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DIVA COUTINHO KOZAK
LEITOR: UM SUJEITO ATIVO LEITOR: UM SUJEITO ATIVO LEITOR: UM SUJEITO ATIVO LEITOR: UM SUJEITO ATIVO NO PROCESSO DE LEITURANO PROCESSO DE LEITURANO PROCESSO DE LEITURANO PROCESSO DE LEITURA
IVAIPORÃ/PR 2011
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DIVA COUTINHO KOZAK Graduada em Letras Português/Inglês pela FAFIJAN - PR
Especialista em Pedagogia do Ensino Religioso pela PUC - PR
LEITOR: UM SUJEITO ATIVO LEITOR: UM SUJEITO ATIVO LEITOR: UM SUJEITO ATIVO LEITOR: UM SUJEITO ATIVO NO PROCESSO DE LEITURANO PROCESSO DE LEITURANO PROCESSO DE LEITURANO PROCESSO DE LEITURA
Unidade Didática desenvolvida por meio do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, mantido pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná SEED, em convênio com a Universidade Estadual de Londrina – UEL. Orientadora: Profª. Suely Leite.
IVAIPORÃ/PR 2011
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“Sei que meu trabalho é uma gota no
oceano, mas, sem ele, o oceano seria
ainda menor”.
Madre Teresa de Calcutá, religiosa Madre Teresa de Calcutá, religiosa Madre Teresa de Calcutá, religiosa Madre Teresa de Calcutá, religiosa IugoslavaIugoslavaIugoslavaIugoslava
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SUMÁRIO
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO ..................................................................... 5
APRESENTAÇÃO ....................................................................................... 6
OBJETIVOS ................................................................................................. 7
PROCEDIMENTOS ..................................................................................... 7
CONTEÚDOS DE ESTUDOS ...................................................................... 9
ENCAMINHAMENTOS ................................................................................ 9
AVALIAÇÃO ................................................................................................ 10
REFERÊNCIAS ........................................................................................... 12
UNIDADE I: TEXTO 1 – “Palatus: Apelo” .................................................... 13
SUGESTÕES DE ATIVIDADES .................................................................. 14
UNIDADE II: TEXTO 2 – “Pai contra Mãe” .................................................. 18
SUGESTÕES DE ATIVIDADES .................................................................. 29
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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
PROFESSOR PDE: Diva Coutinho Kozak
ÁREA PDE: Língua Portuguesa
NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO: Ivaiporã
PROFESSORA ORIENTADORA: Profª. Suely Leite
IES VINCULADA: Universidade Estadual de Londrina (UEL)
ESCOLA DE IMPLEMENTAÇÃO: Colégio Estadual Idália Rocha
PÚBLICO OBJETO DA INTERVENÇÃO: Alunos do Ensino Médio
TEMA DE ESTUDO: O uso do Conto na formação de leitores – ler e construir
significados para os textos dos contistas: Dalton Trevisan e Machado de Assis.
TÍTULO: Leitor: Um sujeito ativo no processo de leitura.
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APRESENTAÇÃO
Surpresas, alegrias, problemas, mistérios e aventuras são alguns
ingredientes do mundo que nos rodeia.
A língua escrita não só registra fatos desse mundo, mas também lança
questionamentos sobre as coisas da vida, da existência humana. Por isso, todos
sabem que ler é sempre uma forma de aprender.
Este projeto surgiu da necessidade da formação de leitores competentes,
num mundo, às vezes, conturbado pelo stress do dia a dia e a velocidade com que
os meios de comunicação fazem chegar até nós, as informações, muitas vezes sem
tempo para “absolvê-las” e fazer uma reflexão precisa para sabermos a quê e por
que vieram.
Neste sentido, fez-se necessária a elaboração de um projeto de leitura, que
nos remetêssemos de forma mais segura ao aluno sujeito ativo no processo de
leitura. Projeto este, a ser implementado junto aos alunos do 3° ano do Ensino
Médio, do Colégio Estadual Idália Rocha, na esperança de que não concluam esta
etapa de estudos, sem antes realizar leituras variadas.
Essas leituras devem ser realizadas sob um novo olhar do professor de
Língua Portuguesa, que ora tem em mente, a responsabilidade de desenvolver com
os alunos uma nova experiência de leituras significativas, que podem ser lúdicas,
pois “brincando” com o texto, além das interpretações permitidas por ele, podemos
interpretá-lo de acordo com a nossa experiência de mundo, além de recriá-lo.
O projeto intitulado “O uso do conto na formação de leitores”, será
desenvolvido por meio de atividades que tratarão da relevância da socialização da
leitura na escola. Ao executar este projeto, disponibilizamos atitudes de
acessibilidade professor/aluno, para juntos trabalharmos a complexidade da
compreensão de textos escritos.
Para isso, priorizamos a experiência com a leitura de contos, sem perder de
vista, o desafio de despertar o interesse do aluno para a leitura crítica, com o
objetivo de oportunizá-lo à compreensão da dimensão de que esta exerce na vida
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social de cada indivíduo, pois assim se faz necessário para a formação de leitores
críticos.
OBJETIVOS GERAL
Oportunizar aos alunos, através de atividades práticas e teóricas a
compreensão da dimensão que a leitura exerce na vida social de cada indivíduo.
ESPECÍFICOS
� Priorizar em Língua Portuguesa a experiência com leitura de contos,
alertando os alunos para interpretações permitidas pelo texto;
� Propor aos alunos a reflexão sobre o texto lido, desafiando-os a descobrir o
que está além da escrita;
� Propiciar condições adequadas, em sala de aula, para o momento da leitura,
conduzindo-os sempre para posicionamento crítico diante do texto.
PROCEDIMENTOS
Ao expor aos alunos a proposta de Intervenção Pedagógica, far-se-á uma
sondagem, através de uma pesquisa, a qual investigará o que representa para os
alunos a leitura em sala de aula.
A implementação deste projeto terá como conteúdo a leitura crítica, para
isso serão trabalhados os contos de Dalton Trevisan “Palatus: Apelo” e de Machado
de Assis “Pai contra Mãe”. Propõe-se a interação diante dessa leitura, em que
professor e aluno juntos terão a oportunidade de recriar significados para os textos.
Os recursos utilizados serão o computador para digitação dos textos, papel
sulfite, tinta para impressora, cartolinas para confecção de cartazes e pincéis
atômicos.
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O tempo para execução do projeto será de 06 aulas semanais em cada mês
no período de Agosto a Novembro, num total de vinte e quatro aulas. Quanto à
avaliação, esta acontecerá paralelamente ao desenvolvimento das atividades e as
considerações finais dadas pelo professor.
Sistematicamente as aulas acontecerão na seguinte ordem.
� Algumas questões orais para os alunos sobre a prática da leitura.
a) Quantos livros de literatura entre literatura e outros, você já leu?
b) Quando os leu foi por curiosidade ou porque alguém lhe pediu?
c) O que fez você gostar ou não de ler?
d) Tem o hábito de ler fora da escola? Lê o quê?
e) A prática da leitura na escola ou fora dela proporciona ao aluno um
conhecimento maior. Você concorda com esta afirmação, ou ainda não
pensou nisso?
f) Nas séries anteriores certamente os professores trabalharam com a
leitura em sala de aula? Você gostava de participar ou não? Justifique.
� Exposição de cartazes com dizeres sobre a leitura de outros pensadores:
a) “A gente tem que contar para todo mundo que é bom ler”. Ziraldo
b) “Um país de leitores é um país que decide, que escolhe. Quem não lê,
obedece a ordem”. Ziraldo
c) “Quem não lê, não fala”. Domingos Pellegrini
d) “A leitura é uma porta aberta para, compreender melhor o mundo e a
nós mesmos”. Ângela Lago
e) “A falta de leitura prejudica a saúde”. Cláudia Cezar é Nutróloga,
Cinésiologista e Professora da USP.
� Construção de frases abordando a importância da leitura, pelos próprios
alunos;
� Exploração do título e o tema do projeto;
� Interação dos alunos diante do exposto;
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� Apresentação dos contos e leitura dos mesmos pelos alunos;
� Exploração do vocabulário de forma contextualizada;
� Abordagem do narrador, personagens, ambiente, tempo, espaço e enredo.
CONTEÚDOS DE ESTUDOS
O conteúdo relevante é a prática da leitura crítica, porém com ele, outros
conteúdos serão explorados, como: vocabulário, marcas linguísticas, contexto de
produção, conteúdo temático, elementos semânticos e figuras de linguagem.
ENCAMINHAMENTOS
Para se fazer uso da leitura e praticá-la em variados contextos, exige-se que
se compreendam as esferas discursivas em que os textos são produzidos e
circulam, bem como se reconheçam as intenções e os interlocutores do discurso.
Na presente produção didática em que abordamos contos literários é
importante ressaltar que estes são obras de ficção, nos quais se criam um universo
de seres e acontecimentos de ficção, de fantasia ou imaginação. O conto apresenta
ainda o narrador, personagens, pontos de vista e enredo. Classicamente, diz-se que
o conto se define pela sua pequena extensão.
Para o trabalho com o conto, recomenda-se primeiro, fazer uma leitura
corrida do texto do começo ao fim. Através dela, verifica-se a extensão do conto, os
parágrafos, as linhas gerais da história, a linguagem empregada pelo autor. Em
seguida, deve-se reconhecer o autor do texto, pesquisar sua biografia, se ele é
contemporâneo ou não, se é uma publicação isolada, ou se faz parte de uma obra
maior.
Neste contexto, o professor.
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Leva aos leitores/alunos a levantarem hipóteses de certos aspectos do processamento, essenciais à compreensão que se tornem possíveis, tais como reconhecimento global e instantâneo de palavras e frases relacionadas do tópico, bem como inferências sobre palavras não percebidas durante o movimento do olho durante a leitura que não é linear. Ler tudo, letra por letra, palavra por palavra, mas é sádico, o que dignifica que o olho dá pulos para depois se fixar numa palavra e pular novamente uma série de palavras até fazer nova fixação. (KLEIMAN, 2004)
Estar atento para a motivação dos alunos em relação à leitura, também
deve ser tarefa imprescindível do professor, visto que a leitura desmotivada não
conduz à compreensão, nem tão pouco à aprendizagem.
Se o nosso aluno está desacostumado pela própria escola a pensar e
decidir por si mesmo sobre aquilo que ele lê, então, o professor pode
gradativamente propor situações motivadoras de criação e recriação de sentidos, na
realização de uma tarefa de leitura interessante e significativa para o
desenvolvimento do aluno, através da prática da leitura.
Finalmente, as atividades relacionadas aos contos mencionados nesta
produção didática pedagógica, não se esgotam neste trabalho, sendo sugestões e,
abertas a muitas outras possibilidades de atividades diferenciadas pelo professor, de
acordo com os seus alunos e suas reais necessidades de aprendizagem e formação
de leitores.
AVALIAÇÃO
De acordo com as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, (2008, p.81)
a avaliação formativa considera que os alunos possuem ritmos e processos
diferentes e, por ser contínua e diagnóstica aponta dificuldades, possibilitando que a
intervenção pedagógica a todo tempo. Informa ao professor e aluno acerca do ponto
em que se encontram e contribui com a busca de estratégias para que os alunos
aprendam e participem mais das aulas.
No processo educativo, a avaliação deve-se fazer presente, tanto como
meio de diagnóstico do processo ensino-aprendizagem, quanto instrumento de
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investigação da prática pedagógica. Assim, a avaliação assume uma dimensão
formadora, uma vez que, o fim desse processo é aprendizagem, ou a verificação,
mas também permitir que haja uma reflexão sobre a ação da prática pedagógica.
Para cumprir esta função a avaliação, deve-se possibilitar o trabalho com o
novo, numa dimensão criadora e criativa que envolve o ensino-aprendizagem. Desta
forma, se estabelecerá o verdadeiro sentido da avaliação: “acompanhar o
desempenho no presente, orientar as possibilidades de desempenho futuro, mudar
as práticas insuficientes, apontando novos caminhos para superar problemas e fazer
emergir novas práticas educativas”. (LIMA, 2002)
E, ao tornar possível o exercício da função avaliativa, numa dimensão
investigadora da prática pedagógica no ensino-aprendizagem, é necessário que o
professor acompanhe o desempenho dos alunos, no exato momento, em que
realizam as atividades. Neste caso, as dificuldades de compreensão e interpretação
crítica do texto, num processo de interação entre texto e leitor, conduzindo-os à
busca de novos significados para prática da leitura, no engajamento do ato de ler.
A avaliação não é um ato pelo qual alguém avalia alguém. É o ato por meio do qual avaliam juntos uma prática, seu desenvolvimento, os obstáculos encontrados ou os erros equívocos porventura cometidos. Daí o seu caráter dialógico. Neste sentido ao invés de ser um instrumento de fiscalização é a de problematização da própria ação. (FREIRE, 1977; p 26)
Neste sentido, pretende ser a avaliação, instrumento indispensável em toda
atividade humana, e, portanto em educação, também se faz imprescindível o ato de
avaliar, com a finalidade de torná-la mais justa e eficaz numa dimensão de quem
avalia e também é avaliado.
Para isso, no decorrer da implementação desta produção pedagógica, todas
as atividades propostas, tanto as orais como as escritas, serão avaliadas e
reavaliadas, numa altitude recíproca, pelo professor do PDE, autor desta produção.
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REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Michael (Volochinov). Marxismo e Filosofia da Linguagem. 9 ed. São Paulo: Hucitec, 2002. BRANDÃO, Helena Hathsue Nagamine. Analisando o Discurso. (USP). Artigo disponivel em: <www.estacaodaluz.org.br> 2005. KLEIMAN, Ângela. Texto e Leitor: Aspectos Cognitivos da Leitura. 9 ed. São Paulo: Pontes, 2004. LAJOLO, Marisa. Literatura: Leitores e leitura. São Paulo: Moderna, 2001. LIMA, E. de S. Ciclos de Formação: Uma reorganização do tempo escolar. São Paulo: Sobradinho, 2002. PARANÁ. Secretaria de Estado de Educação. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná: Língua Portuguesa. Curitiba, 2008. SILVA, Ezequiel Theodoro da. O ato de ler: Fundamentos Psicológicos para uma nova pedagogia da leitura. 7 ed. São Paulo: Cortez, 2005.
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“PALATUS: APELO”
Dalton TrevisanDalton TrevisanDalton TrevisanDalton Trevisan
Amanhã faz um mês que a
Senhora está longe de casa. Primeiros
dias, para dizer a verdade, não senti
falta, bom chegar tarde, esquecido na
conversa de esquina. Não foi a sua ausência por uma semana; o batom ainda
no lenço, o prato na mesa por engano, a imagem de relance no espelho.
Com os dias, Senhora, o leite primeira vez coalhou. A notícia de sua
perda veio aos poucos: a pilha de jornais ali no chão, ninguém os guardou
debaixo da escada. Toda a casa era um corredor deserto, e até o canário
ficou mudo. Para não dar parte de fraco, ah, Senhora, fui beber com os
amigos. Uma hora da noite eles se iam, eu ficava só, sem o perdão de sua
presença a todas as aflições do dia, como a última luz na varanda.
E comecei a sentir falta das pequenas brigas por causa do tempero na
salada – o meu jeito de querer bem. Acaso é saudade, Senhora? Às suas
violetas, não lhes poupei água elas murcham. Não tenho botão na camisa,
calço a meia furada. Que fim levou o saca-rolha? Nenhum de nós sabe, sem a
Senhora, conversar com os outros: bocas raivosas mastigando. Venha para
casa, Senhora.
Textos extraídos do livro "Mistérios de Curitiba, Editora Record - Rio de Janeiro - 1979, págs. 73 e 103.
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1) Qual é o assunto do texto?
______________________________________________________________________________________________________________________________________
2) O autor revela alguns fatos, que gradativamente, foram revelando a ausência da
mulher. Quais?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
3) Há quanto tempo a “Senhora” estava longe de casa? Por quê?
______________________________________________________________________________________________________________________________________
4) O texto focaliza uma casa onde é percebida a ausência de alguém:
a) Quem percebe essa ausência? ________________________________________
5) Quais os objetos que marcam os primeiros dias da ausência da mulher?
___________________________________________________________________
6) Aos poucos a perda da mulher foi constatada.
a) Quais as situações que comprovam isso? ________________________________
b) O texto refere-se ainda ao outro personagem afetado pela ausência da mulher:
Quem é ele? _________________________________________________________
7) O autor revela o seu jeito de querer bem. Em relação a isso, responda?
a) Do que ele sentia falta? ______________________________________________
b) Além da violeta que murchou, quais as outras consequências da ausência da
Senhora? ___________________________________________________________
c) Diante destes fatos o que faz o homem? _________________________________
___________________________________________________________________
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8) No texto, a palavra “ausência” pode ser substituída por:
( ) presença
( ) solidão
( ) falta
( ) comparecimento
9) A frase que expressa uma opinião é:
a) A caso é a saudade, Senhora? ________________________________________
b) Que fim levou o saca-rolha? _________________________________________
c) Nenhum de nós sabe, sem a senhora, conversar com os outros.
___________________________________________________________________
d) Amanhã faz um mês que a senhora está longe de casa. ____________________
10) O texto trata sobre:
a) Um homem triste e solitário.
b) Uma mulher que está ausente de casa.
c) Um homem que embora “forte” sente profundamente a falta de sua companheira.
d) Um homem que não reconhece a falta de sua companheira.
11) “Venha, para casa, Senhora”. O verbo sublinhado:
a) está no indicativo; b) está no imperativo; c) está no subjuntivo.
12) “Fui beber com os amigos, para não dar parte de fraco, mas eles se iam, eu
ficava só”. Quais os termos abstratos que fazem oposição semântica, nos trechos
em destaque?
______________________________________________________________________________________________________________________________________
13) Qual é o tema do texto?
a) A realidade de um rompimento de um relacionamento familiar.
b) A desorganização de um ambiente.
c) A presença de objetos que denunciam a ausência de alguém.
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14) “... bom chegar tarde, esquecido na conversa da esquina”. Este trecho transmite
a ideia de:
a) A liberdade de quebrar a rotina do relacionamento conjugal é positiva.
b) Ficar conversando “na esquina” melhora o relacionamento familiar.
c) O compromisso familiar não é negativo quando vira rotina.
15) Assinale as frases que poderiam justificar a ausência da mulher, a solidão e o
sofrimento do homem, nesse contexto:
a) A mulher em uma viagem muito especial.
b) Um homem apaixonado e cuidadoso de sua amada.
c) Uma morte inesperada da mulher amada.
d) Uma mulher cansada de falar sozinha dentro de casa, diante de um homem
acomodado e inerte.
d) A rotina entre casais intensificam o relacionamento.
16) O autor revela alguns fatos que gradativamente, foram ocorrendo com a
ausência da mulher? Numa sequência enumere-os:
________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
17) O texto apresenta num curto “espaço de tempo” – algumas situações vividas
pelo narrador-personagem que contrapõem, a uma outra dimensão desse mesmo
tempo. Que arbitrariedade é essa?
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
18) A ideia do convívio familiar apresentada pelo texto, revela a realidade familiar
presa a um curso de tempo, que:
a) passa quase sem perceber.
b) um tempo que mais parece ligar-se a uma eternidade.
c) a ausência da mulher e o tempo são incomuns nesta situação.
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19) O narrador fala muito sobre a ausência da Senhora, mas em nenhum momento,
revela o motivo desta ausência. Quais seriam as possíveis causas da separação
entre casais a que se relaciona esse texto?
_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
20) Interprete o trocadilho:
� O tempo eterniza a solidão da ausência de quem amamos, assim com a
indiferença eterniza uma presença.
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21) A triste e constante solidão do homem, talvez fizesse o narrador avaliar a
situação como um mal irremediável, sem volta. Que mal seria esse?
______________________________________________________________________________________________________________________________________
22) A pilha de jornal ficou ali no chão. A palavra sublinhada da ideia de:
a) tempo b) lugar c) modo
23) “... eu ficava só, sem o perdão de sua presença a todas as aflições do dia, como
a última luz na varanda”. O trecho sublinhado transmite a ideia de:
a) consequência b) causa c) comparação
24) O conflito gerador do enredo é revelado pela:
a) ida do marido aos bares.
b) a ausência da mulher.
c) a imagem de relance no espelho.
d) a falta do diálogo entre o casal.
25) O conflito deste enredo e os elementos que constroem a narrativa estão de certa
forma, relacionados ao nosso contexto histórico-social. Descreva-o de acordo com o
seu conhecimento de mundo.
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PAI CONTRA MÃE
Machado de AssisMachado de AssisMachado de AssisMachado de Assis
A escravidão levou consigo ofícios e
aparelhos, como terá sucedido a outras instituições
sociais. Não cito alguns aparelhos senão por se
ligarem a certo ofício. Um deles era o ferro ao
pescoço, outro o ferro ao pé; havia também a máscara
de folha-de-flandres. A máscara fazia perder o vício da
embriaguez aos escravos, por lhes tapar a boca. Tinha
só três buracos, dois para ver, um para respirar, e era
fechada atrás da cabeça por um cadeado. Com o vício
de beber, perdiam a tentação de furtar, porque
geralmente era dos vinténs do senhor que eles tiravam
com que matar a sede, e aí ficavam dois pecados
extintos, e a sobriedade e a honestidade certas. Era
grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana
nem sempre se alcança sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Os funileiros as
tinham penduradas, à venda, na porta das lojas. Mas não cuidemos de máscaras.
O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos fujões. Imaginai uma coleira
grossa, com a haste grossa também, à direita ou à esquerda, até ao alto da cabeça
e fechada atrás com chave. Pesava, naturalmente, mas era menos castigo que sinal.
Escravo que fugia assim, onde quer que andasse, mostrava um reincidente, e com
pouco era pegado.
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Há meio século, os escravos fugiam com frequência. Eram muitos, e nem
todos gostavam da escravidão. Sucedia ocasionalmente apanharem na pancada, e
nem todos gostavam de apanhar pancada. Grande parte era apenas repreendida;
havia alguém de casa que servia de padrinho, e o mesmo dono não era mau; além
disso, o sentimento da propriedade moderava a ação, porque dinheiro também dói.
A fuga repetia-se, entretanto. Casos houve, ainda que raros, em que o escravo de
contrabando, apenas comprado no Valongo, deitava a correr, sem conhecer as ruas
da cidade. Dos que seguiam para casa, não raro, apenas ladinos, pediam ao senhor
que lhes marcasse aluguel, e iam ganhá-lo fora, quitandando.
Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse.
Punha anúncios nas folhas públicas, com os sinais do fugido, o nome, a roupa, o
defeito físico, se o tinha, o bairro por onde andava e a quantia de gratificação.
Quando não vinha a quantia, vinha promessa: "gratificar-se-á generosamente", - ou
"receberá uma boa gratificação". Muita vez o anúncio trazia em cima ou ao lado uma
vinheta, figura de preto, descalço, correndo, vara ao ombro, e na ponta uma trouxa.
Protestava-se com todo o rigor da lei contra quem o acoutasse.
Ora, pegar escravos fugidios era um ofício do tempo. Não seria nobre, mas
por ser instrumento da força com que se mantêm a lei e a propriedade, trazia esta
outra nobreza implícita das ações reivindicadoras. Ninguém se metia em tal ofício
por desfastio ou estudo; a pobreza, a necessidade de uma achega, a inaptidão para
outros trabalhos, o acaso, e alguma vez o gosto de servir também, ainda que por
outra via, davam o impulso ao homem que se sentia bastante rijo para pôr ordem à
desordem.
Cândido Neves, - em família, Candinho, - é a pessoa a quem se liga a
história de uma fuga, cedeu à pobreza, quando adquiriu o ofício de pegar escravos
fugidos. Tinha um defeito grave esse homem, não agüentava emprego nem ofício,
carecia de estabilidade; é o que ele chamava caiporismo. Começou por querer
aprender tipografia, mas viu cedo que era preciso algum tempo para compor bem, e
ainda assim talvez não ganhasse o bastante; foi o que ele disse a si mesmo. O
comércio chamou-lhe a atenção, era carreira boa. Com algum esforço entrou de
caixeiro para um armarinho. A obrigação, porém, de atender e servir a todos feria-o
na corda do orgulho, e ao cabo de cinco ou seis semanas estava na rua por sua
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vontade. Fiel de cartório, contínuo de uma repartição anexa ao Ministério do Império,
carteiro e outros empregos foram deixados pouco depois de obtidos.
Quando veio a paixão da moça Clara, não tinha ele mais que dívidas, ainda
que poucas, porque morava com um primo, entalhador de ofício. Depois de várias
tentativas para obter emprego, resolveu adotar o ofício do primo, de que, aliás, já
tomara algumas lições. Não lhe custou apanhar outras, mas, querendo aprender
depressa, aprendeu mal. Não fazia obras finas nem complicadas, apenas garras
para sofás e relevos comuns para cadeiras. Queria ter em que trabalhar quando
casasse, e o casamento não se demorou muito.
Contava trinta anos. Clara vinte e dois. Ela era órfã, morava com uma tia,
Mônica, e cosia com ela. Não cosia tanto que não namorasse o seu pouco, mas os
namorados apenas queriam matar o tempo; não tinham outro empenho. Passavam
às tardes, olhavam muito para ela, ela para eles, até que a noite a fazia recolher
para a costura. O que ela notava é que nenhum deles lhe deixava saudades nem lhe
acendia desejos. Talvez nem soubesse o nome de muitos. Queria casar,
naturalmente. Era como lhe dizia a tia, um pescar de caniço, a ver se o peixe
pegava, mas o peixe passava de longe; algum que parasse, era só para andar à
roda da isca, mirá-la, cheirá-la, deixá-la e ir a outras.
O amor traz sobrescritos. Quando a moça viu Cândido Neves, sentiu que
era este o possível marido, o marido verdadeiro e único. O encontro deu-se em um
baile; tal foi - para lembrar o primeiro ofício do namorado, - tal foi a página inicial
daquele livro, que tinha de sair mal composto e pior brochado. O casamento fez-se
onze meses depois, e foi a mais bela festa das relações dos noivos. Amigas de
Clara, menos por amizade que por inveja, tentaram arredá-la do passo que ia dar.
Não negavam a gentileza do noivo, nem o amor que lhe tinha, nem ainda algumas
virtudes; diziam que era dado em demasia a patuscadas.
-Pois ainda bem, replicava a noiva; ao menos, não caso com defunto.
-Não, defunto não; mas é que...
Não diziam o que era. Tia Mônica, depois do casamento, na casa pobre
onde eles se foram abrigar, falou-lhes uma vez nos filhos possíveis. Eles queriam
um, um só, embora viesse agravar a necessidade.
-Vocês, se tiverem um filho, morrem de fome, disse a tia à sobrinha.
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- Nossa Senhora nos dará de comer, acudiu Clara.
Tia Mônica devia ter-lhes feito a advertência, ou ameaça, quando ele lhe foi
pedir a mão da moça; mas também ela era amiga de patuscadas, e o casamento
seria uma festa, como foi.
A alegria era comum aos três. O casal ria a propósito de tudo. Os mesmos
nomes eram objeto de trocados, Clara, Neves, Cândido; não davam que comer, mas
davam que rir, e o riso digeria-se sem esforço. Ela cosia agora mais, ele saía a
empreitadas de uma cousa e outra; não tinha emprego certo.
Nem por isso abriam mão do filho. O filho é que, não sabendo daquele
desejo específico, deixava-se estar escondido na eternidade. Um dia, porém, deu
sinal de si a criança; varão ou fêmea era o fruto abençoado que viria trazer ao casal
a suspirada ventura. Tia Mônica ficou desorientada, Cândido e Clara riram dos seus
sustos.
- Deus nos há de ajudar, titia, insistia a futura mãe.
A notícia correu de vizinha a vizinha. Não houve mais que espreitar a aurora
do dia grande. A esposa trabalhava agora com mais vontade, e assim era preciso,
uma vez que, além das costuras pagas, tinha de ir fazendo com retalhos o enxoval
da criança. À força de pensar nela, vivia já com ela, media-lhe fraldas, cosia-lhe
camisas. A porção era escassa, os intervalos longos. Tia Mônica ajudava, é certo,
ainda que de má vontade.
- Vocês verão a triste vida, suspirava ela.
- Mas as outras crianças não nascem também? perguntou Clara.
- Nascem, e acham sempre alguma coisa certa que comer, ainda que
pouco...
-Certa como?
-Certa, um emprego, um ofício, uma ocupação, mas em que é que o pai
dessa infeliz criatura que aí vem gasta o tempo?
Cândido Neves, logo que soube daquela advertência, foi ter com a tia, não
áspero, mas muito menos manso que de costume, e lhe perguntou se já algum dia
deixara de comer.
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- A senhora ainda não jejuou senão pela semana santa, e isso mesmo
quando não quer jantar comigo. Nunca deixamos de ter o nosso bacalhau...
- Bem sei, mas somos três.
- Seremos quatro.
- Não é a mesma coisa.
- Que quer então que eu faça, além do que faço?
- Alguma coisa mais certa. Veja o marceneiro da esquina, o homem do
armarinho, o tipógrafo que casou sábado, todos têm um emprego certo...
Não fique zangado; não digo que você seja vadio, mas a ocupação que
escolheu é vaga. Você passa semanas sem vintém.
- Sim, mas lá vem uma noite que compensa tudo, até de sobra. Deus não me
abandona, e preto fugido sabe que comigo não brinca; quase nenhum resiste,
muitos entregam-se logo.
Tinha glória nisto, falava da esperança como de capital seguro. Daí a pouco
ria, e fazia rir à tia, que era naturalmente alegre, e previa uma patuscada no
batizado.
Cândido Neves perdera já o ofício de entalhador, como abrira mão de
outros muitos, melhores ou piores. Pegar escravos fugidos trouxe-lhe um encanto
novo. Não obrigava a estar longas horas sentado. Só exigia força, olho vivo,
paciência, coragem e um pedaço de corda. Cândido Neves lia os anúncios, copiava-
os, metia-os no bolso e saía às pesquisas. Tinha boa memória. Fixados os sinais e
os costumes de um escravo fugido, gastava pouco tempo em achá-lo, segurá-lo,
amarrá-lo e levá-lo. A força era muita, a agilidade também. Mais de uma vez, a uma
esquina, conversando de cousas remotas, via passar um escravo como os outros, e
descobria logo que ia fugido, quem era, o nome, o dono, a casa deste e a
gratificação; interrompia a conversa e ia atrás do vicioso. Não o apanhava logo,
espreitava lugar azado, e de um salto tinha a gratificação nas mãos. Nem sempre
saía sem sangue, as unhas e os dentes do outro trabalhavam, mas geralmente ele
os vencia sem o menor arranhão.
Um dia os lucros entraram a escassear. Os escravos fugidos não vinham já,
como dantes, meter-se nas mãos de Cândido Neves. Havia mãos novas e hábeis.
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Como o negócio crescesse, mais de um desempregado pegou em si e numa corda,
foi aos jornais, copiou anúncios e deitou-se à caçada. No próprio bairro havia mais
de um competidor. Quer dizer que as dívidas de Cândido Neves começaram de
subir, sem aqueles pagamentos prontos ou quase prontos dos primeiros tempos. A
vida fez-se difícil e dura. Comia-se fiado e mal; comia-se tarde. O senhorio mandava
pelo aluguéis.
Clara não tinha sequer tempo de remendar a roupa ao marido, tanta era a
necessidade de coser para fora. Tia Mônica ajudava a sobrinha, naturalmente.
Quando ele chegava à tarde, via-se-lhe pela cara que não trazia vintém. Jantava e
saía outra vez, à cata de algum fugido. Já lhe sucedia, ainda que raro, enganar-se
de pessoa, e pegar em escravo fiel que ia a serviço de seu senhor; tal era a cegueira
da necessidade. Certa vez capturou um preto livre; desfez-se em desculpas, mas
recebeu grande soma de murros que lhe deram os parentes do homem.
- É o que lhe faltava! Exclamou a tia Mônica, ao vê-lo entrar, e depois de
ouvir narrar o equívoco e suas consequências. Deixe-se disso, Candinho; procure
outra vida, outro emprego.
Cândido quisera efetivamente fazer outra coisa, não pela razão do conselho,
mas por simples gosto de trocar de ofício; seria um modo de mudar de pele ou de
pessoa. O pior é que não achava à mão negócio que aprendesse depressa.
A natureza ia andando, o feto crescia, até fazer-se pesado à mãe, antes de
nascer. Chegou o oitavo mês, mês de angústias e necessidades, menos ainda que o
nono, cuja narração dispenso também. Melhor é dizer somente os seus efeitos. Não
podiam ser mais amargos.
- Não, tia Mônica! bradou Candinho, recusando um conselho que me custa
escrever, quanto mais ao pai ouvi-lo. Isso nunca!
Foi na última semana do derradeiro mês que a tia Mônica deu ao casal o
conselho de levar a criança que nascesse à Roda dos enjeitados. Em verdade, não
podia haver palavra mais dura de tolerar a dois jovens pais que espreitavam a
criança, para beijá-la, guardá-la, vê-la rir, crescer, engordar, pular... Enjeitar quê?
Enjeitar como? Candinho arregalou os olhos para a tia, e acabou dando um murro
na mesa de jantar. A mesa, que era velha e desconjuntada, esteve quase a se
desfazer inteiramente. Clara interveio.
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- Titia não fala por mal, Candinho.
- Por mal? Replicou tia Mônica. Por mal ou por bem, seja o que for, digo que
é o melhor que vocês podem fazer. Vocês devem tudo; a carne e o feijão vão
faltando. Se não aparecer algum dinheiro, como é que a família há de aumentar? E
depois, há tempo; mais tarde, quando o senhor tiver a vida mais segura, os filhos
que vierem serão recebidos com o mesmo cuidado que este ou maior. Este será
bem criado, sem lhe faltar nada. Pois então a Roda é alguma praia ou monturo? Lá
não se mata ninguém, ninguém morre à toa, enquanto que aqui é certo morrer, se
viver à míngua. Enfim...
Tia Mônica terminou a frase com um gesto de ombros, deu as costas e foi
meter-se na alcova. Tinha já insinuado aquela solução, mas era a primeira vez que o
fazia com tal franqueza e calor, - crueldade, se preferes. Clara estendeu a mão ao
marido, como a amparar-lhe o ânimo; Cândido Neves fez uma careta, e chamou
maluca à tia, em voz baixa. A ternura dos dois foi interrompida por alguém que batia
à porta da rua.
- Quem é? perguntou o marido
- Sou eu.
Era o dono da casa, credor de três meses de aluguel, que vinha em
pessoa ameaçar o inquilino. Este quis que ele entrasse.
- Não é preciso...
- Faça favor.
O credor entrou e recusou sentar-se, deitou os olhos à mobília para ver se
daria algo à penhora; achou que pouco. Vinha receber os aluguéis vencidos, não
podia esperar mais; se dentro de cinco dias não fosse pago, pô-lo-ia na rua. Não
havia trabalhado para regalo dos outros. Ao vê-lo, ninguém diria que era proprietário;
mas a palavra supria o que faltava ao gesto, e o pobre Cândido Neves preferiu calar
a retorquir. Fez uma inclinação de promessa e súplica ao mesmo tempo. O dono da
casa não cedeu mais.
- Cinco dias ou rua! repetiu, metendo a mão no ferrolho da porta e saindo.
Candinho saiu por outro lado. Nesses lances não chegava nunca ao
desespero, contava com algum empréstimo, não sabia como nem onde, mas
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contava. Demais, recorreu aos anúncios. Achou vários, alguns já velhos, mas em
vão os buscava desde muito. Gastou algumas horas sem proveito, e tornou para
casa. Ao fim de quatro dias, não achou recursos; lançou mão de empenhos, foi a
pessoas amigas do proprietário, não alcançando mais que a ordem de mudança.
A situação era aguda. Não achavam casa, nem contavam com pessoa que
lhes emprestasse alguma; era ir para a rua. Não contavam com a tia. Tia Mônica
teve arte de alcançar aposento para os três em casa de uma senhora velha e rica,
que lhe prometeu emprestar os quartos baixos da casa, ao fundo da cocheira, para
os lados de um pátio. Teve ainda a arte maior de não dizer nada aos dois, para que
Cândido Neves, no desespero da crise começasse por enjeitar o filho e acabasse
alcançando algum meio seguro e regular de obter dinheiro; emendar a vida, em
suma. Ouvia as queixas de Clara, sem as repetir, é certo, mas sem as consolar. No
dia em que fossem obrigados a deixar a casa, fá-los-ia espantar com a notícia do
obséquio e iriam dormir melhor do que cuidassem.
Assim sucedeu. Postos fora da casa, passaram ao aposento de favor, e dois
dias depois nasceu a criança. A alegria do pai foi enorme, e a tristeza também. Tia
Mônica insistiu em dar a criança à Roda. "Se você não a quer levar, deixe isso
comigo; eu vou à Rua dos Barbonos." Cândido Neves pediu que não, que
esperasse, que ele mesmo a levaria. Notai que era um menino, e que ambos os pais
desejavam justamente este sexo. Mal lhe deram algum leite; mas, como chovesse à
noite, assentou o pai levá-lo à Roda na noite seguinte.
Naquela reviu todas as suas notas de escravos fugidos. As gratificações
pela maior parte eram promessas; algumas traziam a soma escrita e escassa. Uma,
porém, subia a cem mil-réis. Tratava-se de uma mulata; vinham indicações de gesto
e de vestido. Cândido Neves andara a pesquisá-la sem melhor fortuna, e abrira mão
do negócio; imaginou que algum amante da escrava a houvesse recolhido. Agora,
porém, a vista nova da quantia e a necessidade dela animaram Cândido Neves a
fazer um grande esforço derradeiro. Saiu de manhã a ver e indagar pela Rua e
Largo da Carioca, Rua do Parto e da Ajuda, onde ela parecia andar, segundo o
anúncio. Não a achou; apenas um farmacêutico da Rua da Ajuda se lembrava de ter
vendido uma onça de qualquer droga, três dias antes, à pessoa que tinha os sinais
indicados. Cândido Neves parecia falar como dono da escrava, e agradeceu
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cortesmente a notícia. Não foi mais feliz com outros fugidos de gratificação incerta
ou barata.
Voltou para a triste casa que lhe haviam emprestado. Tia Mônica arranjara
de si mesma a dieta para a recente mãe, e tinha já o menino para ser levado à
Roda. O pai, não obstante o acordo feito, mal pôde esconder a dor do espetáculo.
Não quis comer o que tia Mônica lhe guardara; não tinha fome, disse, e era verdade.
Cogitou mil modos de ficar com o filho; nenhum prestava. Não podia esquecer o
próprio albergue em que vivia. Consultou a mulher, que se mostrou resignada. Tia
Mônica pintara-lhe a criação do menino; seria maior a miséria, podendo suceder que
o filho achasse a morte sem recurso. Cândido Neves foi obrigado a cumprir a
promessa; pediu à mulher que desse ao filho o resto do leite que ele beberia da
mãe. Assim se fez; o pequeno adormeceu, o pai pegou dele, e saiu na direção da
Rua dos Barbonos.
Que pensasse mais de uma vez em voltar para casa com ele, é certo; não
menos certo é que o agasalhava muito, que o beijava, que cobria o rosto para
preservá-lo do sereno. Ao entrar na Rua da Guarda Velha, Cândido Neves começou
a afrouxar o passo.
- Hei de entregá-lo o mais tarde que puder, murmurou ele.
Mas não sendo a rua infinita ou sequer longa, viria a acabá-la; foi então que
lhe ocorreu entrar por um dos becos que ligavam aquela à Rua da Ajuda. Chegou ao
fim do beco e, indo a dobrar à direita, na direção do Largo da Ajuda, viu do lado
oposto um vulto de mulher; era a mulata fugida. Não dou aqui a comoção de
Cândido Neves por não podê-lo fazer com a intensidade real. Um adjetivo basta;
digamos enorme. Descendo a mulher, desceu ele também; a poucos passos estava
a farmácia onde obtivera a informação, que referi acima. Entrou, achou o
farmacêutico, pediu-lhe a fineza de guardar a criança por um instante; viria buscá-la
sem falta.
- Mas...
Cândido Neves não lhe deu tempo de dizer nada; saiu rápido, atravessou a
rua, até ao ponto em que pudesse pegar a mulher sem dar alarma. No extremo da
rua, quando ela ia a descer a de S. José, Cândido Neves aproximou-se dela. Era a
mesma, era a mulata fujona.
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-Arminda! bradou, conforme a nomeava o anúncio.
Arminda voltou-se sem cuidar malícia. Foi só quando ele, tendo tirado o
pedaço de corda da algibeira, pegou dos braços da escrava, que ela compreendeu e
quis fugir. Era já impossível. Cândido Neves, com as mãos robustas, atava-lhe os
pulsos e dizia que andasse. A escrava quis gritar, parece que chegou a soltar
alguma voz mais alta que de costume, mas entendeu logo que ninguém viria libertá-
la, ao contrário. Pediu então que a soltasse pelo amor de Deus.
- Estou grávida, meu senhor! exclamou. Se Vossa Senhoria tem algum filho,
peço-lhe por amor dele que me solte; eu serei tua escrava, vou servi-lo pelo tempo
que quiser. Me solte, meu senhor moço!
- Siga! repetiu Cândido Neves.
- Me solte!
-Não quero demoras; siga! Houve aqui luta, porque a escrava, gemendo,
arrastava-se a si e ao filho. Quem passava ou estava à porta de uma loja,
compreendia o que era e naturalmente não acudia. Arminda ia alegando que o
senhor era muito mau, e provavelmente a castigaria com açoites, - coisa que, no
estado em que ela estava, seria pior de sentir. Com certeza, ele lhe mandaria dar
açoites.
- Você é que tem culpa. Quem lhe manda fazer filhos e fugir depois?
Perguntou Cândido Neves.
Não estava em maré de riso, por causa do filho que lá ficara na farmácia, à
espera dele. Também é certo que não costumava dizer grandes cousas. Foi
arrastando a escrava pela Rua dos Ourives, em direção à da Alfândega, onde
residia o senhor. Na esquina desta a luta cresceu; a escrava pôs os pés à parede,
recuou com grande esforço, inutilmente. O que alcançou foi, apesar de ser a casa
próxima, gastar mais tempo em lá chegar do que devera. Chegou, enfim, arrastada,
desesperada, arquejando. Ainda ali ajoelhou-se, mas em vão. O senhor estava em
casa, acudiu ao chamado e ao rumor.
- Aqui está a fujona, disse Cândido Neves.
- É ela mesma.
- Meu senhor!
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- Anda, entra...
Arminda caiu no corredor. Ali mesmo o senhor da escrava abriu a carteira e
tirou os cem mil-réis de gratificação. Cândido Neves guardou as duas notas de
cinqüenta mil-réis, enquanto o senhor novamente dizia à escrava que entrasse. No
chão, onde jazia, levada do medo e da dor, e após algum tempo de luta a escrava
abortou.
O fruto de algum tempo entrou sem vida neste mundo, entre os gemidos da
mãe e os gestos de desespero do dono. Cândido Neves viu todo esse espetáculo.
Não sabia que horas eram. Quaisquer que fossem, urgia correr à Rua da Ajuda, e foi
o que ele fez sem querer conhecer as conseqüências do desastre.
Quando lá chegou, viu o farmacêutico sozinho, sem o filho que lhe
entregara. Quis esganá-lo. Felizmente, o farmacêutico explicou tudo a tempo; o
menino estava lá dentro com a família, e ambos entraram. O pai recebeu o filho com
a mesma fúria com que pegara a escrava fujona de há pouco, fúria diversa,
naturalmente, fúria de amor. Agradeceu depressa e mal, e saiu às carreiras, não
para a Roda dos enjeitados, mas para a casa de empréstimo com o filho e os cem
mil-réis de gratificação. Tia Mônica, ouvida a explicação, perdoou a volta do
pequeno, uma vez que trazia os cem mil-réis. Disse, é verdade, algumas palavras
duras contra a escrava, por causa do aborto, além da fuga. Cândido Neves, beijando
o filho, entre lágrimas, verdadeiras, abençoava a fuga e não se lhe dava do aborto.
- Nem todas as crianças vingam, bateu-lhe o coração.
MORICONI, Ítalo. Os cem melhores contos brasileiros do século. 1ª ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
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1) O texto “Pai contra mãe”, trata de:
a) Dificuldades que os Senhores tinham em relação aos escravos.
b) Os maus-tratos recebidos pelos escravos eram aceitos com passividade.
c) Muitos escravos fugiam, mas havia quem os capturassem.
2) O conto em si relata :
a) As dificuldades de um rapaz, para se arranjar profissionalmente.
b) A preocupação exagerada da tia em reação à sobrinha.
c) As durezas no tempo da escravidão.
3) Na frase: A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos. Quais eram os ofícios e
aparelhos?
______________________________________________________________________________________________________________________________________
4) Com relação ao texto é correto afirmar:
a) A sobriedade e honestidade eram frutos dos pequenos furtos realizados.
b) Sucediam ocasionalmente apanharem pancada.
c) A máscara não fazia perder o vício da embriaguês.
5) Há meio século, os escravos fugiam com frequência. O termo em destaque
significa:
a) sempre b) às vezes c) de vez em quando
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6) Ao afirmar: Sem vinténs fincavam dois pecados extintos. Quais eram esses
pecados?
______________________________________________________________________________________________________________________________________
7) - ... ”e era fechada atrás da cabeça por um cadeado”. O termo sublinhado
transmite ideia de:
a) tempo b) lugar c) modo
8) Quando não vinha a quantia, vinha a promessa: gratificar-se-á generosamente”...
Os termos destacados indicam respectivamente:
a) tempo e modo b) lugar e tempo c) modo e tempo
9) Identifique a relação de causa e consequência, no seguinte trecho: “Os escravos
fugiam com frequência. Eram muitos, e nem todos gostavam da escravidão”.
Causa: _____________________________________________________________
Consequência: _______________________________________________________
10) Era grotesca tal máscara, mas a ordem social e humana nem sempre se alcança
sem o grotesco, e alguma vez o cruel. Este trecho revela:
a) eufemismo b) ironia c) antítese
11) No trecho: O comércio chamou-lhe atenção, era carreira boa. O termo
sublinhado refere-se:
a) ao comércio
b) à carreira
c) aquele que pretendia um ofício.
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12) Identifique nos trechos abaixo, em qual deles aparece a ironia.
a) ... já os ofícios, além de funileiros que fabricavam máscaras, havia entre eles, o
caçador de escravos.
b) A escravidão levou consigo ofícios e aparelhos.
c) O ferro ao pescoço era aplicado aos escravos feijões.
13) Em qual dos trechos a seguir, há uma relação causa e consequência.
a) “como o negócio crescesse, mais de um desempregado pegou em si e numa
corda, foi aos jornais, copiou os anúncios e deitou-se à caçada”.
b) Cândido Neves lia os anúncios, copiava-os e metia-os no bolso.
c) Um dia os lucros entraram a escassear.
14) Quando veio a paixão, Candinho resolveu adotar o ofício do primo, mas
aprendeu mal ... Os verbos sublinhados:
a) estão no indicativo b) estão no imperativo c) estão no futuro
15) ... mas os namorados apenas queriam matar o tempo; não tinham outro
empenho. A expressão sublinhada é uma figura de linguagem:
a) metonímia b) metáfora c) catacrese
16) O encontro de Clara com Candinho deu-se em um baile. Esta expressão refere-
se:
a) um tempo b) um lugar c) um modo
17) “Amigas de Clara, menos por amizade que por inveja, tentaram arredá-la do
passo que ida dar”. Esse trecho do texto indica que:
a) As amigas de Clara eram apenas invejosas.
b) A amizade delas era verdadeira.
c) A amizade é sempre maior que a inveja.
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d) Uma comparação entre o grau de amizade e inveja.
18) Dada a instabilidade do ofício do marido, Clara acreditava que se tivesse um
filho...
a) Não morreria de fome, Candinho era trabalhador.
b) Não faltaria escravos para serem recapturados.
c) A providência divina não falharia.
19) “... Tinha glória nisto, falava da esperança como capital seguro. A frase
sublinhada transmite ideia de:
a) finalidade b) consequência c) comparação
20) Não querendo colocar seu filho no orfanato e vencidos os alugueis, comida
escassa, Candinho espreitava um fugitivo. Esta situação vivida por este personagem
deste conto, também está relacionada aos dias atuais. Comente-a e apresente
algum fato concreto.
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
21) Cândido Neves não teve piedade da escrava, quando esta, alegou que estava
grávida, por que:
a) Havia aumentado o desemprego e o número de caçadores a despertar escravos
fujões.
b) Arminda havia fugido e tinha que ser capturada.
c) Para Candinho o drama maior seria entregar seu filho na “Roda dos enjeitados”.
22) Arminda voltou-se cuidar Malícia. Nesta frase, entende-se que Arminda deu
atenção ao caçador de escravos porque:
a) Era uma escrava ingênua.
b) Não sabia o risco que corria.
c) Foi pega de surpresa.
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23) “Se Vossa Senhoria tem algum filho, peço-lhe que pelo amor a ele, me solte”. Os
termos sublinhados referem-se respectivamente:
a) À Arminda e Candinho.
b) Ao Candinho e Arminda.
c) Apenas ao Candinho.
d) Apena à Arminda.
24) “O trágico descaso de Candinho e de todos para com o aborto de Arminda”; está
relacionada a:
a) A pobreza extrema de Arminda.
b) A crueldade de Candinho.
c) A crueldade do sistema escravista.
d) A denúncia do sistema escravista numa linguagem irônica.
25) “A escrava quis gritar, parece que chegou a soltar alguma voz mais alta que de
costuma, mas entendeu logo que ninguém viria libertá-la, ao contrário”. A expressão
sublinhada pode ser substituída por:
a) portanto b) imediatamente c) calmamente
26) “O pai o filho com a mesma fúria com que pegara a escrava fujona”. Explique os
sentidos da palavra fúria nos dois momentos distintos, neste contexto:
_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
27) Alega, também, que seu dono é mau, sendo certo que irá açoitá-la. O termo
sublinhado indica que:
a) Esta é a justificativa mais forte de Arminda.
b) Arminda estava apenas com medo de seu dono.
c) Arminda já havia pedido a Candinha que se tivesse um filho, a soltasse por amor
a ele.
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28) Em relação ao texto, assinale as alternativas corretas:
a) Quem perdia um escravo por fuga dava algum dinheiro a quem lho levasse.
b) Candinho sempre dava preferência aos ofícios que não fosse ligados a escravos
fugidos.
c) A tia Monica aconselhava aos sobrinhos que não levassem o recém-nascido à
Rua dos Enjeitados.
d) Cândido Neves experimentou vários ofícios, mas não firmou-se em nenhum.
29) Releia as frases e comente-as, além de seu contexto, num contexto real:
a) “O fruto de algum tempo entrou sem vida neste mundo”.
______________________________________________________________________________________________________________________________________
b) “e foi feito o que fez, sem querer conhecer as consequências do desastre”.
______________________________________________________________________________________________________________________________________
c) “Nem todas as crianças vingam, bateu-lhe o coração”.
______________________________________________________________________________________________________________________________________