dissertmestrado embargo 11 jul 2015.pdf
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Outubro de 2014
Sobrecarga dos familiares que coabitam com a pessoa
com esquizofrenia
Maria João Almeida
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Outubro de 2014
Sobrecarga dos familiares que coabitam com a pessoa
com esquizofrenia
Maria João Almeida
Mestrado de Educação para a Saúde
Trabalho efetuado sob a orientação de
Professora Doutora Lídia do Rosário Cabral
Professor Doutor João Carvalho Duarte
“Ganhamos força, coragem e confiança em cada experiência em que
verdadeiramente paramos para enfrentar o medo”.
Eleanor Roosevelt
Agradecimentos Para a realização desta pesquisa, tive o privilégio de contar com a colaboração de
muitas pessoas, a quem desejo expressar os meus mais sinceros agradecimentos.
Em primeiro lugar, quero agradecer aos meus orientadores, Professora Doutora Lídia
Cabral e Professor Doutor João Carvalho Duarte, pela orientação, disponibilidade e
compreensão pelos momentos mais difíceis.
À Srª Enf. Chefe do Serviço de Psiquiatria e Saúde Mental da Consulta Externa,
Manuela Cordeiro, pelo carinho e disponibilidade dos recursos existentes e pela partilha da
sua experiência profissional e académica.
Aos familiares das pessoas com esquizofrenia e às próprias pessoas com
esquizofrenia.
A uma amiga especial, Filomena, pelo otimismo e persistência, pelo apoio nos
momentos mais difíceis em que me vi quase a desistir.
Por fim, quero agradecer aos meus pais, pilares fundamentais que me apoiaram
incondicionalmente na concretização deste mestrado nesta fase da minha vida.
A todos, o meu profundo agradecimento.
Resumo
Enquadramento - A família/cuidador informal sente várias dificuldades no cuidar o familiar com
esquizofrenia, nas atividades da vida diária, as mudanças ocorridas na rotina, a diminuição do lazer,
os problemas de saúde, as preocupações, o medo de adoecer, a obrigatoriedade do cuidado, o custo
do tratamento, os aspetos financeiros e as expectativas em relação ao futuro, fatores que se
constituem como sobrecarga para os cuidadores. O conhecimento desta realidade é indispensável
para melhorar a qualidade dos cuidados prestados.
Objetivo - Objetivou-se, com este estudo, avaliar a sobrecarga dos familiares que coabitam com a
pessoa com esquizofrenia; analisar em que medida as variáveis sociodemográficas, clínicas e
contextuais interferem na sobrecarga dos familiares; analisar a relação entre estado depressivo e a
sobrecarga dos familiares que coabitam com a pessoa com esquizofrenia.
Material e Método - Para a obtenção dos objectivos de investigação delineados, optou-se pelo tipo
de investigação quantitativa e não experimental, com corte transversal, descritiva e correlacional. A
recolha de informação foi realizada através de questionários: questionário de caraterização
sociodemográfica; Inventário de Depressão de Beck (BDI – Beck Depression Inventory); Escala de
sobrecarga do cuidador de Zarit.
Resultados – A variável género interferiu significativamente no impacto da prestação de cuidados,
bem como a variável grau de parentesco com o doente esquizofrénico, nomeadamente foram os
familiares não diretos do doente com esquizofrenia revelam médias mais elevadas na perceção de
autoeficácia. A variável sociodemográfica idade do doente com esquizofrenia interferiu na sobrecarga
dos seus cuidadores, mais concretamente ao nível do impacto da prestação de cuidados e na
sobrecarga global. A variável género do doente com esquizofrenia interferiu estatisticamente na
sobrecarga do seu familiar cuidador, mais concretamente no impacto da prestação de cuidados.
Houve uma correlação estatisticamente significativa entre a sintomatologia depressiva e a sobrecarga
dos familiares que coabitam com a pessoa com esquizofrenia.
Conclusão – Cuidar de um familiar com esquizofrenia causa sobrecarga física e emocional ao
cuidador informal. Os enfermeiros devem ajudar na resolução de conflitos que surgem da convivência
com um familiar esquizofrénico; auxiliar os familiares a reduzir a sua ansiedade; dar-lhe condições
para lutar contra as forças destrutivas que podem aumentar a sua sobrecarga; fortalecer a família
contra perturbações críticas e fomentar a identidade familiar e os seus valores próprios, no sentido de
ajudar os familiares na prestação de cuidados.
Palavras-chave: Pessoa esquizofrénica; família/cuidador informal; sobrecarga.
Abstract
Background - The family / informal caregiver feels several difficulties in caring family with
schizophrenia, in activities of daily living, changes in routine, decreased leisure, health issues,
concerns, fear of illness, the mandatory care, treatment costs, financial aspects and expectations
about the future, factors that constitute as burden on caregivers. The knowledge of this is essential to
improve the quality of care.
Objective - The objective of this study was to assess the burden on family members who live with the
person with schizophrenia; analyze the extent to which sociodemographic, clinical and contextual
variables influence the burden of family; examine the relationship between depressive state and the
burden on family members who live with the person with schizophrenia.
Methods - To obtain the objectives outlined research, we chose the type of quantitative and non-
experimental research with cross sectional, descriptive and correlational court. The information
collection was conducted through questionnaires: characterization of sociodemographic questionnaire;
Beck Depression Inventory (BDI - Beck Depression Inventory); Scale of the Zarit caregiver burden.
Results - The gender variable significant in impact of caregiving, as well as the variable degree of
kinship with the schizophrenic patient, in particular were not direct relatives of patients with
schizophrenia showed higher average in perception of Self-efficacy. The socio-demographic variable
age of the patient with schizophrenia interfered with the overload of their caregivers, more specifically
the level of impact of care and the global burden. The variable gender of the patient with
schizophrenia interfered statistically overload in family caregivers, specifically in impact of caregiving.
There was a statistically significant correlation between depressive symptoms and the burden on
family members who live with the person with schizophrenia.
Conclusion - Caring for a relative with schizophrenia causes physical and emotional to the informal
caregiver burden. Nurses must help resolve conflicts that arise from living with a schizophrenic family;
assist families to reduce their anxiety; give you conditions to fight against the destructive forces that
can increase your overhead; strengthen the family against criticism disorders and foster family identity
and their own values, to help the family in providing care.
Keywords: Schizophrenic Person; family / informal caregiver; overload.
Índice Geral
Introdução ........................................................................................................................... 17
I Parte - Enquadramento Teórico
1.Esquizofrenia: definição .................................................................................................... 23
1.1. Sintomatologia ........................................................................................................... 23
1.1.1. Comparação entre CID-10 e DSM-IV-TR ............................................................. 25
1.2. Epidemiologia ............................................................................................................ 27
1.3. Psicopatologia ........................................................................................................... 29
1.4. Diagnóstico ................................................................................................................ 33
2. Cuidador Informal ........................................................................................................... 35
2.1. Funções e perfil do cuidador ...................................................................................... 37
2.2. Sobrecarga do cuidador informal do doente com esquizofrenia ................................. 39
II Parte - Investigação Empírica
1. Metodologia ..................................................................................................................... 47
1.1. Métodos ..................................................................................................................... 47
1.2. Participantes ............................................................................................................... 51
1.2.1. Caracterização sociodemográfica da amostra ...................................................... 51
1.3. Instrumentos ............................................................................................................... 53
1.3.1. Questionário .......................................................................................................... 53
1.3.2 Inventários e escala ............................................................................................... 54
1.4. Análise dos dados ..................................................................................................... 62
2. Resultados ....................................................................................................................... 65
2.1. Análise Descritiva ....................................................................................................... 65
2.2.1. Variáveis clínicas da pessoa com esquizofrenia .................................................... 65
2.1.2. Sintomatologia depressiva do cuidador informal .................................................... 67
2.2. Análise inferencial....................................................................................................... 71
2.2.1. Variáveis sociodemográficas dos familiares de pessoas com esquizofrenia e
sobrecarga ...................................................................................................................... 71
2.2.2. Variáveis clínicas (tipo de esquizofrenia, patologia noutros membros da família) na
sobrecarga dos familiares de pessoas com esquizofrenia ............................................... 73
3. Discussão ....................................................................................................................... 77
Conclusão ........................................................................................................................... 85
Bibliografia ........................................................................................................................... 89
Anexos ................................................................................................................................ 93
Índice de Quadros
Quadro 1. Critérios de diagnóstico para o tipo paranóide ................................................... 30
Quadro 2. Critérios de diagnóstico para o tipo desorganizado ............................................ 31
Quadro 3. Critérios de diagnóstico para o tipo catatónico ................................................... 31
Quadro 4. Critérios de diagnóstico para o tipo indiferenciado .............................................. 32
Quadro 5. Critérios de diagnóstico para o tipo residual ....................................................... 33
Quadro 6. Critérios de diagnóstico para esquizofrenia ........................................................ 35
Quadro 7 − Inventário de Depressão de Beck estudo da consistência interna .................... 55
Quadro 8 – Estatísticas e Valores Correlacionais da Escala de Sobrecarga do Cuidador .. 58
Quadro 9 – Consistência interna por subescalas da escala sobrecarga do cuidador .......... 60
Quadro 10 – Valores de alfa de conbach para as subescalas da sobrecarga do cuidador e
valor global ......................................................................................................................... 61
Quadro 11 - Matriz de Correlação de Pearson entre subescalas da sobrecarga do cuidador
............................................................................................................................................ 61
Quadro 12 - Correlação dos itens com as subescalas da sobrecarga do cuidador ............. 62
Índice de Tabelas
Tabela 1 - Género em função da idade ................................................................................ 51
Tabela 2 - Género em função do estado civil ...................................................................... 52
Tabela 3 – Habilitações académicas em função do género ................................................ 52
Tabela 4 – Grau de parentesco com o doente em função do género .................................. 53
Tabela 5 – Tipo de esquizofrenia em função do género ...................................................... 65
Tabela 6 – Tempo de diagnóstico em função do género ..................................................... 66
Tabela 7 – Idade do doente com esquizofrenia em função do género ................................ 66
Tabela 8 – Coabitação em função do género da pessoa com esquizofrenia ....................... 66
Tabela 9 - Estatísticas relativas à sintomatologia depressiva .............................................. 67
Tabela 10 - Distribuição dos inquiridos segundo os sintomas depressivos e o género ....... 67
Tabela 11 - Distribuição dos inquiridos segundo os sintomas depressivos e a idade .......... 68
Tabela 12 – Distribuição dos inquiridos segundo os sintomas depressivos e o género ....... 68
Tabela 13 - Distribuição dos inquiridos segundo os sintomas depressivos e a idade .......... 69
Tabela 14 - Distribuição dos inquiridos segundo os sintomas depressivos e o estado civil . 69
Tabela 15 - Distribuição dos inquiridos segundo os sintomas depressivos e as habilitações
académicas ........................................................................................................................ 70
Tabela 16 - Distribuição dos inquiridos segundo os sintomas depressivos e o grau de
parentesco .......................................................................................................................... 70
Tabela 17 - Distribuição dos inquiridos segundo os sintomas depressivos e a sobrecarga .. 71
Tabela 18 - Testes U de Mann-Whitney relacionando o género e a idade com a sobrecarga
............................................................................................................................................ 72
Tabela 19 – Teste t de student relacionado o estado civil e a sobrecarga .......................... 72
Tabela 20 - Teste ANOVA relacionando as habilitações académicas e a sobrecarga.......... 73
Tabela 21 - Teste U de Mann-Whitney o grau de parentesco com o doente e a sobrecarga 73
Tabela 22 - Testes U de Mann-Whitney relacionando as variáveis clínicas com a sobrecarga
............................................................................................................................................ 74
Tabela 23 - Testes U de Mann-Whitney relacionando as variáveis sociodemográficas do
doente com esquizofrenia e sobrecarga .............................................................................. 75
Tabela 24 - Correlação relacionando a sobrecarga e suas dimensões com a depressão .... 76
17
Introdução
A esquizofrenia é um transtorno de evolução crónica, que se carateriza pela
desorganização dos processos mentais e marcado por forte estigma. Por norma, a idade do
início do transtorno varia entre os 15-20 anos para os homens e entre os 20-25 anos para as
mulheres. Os sintomas são classificados de positivo de acordo com a presença de delírios,
alucinações e desorganização do pensamento e da conduta; negativos concernentes às
alterações do afeto, perdas cognitivas, avolição e anedonia. Apesar da existência de
características hereditárias genéticas que contribuem para o aparecimento do transtorno,
esse fator não é determinante. Não existe uma causa específica e o seu tratamento deve
envolver o cuidado contínuo associado à psicoterapia e à terapêutica medicamentosa.
A tarefa de cuidar de um familiar com esquizofrenia pode produzir uma sobrecarga
intensa que acaba por comprometer a saúde, a vida social, a relação com outros membros
da família, o lazer, a disponibilidade financeira, a rotina doméstica, o desempenho
profissional e inúmeros outros aspetos da vida familiar e pessoal (Imaginário, 2004). Em
conformidade com a mesma autora, os cuidadores principais realizam tarefas muito
variadas, que vão desde a vigilância e acompanhamento até à administração de medicação
e a prestação direta de cuidados “quase profissionais”, tratando-se de tarefas que se
desenvolvem num horário ininterrupto, sem limite de tempo. Frequentemente, são
realizadas em simultâneo com outras.
Cuidar é uma noção familiar e quotidiana difícil de definir. Abarca diferentes
dimensões, elementos e componentes que são interpretáveis de diversas formas. É uma
forma de relação que inclui experiências que requerem uma relação em que a dedicação é
imprescindível. São várias as tensões que os membros de uma família podem sofrer
perante a prestação de cuidados ao familiar com esquizofrenia, entre elas, o acréscimo de
responsabilidades, o que pode conduzir à modificação dos papéis de cada membro,
podendo mesmo haver a necessidade de iniciar novas aptidões, a sobrecarga, pela
disponibilidade incondicional, que é dada à pessoa com esquizofrenia, conduz a um
condicionalismo das relações sociais por parte do familiar cuidador (Filho, Sousa, Parente &
Martins, 2010). Os mesmos autores referem que os efeitos da esquizofrenia podem ser
devastadores para os cuidadores informais, surgindo, assim, o termo “sobrecarga familiar”
que se fundamenta no impacte causado pela presença do familiar com essa patologia sobre
o ambiente familiar, o que abarca os aspetos económicos, práticos e emocionais a que se
encontram submetidos os familiares que prestam cuidados necessários e exigidos pelo
doente.
18
A família pode demonstrar um sentimento de culpa pelas dificuldades que enfrenta
pelo seu familiar com esquizofrenia e também apresentar ansiedade por não saber, nas
suas ações, como lidar com alguns comportamentos do familiar, como as dificuldades de
interação com o ambiente social, que envolve dimensões como a ansiedade muito intensa,
estado de stresse elevado, fobia social e situações sociais e emocionais intensas. Surge,
ainda, a insegurança quanto ao melhor modo possível de cuidar do mesmo (Pegoraro &
Caldana, 2006).
A esquizofrenia é uma patologia crónica complexa que pode levar a pessoa afetada
à dependência e à desorganização, resultando numa elevada sobrecarga objetiva e
subjetiva para os familiares cuidadores. O cuidado intenso e contínuo torna-se numa
sobrecarga para os cuidadores, evidenciando a necessidade de um trabalho contextualizado
com a realidade das famílias, onde lhes seja concedido um espaço para exteriorizarem os
seus conflitos emocionais, situações de crise e dúvidas, para que possam possuir um
suporte psicológico que lhes permita enfrentar as adversidades que surgem no cuidado
quotidiano com o familiar com esquizofrenia (Filho et al., 2010).
Com base no exposto, surgiram as seguintes questões de partida:
Que fatores influenciam a sobrecarga dos familiares que coabitam com a pessoa
com esquizofrenia?
Que variáveis sociodemográficas, clínicas e contextuais ao cuidador interferem na
sobrecarga dos familiares que coabitam com a pessoa com esquizofrenia.
Que relação existe entre o estado depressivo e a sobrecarga dos familiares que
coabitam com a pessoa com esquizofrenia?
Haverá uma correlação estatisticamente significativa entre a depressão e a s dos
familiares que coabitam com a pessoa com esquizofrenia?
Para se poder dar resposta às questões formuladas, foram delineados os seguintes
objetivos:
Avaliar a sobrecarga dos familiares que coabitam com a pessoa com esquizofrenia;
Analisar em que medida as variáveis sociodemográficas, clínicas e contextuais
interferem na sobrecarga dos familiares que coabitam com a pessoa com
esquizofrenia.
Analisar a relação entre estado depressivo e a sobrecarga dos familiares que
coabitam com a pessoa com esquizofrenia.
19
O presente trabalho está estruturado em duas partes: numa primeira parte, faz-se a
contextualização da problemática em estudo que se constitui como um quadro conceptual
fomentador de um maior conhecimento do tema, abordando-se a esquizofrenia, o cuidador
formal, a sobrecarga dos familiares cuidadores do doente com esquizofrenia.
Na segunda parte apresentamos a investigação empírica, onde clarificamos os
objetivos e as questões metodológicas que possibilitaram o seu desenvolvimento, assim
como a apresentação, análise e discussão dos resultados, principais conclusões e uma
reflexão crítica acerca dos procedimentos metodológicos adotados e os resultados obtidos,
com as respetivas implicações práticas.
Em jeito de conclusão e com base no enquadramento teórico efetuado, bem como no
estudo empírico desenvolvido, serão tecidas algumas considerações de jaez reflexiva. Deste
modo, procurar-se-á explicitar, de forma naturalmente sumária, as ilações mais relevantes
que deste trabalho se consideraram pertinente extrair.
20
21
I Parte Enquadramento Teórico
22
23
1.Esquizofrenia: definição
A esquizofrenia é uma das mais intrigantes e também estudadas condições
psiquiátricas. A riqueza psicopatológica e as características clínicas, tais como o seu início
na adolescência e o curso deteriorante sem grandes alterações neurológicas, despertam
curiosidade e geram um número considerável de pesquisas sobreos processos
neurofisiológicos envolvidos na doença (DSM-IV-TR, 2006).
Esquizofrenia é um distúrbio de etiologia desconhecida, caracterizado por
sintomas psicóticos que comprometem de forma significativa o desempenho e envolvem
perturbações de sensações e sentimentos, do pensamento e do comportamento. O
distúrbio é crónico, e geralmente apresenta uma fase activa (dura pelo menos seis meses
e inclui pelo menos um mês de fase de sintomas activos) com delírios, discurso
desorganizado, comportamento marcadamente desorganizado, alucinações ou ambos e
uma fase residual, na qual o distúrbio pode estar remitido (DSM-IV-TR, 2006).
De acordo com CID-10 (1997, p. 115), o vocábulo esquizofrenia significa “as
perturbações esquizofrénicas caracterizam-se geralmente, através de distorções
fundamentais e características do pensamento e da percepção, e por afectos inapropriados
ou embotados. Mantém clara a consciência e a capacidade intelectual, embora certos
deficits cognitivos possam evoluir no curso do tempo. Os fenómenos psicopatológicos mais
importantes incluem o eco do pensamento, a imposição ou o roubo do pensamento, a
divulgação do pensamento, a percepção delirante, ideias delirantes de controlo, de
influência ou de passividade, vozes alucinatórias que comentam ou discutem com o doente
na terceira pessoa, perturbações do pensamento e sintomas negativos”.
Teixeira (2005) acrescenta que a esquizofrenia é uma das doenças mentais mais
graves e incapacitantes do mundo, não só para o doente mas também para toda a sua rede
de relações sociais e familiares. Na prática, resulta numa profunda mudança da
personalidade, do pensamento, dos afectos e do sentido da própria individualidade. É uma
perturbação grave que leva o doente a confundir a fantasia com a realidade e que
geralmente conduz a modos de vida inadaptada e ao isolamento social.
1.1. Sintomatologia
Os sintomas característicos da esquizofrenia envolvem um conjunto de disfunções
cognitivas e emocionais que incluem perceção, pensamento indutivo, linguagem e
comunicação, comportamento, afeto, fluência e produção de pensamento e do discurso,
24
capacidade hedónica, vontade e impulsos, e atenção. Nenhum sintoma isolado é
patognomónico de esquizofrenia; o diagnóstico envolve o reconhecimento de uma
constelação de sinais e sintomas associados à incapacidade do funcionamento ocupacional
ou social (DSM-IV-TR, 2006).
Geralmente, os sintomas característicos permanecem por muito mais tempo e,
muitas vezes, alguns persistem no resto da vida do doente. A combinação de incapacitação
significativa, que começa cedo na vida, com a cronicidade da doença tornam a esquizofrenia
um distúrbio particularmente trágico para muitos doentes. Além disso, a esquizofrenia é
bastante comum, ocorrendo entre 0,5 a 1% da população mundial. Esta combinação de
características comuns, severas e pervasivas torna a esquizofrenia “o cancro da psiquiatria”
(Pull, 2005).
Às vezes, é conveniente pensar na esquizofrenia como uma doença que afecta
sistemas múltiplos de emoção, personalidade e cognição. Neste sentido, ela é semelhante a
outros distúrbios na medicina, tais como a lúpus eritematoso sistémico, a esclerose múltipla
ou a sífilis.
Os sintomas característicos podem ser conceptualizados em duas amplas
categorias: positivos e negativos.
Comummente, os sintomas positivos incluem delírios, alucinações, fala
desorganizada e comportamento desorganizado e bizarro. Estes sintomas representam
distorções ou exageros das funções cognitivas ou emocionais normais. Alucinações são
alterações na perceção (ou seja, ouvir vozes sem um estímulo); delírios são uma distorção
no pensamento inferencial (ou seja, interpretação errónea das informações, muitas vezes de
modo a sugerir perigo ou dano); a fala desorganizada é uma rutura na linguagem e na
comunicação, refletindo uma desorganização subjacente no pensamento; o comportamento
desorganizado é uma rutura no controlo e na monitorização motora ou comportamental.
Estes sintomas positivos às vezes são ainda subdivididos em dois grupos. Os delírios e
alucinações são classificados como representantes de um contexto psicótico, enquanto a
fala e o comportamento desorganizados ou bizarros são considerados como representantes
de um contexto desorganizado. Segundo a grande maioria das definições correntes, alguns
sintomas positivos estão sempre presentes na esquizofrenia. O padrão, porém, pode variar.
Um doente pode, por exemplo, estar psicótico e ouvir vozes e sentir-se perseguido. Outro
doente pode estar mais desorganizado, falar de um modo incoerente e exibindo alterações
do comportamento, tais como a agitação, usar roupas estranhas ou fazer propostas sexuais
claramente inapropriadas (DSM-IV-TR, 2006).
25
Os sintomas negativos da esquizofrenia refletem uma perda ou diminuição de
funções que, em condições normais, se encontram presentes. Os sintomas negativos
incluem alogia (marcante pobreza de fala e fala vazia de conteúdo), embotamento afetivo
(diminuição na habilidade de expressar-se emocionalmente), anedonia (inabilidade de
experimentar prazer, perda de interesse pela interação social) e avolição (incapacidade de
iniciar ou persistir na busca de um objetivo). A anedonia ou perda da capacidade de sentir
prazer, foi proposta como a característica central ou cardinal da esquizofrenia. A anedonia
social abrange a perda de prazeres como estar com os amigos ou estar com outras
pessoas. O embotamento afetivo foi considerado comum, mas não omnipresente, em
doentes com esquizofrenia, sendo também comum em doentes depressivos. Os défices
cognitivos foram relacionados como características importantes da esquizofrenia desde as
descrições originais de Kraepelin e Bleuler (Kraepelin, 1919, cit. por Ramos, 2004).
Enquanto os sintomas positivos da esquizofrenia são, muitas vezes, exuberantes e
atraem a atenção para a doença do doente, os sintomas negativos tendem a prejudicar a
capacidade da pessoa de levar uma vida quotidiana normal. Estes sintomas tendem a
impedir que os doentes esquizofrénicos mantenham relacionamentos familiares normais,
frequentem escolas, mantenham um emprego ou formem amizades e relacionamentos
íntimos (Almeida et al., 2010).
Além destes sintomas «clássicos» que envolvem dimensões psicóticas,
desorganizadas e negativas, uma variedade de outros sintomas também são
frequentemente observados. Estes incluem deficiência na atenção, falta de discernimento e
comportamento motor catatónico. Além disso, muitos dos sintomas mais comuns, como os
delírios, podem manifestar-se de formas totalmente diferentes. Os delírios podem, por
exemplo, manifestar-se diferentemente como perseguição, inveja, megalomania e
religiosidade. As alucinações podem apresentar muitas modalidades, incluindo auditiva,
visual, táctil ou olfativa. As alucinações auditivas, no entanto, são de longe, o tipo mais
comum (Pull, 2005).
1.1.1. Comparação entre CID-10 e DSM-IV-TR
O algoritmo geral de diagnóstico para a diagnose da esquizofrenia é mais simples na
CID-10 (1997) do que no DSM-IV-TR (2006). Os critérios da CID-10 requerem que os
sintomas característicos do distúrbio estejam presentes por mais de um mês e que os
sintomas não sejam atribuíveis a um distúrbio de humor ou a causas «orgânicas». A CID-10
não requer evidências de disfunção social ou ocupacional para fazer o diagnóstico da
esquizofrenia, enquanto o DSM-IV-TR requer.
26
Os dois sistemas diferem em termos dos sintomas considerados característicos (ou
seja, listados no critério A). A CID-10 enfatiza mais os sintomas de primeira classe de
Schneider, muitos dos quais são especificamente listados nos critérios. A listagem dos
sintomas na CID-10 também é muito mais específica e relativamente mais complexa do que
no DSM-IV-TR, o qual refere-se principalmente a categorias gerais de sintomas (ou seja,
delírios, alucinações, fala desorganizada).
Um estudo mais profundo, no entanto, mostra que o algoritmo que consta da lista de
sintomas característicos é de facto muito semelhante nos dois sistemas. Ambos requerem
que os sintomas característicos estejam presentes durante grande parte do tempo por um
período de um mês; o DSM-IV-TR menciona que o clínico pode usar seu julgamento com
relação a esta exigência de duração quando o doente foi tratado com êxito, enquanto a CID-
10 não faz qualquer menção de tratamento, porém supostamente também permitiria o uso
de julgamento clínico. Ambos sistemas conferem maior peso diagnóstico a determinados
tipos de delírios e alucinações (ou seja, apenas um dos sintomas é exigido) e estes
«sintomas especiais» são do tipo schneideriano geral. Na ausência destes tipos de delírios e
alucinações, dois sintomas característicos são necessários e a lista é bastante semelhante
nos dois sistemas.
A principal diferença entre os dois sistemas é que a CID-10 não requer uma duração
de seis meses para um diagnóstico de esquizofrenia (critério C no DSM-IV-TR). Na CID-10
um mês de sintomas característicos satisfaz plenamente ao tempo de duração. Um corolário
disso é que a CID não enfatiza em absoluto o conceito de sintomas prodromais ou residuais.
A fronteira entre distúrbio esquizoafetivo e distúrbio de humor apresenta algumas
diferenças nos dois sistemas. Se uma síndrome de humor completa esteve presente, a CID-
10 requer que a esquizofrenia seja diagnosticada apenas quando os sintomas psicóticos
precederam o início da síndrome de humor, ao invés de enfatizar a duração geral dos dois
tipos de sintomas (ou seja, de humor e psicótico) como no DSM-IV-TR.
Em suma, o conceito de esquizofrenia na CID-10 é mais amplo em alguns aspetos
do que no DSM-IV-TR e mais restrito noutros. A CID-10 é mais ampla enquanto requer uma
duração de apenas um mês e também inclui formas não psicóticas de esquizofrenia (ou
seja, esquizofrenia simples) dentro da categoria geral. No entanto, a CID-10 é mais restrita,
enquanto enfatiza a importância de sintomas psicóticos extravagantes e especialmente o
conceito relativamente restrito dos sintomas de primeira classe schneiderianos, enquanto a
lista geral dos sintomas característicos no DSM-IV-TR é um pouco mais ampla.
A CID-10 é também mais específica na descrição de diversos tipos de psicoses
reativas e das diversas manifestações de distúrbios psicóticos breves. Esta ênfase sobre a
27
importância de categorias particulares de síndromes psicóticas breves reflete o peso clínico
dado a estas síndromes específicas em diversas partes do mundo. A CID-10 foi projetada
para satisfazer um grupo mais amplo de necessidades e está fundamentada em extensa
colaboração internacional.
O DSM-IV-TR, por outro lado, foi projetado principalmente por psiquiatras norte-
americanos e, no seu desenvolvimento, enfatizou mais um apelo para as evidências a partir
de pesquisa empírica. No entanto, os autores de ambos os sistemas trabalharam em
extrema união com o objetivo de atingir tanta uniformidade nos dois sistemas quanto
possível. Na maioria dos casos os diagnósticos a partir de qualquer um destes dois sistemas
tendem a ser bastante semelhantes.
1.2. Epidemiologia
A epidemiologia estuda a ocorrência e a distribuição de uma doença, ou condição
relacionada à saúde, nos diversos grupos populacionais, procurando investigar os fatores
determinantes na sua etiologia e prognóstico (Azevedo, 2005).
Embora a imprensa explicite casos de crimes cometidos por esquizofrénicos, a
realidade é que apenas uma pequena fração destas pessoas são perigosas. Quando
ocorrem episódios violentos, é porque a doença não foi tratada ou não está a ser tratada,
porque teve um tratamento inadequado ou refratário (Dalery & Amato, 2010).
De acordo com os autores acima referenciados, nos Estados Unidos, a maioria das
pessoas com esquizofrenia vive com a família, uma minoria fica em unidades psiquiátricas,
vivem sozinhas ou estão em abrigos públicos. O custo da esquizofrenia pode ser comparado
aos de outras doenças sérias, especialmente quando envolve hospitalizações por muitas
semanas e muita medicação por vários meses.
Uma investigação, desenvolvida no Instituto Nacional para a Saúde Mental dos
Estados Unidos, em Bethesda, no Estado de Maryland, indica que a esquizofrenia, uma
condição psicótica que afeta cerca de 60 milhões de pessoas no mundo, pode ser o risco
que determinadas pessoas têm de correr no desenvolvimento extraordinário de capacidades
intelectuais (Marques-Teixeira et al., 2006).
A investigação, publicada no Journal of Clinical Investigation, sugere que alguns dos
factores genéticos que envolvem as capacidades cognitivas podem apresentar problemas,
deixando uma parte dos indivíduos com maior probabilidade de ter problemas mentais. Os
investigadores examinaram uma variação comum de um gene, o DARPP-32, que faz com
28
que a região do cérebro responsável pelo raciocínio mais sofisticado seja mais eficiente,
melhorando o processo de transmissão de informações. Contudo, o gene também foi ligado
a funções cerebrais registadas em doentes com esquizofrenia (Sacazufca, 2008).
Uma investigação em 257 famílias com historial de esquizofrenia mostrou que o gene
é bastante comum entre pessoas com a doença. A esquizofrenia é uma condição que pode
causar alucinações e delírios e que, em casos muito graves, pode fazer com que o doente
se torne incapaz de interagir socialmente com outras pessoas (Almeida et al., 2010).
A esquizofrenia é um transtorno mental que ocorre em cerca de 1% da população
mundial, sem diferença significativa entre os géneros (Almeida et al., 2010).
Em comparação com a Europa, os doentes portugueses com esquizofrenia são
menos independentes, têm mais dificuldade em estarem empregados, desenvolvem menos
atividades sociais, têm uma tendência menor para terem uma relação com um cônjuge ou
companheiro e uma elevada co-morbilidade de ansiedade e depressão. Esta caracterização
foi feita no âmbito da participação portuguesa no SOHO (Schizophrenia Outpatient Health
Outcomes), um estudo prospetivo, observacional, pan-europeu, que envolveu 10205
doentes e que tem por objetivo comparar dados sobre os efeitos clínicos e os custos do
tratamento da esquizofrenia (Almeida et al., 2010).
Trinta psiquiatras de 11 centros de investigação participaram no estudo que incluiu,
em Portugal, 175 doentes com esquizofrenia. Os doentes eram maioritariamente do género
masculino (65,6%) e apresentavam uma idade média de 36,5 anos (Marques-Teixeira et al.,
2006).
No que respeita às condições de vida, verificou-se que 64,4% dos doentes
portugueses com esquizofrenia vivem dependentes da família, apenas 18,6% referem ter
uma relação com um cônjuge ou companheiro, a maioria está desempregada (35%) ou
reformada (33,7%), e 41,5% dos doentes referiram não ter atividades sociais com amigos ou
familiares (Marques-Teixeira et al., 2006).
Cerca de um terço dos doentes apresenta sinais de hostilidade ou agressividade,
embora poucos sejam presos (1,3%) ou vítimas de crime violento (3,8%) (Marques-Teixeira
et al., 2006).
No que se refere à qualidade de vida destes doentes, de acordo com os mesmos
autores supracitados, 70,6% sente dificuldade em executar as suas atividades diárias,
76,3% apresenta comorbilidades de ansiedade e de depressão, cerca de metade acusa dor
ou desconforto, 25% não é capaz de realizar tarefas ligadas a cuidados pessoais e 60%
sofre de disfunção sexual (Marques-Teixeira et al., 2006).
29
A esquizofrenia é uma doença ainda mal compreendida por muitos persistindo o
estigma da sociedade face a estes doentes. Nos últimos anos ocorreram grandes avanços
na abordagem terapêutica da esquizofrenia com a descoberta de novas gerações de
antipsicóticos (atípicos), eficazes no controlo dos sintomas positivos e negativos da doença
e com menores efeitos secundários que os seus antecessores. Quando devidamente tratado
e acompanhado o indivíduo com esquizofrenia tem uma vida pessoal e profissional normal,
além de uma clara melhoria da sua qualidade de vida (Marques-Teixeira et al., 2006).
1.3. Psicopatologia
O diagnóstico de um subtipo específico é baseado no quadro clínico que determinou
a avaliação mais recente ou internamento para cuidados clínicos, podendo assim modificar-
se ao longo do tempo. Tanto na CID-10 (1997) como no DSM-IV-TR (2006), estão descritos
alguns subtipos clínicos:
- DSM-IV-TR:
Tipo Paranóide
Tipo Desorganizado
Tipo Catatónico
Tipo Indiferenciado
Tipo Residual
- CID-10:
Esquizofrenia Paranóide
Esquizofrenia Hebefrénica
Esquizofrenia Catatónica
Esquizofrenia Indiferenciada
Depressão Pós-esquizofrénica
Esquizofrenia Residual
Esquizofrenia Simples
30
Outra Esquizofrenia
Esquizofrenia não especificada
Esquizofrenia paranóide: A esquizofrenia paranóide caracteriza-se essencialmente
pela presença de ideias delirantes relativamente estáveis, frequentemente de perseguição,
geralmente acompanhadas de alucinações, particularmente auditivas e de perturbações das
perceções. As perturbações de afeto, da vontade, da linguagem e os sintomas catatónicos,
estão ausentes, ou são relativamente discretos (CID-10, 1997).
Já o DSM-IV-TR (2006) salienta que a característica essencial do Tipo Paranóide, é
a presença de delírios ou alucinações auditivas preeminentes no contexto de uma relativa
preservação do funcionamento cognitivo e do afeto. Os delírios são especialmente
persecutórios ou grandiosos, ou ambos, contudo os delírios que envolvem outros temas (por
exemplo: o ciúme, a religiosidade ou a somatização) também podem ocorrer. As
alucinações também são caracteristicamente relacionadas ao conteúdo do tema delirante,
principalmente as auditivas. A ansiedade, a cólera, a indiferença e a querelância constituem
características associadas.
Quadro 1. Critérios de diagnóstico para o Tipo Paranóide
Tipo de esquizofrenia na qual se encontram os seguintes critérios: A. Preocupação com uma ou mais ideias delirantes ou alucinações auditivas frequentes. B. Nenhum dos seguintes sintomas é dominante: discurso desorganizado, comportamento
desorganizado ou catatónico, ou afeto embotado ou inapropriado.
Fonte: DSM-IV-TR (2002, p. 314).
Esquizofrenia hebefrénica: é caracterizada pela presença proeminente de uma
perturbação dos afetos; as ideias delirantes e as alucinações são fugazes e fragmentárias, o
comportamento é irresponsável e imprevisível; existem frequentemente maneirismos. O
afeto é superficial e inapropriado, por sua vez, o pensamento é desorganizado e o discurso
incoerente. Há uma tendência ao isolamento social. Geralmente o prognóstico é
desfavorável devido ao rápido desenvolvimento de sintomas «negativos», particularmente
um embotamento do afeto e perda da volição. A hebefrenia deveria normalmente ser
somente diagnosticada em adolescentes e em adultos jovens (CID-10, 1997).
O subtipo tipo desorganizado, de acordo com o DSM-IV-TR (2002), caracteriza-se
pelo discurso desorganizado, o comportamento desorganizado e o afeto inapropriado ou
embotado. A afetividade do doente encontra-se alterada, com delírios e alucinações
fragmentários, o seu comportamento é bizarro ou infantil; o afeto é superficial com risos
inapropriados; o pensamento é desorganizado, e o discurso, fragmentário. Este subtipo está
31
igualmente associado a alterações da personalidade pré-mórbida, início precoce e insidioso
e com uma evolução contínua sem remissões significativas.
Quadro 2. Critérios de diagnóstico para o tipo desorganizado
Tipo de esquizofrenia na qual se encontram os seguintes critérios: A. Todos os seguintes são dominantes:
(1) discurso desorganizado; (2) comportamento desorganizado; (3) afecto embotado ou inapropriado.
B. Não se encontram critérios que preencham o Tipo Desorganizado.
Fonte: DSM-IV-TR (2006, p. 314).
Esquizofrenia catatónica: A esquizofrenia catatónica é dominada por distúrbios
psicomotores proeminentes que podem alternar entre extremos tais como hipercinesia e
estupor, ou entre a obediência automática e o negativismo. As atitudes e as posturas a que
os doentes foram compelidos a tomar podem ser mantidas por longos períodos. Um padrão
marcante da afeção pode ser constituído por episódios de excitação violenta. O fenómeno
catatónico pode estar combinado com um estado oniróide com alucinações cénicas vívidas
(CID-10, 1997).
Tipo Catatónico, do DSM-IV-TR (2002), é dominado por perturbações da
psicomotricidade; um ou mais dos seguintes sintomas deve dominar o quadro clínico:
estupor ou mutismo, excitação, posturas bizarras ou inapropriadas, negativismo, rigidez,
flexibilidade cérea, perseveração de palavras ou frases.
Quadro 3. Critérios de diagnóstico para o tipo catatónico
Tipo de esquizofrenia na qual o quadro clínico é dominado pelo menos por dois dos seguintes: (1) imobilidade motora como a evidenciada por catalepsia (incluindo a flexibilidade cérea) ou
estupor; (2) atividade motora excessiva (aparentemente sem objetivo e não influenciada pelos
estímulos externos); (3) negativismo extremo (uma resistência a todas as instruções aparentemente sem motivo ou
a manutenção de uma postura rígida contra todas as tentativas para ser mobilizado) ou mutismo;
(4) peculiaridades dos movimentos voluntários como os evidenciados pela postura (tomada de posturas voluntárias inapropriadas ou bizarras), movimentos estereotipados, maneirismos dominantes ou trejeitos dominantes;
(5) ecolalia ou ecopraxia.
Fonte: DSM-IV-TR (2006, p. 315).
Esquizofrenia Indiferenciada: Afeções psicóticas que preenchem os critérios
diagnósticos gerais para a esquizofrenia mas que não correspondem a nenhum dos
subtipos incluídos, ou que exibam padrões de mais de um deles sem uma clara
predominância de um conjunto particular de características diagnósticas (CID-10, 1997).
32
O tipo Indiferenciado do DSM-IV-TR (2006) é reservado para aqueles doentes que
não se enquadram em nenhum dos subtipos descritos ou apresentam sintomas de mais de
um dos subtipos, sem predominância de nenhum deles.
Quadro 4. Critérios de diagnóstico para o tipo indiferenciado
Tipo de esquizofrenia na qual os sintomas que preenchem o Critério A estão presentes, mas não são encontrados os critérios para os Tipos Paranóide, Desorganizado ou Catatónico.
Fonte: DSM-IV-TR (2002, p. 316).
Depressão Pós-esquizofrénica: Episódio depressivo eventualmente prolongado
que ocorre ao fim de uma afeção esquizofrénica. Ao menos alguns sintomas esquizofrénicos
«positivos» ou «negativos» devem ainda estar presentes, porém não dominam o quadro
clínico. Este tipo de estado depressivo é acompanhado por um maior risco de suicídio. Se o
doente não apresentar mais nenhum sintoma esquizofrénico, deve-se fazer um diagnóstico
de episódio depressivo. Se os sintomas esquizofrénicos ainda são aparentes e
proeminentes, deve-se então manter o diagnóstico da forma clínica apropriada da
esquizofrenia (CID-10, 1997).
Esquizofrenia Residual: Estádio crónico da evolução da doença esquizofrénica,
com uma progressão nítida de um estádio precoce para um estádio tardio, o qual se
caracteriza pela presença persistente de sintomas «negativos», embora não forçosamente
irreversíveis, tais como a lentidão psicomotora; a hipoatividade; o embotamento afetivo;
passividade e a falta de iniciativa; a pobreza da quantidade e do conteúdo do discurso;
pouca comunicação não-verbal (expressão facial, contacto ocular, modulação da voz e
gestos), falta de cuidados pessoais e desempenho social medíocre.
De acordo com o DSM-IV-TR (2006), o tipo residual é o último subtipo e consiste no
estágio crónico da esquizofrenia, em que há uma progressão clara de um quadro inicial para
um quadro tardio, em que ocorrem predominantemente os sintomas negativos. A sua
evolução pode estar limitada no tempo e representar uma transição entre um episódio
completo e uma remissão completa. Porém, o tipo residual pode estar constantemente
presente durante vários anos, com ou sem exacerbações agudas.
33
Quadro 5. Critérios de diagnóstico para o tipo residual
Tipo de esquizofrenia na qual se encontram os seguintes critérios: A. Ausência de ideias delirantes dominantes, de alucinações, de discurso desorganizado, bem
como ausência de comportamento marcadamente desorganizado ou catatónico. B. Existe uma evidência constante da perturbação, traduzida pela presença de forma
atenuada de sintomas negativos ou de dois ou mais sintomas presentes no Critério A da Esquizofrenia, apresentados (por exemplo, crenças estranhas, experiências percetuais estranhas).
Fonte: DSM-IV-TR (2006, p. 316).
Esquizofrenia Simples: perturbação caracterizada pela ocorrência insidiosa e
progressiva de excentricidade de comportamento, incapacidade de responder às exigências
da sociedade, e um declínio global do desempenho. Os padrões negativos característicos
da esquizofrenia residual (por exemplo: embotamento do afeto e perda da volição),
desenvolvem-se sem serem precedidos por quaisquer sintomas psicóticos manifestos (CID-
10,1997).
Outras esquizofrenias: Classifica quadros que não têm aceitação uniforme da
literatura, como por exemplo: ataque esquizofreniforme SOE; a esquizofrenia cenestopática;
a psicose esquizofreniforme SOE e a perturbação esquizofreniforme SOE. Exclui as
perturbações esquizofreniformes breves (CID-10, 1997).
Esquizofrenia não especificada: Utilizada quando não foi possível classificar o
doente em nenhuma das demais categorias anteriormente citadas (CID-10, 1997).
1.4. Diagnóstico
A maioria das doenças psiquiátricas são muito difíceis de diagnosticar e a
esquizofrenia não constitui exceção, uma vez que não existem testes que possam identificar
alguém com esquizofrenia. É muito complicado chegar ao diagnóstico de esquizofrenia,
especialmente na fase precoce da doença, porque a característica fundamental desta
perturbação é a variabilidade da tipologia dos sintomas e da sua evolução (Reis et al.,
2007).
O diagnóstico depende da exclusão de outras causas que possam originar sintomas
semelhantes aos da esquizofrenia (tais como abuso de drogas, epilepsia, tumores cerebrais
e disfunção tiroideia). É importante excluir outras doenças, porque algumas vezes as
pessoas têm sintomas mentais graves, ou mesmo psicoses, devido a situações médicas
subjacentes que não são diagnosticadas. Por este motivo, uma história clínica deve ser
colhida e um exame físico e testes laboratoriais devem ser efetuados para excluir outras
causas possíveis, antes de concluir que alguém sofre de esquizofrenia. Além disso, como as
drogas que se consomem habitualmente podem causar sintomas semelhantes aos da
34
esquizofrenia, devem ser pesquisadas estas substâncias em amostras de sangue ou de
urina dos doentes em causa (Rosa & Elkis, 2007).
De facto, não existem sintomas característicos e definidos para todos os doentes,
mas sim uma associação recorrente dos sintomas. Além disso, o indivíduo que sofre desta
doença nem sempre manifesta todos os aspetos da mesma, ainda que, de modo constante,
sejam afetados o pensamento, o comportamento e a emoção. É importante conhecer a
personalidade pré-mórbida do doente e pesquisar a presença de acontecimentos
particularmente stressantes, como o primeiro emprego ou o serviço militar, que possam ter
desencadeado uma situação que já estava biologicamente determinada desde o nascimento
(Almeida et al., 2010).
Apesar das imensas sistematizações de diagnóstico (WHO, CID-10, DSM-IV-TR),
“que reuniram consenso internacional por parte de clínicos e investigadores, a falta de um
critério de diagnóstico totalmente seguro para a esquizofrenia leva a que tenham que ter em
conta, para além dos aspetos globais do quadro clínico e da evolução da doença, os
antecedentes hereditários e pessoais, a personalidade e o funcionamento psico-sócio-
educacional prévios e a própria resposta à terapêutica” (Reis et al., 2007, p.639).
Após ter excluído outras causas, o médico deve então efetuar um diagnóstico,
baseando-se apenas nos sintomas observados no doente e descritos pelo mesmo e pela
família. Isto pode provocar problemas e atrasos no diagnóstico porque muitos sintomas
podem só ser evidentes quando a doença já está avançada. Mesmo nessa altura, para que
se possa estabelecer um diagnóstico formal, os sintomas devem estar presentes durante
pelo menos seis meses (Kikkert et al., 2006).
35
Quadro 6. Critérios de Diagnóstico para Esquizofrenia
A. Sintomas característicos: Dois (ou mais) dos seguintes, cada qual presente por uma porção significativa de tempo durante o período de 1 mês (ou menos, se tratados com sucesso): (1) Delírios (2) Alucinações (3) Discurso desorganizado (por ex., frequente descarrilamento ou incoerência) (4) comportamento amplamente desorganizado ou catatónico (5) Sintomas negativos, isto é, embotamento afetivo, alogia ou avolição Nota: Apenas um sintoma do Critério A é necessário se os delírios são bizarros ou as alucinações consistem de vozes que comentam o comportamento ou os pensamentos da pessoa, ou duas ou mais vozes conversando entre si B. Disfunção social/ocupacional: Por uma porção significativa do tempo desde o início da perturbação, uma ou mais áreas importantes do funcionamento, tais como trabalho, relações interpessoais ou cuidados pessoais, estão acentuadamente abaixo do nível alcançado antes do início (ou, quando o início dá-se na infância ou adolescência, fracasso em atingir o nível esperado de aquisição interpessoal, académica ou ocupacional) C. Duração: Sinais contínuos da perturbação persistem por pelo menos 6 meses. Este período de 6 meses deve incluir pelo menos 1 mês de sintomas (ou menos, se tratados com sucesso) que satisfazem o critério A (isto é, sintomas da fase ativa) e pode incluir períodos de sintomas prodrómicos ou residuais. Durante esses períodos prodrómicos ou residuais, os sinais da perturbação podem ser manifestados apenas por sintomas negativos ou por dois ou mais sintomas relacionados no Critério A presentes de uma forma atenuada (por ex., crenças estranhas, experiências percetuais incomuns) D. Exclusão de perturbação Esquizoafetivo e Perturbação do Humor: A Perturbação Esquizoafetivo e a Perturbação do Humor com Aspetos Psicóticos foram descartados, porque (1) nenhum Episódio Depressivo Maior, Maníaco ou Misto ocorreu concomitantemente aos sintomas da fase ativa; ou (2) se os episódios de humor ocorreram durante os sintomas da fase ativa, sua duração total foi breve relativamente à duração dos períodos ativo e residual. E. Exclusão de substância/condição médica geral: A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por ex., uma droga de abuso, um medicamento) ou a uma condição médica geral. F. Relação com uma Perturbação Invasivo do Desenvolvimento: Se existe uma história de Perturbação Autista ou uma outra Perturbação Invasiva do Desenvolvimento, o diagnóstico adicional de Esquizofrenia é feito apenas se delírios ou alucinações proeminentes também estão presentes por pelo menos 1 mês (ou menos, se tratados com sucesso).
Fonte: DSM-IV-TR (2006, p. 312).
2. Cuidador informal
O cuidador informal pode ser uma pessoa da família, um amigo, um vizinho ou uma
entidade sem fins lucrativos e que é responsável pela assistência e prestação de cuidados à
pessoa doente ou dependente (Resende & Dias, 2008). Acresce Sequeira (2007) que as
pessoas estão unidas não só por ligações de consanguinidade, mas também afetivas. Estas
definições ainda são complementadas por Santos (2005) que refere que não são apenas os
laços sentimentais, mas também a proximidade geográfica, a convivência numa residência e
a utilização das mesmas redes de apoio, que facilitem os laços/proximidade entre as
pessoas. Os cuidadores informais realizam cuidados que excedem o que é designado de
“normal”, ou seja, é uma assistência nas atividades de vida diária (AVD).
Sequeira (2007) refere que os cuidadores informais se distinguem em: cuidador
principal/primário (pessoa a quem é depositado a responsabilidade total); em secundário
36
(alguém que ajude ocasionalmente ou regularmente na prestação de cuidados); e em
terciário (ajuda esporadicamente).
Partilhando da mesma opinião, Saraiva (2008) refere que a prestação de cuidados
informais não se reparte de forma equitativa, uma vez que existe um cuidador principal,
sobre o qual recaem as maiores responsabilidades e o maior número de tarefas de apoio.
De acordo com o contexto do cuidar (tarefas desenvolvidas), os cuidadores têm sido
caracterizados em dois tipos diferentes: cuidadores primários e cuidadores secundários.
Nas palavras de Oliveira (2009), o cuidador principal será aquele que tem a total ou a
maior parte da responsabilidade pelos cuidados prestados ao familiar dependente, enquanto
os cuidadores secundários correspondem aos familiares, vizinhos e voluntários que prestam
cuidados complementares.
Segundo Rolo (2009), o cuidador informal principal é a pessoa que proporciona a
maior parte dos cuidados, que não é remunerada e sobre quem recai mais de metade da
responsabilidade dos cuidados ao ser dependente. O cuidador informal principal pode ser
auxiliado por outros familiares, amigos, voluntários ou profissionais, e, neste caso, há um
cuidador principal e todos os que servem de suporte ou de apoio são cuidadores
secundários, podendo identificar-se vários cuidadores secundários para a mesma pessoa.
Também Sequeira (2007) refere que o cuidador principal é aquele sob quem é
depositada a responsabilidade integral de cuidar, supervisionar, orientar e acompanhar a
pessoa idosa que necessita de cuidados, e o cuidador secundário é alguém que ajuda na
prestação de cuidados em colaboração com o cuidador principal. Esta colaboração pode
passar pela prestação direta de cuidados ou por apoio económico, em atividades de lazer e
atividades de âmbito social.
Apesar de se fazer a distinção destes dois tipos de cuidadores, é importante ressaltar
que a existência de um cuidador principal não pressupõe necessariamente a existência de
um cuidador secundário. Independentemente do tipo de cuidador informal, seja ele principal
ou secundário, com mais ou menos experiência no âmbito do cuidar, todos apresentam um
papel relevante no suporte de apoio à prestação de cuidados da pessoa idosa dependente
no domicílio, contudo, os amigos e vizinhos apenas assumem a responsabilidade pelo
cuidar em situações pontuais, devido á inexistência de família ou quando não existe nenhum
elemento capaz de assumir o papel de cuidador (Sequeira, 2007).
Por este motivo, os cuidadores familiares são aqueles que merecem maior destaque,
uma vez que “são em número claramente superior e assumem o papel, normalmente, por
períodos mais longos, exercendo mais tipos de cuidados” (Sousa, Figueiredo, & Cerqueira,
2006, p. 53).
37
De acordo com Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2006), o ato de cuidar traduz uma
atividade complexa com dimensões psicológicas, éticas, sociais, demográficas, clínicas,
técnicas e comunitárias. Estas atividades incluem as tarefas instrumentais (transporte,
gestão do dinheiro, tarefas domésticas, medicação, entre outras) e as de cuidados pessoais,
sendo assim um cuidado extraordinário.
2.1. Funções e perfil do cuidador
Em Portugal, a maioria dos cuidados a doentes dependentes são prestados pelas
famílias (Pinto, 2007). Figueiredo, Lima e Sousa (2009, p. 98) referem que “cerca de 80% do
apoio aos doentes dependentes é proporcionado pelos prestadores informais de cuidados,
na maioria, familiares”.
O cuidador informal está mais relacionado com o género feminino, cuja idade oscila
entre os 45 e os 60 anos; o grau de parentesco (cônjuge, filha/o e na ausência destes são
os amigos e/ou vizinhos); estado civil (casados) e a proximidade geográfica (coabitação ou
vivem próximo do doente). No entanto, a participação do género masculino é crescente
(Figueiredo, 2007). Sequeira (2010) complementa mencionando os quatro fatores de
determinação do cuidador informal, que são a relação familiar, coresidência, género e as
condicionantes relativas aos descendentes. O mesmo autor advoga que a responsabilidade
pelo cuidado recai habitualmente sobre os familiares mais próximos, uma vez que a maioria
dos cuidadores é o conjugue ou a filha.
Paúl e Fonseca (2005, p. 207) concluem que a tarefa de cuidar é executada
maioritariamente por elementos do género feminino, todavia, a escolha do cuidador “recai
habitualmente sobre a filha economicamente mais desfavorecida, mais marcada pela
tradição familiar, sem profissão ou reformada e solteira” ou sobre o “filho único”. Quando a
família é composta exclusivamente por homens, estes também assumem o papel. Os
amigos e vizinhos raramente são cuidadores principais.
Apesar de algumas divergências, consegue-se perceber pela caracterização dos
cuidadores informais, feita nos vários estudos, que, apesar de todas as alterações que se
operam nas estruturas e funções familiares na atualidade, a família continua a ser, “em
Portugal e nos países do sul da Europa, a unidade básica de suporte a todos aqueles que
carecem de cuidados” (Sousa, Figueiredo & Cerqueira, 2006, p. 53) e, perante uma situação
de dependência, esta assume naturalmente o papel de prestador de cuidados, pois parece
há muito ser-lhe um papel culturalmente atribuído (Cattani & Girardon-Perlini, 2004).
38
Sequeira (2010, p. 161) menciona que em cada família é “possível identificar de
forma diferenciada o papel esperado de cada membro” e, portanto, a identidade do cuidador
estará intrinsecamente ligada à “história pessoal e familiar, com base em contextos sociais e
culturais, pelo que o cuidar constitui um aspeto normativo da vida de alguns dos membros
da família”. As características pessoais, valores culturais e o seu posicionamento face ao
cuidado, também influenciam a escolha do cuidador.
Da mesma forma, a proximidade física e afetiva e a disponibilidade laboral favorecem
este processo (Figueiredo, 2007; Sequeira, 2010).
Moreira (2001) refere que as funções/tarefas do cuidador informal mais importantes
são a de proporcionar apoio emocional e segurança perante o amor, aceitação, interesse e
compreensão e a proteção da saúde do ser cuidado, promovendo os cuidados que os seus
membros necessitam. De acordo com o mesmo autor, as funções de maior relevo são
também as de socialização, as afetivas e as de proteção.
De acordo Sequeira (2007, p.104), as funções do cuidador informal são:
Providenciar uma vigilância de saúde adequada;
Promover a autonomia e a independência;
Adotar o ambiente de modo a prevenir os acidentes;
Promover um ambiente seguro no domicílio e no exterior;
Assegurar um ambiente confortável e um sono adequado;
Promover a participação/envolvimento familiar;
Supervisionar a atividade;
Promover a comunicação e a socialização;
Promover a manutenção ou a estimulação pelo interesse no desenvolvimento
de um projeto pessoal, história de vida, religião;
Estimular a manutenção de uma ocupação/atividade;
Supervisionar/incentivar as atividades físicas, de lazer e sociais;
Supervisionar, ajudar ou substituir ao nível das atividades de vida diárias,
autocuidado;
Prestar outros cuidados de acordo com cada contexto específico e segundo
as orientações dos profissionais de saúde.
O mesmo autor refere que o desempenho das funções do cuidador informal depende
do tipo/frequência das necessidades de cuidados a prestar, do contexto familiar e do
contexto em que o ser cuidado está inserido. Para Moreira (2001), estas estão relacionadas
com a estrutura familiar, divisão e repartição de trabalhos, estatuto socioeconómico e etnia.
39
2.2. Sobrecarga do cuidador informal do doente com esquizofrenia
A esquizofrenia é um transtorno mental que ocorre em cerca de 1% da população
mundial, sem diferença significativa entre os géneros. Ainda que haja relatos mais antigos,
só no século XVIII é que se começou a valorizar os sintomas psíquicos, dando origem à sua
classificação (Sadock & Sadock, 2006).
Tradicionalmente, os doentes com transtornos mentais graves, como a esquizofrenia,
eram tratados em regime de isolamento devido à suposta periculosidade que ofereciam à
sociedade. Essa ideologia, produto dos ideais da Revolução Francesa, apontava o asilo
psiquiátrico como local propício para a recuperação da saúde mental. Desta forma, o dito
“alienado” era visto como um sujeito sem razão, logo, sem direitos, desejos ou cidadania
(Almeida et al., 2010).
Contudo, a partir da década de 1960 do século XX, surge, em Itália, um movimento
de reforma psiquiátrica, denunciando a atenção dada aos doentes em regime de isolamento,
propondo-se novos dispositivos terapêuticos, alicerçados no tratamento dentro da própria
comunidade. Este movimento tinha como um dos pressupostos a desconstrução do
paradigma da loucura, valorizando o sujeito com o seu sofrimento em detrimento do
tratamento da “doença” (Torre & Amarante, 2006).
Como tal, esta reforma não consistia somente na substituição das práticas antigas
por outras mais modernas, mas numa quebra de paradigmas, ou seja, consistia no
rompimento com a Psiquiatria da época, objetivando a desinstitucionalização da loucura,
deslocando-a da instituição hospitalar para um modelo de assistência em saúde mental
centrado na comunidade, orientado por um projeto de atenção psicossocial. Assim, para
além do mero destaque dos sintomas, tratamento farmacológico e hospitalização, passa-se
a valorizar a promoção da saúde, projetos terapêuticos, a cidadania, a reabilitação e
reinserção social e, sobretudo, os projetos de vida dos doentes, ou seja, estes deixam de se
vistos sob o ponto de vista unicamente biomédico, para passarem a ser encarados numa
perspetiva biopsicossocial (Hirdes, 2009).
A esquizofrenia, à semelhança de outras doenças, provoca uma rutura na
organização da dinâmica familiar, fazendo com que a pessoa doente e os seus cuidadores
informais repensem nas atividades diárias, papéis e conceitos (Gomes, Mendonça e Pontes,
2002). Neste contexto, é recorrente que os cuidadores informais se deparem com situações
ainda não experienciadas, levando a uma reorganização das formas de pensar, sentir e agir.
No entanto, essa reorganização não ocorre no vazio. Ao deparar-se com uma situação não
40
familiar, a pessoa recorre aos conhecimentos e às experiências adquiridas anteriormente e
compartilhadas com o grupo social no qual está inserida (Almeida et al., 2010).
Como referem Alves et al. (2009), o doente esquizofrénico sofre intensamente com a
sua condição, o que se repercute no seio familiar. Os mesmos autores acrescentam que
vários estudos revelam que quando um dos membros da família adoece, todos os seus
membros são afetados. Há uma alteração nas suas atividades sociais normais. A
esquizofrenia afeta não só o doente, mas toda a família de modo que, após lidar com a
psicose por vários anos, todos sofrem alterações.
Soares (2009), com base no seu estudo, centrado em cuidadores informais de
doentes esquizofrénicos, apurou que a confirmação do diagnóstico e o início da doença
constituem-se como alguns dos fatores que geram inúmeras mudanças no contexto familiar.
Como tal, os cuidadores informais acabam por ficar sobrecarregados pelas exigências
inerentes à doença e ao tratamento. A convivência com um doente esquizofrénico acaba por
representar um grande encargo monetário, subjetivo, pessoal e social.
Nem todos os cuidadores informais possuem condições estruturais, económicas e
emocionais para conduzir satisfatoriamente os aspetos da convivência com esta doença
mental. De alguma forma elaboram a experiência, lidam com o seu sofrimento e com as
expectativas, o que pode resultar na viabilização da convivência com a doença, procurando
apoios na sua rede de conhecidos, no sistema de crenças e em tratamentos alternativos.
Enquanto unidade, a família é vista como um sistema e os seus membros, como
componentes deste, resultando em influências recíprocas (Azevedo, 2005).
O modo como o cuidador informal interpreta a doença mental influência as práticas
de cuidados adotados, dependendo ao sucesso da reabilitação das relações estabelecidas
entre aquele que cuida e o que é cuidado (Azevedo, 2005).
Na mesma linha de pensamento, Ballone (2005) refere que a esquizofrenia é uma
doença que altera toda a estrutura vivencial do indivíduo. O estereótipo de louco é
denominado pela cultura, em que o indivíduo esquizofrénico causa estranheza social ao
desconsiderar a realidade, agindo de forma oposta aos costumes aceites pela cultura,
menosprezando a razão.
Os resultados de uma investigação realizada em Portugal revelam que 64,4% dos
doentes com esquizofrenia vivem dependentes da família e apenas 18,6% referem ter uma
relação com um cônjuge. Por outro lado, 35% encontram-se em situação de desemprego,
33,7% estão reformados e 41,5% afirmaram não desenvolver atividades sociais com amigos
ou familiares, mantendo apenas ligações com o familiar que assumiu o papel de seu
cuidador. No que diz respeito à qualidade de vida destes doentes, 70,6% reportaram sentir
41
dificuldade em executar as suas atividades diárias e 25% não são capazes de realizar
tarefas relacionadas com cuidados e higiene pessoal, o que os torna bastante dependentes
do seu cuidador informal (Alves, 2006).
Neste sentido e fazendo-se referência a Almeida et al. (2010), na maioria das vezes,
a pessoa que realiza a função de cuidador do doente com esquizofrenia não está preparada
para exercê-la, sendo a sua sobrecarga muito significativa. Os cuidados podem incluir, além
de auxílio em atividades da vida diária, o acompanhamento do tratamento como um todo, o
que, por norma, acarreta implicações na qualidade de vida do cuidador informal, o qual se
sente com uma enorme sobrecarga física e psicológica.
Na mesma linha, Rizzo e Schall (2008) referem que ser cuidador informal de um
doente com esquizofrenia envolve aspetos económicos, práticos e emocionais aos quais os
cuidadores/familiares são submetidos. Como tal, estes cuidadores/familiares têm a
necessidade de apoio por parte de profissionais de saúde no sentido de obter maior suporte
social e mais informações sobre a patologia em si e sobre como lidar com o doente durante
as crises (Melman, 2002).
Barroso et al. (2007), avaliando a sobrecarga de cuidadores/familiares de doentes
psiquiátricos, concluíram que 84% dos doentes residiam com os seus familiares. Os autores
associam essa variável a um maior nível de sobrecarga, já que o convívio com o doente no
domicílio pode contribuir para a elevada frequência de tarefas de assistência realizadas
pelos cuidadores no quotidiano. A associação entre a convivência e a sobrecarga foi
demonstrada noutros estudos, como é exemplo o de Provencher et al. (2003), que
encontrou uma significativa associação entre a convivência com o doente e o stresse em
cuidadores de doentes psiquiátricos, os quais apresentavam grande sobrecarga física,
económica e psicológica.
Almeida et al. (2010) avaliaram os fatores de sobrecarga em cuidadores/familiares de
doentes esquizofrénicos, tendo apurado que os mesmos apresentavam alterações nas
atividades da vida diária, mudanças na rotina diária, diminuição dos momentos de lazer,
problemas de saúde, medo de adoecer, sentiam obrigatoriedade do cuidado, preocupações
com o custo do tratamento, aspetos financeiros, com fracas expectativas em relação ao
futuro. Estes fatores foram indicativos de sobrecarga e com forte influência na qualidade de
vida dos cuidadores/familiares do doente esquizofrénico. Foram, igualmente, identificados
quatro fatores de redução da sobrecarga: apoio social e familiar, presença de espaços para
aliviar as tensões, afastamento físico do doente e valorização do tratamento farmacológico.
De acordo com os mesmos autores, os cuidadores também relataram o medo de adoecer
fisicamente, o que se relaciona com o cansaço e com o medo de adoecer psiquicamente.
42
Este último aspeto está associado com o convívio diário com o doente e com a sensação de
vulnerabilidade que isto causa, como se o cuidador pudesse “ficar igual” ao doente (Almeida
et al., 2010).
Teixeira (2005), com base no seu estudo, que objetivou avaliar a sobrecarga de
familiares de cuidadores do doente esquizofrénico, verificou que os cuidadores revelaram
sobrecarga objetiva, devido às consequências das alterações da rotina de vida diária e dos
projetos de vida, da diminuição da vida social, da supervisão de comportamentos
problemáticos. O cuidado ao doente requer adaptações na vida diária e os cuidadores
acabam por desistir ou mudar os seus objetivos, deixam de viver a sua realidade e passam
a viver uma realidade construída a partir do convívio com o doente.
O estudo de Tucker Barker e Gregoire (1998), que analisou a sobrecarga dos
familiares cuidadores de doentes esquizofrénicos, também identificou a necessidade de um
tempo para si mesmos, por parte dos cuidadores. O afastamento físico do doente ocorreu
com bastante ênfase, como um fator de suavização da sobrecarga e aumento da sua
qualidade de vida.
A sobrecarga de ordem prática, traduzida pela dependência do doente, gera uma
tensão quotidiana no cuidador, que agrega essas atividades a outras responsabilidades da
vida diária. Esse aspeto agrava-se ainda mais em cuidadores que sobrevivem com baixas
condições financeiras (Pergoraro & Caldana, 2008). No seu estudo qualitativo, realizado
com familiares de doentes esquizofrénicos, os mesmos autores observaram uma perceção
negativa da qualidade de vida dos cuidadores devido às agressões e às tentativas de
suicídio dos doentes. Face à possibilidade de suicídio, os familiares sentem-se impotentes e
agem no sentido de evitar tal comportamento. O risco de suicídio também aparece como um
fator que pode gerar sensação de culpa no cuidador por não se apercebido antes.
A saúde é um dos parâmetros mais importantes a ser contemplado quando se
considera a sobrecarga física e psicológica de um indivíduo. Um estudo conduzido para
avaliar a sobrecarga de familiares cuidadores de doentes esquizofrénicos demonstrou que a
saúde vem sempre em primeiro lugar na conceção da qualidade de vida relatada pelos
participantes, sobressaindo as agressões a que estão sujeitos por parte do familiar doente,
havendo registo de cuidadores com sintomas de depressão (Teixeira, 2005).
Rudge e Morse (2007) também referem os distúrbios emocionais experienciados
pelo cuidador, as preocupações, os sentimentos negativos e os incómodos gerados pelo
facto de ter que cuidar de um familiar esquizofrénico, resultando mesmo em depressão. De
uma maneira geral, os cuidadores consideram que o cuidar assume um caráter de
43
obrigatoriedade, como se não houvesse outra possibilidade de escolha, ou seja, cuidam
porque têm que cuidar, como se fosse um destino imutável e inexorável.
A contribuir para um aumento da sobrecarga psicológica dos cuidadores de doentes
com esquizofrenia está também a preocupação constante com a possibilidade de não haver
um cuidador substituto para os doentes no futuro ou dos mesmos terem que ir para uma
instituição ou terem um futuro indeterminado (Rudge & Morse, 2007; Teixeira, 2005).
De acordo com Brito (2004), são exatamente os sintomas negativos da esquizofrenia
e não propriamente os sintomas mais visíveis da doença os que perturbam o cuidador
informal e o relacionamento familiar, até porque em muitos casos os familiares não os
reconhecem como associados à doença, sendo mais facilmente atribuídos a
características/defeitos da personalidade do doente.
Neste âmbito há a salientar as vantagens das intervenções familiares, sobressaindo
o cuidador informal, no seu conjunto, têm sido comprovadas. Estas parecem reduzir
eficazmente as taxas de recaída psicótica no decurso do tratamento, em estudos com um
folow–up de até 15 meses (Guedes, 2008). McFarlane et al. (2003) demonstraram como a
utilização suplementar de intervenções familiares pode reduzir cerca de quatro vezes as
taxas de recaída a um ano e entre 20 e 50% as taxas de recaída e readmissão hospitalar a
dois anos, em comparação com o tratamento individual clássico não complementado com as
mesmas. No entanto, todas as abordagens requerem nove a doze meses para atingir o nível
de eficácia descrito na literatura (McFarlane et al., 2003).
De entre as intervenções familiares as de tipo psicoeducativo dirigidas por
profissionais a famílias de doentes com esquizofrenia são consideradas uma componente
fundamental numa abordagem geral, com vista ao tratamento e à recuperação do doente,
até porque um vasto corpo de investigação tem demonstrado que ir ao encontro das
necessidades das famílias contribui também, de forma evidente, para melhorar a situação
do doente e o bem-estar da família como um todo (Gonçalves-Pereira et al., 2006).
As intervenções psicoeducativas para os cuidadores informais de doentes com
esquizofrenia têm como principal objetivo reduzir os níveis de stresse do cuidador,
proporcionando informação acerca da doença e formas de tratamento, melhorando os
padrões de comunicação com o cuidador informal e as estratégias de coping, assim como
as competências deste para a resolução de problemas (Organização Mundial de Saúde,
2002, cit. por Gomes, 2008).
44
45
II Parte
Investigação Empírica
46
47
1. Metodologia do estudo
Este capítulo apresenta uma descrição de todas as operações necessárias para o
desenvolvimento da presente investigação, designadamente expõem-se os objetivos da
investigação, a questão de investigação, as variáveis consideradas, os participantes, o
instrumento de colheita de dados; o processo de recolha de dados e os pressupostos éticos
considerados; bem como as técnicas e medidas estatísticas utilizadas para o procedimento
estatístico.
1.1. Métodos
De acordo com o Plano Nacional de Saúde Mental (2008), os estudos
epidemiológicos demonstram que as perturbações psiquiátricas e os problemas de saúde
mental tornaram-se na principal causa de incapacidade e uma das principais causas de
morbilidade nas sociedades atuais.
A esquizofrenia, sendo uma entidade emblemática na Saúde Mental e na Psiquiatria,
encontra-se entre os dez principais motivos de sobrecarga social a longo prazo, com taxas
de prevalência na população mundial (Mueser & McGurk, 2004).
O diagnóstico de esquizofrenia é o responsável pelo aumento do número médio de
dias de internamento nos serviços de Psiquiatria, com uma média de 35,4 dias versus 20,
dias, no internamento geral de Psiquiatria. No que se reporta ao internamento, a
esquizofrenia foi a principal causa de procura de cuidados (36,5%) e nas consultas externas
foi o terceiro motivo de procura de consulta médica com 12,4% (DGS, 2007).
Os doentes esquizofrénicos estão sujeitas a uma significativa quantidade de
diversidades e dificuldades, resultantes da doença e da pressão do meio ambiente. A perda
de competências, os défices neurocognitivos, a terapêutica e os seus efeitos colaterais, a
sintomatologia, o estigma, entre outros, torna o doente com esquizofrenia mais dependente
de terceiros, sendo os seus cuidadores informais, na maioria dos casos, familiares
(Carvalho, 2011).
A esquizofrenia, como doença do foro mental, tem algumas características
específicas, assim como a família possui determinadas regras de conduta e de
funcionamento muito próprias, pelo que a junção das duas, não é apenas a soma das partes
(Carvalho, 2011). A presença de uma doença, como a esquizofrenia, no seio familiar,
alterara todo o percurso familiar e evidencia algumas das dificuldades e fragilidades do
doente e de toda a família. Todas as famílias, de uma forma individual, sofrem com a
48
presença de uma doença mental, por desesperança, por impotência, por medo e ansiedade
no futuro, aumentando a sua sobrecarga física, psicológica e económica (Martens &
Addington, 2006).
A doença crónica é sempre motivo de preocupação, no entanto, quando a doença de
um dos membros da família é do foro da saúde mental, como é o caso da esquizofrenia, é
vivenciada pelos cuidadores informais, de forma mais dramática, como se de um processo
de “luto” se tratasse (Oliveira, 2005).
Os momentos de crise obrigam os membros da família a aprender e a lidar com uma
série de problemas, que não tinham sido confrontados antes, nomeadamente a diminuição
dos cuidados pessoais, a agressividade, os comportamentos inapropriados, a falta de
adesão ao tratamento, o isolamento social, mudanças de humor, ansiedade, abuso de
substâncias, comportamentos maníacos, comportamentos delirantes e o risco de suicídio
(Yacubian & Neto, 2008). De acordo com os mesmos autores, os comportamentos do
doente esquizofrénico, associados à falta de informação sobre a doença, são causas
frequentes de stresse e tornam a família mais suscetível aos casos de ansiedade,
depressão e raiva, resultando numa maior sobrecarga.
Num estudo realizado com cuidadores informais de doentes portugueses com
esquizofrenia, verificou-se que 64,4% dos doentes vivem dependentes da família. No que se
refere à sobrecarga dos seus cuidadores informais, concluiu-se que 70,5% desses
cuidadores sentem dificuldade em executar as suas atividades diárias, 76,5% apresentam
comorbilidade de ansiedade e depressão, cerca de metade referem sentir cansaço físico e
25% têm a sua vida social comprometida (Marques-Teixeira et al., 2006).
Face a esta problemática, formularam-se as seguintes questões de investigação:
Que fatores influenciam a sobrecarga dos familiares que coabitam com a pessoa
com esquizofrenia?
Que variáveis sociodemográficas, clínicas e contextuais ao cuidador interferem na
sobrecarga dos familiares que coabitam com a pessoa com esquizofrenia.
Que relação existe entre o estado depressivo e a sobrecarga dos familiares que
coabitam com a pessoa com esquizofrenia?
Haverá uma correlação estatisticamente significativa entre a depressão e a s dos
familiares que coabitam com a pessoa com esquizofrenia?
49
Para se poder dar resposta às questões formuladas, foram delineados os seguintes
objetivos:
Avaliar a sobrecarga dos familiares que coabitam com a pessoa com esquizofrenia;
Analisar em que medida as variáveis sociodemográficas, clínicas e contextuais
interferem na sobrecarga dos familiares que coabitam com a pessoa com
esquizofrenia.
Analisar a relação entre estado depressivo e a sobrecarga dos familiares que
coabitam com a pessoa com esquizofrenia.
De acordo com as questões de investigação e dos objetivos, apresentamos o
esquema conceptual de base, constituído pelas variáveis que se consideraram as mais
relevantes para a presente investigação. Assim, a Figura 1 é ilustrativa da articulação das
variáveis estudadas.
Figura 1 – Esquema conceptual de base (desenho de investigação)
SOBRECARGA DOS
FAMILIARES
Variáveis contextuais ao cuidador informal
Estado depressivo
Variáveis sociodemográficas
do cuidador informal
Género; Idade; Estado Civil; Habilitações académicas; Grau de parentesco com o doente;
Variáveis clínicas da pessoa com esquizofrenia
Tipo de esquizofrenia; Ano do Diagnóstico da Doença; Presença de patologias psiquiátricas noutros membros da família; Sintomatologia da pessoa dependente com esquizofrenia; Frequência mensal com que ocorrem os episódios de crise de esquizofrenia.
Variáveis Sociodemográficas
Variáveis
sociodemográficas da
pessoa com
esquizofrenia
Idade;
Género;
Habilitações
académicas;
Estado civil;
Local de residência.
50
Com o esquema apresentado procura-se dar a conhecer o tipo de relação que se
pretende estabelecer entre as variáveis independentes e a variável dependente. No
presente estudo considera-se como variável dependente a sobrecarga dos familiares que
coabitam com a pessoa com esquizofrenia, operacionalizada através da Escala de Zarit –
Escala de sobrecarga do cuidador – de Sequeira (2007). As variáveis independentes
incluem as variáveis sociodemográficas, variáveis clínicas e variáveis contextuais.
O tipo de estudo delineado para esta investigação e, analogamente ao que ocorre na
maioria de pesquisas com amostras comunitárias, tem as características dos estudos
quantitativos, em corte transversal, descritivo e correlacional, explicativo, e retrospetivo, com
o qual se procura estudar o modo como variáveis pessoais e situacionais se repercutem na
sobrecarga dos familiares que coabitam com a pessoa com esquizofrenia.
Assim, o tipo de pesquisa escolhida para esta investigação abarca as seguintes
características:
Segue métodos do estudo de análise quantitativa – dado que se pretende garantir a
precisão dos resultados, evitar distorções de análise e de interpretação;
Insere-se no tipo de investigação não experimental – porque não se pretende
manipular as variáveis em estudo, ainda que objetive alcançar evidências que
expliquem a razão pela qual ocorre um determinado fenómeno, isto é, facultar um
determinado sentido de causalidade (Fortin, 2009)
Trata-se de estudo transversal, na medida em que se “caracteriza pelo facto de a
causa e o efeito estarem a ocorrer simultaneamente, embora a causa possa existir só no
momento atual, ou existir desde algum tempo no passado, ou, por fim, ser uma
característica do indivíduo” (Campana, Padovani, Iaria, Freitas, Paiva & Hossne, 2001,
p.129)
Tem igualmente características de um estudo descritivo e correlacional, porque se
recolheu informação acerca de conceitos ou variáveis que se pretendem analisar,
particularizando as suas propriedades e as características. Por um lado, conferindo a
possibilidade de fazer predições; por outro lado, objetiva avaliar-se a relação que existe
entre dois ou mais conceitos categorias ou variáveis (Campana et al., 2001). Trata-se de um
estudo de relações entre pelo menos duas variáveis, sem a intervenção ativa do
investigador, para que não haja qualquer influência dessas variáveis (Fortin, 2009).
Trata-se ainda de um estudo explicativo, na medida em que o seu propósito é o de
responder às causas dos acontecimentos, sucessos e fenómenos físicos e sociais, isto é, o
procura-se a explicação da razão pela qual se está perante maior ou menor sobrecarga dos
51
familiares que coabitam com a pessoa com esquizofrenia e como esta variável se relaciona
com as restantes varáveis.
1.2. Participantes
Para este estudo recorreu-se a uma amostragem não probabilística por
conveniência, constituída por familiares que coabitam com a pessoa com esquizofrenia.
Com a finalidade de garantir que a amostra seja o mais homogénea possível,
consideraram-se os seguintes critérios de inclusão: ter idade superior a 18 anos; coabitar
com um familiar esquizofrénico; sem perturbações do foro mental; autorização para a
participação no estudo depois de devidamente informados e esclarecidos.
Os participantes são, no total, 95 cuidadores informais de doentes esquizofrénicos,
dos quais 32 são do género masculino (34%) e 63 do género feminino (66%). A maioria dos
participantes possui idade igual ou superior a 40 anos (n=75; 79%), enquanto os restantes
possuem idade igual ou inferior a 39 anos (21%).
1.2.1. Caracterização socio demográfica
Idade
Constatou-se no grupo de participantes do género masculino a maioria (78,1%)
possuem idades iguais ou superiores a 40 anos, sendo esta uma situação análoga às
participantes do género feminino, onde há um claro predomínio de mulheres na mesma faixa
etária (81%). Não existem diferenças estatisticamente significativas (p=,789) (cf. Tabela 1).
Tabela 1 - Género em função da idade
Género Masculino Feminino Total Residuais X
2
p Idade N % N % N % 1 2
<=39 anos 7 21,9 12 19,0 19 20,0 ,2 -2 ,745 ,471 >= 40 anos 25 78,1 51 81,0 76 80,0 -,1 ,1
Total 32 100 63 100 95 100
Estado civil
Em ambos os grupos instituídos, no que se refere ao estado civil, constatou-se que
quer para o masculino (62,5%), quer para o feminino (61,9%) predominam os participantes
52
casados ou a viver em união de facto. Não existem diferenças estatisticamente significativas
(p=,569) (cf. Tabela 2).
Tabela 2 - Género em função do estado civil
Habilitações académicas
Verificou-se que quer no grupo de participantes do género masculino (59,4%), quer
no grupo de sujeitos da amostra do género feminino (61,9%) há o predomínio de pessoas
com habilitações literárias inferiores ao Ensino Secundário, seguindo-se as que possuem o
Ensino Secundário. Não existem diferenças estatisticamente significativas (p=,892) (cf.
Tabela 3).
Tabela 3 – Habilitações académicas em função do género
Género Masculino Feminino Total Residuais
X2
p
Habilitações académicas
N % N % N % 1 2
Menos que o Ensino Secundário
19 59,4 39 61,9 58 61,1 -,1 ,1 ,228 ,892
Ensino Secundário 9 28,1 15 23,8 24 25,3 ,3 -,2 Ensino Superior 4 12,5 9 0,5 13 13,7 -,2 ,1
Total 32 100 63 100 95 100
Grau de parentesco com o doente
Quanto ao grau de parentesco com o doente esquizofrénico, constatou-se que os
valores percentuais mais elevados foram o do pai (50%) e o da mãe (55,6%), seguindo-se,
no grupo dos participantes do género masculino os irmãos (25%) e no grupo dos
participantes do género feminino o cônjuge (14,3%). Salienta-se que todos afirmaram ser
cuidadores habituais do doente com esquizofrenia. Registou-se diferenças estatisticamente
significativas (p=,000) (cf. Tabela 4).
Género Masculino Feminino Total Residuais X
2 p Estado civil N % N % N % 1 2
Solteiro(a)/ Divorciado(a)/ Viúvo (a)
12 37,5 24 38,1 36 37,9 ,0 ,0 ,955 ,569
Casado (a)/ União de facto 20 62,5 39 61,9 59 62,1 ,0 ,0
Total 32 100 63 100 95 100
53
Tabela 4 – Grau de parentesco com o doente em função do género
Género Masculino Feminino Total Residuais X
2
p Grau de parentesco N % N % N % 1 2
Pai 16 50,0 0 0,0 16 16,8 4,6 -3,3 Mãe 0 0,0 35 55,6 35 36,8 -3,4 2,4 Sobrinho(a) 1 3,1 1 1,6 2 2,1 ,4 -,3 Irmão(ã) 8 25,0 7 11,1 15 15,8 1,3 -,9 Amigo(a) 1 3,1 0 0,0 1 1,1 1,1 -,8 Cunhado(a) 1 3,1 1 1,6 2 2,1 ,4 -,3 58,366 ,000 Cônjuge 3 9,4 9 14,3 12 12,6 -,5 ,4 Tio(a) 2 6,2 3 4,8 5 5,3 ,2 -,2 Filho(a) 0 0,0 3 4,8 3 3,2 -1,0 ,7 Primo(a) 0 0,0 4 6,3 4 4,2 -1,2 ,8
Total 32 100 63 100 95 100
1.3. Instrumentos
Para se avaliar as variáveis em estudo, o instrumento de colheita de dados é
constituído, primeiro, por um questionário, segundo, por duas escalas (cf. Anexo I).
1.3.1. Questionário
O questionário comporta três partes, conforme se apresenta:
Caracterização sociodemográfica - Permite recolher dados relevantes sobre o
perfil sociodemográfico dos familiares que coabitam com a pessoa com esquizofrenia,
através de seis questões sobre: género; idade; estado civil; habilitações académicas; grau
de parentesco com o doente.
Variáveis clínicas - contém um conjunto de sete questões que possibilitam fazer um
perfil clínico do doente: tipo de esquizofrenia; ano do diagnóstico da doença; tipo de
medicação; outras doenças do foro psiquiátrico, antes do diagnóstico de esquizofrenia;
presença de patologias psiquiátricas noutros membros da família; sintomatologia da pessoa
dependente com esquizofrenia; frequência mensal com que ocorrem os episódios de crise
de esquizofrenia.´
Variáveis contextuais – Reúne cinco questões, através das quais se pode fazer a
caracterização da pessoa com esquizofrenia, tais como idade, género, habilitações
académicas, estado civil e local de residência.
54
1.3.2. Inventário e escala
a) - Inventário de Depressão de Beck (BDI – Beck Depression Inventory) de
Mendelson, Mock e Erbaugh, 1961; versão portuguesa de Vaz Serra & Pio Abreu, 1973).
É um inventário de autorresposta constituído por 21 itens, destinado a medir a
severidade de sintomas depressivos. A sintomatologia depressiva aparece organizada em
seis tipos de sintomas: afetivos, cognitivos, motivacionais, delirantes, físicos e funcionais
(padrão de sono, apetite, peso e líbido). Cada item apresenta quatro, cinco ou seis
afirmações, ordenadas segundo a severidade do sintoma (inexistente, leve, moderado e
grave). A tarefa do sujeito consiste em escolher a afirmação que está mais próxima do seu
estado atual. O estudo das suas propriedades psicométricas mostrou que é um instrumento
com boa fidedignidade e validade, sendo o alpha de Cronbach de .84. Foi utilizada a versão
portuguesa aferida por Vaz Serra e Pio Abreu (1973a, 1973b).
Relativamente à população portuguesa, estes autores sugerem que o valor 12
representa o ponto de corte acima do qual se estabelece a diferença entre a população
normal e deprimida. Deste modo, consideram-se como valores de referência os dos autores,
ou seja, os indivíduos: Não apresentam sintomatologia depressiva, quando o somatório
global do Inventário de Depressão de Beck for inferior a 12; apresentam ânimo depressivo
leve, se pontuarem com valores entre os 12 e os 17; apresentam ânimo depressivo
médio, se pontuarem com valores entre os 18 e os 23; apresentam ânimo depressivo
grave, se pontuarem com valores superiores ou iguais a 24.
Consistência interna do Inventário de Depressão de Beck
Na presente investigação procedeu-se ao estudo da consistência interna do
Inventário do inventário da Depressão de Beck, para a presente amostra. Assim, iniciou-se a
avaliação das propriedades psicométricas através dos estudos de fiabilidade. Os estudos de
fiabilidade dizem respeito ao grau de confiança ou de exatidão que se pode ter na
informação obtida. Procuram avaliar a estabilidade temporal ou fiabilidade teste reteste e a
consistência interna ou homogeneidade dos itens. A primeira medida referida não foi
efetuada neste estudo na medida em que sendo a escala um instrumento para medir um
estado que pode modificar-se em qualquer instante, o teste-reteste não é relevante como
medida de fiabilidade.
55
A consistência interna diz respeito ao grau de uniformidade e de coerência entre as
respostas dos inquiridos a cada um dos itens que compõem a prova. Como ponto de
referência os valores apresentados por Pestana e Gageiro (2005) são:
Alfa de Cronbach < 0,60 → inadmissível
0,60 < alfa de Cronbach < 0,70 → fraca
0,70 < alfa de Cronbach < 0,80 → razoável
0,80 < alfa de Cronbach < 0,90 → boa
0,90 > alfa de Cronbach → muito boa
Assim, com o intuito de se verificar a homogeneidade e consistência interna,
procedeu-se ao cálculo dos valores correlacionais de cada item com o global da escala e do
coeficiente de alfa de Cronbach (cf. Quadro 7). Assim, notamos que a correlação item total,
em todos os itens, é superior a 0.20, oscilando as mesmas entre 0.409 no item 9 “ideias
suicidas” o que se traduz numa percentagem de variância explicada de 44.5% e (r= 0.762)
no item 2 “ Pessimismo” com uma variabilidade de 70.4%. Contudo o item que se apresenta
com maior percentagem de variância explicada é o item 17 “Suscetibilidade a Fadiga” com
76.1% de percentagem de variância explicada. Quanto aos valores de alfa de cronbach
obtidos em cada item, podemos classificá-los de muito bons, porquanto são todos
superiores a 0.90, com um alfa global de 0.923.
Pelo que podemos afirmar que estamos perante uma consistência interna muito boa.
Quadro 7 − Inventário de Depressão de Beck estudo da consistência interna
Itens M DP R/item R2
Alfa (s/item)
1 Tristeza 1,01 ,765 ,683 0,646 0,917
2 Pessimismo 1,12 ,562 ,762 0,704 0,917
3 Senso de Fracasso ,76 ,795 ,574 0,533 0,919
4 Insatisfação 1,03 ,573 ,618 0,565 0,919
5 Culpa ,74 ,853 ,669 0,738 0,917
6 Expectativa de punição 1,02 ,799 ,603 0,720 0,919
7 Auto-desgosto ,78 ,801 ,633 0,717 0,918
8 Auto-acusações ,95 ,735 ,557 0,645 0,919
9 Ideias Suicidas ,57 ,613 ,409 0,445 0,922
10 Choro ,86 ,820 ,626 0,593 0,918
11 Irritabilidade 1,17 ,679 ,544 0,511 0,920
12 Interação Social 1,22 ,732 ,597 0,614 0,919
13 Indecisão 1,55 ,579 ,497 0,383 0,921
14 Mudança da Imagem Corporal 1,04 ,886 ,484 0,480 0,921
15 Retardo para o Trabalho 1,32 ,718 ,523 0,643 0,920
16 Insónia 1,35 ,755 ,607 0,618 0,918
17 Suscetibilidade a Fadiga 1,29 ,581 ,734 0,761 0,917
18 Anorexia ,89 ,691 ,596 0,661 0,919
19 Perda de Peso ,40 ,675 ,517 0,592 0,920
20 Preocupação Somática ,77 ,916 ,592 0,619 0,919
21 Perda do Interesse Sexual 1,34 1,088 ,532 0,523 0,922
56
b) - Escala de sobrecarga do cuidador:
Na sua versão original, este instrumento era constituído por 29 questões tendo
posteriormente sido revisto pelos seus autores e reduzido a 22 questões.
Esta escala foi traduzida e adaptada para a população portuguesa por Sequeira
(2007). Permite avaliar a sobrecarga objetiva e subjetiva dos cuidadores informais,
explorando os efeitos negativos sobre estes, em áreas distintas da sua vida: social, pessoal,
situação financeira, situação emocional e tipo de relacionamento.
Cada questão é avaliada segundo uma escala tipo Likert com cinco possíveis
respostas: nunca (1); quase nunca (2); às vezes (3); muitas vezes (4); quase sempre (5). O
score global varia entre 22 e 110 e quanto mais elevado maior a sobrecarga. Pode
classificar-se de acordo com a pontuação obtida em: sem sobrecarga quando a cotação é
inferior a 46; entre 46 e 56 – sobrecarga ligeira; superior a 56 – Sobrecarga intensa.
O autor que a validou e adaptou à população Portuguesa revela que este
instrumento apresenta boa consistência interna (α=0,93), salientando que a análise fatorial
permite identificar 4 fatores criados empiricamente. O primeiro fator intitulado “impacto da
prestação de cuidados”, engloba os itens relativos à sobrecarga relacionada com a
prestação de cuidados diretos, sendo constituída por 11 itens (1,2,3,6,8,10,11,12,13,17,22).
O segundo fator intitulado “relação interpessoal” engloba os itens relacionados com relação
entre o cuidador e a pessoa alvo de cuidados. Estes itens avaliam o impacto interpessoal
que resulta da relação de prestação de cuidados (associados às dificuldades de interação).
É constituído por 5 itens (4,5,16,18,19). O terceiro fator intitulado “expectativas face o
cuidar” está relacionado com as expectativas que o cuidador tem relativamente à prestação
de cuidados, centrando-se essencialmente nos meios, receios e disponibilidades. É
constituído por 4 itens (7,8,14,15). O quarto fator denominado “perceção de autoeficácia”,
refere-se à opinião do cuidador relativamente ao seu desempenho. É constituído por 2 itens
(20,21).
Consistência interna da escala de Sobrecarga do Cuidador
A avaliação das propriedades psicométricas é feita através do estudo da fiabilidade
com a determinação do coeficiente de alfa de Cronbach, do coeficiente de bipartição ou
método das metades (split-half).
O quadro 8 expõe as estatísticas (médias e desvios padrão), as correlações obtidas
entre cada subescala e o índice global. Tendo em conta os valores de alfa de Cronbach
estes podem ser caracterizados por: muito bons ao situarem-se entre os 0.906 (nos itens 10
“Vê a sua saúde ser afetada por ter de cuidar do seu familiar “ e 11 “Considera que não tem
57
uma vida privada como desejaria devido ao seu familiar?”) e os 0.918 no item 20 (“Sente
que poderia fazer mais pelo seu familiar?”).
Pelos coeficientes de correlação item total corrigido os itens 20 e 21 são os que se
apresentam mais problemáticos no que se refere à consistência interna dado apresentarem
valores correlacionais inferiores a 0.20, pelo que numa análise mais conservadora deveriam
ser eliminados. Todavia a sua exclusão pouco afetaria o alfa global.
Relativamente aos índices médios e desvios padrões constata-se alguma fragilidade
e variabilidade, com valores em vários itens inferior ao valor médio esperado e noutros itens
acima desse valor.
O coeficiente de bipartição de Split Half ou método das metades indica-nos valores
de alfa de Cronbach ligeiramente mais fracos, do que o alfa para a globalidade da escala
(0.914), mas que podem ser qualificados de bons já que para a primeira metade se obteve
um valor de 0.860 e para a segunda de 0.826 (cf. Quadro 8).
58
Quadro 8 – Estatísticas e Valores Correlacionais da Escala de Sobrecarga do Cuidador
Nº Item
Itens
Média
dp
R/item
Alpha
s/item
1 Sente que o seu familiar solicita mais ajuda do que aquela que realmente necessita?
2.52 1.096 0.255 0.916
2 Considera que devido ao tempo que dedica ao seu familiar já não dispõe de tempo suficiente para as suas tarefas?
2.18 1.095 0.578 0.910
3 Sente-se tenso/a quando tem de cuidar do seu familiar e ainda tem outras tarefas por fazer?
2.28 1.064 0.575 0.910
4 Sente-se envergonhado(a) pelo comportamento do seu familiar?
1.50 0.948 0.456 0.912
5 Sente-se irritado/a quando está junto do seu familiar?
1.69 0.971 0.447 0.912
6 Considera que a situação atual afeta de uma forma negativa a sua relação com os seus amigos/familiares?
1.88 1.066 0.697 0.908
7 Tem receio pelo futuro destinado ao seu familiar?
3.13 1.248 0.491 0.912
8 Considera que o seu familiar está dependente de si?
3.12 1.486 0.594 0.910
9 Sente-se esgotado quando tem de estar junto do seu familiar?
1.99 1.133 0.730 0.907
10 Vê a sua saúde ser afetada por ter de cuidar do seu familiar?
2.13 1.186 0.734 0.906
11 Considera que não tem uma vida privada como desejaria devido ao seu familiar?
2.00 1.279 0.720 0.906
12 Pensa que as suas relações sociais são afetadas negativamente por ter de cuidar do seu familiar?
1.76 1.120 0.706 0.907
13 Sente-se pouco à vontade em convidar amigos para o(a) visitarem devido ao seu familiar?
1.61 1.034 0.652 0.909
14 Acredita que o seu familiar espera que você cuide dele como se fosse a única pessoa com quem ele(a) pudesse contar?
3.25 1.591 0.403 0.915
15 Considera que não dispõe de economias suficientes para cuidar do seu familiar e para o resto das despesas que tem?
2.49 1.374 0.513 0.911
16 Sente-se incapaz de cuidar do seu familiar por muito mais tempo?
1.94 1.254 0.670 0.908
17 Considera que perdeu o controlo da sua vida depois da doença do seu familiar se manifestar?
1.85 1.086 0.671 0.908
18 Desejaria poder entregar o seu familiar aos cuidados de outra pessoa?
1.42 0.867 0.499 0.912
19 Sente-se inseguro acerca do que deve fazer com o seu familiar?
2.15 1.167 0.634 0.909
20 Sente que poderia fazer mais pelo seu familiar? 2.20 1.163 0.185 0.918
21 Considera que poderia cuidar melhor do seu familiar?
2.07 1.183 0.207 0.917
22 Em geral sente-se muito sobrecarregado por ter de cuidar do seu familiar?
2.11 1.317 0.737 0.906
Coeficiente Split-half 0.860
0.826
Coeficiente alpha Cronbach global 0.914
Apresentamos, no quadro 9, os valores de alfa de cronbach por subescala. Iniciando
pela escala de impacto na prestação de cuidados, os coeficientes de alpha de Conrbach
59
continuam a dar boas indicações da sua consistência interna ao oscilarem entre 0.0,891 e
os 0.919, podendo por tal facto ser classificados de bons. O coeficiente de bipartição de
split-half (0.790), para a primeira metade e (0.861) para a segunda, embora ligeiramente
inferiores que o valor global, mantém uma razoável consistência interna.
Analisando os coeficientes totais corrigidos, notamos pela mesma tabela que o item
que melhor se correlaciona comos restantes é o item” Sente-se esgotado quando tem de
estar junto do seu familiar?” que explica 57,76% da sua variabilidade e o que menor
correlação estabelece é o item “Sente que o seu familiar solicita mais ajuda do que aquela
que realmente necessita?” com apenas uma variabilidade de 5,56%
Os resultados das relações interpessoais revelam que o item “Sente-se inseguro
acerca do que deve fazer com o seu familiar?” é o que apresenta maior índice médio mas o
de menor variabilidade diz respeito ao item “Desejaria poder entregar o seu familiar aos
cuidados de outra pessoa?” Olhando para os valores de alfa de Cronbach verificamos que
estes oscilam entre 0.693 no item “Sente-se inseguro acerca do que deve fazer com o seu
familiar?“ e 0.759 no item “Sente-se irritado/a quando está junto do seu familiar?” podendo
classificar-se de razoáveis (cf. quadro 9) para um valor de alfa global para esta escala de
0.766. O coeficiente de bipartição de split half manifesta também razoável consistência entre
os itens que o constituem pois na primeira metade o alfa de cronbach foi de 0.587 e na
segunda metade de 0.636.
No que respeita ao fator Expectativas com o Cuidar obtiveram-se valores de alfa
razoáveis ao oscilarem entre 0.652 “Considera que o seu familiar está dependente de si?” e
0.735 “Considera que não dispõe de economias suficientes para cuidar do seu familiar e
para o resto das despesas que tem?” com um valor global para o total da escala de 0.758
(cf. quadro 8). Os valores de split-half tanto na primeira metade (alfa= 0.582) como na
segunda metade (alfa = 0.514) são admissíveis para as ciências sociais. O item que melhor
se correlaciona com os restantes é o item “Considera que o seu familiar está dependente de
si?” apresentando uma variabilidadede de 41,12%.
Finalmente no que concerne à subescala perceção da autoeficácia, dado tratar-se de
uma escala com dois itens, não é aplicável o estudo da sua consistência interna. Todavia o
valor de alfa global é bom ao pontuar com 0,882.
60
Quadro 9 – Consistência interna por subescalas da escala sobrecarga do cuidador
Fatores Itens M DP R item-
total
Alfa de Cronbach
(s/item)
Impacto da prestação de
cuidados
Sente que o seu familiar solicita mais ajuda do que aquela que realmente necessita?
2,52 1,096 0,235 0,918
Considera que devido ao tempo que dedica ao seu familiar já não dispõe de tempo suficiente para as suas tarefas?
2,18 1,095 0,602 0,900
Sente-se tenso/a quando tem de cuidar do seu familiar e ainda tem outras tarefas por fazer?
2,28 1,064 0,525 0,904
Considera que a situação atual afeta de uma forma negativa a sua relação com os seus amigos/familiares?
1,88 1,066 0,701 0,895
Sente-se esgotado quando tem de estar junto do seu familiar?
1,99 1,133 0,760 0,891
Vê a sua saúde ser afetada por ter de cuidar do seu familiar?
2,13 1,186 0,756 0,891
Considera que não tem uma vida privada como desejaria devido ao seu familiar?
2,00 1,279 0,748 0,891
Pensa que as suas relações sociais são afetadas negativamente por ter de cuidar do seu familiar?
1,76 1,120 0,751 0,892
Sente-se pouco à vontade em convidar amigos para o(a) visitarem devido ao seu familiar?
1,61 1,034 0,660 0,897
Considera que perdeu o controlo da sua vida depois da doença do seu familiar se manifestar?
1,85 1,086 0,685 0,895
Em geral sente-se muito sobrecarregado por ter de cuidar do seu familiar?
2,11 1,317 0,715 0,894
Relação Interpessoal
Sente-se envergonhado(a) pelo comportamento do seu familiar?
1,50 0,948 0,478 0,743
Sente-se irritado/a quando está junto do seu familiar?
1,69 0,971 0,425 0,759
Sente-se incapaz de cuidar do seu familiar por muito mais tempo?
1,94 1,254 0,598 0,703
Desejaria poder entregar o seu familiar aos cuidados de outra pessoa?
1,42 0,867 0,595 0,711
Sente-se inseguro acerca do que deve fazer com o seu familiar?
2,15 1,167 0,617 0,693
Expectativas com o Cuidar
Tem receio pelo futuro destinado ao seu familiar?
3,13 1,284 0,513 0,725
Considera que o seu familiar está dependente de si?
3,12 1,486 0,642 0,652
Acredita que o seu familiar espera que você cuide dele como se fosse a única pessoa com quem ele(a) pudesse contar?
3,25 1,591 0,588 0,685
Considera que não dispõe de economias suficientes para cuidar do seu familiar e para o resto das despesas que tem?
2,49 1,374 0,491 0,735
Percepção de Auto-eficácia
Sente que poderia fazer mais pelo seu familiar?
2,20 1,163 ,790 -
Considera que poderia cuidar melhor do seu familiar?
2,07 1,183 ,790 -
No quadro 10 apresentamos um quadro síntese onde pretende comparar os índices
de alfa de cronbach por subescala e do coeficiente de bipartição o nosso estudo com os
obtidos na validação para a versão portuguesa. Como se verifica nas subescalas
expectativas como cuidar e perceção de autoeficácia valores de alfa são ligeiramente
superior aos do autor da escala. O valor de alfa global, tal como já referimos, é semelhante
ao da escala original.
61
Quadro 10 – Valores de alfa de conbach para as subescalas da sobrecarga do cuidador e valor global
Sub escalas
Nº itens Alfa de Cronbach Alfa de
Cronbach versão
portuguesa
(Split-half) Total Parte 1 Parte2
Impacto da prestação de cuidados 11 0.790 0.861 0.906 0.93
Relação Interpessoal 5 0.587 0.636 0.766 0.83
Expectativas com o Cuidar 4 0.582 0.514 0.758 0.67
Perceção de Autoeficácia 2 Não aplicável 0.882 0.80
Sobrecarga global 22 0.860 0.826 0.914 0.93
Reportando-nos à matriz de correlação de Pearson entre as diferentes domínios que
constituem a escala de sobrecarga do cuidador. Notamos a existência de correlações
positivas entre os diferentes fatores, o que nos permite afirmar que ao aumento dos índices
de cada um dos fatores corresponde aumento no outro fator com o qual se correlaciona ou
vice-versa. O maior valor correlacional, situa-se entre as relações interpessoais vs impacto
na prestação de cuidados (r= 0.790) explicando 62,4% da sua variabilidade e o menor na
perceção da autoeficácia com as relações interpessoais (r= 0.025). Por outro lado é também
notório que os maiores índices correlacionais se obtêm com o valor global da escala com
exceção para a prestação da autoeficácia, sendo que o impacto na prestação de cuidados
com a sobrecarga global, explica mais de 80.0% da sua variabilidade (cf. Quadro 11).
Quadro 11 - Matriz de Correlação de Pearson entre subescalas da sobrecarga do cuidador
Impacto
prestação cuidados
Relação Interpessoal
Expectativas com o Cuidar
Percepção de Autoeficácia
Relação Interpessoal 0.790*** -- -- -- Expectativas com o Cuidar
0.573*** 0.430*** -- --
No quadro 12 é reportada a validade discriminante do item que se traduz pela
diferença entre a correlação do item com a escala a que pertence por comparação com
a correlação do item com as escalas a que não pertence.
Podemos verificar que todos os itens estabelecem correlações positivas e
significativas com as subescalas sendo não significativas apenas entre o item 1, 20 com as
expectativas do cuidar e os itens 20 e 21 com a importância na prestação dos cuidados,
relações interpessoais e expectativas de cuidar. A correlação é sempre maior com o
resultado da subescala do qual o item faz parte.
62
Quadro 12 - Correlação dos itens com as subescalas da sobrecarga do cuidador
Itens Imp. prestação
cuidados Relação
Interpessoal Expectativas
cuidar Perceção
autoeficácia r r r
1 Sente que o seu familiar solicita mais ajuda do que aquela que realmente necessita?
0.349*** 0.204** 0.192n.s. 0.321**
2 Considera que devido ao tempo que dedica ao seu familiar já não dispõe de tempo suficiente para as suas tarefas?
0.677*** 0.379*** 0.415*** 0.624***
3 Sente-se tenso/a quando tem de cuidar do seu familiar e ainda tem outras tarefas por fazer?
0.608*** 0.458*** 0.445*** 0.620***
4 Sente-se envergonhado(a) pelo comportamento do seu familiar?
0.479*** 0.660*** 0.210* 0.504***
5 Sente-se irritado/a quando está junto do seu familiar?
0.507*** 0.624*** 0.170n.s. 0.496***
6 Considera que a situação atual afeta de uma forma negativa a sua relação com os seus amigos/familiares?
0.759*** 0.691*** 0.363*** 0.731***
7 Tem receio pelo futuro destinado ao seu familiar?
0.411*** 0.391*** 0.713*** 0.553***
8 Considera que o seu familiar está dependente de si?
0.561*** 0.374*** 0.819*** 0.655***
9 Sente-se esgotado quando tem de estar junto do seu familiar?
0.811*** 0.677*** 0.450*** 0.763***
10 Vê a sua saúde ser afetada por ter de cuidar do seu familiar?
0.810*** 0.586*** 0.552*** 0.768***
11 Considera que não tem uma vida privada como desejaria devido ao seu familiar?
0.807*** 0.617*** 0.474*** 0.759***
12 Pensa que as suas relações sociais são afetadas negativamente por ter de cuidar do seu familiar?
0.803*** 0.642*** 0.366*** 0.742***
13 Sente-se pouco à vontade em convidar amigos para o(a) visitarem devido ao seu familiar?
0.723*** 0.671*** 0.291** 0.689***
14 Acredita que o seu familiar espera que você cuide dele como se fosse a única pessoa com quem ele(a) pudesse contar?
0.351*** 0.197* 0.800*** 0.487***
15 Considera que não dispõe de economias suficientes para cuidar do seu familiar e para o resto das despesas que tem?
0.429*** 0.373*** 0.710*** 0.577***
16 Sente-se incapaz de cuidar do seu familiar por muito mais tempo?
0.695*** 0.789*** 0.450*** 0.713***
17 Considera que perdeu o controlo da sua vida depois da doença do seu familiar se manifestar?
0.746*** 0.555*** 0.424*** 0.708***
18 Desejaria poder entregar o seu familiar aos cuidados de outra pessoa?
0.532*** 0.733*** 0.185n.s. 0.540***
19 Sente-se inseguro acerca do que deve fazer com o seu familiar?
0.604*** 0.790*** 0.459*** 0.678***
20 Sente que poderia fazer mais pelo seu familiar?
0.117n.s. 0.005n.s. 0.191n.s. 0.257*
21 Considera que poderia cuidar melhor do seu familiar?
0.167n.s. 0.043n.s. 0.133n.s. 0.280**
22 Em geral sente-se muito sobrecarregado por ter de cuidar do seu familiar?
0.783*** 0.731*** 0.513*** 0.774***
1.4. Análise dos dados
Após a recolha de dados, efetuou-se uma primeira análise a todos os questionários
para eliminarmos aqueles que se encontrassem incompletos ou mal preenchidos.
Na análise dos dados recorreu-se à estatística descritiva e analítica. Em relação à
primeira, determinamos frequências absolutas e percentuais, algumas medidas de tendência
central ou de localização como médias e medidas de variabilidade ou dispersão como
63
amplitude de variação, coeficiente de variação e desvio padrão, para além de medidas de
assimetria e achatamento, de acordo com as características das variáveis em estudo.
O Coeficiente de variação permite comparar a variabilidade de duas variáveis
devendo os resultados obtidos serem interpretados (Pestana & Gajeiro, 2009).
Coeficiente de variação Classificação do grau de dispersão 0% -15%
16% - 30% >30%
Dispersão baixa Dispersão moderada
Dispersão alta
No que respeita à estatística inferencial, recorremos a testes paramétricos e a testes
não paramétricos.
A utilização de testes paramétricos exige a verificação simultânea de duas
condições, a primeira é que as variáveis de natureza quantitativa possuam a distribuição
normal e a segunda que as variâncias populacionais sejam homogéneas caso se esteja a
comprar duas ou mais amostras.
A estatística não paramétrica, como alternativa aos testes paramétricos, foi utilizada
quando a condição da homogeneidade/normalidade de variâncias entre os grupos não se
verificou (Maroco, 2007) e quando os grupos não se revelaram homogéneos, isto é quanto o
quociente entre o número de elementos que constituem a amostra maior com a menor foi
superior a 1,5 (Pestana & Gageiro, 2009).
Assim, entre os testes não paramétricos aplicámos o teste de U Mann-Whitney que
é um teste alternativo ao teste t-Student para comparar as médias de duas amostras
independentes. O único pressuposto exigido para a aplicação deste teste é que as duas
amostras sejam independentes e aleatórias e que as variáveis em análise sejam numéricas
ou ordinais (Maroco, 2007).
Recorremos também à aplicação do Coeficiente de correlação de Spearman, pois
trata-se de uma correlação linear r entre as variáveis X e Y, mede o grau de associação ou
de relação linear mútua entre as variáveis X e Y. O coeficiente de correlação é adimensional
e situa-se no intervalo 1 1 − ≤ ≤r . A validade estatística do coeficiente de correlação linear
pressupõe que as duas variáveis são aleatórias e provêm de uma população normal
bivariada (Maroco, 2007). O coeficiente de Correlação de Spearman mede a intensidade da
relação entre variáveis ordinais. Aplica-se igualmente em variáveis intervalares/rácio como
alternativa ao R de Pearson, quando neste último se viola a normalidade. No caso em que
os dados não formam uma nuvem “bem comportada”, com alguns pontos muito afastados
dos restantes, ou em que parece existir uma relação crescente ou decrescente em formato
de curva, o Coeficiente de correlação de Spearman é mais apropriado. Este varia entre -1 e
64
1. Quanto mais próximo estiver destes extremos, maior será a associação entre as
variáveis. O sinal negativo da correlação significa que as variáveis variam em sentido
contrário, isto é, as categorias mais elevadas de uma variável estão associadas a categorias
mais baixas da outra variável (Maroco, 2007).
O tratamento dos dados foi realizado através do programa estatístico SPSS
(Statistical Package for the Social Sciences) Versão 20.0.
65
2. Resultados
Neste capítulo procedemos à apresentação dos resultados referentes aos dados
recolhidos. De forma a facilitar a análise dos dados estatísticos obtidos, estes estão
expostos em quadros precedidos da respetiva análise. Este capítulo encontra-se estruturado
em duas partes, a primeira diz respeito à análise descritiva e a segunda à análise
inferencial.
2.1. Análise descritiva
2.2.1. Variáveis clínicas da pessoa com esquizofrenia
Tipo de esquizofrenia
No que se refere ao tipo de esquizofrenia, registou-se que quer no grupo de
cuidadores do género masculino (81,2%), quer no grupo de sujeitos da amostra do género
feminino (58,7%) há o predomínio de doentes com esquizofrenia do tipo paranóide. Não
existem diferenças estatisticamente significativas (p=,171) (cf. Tabela 5).
Tabela 5 – Tipo de esquizofrenia em função do género
Género Masculino Feminino Total Residuais
X2
p
Tipo de esquizofrenia
N % N % N % 1 2
Tipo Paranóide 26 81,2 37 58,7 63 66,3 1,0 -,7 Tipo Indiferenciado 1 3,1 3 4,8 4 4,2 -,3 ,2 5,004 ,171 Tipo Residual 1 3,1 3 4,8 4 4,2 -,3 ,2 Não sabe 4 12,5 20 31,7 24 25,3 -1,4 1,0
Total 32 100 63 100 95 100
Tempo de diagnóstico
Verificou-se que no grupo de participantes do género masculino (51,6%) foi
diagnosticada a esquizofrenia a seu familiar há 21 anos ou superior a este tempo de
diagnóstico, enquanto no grupo dos participantes do género feminino (50,8%) a prevalência
residiu no tempo de diagnóstico de 20 anos ou inferior a tal. Não existem diferenças
estatisticamente significativas (p=,500) (cf. Tabela 6).
66
Tabela 6 – Tempo de diagnóstico em função do género
Género Masculino Feminino Total Residuais
X2
p
Tempo de diagnóstico
N % N % N % 1 2
<=20 anos 15 48,4 30 50,8 19 20,0 -,1 ,1 ,049 ,500 >= 21 anos 16 51,6 29 49,2 76 80,0 ,1 -,1
Total 31 100 59 100 90 100
Idade do doente com esquizofrenia
Verificou-se que a maioria dos doentes com esquizofrenia (68,6%) do género
masculino possui 40 anos ou idades superiores a esta faixa etária, sendo esta é uma
situação análoga à registada no grupo de doentes do género feminino (64,5%). Não existem
diferenças estatisticamente significativas (p=,425) (cf. Tabela 7).
Tabela 7 – Idade do doente com esquizofrenia em função do género
Género Masculino Feminino Total Residuais
X2
p
Idade do Doente com Esquizofrenia
N % N % N % 1 2
<=39 anos 20 31,2 11 35,5 31 32,6 -,2 ,3 ,170 ,425 >= 40 anos 44 68,8 20 64,5 64 67,4 ,1 -,2
Total 64 100 31 100 90 100
Coabitação
Registou-se que são os doentes do género masculino que vivem com familiares
diretos os que mais se evidenciam (62,3%), sendo esta uma situação análoga às doentes do
género feminino (71%), as quais também coabitam com familiares diretos. Não existem
diferenças estatisticamente significativas (p=,285) (cf. Tabela 8).
Tabela 8 – Coabitação em função do género da pessoa com esquizofrenia
Género Masculino Feminino Total Residuais X
2
p Coabitação N % N % N % 1 2
Familiares diretos 40 62,5 22 71,0 31 32,6 -,3 ,4 ,661 ,282 Outros 24 37,5 9 29,0 64 67,4 ,4 -,5
Total 64 100 31 100 90 100
67
2.1.2. Sintomatologia depressiva do cuidador informal
Na Tabela 9 estão representadas as estatísticas referentes à sintomatologia
depressiva. Assim, de acordo com os dados apurados, poder-se-á dizer que se obteve um
mínimo de 0,00 e um máximo de 43,00, com um desvio padrão de 9.92. Não há diferenças
estatisticamente significativas, uma vez que p=0,139.
Tabela 9 - Estatísticas relativas à sintomatologia depressiva
Min Max Média dp CV Sk/erro K/erro Ks (p)
Sintomatologia depressiva
0.00 43.00 21.16 9.92
46,88
0.070 -1.18 0.139
Apresentamos na Tabela 10 os resultados obtidos de acordo com a classificação
preconizada pelos autores da escala da Depressão. Assim, constatou-se que quer nos
participantes do género masculino, quer nos do género feminino, prevalecem os que
revelam depressão média, com 37,50% e 63,50%, respetivamente. A ausência de
depressão é a menos representativa. Aqui constatamos diferenças estatísticas significativas
(p=0,032) para um X2=6,868, o que nos leva a inferir uma depressão tendencialmente mais
marcada para o género feminino.
Tabela 10 - Distribuição dos inquiridos segundo os sintomas depressivos e o género
Género Masculino
(n=32)
Feminino
(n=63)
Total
(n=95)
Depressão N % N % N % X2
p
Ausência de depressão
Depressão leve
Depressão média
9
11
12
28.1
34.4
37.5
7
16
40
11.1
25.4
63.5
16
27
52
16.8
28.4
54.7
6.868 0.032*
*p<0,05
Em primeiro lugar refere-se que se recodificou esta variável considerando os
participantes que tinham depressão e os que não tinham depressão.
A análise da Tabela 11 demonstra que quer nos sujeitos do género feminino, quer
nos sujeitos do género masculino, dominam os inquiridos com sintomatologia depressiva,
com 71,90% e 88,90%, respetivamente, para o género masculino e feminino. Verificou-se
que os participantes sem sintomatologia depressiva são menos representativos na amostra
em estudo. Constatou-se diferenças estatísticas significativas (p=0,036) para um X2=4,386,
68
o que leva a induzir uma manifestação depressiva tendencialmente mais marcada para o
género feminino.
Tabela 11 – Distribuição dos inquiridos segundo os sintomas depressivos e o género
Género Masculino
(n=32)
Feminino
(n=63)
Total
(n=95)
Sintomas depressivos N % N % N % X2
p
Sem
Com
9
23
28.10
71.90
7
56
11.10
88.90
16
79
16.80
83.20
4.386 0.036*
*p<0,05
Já em relação à idade, verificamos, pela análise da Tabela 12, que nos sujeitos com
idade ≤ 39 anos domina a ausência de depressão, com 42,10%; enquanto nos participantes
com idade ≥ 40 anos salientamos a presença de depressão média, com 61,80%. Assim,
constatamos diferenças bastante estatísticas significativas (p=0,002) para um X2=12,588, o
que nos leva a induzir uma depressão tendencialmente mais marcada para os inquiridos
mais velhos.
Tabela 12 - Distribuição dos inquiridos segundo os sintomas depressivos e a idade
Idade ≤ 39 anos
(n=19)
≥ 40 anos
(n=76)
Total
(n=95)
Depressão N % N % N % X2
p
Ausência de depressão
Depressão leve
Depressão média
8
6
5
42.10
31.60
26.30
8
21
47
10.50
27.60
61.80
16
27
52
16.80
28.40
54.70
12.588 0.002**
**p<0,01
Já em relação à idade, apurou-se, pela análise da Tabela 13, que quer nos sujeitos
com idade ≤ 39 anos, quer nos participantes com idade ≥ 40 anos, dominam os inquiridos
com sintomatologia depressiva, com 57,90% e 89,50% respetivamente para os mais novos
e mais velhos. Registou-se que os participantes sem sintomatologia depressiva são os
menos representativos na amostra em estudo. Constatou-se diferenças estatísticas bastante
significativas (p=0,001) para um X2=10,823, o que leva a inferir a existência de uma
manifestação depressiva tendencialmente mais marcada para os inquiridos mais velhos.
69
Tabela 13 - Distribuição dos inquiridos segundo os sintomas depressivos e a idade
Idade ≤ 39 anos
(n=19)
≥ 40 anos
(n=76)
Total
(n=95)
Sintomas depressivos N % N % N % X2
p
Sem
Com
8
11
42.10
57.90
8
68
10.50
89.50
16
79
16.80
83.20
10.823 0.001**
**p<0,01
Analisando a Tabela 14, verifica-se que a grande maioria dos inquiridos sem e com
sintomas depressivos são casados ou vivem em união de facto, respetivamente com
62,50% e 62,00%. Uma vez mais se constatou que os participantes sem sintomatologia
depressiva estão em menor representatividade. Verificou-se que existem diferenças
estatísticas bastante significativas (p=0,001) para um X2=10,823, sugerindo uma
manifestação sintomatológica tendencialmente mais marcada para os inquiridos não
casados.
Tabela 14 - Distribuição dos inquiridos segundo os sintomas depressivos e o estado civil
Sintomas Depressivos Sem
(n=16)
Com
(n=79)
Total
(n=95)
Estado civil N % N % N % X2
p
Solteiro(a)/Divorciado(a)/Viúvo(a)
Casado(a)/União de facto
6
10
37.50
62.50
30
49
38.00
62.00
36
59
37.90
62.10
0.001 0.972
**p<0,01
Relativamente às habilitações académicas, pode salientar-se, pela análise da Tabela
15, que 43,80% dos inquiridos sem sintomas depressivos possuem o ensino secundário, e
67,10% da amostra com sintomas depressivos possuem menos que o ensino secundário.
Os inquiridos com ensino superior são os menos representativos em termos de
sintomatologia depressiva. Registou-se a presença de diferenças estatísticas significativas
(p=0,027) para um X2=7.202, sugerindo uma manifestação sintomatológica tendencialmente
mais marcada para os inquiridos com habilitações literárias mais baixas.
70
Tabela 15 - Distribuição dos inquiridos segundo os sintomas depressivos e as habilitações académicas
Sintomas Depressivos Sem
(n=16)
Com
(n=79)
Total
(n=95)
Habilitações académicas N % N % N % X2
p
Menos que o Ensino Secundário
Ensino Secundário
Ensino Superior
5
7
4
31.20
43.80
25.00
53
17
9
67.10
21.50
11.40
58
24
13
61.10
25.30
13.70
7.202 0.027
**p<0,01
Analisando a Tabela 16, pode dizer-se que 56,20% dos sujeitos da amostra sem
sintomas depressivos residem com outras pessoas sem serem familiares diretos, enquanto
a maioria dos inquiridos com sintomatologia depressiva reside com familiares diretos
(70,90%). Constatou-se diferenças estatísticas significativas (p=0,036) para um X2=4,386, o
que nos leva a induzir uma manifestação de sintomatologia depressiva tendencialmente
mais marcada para os familiares diretos.
Tabela 16 - Distribuição dos inquiridos segundo os sintomas depressivos e o grau de parentesco
Sintomas Depressivos Sem
(n=16)
Com
(n=79)
Total
(n=95)
Grau de parentesco N % N % N % X2
p
Familiares diretos
Outros
7
9
43.80
56.20
58
23
70.90
29.10
63
32
66.30
33.70
4.386 0.036
**p<0,01
Pode salientar-se, pela análise da Tabela 17, que a totalidade (100%) dos inquiridos com
sobrecarga ligeira não apresenta sintomas depressivos, enquanto 85,90% da amostra com
sobrecarga intensa apresenta sintomatologia depressiva. Verificou-se que existem
diferenças estatísticas altamente significativas (p=0,000) para um X2=15,296, o sugere a
presença de uma manifestação se sobrecarga intensa tendencialmente mais marcada para
os inquiridos com sintomatologia depressiva.
71
Tabela 17 - Distribuição dos inquiridos segundo os sintomas depressivos e a sobrecarga
Sobrecarga Sobrecarga
ligeira
(n=3)
Sobrecarga
intensa
(n=92)
Total
(n=95)
Sintomas depressivos N % N % N % X2
p
Sem
Com
3
---
100.00
---
13
79
14.10
85.90
16
79
16.80
83.20
15.296 0.000**
**p<0,01
2.2. Análise inferencial
Neste subcapítulo pretende-se realizar a análise inferencial do trabalho, assim
através da aplicação de testes paramétricos e não paramétricos, valida-se as questões de
investigação propostas anteriormente.
2.2.2. Variáveis sociodemográficas dos familiares de pessoas com esquizofrenia e
sobrecarga
Relação entre sobrecarga, idade e género
Para se saber a influência do género dos cuidadores informais na sua sobrecarga,
efetuou-se um teste U de Mann-Whitney (cf. Tabela 18). Apurou-se que foram os cuidadores
do género feminino a obter médias mias elevadas em todos fatores da sobrecarga,
comparativamente aos cuidadores do género masculino, mas as diferenças só são
estatisticamente significativas para o Fator 1 - Impacto da prestação de cuidados (p=0,030).
No que se refere à variável idade, também se efetuou um teste U de Mann-Whitney
(cf. Tabela 18), cujos resultados demonstram que os participantes com idades iguais ou
superiores a 40 anos foram os que revelaram médias mais elevadas em todos fatores da
sobrecarga, com exceção do Fator 4 - Perceção de autoeficácia, registados nos inquiridos
com idade igual ou inferior a 39 anos, ou seja as variáveis em estudo são independentes.
72
Tabela 18 - Testes U de Mann-Whitney relacionando o género e a idade com a sobrecarga
Dimensões da
sobrecarga
Variáveis
Fator 1 - IPC Fator 2 - RI Fator 3 - EFC Fator 4 - PAE Sobrecarga
total
Ord. média Ord. média Ord. média Ord. média Ord. média
Género
Masculino
Feminino
39.42
52.36
42.88
50.60
46.63
48.70
43.72
50.17
41.25
51.43
(p) 0.030* 0.191 0.726 0.258 0.089
Idade
<39 anos
≥40 anos
41.29
49.68
40.55
49.86
39.03
50.24
49.97
47.51
40.92
49.77
(p) 0.235 0.183 0.109 0.715 0.210
Com base nos resultados apresentados na Tabela 19, pode dizer-se que os
cuidadores solteiros obtiveram, em todos os fatores, médias mais elevadas, condizentes
com maior sobrecarga exceto no Fator 1 - Impacto da Prestação de Cuidado, registados nos
casados (33,66). Assumindo o teste de Levenne igualdade de variâncias não se
encontraram diferenças estatísticas significativas em nenhum dos fatores, em conformidade
com os resultados do Teste t de student, inferindo-se que o estado civil não é preditor da
sobrecarga.
Tabela 19 – Teste t de student relacionado o estado civil e a sobrecarga
Solteiro Casado
Média Dp Média Dp Levene t p
Fator 1 - IPC
Fator 2 - RI
Fator 3 - EFC
Fator 4 - PAE
Fator Total
35.89
16.72
16.36
6.11
75.08
6.41
2.50
2.23
1.28
9.87
36.66
16.61
15.73
5.93
74.93
6.22
2.76
1.84
1.13
9.25
0.644
0.732
0.099
0.474
0.545
-0.580
0.199
1.499
0.712
0.075
0.563
0.843
0.137
0.478
0.940
Relação entre sobrecarga e habilitações literárias
Na Tabela 20 estão expostos os resultados da aplicação do teste de análise de
variância a um fator (ANOVA). Em conformidade com o mesmo, pode verificar-se que os
cuidadores informais que têm habilitações inferiores ao ensino secundário obtiveram as
médias mais elevadas, em todos os fatores da escala, isto é possuem mais sobrecarga, não
existindo diferenças estatísticas significativas em nenhum dos fatores (p>0,05), o que nos
permite afirmar que as habilitações académicas não influenciam a sobrecarga face ao cuidar
da pessoa com esquizofrenia.
73
Tabela 20 - Teste ANOVA relacionando as habilitações académicas e a sobrecarga
Menos secundário Secundário Superior
Média Dp Média Dp Média Dp F p % V.E.
Fator 1 - IPC
Fator 2 - RI
Fator 3 - EFC
Fator 4 - PAE
Fator Total
37.01
17.00
16.15
6.09
76.26
5.49
2.51
2.02
1.20
8.44
35.79
16.37
15.50
5.87
73.34
7.55
2.82
1.84
1.15
10.34
34.54
15.61
16.00
5.85
72.00
7.01
2.81
2.24
1.20
11.54
0.966
1.645
0.904
0.391
1.474
0.384
0.199
0.409
0.677
0.234
2.057
0.618
1.927
0.843
3.104
Relação entre a sobrecarga e grau de parentesco
Pela análise dos resultados da Tabela 21, pode dizer-se que os familiares diretos do
doente com esquizofrenia revelam mais sobrecarga, exceto na Perceção de Autoeficácia,
com relação de dependência apenas para o referido Fator.
Tabela 21 - Teste U de Mann-Whitney o grau de parentesco com o doente e a sobrecarga
Familiares diretos
Ordenação média
Outros
Ordenação média
Mann-whitney p
Fator 1 - IPC
Fator 2 - RI
Fator 3 - EFC
Fator 4 - PAE
Fator Total
53.27
50.13
50.37
43.57
51.66
37.63
43.80
43.33
56.72
40.80
676.00
873.50
858.50
729.00
777.50
0.090
0.284
0.234
0.021*
0.069
2.2.2. Variáveis clínicas (tipo de esquizofrenia, patologia noutros membros da família)
na sobrecarga dos familiares de pessoas com esquizofrenia
Relação entre sobrecarga, tipo de esquizofrenia e patologia mental
Com o intuito de se saber a influência do tipo de esquizofrenia na sobrecarga dos
cuidadores informais, efetuou-se um teste U de Mann-Whitney (cf. Tabela 22). Os resultados
demonstram que a sobrecarga é superior os cuidadores informais com familiares com uma
esquizofrenia não paranóide revelam com, com exceção na Relação interpessoal e nas
Expectativas face o cuidar. Mais sobrecarga, mas sem significância estatística, o que nos
permite afirmar que a sobrecarga do cuidador informal é independente do tipo de
esquizofrenia que possui o doente.
74
Já para a presença de patologia mental noutro familiar, pelo teste de U de Mann-
Whitney (cf. Tabela 22), verificou-se que os inquiridos com outros familiares com esta
patologia foram os que revelaram mais sobrecarga com exceção das Expectativas face o
cuidar e Perceção de autoeficácia, onde se registaram ranks médios mais elevados para os
participantes que não têm outros familiares com esquizofrenia não se registando porém
significâncias estatísticas.
Tabela 22 - Testes U de Mann-Whitney relacionando as variáveis clínicas com a sobrecarga
Dimensões da
sobrecarga
Variáveis
Fator 1 -
IPC
Fator 2 - RI Fator 3 -
EFC
Fator 4 - PAE Sobrecarga
total
Ord. média Ord. média Ord. média Ord. média Ord. média
Esquizofrenia
Paranoide
Outras
46.71
50.55
49.42
45.20
48.28
47.45
47.61
48.77
47.60
48.80
(p) 0.520 0.476 0.889 0.840 0.841
Patologia noutros
membros
Sim
Não
53.43
46.46
49.69
47.52
45.48
48.72
46.24
48.50
52.19
46.81
(p) 0.306 0.747 0.631 0.728 0.430
Variáveis sociodemográficas dos doentes com esquizofrenia (idade, género,
estado civil e residência) e a sobrecarga dos familiares cuidadores
Com o objetivo de se saber a influência da idade do doente com esquizofrenia na
sobrecarga dos seus cuidadores, efetuou-se um teste U de Mann-Whitney (cf. Tabela 23).
Assim, verificou-se que os participantes que cuidam de um doente esquizofrénico na faixa
etária inferior ou igual a 39 anos foram os que revelaram mais sobrecarga em todos os
fatores, com exceção das Expectativas face o cuidar, onde predominam os participantes
cujo doente esquizofrénico tem idade superior ou igual a 40 anos, Constatou-se que existem
diferenças estatisticamente bastante significativas apenas para o Fator 1 - Impacto da
prestação de cuidados (p=0,001) e significativa para a sobrecarga global (p=0,010),
inferindo-se assim que estas variáveis são as únicas preditoras relativamente à idade
No que se refere ao género do doente com esquizofrenia, com o teste U de Mann-
Whitney, constatou-se o predomínio de uma sobrecarga mais elevada nos cuidadores
informais que de um doente esquizofrénico do género feminino em todos os fatores da
sobrecarga comparativamente com os cuidadores informais de doentes esquizofrénicos do
75
género masculino. Somente no Impacto da prestação de cuidados (p=0,030) foram
encontradas significâncias estatísticas
Quanto ao estado civil do doente com esquizofrenia, também através da aplicação
do teste U de Mann-Whitney, se apurou que a maior sobrecarga é encontrada nos
cuidadores cujo familiar esquizofrénico não é casado em todos os fatores da escala,
comparativamente aos que são casados e/ou vivem em união de fatores mas não se
encontraram diferenças estatisticamente significativas.
No referente à zona de residência do doente com esquizofrenia, salienta-se que os
ranks médios mais elevados são os dos participantes, cujo familiar esquizofrénico reside
numa zona urbana, em todos os fatores da sobrecarga, comparativamente aos sujeitos que
cuidam de um familiar esquizofrénico que reside numa zona rural, sem significância
estatística
Tabela 23 - Testes U de Mann-Whitney relacionando as variáveis sociodemográficas do doente com
esquizofrenia e sobrecarga
Dimensões da sobrecarga Variáveis
Fator 1 - IPC
Fator 2 - RI Fator 3 - EFC
Fator 4 - PAE Sobrecarga total
Ord. média Ord. média Ord. média Ord. média Ord. média
Idade
<39 anos ≥40 anos
61.27 41.57
55.81 44.22
46.39 48.78
49.92 47.07
58.42 42.91
(p) 0.001** 0.052 0.688 0.621 0.010* Género
Masculino Feminino
39.42 52.36
42.88 50.60
46.63 48.70
43.72 50.17
41.25 51.43
(p) 0.030* 0.191 0.726 0.258 0.089 Estado civil
Casado/união Outro
38.75 49.09
41.55 48.86
32.85 49.78
44.90 48.36
35.10 49.52
(p) 0.261 0.429 0.063 0.694 0.117 Residência
Urbano Rural
48.16 43.17
48.26 40.00
48.13 44.17
48.63 28.83
48.37 36.67
(p) 0.757 0.605 0.805 0.200 0.469
Variável contextual (sintomatologia depressiva) e sobrecarga dos familiares de
pessoas com esquizofrenia.
Procurou-se averiguar de que forma o score global da sintomatologia depressiva
influenciava a sobrecarga e as suas dimensões (scores) e, para isso, optámos por aplicar
uma Correlação de Pearson.
Pela análise da Tabela 24, verificou-se a existência de correlações positivas em
todos os fatores, sugerindo que com o aumento do score na escala da sintomatologia
76
depressiva aumentam os scores nos fatores da sobrecarga e sobrecarga global. Em termos
de sobrecarga geral, obteve-se uma correlação positiva (r geral=0,498 – associação positiva
moderada), revelando que com o aumento da sintomatologia depressiva, a sobrecarga
diminui. Assim, constatou-se que essas associações se revelam com diferenças estatísticas
bastante significativas (p<0,01) e altamente significativas (p<0,001). Estes resultam sugerem
a sintomatologia depressiva está correlacionada com a sobrecarga dos cuidadores informais
de doentes com esquizofrenia.
Tabela 24 - Correlação relacionando a sobrecarga e suas dimensões com a depressão
Depressão r p
Fator 1 Impacto da prestação de cuidados Fator 2 Relação interpessoal Fator 3 Expectativas face o cuidar Fator 4 Perceção de autoeficácia Sobrecarga global
0.463 0.349 0.363 0.119 0.498
0.000*** 0.001** 0.000***
0.249 0.000***
**p<0,01 ***p<0,001
77
3. Discussão
Nesta parte do trabalho procede-se à discussão dos resultados, tendo-se como
ponto de partida as questões de investigação e os objetivos delineados, fazendo-se
igualmente referência aos fundamentos teóricos expostos na primeira parte.
Começa-se por dizer que se apurou que, nos dois grupos instituídos para o género,
houve um predomínio de cuidadores do género feminino, a quem, por norma, cabe o papel
de cuidador informal de um familiar doente, no caso concreto de um doente com
esquizofrenia.
Figueiredo (2007) definiu o perfil do cuidador, o qual está relacionado mais com o
género feminino cuja idade oscila entre os 45 e os 60 anos; o grau de parentesco (cônjuge,
filha/o e na ausência destes são os amigos e/ou vizinhos); estado civil (casados) e a
proximidade geográfica (coabitação ou vivem próximo do doente). No entanto, a
participação do género masculino é crescente. Sequeira (2007) complementa, mencionando
os quatro fatores de determinação do cuidador informal, que são a relação familiar,
coresidência, género e as condicionantes relativas aos descendentes.
Dias (2011), no seu estudo, verificou também que a maioria dos cuidadores de
doentes com esquizofrenia era do género feminino (78,40%), sendo maioritariamente as
mães (62,20%), com idade média de 59,14 anos, o que é corroborado com a presente
investigação.
Vários estudos têm demonstrado que a presença de um doente mental na família
resulta numa considerável sobrecarga para os seus membros (Magliano, et al., 2000;
Jungbauer et al., 2003). Essa sobrecarga pode, inclusivamente, originar transtornos
psicológicos, tais como: a ansiedade e a depressão, que ocorrem mais frequentemente nas
mulheres que cuidam dos seus filhos ou maridos doentes mentais. Tendo-se em vista a
natureza crónica da doença mental, o familiar é submetido ao efeito prolongado do evento
stressor envolvido, na experiência quotidiana de cuidar do doente, o que pode afetar a sua
própria saúde mental (Martens e Addington, 2006; Rammohan et al., 2002).
No que se refere à sobrecarga dos cuidadores informais de doentes esquizofrénicos,
pode dizer-se que se verificou que os inquiridos do género feminino obtiveram médias mais
elevadas em todos os fatores da sobrecarga, comparativamente aos elementos do género
masculino, mas com significado estatístico apenas para o impacto da prestação de cuidados
(p=0,030). Estes resultados estão em conformidade com os apurados em relação à
sintomatologia depressiva, ou seja, foram as inquiridas que revelaram mais sintomatologia
depressiva, denotando, mais sobrecarga. Uma vez mais se reitera o perfil dos cuidadores
78
informais, sendo maioritariamente mulheres, com relação de parentesco direto com o
doente. Neste sentido salienta-se Almeida et al. (2010), cujo estudo demonstrou igualmente
um predomínio de mulheres a desempenhar o papel de cuidadoras informais de um familiar
com esquizofrenia, revelando as mesmas uma grande sobrecarga familiar, que se refere ao
impacto causado no meio familiar pela convivência com o doente, envolvendo aspetos
económicos, práticos e emocionais. Os cuidadores informais sobrecarregados têm menor
saúde mental.
As cuidadoras desenvolvem maiores níveis de stresse do que os homens (Frias,
Tuokko & Rosenberg, 2005; Giacomin et al., 2005; Mehta, 2005); apresentam menor
autoestima e valores mais altos de ansiedade e de sintomatologia depressiva, com fortes
repercussões na sua qualidade de vida (Frias et al., 2005; Martins, 2006). Neste sentido e
tendo em conta a experiência profissional relembra-se que são normalmente as mulheres
que detêm na família o papel de olhar por. Por outro lado, tem-se verificado na prática
profissional que as mulheres cuidadoras de doentes com esquizofrenia, sobretudo filhos e
maridos, revelam cansaço, mormente psicológico, uma vez que esta tarefa lhes traz
implicações para as várias dimensões da sua vida (física, psicológica, social, profissional e
económico), resultando numa maior sobrecarga. Para elas, há uma obrigação moral que
conduz a um maior envolvimento com a pessoa doente, aumentando os estados de stresse,
nomeadamente, quando das crises psicóticas. A sua sobrecarga, nos seus diferentes
domínios, é influenciada também pelo número de consultas e pelo número de internamentos
psiquiátricos.
Apurou-se que os familiares diretos do doente com esquizofrenia revelam médias
mais elevadas em todos os fatores, exceto na perceção de autoeficácia, existindo diferenças
estatísticas significativas (p=0,021) apenas para esse fator. Deste modo, pode dizer-se que
o elemento da família que assume o papel de cuidador vai desenvolver várias tarefas que
vão estar diretamente relacionadas com as necessidades do recetor (Martins, 2006).
Tarefas novas, desconhecidas e imprevisíveis, para além das que já vinham a acontecer no
seu quotidiano e que vão desencadear naquele uma série de sentimentos como medo,
culpa, incerteza no futuro, responsabilidade pelo doente, sensação de descontrolo
emocional, angústia e tristeza que comprometem o seu bem-estar (Fernandes & Garcia,
2009; Pinquart & Sorensen, 2006; Silveira, Caldas & Carneiro, 2006; Sousa, 2007).
Este papel traz ao familiar cuidador mudanças substanciais na sua vida individual e
familiar. Cuidar de uma pessoa com esquizofrenia obriga a grande dispêndio de tempo,
energia, novas tarefas, por vezes desagradáveis e desconfortáveis, por períodos de tempo
imprevisíveis (Pinquart & Sorensen, 2006). Deste modo, as consequências do cuidar fazem-
se sentir a nível físico, emocional e social e manifestam-se por alterações sentidas pelos
79
cuidadores, nomeadamente complexidade das tarefas, desleixo com o seu autocuidado,
diminuição das horas de sono, insónia e consequente cansaço, irritabilidade, depressão,
stresse emocional, redução do convívio social, frustração, comprometimento nos
comportamentos de promoção da saúde, medo, desinteresse pela vida, desânimo e baixa
qualidade de vida (Fernandes & Garcia, 2009a; Sena & Gonçalves, 2008).
Salienta-se que também se constatou que os inquiridos que cuidam de doentes
esquizofrénicos mais novos (≤ 39 anos) obtiveram, em todos os fatores da sobrecarga, as
médias mais elevadas, com exceção das expectativas face o cuidar, onde predominam os
utentes com idades iguais ou superiores a 40 anos, mas com bastante significado estatístico
apenas para o impacto da prestação de cuidados (p=0,001) e significativo para a sobrecarga
global (p=0,010).
Martins (2006) encontrou mais implicações na vida pessoal, menos satisfação com o
papel e com o familiar e maior sobrecarga global nos cuidadores mais velhos, o que
corrobora os dados alcançados na presente investigação. Tendo em conta estes dados, e
de acordo com Sousa et al. (2007), os cuidadores de doentes com doença psiquiátrica
ressente-se tanto a nível estrutural, processual, cognitivo e emocional, aumentando a sua
sobrecarga. No momento de assumir o papel de cuidador, a pessoa, por norma, ainda não
está consciente das exigências associadas a este papel. Cuidar de uma pessoa com
esquizofrenia obriga a grande dispêndio do tempo pessoal e energia, implica desenvolver
novas e, muitas vezes, tarefas desagradáveis e desconfortáveis.
A sobrecarga física, emocional e social está diretamente relacionada com as
características do cuidador, como seja a idade, género, grau de parentesco, falta de apoio
dos serviços de saúde e vinculação ao cuidar (Armstrong-Esther et al., 2005; Fernandes &
Garcia, 2009b; Giacomin, Uchoa & Lima Costa, 2005; Martins, 2006).
Constatou-se igualmente que, nos dois grupos instituídos para o género, houve um
predomínio de inquiridos com depressão média, com 37,50% e 63,50% respetivamente para
o género masculino e feminino, resultando em diferenças estatísticas significativas (p=0,032)
para um X2=6,868, o que leva a induzir uma depressão tendencialmente mais marcada para
o género feminino. Nos sujeitos com idade ≤ 39 anos, predomina a ausência de depressão,
com 42,10%; enquanto nos participantes com idade ≥ 40 anos registou-se a presença de
depressão média, com 61,80%. Assim, constatou-se diferenças bastante estatísticas
significativas (p=0,002) para um X2=12,588, o que leva a inferir a presença de uma
depressão tendencialmente mais marcada para os inquiridos mais velhos. Estes resultados
corroboram os alcançados por Guedes (2008), tendo sido observado que os cuidadores
informais de doentes com esquizofrenia que possuíam mais idade apresentavam maiores
80
níveis de sobrecarga e revelavam graus mais elevados de sintomatologia depressiva.
Maurin e Boyd (2010) referem que a sobrecarga afeta a saúde mental dos cuidadores
informais com destaque para as medidas de sobrecarga subjetiva.
Basheer et al. (2005), através do seu estudo, também verificaram que os cuidadores
de doentes esquizofrénicos mais velhos eram os que apresentavam maior nível de
depressão e de ansiedade, quando comparados com cuidadores de doentes mais novos.
Constatou-se também que quer nos sujeitos do género feminino, quer nos sujeitos do
género masculino, dominaram os inquiridos com sintomatologia depressiva, com 71,90% e
88,90% respetivamente, para o género masculino e feminino. Sem sintomatologia
depressiva é o menos representativo. Neste sentido, registou-se diferenças estatísticas
significativas (p=0,036) para um X2=4,386, o que sugere a presença de uma manifestação
depressiva tendencialmente mais marcada para o género feminino. Estes resultados
corroboram os anteriormente analisados.
Na pesquisa de St. Onge e Lavoie (2007), com uma amostra de 99 familiares a
presença de sintomatologia depressiva nas mulheres cuidadoras de doentes com doença
mental, onde estava incluída a esquizofrenia, foi maior do que nos homens. Segundo os
autores, isto resulta da sobrecarga sentida pelo familiar cuidador informal por ter que cuidar
dos seus filhos e/ou maridos doentes. No estudo de Martens e Addington (2006), com 41
familiares de doentes esquizofrénicos, o impacto no bem-estar psicológico foi relacionado
com aspetos diferenciados da experiência do cuidado, tais como o estigma associado à
doença mental, os comportamentos inadequados do doente e o sentimento de perda por
parte do familiar cuidador, resultando em sintomatologia depressiva.
Relação à idade, apurou-se que quer nos sujeitos com idade ≤ 39 anos, quer nos
participantes com idade ≥ 40 anos, dominam os inquiridos com sintomatologia depressiva,
com 57,90% e 89,50% respetivamente para os mais novos e mais velhos. Sem
sintomatologia depressiva é o menos representativo. Deste modo, registaram-se diferenças
estatísticas bastante significativas (p=0,001) para um X2=10,823, o que leva a inferir uma
manifestação depressiva tendencialmente mais marcada para os inquiridos mais velhos.
Estes resultados estão igualmente em conformidade com os anteriormente expostos em
relação à idade dos sujeitos da amostra e a presença de depressão.
Há, portanto, na literatura da especialidade, evidência de que a sobrecarga sentida
pelos familiares mais velhos, cuidadores de doentes com esquizofrenia, pode resultar em
consequências negativas para a sua saúde mental. A deterioração na saúde mental dos
familiares cuidadores, por outro lado, pode contribuir para uma maior frequência de
situações de conflito ou de stresse para com o doente, o que afetaria o próprio tratamento
81
ou os cuidados prestados, uma vez que eles reagem com dificuldade a acontecimentos
interpessoais stressantes (Martens & Addington, 2006). O efeito da sobrecarga na saúde
mental dos familiares cuidadores pode ser atenuado por fatores mediadores, como a
capacidade de enfrentar situações de adversidade e o suporte social que o familiar possui
(Guedes, 2008; Rose, 2006).
Verificou-se igualmente que a grande maioria dos inquiridos sem e com sintomas
depressivos são casados ou vivem em união de facto, respetivamente com 62,50% e
62,00%, resultando em diferenças estatísticas bastante significativas (p=0,001) para um
X2=10,823, o que leva a induzir uma manifestação sintomatológica tendencialmente mais
marcada para os inquiridos não casados. Estes dados não corroboram os encontrados por
Guedes (2008), pois, na sua amostra, houve um predomínio de cuidadores casados ou em
união de facto a manifestar sintomatologia depressiva.
Relativamente às habilitações académicas, pode salientar-se que 43,80% dos
inquiridos sem sintomas depressivos possuem o ensino secundário e 67,10% com sintomas
depressivos possuem menos que o ensino secundário. Os inquiridos com ensino superior
são os menos representativos. Encontroaram-se diferenças estatísticas significativas
(p=0,027) para um X2=7.202, sugerindo uma manifestação sintomatológica tendencialmente
mais marcada para os inquiridos com habilitações literárias mais baixas. Estes resultados
poder-se-ão dever ao facto de as pessoas com menos habilitações académicas não terem
tanto acesso a informações e, consequentemente, a ganhos de conhecimento acerca da
doença do seu familiar e da forma como lidar com o mesmo. Por outro lado, as pessoas com
mais habilitações académicas estarão melhor informadas sobre os aspetos psicossociais
que envolvem o estigma da esquizofrenia, ou seja, entre as razões que podem levar à
estigmatização da esquizofrenia, podem referir-se o pouco conhecimento acerca do que é a
esquizofrenia e sobre os processos atuais de tratamento; os preconceitos e as ideias
populares, sem fundamento científico, mas que estão enraizadas na nossa cultura e que
levam as pessoas a ter medo de conviver com pessoas que sofrem de perturbação mental,
por pensarem que essas pessoas podem ser conflituosas e perigosas, ou não saberem
comportar-se em sociedade. Estes fatores poderão redundar em sintomatologia depressiva
no familiar cuidador, uma vez que o mesmo tem de ter a capacidade para lidar, em
simultâneo, com o familiar doente e com as consequências da estigmatização.
A experiência profissional tem demonstrado que a sociedade leiga vê a esquizofrenia
com bastante negatividade, sentindo-se amedrontados e talvez até ameaçados, já que a
opinião de algumas pessoas é de que se deve manter o indivíduo aprisionado nos hospitais
psiquiátricos, em casa, ou mantidos sob efeito de medicamentos. Por norma, alega-se que
um esquizofrénico é incapaz de produzir algo suficientemente ideal para os ditos “normais”,
82
o que causa muita pressão psicológica nos seus familiares cuidadores. Muitas vezes, o
familiar cuidador sente-se desvalorizado ou excluído socialmente, gerando sofrimento
psicológico. Na literatura é perentoriamente assumido que as pessoas com doença mental
são discriminadas socialmente e/ou vítimas de estigma social (Graham et al., 2003). Este
processo discriminatório e/ou estigmatizante estende-se a todos aqueles que a rodeiam,
nomeadamente aos familiares cuidadores. Os cuidadores de pessoas com esquizofrenia
experienciam vergonha, medo e embaraço (Werner, & Heinik, 2008). De acordo com Werner
(2005), a simpatia, a compaixão e a consternação estão associadas a uma diminuição de
comportamentos discriminatórios. Por outro lado, a rejeição, o ridículo e a pouca tolerância
estão associados a um aumento de discriminação, resultando numa maior sobrecarga dos
próprios cuidadores informais.
Verificou-se igualmente que 56,20% da amostra sem sintomas depressivos reside
com “outros” elementos, a grande maioria dos inquiridos com sintomatologia depressiva
reside com familiares diretos. Constatou-se diferenças estatísticas significativas (p=0,036)
para um X2=4,386, o que nos leva a induzir uma manifestação de sintomatologia depressiva
tendencialmente mais marcada para os familiares diretos. Estes resultados corroboram o
que a literatura referencia acerca de quem assume, por norma, o papel de cuidador informal
de um familiar doente, ou seja, os familiares mais diretos, grosso modo, as mulheres
(Siqueira, 2010). Estes cuidadores informais podem estar expostos durante muitos anos a
exigências físicas e emocionais, consideradas como stressores crónicos, que podem gerar
um distresse psicológico, e fatores de risco para comportamentos não adaptativos,
resultando em depressão (Vitaliano, Zhang, & Scanlan, 2003).
Verificou-se que a totalidade (100%) dos inquiridos com sobrecarga ligeira não
apresenta sintomas depressivos, ao passo que 85,90% da amostra com sobrecarga intensa
apresenta sintomatologia depressiva. Verificou-se que existem diferenças estatísticas
altamente significativas (p=0,000) para um X2=15,296, sugerindo que os sujeitos com
sobrecarga intensa apresentam tendencialmente mais sintomatologia depressiva. Estes
resultados corroboram os encontrados por Train et al. (2005), segundo os quais há uma
forte relação entre os níveis de sobrecarga elevados e a sintomatologia depressiva nos
cuidadores de doentes com doença mental.
Verificou-se a existência de correlações positivas em todos os fatores da sobrecarga,
sugerindo que com o aumento do score na escala de depressão, aumentam os scores nos
fatores da sobrecarga e sobrecarga global. Assim, constatou-se que essas associações
resultaram em diferenças estatísticas bastante significativas (p<0,01) e altamente
significativas (p<0,001), o que leva a concluir que existem efeitos significativos da depressão
na sobrecarga dos cuidadores informais de doentes com esquizofrenia .
83
Tendo em conta estes resultados, pode dizer-se que os mesmos vão ao encontro
dos apurados por Dias (2011), uma vez que a autora concluiu que a atividade de cuidar de
um doente esquizofrénico afeta a saúde mental dos familiares cuidadores, estando
igualmente correlacionadas a depressão e com o aumento da sua sobrecarga.
Em suma, perante uma situação de doença de um familiar, como é o caso da
esquizofrenia, a pessoa é confrontada com múltiplos desafios, que exigem dela capacidade
de adaptação, capacidade para mobilizar determinados recursos (coping) e, ainda, a
capacidade para se autocuidar, o que implica também gerir a sua própria vida. É neste
sentido que, a ação dos enfermeiros é decisiva para a promoção ou proteção da saúde,
para a prevenção da redução da sobrecarga física e psicológica destes familiares.
A relação terapêutica torna-se a ferramenta mais importante que o enfermeiro possui
para trabalhar com as pessoas em Saúde Mental. Neeb (2000) argumenta que este trabalho
envolve a parceria com utente e a sua família, de modo a atender às múltiplas facetas do
transtorno psicopatológico. Para isso, o enfermeiro deve assumir o compromisso com um
trabalho multidisciplinar e possuir conhecimentos para agir de acordo com cada situação e
condições das pessoas que necessitam de ajuda. Esta forma de olhar/acolher diariamente
os seus familiares de doentes esquizofrénicos só é conseguida quando se cuida
“emprestando”, por momentos, um pouco de nós mesmos no estabelecer de uma relação de
ajuda terapêutica, com a finalidade de “nos envolvermos” no problema do outro, com o “seu
sentir” o problema.
84
85
Conclusão
O presente trabalho de investigação, centrado na problemática da sobrecarga dos
familiares/cuidadores informais do doente com esquizofrenia, contribuiu para uma ampliação
de conhecimentos a diferentes níveis, tais como: profissionais, académicos e investigativos,
sem menosprezar a dimensão pessoal e social nele contida.
Profissionalmente permitiu o aprofundar de conhecimentos na área de saúde mental.
Possibilitou reequacionar modos de ação com aplicação na prática profissional.
Em termos académicos possibilitou consolidar conhecimentos teórico-práticos
sustentados cientificamente que permitiram agir com maior segurança na relação
estabelecida.
Assim, através do quadro concetual, concluiu-se que, ao longo do ciclo vital, o ser
humano vivência etapas que poderão ser, por si só, geradoras de conflito interno e que
aumentam a sua sobrecarga, como é o caso concreto da prestação de cuidados informais a
um familiar com esquizofrenia. A desarmonia interna do indivíduo leva ao desequilíbrio da
sua homeostase e, consequentemente, à crise. Porém, de acordo com a bibliografia
consultada, um acontecimento pode ser gerador de crise para determinadas pessoas, mas
não o ser para outras. Muitas vezes, a crise não tem a ver com o acontecimento em si, mas
antes com a interpretação que a pessoa faz dele ou a ameaça que representa na fase do
seu ciclo vital. Neste sentido, é a interpretação e a percepção de ameaça do acontecimento
que tende a provocar um importante nível de stresse e de angústia, causando, inclusive,
sintomatologia depressiva, que impede o indivíduo de, por si só, utilizar os seus recursos
internos e externos para reencontrar o seu equilíbrio e desempenhar, de forma harmoniosa,
os seus papéis pessoais, familiares e sociais. Nesta linha de pensamento, quando a
capacidade de adotar estratégias na resolução de problemas não se revela ajustada por
parte dos familiares de doentes esquizofrénicos, o confronto necessário para a transição e
adaptação aos estímulos stressores torna-se ineficaz e a pessoa “entra em crise”,
ameaçando a sua saúde física e mental.
Neste contexto, e tendo como ponto de referência o paradigma do cuidar, e na
essência da prática de Enfermagem em Saúde Mental e Psiquiatria, o profissional de saúde
deve executar uma avaliação global que permita uma descrição clara da história de saúde
do doente, com ênfase na história de saúde mental do indivíduo e família. Como tal, o
enfermeiro deve ajudar o familiar do doente com esquizofrenia a melhorar a compreensão
que tem de si próprio, das suas crenças, dos seus receios e das suas dificuldades na
prestação de cuidados ao seu familiar doente, para adquirir, na sua ação, congruência e
86
confiança na relação com o familiar doente, assumindo assim o papel de cuidador
consciente numa aliança terapêutica, em parceria com os profissionais de saúde.
Desta feita, os profissionais de saúde devem ter uma atitude, essencialmente,
centrada nas dificuldades que os familiares do doente com esquizofrenia possam, dando-
lhes a possibilidade de expressar as suas dúvidas e, angústias e receios. Assim, estar-se-á
a proceder de forma eficaz na aliança terapêutica, que tem por base o processo de
comunicação assertiva. Ao investir na comunicação, na disponibilidade de tempo, na
utilização das suas capacidades intelectuais e afetivas, o enfermeiro está a contribuir para
uma intervenção adequada, em função das necessidades manifestadas pelo familiar do
doente com esquizofrenia, ajudando-o a minimizar a sua sobrecarga.
Acresce mencionar que uma aliança terapêutica eficaz exige, segundo Chalifour
(2008), uma capacidade de abertura e de conhecimento de si e de reconhecimento da forma
como estes processos são expressados, negados, deturpados ou recusados no profissional
e na pessoa. Esta competência está em conformidade com as habilidades, capacidades e
competências dos enfermeiros.
Como unidade de competências, a Ordem dos Enfermeiros (2010) refere que o
enfermeiro de Saúde Mental e Psiquiatria executa uma avaliação das necessidades em
saúde mental de um grupo ou comunidade, avaliando a repercussão para a saúde mental
da interface pessoa, sua família e todos os sistemas que a rodeiam, assim como executa
uma avaliação global que permita uma descrição clara da história da saúde mental da
pessoa. Refere ainda que o enfermeiro deve avaliar os fatores promotores e protetores do
bem-estar e saúde mental do doente e dos seus familiares, executando igualmente uma
avaliação das capacidades internas da pessoa e os recursos externos para manter e
recuperar a sua saúde mental, avaliando o impacte que esse problema tem na vida da
pessoa com enfase na funcionalidade e autonomia.
Dando continuidade à contribuição da elaboração do presente trabalho, a sua
dimensão investigativa pretendeu encontrar respostas para as questões de investigação
inicialmente elaboradas, tendo-se concluído, através do estudo empírico que a variável
género interferiu significativamente no Fator 1 - Impacto da prestação de cuidados, bem
como a variável grau de parentesco com o doente esquizofrénico, nomeadamente foram os
familiares não diretos do doente com esquizofrenia revelam médias mais elevadas no Fator
4 - Perceção de Autoeficácia. Concluiu-se que a variável sociodemográfica idade do doente
com esquizofrenia interferiu na sobrecarga dos seus cuidadores, mais concretamente ao
nível do Fator 1 - Impacto da prestação de cuidados e na Sobrecarga Global. A variável
87
género do doente com esquizofrenia interferiu estatisticamente na sobrecarga do seu
familiar cuidador, mais concretamente no Fator 1 - Impacto da prestação de cuidados.
Concluiu-se igualmente que houve uma correlação estatisticamente significativa
entre a sintomatologia depressiva e a sobrecarga dos familiares que coabitam com a pessoa
com esquizofrenia.
Estes resultados levam a concluir que o enfermeiro assume um papel importante
junto dos familiares de doentes com esquizofrenia, sobretudo junto daqueles que têm uma
maior sobrecarga, decorrente da prestação de cuidados ao seu familiar doente. Logo, um
enfermeiro, que desempenhe funções com famílias de pessoas com esquizofrenia, deve,
segundo Townsend (2011, p. 136), “facilitar a mudança na estrutura familiar”, para uma
melhor adaptação. Para isso, o enfermeiro tem um papel de integrador da família, devendo-
se unir à família para que possa haver reestruturação. É necessário igualmente haver uma
avaliação da estrutura familiar, uma vez que a família do doente esquizofrénico pode
apresentar dificuldades na interação com o seu familiar doente. Nesta avaliação, analisam-
se, como afirma Townsend (2011, p. 136), “os padrões transicionais, a flexibilidade e o
potencial de mudanças do sistema, limites e estágio de desenvolvimento da família e o
papel do paciente identificado no sistema”.
Deste modo, sugere-se que os enfermeiros ajudem a reestruturar a família,
estabelecendo uma aliança terapêutica, “tornando-se parte” dessa mesma família, podendo
trabalhar o sistema e facilitar as circunstâncias para permitir mudanças estruturais,
resultando na potenciação de menor sobrecarga dos familiares que coabitam com um
doente esquizofrénico, atendendo, inclusive, às características próprias desta patologia.
Assim, os enfermeiros devem ajudar na resolução de conflitos que surgem da convivência
com um familiar esquizofrénico; auxiliar os familiares a reduzir a sua ansiedade; dar-lhe
condições para lutar contra as forças destrutivas que podem interferir diretamente na sua
qualidade de vida; fortalecer a família contra perturbações críticas e fomentar a identidade
familiar e os seus valores próprios, no sentido de ajudar os familiares a diminuir a sua
sobrecarga.
Como tal, sugere-se uma intervenção em grupo, para os familiares/ cuidadores,
ajudando-os a lidarem com acontecimentos desgastantes do papel de cuidador do doente
com esquizofrenia e ajudá-los a crescer e a evoluir, de forma a lidarem, o melhor possível,
com a situação do seu familiar. Esta intervenção apoia o cuidador a lidar e a assumir a difícil
tarefa de “cuidar” de um familiar com esquizofrenia. Esta tarefa cria stresse e traz
sobrecarga, o que pode diminuir as reservas do cuidador em adaptar-se efetivamente à sua
88
situação. O enfermeiro pode ajudar o familiar a ultrapassar as consequências negativas da
situação e a estabelecer novas vias para uma melhor e mais positiva adaptação à situação.
Ao terminar-se este trabalho e ao ter-se chegado a este patamar, acredita-se ter
atingido todos os objetivos que nos propusemos no seu início. Todavia, ao longo da sua
realização foram surgindo limitações, sobretudo no que se refere ao preenchimento dos
questionários, cuja amostra ficou aquém das expectativas, ou seja, não se conseguiu uma
amostra mais dilatada (N=95), o que não permite a generalização dos resultados a outras
amostras. Assim, sugere-se a continuidade desta investigação com o recurso a um estudo
longitudinal e numa amostra maior, o que provavelmente se reverterá num conhecimento
mais aprofundado do fenómeno em estudo.
Termina-se com a consciência que a necessidade de refletir está sempre presente
na pessoa que deseja evoluir pessoal e profissionalmente. Por isso, procurou-se refletir na
sobrecarga dos familiares que coabitam com um doente esquizofrénico e desempenham o
papel de cuidador, o que passou principalmente pela necessidade de se evoluir, de se
aperceber dos erros, medos e das interligações que se efetuam na profissional.
Independentemente da vida profissional e pessoal serem realidades paralelas, elas estão
associadas, pois uma condiciona a outra, chegando mesmo a formar uma linha única.
Admite-se que se amadureceram os conhecimentos que se possuía, enquanto
profissional de enfermagem a exercer num Serviço de Psiquiatria, na implementação desta
investigação, que ajudou a esclarecer o posicionamento perante a temática e a conhecer
melhor os familiares que, face aos seus problemas no contacto diário com um doente
esquizofrénico, demonstraram possuir uma grande sobrecarga. Salienta-se que aprofundar
conhecimentos, que funcionam como ferramentas da relação de ajuda, permitirá ir ao
encontro do outro, desenvolvendo-se não só a capacidade de criar relações interpessoais e
intrapessoais facilitadoras de crescimento, como também o próprio crescimento pessoal e
profissional. Não se pode dizer que é fácil, mas pode afirmar-se que foi muito gratificante a
realização deste trabalho, na medida em que contribuiu para o desenvolvimento da
capacidade de “ir e voltar”, o que se consolidou com a aquisição e desenvolvimento das
competências em enfermagem de Saúde Mental e Psiquiatria.
89
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93
Anexos
1
Assinale as suas respostas.
Variáveis Sociodemográficas
1. Género:
Masculino Feminino
2. Idade:
Até aos 20 anos
Dos 21 anos aos 39 anos
Mais de 40 anos
3. Estado Civil:
Solteiro (a)/ Divorciado (a)/ Viúvo (a)
Casado (a)/ União de Facto
4. Habilitações Académicas
Menos que o Ensino Secundário
Ensino Secundário
Ensino Superior
5. Grau de Parentesco com o doente_________________
6. É o Cuidador habitual?
Sim
Não
Se respondeu “Não” na questão anterior, terminou o seu questionário.
O presente questionário destina-se à recolha de dados no âmbito da realização da tese
de Mestrado em Educação para a Saúde.
O seu preenchimento é livre. Agradeço, desde já, a disponibilidade e colaboração.
Os dados serão tratados apenas , para fins académicos, salvaguardando a
confidencialidade, com o pressuposto do anonimato na resposta a este questionário.
2
Variáveis Clínicas
1. Tipo de Esquizofrenia
Tipo Paranóide
Tipo Desorganizado
Tipo Catatónico
Tipo Indiferenciado
Tipo Residual
Não Sabe
2. Ano do Diagnóstico da Doença__________________
3. Tipo de Medicação
4. Antes do diagnóstico de esquizofrenia, o doente já apresentava doenças do foro
psiquiátrico?
Sim
Não
4.1. Se sim, quais? ______________________________________________
5. Existem patologias psiquiátricas noutros membros da família?
Sim
Não
5.1. Se sim quais? _____________________________
Medicamento Jejum Pequeno-
almoço
Almoço Lanche Jantar
Deitar
3
6. Que sintomatologia encontra na pessoa dependente com esquizofrenia?
Perda de iniciativa
Perda de interesse pelas actividades de vida diária
Humor depressivo
Isolamento
Comportamento inadequado
Não cuida da aparência pessoal
Não se preocupa com a higiene pessoal
Outros
7. Com que frequência mensal ocorrem os episódios de crise de esquizofrenia?
De 0 a 5 Meses
De 6 a 10 Meses
Mais de 11 Meses
Caracterização da Pessoa com Esquizofrenia
1. Idade:
Até aos 20 anos
Dos 21 anos aos 39 anos
Mais de 40 anos
2. Género:
Masculino Feminino
3. Habilitações Académicas Menos que o Ensino Secundário
Ensino Secundário
Quais? _____________________
Ensino Superior
4
4. Estado Civil
Solteiro (a)/ Divorciado (a)/ Viúvo (a)
Casado (a)/ União de Facto
5. Com quem vive?
Pais
Marido/Esposa
Irmão (ã)
Outro Quem ?
6. Local da Residência
Zona Urbana
Zona Rural
Escala de Depressão de Beck (Beck Depression Inventory)
INSTRUÇÕES
Neste questionário existem grupos de afirmações. Por favor leia cuidadosamente cada uma
delas. A seguir seleccione a afirmação, em cada grupo, que melhor descreve como se sentiu. NA
SEMANA QUE PASSOU, INCLUINDO O DIA DE HOJE.
Certifique-se que leu todas as afirmações de cada grupo antes de fazer a sua escolha. No final
clique no botão calcular para ver o resultado do seu inventário de depressão.
A – TRISTEZA
Não me sinto triste.
Sinto-me melancólico(a) ou triste.
Estou triste e melancólico(a) o tempo todo e não consigo sair disso.
Estou tão triste e infeliz que isso é extremamente doloroso.
Estou tão triste e infeliz que não consigo suportar.
5
B – PESSIMISMO
Não estou particularmente triste ou desencorajado(a) em relação ao futuro.
Sinto-me desencorajado(a) em relação ao futuro.
Sinto que não tenho nada para alcançar.
Sinto que nunca superarei meus problemas.
Sinto que o futuro é sem esperança e que as coisas não podem melhorar.
C – SENSO DE FRACASSO
Não me sinto um fracassado(a).
Sinto que tenho fracassado(a) mais que uma pessoa comum.
Sinto que tenho realizado muito pouca coisa que valha.
Quando olho para trás, na minha vida, tudo o que posso ver é um monte de fracassos.
Sinto que sou um completo fracasso como pessoa (pai, marido, mulher...).
D – INSATISFAÇÃO
Não estou particularmente insatisfeito(a).
Sinto-me entediado(a) a maior parte do tempo.
Não tenho gosto pelas coisas como costumava ter.
Não consigo ter satisfação por nada, atualmente.
Estou insatisfeito(a) com tudo.
E – CULPA
Não me sinto particularmente culpado(a).
Sinto-me mal ou indigno(a) uma boa parte do tempo.
Sinto-me bastante culpado (a).
Sinto-me mal ou indigno (a), praticamente o tempo todo, agora. Sinto-me mal ou indigno
(a), praticamente o tempo todo, agora.
Sinto-me como se estivesse bem ruim e sem valor.
6
F – EXPECTATIVA DE PUNIÇÃO
Não acho que esteja sendo punido.
Tenho um pressentimento de que alguma coisa ruim possa acontecer comigo.
Sinto que estou sendo punido(a) ou que irei ser punido.
Sinto que mereço ser punido(a).
Quero ser punido(a).
G – AUTODESGOSTO
Não me sinto desapontado(a) comigo mesmo.
Estou desapontado(a) comigo mesmo.
Não gosto de mim.
Estou aborrecido(a) comigo mesmo.
Eu me odeio.
H – AUTO-ACUSAÇÕES
Não me sinto, de qualquer modo, pior que os outros.
Sou crítico em relação a mim por minhas fraquezas ou erros.
Eu me culpo sempre por minhas falhas.
Eu me culpo por tudo de mau que acontece.
I – IDEIAS SUICÍDAS
Não tenho quaisquer pensamentos sobre prejudicar a mim mesmo(a).
Tenho pensamentos sobre prejudicar a mim mesmo(a), mas eu não os colocaria em
prática.
Sinto que estaria em melhor situação morto(a).
Sinto que minha família estaria em melhor situação se eu estivesse morto(a).
Eu me mataria se pudesse.
7
J – CHORO
Não choro mais do que o habitual.
Choro mais agora do que costumava.
Agora, choro o tempo todo.
Costumava ser capaz e chorar, mas agora não consigo, mesmo que o queira.
K – IRRITABILIDADE
Não sou mais irritado agora do que já fui.
Fico aborrecido ou irritado mais facilmente do que costumava.
Atualmente sinto-me sempre irritado.
Não me irrito mais com as coisas que costumavam me irritar.
L – INTERAÇÃO SOCIAL
Não perdi o interesse pelas outras pessoas.
Estou menos interessado pelas outras pessoas do que costumava estar.
Perdi a maior parte do meu interesse pelas outras pessoas.
Perdi todo o meu interesse pelas outras pessoas.
M – INDECISÃO
Tomo decisões tão bem quanto antes.
Adio as tomadas de decisões mais do que costumava.
Tenho mais dificuldade em tomar decisões do que antes.
Não consigo mais tomar decisões.
N – MUDANÇA DA IMAGEM CORPORAL
Não acho que minha aparência esteja pior do que costumava ser.
Estou preocupado por estar parecendo velho ou sem interesse.
Acho que há mudanças permanentes na minha aparência que me fazem parecer sem
interesse.
Acredito que pareço feio.
8
O – RETARDO PARA O TRABALHO
Posso trabalhar tão bem quanto antes.
Preciso de um esforço extra para fazer alguma coisa.
Tenho que me esforçar muito para fazer alguma coisa.
Não consigo mais fazer trabalho algum.
P – INSÔNIA
Consigo dormir tão bem como o habitual.
Não durmo tão bem quanto costumava.
Acordo um a duas horas mais cedo que habitualmente e tenho dificuldade em voltar a
dormir.
Acordo várias horas mais cedo do que costumava e não consigo voltar a dormir.
Q – SUCETIBILIDADE À FADIGA
Não fico mais cansado do que o habitual.
Fico cansado com mais facilidade do que costumava.
Sinto-me cansado ao fazer qualquer coisa.
Estou cansado demais para fazer qualquer coisa.
R – ANOREXIA
O meu apetite não está pior do que o habitual.
O meu apetite não é tão bom quanto costumava ser.
O meu apetite está muito pior agora.
Não tenho nenhum apetite.
S – PERDA DE PESO
Não tenho perdido muito peso, se é que perdi algum recentemente.
Perdi mais de dois quilos e meio.
Perdi mais de cinco quilos.
9
Perdi mais de sete quilos.
T – PREOCUPAÇÃO SOMÁTICA
Não estou mais preocupado com minha saúde do que o habitual.
Estou preocupado com problemas físicos, tais como dores, indisposição do estômago ou
prisão de ventre.
Estou muito preocupado com problemas físicos e é difícil pensar em outra coisa.
Estou tão preocupado com meus problemas físicos que não consigo pensar em qualquer
outra coisa.
U – PERDA DO INTERESSE SEXUAL
Não notei qualquer mudança recente no meu interesse por sexo.
Estou menos interessado por sexo do que costumava estar.
Estou muito menos interessado em sexo atualmente.
Perdi completamente o interesse por sexo.
10