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1 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL OLHANDO PARA A FRENTE: O PROJETO SER IGREJA NO NOVO MILÊNIO EXPLICADO ÀS COMUNIDADES “Não que eu já tenha recebido tudo, ou já me tenha tornado perfeito. Mas continuo correndo para alcançá-lo, visto que eu mesmo fui alcançado pelo Cristo Jesus. Irmãos, não julgo já tê-lo alcançado. Uma coisa porém faço: esquecendo o que fica para trás, lanço-me para o que está à frente. Lanço-me em direção à meta. É assim que nós devemos pensar [...]. Qualquer que seja o ponto a que tenhamos chegado, continuemos na mesma direção.” (Paulo aos cristãos de Filipos 3,12-14.) APRESENTAÇÃO A Igreja Católica no Brasil vem acumulando experiências no campo do planejamento pastoral e de sua ação evangelizadora. Durante o Concílio Vaticano II, tivemos uma primeira tentativa de ação coordenada em âmbito nacional por meio do Plano de Emergência. Este, antecipando-se às conclusões do Concílio, falava de renovações: da paróquia, da formação dos presbíteros, dos colégios católicos. Terminando o Concílio, a Igreja no Brasil, por meio da CNBB, lançou o grande Plano de Pastoral de Conjunto (PPC). Mais complexo que o anterior, o PPC apresentou uma programação calcada nos principais documentos conciliares. Implementou no Brasil a articulação das seis dimensões da ação pastoral, que até hoje servem de estrutura pastoral para inúmeras dioceses no país: 1. Comunitário-Participativa (Lumen gentium), 2. Missionária (Ad gentes), 3. Bíblico-Catequética (Dei verbum), 4. Litúrgica (Sacrosanctum Concilium), 5. Ecumênica e de Diálogo Inter-religioso (Unitatis redintegratio/Nostra aetate), 6. Socio-transformadora (Gaudium et spes). De 1975 a 1995, a CNBB adotou a metodologia das Diretrizes Gerais da Ação Pastoral, deixando a parte prática do planejamento para cada diocese. Motivada pela carta do Papa João Paulo II, “Tertio Millennio Adveniente”, preparando a celebração do Ano Jubilar de 2000, a CNBB incentivou todas as comunidades a assumirem o Projeto de Evangelização “Rumo ao Novo Milênio” (PRNM). Com as novas diretrizes e com o PRNM, as nossas comunidades iniciaram um processo de revisão da caminhada pastoral e buscaram uma nova articulação pastoral por meio das exigências da ação evangelizadora: serviço, diálogo, anúncio e testemunho da comunhão eclesial. Colhendo os frutos de toda essa caminhada, e em continuidade a ela, a CNBB tem a alegria de propor, para os dois primeiros anos do novo século que se avizinha, o Projeto de Evangelização “Ser Igreja no Novo Milênio”. O novo Projeto tem como finalidade central renovar a consciência da identidade e da missão da Igreja no Brasil, num contexto em rápida mudança, que questiona muitas das formas de existir e de agir das comunidades eclesiais e de cada cristão. Ele pretende o “anúncio claro e inelutável do Senhor Jesus”, uma “evangelização verdadeira onde o

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66: Olhando para a Frente - O Projeto Ser Igreja no Novo Milênio

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    CONFERNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL

    OLHANDO PARA A FRENTE: O PROJETO SER IGREJA NO NOVO MILNIO EXPLICADO S COMUNIDADES

    No que eu j tenha recebido tudo, ou j me tenha

    tornado perfeito. Mas continuo correndo para alcan-lo, visto que eu mesmo fui alcanado pelo Cristo Jesus.

    Irmos, no julgo j t-lo alcanado. Uma coisa porm fao: esquecendo o que fica para trs, lano-me para

    o que est frente. Lano-me em direo meta. assim que ns devemos pensar [...].

    Qualquer que seja o ponto a que tenhamos chegado, continuemos na mesma direo. (Paulo aos cristos de Filipos 3,12-14.)

    APRESENTAO A Igreja Catlica no Brasil vem acumulando experincias no campo do planejamento pastoral e de sua ao evangelizadora. Durante o Conclio Vaticano II, tivemos uma primeira tentativa de ao coordenada em mbito nacional por meio do Plano de Emergncia. Este, antecipando-se s concluses do Conclio, falava de renovaes: da parquia, da formao dos presbteros, dos colgios catlicos. Terminando o Conclio, a Igreja no Brasil, por meio da CNBB, lanou o grande Plano de Pastoral de Conjunto (PPC). Mais complexo que o anterior, o PPC apresentou uma programao calcada nos principais documentos conciliares. Implementou no Brasil a articulao das seis dimenses da ao pastoral, que at hoje servem de estrutura pastoral para inmeras dioceses no pas: 1. Comunitrio-Participativa (Lumen gentium), 2. Missionria (Ad gentes), 3. Bblico-Catequtica (Dei verbum), 4. Litrgica (Sacrosanctum Concilium), 5. Ecumnica e de Dilogo Inter-religioso (Unitatis redintegratio/Nostra aetate), 6. Socio-transformadora (Gaudium et spes). De 1975 a 1995, a CNBB adotou a metodologia das Diretrizes Gerais da Ao Pastoral, deixando a parte prtica do planejamento para cada diocese. Motivada pela carta do Papa Joo Paulo II, Tertio Millennio Adveniente, preparando a celebrao do Ano Jubilar de 2000, a CNBB incentivou todas as comunidades a assumirem o Projeto de Evangelizao Rumo ao Novo Milnio (PRNM). Com as novas diretrizes e com o PRNM, as nossas comunidades iniciaram um processo de reviso da caminhada pastoral e buscaram uma nova articulao pastoral por meio das exigncias da ao evangelizadora: servio, dilogo, anncio e testemunho da comunho eclesial. Colhendo os frutos de toda essa caminhada, e em continuidade a ela, a CNBB tem a alegria de propor, para os dois primeiros anos do novo sculo que se avizinha, o Projeto de Evangelizao Ser Igreja no Novo Milnio. O novo Projeto tem como finalidade central renovar a conscincia da identidade e da misso da Igreja no Brasil, num contexto em rpida mudana, que questiona muitas das formas de existir e de agir das comunidades eclesiais e de cada cristo. Ele pretende o anncio claro e inelutvel do Senhor Jesus, uma evangelizao verdadeira onde o

  • 2nome, a doutrina, a vida, as promessas, o reino e o mistrio de Jesus de Nazar, Filho de Deus, sejam anunciados (EN 22)1. Oxal sua recepo seja to calorosa e criativa como tm sido as outras iniciativas da CNBB. O Esprito Santo, que conduz nossa Igreja desde os seus primeiros passos, nos guie em nossa nova caminhada eclesial, rumo a uma evangelizao que seja nova no entusiasmo, nos mtodos e na expresso, e responda aos desafios dos novos tempos. Colocamos nas mos de Maria, estrela da primeira e da nova evangelizao, o esforo e o empenho de todas as comunidades crists presentes em nosso pas. Aquela que ofereceu ao mundo inteiro o Verbo Encarnado, nos acompanhe nesse novo projeto, ajudando-nos verdadeiramente a Ser Igreja no Novo Milnio. D. Jayme Henrique Chemello Presidente da CNBB D. Raymundo Damasceno Assis Secretrio Geral da CNBB Introduo. INTRODUO Virada de milnio No que a vida, observada de perto, parece sempre igual? E no que, observada de longe, revela grandes mudanas? Ns temos a sorte de viver a passagem do segundo para o terceiro milnio da era crist. Mil anos atrs, para no falar de dois mil anos atrs, no tempo do nascimento de Jesus... a vida era muito diferente! Mas impressionante, sobretudo, quanto mudou a humanidade nos ltimos cem anos, no sculo XX que est terminando! (Oficialmente o sculo XXI e o terceiro milnio comeam em 1 de janeiro de 2001.) No tempo de Jesus havia cerca de 200 milhes de seres humanos na Terra; eram 500 milhes em 1650, 1 bilho em 1850; so eles 6 bilhes hoje. S nos ltimos cem anos a humanidade aumentou quase quatro vezes. Nos ltimos anos do sculo XX, aumentaram de forma impressionante nossos conhecimentos. Alis, esse o drama que vivemos: temos uma cincia e uma tcnica poderosas, que conhecem o infinitamente grande, a idade e as dimenses do universo (algo como 15 bilhes de anos), estrelas muitas vezes maiores e mais quentes que o Sol, e que conhecem e manipulam sempre melhor o infinitamente pequeno, inclusive hoje os 6 bilhes de letras que constituem o genoma humano e esto presentes em cada clula do nosso corpo! Mas no temos a tica e a poltica adequadas para vivermos melhor, apesar de todos os recursos de que dispomos: ainda 20% da populao mundial passa fome, ainda h dezenas de guerras; s no Brasil, ainda quase 50 milhes de irmos nossos vivem na pobreza; ainda violncia e desigualdades so imensas! O que vir depois? Comeando um novo milnio, muita gente est pensando que hora de consertar o mundo, de realizar finalmente o sonho de uma humanidade em paz. Uns acreditam que o nico conserto pode vir de Deus. Muitos aguardam um fogo descendo do cu, para destruir todas as foras do mal. Esperam que o mundo sair purificado dessa catstrofe. Outros acreditam que o conserto vir do cu, mas de outra forma. Terminou a era de Peixes e comea a era de Aqurio. Os astros vo trazer paz humanidade em lugar das guerras, amor em lugar do dio. Os cristos confiam que um mundo novo poder ser gerado, se todos os seres humanos, homens e mulheres, cooperarem com a graa de Deus para construir uma sociedade diferente, aceitando que cada novo avano no

  • 3caminho da justia e da paz seja obtido pelo amor e pelo empenho de cada um, em conjunto com o esforo de todos. Essa esperana encontra fundamento no apenas na f naquele Deus pelo qual tudo contribui para o bem daqueles que O amam,2 mas tambm na experincia histrica de Jesus e da misso de seus discpulos, os primeiros que foram chamados cristos3. A semente que Jesus plantou, que a palavra de Deus, desde ento no parou de crescer e dar frutos, apesar dos obstculos que encontrou por parte das foras do mal e tambm nas prprias fraquezas dos fiis4. Olhando para a frente Se pensarmos bem no incio da pregao de Jesus, devemos reconhecer que suas chances de sucesso eram pequenas, e as resistncias sua mensagem e ao seu projeto eram muito grandes. Aos adversrios que lhe faziam notar isso, o prprio Jesus respondeu com a parbola do semeador.5 Este sabe que as sementes que espalha no campo podem encontrar numerosos obstculos: aves do cu, pedras, espinhos ou ervas daninhas. Mesmo assim tem certeza de que, um pouco mais adiante, a terra dar fruto e produzir trinta, sessenta, cem vezes por um. Est a o convite a no termos um olhar mope, que s v os obstculos que nos cercam agora. Est a o convite a olhar mais longe, para a frente. Quanto certa a nossa fadiga hoje, igualmente certa ser a colheita amanh. E o que plantarmos, recolheremos. Um desafio imenso e... vencido! Os obstculos que a pregao do Evangelho encontrou nos primeiros tempos no foram poucos: a resistncia de muitos judeus a uma interpretao da lei de Deus que parecia abalar a antiga Aliana e deformar a Lei; o ceticismo de muitos pagos, para os quais o mundo divino no conhecia nenhuma compaixo para com os seres humanos; uma sociedade profundamente desigual e dominadora, que hostilizava toda tentativa de mudana mais profunda e tolerava a busca intimista do prazer e qualquer vcio individual, desde que no pusesse em discusso as estruturas da dominao; o desconhecimento da fraternidade e da solidariedade entre homens e mulheres, cuja dignidade era pisada pela escravido, pela prostituio, pelo abandono das crianas e dos idosos, pelo desprezo dos pobres e fracos...tudo isso sem esquecer alguns obstculos internos da comunidade crist. Alm do mais, a mensagem crist devia deixando a Palestina e tomando o caminho do Ocidente ser traduzida numa nova lngua e formulada para uma nova cultura, a dos gregos e do helenismo, ser submetida a uma nova ordem social e poltica, a dos romanos, ser confrontada com centenas ou milhares de experincias religiosas diversas, que pouco ou nada tinham em comum com a religio dos judeus. A mensagem crist chegou at os confins da terra, conforme o mandato de Jesus6. O livro dos Atos dos Apstolos pode terminar mostrando Paulo pregando livremente em Roma7. Mas essa pregao continua. A misso crist est diante de ns: nos pases cristos, que precisam de nova evangelizao; em inmeros povos, entre os quais o Evangelho ainda pouco conhecido8. Para pensar melhor e enfrentar com mais ardor a misso que est nossa frente, temos um caminho: redescobrir o segredo que permitiu primeira gerao crist, dcil ao Esprito, realizar a mais bem-sucedida ao missionria de todos os tempos. Vamos percorrer o caminho com Pedro e Paulo, com Tiago e Joo, com Estvo e Filipe, com quila e Priscila, com Ldia e Maria, me de Joo Marcos, e com tantos outros cristos da primeira hora, sem olhar para trs, mas olhando para a frente. Por isso, o livro dos Atos ser o nosso guia no Projeto de Evangelizao Ser Igreja no Novo Milnio, a ser desenvolvido a partir de 2001. I. PARTE I: OS PRIMEIROS PASSOS I.1.

  • 41. A proposta de um novo Projeto de Evangelizao A Igreja no Brasil, acolhendo o apelo do Papa Joo Paulo II, elaborou um Projeto de Evangelizao em preparao ao grande Jubileu do ano 2000, que foi aprovado com o nome de Rumo ao Novo Milnio9 na 34a Assemblia Geral da CNBB (abril de 1996). O Projeto cobre o perodo que vai do Advento de 1996 at a Epifania de 2001, ou seja, o Ano Jubilar e os trs anos de preparao. Antes que o Ano do Jubileu termine, a CNBB se ps a questo da continuidade. O que fazer depois do PRNM? Como desenvolver e fazer frutificar o trabalho de evangelizao realizado to intensamente nos anos que encerram o sculo XX? Como renovar o el missionrio da Igreja no incio do sculo XXI? Na Assemblia de Porto Seguro, comemorando os 500 anos de evangelizao do Brasil e o Jubileu do ano 2000 de Cristo, a CNBB aprovou as grandes linhas de um novo Projeto: Ser Igreja no Novo Milnio10. Objetivos Em que consiste, essencialmente, o novo Projeto? O novo Projeto tem como finalidade central renovar a conscincia da identidade e da misso da Igreja no Brasil, num contexto em rpida mudana, que questiona muitas das formas de existir e de agir das comunidades eclesiais e de cada cristo. Portanto, ele se volta como as primeiras comunidades, conforme o testemunho dos Atos dos Apstolos em primeiro lugar para a evangelizao, procurando a docilidade ao Esprito e o discernimento dos sinais da sua vontade, que aponta os caminhos aos anunciadores do Evangelho de Jesus Cristo. Ao mesmo tempo, cuida de manter viva e perseverante a fidelidade das comunidades eclesiais ao ensinamento dos Apstolos, comunho fraterna, Eucaristia e s oraes11. A experincia vivida do PRNM mostra que possvel intensificar a participao comunitria na liturgia, na escuta da Palavra de Deus, na partilha espiritual e material dentro das nossas comunidades. Ao redor do eixo central, poder e dever ser dada continuidade diversidade de iniciativas evangelizadoras e pastorais que as comunidades, dceis aos sinais do Esprito, esto levando adiante, em resposta s situaes concretas. A renovada preocupao com a misso e a identidade crist no poder seno reforar ou acelerar o caminho de cada comunidade, sem diminuir sua liberdade e responsabilidade12. Perspectiva Em tudo isso, a Igreja de hoje animada pela convico de que ainda no manifestou plenamente a beleza do Evangelho e do projeto de Deus para a humanidade, pelos muitos pecados que, ao longo do tempo, afetaram a humanidade e, nela, os prprios cristos. Por outro lado, sabe a Igreja que pode contar com a riqueza e a generosidade da graa divina e com o testemunho de f que lhe vem das inmeras testemunhas que nos precederam, os mrtires de todos os tempos e especialmente os do sculo XX, celebrados por Joo Paulo II no corao do Jubileu13. Particular cuidado merecer, na educao da f do povo cristo e na habilitao dos evangelizadores ao anncio e ao dilogo com o mundo contemporneo, o esforo de compreender os novos questionamentos que a cultura e a sociedade suscitam, de tal forma que a f possa realmente ser encarnada ou inculturada na humanidade de hoje.

  • 5Quanto ao anncio do Evangelho, ele no se far apenas pela pregao, mas mostrando a eficcia da Palavra por meio dos sinais do amor de Deus pela humanidade, os quais realizam a libertao das foras do mal e promovem a dignidade de cada pessoa. Dentre eles destaca-se, acima de tudo, o dom do servio ou do amor-caridade (agpe)14. A autenticidade desse amor e da prpria evangelizao se prova no amor preferencial pelos pobres, imitao de Jesus, que se revelou enviado para evangelizar os pobres15 e a eles atribuiu o Reino de Deus16. Obstculos Deve-se prever que, como aconteceu na primeira comunidade crist, surgiro obstculos externos e internos ao evangelizadora. Externamente, a ao evangelizadora encontrar obstculos semelhantes queles descritos na explicao da parbola do semeador17, ou seja: foras do mal que procuram destruir a Palavra, antes que ela frutifique; inconstncia dos que temem tribulaes e perseguies, e hesitaes e recuos dos que aderem Palavra, mas no sabem perseverar nela; preocupaes mundanas, iluses de riqueza e outros desejos (consumismo...) que sufocam a Palavra e no deixam espao para ela crescer no corao humano. Internamente, a comunidade sofrer pelo impacto dos mesmos fatores que dificultam a difuso da Palavra e seu crescimento no corao dos recm-convertidos e pelas divises que vrias circunstncias podem criar no interior da comunidade, opondo um partido a outro, uma liderana a outra18. Cronograma e planejamento A proposta estender o Projeto SINM ao longo de dois anos, 2001 e 2002, ou mais exatamente da Pscoa de 2001 Pscoa de 200319, quando uma nova Assemblia da CNBB definir as Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora (DGAE) para os quatro anos seguintes (2003-2006). Convm que o Projeto SINM tenha a abrangncia de dois anos, no s para se inserir nos prazos j tradicionais no calendrio pastoral da Igreja no Brasil, mas tambm para alcanar seus objetivos e permitir um estudo mais aprofundado e no demasiadamente apressado dos Atos dos Apstolos. Em funo da elaborao das novas DGAE, o Projeto SINM dar grande ateno avaliao da caminhada pastoral feita desde 1996 e s novas perspectivas que se abrem, de modo a colher elementos de reflexo e planejamento para o futuro prximo. Continuidade Conforme as orientaes explicitadas a seguir, a proposta do Projeto Ser Igreja no Novo Milnio pode ser vista como uma maneira de concretizar, no contexto dos anos 2001-2002, as exigncias permanentes da evangelizao servio (diakonia), dilogo, anncio (kerygma), comunho (koinonia) ou os desafios da nova evangelizao, resumidos pelo Papa para o Snodo das Amricas em converso, comunho e solidariedade. I.2. 2. Os antecedentes e os laos de continuidade A experincia evangelizadora e pastoral do PRNM (1996-2000) se deu no quadro da preparao do Jubileu e seguindo as orientaes gerais estabelecidas pela Carta Apostlica Tertio Millennio Adveniente. A originalidade do Projeto brasileiro consistiu na valorizao da Palavra de Deus, particularmente dos evangelhos, e das celebraes dominicais. PRNM Dessa forma, o PRNM conseguiu tornar os temas centrais dos trs anos preparatrios do Jubileu respectivamente Jesus Cristo, o Esprito Santo, Deus Pai efetivamente presentes ao longo de todo o ano na liturgia e nos grupos de reflexo e nas outras modalidades da catequese de adultos, tendo-os associado aos evangelhos da liturgia

  • 6dominical (respectivamente: Marcos em 1997; Lucas em 1998; Mateus em 1999). Neste ano de 2000, os temas da Santssima Trindade e da Eucaristia tm sido destacados respectivamente no Tempo Pascal e no perodo de Corpus Christi a 27 de agosto, associando-os ao evangelho de Joo20. A nova opo No sendo conveniente repetir simplesmente uma pregao ou catequese a partir dos evangelhos nos anos 2001-2002, optou-se pela escolha dos Atos dos Apstolos, livro concebido expressamente para dar continuidade ao evangelho de Lucas. Esta opo trouxe duas exigncias: 1) por um lado, foi opinio unnime dos Regionais da CNBB, consultados a respeito, que se desse continuidade aos subsdios homiltico-litrgicos para as celebraes dominicais, publicados regularmente pela CNBB no PRNM (Advento de 1996-Tempo de Natal de 2000); 2) por outro lado, os roteiros para os grupos de reflexo e reunies comunitrias semelhantes no sero baseados nos evangelhos dos domingos (como foi feito durante o PRNM), mas sero desenvolvidos a partir dos Atos dos Apstolos. Esse fato proporcionar a oportunidade de criar para os grupos de reflexo um roteiro mais orgnico, que permitir uma viso bastante completa da misso da Igreja e de suas exigncias na comunidade local, segundo um programa que permita abranger todos os aspectos essenciais. O programa ser organizado de tal forma que o roteiro do segundo ano represente uma retomada e um aprofundamento do primeiro, com abordagem de novos aspectos e reforo dos temas j estudados anteriormente21. Atividades pastorais As propostas de aes pastorais e missionrias, que sero acrescentadas aos roteiros litrgicos e ao roteiro sobre os Atos dos Apstolos, sero formuladas em duas esferas: a) na esfera nacional, regional ou diocesana, pelas respectivas organizaes pastorais competentes; b) na esfera local, por comunidades, parquias e movimentos, a partir da reflexo sobre os Atos dos Apstolos, que visar sempre suscitar respostas da comunidade crist aos sinais do Esprito e s necessidades do ambiente humano22. Nada impede, antes de tudo se recomenda, que, na escolha de suas aes pastorais e missionrias, as comunidades, parquias e dioceses dem continuidade ao que iniciaram durante o PRNM (1996-2000) e at retomem e consolidem temas j propostos pelos subsdios da coleo Rumo ao Novo Milnio, como por exemplo o Batismo, a Crisma, a Eucaristia, o Ecumenismo, os Direitos Humanos, o Planejamento Pastoral, e particularmente os subsdios que introduzem ao missionria e evangelizadora (A Boa Nova j chegou, Misses Populares, Tornar-se prximo, Dilogo e solidariedade). No caminho da renovao eclesial Ainda importante lembrar que o SINM, como o PRNM, do qual aquele um prolongamento, insere-se num esforo de renovao da Igreja que vem desde o Conclio Vaticano II e cujas razes so ainda mais profundas. O Papa Joo Paulo II, na sua aprofundada reflexo sobre o Advento do Terceiro Milnio23, afirmou que o Conclio Vaticano II constitui um acontecimento providencial, atravs do qual a Igreja iniciou a preparao prxima para o Jubileu do segundo milnio e, evidentemente, no apenas para o ano jubilar, mas para o novo milnio, novo tempo de misso, no qual se reproduz de muitas formas a situao do Arepago de Atenas, onde falou So Paulo24.

  • 7O Papa insiste sobre a importncia do Conclio Vaticano II e diz que a passagem para o novo milnio no poder exprimir-se seno pelo renovado empenho na aplicao, to fiel quanto possvel, do ensinamento do Vaticano II vida de cada um e da Igreja inteira25. Razo da importncia do Conclio que ele desperta em toda a Igreja uma conscincia nova da misso salvadora recebida de Cristo26. Essa conscincia se enriquece ainda mais com o magistrio do Papa, os Snodos dos Bispos27, em particular os Snodos continentais, que o Papa convocou para refletir sobre as exigncias da nova evangelizao no limiar do terceiro milnio. Dentre eles, destaca-se-nos o Snodo para as Amricas, realizado em 1997 e concludo pela Exortao do Papa Ecclesia in America (janeiro de 1999), que nos desafia a reencontrar Jesus Cristo, caminho de converso, comunho e solidariedade. Comparando a situao da Igreja hoje com a do Arepago, onde Paulo pregou, o Papa nos sugere uma pista para continuar a nossa reflexo sobre a misso da Igreja no mundo de hoje. No apenas o discurso de Paulo em Atenas, mas todo o livro dos Atos nos descreve uma situao que tem pontos de contato com a nossa e nos indica os caminhos da misso, que desde ento no cessa de expandir-se e renovar-se. I.3. 3. O eixo central: o estudo dos Atos dos Apstolos Discernir a misso da Igreja hoje O eixo central do programa oferecido pelo Projeto SINM ser o estudo dos Atos dos Apstolos, de tal forma que leve cada comunidade eclesial (com seus grupos, pastorais, associaes e movimentos) a refletir sobre sua misso e a discernir os sinais da vontade do Esprito que guia a Igreja, dando-lhe em seguida uma resposta tanto quanto possvel clara e generosa. Pode-se dizer, em outras palavras, que o objetivo geral do Projeto levar hoje as nossas comunidades a uma renovao profunda e a um novo ardor missionrio luz da Palavra de Deus, particularmente do livro dos Atos dos Apstolos. O estudo dos Atos O estudo ter uma primeira fase de introduo geral, da qual devero participar sobretudo os responsveis pela comunidade e os animadores dos diversos grupos, pastorais, associaes e movimentos. O subsdio n.1, uma Introduo geral aos Atos dos Apstolos, dever estar disposio das comunidades a partir do ms de novembro de 2000, a fim de permitir sua utilizao desde o incio do novo Projeto (janeiro de 2001). A partir do 2 Domingo da Pscoa de 2001 (22 de abril) at a Festa de Cristo Rei (25 de novembro de 2001), o subsdio n. 2 dever oferecer o roteiro de reunies semanais, pelo perodo de 32 semanas. O roteiro ser divido em oito etapas de quatro encontros cada uma (8 x 4 = 32). Em cada etapa, sugere-se que trs encontros sejam feitos em grupos, e cada um deles tenha um roteiro prprio. O quarto encontro ser mais livre e poder ser adaptado s circunstncias locais. O grupo poder reunir-se com outros grupos vizinhos, numa pequena assemblia, de partilha do trabalho feito e de elaborao de decises em comum, ou poder fazer uma reviso e/ou uma celebrao ou ainda outra atividade que achar conveniente28. Os temas principais do subsdio n.2 podero ser (um por etapa): 1) a misso da Igreja guiada pelo Esprito Santo; 2) o anncio da Palavra de Jesus; 3) o chamado ao encontro pessoal com Cristo e converso; 4) a comunho com Deus e os irmos gerada pela f; 5) os obstculos externos (perseguies, paganismo) obra da evangelizao; 6) os obstculos internos vida da comunidade eclesial (divergncias, pecados); 7) a mstica e a alegria da f que sustentam nas tribulaes e superam os obstculos; 8) o crescimento da Igreja e o aparecimento de novos desafios missionrios29. Para o ano de 2002, est previsto o subsdio n.3, semelhante ao de n.2, que retomar o estudo dos Atos, reforando-o e completando-o a partir de novos aspectos. O subsdio oferecer o roteiro de reunies semanais para o perodo que vai desde o 2 Domingo de

  • 8Pscoa (7 de abril) at a Festa de Cristo Rei (24 de novembro de 2002). Sero novamente oito etapas de quatro encontros cada uma, mais dois encontros finais de avaliao (total: 34 semanas). Subsdios opcionais, sobre outros temas dos Atos (como funes e ministrios na 1a e na 2a gerao crist; figuras de cristos e crists da 1 gerao Pedro, Paulo, Tiago, Filipe, Maria, Ldia, Febe, Jnia... e da 2a gerao Tito e Timteo, Apolo, Priscila, as filhas de Filipe...; comunidades como Jerusalm, Antioquia, Corinto, feso...; exigncias da evangelizao: servio, dilogo, anncio, comunho), sero oferecidos para o estudo dos grupos interessados nos perodos de janeiro-fevereiro de 2002 e 2003. I.4. 4. Atividades pastorais que desdobram e reforam o tema central Para cada comunidade, seu prprio programa O roteiro de reunies sobre os Atos levar cada grupo e cada comunidade a revisar suas prprias atividades pastorais, priorizando algumas, reforando outras, talvez deixando de lado as que forem julgadas menos adequadas e proveitosas e criando novas. O programa pastoral de cada comunidade no ser fixado pelos organismos nacionais, regionais ou diocesanos. Estes podero oferecer algumas orientaes (como j fazem na Campanha da Fraternidade e em outros campos), mas cabe a cada comunidade ou grupo definir suas prioridades e suas aes, a partir da situao em que vive, sem deixar de estar em sintonia com a parquia e a diocese a que pertence. Uma organizao mais gil e eficiente O roteiro, baseado nos Atos dos Apstolos, oferece tambm a oportunidade de dar ao trabalho pastoral uma maior unidade e organicidade, evitando disperso de foras ou insistncia demasiada sobre objetivos ou assuntos que no so relevantes para a evangelizao ou para a maioria dos fiis. Atualmente, muitas parquias tm um tal nmero de comunidades, pastorais, associaes e movimentos (freqentemente, vrias dezenas) que o trabalho de conjunto e o exerccio do papel do proco ou do conselho pastoral paroquial tornam-se difceis. O projeto SINM quer proporcionar uma oportunidade tambm para rever e reorganizar melhor essas situaes complexas, garantindo a unidade na diversidade e no respeito das legtimas diferenas. s vezes, uma determinada pastoral, movida por um zelo louvvel, quer propor ou at impor sua atividade a todos ou torn-la o centro das atenes. O programa, baseado nos Atos, quer ajudar exatamente a dialogar sobre fatos como esses e a superar possveis divergncias. Integrando os meses temticos Um caso particular constitudo pelos assuntos que, no passado, deram origem a meses ou semanas ou dias temticos. Muitos deles sero, quanto possvel, incorporados ao projeto SINM no perodo de sua prpria vigncia (2001-2002). Assim, no pareceu necessrio prever no SINM um ms bblico, ou um ms vocacional, ou um ms missionrio distintos, pois esses temas esto includos amplamente, ao longo do ano inteiro, no Projeto e em suas atividades30. Campanhas da Fraternidade e de Evangelizao No programa do SINM, o perodo da Quaresma foi reservado exclusivamente Campanha da Fraternidade, a fim de evitar uma duplicao de propostas ou programas, e o perodo do Advento foi reservado Campanha de Evangelizao e Novena de Natal. Para os meses de janeiro e fevereiro, foram programadas atividades alternativas e

  • 9opcionais, para comunidades e grupos que tenham condies de realiz-las nesse perodo do vero. Outros momentos fortes da vida eclesial e iniciativas de diversas pastorais continuaro com sua organizao prpria e tero uma ateno especial no novo Projeto. A participao na Semana de Orao pela Unidade dos Cristos, promoo do CONIC, ser valorizada como maneira concreta de viver a exigncia do dilogo. I.5. 5. Avaliao permanente e preparao das DGAE de 2003 O Projeto SINM se situa, na histria do planejamento pastoral da Igreja no Brasil, numa fase de particular importncia. Desde os anos 70, aps a experincia decisiva do Plano de Pastoral de Conjunto 1966-1970, nascido do Conclio Vaticano II e destinado a traduzir a influncia do Conclio na ao pastoral em nosso pas, a CNBB ofereceu as Diretrizes Gerais da Ao Pastoral31. De 1979 a 1990, as Diretrizes ficaram sob a influncia de Puebla e aplicaram ao Brasil as orientaes da III Conferncia Geral do Episcopado Latino-americano. Desde 1991 at as recentes Diretrizes Gerais de 1999-2002, uma nova conjuntura social, cultural e religiosa levou a pr mais fortemente o acento sobre a evangelizao. O ltimo ano do Projeto SINM coincidir com o tempo de avaliao das Diretrizes para 2003-2006. Ser o momento de rever mais profundamente, luz do Jubileu de 2000, do Projeto Rumo ao Novo Milnio e do Snodo para as Amricas32, e na perspectiva dos desafios do novo milnio, as orientaes da ao evangelizadora da Igreja no Brasil. Preparando as DGAE de 2003 Ora, embora sem se restringir a isso, o Projeto SINM e a reflexo sobre a misso da Igreja na atual conjuntura que ele proporciona constituem uma oportunidade preciosa para avaliar a nossa caminhada pastoral, seus avanos e suas dificuldades, e para iniciar o processo de elaborao das DGAE33 2003-2006. Dessa forma, as DGAE podero brotar de uma reflexo ampla e participada, com a contribuio das Igrejas locais ou particulares. O programa do SINM se presta naturalmente a esse processo de planejamento, porque sua espinha dorsal (seu eixo central) constitudo por uma reflexo continuada e orgnica sobre a atuao evangelizadora e missionria da Igreja, em suas diversas comunidades e organismos, luz da Palavra de Deus, particularmente dos Atos dos Apstolos. I.6. 6. Subsdios O Projeto SINM oferecer, em princpio, os seguintes subsdios: I) Subsdios homiltico-litrgicos: durante todos os perodos litrgicos, desde o Advento de 2000 (incio do ano litrgico C) at a Pscoa de 2003 (ano litrgico B), sero publicados roteiros para a celebrao e a pregao nas liturgias dominicais e festivas, semelhantes aos do PRNM; II) Subsdios sobre os Atos dos Apstolos: como foi explicado acima34, sero trs subsdios principais e alguns complementares: 1) O subsdio n.1 ser uma Introduo Geral aos Atos dos Apstolos e dever estar disposio das comunidades a partir do ms de novembro de 2000, a fim de permitir sua utilizao desde o incio do Projeto (janeiro de 2001); 2) A partir do 2 Domingo da Pscoa de 2001 (22 de abril) at a Festa de Cristo Rei (25 de novembro de 2001), o subsdio n.2 dever oferecer o roteiro de reunies semanais, durante 32 semanas. O roteiro ser divido em oito etapas de quatro encontros cada uma. O tema do subsdio ser a vida da Igreja missionria (guiada pelo Esprito, anunciando a palavra de Cristo, chamando converso e comunho, numa mstica apostlica que

  • 10permita superar obstculos externos e internos para crescer como sacramento da salvao e unidade do gnero humano); 3) para o ano de 2002, est previsto um subsdio n.3, semelhante ao de n.2, que retomar o estudo dos Atos, reforando-o e completando-o a partir de novos aspectos. O subsdio oferecer o roteiro de reunies semanais para o perodo que vai desde o 2

    Domingo de Pscoa (7 de abril) at a Festa de Cristo Rei (24 de novembro de 2002). Sero novamente oito etapas de quatro encontros cada uma, mais dois encontros finais de avaliao (total: 34 semanas); 4) enfim, esto previstos subsdios opcionais, sobre outros temas dos Atos, para estudo nos meses de janeiro-fevereiro de 2002 e 2003. III) Subsdios pastorais: sero elaborados e publicados de acordo com as diversas dimenses ou pastorais da CNBB, como foi feito durante o Projeto Rumo ao Novo Milnio. Podero tambm ser retomados subsdios da coleo Rumo ao Novo Milnio, conforme indicado acima. I.7. 7. Cronograma Perodo ou data Atividade prevista Janeiro-fevereiro de 2001 Preparao do Projeto Ser Igreja no Novo Milnio Quaresma de 2001 Campanha da Fraternidade Vida sim, Drogas no! Pscoa Festa de Cristo Rei Roteiro de reviso da vida e misso da Igreja luz

    dos Atos dos Apstolos (cf. anexo 2) Advento de 2001/ Natal Campanha de Evangelizao e Novena de Natal Janeiro-fevereiro de 2002 Avaliao da caminhada e preparao do 2o ano Quaresma de 2002 Campanha da Fraternidade Fraternidade e Povos

    Indgenas Pscoa Festa de Cristo Rei Roteiro de reviso da vida e misso da Igreja luz

    dos Atos dos Apstolos (cf. anexo 2) Advento de 2002/ Natal Campanha de Evangelizaoe Novena de Natal Janeiro-fevereiro de 2003 Avaliao da caminhada e preparao das Diretrizes

    2003-2006 I.8. 8. Planejamento diocesano e paroquial Oportunidade para planejar O Projeto SINM uma tima oportunidade para pr em prtica e aperfeioar o planejamento pastoral na comunidade, parquia ou diocese. Pressupomos duas coisas: I) que cada um parta de onde est e valorize sua experincia passada; II) que se adote uma metodologia participativa, como aquela que o PRNM props no pequeno precioso livro hora de mudana! (So Paulo, Paulinas, 1998, col. Rumo ao Novo Milnio, n.27). Naturalmente, o SINM no vai permitir planejar tudo! Vai ser de grande utilidade para avanar em alguns aspectos ou etapas do planejamento. Rever os objetivos Um primeiro progresso pode ser feito aprofundando os objetivos de nossa ao pastoral e, particularmente, discernindo melhor o que queremos como Igreja35. A reflexo que a Palavra de Deus e os escritos apostlicos vo nos proporcionar sobretudo uma reflexo teolgica (no de direito cannico ou de sociologia). o ponto de vista de Deus sobre a sua Igreja que vamos procurar discernir!

  • 11Anlise da realidade e tomada de decises Ao mesmo tempo, o processo de reflexo do SINM nos ajudar a observar mais atentamente a realidade em que vivemos, as pessoas e as situaes humanas que esperam a ao dos evangelizadores e o servio dos discpulos de Cristo36. A reflexo sobre os objetivos e o conhecimento da realidade conduzem tomada de decises37. Nossa sugesto (que estar inserida tambm no roteiro de estudo dos Atos dos Apstolos) que as decises sejam elaboradas progressivamente. A cada quatro encontros38, os grupos podero reunir-se em assemblia e deixaro registrada uma deciso: um projeto, uma prioridade, ou simplesmente o lembrete de um assunto a ser retomado e discutido mais amplamente. No final do ano, ou no incio de um novo ano, os grupos e a assemblia (da comunidade ou da parquia) reservaro um tempo para rever as decises encaminhadas durante o ano, organiz-las melhor e transform-las num plano de ao mais completo. Algo semelhante pode ser feito em mbito diocesano. O Conselho Pastoral pode reunir-se algumas vezes durante o ano e preparar uma assemblia diocesana para a poca mais oportuna39. O planejamento voltado para o futuro supe uma avaliao40 atenta do passado, que tambm far parte do processo de reflexo e anlise da realidade. I.9. 9. Recepo e encaminhamento A urgncia da criatividade na vida pastoral da Igreja O Projeto SINM no est todo determinado em seus passos, pois espera que cada diocese, parquia, comunidade, d o seu toque pessoal, tendo em vista suas realidades. O SINM no quer ser uma camisa-de-fora para os programas evangelizadores que possam nascer da criatividade local. Por outro lado, segui-lo em suas linhas gerais, em sua inspirao de fundo, sinal de comunho com toda a Igreja no Brasil. Sabemos que h inmeros irmos e irms sobrecarregados por um nmero enorme de frentes de trabalho. No se trata de criar mais uma, mas sim articular melhor a ao evangelizadora segundo o esprito do Projeto. Porm, h consenso sobre a urgente necessidade de criatividade na vida pastoral da Igreja. A articulao entre as dimenses e exigncias da ao evangelizadora Nas ltimas dcadas, sob a inspirao da eclesiologia do Conclio Vaticano II, a Igreja no Brasil vem adotando seis dimenses da ao evangelizadora para sua pastoral orgnica ou de conjunto. Elas expressam bem o esprito de documentos conciliares importantes: 1) Dimenso Comunitria e Participativa (Lumen gentium); 2) Dimenso Missionria (Ad gentes); 3) Dimenso Bblico-Catequtica (Dei Verbum); 4) Dimenso Litrgica (Sacrossanctum Concilium); 5) Dimenso Ecumnica e de Dilogo Inter-Religioso (Unitatis redintegratio, Nostra aetate); 6) Dimenso Sociotransformadora (Gaudium et spes). Porm, essa estrutura, muitas vezes, esquematizou tanto a pastoral que criou departamentos estanques. As recentes Diretrizes Gerais da Ao Evangelizadora, bem como o Projeto Rumo ao Novo Milnio, propuseram as quatro exigncias no como esquema rgido de organizao pastoral, mas como necessidades intrnsecas de toda ao eclesial. Assim, Servio, Dilogo, Anncio e Testemunho de Comunho constituem o amplo e complexo conceito de evangelizao pretendido pela Igreja no Brasil. Dessa maneira, se algum est envolvido predominantemente em alguma exigncia concreta, as outras devero estar presentes de alguma forma no seu trabalho, evitando assim o risco de uma pastoral compartimentada. Deveria ficar claro, ao menos, que um cristo ou um agente de pastoral, empenhado numa atividade especfica (de servio, de dilogo, de anncio...) nunca poder deixar de alimentar permanentemente sua espiritualidade e sua ao na Palavra de Deus, na celebrao da Liturgia, na comunho fraterna, no ardor missionrio.

  • 12 A importncia das comunidades e grupos de reflexo Vivemos um momento de profundo questionamento do valor das pequenas comunidades e dos grupos. A f foi por demais privatizada e no poucos acreditam que religio assunto meramente individual, particular. O projeto SINM uma aposta no valor da vida comunitria para o cultivo e a transmisso da f e, mais, acredita que a comunidade seja o espao de verificao da autenticidade da f. Nos anos que seguiram ao Conclio Vaticano II, a Igreja no Brasil desenvolveu uma prtica de reflexo em pequenos grupos, que sustentou a f de inmeros irmos e irms, bem como tornou a Igreja muito mais prxima da realidade vivida pelo povo. O pequeno grupo necessrio para a maior liberdade de expresso e criao de laos, porm importante que cada pequeno grupo se sinta comunidade junto com os outros grupos e com a Igreja maior, assim como importante que cada Igreja local esteja aberta para a misso universal e para o dilogo com outras Igrejas e religies. Por isso, o Projeto sugere vrias formas de partilha comunitria. Nisso verificamos uma indicao preciosa de Paulo e do livro dos Atos dos Apstolos: a igreja domstica, a Igreja nas casas, a pequena comunidade que se rene na casa de um irmo, algo parecido com nossos grupos de rua de hoje. O Projeto SINM quer, uma vez mais, investir profundamente nas comunidades e grupos de reflexo como meios mais eficazes da sustentao da mstica necessria para o cristo dos dias de hoje. Formao: a urgente misso de ajudar o cristo a dar a razo de sua f Reconheam de corao o Cristo como Senhor, estando sempre prontos a dar a razo de sua esperana a todo aquele que a pede a vocs (1Pd 3,15). Vivemos um tempo em que cada vez menos a religio passa dos pais para os filhos, mas vai se tornando uma escolha pessoal. Por um lado, isso confere religio a possibilidade de ser mais sria e profunda na vida de quem fez a sua prpria escolha; por outro, torna mais urgente a necessidade de um processo de formao capaz de responder s grandes questes existenciais que esto na raiz da opo ou so provocadas por ela. Outro imperativo que torna urgente a formao hoje advm do forte e crescente pluralismo religioso, para conviver bem e manter-se aberto ao dilogo com pessoas de outras opes. Alis, entre os obstculos ao dilogo, esto uma f escassamente enraizada e um conhecimento e compreenso insuficientes no s do credo e das prticas da prpria religio, mas tambm das outras religies. O uso dos Meios de Comunicao Social - rdio, tv, internet As diversas avaliaes do PRNM colocaram como desafio ao novo projeto o correto e mais amplo uso dos MCS. Nesse sentido, o SINM buscar parcerias com setores que j tm mais experincia no campo da comunicao, sobretudo a audiovisual. Pequenas histrias sobre as comunidades e figuras crists presentes nos Atos dos Apstolos e Cartas sero produzidas e oferecidas aos mais diversos MCS para que as comunidades e grupos se sintam reforados no acompanhamento dos roteiros. Como implementar o Projeto nas dioceses e parquias? O Projeto Ser Igreja no Novo Milnio prope s comunidades e aos grupos (de casa, de rua, de associao ou movimento etc.) um programa diversificado de atividades que ser desenvolvido com a ajuda de subsdios apropriados. Antes de tudo, em continuidade ao Projeto de Evangelizao de 1996 a 2000, o PRNM, o novo Projeto valorizar a Liturgia Dominical. Para isso, a CNBB pretende oferecer, por meio das editoras catlicas, para cada perodo litrgico, um roteiro de homilias e de sugestes para a animao litrgica.

  • 13 Caber ao proco ou ao responsvel pela comunidade, com sua equipe litrgica, principalmente uma boa preparao da celebrao. A liturgia, ao sacramental em que a salvao colocada ao nosso alcance, centro e ponto alto da vida eclesial. O Projeto oferece, a grupos e comunidades, um roteiro de reflexo sobre a vida crist, a comunidade e a misso, luz dos Atos dos Apstolos. O roteiro exige, desde a Pscoa at a festa de Cristo Rei (fim de novembro), um encontro semanal do grupo. Depois de trs encontros, o roteiro sugere que o grupo se encontre com outros grupos afins para realizar o 4 encontro de cada bloco. (Se no for possvel, o grupo poder fazer uma reviso da sua caminhada, uma celebrao ou outra atividade que julgar adequada.) Os encontros tm a finalidade de aprofundar a vida crist em seus diversos aspectos: orao, acolhida da Palavra de Deus, partilha das experincias e dos dons de cada um, tomada de conscincia de novas responsabilidades na misso, nos moldes indicados nos primeiros captulos deste texto-base: docilidade ao Esprito, fidelidade a Jesus, abertura s novidades, criatividade. extremamente importante hoje, para viver efetivamente no seguimento de Jesus, participar semanalmente de um desses grupos. O grupo, portanto, deve ser acolhedor, deve saber receber novos membros e cuidar de facilitar a integrao deles no grupo. Mas o grupo tambm incentiva alguns a assumirem mais responsabilidades no campo da evangelizao ou da pastoral, participando de outras organizaes ou movimentos ou prestando servios individualmente. O Projeto apia, em linhas gerais, as pastorais e os movimentos que tm finalidades especficas. Os membros da Obra Vicentina, do Apostolado da Orao, da Legio de Maria, da Renovao Carismtica e de outros movimentos, o(a) colaborador(a) da Pastoral da Criana ou das Pastorais Sociais, o(a) catequista, o(a) ministro(a) da Eucaristia no devem deixar suas atividades permanentes e especficas. Ao contrrio, espera-se que a participao na liturgia dominical e nos grupos de reflexo sobre os Atos dos Apstolos lhes d mais ardor e uma conscincia mais plena da sua responsabilidade no campo da evangelizao e da pastoral. anexo 1. ANEXO 1: SUGESTO DE ORGANIZAO PAROQUIAL A organizao das pastorais na parquia poder adotar o seguinte esquema (ou outro semelhante). Explicao do Esquema No esquema que segue, o proco est a servio da animao e da orientao da parquia ou comunidade, atuando em estreita comunho e colaborao com uma equipe pastoral, formada por seus colaboradores mais imediatos (vigrio paroquial, se houver; religiosas empenhadas na pastoral paroquial; lderes leigos). A equipe pastoral deveria reunir-se semanalmente e ter, de vez em quando, momentos mais fortes e prolongados de orao, reflexo e planejamento. O Conselho Pastoral poder reunir-se mensalmente e dever compreender representantes eleitos das Comunidades e/ou de Setores e Pastorais das Parquias e de Associaes, Movimentos e de Servios, considerando-se as caractersticas prprias da parquia e as diretrizes diocesanas. Havendo vrias comunidades, cada uma poder ter seu conselho comunitrio. O Conselho para Assuntos Econmicos (ou uma Comisso de Finanas), obrigatrio segundo o Direito Cannico41, cuidar da administrao dos recursos das parquias, aplicando-os segundo as decises do Proco e do Conselho Pastoral, ao qual estar estreitamente ligado.

  • 14 As atividades pastorais, geralmente muito numerosas, podem ser coordenadas por quatro ou cinco comisses ou coordenaes, cujos coordenadores devem fazer parte do Conselho Pastoral. Sugerimos um exemplo de organizao das comisses que coordenam as atividades pastorais. Mas muitos outros so vlidos. A parquia escolha a forma que melhor lhe convier, aproveitando sua experincia e procurando articular, numa comisso, todas as pastorais (e associaes e movimentos) que atuam numa determinada rea. O proco e o conselho no precisam acompanhar diretamente trinta ou quarenta pastorais (ou associaes e movimentos), mas ter um contato freqente com quatro ou cinco Comisses ou Coordenaes, que podem ser: 1. uma equipe litrgica (orientada pelo proco e coordenada por pessoa designada por ele) preparar semanalmente a animao da liturgia dominical e da liturgia sacramental. Dependendo do tamanho da parquia e da disponibilidade das pessoas, poder haver uma equipe para a pastoral do batismo e da crisma, uma equipe de ministros extraordinrios da sagrada comunho etc. 2. uma Comisso para a Formao e a Animao da Vida Comunitria, que, segundo as necessidades reais da parquia, poder articular uma Coordenao de Catequese (que cuidar da formao dos catequistas e da organizao da catequese), uma Coordenao de Formao dos Agentes de Pastoral e Ministros, uma Coordenao de Associaes, Movimentos e Comunidades, que junto com o Conselho Pastoral cuidar da melhor integrao dos membros na vida paroquial, e de outras iniciativas (ministrio da Acolhida, Pastoral Familiar, etc.) que contribuam para animar a vida comunitria na parquia; 3. uma Comisso de Servio (Ao Social), que pode coordenar e apoiar as atividades das Pastorais Sociais, dos Vicentinos, das Obras Sociais paroquiais, da Pastoral da Sade etc.; 4. uma Comisso para o Dilogo Ecumnico e Inter-Religioso, que manter o contato com outras Igrejas crists e com outras religies, promover a Semana de Orao pela Unidade dos Cristos e outras iniciativas ecumnicas; sobretudo procurar despertar e aprofundar o esprito ecumnico em toda a comunidade paroquial; 5. uma Comisso para o Anncio Missionrio, que procurar coordenar iniciativas e movimentos que se voltam especialmente para a evangelizao e a aproximao das pessoas que no participam ordinariamente da vida eclesial.

    Cada parquia ter o cuidado de oferecer s suas comunidades e grupos um calendrio ou cronograma, que incluir os eventos prprios e relevantes da vida paroquial (festas, retiros, assemblias, promoes especiais...). Esses e outros meios serviro para

  • 15articular as comunidades e grupos com o grande esforo de evangelizao rumo Igreja que queremos ser no novo milnio. II. PARTE II: O CAMINHO Conhecemos a histria da atuao de Jesus principalmente atravs dos quatro evangelhos. Foi neles que se concentrou a nossa ateno nos anos que precederam o Grande Jubileu de 2000. Acolhendo a sugesto do Papa Joo Paulo II, a Igreja no Brasil se dedicou a Marcos (1997), Lucas (1998) e Mateus (1999). No foram s as homilias e as liturgias dominicais que tiveram esses evangelhos por tema. Todo um trabalho de reflexo e de aprofundamento da f foi feito a partir dos evangelhos, buscando iluminar e aperfeioar nossa vida crist e nosso testemunho de evangelizadores. No ano 2000, completamos o conhecimento de Jesus por meio de um novo olhar, o do evangelista Joo, o discpulo amado. Quem, agora, pode nos contar a histria dos discpulos que Jesus deixou, dos doze apstolos e de seus companheiros e companheiras? O livro que mais nos ajuda a conhecer por dentro essa histria (e a continu-la!) , sem dvida, o livro dos Atos dos Apstolos, escrito por Lucas, autor do terceiro evangelho, como continuao deste. Lucas no queria contar apenas a vida de Jesus, mas descrever tambm a obra que Ele deixou e que foi guiada pelo Esprito Santo. claro que todos os livros do Novo Testamento podem contribuir para isso e ns mesmos, quando oportuno ou necessrio, pediremos a ajuda de Paulo, de Pedro, de Tiago ou de Joo para esclarecer ou completar as informaes de Lucas e dos Atos. Mas os Atos dos Apstolos sero o nosso guia na virada do milnio e no incio de uma nova etapa da misso da Igreja. Por que os Atos dos Apstolos? A escolha dos Atos se impe porque o livro que melhor ilumina a situao da Igreja hoje. O Papa Joo Paulo II, que desde o incio do seu pontificado pensa na passagem do segundo para o terceiro milnio42, convidou-nos a preparar o Jubileu aprofundando a nossa f pelo conhecimento e a confiana na Santssima Trindade, nas pessoas do Verbo, Jesus Cristo, do Esprito Santo e do Pai. o que temos procurado fazer, na Igreja do Brasil, por meio do Projeto de Evangelizao Rumo ao Novo Milnio. Precisamos agora de um instrumento que nos leve, para alm do Jubileu, na fidelidade ao projeto de Jesus, a prosseguir a misso de evangelizao que Ele nos confiou. Esse instrumento o livro dos Atos, que nos ajudar a bem comear o novo milnio, sendo nosso guia em 2001-2002. O livro dos Atos particularmente adequado s nossas necessidades; responde a nossos anseios. No se limita a contar a histria dos primeiros discpulos, depois da morte e glorificao de Jesus. Ele ajuda a compreender em profundidade a misso que confiada Igreja. Para o livro dos Atos, a Igreja continua a obra de Jesus, mas quem assume a liderana e o protagonismo da misso o prprio Deus, por meio do Esprito Santo. Ele est de tal modo a servio do projeto de Jesus e est a tal ponto unido a Ele que Paulo pode cham-lo Esprito de Cristo ou Esprito do Filho (de Deus) ou Esprito do Senhor43, at a surpreendente expresso: O Senhor o Esprito, e onde est o Esprito do Senhor, a est a liberdade44. O Esprito Santo aparece cerca de 55 vezes no livro dos Atos guiando a misso dos evangelizadores, que consiste principalmente em anunciar a Palavra de Deus45. O primeiro anncio, que a sntese da novidade crist, que muitos indicam ainda hoje como o querigma46, pode ser reconstrudo luz de Paulo e dos prprios Atos da forma seguinte:

  • 16a) com a vinda de Jesus Cristo, as profecias chegam realizao, e uma nova poca iniciada; b) Jesus pertence descendncia ou casa de Davi; c) morreu conforme as Escrituras para nos libertar do atual domnio do mal; d) foi sepultado; e) foi ressuscitado (por Deus), conforme as Escrituras; f) foi exaltado direita de Deus, como Filho de Deus e Senhor dos vivos e dos mortos; g) voltar como juiz e salvador dos homens. importante observar, porm, que a formulao do querigma bastante diferente quando a pregao se dirige aos judeus e quando se dirige aos pagos. Quando os ouvintes so pagos, o querigma abre mais espao para falar dos aspectos essenciais da vida de Jesus, enquanto h apenas uma aluso (sem citar textos) aos testemunhos do Antigo Testamento. Estes, ao contrrio, so amplamente citados no anncio dirigido aos judeus. Em segundo lugar, o anncio ou querigma dirigido aos pagos, quando no precedido por algum evento particular (como, por exemplo, no caso do centurio Cornlio em At 10), introduzido por uma preparao inspirada na apresentao do monotesmo47, assim como era feita pelo judasmo helenista, usando alguns temas da filosofia grega, como a polmica contra os dolos, a revelao de Deus na natureza, as idias a respeito de Deus, o fato universal da religio48. O anncio cristo tem como centro a Pessoa de Jesus, que ao mesmo tempo, inseparavelmente, o Jesus da histria (o Jesus de Nazar nascido na Palestina e crucificado sob Pncio Pilatos) e o Cristo da f (o Ressuscitado, em quem os discpulos reconhecem o Messias, Filho de Deus, glorificado pelo Pai). Ao mesmo tempo, o anncio cristo no est separado do esforo de dilogo com a cultura do povo a quem se dirige: para ser significativo e retamente compreendido, o querigma tem que ser formulado na linguagem que o povo entende, deve ser situado ou contextualizado com relao s esperanas dos ouvintes. O desafio da inculturao e da inovao O Esprito Santo, que envia para anunciar o Evangelho de Jesus, envia a todos os povos. Desde o primeiro Pentecostes, manifestao estrondosa do dom do Esprito49, a boa nova comunicada a uma lista impressionante de povos e etnias diferentes: partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotmia, da Judia, da sia, do Egito, do norte da frica, gregos, rabes... A palavra de Deus quer penetrar em todos os coraes e em todas as culturas. Mas, para isso, deve ser traduzida, anunciada em linguagens diferentes. Nas diferentes formulaes do querigma para judeus e gregos j aparece o grande desafio que os primeiros evangelizadores encontraram e que o pano de fundo de todo o relato dos Atos dos Apstolos. No era possvel anunciar Jesus repetindo simplesmente o que Ele tinha ensinado na Palestina, em aramaico, usando as imagens da literatura bblica e da experincia vivida daquela regio. Era preciso traduzir isso para o grego: no somente para outra lngua, mas para uma cultura, uma mentalidade, um imaginrio diferentes. Como fazer isso, sem faltar fidelidade ao Evangelho, mensagem genuna, autntica, de Jesus? Mais: o que exigir dos gregos ou de outros povos pagos para serem cristos? Era necessrio primeiro tornar-se judeu para depois tornar-se cristo? O pago deveria submeter-se a toda a Lei de Moiss? Deveria como diziam os judeus carregar o jugo da Lei antiga? A questo dividiu os cristos de Jerusalm e de Antioquia, mais tarde os da Galcia e at de Roma. O assunto central no livro dos Atos, que, bem no meio, trata da questo dentro do chamado Conclio de Jerusalm50. De novo, o Esprito Santo quem inspira a soluo, procurada no dilogo entre Pedro e Tiago, entre os presbteros de Jerusalm e os delegados de Antioquia.

  • 17Mais amplamente ainda se trata de resolver corretamente o conflito, que alguns vem, entre tradio e inovao. vontade de Deus que os judeus permaneam apegados letra da tradio e da Lei? Ou preciso ir alm da letra que mata (Paulo!)51 e deixar-se conduzir pelo esprito que d a vida? O antigo testamento est superado ou Deus continua fiel a suas promessas? A Igreja de Cristo um novo povo de Deus, que substitui Israel, ou h um s povo, que no pode separar ou rejeitar nem a antiga nem a nova aliana? Duas etapas de uma mesma histria O livro dos Atos no oferece fundamento s teses de que teramos dois povos: um antigo e um novo. Os Atos mencionam, sim, duas pocas ou duas etapas da histria da salvao: a primeira a das promessas ou das profecias; a segunda a da realizao52. Nessa segunda etapa, podem pertencer ao povo de Deus tanto os judeus como aqueles que Deus escolheu para si no meio dos pagos53. Nesse momento decisivo da histria da salvao, conta menos a origem tnica do que a f. Tanto entre os judeus como entre os pagos h homens de cabea dura54 e h os que acolhem a f com alegria55. Um s anseio: abrir portas e coraes Palavra O livro dos Atos no responde, muitas vezes, s perguntas que ns gostaramos de lhe fazer sobre a organizao da Igreja e suas relaes internas. O que interessa aos Atos, acima de tudo, a evangelizao, a misso da Igreja. Usando a linguagem figurada de Paulo e dos prprios Atos, podemos dizer que o que interessa nesse livro saber como Deus abriu as portas e os coraes Palavra do Evangelho, mensagem de Jesus. J Paulo falara de seu trabalho de penetrao no mundo grego como de uma empresa em que Deus lhe abriu muitas portas. o que conta aos corntios, a propsito de feso, onde se abriu para mim uma porta larga e promissora56, e a propsito de Trade, onde no tive sossego, embora o Senhor me tivesse aberto uma porta57. Aos cristos de Colossos, Paulo pede que rezem por ns, pedindo a Deus que abra uma porta para a nossa pregao, a fim de podermos anunciar o mistrio de Cristo58. O livro dos Atos conhece uma ao de Deus que abre literalmente as portas da priso59 onde os Apstolos esto detidos, devolvendo-lhes a liberdade de pregao da Palavra, aquela de que Paulo goza at o fim60. O mesmo acontece a Pedro, libertado por um anjo61, e que ter mais dificuldade para entrar na casa de Maria, me de Joo Marcos, porque a empregada no lhe abriu logo a porta62. O mesmo livro fala do apostolado de Paulo e Barnab com a mesma linguagem das cartas de Paulo: Contaram tudo o que Deus fizera por meio deles e como ele havia aberto a porta da f para os pagos63. O lugar onde a pessoa acolhe a f o corao64. Assim aconteceu com Ldia: O Senhor abriu o seu corao para que aceitasse as palavras de Paulo65. Pedro testemunha que Deus purificou o corao dos pagos mediante a f66. Analogamente, o dom da f e da converso descrito como abrir os olhos. Paulo se sabe enviado aos pagos para que lhes abra os olhos e para que se convertam das trevas para a luz67. Ao contrrio, entre os judeus de Roma o corao se endureceu... seus olhos se fecharam, para que no enxerguem com os olhos, nem entendam com o corao e se convertam...68. Mas a recusa de uns no impede a Paulo de oferecer a palavra do Evangelho a muitos outros: Ele recebia todos os que o procuravam, proclamando o Reino de Deus69. Essa a concluso do livro dos Atos, que bem resume toda a pregao dos Apstolos descrita no livro. Deles tambm se pode dizer com toda a certeza: Acolhiam todos os que os procuravam, proclamando o Reino de Deus e ensinavam o que se refere a Jesus Cristo. A identidade da Igreja

  • 18 Mesmo se a vida da Igreja no aparece to importante ao autor dos Atos quanto a atividade missionria, ele no deixa de traar um retrato da primeira comunidade crist, que uma espcie de carteira de identidade (talvez melhor: um cdigo gentico) de toda a comunidade crist, em todos os tempos e lugares. O retrato ideal da comunidade aparece em At 2,42-47 e deve ser completado com os traos de At 4,32-35 e 5,12-16. Um primeiro trao que o livro dos Atos enfatiza e que expressa com o verbo perseverar70 que a vida crist um comportamento constante, permanente. A mesma idia aparece freqentemente no Novo Testamento e expressa uma convico bem enraizada entre os primeiros cristos71. A perseverana, numa realidade viva, se expressa tambm no crescimento. Freqentes so as imagens que se referem ao crescimento do cristo, que, de criana72, deve tornar-se perfeito ou adulto73. Outra imagem que expressa a idia do crescimento a comparao com o edifcio ou o templo: Paulo ps os alicerces74 sobre os quais se deve construir e Deus h de destruir quem destruir o templo de Deus (= a comunidade crist)75. Ainda outra imagem freqente a do caminho76. O caminho na direo do Cristo gera no cristo um impulso irresistvel na direo do futuro, do Cristo glorioso77. A exortao mais calorosa e sofrida perseverana se encontra em trs captulos da Carta aos Hebreus78, que, por um lado, enfatizam a fraqueza humana e a ao de Deus nos fiis que os leva a querer e agir e, por outro lado, motivam profundamente o empenho do fiel cristo e revelam como a perseverana fora um difcil desafio tambm para as antigas comunidades eclesiais. Muitos outros textos do Novo Testamento poderiam ser citados, todos exortando perseverana. Resumimo-los em dois: Ele vos reconciliou pelo corpo de seu Filho [...] contanto que permaneais firmes e inabalveis na f, sem vos desviar da esperana dada pelo evangelho que ouvistes79; [...] pois a ns foi anunciada a boa nova, exatamente como queles [aos hebreus]. Mas a eles de nada adiantou a palavra do anncio, porque no permaneceram em comunho de f com aqueles que a ouviram80. Esse apelo perseverana deixa claro que o retrato da comunidade, que Lucas pintou, no tanto a descrio do que ele efetivamente viu, quanto a proposta do modelo que toda a comunidade crist, em todos os tempos, dever realizar. Mas qual esse modelo? Perseverar no ensinamento dos apstolos O retrato da comunidade ideal esboado nos quatro traos de At 2,42: Eles eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apstolos, na comunho fraterna, na frao do po e nas oraes. O ensinamento aqui chamado, em grego, didaqu. O termo aparece freqentemente nos Atos e no Novo Testamento, indicando uma etapa da formao crist posterior ao primeiro anncio ou querigma. O ensinamento corresponde, grosso modo, nossa catequese e pregao, formao do cristo adulto. Nela, podem-se distinguir dois aspectos81: a catequese doutrinal, que ajuda a compreender melhor a revelao de Deus em Jesus, e a exortao moral ou parnese, que indica como o cristo deve agir na vida pessoal, familiar e social82. Pode-se ainda observar que o querigma, do qual j apresentamos as linhas essenciais, tem um contedo mais ou menos fixo, que a comunidade crist deve acolher e a partir do qual desenvolver o aprofundamento doutrinal e moral, ou seja, sua f e seu comportamento. Por outro lado, o ensinamento doutrinal e a doutrina moral se adaptam muito mais s condies das pessoas e das comunidades e apresentam, por isso, uma variedade maior.

  • 19O ensinamento foi, desde cedo, associado liturgia. Um exemplo, que para ns no fcil perceber, est no relato da ltima Ceia de Jesus, da maneira como nos apresentado por Lucas. O texto no se limita a narrar o que aconteceu com Jesus, mas est ligado celebrao eucarstica, assim como celebrada na comunidade crist e na qual se procura educar a f dos cristos, aprofundando sua compreenso daquilo que o exemplo de Jesus ensina. Assim, pode-se perceber, no relato da Ceia em Lucas83, a introduo de elementos claramente parenticos, de exortao aos cristos, para que vivam coerentemente com aquilo que Jesus ensinou doando sua vida84. O evangelista quer ensinar humildade, f, amor, aceitao dos sofrimentos, perseverana, vigilncia em face dos contnuos perigos, a possibilidade da traio (tambm hoje!), o papel de Pedro, a perspectiva escatolgica, a paixo e a glria. Logo, trata-se de uma didaqu muito densa, que supera e aprofunda de muito o simples anncio ou querigma. O ensinamento (didaqu) no uma mera repetio das palavras de Jesus. Foi dito: Jesus no confiou suas palavras a livros, mas a arautos (anunciadores). O ensinamento dos apstolos uma reflexo a partir da vida e obra de Jesus, que se adapta s diversas circunstncias e ao pblico a que se dirige. Os prprios quatro evangelhos no so iguais. Assim mesmo, grande o zelo de apstolos e evangelistas para permanecer fiis. O apstolo essencialmente um ministro da Palavra e, por isso, deve poder testemunhar a vida de Jesus. Esse o critrio para escolher o 12 apstolo, que substituir Judas, o traidor85. Na hora de multiplicar os ministros, os Doze conservam para si o ministrio da Palavra86. Paulo particularmente consciente do seu dever de conservar a doutrina certa e de evitar as interpretaes ambguas ou abertamente falsas do Evangelho87. Em resumo, ele pode dizer: As pessoas nos considerem como ministros de Cristo e administradores dos mistrios de Deus. E o que, em suma, se exige dos administradores que seja cada um achado fiel88. Por isso, podemos concluir com Policarpo, bispo de Esmirna (U56): Nem eu nem um outro como eu pode comparar-se sabedoria do bem-aventurado e glorioso Paulo, que enquanto estava entre vs falava diante dos homens e ensinava com exatido e vigor a verdade... Estudai atentamente e crescei assim na f que ele vos deu: ela, a f, a me de todos ns, seguida pela esperana, e segui a esperana que precedida pelo amor a Deus, ao Cristo e ao prximo89. Para perseverar no ensinamento dos Apstolos, toda e qualquer gerao crist deve voltar-se para as fontes, para as palavras do Novo Testamento, sem cair numa mera repetio, mas acolhendo e conservando seu dinamismo. Perseverar na comunho O retrato de At 2,42 fala, em segundo lugar, da perseverana na comunho (koinonia). A palavra aparece s aqui, no livro dos Atos, mas seu uso no Novo Testamento ajuda a esclarecer o sentido do termo90. Nas primeiras comunidades crists, o termo usado, antes de tudo, para indicar a comunho dos fiis com Cristo. Cristo comungou com a natureza humana91; os homens foram chamados a tornar-se participantes (koinoni) da natureza divina92. Paulo insiste de vrias maneiras na comunho dos fiis com Cristo: o cristo vive e age em Cristo Jesus93; o cristo co-herdeiro de Cristo94, configurado com Cristo95, tornado semelhante a ele96; sofre97 e glorificado,98 vive e morre com Cristo99; vive nEle100 e com Ele crucificado;101 e conformado sua morte;102 com Cristo ressuscita;103 opera com Cristo;104 reina com Cristo105. O cristo entra em comunho com Cristo pelo clice e o po da Eucaristia106. Os cristos formam um nico corpo com Cristo107. A comunho dos cristos com Cristo gera a comunho entre eles, a comunho fraterna, a unio dos membros do Corpo de Cristo. Essa comunho no se torna verdadeira se no fundada sobre a comunho com os Apstolos (cf. acima: perseverar no ensinamento dos Apstolos!). uma preocupao do prprio Paulo, que teme correr ou ter corrido em vo,108 se no mantiver essa comunho. Mais profundamente, a unio dos cristos tem

  • 20por fundamento um s Senhor, uma s f, um s batismo, um s Deus e Pai de todos.109 Tambm Joo no separa a comunho conosco da comunho com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo110. A comunho com Cristo e a comunho fraterna levam tambm comunho de bens materiais? Talvez a pergunta esteja mal formulada, porque a Bblia no separa espiritual e material. Considera o homem por inteiro, integralmente. De qualquer forma, os Atos gostam de frisar que entre os primeiros cristos no havia nenhum necessitado111, e que todos eram um s corao e uma s alma112. Dois exemplos ilustram esses sentimentos: o de Barnab, que vende um campo e entrega todo o seu valor aos Apstolos113. Outro, ao contrrio, mostra que Ananias e Safira vendem uma propriedade, mas entregam apenas uma parte, escondendo o resto114. Sero punidos severamente, sobretudo pela quebra de confiana na comunidade. A comunho dos fiis com Cristo e com os irmos no conhece fronteiras, no pra diante dos bens materiais. Se algum possui riquezas neste mundo e v o seu irmo passar necessidade, mas diante dele fecha o seu corao, como pode o amor de Deus permanecer nele?115. Tambm o autor da Carta aos Hebreus recomenda no esquecer a prtica do bem e a partilha (koinonia), pois estes so os sacrifcios que agradam a Deus116. Paulo tambm compara os donativos dos filipenses aos sacrifcios agradveis a Deus117. E quando o mesmo Paulo organizar uma coleta em favor dos cristos (os pobres) de Jerusalm, ele a chamar comunho (koinonia)118. No h dvida de que o livro dos Atos, quando fala de comunho, pe o acento sobre a comunho de bens119. Ela porm no imposta, nem pelos Apstolos nem pela sucessiva tradio crist. Contudo, ela permanece a expresso natural da realidade da f e a medida do amor a Deus e da unio a Cristo, aos irmos, humanidade. E ela pode, hoje, dar novo vigor nossa prtica da solidariedade, da partilha, do dzimo... Por ser a prova e a manifestao da autenticidade da f, a partilha dos prprios bens s pode ser espontnea, de boa vontade. Que cada um d conforme tiver decidido em seu corao, sem pesar nem constrangimento, pois Deus ama a quem d com alegria.120 Mas a partilha dos bens no deveria ser descuidada, apenas porque ... difcil. Exemplos antigos nos estimulam a encontrar hoje atitudes igualmente corajosas e generosas. Aristides podia escrever ao imperador Adriano: Quando [entre os cristos] h algum pobre a ajudar, jejuam durante dois ou trs dias e enviam os alimentos que estavam reservados para eles.121 Pouco depois, outro cristo de Roma, Ermas, escreveu: Para observar o jejum, guarda-te de toda palavra m, de todo desejo ruim e purifica teu corao... No dia em que jejuares, no tomars nada, a no ser po e gua; calculars o preo da comida que tu terias tomado e o colocars de lado, para do-lo s vivas e aos rfos ou aos pobres, e assim te humilhars, para que aquele que recebeu de ti sacie sua alma e pea ao Senhor por ti. Se jejuares segundo estas minhas prescries, teu sacrifcio ser aceito por Deus122. A Didaqu acrescenta: no acontea que tu abras as mos para receber e as feches na hora de doar... No repelirs o necessitado, mas partilhars tudo com o teu irmo e no dirs que as coisas so tuas. Pois, se participais juntos dos bens da imortalidade, quanto mais deveis faz-lo para os bens passageiros!123. Outros textos cristos antigos recomendam o trabalho e condenam o cio. Aquele que recusa o trabalho e sua contribuio comunidade est negando sua f e como que renunciando a ela, afastando-se de Cristo. Para concluir, basta lembrar que a partilha dos bens materiais to importante que ser o critrio do juzo final: Eu estava com fome, e me destes de comer; estava com sede, e me destes de beber; eu era estrangeiro, e me recebestes em casa; estava nu, e me vestistes... Em verdade vos digo: todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que so meus irmos, foi a mim que o fizestes!124. Perseverar em partir o po Outro trao ideal da comunidade crist, outra exigncia imprescindvel, o partir o po. Por que o livro dos Atos prefere a expresso frao do po (ou partir o po)125 para

  • 21designar a Eucaristia? No fcil determin-lo. O fato que os cristos que vieram logo aps aos primeiros no usaram mais essa expresso, preferindo a ela Eucaristia126. Mais clara a origem da expresso. Na Bblia, partir o po indica apenas o gesto de tomar o alimento127. No Novo Testamento, a mesma expresso sempre indica a refeio que Jesus quis em memria dele. J na narrao da multiplicao dos pes, Jesus pegou os cinco pes e os dois peixes, ergueu os olhos ao cu, pronunciou a bno, partiu os pes e ia dando-os aos discpulos, para que os distribussem128. Aqui no se trata apenas de saciar a fome, mesmo se Jesus retoma o gesto do chefe de famlia ou do pai que parte o po para quem est mesa. A perspectiva eucarstica e eclesial. Os mesmos gestos sero realizados na ltima Ceia de Jesus e entraro para sempre na liturgia eucarstica. E a essa liturgia que se refere o autor dos Atos quando fala em partir o po129. Esse sentido garantido tambm por Paulo: E o po que partimos no comunho com o corpo de Cristo?130. A Ceia eucarstica tornou-se o centro da vida comunitria dos cristos. Ela no era celebrada uma vez por ano, como a Pscoa dos judeus. Mesmo que a ltima Ceia de Jesus esteja colocada num contexto pascal, no foi o rito da pscoa judaica o conservado na Igreja. O rito pascal mencionado pelos evangelistas para ajudar a compreender o gesto de Jesus. Na ltima Ceia, ele era como o cordeiro que ia ser imolado na Pscoa. Este o sentido da sua morte. O nosso cordeiro pascal, Cristo, foi imolado131. Os gestos que ficaram na Eucaristia tm o sentido de identificar o cristo com Cristo. Tomar o po comer o corpo de Cristo. Beber do mesmo clice aceitar partilhar o mesmo destino de Jesus132. Ou como refletiu Paulo: se um s morreu por todos, e portanto todos morreram, ele morreu por todos para que os que vivem j no vivam para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou133. Na Ceia do Senhor, na frao do po, conservada a participao na nica vtima, na qual todos esto de algum modo unidos e reforam sua unio entre si e com a vtima, Cristo. Ele est presente como corpo dado, po partido, sangue derramado, ou seja, como sacrifcio. Embora a presena de Cristo na Eucaristia seja diretamente uma presena sacrificial, o mesmo Cristo em todo o seu dinamismo morto, ressuscitado, glorioso que est presente. Os cristos, unidos a Ele, devem viver seu morrer, os sofrimentos mortais, para chegar com Ele glria. Por toda parte e sempre levamos em nosso corpo o morrer de Jesus, para que tambm a vida de Jesus se manifeste em nosso corpo134. A Eucaristia, mais do que qualquer outro sacramento, intensifica o anseio para a realizao plena do cristo no mistrio de Cristo. O dinamismo da Eucaristia que atualiza um acontecimento do passado opera no presente e se volta essencialmente para o futuro. Ela realiza agora a unio dos cristos. Porque h um s po, ns, embora muitos, somos um s corpo, pois todos participamos deste nico po135. Mas, sobretudo, o po partido e o clice que bebemos so o alimento que nutre nossa espera da vinda de Cristo, ilumina e sustenta nossa esperana na hora do sofrimento. essa tenso escatolgica que explica as palavras de Paulo: Todas as vezes que comerdes deste po e beberdes deste clice, estareis proclamando a morte do Senhor, at que ele venha136. Por isso fazei isto em minha memria137. No contexto da Ceia eucarstica surgiu a invocao Maranat: Vem, Senhor!138. Outro testemunho muito antigo dessa tenso da Ceia para a vinda de Jesus, a sua parusia, est na Didaqu ou Doutrina dos Doze Apstolos: Da mesma maneira em que este po partido estava disperso aqui e acol sobre as colinas e recolhido tornou-se uma mesma coisa, assim seja reunida a tua Igreja no teu reino desde os confins da terra... Lembra-te, Senhor, da tua Igreja, preserva-a de todo o mal, torna-a perfeita no amor, santifica-a, rene-a dos quatro ventos no teu reino que para ela preparaste. Porque teu o poder e tua a glria nos sculos. Venha a graa e passe este mundo. Hosana casa de Davi! Quem santo, aproxime-se; quem no o , arrependa-se. Maranat. Assim seja139.

  • 22A Eucaristia esse partir o po , portanto, muito mais do que assunto para debates filosficos sobre o modo da presena real de Cristo. A Eucaristia uma ao, um dinamismo, que incorpora e identifica o cristo com Cristo e d comunidade crist todo o sentido da sua existncia e da sua caminhada em direo ao reino glorioso do Pai. Perseverar na orao A comunidade ideal, segundo o livro dos Atos, persevera na orao. [Os discpulos] voltaram para Jerusalm, com grande alegria, e estavam sempre no templo, bendizendo a Deus, diz a concluso do evangelho de Lucas140. Logo depois de Pentecostes, os Apstolos subiam ao Templo para a orao das trs horas da tarde141. Lembremos que Lucas o evangelista que mais fala da orao de Jesus. No apenas cita a orao nas trs circunstncias mencionadas tambm por Marcos142, mas acrescenta outros cinco momentos de orao. So eles: o momento do batismo de Jesus; o momento da escolha dos doze apstolos; o momento da transfigurao; o dia em que Jesus estava orando e os discpulos lhe pediram que lhes ensinasse a rezar; e, enfim, o momento em que Jesus promete rezar por Pedro143. Tambm quando Lucas recorda momentos de orao que Mt e Mc j nos fizeram conhecer, acrescenta algo seu, dando maior destaque orao de Jesus. Um bom exemplo a orao no Horto do Getsmani. S Lucas acrescenta: Apareceu-lhe um anjo do cu, que o fortalecia. Entrando em agonia, Jesus orava com mais insistncia. Seu suor tornou-se como gotas de sangue que caam no cho144. Nisto pensasse talvez o autor da Carta aos Hebreus quando escreveu: Nos dias de sua vida terrestre, [Jesus] dirigiu preces e splicas, com forte clamor e lgrimas, quele que tinha poder de salv-lo da morte. E foi atendido, por causa da sua entrega a Deus. Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obedincia, por aquilo que ele sofreu145. Conhecemos pouco, porm, as palavras das oraes de Jesus. Temos trs breves trechos. O primeiro atestado por Lucas e Mateus: Eu te louvo, Pai, Senhor do cu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sbios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai...146. Uma segunda frmula citada pelos trs evangelhos sinticos: Abb! Pai! Tudo possvel para ti. Afasta de mim este clice! Mas seja feito no o que eu quero, porm o que tu queres147. A terceira frmula o grito de Jesus na cruz: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?148, que no um grito de desespero, mas o incio do salmo 22 (21), que expressa confiana no Senhor em meio aos sofrimentos. Os leitores gregos de Lucas podiam no conhecer esse salmo. Lucas preferiu, ento, omitir essa citao e substitu-la por outra invocao, tambm tirada de um salmo: Pai, em tuas mos entrego o meu esprito149. Jesus insiste sobre a necessidade da orao de seus discpulos, e o faz principalmente procurando revelar a bondade de Deus e suscitar a confiana nele. Lucas, especialmente, mostra Jesus exortando orao atravs de parbolas muito expressivas, como a do amigo importuno ou do pai que no d pedra ou escorpio ao filho que pede po150. Mais ousada ainda a comparao de Deus com o juiz inquo que se rende insistncia da viva151. Mais didtica a parbola que oferece dois exemplos de orao, um negativo e um positivo, o do fariseu e o do publicano, para ensinar a humildade na orao152. Enfim, outros textos de Lucas recomendam a vigilncia e a orao constante: Ficai atentos e orai a todo momento, a fim de conseguirdes escapar de tudo e para ficardes de p...153. No portanto de admirar que Lucas, por assim dizer, mergulhe todo o seu evangelho na orao. No incio, o povo que reza no ptio do Templo enquanto o sacerdote Zacarias entra no santurio, onde um anjo lhe aparece e diz: O Senhor ouviu tua orao154. Quando Jesus apresentado ao Templo, acolhido por duas pessoas que sempre rezavam: Simeo e Ana155. Todos os que no evangelho recebem especiais revelaes divinas manifestam seu reconhecimento por meio das mais belas oraes do

  • 23Novo Testamento, que, junto com a saudao do anjo, a Ave Maria156, logo se tornaram de uso comum entre os cristos: o Magnificat157, o Benedictus158, o Gloria in excelsis159, o Nunc dimittis160. Essa atmosfera de orao no cerca apenas a infncia de Jesus. Lucas retoma, surpreendentemente, o hino dos anjos em Belm para coloc-lo na boca do povo que aclama a entrada de Jesus em Jerusalm: Bendito o Rei, que vem em nome do Senhor! Paz no cu e glria nas alturas!161. E o evangelho de Lucas, que iniciou com a orao do povo no Templo, termina com a orao dos discpulos de Jesus no mesmo lugar162, mas com um novo esprito e renovada esperana. A mesma insistncia sobre a orao a encontramos nos Atos dos Apstolos e, em geral, nos escritos apostlicos. Como o evangelho de Lucas comeou com a orao no Templo, assim nos Atos encontramos logo de incio uma comunidade orante163 e na orao que acontecem os eventos principais, como a converso de Cornlio164 ou envio de Paulo e Barnab em misso165. altamente significativo tambm que os Apstolos, quando repartem com outros o ministrio ou servio da comunidade, justifiquem a deciso dizendo: Deste modo, poderemos dedicar-nos inteiramente orao e ao servio da Palavra166. O que significa que no poderiam anunciar autenticamente o Evangelho se no estivessem solidamente apoiados na orao assdua. Em muitos outros passos dos Atos (e das Cartas de Paulo) aparece a insistncia sobre a orao. Nos Atos, a orao acompanha tudo: a espera do dom do Esprito Santo; a eleio do sucessor de Judas167; a eleio dos sete primeiros ministros ou diconos;168 a recepo do Esprito pelos samaritanos169; o primeiro encontro de Pedro com um pago;170 o envio dos primeiros missionrios;171 a fundao de novas comunidades;172 os momentos da perseguio173; na invocao de um milagre174. Paulo reza depois da apario no caminho de Damasco175, em Jerusalm,176 na praia de Tiro177, na priso de Filipos178, na despedida dos presbteros de feso179. Algumas caractersticas marcam a orao dos cristos. Ela inspirada pelo Esprito Santo, que leva unio plena com Deus Pai em Cristo180. Ela unnime; nasce da concrdia, de cristos que rezam como um s corao181. Paulo retoma ainda o mesmo termo na bela exortao: O Deus da constncia e da consolao vos d tambm perfeito entendimento, uns com os outros, como ensina o Cristo Jesus. Assim, tendo como que um s corao e a uma s voz, glorificareis o Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo182. E quando a multiplicao dos cristos e das comunidades no permitir mais a orao em comum de todos, como no incio em Jerusalm, as comunidades rezaro umas pelas outras. Pois a orao crist tem outra caracterstica: perseverante. Todo o livro dos Atos o mostra, como j vimos, e Paulo o reafirma com freqncia, repetindo: Sede alegres na esperana, fortes na tribulao, perseverantes na orao183. Pode-se concluir que a Igreja primitiva realizava verdadeiramente o ideal da orao contnua, incessante, em todo o tempo, no apenas nas horas e nos dias fixados pela liturgia. Todas as circunstncias, todos os acontecimentos pessoais ou comunitrios suscitavam a orao. Um ncleo comum, uma pluralidade de experincias O retrato que acabamos de traar, tendo como base os Atos dos Apstolos, confirmados por outros textos apostlicos, fornece-nos a identidade da Igreja assim como se configurou nas primeiras comunidades crists. Ressaltamos os aspectos comuns e fundamentais, mas isso no deve nos fazer esquecer a diversidade ou a pluralidade de formas que a experincia crist assumiu. Essa diversidade se reflete at nos evangelhos, que nos do quatro enfoques diferentes da pessoa e da atuao de Jesus. Ela se manifesta, sobretudo, nas Cartas apostlicas, que mostram no s uma ampla variedade de situaes, mas tambm de respostas e solues. O Novo Testamento nos apresenta uma Igreja dinmica, em construo, que se realiza nos diversos lugares como a nica Igreja de Deus, mas no repetindo mecanicamente um mesmo e nico modelo. Ela se manifesta e como que se encarna nas diversas situaes humanas, assume um rosto ou uma personalidade prpria, como a Igreja de Deus que est em Jerusalm, Antioquia, Corinto, feso, Roma... Cada Igreja local reza

  • 24de forma diferente (ou segundo a tradio do Apstolo ou Igreja-Me que a fundou) e reconhece os ministrios de que tem necessidade, e que no so os mesmos em Jerusalm, em Antioquia ou em Filipos184. A diversidade e a pluralidade, porm, no dividiram os primeiros cristos, embora algumas pessoas e grupos se tenham afastado da f e da comunho com a Igreja185. Estimularam a reforar os laos de comunho entre eles, como vimos nos Atos e como aparece especialmente nas cartas de Paulo. A busca da concrdia e do consenso no foi sempre fcil186. Mas o dilogo e o respeito pelas diferenas, testemunhados pelo Novo Testamento, abrem perspectivas para os cristos de hoje: para um dilogo respeitoso e construtivo dentro da prpria Igreja Catlica; para um dilogo ecumnico paciente e aberto entre as diversas Igrejas crists; para um dilogo ainda mais amplo com as diversas religies e culturas. Essa perspectiva de Atos nos permite resgatar a genuna eclesiologia do Conclio Vaticano II, que no reflete a Igreja centrada em si mesma, mas na Trindade, projetada para o mundo, misso, os cristos de outras Igrejas e s outras religies. Assim a Igreja ser, como a quer o Conclio Vaticano II, sacramento, ou seja, sinal e instrumento da ntima unio com Deus e da unidade de todo o gnero humano187 e ter, em conseqncia, condies de realizar sua misso evangelizadora: Que todos sejam um, para que o mundo creia188. anexo 2. ANEXO 2: ROTEIRO DE ESTUDO DOS ATOS DOS APSTOLOS - ANO 2001 Domingo Data Tema Texto Bblico O ESPRITO SANTO ENVIA EM MISSO 2 Pscoa 22.04 A comunidade que Jesus deixou Jo 20,19; AT 1, 9-14 3 Pscoa 29.04 O ES desperta para a misso At 2,1-13 4 Pscoa 06.05 O ES sobre Filipe e os pagos At 8,26-31.36-40;10,

    44-48 5 Pscoa 13.05 Atualizao: docilidade ao ES hoje

    os rumos da nossa misso

    O ESPRITO SANTO MANDA ANUNCIAR A PALAVRA 6 Pscoa 20.05 A Palavra para os judeus At 2,14-41 Ascenso 27.05 A Palavra para os pagos At 10,34-43 Pentecostes 03.06 A Palavra para os camponeses At 14,5-18 Trindade 10.06 Atualizao: lugar da palavra em

    nossa comunidade

    O ESPRITO SANTO MANDA ANUNCIAR A PALAVRA 6 Pscoa 20.05 A Palavra para os judeus At 2,14-41 Ascenso 27.05 A Palavra para os pagos At 10,34-43 Pentecostes 03.06 A Palavra para os camponeses At 14,5-18 Trindade 10.06 Atualizao: lugar da palavra em

    nossa comunidade

    O ESPRITO SANTO CHAMA CONVERSO E AO ENCONTRO COM CRISTO 11 TC 17.06 Converso em massa + Barnab X

    Ananias At 2,41-42; 4,36-5,1

    12 TC 24.06 Converso de Paulo At 9,1-19 13 TC 01.07 Converso de Cornlio e famlia;

    converso de mulheres

    At 10,1-33.44-48; 9,36-43; 12,12

    14 TC 08.07 Atualizao: nossa converso e encontro com Cristo

    O ESPRITO SANTO GERA COMUNHO 15 TC 15.07 Comunho na f apostlica At 2,42-43; 4,32a.33;

    5,12 16 TC 22.07 Comunho na orao e na Eucaristia At 2,42.46-47

  • 2517 TC 29.07 Comunho de bens At 2,42-45; 4,32b.34-

    35 18 TC 05.08 Atualizao: como partilhamos

    nossa f e nossos bens?

    A OBRA DE DEUS ENFRENTA OBSTCULOS EXTERNOS 19 TC 12.08 1 Perseguio: priso dos doze At 4,5-22; 5,17-42 20 TC 19.08 2 Perseguio: morte de Estevo At 7,55-8,1 21 TC 26.08 3 Provao: o poder de Deus no

    se vende At 8,14-21

    22 TC 02.09 Atualizao: provaes e obstculos que enfrentamos hoje

    A OBRA DE DEUS ENFRENTA DIVISES INTERNAS 23 TC 09.09 A avareza e a mentira At 5,1-11; cf. Mc 4,19 24 TC 16.09 Queixas dos judaizantes em

    Jerusalm At 11,1-18

    25 TC 23.09 Novas divergncias em Antioquia At 15,1-5 26 TC 30.09 Atualizao: divergncias e

    conflitos em nossas comunidades

    ALEGRIA E MSTICA DOS PRIMEIROS CRISTOS 27 TC 07.10 Experincia de alegria e vida At 2,28;

    3,8;5,41;8,8.39; 9,41; 11,18

    28 TC 14.10 Louvor a Deus At 2,47; 3,9; 4,21b.;10,46; 13,3

    29 TC 21.10 F que cura: Ouro e prata no tenho,mas levanta-te e anda.

    At 3,6.16b; 4,33; 5,12.15-16

    30 TC 28.10 Atualizao: a nossa experincia da alegria crist

    O CRESCIMENTO DA IGREJA E OS NOVOS DESAFIOS 31 TC 04.11 O crescimento quantitativo e a

    necessidade de pastores At 2,41.47b; 4,4; 5,14; 9,42; 11,21.24; 12,24; 13,49; 14,23; 16,1

    32 TC 11.11 O crescimento qualitativo: diversidade interna

    At 6,1-7; 11,1-18; 13,46-49

    33 TC 18.11 O conclio de Jerusalm: superao do conflito e nova abertura para a misso

    At 15, 1-35.36ss

    34 TC 25.11 Atualizao: quais os novos desafios para o crescimento de nossa comunidade?

    SUGESTES PARA JANEIRO E FEVEREIRO DE 2002 I. FUNES E MINISTRIOS NA PRIMEIRA GERAO CRIST 1. Apstolos (no apenas os Doze): cf. 1Cor 12,28; At 13,1ss. E passim; 1Cor 15,7; Rm 16,7; Ef 2,20. 2. Profetas: cf. 1Cor 12,28; At 13,1ss. e passim; At 21,9; 1Cor 11 3. Doutores: cf. 1Cor 12,28; At 13,1ss. e passim; At 18,24-28 4. Anncio, sinais e testemunhos: At 2,43; 4,29-30.33; 5,12; 8,6; 1Cor 2,4-5 II. FIGURAS DE CRISTOS DA PRIMEIRA GERAO 1. Pedro: At 9,32-11,18; 12,3-17; 15,7-11; Gl 2,11-16 2. Paulo: At 9,1-31; 22; 26; Gl 1,11-2,10 3. Tiago: At 15,13-21; 21,18; 1Cor 15,7 4. A atuao das mulheres: At 1,14; 5,7-10; 12,12s.;16,14; etc. Rm 16

  • 26 III. EXIGNCIAS DA EVANGELIZAO NA PRIMEIRA COMUNIDADE 1. ANNCIO: O Esprito Santo envia os discpulos para anunciar Jesus como Salvador aos judeus (cf. por ex. 4,8-12; 13,16-41) e aos pagos (cf. 14,15-17; 17, 22-31). 2. DILOGO: O anncio aos diversos povos exige o esforo do dilogo, que valoriza a experincia e a histria de cada grupo(cf 13,16-31; 17,22-29) para apresentar o amor de Deus que se revela e nele leva realizao plena a busca de cada povo (cf. 13,32-41; 17,30-31). 3. SERVIO: Os discpulos manifestam o amor de Deus Pai por meio da solidariedade a todos, em primeiro lugar pelo servio aos pobres e doentes, criando uma comunidade fraterna, sinal de uma nova sociedade (cf. 3,1-10; 4,32-35; 9,32-35.36-43; 11,27-30; 20,33-35). 4. COMUNHO: Os discpulos partilham os dons materiais e espirituais que receberam, pondo tudo em comum (cf. 2,42-47; 4,32-35). ROTEIRO DE ESTUDO DOS ATOS DOS APSTOLOS - ANO 2002 Domingo Data Tema Texto Bblico NOVOS DESAFIOS MISSIONRIOS 2 Pscoa 07.04 O ES empurra para a Macednia e

    para a Grcia At 16,6-15; 17,1-9; 18,1-11

    3 Pscoa 14.04 Pregao em feso e nova organizao da Igreja

    At 19,1-10

    4 Pscoa 21.04 Viagem a Jerusalm e Roma At 21,15-23, 22; 27-28

    5 Pscoa 28.04 Atualizao: quais desafios para a nossa comunidade no Novo Milnio?

    DESENVOLVENDO O ANNCIO DA PALAVRA 6 Pscoa 05.05 O discurso de Estvo At 7 Ascenso 12.05 O discurso aos atenienses At 17,22-34 Pentecostes 19.05 O discurso aos judeus de Roma At 28,17-29 Trindade 26.05 Atualizao: o que anunciar hoje? NOVAS CONVERSES E ENCONTRO COM CRISTO 9 TC 02.06 Ldia + carcereiro e sua famlia At 16,11-15.33 10 TC 09.06 Converses de Beria, Atenas; Apolo

    e Priscila, Crispo At 17,12.36; 18,1-18.25

    11 TC 16.06 Paulo procura converter judeus e pagos

    At 22,1-21; 23, 1-10; 24,10-26; 25,13-27; 26,24-32;1Cor 9,19-23

    12 TC 23.06 Atualizao: nossa converso e encontro com Cristo

    O ESPRITO SANTO CONTINUA GERANDO COMUNHO E SOLIDARIEDADE 13 TC 30.06 Coleta para Jerusalm At 11,27-30; 2Cor 8-9; Rm

    15,26-28 14 TC 07.07 Hospitalidade nas casas At 18,3.27; 20,6-12; 21, 4-

    7; 28, 4-15; Rm16,2 15 TC 14.07 Concluso do discurso de Mileto At 20,33-35; 1Cor 9,1-18 16 TC 21.07 Atualizao: quais as nossas

    prticas de solidariedade com os excludos?

    NOVOS OBSTCULOS E PERSEGUIES 17 TC 28.07 Paulo em Filipos,

    Beria e Corinto; motim de feso

    At 16,19-40; 17,13; 18,6; 19,23-40

    18 TC 04.08 Priso em Jerusalm e Cesaria At 21,27-40; 24,1-9

  • 2719 TC 11.08 Defesa junto ao Sindrio

    Flix e apelo a Csar At 22,30-23,11; 24,10-21; 25,1-12

    20 TC 18.08 Atualizao: quais so os maiores obstculos que enfrentamos hoje?

    DIVERGNCIAS E DIVISES INTERNAS 21 TC 25.08 O batismo de Joo At 18,25;19,1-4 22 TC 01.09 A questo da circunciso At 21,17.20-25 23 TC 08.09 Divises na comunidade

    (brigas entre irmos) At 15,36-40; 20,29-31; Mt 10,16-23

    24 TC 15.09 Atualizao: divergncias e conflitos em nossas comunidades

    NOVAS ALEGRIAS E EXPERINCIAS MSTICAS 25 TC 22.09 No tenhas medo! At 18,9; 27,24 26 TC 29.09 Ressurreio de um jovem e curas At 20,7-12; 28,8-9 27 TC 06.10 Alegria, consolo e encorajamento At 20,17; 28,14.16 28 TC 13.10 Atualizao: a nossa experincia

    da alegria crist

    O CRESCIMENTO DA IGREJA CONTINUA NOVOS HORIZONTES 29 TC 20.10 Contnuo fortalecimento da Igreja At 16,5; 18,8.23; 1,10.20;

    28,31 30 TC 27.10 O projeto de Paulo ir a Roma At 19,21; Rm 15,22-24 31 TC 03.11 Pregar o Evangelho ao mundo At 28,23-31; Lc 3,6 32 TC 10.11 Atualizao: novos horizontes de

    nossa evangelizao

    33 TC 17.11 Reviso do Projeto Ser Igreja no Novo Milnio

    34 TC 24.11 Reviso do Projeto Ser Igreja no Novo Milnio

    SUGESTES PARA JANEIRO E FEVEREIRO DE 2003: I. FUNES E MINISTRIOS DA 2 GERAO CRST 1. Evangelistas e missionrios itinerantes: Ef 4,11; At 21,8 2. Pastores, bispos e presbteros: At 20,17. 28; 1Pd 5,1-5; 1Tm 3,1-7 3. Diconos e outros ministros: At 6,1-7; 1Tm 3,8-10 4. A espiritualidade do pastoreio: At 20,7-38 II. FIGURAS DE CRISTOS DA 2 GERAO 1. Tito e Timteo: At 16,1-5; 17,10.14; 18,5; 2Cor 1,1; 7,6-7; Fl 1,1; Cl 1,1; 1Ts 1,1; 1 e 2 Tm e Tt 2. Apolo: At 18,24-28; 1Cor 1,12; 3,4-6.22. 3. Silas: At 18,5; 1Pd 5,12; 1Ts 1,1 4. Priscila, filhas de Filipo e outras mulheres: At 18,1-3.28; 21,9; Rm 16 III. COMUNIDADES 1. Jerusalm: At 2,42-47; 4,32-35; 5,12-16; 8,1b-3; 9,26-31; 11,27-30; 15,1-5.13-21; 21,15-26. 2. Antioquia: At 11,19-26; 13,1-3; 14,26-28; 15,22-41; Gl 2,11-16 3. Corint