djalma argollo escontro com jesus

Upload: joyce-manuelle

Post on 29-Oct-2015

34 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

  • Encontro com Jesus

  • 1 EdioDo 1 ao 3 milheiro

    Criao da capa:Objectiva Comunicao e Marketing

    Modelo da capa:Mrcia Meireles Marques

    Direo de Arte: Gabriela Diaz

    Reviso:Lcia de Arajo Silva

    Albrico Silva

    Diagramao: Joseh Caldas

    Copyright 2003 byFundao Lar Harmonia

    Rua Deputado Paulo Jackson, 560 Piat41650-020 Salvador, Bahia

    [email protected]: (071) 3375-1570

    Impresso no Brasil

    ISBN: 000000000000000

    Todo o produto desta obra destinado manuteno dasobras da Fundao Lar Harmonia.

  • Djalma Argollo

    Encontro com Jesus

    FUNDAO LAR HARMONIACNPJ /MF 00.405.171/0001-09

    Rua Deputado Paulo Jackson, 560 Piat41650-020 Salvador, Bahia Brasil

    2005

  • Argollo, Djalma MottaEncontro com Jesus. Salvador: FundaoLar Harmonia, 2005

    160 p.

    1. Espiritismo. I. Argollo, DjalmaMotta II.Ttulo.

    CDD 133.9

    ndice para catlogo sistemtico:

    1. Espiritismo 133.9

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

  • Homenagem:

    Fundao Lar Harmonia

    Materializao de um sonho de fraternida-de, inspirado nos ensinos de Jesus e con-duzido por imensa capacidade de amar eservir.

  • encontro com jesus

    7

    ndice

    Antelquio .............................................................. 9

    Explicaes ............................................................ 11

    Prefcio .................................................................. 14

    Encontro com Jesus ............................................... 17

    A Semente do Reino de Deus ................................ 25

    Transformao ....................................................... 31

    A Bondade de Jesus ............................................... 39

    Lio de Amor ........................................................ 45

    Regenerao ........................................................... 55

    A Vitria do Bem.................................................... 74

    Redeno ................................................................ 90

    A Misericrdia Divina ............................................ 99

    Triunfo .................................................................... 106

    Vida Eterna ............................................................ 120

    A Retribuio ......................................................... 130

    As Dvidas do Discpulo ........................................ 137

    Da Descrena F ................................................. 144

    Despedida ............................................................... 155

  • Este o segundo livro editado pela Fun-

    dao Lar Harmonia de autoria de Djalma

    Argollo. O primeiro, Jung e a Mediunidade, pelo

    ineditismo do tema, tornou-se uma valiosa obra

    para aqueles que se interessam pelo universo

    junguiano. da programao da Fundao

    editar outras obras do mesmo autor, em funo

    da qualidade de sua produo, principalmente

    no campo esprita e a respeito de Jesus. O leitor

    poder verificar a profundidade e importncia

    dos temas pelas idias expressadas.

    Bom proveito.

    Salvador

    Agosto/2005

  • encontro com jesus

    9

    Antelquio

    Uma coisa ir ao encontro de algum, ou de algo;outra o encontro em si. Ir ao encontro, pressupe umajornada repleta de alguma emoo e expectativa, certaansiedade sobre o que se ir encontrar e como acontecero encontro. Nas pginas deste livro esta condio fica bemclara. Muitos vo ao encontro de Jesus para solicitar algu-ma benesse para si, outros para exarar-lhe o auxlio paraum ente querido, alguns para amea-lo porque o sentemum perigo para si e sua classe e ainda existem os quebuscam sua presena com propsitos de saber-lhe asintenes.

    Nos contos a seguir reunidos, verifica-se que todos osque encontraram Jesus foram surpreendidos pela maneiracomo o encontro se deu, dele saindo com uma outra visode mundo.

    Martim Buber tem razo: toda vez que interagimoscom algum, samos do encontro transformados. E, umencontro com Jesus sempre causa mudana profunda emquem o encontrou. Muitos podem aparentar que nadaaconteceu, mas isto apenas um mecanismo de defesa doego, porque o inconsciente foi abalado. A totalidadepsquica, a Imago Dei, o Si-mesmo foi tocado, desafiado,estimulado e ps-se numa atividade sub-reptcia, produzin-do smbolos que assaltam o consciente de mil formas. Sin-cronicidades passam a chamar a ateno do ego para

  • djalma argollo

    10

    novas perspectivas. Enfim, uma tenso entre consciente econsciente estabeleceu-se e, mais cedo ou mais tarde, umafuno transcendente acionada para resolver o anta-gonismo entre as duas instncias psquicas. Ao meu pensar,foi justamente isso que o esprito que conhecemos pelonome de Jesus veio realizar, encarnando entre ns; e foiconsciente disso: Eu no vim trazer a paz, mas a espada;eu vim por fogo na Terra, e estou ansioso que ela se incendeie.E, sem dvida, do encontro da humanidade com ele surgiuum conflito que se desenrola at hoje, em todos os nveisda existncia. Nunca mais o mundo foi o mesmo: Imprioscaram e se formaram; pessoas sacrificaram outras ou asi mesmas; a inquietao interior, que sua presena provo-cou, se projetou nas circunstncias individuais, passandoda sociedade, gerando problemas e inspirando solues.

    Abenoado encontro! Graas a ele a humanidade deuum salto qualitativo de grandes propores. E quem imagi-ne que j esgotou sua influncia, est redondamente enga-nado. Mais do que nunca aquele encontro est agindo emns, provocando-nos com desafios diversos, inquietando-nos em todas as instncias da existncia. Isto porque oencontro com Jesus teleolgico. Tem o objetivo de nostornar conscientes do processo de individuao, imperiosanecessidade para que transcendamos ao prximo patamarevolutivo, prxima etapa da construo ou descoberta da conscincia plena, quando todos ou o que imagina-mos assim os nveis do psiquismo estaro conscientemente nossa disposio! Sem dvida, aquele encontro, aconte-cido h dois mil anos, mudou a Histria, porque mudou oSer Humano!

  • encontro com jesus

    11

    Explicaes

    O exerccio da mediunidade fonte inesgotvelde surpresas. Embora portador de parcos recursos nessecampo, infinitamente distante das primorosas faculdadesdos conhecidos expoentes dessa faculdade, tenho me de-frontado com inesperadas e instrutivas situaes. As hist-rias que compem este livro nasceram de forma singulare imprevista.

    No final do ano de 1985, quando estava para encer-rar uma reunio de desenvolvimento medinico, por mimcoordenada no Grupo da Fraternidade Leopoldo Macha-do, apresentou-se-me percepo medinica um espritoem trajes e postura de um tribuno romano. Disse chamar-se Mnmio Tlio e que gostaria de utilizar minha possibili-dade psicofnica, se eu com isso concordasse. Aquiescicom alegria, ante a oportunidade de servir, envolvendo-me nos fluidos suaves e luminosos da entidade. Surpreen-dido, acompanhei a comunicao se desenvolver na formade uma histria, baseada no episdio do centurio de Ca-farnaum. Desde ento, e por certo perodo, o fato se repe-tiu, sempre com uma nova histria, inspirada em eventosrelacionados com os tempos inesquecveis da encarnaodo querido Mestre Jesus, na Terra.

    Numa das reunies, uma mdium vidente, que visita-va a Reunio, informou, momentos antes da incorporaode Mnmio Tlio, a entrada no recinto de um grupo de

  • djalma argollo

    12

    monges budistas desencarnados, os quais se assentaramna tradicional postura de ltus, quedando atentos.

    Aps a mensagem, ela me disse que, durante o seutranscurso, os fatos narrados eram projetados em umagrande tela, na qual se plasmava cada detalhe da cena. Asentidades orientais assistiam, comovidas algumas emlgrimas exposio udio-visual, cuja beleza, no mundoespiritual, transcendia em muito ao que filtrava a minhafaculdade medinica. Os mentores dos trabalhos revela-ram-lhe, no momento, que a sucesso de histrias faziamparte de um curso que os espritos asiticos estavam fazen-do sobre Doutrina Esprita e Evangelho, com a finalidadede encamarem no Brasil, com tarefas especficas nomovimento esprita.

    Dois anos depois, recordando o contedo edificantee emulador dos contos, resolvi coloc-los no papel paraque suas mensagens pudessem chegar a outras pessoas,servindo de inspirao nossa caminhada comum, rumos esferas sublimadas dos Espritos Puros.

    No se trata, pois, de uma obra psicografada, na ldimaexpresso do termo. Trabalhei com o que recordava dascomunicaes, usando os recursos culturais que possuo,sem dvida muito aqum dos inerentes entidade, autoraefetiva das histrias. Portanto, no as escrevi imediatamenteaps as transmisses mas, tempos depois, e sem a necessriaaplicao. Por isso, declaro-me o nico responsvel porqualquer erro histrico, vernacular ou de qualquer naturezaque se apresentem.

    Escrevi as histrias com o propsito de servir, se bemque pobremente, causa da transformao moral dos que,como eu, ainda vivem as lutas da erraticidade1. Espero,por isso, contar com a compreenso e o beneplcito dosque tiverem a pacincia de ler este humilde trabalho.

    1 Termo empregado por Allan Kardec para designar a condio dos espritos queainda precisam reencarnar.

  • encontro com jesus

    13

    Para a grafia de nomes de cidades e acidentesgeogrficos da Palestina poca de Jesus, utilizei o Dicio-nrio Enciclopdico da Bblia, organizado pelo Dr. A.Van Der Born, traduzido do holands por Frederico Stein,1 edio, publicado pela Editora Vozes, em 1977. As cita-es bblicas esto de acordo com a Bblia de Jerusalm,da cole Biblique de Jerusalm, editada pelas EdiesPaulinas, 1984, com exceo das referentes aos Evan-gelhos de Mateus e Marcos, as quais esto de acordo coma minha traduo destes Evangelho, do grego, utilizandoo The Greek New Testament, texto estabelecido por KurtAland et alia., em sua 4 edio revisada.

  • djalma argollo

    14

    Prefcio

    Qual o tipo, o mais perfeito, que Deus h ofereci-

    do ao homem para lhe servir de guia e de modelo?

    Vede Jesus (Kardec, 1972, questo 625) 2.

    Esta uma nova edio, revista e ampliada, do pri-meiro livro que escrevi entre os anos de 1985 e 1988, e quefoi publicado pela primeira vez em 1989 por intervenodo meu querido amigo Wilson Midlej. At hoje, quando vema lume esta edio, tem sido motivo de alegrias para mim,por causa das referncias e testemunhos de diversaspessoas, em vrios Estados, sobre o quanto receberam deleem consolao, estmulo e esperana.

    Este livro foi o incio de uma srie de publicaesque produzi em torno de Jesus e dos Evangelhos. Nele, jse encontra o ncleo central de minhas idias sobre oMestre: sua personalidade afvel, amiga e total informa-lidade em relao aos costumes da poca. Busco sempreresgatar a pessoa de Jesus, que se me apresenta, s pesqui-sas, completamente oposta descrita em alguns livros,espritas ou no.

    O mito Jesus tem sido um entrave aproximao dohomem Jesus, um indivduo que viveu de forma harmo-niosa e sem preconceitos. Judeu, seguidor fiel da religiode seu povo, que realizava todos os atos de piedade

    2 Traduo minha.

  • encontro com jesus

    15

    estabelecidos pela tradio, mas que sempre ps ossentimentos nobres acima de qualquer imposioritualstica. Sua religiosidade nunca foi piegas nem beata,mas simples e ativa como a prpria vida. Minha visodele completamente diferente do deus facttum do Cris-tianismo. Esta doutrina, que foi gerada por Paulo de Tarso, hoje a resultante sincrtica, que o inconsciente coletivodos povos politestas ampliou em seus diversos ramos,tanto do Ocidente, quanto do Oriente. E, igualmente, bem diversa do espectro docetista, criado por mentesapaixonadas pelo sobrenatural e pelo fantstico, e quefazem tudo para fugir ao prosasmo da realidade, por nosatisfazer o vcio das emoes exacerbadas, mesmo quefrutos de improbabilidades.

    O Mestre era uma pessoa alegre e feliz. Valorizava omundo como Criao de Deus e usava seus recursos demaneira equilibrada, sem fanatismo. Sua alegria transpa-rece em muitas palestras, e na forma como coloca apelidosinteressantes em discpulos, como Simo e os irmos Tiagoe Joo, filhos de Zebedeu. Senta-se mesa dos banquetesque lhe oferecem, ou que proporciona como a ltimaceia e come e bebe sem quaisquer pruridos de moralismoou doentia exaltao religiosa.

    Convive com os discpulos, tolerando o nvel evolutivode cada um, sem imposies de qualquer natureza. Veja-seo caso de Judas, enquanto os cristos vivem a envolv-loem permanente execrao, o Mestre no fez a menor refe-rncia ao seu ato, quando retornou, aps a morte, em diver-sas aparies aos seus seguidores. Seu corao no guar-dava mgoas, somente amor.

    As histrias aqui coletadas recordam o Jesus real:companheiro, amigo, terno e amoroso. Quando se desco-bre esse grande ser humano, e esprito de escol, se temum modelo inexcedvel para pautar a existncia.

  • djalma argollo

    16

    A partir desta edio, este livro tem por finalidadecolaborar com os projetos da Fundao Lar Harmonia,notvel empreendimento do Bem idealizado por AdenuerNovaes, e por ele desenvolvido, com o auxilio de inmerose dedicados colaboradores.

  • encontro com jesus

    17

    Encontro com Jesus

    A primavera derramava mirades de flores por toda aGalilia, numa policromia esfuziante.

    A brisa, que brincava alegremente com as folhas dasrvores, carregava em seu bojo, como se fora uma navetranslcida, a alegre algaravia dos pssaros.

    O sol estreitava a natureza num clido abrao de ouroeterizado.

    Mulheres e crianas, tocadas pela magia da estao,passeavam sua beleza por toda parte, em ruidosa mani-festao de alegria, adicionando um toque de graa aofestival de beleza natural que se realizava.

    Nossa casa, localizada nos arredores de Cafarnaum,apresentava a nica nota destoante naquele conjunto har-monioso. Uma deprimente nuvem de tristeza sufocava astentativas que as flores do nosso jardim e as rvores donosso pomar faziam para nos sintonizar com a felicidadereinante por toda parte. H alguns dias, o nosso queridoservo Telmio jazia prostrado no leito, vtima de misteriosomal que o consumia lentamente.

    Meu pai j fizera vir, para examin-lo, os mdicos, dealguma notoriedade, que viviam nas cercanias do lago deGenesar. Por ltimo, graas interveno de algunspolticos de sua amizade, o mdico particular do procu-rador Pncio Pilatos viajara os quase 843 estdios3 de

    3 Cerca de 150 Km. O Estdio era uma medida grega de comprimento, em tornode 177,6 metros por unidade.

  • djalma argollo

    18

    Jerusalm nossa cidade, para tentar diagnosticar e curara doena que ameaava a vida do amado servidor. O mal,entretanto, resistia s torturantes sesses de sangrias e smais estranhas e nauseabundas poes.

    Desesperanados, aguardvamos apenas o momentofatal. Meu pai no se afastava um s instante da cabeceirado doente. Soldado, acostumado rgida disciplina daslegies e crueza dos campos de batalha, era agora sur-preendido, em inmeras oportunidades, a soluar qualcriana ante a perspectiva da separao definitiva de seuquerido escravo.

    Telmio era o anjo bom de nossa casa. Seu pensa-mento providencial abarcava os mnimos problemas daadministrao domstica. Todos lhe devamos muito, emvrios aspectos. Minha educao se processava sob a su-perviso de sua pedagogia inteligente e bondosa. Guiadopor ele, perlustrava os caminhos histricos da minha raa,participando das aventuras itlicas de Enas e sofrendo aangstia mortal de Rea Slvia. Era companheiro de Rmu-lo e Remo, vivendo sob os cuidados amorosos de Aca La-rncia. Defrontava-me com os Sabinos, submetia os Etrus-cos, punha em debandada os Socii. Dirigido pelo seu vastosaber, convivia com Mcio Scvola e participava da epo-pia dos Gracos. Batia-me com os cartagineses Amlcar eAnbal. Sofria a humilhao de ver Roma invadida pelosbrbaros gauleses de Breno, mas redimia-me com JlioCsar em campanhas memorveis.

    Graas sua ilustrao invulgar, entendi as verdadesprofundas que se escondem sob vus alegricos em nossareligio. Desenvolvi um profundo respeito pela forabondosa e sbia que reside por trs dos fenmenos natu-rais. Mas, sempre que tentei uma analogia que me fizessecompreender essa invisvel providncia, a ao de Telmioem nosso lar sempre me parecia a mais apropriada.

  • encontro com jesus

    19

    Valendo-me de sua sabedoria, penetrei as terras gregas.Hesodo, Homero, Tales, Slon, Licurgo, Pricles, Scrates,Plato e Aristteles passaram a ser realidades em minhamente. Com esprito de aventura, lutei no cerco de Tria.Fui Aquiles, Ajax e Heitor, Menelau e Pramo, e me viacomo Paris raptando Helena. Eu tinha, ento, doze anos...

    Meu pai, tambm, polarizava-me a ateno com suasaventuras guerreiras. Alis, era sempre com sua face queeu imaginava os grandes heris do passado. Todavia, oevento que mais me agradava ouvi-lo contar, era o de seuencontro com Telmio:

    Estvamos em plena guerra civil, dizia ele. Assassina-do o Grande Csar, seus matadores tentaram empolgar opoder, no que foram impedidos pela pronta ao de MarcoAntnio. Aps inmeras peripcias, Antnio e Otvio, esseltimo o filho adotivo do divino Jlio, dividiram o imprio.Tal situao, entretanto, no podia perdurar. Havia inme-ros interesses em jogo. Eclodiu a luta. Eu acabava deenvergar a toga viril. Sedento de glrias, agreguei-me aoexrcito do herdeiro do grande general.

    Em Actium travou-se a batalha final. Aps algumtempo de luta renhida e cruel, a esquadra de Otvio eravencedora. Passava eu, ento, em tarefa de liquidar osltimos focos de resistncia, numa trirreme abordada,quando vi um dos nossos soldados tentando matar umjovem escravo que, desarmado, defendia-se a custo. Sentiuma imediata e profunda simpatia por ele e ordenei aosoldado que parasse. Enlouquecido, contudo, pela tensodo combate, atacou-me, inesperadamente, ferindo-megravemente no ombro. Empenhamo-nos num corpo a corpomortal, durante algum tempo. Por fim, com uma estocadafeliz, atravessei-lhe o trax com o gldio, matando-o. Jera tempo, a perda abundante de sangue minara-me asforas e tombei desmaiado.

  • djalma argollo

    20

    Dias depois acordei, enfraquecido ainda, e l estavaTelmio. Transportara-me at um abrigo em terra e cuidarade mim com desvelo. Desde ento nunca mais nos sepa-ramos.

    Um fato acontecido mais tarde transformou a estimade meu pai pelo seu escravo em verdadeira venerao.Sonhou certa feita, quando servia nas fronteiras germni-cas que, em tempos antigos, antes da fundao de Roma,vivera nas margens do Nilo e Telmio fora seu pai. Paraum adepto dos mistrios como ele, o sonho era umarevelao divina e, desde ento, dedicou ao servo umprofundo amor filial.

    Quero ressaltar que Telmio permanecia escravo porsua prpria vontade. Em vrias oportunidades meu pailhe dera liberdade, mas ele sempre recusava sob o mesmoargumento: Uma pitonisa em Prgamo, consultada por seuspais, previra-lhes a morte, bem como a de minha irm, parabreve. Olhando-me fixamente, de uma forma que nuncapoderei esquecer, disse que eu sobreviveria, mas na condiode escravo. Prosseguindo, afirmou que essa seria a maneirapela qual eu resgataria os graves erros cometidos numaexistncia anterior, quando fora um cruel mercador deescravos entre os brbaros da Mdia. Todavia, finalizara amensageira dos deuses, o meu sofrimento seria aliviado porcausa de um sincero arrependimento, enquanto amargava,no Hades, o resultado dos crimes cometidos e dos esforoscontinuados na busca da virtude, de que dera provas emvidas posteriores. Como suas predies se realizaram inte-gralmente, dizia, recusando o documento que o libertava,quero viver o meu destino at o fim, para retornar ao reinodas sombras definitivamente liberado das culpas do ontem,de conscincia em paz.

    A manh transcorria sem maiores novidades, quandoum grupo de judeus eminentes da cidade foi visitar meupai, para manifestar-lhe apreo e solidariedade.

  • encontro com jesus

    21

    Normalmente, os seguidores de Moiss no confrater-nizam com estrangeiros, em particular romanos. Meu pai,contudo, era uma exceo, pois lhes freqentava as ceri-mnias na qualidade de simpatizante, mostrando um pro-fundo respeito pelas suas tradies. Contribua semprecom generosidade, para suas cerimnias, bem como fazialarga distribuio de esmolas para os necessitados daregio, o que altamente louvvel, segundo seus escritossagrados. Mas, o que mais o tornava credor do respeito econsiderao dos habitantes do lugar, era o fato de havermandado erguer, s suas prprias custas, a bela sinagogada cidade, motivo de orgulho deles.

    Enquanto conversavam sobre a misteriosa doena denosso servo, algum perguntou a meu pai se j havia soli-citado a ajuda do Nazareno, o qual estava a realizarprodgios ali mesmo, em Cafarnaum, e por toda a Galilia.Meu pai afirmou que ouvira algumas referncias, mas nolhes dera importncia, julgando se tratar de mais um dentreos muitos charlates que existiam, prontos a ilaquear a boaf dos incautos. Armou-se de pronto uma discusso entreos visitantes: alguns diziam que o homem era um louco,outros que era um perigoso subversivo que vivia cercadode uma scia formada por degenerados e mendigos,insuflando a revolta e o inconformismo. Havia os que dis-cordavam dessas colocaes, dizendo que no se conse-guira provar nada disso, apesar do empenho do saduceuElide Barjosiah e seus amigos, que lhe moviam uma cam-panha sistemtica e sem trguas. Quanto aos seus poderes,afirmavam que, segundo se dizia e o prprio confirmava ressuscitara a filha de Jairo, o chefe da sinagoga. Paraconfutar o fato, algum lembrou que no eram raros oscasos de pessoas dadas como mortas que voltaram vidae, provavelmente, acontecera o mesmo, no caso.

    Buscando acabar a controvrsia, que se azedavarapidamente, meu pai props se buscasse aquele homem,

  • djalma argollo

    22

    solicitando-lhe a cura de Telmio. No se perderia nadacom a providncia, pois a situao era sem esperanasmesmo. Era uma oportunidade de desmascar-lo, provan-do-lhe a impostura, e ele poderia tomar as medidascabveis, com a autoridade de centurio. Todos aquiesce-ram alegremente, saindo em comisso para busc-lo.

    Toda aquela discusso excitara-me a curiosidadesobre o personagem, objeto de tanto desacordo. Resolvi,pois, acompanh-los.

    Na praa da cidade o encontramos, rodeado de gran-de multido. Com dificuldade, conseguimos chegar juntodele. Ao lhe fitar o rosto, o amei de pronto.

    De seu porte altivo irradiava-se uma autoridade serenae irretorquvel. Seus cabelos longos, de cor castanho-clara,derramavam-se em ondas sobre os ombros, balouandosuavemente quando mexia a cabea de um lado para ooutro, respondendo perguntas ou explicando alguma coisa.

    A barba, da mesma tonalidade dos cabelos, terminavaem duas pontas sob o mento. A pele, amorenada pelo solcausticante daquela regio, deixava entrever o azul dasveias que passavam sob ela. Sua voz mscula, ao mesmotempo suave, transmitia uma sensao de imensa alegriaa quem o escutava. Os olhos, todavia, ressaltavam em suaimponente figura: castanhos, eram, ao mesmo tempo, lci-dos e profundos. A maneira direta e desassombrada comque olhava nos olhos de quem dele se aproximava, levavaa se acreditar que podia ler a alma de qualquer criatura,no se lhe podendo ocultar qualquer segredo.

    Quando falava, sua voz era clara e bem modulada, esua retrica durante os discursos utilizava vocbulossimples e imagens do cotidiano, sem qualquer afetao.

    Enfim, o seu ser emanava uma aura de simpatia etranqilidade impossvel de descrever.

    Os componentes do grupo, que haviam chegado juntoa ele, confiantes e eufricos ante a perspectiva de

  • encontro com jesus

    23

    desmoraliz-lo, estavam agora desconcertados e perple-xos. E, quando finalmente conseguiram chegar perto dele:rogavam-lhe insistentemente: Ele digno de que lhe concedasisto, pois ama nossa nao, e at nos construiu a sinagoga4.

    Sem delonga, Jesus os seguiu. Perto de nossa casa,alguns servos de meu pai nos alcanaram, trazendo aseguinte mensagem para ele: Senhor, no te incomodes,porque no sou digno de que entres em minha casa; nemmesmo me achei digno de vir ao teu encontro. Dize, porm,uma palavra, para que o meu criado seja curado. Poistambm estou sob autoridade, e tenho soldados s minhasordens; e a um digo: Vai! e ele vai; e a outro: Vem! e ele vem;e ao meu servo: Faze isto! e ele o faz 5.

    O episdio causou-me tanta surpresa, quanto aogrupo que viera buscar o Mestre. Ele prprio, mostrandogrande admirao, voltou-se para a multido que o seguia,dizendo: Eu vos digo que nem mesmo em Israel encontreitamanha f 6. E, dirigindo-se aos enviados de meu pai,disse-lhes que poderiam retornar, pois a cura pedida jocorrera. Em seguida, retirou-se em direo margemdo lago.

    Ansioso, corri para casa, encontrando Telmio, senta-do na cama, numa surpreendente recuperao, e meu paide joelhos, chorando convulsivamente, a louvar o nomedo Nazareno.

    Quando tudo serenou, havendo os visitantes se retira-do, naturalmente estarrecidos e desapontados, meu paicontou-me que, enquanto esperava, lhe aparecera o esp-rito de um jovem de grande beleza, envolto em auraluminosa, o qual lhe falou sobre o homem que haviam idobuscar: Ele o prncipe da paz! Afirmara o Mensageirodos Cus. Nele se cumprem as esperanas dos aflitos e infor-

    4 Lc 7, 4.5 Lc 7, 6-8.6 Lc 7, 9.

  • djalma argollo

    24

    tunados da Terra. Doravante comea uma Nova Era quando,como prefigurava o profeta, o lobo conviver tranqilamentecom o cordeiro. O egosmo ceder lugar Abnegao, o dioao Amor, o crime Fraternidade, o vcio Virtude. Um valornovo desponta no horizonte espiritual dos povos, ao seuinfluxo divino, para dignificar a existncia humana: a Cari-dade. Graas sua inspirao sublime, os homens aprende-ro a sair da concha estreita dos seus pequenos interesses,para o vale iluminado e rico da dedicao absoluta ao bemestar dos seus irmos. Em verdade isto , segundo ele, umplido resumo do muito que lhe foi dito pelo nobre serespiritual.

    To grande impacto lhe causara a revelao, que nose julgara digno de receber em nossa casa aquele que,segundo o Celeste Enviado, era a Luz do Mundo e aEsperana dos Homens.

  • encontro com jesus

    25

    A Semente do Reino de Deus

    A cidade de Cafarnaum estava quase desertanaquele dia. A maior parte de seus habitantes deslocara-separa Betsaida Jlias, onde Herodes Antipas promovia umagrande festa em homenagem ao casamento da filha de umdos seus ulicos preferidos. Um variado espetculo pbli-co fora montado, com apresentao de habilidosos ilusio-nistas, representaes artsticas em anfiteatros improvi-sados, e vasta distribuio de comidas e bebidas, motivaoprincipal para a imensa multido de pobres que viviamnos arredores do lago de Genesar.

    Os ricos estavam aproveitando a oportunidade parase exibirem diante do tetrarca, marcando presena com ofito de criar clima propcio requisio de favores e regalias.

    Ricos e pobres, nobres e plebeus, contudo, buscavam,na verdade, uma ocasio, rara naquelas regies, de sedivertirem em grande estilo, com o mnimo de despesas,ou melhor, nenhuma.

    Em virtude disso, Jesus tivera um dos raros dias, emsua vida pblica, de poucas solicitaes, podendo convivermelhor com o reduzido crculo de seguidores constantes,os quais tinham o privilgio de usufruir sua intimidade.

    Durante o transcurso daquela oportuna tranqilidade,aproveitada para esclarecimentos e revelaes espirituaismais amplos, o Mestre percebera que Simo Pedro manti-

  • djalma argollo

    26

    nha-se retrado e monossilbico, o que era contrrio sua natureza, em geral expansiva e borbulhante.

    tardinha, o Rabi despediu-se dos discpulos, poisdesejava aproveitar o crepsculo para meditar a ss,contemplando a natureza. Enquanto eles se dispersavam,o Mestre demandou orla do lago.

    O sol agonizava no horizonte, matizando de ouro eprpura o poente.

    Jesus contemplava, enlevado, o quadro de belezaincomparvel, caminhando lentamente pela ribeira dolago. Seus olhos castanhos, todavia, pareciam vislumbrarpaisagens transcendentais de indescritvel sublimidade,como deixava entrevero sorriso nos seus lbios bem feitos,enquanto a brisa do entardecer brincava docemente comseus longos cabelos, extraindo-lhes reflexos ureos, aosltimos raios do sol poente.

    Caminhando vagarosamente, o Messias aproximou-se de pequena enseada onde ancoravam os barcos dospescadores, em particular os dos irmos Pedro e Andr, ede seus scios Tiago e Joo, filhos de Zebedeu. Em terra,aguardando reparos, algumas embarcaes, suspensas ouadernadas, exibiam seus cascos por inteiro com longasmanchas de betume, ou parte de suas estruturas mostra,como estranhos esqueletos lgneos.

    Simo Pedro, de olhos fixos na linha irregular dohorizonte, onde o sol mergulhava clere, abstraa-se emfundo cismar.

    Enquanto o Mestre se aproximava, seus olhos lcidospareciam escrutar a intimidade da alma do filho de Jonasque, de to absorto, s se deu conta da sua presenaquando ele disse:

    Cefas, meu irmo, o que te preocupa com tantaintensidade?

    Rabi! exclamou o pescador, voltando de sbito realidade. E, enquanto Jesus recostava-se junto a ele,

  • encontro com jesus

    27

    prosseguiu pensava sobre o Reino de Deus, que pregascom tanta beleza e carinho.

    Como ser bom viver no mundo, quando ele estiverdefinitivamente estabelecido entre ns. Os ricos transfor-mando suas fortunas em trabalho, po, agasalho, remdioe oportunidades para os menos afortunados. Senhores eescravos, de mos dadas, exercitando a mais pura fraterni-dade. A extino da guerra, com as armas modificadasem arados, ps e outros utenslios de amanho da terra ecuidados com a lavoura. Os governos sendo exercidospelos mais capazes, dedicados e honestos, verdadeirosservos da comunidade, incapazes de manipular o poderem beneficio prprio ou de correligionrios, sem discrimi-nar ou perseguir seus adversrios.

    Enfim, com o dio, o vcio, o crime e todas as iniqida-des to comuns nos dias atuais, como simples e tristeslembranas de um passado a se perder nas brumas doesquecimento.

    Nesse ponto do seu inflamado discurso, Barjonas, fezuma pausa, que o Sublime Galileu aproveitou para dizer:

    Salve Simo! Vejo que alcanaste os verdadeirosobjetivos do Reino, traduzindo-os fielmente.

    Entretanto, Rabi, retorquiu o filho de Betsaida, se fcil enlevar-me na contemplao mental dessasesperanas, o cruel mundo das realidades cotidianas mefaz senti-las como um sonho impossvel. Em toda a parte,o egosmo e a maldade imperam triunfantes. Os legion-rios romanos distribuem-se por todos os lugares, cometen-do inominveis atrocidades, estimulados pelas autoridadesde Roma, as quais se locupletam com o produto de suaspilhagens. As nossas prprias autoridades civis, militarese religiosas extorquem de nosso povo o pouco que lhessobra, reduzindo-o mais absoluta misria. Por causadisso, vicejam o roubo, a prostituio e a mendicncia,como sada desesperada que resta aos infelizes espoliados.

  • djalma argollo

    28

    No contexto da nossa sociedade, polticos, empresrios,comerciantes e assaltantes s se diferenciam pelo tipo dearmas que utilizam.

    A essa altura, abundantes lgrimas de amarguraderramavam-se dos olhos do apstolo.

    At, Senhor, continuou o pescador, os que sotestemunhas dos teus atos de amor, como os sacerdotes,fariseus, escribas e doutores da lei, em lugar de se entusias-marem com as curas extraordinrias que realizas, pren-dem-se a mesquinhas questinculas legalistas. Contudo,o que mais fere ver aqueles que so atendidos pela tuamagnanimidade entregarem-se, em sua maioria, a atitudesvis e egostas, em lugar de aproveitarem a bno da curapara repensarem suas atitudes, modificando suas vidas luz dos teus ensinamentos.

    Josias de Pela, por exemplo, a quem devolveste o usodas pernas paralisadas, aderiu aos sicrios e vive assassi-nando seus irmos em nome da libertao de Israel; Calde Sforis, a quem limpaste da lepra, reentrou na possedos seus bens e exerce mesquinha vingana contra seusfamiliares, por se terem afastado dele quando contraiu adoena.

    O pranto convulsivo obrigou o discpulo a interrom-per, momentaneamente, sua acre exposio, enquantoJesus, fitando-o com um olhar cheio de tolerncia e amor,aguardava a concluso do arroubo.

    Eu mesmo, Senhor, quando estou ouvindo tuas prele-es e testemunhando teus atos de bondade, sinto-meempolgado e planejo uma vida de virtude, nobreza e al-trusmo para, quando longe de ti, voltar s atitudes egos-tas, que sempre me caracterizaram. Como poder, Rabi,diante de tanto mal a medrar por toda parte, materializar-se esse Reino de Paz, Amor e Concrdia?

    Sem poder continuar, Simo Barjonas entregou-se aconvulsivo pranto, que refletia o seu angustiado pessimismo.

  • encontro com jesus

    29

    Durante largos instantes, o Divino Amigo permaneceuem silncio, deixando que amainasse a exacerbao emoti-va do companheiro, para que pudesse manter uma conver-sao tranqila. Quando isso aconteceu, dirigiu-se aoirmo de Andr inquirindo:

    Simo, filho de Jonas, vs aquele olival ali adiante? Aps a resposta afirmativa do apstolo continuou. Vaiat l, apanha uma oliveira, e vem coloc-la aqui na minhamo.

    O experimentado nauta do lago da Galilia passou amo pela face queimada de sol, onde a barba abundantepintalgava-se de fios de prata, inquirindo perplexo:

    Como, Mestre? Vai at aquele olival, toma uma oliveira e vem

    coloc-la na minha mo.Repetiu Jesus, pacientemente, apresentando a palma

    estendida ao confuso seguidor. Senhor contraps o futuro mrtir mesmo que

    eu tivesse a fora necessria para arrancar uma delas,no caberia em tua mo!

    J que te recusas a atender ao meu pedido, vouapanh-la eu mesmo, replicou o Ungido, demandando emdireo s rvores, que se espraiavam a uns cem metrosde distncia.

    Algum tempo depois, retornou para junto do intrigadodiscpulo, trazendo algo na mo fechada, que logo abriudiante dos seus olhos expectantes.

    Mas apenas uma oliva exclamou o pescador,deixando transparecer na voz sua decepo.

    Enganas-te, Simo respondeu o Mestre. Tenhoaqui uma oliveira completa. Se quiseres comprovar,planta-a em lugar apropriado, cuidando dela com carinho.Rega-a, periodicamente pela manh e ao entardecer.Aduba-a de quando em vez, limpando o terreno em volta,para que as ervas daninhas no lhe roubem o alimento ou

  • djalma argollo

    30

    venham a sufoc-la. Protege-a, devotadamente, contrainsetos e pragas que possam prejudic-la. Isto fazendo,ters, em breve, uma grande e bela oliveira, que te propor-cionar tima colheita de frutos belos e opimos. Igual-mente, meu irmo, na semente que estou a semear noscoraes dos homens, o Reino de Deus j se encontra pr-formado, aguardando apenas as condies propcias parase desenvolver. Como um lavrador devotado, estarei cui-dando de todas elas, com muito carinho. Vou adub-lascom os restos das iluses mortas; reg-las com a linfa aben-oada das lgrimas que brotam nos altiplanos das doresannimas; e manterei limpo o terreno dos coraes, ondeesto plantadas, com os instrumentos das provaes e daslutas expiatrias, arrancando as pragas geradas pela irres-ponsabilidade e pelo cultivo do prazer fcil e degradante.

    E com os olhos perdidos num amanh que s ele podiavislumbrar, arrematou:

    E um dia, numa bendita colheita, estreitarei emmeus braos, como frutos ansiosamente esperados, todosos espritos da Terra, completamente redimidos de seuserros, para juntos participarmos do sublime banquete daFelicidade Imorredoura.

    Depois, como quem acorda, relutante, de um sonhoagradvel, fixou os belos olhos castanhos no amigo que ofitava extasiado e feliz, dizendo, enquanto passava o braopor sobre os seus ombros largos:

    Hoje, porm, Simo, tempo de semear, a sega virdepois. Importa agora trabalhar sem esmorecer, pois, donosso esforo no presente, depende a colheita abundantedo amanh.

    E, sob a luz cintilante das estrelas que se derramavamcomo gemas preciosas sobre o veludo da noite os doisvoltaram para casa, mergulhados em profundas cogitaes.

  • encontro com jesus

    31

    Transformao

    Foi no dia primeiro de fevereiro de 2003. Convi-dado para fazer o encerramento da XX Semana Espritado Centro Esprita Casa de Redeno Joanna de ngelis,ali estava, junto com Adenuer Novaes, sentado na primei-ra fileira de cadeiras do salo de reunies. Cssia Aguiar,com alguns companheiros msicos que a acompanhavam,comeou a cantar algumas canes, com sua voz harmo-niosa. Era o incio das festividades que marcariam o finalda semana de palestras espritas, comemorativa de maisum aniversrio daquele Centro. Em dado momento, perce-bi um esprito junto a mim. Vestia-se como um romano, edisse que iramos ele e eu iniciar a palestra com ahistria do seu encontro com Jesus.

    Preparando-me, talvez, para o cometimento, ps-sea projetar algumas cenas da Roma dos tempos iniciais dogoverno de Tibrio Csar, e de Jerusalm da mesma poca.Desta ltima, recordo que me mostrou os arredores daCidade Santa, com seus dois vales, os extensos olivais eos vinhedos cultivados pelos lados do Cedron, nas encostasdo Monte das Oliveiras. Via as estradas que comeavam apartir dos seus portes, em diversas direes. Lembro-me de atravessar a Porta dos Jardins, com suas rvores,flores e, naturalmente, soldados romanos.

    Identifiquei o Vale do Tiropeon, ou Cidade Baixa, a Cida-de Alta e o Templo, a Torre de Herodes e a Fortaleza Antnia,

  • djalma argollo

    32

    alm de outros pontos onde se desenrolaram muitos dosepisdios dramticos da histria bblica e evanglica.

    As vises interromperam-se de chofre, quando fuiconvidado para fazer parte da mesa diretora do evento, pelocompanheiro que fazia as vezes de mestre de cerimnias.

    Ao me ser concedida a palavra, a influncia da enti-dade se fez mais intensa, e me ouvi contando o que sepassara poucos instantes antes. Depois continuei, repetin-do o que me vinha mente:

    H mais de dois mil anos, tive uma existncia em Roma.Fazia parte da Gens Emilia, donde o meu nome McioScvola Emiliano, sendo os prenomes uma homenagem aofamoso heri dos tempos iniciais da Repblica que, presopor inimigos, ante a ameaa de tortura, ps voluntariamentea mo sobre o braseiro em chamas at consumi-la, sem soltarum s gemido, impondo respeito a seus captores. Nasci noano 719 da fundao de Roma7 quando se renovava o triun-virato de Marco Antnio, Lpido e Otvio, o futuro Augusto.

    De acordo com a tradio, segui a carreira militar, sendonela iniciado no ano 737 8 quando o Imperador Augusto assu-miu o consulado perptuo. Participei de inmeras batalhas,em diversos lugares do imprio. Mas, para o que vou narrar,interessa apenas que fui transferido para Jerusalm notranscurso do ano 783 9, ali estava, servindo sob as ordensde Pncio Pilatos, ento Procurador de Tibrio Csar, nogoverno da Provncia Imperial da Judia e Samaria.

    Eu permanecia aquartelado em Cesaria Martima,cidade porturia a noroeste da Samaria, construda deacordo com o estilo romano pelo Rei Herodes10, que lhe deuo nome em homenagem a Caio Csar Octvio, Augusto. O

    7 Cerca de 38 a.C.8 Cerca de 19 a.C.9 Cerca de 29 d.C. Por essa poca Jesus tinha em torno de 35 anos, pois a crono-

    logia tradicional, sabe-se hoje, est errada.10 O Grande. O ttulo aplica-se muito bem sua crueldade, mais do que a realiza-

    es poltico-administrativas.

  • encontro com jesus

    33

    Procurador ali residia a maior parte do tempo, porquedetestava Jerusalm. Em verdade, detestava todo o povojudeu, descarregando neles, quando podia, a frustrao deter um cargo de somenos importncia, pois a Palestina erauma das provncias de menor valor, e isto significa que erapobre em contribuies de impostos para o tesouro imperial.Afinal, Pilatos era apenas um membro da ordem eqestre,a qual no gozava de prestgio significativo, no momentopoltico, ento vivido em Roma.

    Nos tempos em que servi na regio da Pannia, tiveoportunidade de fazer amizade com vrios judeus que, porum impulso de simpatia, evitei que fossem escravizados.Atrado por seus costumes e prticas religiosas noprincpio por mera curiosidade terminei participando deseus rituais na sinagoga, como simpatizante. Por isso, pudeaprender a lngua em que suas escrituras eram vazadas,chegando a ler e escrever com relativa fluncia, alm deaprender o idioma comum, utilizado no cotidiano, princi-palmente, na Palestina. Por causa disso, fui requisitado peloLegado da Sria, para auxiliar Pncio Pilatos em serviosde inteligncia, coletando informaes a respeito de algunsproblemas de segurana que poderiam se tornar graves.Queria o Procurador cortar qualquer possibilidade deinsurreio pela raiz.

    Ao me apresentar em Cesaria, Pilatos explicou anatureza e objetivos do trabalho que deveria desenvolver:aparecera um galileu que muitos acreditavam ser o Ungido,que Moiss e os profetas da histria judia haviam prometidoo qual, acreditavam alguns, libertaria os judeus do jugo deoutras naes, tornando-os um grande e eterno imprio. Seunome era Yeshoua ben Iosseph,11 e viera de uma obscuraaldeia das montanhas ao sudoeste da Galilia, perto do Lago.

    11 Jesus, filho de Jos. O nome Jesus uma traduo grega do nome hebraicoYeshua.

  • djalma argollo

    34

    Como ele, Pilatos, j enfrentara um levante dessa natureza,queria saber tudo sobre o tal galileu. Inclusive, se dizia queser perito em artes de feitiaria, fazendo curas espetaculares.Se fazia acompanhar por vrios seguidores e residia numacidade da orla do Lago de nome Kephar-Nahoum12 (Cafar-naum).

    Munido de tais informaes, tratei de criar um disfar-ce de mercador judeu da sia Menor e, devidamente abaste-cido com mercadorias que haviam sido apreendidas pordiversas razes, demandei a Galilia, onde o tal Ungidoparecia ter seu campo de atividades.

    Instalei-me em Cafarnaum, discretamente, e comeceio trabalho de reunir e coletar informaes. Havia muitosrelatos de curas instantneas e prodgios, tais como, andarsobre as guas e multiplicar alimentos. Mas, me concentreina pessoa mesma de Jesus, que logo voltou cidade. claroque ele era para mim, de incio, um charlato perigoso,conforme as instrues que recebera. Mas as informaesque recolhia sobre ele eram confusas, pois uns o acusavamde pernicioso e outros de um grande profeta. Os que odefendiam citavam, para confirmar a defesa, uma srie deatos miraculosos, to inverossmeis, que aumentaramminhas desconfianas.

    Assim, cheio de preconceito, dirigi-me ao local em queJesus se encontrava, segundo informe de meus auxiliares.Era uma das ruas do lado norte da cidade, que descia emdireo ao lago, na terceira insula a contar da parte superiorda ladeira, uma depois da Sinagoga. No tive oportunidadede v-lo direito, pois estava tomando um barco, com seusseguidores, para algum lugar s margens do lago, e amultido compacta dificultava qualquer aproximao.Porm, mesmo distncia, sua figura era imponente, dealtura maior que a mdia dos judeus da regio.

    12 Aldeia de Naum.

  • encontro com jesus

    35

    Dois dias depois, pude v-lo em atuao. No tinhaqualquer sintoma que denunciasse o fantico. Seus olhoscastanhos eram calmos, sem o arregalo caracterstico dosalucinados. O discurso desenvolvia-se em palavras calmase sentenas objetivas. A dialtica usada era a de quemexplana, com o objetivo de se fazer entendido.

    No parecia um incendirio, a incentivar a desordem e ocrime, mas um Mestre ensinando a viver em paz e harmonia.Falava de caridade, de amor, de compaixo. Sua voz distinguia-se pelo tom de autoridade, sem exageros. Toda a multido quese postava num semi-crculo sua frente, estava presa a cadapalavra sua, numa espcie de fascinao. Eu mesmo termineipor esquecer de minha misso de espionagem, para ficarembevecido pela sua preleo.

    Nunca escutara conceitos, a um s tempo simples eprofundos. E j ouvira muitas pregaes de rabinos, emdiversas sinagogas na Germnia e na sia Menor. O con-tedo, portanto, no me era estranho. Todavia se me pare-cia novidade, por uma estranha razo, que na poca nosabia definir. No eram meras palavras a penetrarem pelosouvidos, mas energias sutis que franqueavam o corao,despertando sentimentos desconhecidos, impossveis de secrer existentes num soldado calejado pela crueza deinmeras batalhas, onde o dio e a raiva eram emoespermanentes e queridas.

    Assustei-me, quando lgrimas comearam a rolar-mepela face, molhando a barba que deixara crescer, para maiorcredibilidade do meu disfarce. Ao findar a perorao,demandei residncia e, sem tomar qualquer alimento,deitei-me. A noite foi passada em funda meditao de tudoo que ouvira.

    Nos dias que se seguiram acompanhei os deslocamen-tos de Jesus, por diversos lugares da Galilia, sendo sur-preendido por acontecimentos que nunca imaginarapossvel, a exemplo de curas instantneas, cuja veracidade

  • djalma argollo

    36

    tive oportunidade de investigar pessoalmente ou atravs demeus subordinados.

    Aps um ms, retornei a Cesaria, e relatei a um incr-dulo e espantado Pilatos, tudo o que tivera oportunidade deconstatar. Conclua que Jesus de Nazar no oferecia perigoao domnio romano,ao contrrio, ensinava o respeito leie autoridade. Meu entusiasmo por ele era to evidente,que o procurador passou a me olhar com suspeita eirritao. E, no momento, eu no me dei conta. Despedidopor ele, com um gesto de enfado, recolhi-me aos aposentosna Torre Antnia, para me recuperar dos dias exaustivosque passara.

    noite, deitei-me com uma resoluo na mente: deixara vida de soldado, e me engajar como discpulo daquelehomem. Por causa dos constantes deslocamentos, nosentira vontade de constituir famlia,estando com plenaliberdade para fazer o que quisesse de minha vida. Jcumprira meu dever para com o Imprio, com dedicao elealdade aos valores romanos. Sentia-me cansado da vidacastrense, com suas rgidas obrigaes, e da crueza de lutassem fim, com seus horrores que, muitas vezes, povoavammeus sonhos em terrveis pesadelos. Esses sentimentosficaram bem fortes, aps ouvir Jesus. Sua mensagem metocara a alma, fazendo-me descobrir o conceito defraternidade universal. O que fazia de mim, um romano,superior aos outros? A fora bruta? O Poder discricionrio?O domnio? Mas isso tudo gerava sempre o dio contido e orancor surdo, nos povos dominados. E, alm disso, osofrimento dos que enfrentara, ferindo e matando, era domesmo tipo dos meus, quando ferido, ou quando perdiaamigos queridos, durante os combates. Tomando minhasensibilidade como padro, concordava com Jesus, que elano diferia da de qualquer outra pessoa, romana ou no.Isto levava concluso que no deveria fazer aos outros oque no gostaria que fizessem a mim.

  • encontro com jesus

    37

    Com tais pensamento, adormeci. Imediatamente, noque me parecia um sonho de extrema lucidez, vi-me beirado Lago da Galilia. A noite sem luar, refletia as luzessafirinas das estrelas esparramadas pela abbada celeste,lmpida de nuvens, como geralmente acontece na Palestina.Sentia a umidade que evolava das guas tranqilas, e quea brisa noturna espalhava por toda parte, amenizando ocalor intenso do dia que findara. Ouvia o marulhar daspequenas ondas que se quebravam na praia estreita,saturada de pedrinhas escuras, polidas pelo secular ir e virdas guas do lago.

    Ave Mcio, meu irmo!Apesar da saudao inesperada, no me assustei, como

    seria de esperar. Ao contrrio, me voltei com o corao cheiode alegria, pois sabia que era Jesus quem me saudava.

    Ave, Rabi! Respondi espantado que ele soubesse meunome, pois nunca nos havamos falado durante o tempoem que o espionara.

    No apenas sei o teu nome, como conheo o que tensfeito e vivido at hoje.

    Falou isto sem qualquer atitude pretensiosa, como umfato normal. E ante minha curiosidade, prosseguiu:

    A tua generosidade com meus irmos de raa,livrando muitos deles de uma vida de sofrimentos e humi-lhaes, fala a teu favor. Agiste fraternalmente e com nobre-za. Por isso estamos aqui, num momento decisivo de tuajornada. Dentro em pouco tua existncia ser interrompida,e entrars no Reino sob os auspcios das novas resoluesque te iluminam a alma.

    Intrigado como deveria entender o significado daque-las palavras, ia indagar, quando senti um dor aguda e pene-trante, no trax. Sabia que era a dor causada por um gldio,pois a sentira, inmeras vezes, em graus diversos de gravidade.

    Uma fora imensurvel ameaou me arrebatar de voltaao leito e, durante uma frao de segundo eu me percebia

  • djalma argollo

    38

    em dois lugares ao mesmo tempo: ali, em frente ao Mestre,e vendo meu corpo ensangentado sobre o leito do dormi-trio na Torre Antnia. Uma fora irresistvel, e muito maisforte, me mantinha no lugar onde o sonho me levara. Sabiaque partia de Jesus aquela fora potente. Ele, estendendo amo, direcionou-a ao meu peito, e a dor desapareceu, ime-diatamente. Ao mesmo tempo, um choque percorreu-me oser. Em seguida intensa sensao de liberdade e euforiasubstituiu o mal-estar que sentira.

    Acabas de deixar a vida fsica, meu irmo. O infelizPilatos, desconfiado de ti, mandou um servo te assassinar,enquanto dormias. Como podes ver, a morte uma iluso,pois somente existe vida, que nunca se acaba. Esquece osdespojos, e a existncia que se extinguiu. Tens a mente ilumi-nada por resolues novas, que nortearo as prximasexistncias, que viveras. Vais, agora, te preparar para asnovas jornadas, como legionrio do Bem e do Amor. Que oPai esteja sempre contigo!

    Sentindo o rosto molhado por lgrimas de alegria, fuitomado por agradvel sonolncia, terminando por adorme-cer, levando na retina a imagem dAquele que a expressomxima de amor que veio Terra, desde, que ela existe.

  • encontro com jesus

    39

    A Bondade de Jesus

    A luz titubeante da alvorada, comeava a dissol-ver a escurido da madrugada, anunciando o nascer dosol para da a instantes, quando Jesus e seus discpulosdesceram a encosta do Monte das Oliveiras e, atravessandoo Vale do Cedron, se dirigiram Porta Dourada, entrandoem Jerusalm.

    A cidade despertava para as lides de um novo dia. NoVale do Tiropeon, ou dos Queijeiros, na maioria dashanyt13 acontecia o azfama da arrumao de mercado-rias, para atrair os compradores, alguns dos quais jcomeavam a tarefa de escolher o que mais lhes interessava.Em poucos momentos, quando o sol dominasse o firmamen-to, enchendo de luz a natureza, uma multido estaria seacotovelando ali, transitando por entre as colunatas quebalizavam a rua, criando uma corrente viva a circular portodos os recantos da sq h-elyon14 e da sq h-tahtn (obairro de Acra)15. Afinal, a cidade estava tomada por umnmero incalculvel de pessoas, vindas de diversos pasesconhecidos, para a realizao da Pscoa, e ningum iriaperder a oportunidade de realizar compras nos dois princi-pais bazares (sq) da cidade, localizados na cidade alta ena cidade baixa.

    13 Lojas.14 Cidade alta.15 Cidade baixa.

  • djalma argollo

    40

    Chegando ao templo, muitas pessoas ali j se encon-travam. Algumas, reconhecendo Jesus, foram ao seu encon-tro, atraindo sobre ele as atenes, e assim se formou, logo,ao seu redor, uma pequena aglomerao. Algum trouxeum banquinho, e o Mestre, assentando-se, comeou aresponder perguntas e a atender pedidos de curas, comofazia desde que chegara, naqueles dias que antecediam aPesah16, a festa mais importante do calendrio judaico.

    Em determinado momento, todos foram surpreendidopela chegada de um grupo de pessoas, onde se podiamnotar fariseus e doutores da lei, a arrastarem uma mulherainda jovem que tentava esconder o rosto, como podia,chorando convulsivamente.

    A pequena multido que escutava Jesus abriu cami-nho, e o grupo, chegando sua frente, empurrou a mulherpara o meio do espao que se formara. Um dos fariseus,cuja veste estava carregada de diversos filactrios, denun-ciando o ortodoxo inflexvel, destacou-se do grupo edirigiu-se a Jesus, com indisfarvel ironia:

    Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adult-rio. Ora, Moiss nos ordena, na Lei, que tais sejam apedre-jadas. Tu, porm, o que dizes?17.

    Jesus correu os olhos pela multido que o fitavaexpectante, avaliando cada um, principalmente os recm-chegados. Depois, sua viso se demorou um pouco sobrea pobre mulher, to cruelmente exposta. Em seguida,tomou uma atitude inesperada: inclinando-se, comeou arabiscar o pavimento com o dedo indicador, como seescrevesse. O que interpelara o Mestre olhou para seuscompanheiros com ar de indisfarvel sorriso de triunfo,que eles corresponderam com sorrisos e acenos de cabea.O que haviam concertado estava prestes a acontecer. claro que no esperavam pelo que seria o melhor: que

    16 Pscoa.17 Jo 8, 4-5.

  • encontro com jesus

    41

    Jesus se opusesse Lei; isto seria uma blasfmia, e com onmero de testemunhas ali reunido, a condenao mortepor lapidao, seria conseqncia natural.

    Na verdade, o objetivo do grupo era atingir a opiniofavorvel que o Mestre tinha entre as mulheres, mostrandoque ele era um Rabi como qualquer outro, sem diferenaideolgica fundamental. Jesus se destacava por valorizaras mulheres, lhes dar ateno, valoriz-las.

    Como sabido, as mulheres sempre foram considera-das entre os judeus como seres de segunda classe, semcapacidade para gerir a prpria vida, devendo estar subor-dinadas, sempre, a um homem. Afinal, a Sagrada Escrituraensina que o homem foi criado imagem e semelhanade Deus, enquanto a mulher, qual um clone alterado, foimoldada a partir de uma costela do homem, por isso, deve,sempre, estar subordinada a suas vontades e caprichos18.A Lei dava aos homens poderes extraordinrios face mulher, fosse ela me, filha ou esposa. Esta ltima, inclusi-ve, poderia ser repudiada com a maior facilidade, bastandopara tanto que o marido lhe escrevesse uma carta dedivrcio. Mutatis mutandis, o que acontece nos dias atuaisnos paises mulumanos.

    Diferentemente dos demais Rabis, Jesus tinha vriasmulheres na condio de discpulas, sendo que algumas oseguiam em suas peregrinao pelas diversas regies daPalestina, cuidando da alimentao e demais tarefas de teor

    18 Esta inferncia aparece em diversos escritos judaicos, at em chistes e anedo-tas, como a que se segue:

    Porque mais fcil aplacar um homem do que a mulher? Porque o primeirohomem foi criado do barro, que mole, ao passo que a primeira mulher foi tiradade um osso, duro e resistente (Nid, 3l, in Scliar, Finzi e Toker, Do dem ao Div:Humor Judaico, 6 edio, Grupo editorial Shalom, sem data). Atitudes dedesqualificao da mulher passaram do Judasmo para o Cristianismo, e apare-cem em diversas manifestaes de humor, infelizmente, na sociedade Ocidental,onde ainda, em muitas circunstncias, tratada de forma desigual e inferior aohomem. No Oriente, principalmente nos pases muulmanos, a situao da mu-lher humilhante e deprimente, uma simples escrava dos caprichos do homem.

  • djalma argollo

    42

    domstico, a que estavam acostumadas. Mulheres abastadascontribuam para a bolsa do grupo, a qual fornecia onumerrio para o sustento de todos, e tambm para aesde socorro aos necessitados. o que informa os Evangelhos:...andava Jesus de cidade em cidade, e de aldeia em aldeia,proclamando e anunciando o evangelho do reino de Deus; eiam com ele os doze, bem como algumas mulheres que ha-viam sido curadas de espritos malignos e de enfermidade:Maria, chamada Madalena, da qual haviam sido expulsossete espritos maus19. Joana, mulher de Cusa, procurador deHerodes20, Suzana e muitas outras que o serviam com osseus bens21. Atente-se para a expresso muitas outras, parase ter em mente que o nmero de discpulas era expressivo,o que no deixava de causar espcie numa sociedade ondeelas eram reprimidas de maneira brutal e inimaginvel nassociedades civilizadas dos tempos atuais, com exceo doscitados pases mulumanos, onde os animais so melhortratados e considerados do que elas.

    Ansioso por alcanar a vitria que parecia iminente,diante do silncio do Mestre, que se prolongava, o inquisi-dor o instou a responder logo, no que foi acompanhado,em coro, por seus companheiros.

    Jesus, ento, erguendo-se, deu uma resposta que osapanhou de surpresa:

    Aquele dentre vs, que esteja livre de erros, seja oprimeiro que lhe atire uma pedra22.

    E, voltando posio anterior, continuou a rabiscaro cho.

    19 Que, indevidamente, foi rotulada como uma prostituta arrependida, numa cal-nia histrica que at espritos desencarnados sustentam, em contos. Felizmenteest havendo uma retificao dessa qualificao inverdica, graas a pesquisashistricas de diversos estudiosos.

    20 Antipas.21 Lc 8, 1-3.22 Jo 8, 7.

  • encontro com jesus

    43

    Se um raio houvesse cado sobre a multido no causa-ria tanto impacto quanto aquelas palavras. Todos seentreolhavam espantados. Depois, lentamente, as pessoascomearam a se afastar, at que restou apenas Jesus e amulher, praticamente sozinhos, no prtico, pois at os disc-pulos haviam se afastado para certa distncia.

    Ento, erguendo-se, Jesus lhe disse: Mulher, onde esto eles? Ningum te condenou?Disse ela: Ningum, Senhor.Disse, ento, Jesus: Nem eu te condeno. Vai, e de agora em diante no

    peques mais23.Quem poderia descrever o que se passou no ntimo

    daquela mulher? Uma coisa certa, sentiu que a vidarenascia para ela. Sem dvida, ainda enfrentaria inmerosproblemas, e difceis, na convivncia social, mas teriacoragem para super-los e venc-los.

    O Mestre, com extrema sabedoria, soubera sair dasituao em que fora colocado: no contestara a Lei, nemcondenara a mulher. Na verdade concordou que a Leideveria ser aplicada, pois nunca se colocara contra osprincpios mosaicos. Alm do mais, o adultrio era a nicacondio em que, na sua viso, o repdio poderia seraplicado. Todavia, usando da prerrogativa dos Rabis,estipulara uma condio para que o ritual da lapidaose realizasse: que um dos acusadores, completamentepuro, ou seja, que nunca houvesse cometido qualquer erro,atirasse a pedra que iniciava o suplcio, conforme estabe-lecia a tradio. A um s tempo constrangera os acusado-res e desqualificara a acusao. Haviam-na trazido atali por um crime considerado hediondo: o adultrio;mas Jesus o transformara em um deslize de comportamen-

    23 Jo 8, 10-11.

  • djalma argollo

    44

    to como outro qualquer. Sim, pois no estipulara que oatirador da primeira pedra fosse algum que nuncahouvesse adulterado, mas que nunca houvesse cometidoqualquer tipo de erro.

    Depois, fez a mulher entender isso, ou seja, que suafalta era uma falta como as que so cometidas a qualquerhora, pelos seres humanos. No tinha uma qualidade espe-cial. Fez, assim, um notvel trabalho de psicoterapia, dimi-nuindo a dimenso do equivoco e, por conseguinte, possi-bilitando que a mulher tivesse um melhor relacionamentocom sua culpa. Afinal, ningum se sentira em condiesde executar a sentena que lhe cabia.

    Somente ele poderia ter atirado a primeira pedra,pois sua conscincia no lhe fazia qualquer acusao,todavia, por isso mesmo, a bondade do seu corao puroimpedia-o de ser cruel.

    Finalmente, ao despedir a mulher, consolidou a tera-pia breve, instando para que ela no voltasse a cometeressa e outras faltas dizendo, nas entrelinhas, que ela foralibertada do equivoco cometido, e uma nova oportunidadelhe estava sendo concedida. Que soubesse us-la!

  • encontro com jesus

    45

    Lio de Amor

    Desde a chegada de Jesus a Cafarnaum, ElideBarjosiah lhe fora encarniado opositor.

    Dono de grande fortuna, sua posio poltico-religiosaera a do saduceu convicto e polemista. Quando lhe disse-ram que estava na cidade um Nazareno, pregando oadvento de um Reino de Deus e realizando prodgios, comopoderoso profeta, retrucou de imediato:

    Qual! Trata-se de mais um desses mistificadoresalucinados que esto proliferando como praga em nossossofridos tempos. Igual a tantos outros, conseguir envolverpessoas crdulas e de boa f, terminando morto pelossoldados romanos ou apodrecendo numa cruz ao longodas estradas. E os infelizes que nele acreditarem sofreroo mesmo destino, provocando dor e sofrimento a inmerasfamlias. Para evitar que infortnios sem conta caiam sobrens prosseguiu exaltado devemos tomar providnciasimediatas para coibir-lhe a atividade, enquanto tempo.

    Unindo a palavra ao, resolveu ir ao encontro dotal profeta, imediatamente, para desmascar-lo, cortandoo mal pela raiz.

    Informando-se sobre onde vivia aquele homem, diri-giu-se para l, acompanhado de alguns amigos que lheaprovaram o tentmen.

    Foi encontr-lo sentado num tosco banco de madeira, sombra de velho sicmoro, em frente casa de SimoBarjonas, o pescador. Grande multido formava um semi-

  • djalma argollo

    46

    crculo em torno dele escutando-lhe, embevecida, aspalavras.

    Elide e seus companheiros atravessaram a aglomera-o, estampando nos rostos acintosa expresso de arrogn-cia e nojo, enquanto as pessoas, humildes na maior parte,se afastavam respeitosamente, franqueando-lhes passagem.

    Chegados junto ao Rabi, antes que pudessem dizeralgo, uma mulher, cujos trajes denunciavam a situaode penria, lanou-se-lhe aos ps, suplicando:

    Senhor! Cura o meu filhinho.E lhe apresentava uma criana cujo corpinho estava

    coberto de chagas purulentas.Os que se achavam prximos no conseguiram evitar

    um movimento de asco, ante a viso do pequeno enfermo,e do mau cheiro que exalava. Jesus, porm, com muito cari-nho, tomou nos braos o sofrido pequerrucho e, envolvendoa pobre mulher num intenso olhar de ternura, falou-lhe:

    Mulher, tua vida tem sido um desdobrar de imensasdores. O volume de lgrimas derramado por ti, na solidode noites de angstia, s de meu Pai conhecido. Elasrepresentam a reavaliao de culpas acumuladas atravsdos tempos, na convivncia com a insensatez e a irrespon-sabilidade. Chegou entretanto o teu ano Jubilar,24 e a Mise-ricrdia Divina te alcanou com o Seu perdo.

    E, devolvendo o menino, afirmou: Vai em paz! Teus erros te so perdoados. Seja feito

    como pediste.A criana que voltava aos braos da me j no era a

    mesma. Em lugar das chagas purulentas, apresentava umcorpo so, e a pele aveludada, como se nunca houvessesofrido a menor escoriao. A me, infeliz de momentosantes, se metamorfoseara em radiante expresso de felici-dade e alegria. Chorando e rindo, a um s tempo, gritavalouvores a Deus, bendizendo o nome do seu benfeitor.24 Ano que ocorria a cada 50 anos onde as terras deviam descansar, as dividas

    serem per doadas e as terras alienadas voltar a seus antigos donos.

  • encontro com jesus

    47

    Serenado o tumulto, Jesus voltou-se para o estupefatoElide, dizendo-lhe:

    O que desejas, amigo?Fazendo visvel esforo para se recompor, o saduceu.

    retrucou titubeante: Venho, em nome de pessoas respeitveis de nossa

    cidade, saber com que autoridade fazes essas coisas. Com a que me foi outorgada por meu Pai, que est

    nos cus! Replicou o Mestre com segurana. Mas isto uma blasfmia! Gritou, indignado, o disc-

    pulo de Sadoc, enquanto seus acompanhantes ecoavam-lhe as palavras, com expresses indignadas.

    Antes, porm, que Jesus pudesse apresentar qualquerrplica, um moo de aproximadamente vinte anos de idadedeu um grito agudo, caindo ao cho, onde passou a serevolver por entre esgares e exclamaes absurdas:

    Miservel! Nem mesmo o Ungido te salvar de minhasgarras. Destruir-te-ei aos poucos, desmoralizando-te diantede todos. Farei com que a frustrao, a carncia e o desespe-ro sejam teus companheiros inseparveis...

    Deixando Elide e seus amigos, Jesus acercou-se dorapaz, e ajoelhou-se ao seu lado, ajudando uma senhora,em cujas lgrimas adivinhava-se a genitora do pobre infeliz,a cont-lo.

    Bastou que o Mestre colocasse a destra sobre a suatesta molhada de suor, para que o jovem se aquietasse deimediato, caindo em sono profundo. Em seguida, dirigindo-se aflita matrona, o Rabi inquiriu com bondade e carinho:

    Desde quando isto lhe acontece? H trs anos, aproximadamente, respondeu a senho-

    ra, continuando: Ele o meu primognito, Senhor. Carinho-so, trabalhador e querido por aqueles que o conhecem.Contudo, sempre foi dado a momentos de profunda melan-colia e a constantes pesadelos. Esses sempre foram iguais:um homem de aparncia terrvel, corpo disforme, como setivesse sofrido cruis torturas, perseguindo-o com dio.

  • djalma argollo

    48

    Nessas oportunidades acorda aos gritos, assustando amim e aos que vivem conosco. Aps completar dezoito anos,ao testemunhar a execuo de um nosso conhecido pelosromanos, o esprito do mal se assenhoreou dele, buscandodestru-lo. Cura o meu filho, poderoso Rabi, cura-o...

    Soluos angustiados no a deixaram continuar.Compadecido, Jesus a puxou para si, aconchegando-

    a ao peito e, enquanto acariciava-lhe os cabelos marcheta-dos de fios brancos, dirigiu-se ao moo em prostrao,falando ao obsessor:

    Esprito infeliz, o dio uma manifestao absurdano Universo criado e mantido pelo Amor do Pai. Teussofrimentos no sero aliviados atravs de uma vinganamesquinha. Somente o perdo, sem reservas, nos tornadignos do nome de Filhos de Deus. Eu te concedo, nesteinstante, a oportunidade da libertao. Coloca-te a serviodo Bem, substituindo a violncia pela afabilidade, a dissen-so pela fraternidade. Agora, afasta-te desse moo, e segueo teu caminho em busca de paz.

    Um forte tremor sacudiu o corpo do rapaz, aps o qual,com ar estremunhado, perguntou, tentando levantar-se:

    Me, o que aconteceu?Enquanto a pobre senhora o abraava carinhosa-

    mente, o Mestre disse: Mulher, o Amor de Me a bno maior que Deus

    legou humanidade! Vai em paz, teu filho est curado.Reaproximando-se de Elide e seus companheiros,

    falou: Poder um blasfemador curar enfermidades e

    expulsar espritos perturbadores em nome de Deus?Completamente transtornado, o saduceu redargiu: Tuas magias, inspiradas nas artes de Belzebu, no

    me impressionam. E voltando-se para seus amigos: Vamosacabar com este charlatanismo barato. Arrastemos esteblasfemo impostor para fora da cidade e o apedrejemos.

  • encontro com jesus

    49

    Mal acabara de falar e um coro de protestos indigna-dos elevou-se da multido. Um dos companheiros, segu-rando-o pelo brao, sussurrou-lhe ao ouvido:

    No sejas louco! Esta gentalha est fascinada porele e nos despedaaria se tentssemos alguma coisa. melhor deixar para outra oportunidade.

    Verificando a precariedade de sua posio, Eliderecuou do intento e, lvido de clera, dirigiu-se ao Mestre:

    Ver-nos-emos em ocasio mais propcia.Ao que Jesus retrucou com serenidade: Ests sendo profeta, Elide. Haveremos de nos

    encontrar, realmente, em melhor situao.O grupo retirou-se, vomitando improprios e fremin-

    do de raiva impotente.A partir de ento, Elide desenvolveu uma campanha

    sistemtica contra o Rabi Galileu. Escrevia longas cartasa correligionrios em Jerusalm, alertando-os contra osperigos encerrados nas atitudes de Jesus. Promoviaconcilibulos com as autoridades religiosas de Cafarnaum,arquitetando planos para interromper-lhe as atividades.Enviava mensageiros s cidades da Galilia por onde oMestre passava, chamando a denunciando a atividadesubversiva do impostor Nazareno, herdeiro de Belial,protegido de Belzebu...

    Muitos meses depois, estava Jesus com os discpulos,nas cercanias de Tiberades. O sol mergulhava no horizon-te, colorindo o firmamento de prpura e ouro, quando oMestre, chamando-os, disse:

    Partamos agora mesmo, pois precisamos estar emCafarnaum ainda esta noite.

    Rapidamente o barco de Simo Pedro foi aprestadoe, havendo todos embarcado, partiram imediatamente.

    Era noite plena quando chegaram a Cafarnaum. Jesus,deixando os outros companheiros cuidarem do barco,convidou Pedro, Tiago e Joo a acompanh-lo, dirigindo-se parte da cidade onde moravam as pessoas abastadas.

  • djalma argollo

    50

    Os trs apstolos ficaram admirados ao verem o Mestreentrar, resoluto, pela casa de Elide. A porta se encontravaaberta, apesar do inusitado da hora.

    Conquanto a estranheza que a atitude do Senhorcausava, os trs o foram seguindo pelo interior da residn-cia do Saduceu, at que o encontraram a andar nervosa-mente de um lado para o outro, num dos seus cmodos.Estava to absorto que, s aps algum tempo, se apercebeuda presena dos quatro personagens.

    Que fazes aqui?! Exclamou.Reconhecendo Jesus, dirigiu-se-lhe numa voz onde

    existia o travo da amargura: Vens por acaso rejubilar-te como meu infortnio?

    Tripudiar sobre a minha dor, numa vingana mesquinhae indigna?

    Elide! Respondeu o Rabi Afasta o julgamentoinsensato da mente, pois seremos medidos com a mesmamedida que utilizamos para os outros. Alm do mais, emmeu corao no existe lugar para sentimentos dessaestirpe. Venho sim, estender-te mo amiga no momentode tua provao.

    Soluando convulsivamente, braos pendidos aolongo do corpo e a cabea grisalha cada sobre o peito, ovelho saduceu falou:

    Apesar do quanto te tenho combatido, ofereces-metua amizade, neste momento de infortnio? H umasemana, quando os mdicos diagnosticaram que a minhaquerida Rebeca estava leprosa, imediatamente os amigosse afastaram de ns com expresses de horror. At Eliazar,o filho idolatrado, fugiu de casa, entrando com umprocesso em juzo, para se apropriar de nossos bens que,na verdade, foram acumulados para ele mesmo...

    E para completar minha desventura, recebi, hoje tarde, intimao das autoridades para transferir, sem maisdelongas, minha querida esposa para o vale dos rprobos,em Jerusalm. Como, porm, os nossos servos fugiram,

  • encontro com jesus

    51

    acompanhando o filho ingrato, no tenho como atend-la. A morte me parece o nico caminho para ns dois...

    Elide! Elide! Onde est tua f em nosso Pai Celes-te? Exclamou Jesus, enquanto abraava o infeliz. Ele nonos abandona nunca. pela Sua Misericrdia que estouaqui, para que a Alegria e a Paz voltem ao teu lar, e possaisse tornar partcipes do Reino de Deus, tu e tua mulher.

    Enquanto falava, o Mestre passou o brao sobre osombros do pobre homem, entrando com ele na alcova, ondeRebeca soluava, tristemente, com o rosto nos travesseiros.

    Sentando-se ao lado da infeliz senhora, afagou-lheos cabelos brancos, dizendo-lhe:

    Filha! O desespero fonte de muitas infelicidades.Acalma o corao e cr em Deus, para o qual nada impossvel.

    A pobre mulher, fitando Jesus com os olhos conges-tionados de chorar, perguntou-lhe:

    s tu o Nazareno de quem tanto se fala?Ante o gesto afirmativo de Jesus, prosseguiu, com o

    rosto iluminado de sbita esperana: Muito tenho ouvido falar de ti. Soube que arrancaste

    a filha de Jairo das garras da Morte, e devolveste a Eze-quiel, o comerciante de jias, a viso que ladres lhe haviamtirado. Apesar de tudo o que tm dito contra ti, sei que nopoderias fazer o que tens feito se Deus no estivesse contigo.Cura-me, Senhor!

    O rosto do Rabi iluminou-se com um sorriso deternura, enquanto dizia:

    Seja feito conforme desejas.No mesmo instante, as marcas da lepra, que se faziam

    visveis nos braos e no pescoo, desapareceram, comopor encanto.

    Aps a natural exploso de jbilo dos esposos, a setraduzir em agradecimentos gritados por entre lgrimasde contentamento, o Mestre conversou com eles sobre as

  • djalma argollo

    52

    alegrias da Boa Nova, at que o sol apontou no horizonte,anunciando as bnos de um novo dia.

    Cumprido o ritual de purificao dos leprosos queficam curados, de acordo com o estabelecido na Lei.25,Elide entregou ao filho sua parte na herana, sem qualquerdiscusso, e transformou o stio onde morava num alberguepara doentes pobres. Jesus, sempre que voltava cidade,costumava passar ali boa parte do seu tempo, ajudando osfilhos do infortnio que haviam ganho, nas pessoas deElide e Rebeca, dois abenoados protetores.

    O tempo distendeu as asas sobre esses acontecimen-tos. Jesus foi preso e executado, em Jerusalm, pelo crimeimperdovel de ser bom. O evento trgico repercutiu sobreos seguidores do Mestre em todas as regies da Palestina,principalmente na Galilia, onde era maior o nmero dediscpulos. Os adversrios do movimento reformadoraproveitaram a oportunidade para ridicularizar e oprimirseus adeptos.

    Elide e Rebeca choraram dolorosas lgrimas desaudade, as quais foram estancadas pelo prprio Mestre,ao se apresentar, ressurrecto, no abenoado albergue dosdesvalidos, que era o lar deles.

    Numa soberba exibio de imortalidade da alma, Jesusconviveu com os ali acolhidos, durante algum tempo, distri-buindo alegria, consolo e esperana. Comeu, bebeu, brincou,sorriu, concretizando diante de todos a verdade de suaafirmao: Deus no Deus de mortos, mas sim de vivos!26.

    Passados aqueles dias de felicidade, quando o Cudesceu Terra num imenso festival de espiritualidade,vieram os tempos dos testemunhos, como o prprio Cristoprevira: Sereis trados at por vosso pai e vossa me, irmos,parentes, amigos e faro morrer pessoas do vosso meio esereis odiados por causa do meu nome 27.

    25 Lv 14, 1-57.26 Mt. 22, 3 2.27 Lc 21, 16-17.

  • encontro com jesus

    53

    Em Jerusalm estalou a perseguio, liderada pelojovem Saulo de Tarso, que fez do destemido judeu-gregoEstevo, sua primeira vtima. Em meio represso, osprincipais dos saduceus lembraram de Elide, e de suaconverso, a qual causara enorme rebulio, tanto pelo nomerespeitado que possua no partido, quanto pela oposiosistemtica que desenvolvera, antes, contra o Nazareno.Um grupo de soldados do templo, comandados por Naasom,velho conhecido de Elide e saduceu intransigente, foienviado a Cafarnaum para conseguir, dele, uma retratao.Ela seria usada para desmoralizar os partidrios do Mestre,na Galilia, enfraquecendo o movimento.

    A tropa chegou cidade em torno do meio-dia. Naasomcontactou os correligionrios locais que relataram, comindignao, as atitudes do antigo confrade. Resolveu, ento,o emissrio do Sindrio, ir residncia de Elide, acompa-nhado de uma comisso formada por representantes dasdiversas correntes do Judasmo, que ali moravam, com oobjetivo de faz-lo renegar a relao com o Nazareno, aqualquer custo.

    Chegados ao porto da herdade, Naasom exigiu apresena do antigo companheiro, do lado de fora, comarrogncia.

    Sentindo a gravidade da hora, o antigo saduceu, segu-rando a mo de Rebeca, apresentou-se diante do grupo, queo fitava com olhares rancorosos. Reconhecendo o dirigenteda turba, endereou-lhe um sorriso de simpatia, saudando:

    Que a Paz esteja contigo, amigo Naasom! A Paz sempre est com os que permanecem fiis

    Lei! No considero amigo quem trai nossas crenas etradies, para seguir charlates e embusteiros. Retrucouo orgulhoso discpulo de Sadoc, grosseiramente. E, semdar tempo a qualquer resposta, prosseguiu:

    A generosidade dos que dirigem nosso movimento,com a qual no compartilho, manda te oferecer o posto

  • djalma argollo

    54

    de representante vitalcio, no Sindrio, com todas as hon-rarias devidas posio se, em troca, renegares os ensina-mentos do impostor galileu, que se autodenominava oUngido, auxiliando na desarticulao da scia alucinadados seus sequazes. O que respondes a isso?

    Esboando um sorriso triste, o ancio disse: Vendo tua presuno e empfia, e a baixeza dos

    que te enviaram, percebo o quo ridculo fui, noutrostempos, quando combati o Cordeiro de Deus. Nem na pocade minha mais ativa militncia em tuas hostes, postuleiqualquer cargo no Sindrio, por sab-lo velhacouto dedesonestos traficantes das coisas santas. A proposta abjetaque trouxeste, s merece meu desprezo e uma profundapiedade por ti e pelos que representas. Que o Mestre Jesustenha compaixo de vs, e faa com que sejais transfor-mados para o bem, como eu o fui.

    Um rugido de clera e de indignao estrugiu da bocade Naasom e dos que o acompanhavam.

    Vai encontrar-te ento com o teu Mestre, no Valeda Sombra e da Morte.

    Com tal exclamao de dio, lanou sua montariasobre os dois indefesos ancios, pisoteando-os selvagemen-te, at v-los reduzidos a informe massa sangrenta, ante oaplauso e incentivo de seus comparsas.

    Quando a turba se afastou, entre doestos e improp-rios, os infelizes protegidos do velho casal, que haviamassistido a cena cruel, transidos de dor, aproximaram-se,entre lgrimas e soluos, para recolher os despojos ensan-gentados dos queridos benfeitores, a fim de lhes darsepultura condigna. Ao carregarem Elide, verificaramque ainda vivia, e puderam recolher-lhe as ltimaspalavras, ditas num sussurro quase imperceptvel:

    Jesus, perdoa-lhes. Eles no sabem o que fazem!

  • encontro com jesus

    55

    Regenerao

    Saindo de Cesaria de Filipe, um destacamentoromano de cinco cavalarianos, comandados por um centu-rio, cavalgava a toda brida pelo antigo Caminho do Norte,com destino a Jerusalm.

    Chegando a Cafarnaum ao cair da tarde, pararam afim de entregar correspondncias. ao comandante da guar-nio local e pernoitar, pois as estradas da Palestina noeram seguras noite, principalmente para soldados roma-nos viajando em pequeno nmero.

    No dia seguinte, aos primeiros clares da alvorada,retomaram a cavalgada, com mpeto singular.

    Caio Flvio Marcelo, o oficial no comando do grupo,demonstrava a tenso de que estava possudo num galopardesenfreado que os soldados, com muito esforo, conse-guiam acompanhar. Os lbios crispados e os traos durosdo rosto refletiam os pensamentos que fervilhavam-lheno crebro. Em sua tela mental desenhava-se a figura debela mulher com os traos tpicos de uma israelita: cabelosnegros, longos e sedosos, olhos da mesma cor, tez alvini-tente e suave, como ptalas de lrio.

    A evocao lhe despertava dio profundo, atingindoas raias da irracionalidade.

    Estimulada pelo rancor, a mente recordava, em doen-tio monoidesmo, a razo de tais emoes:

  • djalma argollo

    56

    H cinco anos, recm-chegado da Germnia, ondeservira como centurio, conhecera Suzana, filha nicade Matan de Grasa, conselheiro especial de Herodes Anti-pas. Sentira-se logo atrado por sua beleza e juventude,verificando, prazerosamente, que era correspondido.

    Em breve, a jovem lhe dominava a mente, escravizan-do-lhe pensamentos e emoes.

    Para ela, contudo, ele representava apenas oportuni-dade de prazeres novos, pois, ambiciosa e calculista, acer-tava, com o auxlio do seu pai, casamento de conveninciacom rico e velho aristocrata. A avanada idade deste lhepermitiria, conforme planejava, se apossar de vasto patri-mnio em pouco tempo, libertando-se definitivamente datutela paterna, para se entregar ao culto da luxria e doprazer, sem peias que a contivessem.

    Concertado o matrimnio, descartara o romano, humi-lhando-o e ridicularizando-o, frente a inmeras pessoas,seus companheiros de esbrnia. Para culminar, conseguiraque ele fosse transferido da capital da Judia para um postoavanado da regio de Palmira, em pleno deserto da Sria.

    Partira, ruminando idias de vingana, que se torna-ram uma obsesso durante os trs anos em que, sob um solcausticante, vigiara o caminho das caravanas que passa-vam pelo importante osis. Durante esse tempo, movi-mentara os parentes e amigos influentes em Roma, atravsde cartas, para conseguir o retomo Palestina, onde poderiadar curso ao anseio de desforra.

    Finalmente conseguira, h pouco mais de um ano,transferncia para Cesaria de Filipe, a antiga Pnias.Logo procurara informaes sobre o paradeiro da mulherde seus dios, sem lograr encontr-la. Soubera que, poucodepois do casamento, morrera-lhe o pai e, aps, o marido,em circunstncias suspeitas. Existia a crena generalizadade que fora envenenado por ela, para se apossar dos seushaveres que, juntamente com a herana paterna, a faria

  • encontro com jesus

    57

    imensamente rica28. Durante algum tempo, levara umavida de dissipaes em Jerusalm, levantando contra si aopinio de sua, hipocritamente puritana, sociedade. Porcausa das presses, se transferira para uma de suas pro-priedades na Galilia. Segundo alguns, ela fora expulsada corte por ordem direta de Herodes Antipas, que notomara providncias mais rigorosas em deferncia memria do pai dela, por quem tivera elevado apreo.

    Em seu novo lugar de morada, dizia-se, aconteceraum fato inesperado: aps se tornar discpula de um galileuque iniciara uma nova seita, enlouquecera, havendo distri-budo sua fortuna aos pobres, desaparecendo sem deixarmaiores vestgios.

    Sua frustrao fora imensa, pois no conseguia esque-cer o desejo de vingana. Mas, continuara procurando-a,atravs de emissrios que percorriam a Galilia, colhendoinformaes sobre o paradeiro dela.

    H um ms soubera que fora vista nos arredores deMagdala, na regio de Dalmanuta, cuidando de crianasrfs e pregando a vinda de um Reino de Deus. Problemasnas fronteiras com os Partas impediram-no de procur-laimediatamente, como desejava. Agora, porm, surgira aocasio, com a necessidade de ser levada uma mensagemurgente ao Procurador Pncio Pilatos.

    Enquanto atravessava velozmente Magdala, pondo emrisco a vida de homens e animais, prelibava a vingana emdetalhes de sadismo e crueldade. Logo aps a cidade, dobra-ram esquerda em direo orla do lago de Genesar, ondese localizava o stio em que residiam Suzana e as crianas.

    Entrando violentamente pelo porto da herdade, Flvioe seus soldados vararam o acesso at a entrada da casa,numa imprudncia criminosa, pondo em risco a vida dos

    28 Apesar de, no judasmo, a lei no estabelecer que as mulheres herdavam, nostempos do Cristo, pela influncia da Grcia e de Roma, nas classes privilegiadaseram comuns contratos de casamento, que estabeleciam ficassem os bens domarido para a mulher, em caso de morte daquele.

  • djalma argollo

    58

    pequeninos, que trabalhavam, ou se divertiam, nos gracio-samente simples jardins, margem do caminho queconduzia casa, arrancando-lhes gritos de susto. Antesque o cavalo parasse inteiramente, o moo romano, numsalto que demonstrava toda sua destreza, desmontou e,no impulso da inrcia, atravessou correndo a porta deentrada da residncia, estacando no trio em frente jovemjudia que, assustada com a algazarra das crianas, acorriapara saber o que estava acontecendo.

    O sbito aparecimento do romano f-la parar,apreensiva, pois adivinhava os motivos que o levavam atali, e exclamar:

    Marcelo! Surpresa, querida Suzana? Retrucou com ironia.

    Fora melhor me haver assassinado, como fizeste com teumarido, pois os mortos no retornam para se vingar, ano ser nas tragdias gregas.

    Uma gargalhada se seguiu afirmao, enquanto amoa, ferida pelo cruel apontamento, se punha a chorar.

    Ao seu redor, abraadas umas s outras, as crianaschoravam de medo.

    Dirigindo-se aos petizes apavorados, o oficial prosse-guiu impiedoso:

    Sabem que a protetora de vocs uma criminosasem entranhas? Uma prostituta ambiciosa que se vendepor um punhado de moedas?

    Elas sabem de tudo a meu respeito replicou a jovem,recobrando o nimo e so testemunhas dirias dosesforos que fao para me redimir dos erros cometidos.

    Quer dizer que Clitemnestra 29, arrependida, buscase redimir da morte de Agamenon? Exclamou o romano,irnico.

    29 Clitemnestra, filha de Tndaro e Leda, esposa de Agamenon, rei de Micenas eArgos. Assassinou juntamente com seu amante Egisto o esposo que regressavade Tria, pelo fato dele haver sacrificado a filha de ambos, Ifignia, aos deuses.

  • encontro com jesus

    59

    Ignorando a observao, Suzana continuou: Jesus de Nazar, o Messias, ensinou-me que o Amor

    cobre a multido de pecados30, e, dedicando-me aos filhosdo infortnio, busco reparar meus desvios morais. OMestre tambm me ensinou ser preciso fazer as pazes comos adversrios, enquanto estamos a caminho com eles,assim, quero aproveitar esta oportunidade...

    Pondo-se de joelhos, concluiu entre soluos: Sei que te magoei muito com minha irresponsabili-

    dade, suplico-te, contudo, que me perdoes, por misericrdia.Ante o gesto inesperado de humildade, o moo roma-

    no quedou estupefato por alguns momentos para, repenti-namente, reagir com violenta bofetada que a lanou porterra, sangrando, com os lbios partidos. Em seguida, com-pletamente desvairado, gritando improprios e obscenida-des, ordenou aos soldados que a violentassem ali mesmo,diante das crianas aterrorizadas, e depois a matassem comestocadas no baixo ventre.

    Os soldados prepararam-se para cumprir a ordemcruel com a sdica alegria dos pervertidos, rasgando aroupa da infeliz mulher que, inutilmente, tentava resistir,enquanto clamava por compaixo.

    Todavia, antes que consumassem a perfdia, soou norecinto uma voz:

    Basta!A energia do comando fez com que os soldados

    largassem sua vtima, e se voltassem para ver quem falava.No meio da sala, estava posicionado um homem alto,

    de compleio harmoniosa, cabelos castanhos, barba damesma cor, olhos lcidos, e tez amorenada por constanteexposio ao sol. Irradiava tal autoridade que os romanospermaneceram estticos algum tempo, enquanto as crian-as e Suzana gritavam em unssono:

    30 grafo citado por Clemente de Alexandria no Stromata. grafo significa noescrito, e o nome tcnico de ditos atribudos a Jesus, no encontrados nosquatro Evangelhos.

  • djalma argollo

    60

    Rabi!Jesus aproximou-se da jovem hebria e, retirando a

    capa, a envolveu, vestindo-lhe a nudez que ela, envergo-nhada e confusa, tentava inutilmente cobrir com pedaosdas vestes rotas. Ajudando-a a levantar-se, manteve-a cari-nhosamente aconchegada ao peito, enquanto alisava-lheos cabelos com ternura.

    Vencendo com esforo o estupor que o possura, ocenturio exclamou:

    Com que autoridade interferes nos assuntos de umoficial de Roma?

    Com a autoridade moral dos que cumprem a vonta-de de Deus, sobre os representantes da iniqidade res-pondeu o Mestre, fixando-o nos olhos.

    Desembainhando o gldio, no que foi seguido peloslegionrios, o moo inquiriu com ar irnico:

    Como pretendes nos impedir? Pelo poder da virtude, que ainda ignoras retrucou

    o Rabi Galileu, sereno, prosseguindo firme. Ordeno-te, ea teus companheiros, que embainhes a espada e te retiresdeste lugar consagrado Misericrdia do Pai.

    Subjugados por uma fora transcendente, Flvio eos soldados viram, estupefatos, suas prprias mos coloca-rem as armas nas bainhas, enquanto eram impelidos, con-tra a vontade, em direo sada.

    No descansarei at te encontrar novamente, e entoveremos quem dir a ltima palavra ousou blasonar oromano, ante o absurdo de sua situao.

    No belo rosto do Cristo pousou um sorriso pleno designificado, quando ele respondeu a ameaa do impotenterepresentante de Csar:

    Como disseste, assim ser!Ao tempo em que os militares, montando seus cavalos,

    desapareciam na estrada, o Messias, rodeado pelascrianas que extravasavam sua alegria, acariciava a facede Suzana e, enquanto lhe enxugava as lgrimas, fazia

  • encontro com jesus

    61

    desaparecer, instantaneamente as marcas das agressesde que fora vtima.

    Enquanto no Lar de Amor que a ex-sibarita construracomo manifestao viva de sua metania,31 Jesus sorriacom a peraltice dos pequerruchos brincando com elascomo primus inter pares Flvio Marcelo cavalgava aluci-nadamente rumo a Jerusalm. Em seu ntimo digladia-vam-se dois sentimentos antagnicos: uma grande admira-o pelo homem que o enfrentara e vencera, sem dvidautilizando artes mgicas, pensava, e a frustrao de nohaver conseguido realizar a to almejada vingana. Have-ria, no obstante, uma outra vez, e aquele mgico conhece-ria a fria de sua desforra. Chegando ao Quartel General,mobilizaria uma fora mais numerosa, caando-o por todaPalestina e, quando o prendesse, f-lo-ia torturar, impie-dosamente, para que servisse de escarmento aos que tives-sem veleidades de enfrentar a fora e o poder de Roma.

    No incio da tarde entraram em Jerusalm pela portade Damasco, rumando velozmente para a Torre Antnia,quartel da guarnio.

    Aps entregar as correspondncias de que era porta-dor ao comandante local, Flvio informou-o que haviaencontrado um perigoso indivduo na Galilia o qual, seno fosse neutralizado imediatamente, poderia criarproblemas dominao romana.

    Ento, outro galileu a causar transtorno comentouo chefe da guarnio. Pilatos no vai gostar nada disso.

    Prosseguindo, inquiriu: Diga-me, centurio, como se chama esse subversivo? Jesus de Nazar.

    31 Metania, palavra grega formada por Met = alm de, em meio de, com, depoisde e Nou = mente, pensar, inteligncia. geralmente traduzido dos evange-lhos por arrependimento. Entretanto, as verses que melhor exprimem o seusignificado so: transformao da mente, mudana da viso de mundo(Weltanschaung), mudana de sentimento.

  • djalma argollo

    62

    O susto do comandante foi to grande que o fez selevantar num mpeto, atirando a cadeira para trs comviolncia.

    O que foi que disseste? Jesus de Nazar repetiu o militar, desconcertado

    com a reao do superior. E pode-se saber onde o encontraste? Reinquiriu o

    chefe rispidamente, com um olhar carregado de descon-fiana.

    Em Dalmanuta, nas vizinhanas de Magdala info