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DOBRAS E DOBRAMENTOS: UM ENSAIO VISUAL SOBRE A ARQUITETURA DE JOINVILLE.
Fábio Salun1
RESUMO Esse trabalho apresenta uma reflexão sobre a exposição ”Dobras e dobramentos: ensaios visuais sobre a arquitetura de Joinville” projeto aprovado pelo prêmio Elisabete Anderle 2014. O projeto teve como objetivo compreender como a arquitetura da cidade de Joinville contribui para a abstração e a distorção de imagens em fotografia. Nesse sentido, a ideia de dobra apresenta-se no conjunto do trabalho, não apenas na dobradura das três dimensões da arquitetura para o plano da fotografia, mas também uma dobra em termos conceituais, retomando ideias e problemas colocados por Leon Battista Alberti, e as linhas modernas construtivas e abstratas por meio da linguagem da fotografia.
PALAVRAS-CHAVE: Dobra, arquitetura, Leon Battista Alberti, teoria da visualidade pura, fotografia.
O objetivo desse trabalho é fazer uma reflexão sobre a exposição
“Dobras e Dobramentos: ensaios visuais sobre a arquitetura de Joinville”,
resultado do projeto “Redesenhando Joinville: Um olhar photo-abstrato da
arquitetura da cidade”2 que tinha como objetivo compreender como a
arquitetura da cidade de Joinville pode contribuir para a abstração e a distorção
de imagens em fotografia. Mesmo não sendo arquiteto e pouco familiarizado
com os estudos da arquitetura, proponho aqui um olhar de artista, fotógrafo e
pesquisador em história da arte.
1 Mestrando em teoria e história da arte pela UDESC, com bolsa pela FAPESC. Fotógrafo e artista plástico, trabalhou como professor de ensino infantil e fundamental de 2010 a 2013. Hoje atua em projetos culturais e cursos de maneira autônoma. Tem como objeto de reflexão a fotografia e suas relações com a arte abstrata, sobretudo nas possibilidades de abstração e distorção da imagem fotográfica.
2Projeto Financiado pelo Prêmio Elisabete Anderle 2014 realizado entre agosto de 2015 e agosto de 2016
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- Eis aí uma dobra
Figura 01 - Fábio Salun – sem título – fotografia – 130 x 87 cm – acervo pessoal
A fotografia acima (Figura 01) se apresenta como uma série de
quadrados azuis em diagonal descendente da esquerda para a direita. O azul
dos quadrados contrasta com o branco do fundo ressaltando-os apesar de sua
coloração fria. O uso da fotografia surpreende pelo tema da imagem, formas
abstratas que mais se ligam à pintura do que ao registro fotográfico. Contudo, é
a partir do fato de ser fotografia que percebemos que esta imagem é real, e
pertence ao nosso cotidiano visual. Não existe aqui a manipulação da imagem
por meio da pós-produção como na fotografia surrealista, o jogo que se dá
entre o elemento e a forma é de outra natureza.
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Figura 02 – O triângulo de Penrose e seu uso por Escher – Fonte:
http://www.didatticarte.it/Blog/?p=2020&lang=pt
A trama apresentada remete ao triângulo de Penrose, muito presente no
trabalho do holandês Escher (Figura 02), que por meio do plano do papel joga
com a “matemática visual”, criando distorções óticas que confundem nossa
percepção; o triângulo com três ângulos de 90 graus é na verdade um jogo
ótico, uma determinada combinação de linhas, que só quando vista de um
determinado ângulo pode ser compreendida como um triângulo (Figura 03). É
seguindo esse caminho que uma escada com os degraus pintados de azul se
transforma em uma imagem abstrata. Eis aí uma dobra.
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Figura 03 - Quadro esquemático sobre o triângulo de Penrose e seu jogo com o ponto de vista
- Fonte: http://ilusionario-blog.blogspot.com.br/2014/01/el-triangulo-imposible.html
- A dobra para Deleuze
Para Gilles Deleuze, a ideia de dobra parece implicar em algo mais
complexo do que apenas uma maneira de articular planos. Em “A dobra” (1991)
faz uma leitura sobre o Barroco apoiado na teoria matemática de Leibniz,
matemático, filósofo e um dos percursores do cálculo binário.
As implicações colocadas por Deleuze claramente se opõem tanto à
hipótese atomista (o átomo como menor parte da matéria), como à hipótese
cartesiana, que compreende a universalidade do infinito, mas a reduz a um
ponto exclusivo (penso, logo existo). Para Deleuze, o erro de ambas estaria
justamente no estabelecer mínimos separáveis e não respeitar as transições da
matéria.
Para o filósofo, a matéria que constitui o mundo, seja orgânica ou
inorgânica, é uma só, e constitui todo o aglomerado de compostos possíveis no
planeta. A principal diferença entre os dois tipos de matéria não reside em seu
sentido substancial, mas na força que as movimenta. “A matéria orgânica não
é, todavia, o contrário da inorgânica. [...] Inorgânica ou orgânica, é a mesma
matéria, mas não são as mesmas forças ativas que se exercem sobre ela” (op.
cit. p. 19).
Um ponto importante para o filósofo e onde reside o diálogo com os
pensamentos do matemático é a compreensão de que a força que anima a
matéria orgânica é curva e repleta de dobras. “É certo que a matéria não iria
por si só em linhas curvas: ela seguiria a tangente. Mas o universo é como que
comprimido por uma força ativa que dá à matéria um movimento curvilíneo ou
de turbilhão” (op. cit. p.16), para compreendermos tal força basta nos
atentarmos aos movimentos dos elementos dinâmicos da natureza: o vento, a
água e o fogo, que não seguem um curso linear e retilíneo, mas se dobram e
desdobram em movimentos espirais.
Para uma melhor compreensão desse movimento, Deleuze utiliza como
exemplo um ovo que representaria, em uma escala menor, as considerações
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que estão sendo refletidas. Um ovo é um aglomerado material que se
transforma em um organismo vivo, essa transformação seria improvável se
considerássemos que a matéria se divide em pontos separados ao infinito, mas
a formação torna-se mais provável e natural quando consideramos uma
infinidade de estados intermediários, onde cada um comporta uma coesão a
seu nível, ou seja, células que se desdobram em células. “Sempre uma dobra
na dobra, como uma caverna na caverna. A unidade da matéria, o menor
elemento do labirinto é a dobra, não o ponto” (op. cit. p. 17).
Tentando exemplificar melhor esse conceito, imaginemos uma linha,
(nada mais cartesiano do que um uma linha), ela não existe no mundo real, é
uma abstração que nos permite estudar as formas e limites dos objetos.
Qualquer linha que pensarmos apresentará certa medida ou direção, mas isso
acontece somente até o ponto em que ela nos toma a atenção, a parte da linha
que nos interessa. O que lhe é posterior, o que está fora de nosso quadro de
interesse, só pode se situar na ideia de dobra, de ser outra coisa. Seja uma
dobra em sua direção (aí é outra linha e não mais a linha que nos interessa),
ou mesmo que essa linha continue no mesmo sentido, que seja apenas um
segmento de reta, ela não faz parte da linha que imaginamos e que nos
detemos e, portanto, existe também uma outra dobra, uma dobra de outra
natureza, que não diz respeito à linha em si, mas à nossa postura diante dela.
Assim, o que existe nos limites não é um ponto, não é um fim, não é algo que
se encerra, mas algo que se dobra, que varia, que modifica. A ideia de dobra
em Deleuze deve ser entendida no mais amplo sentido do termo: numa linha
que se dobra e segue outra direção, até em uma lagarta que se transforma em
borboleta, em um ovo que se transforma em um organismo vivo, e até mesmo
em nossa postura diante do mundo que nos cerca. “Dobrar-desdobrar já não
significa simplesmente tender-distender, contrair-dilatar, mas envolver,
desenvolver”. (op. cit. p. 22)
- A dobra de Leon Battista Alberti.
Voltando agora à arquitetura, o tratado latino De Architectura LIbri
Decem (dez livros sobre a arquitetura) de Vitruvio é de grande importância
histórica, não só porque é o único tratado clássico sobre o tema que sobreviveu
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até hoje, como também foi o único conhecido pelos estudiosos da Renascença,
influenciando todas as artes produzidas no período e consequentemente toda a
história da arte que viria a seguir. Até os dias atuais este diálogo é grande, e
dificilmente encontramos um historiador da arte que não deteve a ela um pouco
de sua reflexão. Ernst Gombrich, por exemplo, em seu livro “História da Arte” é
um dos tantos outros historiadores que não se recusou a pensar os problemas
da arquitetura, o mesmo podemos dizer de Giulio Carlo Argan, que coloca duas
correntes históricas da arquitetura moderna, uma racionalista e outra orgânica.
Dentre destes diversos estudos, onde dialogam o mundo da arte com o
da arquitetura, existe um que nós gostaríamos de nos deter, e cujo a exposição
parece se aproximar como uma dobra. É o tratado “De re aedificatoria” de Jean
Battista Alberti escrito em meados do século XV.
Filho de sua época, Alberti tinha enorme interesse pela matemática e foi
sobre a matriz da razão que ele desenvolveu o conjunto de sua obra. O fator
que nos interessa são os valores a que Alberti se pauta para estudar a
arquitetura. Da tríade Vitruviana da arquitetura (firmitas ou durabilidade, utilitas
ou utilidade e venustas ou beleza) a condição vesnustas é a mais importante.
Sendo os problemas da funcionalidade e da durabilidade já sidos amplamente
abordados, faltava ainda o que Alberti considerava o mais nobre de todos: a
beleza. Beleza “é a ponderada harmonia entre todas as partes de um corpo,
onde nada pode ser acrescentado, retirado, ou alterado, que não seja para
piorar” (ALBERTI apud in PACHECO, 2005 p. 99). Conquanto podemos
identificar aí uma ideia de beleza vinculada à ideia de equilíbrio e harmonia, é
importante considerar que não é de se esperar coisa muito diferente de um
pensador renascentista. Mas o fator que nos parece mais interessante é que,
para discorrer sua teoria, Alberti encontra dificuldades em refletir sobre as
questões da forma que lhe interessavam utilizando as palavras como
ferramentas, e para resolver tal problemática, acaba por criar algumas
definições que são conceitos chaves para a compreensão de seu conteúdo.
Alberti se propõe a pensar a arquitetura a partir de Concinnitas (a
disposição das partes ante o todo), Lineamenti (composição de linhas e
ângulos), Finitio (quantidade de partes de uma composição), Collocatio
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(posição dessas partes), Dimensio (a área), Proportio (a proporção dos
elementos), Compositio (conveniência mútua entre as partes) e Literae (a
linguagem visual).
Tentando ultrapassar conceitualmente Vitruvio, Alberti não comenta
apenas as formas e modelos das construções, mas também as sensações
visuais que elas apresentam e, portanto, conceitos que também se apresentam
nos trabalhos de teóricos e artistas modernos dos estudos da visualidade.
- Estudos da visualidade: os estudos da forma e a arte abstrata.
Queremos tratar aqui sobre o que compreendemos como estudos da
visualidade. De maneira (bem) simplificada existem duas correntes estéticas
que a princípio fundamentaram os pensamentos e estudos modernos da forma
e dos problemas da visualidade. Aqui nos apoiamos em Renato de Fusco e o
livro “História da Arte Contemporânea” (1988), que apresenta as tendências da
arte moderna a partir das teorias estéticas que a fundamentaram. Portanto é
um recorte, e o que vai nos interessar são os artistas construtivos e abstratos
que se teorizavam nas correntes estéticas da visibilidade pura e na corrente
estética da Einfühlung, e nos estudos de Konrad Fiedler e Worringer
respectivamente. Basicamente dois pensadores da visualidade pura e que
colocam os problemas dos elementos compositivos da imagem na estrutura da
imagem pictórica e na relação que estabelecem com nossas empatias.
Mondrian, por exemplo, seria um típico artista da linha formal, da
visibilidade pura e das abordagens de Fiedler. Seus quadros do período mais
representativo (Figura 04) são rígidas equações matemáticas dos elementos
mais básicos da composição pictórica: linhas verticais e horizontais, e as cores
primárias. Um fator fundamental na obra de Mondrian é a noção de equilíbrio,
suas obras, apesar de conterem elementos diferentes (azul, vermelho,
amarelo), todos são “pesados e medidos” e preenchem quantidades exatas do
quadro, o que sustenta a simetria do plano pictórico.
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Figura 04 - Piet Mondrian – Azul, vermelho e amarelo – 1930 – fonte:
http://www.acrilex.com.br/educadores.asp?conteudo=63&visivel=sim&mes=26
Do outro lado, baseado mais no caminho de Worringer, podemos citar
um artista como Kandinsky (Figura 05), cujas noções e preocupações com
equilíbrio e seguir as regras de composição da imagem passaram longe de
serem fundamentais, mas toda a impressão de seus impulsos no plano
também acontece pelos valores visuais dos elementos pictóricos e de como
eles atuam em nossa percepção. Kandinsky chega a teorizar sobre esses
elementos e a fundamentar cientificamente suas possibilidades e sensações,
fazendo uma leitura das variedades das linhas, formas e cores, e as ligações
que elas estabelecem com nossa percepção.
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Figura 05 - Wassily Kandinsky – Amarelo, vermelho e azul – 1925 – Fonte: http://www.wassilykandinsky.net/work-52.php
Assim, mesmo partindo de interesses distintos, ambas as linhas e
correntes estéticas se encontram quando nos propomos a abordá-las como
estudos da visualidade, seja como meio de compreender o plano em que se
constrói a imagem ou como eles se situam enquanto potência de expressões,
ambas as linhas se detiveram nos efeitos dos elementos visuais e na maneira
com que nossa percepção lida com eles.
- Uma dobra na dobra
Com esse breve levantamento do pensamento construtivo e abstrato,
propomos aqui refletir sobre as imagens apresentadas na exposição. Em minha
pesquisa poética, esse jogo com as preocupações visuais parece ser ponto
importante, não como um culto à arte construtiva e abstrata, mas utilizando-as
como método, como meio para distorcer as imagens. Vejamos, uma tendência
que se apresenta no conjunto é o desvínculo entre a imagem e seu espaço
referencial. A imagem abaixo (Figura 06) apresenta um triângulo central
emoldurado em dois lados por uma forma um pouco mais escura. O objeto é
insignificante no que diz respeito a seu tema, o que nos interessa são as
possibilidades visuais dos elementos que o constituem, e de como estes se
valem dentro do jogo fotográfico. Por sua vez, as linhas, formas e cores
também não se valem pelo o que são (uma linha horizontal se transforma
facilmente em uma linha diagonal ou vertical), mas novamente pela
possibilidade do que “podem ser” dentro da trama fotográfica.
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Figura 06 - Fábio Salun – sem título – fotografia – 130 x 87 cm – 2016 – acervo pessoal
Se os pintores construtivos e abstratos tiveram que lidar com os
elementos essenciais da pintura partindo de um plano vazio que é preenchido
aos poucos, o meu jogo se dá na linguagem da fotografia que o preenche de
uma só vez. Se a pintura permite a criação de linhas, na fotografia elas não
podem ser criadas (na verdade, dentro do jogo fotográfico elas podem e são),
mas não surgem do nada, são dadas a priori. O ponto de vista é essencial e
aqui fica ainda mais direta a referência ao triângulo apresentado anteriormente
onde linhas em sentidos diversos se achatam na bidimensionalidade da
imagem.
Portanto “dobras e dobramento: um ensaio visual sobre a arquitetura de
Joinville” não é um dobra apenas no campo do visual, planificando as três
dimensões da arquitetura no espaço bidimensional da fotografia, mas também
uma dobra a campo conceitual, desdobrando ideias e problemas que têm suas
raízes no pensamento arquitetônico de Leon Battista Alberti. Assim, falar de
uma ligação entre a fotografia e a arquitetura, ao menos nessa perspectiva, se
dá por um jogo de origami, ou se preferirmos, como um ato de dobrar.
- Outras dobras na relação fotografia x arquitetura.
Antes de encerrar gostaríamos de citar aqui outras “dobras” nessa
relação fotografia x arquitetura. Inicialmente, nos deteremos na série Theaters
(Figura 07), de Hiroshi Sugimoto, fotógrafo japonês que se dedicou a fotografar
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os teatros e drive-ins norte americanos utilizando a tela de projeção como única
fonte de luz.
Figura 07 - hiroshi_sugimoto__movie_theatre_canton_palace_ohio_1980 – Fonte: http://foto.espm.br/index.php/referencias/a-arquitetura-do-tempo-por-hiroshi-sugimoto/
A longa exposição que quase sempre dura o mesmo tempo do filme
incorpora às imagens um tom barroco e fantasmagórico, todos os desenhos
arquitetônicos aparecem por meio do contraste de luz e sombra, que não só
revela as formas, mas também os volumes do complexo arquitetônico, dando a
esse uma conotação que beira o campo do surreal.
Outra proposta que nos parece ser interessante citar são as fotografias
de arquitetura de Serje Najjar (Figura 08), fotógrafo libanês que se aproveita
dos próprios desenhos das construções para criar cenas quase abstratas,
onde, apesar da geometria, sempre incorporam um elemento humano que
denuncia a veracidade da imagem.
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Figura 08 - Serje Najjar – Cascata de sombra – Fonte:
http://www.archdaily.com.br/br/767153/realidades-abstratas-uma-linha-tenue-entre-passado-e-
presente-serge-najjar
Assim, as articulações entre a fotografia e a arquitetura são múltiplas e
diversas, e partindo de meu campo de estudo, de minha perspectiva, que como
diz Giorgio Agamben também conta com seus pontos cegos, é ao universo da
dobra que ela parece apontar, não só “dobrando” elementos (no sentido
Penroseano) mas também em seus universos imaginativos, desdobrando o
universo fotográfico em prol de uma problematização poética.
Referencias Bibliográficas:
DELEUZE, Gilles. A dobra. Tradução de Luiz Orlando. Campinas - SP: Papirus, 1991
DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico e outros ensaios. Tradução de Marina Appenzer. Campinas – SP: Papirus, 1993.
FUSCO, Renato de. História da arte contemporânea. Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo. Lisboa: Editora Presença, 1988.
KANDINSKY, Wassliy. Ponto e linha sobre o plano. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
PACHECO, Felipe de Souza. Concinnitas, ordinatio, lineamenti, virtu e outras do vocabulário de Leon Battista Alberti. Disponível em
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http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=0ahUKEwjA8JG3pbrMAhWED5AKHVN7D28QFggcMAA&url=http%3A%2F%2Fwww.ufrgs.br%2Fpropar%2Fpublicacoes%2FARQtextos%2FPDFs_revista_6%2F08_Felipe%2520de%2520Souza%2520Pacheco.pdf&usg=AFQjCNFY2HwuRxxewiHSj1ISenBMRcqx8Q acessado em 25 de abril de 2016
http://www.archdaily.com.br/br/767153/realidades-abstratas-uma-linha-tenue-entre-passado-e-presente-serge-najjar acessado em 04 de maio de 2016
SALUN, Fábio. Catalogo da exposição “Dobras e dobramentos: um ensaio visual sobre a arquitetura de Joinville”, Joinville, 2016
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