde os pais dos alunos que participam na actividade nem sequer assistem, além de ser os professores que têm que responsabilizar-se por verificar se os pais estão presentes, senão têm que levar os alunos a casa.
actividade que, embora fosse feita turma a turma, os responsáveis últimos eram os pais. Eram chamadas de “Mesas de Outono” […] embora fosse uma actividade que trouxesse os pais à escola, tínhamos que acabar, até porque depois sobrava comida que era uma coisa doída […] era um desperdício tremendo […] ali o mais grave era que os pais participavam naquilo com outro intuito – o de vencer.” “há uma actividade que a Câmara organiza todos os anos que é o Dia de Vila do Conde […] todas as escolas participam, assim como, cada Agrupamento […] é em Vila do Conde, é à noite, geralmente a uma sexta-feira ou sábado, pois a maior parte dos pais dos alunos que participam, nem sequer vão ver. Não comparecem e depois nós temos que ter o cuidado de ver se os pais comparecem para os ir buscar ou se temos que os levar a casa.”
Comunidade local
A comunidade local está presente em grande parte das acções. Como são meios pequenos e grande parte da população tem filhos na escola acabam por envolver quase todos, mas alguns vão por arrastamento, nomeadamente a família alargada.
“Aquilo é um meio pequeno e praticamente todos têm filhos ali na escola, portanto vai quase tudo.” “São pais, avós, tios e levam as famílias por arrastamento.”
Categoria – Estratégias
Propostas Subdirector revela que já experimentaram diversas acções que já nem têm mais ideias de propostas de intervenção para as AP.
“ Nós já tentamos tanta coisa que às vezes, a gente, já nem tem ideias para uma resposta a uma pergunta como esta.”
Dificuldades Refere que existem dificuldades pois os pais não se preocupam com a escola, mas sim
“Eu acho que eles não se preocupam com a escola, preocupam-se com o que tem a ver com o filho e se
com tudo o que tenha a ver com o filho e se isso for transversal à escola aí preocupam-se.
o que tem a ver com o filho está relacionado com a escola, aí preocupam-se.”
Envolvimento das APEE
Sublinha que as APEE de Rio Mau, Arcos e a do Agrupamento estão inactivas e que existem no papel. AP de Bagunte já indicou um elemento para o Conselho Pedagógico e a de Touguinha está activa, mas em termos locais. Salienta que é despropositada a existência de tantas APEE num Agrupamento de pequenas dimensões, além de a maior parte delas não fazer nada. Era fundamental a existência de uma APEE que fosse activa, dinâmica e que estivesse presente.
APEE de Rio Mau, Arcos e a do Agrupamento “existem no papel porque não estão activas. A de Bagunte já indicou alguém para o Conselho Pedagógico […] Touguinha está activa, mas em termos paroquiais, mas as outras não.” “[…] Acho um disparate haver tantas Associações de Pais no Agrupamento, até porque não é tão grande. Aquilo é para estar no papel […] a maior parte deles não faz nada. Preferia ter só uma Associação de Pais que fosse activa, dinâmica e que estivesse presente quando a gente precisasse, além de ser capaz de dizer “olhem, cuidado com isto ou com aquilo”, como o que se passou agora com as refeições, mas não temos.”
ENTREVISTA ASSOCIAÇÃO DE PAIS E ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO DE BAGUNTE (APEEB)
Data: 4 de Abril de 2011 Hora: 17h30 Duração: 35:06
Local: Sede APEE Bagunte - EB1/JI de Vilar Bagunte
Entrevistador(a): Mestranda da ESEPF
Entrevistado(a): AC - Presidente da APEEB
Boa tarde! Esta entrevista insere-se no âmbito de um trabalho de
Mestrado que tem como tema a relação família, escola e comunidade. Irei
colocar-lhe várias questões relacionadas sobre a Associação de Pais e
Encarregados de Educação da Escola de Bagunte (APEEB). Aqui não há
respostas certas nem erradas. Espero que a entrevista corra bem e que
estejamos perfeitamente à vontade no decorrer da mesma.
Gostaria de começar por questioná-la sobre a sua idade, habilitações
literárias, profissão e o tempo de serviço, enquanto Presidente da
Associação de Pais da Escola de Bagunte.
Muito boa tarde! Eu agradeço o convite que me foi feito e espero, à
semelhança do que referiu, que a entrevista corra bem para ambas. Vou dar o
meu melhor e espero estar dentro das vossas expectativas quanto às questões
que me irão ser colocadas.
Eu tenho 35 anos, sou Licenciada em Psicologia, sou Psicóloga de profissão
e, enquanto Presidente da Associação de Pais, exerço este cargo desde a sua
constituição. É uma Associação recente, portanto desde o dia 23 de Setembro
de 2010.
É uma Associação bastante recente?
Muito. É muito jovem, ainda está a engatinhar.
Qual a importância que a AC atribui às Associações de Pais e
Encarregados de Educação (APEE) numa escola?
Tendo sido eu a pioneira da criação/constituição desta Associação de Pais é
óbvio que vou referir que considero que é extremamente importante uma
Associação de Pais dentro de um órgão, dentro de uma instituição, como um
Agrupamento de Escolas. Acho que é muito importante, dependendo também
da perspectiva que a Associação tem em colaborar ou não.
No caso da Associação de Pais de Bagunte, que é a que represento, acho
que é de extrema importância permitir uma articulação saudável entre os
órgãos de gestão e os pais que a constituem, os pais também são comunidade
educativa.
E cada vez mais importantes.
Eu acho que eles sempre foram muito importantes, nós passámos a dar-lhes
um estatuto diferente.
Há quanto tempo existe a vossa APEE?
Ela foi criada… as eleições foram a 23 de Setembro de 2010, foi quando eu
assumi as minhas funções enquanto Presidente desta Associação de Pais.
Foi um processo fácil?
Ora bem, não considero este tipo de exercício de constituir esta Associação
de Pais difícil, mas por ser algo totalmente novo em Bagunte, deparámo-nos
com as normais resistências: “O que é?”, “Para que serve?”, “Quem vai
representar?”, dúvidas. Após essa fase e depois de desmistificadas as dúvidas
considero que foi fácil. Acho que sim, foi fácil ter dado continuidade ao
processo, mas confesso que realmente a adesão dos pais tornou tudo mais
fácil.
Têm muitos associados na vossa AP?
Nós neste momento estamos, não lhe sei precisar ao certo quantos, mas sei
que rondam entre os 70 e os 75 associados.
São maioritariamente pais ou existe outro tipo de entidades?
Exclusivamente pais, pais ou então encarregados de educação, pode haver
uma ou outra situação em que … no caso não existe, o previsto é que sejam os
pais ou os encarregados de educação.
Na sua opinião, quais foram as razões que levaram estes pais a aderir à
vossa AP?
Ora bem, eu penso que na base estão os objectivos a que esta Associação
se propôs na altura da sua constituição. Eu acho que estes pais reflectiram-se
de alguma forma naqueles que foram os nossos objectivos e daí a sua adesão
à criação e à constituição desta Associação de Pais.
Sendo uma Associação tão recente, já que iniciou só a 23 de Setembro,
já tiveram algum tipo, alguma situação de renunciação?
Tivemos, quase no início, Setembro, em Dezembro por altura do Novembro/
Dezembro tivemos uma mãe que desistiu, sentia-se desmotivada. É política da
nossa Associação de Pais que não é condição obrigatória, está quem quer,
estamos para ajudar e se para aquela mãe foi importante desistir naquele
momento, teve o nosso apoio, como o terá quando resolver regressar, terá
sempre todo o nosso apoio.
Penso que deve ter conhecimento que existe a FAPCONDE e também a
CONFAP. A Vossa Associação está inscrita em alguma destas
Federações ou Confederações?
Ainda não. Ainda não.
Porquê?
Aliás, nós ainda não estamos até ligados à Rede Social, que considero que
é extremamente importante, a Rede Social de Vila do Conde. Como lhe digo,
nós estamos ainda a engatinhar, estamos a começar a dar os primeiros
passos, mas que leva tempo. Todos nós que fazemos parte dos órgãos da
Associação somos profissionais, temos a nossa vida também profissional e
familiar, temos responsabilidades. O nosso objectivo é o de uma vez
constituída esta Associação consolidá-la, mas de uma forma segura … um
passo de cada vez. Portanto, não há nenhuma razão em especial para não
estarmos inscritas na CONFAP ou na Rede Social, mas é algo que vamos e
está projectado para fazer.
Questionando-a sobre a relação face à escola, qual é a postura que a
vossa Associação tem vindo a adoptar ou a assumir?
A nossa postura é de parceria, de colaboração, de entendimento, de
articulação, são adjectivos que eu uso para referir-me àquilo que é a nossa
postura, a nossa premissa.
É de conhecimento geral que uma Associação de Pais nunca poderá actuar
à margem de um Agrupamento de Escolas, portanto é assumido pela nossa
Associação uma parceria que seja a mais profícua possível, com todos os
elementos, quer seja os próprios órgãos de gestão, quer a Coordenadora de
Escola, quer os Professores do estabelecimento de ensino que estejam ligados
obviamente às Escolas, aos estabelecimentos de ensino de Bagunte.
Então podemos dizer que as vossas estratégias baseiam-se,
essencialmente, no envolvimento e na parceria?
Exactamente, não diria melhor.
Em que tipo de situações é que os pais recorrem à vossa Associação?
Curiosamente eu acho que … curiosamente não há. Ainda nenhum pai
recorreu à Associação ou a um órgão da Associação para pedir ajuda, para o
que for. Não me recordo. Eu penso que nós estamos muito bem representados
pela Coordenadora do estabelecimento de ensino, penso que ela tem sido uma
peça fundamental, na medida em que consegue resolver as situações naquele
imediato e nem as passa para a Associação de Pais.
As dúvidas que eles têm colocam-nas em Assembleia e delineamos sempre
estratégias em conjunto. Sempre e sempre passando pela Coordenadora de
Escola e pelas Educadoras.
Que tipo de actividades, até então, desenvolveram?
As nossas actividades para já foram… nós fizemos, ora deixe-me pensar…
envolvemos… a nossa primeira actividade foi lindíssima, já é conhecida pela
Barraquinha da APEEB, portanto, nós em parceria com a Junta de Freguesia
fizemos parte da desfolhada com uma banquinha onde vendemos produtos
hortícolas. Fizemos à nossa responsabilidade o S. Martinho, fizemos um
lindíssimo Jantar de Natal, tudo a envolver os pais, sempre. Mais… fizemos
agora o Baile de Máscaras do Carnaval.
Todo o dinheiro reverte a favor da Associação de Pais, que tem como
principal objectivo depois responder às necessidades dos estabelecimentos de
ensino, que correspondem à Freguesia de Bagunte.
As nossas actividades foram um bocadinho também da parte educacional,
nós temos uma Professora de Música a dar aulas no pré-escolar. Eu considero
que a música no pré-escolar é extremamente importante, assim como o Inglês
no 1º ciclo, eu considero que em termos desenvolvimentais é muito bom para
as crianças, na memorização, na descodificação dos sons. Acho que é muito
importante e era uma das minhas lutas antes de haver a Associação de Pais e,
finalmente, foi conseguido graças, devo dizer, à colaboração e à
disponibilidade de uma Professora nossa conhecida que se disponibilizou para
estas aulas de Música e tem sido um sucesso. Eu acho que as crianças estão
a adorar.
Desenvolvemos também uma Acção de Formação sobre Higiene Oral onde
tivemos dois Enfermeiros. Foi-nos disponibilizado o Salão Nobre da Junta onde
tivemos dois Enfermeiros a falar sobre a Higiene Oral e acho que também foi
bastante interessante tanto para pais como para as crianças. Nós tentamos
que todas as nossas actividades sejam destinadas à presença de pais e filhos
no mesmo espaço.
Mas a adesão é grande ou fica aquém das vossas expectativas?
A única que ficou aquém das nossas expectativas foi a Acção de
Sensibilização da Higiene Oral. Foi num dia de inverno, foi em Novembro,
estava terrível, o tempo estava terrível, eu reconheço que não fomos felizes na
data, mas vamos repetir.
Todavia, essas actividades são definidas unicamente pelos elementos
da Associação ou também têm propostas dos pais ou de outros
elementos da comunidade, até da comunidade envolvente ao vosso
espaço escolar?
As decisões são tomadas em Sede de Associação, agora é evidente que
existe um…, a informação circula, as ideias, nós falamos sobre isto com
alguém, alguém sugeriu isto, trás à Assembleia, a Assembleia leva à discussão
e acredito que muitas ou algumas até das nossas actividades sejam
actividades que foram pensadas por pessoas extra Associação, mas que foram
trazidas à discussão por alguém que faz parte da Associação.
Essas actividades vão de encontro com as necessidades da escola,
dão resposta às necessidades existentes?
Em primeira mão, numa primeira abordagem, as actividades visam dar
resposta à aproximação dos pais aos filhos e vice-versa, que é essa a nossa
premissa. É tornar os pais mais presentes na vida dos seus filhos, sem ser
dentro de casa, em contexto de casa e na escola. As necessidades da escola é
algo que vem depois, ou seja, nós desenvolvemos a actividade envolvendo
pais e filhos em simultâneo, o dinheiro que advir dessa actividade é que é
convertido para suprir as necessidades reais da Escola.
Como é feita a divulgação das vossas actividades?
Das actividades? É feita através da afixação de cartazes, boca-a-boca, e-
mails. Nós estamos a pensar criar uma página na internet, estamos a pensar,
já foi decidido, já sabemos quem vai fazer, agora é preciso disponibilidade e
tempo para o fazer. Mas nós, nesta primeira fase, estamos a divulgar através
de panfletos de folhas A4 imprimidas a divulgar as actividades e a afixar nos
diferentes locais que vai desde Corvos à Aldeia Nova, Ponte de Árvore,
Santana, na Junta de Freguesia, na Escola, nos próprios edifícios, boca-a-
boca… os cafés também são um local de publicidade das nossas actividades.
As vossas actividades estão expressas em algum documento próprio,
fazem parte do Plano de Actividades do Agrupamento?
Não, não, não. Nós Associação de Pais de Bagunte temos um Plano de
Actividades Próprio, um Plano Anual de Actividades, que no inicio de cada ano,
reunimos os órgãos e definimos as nossas estratégias, aquilo a que nós
propomos a desenvolver ao longo do ano em diferentes eixos: social,
económico, educacional, em diferentes eixos. Por uma questão de ética,
damos conhecimento ao Agrupamento de Escolas da nossa pretensão, mas só
para que o Agrupamento conheça o nosso trabalho, aquilo que nós nos
propomos fazer num determinado momento da vida dos seus alunos, porque
eles podem ser os nossos filhos, mas são alunos de uma Escola, não é?
Portanto, eu acho que é ético da nossa parte e é assim que baseamos essa
parceria, partilha, pois é de bom senso dar conhecimento ao Agrupamento de
Escolas, à Coordenadora do estabelecimento de ensino aquilo que nós nos
propomos a fazer ao longo daquele ano lectivo, e é evidente que dessa forma
vamos logo passando a palavra e a mensagem de que caso for necessário
iremos pedir autorização. Houve eventos que tivemos que pedir o apoio da
Instituição e, caso contrário, também estaremos deste lado para ajudar no que
for necessário.
Têm algum elemento da Associação a representar o Conselho
Pedagógico?
Temos, temos. Na altura da constituição da nossa Associação de Pais
reunimos com o Director do Agrupamento que nos solicitou a nomeação de um
elemento da Associação de Pais para representar o Conselho Pedagógico,
está muito bem representado pela Fátima, que é a nossa associada, que
representa a nossa Associação no Conselho Pedagógico do Agrupamento de
Escolas da Junqueira.
Voltando à questão das actividades, costumam fazer avaliação das
actividades que realizam ou não?
É assim, fazemos sempre, mas… nunca fazemos. A avaliação vem ter
sempre connosco, portanto, ela é sempre avaliada, mas de fora para dentro e
não de dentro para fora. É curioso que após a realização de uma actividade,
nós somos contactados pelas diferentes pessoas, intervenientes que tiveram
acesso à actividade e dizem: “Correu muito bem!”, “Têm que repetir!”, “Foi uma
coisa fantástica!”, “Foi um momento extraordinário!”, “Têm que fazer mais
vezes!”, “Como é que se lembraram disto?”. Recordo-me por exemplo, na
actividade de Natal, em que trouxemos o Pai Natal a cavalo. A Associação de
Pais ofereceu uma prendinha a cada aluno e o Pai Natal veio com um saco,
mas veio a cavalo. Foi uma coisa inédita, foi algo que foi delicioso ver o rosto
daquelas crianças e daquelas Professoras que ficaram perplexas com esta
ideia … e acredito que esta ideia não partiu de ninguém de dentro da
Associação, foi alguém que teve essa ideia e alguém mandou essa ideia para
discussão e foi um sucesso. Não se falou noutra coisa durante quinze dias e,
portanto, estou bastante satisfeita com a avaliação que tenho, pelo menos o
feedback que me tem chegado. Quanto aos aspectos menos bons, que eu
tenha conhecimento, ainda não.
Tem conhecimento se existem mais APEE no Agrupamento?
Sim, sei que existem e conheço de ouvir falar, não que eu tenha intervindo
directamente com alguns dos elementos, mas se não estou em erro Rio Mau,
Arcos, Touguinha e é só, que eu conheça, que eu ouça falar, não sei...
Touguinha esteve… não se se ainda se mantém activa.
Houve um contacto de uns dos elementos, acho que de Touguinhó, não
quero precisar, no sentido de reactivar a Associação, mas até ao momento…
eu disponibilizei-me para o que fosse necessário, porque eu acho que a união
faz sempre a força e a força é aquilo que nos move, move tudo, move mundos.
Portanto, se todos trabalharmos para o mesmo fim, tudo torna-se muito mais
fácil.
Por acaso já surgiu a possibilidade de virem a fazer algum projecto em
conjunto entre as AP ou nunca pensaram nessa situação?
Ainda não está assentada, nunca pensamos nisso porque ainda temos que
nos conhecer a nós próprios, temos que dar tempo de nos conhecermos, de
dar a conhecer o nosso trabalho e só depois…, porque nós para fazermos
parcerias também temos que ser bons naquilo que fazemos, se não, mais vale
ficarmos quietos. Portanto, primeiro conhecermos e consolidarmo-nos, depois
sim alargar horizontes.
Enquanto Presidente de uma AP tão recente, mas neste momento tão
activa e com diversas acções, já pensou em alguma coisa de diferente a
realizar brevemente? Que estratégias de actuação?
Não, nós temos algumas actividades já planeadas para o final do ano, mas
assim de diferente, assim algo que saia do comum não, para já não. Estamos a
caminhar lenta, mas seguramente. Quando pensarmos em algo será, acho que
será todos em uníssono, que é esse o meu objectivo, todos em uníssono e isso
ainda não se propôs, acho que temos que nos conhecer melhor.
De todos os aspectos que fomos falando, gostaria de acrescentar
alguma informação relevante a esta entrevista?
Sim, há algo que eu gostaria de falar. Apenas desejava referir, porque eu
acho que é muito importante, na altura quando me falou dos objectivos, do
porquê de constituir uma Associação de Pais, aqui em Bagunte, e eu ter-lhe
dito que é algo que é inédito, portanto é algo que nunca se fez.
Tendo em atenção as nossas premissas, aquilo que é a missão a que nós
nos propusemos, foram vários os objectivos que estiveram envolvidos na
decisão da constituição da Associação de Pais, dos quais se destacam o
desenvolvimento de uma cultura de participação activa, junto dos elementos
que constituem a comunidade educativa, para desta forma contribuir para uma
escola de sucesso, dando sentido e significado à expressão comunidade
educativa.
A participação dos pais no percurso dos filhos tem que ser cada vez mais,
tem que ser mais activa, mais pró-activa também, no sentido de darmos
respostas também aos desafios que a própria Escola e o próprio sistema
educativo nos coloca. Desta forma, havendo uma Associação, os pais não se
sentem tão perdidos, tão à margem, andam mais organizados e, desta forma,
também contribuímos para o desenvolvimento biopsicossocial dos nossos
alunos. Portanto, estamos a tentar apostar no desenvolvimento biológico deles,
no social e também no psicológico que é extremamente importante, porque as
crianças são um todo, são a família, são as suas vivências, são as suas
experiências, são a cultura em que estamos desde que nascemos. Por isso, faz
parte do sujeito e se nós pudermos envolver tudo, mexer em tudo, em todas as
estruturas, será mais fácil fazer com que estas crianças cresçam de uma forma
sã e segura.
E a comunidade envolvente também tem um papel muito importante?
Muito, extremamente importante, extremamente importante. Acho que tem
sido uma base, uma pedra basilar, na construção desta própria Associação de
Pais.
Por curiosidade, tem conhecimento das representações que os pais
destes alunos têm acerca da escola?
São pais bastantes heterogéneos. Há uma grande heterogeneidade no que
diz respeito à idade dos pais, às origens, para uns o sistema educativo não é
novidade e traquejam… há um grande traquejo, verifico que há pais que lidam
com Professores, são pais que são licenciados, tem filhos mais velhos que já
lidaram com o sistema de ensino, como é que as coisas funcionam. Há outros
que não têm essa experiência, nem sabem a quem recorrer numa situação de
pedido de ajuda ou se realmente as decisões passam só pelo órgão de
Direcção ou se eles também tem um papel importante. Muitos deles não tinham
noção de qual era o seu verdadeiro papel dentro do sistema educativo. Os pais
são extremamente importantes, são uma peça fundamental deste puzzle, são
uma peça fundamental.
Então como é que os pais vêm a escola, a escola serve para quê?
A Escola serve para educar, eles só vão lá para aprender. Os pais viam a
Escola como isso, é para aprender, eles vão lá para aprender. Mas a Escola é
muito mais do que isso, os pais são muito mais do que pais, os pais também
são educadores. Não são só os Professores que são educadores, os pais
também têm que ser educadores.
E têm de se inteirar da educação da criança a todos os níveis,
principalmente ao nível biopsicossocial, como referiu anteriormente?
Exactamente.
Agradeço a sua disponibilidade para esta entrevista e o facto de ter
colaborado na recolha da informação, que é muito importante para o
trabalho de estudo que está a ser efectuado. Toda a informação será
confidencial. Se desejar a transcrição da entrevista será facultada. Mais
uma vez obrigado pela sua receptividade e disponibilidade.
Obrigada eu. Espero que tenha contribuído para o vosso trabalho e que a
informação seja útil.
Muito obrigada!
De nada.
ENTREVISTA ASSOCIAÇÃO DE PAIS E ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO DE TOUGUINHA (APEET)
Data: 7 de Maio de 2011 Hora: 17h Duração: 50:53
Local: Junta da Freguesia de Touguinha
Entrevistador(a): Mestranda da ESEPF
Entrevistados(as): NS – Presidente da APEET
JS – Vice-presidente da APEET
Boa tarde a ambos!
Boa tarde!
Agradeço desde já a vossa disponibilidade para esta entrevista, como
já referi anteriormente ela está inserida no âmbito de um trabalho de
Mestrado que tem como tema a relação família, escola e comunidade. É
de salientar que toda a informação divulgada por V. Exas. irá ser utilizada
unicamente no âmbito do trabalho de Mestrado/estudo a efectuar e que
não existem respostas certas nem erradas.
Como estou diante de dois elementos importantes da Associação de
Pais e Encarregados de Educação da Escola de Touguinha (APEET)
começava por os questionar acerca dos respectivos dados de
caracterização de ambos iniciando pela idade, as habilitações literárias,
profissão e o tempo de serviço, enquanto elementos que fazem parte da
Associação de Pais e Encarregados de Educação (APEE).
NS - 35 anos, casado e com três filhotes (risos)… por isso é que estamos
aqui nesta Associação. Tenho Licenciatura em Comércio Internacional, sou
Gestor de Clientes e estamos na Associação de Pais acerca de um ano, desde
que começou este ano lectivo.
JS - 44 anos, dois filhos, Vice-presidente da Associação de Pais da Escola
de Medados – Touguinha, casado, dois filhos a frequentar a Escola de
Medados, um no 2º ano e outro no Pré-escolar. Tenho Licenciatura em
Teologia e sou Professor.
De um modo geral, qual a importância que atribuem a uma APEE?
NS - (Silêncio) Acho que se baseia muito no apoio que nós possamos dar
como pais para o bom funcionamento da escola. O nosso objectivo, pelo
menos o meu e penso que o dos colegas que fazem parte da Associação que
é… nós candidatamos para podermos ajudar os nossos filhos naquilo que falte
à escola e que não é pouca coisa. Acima de tudo tentar dar o apoio através de
coisas práticas que fazemos e que o Joaquim depois pode falar. Isto não só ao
nível do apoio financeiro, mas também a outros níveis, por exemplo, o segundo
ano ficou sem Professora, esta faltava e a Associação de Pais pós os pés ao
caminho e tentou resolver o problema com o Agrupamento. A nossa ajuda
baseia-se muito no apoio que damos à escola e no apoio ao nível monetário.
JS – A Associação funciona um bocado como uma ponte entre pais e
Professores. Diminui um bocado o trabalho aos professores porque não
precisam de estar constantemente a contactar os pais para diversos fins, esse
trabalho fica a cargo da Associação e funciona também para o lado dos pais,
porque qualquer coisa que seja necessário sabem que têm uma Associação
que os defende, protege, que intervém junto da escola, Professores e do
Agrupamento em função dos alunos desta escola.
Já tivemos vários exemplos em que realmente demonstramos a nossa
importância, a Associação estabelece esta ponte, pois temos muitos pais que
saem cedo para o trabalho e não têm onde deixar os filhos, não têm nenhum
familiar perto que possa assegurar a entrega dos filhos na escola no começo
do tempo lectivo e ai é a Associação que assegura uma pessoa, a quem paga
para fazer aquilo a que chamamos de prolongamento, ou seja, assegurar a
segurança e o bem-estar dos alunos na escola enquanto não chegam os
Professores e as aulas não começam. Este trabalho é desenvolvido pela
Associação, pois fomos nós quem arranjou uma pessoa, minimamente
qualificada para garantir alguma qualidade daqueles trinta, uma hora ou hora e
meia em alguns casos ao início do dia e ao final do dia, porque os pais às
vezes não os podem levar às nove horas, também não podem ir buscar às
cinco e meia que é quando termina o horário lectivo e ai é necessário
assegurar até ao momento em que os pais possam.
Todo esse trabalho é feito pela Associação e quem diz esse também diz
outros no âmbito de questões que vão surgindo ao longo do ano lectivo,
nomeadamente este ano, por exemplo, houve a situação de uma Professora
que estava a faltar e os pais dessa turma de 2º ano estavam preocupados com
isso, pois viam os alunos a “andar para trás” e, nós, agimos dentro do que era
possível fazer-se junto do Agrupamento, junto da equipa de apoio à Escola do
Agrupamento com quem entrei em contacto também, no sentido de acelerar o
mais possível o processo e que, brevemente, tivéssemos uma Professora na
escola a desempenhar funções e a garantir o ensino dos nossos educandos.
Portanto, a Associação tem este papel.
Nós sabemos que é dito que o ensino público é gratuito, mas não é gratuito.
Nós pagamos tudo o que a escola usa. O Agrupamento recebe uma verba da
Câmara porque a responsabilidade económica do 1º ciclo é das Câmaras, mas
nem sei se essa verba chega à Escola se não.
NS - O Agrupamento diz que não tem dinheiro suficiente para cobrir todas as
necessidades e quando falamos em necessidades falamos de coisas básicas,
pois muitas vezes não há papel higiénico para os alunos, não há lixívia para
lavar as casas de banho.
JS – Portanto, o nosso suporte vai daí até às fotocópias, materiais que usam
no Pré-escolar e no 1º ciclo. Tudo o que possa imaginar, à excepção dos livros
escolares, porque isso é da responsabilidade dos pais, tudo o resto é
assegurado pela Associação de Pais.
NS – Quando dizemos assegurado, dizemos em caso de falha não é
constante, são situações pontuais. Temos situações em que a Coordenadora
pede dez unidades e mandam-lhe uma, aqui estamos a falar desde clipes a
rolos de papel higiénico, englobamos tudo. Já me vieram pedir se podíamos
comprar papel higiénico e eu disse: “Porquê? Isso não é o Agrupamento que
tem que dar?”
Há coisas que não têm lógica, mas a nossa Associação de Pais ainda bem
que é constituída por pais de miúdos que frequentam a escola, porque se fosse
constituída por pessoas que não têm filhos na escola, se calhar, a visão era
diferente, e também foi isso que levou a antiga Associação abdicar porque eles
já não tinham ligação.
O que estamos a fazer é um serviço público, não é remunerado, mas temos
a nossa ligação à escola, pois temos os nossos filhos lá, temos a obrigação de
que os nossos e os outros se sintam bem.
Então os fundamentos e objectivos da constituição da vossa AP mfoi
mesmo o facto de terem os vossos filhos integrados nesta escola,
quererem acompanhá-los, estar atentos a todos os problemas como aos
aspectos positivos que vão acontecendo, ou seja acompanhar a
educação dos vossos filhos?
JS – Sem dúvida. Além de não querer que por razões económicas ou que
por falta de acompanhamento do Agrupamento ou outras situações, deixassem
de fazer determinado tipo de coisas por não terem materiais ou condições e,
por isso, abraçamos esta causa em Setembro, no início do ano lectivo.
Isto é difícil. É difícil as pessoas chegarem-se à frente, o mais fácil é as
pessoas dizerem que os outros são quem tem mais tempo porque eles têm a
vida sempre ocupada. Todos aqueles que fazem parte desta Associação e que
têm trabalhado nesse aspecto podemos dizer, que não é só número, mas que
são pessoas que quando a gente convoca para esta ou aquela actividade
aparecem, estão presentes e trabalham.
NS – Todos temos a nossa vida. Uns trabalham mais do que outros, nem
sequer é isso que está em causa, mas o que acontece cá na Freguesia,
infelizmente, é que a motivação para qualquer coisa não é muita. Eu não sou
de cá, o meu cunhado também não é de cá, as nossas esposas é que são e
nós é que estamos à frente da Associação de Pais, estamos na Direcção da
Associação Cultural, não fazemos parte da Junta, mas apoiamo-la. As mesmas
pessoas estão inseridas em tudo o que se faz nesta Freguesia. O Ex-
presidente da Associação é o Tesoureiro e Secretário da Junta, ou seja, são
sempre as mesmas pessoas que estão envolvidas em diversas Entidades e
Associações.
Tem muitos Associados a vossa AP?
NS – Não tem o número de miúdos que estão nas escolas porque há pais
que não pagam e ainda criticam o trabalho que é feito. A Associação cobra
cotas e cobra-se do prolongamento, as cotas servem para este apoio que
prestamos à Escola e para pequenos materiais que são precisos, mas todos os
meses, na última semana de cada mês, estamos aqui dois sábados a receber.
Os miúdos recebem uma carta, recebem os meus, os do meu cunhado, aqui
todos recebem por igual. Os meus filhos dizem “nós não precisamos pai” e eu
digo “ vocês levam na mesma porque vocês não são diferentes”, porque aqui
não há distinção em nada. Mas também temos cá quem não pague.
JS – Quando fala em associados fala no sentido oficial? Nós não temos
esse tipo de sistema de quotização ou de sócios, mas pelo que se percebe e
pela prática cada pai sente-se membro desta Associação. Temos pais que
pagam quotas e essas quotas são um meio para podermos ajudar a Escola,
aqui todo o dinheiro recebido é investido na Escola, se sobrar de um ano fica
para o ano seguinte.
O valor que os pais dão à Associação é um valor fixo ou dão consoante
as suas possibilidades?
NS e JS - É um valor fixo.
JS - O sistema de prolongamento é que é à parte, porque é um valor retirado
do número de alunos que fazem parte desse prolongamento para pagar à
pessoa que fica com eles.
NS - Nós dizemos à pessoa que pagamos x por dia e esse x por dia é
dividido pelo número de alunos, aqui quantos mais miúdos houver, os pais,
menos pagam pelo prolongamento.
A vossa AP integra alguma entidade extra-escola ou somente pais e
encarregados de educação?
NS e JS - Somente os pais.
Já alguma vez tiveram situações de renunciação por parte dos pais?
NS – Renunciação não, mas há pais que não pagam.
Sendo uma Associação recente têm conhecimento da existência da
FAPCONDE e da CONFAP? Estão inscritos em alguma destas Federações
ou Confederações?
JS – Temos conhecimento, mas não estamos inscritos porque não estamos
legalizados. A nossa Associação tem os Estatutos, mas não estamos
oficialmente legalizados. Na última reunião que tivemos ou numa das primeiras
até chegamos a pensar se devíamos legalizar-nos ou não, tentamos analisar
os prós e os contras, mas ainda estamos em análise.
NS – É preciso ainda mais tempo, mais do que aquele que nós temos para
tratar da legalização… não temos número de contribuinte, devíamos estar
legalizados se calhar na CONFAP, mas para isso é preciso ter mais tempo é
preciso alocar mais recursos, até porque se tivéssemos legais poderíamos
passar recibo do que recebemos, mas para isso temos que ter número de
contribuinte, temos que ter contabilidade e não estou a ver os pais a quererem
pagar mais 5€ por mês ou outro valor, só porque a Associação tem que estar
legal e tem que pagar os seus recibos. Não sei se é esse o objectivo da
Associação de Pais cá em Touguinha.
Já percebi que enquanto AP vocês têm uma postura de grande
proximidade e grande relação com a escola. Neste sentido, gostava de
saber quais as estratégias que vocês utilizam para mobilizar diferentes
agentes educativos e que fazem parte da comunidade que passam pelos
pais, professores e até mesmo os alunos?
JS – Temos o nosso Plano Anual de Actividades onde tem um conjunto de
actividades que organizamos ao longo do ano, como a Festa de Natal, Festa
de Final do Ano, Carnaval e Magusto. Estas Festas fazem parte do Plano
Anual de Actividades porque são feitas em conjunto com os Professores, aliás
até são acertadas datas do que se vai fazer, portanto, estamos sempre em
contacto directo com os Professores e a Coordenadora do Estabelecimento.
Essa é a nossa estratégia o contacto directo.
NS – Criamos a proximidade, nós como vamos todos os dias à escola, se
não vou eu vai a minha esposa, se não vai o Joaquim vai a minha cunhada…
nós estamos perto da escola e precisamos de ter contacto com as pessoas.
Muitas vezes, a Professora Julieta, que é Coordenadora, liga-me a dizer que
precisa de cartolina porque os miúdos vão fazer uma actividade e não têm
cartolinas na escola e se houver dinheiro a Associação disponibiliza para a
aquisição do material.
JS – Muitas vezes também acontece o contrário, por exemplo, por vezes
somos nós que dizemos que estamos a pensar organizar a Festa de Final de
Ano e gostaríamos de saber a data em que a escola termina, qual a melhor
data para fazer a festa.
NS – Tudo é organizado em conjunto, nunca somos nós que preparamos
tudo nem são eles que fazem tudo. Eles treinam com os miúdos e nós
preparamos o resto… desde os cenários, falamos com o Padre porque a
actividade é aqui no salão, preparamos o lanche, as prendas de Natal para os
miúdos, o Pai Natal, ou seja, só com esta relação de proximidade e
complementaridade é que é possível.
Com o Agrupamento, órgão de gestão principal, também existe esta
relação de proximidade ou há mais burocracias?
NS – Há mais burocracias, porque já solicitei uma reunião em Dezembro e
ainda não me responderam. Entretanto na Festa de Natal fizemos questão de
convidar o Professor José Henriques e os restantes membros da Direcção do
Agrupamento a virem cá à Festa e, pela primeira vez, acederam, vieram e
agradeceram muito. Só que eu acho que havia… nós não somos um órgão
legal, mas a nossa função também não é complicar mas sim simplificar. Nós
estamos aqui para simplificar tudo o que seja Escola/Agrupamento,
Escola/Pais, Pais/Agrupamento. O nosso objectivo é ajudar e não estamos cá
para complicar nada. Estamos aqui para ajudar os nossos filhos a terem uma
boa escola e para ajudar os pais das crianças que andam na escola a não se
preocuparem com nada que tenha a ver com o bom desenvolvimento da
escola, mas nós não somos legais, não fazemos parte do Ministério da
Educação, não temos que ter ligação sequer com o Agrupamento,
teoricamente nós não deveríamos ter ligação com o Agrupamento. A única
ligação que nós temos, e temos que ver, é que nós temos um membro da
antiga Associação que fazia parte do Conselho Geral e que ainda se mantém,
já não faz parte da Associação e ainda se mantém como membro.
JS – Neste aspecto tenho uma opinião reservada porque sou Professor
também. Nesta questão de Agrupamentos e avançando para os ditos mega-
agrupamentos tenho sérias reservas sobre isso. Eu faço parte de um Órgão da
Escola, o Conselho Geral do qual eu sou Presidente, portanto, se não fosse o
facto de eu ser Presidente do Conselho Geral eu não conhecia as Escolas que
fazem parte do meu Agrupamento. Conheço-as porque muitas vezes em
função do comprimento do papel que desempenho vou visitá-las e círculo por
elas, mas para os colegas ninguém sabe quais são as escolas. Neste
Agrupamento é a mesma coisa há esse desfasamento, se formos à Escola
Sede da Junqueira e se perguntar se alguém conhece a Escola de Medados,
algum Professor inclusive, pessoal de cá que faz parte dos Órgãos de Gestão
de lá, Conselho Pedagógico, Conselho Geral, Comissão Executiva (acho difícil
algum não conhecer pois seria muito mau), mas a maior parte nem sequer
conhece nem sequer saberá onde fica Touguinha. Por isso tenho sérias
reservas e acho que não funciona bem.
Sendo pais preocupados e atentos com o que passa na escola e com a
educação dos vossos filhos, sentem que os outros pais também recorrem
à AP só quando há problemas ou necessidades? Em que situações é que
isso acontece?
JS – Recorrem, como lhe disse naquela situação que lhe contei ainda há
pouco sobre a substituição da Professora. Foram inúmeros os pais que
sabendo que eu fazia parte da Associação e, tendo o meu filho lá também, me
questionavam sobre o que íamos fazer, se podíamos fazer alguma coisa,
inclusive davam sugestões, portanto procuram-nos.
NS – Há dois anos tivemos uma situação ainda mais complicada ou melhor
não era mais complicada queriam tirar uma turma de cá.
JS – Era uma questão de organização do Agrupamento. O Agrupamento
tinha decidido por ele próprio tirar uma turma daqui e mandá-la para
Touguinhó. Não sei se conhece a Escola de Touguinhó, mas é uma Escola
mais pequena, com cantina mais limitada e a nossa oferece melhores
condições, portanto, os pais do 1º ano e toda a Escola esteve unida nesse
sentido de ir contra a mudança dessa turma daqui, inclusive porque o número
de alunos daqui era maior do que o número de alunos que estava lá, portanto
tinha mais sentido vir os de lá para cá. Com o empenho da Associação de Pais,
não éramos nós, mas sim a Direcção anterior, conseguiu-se manter as quatro
turmas a trabalhar e a Escola a funcionar em pleno.
Os pais estão atentos, procuram-nos, são figuras activas e propõem se caso
for necessário e se a gente precisar deles dar-nos-ão o seu apoio de certeza.
Passando para as actividades, embora já fôssemos falando sobre
algumas, vocês têm várias acções que vão realizando ao longo do ano
que são definidas entre a AP e professores tendo em conta a opinião de
cada um e o que é importante para a escola. Todavia não há outras
pessoas que dão opiniões de actividades, elas surgem unicamente da AP
e dos professores?
NS – Em termos de Festas que já estão pré-programadas parte da
Associação e dos Professores. De outras actividades depende um pouco, mas
é unicamente a Associação a propor aos Professores ou vice-versa.
Qual o papel dos restantes pais relativamente às actividades? Eles
participam ou não? Acham que as actividades são importantes?
NS – Podemos dar o exemplo da Festa de Natal. Cada miúdo estava
convidado a trazer um bolo ou algo para completar uma mesa de lanche para
no final da Festa haver um convívio e os pais aderiram. Foi tudo feito sem que
a Associação de Pais tivesse que pagar, assim como os pais. No final viam-se
pais que não faziam parte da Associação a ajudar a arrumar.
Então quer dizer que a comunidade também actua e colabora?
NS – Sim, mas quer dizer, são sempre as mesmas pessoas que ajudam.
JS – É uma comunidade participativa, eu acho que nessa actividade de
Natal cerca de oitenta por cento dos pais contribuíram com alguma coisa para
o lanche e estavam lá. Para arrumar foi um grupo que passou além da
Associação de Pais.
Relativamente a sugestões de actividades, principalmente actividades
inovadoras daquelas que não se costumavam fazer, este ano dentro da própria
Associação surgiu uma ideia nova e se tivermos dinheiro vamos tentar realizar
no final do ano. Como o quarto ano é uma turma finalista queríamos
proporcionar um passeio, um dia diferente a esses miúdos, não ir muito longe
porque são uns miúdos relativamente pequenos, mas passar um dia num
espaço que temos aqui perto, o RATES PARK, e passar ali um dia fabuloso
com eles, iríamos os elementos da Associação de Pais a representar, os
Professores de Turma e a Coordenadora de Escola.
Então podemos dizer que as actividades realizadas vão de encontro
com as necessidades reais da escola?
JS – Sem dúvida e nos momentos marcantes da escola, final de período,
Natal, final de ano.
Como é que fazem a divulgação das acções?
NS – Normalmente é por entrega na Escola de um papel que é dado a cada
aluno e que põem na caderneta para entregar aos pais.
JS – É uma comunicação sempre escrita.
Nos locais mais conhecidos da vossa comunidade não costumam fazer
a divulgação com cartazes, panfletos?
NS – Não o que fazemos é pôr à entrada da Escola.
JS – Também são sempre actividades direccionadas para a comunidade
escolar, seja a comunidade no sentido docente ou discente ou de família,
portanto pouco sentido teria divulgar pela comunidade.
Costumam a fazer avaliação das vossas actividades? Como é que ela é
feita?
NS – Isso vê-se no sorriso das crianças e se eles gostarem dizem que
gostam e se não gostarem também dizem que não gostam. Avaliação
concreta… não fazemos, não faz sentido fazermos avaliação. A avaliação é…
na Festa de Natal, por exemplo, os miúdos ficaram radiantes com a Festa, os
pais gostaram da Festa, demos as prendas, no final apareceu o Pai Natal e a
conclusão é que eles adoraram.
JS – Não temos tempo para isso.
Mas, por exemplo, não têm pais que vão ter convosco e dizem
determinado tipo de expressões como “a actividade foi excelente, vocês
demonstraram …”?
NS – Dar valor não é muito habitual nesta Freguesia.
JS – Sim há. Eu recordo que na Festa de Natal houve pessoas que deram
os parabéns e disseram que “eu gostei de terem posto como apresentador por
cada ano pais de miúdos daquele ano”. Deram dicas de que as coisas tinham
corrido bem, que tinha sido da satisfação deles o que tinham observado, não
foi um feedback de oitenta por cento como para a contribuição do lanche, mas
houve feedback. Todavia não quer dizer que no final do primeiro ano de
mandato não façamos um balanço das actividades e se calhar vamos fazer.
Reflectindo acerca das AP do Agrupamento, vocês têm conhecimento
da existência de mais alguma AP?
NS – Tenho de mais uma.
JS – Bagunte, a própria Escola Sede também deve ter.
Deve ter?
NS - Deve ter já diz tudo, não é?
Qual o motivo de tal desconhecimento?
(silêncio)
JS - Porquê? É uma boa pergunta? Foi-lhe fácil entrar em contacto
connosco?
Quando efectuei a entrevista a SD, Subdirector do Agrupamento, ele
facultou as moradas com a condição de não ter a certeza de estarem
correctas ou não, todavia enviei na mesma as cartas com aviso de
recepção e fui controlando pelos CTT. Além de ter tomado a iniciativa de
contactar as Coordenadoras das Escolas e fui conseguindo os contactos
dos representantes, que no caso da APEET consegui o contacto do
presidente.
NS – A nossa veio para aqui, porque a nossa morada é Rua Silva Gomes
que é a Junta, nós não temos Sede própria e usamos a Junta.
JS – Isto para lhe dizer que nós existimos e que sabem da nossa existência,
se nós não sabemos dizer de outras é porque nunca nos puseram frente a
frente ou numa reunião geral. Na minha experiência enquanto professor, na
minha escola eu faço ao contrário, eu convido para.
NS – Acho que deveria haver… se calhar poderíamos ser nós a promover
isso, mas acho que para além de convidar deveria ser o Agrupamento a
promover o intercâmbio entre as várias Associações e se eles dissessem que
“estes senhores vêm para nos facilitar e para nos ajudar”… porque deveriam
ver-nos como um aliado. A Direcção da escola deveria ser mais pró-activa.
Como não existe um grande conhecimento acerca das AP, alguma vez
houve a existência de projectos comuns?
JS – Não.
Agora lançava um desafio, se pudessem propor/pensar em estratégias
de actuação para a vossa AP, quais é que seriam?
JS – O que eu vejo como grande desafio, uma grande estratégia seria, por
exemplo, promover a partir das diferentes Associações ou das escolas que não
tivessem Associação a Coordenadora de Estabelecimento uma actividade ou
um dia de actividades conjunto de Agrupamento na Sede do Agrupamento,
seria interessante concentrar num dia de Festa, por exemplo Final de Ano ou
comemoração de uma data significativa concentrar todos os miúdos do
Agrupamento na Escola Sede e com eles realizar um conjunto de actividades…
sei lá… desportivas, variadas com os miúdos, acho que seria assinalável e
seria um desafio.
Com os pais, não vejo mais o que se poderia fazer, quer dizer poderá haver
mais com certeza, mas assim de momento não sei mais o que poderíamos
fazer para, não estou a ver.
O grande desafio seria então uma actividade conjunta com todo o
Agrupamento?
JS – Sim, até no sentido de unificar pois sabemos que fazemos parte de um
Agrupamento e devemos demonstrar que somos realmente um Agrupamento.
NS – Deveria haver uma interligação mais próxima com o Agrupamento.
JS – E seria uma forma até das Associações estarem presentes, sem dúvida
nenhuma. Serem convidadas, estarem presentes, participar na organização e
nas actividades.
Para terminar gostaria de lançar a última questão. Na vossa opinião
quais são as representações que os pais têm acerca da escola? Para que
serve a escola? O que é que a escola pode fazer pelos seus filhos?
NS – A resposta vai ser muito condicionada, porque o meu cunhado é
Professor e a minha esposa é Professora. Neste momento eu vejo que os pais
querem, nem todos, mas a maior parte dos pais pensam que a escola tem que
ser o garante da educação dos filhos e tem que ser a escola a dar a educação
que os pais não dão em casa aos filhos. Ainda há duas semanas falava sobre
isto com uns amigos e chegamos todos à mesma conclusão.
Lembras-te (dirigindo-se para o Vice-presidente) daquela reunião que tive no
Agrupamento com os representantes dos pais, mais ao menos dois, três
meses… um Professor queixava-se que as notas estavam a baixar muito e a
justificação de um pai foi que “eu não consigo que o meu filho estude, porque
ele chega a casa…” eu pedi a palavra e só disse uma coisa “eu quando
estudava, quando era miúdo… primeiro tinha medo dos professores, segundo
tinha medo dos meus pais, ou melhor, primeiro tinha medo dos meus pais e em
segundo dos meus professores, terceiro queria e tinha orgulho em ter boas
notas”. Os miúdos agora não chegam a casa e… dou o exemplo que a minha
esposa tem prático… o miúdo chega a casa e diz ao pai que a Professora lhe
tirou o teste e o pai vai à escola pedir satisfações à Professora que era a minha
esposa, ela perguntou ao miúdo “queres que vá chamar a tua turma para
explicar ao teu pai o que se passou?” e o miúdo olha para o pai e diz “pai a
Professora avisou-me três vezes para eu não copiar e à quarta tirou-me o
teste”. Os pais tem que dar primeiro educação aos filhos em casa e só depois
preocupar-se com a escola, porque a escola serve para ensinar. Neste
momento os pais estão mais preocupados com que a escola ensine, eduque,
faça de baby sitter, que faça um bocadinho de tudo.
JS – Nós sabemos que a vida também é complicada, os pais têm a sua
profissão, muitas vezes levantam-se cedo, vêm tarde e a escola funciona como
um depósito para os filhos, colocam-nos ali e eles estão ali, estão entregues,
sabem que a escola é vedada e dali não saem e que tem gente a tomar conta
deles… depois não procuram saber como está o filho, como vai como é que
não vai, excepto se acontecer uma situação deste género, porque o Professor
tocou um bocadinho ao de leve no filho, aí vão logo a correr a tirar satisfações,
podem ter andado o ano todo sem saber como é que ele estava do ponto de
vista do aproveitamento, mas por uma questão destas são inúmeros os
exemplos em que correram logo a fazer barulho.
(silêncio) É isso, os pais é que devem dar a educação aos filhos, mas estão
à espera que sejam os Professores, os funcionários da escola a fazê-lo, a fazer
as duas coisas a ensinar e a educar. Embora não queira dizer que isto não seja
também função do Professor, mas há educação que deve ser tida em família
pelos pais e família em geral, e há outra que é um bocadinho diferente e que já
pressupõe a anterior, a da família, para ser feita na escola.
NS – Lembro-me perfeitamente que o Presidente do Agrupamento era o
Presidente da escola onde eu andava e, tínhamos um medo dele que nos
pelávamos, nós não pisávamos o risco na escola e acontece também na
Junqueira muito isso. Eu acho que tem de haver um bocadinho isso (silêncio)…
um olhar para trás e deixar que os Professores sejam um bocadinho mais
ríspidos com os alunos, porque se um Professor diz tu … no meu tempo…
lembro-me de um Professor meu que no 9º ano mandou um cachaço a um
aluno, se fosse agora já ia para a televisão, ia preso, já tinha processo. Tudo é
um problema, mas no final os paizinhos o que querem é que os filhos sejam
educados na Escola, mas se um Professor toma a iniciativa de… se fizeste
uma asneira tens de pagar por ela, é o fim do mundo.
JS – O problema é do sistema e é uma educação diferente. Não sou
apologista de violência. Eu também tinha algum receio dos meus Professores,
mas era um receio saudável, no sentido que os respeitava. Antigamente havia
medidas, mas tem a ver com a educação em casa, por exemplo antigamente
havia a falta a vermelho e quando tínhamos uma falta a vermelho tínhamos
receio do Director da Escola ou do Presidente do Conselho Directivo e
tínhamos medo de chegar a casa e de dizer que tínhamos uma falta a
vermelho. Hoje em dia já nem existem as faltas a vermelho e as faltas que
existem os alunos estão a borrifar-se para elas, pois não contam para nada,
nem para reprovar nem para isto nem para aquilo, só conta para o Professor
pensar que fez alguma coisa naquele momento, mas todos os agentes
educativos sabem que aquilo não conta para nada, não é. E mais, às vezes
ainda vem os pais tentar justificar aquela falta com a ida a uma consulta e a dar
razão ao filho, num momento em que devia ser o contrário e dizer “se tu agiste
mal foste castigado pelo Professor e vais ser castigado por mim em casa”, na
maneira que ele achasse conveniente, mas não há, não há esse tipo de
comunicação.
NS – Depois a burocracia dentro das escolas também faz com que os
Professores se baldem um bocadinho, porque se têm que apresentar/dar um
castigo a um aluno na Escola tem que haver reuniões, preencher não sei
quantos impressos, têm que ser ouvidos, isto tudo só por causa de um castigo.
JS – Deixa-me reformular, nós não nos baldamos, somos tolerantes até
certo ponto e depois a partir daí, independentemente da burocracia e o que
isso possa trazer, temos que agir em conformidade, já sabemos é que muitas
vezes o facto do aluno… vamos imaginar uma medida mais grave em que o
aluno tenha que ir para casa quatro a cinco dias ou seja o que for, que isso
para ele vai ser umas férias em casa, porque o pai ou a mãe em vez de dizer
“vieste para casa expulso durante estes dias de castigo, agora também vais
ficar de castigo em casa”, mas não se calhar o miúdo ainda fica em casa a
fazer coisas de que gosta de fazer, então que castigo foi esse? Teve dias de
férias, vem todo risonho para a escola, passa pelo professor no corredor nem
lhe agradece.
Então acha que o trabalho comunitário também se deveria aplicar nas
escolas?
JS – Por exemplo. Aliás aqui há uns anos houve essa proposta de se fazer
trabalhos dentro da escola e, infelizmente, muitos pais foram contra, do género
se o seu filho partiu um prato de propósito vai lavar pratos para a cantina ou
limpar pratos, recolher a comida para perceber a importância do trabalho… “o
meu filho fazer isso nem pensar, vai ser humilhado pelos outros vai ser isto ou
aquilo”. Mas o castigo é isso mesmo, passa um bocadinho pela humilhação
que o aluno vai ter naquela altura e que vai funcionar de certeza, enfim é um
trabalho complicado.
Agradeço a vossa disponibilidade para esta entrevista, pois
contribuíram para a recolha da informação importante para este trabalho
que, como enunciei anteriormente, insere-se no âmbito de um trabalho de
Mestrado. Posteriormente farei chegar a transcrição da entrevista. Muito
obrigada!
JS - De nada. Esperamos ter sido elucidativos e que com este trabalho
consigamos conhecer as outras Associações de Pais.
ENTREVISTA ASSOCIAÇÃO DE PAIS E ENCARREGADOS DE EDUCAÇÃO DE ARCOS (APEEA)
Data: 25 de Maio de 2011 Hora: 15h Duração: 66:42
Local: Residência da Ex-presidente da APEE de Arcos
Entrevistador(a): Mestranda da ESEPF
Entrevistado(a): MN – Ex-presidente da APEEA
Boa tarde!
Boa tarde!
Agradeço a sua disponibilidade para esta entrevista, peço-lhe
permissão para gravá-la ficando, desde já, a garantia de anonimato e
confidencialidade relativamente às informações que irão ser recolhidas.
Esta entrevista não tem respostas certas nem erradas e insere-se no
âmbito de um trabalho de mestrado sobre a relação família, escola e
comunidade, ou seja um estudo que tem por base as Associações de Pais
e Encarregados de Educação (APEE) existentes e/ou inexistentes do
Agrupamento Vertical de Escolas da Junqueira (AVEJ).
Iria começar por questioná-la acerca da sua idade, habilitações
literárias, profissão e gostaria de saber o tempo que esteve ao serviço
enquanto Presidente da APEEA?
A Associação foi constituída como escritura pública por volta do ano 1988 e,
desde então, praticamente estive sempre à frente da Associação de Pais até
ao ano de 2004/2005.
Qual é a sua idade?
Tenho 61 anos.
Habilitações?
Licenciada em Medicina, mas reformada neste momento.
Qual a importância que atribui a uma APEE?
Eu acho que é extremamente importante para o sucesso educativo dos
alunos. Além do mais, quando uma Associação de Pais está com uma
actividade, com uma forte actividade, consegue uma articulação com o corpo
docente e ajuda o corpo docente nos problemas que surgem no dia-a-dia da
escola. Desta forma, consegue também resolver muitos problemas que as
famílias têm, sobretudo, quando são pais em idade activa e laboral e que,
muitas vezes, têm problemas com o transporte da criança, alimentação, apoio
no âmbito escolar e extracurricular.
Eu considero que uma Associação de Pais para funcionar bem necessita de
ter uma articulação com o corpo docente da escola, pois só assim é que
conseguem alcançar o sucesso educativo.
Como já referiu esteve como Presidente desta Associação cerca de 16
anos, mas anteriormente já tinha existido alguma Associação de Pais (AP)
na escola de Arcos?
Não. A Associação foi constituída mais ou menos por volta do ano 1988.
Quais foram os fundamentos que estiveram na constituição dessa AP?
O jardim-de-infância de Arcos foi dos primeiros, oficiais, do Concelho de Vila
do Conde, senão o primeiro em termos de Freguesias. Nós tínhamos estruturas
para funcionar e tínhamos um jardim-de-infância adaptado na Junta de
Freguesia, mas não era um bom jardim-de-infância em termos de estrutura
física, não era. Era uma adaptação num edifício antigo.
Na altura verificou-se que existiam muitas empresas de confecção nesta
zona e que os pais para ir trabalhar tinham que se deslocar e as crianças
tinham de fazer um percurso enorme para irem almoçar a casa, algumas
andavam quilómetros para ir almoçar e voltar para a escola, fizesse chuva ou
sol. O jardim como era muito pequeno, começou-se a fazer uma sopinha à hora
de almoço. Ainda não existia Associação de Pais e já havia uma panelinha
onde se fazia a sopa e as crianças já comiam pelo menos uma sopa e
entretanto iam embora, uns sozinhos, outros…como a escola era muito longe,
os mais velhos levavam os mais pequeninos.
Esta necessidade de apoiar as famílias, o primeiro objectivo foi esse, apoiar
as famílias, não teve nada a ver com o corpo docente da escola, ainda isso era
um sonho no sucesso educativo, ainda isso não se falava. Assim criou-se a
Associação de Pais e Encarregados de Educação de Arcos de escritura pública
e com estatutos. A Associação tinha sobretudo esta trilogia aluno-família-
escola.
Os principais objectivos foram o apoio nas refeições escolares e nas
actividades dos miúdos do jardim-de-infância. Começamos por criar uma
cozinha com equipamento desde frigorífico, máquina de lavar loiça, arcas
frigoríficas e começou-se a servir as refeições aos meninos do jardim-de-
infância. Todavia, como a escola primária não tinha esta possibilidade, como
era relativamente próxima, uma distância de 300 metros, o que aconteceu foi
que começou-se a abrir às crianças da escola primária. Chegamos a ter mais
de setenta crianças a almoçar e, isso era possível, através de uma verba
mínima, uma coisa insignificante, uma verba simbólica que os pais pagavam,
mas tínhamos muitos apoios, de empresas e laboratórios que até davam
dinheiro.
As crianças do jardim almoçavam primeiro porque o espaço era reduzido,
mas entretanto resolvemos fazer um jardim de raiz que é a actual Junta de
Freguesia. Um espaço para as crianças do jardim onde em baixo faziam as
suas actividades lectivas e num espaçozinho em cima fazíamos um pequeno
dormitório para uma criança que estivesse mais doente ou quisesse descansar,
mas tínhamos um problema que era subir umas escadas que eram um perigo,
perigo terrível. As crianças ao subirem aquelas escadas obrigavam a uma
vigilância maior do pessoal era um desgaste muito grande. Posteriormente
passamos esse espaço para baixo, mas entretanto a Autarquia mudou e
puseram-nos novamente lá em cima, quiseram a Junta de Freguesia em baixo
por causa dos idosos poderem deslocar-se e tivemos que voltar outra vez lá
para cima. Outra vez as mal paradas escadas.
Entretanto começaram a surgir os Agrupamentos escolares. A Junta de
Freguesia dava o apoio e comprou uma carrinha, o que permitiu que as
crianças já não tivessem que se deslocar, pois iam a casa buscá-las. Então nós
começamos a receber as crianças das sete e meia às nove e depois das três e
meia às seis, quando os pais vinham do trabalho. Havia um período em que
era apoiado pela AP Arcos em colaboração com a Junta de Freguesia, antes
da abertura da escola, e as refeições à hora de almoço e o prolongamento até
à vinda dos pais.
Houve sempre uma excelente articulação com os professores, nunca houve
problemas, nunca. Chegamos a fazer com as escolas passeios lindíssimos,
fomos ao jardim zoológico levar os miúdos. Tudo excelente recordação que
esta Associação tem, sempre com o apoio da Câmara Municipal de Vila do
Conde, na pessoa do Presidente da Câmara que saúdo-o e que é um homem
que sempre se dedicou às escolas, sempre investiu nas escolas. Foi preciso
um frigorífico e ele ofereceu o frigorífico, foi preciso uma arca e ele ofereceu
uma arca e também nos dava uma verba o que permitia com que os pais não
pagassem ou pagassem menos, porque tínhamos de ter funcionários das sete
e trinta até às nove e das três às seis e tinha de ser pago.
Ia falar da questão dos Agrupamentos, quando começaram a surgir os
Agrupamentos, ainda dentro desta questão dos objectivos.
Entretanto surgiram os Agrupamentos e quando surgiram nós tínhamos o
problema da cantina das escadas e foi pensado pela Autarquia que existia à
data em juntar o jardim no edifício da Escola Primária que tinha espaço e fazer
uma cantina de raiz e ficar ali o Agrupamento todo jardim, 1º, 2º, 3º e 4º ano,
porque havia condições, fazendo umas obras que não ficaram caras e ficou
muito bonito. Entretanto muda a Autarquia e a oposição serviu-se do problema
das escadas, que durou anos e anos e que Deus nos segurou e segurou as
crianças que nunca houve um acidente grave, apesar de nós termos um seguro
altíssimo para época de 100 mil contos. Era um seguro muito alto e que todas
as crianças estavam cobertas.
Portanto, muda de Autarquia, o que estava em projecto, a Câmara Municipal
cumpriu integralmente fazendo um jardim novo, uma cantina nova anexa à
Escola de Arcos e ficou aí o Agrupamento todo.
Como a Autarquia mudou foi proposta da nova Autarquia, eliminar a AP
Arcos ou tomar conta da AP Arcos. Na altura ainda estivemos a trabalhar mais
ou menos quatro anos com a nova Autarquia, com muitas quezílias, com
muitos problemas. Entretanto nessa altura, como eu não tinha nada a ver com
as refeições, começaram a levantar um grande problema à Câmara Municipal
de Vila do Conde, porque era ela que geria as refeições. O problema não era
comigo, eu não podia estar a envolver-me porque era um assunto entre
Autarquias e Junta de Freguesia.
Em 2005/2006 foi inaugurado o tal o Agrupamento Escolas, fazem a
transferência para baixo de todo o equipamento da AP Arcos, desde televisões,
frigoríficos, varinha mágica, máquinas de lavar, talheres, fogões, copos,
levaram tudo, sem darem satisfações a mim, nem à Câmara Municipal. Fiquei
muito magoada, porque tinha lá coisas que, não eram minhas, foram para AP
Arcos.
Entretanto éramos convocados para as reuniões que havia nas escolas, em
que votavam na mesma na AP Arcos nos órgãos porque tinham pais, havia
pais, havia pais que pertenciam. Nós fazíamos eleições conforme ia mudando.
Era isto, acho que era de três em três ou de quatro em quatro anos. Nas
eleições eles escolhiam-me sempre para Presidente, eles queriam que eu
fosse sempre a Presidente.
Começamos a ir às reuniões à Junqueira que é o Agrupamento de Escolas.
No início, um relacionamento normal, até que aparece o Presidente da
Associação de Encarregados de Educação da Escola da Junqueira, que era
precisamente o secretário da Junta de Freguesia desta terra o Engenheiro
Amaro. Eu fui a três, duas ou três reuniões no Agrupamento.
Tinha muitos associados a vossa Associação?
Tínhamos, tínhamos associados, sócios e beneméritos. Todos aqueles que
frequentavam a escola e o jardim eram sócios efectivos.
Havia outras entidades inscritas como associadas na vossa
Associação ou eram só os pais?
Eram só os pais e encarregados de educação, os sócios beneméritos e os
fundadores.
Os pais costumavam recorrer à Associação?
Sim, mas nós também recorríamos a eles. Exemplo disso era como nós
afixávamos a ementa, posteriormente, fazíamos inquéritos sobre o tipo de
alimentação para ver o que é que os pais gostavam e se gostavam.
Quais eram as razões que levavam os pais a aderir à vossa
Associação?
Eram muitos. Havia uma boa articulação com o corpo docente, havia uma
boa articulação com os pais. Os pais estavam envolvidos em tudo, nas festas,
no melhorar isto, no informar. Havia uma motivação, eu acho que é isso. Os
pais precisavam da Associação. Desde o ir buscar as crianças a casa, desde o
prolongamento na escola, desde as refeições, tudo. Depois como já não
precisavam para a refeição, precisavam só no transporte e nos apoios não
lectivos. Nós tínhamos uma componente não lectiva de apoio às famílias das
sete e meia da manhã às seis horas da tarde, às vezes até às seis e meia.
Chegaram a estar integrados na FAPCONDE ou na CONFAP?
Não. Nunca, não existia.
Tendo em conta a informação que foi facultando podemos dizer que a
postura que a vossa Associação tinha, para com a escola, era de parceria
e envolvimento?
Tudo, tudo.
Como é que costumavam mobilizar os pais, por exemplo para as
acções?
Por correspondência.
E com a Coordenadora da Escola?
Por comunicado e oralmente.
Como era a relação com o Agrupamento Vertical de Escolas da
Junqueira?
Antes disso, deixe-me dizer-lhe porque é que esta Associação se tornou
inactiva, pois esta é que é a pergunta sagrada, porque isto tem a ver um pouco
com esta pergunta.
O relacionamento com as escolas da Junqueira foi sempre excelente com o
Professor Domingos, o Professor José Henriques, com os funcionários, com
toda a gente, foi sempre excelente. O que me levou a ter um afastamento com
o Agrupamento de Escolas que a AP Arcos estava representada no Conselho
Pedagógico, foi porque o senhor Engenheiro Amaro que era Presidente da
Associação de Pais e Encarregados de Educação da Escola da Junqueira,
começou a ter atitudes menos correctas para com a AP Arcos, menos
correctas, fica por aí. As pessoas começaram-se a substituir e eu fiz-me
substituir, tenho aqui provas disso. Comecei-me a fazer substituir no Conselho
Pedagógico, comecei-me a fazer substituir nas reuniões da Associação em que
ele era o Presidente e em que nós também lá estávamos, estava lá Touguinha,
acho que era Touguinha e Rio Mau. Acontece que os meus colaboradores
começaram-me a dizer: “Doutora não vou mais para o Pedagógico, eu não
estou para aturar aquilo”, mas não estavam para aturar, não era o Conselho
Pedagógico, era o senhor Engenheiro Amaro, porque ele era secretário da
Junta e aqui houve um bocado de política.
Então podemos dizer que o motivo é essencialmente político?
O motivo foi essencialmente político, infelizmente, mas foi.
Eu acho que foi em 2005 em Março, isto parou em Março de 2005.
Falando agora sobre as actividades, que tipo de actividades
desenvolviam?
Fazíamos festas de Natal que era um espectáculo. Era um verdadeiro
espectáculo, para os pais, para os avós, para os amigos. O salão super cheio.
Eram os pais que faziam a festa para os seus filhos. Os seus filhos, os meninos
apenas eram autores numa pecinha para os pais. Senão eram os pais que
faziam tudo, durante anos e anos.
As actividades da AP Arcos eram conhecidas e era uma coisa
impressionante, como havia uma grande adesão as pessoas não se
importavam de pagar para ir à festa. E este pagar era porque havia um grande
lanche também.
Fazíamos também o cortejo de Carnaval com idas a Vila do Conde aos
cortejos e que a AP Arcos estava sempre presente. Era uma dinâmica. Era
muito, era tudo muito….há filmes, gravávamos filmes. As pessoas recordam, os
pais a fazerem aqueles filmes, olhar aqueles filmes e ver aqueles avós que
hoje são pais. Hoje já são pais, com vinte e tal anos, pois a nossa Associação
ia fazer agora 25 anos.
Já percebi que faziam várias festas e que eram sempre os pais que
organizavam essas actividades em parceria com a Associação. Mas elas
eram definidas por quem? Era a escola que definia, era a Associação que
definia, eram os pais que diziam que era necessário, como é que surgiam
essas actividades?
Era a articulação entre todos pais, escola e corpo docente existente.
Então podemos dizer que essas actividades iam de encontro às
necessidades reais da escola?
Sim, mas não interferíamos muito na actividade lectiva e nas actividades
organizadas pela própria escola, mas colaborávamos sempre que a escola
precisasse. Recorda-me que muitas vezes era preciso dar uma lembrançazinha
à Educadora e a AP Arcos comparticipava e estava sempre presente.
Quando tinham as actividades como é que faziam a divulgação?
Era muito simples. Fazíamos uma reunião pelo mês de Outubro e fazíamos
a programação com plano de actividades. Também ajudávamos e poderíamos
integrar ou não as actividades, por exemplo a Festa de Final de Ano era a
escola que assegurava e a AP Arcos não interferia.
Na Festa de Natal, constituíamos um grupo de teatro, os pais iam ensaiar
para a Sede da Junta. Começavam ali pelo mês de Novembro, os ensaios do
teatro de Natal e começava-se a pensar no que era preciso para a ementa.
Depois um dava isto outro dava aquilo, era uma partilha, os avós levavam os
bolos.
A comunidade envolvente também estava presente nestas acções?
Sim, mas só pagavam os convidados, os que eram convidados desde que
não fossem pais, irmãos e avós. Pagavam uma coisa simbólica.
Não precisavam da comparticipação de outras entidades?
Não podíamos misturar contas da AP Arcos com uma coisa que é uma festa
ou um passeio. Não misturávamos as coisas. Eram separadas, embora às
vezes, sobrava dinheiro que revertia a favor das necessidades da AP Arcos. Os
tesoureiros sempre sérios, sempre. Nunca quis nada com dinheiros. Sempre
gente que poupava um cêntimo, um escudo naquela altura.
Faziam a avaliação dessas actividades?
Fazíamos, fazíamos.
Como é que era feita essa avaliação?
Reunia a Direcção e posteriormente fazia-se com o grupo todo, viam-se os
pontos positivos e os negativos.
Pelo que percebi, anteriormente referiu que também passavam
inquéritos aos pais relativos às ementas, não era?
Passávamos. Começou-se a fazer porque eu estava na saúde escolar e
tinha uma nutricionista comigo, a Dra. Isabel Paiva que é hoje nutricionista na
ARS Norte, era um privilégio.
Deixando a questão das actividades, gostava de saber se haviam
outras AP ou a Vossa foi a primeira?
A nossa foi a primeira das Freguesias de Vila do Conde, não estou a falar na
sede.
Chegaram a ter algumas actividades em conjunto com outras
Associações de Pais?
Não.
Mas, nunca o fizeram porquê?
Porque elas nem existiam. As actividades que fazíamos eram para as
crianças, para os pais das crianças, para as famílias das crianças e
integrávamos as actividades quando solicitadas por entidades.
Enquanto Ex-presidente de uma AP, se pudesse propor ou pensar em
estratégias de actuação para as APEE “activas” o que diria ou proporia?
Estratégias? Eu acho que os pais e as Associações têm muita dificuldade,
eu teria a mesma dificuldade se fosse hoje, à frente da Associação de Pais em
desenvolver muitas estratégias individualmente.
Eu acho que cada Associação de Pais é uma realidade local. Arcos só tem
uma escola, tem um Agrupamento de escolinhas, é tudo, ali tudo juntinho. É
uma coisa muito pequenina e onde seria muito fácil desenvolver actividades,
porque é tudo muito concentradinho, mas só seria fácil se a política não se
metesse e seria um trabalho bonito e interessante.
Cada Associação é uma realidade e existindo devia realmente pertencer à
FAPCONDE, para posteriormente partilharem com as outras Associações, as
suas próprias actividades, porque há coisas que nós fazemos em que….que às
vezes o individualismo não leva a lado nenhum. É muito mais rentável o
trabalho em equipa, pois este desenvolve-se melhor, mas atendendo à
realidade de cada um, sem dúvida nenhuma. A realidade de saúde de uma
população não é igual em todo o país, o que não significa que não tenhamos
que ter regras e seguir as orientações superiores. Tem que haver uma espinha
dorsal, porque senão isto abandalha.
Gostava de lançar uma última questão. Enquanto pessoa que trabalhou
na área da saúde e que também já trabalhou na parte escolar, quais são
as representações que considera que os pais têm acerca da escola?
Como é que os pais vêm a escola, hoje em dia?
Olhe, eu acho que os pais vêm muito mal a escola por causa da
comunicação social. Acho que há outros aspectos, mas a comunicação social
mata a escola, mata as famílias, mata tudo. Por outro lado, as famílias viveram
a época das “vacas gordas” e exigem tudo da escola, mas não dão à escola.
Aqui há uma outra questão, a referente aos direitos e deveres, não é?
Porque querem ter direitos, mas cumprir com os deveres é difícil.
Acho que está muito mal e que há uma falta de respeito muito grande, hoje
com a escola. Até dá impressão que a escola tem culpa e que é a culpada de
tudo.
Esta nova geração foi uma geração que não teve problemas. Estes pais
foram os pais do 25 de Abril em que tudo lhes foi dado, tiveram empregos. Os
avós tiveram empregos, os avós tiveram Segurança Social, os avós tiveram
regalias sociais, os avós tiveram saúde de graça, os avós tiveram tudo e mais
alguma coisa. Os filhos beneficiaram de toda a Segurança Social dos avós. E
agora, os filhos foram criados e habituados a gastar, a esbanjar, mas exigindo.
Os pais estiveram muito ausentes, está uma sociedade muito complicada.
Mais uma vez agradeço a sua disponibilidade para colaborar nesta
entrevista e, posteriormente, enviar-lhe-ei a transcrição da mesma.
De nada.
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