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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E NEUROCIÊNCIA: UM DIÁLOGO POSSÍVEL Andréa Maria Monteiro Sant’Anna ORIENTADORA: Profª. Marta Relvas Rio de Janeiro 2016 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E NEUROCIÊNCIA:

UM DIÁLOGO POSSÍVEL

Andréa Maria Monteiro Sant’Anna

ORIENTADORA: Profª. Marta Relvas

Rio de Janeiro 2016

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Neurociência Pedagógica. Por: Andréa Maria Monteiro Sant’Anna

EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E NEUROCIÊNCIA:

UM DIÁLOGO POSSÍVEL

Rio de Janeiro 2016

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AGRADECIMENTOS

A todo corpo docente da AVM – Faculdade Integrada, à professora e orientadora Marta Pires Relvas pelo incentivo e apoio, à Suzana Costa, pela formatação, à professora Cláudia Alves Pereira Corrêa por me incentivar a fazer essa pós-graduação e as pessoas que direta ou indiretamente contribuiram para a realização desse trabalho.

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DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a minha mãe, Anna Maria, pela professora que foi e por ter me inspirado a ser a professora que sou. À minha filha Hikari, por ser uma adolescente que acha Matemática difícil e aos meus alunos adolescentes, que me levam sempre a refletir sobre a minha prática docente.

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RESUMO

Esse trabalho tem por objetivo facilitar a aprendizagem da

Matemática no Ensino Fundamental através do conhecimento da anatomia e

da fisiologia do cérebro.

Definir o que é a Educação Matemática, como surgiu, qual o seu

propósito e principais linhas de pesquisa, que são a Modelagem Matemática, a

Etnomatemática, a resolução de problemas e o trabalho com jogos nas aulas

de Matemática. Esclarecer também quais os aspectos das neurociências que

estão ligados aos processos da aprendizagem e da educação. Esses aspectos

são: Neuroplasticidade, Atenção, Emoção, Funções Executivas, Processos

Neurobiológicos da Leitura, a Inteligência, Psicomotricidade e as Síndromes

que afetam a aprendizagem.

Falar sobre o aluno do Ensino Fundamental que aprende

Matemática, quem é o adolescente e como o seu cérebro funciona. Mostrar

também o desenvolvimento das Habilidades em Matemática e as dificuldades

em Matemática. Levar o docente de Matemática a conhecer como funciona o

cérebro de seu aluno a fim de aperfeiçoar a sua prática.

Palavras-chave: Educação Matemática, Neurociência, Diálogo.

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METODOLOGIA

O método utilizado para a pesquisa referente a esse trabalho baseia-

se na leitura de livros sobre Neurociência, Educação Matemática e artigos

relacionados ao tema. Os autores que darão embasamento científico para essa

monografia serão: Marta Pires Relvas, Roberto Lent, Suzana Herculano, José

Alexandre Bastos, Ubiratan D’Ambrosio, Sérgio Lorenzato, Flávia Dias Ribeiro

e Heber Maia.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Educação Matemática – Sua Definição e Principais Linhas de Pesquisa 10

CAPÍTULO II

Neurociência e a Aprendizagem 26

CAPÍTULO III

Relação entre a Aprendizagem Matemática e o Cérebro 44

CONCLUSÃO 61

BIBLIOGRAFIA 64

ÍNDICE 66

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INTRODUÇÃO

Esse trabalho tem por objetivo facilitar a aprendizagem de

Matemática no ensino fundamental através do conhecimento da anatomia e

fisiologia do cérebro, promovendo um diálogo entre a chamada Educação

Matemática (ramo da Matemática que busca através de pesquisas promoverem

um melhor aprendizado dessa ciência) e a Neurociência. Além disso, levar ao

conhecimento dos docentes em Matemática como o cérebro do seu aluno

adolescente funciona, objetivando o aperfeiçoamento da sua prática e

adaptação da sua metodologia de ensino.

A partir do momento em que o professor tem conhecimento da

fisiologia e da anatomia do cérebro do seu aluno, sua partes, funções e

relações com o processo de ensino-aprendizagem (principalmente as partes

ligadas ao raciocínio lógico, visão espacial e raciocínio abstrato), seu

planejamento fica mais adequado ao seu principal objetivo: levar esse aluno

adolescente a aprender Matemática e aplicá-la em sua vida cotidiana.

Esse tema se faz necessário diante do alto índice de reprovação e

baixo desempenho dos alunos do ensino fundamental em Matemática

comprovados por resultados de pesquisas e estatísticas. Há um senso comum

de que a disciplina Matemática é muito difícil e que só os alunos considerados

“inteligentes” conseguem aprendê-la.

É fato que a Matemática Aplicada está inserida no nosso cotidiano:

somos capazes de calcular, mensurar, agrupar, estabelecer correspondências,

abstrair, particularizar, generalizar, e outras práticas. Usamos códigos, um

sistema monetário, unidades de tempo, massa, volume, área e simetria nas

Artes, Medicina, Esportes, Música e Educação com frequência suficiente para

que percebamos a importância da Matemática na nossa sociedade.

O presente trabalho inicia falando sobre a Educação Matemática,

seu contexto histórico, sua definição e principais linhas de pesquisa (Resolução

de problemas, Modelagem Matemática, Etnomatemática e o uso de jogos).

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Segue-se o capítulo que discorre sobre a relação entre a Neurociência e a

Aprendizagem através da organização, morfologia e funcionamento do sistema

nervoso, a Neuroplasticidade, a atenção, memórias, emoção, funções

executivas, processos neurobiológicos da leitura, inteligência, psicomotricidade

e as síndromes ligadas ao mau funcionamento do sistema nervoso. Finaliza-se

com o capitulo que estabelece a relação entre a Matemática e o cérebro,

explica o desenvolvimento das habilidades matemáticas e as funções

cognitivas à luz da Neurociência, chamando a atenção para a Discalculia e

termina com uma abordagem sobre a relação entre a adolescência e o cérebro,

pois o docente em Matemática precisa entender como o cérebro do seu aluno

adolescente funciona.

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CAPÍTULO I

EDUCAÇÃO MATEMÁTICA. SUA DEFINIÇÃO E AS

PRINCIPAIS LINHAS DE PESQUISA

O curso Universitário em Matemática apresenta duas linhas de trabalho: Bacharelado e Licenciatura, estando a segunda ligada diretamente ao processo de ensino-aprendizagem. Com o objetivo de preparar melhor esse licenciando e aperfeiçoar o trabalho dos professores de Matemática, surgiu uma nova área do conhecimento Matemático chamado Educação Matemática. (LORENZATO, 2007).

1.1. Educação Matemática como Campo Profissional de Ensino

e Pesquisa

A Educação Matemática consiste na pesquisa e no desenvolvimento

de técnicas ou formas mais eficientes e adequadas de se ensinar Matemática

envolvendo também estudos sobre como acontece seu processo de ensino e

aprendizagem. É a metodologia de ensino no seu sentido mais amplo.

Segundo o matemático e pesquisador, Sérgio Lorenzato, em seu

livro Investigação em Educação Matemática (2007), a Educação Matemática

(EM) caracteriza-se como uma práxis que envolve o domínio de ideias e

processos pedagógicos relativos à transmissão/assimilação e/ou a apropriação/

construção do saber matemático escolar.

Segundo Lorenzato (2007), ser matemático e ser educador

matemático tem definições diferentes, apesar de trabalharem com a mesma

ciência. O educador matemático percebe a matemática como um caminho

importante à formação intelectual e social dos alunos e também do professor

de matemática do ensino fundamental e médio, tentando realizar uma

educação pela matemática. Para o pesquisador:

Os educadores matemáticos realizam seus estudos utilizando métodos interpretativos e analíticos das ciências sociais e humanas, tendo como perspectiva o desenvolvimento de conhecimentos e práticas pedagógicas que contribuam para

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uma formação mais integral, humana e crítica do aluno e do professor. (LORENZATO, 2007, p. 4)

A Matemática é a única disciplina a atingir caráter de universalidade

porque é ensinada aproximadamente da mesma maneira e com o mesmo

conteúdo para todas as crianças do mundo. Ela representa a essência do que

é chamado de pensamento moderno e que a partir do século XVII se alastrou

por todo o mundo com crescente importância.

“A raiz grega da qual se origina a palavra Matemática; mathema

significa aprendizagem, entendimento, manejo da realidade, objetivos muito

mais amplos que o simples contar e medir” (Machado, 1987, p. 7). Já a

educação matemática (EM) é uma área de estudos relativamente recente

nascida a pouco mais de 50 anos. Nas últimas décadas, o Brasil e outros

países têm, através da pesquisa científica que realizam, responder a perguntas

básicas como:

• Qual é a identidade da EM?

• Quais são os domínios e fronteiras da EM?

• O que é ser um educador matemático?

• Quais são os objetivos da pesquisa em EM?

É necessário que se busque respostas para essas perguntas, pois

hoje é impossível trabalhar, por exemplo, em ciências biomédicas sem um

instrumental matemático sofisticado. A sociedade está impregnada de

Matemática. Com o advento da Informática, essa importância se intensifica. A

Antropologia tem na Matemática um importante instrumento de trabalho, assim

como a Psicologia. Da mesma forma a História, incluída a Pré-História e a

Paleografia, assim como a Linguística e a Arte.

1.2. Educação Matemática e o Contexto Histórico

O MEC que unifica esses segmentos da Matemática. Surgem os

primeiros livros didáticos de Matemática, baseados em trabalhos europeus. Em

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1940 são criadas escolas técnicas profissionalizantes, o SENAI e o SENAC,

ligadas à indústria e ao comércio com o objetivo de formar pessoas

interessadas em ingressar mais rápido no mercado de trabalho. Agora temos a

“Matemática Moderna“ não muito a educação brasileira sofre forte influência

externa desde o período colonial, pelo uso indiscriminado de textos, manuais e

propostas educacionais americanas e europeias, inspirando maciçamente os

currículos e ações governamentais.

Nesse período, as escolas jesuíticas objetivavam ensinar a ler,

escrever e contar, restringido a uma pequena parte da sociedade, de situação

privilegiada.

A Aritmética era rudimentar, enquanto a álgebra, a geometria e a

trigonometria tiveram destaque apenas no período imperial com a criação do

Colégio Pedro II. Nesse período esses segmentos da Matemática eram

tratados como disciplinas autônomas baseadas em textos franceses,

traduzidos para o nosso idioma.

Somente na República, uma maior parte da população passou a ter

acesso à escola pública e gratuita. Nessa época, a aritmética e a álgebra eram

colocadas de forma pragmática, sem justificar os porquês, resumindo a

aprendizagem das mesmas a regras e fórmulas não contextualizadas à

realidade do estudante. O ensino da geometria era valorizado. Acreditava-se

que ela “ensinava a pensar”.

O método de ensino mais utilizado era a dedução. Em 1930 é criada

e aceita pela maioria da população que não compreendia sua finalidade. Essa

Matemática possuía uma linguagem mais detalhada, fazendo uso de letras

para representar valores desconhecidos e de um vocabulário mais elaborado,

exigindo do aluno um raciocínio mais “abstrato”.

Com mudanças políticas, econômicas e sociais, a função da escola

passa a preparar o indivíduo para o mercado de trabalho e a Matemática

Moderna foi a tendência predominante, influenciando programas de ensino e

currículos. Na década de 70, na Europa, essa Matemática já sofria críticas.

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Mesmo influenciando os currículos atuais, ao fazer uma análise mais profunda,

constata-se uma dificuldade em diferenciar a Matemática moderna do

programa tradicional de ensino. Mais de quarenta anos se passaram e os

índices de reprovação em Matemática nas escolas continua altíssimo, além da

média baixa no resultado de concursos e vestibulares.

De acordo com Carvalho (1990),

A Matemática Moderna não resolveu esses problemas porque, em primeiro lugar, são de ordem metodológica e não de conteúdo. Além disso, no que se refere ao conteúdo, não houve real reformulação, apenas foram injetadas unidades sobre Teoria dos Conjuntos nos livros já existentes sendo raros os autores que alteraram a abordagem teórica geral (CARVALHO, 1990, p. 47).

1.3. A Resolução de um Problema Matemático

“Uma grande descoberta resolve um grande problema, mas há

sempre uma pitada de descoberta na resolução de qualquer problema” (Polya,

1994, p. v).

Uma das questões que preocupa os pesquisadores em Educação

Matemática é a resolução de problemas. O processo utilizado pelas escolas

para resolver problemas não tem levado a bons resultados. Isso se deve a

metodologia desse processo.

A lógica tradicional da apresentação de um conteúdo é:

Uma definição (Teorema) – demonstração do mesmo – aplicação

(problemas).

Essa metodologia leva a um processo rotineiro, mecânico e

cansativo onde o que importa é o produto final (o resultado) do problema,

acarretando o desinteresse desse aluno. Assim,

O saber matemático não se apresenta ao aluno como um sistema de conceitos, que lhe permite resolver um conjunto de problemas, mas como um interminável discurso simbólico, abstrato, incompreensível (BRASIL, 1995, p 30).

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Educadores matemáticos então apresentam a resolução de

problemas sob uma nova ótica, invertendo as etapas dessa metodologia. Inicia-

se pelo problema. É o que os educadores matemáticos chamam de “situação

problematizadora”. O aluno tenta resolver o problema apresentado a partir da

transferência entre o conhecimento que ele já tem e o novo que lhe é

apresentado.

A resolução do problema é que fará com que ele chegue ao conceito

e não o contrário. Quando lhe é apresentado um problema, o aluno é obrigado

a interpretar o enunciado da questão e estruturar a situação que lhe é

apresentada, construindo um campo de conceitos que utiliza, de acordo com o

contexto de aprendizagem, sempre acompanhado de retificações e

generalizações. Deve-se também diferenciar um problema de exercícios de

aplicação, repetição e memorização. A aprendizagem em Matemática deve se

dar sempre a partir de uma situação problema.

É importante ressaltar que o aluno só compreende um problema se,

ao final, é capaz de comprovar os resultados, avaliar hipóteses e compreender

diferentes algoritmos: o processo de descobrir os caminhos para resolver um

problema é mais importante que o resultado, pois revela a bagagem de

conhecimentos que esse aluno tem. A criatividade, o censo crítico, a

curiosidade e o prazer do ser humano levaram à evolução do conhecimento

matemático ao longo da história.

As pesquisas em Educação Matemática também levaram a um

esquema para a resolução de problemas. Esse esquema compreende quatro

etapas e cada etapa se liga a questões e recomendações. São elas:

Etapa 1: Compreender o problema.

A essa etapa temos os seguintes questionamentos: a) O que se

pede no problema? b) Quais são os dados e as condições do problema? c) É

possível fazer uma figura, um esquema ou um diagrama? D) É possível estimar

a resposta?

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Etapa 2: Elaborar um plano.

A essa etapa temos os seguintes questionamentos e

recomendações:

a) Qual é o seu plano para resolver o problema? b) Que estratégia

você tentará desenvolver? c) Você se lembra de um problema semelhante que

pode ajudá-lo a resolver este? d) Tente organizar os dados em tabelas e

gráficos. e) Tente resolver o problema por partes.

Etapa 3: Executar o plano.

Essa etapa com as seguintes recomendações:

a) Execute o plano elaborado, verificando-o passo a passo. b) Efetue

todos os cálculos indicados no plano. c) Execute todas as estratégias

pensadas, obtendo várias maneiras de resolver o mesmo problema.

Etapa 4: Fazer o retrospecto ou a verificação.

Essa última etapa com as seguintes recomendações:

a) Examine se a solução obtida está correta. b) Existe outra maneira

de resolver o problema? c) É possível usar o método empregado para resolver

problemas semelhantes?

Ao usar esse esquema de forma sistemática, o aluno organiza

melhor o pensamento. É importante também que ele compare sua ideia inicial

com a de uma colega ou grupo, favorecendo o aprendizado.

1.4. Modelagem Matemática no Contexto da Educação

Matemática

A modelagem Matemática tem sua origem enquanto método de

pesquisa na Matemática Pura e aplicada. Tem por finalidade elaborar técnicas

que permitem a previsão de fenômenos físicos, químicos, sociais e outros.

Segundo Bassanezi (2002), a modelagem como método científico, instrumento

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de pesquisa e instrumento de pesquisa pode: estimular novas ideias, técnicas

experimentais, informações em diferentes aspectos dos inicialmente previstos,

interpolações, extrapolações e previsões; servir de recursos para melhor

entendimento da realidade; servir á linguagem universal para entrosamento e

compreensão entre diversos pesquisadores em diversas áreas do

conhecimento. A Matemática e a modelagem, nessa perspectiva, estão

orientadas epistemologicamente pela visão das Ciências Exatas e Naturais.

Utiliza-se a Modelagem Matemática como “método” de ensino de

Matemática no âmbito do ensino e da aprendizagem. Segundo Burak (1992,

1998, 2004 e 2006), a Modelagem se orienta por dois princípios: 1) Partir do

interesse do grupo de pessoas participantes; 2) Os dados são coletados no

ambiente de interesse do grupo. Didaticamente, a modelagem acontece com

as seguintes etapas:

1) Escolha do tema.

2) Pesquisa Exploratória.

3) Levantamento dos problemas.

4) Resolução dos problemas e desenvolvimento do conteúdo

matemático no contexto do tema.

5) Análise crítica das soluções.

Detalhando um pouco cada etapa acima.

1.4.1. Escolha do Tema

O professor apresenta aos alunos alguns temas que possam gerar

interesse ou os próprios alunos sugerem um tema que não precisa ter

nenhuma ligação imediata com a matemática ou com conteúdos matemáticos,

mas com o quê os alunos querem pesquisar. Já nessa fase o professor

assume a postura de mediador para dar o melhor encaminhamento para que a

opção dos alunos seja respeitada.

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1.4.2. Pesquisa Exploratória

Escolhido o tema a ser pesquisado, encaminham-se os alunos para

a procura de materiais e subsídios teóricos dos mais diversos que possam

conter informações e noções prévias sobre o quê se quer desenvolver na

pesquisa que pode ser bibliográfica ou um trabalho de campo, trazendo riqueza

de informações e estímulo para execução da proposta.

1.4.3. Levantamento de Problemas

De posse dos materiais e da pesquisa desenvolvida, o professor

leva os alunos a conjecturar sobre tudo que pode ter relação com a

Matemática, elaborando problemas simples ou complexos que possibilitem

aplicar ou aprender conteúdos matemáticos tendo o professor como “mediador”

dessas atividades.

1.4.4. Resolução dos Problemas e Desenvolvimento do

Conteúdo Matemático no Contexto do Tema

Nessa etapa, busca-se responder os problemas levantados com o

auxílio do conteúdo matemático que é desenvolvido de forma acessível, para

depois ser sistematizado. Faz-se então um caminho inverso do usual, pois se

ensina o conteúdo para os problemas levantados na pesquisa.

1.4.5. Análise Crítica das Situações

Etapa fundamentada na crítica, não apenas da Matemática, mas de

outros aspectos como a viabilidade das resoluções apresentada que muitas

vezes são “resolvíveis” matematicamente, mas inviáveis para a situação

estudada e para situações reais. E a análise dos conteúdos, seus significados

e no que os alunos podem contribuir para a melhoria das ações e decisões

como pessoas integrantes da sociedade e da comunidade em que participam.

Usar a Modelagem Matemática como recurso didático leva a um

maior interesse e interação dos grupos no processo de ensino e aprendizagem,

demonstrando uma forma diferenciada de conceber a educação, o ensino e a

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aprendizagem levando o professor a adotar uma nova postura e relacionar a

Modelagem Matemática com uma contextualização.

Segundo a professora e pesquisadora Flávia Dias Ribeiro (2009), a

Modelagem Matemática é uma das possibilidades de trabalho com projetos nas

aulas de Matemática, pois ampliam a capacidade de crítica dos alunos. Ela

apresenta o significado da modelagem sob a ótica de diferentes autores:

Barbosa (2004) citado por Ribeiro (2009) define a modelagem como

um ambiente de aprendizagem que proporciona aos alunos problematizar e

investigar através da Matemática, situações reais. Para Biembengut (2000,

p.12) e Hein (2000, p.12) citados também pela pesquisadora, “a modelagem

matemática é a obtenção de um modelo, definido como um conjunto de

símbolos e relações matemáticas, traduzindo um fenômeno ou uma situação

problema da realidade”.

Outro autor também citado por Ribeiro, Bassanezi (2004) define a

modelagem como:

Um processo dinâmico utilizado para a obtenção e validação de modelos matemáticos. É uma forma de abstração e generalização com a finalidade de previsão de tendências. A modelagem consiste, essencialmente, na arte de transformar situações da realidade em problemas matemáticos cujas soluções devem ser interpretadas na linguagem usual. A modelagem é eficiente a partir do momento que nos conscientizamos que estamos sempre trabalhando com aproximação da realidade, ou seja, que estamos elaborando sobre representações de um sistema ou parte dele (BASSANEZI apud RIBEIRO, 2004, p. 24).

Baseando-se nas definições desses autores, percebemos a

necessidade da formulação e resolução de problemas como atividade

fundamental no processo de modelagem, da qual origina-se a elaboração de

um modelo.

A Modelagem Matemática pode ser aplicada da Educação Infantil ao

Ensino Superior, onde o nível de aprofundamento dos conhecimentos e os

temas trabalhados são adaptados de acordo com cada etapa escolar.

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Ribeiro (2009) exemplifica como proposta de trabalho na modelagem

matemática o seguinte tema gerador do projeto: “Produção de cenouras”.

Nessa proposta de modelagem, têm-se as seguintes etapas:

• Seleção dos conteúdos matemáticos curriculares a serem

trabalhados: medidas de comprimento, escalas, operações aritméticas e

sistema monetário.

• Escolha do tema gerador (tema ligado à realidade onde os

conteúdos curriculares serão estudados): produção de cenouras.

• Definição da questão matriz (define o que se pretende alcançar a

partir do tema): considerando duas qualidades distintas de cenouras, qual

delas é mais vantajosa de ser plantada num determinado canteiro, de modo a

obter maior quantidade de cenouras na época da colheita?

• Problematização e resolução de problemas (fase para responder

à questão matriz a partir da problematização e a investigação do tema. É

quando os conhecimentos matemáticos surgem da necessidade de resolver a

questão matriz): Quais as medidas do canteiro para o plantio das cenouras?

Qual a distância entre as linhas para o plantio? Como deve ser feito o

desbaste? Quantas mudas de cada qualidade poderão ser plantadas?

• Construção de conceitos matemáticos (etapa desenvolvida

simultaneamente à problematização e resolução de problemas. Garante a

construção de conceitos à medida que os problemas são resolvidos): Para

resolver os problemas citados no item anterior, é necessário perceber as

noções de escala, de medidas de comprimento, de paralelismo para

representar fileiras, entre outras.

• Solução da situação problematizadora: Discussão e análise da

situação na qual os alunos poderão perceber que o plantio de determinada

qualidade de cenoura acarretará maior quantidade de mudas, embora outros

fatores também devam ser considerados, entre os quais a época do plantio e

as condições do solo.

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• Apresentação (divulgar através de feiras, cartazes, exposições e

relatos de experiências os resultados obtidos): Registro dos esboços e cálculos

realizados, organização de tabela com dados coletados, confecção de maquete

do canteiro.

• Retrospecto (Seminário de reflexão crítica sobre o projeto):

Seminário de discussão e análise coletiva de todo o projeto de modelagem

realizado.

Ribeiro (2009) também destaca que há várias possibilidades

avaliativas onde os instrumentos de avaliação utilizados devem priorizar a

avaliação formativa dos alunos. Instrumentos como a observação, produção de

relatórios, provas escritas (desde que não seja para simplesmente avaliar se

houve memorização da informação) e a autoavaliação e são algumas das

possibilidades que estão de acordo com a ideia de uma avaliação voltada para

o desenvolvimento dos alunos. A pesquisadora destaca o pensamento de

Paulo Freire (2003):

Ao pensar sobre o dever que tenho, como professor, de respeitar a dignidade do educando, sua autonomia, sua identidade em processo, devo pensar também, como já salientei, em como ter uma prática educativa em que aquele respeito que se deve ter ao educando, se realize em lugar de ser negado. Isso exige de mim uma reflexão crítica permanente sobre minha própria prática através da qual vou fazendo a avaliação do meu próprio fazer com os educandos. O ideal é que, cedo ou tarde, se invente uma forma pela qual os educandos possam participar da avaliação. É que o trabalho do professor é o trabalho do professor com os alunos e não do professor consigo mesmo (FREIRE, 2003, p. 71).

1.5. Etnomatemática

Não existe no cotidiano de todos os povos e de todas as culturas, atividades que não envolvam alguma forma de Matemática, mas não necessariamente a Matemática dos currículos escolares. Ela é ensinada de acordo com cada povo e sua cultura: É o que chamamos de Etnomatemática (D’AMBRÓSIO,1990).

A Etnomatemática é uma teoria dentro da Educação Matemática

baseada no fato de que o ensino de Matemática deve levar em consideração a

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realidade sócio cultural do aluno, o ambiente em que ele vive e o conhecimento

que ele traz de casa. Esse ensino não pode ser elitista nem hermético. Propõe-

se uma maior valorização dos conceitos matemáticos informais, construídos

pelos alunos através de suas experiências fora do contexto da escola. No

processo de ensino propõe-se que essa Matemática construída informalmente

seja utilizada como ponto de partida para o ensino formal.

A ideia é eliminar a concepção tradicional de que todo conhecimento

matemático do indivíduo será adquirido no ambiente escolar e mais, de que o

aluno chega à escola sem nenhum pré-conceito de ideias matemáticas. Essa

proposta de trabalho exige uma preparação do professor para reconhecer e

identificar as construções conceituais desenvolvidas pelos alunos, que quando

se sentem valorizados, aprendem também a valorizar sua origens e passam a

acreditar que podem mudar suas realidades se preciso for e construir sua

própria história.

Alguns livros didáticos já apresentam situações contextualizadas à

realidade do aluno para transmitir o conhecimento matemático, mas ainda de

forma muito genérica. Logo, um mesmo livro didático não poderia ser utilizado

em, pelo menos, cidades diferentes, pois cada lugar tem suas características

próprias como: principal atividade econômica, turística, expressões culturais e

políticas entre outras.

Quando os conteúdos são abordados, baseados em fatos do seu

cotidiano, da sua realidade, esse aluno sente-se valorizado e também valoriza

suas origens, percebendo que a Matemática faz parte da sua vida e que sua

aplicabilidade transcende a sala de aula.

De acordo com Chieus Junior (2004), a palavra Etnomatemática é

composta de três raízes, “tica”, “matema” e “etno” para significar que há várias

maneiras e técnicas de explicar, de entender, de lidar e de conviver com

diferentes contextos culturais e socioeconômicos da realidade.

Essa teoria é defendida pelo matemático e pesquisador Ubiratan

D’Ambrósio, professor emérito da Unicamp, da Puc de São Paulo e do

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programa de pós-graduação em Educação Matemática do Instituto de

Geociências e Ciências Exatas da Unesp. Atualmente é professor no curso de

Doutorado na Uniban.

A Matemática é uma disciplina universal e caracteriza a própria

espécie humana pelo raciocínio, possibilitando o aluno a resolver problemas

com situações reais, ou seja, a Matemática é extremamente útil para a vida.

A Etnomatemática pode ser vista como uma prática social, pois visa

a criação de um sistema educacional próprio, sem copiar modelos de outros

países, pois cada um tem sua própria cultura. Essa ideia da contextualização é

inclusive encontrada na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação.

É necessário motivar os alunos na sala de aula e isso se dá

abordando fatos da realidade deles ou quando se faz uma análise histórica.

Porém, o conhecimento não deve se reduzir ao saber cotidiano, a escola e os

professores devem aprimorar esse saber para que as soluções das situações

problema do dia a dia sejam ágeis e eficientes.

Acredita-se que o aluno tenha um envolvimento, não só intelectual,

mas também afetivo, ou seja, o tratamento contextualizado do conhecimento é

uma das ferramentas que a escola tem para retirar o aluno da condição de

espectador passivo, estabelecendo relações fundamentais e não arbitrárias

entre os conteúdos escolares e os conhecimentos previamente construídos por

eles.

Trabalhar com a contextualização tem por fim criar condições para

uma aprendizagem motivadora, levando o aluno a superar o distanciamento

entre os conteúdos estudados e suas experiências, estabelecendo relações

entre os assuntos estudados trazendo referências históricas, culturais ou

sociais ou até da própria Matemática.

1.6. A Importância do Uso dos Jogos na Educação Matemática

Segundo Ribeiro (2009), a exploração dos jogos no contexto

educativo das aulas de Matemática contribui para o desenvolvimento de

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diversas habilidades. Uma delas é a de resolver problemas. As atividades que

envolvem a resolução de problemas impulsionam o processo de ensino-

aprendizagem matemático, ou seja, são os problemas que desencadeiam a

aprendizagem matemática e, por meio dos quais, os conhecimentos

matemáticos emergem, de forma que os problemas são entendidos como

ponto de partida da atividade matemática.

A aprendizagem é mediada pela própria atividade de resolver

problemas. Isso exige do professor uma profunda compreensão da

metodologia de resolução de problemas. Essa questão merece ser ressaltada

no curso de Licenciatura em Matemática, pois esses professores quando eram

alunos de Matemática, vivenciaram uma metodologia de resolução de

problemas contrária a esse “modelo”.

Pode-se dizer que atividades com jogos no ensino da Matemática

são atividades de resolução de problemas, pois ao jogar, o aluno potencializa

habilidades de resolução de problemas. Para Grando (2004),

É fundamental inserir as crianças em atividades que permitam um caminho que vai da imaginação à abstração, por meio de processos de levantamento de hipóteses e testagem de conjecturas, reflexão, análise, síntese e criação, pela criança, de estratégias diversificadas de resolução de problemas em jogos (GRANDO, 2004, p. 222).

Para que essa ideia se concretize, é necessário um estudo

detalhado do jogo que se pretende propor aos alunos, assim como as

estratégias adotadas para que o uso do jogo não seja uma simples atividade

desvinculada do processo de ensino-aprendizagem, como um passatempo.

O uso de jogos nas aulas de Matemática feito com seriedade pode

favorecer o desenvolvimento da criatividade, do senso crítico, da participação,

da competição “sadia”, da observação das várias formas de uso da linguagem,

resgate do prazer em aprender e na construção do próprio conhecimento do

aluno e sua autonomia. Essa prática pode ser adotada em todos os níveis de

escolaridade, com a metodologia adequada a cada um deles e caracterizada

como uma atividade desafiadora.

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Diversos autores propõem várias possibilidades de jogos didáticos.

Piaget propõe uma classificação dos jogos, associada aos diferentes estágios

de desenvolvimento cognitivo da criança. São eles, nessa ordem, jogos de

exercícios, jogos simbólicos e jogos de regras sendo este último, o mais

indicado nas aulas de Matemática.

Nos jogos de regras propõe-se uma situação problema (objetivo do

jogo) que o aluno resolve ou não (resultado do jogo), ou seja, são constituídos

por um conjunto de condições e procedimentos necessários à execução e à

conclusão do jogo.

Segundo Macedo (2001), pode-se explorar nos jogos de regras

aspectos de ordem afetiva, social e cognitiva.

1) Aspecto afetivo: competir com um adversário ou vencer um

objetivo; regular o ciúme; a inveja; a frustração; adiar o prazer

imediato.

2) Aspecto social: lidar com exigências básicas para uma vida

social: necessidade de uma linguagem, de códigos e,

principalmente, da consideração de regras que regulam nosso

comportamento interindividual.

3) Aspecto cognitivo: possibilidade e necessidade constante de

construir novos e melhores procedimentos e estruturas de

fazer e compreender o mundo, descobrir os erros e construir

pouco a pouco, meios de superá-los, de tomar consciência,

ainda que relativa daquilo que nos determina.

O desenvolvimento desses aspectos apresenta-se como elementos

centrais no conjunto dos princípios norteadores do uso dos jogos em

Matemática. Esses jogos devem ser realizados em grupos, pois favorecem a

interação social entre os participantes e a capacidade de cooperação. Além

disso, nesse contexto educativo, o jogo escolhido deverá ter e propor situações

interessantes e desafiadoras para os jogadores, permitir a autoavaliação do

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desempenho do jogador e permitir também a participação ativa de todos os

jogadores durante todo o jogo. Os critérios acima apontam a importância dos

professores organizarem as atividades de ensino com o uso de jogos,

estabelecerem objetivos bem definidos e definir estratégias que potencializem a

compreensão, formalização e generalização de conceitos.

De acordo com a pesquisadora Ana Maria Antunes de Campos (2015),

cada aluno absorve e retém informações dentro de um contexto social, cognitivo,

sendo o mesmo responsável pela construção do seu conhecimento. Não é

possível dissociar o psíquico do físico, estando as estruturas do raciocínio lógico

matemático estão diretamente ligadas com nossas representações sociais.

Para Campos, há seis habilidades matemáticas básicas que a criança

deve desenvolver nos anos iniciais da escolarização para que haja assimilação de

conteúdos mais elaborados provenientes desses. São eles: sistema de

numeração decimal; formas geométricas; sistema monetário; grandezas e

medidas; e finalmente as chamadas operações básicas. Os jogos são uma das

ferramentas relevantes para que esse aprendizado se dê.

Existe hoje um trabalho na tentativa da utilização dos jogos em

matemática como uma das formas de produzir conhecimento. Com os jogos, os

alunos são instigados a investigar, refletir e debater sobre determinados conceitos,

formulando novas teorias de forma lúdica. Esses jogos podem e devem ser

confeccionados pelo professor e pelos alunos, desenvolvendo assim habilidades

táteis, visuais, motora fina e coordenação.

As crianças com discalculia, que tendem a se isolar devido a sua

dificuldade, também se beneficiam. Segundo Campos, com a prática dos jogos

pois as mesmas não interagem com o grupo escolar. Essas crianças comunicam-

se de forma satisfatória, expondo-se sem medo de críticas ou rejeição.

Ao brincar, o aluno trabalha não só o conteúdo matemático, mas

também a autoestima, o autocontrole, a comunicação, interação social e outras

habilidades fundamentais para sua vida pessoal, acadêmica e cognitiva.

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CAPÍTULO II

NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM

É necessário que os educadores conheçam e entendam o processo da aprendizagem, compreendendo que suas interações perpassam por aspectos biológicos, psicológicos e sociais, o ambiente em que isso se dá e a sala de aula. Neurofisiologicamente, os alunos estão com os órgãos dos sentidos estimulados e, por consequência há um movimento ininterrupto de conexões nervosas. De posse desse conhecimento, os educadores poderão solucionar e minimizar as dificuldades de seus alunos, desde que compreendam os processos e os princípios das estruturas do cérebro e seu funcionamento. Os estudos sobre a biologia do cérebro contribuem para esse processo educacional, compreendendo as dimensões cognitivas, motoras, afetivas e sociais favorecendo um novo olhar sobre esse aluno (RELVAS, 2009, p. 11-12).

2.1. Paralelo entre Neurociências e Educação

Segundo o médico Ramon Cosenza (2011), o cérebro é o órgão da

aprendizagem. Conhecimentos sobre como o cérebro funciona são

relativamente recentes.

As Neurociências estudam os neurônios e suas moléculas

constituintes, os órgãos do sistema nervoso e suas funções específicas e

também as funções cognitivas e o comportamento que são resultantes da

atividade dessas estruturas.

O conhecimento neurocientífico cresceu muito no chamado “Década

do Cérebro” proposta pelo Congresso dos Estados Unidos para os anos de

1990 a 1999. O avanço aconteceu a partir do desenvolvimento e o

aperfeiçoamento de técnicas de neuroimagem; de eletrofisiologia; da

neurobiologia molecular, bem como descobertas no campo da genética e da

neurociência cognitiva, mesmo que os processos cognitivos ainda não

estivessem integralmente compreendidos por limitações técnicas e éticas.

Essas descobertas das neurociências chegaram a outras áreas do

conhecimento, como as artes, as ciências exatas, humanas e sociais. A

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educação é uma dessas áreas. A divulgação científica feita por vários veículos

de informação fez com que essas novas descobertas fossem compartilhadas

por muitos rapidamente.

Educadores são todos os que orientam e fazem parte do

desenvolvimento de outras pessoas: professores, coordenadores, pais,

inspetores, etc. São agentes das mudanças neurobiológicas que levam a

aprendizagem reconhecendo o cérebro como órgão da aprendizagem. As

contribuições das neurociências para a educação não propõem uma nova

pedagogia nem solucionam as dificuldades da aprendizagem, mas podem

colaborar fundamentando práticas pedagógicas que já são realizadas com êxito

e sugerir ideias para aperfeiçoá-las, constatando que as práticas pedagógicas

que se realizam conforme o funcionamento do cérebro são mais eficazes.

Os avanços das neurociências possibilitam uma abordagem mais

científica do processo ensino-aprendizagem, fundamentada na compreensão

dos processos cognitivos envolvidos. As neurociências são ciências naturais

que explicam a estrutura e como funciona o cérebro buscando compreender

fenômenos observados.

A educação tem outra finalidade: a de criar condições para o

desenvolvimento de competências pelo aprendiz em um contexto particular não

sendo regulada somente por leis físicas ou biológicas, mas por aspectos

humanos que incluem a sala de aula, a dinâmica do processo ensino-

aprendizagem, a família, a comunidade e as políticas públicas. É importante

que o educador conheça a organização e as funções do cérebro, os períodos

receptivos, mecanismos de linguagem da atenção e da memória, as relações

entre cognição, emoção, motivação e desempenho, as dificuldades de

aprendizagem e as intervenções a elas relacionadas a fim de aprimorar o seu

cotidiano na escola junto ao aprendiz e sua família. É necessário conhecer

mais a fundo sobre esses temas.

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2.2. Organização, Morfologia e Funcionalidade do Sistema

Nervoso

“O cérebro é o maior instrumento da Evolução Humana” (RELVAS,

2005, p. 18).

O cérebro é a porção mais importante do sistema nervoso, atuando

na interação do organismo, além de coordenar suas funções internas.

Segundo o neuropediatra e neurologista, Heber Maia, existem inúmeros

vínculos entre a cognição, a afetividade, a sensibilidade e a motricidade.

A estrutura responsável por isso é o neurônio, célula do sistema

nervoso formado por três partes: o corpo celular, os axônios e os dendritos. No

corpo celular encontra-se o núcleo celular. Os dendritos são ramificações do

corpo celular como pequenos arbustos, responsáveis por receber as

informações dos neurônios aos quais se associam. Os axônios são filamentos

longos e finos com mais ramificações na sua porção terminal e por eles saem

as informações eferentes.

Os neurônios são capazes de produzir e conduzir a informação por

meio de impulsos elétricos, que percorrem sua membrana e a passam a outras

células por meio de estruturas especializadas, as sinapses, onde é liberado um

neuromediador ou neurotransmissor. A sinapse pode ser química ou elétrica.

Na sinapse elétrica, a transmissão de sinal é extremamente rápida enquanto

que na sinapse química, a transmissão do sinal por meio da fenda sináptica é

realizada através da liberação de uma substância química (neurotransmissor).

Esses neurônios formam circuitos complexos entre si (rede neural),

agrupando-se no interior do sistema nervoso principalmente no córtex cerebral

(substância cinzenta), responsável pelas sensações conscientes e pelos

movimentos voluntários.

As vias sensoriais chegam ao cérebro pelas cadeias neuronais,

levando a informação até a região do córtex específica para o processamento

daquela modalidade sensorial. A via motora voluntária também é constituída

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por uma cadeia neuronal, tendo origem no córtex motor e terminando em

contato com os músculos esqueléticos. O córtex cerebral se organiza em

unidades funcionais com regiões primária, secundária e terciária, atuando de

forma hierárquica para permitir a interação com o ambiente. O comportamento

humano é a função da atividade dos circuitos neuronais que funcionam em

diversas áreas do sistema nervoso.

2.3. Desenvolvimento, Estrutura e Funcionamento do Sistema

Nervoso, a Neuroplasticidade e a Aprendizagem

Os cérebros humanos são semelhantes, mas não existem dois

cérebros iguais, pois os detalhes das conexões entre os neurônios estão

diretamente relacionados com a história pessoal de cada indivíduo.

Durante o desenvolvimento embrionário, há várias etapas que

devem ser cumpridas rigorosamente para que as conexões entre os neurônios

sejam feitas corretamente. Muitos neurônios são produzidos e depois

eliminados, pois perdem suas funções. O bebê humano nasce muito imaturo,

pois a maioria das conexões em seu cérebro necessita da interação do mesmo

com o meio ambiente, assim como a percepção sensorial e a habilidade motora

passarão por longos períodos de aprendizagem. O desenvolvimento do cérebro

necessita de estimulação adequada, pois a aprendizagem de determinadas

habilidades é mais fácil em determinados períodos.

O sistema nervoso é formado pelo sistema nervoso central com

partes no interior do cérebro e da coluna vertebral e pelo sistema nervoso

periférico (SNP) com partes distribuídas pelo corpo. No SNC (Sistema Nervoso

Central) estão a maioria de neurônios, seus prolongamentos e as conexões

entre eles. No SNP há menos células e um grande número de fibras nervosas

chamadas nervos (conjunto de neurônios), que funcionam como fios

condutores de informações motoras e sensitivas.

Os nervos são divididos em dois grupos de fibras: as fibras aferentes

que levam a informação para o SNC (enviando sinais das células referentes

aos estímulos sensoriais nos olhos, ouvidos, pele, nariz, músculos, e

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articulações) e as fibras eferentes que trazem as informações do SNC

(enviando sinais para os músculos e glândulas levando a motricidade deles).

A plasticidade do sistema nervoso é a grande capacidade que ele

tem de fazer e desfazer ligações entre as células nervosas (sinapses),

consequência das interações permanentes com o meio interno e externo do

organismo. A plasticidade é maior na infância, mas permanece, mesmo que

com menos intensidade por toda a vida, portanto exercícios para estimular a

cognição são fundamentais para a reorganização do cérebro na aprendizagem,

como para recuperar o interesse do aluno. Esses exercícios orientados

estimulam as sinapses para que haja uma nova arrumação das informações

neurais (sensitivas e motoras). Isso ocorre quando o professor faz uso de

estratégias didáticas diferenciadas como, aula expositiva, trabalho em grupo,

utilização de jogos paradidáticos, exibição de vídeos relacionados ao tema

proposto etc.

Segundo Relvas (2009), sabe-se hoje que o cérebro muda durante

toda a vida e que a plasticidade faz com que o cérebro reconfigure-se para

aprender melhor. A plasticidade cerebral também é responsável pela

regeneração das funções motoras e sensoriais, caso ocorra lesão. O grau de

recuperação será diretamente proporcional ao grau da lesão.

O cérebro da criança a cada experiência nova realiza conexões

sinápticas, criando condições favoráveis para o surgimento de competências e

habilidades que se surgem à primeira infância, como: habilidade musical,

raciocínio lógico-matemático, inteligência espacial etc. Emoções e equilíbrio

psicológico na criança dependem dos estímulos que ela receberá durante a

infância até a adolescência. Esses estímulos devem acontecer no momento

certo a fim de estimular e fortalecer conexões do sistema límbico além de

promover o controle de suas emoções. A aprendizagem e a mudança de

comportamento estão relacionadas à formação e à consolidação das sinapses

entre os neurônios.

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2.4. A Atenção e suas Implicações na Aprendizagem

O cérebro não tem necessidade nem capacidade de processar todas

as informações que chegam a ele. A atenção é a capacidade de selecionar as

informações consideradas importantes, descartando as demais. Segundo Maia

(2012), a atenção é uma habilidade cognitiva indissociável de um grupo maior

de funções chamadas de funções executivas, que capacitam o indivíduo para o

desempenho de ações orientadas às metas.

Existem diferentes mecanismos pelos quais a atenção se regula.

Temos a atenção reflexa, comandada por estímulos periféricos e atenção

voluntária, com mecanismos centrais de controle. São no mínimo três circuitos

neurais importantes para a atenção: o primeiro mantém os níveis de vigilância,

o segundo é orientador, desligando o foco de atenção de um ponto permitindo

uma maior observação do objeto ou situação a ser observada. O terceiro é o

circuito executivo, mantendo a atenção e inibindo a distração. O cérebro

prestará atenção no que achar relevante ou que tenha significado para ele,

algo que faça sentido no contexto em que vive esse aluno, que tenha ligação

com o que já é conhecido ou que seja estimulante e agradável.

2.5. Memórias e Aprendizagem

Segundo Cosenza (2011), a memória compreende várias

subdivisões, as quais são processadas por sistemas neurais específicos.

A memória de trabalho, ou memória operacional, é uma memória

transitória, onde são armazenadas e processadas as informações necessárias

para desempenhar uma tarefa que precisa da consciência. Esse tipo de

memória inclui uma memória sensorial, um sistema de repetição e também um

mecanismo de ativação de armazenamento de registros de forma mais

permanente no cérebro. Seu funcionamento depende da coordenação

executada, principalmente pela região do córtex pré-frontal. Nessa região

temos a memória prospectiva, o “lembrar de lembrar”. Controlar a quantidade e

a qualidade da informação que queremos ou devemos processar é relevante.

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Ao estudar, é necessária uma rotina e locais onde o aprendiz não se distraia. O

cérebro estará disposto a processar o que é significante e gratificante para ele.

Para que a memória de trabalho fique menos sobrecarregada e esteja pronta

para processar as informações relevantes é importante o descanso e a higiene

mental.

A memória de longa duração pode ser explícita, se usa processos

conscientes, ou implícita, se não faz uso. Os registros da memória explícita se

formam por meio dos processos de repetição, elaboração e consolidação,

podendo esses registros serem fortes ou fracos e estarem em diferentes níveis

de ativação em relação a atividade consciente.

A consolidação da aprendizagem acontece durante o sono e

depende do hipocampo. São construídas conexões entre diferentes áreas do

córtex cerebral que armazenam a informação. A memória explícita é

armazenada em diferentes áreas do córtex. Lembranças de eventos, coisas ou

pessoas são refeitas a partir dos registros existentes e podem variar com o

tempo.

A memória de procedimentos é um exemplo de memória implícita

que trata das habilidades sensório-motoras que acumulamos no cotidiano. A

evocação de lembranças envolve o córtex pré-frontal. É importante levar em

consideração nas estratégias de aprendizagem, os processos de repetição,

elaboração e consolidação da memória e utilizar diferentes canais de acesso

ao cérebro e processamento de informação.

2.6. A Emoção e a Aprendizagem

As emoções têm um valor de sobrevivência para o ser humano. As

emoções sinalizam internamente no indivíduo que algo importante está

acontecendo com o indivíduo. Pode-se também através delas, reconhecer

emoções alheias, o que vai definir como vamos agir com quem convivemos. As

Neurociências tem mostrado que os processos cognitivos e emocionais estão

interligados ao funcionamento cerebral.

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As emoções envolvem respostas periféricas perceptíveis

externamente: aumento do estado de alerta, dilatação da pupila, agitação,

sudorese, alteração da expressão facial e motora, entre outras. Há também

sensações internas no indivíduo como: coração disparado, “frio no estômago”,

“nó na garganta” etc. Todos esses acontecimentos tem origem no cérebro.

A amígdala é um centro nervoso regulador dos processos

emocionais, localizada no sistema límbico, responsável pelo controle das

emoções e motivações. Ela dispara comandos provocando o aumento da

vigilância e modificações viscerais, além de promover secreção de hormônios

da glândula suprarrenal, papel importante nas emoções como medo ou raiva. A

amígdala também interage com o córtex cerebral. As emoções positivas

envolvem também um circuito dopaminérgico que vai do mesencéfalo ao

cérebro. Esse circuito está envolvido no fenômeno da motivação, fundamental

para a aprendizagem. As emoções são inevitáveis, mas podemos aprender a

controlar as respostas que tendem a desencadear, bem como aperfeiçoar o

autoconhecimento emocional.

O córtex órbito frontal é importante no controle social das respostas

emocionais e cuida da associação do processamento emocional com o

processamento cognitivo ou racional no cérebro. As emoções podem facilitar a

aprendizagem, mas o estresse tem efeito contrário. O ambiente escolar deve

ser planejado para facilitar as emoções positivas e evitar as emoções

negativas. É importante criar condições que levem a um maior

autoconhecimento emocional e orientem para uma adequada manifestação das

respostas emocionais nas interações sociais.

2.7. Funções Executivas e sua Importância nas Atividades

Educacionais

As funções executivas são definidas como o conjunto de habilidades

e capacidades, permitindo a execução das ações necessárias a fim de alcançar

um objetivo. Elas englobam o estabelecimento de metas, a preparação de uma

estratégia de comportamento, o monitoramento das ações adequadas e o

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respeito às normas sociais. Essas funções são coordenadas pelo córtex pré-

frontal, cujo amadurecimento é lento, se prolongando até a adolescência. Em

paralelo, há um processo de desenvolvimento das funções executivas, cujo

amadurecimento progressivo caracteriza muitos estágios identificados no

desenvolvimento infantil.

O desenvolvimento das funções executivas deve se dar através do

ensino de estratégias que o favoreçam. Os estudantes devem aprender a

planejar suas atividades, com capacidade de estabelecer metas dentro de uma

perspectiva de tempo. Esses estudantes devem não só buscar a informação

fazendo uso dos recursos existentes, mas também saber identificar as

questões relevantes, fazendo inferências e generalizações. Devem ser capazes

de identificar erros, a presença ou não de lógica, com aptidão para identificar e

corrigir os próprios enganos nas diversas matérias que estuda. Atualmente,

não há sempre um ambiente apropriado para o desenvolvimento das funções

executivas e isso pode desfavorecer a educação dos jovens para uma vida útil.

2.8. Processos Neurobiológicos da Leitura

O cérebro tem duas regiões do hemisfério esquerdo, especializadas

para a linguagem falada: a área de Broca, no lobo frontal, e a área de

Wernicke, na junção temporo-parietal. O cérebro desenvolve circuitos

especializados para a leitura, mesmo não existindo uma programação genética,

como acontece com o processamento da linguagem falada. Esses circuitos se

localizam no lobo frontal, na junção temporo-parietal e na junção occipito-

temporal.

A decodificação das palavras ocorre por duas vias neurais distintas,

uma fonológica, a outra por um reconhecimento global da palavra. A fonológica

ocorre nas regiões frontal e temporo-parietal e o reconhecimento global na área

da forma visual da palavra, na junção occipito-parietal. Aprender a ler está

diretamente ligada a habilidade de lidar com os fonemas. As crianças que não

reconhecem os sons desses fonemas têm dificuldade para associar esses sons

às letras.

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A dislexia é um transtorno neurobiológico. É uma deficiência do

componente fonológico da linguagem, resultando em dificuldade no

reconhecimento fluente das palavras, no soletrar e recodificar os sinais gráficos

em sons. A dislexia pode estar associada a uma alteração no desenvolvimento

cerebral talvez no posicionamento das células neuronais ou no

estabelecimento de suas conexões, ainda no período embrionário. O

treinamento intensivo da habilidade de associar os fonemas com as letras pode

melhorar a capacidade de leitura dos disléxicos.

2.9. Numeracia: Capacidade do Cérebro em Lidar com Números

O cérebro humano tem uma capacidade inata para lidar com

números. Ele processa muito cedo o conceito de quantidade. A “numerosidade”

ou senso numérico é uma propriedade básica da representação dos objetos no

cérebro dos animais. No ser humano isso é feito através de uma representação

mental, uma linha ou fileira de números cuja magnitude vai aumentando da

esquerda para a direita. No córtex parietal há um circuito para a percepção da

quantidade. O processo matemático ocorre em muitas regiões e sistemas

cerebrais distintos.

Os números são processados em três circuitos diferentes que se

relacionam com a percepção da magnitude, a representação visual dos

símbolos numéricos (algarismos arábicos) e a representação verbal dos

números (cinco, três, vinte e oito etc.). O hemisfério esquerdo é capaz de

realizar cálculos, e o direito faz estimativas que se aproximam do resultado

correto. As operações matemáticas precisas dependem da maturação das

áreas corticais da linguagem. Tanto o hemisfério esquerdo quanto o direito são

capazes de fazer comparações de quantidades e de avaliar números.

A discalculia é caracterizada pelo não desenvolvimento da

numeracia pela criança e envolve uma alteração dos circuitos do lobo parietal,

causados por lesão precoce ou por defeito genético. Os aprendizes com

discalculia precisam de um treinamento específico para desenvolver a

capacidade de identificar e manipular quantidades.

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2.10. A Inteligência e o Funcionamento Cerebral

A inteligência pode ser definida como a habilidade de se adaptar ao

ambiente e aprender com a experiência, mas seu conceito variou ao longo do

tempo. Existem testes para medir a inteligência. Os resultados desses testes

são chamados de QI que são correlacionados para se chegar a um valor da

chamada inteligência geral ou fator g.

Essa inteligência geral é dividida em duas partes: uma inteligência

fluida que é a capacidade de lidar com problemas novos e uma inteligência

cristalizada, caracterizada pelas habilidades já existentes e o conjunto de

conhecimento acumulado.

O psicólogo e pesquisador, Howard Gardner, propôs a teoria das

inteligências múltiplas baseada na existência das inteligências: verbal, lógico-

matemática, visioespacial, corporal-cinestésica, musical, interpessoal,

intrapessoal e naturalista. Mais tarde, os pesquisadores Salovey e Mayer

propuseram a existência de uma inteligência emocional, muito divulgada pelo

psicólogo Daniel Goleman, seria a habilidade de perceber, avaliar as próprias

emoções e a do outro, de expressar e lidar com as emoções com o objetivo de

melhorar os relacionamentos promovendo o crescimento pessoal.

Sternberg, pesquisador da área da cognição, propôs uma teoria da

inteligência bem sucedida ou inteligência plena. Essa inteligência seria definida

como a habilidade do indivíduo ser bem sucedido em um determinado contexto

sociocultural tirando proveito de suas potencialidades e compensando as

desvantagens existentes, de forma a se adaptar, selecionar e modelar o

ambiente, através da combinação das habilidades analíticas (analisar e avaliar

os problemas e opções disponíveis), criativas (capacidade de gerar soluções

para problemas identificados) e práticas (capacidade de fazer funcionar as

opções escolhidas).

Cada cultura tem seu próprio grupo de habilidades relacionadas a

inteligência. A inteligência sofre influências genéticas está correlacionada com

a estrutura e o funcionamento do cérebro. Fatores ambientais também devem

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ser levados em conta, pois o ambiente pode controlar a manifestação e o

impacto da ação dos genes. A desnutrição, a pobreza e a falta de escolaridade

podem diminuir o QI, assim como a escolarização e a melhoria nas condições

de vida pode aumentá-lo.

O número de neurônios corticais, a velocidade de comunicação

entre eles e suas funções em determinados circuitos no córtex estão

correlacionados com a inteligência cuja localização cerebral não é específica.

Através da ressonância magnética, regiões do córtex cerebral foram

identificadas por sua ativação durante a execução de testes de inteligência

como: lobo frontal, partes do lobo parietal, do córtex do giro do cíngulo, do lobo

temporal e occiptal, estando a maior parte localizada no lobo frontal.

A inteligência é o resultado do funcionamento de sistemas cerebrais

interligados que dependem da eficiência da substância branca que realiza a

conexão entre diversos centros nervosos. No aspecto cognitivo; a velocidade

mental, a memória de trabalho, a atenção e a função executiva (capacidade de

escolher objetivos e prioridades de forma adequada) são relevantes no que diz

respeito à inteligência. Essas quatro funções são da região cortical pré-frontal.

Existe relação entre os resultados dos testes de QI e o desempenho

escolar. Estudantes com resultado mais alto tendem a aprender com mais

facilidade, porém, há outros fatores que influenciam para o sucesso na escola,

como a motivação, o ambiente escolar, fatores culturais entre outros. A

intervenção da escola pode alterar positivamente os resultados dos testes de

inteligência, modificando atitudes e criando habilidades intelectuais, além de

aumentar a informação.

2.11. Psicomotricidade e a Aprendizagem

Segundo a psicomotricista, Rita Thompson, o médico neurologista

Dupré conseguiu associar o desenvolvimento da motricidade, da inteligência e

da afetividade definindo assim a Psicomotricidade. Para a ciência, a

psicomotricidade é definida como a área do conhecimento cujo objeto

primordial é o corpo. Esse corpo é considerado uma fonte inesgotável de

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possíveis relações entre pessoas, delas com o mundo e delas com os objetos

que as cercam. É por isso que especialistas em desenvolvimento infantil

acreditam que as experiências em atividades motoras nas crianças menores

são essenciais para o seu desenvolvimento cognitivo.

Desde o seu nascimento, a criança se relaciona com o mundo que a

cerca. Suas atividades de movimento são variadas e são repetidas e por isso,

se tornam esquematizadas e internalizadas. Esses movimentos se

transformam em comportamentos enraizados no cérebro.

As experiências de movimento aumentam a função cognitiva, pois o

movimento é a chave do desenvolvimento da percepção que inicia através de

uma infinidade de experiências sensório-motoras. A criança faz uma

organização progressiva de si própria, de seu corpo, de suas emoções e suas

necessidades. A dimensão dos objetos, a estruturação do espaço e sequências

temporais acontece entorno e em função do corpo dela. Neurologicamente

falando, cada ação não é repetida da mesma forma que a anterior. A

construção do conhecimento depende das ações sensório-motoras que se

coordenam para ativar, organizar e estruturar o sistema nervoso do indivíduo.

O pensamento para o movimento engloba a coordenação de dois

sistemas de sentidos corporais: cinestesia e propriocepção, que são

independentes. A cinestesia é percepção dos movimentos evidentes e a

propriocepção é a percepção das várias partes do corpo, em atividades

progressivas e em deslocamento.

Fátima Alves (2012),

Durante o processo da aprendizagem, os elementos básicos da Psicomotricidade são utilizados sempre. O desenvolvimento do Esquema Corporal, da Lateralidade, da Estruturação Espacial, da Orientação Temporal e da Pré-Escrita é fundamental na aprendizagem; um problema em um deles irá prejudicar uma aprendizagem satisfatória. A criança que apresenta danos no seu desenvolvimento psicomotor poderá apresentar problemas na escrita, na leitura na direção gráfica, distinção de letras (b e d), ordenação de sílabas, na abstração (matemática), na análise gramatical, entre outras (ALVES, 2012, p. 144).

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Hoje a psicomotricidade como ciência da educação, deixou de ser

usada de forma isolada e começou a ser trabalhada com outras disciplinas do

universo escolar. Vários profissionais de áreas distintas tem tentado incorporá-

la em seus projetos. A psicomotricidade promove condições para o

desenvolvimento de capacidades básicas, aumentando o potencial motor da

criança, fazendo uso do movimento para conquistar capacidades mais

elaboradas, como as intelectuais. Isso poderia contribuir para minimizar ou até

resolver dificuldades na leitura e escrita apresentada por alguns alunos. É de

fundamental importância que o desenvolvimento psicomotor se dê nos três

primeiros anos de vida da criança. Na educação infantil, a prioridade é

proporcionar a criança uma percepção adequada de si mesma, entendendo

suas reais limitações e possibilidades e, ao mesmo tempo, ajudá-la a se

expressar corporalmente com mais liberdade para conquistar e aperfeiçoar

novas competências motoras.

2.12. Síndromes do Mau Funcionamento do Sistema Nervoso e

sua Consequência para a Aprendizagem

As dificuldades para a aprendizagem são um desafio para o

educador e englobam um grupo heterogêneo de problemas que alteram a

capacidade de aprender. Mesmo a aprendizagem ocorrendo no cérebro, nem

sempre está nele a origem das dificuldades apresentadas. Uma criança ou

adolescente com saúde normal, funções cognitivas íntegras e sem alteração na

estrutura e funcionamento do sistema nervoso pode apresentar dificuldades na

aprendizagem.

O cérebro pode se desenvolver de forma diferente devido a fatores

genéticos ou sofrer alterações por condições da gestação. Ele apresentará

comportamentos diferentes e será preciso estratégias pedagógicas distintas

durante a aprendizagem.

Os transtornos da aprendizagem são caracterizados por rendimento

abaixo do esperado para a idade, nível intelectual e de escolaridade nas

habilidades de escrita, leitura ou raciocínio lógico-matemático em aprendizes

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que possuem condições adequadas e contextos favoráveis à aprendizagem.

Os principais são a dislexia e a discalculia.

A síndrome de Down, o autismo e o Transtorno de Déficit de

Atenção/Hiperatividade (TDAH) são síndromes que produzem alterações de

circuitos cerebrais, comprometendo aspectos do comportamento e

influenciando a aprendizagem. O diagnóstico tem que ser criterioso,

necessitando de profissionais com formação adequada, competência e

experiência nessas deficiências.

A dificuldade para a aprendizagem deve ser avaliada por

profissionais de diversas áreas, conforme o caso. Professoras, orientadoras,

psicopedagogos, educadores de artes e educação física, pediatras,

neuropediatras, neurologistas fonoaudiólogos, neuropsicólogas, fisioterapeutas,

assistentes sociais, entre outros, são profissionais que podem ser necessários

para o diagnóstico e/ou intervenção em cada caso. A integração da equipe que

atende o aprendiz com a escola e, principalmente, com a família, também

afetada pelo fracasso do estudante, é imprescindível para o sucesso da

conduta proposta, qualquer que seja ela.

O cérebro do aprendiz, mesmo imperfeito, com o envolvimento da

escola e da família com esses especialistas, trabalhando juntos, poderá atingir

a plenitude do seu funcionamento.

De acordo com as pesquisas e novas descobertas, saber como esse

cérebro aprende não é o suficiente para realizar a “mágica do ensinar e do

aprender”, assim como saber os princípios biológicos básicos não garantem a

boa atuação de um médico.

Existem algumas questões presentes no dia a dia do professor e de

outros profissionais da educação que vem despertando o interesse de

neurocientistas no propósito de buscar uma explicação neurobiológica:

1) Porque algumas crianças se adaptam a uma determinada

metodologia pedagógica do que outras?

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2) O que faz com que algumas crianças tenham grande facilidade

para a Matemática, mas apresentam dificuldades em outras disciplinas?

3) Ensinar uma segunda língua a uma criança em processo de

alfabetização é proveitoso?

4) Qual a melhor idade para iniciação musical?

5) O bebê já pode aprender no útero da mãe?

6) Crianças desnutridas apresentam necessariamente dificuldades

escolares?

7) Existe época melhor para se aprender determinado conteúdo?

Muitas dessas questões ainda continuam sem resposta, mas outras

já têm sido tratadas sob uma ótica neurocientífica, através de teorias e estudos

que continuam em expansão. É necessária uma maior integração e

comunicação entre educadores e neurocientistas, pois esses precisam

conhecer os problemas reais do cotidiano escolar. Essa troca possibilitará o

surgimento de estudos para avaliação da eficácia ou não de determinadas

práticas pedagógicas baseada nos achados no funcionamento neural.

A Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico

(OCDE) tem promovido nos últimos anos, fóruns mundiais com o objetivo de

discutir a interface entre neurociências e educação. Os temas incluem entre

outros, a avaliação da influência da genética e do meio no sucesso da

aprendizagem; a real importância dos primeiros anos para um aprendizado

bem sucedido pelo resto da vida; a influência da idade na aprendizagem de

jovens e adultos; o significado da inteligência; o funcionamento da motivação;

as bases neuropsicológicas para a aprendizagem da escrita; leitura e

matemática.

Com o grande aumento no número de trabalhos científicos

dedicados, a interface neurociência e a educação, julga-se necessário um

julgamento crítico para a correta utilização dos conhecimentos divulgados

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evitando mitos e teorias precipitadas. Para isso é necessário seriedade e ética

dos meios que divulgam as descobertas científicas. Conhecer a organização

geral, funções, limitações e potencialidades do sistema nervoso, permitirá a

professores, pedagogos e pais compreender melhor como se dá o aprendizado

e desenvolvimento infantil, como o corpo pode ser influenciado pelo que

sentimos em relação ao mundo e porque os estímulos que recebemos são tão

relevantes para os desenvolvimentos cognitivo, emocional e social do

indivíduo.

Outro desafio que a educação apresenta as neurociências é

entender o funcionamento do sistema nervoso dos aprendizes com cérebros

diferentes como autistas, crianças com deficiência mental, Síndrome de Down

e outros tipos de transtornos e síndromes. Políticas de inclusão precisam

capacitar profissionais de apoio nas escolas regulares.

Para essas crianças e adolescentes com necessidades especiais é

necessário um estudo para descobrir estratégias pedagógicas específicas,

considerando um funcionamento cerebral distinto para tornar essa inclusão

uma realidade.

As neurociências têm aí um papel fundamental que deve contar

sempre com a contribuição de professores e pedagogos com suas

observações e vivências com esses aprendentes. Além disso, as neurociências

devem fazer parte da formação curricular do educador.

No Brasil, a maior parte dos educadores ligados a administração

pública e professores tem uma formação humanística essencial para a

compreensão da educação, mas insuficiente para a aprendizagem dos alunos

na atualidade.

Ao conhecer o funcionamento do sistema nervoso, os profissionais

da educação podem desenvolver melhor o seu trabalho, fundamentar e

melhorar sua prática diária com reflexo no desempenho e evolução dos alunos.

O progresso do conhecimento neste milênio só será possível a partir de uma

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perspectiva transdisciplinar. Isso envolverá diversas áreas do conhecimento

que avançarão com seus conceitos para um conhecimento novo.

Os conhecimentos neurocientíficos serão fundamentais para esse

progresso, abordando as dificuldades escolares e fazendo intervenções

corretivas. Isso permitirá explorar as potencialidades do sistema nervoso de

forma criativa e autônoma, sugerindo intervenções significativas para a

melhoria do aprendizado escolar e da qualidade de vida.

Com conhecimento científico, troca de experiências, capacidade de

análise crítica e ciente de nossas limitações será possível ter melhores

educadores.

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CAPÍTULO III

RELAÇÃO ENTRE A APRENDIZAGEM MATEMÁTICA E

O CÉREBRO

“Toda a educação científica que não se inicia com a Matemática é,

naturalmente, imperfeita na sua base” (MAIA apud CONTÉ, 2012, p.125).

3.1. Desenvolvimento das Habilidades Matemáticas e Funções

Cognitivas

A Matemática é a ciência do raciocínio lógico e abstrato e continua a se modificar e desenvolver. É a ciência das regularidades (padrões): os matemáticos buscam regularidades nos números, no espaço, na ciência, na imaginação e as teorias matemáticas tentam explicar as relações entre elas (COSTA, 2012, p. 125).

O desenvolvimento da Matemática atravessou as primeiras

civilizações e tornou possível o desenvolvimento de seu uso concreto como no

comércio, manejo de plantações, medições de terra, previsão de eventos

astronômicos e até realizações de rituais religiosos.

Várias civilizações promoveram o aperfeiçoamento da Matemática

como a babilônica, egípcia, chinesa e hindu através de estudos com números

naturais, raízes quadradas e cúbicas, equações, polinômios, trigonometria,

cálculo de frações entre outros. Na civilização grega, a matemática influenciada

pela filosofia, tornou-se abstrata. Dois ramos se distinguiram: a Aritmética e a

Geometria.

Ao longo dos séculos, a Matemática se aprimorou, surgindo novos

conceitos como análise combinatória, análise numérica, álgebra de polinômios,

cálculo infinitesimal e outras estruturas abstratas. A Aritmética e a Geometria já

não contemplavam o conhecimento matemático. Atualmente, a Matemática

continua mantendo-se importante para a evolução do mundo, com conceitos

antigos e novos, sendo considerada uma ciência moderna em constante

transformação.

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O processamento matemático constitui várias funções cognitivas

complexas: processamento verbal e/ou gráfico de informação, a percepção, o

reconhecimento e a produção de números, representação número/símbolo, a

discriminação visório-espacial, a memória de curto e de longo prazo, raciocínio

sintático, a atenção e as funções executivas (planejar, levantar hipóteses, usar

estratégias, sustentar atividades cognitivas, verificar o próprio desempenho). A

relação entre essas funções cognitivas e a neurociência está descrita no

capítulo anterior.

Segundo Maia (2012), para que haja uma plena compreensão da

Matemática, o aprendiz deve desenvolver um certo nível linguístico. Há uma

relação entre o desenvolvimento de habilidades verbais das habilidades

aritméticas. Ela acontece em quatro níveis:

1. Mobilização de habilidades linguísticas que significa falar

sobre os números na vida diária, pronunciar uma série de

números, repeti-los e treiná-los com leitura e escrita.

2. Existência de habilidades como memória de curto prazo,

armazenamento e evocação, representação simbólica e

realística e habilidades visório-espaciais.

3. Valor posicional dos algarismos que é um processo

independente da linguagem.

4. Notação numérica e notação de cálculos específicos,

requerendo, no processo de aprendizado, considerar o valor

posicional e o sistema composicional.

O desenvolvimento de qualquer forma de aprendizagem, depende

da genética e de como a criança se relaciona com o mundo exterior e com ela

mesma, resultando num processo onde ocorre uma experiência constante e

motivadora de aprendizados e interesses novos. Assim, esta “condição para

aprender” ou “habilidade inata da criança” pode ter um desenvolvimento

variável de acordo com a condição da mesma e do meio ao qual ela está

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inserida, da sua estrutura mental e capacidade intelectual, da sua

representação de mundo, da sua capacidade de transformação, criação e

construção de soluções diferentes para o mesmo problema.

As crianças aprendem a conhecer e a lidar com números no seu

cotidiano através da aritmética informal. Desenvolvem o conceito de

numerosidade através de ações como, nomear a própria idade, mudar o canal

da TV, pular amarelinha, jogar utilizando dados, dominó e outros. É importante

antes de formalizar qualquer conceito matemático, que o professor leve a

criança e o adolescente a perceber que a Matemática está presente no seu dia

a dia como, por exemplo, nos horários de suas atividades, na numeração de

suas roupas e calçados, na sua massa corporal, na sua altura, nas tabelas dos

esportes que praticam entre outros inúmeros exemplos. Mais tarde, com a

aritmética formal, aprenderão a realizar as operações de adição, subtração,

multiplicação e divisão.

As crianças nascem com capacidade de organizar o seu ambiente de forma quantitativa e estudos mostram a possibilidade de cálculos simples por volta dos seis meses de idade, demonstrando já possuir habilidades básicas para o desenvolvimento da Matemática (PIAGET apud MAIA, 2012, p.127).

A partir de Piaget outros pesquisadores se dedicaram a descobrir a

relação entre uma determinada habilidade matemática e a idade da criança.

Concluíram que essas habilidades são adquiridas desde o período neonatal até

os sete anos. São elas: discriminação de pequenas quantidades (período

neonatal), somar e subtrair uma unidade (quatro meses), diferenciação de

sequências numéricas crescentes e decrescentes (onze meses), início da

aprendizagem de sequências de palavras numéricas (dois anos), contagem de

pequeno número de objetos (três anos), utilização dos dedos para ajudar a

contar (quatro anos), acrescentam números pequenos a uma série sem

habilidade para dizer a soma (cinco anos), “conserva” números (seis anos) e

lembrança de fatos aritméticos de memória (sete anos).

A partir do momento em que testes verbais podem ser aplicados

observa-se o desenvolvimento das habilidades matemáticas através das

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seguintes etapas: desenvolvimento do conceito numérico, habilidade para

contar, desenvolvimento da aritmética (fatos numéricos) e conhecimento das

propriedades fundamentais da Matemática: comutatividade, associatividade e a

complementaridade.

O desenvolvimento do conceito numérico acontece a partir da compreensão: do princípio da correspondência biunívoca (um a um), de que um conjunto de objetos tem representação numérica que muda conforme a manipulação do conjunto, de que um conjunto de números pode ser percebido pela audição, tato e outros sentidos (três buzinadas; dois abraços) e reconhecer pequenos números sem contagem verbal. (BUTTERWORTH, 2005 apud MAIA, 2012, p.127).

Segundo Bastos (2007), a habilidade para contar se desenvolve

quando a criança conta os números como se fosse uma única palavra:

“umdoistrêsquatrocinco”. Com seu desenvolvimento, consegue coordenar a

palavras com os objetos a serem contados.

Quando é apresentado à criança cinco objetos iguais e pede-se que

ela conte, a criança conta: um, dois, três, quatro, cinco e responde cinco

gatinhos, usando o último número como referência. Se ainda não adquiriu esta

habilidade, ela irá contá-los novamente. Esse processo caracteriza o princípio

cardinal.

Fazer estimativas é outra habilidade em contar utilizada para estimar

grandes quantidades, como o número de pessoas presentes em uma

manifestação pública. Há poucos estudos sobre as áreas cerebrais e

mecanismos envolvidos nessa habilidade.

No desenvolvimento da aritmética destacam-se os fatos numéricos

que são as tabuadas armazenadas como associações verbais específicas

(somar e multiplicar) ao passo que, a subtração e a divisão exigem outros

processos. O ensino da multiplicação é baseado como se fosse uma série de

somas e a divisão como uma série de subtrações. A divisão define um novo

tipo de número: “os números racionais”.

A comutatividade é uma habilidade testada com pares de fatos de

adição (7+4, 4+7) e fatos de multiplicação (7x4, 4x7), a partir desse

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entendimento é essencial que as duas formas sejam fixadas na memória de

longo prazo. No caso do exemplo da multiplicação, a criança aprende na

tabuada de 4, o menor número entre 4 e 7, 4x7=28 (4+4+4+4+4+4+4= 28)

mas, após essa fase, ela reorganiza a memória para entender 7x4=28

(7+7+7+7=28); conclui-se então que ela aprende primeiro as tabuadas com

números menores e depois com números maiores.

Piaget (1952) apud Bastos (2007) afirma que,

Para entender adição e subtração, a criança precisa entender a relação entre elas, por exemplo, se 8+6 =14, 14-6 =8 e 14-8 =6, o mesmo princípio vale para as operações de multiplicação e divisão: 5x7=35, então 35:5=7, sem necessidade de cálculo (Piaget, 1952 apud Bastos, 2007, p.45).

Alguns pesquisadores acreditam que esse entendimento ocorre

entre 3 e 5 anos enquanto outros, entre 5 e 7 anos.

3.2. Genética, Amadurecimento Cerebral e a Matemática

“Estudos revelam que há diferença no que diz respeito às

habilidades matemáticas entre homens e mulheres” (Geschwind e

Galaburda,1985 apud Bastos, 2007, p.52). A genética já comprovou que o

zigoto do homem e o da mulher difere em dois cromossomos somente.

A mulher possui cromossomos XX e produz estrogênio, enquanto o

homem possui cromossomos XY, produzindo testosterona. Segundo Bastos

(2007), pesquisas sobre a ação hormonal em ratos demonstraram a

participação do hipotálamo e do sistema límbico no comportamento sexual e

que a lateralidade cerebral sofre forte influência dos hormônios. A testosterona

influencia o maior desenvolvimento do hemisfério direito ao passo que os

estrógenos, o esquerdo; esclarecendo as diferenças entre os cérebros

masculino e feminino.

Uma das diferenças mais interessantes refere-se à maneira segundo a qual os homens e as mulheres calculam o tempo, estimam a velocidade de objetos, realizam cálculos matemáticos mentais, orientam-se no espaço e visualizam os objetos tridimensionais e assim por diante. Ao realizar todas essas tarefas, os homens e as mulheres são extremamente

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diferentes, assim como o são quando seus cérebros processam a linguagem. Isso poderia explicar o fato de que existem mais homens matemáticos, pilotos de avião, guia de turismo, engenheiros mecânicos, arquitetos e pilotos de Fórmula 1 do que mulheres (RELVAS, 2010, p.69).

Segundo Relvas (2010), estudos revelaram a descoberta de uma

região no córtex chamado lóbulo ínfero-parietal (LIP) que é significativamente

maior nos homens do que nas mulheres, sendo uma área bilateral localizada

logo acima do nível das orelhas (córtex parietal). Acredita-se que o tamanho do

LIP está correlacionado com as habilidades mentais em Matemática.

3.3. A Matemática e as Bases Neuropsicológicas

Para Bastos (2007), o cálculo é uma função cerebral complexa.

Numa operação aritmética simples, vários mecanismos cognitivos são

envolvidos:

1. Processamento verbal e/ou gráfico da informação;

2. Percepção;

3. Reconhecimento e produção de números;

4. Representação número/símbolo;

5. Discriminação visório-espacial;

6. Memória de curto e longo prazo;

7. Raciocínio sintáxico;

8. Atenção.

O neurologista descreve dois modelos neurocognitivos para explicar

o processamento matemático: Modelo de Mccloskey (1985) e Modelo do Triplo

Código de Dehaene e Cohen.

O modelo de Mccloskey (1985) é um mecanismo onde existem dois

sistemas de compreensão e produção de números: o sistema numérico arábico

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(exemplo: 248) e o sistema numérico verbal, forma falada e escrita (exemplo:

duzentos e quarenta e oito). Nesse mecanismo de Mccloskey ocorrem o

processo léxico e o sintático.

O processo léxico leva a compreensão e a produção de números

como elementos individuais: o dígito 5 e a palavra cinco. É o que chamamos na

Matemática de valor absoluto.

Porém, o processo sintáxico relaciona o elemento, que chamamos

de algarismo, com a posição que ele ocupa, produzindo um número como um

todo, que chamamos de valor posicional.

Para exemplificar, considerando o número arábico 3.581, é preciso

conhecer o processo léxico para os algarismos 3, 5, 8 e 1 e o processo

sintáxico, considerando a posição dos algarismos para compreender o número

como um todo: três milhares, cinco centenas, oito dezenas e uma unidade.

Esse processo também é usado para números na forma verbal.

Nas multiplicações, iniciar com a coluna da direita, escrever a soma

dos números abaixo da coluna e quando a soma for maior que nove, lembrar

de “emprestar” ( é o famoso “ vai um, vai dois etc.”). Outro exemplo: na adição

124 + 38, quando “arma-se” a conta, temos neste caso três colunas: e .

A coluna da direita é . Ao somar, temos 12. O algarismos 2 fica

embaixo dessa coluna e o 1 vai “ emprestado” para a coluna . Assim:

Temos também o sistema para cálculo com três elementos além do

processo numérico:

1. Processamento do símbolo operacional (ex: 9);

2. Lembrança dos fatos aritméticos básicos (ex: 4x9= 36);

3. Execução do procedimento de cálculo.

4 8

2 3

1 0

48

2 3

1 124 +38 162

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O outro modelo apresentado por Bastos (2007) é o modelo do Triplo

Código de Dehaene e Cohen (1996). Nesse modelo, as informações numéricas

são processadas no cérebro de três formas: uma representação analógica de

quantidade onde os números aparecem na forma verbal (exemplo: vinte e

quatro) e na forma visual usando símbolos numéricos (24). O processo

transcodificador faz com que a informação seja transformada de um código

para outro. Converte-se o número arábico para uma palavra numérica (4 para

quatro, por exemplo) e vice-versa. A multiplicação é memorizada fazendo uma

associação verbal entre números como uma sequência de palavras (exemplo:

dois vezes oito igual a dezesseis). A subtração é trabalhada com uma

representação quantitativa e as operações com vários números são realizadas

com frequência utilizando-se do código arábico visual e a representação

espacial de números alinhados.

Esses dois modelos diferem na correlação das funções cognitivas e

nas áreas cerebrais envolvidas no processo. Essa relação mútua acontece no

modelo de Dehaene e Cohen, onde as áreas occipto-temporal inferior dos dois

hemisférios estão associadas ao processo de identificação visual que dá

origem à forma dos números arábicos. As áreas parietais inferiores de ambos

os hemisférios estão associadas à representação analógica quantitativa e a

área perisilviana está associada à representação verbal dos números.

3.4. O Cérebro e as Dificuldades em Matemática

Solucionar problemas matemáticos no cotidiano é uma tarefa muito

difícil para um grande número de pessoas. No Brasil, em 1995, foi realizada

uma avaliação matemática em alunos de quartas e oitavas séries (atualmente

quinto e nonos anos respectivamente) do primeiro grau comprovando um baixo

rendimento, onde as maiores dificuldades encontradas referem-se às questões

relacionadas à aplicação de conceitos matemáticos e à resolução de

problemas.

Para Bastos (2007), as causas do mau rendimento em Matemática

podem ser neurológicas ou não neurológicas. As causas não neurológicas

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seriam: fatores escolares, fatores sociais e ansiedade para matemática. As

causas neurológicas se dividem em distúrbio primário e distúrbio secundário.

a) No distúrbio primário encontram-se Acalculia e Discalculia do

Desenvolvimento.

b) No distúrbio secundário tem-se Deficiência Mental, Epilepsia,

Síndrome de Turner, Fenilcetonúria Tratada, Síndrome do X

Frágil, Síndrome Fetal Alcoólica, baixo peso, TDAH, Dislexia,

Disfasia e outros.

3.5. Acalculia e Discalculia do Desenvolvimento

Segundo Maia e Costa (2011), existem basicamente dois tipos de

distúrbios em Matemática: a Acalculia que é adquirida e a Discalculia do

desenvolvimento. Distúrbio é também conhecido como transtorno e desordem.

A Acalculia é a incapacidade de operar matematicamente decorrente

de lesões cerebrais (Acidente Vascular Cerebral ou alguma outra lesão)

adquiridas em locais específicos associados ao processamento matemático. O

termo Acalculia foi introduzido por Henschen em 1925. (Hecaen,1961 apud

Mai, 2011) descreve através de pesquisas em 183 pacientes com lesões

cerebrais três subtipos de Acalculia:

1. Alexia e agrafia para números, ou seja, dificuldade para ler e

escrever quantidades.

2. Acalculia espacial que consiste na dificuldade de orientação

espacial, impedindo que os números sejam colocados em

posições adequadas para a execução dos cálculos.

3. Anaritmetia que significa Acalculia primária, ou seja, a

incapacidade de realizar operações aritméticas, resultado do

comprometimento lesional em ambos os hemisférios.

A Acalculia não é um transtorno como a Discalculia do

desenvolvimento.

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Discalculia do desenvolvimento é uma dificuldade em aprender

Matemática, com dificuldades para adquirir competência cognitiva,

independente de inteligência normal, oportunidade escolar, estabilidade

emocional e necessária motivação. Essa definição é da Academia Americana

de Psiquiatria que afirma que 3 a 6% das crianças em idade escolar tem

Discalculia do desenvolvimento.

Os sintomas mais frequentes são:

1. Erro na formação de números que em geral ficam invertidos,

como se fosse uma imagem em espelho;

2. Dislexia;

3. Falta de habilidade para somas simples;

4. Inabilidade para reconhecer sinais das operações e para usar

separações lineares;

5. Dificuldade para ler corretamente o valor de números com

multidígitos;

6. Memória fraca para fatos numéricos básicos;

7. Dificuldade para transportar números para local adequado na

realização de cálculos;

8. Ordenação e espaçamento inadequado dos números em

multiplicações e divisões.

Essas dificuldades acontecem ao longo do processo de aquisição

das habilidades matemáticas, mas será caracterizada como Discalculia a

persistência das mesmas, com o passar do tempo, mesmo com estímulos

específicos de ensino.

A Dislexia do desenvolvimento é encontrada com mais frequência

em portadores de Síndrome de Turner, Fenilcetonúria e em uma série de

disfunções neurológicas como a Epilepsia, a Síndrome do X- Frágil, TDAH

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(20% dos casos) e os Distúrbios de linguagem (26% dos casos), incluindo a

Dislexia.

Para Costa (2011), deficiências atencionais e visório-espaciais

justificam as dificuldades encontradas na discalculia do desenvolvimento.

Crianças com déficit de atenção apresentariam alguma tendência a

desenvolver dificuldades no cálculo aritmético. As deficiências visório-espaciais

são as dificuldades em diferenciar figura e fundo, discriminação e orientação

espacial.

De acordo com Maia (2011), o diagnóstico da discalculia do

desenvolvimento é clínico, sem exames complementares para a confirmação. É

necessária uma avaliação interdisciplinar, envolvendo clínico geral,

neuropsicólogo, neurologista, psicopedagogo, psicomotricista e fonoaudiólogo.

A avaliação do neuropsicólogo fornece dados importantes para a

compreensão do funcionamento das funções cognitivas (atenção, funções

visório-espaciais, executivas e memória) e da inteligência. A avaliação

fonoaudióloga traça o perfil linguístico e conclui a existência comórbida ou não

de Dislexia. O conjunto das informações de cada especialista determinará a

origem do baixo desempenho matemático de um aluno e se ele tem Discalculia

do desenvolvimento.

De acordo com Campos (2014), deve-se ter muito cuidado ao fazer

o diagnóstico de uma criança com Discalculia, pois, ao afirmarmos que uma

criança tem esse transtorno, estamos rotulando o aluno para a vida inteira. Isso

justifica a importância de uma equipe multidisciplinar. Um aluno discalcúlico

pode ter sucesso em sua vida acadêmica e profissional destacando-se em

outras áreas. A Discalculia não se agrava, o que pode agravar são os danos

como baixa autoestima, abandono escolar e muitos outros.

A sociedade cultiva uma crença de que apenas os indivíduos mais

talentosos estudavam Matemática. Atualmente ainda encontramos pais,

professores e até crianças que pensam assim “para ser um bom aluno, deve

ter grandes habilidades matemáticas, pois as demais são simples”.

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D’Ambrósio (1996 p.115) apud Campos (2014, p.33) diz que

“lamentavelmente continuamos a insistir que inteligência e racionalidades estão

identificadas com Matemática”.

O prognóstico de crianças com Discalculia do desenvolvimento é

desconhecido. Um estudo feito por Shalev (2001) determinou que 47% das

crianças discalcúlicas não evoluíram após três anos de acompanhamento e

que fatores como o nível socioeconômico, o sexo e a coexistência de outros

transtornos do aprendizado não influenciaram na sua permanência.

Campos (2014) sugere que os professores utilizem recursos e

materiais para auxiliar os alunos com Discalculia do desenvolvimento, como

permitir o uso de calculadoras; ajudar o aluno na organização do caderno,

sugerindo o uso de um caderno quadriculado; tempo diferenciado para a

avaliação; formular questões claras e objetivas; evitar chamada oral; usar

recursos como jogos para trabalhar conteúdos como sequência e contagem;

permitir tarefas em duplas ou em grupo, não discriminar ou reprimir o aluno na

frente da turma; mostrar que está ali para auxiliar o aluno, com paciência e

afetividade.

A especialista em ensino lúdico destaca a importância da utilização

de alguns jogos matemáticos para ajudar o desenvolvimento dos alunos com

Discalculia:

1. Jogo dos sete erros - para desenvolver a concentração e

atenção;

2. Sudoku - desenvolve a estruturação espaço-temporal,

promove o raciocínio lógico, desenvolve atenção,

concentração e percepção visual;

3. Baralho - desenvolve sequência numérica, raciocínio lógico,

estratégia e probabilidade;

4. Dominó - desenvolve associação de números, sequência,

maior e menor;

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5. Jogo da velha - desenvolve raciocínio, análise, resolução de

problemas e concentração;

6. Quebra-cabeça das somas ou das subtrações - desenvolve

concentração, percepção visual, análise, cálculo mental,

operações básicas;

7. Tangram - trabalha o raciocínio espacial, a análise, a síntese

e as formas geométricas;

8. Jogo da memória - desenvolve concentração, memória de

trabalho, coordenação.

Hoje, os professores têm a disposição um arsenal enorme de jogos

de tabuleiros, eletrônicos e on-line que podem e devem ser utilizados para

ajudar os alunos com ou sem Discalculia. Os jogos são tão importantes que,

em algumas universidades, há um laboratório de Matemática e brinquedotecas

abertos à graduandos e à comunidade.

3.6. A Adolescência: um Período de Reorganização Cerebral

Segundo Herculano-Houzel (2005), a adolescência é uma época de

transição em que o cérebro da infância se transforma em um cérebro adulto. O

crescimento do cérebro atinge o tamanho adulto no início da adolescência e

não cresce mais. Na transformação do cérebro infantil em adulto, não é

somente um aumento de peso ou volume cerebral. Algumas estruturas

crescem, outras diminuem, sofrendo reorganizações química e estruturais

levando todas à um amadurecimento funcional.

O sistema de recompensa sofre grandes transformações, levando a

uma mudança de gostos, vontades, ímpetos, desejos e também a

vulnerabilidade ao vício e transtornos do humor como a depressão. Os núcleos

da base que influenciam no aprendizado de sequências motoras sofrem

grandes cortes e as habilidades motoras são estabilizadas. A condução de

impulsos elétricos é mais rápida e eficiente. A região do córtex pré-frontal

ligada ao raciocínio abstrato e aprendizado social amadurecem, e surge o

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jovem adulto responsável (capaz de prever as consequências de suas ações e

assumi-las), empático (consegue inferir e prever as emoções dos outros e agir

conforme essa previsão) e inserido adequadamente na sociedade.

O termo “adolescência” refere-se a todo período começando na

puberdade até a idade adulta. A adolescência é formada por um grupo de

pessoas que, juntas, enfrentam os mesmos desafios, mentais, sociais e

ambientais. Quando superados esses desafios, tornam-se capacitados a

sobreviver longe da família. A Neurociência reconhece a adolescência como

período necessário à passagem para a vida adulta. Esse período de

transformação é realizado pelo cérebro.

Recentes pesquisas mostram que o cérebro adolescente sofre uma

reorganização química, na quantidade de neurotransmissores, na resposta a

hormônios sexuais e até na capacidade de produção de outros hormônios.

Ocorre uma grande reorganização estrutural afetando as sinapses (troca de

informações entre neurônios).

Para a neurocientista, as grandes mudanças de comportamento e

da capacidade de aprender da adolescência não estão associadas às

alterações hormonais, a não ser o despertar sexual.

O comportamento típico do adolescente é resultado do

remodelamento da estrutura e funcionamento do seu cérebro.

Até pouco tempo, a neurociência dizia que o período de grandes

mudanças no cérebro terminava no fim da infância (perto dos dez anos de

idade). Considerava-se que os três primeiros anos de vida eram fundamentais

para o desenvolvimento do cérebro infantil, influenciado pela família, ambiente

e sociedade. Após esse período, esse cérebro infantil não teria grande

progresso. A associação entre as palavras “adolescência” e “hormônios” definiu

um adolescente já pronto do ponto de vista neurológico e que os problemas

que apresentaram era resultado somente da atuação hormonal. Mas, com as

novas pesquisas sobre o cérebro adolescente, conclui-se que seu cérebro está

em transformação tanto quanto seu corpo, até tornar-se um cérebro adulto,

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podendo sofrer forte influência nesse processo dos pais e do ambiente levando

esse cérebro a tomar um caminho positivo ou negativo.

A quantidade de sinapses (conexões entre neurônios para troca de

informações entre os mesmos) no córtex cresce durante toda a infância,

atingindo seu pico no início da adolescência, passando, no entanto a diminuir

com a eliminação do seu excesso. Essa eliminação se dá da seguinte forma:

as sinapses mais usadas são selecionadas e preservadas, ao passo que as

menos usadas enfraquecem e são eliminadas. É uma eliminação ordenada,

permitindo a formação de circuitos bem ajustados e eficientes de acordo com a

necessidade de cada indivíduo. Durante a infância ocorre uma exuberância

sináptica para que o cérebro seja capaz de desenvolver diversas habilidades.

Com o passar do tempo, o ambiente externo, as necessidades surgidas e as

escolhas que o indivíduo fizer, determinará como esse cérebro será. Excesso

de sinapses na vida adulta não é bom.

As primeiras regiões corticais que começam a sofrer um

“enxugamento” sináptico e amadurecimento são as posteriores com função

sensorial (recebem sinais dos sentidos) e ao mesmo tempo no córtex frontal e

no temporal (regiões com funções cognitivas e emocionais elaboradas), a

substância cinzenta continua aumentando, à medida que ganha sinapses,

atingindo o ápice no lobo temporal aos 16 ou 17 anos, quando se refina.

Enquanto essa substância aumenta até a puberdade e então diminui, a

substância branca subcortical aumenta, pois os axônios dessa região sofrem o

processo de “mielinização”, que consiste na formação de uma capa de gordura

ao redor do axônio chamada mielina.

A função da mielina é isolar eletricamente cada axônio, permitindo

mais rapidez e fidelidade na condução de impulsos elétricos entre regiões

distantes até 20 cm no cérebro. Esse processo de mielinização (comprovado

por ressonância magnética) é importante na adolescência, pois permite a

integração funcional no córtex pré-frontal, tornando possível o raciocínio

abstrato, melhora a memória de trabalho (vista anteriormente) e no lobo

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temporal, onde se localiza a capacidade de compreensão de linguagem,

facilitando o processo da leitura.

Quando o adolescente está em processo de crescimento corporal, o

cérebro é subitamente obrigado a ajustar seus mapas sensório-motores à nova

realidade corporal.

O cérebro possui regiões, cada uma desempenhando diversas

funções:

• Lobo occipital, na nuca, responsável pelos estímulos visuais.

• Lobo temporal, sob as têmporas, que recebe estímulos da

audição.

• Lobo parietal, no topo do cérebro, onde estão os mapas das

sensações do corpo. Esses mapas se misturam e há uma

fusão dos sinais somoestésicos recebendo informação visual

do córtex occipital, auditivo do córtex temporal e sinais

vestibulares do labirinto, relativos ao equilíbrio corporal.

• Lobo frontal é composto pelo córtex motor e em sua maior

parte pelo córtex pré-frontal.

A principal função do córtex pré-frontal é a associação de estímulos,

ações, suas consequências, e as lembranças de tudo isso registradas no

cérebro. Essa função associativa o caracteriza como o grande regulador do

comportamento, criando alternativas de ação, e o liberar do presente, fazendo-

o proativo.

Pesquisas sobre a adolescência mostram que o amadurecimento do

córtex pré-frontal dorso-lateral (uma das regiões do córtex pré-frontal) levam a

um desenvolvimento no raciocínio abstrato, respostas mais rápidas e

eficientes, a introspecção e o insight sobre o próprio pensamento, controle dos

impulsos, resistência a distrações e melhora da memória de trabalho tornando

esse adolescente capaz de agir como um adulto. Porém, essa melhoria

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cognitiva não significa capacidade de tomar decisões de forma assertiva. Isso

só acontece com o amadurecimento do córtex órbito-frontal.

O sistema de recompensa aliado a habilidade de raciocínio, faz com

que o adolescente busque novidades, descobrindo o gosto pela literatura,

música, política, filosofia, artes e novidades tecnológicas. Muitas dessas

descobertas influenciarão suas escolhas e vão nortear o seu futuro.

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CONCLUSÃO

Em virtude dos fatos mencionados, é possível constatar a estreita

relação entre Educação Matemática e a Neurociência. A Educação Matemática

é um ramo da Matemática relacionada diretamente ao processo de ensino-

aprendizagem da mesma, objetivando promover a aquisição do conhecimento

matemático por parte do aluno, desde a educação básica até o ensino médio.

Para isso, desenvolve pesquisas utilizando como principais instrumentos a

modelagem matemática, a prática de jogos e de resolução de problemas, bem

como a teoria chamada Etnomatemática.

Os recursos acima citados, mantendo-se suas especificidades, tem

como base aproximar a matemática da realidade do aprendente, seja na

modelagem matemática onde a partir de um tema de interesse dos alunos (de

teor matemático ou não), elaboram-se situações problema cuja resolução deve

envolver conteúdos matemáticos; ou na Etnomatemática, que busca ensinar a

matemática conforme história sociocultural de cada povo.

A mesma ideia se aplica à resolução de problemas que, sob a ótica

da Educação Matemática, visa à construção de conceitos como função

quadrática, equações do primeiro grau, operações aritméticas, geometria entre

outros, a partir de problemas do cotidiano.

Por fim, a utilização de jogos nas aulas de matemática tem o

propósito de desenvolver diversas habilidades como a resolução de problemas,

o estímulo da criatividade, interação e cooperação, entre outros. As atividades

lúdicas devem ser interessantes e desafiadoras. A confecção dos jogos pelos

alunos envolve um trabalho psicomotor.

Quando se trata de ensino-aprendizagem é necessário que o

professor conheça as síndromes e transtornos que podem levar o aluno a um

baixo desempenho. Entre eles, o que está diretamente ligado as habilidades

lógico-matemáticas é a Discalculia ou a Discalculia do desenvolvimento,

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caracterizada pela dificuldade na compreensão de números, habilidades de

contagem, habilidades computacionais e solução de problemas verbais.

A criança discalcúlica tende a um distanciamento em função das

dificuldades que apresenta. Porém, os jogos matemáticos entram como um

recurso relevante na interação dessa criança com o seu grupo escolar. Além

disso, os jogos são uma ferramenta eficaz para essa criança, pois motiva, inclui

e promove aprendizagens que despertam para o ato de hipotetizar, planejar,

elaborar e anteceder, fazendo assim evoluir a sua forma “lógica” de pensar. É

um instrumento que leva em consideração todas as necessidades do sujeito,

possibilitando que o desenvolvimento ocorra em todas as áreas neurológicas e

não somente na cognição. É importante ressaltar que os jogos auxiliam

também alunos sem Discalculia.

Ao estabelecer o paralelo entre Neurociências e Educação,

constata-se que o processo de aprendizagem consiste num complexo sistema

neural, envolvendo habilidades como, a atenção, memória de trabalho,

emoção, funções executivas, mecanismo da leitura, numeracia, inteligência e

psicomotricidade. Baseando-se nas pesquisas citadas no presente trabalho, as

habilidades descritas se fazem presentes também na aprendizagem da

matemática.

O processo matemático acontece em várias regiões e diferentes

sistemas cerebrais em ambos os hemisférios. É relevante destacar que as

habilidades matemáticas são diferentes em homens e mulheres, o que pode

justificar uma prática docente diferenciada para meninos e meninas. Bastos

(2007), através de suas pesquisas, mostra a complexidade do funcionamento

cerebral no que se refere ao cálculo.

O objeto de estudo deste trabalho é a aprendizagem da Matemática

por parte do aluno do ensino fundamental, a luz da Neurociência. Logo é

imprescindível que o docente compreenda o funcionamento desse cérebro

adolescente. De acordo com a Neurociência, a adolescência é um período de

reorganização cerebral e não simplesmente uma mudança hormonal.

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A Matemática encontra-se inserida na vida do sujeito desde a mais

tenra idade, apreendida por meio das experiências mais simples, confirmando

que se faz necessário “viver” a Matemática e viver “com” a Matemática. Assim

as capacidades vão sendo promovidas e enriquecidas pelas experiências,

tornando-se parte da vida desse sujeito que é antes de tudo, biológico,

cerebral, que pensa e tem emoção.

“Aprender na dimensão da homenização é poder sentir, pensar,

exercer o afeto, a emoção, agindo com o cérebro emocional da razão, nas

escolhas e decisões para a vida.” (RELVAS, 2009)

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I Educação Matemática – Sua Definição e Principais Linhas de Pesquisa 10 1.1. Educação Matemática como Campo Profissional de Ensino e

Pesquisa 10 1.2. Educação Matemática e o Contexto Histórico 11 1.3. A Resolução de um Problema Matemático 13 1.4. Modelagem Matemática no Contexto da Educação Matemática 15 1.4.1. Escolha do Tema 16 1.4.2. Pesquisa Exploratória 17 1.4.3. Levantamento de Problemas 17 1.4.4. Resolução dos Problemas e Desenvolvimento do Conteúdo Matemático no Contexto do Tema 17 1.4.5. Análise Crítica das Situações 17 1.5. Etnomatemática 20 1.6. A Importância do Uso dos Jogos na Educação Matemática 22 CAPÍTULO II Neurociências e a Aprendizagem 26 2.1. Paralelo entre Neurociências e Educação 26 2.2. Organização, Morfologia e Funcionalidade do Sistema Nervoso 28 2.3. Desenvolvimento, Estrutura e Funcionamento do Sistema Nervoso, a Neuroplasticidade e a Aprendizagem 29 2.4. A Atenção e suas Implicações na Aprendizagem 31 2.5. Memórias e Aprendizagem 31 2.6. A Emoção e a Aprendizagem 32 2.7. Funções Executivas e sua Importância nas Atividades Educacionais 33 2.8. Processos Neurobiológicos da Leitura 34 2.9. Numeracia: Capacidade do Cérebro em Lidar com Números 35 2.10. A Inteligência e o Funcionamento Cerebral 36

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2.11. Psicomotricidade e a Aprendizagem 37 2.12. Síndromes do Mau Funcionamento do Sistema Nervoso e sua Consequência para a Aprendizagem 39 CAPÍTULO III Relação entre a Aprendizagem Matemática e o Cérebro 44 3.1. Desenvolvimento das Habilidades Matemáticas e Funções Cognitivas 44 3.2. Genética, Amadurecimento Cerebral e a Matemática 48 3.3. A Matemática e as Bases Neuropsicológicas 49 3.4. O Cérebro e as Dificuldades em Matemática 51 3.5. Acalculia e Discalculia do Desenvolvimento 52 3.6. A Adolescência: um Período de Reorganização Cerebral 56 CONCLUSÃO 61 BIBLIOGRAFIA 64 ÍNDICE 66