dos versos fandangos ou a má reputação de um estulto em polvorosa

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dos versos fandangosou a má reputação

de um estulto em polvorosa

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caco ishak

dos versos fandangosou a má reputação

de um estulto em polvorosa

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2006 © Caco Ishak

ISHAK, Caco

Dos versos fandangos ou a má reputação de um estulto empolvorosa/ Caco Ishak/ Rio de Janeiro: 7Letras, 2006.

ISBN 85-7577-299-6

1. Literatura Brasileira - poesia. I. Título

CDD 869.1B

Produção editorialDebora Fleck

Isadora TravassosJorge Viveiros de Castro

Marília GarciaValeska de Aguirre

IlustraçõesLeonardo Menescal

Viveiros de Castro Editora Ltda.R. Jardim Botânico 600 sl. 307Rio de Janeiro RJ CEP 22461-000

t. [55 21] [email protected]

2006

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE

SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

Page 6: dos versos fandangos ou a má reputação de um estulto em polvorosa

SUMÁRIO

II. ENCRUZILHADA

# 2 ................................................................................ 13# 4 ................................................................................ 14# 6 ................................................................................ 15# 7 ................................................................................ 16# 9 ................................................................................ 18# 13 .............................................................................. 19# 15 .............................................................................. 21# 21 .............................................................................. 22# 27 .............................................................................. 23# 40 e tantos ................................................................. 24# 66 .............................................................................. 26# 72 .............................................................................. 27# 81 .............................................................................. 28# 87 .............................................................................. 29# 108 ............................................................................ 30# 111 ............................................................................ 31# 948 ............................................................................ 32SMOKER .......................................................................... 33

I. PUBIS ANGELICAL

ainabacada .................................................................... 37impressões que ficam ..................................................... 38brona’parq .................................................................... 39soneto da timidez ou a tristeza

da certeza ................................................................ 40buzz me asap ................................................................. 41vividez ........................................................................... 42homens brancos não sabem voar ................................... 43heart beat ...................................................................... 44o comum de um lugar calado ........................................ 46melindrosos .................................................................. 47tolerância ...................................................................... 49

SUMÁRIO

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III. LANÇOS PATAMARES LANÇOS

revelação ....................................................................... 53reflexo ........................................................................... 55das três coisas que todo homem deve fazer antes de se

matar ...................................................................... 56papel em branco ............................................................ 57desfaireuoliariza isso, mulher ......................................... 58panos ............................................................................ 60bandido mármore ......................................................... 61

V. SOUNORA LAUDI

teu meu amor ................................................................ 65angulosos & paragofingos ............................................. 67botafora neoconcreto

(posproposta agalope) .............................................. 68

IV. VÍCIOS & ATROFIAS ..................................................... 69n.o.f.f.a.a. ...................................................................... 71fogos & artifícios ........................................................... 72petisco no anzol ............................................................ 73trompa ausente ............................................................. 74pertences ....................................................................... 76barinaite ........................................................................ 77carambolas & prevaricações

(cabíveis de veto) ..................................................... 79desperto dolores das dores do parto ............................... 81trem pagão .................................................................... 82estrelas e quetais – a mais claudicante

das rosas psicoativas ................................................. 83

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amaria luiza salheb vieitas guimarães ishak

ou simplesmentemalu

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o amor só convém aos que não são capazes desuportar a pressão psíquica. pois amar é nadarcontra uma correnteza de mijo com dois barris

cheios de merda amarrados nas costas.

CHARLES BUKOWSKI

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II. encruzilhada

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[13]

# 2

culparam-me por causa de resquíciospaguei pelo não apagado

um grão de tequila por um mar de garrafasdesejos queimam o céu da bocadespelam as palavras

moro com a mãe de minha filhae não me sinto menos homem por isso

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[14]

# 4

todos temos tempoquandoé para falarmos de nós mesmos

demônios não têm hora

e nem precisam prestar satisfações

julgam-me por minha vidaconjugal aparente

demônios nunca dormem

e nem mentem

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[15]

# 6

provei do nexo do pecado

mistérios nãodesinteressam ninguém

à espera do telefoneque não tem número pra tocar

e nem razão pra isso

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[16]

# 7

por uma vezsomentegostaria de ser mais amadoque deus

ter uma mãe que fossesó minha

e não apenasmais uma filhade deus

quepara ficar a sóscom deusnão me desseadeus

já me deua deuso que já tinhae isto basta

uma mãecomo a mãede deus

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[17]

que me ouvissecomo ouve a deus

que me falassecomo fala a deus

que me vissecomo seu filho

e nãoapenasmais umfilho de deus

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[18]

# 9

a apreensão de teusprimeirosgritospesavam meus olhos

na cama

minha lamúriaacordou a casa inteira

meu receioeradormir sozinho

agoraninguém maisdorme

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[19]

# 13

presenteio todoscom meuamadurecimento desorganizado

se comecei cedoe cresci pendurado em árvorescomendo as goiabas que roubava

nem foisempretão assim

eu

muitas das vezesme fiz poetaedeixei querasgassemas roupas quetrajava

agorafaçoedesfaço

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[20]

sou assimevaca assadaeninguémtemnada a vercomisso

amanhãme organizo

epenso empermitirque o solnasça

opiegastambémtemsua classe

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[21]

# 15

o fiasco de reflexos ensaiadososcila e ecoa nufundo de uma garrafade teor sorvido por tantasquantas possuíssem taças e esputos

e vigor para tanto

esparramamosde boa vontadeaproximações ocasionais

para ridicarmos o desperdiçadoa soluços de argúcia

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[22]

# 21

minha liberdade é a de uma bandeiratremulando em suas certezaso pouco de vento quepara se fazer dispostafoi capaz de tomaràs resoluções de seu ânimona imposição de uma alçada acorde

distrações inibem a segurança do mastrocomo coincidências reagemao clamor do inaudito

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[23]

# 27

de volta ao luto dos sentidosao fundamentalismo da palavrae à ditadura da memóriaque imploram e fazem as vezes de venetasdegradam os discursos de estações recentese escapam por entre as falanges da carência

quanto mais se prolonga a fugamais o rato come o gatoe faz morrer o fim do dia

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[24]

# 40 e tantos

se gostava?sim, um pouco

como assimcomo não?

era levado por peixescaminhava sobre o mare construía

pouco a poucodia a dia

o inabitável

pouco a poucopedaço a pedaço

desconstruíam-me

a mão que davacomia a outrabebia vinho tintopara acompanhar

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[25]

enxotara-me (sic) de sua vidacomo quem enxota (sic)os olhos dapaisagem

lenta esoftlyúmida e(palavra francesa que tenha a ver com sexo)

quem fui um diaeuora recorda

e pensa quesim, um poucoaté que gostava

era levado por peixese entoavam cantos

no entantolambuzava-me a bocae cuspia o mel fora

não importava a ordem

fracassos eram apenasincertezas

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[26]

# 66

rotinas capotam a cento e trinta por horaexpelindo estilhaços de uma vidraça embaçadapara além da poeira que já não se assenta mais

apraz-me a rota de atalhos e aleatóriosoutrasinas lhe abastecem

e não dobram os joelhosnem precisam saltarsorrateiramentede marcha em marcha

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[27]

# 72

recomendações conduzidasna toada de um sapateado que se bifurca namemóriade espasmos e abandonosa cada aproximação tentadaterminam por consentirque a repulsa ao colosufoque os argumentos de um veioque transborda a reconciliação

a sangria segue sendodos artifícioso de maior diligênciana cura das enfermidades do humor

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[28]

# 81

invejo a culpa de um casal adúlterocomo quem dorme de costas viradaspara o sabor do pão

bater no peitode nada adiantasepor amor à vidavícios e suculênciasdeixam de me aproximar da morte

come-se o miolo antes de mais nadabesuntado na euforia de um apreço

a casca é apenas o avessoe todas as suas peculiaridades

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[29]

# 87

criou-se o dispersivo em paragens estreitas

soaram o alardequecompreendido tardioalastrou a clarividência

sacio-me em buracos fundose falhos e plúmbeosonde de um tudo se encontrae crianças são abandonadas

serei o pai de todas elas

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[30]

# 108

anseios engendram seu próprio desfechosacrificam o excesso de zeloe cravam no ventre a ausênciade casos esquecidos logo em seguida ao partofirmando-se na desobediênciada cria que lhes sucede

selecionamos as perdas que nos selecionarão asmemóriascalados, silenciamos o remorsonão a falta de termos nos calado

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[31]

# 111

fui dar um passeio descalço

fuimas voltei

e cuidei de repensaros passos que daria

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[32]

# 948

não me surpreendo com o descaso das paredesenquanto percorria seus sulcos

fora sempre por demais volátile pouco preciso no pousoseu juízo não acompanhava os dividendos deminha argúcianos passeios que faziam por receios de anônimos

até entãonão havia dado sinal algumde minha inclinação para o embuste

e obrigava-me a jantar caladoo amargo aguado de um prato morosopreparado na apreensão das horas em alertaque antecediam a clausura dos sentidos

excessos medicavam o sossego

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[33]

smoker

dia desses ao folhear o jornalou revista ou fazeras compras no supermercado de madrugada

simulando as entradase extremidades curvas

a mão esmagando a raivacontra a buzina do santana

enquanto salivavao azeite que sobrara

noOfundo do pratoquebrado a pauladas

noOafã finalmente ditode uma lembrança vadia

ouvi que se repetem os termosqual a palavra sussurra

exposar-me-ei antes que amanheça

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I. pubis angelical*

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[37]

ainabacada

percebe que não tenho nojopropriamente ditode gentepelo contráriodela me alimentochupo todo o caldopra depois jogar o bagaço foranão sem antes dar aquela mordiscada

o que não me agrada é o preparoembora a cada dia mais me apeteçaos sabores e os cheiros de tua receita

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[38]

impressões que ficam

terceiras são as impressões que ficam?,ladinas ao corpo feito sanguedesprovido d´alma e rechaçadoposto ao crivo fátuo de um passadoque a uns tantos olhos se fez infamesem malícias ter que se proclamemrevolta em carne assim tão constrita

que do resplendor que em ti alcança– qual já o fez em momentos segundosquando de anseios alimentada –faz meu o só teu papel de rogadae no corrente se curva ao mundodo qual bradou na infância os absurdoslançando a própria mão em cobrança

que em tempos outros jamais fariae, no entanto, cala e se retratapara que das impressões primeirasse faça a conjunção derradeirada adversidade que nos maltratafirmando-se a perfeita cantata,ainda terceiras continuariam?

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[39]

brona’parq

ah, essa filha da glóriaque de tanto que do amor falazoando primogênitos e/ou caçulasdando pegas em mães de amigos meusme fez te imaginar de loirao cinza do sovaco nas dobras caindo dos braçosvoz de macho enrouquecido de marlboro e gabrielagrelo esturricado e sem maquilagem no rostopra depois ir emboranum arrasta saia marotolevando os guardanapossussurrados ao pé da mesaenquanto ainda éramos somente dois desconhecidose tudo era mera coreografiaentreolhada por detrás dos panosno intervalo entre uma talagadae a impressão deixada num tablete de margarina

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[40]

soneto da timidez ou a tristezada certeza

o pecado do tímido é nãofazer com que seus possíveis pecadosvenham a nascer; de pronto enforcadospelo desfundado medo de um não

ao tímido, então, será reservadoseu próprio não-ser, triste encarnaçãopois na tristeza da certeza estãoos poucos gozos de um viver frustrado

imputar-lhe culpa por seus não-atosnão viria a ser por óbvio fardo injusto?eis que pela memória do pecado

torna-se de sua tristeza o culpadopaga pela tal certeza alto custona timidez há solidão de fato

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[41]

buzz me asap

o aro branco das tuas lentesquestionado ao canto de um frango caipiratraduz meus nervosismosmatuta e realizaa chamada à frontetemporariamente desregulada

estávamos em manutenção

beg your pardoné que não entendi de fatoainda assim sugiroa pretensão de te ter full-timee também ou todos os dias

se possívelnuma das tardes descompromissadasà disposição depois de um primeiro encontro

verdade é que não se controla uma tal maturidadenem se apreendem seus circuitos internosenquanto se guarda a expectativade que de algo podem adiantar as investidasde uma marca sorvida no canto da boca que escorriaseus ciúmes e tragos e descontroles

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[42]

vividez

defronta a vida e oculta o pranto aos tolospois são tíbios e, de entender teu chorotão vívido, por não serem capazesdenunciariam-te aos guardiões do acalanto

que com afagos fariam do que em ti trazesde fruição sedenta mero quebrantoa si granjeariam inusual malogroa ti prestariam baldado consolo

luta sem descanso pela venturada qual te privaram madrugada aindae no caso de com quaisquer agruras

deparares-te, embora esteja a esmovivifica-me – pois vida em ti abunda –que eu te amparo em tua busca por ti mesma

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[43]

homens brancos não sabem voar

sambei uma moda de violacomo quem se atira de peito abertocontra um ventilador de teto em movimento

mas ela fez que nem sabiadeu um gole no grapetetirou seus sapatos de salto alto (pra depois voltar atráscom a mão na consciência. porém, era tarde demais.havia se propagado no vácuo como nosbons filmes de ficção científica)e foi ao centro do salãoabandonando pelo caminhouma a umaas jujubas que levava consigo num saco de pãodormido na noite da última grande comemoraçãoque havíamos promovido juntos no quintal

[do vizinho

devoraram tudoque não deixaram nem o pescoçoe cheiraram o açúcar antes que se espalhasse

[com o vento

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[44]

heart beat

se durmo pensando em tie o mesmo me acontece ao tomar um banho

[quenteperdoa-me pelos pudores que ainda tenho de

[o fazer à mesa do jantar

“quero caber no teu abraço”

não cabendo eu adaptoe nem te levo pro lado negro da força por isso

“tô sem tubinho preto pra te abusar”

sai então logo correndoque sou homem-bombarelógio

“ia te pedir pra tirar umas fotos minhas quando lá”

não só as fotos, beibena paris de jim morrisonaté que topo viver de amorainda tenho a casa dos meus pais pra morar

“uma coleira de veludo vermelho e um sapato de[salto fino

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[45]

já não é mais paixãoé fúria”

e repito:que merda é essa de purple haze arranhando

[no toca-discos?

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[46]

o comum de um lugar calado

explica-me o porém daquela noitenão vivida enquanto espera de nossasvidas, caso vividas elas fossemporquanto, mortas, trouxessem-nos mortas

para um dia que nunca o fora, parao nosso acaso, as esperas absortasem nosso caso dado cara-tapasem nossas vidas não vividas, mortas

seria o comum de um lugar caladono fundo de teus olhos que diriamme arranha e bate, assoa e espera e ensaboa

porém disseram-me infortúnios à toaos quais, não fosses tu, aceitariaquanto ainda estou, mas nem tão calado

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[47]

melindrosos

caso perguntaremde minha partedigas tu que assim seja ou nãoos riscos aceitareide um passado que se faz presenteerrante sempree sem razão

fosse eu poetacaso perguntassem

acreditapor vezes foragidopor entre outras taras passeeidesapercebidoenquanto me esperavase não sabendo que conosco erravaassim às tantas perdurei

melindroso em meus errosentretantosim eu sabiasoltem as feraseu errei

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[48]

em bocas outras te beijeie acariciei teus cabelosde outras moças mas tão teuse montava peça a peçaolho a olho, pêlo e púbiso estorvo que hoje é meunem só meunosso portantonada posso te assegurare nem te peçoo risco é nosso eem verdadebem mais teu do que o é meu

e que assim seja tudo em nossa apostacaso aceitesmelindrosao quenão sabiasmas já era teu

ou quase meu

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[49]

tolerância

interpreta-me no borrão do teu paqueteenquanto durmo respingandogotículas de bafo quente em teu cangote

e vê se não prestatanta atenção assim na placada entrada que diz

sem lubrificante (implora com a ponta do dedãocurvada em meio às pregas do meu holocausto)

favor perturbar por motivosestritamente sexuaisapenas (quem sabeinterrogação)

postoquesimmui cretinorogosemsaber

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[50]

ronco plenipotente em coresespúrias eum cálice de balalaika

garrafas inteiras e pronto-socorro municipal[na veia

uma mulatacapô de fuscavinho tinto baratobanho-de-cheiro-do-ver-o-peso e alturaraimunda

maisumpoucoemmiúdostolerasounemparatanto

até que entornaria do teu prantoassim pois num prelúdiodesnudo e escorrido

desculpa se gozei

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III. lanços patamares lanços

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[53]

revelação

é de ponta a ponta dum refrão – talvez umpouco antes; tanto depois (depende tudo de

[quem compartilhaa fossa e ora) – que se faz um filho maduro

e se despe da razão e da tolice que é vida e de sie das fluorescentes de quatro e noventa e nove que

[deverão ser trocadasa cada nova visita da sogra e da tevê muda

[ligada na mtve se reconhece o equívoco que um dia fora a

[salvação imolada por causa de umpecado reproduzido e imola a si próprio e se

[desconhece numventre vazio e tenta de geração em geração

reverter a culpa calada na marra

o sol já não queimava mais seus tradicionais[vermelho e fulvo

e suas bolhas na pele cujos prazeres armazenados[no instante do estouro –

esta liberdade coceira que aprisiona durante a fuga[– faziam-se sentir em tons de anil

e se calou a culpa revertida em marra

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[54]

te espero sentado nas ruínas de minha paciênciapara vestir-te a túnica que cosi dos resíduos

[de minha teimosiae da qual te despirás no tempo do esboço de uma

apropriação

e o sol só será teuquando e mais quem queiras

pois coleções de discos e o remoto da cabono longer will be mine

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[55]

reflexo

reconheço-me em tuas palavrasmas em mim não me reconheçoe nem por isto me esmoreçopois do viço com que falavascontra os grilhões de tua alma escravadeste ânimo não mais padeçomas não que a ele eu seja adversosomente aceito o que me aldravasem batalhas em vão travadas

muitas foram desde o começoas baixas que até desconheço oquanto ainda de mim lutavaquando da ruína proclamadapelo que hoje sou, o avessodo que outrora fora, um confessoabordoado a minhas palavras

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[56]

das três coisas que todo homem devefazer antes de se matar

escrevera o livronem sequer o folhearamfoi um fracasso de públicoantes mesmo de sua publicação

plantara a sementearrancaram o brotoe lá a raiz deixarampara que apodrecesse com as intenções

fizera enfim o filhoe o abortarammataram-me em lidaantes que autorizado estivesse pelos que não

[se apagama encontrar-me eunuco nesta armação

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[57]

papel em branco

ah, papel em branco, se soubesses o quantoinvejo a ti por teu vazio sem compromissossem dissabores, nem maiores sacrifícioslinhas sempre sóbrias que o, sobre ti, quebrantam

cá, comigo, no remoto o vazio despontaintruso; ele, sem certo prumo, intransigenteno fechar das porta e cortinas de meu ventrefacheiro em frente à frágil idade que encontra

que não seja isto, no entanto, um impedimentode no conforto do teu seio eu repousardesse teu vazio fazendo meu recomeço

mas que venha minha cobiça a ser teu proventodesprovido que há muito estou de mais apreçodeste meu vazio fazendo teu perdurar

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[58]

desfaireuoliariza isso, mulher

I.

comecei uma frasee tentei terminá-la sem antespassar pelo miolo

antecipei-me mais do que deviae me faltaram os predicados

II.

passo por sérios apurosfaz alguns dias

gostaria de acreditar que logo passamas estou cansado depiadistas infames

uma vaca nasce para ser vacacresce mamando sua vocação desde cedo

e rumina seus prazeres faça sol ou neblina

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[59]

III.

nas horas que me sobramrecobro o hábito edescasco o maçoque durante odia fumarae maisiria

eicom agáde muito macho

IV.

espumas inda provocariria fosse por dinheiro

mas do culto se ausentar

um absurdo que ninguémseja sóvícios e espentelhos

não vou mais beber do teu paquete

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[60]

panos

para quem sofria de paixonite semi-analpatológica e crônicamui jocoso vem se fazendo o seu destinoao arrumar dores de um amor verdadeiroe incestuoso

trepadastenho aos montesna fitaum sorriso em branco

nada que compense o sono tranqüiloemaranhado nos cabelos do peito

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[61]

bandido mármore

desarregimentado por neoplasias fanfarronasque desacreditam bem ou malas intenções mesmo fajutas de um equilibrista

[do altodum fio de cobre pavimentadona calçada em frente ao pronto-socorro municipal

vírgula

desarregimenteimedespropositadamente

e veio a voz do padreque disseainda esperançosoestamos em obra(estarias deveras, meu filho?)desculpe o transtorno

ou indosimplesmentedireto ao sap da concórdia

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[62]

cosi-me de renda baratapra desfiar-me aos poucos

e não me encabulo ao cobrar os olhos peloespetáculomancebia

permito-me nãovos abandonarà mercê da vãsobriedade

apague-se luzaos verossímeismundanos fatosda tenra idade

vista-nos de vilfazenda antetal aurora daleviandade

transcorramos-nospor estes rumosdeveras turvosda mocidade

corta. fim do ato iii.

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v. sounora laudi

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[65]

teu meu amor

meu nome chamasteu homem voutua voz proclamatua cama estou

m´a fomespantatua santa florteu fluxenganameu teu pudor

meu teu teu meumeu teu

teu meu meu teumeu teu

teu meuteu mi

meu timeu titeumeste

fora um dia o pudortemorrancora doramor

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[66]

meutemor

teu meu

meu teuamor

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[67]

angulosos & paragofingos

dasprotúberesemanátemas

castas

foi-se o cagopelo raloe pós-ploftveio o huf

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[68]

botafora neoconcreto(posproposta agalope)

estava er

rado

não sei trabalhar

sobpressão

arranha o céu castra-vento

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IV. vícios & atrofias

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[71]

n.o.f.f.a.a.

queres ver o tosco, meu chapa?a bisca nasceu já madrugandoas fichas sempre caem quando as expectativasacabam

nunca o uno útil ao agradávelsoou-me tão perfeito aos ouvidosembora tenha de com issoarcar com o necessário

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fogos & artifícios

em relações como estaem que cada um tenta se sobrepor ao outropalavras desmontam preponderânciasauto-afirmações nos tais diálogos entre surdos

vazios fragmentados tentam completar o todocom os pedaços que não mais lhes completame o passado comprova o impossívelenquanto a remissão é conduzidaem nome dos mortos

eterno retorno de quem está sempredispostoa pagar com os tormentos alheios

não funciona

discussões dantes eram cavalgadas

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petisco no anzol

conheço bem a batuta que te rege

sou do tempo do walkmane das ombreiras da mãe

chantageio as palavras que nos ladeiam

gargarejo meus defeitose faço empalidecer

os anônimos que me batem à porta

rabeco´emrabodearraia

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trompa ausente

o estarmos-juntos se traduz em maior distânciado que os dias que nos separamembora passem caladospor cômodos inabitadossenão pela possibilidade do vir-ser sussurrose por selos abertos através das paredes

nesta cidade sou apenas um nomenão homem, nem palavra ou patronomoro de favor numa casa em construção

não posso ser teu sem ter de tio que outros tomaram como de direitoserei o bandido a te fazer vislumbrar o ouroe saquearei de volta o convívio roubadopela sagacidade de mocinhos empreiteiroscontra cujos testemunhos nada poderiapois bandidos têm honra

que nos separem, entãoeles, que mal sabem o significado de uma marcao furor de uma identidade nulificadaque, no entanto, não precisa mendigar porfarelos assertivoscomo foi de costume na farsa primeira

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pois no outro extremo da distânciahá de ter sempre quem espere pelos bradose paredes não mais terão razão de ser

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pertences

a sorrisos não pertencem decisõesdecisões sugerem espasmosimpelir o filho crescido ventre adentroe esperar pela hora marcada no saguão de

[embarqueatrasando-se nos vãos da lembrançade um acaso em nada cabal

um sorriso é gana que hesitae ainda teme os impropérios de uma recaídafaz forçamas não suporta o partorange os gritos de repudia que lhe cairão os braçose evita as dores de uma só vigília

sobrancelhas apenas prolongam o ditocortadas, não emitem opinião

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barinaite

meu argumento é tua tosse

ajuda a expelir os nósque amordaçam o pálido ventredos calçados de um só terço privado

rebate o obscuro de teu corte

embora não sussurre afazeresnem alivie assadurascomo quem adula a glande

montanota´velgraça ecandura,desacrílrgos

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corria intrépido pelas alamedas de arruâniaem busca de um covil perfeito

não se foramnem se protuberanciaramdiante de olhos que lhes aterravam

eram normais e adversos às tendências influentes

acobertaram-me em calmarias di-vagantese chafurdei com olinah

agoraresigno-me a sentir o odordas vaginuladas

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carambolas & prevaricações(cabíveis de veto)

despelado qual um hamstersaído da alcovanão obstante os carrapatosacumulados pelo caminho

fora três casas endireitadodegrau abaixo

despejado na mesa friapreparada para minha chegadanum festival de teratismos

como coadjuvante da atenção central sem panis[aparente

recebo as alfinetadascabeças de baixa-tementerefletindo o brio dos teus olhos semi-cerrados

fosforeço porém nossos constrastesde nada adiantam tuas rugas forçadas

nem se sustentamse tanto te deslumbrame põem a perder o há muito de cada experimento

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perdoa os impropérios

só não posso mais sero azul de metileno queora fascina oraconsente com a morte de bastardos em nome ou

[falta de causas maioresbaforadas entre precauções e desgostos em meu

[cangote

não posso conceber um deus que não saiba dançar

beegeesoudarkness

nem tente

los cios de madre helena

e os dois ou dez outros bagos que lhe acompanham[dentro e fora da verdade

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desperto dolores das dores do parto

tomba-latas regido por decretos de sanjademarco território com as penitências não

[cumpridas

vagabundo de coração e mal-passadoscauso prejuízo aos rodíziose buffets onde satisfaço minha gula

confessei-me incapaz para os pedágios e bloqueiosdeixados para trás com a voz de prisão

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trem pagão

pôde não ter parecido tantomas retirei todo o mofo da casaque se acumulava fazia anosem jarras de barro e pentes de madeiradependurados dos vãos entre um tijolo e outroa aliviar as queimaduras do corpoincendiei as paredespreservando as polaroids da oficinapara quem mais quisesse rasgar o peitoe postergar o juízo alquebradode quem já não tem mais um álibi à disposiçãoe transita incandescente de uma estação a outra

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estrelas e quetais – a mais claudicantedas rosas psicoativas

lapsos de esteiospor mais que não encontrem seu encaixeem viagens permeadas pelo fastio de

[um tom comumseguem suas rotas originaisna incerteza de que estarãoesporeando o ventoaleatoriamente

cala-se o estampido de uma fugaprolongando-a despida e úmidade porta em portacomo quem colhe o centeio bravioque se atira ao sabor amargo e entorpecidode uma desventuratão distante quanto a partida

contrariamos a tradição de nossos cabrestose ela nos contradizdo meio de suas pernas

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agradeço a meus pais, minhas irmãs, minha exposa –eterna trocadilha –, aos bebuns e a alonso, meu professor

de literatura pré-vestibular, quem me disse commuitas de todas as letras que minha poesia

era uma merda. não sei se concordo. ao menos,bosta bóia.

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dos versos fandangos ou a má reputaçãode um estulto em polvorosa foi impresso sobrepólen bold 90g/m2 e cartão papirus 250 g/m2

na gráfica imprinta em agosto de 2006 para aviveiros de castro editora ltda.