dissertação mestrado estevam 2010
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULOPUC SP
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EMSERVIÇO SOCIAL
Estevam César Silva
A economia no andar de baixo: Ascender ou acender perspectivas de pertencimento criadas a partir da renda das pessoas. Uma
análise do programa de microcrédito do Banco do Povo no município de Sorocaba, SP.
MESTRADO EM SERVIÇO SOCIAL
São Paulo
2009
1
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULOPUC SP
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EMSERVIÇO SOCIAL
Estevam César Silva
A economia no andar de baixo: Ascender ou acender perspectivas de pertencimento criadas a partir da renda das pessoas.
Uma análise do programa de microcrédito do Banco do Povo no município de Sorocaba, SP.
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC – SP, como exigência parcial para obtenção do titulo de Mestre em Serviço Social, pelo Programa de Estudos Pós-Graduados em Serviço Social, sob orientação da Professora Doutora Maria Carmelita Yazbek.
São Paulo
2010
2
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULOPUC- SP
Banca Examinadora
Profa. Dra.Maria Carmelita Yazbek
Profa. Dra.Maria Lucia Martinelli
Profa. Dra.Maria Lucia de Amorim Soares
Profa. Dra.Terezinha de Fátima Rodrigues
Profa. Dra.Maria Lucia Carvalho da Silva
3
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULOPUC- SP
“São os simples que nos libertam dos simplismos, que nos pedem a explicação científica mais consistente, a melhor e mais profunda compreensão da totalidade concreta que reveste de sentido o visível e o invisível.O relevante está no ínfimo. É na vida cotidiana que a História se desvenda ou se oculta.
José de Souza Martins.
.A sociabilidade do homem simples: cotidiano e história na modernidade anômala, São Paulo, : HUCITEC, 2000, p 13.
4
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULOPUC- SP
“A melhor maneira de ser universal é narrar bem a sua aldeia”
Fíodor Dostoiévski
5
Dedico este trabalho a todas as pessoas subjugadas pelo sistema político e pelo poder econômico, que procuram no cotidiano encontrar as mais diversas condições para manutenção de suas vidas.Ao meu pai, Benedicto, que pelos seus ideais trilhou uma estrada espinhosa para garantir valores éticos e morais de vida pela sobrevivência de sua família e encontrando condições para, também, atender as aspirações políticas e materiais de muitos que com ele conviveu.À Maria Eliza, minha mãe, com a perspicácia feminina soube ser mãe participante e parceira nas discussões e batalhas de derrotas e conquistas que pavimentaram os caminhos para a formação e manutenção de uma família em tempos de grandes interesses supressores dos direitos dos homens.Ao ser humano, por tudo que é, tudo que foi e principalmente por tudo que pode ser, nos seus atos, nos resultados e principalmente na geração de condições para os que no futuro virão.
6
Agradecimentos
À minha querida professora Dra. Maria Carmelita Yazbek, com orgulho ‘minha
orientadora’, que conduziu e me permitiu buscar a análise, a observação e a
interpretação pelos caminhos do mundo acadêmico com o olhar do social.
Ao mestre Evaldo Amaro Vieira que provocou e me despertou para os mais
intrigantes pensamentos e discussões sobre a essência do homem.
A todos os professores do programa com quem tive a oportunidade de conviver e
que me permitiram conhecê-los não somente pelas celebridades que são, pelas
imagens que transmitem, mas principalmente pelos seres humanos que cada qual
representa traduzidos pelas incessantes batalhas que travam pelos interesses e
para as conquistas que a nossa sociedade carece.
Aos professores da PUC SP, refletidos na instituição que me orgulho de levar em
currículo, com os quais tive a oportunidade e o prazer de poder ampliar e conquistar
meus conhecimentos.
Aos colegas com quem pude trocar experiências, conhecer lugares, vivenciar
emoções e principalmente construir relações, elevando-os à condição de
cumplicidade na amizade.
À equipe do Banco do Povo de Sorocaba, em especial ao Sr. João Batista, gerente
responsável pela unidade, que pacientemente me recebeu e muito favoreceu esse
trabalho de pesquisa.
Aos sujeitos da pesquisa, essencialmente humanos, que me receberam concedendo
as entrevistas, conversando sobre suas vidas e gentilmente convidando-me para os
muitos cafés que se repetiram em muitos encontros, permitiram aproximar os
anseios do pesquisador com a realidade vivenciada por essas pessoas que orbitam,
em muitos casos, distanciadas do mundo acadêmico.
7
SUMÁRIO
8
Pág.
Introdução
16
Seção 1 O contexto político e econômico 22
a Globalização financeira 24
b Liberalização financeira no Brasil 26
1.1 Mudanças no mundo do trabalho 27
a Mudanças e os impactos na sociedade 30
b Impacto na vida dos trabalhadores 31
c Impacto na organização da classe trabalhadora 32
d História do trabalho no Brasil 37
e Trabalho formal no Brasil 40
f Trabalho informal no Brasil 42
Seção 2 O fator Renda.
a Incluir ou inserir 46
b Fator renda como possibilidade de inclusão 48
c Causas da não renda 50
d O Consumo e o vetor do pertencimento na sociedade. 55
2.1 A renda e suas relações com os programas e as Políticas Sociais no Brasil.
58
aOs Programas de Redistribuição, Transferência de renda e o Microcrédito
58
b Um meio institucional de “demonstrar” os pobres à sociedade 61
cOrigem dos recursos dos programas de redistribuição e transferência de renda
65
d Destinação dos recursos dos programas de transferência de renda. 66
2.2 A origem do microcrédito 71
a A difusão do microcrédito 72
b Mitos sobre o crédito popular 76
c O surgimento do Microcrédito no Brasil 78
e O sistema brasileiro de microcrédito 81
2.3 O Banco do Povo Paulista 86
a Resultados operacionais 87
9
b O BP na região administrativa de Sorocaba 87
2.4 Contextualização e Classificação político-administrativa da RA de Sorocaba
91
a O município de Sorocaba/SP 99
b Indicadores socioeconômicos do município 102
c Um pouco de história sobre Sorocaba. 102
d O consumo e o pertencimento na sociedade 105
Seção 3 A atuação do Banco do Povo no Município de Sorocaba 111
a O desempenho operacional 112
b Perfil dos negócios 115
c Os clientes do Banco do Povo de Sorocaba. 117
d Depoimentos coletados nas entrevistas 125
3.1 As interpretações das entrevistas, associadas aos indicadores. 128
a O interesse em deter o poder sobre os pobres. 129
b A idéia do pertencimento 132
c A questão do desemprego e a relação com o trabalho. 136
dAscender e acender na economia no andar de baixo, os desafios para os pobres.
137
e A identificação pelo consumo; Pertencendo a um mercado. 141
f Os Papéis. Do Estado, da Sociedade. 145
g Uma Lógica Social - Processo de participação do social no mercado. 147
Considerações finais 154
Referências 159
Anexos
A Questões: dirigidas aos Candidatos à crédito no Banco do Povo. 165
B Questões aos agentes de crédito do Banco do Povo 169
C Formulários 172
D Depoimentos coletados nas entrevistas 173
E Entrevista por ano e números de contratações 176
F Termo de livre consentimento 179
Notas 181
LISTA DE TABELAS, FIGURAS, GRÁFICOS E MAPAS.
10
TabelasPág.
1 Estimativa de famílias pobres e população total segundo grandes regiões. 44
2 Valor dos repasses dos programas de transferência de renda 51
3 Valor dos repasses dos programas 53
4 Instituições de Microcrédito Produtivo Orientado reg. Sudeste 66
5 Instituições de Microcrédito Produtivo Orientado reg. Sul 67
6 Instituições de Microcrédito Produtivo Orientado reg. Centro-Oeste 67
7 Instituições de Microcrédito Produtivo Orientado reg. Norte 68
8 Instituições de Microcrédito Produtivo Orientado reg. Nordeste 69
9 Número de operações por RA. 72
10 Recursos emprestados por RA 73
11 RA de Sorocaba – Municípios com maior número de operações e recursos 74
12 Produto e Renda - Participação no PIB do Estado 76
13 Produto e Renda per capita (R$) 77
14 Caracterização dos municípios, de acordo com o perfil do PIB. 79
15Classificação dos municípios da RA - Sorocaba, quanto ao panorama social, IPRS.
81
16 Acesso a bens de consumo – Município de Sorocaba 84
17Porcentagem da Renda Apropriada por Estratos da População, 1991 e 2000
85
18 IDHm – Índice de Desenvolvimento Humano – Municipal - Sorocaba 85
19 Desempenho operacional do Banco do Povo de Sorocaba 98
20 Prazos de financiamento do recurso emprestado 104
21 Número de contratos firmados por ano de contratação. 105
22 Número de contratos por ano de contratação 105
23 Valor dos recursos emprestados por número de contratações. 108
24 Depoimentos coletados nas entrevistas. 110
Figuras
1 Foto: Agência Famiglia, 2002 129
2 Propagandas institucionais do Ministério do Desenvolvimento Social 132
3 Material Institucional MDS 133
Gráficos1 Classificação dos municípios da RA Sorocaba conforme grupos do IPRS 80
11
2 Perfil dos negócios por número de contratos 99
3 Principais Atividades, % de operações. 100
4 Perfil dos negócios do BPP - Sorocaba 102
5 Número de contratos por ano 105
Mapas
1 Mapa 1 : Localização geográfica da RA de Sorocaba 75
2 Mapa 2 : Localização geográfica do município de Sorocaba 83
LISTA DE SIGLAS
12
AID - Associação Internacional de Desenvolvimento
AITEC – Acción International
BID - Banco Interamericano de Desenvolvimento
BIRD - Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
BPC - Benefício de Prestação Continuada de Assistência Social
CADUNICO - Cadastro Único para Programas Sociais/ CadÚnico
CEPAL Comissão Econômica para a América Latina
CIADI - Centro Internacional para Arbitragem de Disputas sobre Investimentos
CLT - Consolidação das Leis do Trabalho
CFI - Corporação Financeira Internacional
DIAP - Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar
DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador
FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador
FED - Federal Reserve
FGTS – Fundo de Garantia por Tempo de Serviço,
FMI - Fundo Monetário Internacional
GBANK - Grameen Bank
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH M - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
13
IRPS - Índice Paulista de Responsabilidade Social
IMF - Instituições de Microfinanças
ISO - International Organization for Standardization
MDS - Ministério do Desenvolvimento Social
MERCOSUL - Mercado Comum do Sul
MTE - Ministério do Trabalho e Emprego
MIGA - Multilateral Investment Guarantee Agency
OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OIT - Organização Internacional do Trabalho
ONU – Organização das Nações Unidas
PROGER – Programa de Geração de Emprego e Renda
PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
PNMPO - Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado
PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - IBGE
PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
RA - Região Administrativa
RG - Região de Governo
RMSP - Região Metropolitana de São Paulo
SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SFN - Sistema Financeiro Nacional / Banco Central do Brasil
14
Resumo
A questão da renda confirma-se como meio de sobrevivência, que na sua plena manifestação se estabelece pelo consumo. Uma renda que pode ser obtida pelo trabalho realizado e remunerado; pela redistribuição e transferência entre classes sociais e pelo crédito concedido como valor de antecipação de renda futura. As experiências sobre redistribuição e transferência de renda proporcionam ao beneficiário a pretensão de sua participação no mundo do consumo, de bens e serviços ofertados pelo modelo reinante, sugerindo sua inserção na sociedade. Estes indivíduos necessitam de habilidade e prática no mundo do consumo, carecendo de preparo e adequação para os modelos de vida social, de forma a atender as expectativas do sistema capitalista para formação de novos consumidores. Como horizonte a ser alcançado sinaliza-se o atributo do pertencimento, sugerindo que a inserção na vida em sociedade se realiza pelo acesso a bens e serviços. Esta introdução ao sistema atende primeiramente a aspiração do atual sistema econômico e financeiro para a formação de “empreendedores”, iniciando-se a partir da apropriação da realidade do individuo e das suas necessidades particularizadas que se constroem e emergem como essenciais à sobrevivência. Os governos, pressionados para o atendimento da crescente massa de pessoas excluídas do processo de formação econômico-financeiro, criam a condição preliminar para esta investidura concedendo valores de “renda mínima” para a sobrevivência do individuo. O recebimento de valores, programado e monitorado, introduz as pessoas na prática individual da utilização dos meios para acessar os atuais recursos financeiros - cartões de banco, senhas eletrônicas, etc - com contrapartidas disciplinadoras e controladoras focadas nas áreas da educação e saúde transformando-se em essenciais para a manutenção de sua vida. Esta prática atua como estímulo a esses “beneficiários” fomentando a atividade do consumo. Forma-se, então, no individuo a cultura da renda e esta se estabelece consecutivamente à proposta de transferência por redistribuição. A condição seguinte é a concessão do crédito em pequenos valores prosseguindo nos conceitos da prática anterior como ‘disciplinadores e educadores do consumo consciente’. É a condição preliminar de preparação dos indivíduos para a inserção no mundo do consumo com a perspectiva de pertencimento na vida social utilizando uma das ferramentas das microfinanças, como o microcrédito orientado e produtivo, para a formação de empreendedores e micro-empreendedores a partir do atual conceito econômico-financeiro. A questão da renda contida nos programas de redução da pobreza com redistribuição de renda pela transferência, a exemplo o Bolsa Família, e o microcrédito do Banco do Povo, como política governamental de concessão de crédito em pequenos valores visam em suas propostas preliminares a formação de empreendedores locais. Este trabalho busca avaliar qual o impacto alcançado pelo programa de concessão de crédito ofertado pelo Banco do Povo de Sorocaba, São Paulo, que atua antecipando a renda futura para os pretendentes, e estudar a proposta de relação de continuidade, anunciada pelo governo federal para atrelar o programa de redistribuição de renda ao de concessão de crédito. A primeira hipótese busca elucidar a questão da privação das capacidades básicas do individuo através da ausência de renda como fator de permanência na condição de subalternidade social e se, confirmada essa condição subalterna, ela se estabelece no local (lócus) onde as pessoas vivem e se realizam dando continuidade à reprodução social da pobreza. A segunda hipótese trilha o caminho da desconstrução das formas de renda obtidas pelo trabalho que destituiu muitos indivíduos de suas capacidades, contribuindo para a informalidade no mundo do trabalho e perpetuando condições de dependência e subordinação, exclusão e pobreza.
Palavras chave: microcrédito, pertencimento, inclusão social, pobreza, transferência de renda.
15
Summary
The question of income is confirmed as a means of survival, which in its full manifestation is established by consumption. An income that can be obtained for work done and paid, the transfer and redistribution between social classes and the credit granted in anticipation of the value of future income. Experiments on redistribution and income transfers provide the recipient's claim of his involvement in the consumption of goods and services provided by the reigning model, suggesting their integration into society. These individuals need skill and practice in the consumer world, lacking fitness and preparation for the models of social life in order to meet the expectations of the capitalist system for training new users. How goal to be reached indicates the attribute of belonging, suggesting that this insertion in society takes place through access to goods and services. This introduction to the first system meets the aspiration of the current economic and financial system for the formation of "entrepreneurs", starting from the appropriation of the reality of the individual and their individualized needs that are constructed and emerge as essential to survival. Governments, pressured to meet the growing mass of people excluded from the process of economic and financial training, create a precondition for this endowment giving values of "minimum income" for the survival of the individual. The receipt of securities, planned and monitored, introduces this individual in solo practice for the use of current resources - bank cards, electronic passwords, etc - with disciplined and controlled counterparts focused on education and health becoming essential for maintenance of his life. This practice serves as a stimulus to these "beneficiaries" promoting the activity of consumption. Is formed, then the individual's culture and this income is established consecutively to the proposed transfer for redistribution. The following condition is to grant credit in small amounts pursuing the concepts of previous practice as' disciplinarian and educators of conscious consumption. " It is the precondition of preparing individuals for entry into the consumer with the prospect of membership in a social life using the tools of microfinance, such as micro-oriented and production, training of entrepreneurs and micro-entrepreneurs from the current term economic and financial. The issue of income contained in programs to reduce poverty through income redistribution by the transfer, such as Bolsa Familia, and microcredit People's Bank, as government policy for granting credit in small amounts in their proposals seek preliminary training of entrepreneurs sites. We seek to assess what impact the program has the credit offered by the People's Bank of Sorocaba, São Paulo, which acts in anticipation of future income for the applicants, and to study the proposed link of continuity, announced by the federal government to harness the redistribution program income to lending. The first hypothesis seeks to elucidate the question of deprivation of basic capabilities of the individual by the lack of income as a factor to remain in subordinate social status and confirmed that condition subordinate it down in place (locus) where people live and conduct giving continue the social reproduction of poverty. The second hypothesis track the path of deconstruction of the forms of income obtained by the work that brought many people of their abilities, contributing to informality in the working world and perpetuating conditions of dependence and subordination, exclusion and poverty.
Keywords: microcredit, belonging, social inclusion, poverty, income transfer.
16
INTRODUÇÃO
Com as luzes da relevância que merece a apresentação de um projeto de pesquisa,
tenho como objetivo analisar a relação entre a questão da renda, a possibilidade da
concessão de crédito para a população em condição de pobreza, os entraves
burocráticos, as perspectivas e as possibilidades inseridas nos programas de
concessão de microcrédito, enfocando o contexto das dificuldades econômicas e
sociais com o conseqüente deslocamento - crescente - de trabalhadores para a
situação da informalidade, conduzindo muitas pessoas na busca de trabalho e renda
necessários para sobrevivência básica.
Pretende-se realizar a avaliação da percepção da pobreza através dos reflexos da
ausência da renda, o conceito de renda percebida individualmente como apenas
uma amostra das pessoas afetadas, aceitando que como toda amostra representa
uma parte, os demais, a outra parte, muitas vezes denominados de "parcela" da
população, é que são os integrantes do grande contingente que aspira por uma
articulação de programas e estratégias regionalizadas e identificadas para a
efetivação de uma vida digna. Essa necessária articulação e sua eficácia
prescindem de um ordenamento político e econômico, mas principalmente do olhar
pelo social, considerando a realização do individuo no seu local de origem, onde ele
vive, onde se estabelece e se reproduz socialmente como constitutivo das condições
para um empoderamento local.
Muitos dos questionamentos surgem e se confirmam com o estudo das relações de
poder pela constituição das forças econômicas dos movimentos neoliberais, que
primaram pelo desprezo às questões locais no processo de formação social. Para
essas análises, o formato acadêmico permitiu separar as interpretações da
realidade, das paixões que cegam, buscando contribuir para que os resultados
dessas análises avaliem as hipóteses levantadas.
17
Tendo como tema "A Economia no andar de baixo: Ascender ou acender as:
perspectivas de pertencimento criadas a partir da renda das pessoas. Uma análise
do programa de microcrédito do Banco do Povo no município de Sorocaba, uma
hipótese desta dissertação busca elucidar a questão da privação das capacidades
básicas do individuo, através da ausência de renda, sendo condicionante de sua
permanência na subalternidade social e, se essa condição de subalternidade, é
confirmada no local (lócus) onde as pessoas vivem, se realizam, influenciam e são
influenciadas. Outra hipótese trilha o caminho da desconstrução das formas para se
conseguir renda pelo trabalho que, por destituir os indivíduos de suas capacidades
produtivas - aquilo que sabem fazer ou almejam fazer - contribui para a manutenção
desses indivíduos na informalidade, reduzindo-os e perpetuando a condição de
dependência social e conseqüente reprodução da pobreza. Procuro identificar a
existência formalizada e a prática do crédito concedido pelo sistema de microcrédito
adotado pelos governos, e em suas esferas, e também como essa intervenção
governamental pode repercutir na qualidade de vida das pessoas.
A importância da pesquisa está na possibilidade de visualizar o impacto dos
recursos destinados, e “ofertados”1, às camadas mais pobres da população. Avaliar
a prática da concessão de valores e crédito que sugerem contribuir no ambiente
social com a promessa de “Mobilidade Social”i das pessoas e a possibilidade da
construção das condições para um “desenvolvimento com liberdade”2.
Neste contexto buscamos encontrar respostas para a situação brasileira referente às
questões da renda das pessoas, sua concentração e possibilidade de redistribuiçãoii
pela concessão do crédito denominado “microcrédito produtivo”, destinado
prioritariamente aos pobres - suas facilidades e dificuldades - os interesses dos
pobres e os outros interesses - políticos e políticos partidários - suas destinações -
ao consumo e/ou para geração da renda.
Apresento uma definição pactuada pelas organizações internacionais sobre as
características básicas dos modelos de renda e do sistema de “microcrédito”, bem
1 Ofertados, no sentido de concessão de créditos públicos subsidiados (como exemplo o Banco do Povo - São Paulo) e dos créditos oferecidos pelas financeiras com juros exorbitantes.muito superior aos bancos comerciais.2 SEN, Amartya Kumar, ‘Desenvolvimento como Liberdade” São Paulo, Companhia da Letras, 2008
18
como sua evolução institucional, lastreados e confirmados pelos Objetivos do
Milênio (ODM) definidos pela ONU. Consciente de que temas polêmicos são
abordados, tais como, a questão da concentração da renda, a redistribuição, os
conceitos de pobreza e sua perpetuação, a exclusão em sociedade, a formação
social brasileira, a constituição do mundo do trabalho - formal e informal -, a
formação do individuo considerando a apropriação da força de trabalho, a
estagnação econômica e uma promessa de mobilidade na sociedadeiii.
A análise da questão da desigualdade de distribuição de renda, por ser uma questão
mundial, está pautada em discussões amplamente conhecidas e debatidas. Isto
implica que, enquanto alguns países propiciam uma qualidade de vida relativamente
alta para seus cidadãos, proveniente da alta renda per - capita, iv outras nações
padecem com a desigualdade e a má distribuição de renda mundial, configurando a
falta de crescimento econômico, a fome, a miséria, as doenças e os cidadãos
desprovidos de acesso a condições mínimas de qualidade como a educação. Essa
situação tem se confirmado pela diferença de renda existente entre as nações e tem
se ampliado nas últimas décadas. v A questão da renda, sua composição, as
particularidades, a anterioridade da sua posse, as condicionalidades, as formas de
conquistá-la, o poder da renda e o ‘empoderamento’ do individuo, nos remetem à
condição da concentração da renda, vi e suas desigualdades resultantes dos
processos descompassados de fomentação do desenvolvimento econômico
dissociado do desenvolvimento social como característica do capitalismo e em
especial, no caso brasileiro.
O posicionamento sobre a atual “política pública” brasileira, referindo-se ao trabalho
e rendavii, e a necessidade de reformulação do papel do Estado brasileiro3 como
representante da sociedade para elaborar e implementar efetivas políticas sociais
são abordados a partir da sua condição de existência e do seu processo de
formulação. Como resultado deste processo se concretiza um formato de
atendimento destinado para as pessoas despossuídas de um efetivo controle social
num contexto de pouca ou nenhuma experiência da representação política. A
condição de existência deste controle na sociedade se forma contribuindo para a
3 O atual papel do Estado brasileiro frente às questões sociais.
19
criação e manutenção de conselhos comunitários inexpressivos ou viciados pelo
exercício dos favorecimentos.
O cotidiano das pessoas na ordem econômica e financeiraviii é tema de um capítulo
que propicia a avaliação das condições ao entendimento sobre a gestão da
economia popular4, familiar e particularmente do indivíduo. A questão da pobreza
assume interpretações e fomenta debates em diversos momentos históricos, em
relação à noção de inserção social, ix como “objeto de política pública,.(...) . é fluída
e ambiciosa não havendo correspondência entre a prática e suas representações.
Apresenta-se como produto de estratégias paradoxais do Estado”, que ...”de um
lado, Estado-maiúsculo transmuta a ideologia de cidadania e solidariedade em
sociedade contratualizante,..... e de outro, o Estado-minúsculo se apresenta e
transfere para a sociedade a responsabilidade da inserção, sem definir o contorno
da política”.5
A alternativa política encontrada pelo sistema e adotada pelos governos é a
transferência da renda e a destinação dos recursos para o crédito popular, cujos
critérios para concessão são rigorosos, pouco divulgados e menos incentivadores
como estratégias ou programa de contenção ou redução da pobreza, estimulando e
imprimindo uma idéia de “empreendedorismo” às pessoas, favorecendo a iniciativa
particular e atendendo aos dispositivos do sistema, ou seja, a individualização. A
experiência mais divulgada nos últimos dez anos sobre concessão de crédito,
empréstimos a juros menores que os praticados pelos bancos e instituições
financeiras, é a do ‘microcrédito’.
O que hoje se convencionou chamar de ‘microcrédito’ é o resultado da experiência
de um professor de economia de Bangladeshx, Muhammad Yunus, que em 1976,
colocou em funcionamento naquele país na Aldeia de Jobra, um banco privado que
realizava operações de empréstimos de baixo valor às pessoas pobres, o Grameen
Bank.6 Essa experiência, internacionalmente conhecida, revelou-se como “sucesso
na concepção de um modelo de concessão de crédito de “pequenos montantes” –
4 Como conceito de “Economia do andar de baixo”, informalidade. Milton Santos in:: “Encontro com Milton Santos, ou Mundo Global visto do lado de cá. Entrevista dirigida por Silvio Tendler. Vídeo, 2007.5 SILVA, M.O S, 1997, p 356 YUNUS, 2000 p32 (O Banqueiro dos Pobres)
20
daí microcrédito – aos pobres, sem acesso ao sistema financeiro formal (Yunus,
2000; 2001).
No Brasil, apesar da definição de uma “função social dos bancos” xi de fomentação
ao crédito visando a integração dos indivíduos ao contexto econômico e social, este
espaço é mal explorado pelos bancos públicos e os bancos privados pouco se
interessam em fomentar a prática da concessão pelo “alto investimento em
treinamentos” para se "trabalhar com os pobres" e a ‘desprezível perspectiva de
retorno do investimento pelo lucro’ em relação aos ganhos conseguidos com
grandes empréstimos financeiros. Quando o interesse surge dos bancos, tanto
privados quanto públicos, as ações são destacadas como programas de promoção à
“Responsabilidade Social Empresarial”. De todas as formas percebe-se que as
exigências impostas às pessoas pretendentes a algum tipo de crédito,
principalmente aos pobres e/ou aos que atuam na informalidade, traduzem-se em
barreiras que, de tempos em tempos, são instaladas e reformuladas dificultando os
acessos, tanto à acessibilidade física - representada pelas portas giratórias,
agências luxuosas, localização e distanciamento da realidade das pessoas - quanto
às barreiras de informações que impossibilitam para a compreensão dos termos
contratuais, distantes do cotidiano e do discernimento das pessoas, subestimando
desta forma a capacidade de investimento e produtividade de muitos indivíduos
pertencentes às camadas do andar de baixo da pirâmide populacional.
A coleta de dados e entrevistas se identifica e localiza, no sistema de microcrédito e
programas sociais pelos estudos focados no município de Sorocaba, São Paulo, xii a
efetiva inexistência de políticas públicas que contribuam para as anunciadas
propostas de redução dos atuais níveis de pobreza e eliminação da reprodução
social dependentexiii. Percebe-se que no transcorrer dos programas e
desenvolvimento das políticas, a questão da apropriação da renda gradativamente
se afasta da discussão principal.
21
Seção I - O contexto político e econômico.
O capital e o crédito, rompendo as fronteiras dos Estados, investem no modelo de
internacionalização num processo que nasce junto com a expansão do capitalismo
mercantil, primeiramente na Europa e alastra-se rapidamente a partir do
estabelecimento dos impérios coloniais do século XVI. Logo depois da primeira
revolução industrial, ocorre a internacionalização produtiva tendo começado a partir
da expansão das empresas inglesas pelo mundo, seguindo a divisão internacional
do trabalho proposta pela Inglaterra, levando consigo a adoção do padrão ouro-
libraxiv. Com a segunda revolução industrial, a internacionalização das grandes
empresas foi aprofundada pela concorrência entre as grandes potências.
A concorrência entre as grandes empresas multinacionais lideradas pela expansão
das grandes empresas de origem americana inaugura o inicio da
‘transnacionalização produtiva do pós-guerra’xv. O dólar, como moeda que conquista
a hegemonia nos negócios rompe as fronteiras americanas, porém não alcança a
liberalização comercial e financeira como o ocorrido sob o padrão-ouro.
“A maioria dos países aderiu ao padrão-ouro e buscou defender o câmbio de suas moedas. Por outro lado a intervenção estatal era, com freqüência, destinada a defesa do setor exportador de possíveis efeitos adversos da sobreprodução no mercado mundial e da obsolescência de determinados bens de consumo e técnicas atrasadas de produção”. (GARRETÓN, 2007 p 60)
A maior expansão comercial ocorre entre as empresas, matrizes e as filiais, que
romperam as barreiras protecionistas das suas origens nacionais e regionais, mais
especificamente as que ocorreram na América Latina e no Mercado Comum
Europeu.
Com o estímulo às políticas de desregulamentação cambial e financeira impostas
pelo modelo neoliberal "sugeridas" e condicionadas pelas autoridades econômicas
norte-americanas, surge o fenômeno da globalização financeira que se sobrepõe a
transnacionalização produtiva.
22
“...o fenômeno da globalização caracterizado por uma aparente homogeneidade capitalista, (...) pôs em evidência a nova natureza do conflito social, a predominância da ideologia e das políticas neoliberais e a exclusão em massa de vastos setores mundiais.” (GARRETÓN, 2007, p 38)
O financeiro, em detrimento do produtivo, passa a condicionar a economia mundial
num modelo de lógica financeira global com penetração territorial por todas as
nações. A globalização financeira fixa suas origens em Bretton Woods, que
significou a ruptura do padrão monetário ouro-dólar possibilitando a flutuação
cambial e a mobilidade do capital financeiro.
“As negociações de Bretton Woods, ao fim da Segunda Guerra Mundial, facilitaram o estabelecimento do dólar como moeda internacional. Esse papel foi mantido pela confiança de que, com suas vastas reservas de ouro, os EUA iriam honrar o compromisso de fornecer o metal precioso aos bancos centrais estrangeiros em troca de dólares, a uma taxa fixa de 35 dólares por onça (a onça, medida inglesa, equivale a 28,349 gramas). No fim dos anos 1960, o crescente déficit comercial e os encargos decorrentes da intervenção militar americana no Vietnã criaram um enorme acúmulo de dólares no exterior. Diante do aumento desenfreado da demanda por ouro em troca desses dólares, os EUA abandonaram unilateralmente a conversão antes pactuada. Isso, porém não conduziu ao desmantelamento da hegemonia do dólar” (VASUDEVAN, 2009, p20-32)7
O grande movimento do capital representado na liquidez internacional migra seus
recursos para os Estados Unidos a partir de um conjunto de políticas incentivadoras
para atração destes capitais retomando em 1979 a "diplomacia do dólar" xvi.
Esta reversão do sentido da liquidez internacional, concentrando os recursos
financeiros, obriga os demais países do mundo capitalista a promoverem a
desregulamentação financeira, liberalizando os fluxos internacionais do capital e
financiando a crescente dívida interna e externa norte-americana.
“Na década de 1970, os mercados do Eurodólar serviriam como os principais meios para reciclar os superávits obtidos pelos países exportadores de petróleo para as economias em desenvolvimento, sobretudo da América Latina. Esse processo tronou-se um instrumento de reanimação do predomínio americano. As ditaduras militares da década de 1970 (...) bem como os regimes de mercado livre que se seguiram a essas ditaduras (...) foram reforçados pela repressão e apoiados pelos sempre disponíveis empréstimos fornecidos e baseados nas aplicações feitas pelos fundos de petróleo. Assim que essa bonança de crédito barato chegou ao fim, em virtude da crise da dívida externa de 1982, uma nova onda de reformas neoliberais e de liberalização financeira foi imposta pelos pacotes de salvamento elaborados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial. Essa crise serviu para consolidar o domínio do dólar..(..).”
7 Ramaa Vasudevan, professor de economia na Universidade do Colorado , EUA, integrante da União para Políticas Econômicas Radicais -URPE, em artigo: O império em Xeque, Revista Retrato do Brasil, nº 24 julho 2009, p 20-32
23
As políticas de atração de capital adotadas elevaram o patamar de juros
internacional e, com a liberalização dos mercados cambiais e financeiros nacionais,
induziram os Estados na adoção de políticas de deflação8 e inibidoras do
crescimento, desorganizando a divisão do trabalho nos níveis locais e
desestabilizando o poder das indústrias de vários países pelo descompasso
provocado entre o valor da produção e o da força de trabalho desenraizando
estruturas produtivas consideradas compromissadas com o território de origem,
migrando para regiões que apresentassem condições mais favoráveis de produção e
comércio, mesmo que provisoriamente.
Globalização financeira
O processo de globalização financeira aumentou os fluxos de capital financeiro sem-
território (off-shore) xvii e, por conseguinte sem controle pelos bancos centrais. A
moeda de referência internacional continua sendo o dólar, mesmo com as grandes e
trágicas flutuações em relação a outras moedas, financiando a crescente divida
pública norte-americana servindo de lastro de segurança aos mercados financeiros
dos outros países, aos mercados financeiros que sofrem com a crise cambial e ao
sistema dos mercados especulativos que entram em queda, fenômenos que tem
ocorrido com freqüência a partir da década de 1980.
Inaugura-se a movimentação irrestrita dos capitais pelo mundo num novo sistema
financeiro desregulado e desterritorializado, coordenado informalmente pela ação
conjunta dos principais bancos centrais do mundo liderados pelo "FED" norte
americano.xviii
Os organismos internacionais, como o FMI, passam a ter uma participação cada vez
mais secundária no gerenciamento e são colocados distantes do monitoramento das
finanças globais funcionando como instrumentos de enquadramento político das
ideologias adotadas pelos países dependentes com o endividamento externo.
8 Condição de inversão negativa econômica, ou seja, contrária à inflação.
24
Os países da América Latina e muitos europeus não perceberam benefícios diretos
em termos econômicos nacionais pela globalização financeira, muito menos em
termos sociais. A sobrevalorização das moedas em relação ao dólar inibem o
crescimento e as vantagens competitivas favorecendo a economia americana e os
países asiáticos emergentes.
Surge uma crescente classe de "rentistas" produzidos pela “financeirização global do
capital” com efeitos desastrosos sobre a distribuição de renda, o mercado de
trabalho e as políticas sociais.
“(.....) a situação de muitos países latino americanos no final do século XX era consideravelmente diferente daquela do começo dos anos 1980, quando as empresas estatais eram ‘sacrossantas’, o comércio exterior estava oficialmente regulado, a inflação era tolerada e até encorajada, o mercado de capitais era primitivo e o mercado de ações era ridículo. No entanto, muitas das reformas que haviam sido introduzidas negaram, alteraram ou exploraram o contexto sócio-econômico, e as mudanças emergentes não conduziram a fluxos permanentes de investimento externo ou taxas maiores de crescimento para a maioria dos países”. (GARRETÓN, 2007, p.49)
A OIT (Organização Internacional do Trabalho), a OCDExix (Organização para
Cooperação do Desenvolvimento Econômico) e as Nações Unidas reconhecem
através de seus relatórios os prejuízos para muitas populações do mundo com o
fenômeno do aumento da pobreza diretamente relacionado com a deterioração dos
sistemas produtivos locais.
As políticas de globalização tendem a elevar as taxas de juros e a pressionar os
orçamentos fiscais dos estados, o que tem impactos desastrosos sobre o
crescimento, sobre o emprego e as políticas públicas, sobretudo nas economias
periféricas (como as latino-americanas), embora afetem também as economias mais
avançadas, além de ampliarem o fosso que separa estas economias.
O atual sistema de acumulação em vigor implica que as decisões relevantes que se
destinam à alocação de recursos estrangeiros para investimento direto sejam
centradas num grupo restrito de empresas e bancos multinacionais “que possuem
como estratégia atual e principal, a maximização dos ganhos patrimoniais
principalmente pelos obtidos pelo mercado financeiro cambial, desprezando a
rentabilidade em longo prazo”. (TAVARES, 2004, p.76)
25
Os capitais especulativos penetram nos países periféricos estimulando padrões de
consumo de produtos e de tecnologias já absorvidas e amortizadas nos países
centrais e difundindo suas culturas "globais".
A lógica da concorrência predatória e da especulação sobre o patrimônio
estabelecido faz da globalização um movimento que para ser contido supõe a
regulação e intervenção por parte do Estado mediante o fortalecimento dos
mecanismos de proteção econômica e social.
Os movimentos que denunciam a necessidade de preservação da cultura e
identidades nacionais são espaços onde a atuação dos Estados tem sido enfatizada,
nos fóruns nacionais e internacionais, num tipo de proteção pública para restauração
da economia e da seguridade social que possam garantir a defesa dos interesses
dos cidadãos.
Liberalização financeira no Brasil
O Brasil se insere no movimento de liberalização financeira e comercial no inicio da
década de 1990 num quadro de subordinação e de descompasso cambial,
objetivando atrair recursos externos, tornando-se um dos últimos “mercados
emergentes”xx a ingressar na “ciranda financeira global”, à custa de altíssimas taxas
de juros, em dólar.
A fomentação ao investimento especulativo e a reduzida transformação em
investimentos com recursos produtivos influenciou o dinamismo comercial das
exportações industriais que apresentaram redução na quantidade exportada com
valores agregados e conteúdo tecnológico inferior aos dos inicio da década de 1970.
A esperada competitividade do país fica prejudicada pelo perfil de investimento
externo, vulnerável ás oscilações internacionais dos preços dos produtos. Os
movimentos atuais dos investimentos externos estão fundados em aplicações, do
tipo ações e títulos, que entram no país em busca dos ganhos conquistados pelas
26
oscilações da taxa de juros acima das praticadas em nível internacional, dos
negócios financiados pelo dinheiro público e pelos incentivos fiscais e creditícios às
montadoras automobilísticas, aos bancos e grandes empresas de agronegócios. As
privatizações que foram, e continuam sendo, financiadas com os fundos de pensão
das estatais e com a poupança forçada do trabalhador (FAT) que contraditoriamente
causa desemprego e desnacionalização das empresas constituídas com patrimônio
público.
Os relatórios internacionais anunciavam que os processos de privatização das
empresas estatais sinalizavam um Estado enxuto e destinado as ações de interesse
da área social com aumento dos recursos para esses gastos sociais.
O resultado foi o desmantelamento dos serviços públicos com incidência direta na
condição do emprego e trabalho, na infra-estrutura básica e áreas fundamentais do
setor produtivo atingindo diretamente a população, fazendo-se necessário o
comprometimento de setores do Estado brasileiro para garantir o estabelecimento
de objetivos nacionais – públicos - de longo prazo e que possam guiar os
investimentos e as políticas, econômica e social.
Mudanças no mundo do trabalho.
As grandes transformações do “mundo do trabalho”,9 ocorridas na época atual
trouxeram para a sociedade novas formas de relações campo do emprego e
trabalho. Grandes inovações tecnológicas são exemplo de desenvolvimento e ao
mesmo tempo de precarização das antigas formas de trabalho.
Para Ricardo Antunes (2003 p.57) “foi no contexto do toyotismo e as novas formas
de acumulação de capital (...) que a era da acumulação flexível emergiu no
ocidente”. Ou seja, o capitalismo sai de um processo taylorista/fordista, cuja
produção era em série e baseada no estoque, para uma nova reestruturação no
mercado de trabalho, sustentada pela organização comunicacional: a era dos
computadores.
9 ANTUNES, 2007
27
Com essa nova dimensão de atuação do capital, a produção passa a ser planejada
e flexibilizada, exigindo um trabalhador multifuncional. O operariado é obrigado a
manter sua produtividade bem como a qualidade da sua produção. Novos atores são
absorvidos no mercado de trabalho, como as mulheres que passam a freqüentar os
barracões das empresas. Para o investidor a mulher passa a ser mais uma força de
trabalho a ser explorada e num contexto mais ampliado ela já vem do trabalho
multifuncional doméstico, portanto já preparada para o novo perfil do trabalho fabril 10. Esta nova categoria produtiva acaba por influir nas relações de capital versus
trabalho de forma a explorá-la, como acentua ANTUNES (2007 p.57).
A expansão do trabalho part time, assim como as formas pelas quais o capital se utiliza da divisão sexual do trabalho e do crescimento dos trabalhadores imigrantes, cuja expressão são os dekasseguis executando trabalhos desqualificados e freqüentemente ilegais, constituem claros exemplos da enorme tendência à intensificação e exploração da força de trabalho no universo do toyotismo.
É neste “universo” que o trabalho, “condição fundante da vida em sociedade” ganha
formas estranhas e se materializa na exploração e desigualdade, excluindo enormes
concentrações de trabalhadores, que, para IAMAMOTTO (2007,p.36) “(...) acentua o
papel do trabalho, enquanto componente distintivo do homem como um ser prático-
social e, portanto, histórico: produtor e criador da vida em sociedade”. Sob o manto
da ideologia que preconiza tantas transformações, o liberalismo, que segundo
(TOURAINE (1999 p. 28), leva o homem a passar “de modelos nacionais integrados
para uma situação internacional”. Essa situação acaba empurrando toda uma
geração para a chamada globalização, “na qual as diferentes dimensões da vida
econômica, social e cultural explodiram, separaram-se uma das outras” (TOURAINE,
1999 p.28).
A globalização passa ser uma ideologia dominante, que fragmenta a luta de classes,
dilacerando conquistas alcançadas pelos trabalhadores, fragmentando o próprio
trabalho. Segundo Marx enquanto o processo de trabalho é puramente individual,
um único trabalhador exerce todas as funções que mais tarde se dissociam. (...) “é
ele quem controla a si mesmo; quando as funções se dissociam ficará sob controle
de outrem”. (MARX, 2003, p.577),
10 Não é objeto desse trabalho discorrer sobre o papel da mulher no mercado de trabalho, embora considere de suma importância.
28
O homem necessita do trabalho para reproduzir-se enquanto ser humano, mas no
modelo de produção capitalista ele se aliena frente às complexidades do processo
produtivo. Este novo paradigma do trabalho vem acompanhado da doutrina
neoliberal.
Após a derrocada do socialismo real no leste europeu, o neoliberalismo encontra
espaço e regula a economia e a política das nações mundiais trazendo, como afirma
Boaventura Sousa Santos (2005, 3ª ed. p.91), “a devastação ecológica e com ela a
destruição da qualidade e mesmo da sustentabilidade da vida no planeta”. Traz à
tona um novo modo de “regulação” da produção.
(...) A crise do regime fordista e das instituições sociais e políticas em que ele se traduziu assentou, em primeira linha, numa dupla crise de natureza econômico-política, na crise de rentabilidade do capital perante a relação produtividade-salários e a relação salários-diretos indiretos, e na crise da regulação nacional, que geria eficazmente até então essas relações, perante a internacionalização dos mercados e a transnacionalização da produção. (SANTOS, 2005, 3ªed. p. 248).
A crítica dessa nova ordem econômico-social é que as modernas tecnologias não
foram capazes de acabar com as doenças e fizeram ressurgir algumas que já
haviam quase desaparecido que agora retornam, como a tuberculose, dengue, etc,
além de não terem acabado com a fome no planeta. Em outras palavras não
conseguiu, por mais avançada e eficiente que fosse, combater a pobreza, a
crescente desigualdade na população de um país e nas populações entre países.
Como afirmava Rousseau, no século XVIII, “é preciso ter ética na ciência, pois o que
se constata é que esta está a serviço das grandes corporações, das grandes
indústrias, enfim do grande capital e não da população mais vulnerável”.
No Brasil as novas tecnologias do mundo do trabalho se deparam com altos índices
de analfabetismo, trabalhadores sem qualificação, despreparados para as novas
exigências da tecnologia e que acabam por constituir uma significativa reserva de
mercado.
29
Essa realidade enfraquece a luta dos trabalhadores que vêem seus direitos
arduamente conquistados serem questionados e substituídos por propostas que
fragilizam as relações trabalhistas.
Mudanças e os impactos na sociedade
A sociedade contemporânea passa nas últimas décadas por mutações significativas
com as mudanças do “mundo do trabalho”. A necessidade de diversificação de
funções da classe operária, bem como a redução de postos de trabalho nas
indústrias e um deslocamento do proletariado para os novos setores de serviços e
comércio, é a nova imagem desse processo. Estes novos segmentos do “mundo do
trabalho” não possuem ainda uma característica de luta e reivindicações por
melhores salários e condições de trabalho, pois não possuem historicamente
construída uma sindicalização independente e ao mesmo tempo se vê oprimida por
um ‘exército de reserva’ pronto para assumir seu espaço.
Como conseqüência deste processo os salários são baixos, não garantindo
condições aos trabalhadores de terem uma vida digna, a jornada de trabalho muitas
vezes é estendida, inclusive para os finais de semana; prevalece o trabalho
feminino, cuja expansão segundo ANTUNES (2003,p.108) “tem se verificado
sobretudo no trabalho mais precarizado”, nos trabalhos manuais, “marcados por
uma informalidade ainda mais acentuada em relação aos homens, além de realizar
jornadas mais prolongadas”.
Com esse cenário surge a necessidade de políticas públicas cuja realidade traz para
a sociedade novas relações de convivência e apreensão da realidade: aumento do
individualismo, perda ou a não conquista da cidadania, famílias expandidas e, ou
reordenadas, fragilidade na construção da identidade pelas crianças e adolescentes.
A busca pelo preenchimento da própria história, a busca pelo subjetivo, gera uma
não identificação e a não incorporação de ideais construídos nas relações familiares.
Isso leva a incorporação de ideais ditados pela sociedade mais ampla e não
construídos pela vivência das relações mais próximas.
30
Como afirma HELLER (2000, p.96) “ Nessa situação, a personalidade individual, o
indivíduo, não pode se explicitar na escolha do ideal, pois o ideal é mercadoria, e o
homem não é criador, mas consumidor de ideais”.
Um dos lados mais perversos dessas transformações é a violência. A prática da
violência surge muitas vezes para garantir a sobrevivência. O homem precisa
sobreviver e para sobreviver em uma sociedade capitalista precisa de dinheiro e as
formas mais fáceis de obtê-lo são as ilegais. Essa forma cada vez mais absorve os
indivíduos precocemente. Surgem poderes paralelos, gangues, facções que dão
proteção e assistência à população ocupando o espaço do Estado. Como afirmou
Ermínia Maricato da Agência Carta Maior:
Nas cidades, embora o caráter da mudança não tenha sido tão acentuado, sua profundidade foi devastadora. A diminuição do crescimento econômico a partir de 1980, o desemprego massivo e o recuo das políticas sociais conformaram um cenário de tragédia em que não faltaram a volta das epidemias, a emergência de uma violência até então desconhecida nas áreas urbanas, a explosão do crescimento de favelas, a multiplicação de “menores infratores” e crianças abandonadas, entre outras mazelas. O Estado não se tornou mínimo como prometia a receita neoliberal, ele simplesmente mudou. Como destaca R. Kurz, a ampliação do mercado corresponde à ampliação do Estado. Os cortes nas políticas de transporte, habitação e saneamento, por exemplo, que impactaram profundamente as cidades, foram acompanhados por transferência massiva de recursos públicos para a esfera financeira privada por meio do pagamento dos juros da dívida.11
O que prevalece como ideologia é o direito do “mais forte” tanto por parte do Estado
como da sociedade em geral. São alterações profundas que repercutem no cenário
social, provocando mudanças profundas na sociedade. O avanço da globalização
atingiu também a violência, impactada pela rede mundial de computadores e através
das múltiplas esferas comunicacionais. O Estado é um agente e um espaço de
dominação, na proliferação das elites nacionais que nesse sentido garante a
reprodução dos “mais fortes”, reprime os “mais rebeldes” e delimita o seu “território
de dominação”. (NOGUEIRA, 2005, p.18)
As mudanças no “mundo do trabalho” e o impacto na vida dos trabalhadores.
Todas as transformações na sociedade são impactantes e concomitantes com as
mudanças no modo de produção capitalista que é marcada por reproduções e
reestruturações políticas e ideológicas visando a manutenção da ordem dominante. 11 Revista Carta Maior, n 23, 2008
31
A subjetividade do proletariado é cooptada pelo modelo de exploração, ato fundante
do processo capitalista.
Segundo Antunes: (2003, p.47)
O capital deflagrou, então, várias transformações no próprio processo produtivo, por meio da constituição das formas de acumulação flexível, do downsizing, das formas de gestão organizacional, do avanço tecnológico, dos modelos alternativos ao binômio taylorismo/fordismo, onde se destaca especialmente o ‘toyotismo’ ou modelo japonês.
Neste processo de produção de mercadorias, o trabalho aliena o homem, fica
“estranho” a ele, não amplia seu poder de compra, pois os salários não são
suficientes.
Para Marx e Engels (2003, p.7)
A indústria moderna transformou a pequena oficina do antigo mestre patriarcal na grande fábrica do industrial capitalista. Massas de operários, amontoadas na fábrica, são organizadas militarmente. Como soldados da indústria, estão sob a vigilância de uma hierarquia completa de oficiais e suboficiais. Não são somente escravos da classe burguesa, do Estado burguês, mas também diariamente, a cada hora, escravos da máquina, do contramestre e, sobretudo, do dono da fábrica. E esse despotismo é tanto mais mesquinho, odioso e exasperador quanto maior é a fraqueza com que proclama ter no lucro seu objetivo exclusivo.
A atual ofensiva do capital reestruturado sob dominância financeira reverteu o longo
período de realinhamento da relação capital/trabalho, relativamente favorável ao
capital e golpeou o trabalho organizado, que, na defensiva, sofre mutações e perde
parte de seu poder político, de representação.
Como afirma Martins (1997 p.74)
Estas alterações irão afetar o conjunto do mundo do trabalho: suas relações no interior do processo produtivo, a divisão do trabalho, o mercado de trabalho. O trabalho não depende mais da habilidade do trabalhador. Esta está colocada na máquina ou nos programas.
A nova era da tecnologia da informação acelera o processo de desemprego
estrutural, e de desemprego cíclico ampliando a mão de obra temporária que surge
dentro das novas relações trabalhistas. Para Ricardo Antunes “há portanto uma
fragilização da classe operária, trazendo enormes prejuízos aos direitos sociais
conquistados pelos trabalhadores”12. Nas indústrias de hoje o que prevalece é o
trabalho automatizado. No “chão de fábrica” essas mutações são sentidas pelos
12 ANTUNES,2003 p.50
32
trabalhadores, o que antes era feito por ele em uma máquina, agora se vê um
aglomerado, chamado de “células” de produção. Nestas “células”, as máquinas são
dispostas para que um trabalhador cuide da produção de duas ou mais delas O
desemprego causado por esta nova forma de produção alcança enormes
proporções na fragilização do trabalho com o fim de postos de trabalho, que deixam
de existir por terem sido substituídos por máquinas.
Os trabalhos que menos necessitam do domínio técnico são assumidos por outras
empresas e disponibilizados para o serviço. A essa nova forma de contrato de
trabalho dá-se o nome de terceirização e absorvem a mão-de-obra não
especializada. “Pode-se constatar, portanto, de um lado, um efetivo processo de
intelectualização do trabalho manual”,13 pois novas máquinas que são utilizadas na
produção são computadorizadas exigindo maior aprendizado do operador, “de outro,
e em sentido radicalmente inverso, uma desqualificação e mesmo subproletarização
intensificados, presente no trabalho precário, informal, temporário, parcial,
subcontratado, etc”.14.
Nos países ricos este tipo de trabalho é realizado, muitas vezes, por imigrantes dos
países pobres que entram no país sem visto de permanência e são obrigados a
aceitar as condições oferecidas. É grande o número de brasileiros que se ausentam
do país para conseguir “trabalho melhor remunerado” ou mesmo para encontrar
trabalho deixando muitas vezes para traz seus próprios familiares.
As mudanças no mundo do trabalho e o impacto na organização da classe trabalhadora.
Diante da complexidade do “mundo do trabalho”, a sindicalização é um aspecto
importante para a formação de uma “consciência de classe” na luta pela garantia de
direitos no campo do trabalho.
O sindicalismo tem sua nascente na Inglaterra, berço da revolução industrial, com os
“trade unions” durante o processo de industrialização, quando os trabalhadores
13 ANTUNES, 2007, p.57 14 ANTUNES,2007, p.62
33
foram aglomerados dentro de uma fábrica para produzir em larga escala, e se
revoltaram com tanta exploração, destruindo as máquinas. Embora esse não fosse o
caminho, tornou-se a primeira tentativa de organização da classe trabalhadora,
segundo Antunes (1980, p.15).
Se a história das organizações sindicais inglesas teve momentos de derrotas e vitórias, é inegável que elas constituíram a primeira tentativa efetiva dos trabalhadores de organizarem-se na luta contra os capitalistas. Ao conseguirem abater a concorrência existente entre os operários unindo-os e tornando-os solidários em sua luta, ao se utilizarem das greves como principal arma contra os capitalistas, os operários conseguiram dar os primeiros passos na luta pela emancipação de toda classe operária.
Era um início de luta contra a exploração que surgia de maneira concomitante com o
capitalismo, agora de maneira organizada, pois os trabalhadores se constituíram
como classe operária. Robert Owen, um dos precursores das “trade unions”,
empresário de fama, trocou os aplausos da burguesia pela aclamação dos
operários.
Todos os movimentos sociais, todos os progressos reais registrados na Inglaterra no interesse da classe trabalhadora estão ligados ao nome de Owen.(...) Foi ele quem presidiu o Primeiro Congresso em que as trade-unions de toda Inglaterra se fundiram e numa única e grande organização sindical: Grande União Consolidada dos Trabalhadores, criada em 1834 e que se dedicou a sustentar as greves que eclodiram por toda parte na Inglaterra. (ANTUNES,1980 p.20).
O que ele não previu foi que essa luta não estava ganha, pois, com a complexidade
do capitalismo muitas conquistas foram perdidas. Para Antunes as “trade-unions”
foram o início do sindicalismo, mas não era o sindicalismo reacionário de que falava
Lênin. O sindicalismo revolucionário cujo efeito é retratado por Antunes (1980, p.35):
”Não atuar dentro dos sindicatos, a pretexto do seu caráter reacionário, apolítico,
trade-unionista, é o melhor serviço que se pode prestar aos interesses dos
capitalistas”
Portanto a luta sindical não conseguiu emancipar a classe trabalhadora, o avanço do
capitalismo indiscriminadamente, rompe as fronteiras organizacionais da luta de
classe, se infiltrando e se apoderando das conquistas do proletariado.
Como afirmam Marx e Engels no “Manifesto do Partido Comunista” (2003 p.52)
34
Ora, a indústria, desenvolvendo-se, não somente aumenta o número de proletários, mas concentra-os em massas cada vez mais consideráveis (...) o aperfeiçoamento constante e cada vez mais rápido das máquinas torna a condição de vida do operário cada vez mais precária; os choques individuais entre operário e o burguês tomam cada vez mais o caráter de choques entre duas classes. (...) Aqui e ali a luta se transforma em motim.
Diante da exploração é difícil não ressaltar a luta e a divisão de duas classes, a
burguesia composta pelos patrões, os donos do capital e o proletariado que não
possui outra coisa, senão vender sua força de trabalho. Essa crise, a crise do
sindicalismo, atinge também os países pobres e em desenvolvimento porque a
maioria das indústrias é estrangeira, multinacionais que atuam globalmente com a
classe trabalhadora revertendo os lucros de suas filiais no exterior para a matriz.
São as corporações multinacionais abrindo caminho, rompendo fronteiras,
transformando e em muitos casos desintegrando a vida de milhões de pessoas em
sua busca por mercados globais.
De acordo com Rifkin (1996 p.218).
A morte da força de trabalho global está sendo interiorizada por milhões de trabalhadores que experimentam sua própria morte individual diariamente, nas mãos de empregadores que visam exclusivamente ao lucro e de um governo desinteressado. São aqueles que esperam o “bilhete azul”, e então forçados a trabalhar meio período com salário reduzido, ou ser empurrados para filas do auxílio desemprego. A cada nova indignidade, sua confiança e sua auto-estima sofrem mais um golpe. Tornam-se descartáveis, depois irrelevantes e, finalmente, invisíveis no novo mundo high-tech do comércio global.
A situação presente do mercado de trabalho, com o trabalho informal, o
desemprego, mostra a tendência de que a situação do trabalhador atinja altos
índices de pobreza, crescendo assim, a miséria e a exclusão social, aumentando a
expressão da questão social e suas manifestações.
A tecnologia avançada dos países financeiramente adiantados só não conseguiu,
ainda, eliminar o trabalho, o que para alguns autores como RIFKIN e HABERMAS
era uma lógica existencial do capitalismo. Segundo esses autores o trabalho seria
suplantado, eliminado pelo processo “comunicacional”, “exterminando com o
trabalho vivo”.
Para Antunes (...) “é bastante evidente a redução do trabalho vivo xxi e a ampliação
do trabalho morto xxii (...) por outro lado, antes de acabar o trabalho, segundo RIFKIN
35
(in: ANTUNES, 2003, p.119) “o capital deve aumentar a utilização e a produtividade
do trabalho de modo a intensificar as formas de extração do sobre-trabalho em
tempo cada vez mais reduzido”, o que se sinaliza é o fim do trabalho vivo, pois é
complicado “imaginar que eliminando trabalho vivo o capital possa continuar se
reproduzindo”. (In: ANTUNES, 2003, p.120). Eliminando o trabalho vivo se elimina
os trabalhadores que não irão consumir, e não existe capital sem consumidor.
Antunes (2003, p.136-137) citando Lukács afirma que o trabalho é parte integrante
do ser social e é através dele que o homem se concretiza:
(...) Desse modo, a categoria ontologicamente central, presente no processo de trabalho, é anunciada: “através do trabalho, uma posição teleológica é realizada no interior do ser material, como nascimento de uma objetividade. A primeira conseqüência disso é que o trabalho torna-se protoforma de toda a práxis social (...) sua forma originária desde que o ser social se constitui. O simples fato de que o trabalho é a realização de uma posição teleológica (...) quer dizer, o homem possui em sua subjetividade o que ele vai transformar na natureza, o trabalho condição fundante do ser social.
Isso nos sugere acreditar que o trabalho sofre grandes transformações, mas não a
ponto de exterminar-se. O que prevalece na contemporaneidade é a taxa crescente
do trabalho informal em detrimento ao formal.
No Brasil o sindicalismo começou com o movimento anarquista que se inicia com as
imigrações de populações dos países europeus que vieram para o país substituir a
mão de obra escrava. As lutas sindicais no país tiveram verdadeira expressão com a
fundação do partido Comunista em 1922. O sindicato construiu uma classe
politizada de enfrentamento do capital que reivindica condições de trabalho e salário.
O golpe de 1964 coloca novos obstáculos no desenvolvimento do sindicalismo no
Brasil Retornando na década de 1970, um novo modelo sindical livre, desatrelado
das corporações capitalistas surge uma nova liderança no movimento, que vai
marcar o papel dos sindicatos nas reivindicações trabalhistas e nos modelos de
mobilização social, que é o atual do presidente da República Luis Inácio Lula da
Silva, na época suplente de dirigente sindical.
Era a volta da classe operária à cena política nacional, de onde, aliás, nunca saiu, mas que, especialmente após o desastre de 1968, teve sua atuação extremamente limitada e isolada, através de lutas esparsas dentro das fábricas, (..) como as ‘operações tartaruga’ (..).”.São claras as palavras de Luís Inácio da Silva, o Lula: “O arrocho salarial fez com
36
que a classe trabalhadora brasileira, após muitos anos de repressão, fizesse o que qualquer classe trabalhadora do mundo faria: negar sua força de trabalho às empresas” . (ANTUNES 1980, P 82-83).
O trabalho na realidade brasileira - A história do trabalho no Brasil
O Brasil era o quintal das matérias-primas que eram utilizadas nos países europeus
no final do século XIX, já após a Independência. Sua expressão em riqueza era a
produção de cana de açúcar e posteriormente a de café, não se desenvolvendo uma
produção industrial em larga escala até aquele momento.
As primeiras tentativas de industrialização foram frustrantes, pois o país não possuía
características de nação industrial, como cita Foot e Leonardi (1982, p.24)
É o caso, por exemplo, das diferentes tentativas de exploração metalúrgica com fundição de ferro, ou ainda de fabricação de tecidos e de construção naval. De fato, o minério de ferro era há muito conhecido no Brasil onde, especialmente na zona aurífera mineira, era aproveitado em pequenas forjas de tipo catalão para a fabricação de ferramentas, picaretas, pás, enxadas, machados, facas, facões, panelas, ferraduras, etc., tudo isso em quantidades ínfimas. Aliás tais explorações siderúrgicas datam do século XVI, quando Afonso Sardinha pôs em funcionamento a primeira ‘fábrica de ferro’ do continente americano, nas proximidades da atual Sorocaba.
A produção brasileira se baseava no algodão, produção naval sem especialização,
charques, gêneros alimentícios, fumo de corda, sem falar na produção artesanal que
foram desenvolvidas nos engenhos na época da colonização.
Segundo Foot e Leonardi (1982, p.30)
Na primeira metade do século passado (XIX), além de um sistema de transportes deficiente e rudimentar, o desenvolvimento da técnica, que constitui um dos elementos impulsionadores da expansão industrial, era, no Brasil, dificultado pelo regime escravista herdado da colônia. Predominava, no campo, o latifúndio, e, nas pequenas cidades da época, um grau incipiente de urbanização. Entre as grandes limitações é preciso mencionar ainda a existência de um mercado ‘interno’ restrito e fragmentado que, a partir dessa época, foi integrado ao mercado mundial, e de uma escassez muito grande de capitais. Dentro de tão vasta extensão territorial, os grandes centros populosos espalhavam-se a grandes distancias uns dos outros. A população, no inicio do século XIX, era de pouco mais de três milhões de habitantes, dos quais um milhão de escravos. Numa sociedade desse tipo, os consumidores ativos eram poucos. Além disso, é preciso ressaltar que sem o surgimento de um mercado de trabalho, isto é, sem a existência de um grande numero de trabalhadores livres e assalariados à disposição dos empresários, não era possível o pleno desenvolvimento das relações capitalistas de produção.
37
Com a abolição da escravatura e a chegada dos imigrantes dos países europeus
surge o trabalho mais formalizado. Com acumulação originada da produção cafeeira
emerge a burguesia paulista, pois a ‘produção se concentrava em São Paulo’, assim
o investimento nos bancos disputavam com a produção toda àquela acumulação.
Cria-se, assim, o “monopólio paulista”, segundo afirmação de Foot e Leonardi
baseado em Lênin: (1982, p.73)
A partir dessas análises, feitas em 1916, Lênin concluía que o imperialismo deve ser caracterizado como um capitalismo de transição ou, mais exatamente, como um capitalismo agonizante. Para ele, os fenômenos analisados não são o indício de um novo crescimento geral ilimitado das forças produtivas da humanidade, muito pelo contrário. Se as forças produtivas tem aspectos quantitativos mensuráveis (aumento da produção, concentração industrial, desenvolvimento da dominação do capital financeiro), elas não reduzem jamais somente esses aspectos. A tecnologia, na era imperialista, prosseguiu seu desenvolvimento com uma rapidez incrível, porém esse processo foi acompanhado por um crescimento acelerado da produção de armamentos, por uma destruição sistemática dos recursos naturais, pelo desenvolvimento do ‘parasitismo social’ e da ‘putrefação’, características do reino dos monopólios. Por isso, as particularidades políticas do imperialismo são: a reação em todos os sentidos e o agravamento da opressão nacional. É dentro desse quadro geral de evolução do capitalismo no limiar do século XX, no momento de sua passagem para a fase monopolística, que devemos procurar as especificidades do processo de acumulação de capital no Brasil, isto é, as contradições e os limites impostos pelo imperialismo à acumulação de capital nacional.
A partir dos anos de 1930 no governo Vargas, com a criação do Ministério do
Trabalho e em seguida a legislação trabalhista, que tinha vocação corporativista, ou
seja, quem mantinha a classe trabalhadora eram as grandes oligarquias construídas
com o cultivo do café e do açúcar. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) que
garantia ao trabalhador, férias, 13º salário etc, ao longo das décadas de 1950 e
1960, é acrescida de outras alternativas principalmente a previdência social, FGTS –
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, que completaram a organização
trabalhista no Brasil. A CLT representava ao mesmo tempo, atraso e modernização
de acordo com as diversidades de situações de trabalho no país, “um sistema
ambíguo”, que reconhecia e regulamentava os direitos sociais do trabalho, mas
“inibia as lutas sindicais”.
Para Nogueira (2005, p.53) “O proceder político tem seus tempos e sua ética,
sobretudo quando se traduz em poder e gestão. Nessa tradução, muitas vezes o
que está articulado desfaz-se, e a política se mostra a pura ‘face demoníaca do
poder’ ou mero interesse auto-referenciado”. Ou seja, a CLT determina e a Justiça
do Trabalho processa, julga e delibera sobre os problemas individuais e coletivos do
38
trabalho. O problema social ocorre, quando o trabalhador é demitido e não consegue
outro emprego. Isto provoca a chamada “precarização e degradação do trabalho”,
produzindo, como conseqüência, outras formas de trabalho baseadas na
“informalidade e na economia ilegal”.
Segundo Antunes, as principais fases do sistema brasileiro de relações de trabalho
seguem relacionadas e demonstram ‘situações de avanços e retrocessos’.
Antes de 1930•Autonomia sindical e ausência de liberdade sindical.•A questão operária e trabalhista eram casos de polícia.
De 1930 –1945 · •Montagem gradual da legislação trabalhista e sindical corporativista.•Institucionalização da estrutura sindical oficial.• controle dos sindicatos pelo Estado.• criação da CLT em 1943.
De 1946 –1963 · •Período de redemocratização e persistência do corporativismo trabalhista.•Dinamização, mobilização e participação crescente dos sindicatos oficiais na vida política nacional.•Politização do sindicalismo.
De 1964 –1977 ·•Golpe militar e repressão aos sindicatos.•Exclusão política dos trabalhadores.•Fim da estabilidade e criação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).
De 1978 –1988 · •Renascimento do movimento sindical e surgimento do novo sindicalismo.
•Explosão das greves.•Criação das centrais sindicais.•Experiência da negociação coletiva direta entre trabalho e capital.;•Presença das comissões de fábrica.•Sistema híbrido de relações de trabalho.
A situação trabalhista, embora se agravando paulatinamente, sofre uma alteração
significativa na ditadura militar de 1964, como afirma Nogueira (2005, p.20-21) “os
sucessivos governos militares reproduziram os traços mais perversos da história
nacional e criaram muitas outras mazelas”.
O trabalho formal no Brasil
39
As transformações em curso na sociedade, na contemporaneidade, vêm afetando
drasticamente as relações trabalhistas, ou seja, as ‘relações formais do contrato de
trabalho, regularizado, fiscalizado’ que trazia ao trabalhador garantias constituídas
ao longo das últimas décadas praticamente desaparecem. As lutas por melhores
condições de trabalho e salário ficaram fragilizadas por uma política que busca o
envolvimento do trabalhador com a empresa, chamando-o de colaborador,
transformando as relações humanas, em ‘cooperação, solidariedade’.
Esse quadro complexificado, de múltiplas tendências e direções, afetou agudamente o movimento sindical, originando a crise mais intensa em toda história, atingindo, especialmente na década de 1980, os países de capitalismo avançado, e posteriormente, dada a dimensão globalizada e mundializada dessas transformações, em fins daquela década e na viragem da década de 1990, também os países do Terceiro Mundo, particularmente aqueles dotados de uma industrialização significativa, como é ocaso do Brasil, México, entre tantos outros. (ANTUNES, 2007: p.73).
No Brasil as novas tecnologias do mundo do trabalho se deparam com altos índices
de analfabetismo, trabalhadores sem qualificação, despreparados para as novas
exigências do mercado que acabam por constituir uma significativa reserva de
mercado. Essa realidade enfraquece a luta dos trabalhadores que vêem seus
direitos já conquistados serem questionados e substituídos por propostas que
fragilizam das relações trabalhistas.
“O trabalho deve conter na sua essência, o que constituía sua premissa: garantia
das condições necessárias para sobrevivência digna da pessoa humana e sua
família”; garantir educação, saúde, alimentação, vestimenta, moradia, etc. Com
carteira de trabalho devidamente assinada e seus direitos garantidos por lei, em
condições favoráveis; apoio social, o homem é capaz de desenvolver sua cidadania.
O trabalho, para Antunes: (2003, p.168).
(..) é portanto, um momento efetivo de colocação de finalidades humanas, dotado de intrínseca dimensão teleológica. E, como tal, mostra-se como uma experiência elementar da vida cotidiana, nas respostas que oferece aos carecimentos e necessidades sociais. Reconhecer o papel fundante do trabalho na gênese e no fazer-se social nos remete diretamente à dimensão decisiva dada pela esfera da vida cotidiana, como ponto de partida para a genericidade para-si dos homens.
Nas últimas décadas, o Brasil criou 13,2 milhões de empregos formais, aumento
médio anual de 660 mil empregos. Mas, segundo Pochmann esse aumento não se
deu na mesma proporção do crescimento das economias e populações das cidades,
40
ao contrário, os municípios com até 400 mil habitantes, entre 1985 a 2005
cresceram 6,6% o nível de emprego formal (2,5 acima da média nacional), enquanto
os municípios considerados grandes acima de 400 mil habitantes, estes cresceram
57,7% abaixo da média nacional e os micros até 50 mil habitantes cresceram 1,7
acima da média nacional que foi de 2,6%. Houve um decréscimo de 12% de 1985
(60%), de todo trabalho formal no Brasil para 48% em 2005. Os municípios
pequenos e micros, absorveram 4,3 milhões de empregos formais (32,5%) do total
das 13,2 milhões de vagas assalariadas com carteira assinada criada em todo país.
(POCHMANN, 2007). Isso se deve “a desregulamentação e um aumento dos
programas sociais, com a Constituição de 1988, bem como o remanejo de algumas
indústrias para o interior”.
De 2000 a 2003, quando o emprego formal voltou a crescer no Brasil, após uma
década de perda contínua de vagas, o trabalho gerado não significou melhora na
massa de rendimentos. Ao contrário, de janeiro de 2000 a novembro de 2003, os
ganhos dos brasileiros com carteira assinada tiveram queda de 25,6%, apesar do
aumento de quase três milhões de novos postos formais no país. A conclusão faz
parte de estudo elaborado pela Secretaria de Trabalho da Prefeitura de São Paulo,
com base em informações do Ministério do Trabalho.
“O que houve foi uma permuta feita pelas empresas que demitiram os funcionários com mais tempo de trabalho na empresa, portanto com melhor salário, substituindo por outros ganhando menos, além de toda precarização do trabalho causada pelo neoliberalismo e a globalização”. (POCHMANN, 2004).
O que vem acontecendo é que esses trabalhadores demitidos muitas vezes não
possuem a “formação” necessária para retornar ao mercado de trabalho com a
implantação das regulamentações internacionais com as ISOs 15, alguns já
passaram dos 40 anos e são descartáveis para a indústria, outros nem foram
requalificados para a automação requerida pelo novo sistema de produção. Vale
lembrar que no Brasil ainda se convive com trabalho escravo, trabalho infantil,
migração de camponeses para as cidades, trabalho precarizado, mão-de-obra
desqualificada.
15 ISO - Normas de referência internacional para capacitação e indicação da qualidade de produtos e serviços
41
O sistema de produção no Brasil mescla o fordismo com o toyotismo, este último
utilizado pelas empresas de ponta, de alto poder de acumulação e tecnologia
avançada, exigindo cada vez mais, mão-de-obra especializada e trabalhadores
flexíveis. No entanto a Constituição de 1988, alcunhada “constituição cidadã”,
construída com a participação da sociedade civil, dos movimentos populares, do
sindicalismo, garante direitos trabalhistas, e apesar das garantias legais essas
mudanças desfizeram os pactos já estabelecidos na sociedade, no cotidiano do
trabalhador e na organização das classes trabalhadoras.
O trabalho informal - outras formas de sobrevivência
Muitos trabalhadores da era do fordismo se encontram hoje desempregados, não
tendo mais chance no mercado de trabalho, cada vez mais exigente e com um
exército de reserva suficiente para sua acumulação. Aparato fundante do capitalismo
“surge para a busca da sobrevivência, o chamado trabalho informal”, os conhecidos
“trabalhador por conta própria” os “bicos” na fala do trabalhador.
Segundo Tavares: (2004, p. 44-45),
Quando o capitalismo partilhava a idéia de sua organização produtiva, regulada pelo livre mercado, se expandiria de forma equilibrada, homogênea e amplamente ”integradora”, o “setor informal” era visto como sinônimo de atraso, que o desenvolvimento acabaria por eliminar. Mas quando a mesma economia de livre mercado se revela incapaz da integração prometida, o “setor informal” é reivindicado, não porque o seu desempenho contribua de algum modo para acumulação, mas como uma ação complementar à proteção social.
Esses trabalhadores estão à margem da proteção social proporcionada pelo
emprego com “carteira assinada”, fator preponderante da cidadania no Brasil. Temos
que diferenciá-los do autônomo que pratica atividade que garante salário e
possibilidade de contribuição previdenciária, portanto com cobertura social. Esses
trabalhadores são os desempregados que são obrigados a exercer uma profissão
para o qual não foram preparados, sem garantia de salário, sem carteira assinada e
conseqüentemente sem proteção social.
As cidades são o maior reflexo desse tipo de situação econômica, cabendo aos
governos criar mecanismos para trazer esses espaços econômicos para a
legalidade, são espaços excluídos que a sociedade exclui da visibilidade e o Estado
42
ignora a sua presença e seus efeitos. A informalidade liga-se, como resultado, a
forma flexibilizada do trabalho que propicia as piores condições de trabalho, e os
menores salários, maiores exposições a riscos de morte, e que reforçam as ofertas
de mão-de-obra pela falta de opção.
Outra forma precária de trabalho é a terceirização, um fator importante a ser
destacado, pois as grandes empresas repassam serviços considerados
“desqualificados” dentro de seus padrões de aferição de qualidade, ficando apenas
com “aqueles profissionais” que mantém a produção e sua competitividade no
mercado. As empresas “terceirizadas”, por sua vez, pagam pouco aos empregados
“desqualificados” e muitas vezes não garantem os direitos trabalhistas a seus
funcionários, isentando-se, em muitos casos, de responsabilidades sobre exposição
de riscos no ambiente de trabalho.
A mídia exerce um papel incentivador, através de seus meios de comunicação, de
que “as oportunidades existem mesmo fora das empresas, para a pessoa montar
seu próprio negócio, acenando assim com a possibilidade de ser seu próprio
patrão”16. Se empreender pode ser uma solução para alguns, para muitos,
principalmente no mercado formal, é uma forma de baratear os custos trabalhistas, e
criar, “incrementar o mercado informal”.
Para Tavares (2004, p. 47)
A realidade, porém, demonstra que o aumento da produtividade, que conduz a taxas de lucros decrescentes, impele o capital a uma maior exploração do trabalho. Nesse sentido, terceiriza parte das ocupações fabris, transferindo para os trabalhadores a execução e as responsabilidades inerentes ao processo produtivo, com o que sublinha ainda mais a oposição entre as classes.
Terceirizando parte da produção, através de empresas o gasto com mão-de-obra é
menor do que se fosse assumido pela empresa. Transfere-se para os “funcionários
terceirizados” a responsabilidade de garantir a produção, ganhando menos,
desvinculados da empresa e até de sindicatos, cumprindo assim o papel de
desarticular os movimentos sindicais que possam ameaçar as empresas. Muitos
desses trabalhadores não possuem a carteira assinada e conseqüentemente não
estão sob a proteção social brasileira.
16 SEBRAE, Criando e Motivando Empreendedores. www.sebrae.org.br
43
O trabalhador tem garantido no artigo 3º. da CLT (Consolidação das Leis do
Trabalho) a prestação de serviços não eventual e mediante salário.
No entanto, segundo Tavares (2004, p.72)
(...) o que se conhece como Justiça do Trabalho deveria se chamar Justiça do Trabalho Abstrato. Se a prioridade da Justiça do Trabalho fosse o trabalhador, mesmo nos marcos do capitalismo, o mínimo a lhe ser garantido seria a manutenção do contrato de trabalho com a respectiva proteção social. Entretanto, por mais que se ressaltem as relações horizontais fomentadas pelo cooperativismo, na prática, o que vemos são organizações fraudulentas cujo propósito é tão-somente explorar trabalho, sem custos sociais, e amparadas por uma legislação que cria essa possibilidade para o capital, num momento em que prevalece o caráter defensivo da classe trabalhadora e dos organismos que a representam.
Neste contexto, se inserem as cooperativas de trabalho, os trabalhadores coletivos,
as pequenas empresas familiares, o “dono do próprio negócio” ou, como dizem os
meios de comunicação, “o próprio patrão”, que “não bate mais cartão”.
“A organização voluntária do trabalho é realçada nas suas possibilidades de independência e liberdade, como se fosse possível criar um espaço econômico autônomo imune aos determinismos dos mercados” (TAVARES, 2004, p..137).
A atuação desvinculada do quadro formal da empresa leva, ou incentiva o
envolvimento desses trabalhadores com a produção e reprodução do capital, uma
vez que “é o próprio capital que estaria rendendo”.
Para Tavares (2004, p.137) “é fundamental fazer crer, aos futuros pequenos
empresários que eles são potenciais capitalistas”.
As nomenclaturas dadas a essas pequenas empresas, cooperativas, pequenos
negócios criam uma fantasia nos seus possuidores, condicionando as falhas ou
falência do negócio ao despreparo desses empreendedores, por má gestão, falta de
capital de giro, etc. Essa nova situação mercadológica faz surgir no mercado
empresas de consultoria voltadas para esse segmento “possibilitando que o
capitalista, mesmo não sendo proprietário dos meios de produção, apropriar-se do
valor excedente criado pelo trabalho do pequeno empresário e de seus empregados”
Tavares,(2004,p.193). É o comprometimento da renda conquistada, mesmo que na
44
informalidade, como fator que contribui para apartar na sociedade aqueles que
“produzem” daqueles que vivem do que é produzido.
45
Seção II - O fator Renda
A renda, como direito associado ao indivíduo e não à condição econômica, depara
com a questão estrutural do sistema capitalista, onde na sua estrutural desigualdade
em termos de apropriação da riqueza socialmente construída não invoca uma
compensação pela expropriação, que esse mesmo sistema de propriedades
estabelece. Ou seja, “o homem pelo fato de ter nascido, seria um herdeiro natural e
aproximava-se do conceito de cidadania entendendo que todos tinham direitos
iguais à fonte primária de sustento humano”. (MARQUES, 1997 p.115)
Segundo Marques (1997), o primeiro registro de proposta de concessão de uma
renda data de 1796 na Inglaterra. Um projeto apresentado por Thomas Paine previa
que “parte e todas as rendas seriam, obrigatoriamente, cedidas por seus titulares
para formar um fundo destinado a pagar uma renda uniforme a todo membro da
sociedade. O cidadão que completasse 21 anos tinha direito a receber 15 libras
esterlinas e o cidadão com 50 anos (no momento de aprovação da lei ou quando
atingisse essa idade) receberia 10 libras esterlinas por ano, durante o resto de sua
vida.17
Renda : incluir e/ou inserir.
A possibilidade e a capacidade para conquistar um meio de renda atinge
diretamente a questão da sobrevivência dos indivíduos, influenciando seu cotidiano
nas mais diversas formas.
Então, o que é ter Renda? Partindo da definição do fator renda e buscando entender
essa relação exercida nos indivíduos que gera a possibilidade de pertencerem a
uma sociedade, concebemos que a renda além da sua função essencial de
sobrevivência atua como atividade meio que o indivíduo utiliza para a conquista da
cidadania.
17 Van Parijs, 1992 e 1994 in: Marques, 1997, p 115
46
Analisando primeiramente o termo “renda” observa-se sua repercussão no
pensamento coletivo como fator diretamente ligado ao sistema capaz de produzir as
“condições para a vida”. Este conceito persiste no avanço e seduz, com as
propostas ilusórias de pertencer a um “mercado de trabalho”. Mercado que se
representa com as atividades provisórias, voláteis e desestruturante do pensamento
crítico das condições de vida. Cria-se também, o "fetiche" pela posse individual dos
bens e produtos que se constituem na mente do individuo que objetiva pertencer na
vida em sociedade.
Segundo o dicionário Michaellis, dos vários significados da palavra, adotamos a
seguinte definição de renda que mais se aproxima de nossa discussão. “Produto
anual ou mensal de propriedades rurais ou urbanas, de bens móveis ou imóveis, de
benefícios, capitais em giro, empregos, inscrições, pensões etc.; produto, receita,
rendimento.“ 18 Estes substantivos definem e induzem à questão da produção, onde
a renda é produto de atividade, conseguida pelo emprego, receita ou rendimento.
Outro substantivo, também apresentado é o do benefício que indica benfeitoria,
favor, graça, mercê, serviço gratuito.19
O estado latente de carência de capital de posse dos indivíduos, denuncia a
necessidade de apropriar-se da renda pelo trabalho como garantia de sua
sobrevivência e, na impossibilidade do exercício de um trabalho remunerado pela
ausência de emprego ou desqualificação, resta a informalidade e/ou a conquista de
uma renda mínima destinada pela redistribuição orquestrada pelos programas do
Estado.
Render-se ao capital como forma de vida torna-se inevitável, porém as conquistas
dos conceitos de cidadania não podem permanecer desconsideradas do processo.
Pressupondo a renda como produto conquistado pelo trabalho ou através da
redistribuição, é importante adotar o conceito de renda, aqui empregado, como o de
um lucro líquido, aquilo que efetivamente lhe sobra nas mãos, um valor adicionado
18 Dicionário Michaellis – edição eletrônica, 200919 .ibi_idem
47
recebido ou ‘gerado por empreendimento próprio, antes de juros e amortizações’,
equivalente ao conceito de EBTIDA20’,
Estes conceitos perpassam em todos os seus níveis o sistema econômico e
financeiro invocando todas as atividades realizadas pelo emprego de algum tipo de
trabalho. Trabalho interpretado pela atividade com o exercício de força própria ou de
atividades que demandem envolvimento que compensem pelo recebimento de valor
monetário.
O fator renda como possibilidade para incluir as pessoas na sociedade.
Considerando que o fator renda possibilite a inclusão dos indivíduos na sociedade
capitalista brasileira, passamos a questionar se esta inclusão implicaria no conceito
de inserção social. Os termos - inserir e incluir - invocam a questão da exclusão,
que se manifesta de diversas formas, não necessariamente delegada à condição de
pobreza, mas no contexto atual como a ausência de renda.
Os indivíduos não sendo produtores, trabalhadores, consumidores – ou seja, com a
ausência da renda - são colocados no processo de exclusão social. “A exclusão se
dá efetivamente pelo estado de todos os que se encontram fora dos circuitos vivos
das trocas socais” (CASTELL,1995, p.22)
A discussão sobre a questão da inclusão fica condicionalmente determinada no
campo do oposto à exclusão, colocando em risco a reflexão para a ação através das
políticas sociais. Afasta-se, desta forma, a necessidade de se discutir sobre as
dinâmicas sociais mais abrangentes que são as responsáveis pelos desequilíbrios e
desigualdades atuais. As análises setorizadas renunciam a amplitude dos
problemas, que demandam soluções para os desequilíbrios provocados pela
degradação das relações sociais, dependentes dos fatores de produção, que se
20 Lucro Líquido = “Receita de Recebimentos vendas” (-) “Gastos Compras” (-) “Gastos no Empreendimento”, , A sigla “EBTIDA” é um acrônimo das palavras inglesas Earnings Before Tax, Interest, Depreciation, and Amortization, que significa ganhos (valores recebidos) antes de impostos, juros, depreciações e amortizações, aquilo que lhe sobra do trabalho no conceito comercial que aplicado as questões de sobrevivência é aquilo que pode ser transformado em recursos materiais para a manutenção da vida.
48
estabelecem no trabalho condicionante aliado à situação da inexistência de um
trabalho que possibilite gerar renda para sobrevivência.
A discussão governamental sobre a questão da renda, como fator incidente de
inclusão social, passa pela pretensão de que, através dos programas de
transferência de renda, a inclusão aconteça pelo beneficio oferecido mensalmente e
por tempo determinado. Enquanto o beneficio estiver disponível e com o intuito de
fazer as crianças ficar na escola ou a ela retornar existe a possibilidade de inclusão
mediante a educação. Esta proposta sugere que as gerações que se formam neste
conceito possam superar as condições de subalternidade. Porém na atualidade o
fator renda é condição emergencial para se resgatar as famílias através da
capacitação para formação da renda própria.
Pelo conceito da concessão do crédito, o individuo é o responsável pela sua
pretensão particular, o microcrédito se apresenta como uma proposta para inseri-lo
no contexto econômico e social a partir da não dependência direta dos repasses de
recursos.
Deparamos, nesta comparação, com realidades muito distantes. Um grupo, com o
indivíduo beneficiário dos programas de transferência de renda, que não
necessariamente está preparado para assumir um papel social no mundo da
utilização e consumo de bens e serviços. Estes fazem parte da camada que
necessita de atendimento governamental para suprirem o mínimo para suas vidas.
Em outro grupo, não menos dependente, são os indivíduos capacitados para a
produção e o consumo, excluídos pela falta de trabalho e pelos processos de
desemprego e desqualificação, porém sem as condições financeiras para exercer
suas habilidades. A esses, são imputados o conceito de empreendedorismo.
“O empreendedorismo, por oportunidade, é aquele em que o empresário inicia uma atividade para melhorar sua condição de vida; já o por necessidade é aquele em que as pessoas empreendem para sobreviver”21
21 Artigo: Cresce empreendedorismo por oportunidade no Brasil, Marcelo Araújo Pesquisa GEM 2008 Pesquisa Global Entrepreneurship (empreededorismo) Monitor, SEBRAE SP www.sebrae.com.br.
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A inserção na vida social pelo meio do consumo atende primeiramente ao sistema
capitalista, atribuindo como horizonte a ser alcançado o pertencimento à vida social.
As experiências mais avançadas dos programas de redistribuição e transferência de
renda proporcionam ao beneficiário a possibilidade de participação no mundo do
consumo de bens e serviços. A inserção, destas pessoas, sem a habilidade e prática
no mundo do consumo, prescinde um treinamento e educação nos modelos de vida
social atendendo às expectativas do sistema capitalista para a formação de novos
consumidores.
A partir desta formação, o horizonte a ser alcançado é o atributo do pertencimento,
com o acesso a bens e serviços, sugerindo a esse individuo a sua inserção na vida
em sociedade. Esta introdução ao sistema atende a aspiração capitalista para a
formação de empreendedores, partindo de suas capacidades individuais.
È importante destacar que no conjunto de transformações da sociedade, a
industrialização se estabeleceu como base do crescimento econômico e definiu o
“mercado de trabalho” como proporcionador de renda para os habilitados e
contemplados pelo emprego. Este mercado se estruturou rapidamente - e de modo
desproporcional - formando um grande excedente de força de trabalho diretamente
ligada pela intensa migração interna do campo para a cidade.
Causas da não renda.
O atual contexto da desigualdade social brasileira, pela má distribuição de renda,
tem origens na herança das elites que sustentaram com desprezo e
condicionamento a formação educacional da população, direcionando-a somente
para o trabalho – braçal - como consumo imediato dessa força de trabalho, sem a
preocupação com o propedêutico - que representa o retorno do investimento
diretamente para o trabalho - e a renda futura com o ganho adicional do
discernimento e capacidade de interpretação e aprendizado deste trabalhador xxiii
No contexto econômico a questão do trabalho, da formação da renda e capacitação
para a renda induz que, a responsabilidade de “produzir” as condições para o
50
trabalho e para a renda fica para o Estado brasileiro. Posteriormente, esses fatores
de produção – “educados”, condicionados, organizados e alienáveis - são
destinados para o mercado.
O capitalismo brasileiro, atendendo e seguindo as tendências internacionais do
sistema financeiro que se estabelece - e prevalece - no interesse das grandes
movimentações financeiras, relega para a maioria da população os estornos
financeiros com a responsabilidade da manutenção do funcionamento da economia
para o criticado Estado. Pouco ou nenhum interesse existe na “produção” xxiv de
indivíduos capacitados para o discernimento no mundo do consumo, gerindo seus
recursos e conseqüentemente para a conquista da liberdade do pensamento
político.
Conforme Antunes, (2005, p.71) citando Agnes Heller, não se verifica o “momento
de identidade entre o individuo e o gênero humano”, mas o seu contrário, nas
sociedades regidas pelo capital.
Mészáros (1981, p76) conduz-nos nos conceitos de alienação atribuindo que:
“ (...) o valor de uso (o produto do trabalho concreto) não serve para a satisfação das necessidades. Pelo contrário, sua essência consiste em satisfazer as necessidades do não possuidor. Ao trabalhador torna-se indiferente o tipo de valores de uso por ele produzido, não tendo com eles nenhuma relação. O que desenvolve para satisfazer suas necessidades é, ao contrario, expressão do trabalho abstrato: trabalha unicamente para manter-se, para satisfazer as meras necessidades “necessárias” 22 (...) e na concretude do capitalismo tem-se, portanto, que: (..) tudo é reificado e as relações ontológicas fundamentais são postas de cabeça para baixo. O individuo, confrontado com meros objetos (coisas, mercadorias), quando seu “corpo inorgânico” – “natureza trabalhada” e capacidade produtiva externalizada – foi dele alienado. Não tem consciência de um “ser pertencente a uma espécie” (...) em outras palavras, converte-se um ser cuja essência na coincide diretamente com a sua individualidade” 23
“As transformações das condições de existência da classe operária que se segue ao
final da Segunda Guerra altera a situação” - pela introdução de novos processos de
trabalho organizados com base no principio taylorista. O aumento da importância do
mercado na resolução das necessidades da família, a política de aumento real do
salário e a socialização de parte dos gastos de reprodução da força de trabalho com
22 Agnes Heller, Teoria de lãs necessidades em Marx (Barcelona, Península, 1986) p.54 : In: ANTUNES, 200523 István Mészáros, Marx: a teoria da alienação (Rio de Janeiro, Zahar, 1981) p.76 ; In ANTUNES, 2005, p.72.
51
o desenvolvimento dos sistemas de proteção social asseguram, segundo Aglietta24,
o “consumo de massa”.
Essa situação de relativo equilíbrio entre a produção e o consumo, se sustentava no
crescente ritmo do aumento da “mais valia relativa”, de forma que estaria garantida a
geração de demanda no setor produtor de bens “contudo, a partir da década de
1960, os trabalhadores começaram a questionar as condições de trabalho derivadas
da organização fordista, dificultando o aumento da mais valia relativaxxv, a crise se
instala” (MARQUES, 1997, p.53)
No cenário urbano, a formação de um grande contingente de trabalhadores
conduzidos para o setor informal da economia foi a conseqüência direta, onde
grande parte dos indivíduos se vê excluído do crescimento econômico, sujeitos à
baixa remuneração, à instabilidade e à margem do sistema de proteção social. A
produção da renda para o individuo, quer trabalhador formalizado ou informal, fica
condicionada ao Estado e ao empresário que direciona os estímulos às atividades
da economia privada fixando como marco, até a década de 1980, de um país de
investimentos e crescimento no produto interno bruto e diversificação industrial e
forte concentração da população em áreas urbanas.
“O Brasil, cuja industrialização se desenvolveu influenciada pelo taylorismo e pelo fordismo desde os anos de 1930, presenciou também, ao longo dos anos 1980 e especialmente nos anos 1990, alterações significativas, inicialmente com Collor e depois com FHC e agora com o governo Lula, uma vez que, conforme procurei mostrar em ‘A desertificação neoliberal no Brasil’, há mais continuidade que descontinuidade entre estes distintos governos. (...) e as conseqüências em nosso país são tão intensas que estudiosos têm afirmado que parcela significativa do PIB brasileiro transferiu-se do setor produtivo estatal para o capital privado, especialmente o transnacional, em função do intenso processo de privatização ocorrido nos anos 1990.” 25 (YAZBEK, 2006, p.43)
Este cenário de ‘desenvolvimento’ também coloca no campo um grande contingente
populacional vivendo nas condições de ‘economia de subsistência’ e nas cidades
prevalecem as precárias atividades informais, instáveis e com remuneração baixa.
24 Aglietta, 1979, p 75 in: MARQUES, 1997, p 5225 Artigo de Ricardo Antunes “As formas contemporâneas do trabalho e a desconstrução dos direitos sociais, apud YAZBEK, 2006, p43.
52
A partir dessa realidade do individuo, das suas necessidades, e pressionado para o
atendimento da crescente massa de pessoas excluídas do processo, cria-se a
condição preliminar para a formação de ‘consumidores’ pela concessão de valores
pelo mínimo de renda. Esta prática de conceder valores monetários propicia o
adestramento do indivíduo para a utilização dos recursos concedidos e com as
contrapartidas disciplinadoras e controladoras, focadas nas áreas essenciais para
sua sobrevivência, como a educação, a saúde e a geração de renda, estimulam a
atividade do consumo.
A proposta imediatamente posterior neste “projeto de construção social” é a
concessão de uma forma de crédito, seguindo o mesmo conceito inicial de
“concessão de pequenos valores como disciplinadores e educadores do consumo
consciente”. 26
É um processo de preparação para a inserção no mundo do consumo com a
perspectiva de pertencimento na vida social - utilizando a ferramenta das
microfinanças, o microcrédito orientado e produtivo - para formação de
empreendedores, “micro-empreendedores capazes de ‘gerir e conduzir’ suas vidas
econômica e socialmente”. xxvi
O cenário, é o ideal para a utilização dos indivíduos apartados de um modelo de
mercado de trabalho fortemente dependente do crescimento industrial, com oferta
abundante de mão de obra com baixa qualificação técnica sujeita a empregos
instáveis e de alta rotatividade e baixos salários.
A condição da inserção e inclusão social implica diretamente na situação de
exclusão que, por sua vez demanda várias formas de exclusão, pela raça, credo,
gênero, etc. A questão da inserção social invoca reflexões muito presentes nos
discursos governamentais e através dos recursos da mídia.
Ao ser abordado o problema – a exclusão social - através da análise da relação
exclusão/inclusão social, a preocupação central conduz-nos aos diferentes contextos
– sociais, culturais, educacionais, no nível local, nacional ou internacional. Do campo 26 Modelos de discursos do SEBRAE, www.sebrae.com.br
53
das discussões sobre a exclusão social surgem duas concepções, uma de natureza
histórica que é identificada na literatura como “sociologia do desvio, sociologia do
individuo e dos grupos marginalizados”27 desenvolvidas no século XIX por autores
anglo-saxões, em que se destacam trabalhos da década de 1950 e 1960 nos
Estados Unidos e no Reino Unido. Na outra concepção, “mais relacionada com a
época atual, designada como ‘pós-fordismo’.”28, a exclusão social ganha um novo
significado como resultado das condições de desemprego de longo prazo, do
desemprego dos jovens, do emprego precário e da flexibilização das relações do
trabalho..
Serge Paugam denominou a isso de:
“desqualificação social, ou em outros termos, o descrédito daqueles que, à primeira vista, não participam plenamente da vida econômica e social, isso significa estudar o status que os definem, as identidades pessoais, ou seja, os sentimentos subjetivos acerca da própria situação que esses indivíduos experimentam no decorrer de suas diversas experiências sociais, e enfim, as relações sociais que mantém entre si e com o outro.” (PAUGAM, 2003, p.47)
O que diferencia os dois conceitos sobre a exclusão social é que as discussões
anteriormente eram voltadas para a própria análise das condutas dos indivíduos em
situação de pobreza, onde a culpabilidade do pobre se apresenta como fator
principal. O eixo de estudo das pesquisas no conceito pós-fordismo constitui-se na
análise das condições de status das populações do andar de baixo da hierarquia
social, isto é,
“o individuo não é pobre por ter pouco ou nenhum dinheiro; é desfavorecido de recursos ou de rendas porque, na ausência de saúde, de ocupação remunerada, de instrução, de relações, de capital negociável ou intransferível, ele não pode impor seus direitos sobre os demais, sobre o trabalho alheio”. PAUGAM, (2003 p47) 29
Já a discussão sobre a inserção social, por estar diretamente ligada ao conceito da
exclusão, passa por interpretações que focalizam análises setoriais deslocadas dos
processos mais abrangentes da sociedade atual. A questão da exclusão passa para
o plano principal destituindo da discussão a inserção e a inclusão e
conseqüentemente “levando a sociedade a construir políticas que não consideram a
27 Estas teorias contemplavam o desvio como sinal de diferença entre grupos diferenciando-os das normas de vida em sociedade, Stoer,Magalhães e Rodrigues, 2004, p 2628 Harvey,1999,, Amin, 1994 apud: Stoer, Magalhães e Rodrigues, 2004, p 26.29 J. Labbens, apud : Paugam 2003, p 47
54
relação entre a lógica econômica e a coesão social anteriores às situações de
ruptura, representadas pela exclusão.”(YAZBEK, 2007,p13) 30
“Falar em termos de exclusão é rotular com uma qualificação puramente negativa
que designa a falta, sem dizer no que ela consiste, nem de onde provém” 31
(YAZBEK,2007,p21)
O debate sobre a exclusão não conseguiu o objetivo de combate, mas de
estabilização, sem a preocupação maior da redução das desigualdades sociais, “sua
finalidade era de administrar e controlar as conseqüências do liberalismo”.
(CASTELL, 1998, p 540).
Robert Castell faz referência às chamadas políticas de inserção e inclusão social no
“contexto das lutas contra a exclusão”, analisando-as como “um tipo de focalização
da ação social, que tomaram o lugar das políticas sociais mais gerais, mostrando o
custo econômico, político e social de tal procedimento.” (YAZBEK, 2007, p.13)
No seu conceito mais amplo de participação, a inclusão define incisivamente estar
participando da sociedade, estar dentro, pertencendo, agindo e interagindo nessa
sociedade.
O Consumo e o vetor do pertencimento na sociedade – direção, sentido e intensidade.
Partindo da interpretação de que a renda é fator primordial para confirmação do
individuo na sociedade, gerida pelo sistema econômico, estabelecemos que a renda
estimula o consumo e o consumo se apresenta como um dos fatores de
consolidação material da realização do individuo na sociedade, restando-nos
questionar a situação desse pertencimento na sociedade.
A sociedade capitalista cria funções e as dispõe em classificações sociais que
definem os acessos e a participação nos diferentes segmentos que se instituem. A
30 Yazbek, São Paulo, EDUC, 2007 31 As armadilhas da Exclusão, Robert Castell , apud: Yazbek, 2007, p21
55
questão da mobilidade entre esses segmentos sociais demanda o entendimento dos
pensamentos de Marx sobre a condição da formação dessas classes sociais.
István Meszáros interpretando Marx, sobre essa constituição e formação das classes
sociais defende que:
“sugere-se, com freqüência, que a diferença entre ‘classe em sí’ e ‘ classe para sí’ é que esta última denota um grupo politicamente organizado em uma situação de conflito, o que não ocorre com a primeira (em si). Se fosse realmente assim não haveria diferença entre a burguesia e o proletariado”. (...) “se não há diferença intrínseca entre classe dominante e subordinada, a ação da ultima só pode ser concebida como uma simples reversão dos termos de sua relação, sem conseqüências estruturais para o desenvolvimento da sociedade como um todo”. 32
A própria condição para existência de uma efetiva mobilidade social fica prejudicada
em seu próprio processo formativo. A inexistência de capacitação do individuo para
assumir um papel social que o habilite a reproduzir resultados sociais estruturantes,
para colecionar conquistas voltadas ao coletivo, dissociado do movimento em si,
isola-o e o neutraliza para uma ação de mobilização estrutural na sociedade.
Dois pontos são levantados desta questão que aspiram respostas. O primeiro se
relaciona às formas de acesso aos bens. Essas formas são mobilizadas e acionadas
pelas pessoas definindo necessidades. E o outro, se refere ao estigma da pobreza
que através de alguns programas sociais se pretende inserir conceitos relacionados
ao consumo com fator para o pertencimento e como instrumento para uma
mobilidade social.
Partimos do pressuposto das condições de oferta do mercado de trabalho brasileiro
que apresenta duas características importantes, a baixa remuneração e as
dificuldades, ou seja, a exclusão de parte da população de atividades passíveis de
conquista dos recursos materiais modernos.
Estas restrições dificultam o acesso e o consumo de bens para a população pobre.
Estes bens, colocados ao conhecimento das pessoas, são considerados por muitos
como “não essenciais” e estando disponibilizados pelos meios de comunicação que
permeiam o cotidiano das pessoas, seduzem-nas para sua posse.
32 Istvan Mészáros, Filosofia, Ideologia e Ciência Social , 1999 p
56
É interessante observar que, apesar da movimentação da economia se apresentar
efervescente nos diversos patamares da população, nos anos recentes, surgem a
diversidade das atividades e investimentos criativos para a superação de restrições
impostas pela carência de recursos, definindo uma condição de consumo restrito,
precário e intermitente, não se confirmando como condição suficiente para
eliminação da pobreza.
O ponto principal é que o acesso aos bens de consumo, que invoca as aspirações
de pertencimento, não é constante. Esses acessos se constituem como rotas
informais e em muitas situações são ilegais, como envolvendo bens pirateados ou
contrabandeados que chegam às pessoas com uma proposta para amenizar e
minimizar a precária inserção ao mercado de trabalho em condições pouco
favoráveis de remuneração.
Muitas questões se formam a partir desta afirmação. Uma delas aponta para
necessárias redefinições de como pensar a pobreza em seu universo econômico,
observando-se não somente o modo e formas de consumo pelas suas restrições,
pois este consumo configura-se irregular, porém expressivo nas “condições de vida
marcadas pela instabilidade, que como tal, pode abarcar tanto um consumo eventual
quanto a dureza das situações de escassez” 33
Isso significa que o acesso a determinados bens, como eletrodomésticos,
vestuários, celulares, não são atestados seguros como condição de superação da
pobreza, já que para delimitar a dimensão deste consumo é necessário abordar a
regularidade e as formas de viabilizar este acesso.
A partir da relação entre o consumo e condição de visibilidade dada à população
pobre, outra questão se forma. A possibilidade de se formar e construir uma relação
entre o consumo e pertencimento, através da renda produzida, arrecadada, doada
ou contingenciada (por ações de programas sociais) que possa se apresentar como
33 Vera Telles, A Cidadania Inexistente: Incivilidade e Pobreza – USP 1992.
57
instrumento impulsionador dos pobres, elevando-os das condições presentes para
melhores condições de vida, ou seja, de pertencerem a determinados grupos
constituídos em busca da construção de identidades sociais em contraponto ao
estigma da pobreza.
Diante da inserção precária ao mercado de trabalho, pela impotência de penetração
nesse mercado de trabalho, ou pela ausência de uma representação política, a
condição de consumidor surge associada a modelos do universo das classes, média
e alta, acionadas pela pretensão da superação da condição de pobreza, mesmo
para aqueles possuídos de uma consciência crítica de reconhecimento da sua
situação real de vida.
O conhecimento e acesso à informação e por conseqüência da existência de
determinados bens associados ao consumo podem ser percebidos pelas
mensagens publicitárias que chegam pela televisão a mais de 90% dos lares
brasileiros, concretizando a relação de identificação entre a população pobre e a
possível idéia do pertencimento pelo consumo.
A renda e suas relações com os programas e as Políticas Sociais no Brasil.Os Programas de Redistribuição, Transferência de renda e o Microcrédito.
A renda quando transferida estimula as atividades de autoconstrução e o
autoemprego. Estas consistem em não mercadoria, pois a casa é construída como
não mercadoria e por isso pode ser construída, se fosse mercadoria enfrentaria o
sistema construtivo capitalista estabelecido pelas grandes construtoras. O
autoemprego se expressa pelo informal e representa uma parcela oculta da
população ofuscada pela necessidade da sobrevivência e carente de recursos para
investimento produtivo.
O crédito concedido em pequenos valores se apresenta como uma forma para se
atuar no sistema financeiro adequando as pessoas, em menor escala, à realidade
financista. O microcrédito não ameaça o sistema bancário, a pequena participação
58
não impacta o sistema, servindo até como referência política para promoção da
imagem do empreendedorismo como salvação material dos cidadãos. Os valores e
as formas de atingimento são fatores que estimulam pontos de fragmentação social
de forma a permitir a promoção, apenas, das condições para sobrevivência sob uma
estampa de formadores de indivíduos concorrencialmente capazes. O autoemprego
arrefece os estímulos da população e provisoriamente resolve o problema da falta
do emprego prometido e não cumprido pelo sistema capitalista.
“A pobreza como produto sugere a inexistência de condições para a formação social
efetiva dos indivíduos que compõem uma sociedade e partindo de que todo
pressuposto da ciência é algo real que se esconde atrás da aparência” 34, então é o
mesmo que supor que por detrás dos programas de concessão de crédito há a
promessa de uma realização. A questão está em como transformar um potencial
produto do sistema capitalista ‘com produção continua, eficiente e em expansão’, em
capital.
Os modelos que buscam a inserção pelo consumo, na sociedade capitalista, em
especial no caso brasileiro, demandam recursos que são exercidos pelo indivíduo e
projetados pelo Estado. O caminho pelas políticas sociais abrange diversas vias e,
segundo alguns programas sociais, como o microcrédito - são dispositivos de
inserção e ferramentas de empreendedorismo desenhados para o indivíduo, os
quais permitem sua participação social.
Os governos têm buscado alternativas ao capitalismo financeiro organizando
programas para “amenizar” a falta de emprego da mão de obra como fator de
sobrevivência, criando condições de transferência de renda e incentivo aos
microempreendedores.
No Brasil, os atuais programas de transferência de renda percorreram o caminho da
discussão da renda mínima para se firmarem nos atuais BPC, previdência pública,
34 OLIVEIRA, Francisco, 2004, Autoconstrução e acumulação capitalista no Brasil, p.84, - Conferência apresentada no seminário de pesquisa “Políticas Habitacionais, Produção de Moradia por Mutirão e Processos Autogestionários: Balanço Crítico de Experiências em São Paulo,Belo Horizonte e Fortaleza”, realizado na FAU-USP em outubro de 2004. A organização do ciclo de debates coube à Usina - Centro de Trabalho para o Ambiente Habitado, ao Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania (Cenedic) e ao Núcleo de Apoio à Pesquisa, Produção e Linguagem do Ambiente Construído (NAP-PLAC).
59
previdência rural, e o pacote do Bolsa Família que contempla vários programas
gerenciados num cadastro único de atendimento as famílias. Através dos dados
apresentados na tabela seguinte pretendemos demonstrar a conhecida
concentração da pobreza nas diversas regiões brasileiras. Esta “disposição” é fator
condicionante e primordial para o entendimento dos critérios para a destinação dos
recursos para a redistribuição da renda.
Tabela : 1 Estimativa de famílias pobres e população total segundo grandes regiões – Brasil, 2004
Números absolutos
Famílias pobresPopulação
totalFamílias
pobres (%)População total (%)
Região Norte 1.083.681 14.064.278 9,76 7,85
Região Nordeste 5.499.039 49.865.327 49,53 27,84
Região Sudeste 2.995.750 76.333.625 26,98 42,62
Região Sul 927.034 26.315.184 8,35 14,69
Região Centro-Oeste 597.260 12.541.961 5,38 7,00
Total 11.102.764 179.120.375 100,00 100,00
Fonte: MI Social, DATASUS. 2007
Um cadastro único. Um meio institucional de “demonstrar”35 os pobres à sociedade. .xxvii
35 Demonstrar no sentido de exibir, descrever, indicar.
60
O governo federal, através do MDS - Ministério do Desenvolvimento Social, pretende
implementar propostas de prosseguimento ao Programa Bolsa Família com a
concessão de microcrédito às famílias cadastradas ao sistema.
O programa de transferência de renda Bolsa Família é formado por um conjunto de
programas sociais que congregam as diversas formas de conceder benefícios.
Conciliando os dados do cadastro único com as informações gerenciais de cada
programa o governo federal identifica e localiza as pessoas e as famílias pobres no
Brasil.
Este cadastro único CadÚnico: concedeu aos governos a possibilidade de perceber
o contingente de pobres que anteriormente estavam ocultados das pesquisas
censitárias que pelas próprias metodologias “deixavam de identificar” quem eram,
como viviam e principalmente como viviam e, se existiam.
No contexto das redefinições do capitalismo contemporâneo que inclui o avanço do
capital financeiro e a flexibilização dos processos produtivos, surge o atual modelo
de transferência de renda, adotado no Brasil, que não se aplica como política
pública, mas no âmbito de programa social - como interesse social - submetendo-se
à virtualidade do capital financeiro global. Essa tendência está claramente
explicitada nos Objetivos do Milênio defendidos pela ONU definindo modelos e
formas de comportamento para as nações.
Os programas e as políticas sociais de redistribuição e transferência de renda,
consideradas compensatórias apresentam-se como resultado de um processo de
formação da política nacional. Eles emergem no contexto de redefinições do
capitalismo contemporâneo que incluem o avanço do capital financeiro e a
flexibilização dos processos produtivos. Uma herança política da aceitação pela
imposição do poder constituído.
A partir da década de 1980 o contexto da política brasileira nos mostra um Estado
formado por elementos com permanência e alternância no poder cujo exercício é
61
realizado por imposição da força de um grupo, dessa mesma sociedade, que
“escreve, aprova e conduz” as leis para serem cumpridas por todos.
A classe possuinte e a classe do proletariado representam a mesma auto-alienação humana. Mas a primeira das classes se sente bem e aprovada nessa auto-alienação, sabe que a alienação é seu próprio poder e nela possui a aparência de uma existência humana; a segunda, por sua vez, sente-se aniquilada nessa alienação, vislumbra nela sua impotência e a realidade de uma existência desumana. Ela é, para fazer uso de uma expressão de Hegel, no interior da abjeção, a revolta contra essa abjeção, uma revolta que se vê impulsionada necessariamente pela contradição entre sua natureza humana e sua situação de vida, que é a negação franca e aberta, resoluta e ampla dessa mesma natureza. Dentro dessa antítese o proprietário privado é, portanto, o partido conservador, e o proletário, o partido destruidor. Daquele, parte a ação que visa a manter a antítese, desse a ação de seu aniquilamento (Marx y Engels, 2003).
O que se observa é resultante de um cenário de pouca, ou nenhuma, participação
da maioria da população diretamente atingida pelos reflexos das decisões políticas.
“Estas decisões apresentam desdobramentos, econômicos e sociais, e atingem
diretamente a formação social do povo brasileiro”.36
Os desdobramentos são incisivos e fincam marcas, em locais e nos indivíduos, o
que permite conduzir uma análise sobre a forma da implantação das políticas e
programas de transferência de renda em diversas localidades pelo Brasil.
As políticas e os poderes constituídos repercutem e representam, em todos os
tempos, as formações oligárquicas que emergem de seletos grupos. Constitui-se o
poder e direcionam-se políticas. Essa conduta de seleção grupal mantém grupos do
poder no poder e o mais intenso investimento na preservação da liderança através
da força, condicionando a demanda de reação da sociedade, organizada ou não.
Neste contexto concebemos que as influências recebidas pelas lideranças políticas
e econômicas brasileiras foram constituídas através de trajetórias muito particulares
e emergiram de ambientes que favorecem as diversas interpretações e formas de
pensar a sociedade brasileira. Essas interpretações têm base na formação do povo
36 “Referenciais teóricos para desenvolver instrumentos de avaliação do Orçamento Participativo” Glauco Peres da Silva; e Professor da FECAP e Carlos Eduardo Carvalho, Nova Economia. vol.16 no.3 Belo Horizonte Sept./ Dec. 2006
62
brasileiro que, na forma, de acordo com as circunstâncias em que são avaliadas, ou
seja, a partir ‘de qual ombro que se observa’, a leitura poderá ser realizada
equivocadamente, desprezando-se a altura que afasta esses ombros dos pés que
pisam o chão.
As interpretações feitas com os pés distantes da realidade dos "pobres" são, em
muitos casos, realizadas por autores que têm em suas origens o mesmo ambiente
de convívio daqueles que comandam a sociedade. Esta relação de aproximação
pactua interesses. E, quando idealizada e realizada a partir de sua zona de conforto,
concedida pela ascensão social, essa leitura distancia-os da realidade vivida por
milhares de pessoas e se confirma numa improvável defesa dos interesses dos
grupos imersos na realidade cotidiana.
A ausência de uma análise concreta, mais próxima da realidade, gera interpretações
confusas, distantes das condições de vida das pessoas e principalmente induzindo a
formação de modelos equivocados sobre uma efetiva e necessária redistribuição
das conquistas materiais representadas pela renda.
Constituiu-se na cultura industrial capitalista moderna uma representação do
indivíduo como um ser mecânico, desenraizado e sem ligação com seu contexto
histórico local, desconhecendo suas relações, as que o tornam humano. A
representação desses indivíduos no modelo de atendimento é coletiva, ignorando-se
tudo o que não esteja direta e imediatamente vinculada ao seu próprio interesse e
bem estar.
Cria-se uma “visão particularista e fragmentada do ser humano que tem sido
amplamente apontada não somente como uma das causas, mas como o principal
obstáculo para a superação da incapacidade política de reverter (...) a exclusão
social”37, em outras palavras sem “ter como pertencer” a algum grupo social.
No sentido do pertencimento social, Weber, teorizou sobre o fundamento da
comunidade em “laços pessoais de reconhecimento mútuo” e no sentimento de
37 Artigo Pertencimento, Lais Mourão, apresentado em Congresso na UnB Brasília, 2004, in www.redebrasileiradetransdiciplinaridade.net
63
“adesão a princípios e visões de mundo comuns”, que fazem com que as pessoas
se sintam participantes de um espaço-tempo - origem e território - comum. 38 Na
história, são muitas lideranças que emergiram do povo e se "esqueceram" de onde
vieram. Enaltecer determinada ação política ou situação demandaria estudos
específicos e constitutivos dos conceitos da área da psicologia e da antropologia.
No processo de análise das políticas compensatórias39, na atualidade, a atuação do
estado brasileiro sugere ter emprestado os antigos modelos com vínculos de
atendimento social, modelos que há muito já foram exercidos pela formação
religiosa. Um Estado denominado laico, definido por lei, que parece não estar
disposto a manter o distanciamento entre o Estado e religião.
Esse Estado, sendo impelido pelo modelo neoliberal, de afastamento da participação
direta, não competindo com o poder do mercado, parece ter assumido a função,
anteriormente delegada às corporações religiosas e assistenciais, para ‘assegurar a
sobrevivência das pessoas sob sua jurisdição’. Surgem as questões que cobram
muitas respostas. Tais como os meios e as formas de realização do atendimento
aos pobres, o formato da assistência, os modelos de promoção e da interpretação
dada à desigualdade de renda com a finalidade da redistribuição e transferência
desta renda. Como entender, principalmente, o que acontece com aquelas famílias,
aquelas pessoas que deixam de receber o benefício de transferência de renda
concedida pelo governo? Como fazem e como continuam suas vidas? Como criam
esperanças e perspectivas para viver?
As pessoas ao se submeterem - se sujeitam - a programas governamentais como se
a salvação para suas vidas fosse responsabilidade daquelas trocas, daquela
submissão. “É necessário romper com as falsas evidências e preconceitos que nos
dão a impressão de compreendermos as coisas, criando ilusões.”40
38 Weber, 2004, UnB Imprensa Oficial vol 1, p.261-26539 Compensatórias / condicionalidades (esta palavra aniquila os conceitos de eqüidade, universalidade de direitos – diferir de contrapartidas.40 QUIVY, Raymond. Ruptura com o senso comum (manual de investigação em Ciências Sociais Trajectos) , Lisboa Gradiva, 1998)
64
Da transferência da renda surge a necessidade de regulamentar uma política
pública. É uma situação em movimento, condicional e condicionante. Atende no
primeiro momento a extrema necessidade, carecendo de continuidade e atrelamento
constitucional aos demais programas para formação da renda própria. Pela Lei
10.836/200441 a transferência de valores é uma “política intersetorial voltada ao
enfrentamento da pobreza, ao apoio público e à emancipação das famílias em
situação de vulnerabilidade sócio-econômica, requerendo, para sua efetividade,
cooperação interfederativa e coordenação das ações dos entes públicos envolvidos
em sua gestão e execução”
Como política social o microcrédito se estabelece. É de interesse do sistema
financeiro como contrapartida para a indução ao desenvolvimento. O microcrédito,
no modelo brasileiro, tem em finalidade fomentar a construção de cadeias produtivas
voltadas à produção de bens e salários, atendendo parcela significativa da demanda
local, represada e identificada pelos programas de transferência de renda. É
monitorado e regulamentado, no e pelo Sistema Financeiro Nacional42. É gerenciado
pelo MTE - Ministério do Trabalho e Emprego, tendendo para as políticas de
emprego e renda.
Origem dos recursos do programas de transferência de renda e do microcrédito
Nos programas de Transferência de Renda – os recursos são alocados no MDS –
Ministério do Desenvolvimento Social e combate à Fome, Serviço de Apoio à Gestão
Descentralizada do Programa Bolsa Família e são repassados aos municípios
diretamente do Fundo Nacional de Assistência Social para o Fundo Municipal de
Assistência Social.
Para o Microcrédito os recursos são canalizados pelo FAT (Fundo de Amparo ao
Trabalhador), a partir da parcela (2%) dos depósitos à vista captados pelas
instituições financeiras – bancos comerciais (privados ou públicos) - e dos recursos
provenientes de retornos financeiros de empréstimos concedidos (juros).
41 Lei federal que cria o Programa Bolsa Família, MDS – Programa Bolsa Família www.mds.gov.br42 http://www.mtb.gov.br/observatorio/Prod04_2005.pdf
65
Todo investimento na distribuição de renda, pela transferência, parte do pressuposto
que há, na totalidade um pacto do pensamento nacional como proposta que vise a
“luta por mais empregos, por melhor distribuição de renda, pela expansão da
sociedade e da economia” . A proposta de transferir renda tende a se tornar uma
política pública. Constituída em política pública se transformaria apenas em tutela
total pelo Estado e estes esforços não proporcionarão a esperada “emancipação
política dos indivíduos” caso essa transferência de renda, esteja dissociada de uma
proposta efetiva para conjugar esforços com as áreas, da educação, saúde e
discernimento social,
Destinação dos recursos dos programas de transferência de renda;Valor dos Repasses aos programas.
Pelas tabelas seguintes procuramos demonstrar os valores dos repasses aos
beneficiários dos programas de transferência de renda. Nessas tabelas foram
acrescentados os valores acumulados até 2003 com o intuito de perceber o impacto
que a criação do Bolsa Família, como um programa que unifica quatro outros
programas de transferência de renda, (Bolsa Escola, Bolsa Alimentação Vale gás e
Cartão Alimentação) , teve no montante de recursos destinados.
Analisando os valores como um todo se percebe um grande crescimento em 2004
ao comparar com 2003 e crescimentos menores a partir de então. Esta mesma
tendência ocorreu para as “grandes regiões”, no entanto o crescimento de 2003 para
2004 foi mais expressivo para as regiões Nordeste e Sudeste e foi da ordem de
93%. Para as regiões Centro-Oeste e Sul, no mesmo período, o crescimento foi
menos expressivo, alcançando os valores de 74% e 84%, respectivamente.
Considerando os programas anteriores, remanescentes, percebe-se que os recursos
destinados às famílias diminuem, ao longo da série histórica analisada para os
programas Bolsa Alimentação e Bolsa Escola. Já para o Auxílio Gás e Cartão
Alimentação nota-se um aumento dos repasses de 2003 para 2004 e deste ano em
diante seguiu-se uma trajetória de queda. Isto ocorreu para todas as regiões, à
66
exceção da região Sul e Centro-Oeste cujos valores acumulados de repasse em
2006, para o Cartão Alimentação, foram superiores aos de 2003.
O Programa Bolsa Família, mesmo tendo sido criado em outubro de 2003, já
começou respondendo por uma parcela considerável de recursos destinados a este
tipo de programa. Em 2003, quando funcionou por apenas três meses, o programa
respondeu por 17,7% dos recursos totais direcionados a esses programas.43
Para as grandes regiões este valor variou de 13,1% a 19,5%, mas ainda assim
mostrando valores expressivos. Nos anos seguintes o Bolsa Família, foi ocupando
cada vez mais espaço e chegou, em 2006, a ser responsável por cerca de 94,2%
dos recursos nacionais do governo federal direcionados diretamente às famílias
beneficiárias dos programas de transferência de renda.
Tabela 2 : Valor dos repasses dos programas de transferência de renda
Valor a c u m u l a d o n o a n o d o s re p a s s e s a o s b e n e fi ci á ri o s d o s pr o g r a m a s d e tran sf e r ê n c i a d e re n d a s e g u n d o Gran d e s Regi õ e s e Brasil – 2 0 0 3 a 2 0 0 6 .Números absolutos (em reais)
Norte 2003 2004 2005 2006Auxílio Gás 60.454.282,50 88.174.785,00 68.036.700,00 24.779.280,00Bolsa Alimentação 25.728.360,00 4.451.595,00 1.282.320,00 383.655,00Bolsa Escola 139.707.495,00 103.912.350,00 76.283.040,00 17.639.460,00Bolsa Família 46.986.605,00 324.921.190,00 491.429.048,00 733.822.941,00Cartão Alimentação 91.150,00 345.000,00 274.650,00 105.400,00Total 272.967.892,50 521.804.920,00 637.305.758,00 776.730.736,00
Nordeste 2003 2004 2005 2006Auxílio Gás 416.938.335,00 549.615.555,00 386.450.010,00 142.861.267,50Bolsa Alimentação 173.735.025,00 31.928.640,00 4.241.985,00 1.101.240,00Bolsa Escola 698.822.220,00 454.147.395,00 292.762.290,00 59.767.095,00Bolsa Família 340.996.865,00 2.173.475.460,00 2.983.605.055,00 3.947.869.879,00Cartão Alimentação 113.831.100,00 151.987.950,00 52.599.000,00 25.554.100,00Total 1.744.323.545,00 3.361.155.000,00 3.719.658.340,00 4.177.153.581,50
Sudeste 2003 2004 2005 2006Auxílio Gás 186.319.027,50 290.778.345,00 202.256.550,00 77.134.440,00Bolsa Alimentação 52.796.550,00 11.548.860,00 1.510.905,00 275.085,00Bolsa Escola 354.258.105,00 241.787.925,00 153.438.225,00 32.712.495,00Bolsa Família 112.488.010,00 824.748.603,00 1.420.136.911,00 1.818.026.956,00
43 Seminário, População, Pobreza e Desigualdade, Belo Horizonte MG, 2007, http://www.abep.nepo.unicamp.br/SeminarioPopulacaoPobrezaDesigualdade2007/docs/SemPopPob07_1019.pdf
67
Cartão Alimentação 12.183.600,00 17.307.550,00 6.157.650,00 3.538.750,00Total 718.045.292,50 1.386.171.283,00 1.783.500.241,00 1.931.687.726,00
Sul 2003 2004 2005 2006Auxílio Gás 91.596.352,50 143.236.305,00 100.202.505,00 40.820.047,50Bolsa Alimentação 26.807.445,00 5.873.220,00 869.235,00 281.445,00Bolsa Escola 152.721.855,00 102.925.275,00 63.974.880,00 14.312.490,00Bolsa Família 49.699.160,00 337.537.203,00 556.779.195,00 673.009.334,00Cartão Alimentação 349.100,00 1.327.900,00 653.250,00 382.150,00Total 321.173.912,50 590.899.903,00 722.479.065,00 728.805.466,50
Centro-Oeste 2003 2004 2005 2006Auxílio Gás 41.269.455,00 69.442.845,00 49.969.380,00 17.790.810,00Bolsa Alimentação 10.575.360,00 2.547.690,00 481.500,00 89.205,00Bolsa Escola 78.634.665,00 59.058.885,00 40.301.775,00 7.540.965,00Bolsa Família 19.783.405,00 131.102.582,00 239.716.832,00 351.932.212,00Cartão Alimentação 6.350,00 62.900,00 21.600,00 60.750,00Total 150.269.235,00 262.214.902,00 330.491.087,00 377.413.942,00
Brasil 2003 2004 2005 2006Auxílio Gás 796.577.452,50 1.141.247.835,00 806.915.145,00 303.385.845,00Bolsa Alimentação 289.642.740,00 56.350.005,00 8.385.945,00 2.130.630,00Bolsa Escola 1.424.144.340,00 961.831.830,00 626.760.210,00 131.972.505,00Bolsa Família 569.954.045,00 3.791.785.038,00 5.691.667.041,00 7.524.661.322,00Cartão Alimentação 126.461.300,00 171.031.300,00 59.706.150,00 29.641.150,00Total 3.206.779.877,50 6.122.246.008,00 7.193.434.491,00 7.991.791.452,00
Fonte: MI Social.Nota: Os valores para 2003 foram fornecidos pela Secretaria Nacional de Renda e Cidadania do MDS. xxviii
Tabela 3: Valor dos repasses dos programas
Valor acumulado no ano dos repasses aos beneficiários dos programas de transferência de renda segundo Grandes Regiões e Brasil – 2003 a 2006.
PORCENTAGENS
Norte 2003 2004 2005 2006
Auxílio Gás 22,15 16,9 10,68 3,19
Bolsa Alimentação 9,43 0,85 0,20 0,05
Bolsa Escola 51,18 19,91 11,97 2,27
Bolsa Família 17,21 62,27 77,11 94,48
68
Cartão Alimentação 0,03 0,07 0,04 0,01
Total 100 100 100 100
Nordeste 2003 2004 2005 2006
Auxílio Gás 23,9 16,35 10,39 3,42
Bolsa Alimentação 9,96 0,95 0,11 0,03
Bolsa Escola 40,06 13,51 7,87 1,43
Bolsa Família 19,55 64,66 80,21 94,51
Cartão Alimentação 6,53 4,52 1,41 0,61
Total 100 100 100 100
Sudeste 2003 2004 2005 2006
Auxílio Gás 25,95 20,98 11,34 3,99
Bolsa Alimentação 7,35 0,83 0,08 0,01
Bolsa Escola 49,34 17,44 8,6 1,69
Bolsa Família 15,67 59,5 79,63 94,12
Cartão Alimentação 1,7 1,25 0,35 0,18
Total 100 100 100 100
Sul 2003 2004 2005 2006
Auxílio Gás 28,52 24,24 13,87 5,60
Bolsa Alimentação 8,35 0,99 0,12 0,04
Bolsa Escola 47,55 17,42 8,85 1,96
Bolsa Família 15,47 57,12 77,07 92,34
Cartão Alimentação 0,11 0,22 0,09 0,05
Total 100 100 100 100
Centro-Oeste 2003 2004 2005 2006
Auxílio Gás 27,46 26,48 15,12 4,71
Bolsa Alimentação 7,04 0,97 0,15 0,02
Bolsa Escola 52,33 22,52 12,19 2,00
Bolsa Família 13,17 50 72,53 93,25
Cartão Alimentação 0 0,02 0,01 0,02
Total 100 100 100 100
Brasil 2003 2004 2005 2006
Auxílio Gás 24,84 18,64 11,22 3,8
Bolsa Alimentação 9,03 0,92 0,12 0,03
69
Bolsa Escola 44,41 15,71 8,71 1,65
Bolsa Família 17,77 61,93 79,12 94,15
Cartão Alimentação 3,94 2,79 0,83 0,37
Total 100 100 100 100
Fonte: MI Social.Nota: Os valores para 2003 foram coletados na Secretaria Nacional de Renda e Cidadania do MDS. www.mds.gov.br
2.2 - Origem do Microcrédito
Das primeiras manifestações que possuem registro e podem se comparar a um
modelo de microcrédito data de 1846, no sul da Alemanha. Após um rigoroso
inverno, que deixou os fazendeiros locais endividados e na dependência de agiotas,
o pastor Raiffeinsen criou uma associação denominada “Associação do Pão”. Ele
consignou-lhes a farinha de trigo para que, com a fabricação e comercialização do
70
pão, pudessem conseguir capital de giro. Com o passar do tempo, a associação
cresceu e transformou-se numa cooperativa de crédito para a população pobre.
Em 1900, um jornalista da assembléia legislativa de Quebec, Canadá, com ajuda de
12 amigos criou as 'Caísses Populaires' que reuniu o montante inicial de 26 dólares
canadenses para emprestar aos mais pobres. Atualmente estão associados às
Caísses Populares cinco milhões de pessoas, em 1.329 agências. Em 1953, nos
Estados Unidos, Walter Krump, presidente de uma metalúrgica de Chicago, criou os
“Fundos de Ajuda” nos departamentos das fábricas, onde cada operário participante
depositava mensalmente US$ 1,00, destinados a atender aos associados
necessitados. Posteriormente, os Fundos de Ajuda foram consolidados e
transformados no que foi denominado Liga de Crédito. Após esta iniciativa, outras se
sucederam, existindo atualmente a Federação das Ligas de Crédito, operadas
nacionalmente e em outros países.
Muitas outras experiências de concessão de crédito ocorreram pelo mundo, mas o
marco que se desenvolveu difundindo a idéia utilizando como modelo para
popularizar o microcrédito foi a experiência iniciada em 1976 na Aldeia de Jobra em
Bangladesh pelo professor Muhammad Yunus.
Nas aldeias próximas à universidade onde Yunus lecionava, a população era refém
dos agiotas, pagando juros extorsivos e, mesmo assim, pagando corretamente. O
fato que chamou a atenção do professor Yunus foi a regularidade dos pagamentos
garantindo a adimplência para futuros empréstimos. Ele começou a emprestar a
essas pessoas, pequenas quantias com recursos pessoais, que depois ampliou
contraindo empréstimos para financiar essas operações. A ação prosperou e deu
origem, em 1978, ao Grameen Bank que atualmente empresta um total de 2,4
bilhões de dólares em microcréditos para cerca de 2,3 milhões de empreendedores
de pequeno porte, ampliando as oportunidades de realização de negócios. Os
princípios filosóficos da atuação e as estratégias para garantir o retorno dos valores
emprestados foram aprimorados na prática durante anos de atuação do Grameen
Bank.
71
Entre 1974 e 1976 antecedendo a criação do Grameen Bank, Yunus iniciou um
projeto agrícola experimental denominado de “partida tripartida”. Logo percebeu a
utopia dessa proposta pela concentração de terras não estar nas mãos dos
produtores. Volta-se para os mais pobres e com seu próprio dinheiro e a ajuda de
seus alunos, o professor Yunus iniciou um trabalho de concessão de empréstimos a
uma parcela daquela população pobre, concedendo US$ 27,00 por grupo de
pessoas. (Yunus, 2000, p.56)
A difusão do microcrédito
A partir dos índices que denunciavam a elevação da pobreza no mundo, numa
perspectiva de políticas integradas, em fevereiro de 1997 aconteceu em Washington
uma reunião de cúpula que recebeu o nome de Microcredit Summit, da qual
participaram Chefes de Estado e de Governos, agências doadoras, entidades
comerciais e financeiras, líderes de entidades microfinanceiras e comunitárias e
representantes da ONU.
Enaltecendo, como uma contribuição à sociedade, a ONU, reconheceu como
resultado aqueles obtidos pelos programas de microcrédito, sugerindo ações para
“tirar as pessoas da pobreza, ao redor do mundo”, além de estabelecer como um
fator contributivo no processo de desenvolvimento humano. A partir das propostas
apresentadas, a ONU - definiu para o ano de 2005 o Ano Internacional do
Microcrédito. A iniciativa buscou acolher as propostas e experiências mundiais de
fomentação do crédito em pequenos valores para estimular a capacidade geradora
de renda das pessoas. Foi aprovada a Resolução n.º 028/199844, quando
convidaram os governos e agentes envolvidos na proposta para erradicação da
pobreza para discutir e implementar políticas de ampliação do microcrédito. No
documento anexo a esta resolução, a ONU indica:
“a necessidade de dar capacidades às pessoas, dotando-as de acesso a fatores de produção, inclusive ao crédito”, bem como ressalta “a vocação que os mais pobres também possuem para o empreendedorismo, a qual deve ser encorajada com empréstimos de pequena escala” e pela introdução dos mesmos no setor de pequenas empresas.45
44 Resolução 028/1998, United Nations, 1998:a45 United Nations 1998:b - anexo
72
É interessante observar que organismos internacionais tenham percebido a
“situação de vida” de inúmeras pessoas e passam a “discutir” os crescentes
números da pobreza no mundo, avaliando a penetração do número de pobres no
sistema e o impacto que podem causar ao desenvolvimento econômico mundial.
“A pobreza acentuada e as altas polarizações sociais configuram um cenário que prejudica seriamente as possibilidades de crescimento econômico sustentado e, ao mesmo tempo, afeta gravemente a governabilidade democrática nos países em desenvolvimento. (KLIKSBERG, 1998, p.18)”.
Obviamente que a preocupação inicial destina-se à governabilidade política mundial,
levando os representantes dos países a refletir sobre a necessidade em apresentar
soluções para o agravamento da questão da concentração de renda mundial,
situação que afeta diretamente as bases de funcionamento da economia mundial e
compromete a “estrutura democrática” dos países pela possibilidade de aumento da
violência decorrente das ausências que geram a pobreza.
“Chamando a atenção mundial para a gravidade do problema da desigualdade, o administrador do PNUD, Gustave Speth, assinalou, na Cúpula Mundial de Copenhague, que, enfrentá-lo nas próximas décadas é algo crucial e inadiável. Do mesmo modo, o presidente do Banco Mundial, James Wolfensohn, declarou que “a distribuição dos benefícios do crescimento representa um dos maiores desafios para a estabilidade do mundo. (....) As injustiças sociais podem destruir os avanços econômicos e políticos”, (....) e reafirmou que “devemos aprender mais sobre o porquê e o como da distribuição da renda”. (KLIKSBERG, 1998, p.17)
Esta discussão, resultante da percepção dos dirigentes mundiais, converge para a
seguinte interpretação: “há a necessidade do envolvimento das pessoas na questão
do desenvolvimento esperando compromissos desta população com a implantação
destas políticas”.46 Daí surgem os questionamentos do tipo: Como enfrentar a
inquietante situação social? A pobreza é uma situação inevitável, uma espécie de
condição definida pela natureza? A pobreza é uma questão individual, característica
da falência de certas pessoas?47
Estas questões aparecem ausentes de respostas imediatas e, quando associadas
aos levantamentos econômicos que identificam delimitações de pobreza em
diversas regiões, no mundo, em paralelo com a abundância e disponibilidade de
46 Robert Solow. “The labor market as a social institution”. The Royer Lectures. California, University of Berkeley, 1989. In: KLIKSBERG, B. 1998, p 18.47 Kliksberg, 1998, p 19
73
recursos naturais, minerais, agropecuárias e fontes de energia e matérias primas
estratégicas, como os presentes na América do Sul, na Ásia e na África.
O documento base apresentado à Cúpula Mundial de Copenhague indica que:
“Os pobres, em geral, não são os responsáveis por sua situação. Muitos deles são pessoas esforçadas, que conseguiriam superar essa condição se contassem com um mínimo de apoio ou se as condições gerais do país fossem melhoradas” 48
Concebendo a importância – e principalmente a necessidade - em reunir esforços
entre governos para apresentar propostas consistentes para a solução da pobreza
no mundo, o Banco Mundial, o BID e a ONU avaliaram as experiências que
possuem mecanismos participativos da população, destacando ações de concessão
de crédito popular, como exemplo o microcrédito do Grameen Bank,. Neste modelo
75% das ações são de propriedade de quem recebe os créditos.
O que se convencionou chamar de “microcrédito” foi estabelecido a partir das
experiências do professor de economia em Bangladesh, Muhammad Yunus, que na
década de 1970 experimentou colocar em funcionamento, naquele país, um banco
privado que realizava operações de empréstimos de baixo valor aos pobres, o
Grameen Bank.
A concepção de um modelo de “concessão de crédito de pequenos montantes, aos
mais pobres, sem acesso ao sistema financeiro formal”. (YUNUS, 2000, p.23).
Existem várias definições para microcrédito, mas no conceito do próprio criador do
termo, YUNUS, estabelece que:
“o microcrédito consiste na concessão de empréstimos de pequeno valor aos mais pobres, sem exigências de garantias reais. Não há vinculação entre a concessão do empréstimo e sua utilização, ainda que, na sua forma mais comum, o crédito seja concedido para financiar uma atividade produtiva do tomador do empréstimo, com vistas à geração ou ao aumento da sua renda”. (YUNUS, 2000, p33).
Barone e Passos (2002, p.44) dão ênfase à idéia de que “o microcrédito se define
pela ausência de garantias reais e pela destinação do empréstimo à geração de
auto-emprego” e Constanzi (2002, p.19) chama a atenção para o fato de o
48 BID, CEPAL, PNUD. Informe de la Comisión Latinoamericana y del Caribe sobre el Desarrollo Social, 1995. In: Kliksberg, 1998, p19.
74
microcrédito ser um "mecanismo sustentável de combate à pobreza e à exclusão
social".
Na maioria dos casos, o acesso ao crédito está condicionado às melhorias sociais.
Alguns modelos de “gestão comunitária de crédito”xxix têm estimulado também a
participação e a criação de fóruns de discussão sobre a temática principal, a
redução dos níveis de pobreza.
O modelo de concessão de crédito popular, microcrédito, difundido pelo mundo pelo
Grameen Bank segue uma orientação de forma que a comunidade possa “prosperar
e possibilitar o crescimento focando no potencial feminino para alavancar a
economia local”. O empréstimo é conquistado pela garantia de compromisso dada
pelo acompanhamento de um grupo solidário de “financiadas”, em número de cinco.
Na eventualidade de uma delas não cumprir com o compromisso, o valor não é
renovado para as demais de forma que todas se empenhem em fazer prosperar as
demais, como condição de contrapartida para que também possam receber a
parcela seguinte.
Além disso, quando obtido coletivamente, o êxito não é apenas econômico,
“...(....) mas também social, pois ao conseguir pagar o seu próprio financiamento, mostra às demais do grupo que ela é capaz, que pode ‘honrar’ um compromisso. Este sentimento é indispensável ao processo, porque quando uma pessoa se encontra em condição de empobrecimento sua auto estima é solapada” (Yunus, 2000. p.57).
A focalização nas mulheres, para receber o crédito e formar o “grupo solidário de
financiadas”, averiguado, resultou da constatação de que “por intermédio delas os
benefícios do crédito se irradiam com mais eficácia para toda família”xxx.
O microcrédito foi se transformando numa ferramenta utilizada como instrumento
para os programas de superação da pobreza no mundo, considerando as
experiências bem-sucedidas, e atendendo as disposições para estimular a
concorrência entre as pessoas, condição básica do atual sistema econômico
financeiro. Segundo Yunus, “estas experiências foram responsáveis pela destruição
de vários mitos que cercam os pobres e a condição de pobreza”49.
49 Yunus, 2001, p56
75
Os mitos sobre o crédito popular, microcrédito, e a sua eficácia como política pública.
No pensamento coletivo popular existem questões que sugerem a submissão de
grupos à marginalização e a conceitos estereotipados. Na cultura popular
deparamos com paródias e afirmações cotidianas que sugerem a relação da
pobreza com a condição de subalternidade50. Os pobres são submetidos e
subalternizados pelas condições em que vivem.
Ivete Simionatto afirma que Gramsci ao definir os processos de marginalização
social no ordenamento capitalista, a sociedade confirma a exclusão a qual
proporciona a geração de um quadro ilusório de ascensão social pela acumulação
interna do capital.
O projeto de sociedade resultante dessa nova ordem econômica ampliava as relações de exploração e subordinação das classes em presença. O capitalismo nascente emergia marcado, sem dúvida, por um forte processo de exclusão. As camadas de classe subalternizadas passam a ser excluídas de qualquer forma de cidadania. A acumulação interna do capital fortalecia-se e engendrava relações sociais capitalistas, dinamizando a economia sob a égide do capital industrial, criando um grande quadro ilusório de ascensão social. Posto em marcha por vias sinuosas, o crescimento econômico aprofundou as contradições já existentes, desencadeou novos conflitos sociais, e marginalizou a participação popular.(SIMIONATTO, I.51)
Alguns mitos que permeiam a cultura da pobreza são rebatidos por experiências
pelo Grameen Bank. O mito de que “os empobrecidos não conseguem repagar
empréstimos” foi rebatido pela realidade de que “Populações de baixa renda
poupam, e podem tomar dinheiro emprestado e repagar”. O mito; “Os subsídios são
necessários para serviços direcionados às populações de baixa renda” foi rebatido
por “pode-se cobrar por um serviço e cobrir seus custos”. O mito de que “não se
deveria buscar lucro de serviços para populações de baixa renda” fica comprovado
por “consegue-se gerar lucro de um serviço oferecido para populações de baixa
renda”. (YUNUS,2000, P270)
50 Conceito de subalternidade expresso pela Profa. Carmelita Yazbek em: Pobreza e exclusão Social: Expressões da questão social no Brasil, 200151 Artigo: O social e o político no pensamento de Gramsci, Ivete Simionatto, In: Gramsci : A Vitalidade de um Pensamento, Alberto Aggio, Editora da UNESP, 1998, p 40.
76
A condição de pobreza e a manutenção dos pobres foram maculados com diferentes
tipos e diversas formas míticas, ao longo da história, que estigmatizaram sua
situação na condição comum de convivência diária, de simples aceitação e sem
grandes buscas para soluções. Estes mitos permeiam o consciente coletivo da
população, de forma a se expressar como verdades dogmáticas sem abrir
possibilidade política para os questionamentos.
Muitas destas são expressões contidas principalmente no ambiente popular que
denunciam a “destinação” dos pobres às camadas mais inferiores da sociedade.
Na cultura popular brasileira são comuns expressões do tipo: Quem nasceu para
vintém, nunca chega a ser tostão. Quem nasceu para pobre, não chega a rico. Eu
sou pobre, pobre, pobre marré, marré marré..... Quem parte e reparte e não fica
com a melhor parte, ou é tolo, ou não tem arte., Quem pobreza tem, dos parentes é
desdém.52
Estes modelos expressos no cotidiano assumiram a condição de apartação dos
grupos, definindo a composição da sociedade brasileira e a imposição de conceitos
que as distanciam das possibilidades de cidadania e o seu efetivo empoderamento
através da renda.
O Professor José de Souza Martins afirma que:
“ a vida cotidiana se instaura quando as pessoas são levadas a agir, a repetir gestos e atos numa rotina de procedimentos que não lhes pertence nem está sob seu domínio. A vida cotidiana começa a nascer quando as ações e relações sociais já não se relacionam com a necessidade e a possibilidade de compreendê-las e de aplicá-las, ainda que por meios misticos ou religiosos, quando o resultado do que se faz não é necessariamente produto do que se quer ou do que se pensa ter feito. O vivido torna-se vivido sem sentido, alienado. Ou melhor, seu sentido se restringe às conexões visíveis dos diferentes momentos do que se faz” (MARTINS, 2000, p.84)
O debate atual não é mais para a adoção do conceito de uma renda mínima de
sobrevivência, mas o da aplicação dos recursos para a “produção de renda”. Um
fluxo de renda periódico que resolva as necessidades mais prementes, como a
alimentação e vestuário, com a consecutiva, imediata e integrada condição de 52 www.recantodasletras.org.br
77
estoque de recursos particulares que permita o investimento numa atividade
geradora de renda.
O surgimento do Microcrédito no Brasil
A partir da década de 1950, inúmeros países em desenvolvimento passaram a
desenhar instrumentos para atender as pessoas na periferia do sistema financeiro. A
maior parte das experiências se concentrou na área rural e ficaram conhecidas pelos
seus “pesados subsídios, taxas de juros reais muitas vezes negativas, enormes
taxas de inadimplência e alocação ineficiente de recursos” (Von Pischke, Adams et
al., 1983). 53
As experiências brasileiras sobre o “crédito rural são até hoje estudos de casos
sobre estas iniciativas” (Helfand, 2001)54 Contudo, nas últimas décadas o mundo
começou a acompanhar o surgimento e desenvolvimento de novos instrumentos
especificamente desenhados para atender as demandas tradicionais dos excluídos
do sistema financeiro tradicional. Essas iniciativas institucionalizam-se por meio das
Instituições de Microfinanças (IMF), “que se caracterizam por oferecer produtos
como crédito, poupança, e seguro de maneira sustentável para micro e pequenos
empreendedores do setor urbano e rural”. (Ledgerwood, 1999)55. No sentido
contrário às demais experiências no século XX, os programas mais recentes
ganharam repercussão internacional por seu sucesso na focalização de recursos
para as camadas mais pobres da população, demonstrando a possibilidade da
sustentabilidade financeira deste tipo de operação e a baixíssima taxa de
inadimplência. “Inicialmente localizadas na Ásia, estas iniciativas têm sido replicadas
53 In: Revista de Administração Pública, Rev. Adm. Pública vol.41 no.1, Rio de Janeiro Jan./Feb. 2007 Análise de impactos socioeconômicos do microcrédito: dificuldades metodológicas e analíticas, Carlos A. Santos Doutor em economia pela Universidade Livre de Berlim, gerente da Unidade de Acesso a Serviços Financeiros do Sebrae Nacional.54 site:www.bcb.gov.br (HELFAND, S. M. ; REZENDE, G. C. . Região e Espaço no Desenvolvimento Agrícola Brasileiro. Rio de Janeiro: IPEA, 2003). 55 LEDGERWOOD, J. Microfinance Handbook, An Institutional and Financial Perspective, Washington DC, World Bank, 1999 In: Avaliação Comparativa das atividades de Microcrédito – Brasil e Bolívia, MATOS, Franco de, PROLAM/USP, 2002.
78
e adaptadas em outras regiões do planeta por conta de seu aparente sucesso”
(Coleman,1999)56 .
No caso brasileiro, alguns autores justificam a demora na implantação das IMF’s por
fatores estruturais. A tardia estabilização macroeconômica em relação a outros
países latino-americanos fato que teria inibido o desenvolvimento de um mercado de
crédito57·, após a estabilização macroeconômica em 1994 o rápido desenvolvimento
de um sistema de crédito para consumo que teria permitido, ainda que
precariamente, o acesso de alguns micro e pequenos empreendedores às fontes
alternativas de crédito (liquidez). Outro fator corresponderia à existência de algumas
linhas públicas de crédito subsidiado como o PROGER e o PRONAF, xxxi que
concorreriam com as IMF’s nos espaços urbanos e rurais.
O avançado estágio de desenvolvimento e a sofisticação do sistema financeiro
brasileiro teriam repercutido como efeito contrário de estimulo às microfinanças, que
contrapondo-se a diversos países latino-americanos, que tiveram o seu sistema
financeiro virtualmente destruído pelo processo hiperinflacionário na década de
198058, o sistema financeiro brasileiro conseguiu manter sua credibilidade, o que,
conseqüentemente, não abriu um vácuo institucional para a efetiva implantação das
microfinanças.
As experiências foram acontecendo de formas isoladas em determinadas regiões
pelo país. A primeira experiência moderna de microcrédito no Brasil ocorreu em
1973, nas cidades de Recife e Salvador, através do programa União Nordestina de
Assistência a Pequenas Organizações (UNO). A UNO tinha como público alvo o
setor informal urbano da economia, atuando com crédito e capacitação de pequenos
empreendedores. Um dos desafios da UNO era provar, a viabilidade de conceder
empréstimos (microcrédito) para as pessoas que desenvolvessem alguma atividade
por “conta própria”. Seria concedido ao trabalhador autônomo, um tipo de crédito
56 Coleman, B. E. . The Impact of Group Lending in Northeast Thailand, Journal Development Economics, v 60 p105, In: Dissertação de mestrado: Microcrédito na Região Metropolitana do Recife: Experiência Empreendedora do CEAPE. Jaime Albuquerque Silveira Filho UFP, 200557 Apesar de o Brasil ter o sido o pioneiro na America Latina na experiência através do Projeto UNO em 1973 que deu inicio às redes CEAPES.58 A Bolívia consegue sua estabilização financeira em 1985, o Chile em 1990, e a Argentina em 1991.
79
diferenciado das linhas formais existentes. As exigências e as burocracias do
programa UNO eram formuladas de acordo com o perfil e características dos
pequenos empreendimentos, majoritariamente informais.
Com a liberação dos pequenos empréstimos nas unidades produtivas, ou seja, “nos
pequenos negócios”, uma equipe de técnicos e consultores, do programa UNO,
acompanhava o processo de utilização dos recursos financeiros, orientando, o
“pequeno empreendedor”, na melhor forma de aplicação do crédito. Os técnicos da
UNO, em seus acompanhamentos, não adotavam a postura de fiscalização, agiam
como facilitadores do conhecimento de “gestão empresarial”, que proporcionava um
impacto positivo nas atividades empreendedoras possibilitando ao trabalhador,
necessitado dos recursos, que atuava por conta própria, honrar com os seus
compromissos financeiros e ainda desenvolver a sua atividade produtiva. Como
resultante, também, a promoção e melhoraria da qualidade de vida daqueles
trabalhadores autônomos.
O programa UNO era uma associação civil, sem fins lucrativos, que contava com a
colaboração da Acción International xxxii, conhecida como AITEC, e com a
participação de entidades empresariais; dos Bancos Estaduais de Pernambuco e da
Bahia.
O sistema brasileiro de microcrédito.
No Brasil o microcrédito é regulamentado por um conjunto de legislações inerentes
ao sistema financeiro, sendo fiscalizado pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
Denomina-se Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado - PNMPO,
com a finalidade de conceder crédito “para o atendimento das necessidades
financeiras de pessoas físicas e jurídicas empreendedoras de atividades produtivas
de pequeno porte, utilizando metodologia baseada no relacionamento direto com os
empreendedores no local onde é executada a atividade econômica.”59 59 http://www.mte.gov.br/pnmpo/pnmpo
80
Os recursos do PNMPO são repassados do Fundo de Amparo ao Trabalhador –
FAT e de parcela (2%) dos recursos dos depósitos à vista60 realizados pelos bancos
comercias junto ao Banco Central.
A operacionalização financeira do PNMPO com os recursos do FAT é realizada
pelas instituições oficiais, como o Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco
do Nordeste, Banco da Amazônia, Banco Nacional de Desenvolvimento Social –
BNDES e a gestão dos depósitos à vista dos bancos comerciais fica a cargo da
Caixa Econômica Federal.
O Ministério de Trabalho e Emprego – MtbE - habilita as instituições a atuarem no
sistema de microcrédito nacional, segundo seus estatutos e objetivos sociais. São as
cooperativas de crédito, as agências de fomento regulamentadas pela Medida
Provisória nº 2.192-70, de 24 de agosto de 2001; as sociedades de crédito ao
microempreendedor - SCM, (Lei no 10.194, de 14 de fevereiro de 2001) e as
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público - OSCIP, (Lei no 9.790, de 23
de março de 1999),
Segundo os dados do MtbE (2009) estão habilitadas 292 instituições de microcrédito
produtivo orientado, entre Agências de Fomento, Cooperativas de Crédito,
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP e Sociedades de
Crédito ao Microempreendedor – SCM, conforme observamos a distribuição em todo
território nacional pelas tabelas seguintes.
Instituições de Microcrédito Produtivo Orientado Brasil
Agências de Fomento 7
Cooperativas de Crédito 131
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP
133
Sociedades de Crédito ao Microempreendedor – SCM
21
292
60 Art. 1º da Lei no 10.735, de 11 de setembro de 2003
81
Fonte: MTbE 2009
Das 292 instituições autorizadas para a concessão de crédito no Brasil, a região
sudeste, a mais populosa, concentra 23,3% destas entidades, totalizando 68
instituições.
Tabela 4: Instituições de Microcrédito Produtivo Orientado - Sudeste
Brasil e Estados da região Sudeste
Brasil SP RJ MG ES
Agências de Fomento 7 - - - -
Cooperativas de Crédito 131 3 0- 10 4
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP
133 17 8 13 3
Sociedades de Crédito ao Microempreendedor – SCM
21 4 - 5 1
292 24 8 28 8
8,2% 2,7% 9,6% 2,7% *Fonte: MTbE 2009
* percentual em relação ao número de instituições no Brasil (292)
Quando comparamos os Estados da federação percebe-se a diferença entre o
estabelecimento de uma cultura de cooperativismo e crédito mútuo, principalmente
nos estados do sul do país que concentram 132 instituições representando 45,2% do
total. A região sul destaca-se pelas primeiras experiências institucionalizadas, em
1987, de grupos solidários, com aval solidário, fundando o CEAPE/RS – Centro de
Apoio aos Pequenos Empreendimentos, instituído sob a forma de organização não
governamental.
Tabela 5 : Instituições de Microcrédito Produtivo Orientado - Sul
Brasil e Estados da região Sul Brasil PR SC RS
Agências de Fomento 7 - 1 1
Cooperativas de Crédito 131 20 22 45
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP
133 7 23 9
Sociedades de Crédito ao Microempreendedor – SCM
21 1 3 -
292 28 49 55
9,6% 16,8% 18,8% *
82
Fonte: MTbE 2009* percentual em relação ao número de instituições no Brasil (292)
Na região centro-oeste somente as cooperativas de crédito e as OSCIP têm
representação. A característica da região menos populosa do Brasil, e com a maior
renda per capita do país por conta da concentração de renda do Distrito Federal, é
concentração de cooperativas de crédito voltadas a concessão de crédito ao micro
produtor rural. São 17 instituições representando 5,8% em relação ao número de
instituições no país.
Tabela 6 : Instituições de Microcrédito Produtivo Orientado – Centro-oeste
Brasil e Estados da região centro-oeste Brasil MT MS GO DF
Agências de Fomento 7 1 - - -
Cooperativas de Crédito 131 - - 5 -
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP
133 - 2 3 6
Sociedades de Crédito ao Microempreendedor – SCM
21 - - - -
292 1 2 8 6 0,3% 0,7% 2,7% 2,1% *
Fonte: MTbE 2009* percentual em relação ao número de instituições no Brasil (292)
A região norte que concentra a pior distribuição de renda do país, contraditoriamente
detém os menores investimentos produtivos para micro empreendedores. São
apenas 14 instituições em sua maioria focadas nas OSCIP, representando 4,8% do
total nacional para uma população estimada em 15.023.331 habitantes (IBGE,2005).
Tabela 7 : Instituições de Microcrédito Produtivo Orientado - Norte
Brasil e Estados da região Norte
Brasil AP AC AM RO RR PA TO
Agências de Fomento 7 1 - - - - - 1
Cooperativas de Crédito 131 - - - - - 2 -
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP
133 - 1 1 2 - 5 -
83
Sociedades de Crédito ao Microempreendedor – SCM
21 - - - - - 1 -
292 1 1 1 2 0 8 1
0,3% 0,3% 0,3% 0,7% 0,0% 2,7% 0,3% *
Fonte: MTbE 2009* percentual em relação ao número de instituições no Brasil (292)
A região nordeste conta com 53 instituições, sendo que 19 são cooperativas de
crédito concentrando, somente no estado da Bahia, 11 dessas cooperativas. No final
da década de 1970 surge uma organização, o Programa UNO, com os primeiros
recursos de doações internacionais. A organização de característica não
governamental atuava no fomento ao crédito especializada em microcrédito e
capacitação para trabalhadores de baixa renda do setor informal, cujas operações
eram lastreadas por uma espécie de “aval moral”. Teve a iniciativa de produzir as
primeiras pesquisas sobre o perfil do microempresário informal e o impacto do
crédito fornecido, cujos resultados fomentaram a criação de cooperativas,
associação de artesãos e grupos de compra. Surge, também, a primeira experiência
com utilização de metodologia de grupos solidários por gênero com a implantação
do Banco da Mulher em 1989, na Bahia, com o apoio do Fundo das Nações Unidas.
Tabela 8 : Instituições de Microcrédito Produtivo Orientado - Nordeste
Brasil e Estados da região Nordeste Brasil MA PI CE RN PB PE AL SE BA
Agências de Fomento 7 - - - 1 - - 1 - 1
Cooperativas de Crédito 131 - - 4 - - 2 2 - 11
Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP
133 1 1 4 4 2 9 3 2 3
Sociedades de Crédito ao Microempreendedor – SCM
21 - - - - 1 - - - 1
292 1 1 8 5 3 11 6 2 16 0,3% 0,3% 2,7% 1,7% 1,0% 3,8% 2,1% 0,7% 5,5% *
Fonte: MTbE 2009
84
* percentual em relação ao número de instituições no Brasil (292)
A região nordeste responde com 18,2% das instituições habilitadas em território
nacional. A concentração de cooperativas de crédito e OSCIP na região nordeste
estão concentradas nos estados da Bahia (30,2%), Pernambuco (20,8%) e Ceará
(15,1%).
2.3 - O Banco do Povo Paulista
O Banco do Povo Paulista foi instituído por lei nº. 9.533, de 30 de abril de 1997 que
estabelece a criação do Fundo de Investimentos de Crédito Produtivo Popular de
São Paulo. O ato promulgado pelo Governador Mario Covas regulamentara o
decreto lei complementar nº 18 decretado pelo então governador Roberto Costa de
Abreu Sodré.
Esse decreto-lei editado em 17 de abril de 1970 teve por objetivo “organizar o
sistema de crédito do Estado de São Paulo” definindo a competência de seus órgãos
e cujos objetivos da política de crédito foi de “estímulo e a promoção do
desenvolvimento econômico e social”. Em seus 16 artigos estabeleceu as normas e
85
regras de funcionamento do sistema financeiro no âmbito do Estado de São Paulo.
“As instituições financeiras integradas no sistema de crédito do Estado operarão sob a forma empresarial, obedecendo às normas competentes, baixadas pelo conselho Monetário Nacional, e às seguintes diretrizes” (art. 6º)
A regulamentação das instituições financeiras estaduais que atuavam no sistema
financeiro – Banco do Estado de São Paulo S.A. BANESPA e a Caixa Econômica do
Estado de São Paulo, apenas para a Caixa Econômica no artigo 10º inciso III
estabeleceu-se algo mais próximo da concessão de crédito para estimulo produtivo.
“conceder crédito pessoal para a aquisição de instrumentos de trabalho e de bens
duráveis de consumo”.
Somente em 1997 pela lei nº. 9533 o governo do Estado regulamentou esse inciso
III criando o Fundo de Investimentos de Crédito Produtivo Popular “visando criar
alternativas de crédito popular para geração de emprego e renda”. A Nossa Caixa -
Nosso Banco S.A. – versão atualizada da Caixa Econômica do Estado de São Paulo
- se estabeleceu competente como “agente financeiro do Fundo e como mandatário
do Estado na contratação e cobrança dos financiamentos.”
O Fundo foi constituído com os seguintes recursos: dotações ou créditos
específicos, consignados nos orçamentos do Estado e dos Municípios participantes;
operações financeiras feitas com instituições, nacionais, estrangeiras ou
internacionais; aplicações realizadas pelo Programa BNDES Trabalhador; doações
de pessoas físicas e jurídicas, públicas ou privadas, nacionais, estrangeiras ou
internacionais; juros e outros rendimentos eventuais; e amortizações de
empréstimos concedidos.
No seu artigo 3º a lei estabeleceu que os recursos do Fundo fossem destinados a:
prestação de assistência financeira aos projetos de capacitação profissionais e ao
treinamento técnico - gerencial dos empreendedores;
“concessão de empréstimos a microempreendedores urbanos e rurais, inclusive aos do setor informal, tendo em vista elevar a produtividade dos empreendimentos apoiados, através de incentivo ao investimento fixo associado à capacidade técnica - gerencial do empreendedor, de forma a minimizar o risco do negócio, possibilitar o seu crescimento e estimular a formalização das Micro e Pequenas Empresas”; a “concessão de empréstimos a Cooperativas ou formas associativas de produção ou de trabalho; a concessão de empréstimos a micro e pequenas empresas; a prestação de assistência financeira a projetos de modernização e reorganização de micro e pequenas empresas”.
86
Estabeleceu, também, a criação do Comitê de Crédito, integrado por um
representante da Prefeitura Municipal, por um representante da Nossa Caixa -
Nosso Banco, por um representante da Comissão Municipal de Emprego, e por um
representante da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho. Em 3 de julho de
1998 um novo decreto estadual nº 43.283 regulamenta a Lei nº 9.533, de 30 de abril
de 1997 que instituiu o Fundo de Investimentos de Crédito Produtivo Popular de São
Paulo vinculando a origem dos recursos com as previstas no âmbito do programa
federal e ampliando a abrangência da aplicação dos recursos de crédito.
O PNMPO, Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado, estabeleceu a
atuação das Instituições Financeiras operadoras através da Lei nº. 10.735 de 1º de
setembro de 2003 com o objetivo de viabilizar a inclusão bancária de milhares de
correntistas de baixa renda.
“Este processo de “bancarização dos pobres” criou o acesso a vários serviços microfinanceiros e a pequenos valores de crédito para consumo popular – modalidade esta que, por vezes, também é chamada de microcrédito” 61
Resultados operacionais
O desempenho do Banco do Povo Paulista, acumulado de 1998 - ano do inicio de
suas atividades no Estado de São Paulo - até agosto de 2009 - foi de 189.711
operações realizadas e de R$ 577 milhões emprestados, representando um valor
médio - por empréstimo - de R$ 3.043,00. A taxa de inadimplência, considerando as
operações com atraso superior a 60 dias, ficou em 1,25%.62
Os resultados BP na região administrativa de Sorocaba.
61 Artigo apresentado no VI Seminário Banco Central sobre Microfinanças, Principais apoiadores das Microfinanças, terceira mesa expositora, Autor: Almir da Costa Pereira – O Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado PNMPO - Descrição, Resultados e Perspectivas. Porto Alegre, RS – Junho, 2007, disponível em http://www.bcb.gov.br/pre/microFinancas (acessado em junho 2009) 62 Fonte de dados www.bancodopovo.sp.gov.br
87
Os resultados operacionais da unidade do Banco do Povo da RA de Sorocaba
representaram em 2009 um aumento de 5,78% em relação ao período de 2008.
Foram analisados os dados referentes aos doze meses dos anos 2008 e 2009.
Em relação às demais Regiões Administrativas do Estado o número de operações
realizadas na unidade do Banco do Povo de Sorocaba alcançaram a 13º posição. O
total de operações em todo Estado de São Paulo em 2009 foi de 10.642, um
aumento de 15,81% em relação a 2008.
Tabela 9 - Número de operações de microcrédito por RA.1º Sem/2008 1º Sem/2009 %Crescimento
Barretos 425 564 32,71%São José do Rio Preto 872 1.138 30,50%RM São Paulo 596 760 27,52%São José dos Campos 506 640 26,48%Campinas 1.245 1.512 21,45%Bauru 473 568 20,08%Central 478 574 20,08%Presidente Prudente 591 705 19,29%Araçatuba 538 588 9,29%RM Baixada Santista 322 348 8,07%Ribeirão Preto 490 521 6,33%Sorocaba 952 1.007 5,78%Marília 911 961 5,49%Franca 663 640 -3,47%Registro 127 116 -8,66%Total 9.189 10.642 15,81%*RA Região Administrativa*RM Região Metropolitana
O volume de recursos movimentados nas operações, estabeleceu para a RA de
Sorocaba, formada por 79 municípios, a 12º posição no Estado totalizando R$ 3.685
milhões em 2009 representando um aumento de 6,53% em relação à igual período
de 2008 conforme demonstrado na tabela seguinte.
Tabela 10 - Recursos emprestados de microcrédito por RA
R$ emprestados por RA** Região Administrativa 1º Sem/2008
(R$)1º Sem/2009
(R$)%
CrescimentoSão José dos Campos 1.439.340,89 2.056.693,57 42,89%
RM* São Paulo 1.858.828,70 2.505.657,03 34,80%
Barretos 1.676.368,10 2.227.065,77 32,85%
88
São José do Rio Preto 3.458.204,92 4.364.966,92 26,22%
Presidente Prudente 2.171.619,28 2.736.935,40 26,03%
Bauru 1.726.760,70 2.095.645,57 21,36%
Campinas 4.589.547,63 5.502.408,73 19,89%
Araçatuba 1.830.754,24 2.113.449,03 15,44%
Central 1.896.757,62 2.127.361,61 13,78%
Marília 3.498.989,56 3.872.746,48 10,68%
Ribeirão Preto 1.880.247,27 2.075.641,03 10,39%
Registro 315.201,66 346.656,74 9,98%
Sorocaba 3.459.691,97 3.685.634,20 6,53%
RM Baixada Santista 1.050.675,65 1.115.679,13 6,19%
Franca 2.395.465,49 2.499.895,76 4,36%
Total 33.221.453,18 39.189.436,97 18,38%*RM Região Metropolitana
Dos municípios que compõem a RA de Sorocaba merecem destaque Itapetininga,
Sorocaba, Ibiúna e Pirajú, em relação ao número de operações e recursos
emprestados,
Tabela 11: Municípios com maior número de operações de microcrédito e recursos emprestados na RA de Sorocaba.
Municípios em destaque
Nº Operações
R$ Emprestados
Itapetininga 96 352.035,00
Sorocaba 90 335.745,00
Ibiúna 78 328.824,13
Piraju 58 211.725,95
89
2.4 - RA - Região Administrativa de Sorocaba. Contextualização e Classificação político-administrativa.
Para melhor entendermos o contexto em que ocorrem as ações do Banco do Povo
de Sorocaba, inicialmente caracterizaremos a cidade de Sorocaba, enfocando
alguns dados sobre o município de Sorocaba, a região administrativa de Sorocaba
(RA), a localização geográfica juntamente com o perfil econômico e social, bem
como alguns aspectos históricos serão contemplados.
Mapa 1: Região Administrativa de Sorocaba - RA
90
Fonte IGC - http://www.igc.sp.gov.br/mapras_sorocaba.htm edição 2003
A região administrativa – RA é formada por 79 municípios, divididos em cinco
regiões de Governo (RG) . São elas: Avaré, Botucatu, Itapetininga, Itapeva e de
Sorocaba.
Essa RA localiza-se na parte Centro-Sul do Estado e é a maior RA paulista, já que
possui território com 41.077 km² que abrange 16,5% do Estado de São Paulo.
Muitos fatores contribuíram para o desenvolvimento dessa região, merecendo o
destaque o acesso ao estado do Mato do Grosso do Sul, pela Rodovia Marechal
Rondon, e o fato de possuir um porto fluvial, localizado no município de Conchas, a
152 km da capital, que permite a saída de mercadorias para o Centro-Oeste e o Sul
do Brasil integrando um via de conexão hidroviária com o Mercosul.
Seu crescimento foi influenciado e favorecido pela proximidade com a Região
Metropolitana de São Paulo (RMSP), dispondo de relevantes rodovias – Raposo
Tavares (SP270) e Castello Branco (SP280) – que a interligam com a capital do
Estado, além de possibilitar trânsito para o Oeste Paulista. A região conta com a
rodovia Santos Dumont que liga Sorocaba a Campinas, a Rodovia Marechal Rondon
91
com mais de 500 km interliga a região ao extremo oeste do Estado, e ainda uma
rede ferroviária em concessão a ALL Ferroban xxxiii que vincula a RA com a Capital e
com o Porto de Santos.xxxiv
Em relação ao perfil econômico, a tabela seguinte demonstra que a região possui
economia diversificada. Destacamos o fato de que o Produto Interno Bruto (PIB) da
RA correspondeu em 2007 a 4,87% do PIB estadual totalizando R$ 37,9 bilhões63
colocando a região em quarta posição no Estado de São Paulo.
Tabela 12 : Produto e Renda - Participação no PIB do Estado
Produto e Renda - Participação no PIB do Estado (%)
2007
(em %)Classificação
Total do Estado de São Paulo 100
Região Metropolitana de São Paulo 56,43 1
Região Administrativa de Campinas 15,70 2
Região Administrativa de São José dos Campos 5,15 3
Região Administrativa de Sorocaba 4,87 4
Região Administrativa de Santos 3,89 5
Região Administrativa de Ribeirão Preto 2,53 6
Região Administrativa de São José do Rio Preto 2,27 7
Região Administrativa Central 1,80 8
Região Administrativa de Bauru 1,68 9
Região Administrativa de Marília 1,32 10
Região Administrativa de Araçatuba 1,13 11
Região Administrativa de Presidente Prudente 1,09 12
Região Administrativa de Franca 1,04 13
Região Administrativa de Barretos 0,83 14
Região Administrativa de Registro 0,23 15
Fonte: Fundação SEADE SP 2007
63 IBGE, 2006 http://www.ibge.gov.br/home/mapa_site/mapa_site.php#economia
92
Segundo a classificação da fundação SEADE a RMSP detém 56,4% seguida da RA
de Campinas com 15,7% e da RA de São José dos Campos com 5,15%.
O PIB per capita (em R$ correntes) da RA de Sorocaba é de R$ 16.566,71, na 8ª
posição em relação ao PIB do Estado que é de R$ 22.667,2564, como podemos
observar na tabela seguinte:
Tabela 13 : Produto e Renda per capita (R$)
Produto e Renda per capita (R$)
2004 2005 2006 2007Classificaç
ão
Região Metropolitana de São Paulo 18.665,14 21.190,24 22.904,47 26.503,37 1
Região Administrativa de Campinas 16.820,60 18.393,68 20.170,27 23.992,00 2
Região Administrativa de Santos 13.665,21 17.019,64 18.117,27 21.863,44 3
Região Administrativa de São José dos Campos 17.759,45 17.955,83 18.597,72 21.571,03 4
Região Administrativa de Ribeirão Preto 13.980,27 15.872,89 18.171,53 19.925,39 5
Região Administrativa de Barretos 18.920,56 13.514,59 18.125,33 18.501,38 6
Região Administrativa Central 13.408,46 14.485,77 15.907,91 17.906,60 7
Região Administrativa de Sorocaba 11.520,78 12.609,20 13.557,49 16.566,71 8
Região Administrativa de São José do Rio Preto 10.500,77 11.768,57 13.295,45 14.891,89 9
Região Administrativa de Bauru 10.619,02 11.753,02 13.746,27 14.696,10 10
Região Administrativa de Araçatuba 11.102,50 11.945,91 13.377,52 14.465,02 11
Região Administrativa de Franca 10.884,05 11.779,76 12.913,22 13.679,16 12
Região Administrativa de Marília 10.125,77 10.318,74 11.246,27 12.958,69 13
64 Ano 2007, Fundação SEADE - O PIB per capita nacional foi estimado em R$ 15.240,00 em 2008 (IBGE).
93
Região Administrativa de Presidente Prudente 9.376,20 10.204,07 11.339,08 12.077,58 14
Região Administrativa de Registro 5.586,97 6.066,96 6.578,93 7.677,53 15
Conforme o perfil da classificação do PIB65, que aponta particularizações das
atividades econômicas dos municípios que compõem a RA de Sorocaba, existe 13
municípios que possuem, de modo predominante, atividade agropecuária; 34 que
tem atividades agroterciárias, 8 voltados à indústria simples e 1 direcionado para
indústria complexa; 11 são multisetoriais e 12 com atividades do setor terciário
simplesxxxv.
Pela tabela a seguir, verifica-se a classificação de acordo com a atividade
econômica predominante em cada um desses municípios.
Tabela 14 - caracterização dos municípios, de acordo com o perfil do PIB
Tipologia conforme o perfil do PIB
Municípios
Agropecuários Águas de Santa Bárbara, Alambari, Anhembi, Bofete, Campina do Monte Alegre, Capela do Alto, Coronel Macedo, Iaras, Itaberá, Itaí, Pratânia, Quadra e Taquarivaí.
Agroterciários
Angatuba, Apiaí, Arandu, Avaré, Barão de Antonina, Barra do Chapéu, Buri, Capão Bonito, Cerqueira César, Cesário Lange, Fartura, Guapiara, Guareí, Ibiúna, Itapetininga, Itapeva, Itapirapuã Paulista, Itaporanga, Itatinga, Jurumirim, Manduri, Paranapanema, Pereiras, Piedade, Pilar do Sul, Ribeirão Branco, Riversul, São Manuel, São Miguel Arcanjo, Sarapuí, Sarutaiá, Taguaí, Taquarituba e Tejupá.
65 A composição da tipologia dos municípios, de acordo com o perfil do PIB, é realizada a partir do destaque da atividade de maior peso na formação do PIB municipal, dentre as várias atividades econômicas locais.
94
Fonte: Fundação SEADE SP 2007
Industriais SimplesAlumínio, Araçariguama, Botucatu, Cerquilho, Mairinque, Nova Campina, Ribeirão Grande e Salto de Pirapora
Industriais complexosSorocaba
Multisetoriais Boituva, Conchas, Iperó, Itu, Laranjal Paulista, Porto Feliz, Salto, São Roque, Tatuí, Tietê e Votorantim.
Terciário Simples Araçoiaba da Serra, Areiópolis, Bom Sucesso de Itararé, Iporanga, Itaoca, Itararé, Pardinho, Piraju, Porangaba, Ribeira, Tapiraí e Torre de Pedra.
Fonte Fundação SEADE, 2005
Partindo dos dados que compõem a estrutura produtiva da RA de Sorocaba
verificamos que as atividades do setor primário são diversificadas, envolvendo o
plantio de cana-de-açúcar e laranja – com predominância nas regiões centro-oeste a
oeste da RA, batata e tomate na região sudeste e incidências na central, feijão,
milho, frutas e hortaliças em todas as regiões da RA, entre outros produtos. Há
também a bovinocultura, a avicultura, e a suinocultura. O setor terciário da economia
encontra-se bastante diversificado, pois contempla desde indústrias de fiação e
tecelagem até as que produzem produtos mais elaborados, como as fábricas de
artefatos para a aeronáutica.
A atividade econômica da RA concentra-se, principalmente, nas imediações do
município-sede – Sorocaba – pois 60 % do PIB da RA é produzido na RG de
Sorocaba, assim como a maior parte da população (51,3%) encontra-se nessa área.
Desta forma de distribuição da estrutura produtiva os municípios localizados na área
leste da RA apresentam melhores indicadores econômicos e sociais que as demais
áreas.
As desigualdades internas na RA de Sorocaba predominam, sobretudo se
observarmos a região sudoeste na região do Vale do Ribeira. Essa é uma região
que se apresenta bastante heterogênea quanto aos fatores sociais e econômicos e
essa diversidade é confirmada pela classificação dos seus municípios por grupos no
Índice Paulista de Responsabilidade Social (IRPS) elaborado e monitorado pela
Fundação SEADE demonstrado na tabela e gráfico seguinte.
95
Gráfico 1 : Classificação dos municípios da RA Sorocaba conforme grupos do IPRS – Índice Paulista de Responsabilidade Social.
Fonte: Fundação SEADE, 2009
96
Tabela 15 - Classificação dos municípios da RA - Sorocaba, quanto ao panorama social, segundo o IPRS.
Classificação IPRS Municípios
Grupo 1 Municípi o s q u e s e
c ar a c t e ri z a m por u m nível
elevado de riqueza c o m
bons níveis nos
indicadores sociais
(7 Municípios)
Sorocaba, Águas de S. Bárbara, Alumínio,
Boituva, Botucatu, Cerquilho, Salto.
Grupo 2 Municípi o s q u e , e m b o r a c o m
níveis de riqueza elevados ,
não são capazes de atingir
bons indicadores sociais.
(9)
Araçariguama, Ibiúna, Itaí, Itu, Mairinque,
Paranapanema, São Roque, Votorantim,
Porto Feliz
Grupo 3 Municípi o s c o m nív el d e
riqueza baixo , m a s c o m
bons indicadores sociais .
(8)
Anhembi, Araçoiaba da Serra, Conchas,
Laranjal Paulista, Manduri, Piraju, Taguaí,
Tietê
Grupo 4 Municípi o s q u e apr e s e n t a m
baixos níveis de riqueza e
níveis intermediários de
longevidade e/ou
escolaridade
(29)
Alambari, Angatuba, Arandu, Areiópolis,
Avaré, Barão de Antonina, Bom Sucesso
de Itararé, Campina do Monte Alegre,
Cerqueira César, Cesário Lange, Fartura,
Itaberá, Itaóca, Itapirapuã Paulista,
Itaporanga, Itatinga, Pardinho, Pereiras,
Pilar do Sul, Porangaba, Pratânia, Quadra,
Ribeira, Salto de Pirapora, São Manuel,
Tapiraí, Taquarituba, Tatuí, Torre de
Pedra.
Grupo 5 Municípi o s m a i s
desfavorecidos d o Esta d o ,
tanto em riqueza como nos
indicadores sociais.
Apiaí, Barra do Chapéu, Bofete, Buri,
Capão Bonito, Capela do Alto, Coronel
Macedo, Guapiara, Guareí, Iaras, Iperó,
Iporanga, Itapetininga, Itapeva, Itararé,
Jumirim, Nova Campina, Piedade, Ribeirão
97
(26) Branco, Ribeirão Grande, Riversul, São
Miguel Arcanjo, Sarapuí, Sarutaiá,
Taquarivaí, Tejupá.Fonte: Fundação SEADE , 2005
Com base nos critérios que a Fundação SEADE utiliza e classifica os municípios da
RA Sorocaba para definir o IPRS verifica-se no grupo 1 a indicação de sete
municípios que apresentam resultados consideráveis nas três dimensões avaliadas
pelo IPRS.
Considerando os 79 municípios da RA, somente estes apresentaram variáveis
quanto a renda/riqueza, longevidade e escolaridade com bons níveis nos
indicadores sociais.
No grupo 2 nove municípios apresentaram resultados nas variáveis que “embora
com níveis de riqueza elevados, não são capazes de atingir bons indicadores
sociais”.
No grupo 3, oito municípios apresentaram níveis de riqueza/renda baixo, porém
bons indicadores sociais. No grupo 4, com o maior número de municípios, 29, foi
constatado o baixo índice de riqueza/renda e indicadores sociais de nível
intermediário.
Os 26 municípios classificados no grupo 5 se classificam como “mais desfavorecidos
do Estado, tanto em riqueza como nos indicadores sociais”. Com esses dados
concluímos que, dos 79 municípios da RA somente 8,8% classificam-se com
resultados favoráveis com nível elevado de riqueza e bons níveis nos indicadores
sociais.
Ao somarmos os municípios dos grupos 4 e 5 temos 69,6% com os piores
indicadores quanto as variáveis - renda, longevidade e escolaridade - denunciando
que a região possui 55 municípios com baixos indicadores sociais.
98
O Município de Sorocaba
Através do “Atlas de Desenvolvimento Humano no Brasil” (2000) coletamos
informações sobre o perfil do município de Sorocaba.
Localizada na mesoregião Macro Metropolitana Paulista na região sudoeste do
estado de São Paulo, o município dista 83,9 km da capital.
Mapa 2 : Localização geográfica do município de Sorocaba
Com uma área de 450,2 km² e densidade demográfica de 1.098,7 habitantes / km²,
com taxa de urbanização de 98,7% (2000) a população sorocabana representa
1,33% da do estado de São Paulo e 0,29% do país que é de 22 hab/km².
99
Sorocaba
No período 1991-2000, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) do
município de Sorocaba cresceu 6,56%, passando de 0,777 em 1991 para 0,828 em
2000. A dimensão que mais contribuiu para este crescimento foi a Educação, com
37,51%, seguida pela Longevidade, com 37,49% e pela Renda, com 25,0%. Neste
período, o hiato de desenvolvimento humano (a distância entre o IDH do município e
o limite máximo do IDH, ou seja, 1) foi reduzido em 22,9%.
Se mantivesse esta taxa de crescimento do IDH-M, o município levaria 14,2 anos
para alcançar São Caetano do Sul (SP), o município com o melhor IDH-M do Brasil
(0,919).
Observa-se que no município de Sorocaba, pela tabela a seguir, que o acesso aos
bens de consumo apresentou um aumento percentual no período de 1991 a 2000.
Esses bens são considerados de interesse particular e de classificação para
definição de status social que detém a função de propiciar o acesso as informações
na sociedade. A maior expressão se dá para o acesso ao telefone (fixo) e o advento
do computador no cotidiano das pessoas.
Tabela 16: acesso a bens de consumo – Município de Sorocaba
Acesso a Bens de Consumo, 1991 e 2000 (%)
1991 2000
Geladeira 92,8 97,7
Televisão 89,8 95,1
Telefone 20,8 50,5
Computador ND 20,3
ND - não disponível
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, PNUD 2000, Perfil do Município de Sorocaba
100
Indicadores socioeconômicos do município.
Para o município de Sorocaba, os dados disponíveis denunciam a realidade da
apropriação da riqueza nos diversos estratos da população, conforme demonstrado
na tabela seguinte:
Tabela 17 - Porcentagem da renda apropriada por estratos da População, 1991 e 2000.
1991 2000
20% mais pobres 3,90 3,10
40% mais pobres 12,00 10,20
60% mais pobres 24,50 21,40
80% mais pobres 44,10 39,90
20% mais ricos 55,90 60,10
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, PNUD 2000, Perfil do Município de Sorocaba
O PIB per capita que expressa a renda média do município cresceu 38,60%,
passando de R$ 7.638,40 em 1995 para R$ 13.857,00 em 2003 e R$ 22.667,30 em
2007. A pobreza (medida pela proporção de pessoas com renda domiciliar per capita
inferior a R$ 75,50, equivalente à metade do salário mínimo vigente em agosto de
2000) aumentou 4,24%, passando de 10,2% em 1991 para 14,4% em 2000. A
desigualdade aumentou, medida pelo Índice de Ginixxxvi passou de 0,51 em 1991
para 0,55 em 2000, em 2006 alcança 0,49. No estado o índice é de 0,45 em 2007.
Tabela 18 : IDHm – Índice de Desenvolvimento Humano – Municipal - Sorocaba
1991 2000
Variávei s
IDHm Índice de Desenvolvimento Humano - Municipal 0,777 0,828
Educação 0,858 0,915
101
Longevidade 0,72 0,777
Renda 0,754 0,792Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, PNUD 2003, Perfil do Município de Sorocaba
Em 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipalxxxvii de Sorocaba foi de
0,828. Segundo a classificação do PNUD, o município está entre as regiões
consideradas de alto desenvolvimento humano (IDH maior que 0,8). Em relação aos
outros municípios do Brasil, Sorocaba apresenta uma boa situação, ocupa a 145ª
posição, sendo que 144 municípios (2,6%) estão em situação melhor e 5.362
municípios (97,4%) estão em situação pior ou igual. Em relação aos outros
municípios do Estado, Sorocaba apresenta uma situação considerada boa, ocupa a
38ª posição, sendo que 37 municípios (5,7%) estão em situação melhor e 607
municípios (94,3%) estão em situação pior ou igual.
Um pouco de história sobre Sorocaba.
Focando o olhar sobre o Estado de São Paulo, como maior produtor de bens na
nação, que registra pólos de riqueza, de pobreza e exclusão, encontramos em
Sorocaba uma região que historicamente se desenvolveu pela impulsão do comércio
e da prestação de serviços e registros de concentração de pobreza.
Nessa região as atividades econômicas evidenciaram a formação de riquezas,
inicialmente através da mineração acompanhando o ciclo brasileiro em busca do
metal. Em 1599, Don Francisco de Souza, governador-geral do Brasil, ainda
acreditando na existência de ouro, esteve na região e levantou o pelourinho -
símbolo do poder real na Nova Vila de Nossa Senhora da Ponte de Mont Serrat. Em
1654, o capitão Baltazar Fernandes mudou-se para a região com a família, edificou
uma casa à beira do rio Sorocaba e na colina a capela de Nossa Senhora da Ponte,
doada em 1660 com terras, plantações e escravatura indígena, aos beneditinos.
Outro ciclo acontece, com o comércio de muaresxxxviii que eram trazidos dos
criadouros do sul para serem comercializados em Sorocaba. A vila que se
desenvolve na convergência dos caminhos do sul com a região das “gerais”xxxix
102
serviu de entreposto fiscal para a coroa portuguesa tributar os “produtos” que
transitavam entre as regiões.
A descoberta de novas minas de ouro nas proximidades do Rio de Janeiro
demandou maiores quantidades de alimentos que eram transportados no “lombo dos
escravos” e que retornavam com a carga do metal. A substituição dos escravos por
animais foi a solução pela crescente demanda por alimentos e por “meios” de
transporte com mais capacidade de carga e mais resistentes.
Os “muares” foram por longo tempo “produtos” de comercialização importante para
fornecer a força motriz, a época, necessária para o transporte e movimentação de
cargas e pessoas. Inicialmente, foram trazidos do sul por navios costeiros, o que
encarecia o “produto”. “Surge a iniciativa de” trazer por terra “vencendo as barreiras
geográficas” abrindo picadas, construindo pontes e atravessando matas até chegar
à Curitiba e daí para Sorocaba e São Paulo”.66
“Era na cidade que acontecia, todo ano, a Feira de Muares. Era mais ou menos nesta época, entre os meses de maio e julho, que as tropas vinham do Rio Grande do Sul para Sorocaba. As pastagens estão melhores nesta época do ano, favorecem a engorda dos animais e a viagem se tornava menos cansativa para as mulas. As mulas, eram criadas no Sul, e com a necessidade de escoar a produção, elas eram trazidas para cá para serem vendidas....... a maioria dos tropeiros era paulista, muitos, inclusive, sorocabanos. A viagem demorava cerca de três meses, dependendo do tamanho da tropa. Chegavam a circular até 150 mil mulas em Sorocaba por ano". (....) “O primeiro registro de Feira de Muares em Sorocaba data de 1750. A prática começou a declinar em 1897, com a primeira epidemia de febre amarela e também a chegada do trem. Mesmo com o fim da Feira de Muares, tropas ainda chegavam a Sorocaba até 1960. Além de animais, eram vendidos também artesanatos, como os conhecidos facão e rede sorocabanos” (Padre Castanho, Historiador - Museu Aluisio de Almeida, História contada de Sorocaba)
A mudança do hábito do sorocabano de minerador para comerciante inicia-se com
“a passagem das tropas de animais que encontraram na região dos Campos Largos
de Sorocaba grandes pastagens e aguadas para as tropas descansarem”. xl
Esta característica imprimiu na região uma identificação com as relações comerciais
que estão estampadas em gravuras e monumentos em muitas localidades no
município com a figura do comerciante, do animal de carga e dos serviços
66 Adolfo Frioli, pesquisador da Geo-história da região de Sorocaba
103
necessários à manutenção e funcionamento para cerca de 50 dias da “anual feira”
de muares.
Esses “serviços” de manutenção incluíam diversas atividades que garantiam o “bom
funcionamento” da feira e consistiam, desde serviços para hospedagem e
acomodações para os “tropeiros” e suas comitivas, serviços de costuras,
manutenção das “tralhas”xli, das selas dos animais, alimentação e cuidados para a
saúde, tanto, dos animais quanto dos tropeiros. A cultura permanece até a
atualidade nas tradicionais “Festas dos Tropeiros” onde se reúnem anualmente no
mês de maio, antecedendo a “invernada”xlii, milhares de comitivas de diversos
municípios brasileiros que para Sorocaba se dirigem relembrando os antepassados.
Noutros tempos, com a chegada da Estrada de Ferro em 1875, que rasgou a “terra
rasgada”xliii para trazer do interior distante os produtos da agricultura, os minérios, as
madeiras, o gado e os passageiros para a capital e os destinados à exportação pelo
Porto de Santos. A substituição do meio de transporte mais rápido e com maior
capacidade de carga não encerrou as atividades tropeiras, mantendo um
contingente de pessoas que sobreviveram por muito tempo dos serviços prestados
aos “proprietários de animais”, atividade econômica que permanece presente com
muitos “serviços” e alguns mais especializados tendo como sede na região de
Sorocaba uma Universidade do Cavalo, local que se destina aos estudos da
procriação, melhoria das raças, criação e comercialização de animais. Diversos
serviços continuam a existir em função da atividade “tropeira”.
“... o comércio, juntamente com o mercado interno formado pelas atividades artesanais e produção caseira de artigos ligados ao tropeirismo (redes, arreios, armazéns, hospedarias, fábrica de facas, facões, ourivesaria e etc.) iriam ser os elementos únicos de sua economia até meados do século XIX.”67
Tempos anteriores, também foi a extração do minério de ferro com a Real Fundição
de Ferro São João de Ipanema (1884), a produção e estampagem com a
implantação de dezenas de tecelagens e estamparias de tecidos (1890) que
imprimiram ao município uma identidade que se associa aos muitos momentos de
67 In: Arquitetura Industrial e inserção urbana : o caso da fábrica Santa Rosália em Sorocaba, Marco Antonio Leite Massari e Ricardo Hernán Medrano, III Fórum de Pesquisa FAU Mackenzie, 2007
104
influência britânica na formação econômica brasileira, e também a produção de
frutas cítricas para exportação para a Europa e Estados Unidos,(1931).
Essas influências, também se materializaram através da arquitetura, estando
presente nos prédios da “estação e oficina ferroviária”, nos prédios das estamparias,
nas chaminés das fábricas de tecidos, no calçamento e iluminação de ruas. A fábrica
de tecidos e a estamparia com investimentos e transferência de maquinários
diretamente de Manchester na Inglaterra renderam o titulo de “Manchester
Paulista”xliv ao município, pela quantidade e diversidade de produtos que de lá saiam.
Da esquerda para a direita, o antigo prédio da estação ferroviária que atualmente abriga o Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba e Museu da Estrada de Ferro Sorocabana E.F.S.
A mão de obra foi “preparada” para operar os equipamentos dentro das novas
normas produtivas e a presença da força de trabalho feminina se estabelece
competindo com os homens nos espaços das grandes fábricas. No final da década
de 1920, a indústria sorocabana abrigava a segunda maior concentração operária
paulista e seu setor têxtil, com 19 grandes fábricas, empregava 82% da mão-de-obra
operária regional68. Era, também, marcante o dinamismo agroindustrial do
beneficiamento do algodão, seguido de laticínios e frigoríficos.
68 BONADIO, Geraldo. Sorocaba: a cidade industrial (espaço urbano e vida social sob o impacto da atividade fabril). Sorocaba, SP: Geraldo Bonadio, 2004.
105
Nesta época, a atividade têxtil se estabelece como principal fator econômico e, em
paralelo, novamente inúmeras outras atividades de serviços foram se implantando,
modificando o perfil dos trabalhadores, pelos treinamentos dos novos métodos de
produção recebidos dos ingleses, mantendo grupos bem definidos na sociedade e
influenciados pelas “levas de imigrantes, espanhóis e italianos”, para mão de obra
na agricultura e fabril em diversos momentos da formação da mão de obra da
região.
A fundição de ferro no morro de Ipanema, o comércio de animais de carga, as
estamparias e fábricas de tecidos, a implantação da estrada de ferro, as oficinas de
serviços dos profissionais e alunos da “Sorocabana”xlv, definiram o perfil industrial e a
formação da mão de obra local e regional.
No final da década de 1970, por muitas cidades brasileiras, alguns hábitos de
consumo foram ganhando força e mostrando as mudanças significativas que
estavam em formação na vida das populações pobres.
Atualmente são as grandes empresas “montadoras” que “trabalham” para as
grandes marcas mundiais é que se mantêm no parque industrial e fabril da cidade,
alimentando várias outras atividades, inclusive nos municípios vizinhos, fomentando
a grande participação das “prestações de serviços” que atuam nas periferias das
empresas formando um potencial de micro e pequenas empresas fornecedores de
serviços atuando “nas bordas do grande sistema” 69 operado e gerenciado pelas
grandes empresas. Aliado a estes segmentos da economia criaram-se inúmeros
pontos de atividades informais que se instalam nos patamares inferiores agregados
aos pequenos e médios setores da economia.
Ricardo Antunes em “Adeus ao Trabalho” nos alerta através de uma pesquisa
realizada por Anunzziato nos Estados Unidos referindo-se a partir da década de
1980, sobre a aceleração na instalação, no mundo do trabalho, das atividades de
69 BONADIO, Geraldo. Sorocaba: a cidade industrial (espaço urbano e vida social sob o impacto da atividade fabril). Sorocaba, SP: Geraldo Bonadio, 2004.
106
prestação de serviços. Modelo que, também, se reproduziu com muita intensidade
no Brasil.
“.. de um lado evidencia-se a retração dos trabalhadores da indústria manufatureira (e também da mineração e dos trabalhadores agrícolas). De outro lado, tem-se o crescimento explosivo do setor de serviços que, segundo o autor, inclui tanto a “indústria de serviços” quanto o pequeno e grande comércio, as finanças, os seguros, o setor de bens imóveis, a hotelaria, os restaurantes, os serviços pessoais, de negócios, de divertimentos, da saúde, os serviços legais e gerais. (Annunziato, 1989; 107 in: ANTUNES, 2000, p 34)”
Fixando o olhar sobre este cenário dos “prestadores de serviços”, observamos que
muitos encontraram as formas de sobrevivência nas mais adversas situações de
privações materiais, com conseqüentes restrições de acesso aos aparelhos públicos
de educação e manutenção de uma cultura, denunciando a ausência de condições
mínimas de vida.
O Consumo de novos produtos e o pertencimento
Ao longo do tempo foram sendo introduzidos hábitos e costumes e novos produtos
que, se tornando acessíveis a determinados grupos, passam a rechear o cotidiano
dos outros grupos que desenvolvem atividades “menos valorizadas” 70 ou sem
nenhuma remuneração.
Esses grupos pobres, subsistentes dos serviços que possam prestar à comunidade,
agregados aos demais, outros, migrantes de outras regiões, principalmente do
Paraná e do nordeste brasileiro, passam a rechear as periferias das cidades com
quantidade e diversidade de mão de obra que outrora tiveram sua importância.
Passam a conviver com atividades sem maior expressão, de menor valor agregado,
garantindo-lhes a sobrevivência.
Um universo de atividades diversas e de consumo de bens industrializados numa
escala sem precedentes se insere no cotidiano das pessoas, contribuindo para a
comercialização de produtos, muitos em sua maioria vindos das fronteiras do sul do
Brasil, mais propriamente do vizinho Paraguai. Este comércio se fortalece e
70 Valorizadas, no conceito de valor material para a sobrevivência.
107
estabelece novos padrões de consumo de bens e serviços, muitos produzidos fora
da região e que iniciam um processo de produção de necessidades humanas.
Com a convergência de duas ordens no processo de formação sócio histórico
brasileiro, que de um lado, na origem e na formação de um setor de subsistência
nas periferias das regiões desde os tempos da colonização brasileira tem confinando
um grande contingente populacional para se utilizar um limitado conjunto de
recursos. Noutro ponto, a população formada por aqueles que sobreviveram das
atividades que podemos classificar como prestação de serviços pela movimentação
mercantil. Esta população, concentrada do contexto urbano, passa a ser tocada
(começam a perceber o novo) pelo novo ciclo de expansão capitalista no Brasil a
partir da segunda metade do século XX.
Este novo ciclo é responsável pela industrialização interna, pela aceleração na
urbanização e pela formação de uma indústria que abarcariam muitas das atividades
que outrora eram praticadas isoladamente nos vilarejos e vilas.
A história da formação da vila de Sorocaba, que data de 1654, nos trás registros de
formação de uma população pobre, dependente da “atenção caridosa e carente de
emancipação pela restrição de oportunidades”, convivendo com abundantes
recursos concentrados pelos comerciantes e pelos representantes dos governos.
Como ambiente empírico pesquisado, o município de Sorocaba está inserido no
contexto formativo da economia da população brasileira.
O censo do IBGE 200071 indicava para o município de Sorocaba uma população
residente de 493.468 habitantes, sendo classificada de municípios de médio para
grande porte no contexto brasileiro. Apesar de sua proximidade aos grandes centros
urbanos a cidade mantém características “interioranas” que identificam aqueles que
detém o poder, as “famílias proprietárias”xlvi de terras e outros imóveis no município,
condição muito semelhante as demais regiões brasileiras de formação colonial.
71 A projeção do IBGE para 2009 é de 584.313 habitantes http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2009/POP2009_DOU.pdf
108
A professora Guiomar Inez Germani72 abordando a questão das condições históricas
e sociais, que regulam o acesso a terra, nos apresenta que:
“o modelo de distribuição de terras em grandes propriedades não foi exclusivo da atividade açucareira. Outras atividades econômicas como as fazendas de gado, implantadas desde o século XVII em Pernambuco e Bahia, acentuaram a tendência à formação de imensos latifúndios e sua concentração em mãos de poucos privilegiados. Para ter uma idéia, já em 1663, tinha sido concedido o direito de propriedade de toda a região do São Francisco a quase exclusivamente duas famílias – os Garcia D’Ávila e os Guedes de Brito. A incorporação da região Sul a esta atividade de apropriação se deu mais tarde, na segunda metade do século XVIII, mas o modelo adotado seria o mesmo”.
As condições e formas de vida presente, e outras, anteriores ao processo de
desenvolvimento urbano industrial do capitalismo no Brasil, imprimiu em muitos
municípios, em especial em Sorocaba, formas de vida confinadas nas atividades de
pequena relevância econômica e de pouca expressão. Numa análise isolada do
computo econômico financeiro que sustentaram a vida dos prestadores de serviços
observa-se que muitas destas atividades se aproximam à condição de subsistência
inserida ao movimento mercantil que, historicamente esteve presente na formação
da população sorocabana.
O movimento da economia nos patamares inferiores da sociedade, passa pelo
tempo histórico com alguns registros que relegam à “condição de problema” para as
autoridades os segmentos mais empobrecidos da sociedade, com a ausência da
importância pelas vidas que representam. Mesmo considerando o porte destas
atividades praticadas cotidianamente e o número de operações que são realizadas é
interessante, também, observar que o processo de formação social influenciou, em
muito, as características de definição de locais onde se concentrou a pobreza.
Ao abordar a questão espacial de distribuição da população pobre no município de
Sorocaba, focamos os dados estatísticos das zonas periféricas que imprimem uma
identificação local da exclusão e da pobreza. Essa identificação aponta “locais” de
concentração de prestadores de serviços com baixa renda e que movimentam a
72 Coordenadora do Projeto GeografAR do Instituto de Geografia IGEO/UFBA in: Tese de Doutorado apresentada na Faculdade de Geografia e História da Universidade de Barcelona, em junho de 1993. Foi publicado em Scripta Nova. Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. 1993.
109
“pequena” economia em vários pontos da cidade, e são nas tradicionais periferias
que se avolumam, incidindo a estampa de pobreza aos grupos que lá movimentam
pequenos valores em grandes quantidades de atividades. Atividades de subsistência
expressas de diversas formas e maneiras que possam ser imaginadas.73
A permanência de uma cultura de concentração espacial da pobreza nas periferias,
não impediu que através de algumas das ferramentas de mercado, como a
publicidade veiculada pela televisão e a amplitude de penetração deste meio de
comunicação, proporcionassem o conhecimento de muitos “produtos e serviços”
anteriormente restritos ao “acesso” para reservados grupos.
Iniciam-se novos meios de criação de consumo e alternativas à possibilidade de
possuir um bem ou produto que se aproxime dos modelos apresentados pela
publicidade - mesmo que similares mais baratos - que “substituem” o ideal
apresentado.
O contato, a aproximação com os produtos, que anteriormente não eram
conhecidos, levou grandes excursões de “compras” ao um “país vizinho”. Um grande
contingente de pessoas de Sorocaba e região se destinavam para o Paraguai e este
número se mantém elevado apesar da ilegalidade das ações e das repressões
policiais.
Movimentos de mercadorias trazidos do sul, reproduzindo um processo que se
firmou como maneira de se, “tomar conhecimento”, do que se “produzia” fora das
nossas fronteiras. Mesmo que ilegal este movimento confirmou-se crescente e
abrangente, inclusive com o envolvimento de muitas entidades filantrópicas que se
utilizavam deste recurso da venda desses produtos para angariar fundos. Esse
movimento serviu para confirmar o lugar da pobreza com a constituição de
ilegalidade para quem “comerciassem produtos contrabandeados” e reprimidos pela
ação policial convivendo com a “legalidade instituída para as entidades filantrópicas
para a venda dos produtos apreendidos dos contrabandistas”
73 Citamos estas características para facilitar a interpretação da origem e formação do município e a distribuição periférica
110
Neste contexto a pobreza se constituiu e, em contínuo processo de construção de
espaços e elementos, confirma sua existência. Esse cenário indica um
questionamento para o problema – a relação de movimentação da população
sorocabana nessa economia e como a questão da sobrevivência sugere a
convivência com o poder e a aspiração pelo consumo.
Seção 3 - A atuação do Banco do Povo no Município de Sorocaba
O Banco do Povo foi instituído no município de Sorocaba através de lei municipal nº
6131, de 13 de abril de 2000 que celebrou convênio com o Governo do Estado de
São Paulo regulamentando a participação do município no Projeto Banco do Povo
destinado a concessão de créditos a micro-empreendedores do setor formal e
informal instalados no município.
O órgão está vinculado à Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho (SERT) da
Prefeitura de Sorocaba atuando em parceria com o governo do Estado e iniciou suas
atividades em 14 de junho de 2000 integrando o sistema de instituições de
microcrédito orientando do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado
– PNMPO.
Atualmente, no âmbito municipal, é administrado por um gestor e quatro agentes de
crédito. A origem dos recursos representa 90% de participação do dos recursos do
Estado compostos com transferências federais do FAT e recursos dos depósitos à
vista, dos bancos comerciais, geridos pelo Banco Central e por 10% da Prefeitura. O
sistema funciona através dos agentes de crédito que coletam informações sobre os
clientes e suas necessidades e encaminham seus pedidos de financiamento para
um Comitê de Crédito Municipal. Cabe ao comitê aprovar, ou não as solicitações,
segundo critérios técnicos.
111
O Banco do Povo tem por objetivo alavancar as micro-empresas no município, o
pequeno empreendedor ou cidadão que pretenda iniciar o seu negócio, pessoas
muitas vezes que não conseguem acesso ao sistema bancário tradicional. Os
empréstimos são destinados aos microempreendedores que atuam há mais de seis
meses na mesma atividade. Além dessa exigência é necessário comprovar moradia
há pelo menos dois (2) anos no município e não possuir inscrição nos órgãos de
proteção ao consumidor como SPC/SERASA.
Dentre os critérios para a concessão do aval, pelo valor emprestado, a operação é
considera “facilitada bastando que a pessoa – avalista - apresente algum tipo de
rendimento mensal”, não sendo necessário possuir imóvel próprio para
comprovação de capacidade de pagamento.
O crédito é destinado às pequenas empresas e pessoas físicas que trabalhem por
conta própria, ou tenham um negócio que contribua para a renda familiar e que
apresentem características de baixa renda74, para as cooperativas e outras formas
de associações de produção que sejam legalmente constituídas.
Para solicitar o empréstimo as pessoas na condição formal de atividade precisam
apresentar o contrato social, o cartão de inscrição no CNPJ (Cadastro Nacional de
Pessoa Jurídica), o cartão inscrição estadual, o CPF do proprietário, sócios e
cônjuges, um comprovante de residência, certidão de casamento e pelo menos um
(1) orçamento do bem que pretenda adquirir.
Os atuais limites de crédito são: no mínimo de R$ 200 e no máximo de R$ 7.500. As
pessoas na situação de informalidade podem solicitar financiamento para
investimento fixo, investimento misto ou para capital de giro e os limites de créditos
variam entre R$ 200 até o máximo de R$ 5.000. Os juros praticados são de 0,7% ao
mês sobre o montante emprestado.
O desempenho operacional do Banco do Povo no município de Sorocaba
74 O critério para definição de baixa renda não ficou bem definido pelo comitê gestor, considerando que alguns parâmetros sociais são necessários para estabelecer estes parâmetros.
112
No primeiro semestre de 2008 foram celebrados 26 contratos, com R$ 2 milhões de
recursos disponibilizados para serem emprestados. O resultado financeiro das
operações foi R$ 140 mil. No segundo semestre a quantidade de operações
totalizou 38 contratos representando em recursos emprestados R$ 160 mil. Do total
de 75 empréstimos solicitados em 2008 sete foram recusados pelo Comitê de
Crédito Municipal considerando como fator relevante a inscrição no SPC/SERASA.
No primeiro semestre de 2009 foram celebrados 19 contratos, também com R$ 2
milhões de recursos disponibilizados para serem emprestados. O resultado
financeiro das operações foi R$ 73 mil. No segundo semestre, a quantidade de
operações aumentou para 90 contratos o que representou em recursos financeiros
emprestados de R$ 335 mil. Dos 120 contratos de empréstimo solicitados em 2009,
onze foram recusados pelo Comitê de Crédito Municipal considerando como fator
relevante o mesmo motivo do ano anterior, a inscrição no SPC/SERASA. A
participação de mulheres nas operações de crédito representou, tanto em 2008
como em 2009, a relação de 50 % dos recursos emprestados.
Tabela 19: Desempenho operacional do Banco do Povo de Sorocaba
Município /Unidade BPP SOROCABA População: 572.459*
Quant. Oper. Recursos Emprestados Quant. Oper.Recursos
Emprestados1º Sem / 2008 1º Sem 2008 2º Sem / 2008 2º Sem / 2008
26 R$ 140.958,80 38 R$ 160.052,30
Quant. Oper. Recursos Emprestados Quant. Oper.Recursos
Emprestados1º Sem / 2009 1º Sem/2009 2º Sem / 2009 2º Sem/2009
19 R$ 73.290,75 90 R$ 335.745,00
Relação Quant. Oper.Relação Recursos
Emprestados2008 X 2009 2008 X 2009
113
170%R$ 108.024,65 =
136% **
Fonte: BPP - unidade Sorocaba * IBGE 2007
** O aumento entre o ano de 2008 e 2009 representando 170% das operações e 136% dos recursos destinados é justificado pela ação de mutirões de microcrédito que foram realizados no segundo semestre de 2009.
Dentre as metas do convênio, que ordena o funcionamento do banco, estabelecidas
para o próximo ano (2010) é a realização de no mínimo 180 contratos, com os
recursos de R$ 3,3 milhões disponíveis para o banco.
A fiscalização das atividades do Banco do Povo é realizada por Auditoria Interna da
Secretaria Municipal conjugada com a Secretaria de Estado e regulamentada por
normas do Banco Central.
Perfil dos negócios do BPP75 - Sorocaba
No ano de 2009 os empréstimos concedidos pela primeira vez representaram 61%
dos recursos e o para o segundo contrato 19%, o terceiro contrato 9% e mais de três
operações de contratos para o mesmo cliente foi de 11%, segundo a regularidade
dos pagamentos. Os pagamentos são realizados diretamente junto às agências da
Nossa Caixa Nosso Banco S.A..
Gráfico 2 - Perfil dos negócios por número de operações.
75 BPP – sigla de Banco do Povo Paulista
114
Perfil dos negócios do BPP - Sorocaba
19%
9%11%
61%
1º. contrato 2º. contrato
3º. contrato Mais de 3 operações
Fonte: BPP Sorocaba, 2009
Das atividades que solicitaram empréstimos e conquistaram o recurso destacamos
os serviços com 80% e aqueles voltados à produção com 12%. Os demais foram
destinados às atividades que comprovaram renda através de documentos como
fatura de cartão de crédito, movimentação bancária e declaração de “boa fé”
fornecida por comerciantes fornecedores de matérias primas utilizadas nos
processos produtivos.
As principais atividades foram os comerciantes representando 13% das operações,
12% para motoristas, 10% costureira(os), 8% vendedores (ambulantes em sua
maioria), 5% cabeleireira(os). Os demais 52% foram de atividades diversas.
Gráfico 3 - Principais Atividades (%) operações
115
Perfil dos negócios do BPP - Sorocaba - atividades %
Comerciantes 13% Motoristas
12%
Atividades diversas
52%
Costureira (os) 10%
Vendedores 8%
Cabeleireira(os)
5%
Fonte: BPP Sorocaba, 2009
Dentre as atividades que receberam os empréstimos elencamos as seguintes:
cabeleireira(os), borracheiro, caminhoneiro, consertador de fogões, eletricista,
encanador, montador de móveis, costureira, lavadeira de roupas, lavadeira de
cortinas, lavadeira de tapetes a domicilio, jardineiro (a), vendedor ambulante, afiador
de facas, serralheiro a domicílio, serviço de guarda noturno. O grupo de mulheres
de facção (costura de partes de roupas, vestuário, uniformes), grupo de pessoas de
montagem de brinquedos, professor de informática a domicilio, professora de inglês
a domicilio. As cooperativas de reciclagem, cooperativa de catadores de papelão,
cooperativas de catadores de lixo de informática também receberam financiamentos
e empréstimos,
Os clientes do Banco do Povo de Sorocaba.
Nas atividades profissionais desenvolvidas pelos clientes do Banco do Povo
destacam-se anseios cujas aplicações dos recursos se efetivaram nos mais diversos
tipos de equipamentos e conforme a destinação dos valores emprestados. A
Cabeleireira financiou uma pia para lavar e o secador de cabelos, borracheiro
financiou compressor de ar e ferramentas, caminhoneiro recauchutou pneus e
116
retificou o motor do caminhão, o consertador de fogões adquiriu uma moto,
eletricista investiu em ferramentas, encanador investiu em ferramentas e numa
bicicleta, montador de móveis em peças e ferramentas mais ágeis, costureira em
máquina overloque industrial, lavadeira de roupas em nova máquina de lavar e
centrifuga, lavadeira de cortinas investiu em máquina a vapor, lavadeira de tapetes a
domicilio financiou o aspirador industrial de água e sólidos, jardineiro comprou
cortador de gramas e triturador de resíduos, vendedor ambulante investiu em novo
carrinho de pipocas e de algodão doce, professor de informática investiu em novo
computador, serralheiro comprou máquina de solda, serviço de guarda noturno
investiu em moto.
O grupo de mulheres de facção (conhecidas com costureiras de peça única são
aquelas que costuram partes que compõem um vestuário, roupas e uniformes)
adquiriu máquinas para embalar as peças acabadas. O grupo de pessoas que fazem
a montagem de brinquedos em suas próprias casas investiram em ferramentas e
mesas para trabalhar, o professor de informática à domicilio investiu em computador
portátil e a professora de inglês num projetor de imagens.
A cooperativa de reciclagem comprou uma caminhonete para recolher o material
ensacado, a cooperativa de catadores de papelão contratou serralheria para
confecção de carrinhos para catadores padronizados pela necessidade de transitar
pelas ruas com mais segurança. A cooperativa de catadores de lixo de informática
investiu em equipamentos de separação de metais pesados com maior valor
agregado para venda.
A faixa etária predominante foi a de 40 a 49 anos com 29% das pessoas que
receberam os recursos, seguida de 27% da de 30 a 39 anos. Esses dados
confirmam a idade ativa da população brasileira configurada pelo IBGE que estimou
em junho de 2005 as pessoas em idade ativa (PIA) 76 em 38,8 milhões de brasileiros
nas seis regiões metropolitanas brasileiras. Segundo o IBGE a população - PIA -
continuará crescendo nas próximas décadas, passando de 53 milhões de pessoas
em 2006 para 56,6 milhões em 2030 xlvii.
76 Disponível em http://www1.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova
117
Gráfico 4 : Perfil dos negócios do BPP - Sorocaba
Perfil dos negócios do BPP - Sorocaba - por faixa etária
8%
16%
20%
27%
29%
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35%
Até 29 anos
30 a 39
40 a 49
50 a 59
acima de 60 anos
Fonte: BPP Sorocaba, 2009
Os meios que propiciaram o conhecimento dos serviços de empréstimos do Banco
do Povo para os entrevistados foram os mais diversos. Informações através de
amigos que tiveram acesso a entrevistas nos jornais e pelas TVs locais. Uma das
estratégias utilizadas para divulgação dos serviços foram entrevistas de clientes do
banco do povo e do gerente da unidade nas rádios e pela internet.
Como teve conhecimento sobre o BP?
Amig o s e e ntr e v i s t a n o jorn alCâ m a r a d e Ver e a d o r e sFilha qu e viu p el a Intern etJorn al e a m i g o qu e já h a vi a c o n tr a t a d oPela Intern e t e n a fa c ul d a d e q u e e s t u d a .Pel o Jorn al e TVPel o g e r e n t e d o b a n c o par a o q u a l d e vi a o c h e q u e e s p e c i a l .Pel o Jorn al e por e ntr e v i s t a n a rá di oEntr evi st a n a rá di oUma cli e nt e e p el o jorn alA dir et o r a d a e s c o l a pr óxi m a à su a c a s a a ajud o u
118
Pel o jorn al e p el a rá di oUm a m i g o qu e já h a vi a e m p r e s t a d o .
A maioria teve conhecimento pelo jornal, 24%. As rádios e, os amigos e parentes,
colaboraram com as informações (18%), seguidos dos acessos a internet e dos
demais clientes que já se utilizaram dos serviços.
Como teve conhecimento sobre o BP?
nº. % Tipo
4 24% Jornal3 18% Amigo/ Parente3 18% Rádio2 12% Internet2 12% Outros que já emprestaram do BP1 6% Câmara de Vereadores1 6% TV1 6% Gerente do Banco que possui conta corrente
100%
Dos 22 contratos firmados no período da pesquisa, a maioria foi com prazo de
financiamento de 12 meses, seguidos dos de seis meses para liquidação do
contrato. 10,5 meses foi o prazo médio para pagamento das operações.
O menor prazo foi de seis meses e o maior foi de 18 meses concedido para a
Cooperativa de reciclagem.
Tabela 20 : Prazos de financiamento do recurso emprestado.
Prazo de financiamentoNº
contratosem meses
9 124 62 142 92 81 181 101 7
119
Total Prazo médio (em meses)
22
Para se avaliar a reincidência de contratos firmados pelo mesmo cliente,
constatamos o ano de contratação, considerando o período analisado de 2008 e
2009.
As entrevistas realizadas nesse período identificaram contratos já em andamento. O
objetivo foi avaliar os resultados dos contratos já iniciados e os reincidentes, aqueles
que firmaram novos contratos a partir da experiência inicial. Dos 22 contratos
avaliados, três receberam os recursos em 2006. A maioria recebeu o primeiro
recurso em 2007, somando 10 contratos. Em 2008 foram sete contratos firmados e
em 2009 foram dois contratos.
Tabela 21: Número de contratos firmados por ano de contratação.
Nº contratos Ano contratação
3 2006
10 2007
7 2008
2 2009Total
22
Em relação ao número de contratos, por ano de contratação, foram analisados
somente os liquidados. Dos 22 que se iniciaram entre 2006 e 2009, 03 foram
liquidados em 2007, em 2008 foram 7 contratos e 12 contratos foram liquidados em
2009. 10,5 meses foi o prazo médio para pagamento das operações
Tabela 22: Número de contratos por ano de contratação
120
Nº contratos Concluído em3 20077 2008
12 2009total 22
Gráfico 5 : Número de contratos por ano
Fonte: BPP Sorocaba, 2009
A utilização dos “recursos emprestados” identificou a necessidade de disponibilizar
meios de crédito para as pessoas adquirirem desde móveis, equipamentos,
ferramentas básicas até capital de giro para poder movimentar seus negócios e
gerar renda.
Em relação aos recursos emprestados, o valor médio entre as operações foi de
R$ 1.414,00. Os valores variaram desde R$ 360,00, utilizado pela “Sra. Orquídea”
para comprar a máquina para embalar mercadorias, passando por aquisições de
máquinas registradoras pela “Sra. Margarida”77, um computador para a “Dona
Orquídea”, os balcões expositores para a “Dona Violeta” e “Dona Margarida”.
77 A utilização de nomes de flores foi uma estratégia que adotei para homenagear os sujeitos da pesquisa preservando suas identidades e atribuindo-lhes representações de cada nome de flor a partir da percepção de suas características próprias. As flores possuem a capacidade de surgirem nas condições mais adversas e em muitas vezes sua beleza, seu colorido e sua função na natureza são pouco observadas e pouco exploradas em seu potencial. A definição das características que cada nome de flor adotada como pseudônimo representado pode ser consultada em http://www.mundodeflores.com/rosas-lista-nomes-flores-j-z.html
121
As máquinas para fazer cópias de chaves para o “Senhor Cacto” e até a aquisição
de um caminhão no valor de R$ 6.300,00 pela Cooperativa de reciclagem. O
“Girassol” financiou máquinas de costura e equipamentos para exposição de suas
roupas num Shopping. O “Seu Gerânio” consertou o motor de sua Kombi e ajuda o
irmão como taxista. Com toda paciência o “Sr. Alfazema” demonstrou como
conseguiu comprar um elevador para veículos facilitando suas funções na oficina
mecânica.
A elegância de “Dona Acácia” ficou refletida pelos espelhos do “Salão de Beleza”
que montou em sua casa após trabalhar numa torrefação de café em frente onde
morava. Percebendo uma oportunidade de montar seu negócio pois seus colegas de
trabalho “não tinham tempo para manter os cabelos e unhas” asseados pela
exigência do trabalho que faziam. “Dona Camélia”, que se orgulha de ser chamada
de “sacoleira”, há mais de 15 anos faz a conexão entre as lojas da Rua 25 de Março
em São Paulo e as mães do interior que precisam de roupas infantis para seus
filhos.
“Dona Petúnia” que venceu muitos obstáculos, sendo analfabeta, possui desde 2007
seu próprio “carrinho de caldo de cana”. O “Sr. Lírio” acreditando muito na sua sorte,
investiu na primeira compra de um “carrinho de lanches” em local fixo e recontratou
novo recurso do Banco do Povo para montar um carro de lanches sobre uma pick-up
e poder acompanhar os eventos que acontecem na cidade e vender os seus
produtos.
Com a riqueza do conteúdo dos depoimentos apresentados nestes pequenos
extratos percebemos a relação entre a necessidade de sobrevivência e as
oportunidades que são criadas por iniciativas, em muitos casos, pelo próprio
individuo. O crédito apresenta-se como coadjuvante necessário como um dos meios
para se estabelecer em mínimas condições no mundo capitalista. O acesso ao
crédito é que se apresenta como protagonista. Sua ausência ou restrição se
configura em evidente manifestação de exclusão social confirmando as condições
de desigualdades geradas pela desigual distribuição de riquezas produzidas.
Ao analisar os valores solicitados em “empréstimos”, ou seja, que implica
necessariamente a devolução “com juros”, percebe-se que são valores considerados
122
pequenos em relação as demais movimentações financeiras, aquelas que são
conhecidas e divulgadas pelos diversos meios de comunicação.
O “juro”, forma comercial de compensar o valor líquido emprestado à titulo de
antecipação de renda, já é velho conhecido de muitas civilizações de forma a
navegar ao longo da história com inúmeras manifestações em diversas localidades.
KEYNES (1982)78 confirma que o juro “é o preço mediante o qual o desejo de manter
a riqueza em forma líquida se concilia com a quantidade de moeda disponível”, ou
seja, é o preço da preferência pela liquidez, ou pela necessidade dela.
No Brasil, devido a relevância para a economia popular, a fixação e cobrança de
juros e outros encargos é constitucionalizada. A Carta Magna 1988, em seu art. 192,
§ 3°, trata especificamente da matéria, ao limitar a taxa de juros reais, incluídas as
demais remunerações, em 12% (doze por cento) ao ano. Atividades financeiras que
superem estas taxas são enquadradas na prática da “agiotagem”, prevista como
crime contra a economia popular.
Pela tabela seguinte temos os valores dos recursos emprestados traçando um perfil
de acordo com o número de contratações realizadas pelo mesmo contratante. O
valor mais expressivo (R$ 6.300,00) foi concedido para uma cooperativa que agrega
12 pessoas em atividades de reciclagem de material plástico. O segundo valor (R$
2.700,00) foi autorizado pelo comitê para uma “cliente” formalizada na prefeitura
como vendedora. Os demais empréstimos foram autorizados em sua maioria para
pessoas que já possuem, ou estavam em processo de regularização da atividade. A
média dos valores emprestados (R$ 1.414,00) e o perfil das atividades denunciam a
fragilidade na confiança pelo retorno do valor emprestado e a cobrança da instituição
para que o cliente disciplinarmente constitua uma “linha de crédito” através de um
histórico de movimentações adimplentes.
Tabela 23 : Valor dos recursos emprestados por número de contratações em R$ (pelo mesmo contratante)
1º contrato 2º contrato 3º contrato
78 KEYNES, John Maynard (Trad. Mário R. da Cruz). A Teoria geral do emprego, do juro e da moeda. São Paulo: Atlas, 1982.
123
900,00
6.300,00 6.000,00 *
678,00 430,00
520,00 600,00
1.050,00 540,00
2.180,00 1.320,00
360,00 1.490,00 850,00
1.750,00 960,00
1.100,00
2.700,00
1.800,00
2.050,00 1.400,00
630,00 1.500,00 *(em análise)
Valor médio dos recursos emprestados R$ 1.414,00
O sistema Banco do Povo atua dentro das determinações legais de aplicação da
cobrança de juros pelo empréstimo, porém restrito aos valores que podem ser
emprestados impossibilitando fomentar a economia e inserir pelo acesso ao crédito,
Esses limites de valores disponibilizados contrariam algumas afirmações sobre
empreededorismo da população pobre, que num determinado grupo não possui
acesso algum ao crédito e em outro, que algum acesso possui, esbarra nos limites
de valores a serem emprestados. Contestando esta linha de raciocínio, podemos
confirmar a grande concentração de riquezas nas mãos de poucos, de forma que
pequenos valores tornam-se expressivos para muitos grupos de pessoas na
economia do andar de baixo.
124
Tabela 24: Depoimentos coletados nas entrevistas.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC SPPROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM SERVIÇO SOCIALOrientadora: Profa. Dra. Maria Carmelita Yazbek
Mestrando: Estevam César (11) 2712-2352
Pseudônimo 79 AtividadeDestinação do empréstimo
Obs.:
GERÂNIO (ca pri c h o e d e v o ç ã o )
Motorist a /Taxist a
Fin a n c i o u o c o n s e r t o d o m o t o r d a Kom bi qu e utiliza par a tra b a l h a r
T e m u m Táxi e m p o nt o fixo e u m a Kom bi par a alu g u e l q u e tra b a l h a c o nju nt a m e n t e c o m o ir m ã o m a i s n o v o .
79 A utilização de nomes de flores foi uma estratégia que adotei para homenagear os sujeitos da pesquisa preservando suas identidades e atribuindo-lhes representações de cada nome de flor a partir da percepção de suas características próprias. As flores possuem a capacidade de surgir nas condições mais adversas e, em muitas vezes, sua beleza, seu colorido e sua função na natureza são pouco observadas e pouco exploradas em seu potencial. A definição das características que cada nome de flor adotada como pseudônimo representado pode ser consultada em http://www.mundodeflores.com/rosas-lista-nomes-flores-j-z.html
125
BROMÉLIA (firm e z a , p er s e v e r a n ç a e re si st ê n c i a)
Co o p e r a ti v a d e c at a d o r e s d e m a t e r i a l re ci cl á v e l - a m b u l a n t e s
Fin a n c i a m e n t o d e u m c a m i n h ã o us a d o par a retira d a d o s m a t e ri ai s n o s po nt o s d e re ci cl a g e m
A c o o p e r a ti v a te m 6 0 a s s o c i a d o s , nu m e r o q u e v ari a m uit o dur a n t e o s p erí o d o s d o a n o o u q u a n d o c o n s e g u e m al gu m tipo d e e m p r e g o , el e s atu a m n a s m a i s div er s a s for m a s d e re c o l hi m e n t o d e m a t e ri al re ci cl á v e l . Sã o p e s s o a s qu e re c o l h e m o s m a t e r i a i s n o s c o n d o m í n i o s e p o nt o s a ut o riz a d o s par a d e p o s i ç ã o , a n d a m p el a s rua s "pux a n d o " o s c a rrin h o s pr ef e r e n c i a l m e n t e a nt e s d o h or á ri o d e pic o d o trân sit o (ant e s d a s et e d a m a n h ã e d e p o i s d a s 1 9 h s). T er m i n a n d o o pa g a m e n t o d o c a m i n h ã o pr et e n d e m inv e s tir nu m a pick- up par a re c o l h e r o s m a t e r i a i s n a re gi ã o c e n tr al da cid a d e , p oi s n e s t a re gi ã o n ã o é p er m iti d a circ ul a r c a m i n h õ e s gr a n d e s .
MARGARIDA (ino c ê n c i a e firm e z a )
Co m é r c i o / loja d e roup a s / br e c h ó
Fin a n c i o u ex p o s it o r e s e "ar ar a s " n o pri m e i r o c o n tr a t o e n o s e g u n d o c o n tr a t o u m a m á q u i n a re gi str a d o r a
Co m e ç o u v e n d e n d o d e port a e m p ort a , ref or m o u s al a d a c a s a e a b riu u m a loja c o m re gi str o n a Pref eitur a .
FLOR DE CACTO (Per s e v e r a n ç a)
Cha v e i r o
No pri m e i r o c o n tr at o fina n ci o u n o v a m á q u i n a par a faz er c ó pi a s d e c h a v e s , e n o s e g u n d o c o n tr a t o c a pit al d e gir o par a pa g a r o c o n d o m í n i o d o e s p a ç o alu g a d o n o s h o p p i n g
Tra b a l h a c o m a m ul h e r q u e fica n a loja n o s h o p pi n g e n q u a n t o el e at e n d e a o s c h a m a d o s a d o m i c ili o
Tabela 24: Depoimentos coletados nas entrevistas.
GIRASSOL (Dignid a d e e c o nfi a n ç a )
Costur eir o
Fin a n c i o u m á q u i n a s d e c o s t ur a n o pri m e i r o c o n tr a t o , n o s e g u n d o c o n tr a t o fina n c i o u m a t e r i a l par a ex p o s i ç ã o da s rou p a s e m s h o p pi n g
T e m re gi str o n a Pref eitur a c o m o a ut ô n o m o / faz cur s o d e e nf e r m a g e m , m a s n ã o pr et e n d e par a r c o m o ra m o da c o s t ur a .
ALFAZEMA (cal m a )
Mecâ ni c o - aut o s
No pri m e i r o c o n tr at o a d q uiriu u m el e v a d o r par a c arr o s e q ui p a m e n t o su a oficin a , n o s e g u n d o c o n tr a t o c o m p r o u ferr a m e n t a s e c o m p r e s s o r d e ar.
Fez cur s o d e m e c â n i c o n o SENAI p or é m n ã o c o n s e g u i u s e fixar n o s e m p r e g o s p el a pr ó pri a d efini ç ã o d e "indi s c i plin a d o " n o s h or á ri o s q u e o s patr õ e s c ol o c a v a m par a cu m p rir. Per c e b e u qu e tra b a l h a n d o p or c o n t a at e n d i a m e l h o r o s cli e nt e s e ntr e g a n d o n o pr az o s e m a pr e s s ã o d o patr ã o . T e m u m a oficin a e m lo c a l fixo e u m s er vi ç o d e guin c h o par a at e n d e r a s e m e r g ê n c i a s . Apó s quit ar o s e g u n d o
126
e m p r é s t i m o pr et e n d e s oli cit ar n o v o c o n tr at o par a retific ar o m o t o r d o c a m i n h ã o guin c h o .
ORQUIDEA (Pur ez a)
Repr e s e n t a n t e c o m e r c i a l Pe s s o a Jurídic a
c o n tr a t o u o pri m e ir o e m p r é s t i m o par a c o m p r a r n o v a s m á q u i n a s d e e m b a l a g e m , n o s e g u n d o c o m p r o u u m c o m p u t a d o r e n o ter c e i r o - já c o m o PJ c o n s e g u i u c a pit al d e gir o par a c o m p r a r pr o d ut o s .
Tra b a l h a c o m c o m e r c i o d e d o c e s c o m p r a n d o p or at a c a d o e fra ci o n a n d o par a v e n d a n o v ar ej o . Atuou h á 1 0 a n o s n a infor m a li d a d e e n o a n o d e 2 0 0 8 c o n s e g u i u re gi str a r a e m p r e s a c o m o p e s s o a jurídi c a , repr e s e n t a n t e c o m e r c i a l
ACÁCIA (Eleg â n c i a)
Ca b el e ir e ir a - Salã o d e Belez a
Fez d oi s c o n tr at o s , n o pri m e ir o c o m p r o u s e c a d o r e s d e c a b e l o e pia par a lav a r , n o s e g u n d o c o m p r o u c a d e i r a s d e c a b e l e i r e ir a e pr o d ut o s par a o s al ã o .
Tra b a l h a v a nu m a torr ef a ç ã o d e c af é e m frent e d e su a c a s a e p er c e b e u q u e o s c ol e g a s n ã o tinh a m te m p o par a s e cui d a r, c o m o c o rt ar c a b e l o s e "faz e r" a s un h a s - exi g ê n c i a s d o tra b a l h o . Moran d o e m frent e d o tra b a l h o at e n di a e m su a c a s a o s c ol e g a s , d eix o u o e m p r e g o e m o n t o u o s al ã o nu m qu a rt o da c a s a . Atual m e n t e u m a d a s filha s a ajud a e pr et e n d e s e g u ir n a pr ofis s ã o .
CAMÉLIA (Rec o n h e c i m ent o)
Loja d e Roup a Infantil
Te m re gi s tr o n a Pref eitur a c o m o v e n d e d o r a a m b u l a n t e , s oli cit o u o pri m e i r o c o n tr a t o par a c o m p r a r ar m á ri o s e m a t e r i a l par a e m b a l a r a s roup a s - s a c o l a s e s t a m p a d a s c o m su a m a r c a .
Está n o a g u a r d o da a pr o v a ç ã o d e o utr o c o n tr at o , poi s pr ef er e s e r c h a m a d a d e "s a c o l e i r a " , ativid a d e qu e faz h á 1 5 a n o s , c o m p r a n d o rou p a s n a 2 5 d e Março e m SP e v e n d e n d o n o int eri o r. Já m o r o u e m Sã o Paul o , m a s pr ef er e o int eri o r p or ter m a i s te m p o par a s e d e s l o c a r e s e d e di c a r à s cli e nt e s . Aten d e n a lojin h a e n a s e m p r e s a q u e p er m it e m ex p o r pr o d ut o s n o s h o r á ri o s d e al m o ç o e s a í d a d e fun ci o n á ri o s .
Tabela 24: Depoimentos coletados nas entrevistas.
127
AMARILIS (Orgulh o)
Loja d e rou p a s – br e c h ó
c o n tr a t o u o pri m e ir o e m p r é s t i m o par a ref or m a r a loja.
T e m re gi str o n a Pref eitur a c o m o v e n d e d o r a a m b u l a n t e e at e n d e c o m a loja n a s al a d e su a c a s a
PETÚNIA (v e n c e r o b s t á c u l o s )
Carr o d e Cald o d e c a n a
c o n tr a t o u o pri m e ir o e m p r é s t i m o par a c o m p r a o c a rrin h o d e c al d o d e c a n a , m o r a e m frent e u m a e s c o l a e u m a fa bri c a , fat o qu e fa cilitou o c o n v e n c i m e n t o d o s a g e n t e s d e cr é dit o par a aut o riz a r o e m p r é s t i m o .
Na é p o c a p e di u par a u m a filha, q u e tinh a "r e gi str o e m c a rt eir a " poi s "ain d a tinh a e m p r e g o n a fa bri c a " m o n t a d o r a d e a p a r e l h o s d e c el ul ar par a s er su a a v a li st a . Pref er e s er c h a m a d a d e Don a Yola n d a , poi s é a s s i m q u e a c o n h e c e m p el o b airr o .
LÍRIO (Sort e) Carrin h o d e lan c h e s
Con s e g u i u d oi s cr é dit o s , o pri m e i r o foi par a c o m p r a r o c a rrin h o e o s e g u n d o c o m p r o u a e s trutur a d o c a rrin h o d e lan c h e s q u e m o n t o u s o b r e u m a pick- up
Co m o o c arrin h o d e lan c h e s qu e fic a v a e s t a c i o n a d o n a e s q u i n a d e su a c a s a , pr ó xi m o d e al g u m a s p e q u e n a s e m p r e s a s qu e for a m s e inst al a n d o n a z o n a indu stri al, c o n s e g u i u c o m p r a r u m a pic k-up us a d a e re c o n t r a t a n d o u m n o v o re c ur s o m o n t o u a e s trutur a d e u m n o v o c arrin h o s o b r e e s t a pick- up, Atual m e n t e a c o m p a n h a o s e v e n t o s n a cid a d e e te m lic e n ç a d e a m b u l a n t e par a e s t a c i o n a r pr ó xi m o a e s s e s o s e v e n t o s e v e n d e r s e u s lan c h e s .
VIOLETA (Leald a d e )
Pe s s o a Jurídic a - Co m é r c i o d e Roup a s
Contr at o u d oi s e m p r é s t i m o s . O pri m e i r o e m p r e s t o u par a c o m p r a r b al c õ e s ex p o s it o r e s e o s e g u n d o par a c a pit al d e gir o d e c o m p r a .
Mes m o ten d o u m a loja a b e r t a n a frent e da c a s a da irm ã qu e m o r a nu m a rua m o v i m e n t a d a d o b airr o , n ã o tinh a lic e n ç a da Pref eitur a . No pri m e i r o c o n tr at o ain d a er a infor m a l e e m p r e s t o u par a c o m p r a r b al c õ e s ex p o s it o r e s e o s e g u n d o já tinh a aut o riz a ç ã o "à titulo pr e c á r i o " par a fun ci o n a r c o m o loja e e m p r e s t o u par a utilizar c o m o c a pit al d e gir o d e c o m p r a .
128
As interpretações das entrevistas associadas aos indicadores do município de Sorocaba
O município de Sorocaba com seus 356 anos de fundação sugere, em sua
formação, uma comunidade com histórias que caminham em alguns momentos
inseridas e também em paralelo aos acontecimentos e momentos históricos dos
setores, econômico e social brasileiro. Pretende-se, nesta fase, efetivar a análise
dos depoimentos coletados conceituando a realidade vivenciada pelos depoentes e
a constatação da formação econômica local que acontece em consonância com a
“necessidade de ter para viver” 80, uma renda minimamente necessária para a
sobrevivência. Observar que as aspirações pelo consumo perpassam a condição da
apropriação da renda, a situação de pertencimento pela condição natural e
necessidade humana de “querer fazer parte” de um grupo social e a necessidade de
expurgar os estereótipos excludentes do seu convívio cotidiano que “empurram as
pessoas para uma vala comum como se todos fossem iguais”.
Apropriando-me da interpretação de alguns depoimentos percebe-se que o “crédito
para pobres” no mundo e no Brasil define comportamento de famílias, em suas
diversas modalidades, que se envolvem e se associam pela necessidade de
conquistar uma condição de crédito. Os mutirões de crédito e renda passam a fazer
parte da vida das pessoas denunciando uma realidade que em muitos momentos
fora camuflada pelo sistema.
“Na mais estreita vinculação entre a pobreza e a exclusão social, observa-se, no âmbito internacional, um acentuado agravamento em termos de iniqüidade e polarização social. As cifras do PNUD indicam que, nos últimos trinta anos, o volume de renda de 20% das pessoas mais pobres do mundo caiu de 2 para 1,45 da renda mundial, enquanto a fração dos 20% mais ricos passou de 70 para 85% da riqueza mundial. As distâncias sociais se duplicaram de 1960 a 1990. Nos dois extremos da acentuada polarização mundial de renda, 358 multimilionários detêm, atualmente, um patrimônio superior à renda acumulada de 45% da população mais pobre do mundo, 2,3 bilhões de pessoas. As desigualdades de renda e posse de ativos produzem, por sua vez, desigualdades agudas no acesso ao crédito, e têm múltiplas repercussões em campos cruciais, como o acesso e a permanência nos sistemas educativos, a qualidade da educação que os pobres recebem e suas possibilidades de rendimento educacional”. (KLIKSBERG, 1998; p.16)
80 Fragmentos de frases expressas espontaneamente pelos depoentes nos momentos de descontração durante as entrevistas. Devidamente gravadas e autorizadas para utilização nesta dissertação.
129
O sistema amalgamador da concessão do crédito popular está intrinsecamente
ligado à consistência das relações em família e da participação comunitária das
pessoas. As relações de identidade se confirmam na busca das necessidades
materiais de sobrevivência estabelecendo a condição de segurança aspirada, frente
a tensão que se estabelece na pobreza pela ausência de recursos.
Essa tensão passa a redefinir os novos papéis sociais e os modelos de referência
em sociedade são questionados com a visibilidade que é dada para a situação da
insegurança gerada pelos processos de exclusão social.
“As fortes tensões sociais acumuladas em todas as áreas referidas, ..( América Latina e Caribe)... além de outras que a elas se podem acrescentar, constituem um espaço favorável para processos de enfraquecimento do tecido social, como a desintegração da família e o aumento da criminalidade. A família, instituição central de grande parte das sociedades, fornecedora de normas morais, educação básica, saúde preventiva, afeições básicas, modelos de referência, está seriamente deteriorada pelos problemas sociais e tende a criar o abandono de sua figura masculina. (Kliksberg 1998, p 15).
O interesse em deter o poder sobre os pobres. Os interesses dos grupos pelo poder sobre os pobres.
A convergência de interesses dos grupos, tanto dos diretamente beneficiados como
dos que provém condições para a execução dos programas, definem um modelo de
reduzida preocupação com a realidade que se desenha.
Enquanto as experiências iniciais do microcrédito surgem num país pobre, de baixa
renda per capita, alcançando projeção pela conquista do economista Muhammad
Yunus em emprestar pequenos valores e sustentar o funcionamento de um sistema
financeiro local, conquistando o espaço de reconhecimento mundial por
organizações internacionais (ONU), os programas de transferência de renda têm seu
marco histórico na preocupação que os países ricos da Europa têm em equacionar,
ou ao menos reduzir, as fronteiras entre os muito ricos e os paupérrimos.
O pauperismo e a pobreza passam a rechear as publicações que demandam
estudos contribuindo com dados quantitativos para mensurar (algo nada novo em
discussão) os males que a sociedade capitalista padece na sua organização social.
130
O Brasil, assim como muitos outros países "pobres" e "em desenvolvimento" xlviii
optaram por soluções como a transferência direta da renda. Essa ação de
transferência passa a atuar nas camadas mais pobres da sociedade por
orquestração dos grupos mais ricos, pois como detentores do poder e ao se
sentirem atingidos se protegem e buscam compensar as relações de desigualdade
com operações dirigidas por governos, que os representam, atribuindo à ascensão
capitalista a responsabilidade para atender a “determinados grupos”.
Nesse cenário, o microcrédito surge pelo principio da existência da capacidade
produtiva das pessoas, que nas suas origens encontra indivíduos produtivos na
pobreza subalternizada. Essas pessoas são identificadas na condição de pobre,
porém em condições de produzir naqueles diversos segmentos negligenciados pela
"economia maior". Essa mesma economia que se preocupa com a escala produtiva
e financista em proporções muito distantes da realidade e de discernimento da
maioria dessas pessoas.
A questão que se verifica é a seguinte, o microcrédito e a transferência de renda são
ações das sociedades que buscam inserir pessoas, que, no seu processo formativo
social não conquistaram a oportunidade de realização em sociedade, reproduzindo-
se nos ambientes cada vez mais distanciados dos recursos produzidos e
concorrendo com as ‘necessidades humanas’ 81. Esse ser, condiciona-se à atuação
subalterna de “necessitados de atenção e atendimento”, inseridos num contexto de
crescente número de pessoas com possibilidades de se transformar num enorme
problema para os grupos mandatários do poder na sociedade capitalista.
Este receio é propriamente traduzido pela emergência e aspiração por algum espaço
de ação na sociedade que revela “ao homem comum, na vida cotidiana, que é na
81 Atribuiu-se a definição apresentada pela Profa. Potyara A. Pereira para necessidades humanas, p26 In: Necessidade Humanas, Potyara A Pereira,
131
prática que se instalam as condições de transformação do impossível em possível”.
(MARTINS, 2000, p.63)
“Heller 82 disse que só quem tem necessidades radicais pode querer e fazer a transformação da vida. Essas necessidades ganham sentido na falta de sentido da vida cotidiana. Só pode desejar o impossível aquele para quem a vida cotidiana se tornou insuportável, justamente porque essa vida já não pode ser manipulada.” :; (MARTINS, 2000, p63)
A criação de condições para as possibilidades de existência na sociedade capitalista
demanda de investimento direto principalmente do principal atingido pelo sistema. O
individuo, que em muitos casos não dispõe de quesitos e capacitações exigidos pela
estrutura funcional do capitalismo. A ausência de capacitação fica expressada na
crescente e emergente massa de pessoas necessitadas de apoio estruturante
necessariamente representada pela função do Estado. A disposição para este
enfrentamento à realidade do sistema invoca nas pessoas a reprodução de
representações que possam conduzi-las. Essas representações são derivadas das
formas culturais, da formação econômica e da composição social que identifica às
questões de poder estabelecidas a sociedade. A relação de interesses se
estabelece pelo comprometimento da segurança de alguns grupos e convergem
para a regularidade dessas relações, mesmo em situações em que os pontos de
atrito sejam mais acirrados.
O ponto convergente de interesse entre os grupos sociais se resume em dois
segmentos, que nas palavras de Milton Santos, são: "aqueles que têm e os que
tentam proteger o que têm" 8383, configurando-se na escassa compreensão política
de uma participação coletiva. Esta participação, que para o grupo que “nada têm”, é
sufocada pelos artifícios do sistema capitalista que se constituiu e constroem
barreiras conduzindo as pessoas num processo de dominação e submissão aos
poucos comandantes do capital.
O significado dessa existência, para o individuo, passa pela relação entre ele e a
sociedade e de pertencer a um determinado grupo. Essa existência torna-o
mercantilizado, desprovido de poder e com algum prestígio localizado no grupo no
qual se relaciona enquanto perdurar as condições que o mantém para pertencer a
ele.
82 Agnes Heller, La Théorie dês Besoins chez Marx , Paris, 1978, In:; MARTINS, 2000, p6383 83 Milton de Almeida Santos, Entrevista “Por uma outra globalização - do pensamento único à consciência universal” Programa Roda Viva, março 1998, TV Cultura, in: Vídeo, 2007
132
“No mundo da mercadoria não há singularidades. Não só os objetos são tecnicamente reproduzidos aos milhares como também se tornam equivalentes a outras mercadorias, pelas quais podem ser trocados. No mundo da mercadoria, coisas heterogêneas perdem a singularidade e a raridade, tornam-se homogêneas porque trocáveis umas pelas outras e todas elas são trocáveis. (CHAUI, 2001, p. 8)
A idéia do pertencimento
A existência do tipo de idéia define uma questão incômoda e perturbante. O fato de
estar fora do modelo instituído de mercado de consumo, principalmente do trabalho,
faz com que as pessoas procurem formas de sobrevivência - muitos na
informalidade - resultando em condições de vida em que a sobrevivência se realiza a
partir de valores inconcebíveis por muitos desses modelos e padrões estabelecidos
para uma garantia mínima das necessidades humanas.
A movimentação desta "pequena economia”, xlix é pouco explorada pelo sistema
financeiro instalado. Esse “circuito inferior” da economia garante a sobrevivência de
grande parte das populações de países considerados pobres e em desenvolvimento.
Nesse sentido, a sobrevivência, define padrões de mensuração da pobreza pela
renda individual (per capita) conduzindo às questões sociais uma discussão de
como travar o duelo com o sistema. Essas questões alcançam a condição de serem
tratadas no coletivo pela abordagem social, porém no cotidiano se expressam no
individual.
O sistema define a participação das pessoas na economia, particularizando-as,
como individuo que é concebido, uno, no tratamento dos dados coletados pelas
classificações por renda, por localização, por pontos delimitadores de acesso e
participação na sociedade.
Milton Santos afirma que:
“O território é a arena da oposição entre o - mercado - que singulariza - com as técnicas da produção, a organização da produção, a "geografia da produção" e a sociedade civil - que generaliza - e desse modo envolve, sem distinção, todas as pessoas. Com a presente democracia de Mercado, o território e suporte de redes que transportam as verticalidades, isto é, regras e normas egoísticas e utilitárias (do ponto de vista dos atores hegemônicos), enquanto as horizontalidades levam em conta a totalidade dos atores e das ações”. (SANTOS, 2006, p.175)
133
Os governos agem em comum acordo com o sistema econômico – o mercado - pela
própria relação de sobrevivência dos sistemas, econômico e político, como gestores
de uma nação. Neste ponto ousei centrar minha discussão. O sistema financeiro,
como braço articulador de funcionamento entre os membros do sistema econômico
pouco ou nada, se preocupa com as maiores camadas da população, que estão
localizadas nos mais baixos pontos da sociedade.
Os governos tentam apresentar soluções para conter o “avanço dessa pobreza” que
se aproxima no sistema. O poder constituído nos governos representa os modelos
da sociedade que produz pessoas para dirigirem esses mesmos governos e
atendem aos interesses da economia maior, a mesma que dirige os sistemas
financeiros, que comanda as nações, que destina recursos para os interesses
maiores da economia maior na busca da apropriação do lucro.
Nesse embrulho, estão as “pessoas” que são as formadoras do contexto social de
uma nação. Essa formação demanda investimentos sociais que são apropriados a
partir da qualidade com que são oferecidos (educação, saúde, cidadania, etc.), e
apresenta o retorno proporcional ao investimento. De outra maneira, a formação de
um grupo na sociedade está voltada para atender aos cargos de comando dessa
mesma sociedade. Por serem elementos constituintes da sociedade, que pouco se
interessa pelas discussões maiores da nação, alguns se interessarão em discutir a
grandeza dos pobres, comandados pelo modelo instituído pelo setor econômico.
No ambiente brasileiro temos a discussão sobre os programas de transferência de
renda para as famílias com pessoas com renda per capita abaixo de dois dólares.
Novamente a classificação pela renda é apresentada nos relatórios e são atestados
como rendas "familiares" filtrando para uma ou no máximo duas pessoas a
responsabilidade da sobrevivência de uma família. Comparativamente, os valores
declarados (e auferidos pelas secretarias estaduais e municipais como gestoras
locais) são muito inferiores à capacidade de manutenção de vida de uma família de
134
quatro, cinco ou oito pessoas diante dos padrões de necessidades humanas, se
considerarmos a capacidade salarial da maioria da população brasileira.
Considere-se aqui que estamos falando de dois extremos da capacidade de renda,
um grupo em sua maioria informal, ou seja, sem as proteções sociais da seguridade
plena, auferindo valores dispersos sem condições de agregação final ao processo
de suas vidas e, de outro grupo com as garantias das proteções da sociedade
oferecidas pelo Estado e pelo sistema do qual são contribuintes. Emprestando os
ensinamentos do Professor Milton Santos, para melhor explicar, temos que:
“as classes médias são confortáveis de um modo geral. O conforto cria dificuldades na visão do futuro. O conforto quer estender o presente que está simpático. O conforto, como a memória, é inimigo da descoberta. No caso do Brasil isso é mais grave, porque esse conforto veio com a difusão do consumo. O consumo é ele próprio um emoliente, Ele amolece. Os pobres, sobretudo os pobres urbanos, não têm o emprego, mas têm o trabalho, que é o resultado de uma descoberta cotidiana. Esse trabalho raramente é bem pago, enquanto o mundo dos objetos se amplia”. 84
O governo brasileiro empenha-se no duelo travado entre a manutenção dos poderes
constituídos - que se representam no sistema - e a constituição de novos padrões de
tratamento dos pobres pelos segmentos da sociedade que insistem em ocultar a sua
existência. 85 .
As ferramentas utilizadas para a diminuição da desigualdade de renda no país têm
se apresentado eficaz ao se considerar como elemento balizador o quantitativo, ou
seja, o excessivo número de elementos condicionados à pobreza facilita qualquer
tipo de ação pelo resgate, mínimo que o faça, da condição em que vivem.
Emprestamos como exemplo o programa Bolsa Família que tem em sua estrutura de
funcionamento institucional a capacidade de mensurar o tamanho da pobreza, o tipo,
as formas de expressão, as representações, os entraves de comunicação entre os
poderes, e, a possibilidade de identificar as resistências pertinentes por detrás do
tratamento do tema.
84 Entrevista com Milton Santos / Revista Estratégias do Trabalho Escolar - Ano I - nª 00 - Outubro – 1998 disponível em
http://www.ufsc.br, acessado em jan/2009
85 A titulo de ilustração, estamos falando do sistema financeiro (nacional e internacional), do sistema judiciário e do sistema eleitoral que a partir de seus levantamentos, restrições e acessos dificultados, condicionam muitos “cidadãos” à obscuridade da existência.
135
A legitimação jurídica dos programas é um ponto que conduz a questionamentos
sobre a manutenção do duelo entre poderes. Essa legitimação encontraria ambiente
de discussão no poder judiciário brasileiro envolvendo desde a discussão do sistema
eleitoral até o tratamento jurídico das questões da pobreza - que é
constitucionalmente considerado igualitário para todos os cidadãos - segundo as
interpretações que são dadas às leis, sem considerar a necessária apropriação da
condição de cidadania pelas pessoas.
Existe muito a discutir sobre os programas de transferência de renda, porém
partindo de uma comparação grotesca, mas não de pouca importância, percebemos
que os programas de transferência de renda surgem num contexto de busca de
soluções para a desigualdade de renda entre as pessoas de uma região, uma
localidade, uma nação. Para o sistema econômico as economias são globalizadas, o
sistema financeiro é global, porém a renda é local. Equacionar esta relação envolve
soluções de interpretação, entendimento e principalmente condições para
funcionamento da sociedade local, que são controladas pela esfera superior da
economia.
As expressões da pobreza se manifestam de diferentes formas nas diversas regiões
e nas diversas localidades. O poder de gerenciar os recursos dos programas foi
concentrado na esfera federal, destituindo - em muito - dos poderes locais, a
movimentação dos recursos, sugerindo “menor influência de manobras político-
partidárias”.
Analisando as condições de expressão da pobreza e da possibilidade de
emancipação das pessoas, conquistando a condição de pertencerem a determinado
grupo na sociedade, há necessidade de dar prosseguimento às conquistas sobre
questão da redistribuição da renda.
Neste contexto, o conceito de microcrédito surge, instituindo-se no sistema, e
encontra as condições para realizar as interfaces entre a realidade e a situação de
concentração de poderes no modelo capitalista Conceitualmente se estabelece a
relação de compromisso entre o interessado, o valor emprestado e o resgate pelo
136
pagamento. Superam-se, nesta fase as condicionalidades apresentadas pelos
programas de transferência de renda para uma formação social do indivíduo
sugerindo a condição de existência de uma relação comercial que defina as
responsabilidades das partes, atendendo, dessa forma, os interesses da economia
maior.
O tratamento dado para as “responsabilidades das partes” se torna unilateral pela
fragilidade da parte menor, desprovida de discernimento das questões estruturais do
sistema, como os termos contratuais que se estabelecem nas relações dos
empréstimos financeiros.
A questão do desemprego e a relação com o trabalho. O que acontece com as pessoas que perdem o emprego?
No atual sistema, as pessoas buscam o emprego da mão de obra para suprir suas
necessidades de sobrevivência. Para aqueles, que não tiveram o acesso ao
emprego, restam-lhes a benevolência de algumas pessoas, entidades, grupos
religiosos ou a existência de alguns programas sociais que abarquem as pessoas
que estão fora desse contexto da sociedade que, por uma questão estrutural, ficam
fora dos projetos, dos atendimentos, mas que existem e sempre existiram como
pessoas, mesmo que não constituídas da cidadania plena.
Estruturalmente a existência de muitas pessoas pobres passou a ser contabilizada
pela denúncia da fome. Uma situação que persistia em mostrar para a sociedade
sua face e a sociedade insistia em relegá-los ao assistencialismo. A condição
dessas pessoas depara com a ampliação e o acesso às informações pela difusão da
informática e, o atendimento destas pessoas passou a ter um modelo de tratamento
global.
Assim, temos uma camada, grande e crescente, que a partir da informatização de
muitas áreas, passou a contar com informações, antes restritas para uma grande
massa anteriormente invisível para a sociedade. Essa situação é a preocupação
principal do sistema, em que todos são integrantes de um sistema com a eminência
137
e a visibilidade de uma grande massa de pobres se formando no mundo. Uma
grande massa que necessita ser enxergada, ouvida, atendida e inserida no
processo.
Mas a partir de quando passamos a quantificar os pobres no mundo? Melhor
dizendo, a partir de quando conhecemos os números de quanto há de pobreza no
mundo? Sabendo quantos são, é que os olhares perceberam que seriam
potencialmente interessantes ao mundo do consumo, desde que preparados para
agir neste mundo?
As interpretações que identificam e definem a família produtiva com situações de
convivência coletiva no modelo de consumo, permite-nos a oportunidade de
observar que o foco está na maneira, no modo como as pessoas se realizam no
mercado do consumo, porém com as ações, que são coletivizadas, contrapõe-se ao
conceito de individuo construído pela sociedade para atender ao interesse do
sistema.
Ascender e acender na economia no andar de baixo, os desafios para os pobres. O crédito popular como política social.
Eu sou pobre, pobre, pobre... de marré ... marré .... marre.
Ao tratar da questão do crédito popular percebemos que as condições de atenção,
atendimento e concessão não recebem tratamento comum. Seria rumar no sentido
contrário, propor um atendimento igualitário para todo o sistema de concessão de
crédito, considerado popular.
O paradoxo é que, para que o crédito popular, representado pelo microcrédito, se
transforme em solução universal de política pública, supõe-se que todos
trabalhadores estejam desempregados, “o que seria um tiro pela culatra”, pois o
volume da “massa de trabalhadores (PEA86) que estaria disponível e pretendente à
86 PEA – População Economicamente Ativa, indicador apurado pelo IBGE (compreende o potencial de mão-de-obra com que pode contar o setor produtivo, isto é, a população ocupada e a população desocupada.)
138
concessão de crédito, tornaria inviável qualquer política de ação pública” de
fornecimento de crédito popularl 87
Com menos trabalhadores formais o reflexo seria, menos arrecadação de recursos
para a proteção social (FGTS, Seguro desemprego, PIS/Pasep, FAT) e num curto
prazo de tempo se tornaria num circulo vicioso comprometendo o sistema de
arrecadação do estado e de nenhum interesse para qualquer governo.
A renda média do brasileiro é muito baixa em todo o conjunto das populações
pobres, denunciando a desigualdade de renda, de forma que o mercado para as
microfinanças estaria comprometido pela própria existência da pobreza.
Pelos dados expostos pela coleta realizada para o PNAD (2008) li percebemos como
é distribuição de renda no Brasil. No balanço geral, a pesquisa revelou aumento de
brasileiros no mercado de trabalho, Em 2008, a parcela 10% mais rica da população
brasileira concentrava 42,7% dos rendimentos do trabalho - contra 43,3% em 2007,
enquanto os 10% mais pobres ficaram com 1,2% restante - contra 1,1% em 2007.
Isso indica que a parcela mais pobre da população passa a se apropriar mais da
renda, reduzindo a distância que os separa dos brasileiros mais ricos, mas a
desigualdade social continua.
Os desníveis entre as regiões do país denunciam uma realidade já conhecida. A
região Centro-Oeste teve a maior renda média do trabalho, de R$ 1.261,
influenciada pelo Distrito Federal e seus altos salários no serviço público na capital,
ao passo que o Nordeste teve a menor, com R$ 685. São as regiões com maior
desigualdade na distribuição de renda.
José Num88 propôs uma tese interessante, “a massa marginal”, baseada numa
discussão que começou entre ele e o sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Num
assumiu a tese de que o crescente excesso de população é disfuncional em relação
87 Francisco de Oliveira, entrevista CEBRAP, O Vicio da Virtude, 2004.88 José Num, artigo “Superpopulação Relativa, Exército Industrial de Reserva e Massa Marginal, p73, in: PEREIRA, Luis , 1978.
139
à acumulação do capital. Ele dizia: “o capital não precisa mais dessas massas,
portanto é uma massa marginal”. FHC retrucou e respondeu com Marx: disse que
Num não havia aprendido direito o que era exército industrial de reserva. “Temos
uma espécie de superacumulação, mas isso não significa desocupação”.
Segundo a pesquisa Dieese (Pesquisa de Emprego e Desemprego) a maioria dos
desempregados não está desocupada. A ocupação é uma “espécie de trabalho
virtual potencializado” pela revolução industrial. Ela se dá numa estranha relação:
“há a superacumulação de capital no sentido de uma massa informal - sem relações
trabalhistas - mas que está ocupada, não está inteiramente desocupada”.
Os desempregados são a fração que as pesquisas mostrarão como pessoas que
não tem emprego formal. “Buscando no cotidiano o que eles fazem podemos ver
que a maior parte dos desempregados está ocupada, vendendo bagulhos na rua,
fazendo qualquer coisa. É a informalidade. E isso sim serve aos processos de
acumulação de capital.”89
A interpretação sobre a questão dos programas de transferência de renda é o
conceito de “tirar de outro setor da sociedade e operar a redistribuição”. Já, “O
microcrédito não é transferência de renda”, pois “utiliza das forças do trabalhador”
que estando fora do processo de acumulação do capital atua na sobrevivência, sem
contribuir para a redistribuição, sem querer desconsiderar os esforços dessa grande
camada na formalidade ou informalidade, mas “nos conceitos de produção de capital
não há comprometimento futuro no processo do sistema”. (OLIVEIRA, 2006)
A operação de microcrédito é uma “provisão direta” e a custo zero proveniente dos
fundos públicos, pois o fato do emprestador solicitar valores a juros, mesmo que
baixo em relação aos praticados em média pelo mercado financeiro, não implica em
renda, e isso não supõe necessariamente que ele terá uma renda futura.
Para alimentar a cadeia produtiva é necessário estar inserido no processo que
demanda a relação de consumo de materiais e produtos.
89 OLIVEIRA, Francisco de, O vicio da Virtude, entrevista CEBRAP- Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, 2006 , http://www.scielo.br/pdf/nec/n74/29640.pdf
140
“O microcrédito representa um estado de exceção, no qual, se é incluído por exclusão. Partindo do principio de que todo crédito ou empréstimo é um adiantamento sobre a renda futura, então se a pessoa faz um empréstimo, supõem-se que terá renda futura para pagar.” (OLIVEIRA, 2006)
Os programas de transferência de renda executam a distribuição de algumas
rendas, pois ao se "retirar" renda de outros setores destinando-os aos programas,
pratica-se essa distribuição. A efetiva distribuição tem que ser direta e a custo zero
inserido num modelo econômico. Através de crédito produtivo a economia no andar
de baixo encontra a possibilidade de pertencimento, de pertencer, acender ou
ascender politicamente.
Pertencer a algum grupo de consumo pode criar uma identidade nas populações,
nas cadeias de consumo instaladas. Porém, o sistema permite a grupos na
sociedade ascender a espaços rompendo com a subalternidade presente na
atualidade? Essa subalternidade, gestada de forma paulatina e condicional nos
grupos vulneráveis da sociedade, sugere ações para a criação de perspectivas, que
podem se confirmar num primeiro momento pelos programas de transferência de
renda e consecutivamente pela inserção no crédito produtivo.
Acender um consumidor seria o mesmo que lhe proporcionar condições de vida nas
mínimas condições. O desafio é como acender uma comunidade para a participação
comunitária com a criação de uma identificação cultural que possibilite a ascensão
social, preservando suas características locais. Essas características localizadas,
peculiares são o fator que potencializa estas comunidades através do seu maior
patrimônio, sua cultura.
Seguindo a trajetória dos pensamentos do Professor Milton Santos, podemos
visualizar o questionamento sobre a participação dos ”homens lentos”. Homens que
se acendem para as luzes da cidade, do desenvolvimento, de forma a participar não
somente do processo de formação das riquezas da sociedade, mas também usufruir
destas riquezas. Dessa participação transcorre o processo de ascensão.
141
Em economias simples e condições normais, onde existissem muitos tomadores de
empréstimos sem que nenhum exercesse o controle sobre o mercado de crédito, o
microcrédito seria desnecessário, pois, como afirma GALBRAITH, (1983 p. 9):
“. . . a função do crédito numa sociedade simples, na verdade é notavelmente igualitária.
Permite ao homem com energia e sem dinheiro participar da economia mais ou menos
em pé de igualdade com o homem que possui capital próprio . . . .”
A subjetivação do capital. A identificação pelo consumo; Pertencendo a um mercado.
À medida que a necessidade é legitimada pelos modelos da sociedade,
reproduzidos pelos anúncios e propagandas, o produto que agrega “poder” às
pessoas é associado à condição de realização e conquista, enquanto que a
essência, o modo de vida e seus valores culturais que confirmam a construção
cotidiana da identidade, confrontam-se com o poder de redução pelo capital. A
alienação, própria do capital, sugere o fetichismo da mercadoria e o dinheiro. “Ao
assumir imagens (...) o fetiche das marcas cria o vazio que ilusoriamente é
preenchido pelos sentimentos de posse fictícia do melhor produto de melhor marca”.
Nessa linha de avaliação, Fontenelle assinala que, “o ponto, no qual a marca
publicitária pode ser interpretada como sintoma” . E é neste ponto que o consumo
pode ser interpretado como “sintoma de cultura vigente” e sintoma que “simboliza a
própria sobrevivência”.
Os símbolos de riqueza, de posição, de fama e de poder, assim como de classe,
sempre tiveram importância na sociedade. “Os materiais de produção e reprodução
dessas imagens”, quando não estão disponíveis, tornam-se, eles mesmos, “o foco
da inovação, do novo”, ou seja, “quanto melhor a reprodução da imagem, maior o
mercado de massas na construção da imagem pode se tornar”. (FONTENELLE,
2002, p.280 )
142
“Isso constitui por si só uma questão importante, levando-nos de modo mais explícito a considerar o papel do "simulacro" no pós-modernismo. Por "simulacro" designa-se um estado de réplica – modelo - tão próxima da perfeição que a diferença entre o original e a cópia é quase impossível de ser percebida.” (HARVEY, I. ,: In : CANCLINI, Néstor Garcia. A Globalização Imaginada, trad. Sergio Molina. São Paulo: Iluminuras, 2003 p 259)
A dinâmica de funcionamento de uma sociedade "do descarte" 90, começou a ficar
evidente durante os anos 1960. Ela significa mais do que jogar fora bens produzidos
(criando e identificando um grande problema sobre o que fazer com o lixo); significa
também ser capaz de descartar valores, estilo de vida, relacionamentos, coisas,
edifícios, lugares, pessoas e modos adquiridos de agir e ser. Por intermédio desses
mecanismos as pessoas foram forçadas a lidar com a descartabilidade, a novidade e
as perspectivas de “obsolescência instantânea”, fornecendo um contexto para a
"quebra do consenso" e para a diversificação de valores numa sociedade que segue
o caminho da fragmentação.
Na obra “Globalização, as conseqüências humanas”, BAUMAN discorre sobre onde
a ordem social passou a sofrer transformações e a cultura tornou-se estetizada, uma
sociedade que situa o individuo como valor central, centralizando neste individuo o
“sentimento de desamparo pela não posse e a sensação de incerteza diante da vida,
uma vez que o coletivismo de outrora fora deixado para trás”. (BAUMAN, 1999, P43)
Zizek (p144) nos aponta que os homens “são fetichistas na prática e não na teoria”,
pois eles sabem que “existem relações entre pessoas por trás das relações entre
coisas”, mas a questão é que eles agem como se o dinheiro fosse de fato a
“encarnação imediata da riqueza como tal”, mas não sabem que na realidade social
são guiados pela “ilusão fetichista”, na qual o valor é traduzido como algo real “que
se encarna sucessivamente numa série de objetos concretos”.
A questão da ilusão criada, sustentada por Zizek, nos afirma que “ela não está ao
lado do saber, mas na própria realidade daquilo que as pessoas fazem”. Mas elas
90 Essa terminologia foi adotada por escritores como Alvin Toffler ao se referir ao descarte, não somente de bens e produtos , mas dos valores da sociedade. In: CANCLINI, Néstor Garcia. A Globalização Imaginada, trad. Sergio Molina. São Paulo: Iluminuras, 2003.
143
desconhecem que a “própria realidade social é guiada por uma ilusão, por uma
“inversão fetichista”, que estrutura sua realidade, a sua atividade social.
“Eles sabem muito bem como as coisas realmente são, mas continuam a agir como se não soubessem. A ilusão, portanto, é dupla: consiste em passar por cima da ilusão que estrutura nossa relação real e efetiva com a realidade. E essa ilusão, desconsiderada e inconsciente, é o que se pode chamar de fantasia ideológica” (ZIZEK,p143)
Esta fantasia ideológica se materializa no mercado de consumo, confirmando e
conduzindo grandes grupos de indivíduos aos modelos que permitem uma
continuidade pela não definição clara de seu papel na sociedade, que nas condições
ideais objetivaria a cultura como forma de proteção à alienação do mercado, mas se
concretiza na satisfação pela posse, pela construção da fantasia.
Neste espaço de conquista é que o mercado se confirma vitorioso com a dominação
pela dependência material dos indivíduos. Essa dependência serve de base para a
realidade social na medida em que fica mascarada a estrutura das relações sociais
reais e efetivas, oferecendo aos indivíduos - constituídos na lógica do consumo - a
própria realidade social como uma fuga, escapar da “realidade que castra, oprime e
afasta do entendimento desta realidade”.
Criam-se os objetos da causa dos desejos, aqueles que se revelam eficaz na
quando da sua falta, provocando a necessidade pela falta, e não necessariamente
possíveis de ser alcançados. Marx observou com a teoria da “mais valia”, a
impossibilidade do capitalismo vencer a contradição entre a produção e as forças
produtivas, pois esta discordância já está contida no seu próprio conceito, na forma
de contradição entre o modo de produção social e o modo de apropriação pelo
individuo. “Neste sentido o capitalismo está condenado a uma permanente
reprodução ampliadalii, o que significa desenvolver constantemente suas próprias
condições de produção”.
“Aquilo que confunde e conduz os indivíduos à crença da satisfação e materialização
pelo consumo é a ”causa” que move o processo de produção no capitalismo” 91.
Apoiado neste conceito, o Estado se manifesta participante do processo de
91 http://www.marxismo-online.com.br/2009/11/capitalismo-e-mercado-reproducao.html
144
condução para a materialidade necessária como condição para a existência e
reprodução capitalista e numa posição dualista se confirma como o interventor dos
produtos desta relação social.
As pessoas pobres, individualizadas e desconectadas do processo, surgem como
ameaça ao funcionamento “racional” da reprodução do consumo. “O consumo como
existência da materialização da satisfação individual”. (ROCHA, 1998 p.56)
Foto: Agência Famiglia, 2002
A “sociedade pós-moderna” 92 se caracteriza como uma sociedade de consumo e
precisa engajar seus membros pelo caminho da condição de “consumidores”,
condicionados a escolher dentre as várias opções de oferta de produtos “domando o
individuo para o conceito de produzir para servir à condição de sociabilizado”.
(SANTOS, 2005, p147) liii
Nas palavras de Milton Santos,
“Prefiro dizer que o mercado nacional é o nome fantasia do mercado global. Esse mercado global trabalha com alguns pontos do território e exige que os estados nacionais aparelhem esses pontos. As empresas globais ali se instalam. É nesses
92 Seguindo a interpretação de Boaventura Sousa Santos, SANTOS, 2005.
145
pontos privilegiados que elas produzem nacionalmente uma produção global. Mas há também o território: todo o resto utilizado pelas outras empresas e pela maioria esmagadora dos homens que não vivem sem esse território. Podemos encarar de outra maneira a questão do território, do mercado e do Estado nacional. Esse mercado global travestido de mercado nacional não tem um reflexo, nem obrigatório nem imediato, sobre a maior parte da população. Ele se amplia com o desemprego, com a fome, sem que a maior parte da população seja beneficiária, enquanto o mercado territorial é o que tem a ver com a maioria da população e acaba sendo o sustentáculo do Estado. (Entrevista com Milton Santos Revista Estratégias do Trabalho Escolar - Ano I - nª 00 - Outubro - 1998 , disponível http://www.ufsc.br/)
Segundo Bauman, (p.52) é essa norma que a sociedade atual impõe para seus
membros, ou seja: “a capacidade e vontade de desempenhar esse papel. A
prioridade e a ênfase que existe no consumo fazem a diferença”.
Os Papéis. Do Estado, da Sociedade.
O Estado supre as “necessidades mínimas” (BRAVO, 2001) para o conceito de
consumo buscando atender as necessidades emergenciais, as prioridades de vida
das pessoas que indica um modo de pertencimento no modelo de consumo.
“Atribuir ao Estado o dever de garantir aos seus cidadãos o acesso às necessidades mínimas para a subsistência representa uma mudança fundamental na concepção do papel do Estado. Se no modelo liberal a regra era que se lutasse e sobrevivesse (ou não, no mercado), no Welfare State parte-se da idéia de que o mercado não consegue sobreviver se os trabalhadores não tiverem as mínimas condições de vida e que cabe ao Estado garanti-las.” 93
O Estado brasileiro, através do governo atual, procura engajar os indivíduos na
condição de consumidores de produtos de representação da inserção na sociedade.
“Produtos sociais”, como o microcrédito, o Bolsa família, BPC94, entre outros, são
programas necessários, porém paliativos, que são utilizados com roupagem
empresarial adotando um discurso da responsabilidade social que constrói, através
das perspectivas das pessoas, ideários de consumo.
93 HEIDRICH, Andréa Valente. Transformações no estado capitalista: refletindo e refratando transformações na questão social Revista Virtual Textos & Contextos, nº 5, nov. 2006 Textos & Contextos Revista Virtual Textos & Contextos. Nº 5, ano V, nov. 2006.94 BPC – Benefício de Prestação Continuada
146
As questões urgentes e emergentes são postergadas para consumação futura, uma
vez que a individualização já foi conquistada pelo mercado, cabe ao estado
brasileiro a criação de modelos de programas para conquistar esse consumo.
A trajetória da constituição do programa Bolsa família, criou as condições para o
mapeamento dos apartados da sociedade brasileira de forma a cadastrar,
catalogando e regionalizando os grupos com necessidades mais emergentes.
Este cadastramento geral, conduzindo para um “cadastro único”, realiza o controle
necessário, quantificando e direcionando os “recursos” de acordo com as
necessidades emergenciais apresentadas e atendendo as demandas políticas e do
mercado, como também, dos mandatários do poder de plantão.liv
Os programas destinados os pobres, em sintonia com os ganhos do capitalismo
inserem conceitos de “consumidores” para estas pessoas, modelo emprestado dos
grupos privilegiados no sistema. O conceito de consumidor, para os pobres, alcança
projeção que conflita com a realidade daqueles que nem sequer apropriou-se das
condições mínimas de sobrevivência material.
Fontenelle 95 nos alerta que o “próprio ato de consumir se apresenta sob a aparência
e um gesto cultural legitimador, na forma de bens simbólicos, as imagens e ou de
simulacros”. É o formato mercadoria no seu estágio mais avançado, como forma
publicitária. “O que se consome é um estilo de vida e nada escapa a essa
imaterialização que toma conta do social”. A cultura torna-se peça central na
máquina reprodutiva do capitalismo, a sua nova mola propulsora.
Considerando a questão da cultura como legitimador do consumo, o professor
Ladislau Dowbor em Reprodução Social96 , nos explica que “na época de Marx,
centrada na acumulação industrial, o enfoque todo era justamente na
transformação, e as atividades de intermediação eram vistas como
fundamentalmente especulativas, e em todo caso improdutivas, enquanto os
serviços sociais ainda davam os seus primeiros passos”.
95 FONTENELLE, I. – O nome da Marca - McDonalds, Fetichismo e Cultura descartável, 2002 p 27996 DOWBOR, 2001 P 53
147
O governo federal, utilizando-se do sistema protetivo que tem como finalidade
amparar e proteger o cidadão em situações de risco e vulnerabilidade social,
expressando um avanço civilizatório, cria, promove e fornece aquilo o que é
esperado para o cidadão brasileiro, ou seja, “amparo e proteção”. Para isso utiliza-
se de ferramentas de divulgação da realidade vivenciada pelas pessoas dando a
visibilidade necessária para conferir a legitimidade dos programas, atribuindo a
identidade do consumidor pobre.
Figura 2 : Modelos de propagandas institucionais veiculadas pelo Ministério do Desenvolvimento Social
Fonte: MDS www;mds.gov.br
148
Figura 3 : Modelos de propagandas institucionais veiculadas pelo Ministério do Desenvolvimento Social
Fonte: MDS www;mds.gov.br
Uma Lógica Social - Processo de participação do social no mercado
Uma vez os programas engajados na nova lógica social de participação da
população pobre devidamente cadastrada, localizada e centrada no conceito de
consumo, seu plano de marketing pode ser desenvolvido de acordo com o mercado
consumidor constituído e construído, e condicionado com o comportamento do
consumidor.
Neste contexto podemos observar a ampla publicidade governamental para os
programas sociais de transferência de renda. Em paralelo, as destinações para os
149
programas de microcrédito já haviam alcançado divulgação ampliada em épocas
anteriores, período em que muitos governos de diversos países, principalmente na
América Latina foram influenciados pela designação pela ONU de Ano Internacional
do Microcrédito para 2005.
Atualmente, e desde a implantação do programa unificador dos programas, o Bolsa
família, o governo tem destinado grande soma de recursos para a publicidade do
programa social, com a finalidade de confirmar os benefícios desse que reúne
muitos outros programas, com “intuito de atender e inserir o pobre à sociedade”97.
O governo federal trabalha com as imagens construídas, na tentativa de conquistar
apoio para a consolidação dos seus programas. O intuito é construir uma imagem de
um programa sólido e positivo na mente do público. As propagandas são veiculadas
buscando o reconhecimento público na tentativa de alertar para a realidade
intencionalmente ocultada pelos poderes distantes do andar de baixo. Local este,
onde se realizam diversas ações da sociedade e onde vivem milhares de brasileiros.
Ações estas que se reproduzem no cotidiano expressas nas necessidades das
pessoas.
Existe um contingente de brasileiros que passaram a ser “identificados” pelos atuais
programas sociais – agrupados no Bolsa Família, pelo qual são atendidos - criando
grupos de necessidades, antecipadamente percebidas pelo mercado, porém pouco
exploradas pelos governos. Essas necessidades emergem do cotidiano
classificando interesses e distanciando esse mercado da possibilidade do cidadão,
que lá sobrevive, de se inserir no contexto da sociedade.
As necessidades, desejos e demandas criadas são bem definidos, a partir da
concepção de que para consumir é preciso ter renda. Renda essa, que mesmo
sendo mínima, cria a condição da subjetividade.
Emprestando os conceitos de Kotler (2000) temos que:
“necessidades descrevem exigências humanas básicas. As pessoas precisam de comida, ar, água, roupa e abrigo para sobreviver. Eles também, têm uma necessidade muito grande de recreação, educação e entretenimento. Essas necessidades se tornam
97 Expressão publicitária adotada para designar ‘participação social’. MDS www.mds.org.br
150
desejos quando são dirigidas para os objetos específicos capazes de satisfazê-las. Um norte americano necessita de comida, mas deseja um hambúrguer, batatas fritas e um refrigerante. Um habitante das Ilhas Mauricio necessita de comida, mas deseja uma manga, arroz, lentilhas e feijão. Desejos são moldados pela sociedade em se vive”.
No mundo capitalista, as pessoas satisfazem suas necessidades e seus desejos
com produtos. O conceito de produto é adotado por Kotler como: “.....é qualquer
oferta (coisa) que possa satisfazer a uma necessidade ou a um desejo. As ofertas
básicas são bens, serviços, experiências, eventos, pessoas, lugares, propriedades,
organizações, informações e idéias”. (KOTLER, 2000, p 33).
Adotando este conceito para produto, temos os programas de transferência de renda
como elementos que satisfazem as ofertas básicas de serviços, experiências, idéias
e informações e, sobretudo a sobrevivência para as pessoas, de forma a criar a
condição de que estão inseridas num sistema socialmente funcional.
Quando o governo federal investe massiçamente na divulgação dos programas de
transferência de renda, busca estabelecer uma relação entre os grupos sociais e
investe numa cumplicidade entre esses grupos como fator amalgamador da
realidade. Realidade muitas vezes dispensada de ser conhecida, ser vista ou
convivida por alguns desses grupos que delegam essa função ao governo.
Parece evidente que a proposta de consolidar a realidade social numa ação conjunta
da sociedade envolve primeiramente o reconhecimento da existência dos pobres na
condição de “ocultados”98 pelo sistema e a participação da outra parcela da
sociedade nesse reconhecimento.
A presente condição de desigualdade de renda reforça a urgente proposta
governamental de reformular as relações na sociedade, propondo intensificar a
divulgação da realidade vivida pelos pobres com a intenção de fixar uma tendência
mobilizadora da sociedade. Essa tendência sugere a cumplicidade, pelo
conhecimento dos fluxos de movimentação da sociedade.
98 Assumo a expressão de “ocultados pelo sistema” ao definir que a implantação do cadastro único trouxe para os registros oficiais governamentais nas três esferas de governo muitos pobres que anteriormente não constavam (e não tinham perceptivas de constar dos censos oficiais.
151
Diante das incertezas do mundo capitalista a questão do enfrentamento à pobreza
com possibilidade de inserção social ganha força. “O triunfo do individuo”99 confirma
as ações governamentais brasileiras sintonizadas e focadas na promoção da
pobreza, estimulando o reconhecimento da economia do andar de baixo como forma
de fixar modelos na sociedade brasileira para aceitação da realidade expressada por
essa pobreza. A intenção desse envolvimento sugere como objetivo, unificar os
esforços de co-responsabilidade dos grupos sociais no enfrentamento do problema
da pobreza estimulando a sua participação no mercado.
O consumo se estabelece não mais como necessidade que se impõe, mas como
necessidade criada pelo sistema, como instrumento de inserção no mundo
globalizado.
O individual supera o coletivo, o consumo se estabelece como caminho, algo como
se há muito tempo já existisse na vida das pessoas criando a possibilidade de
pertencer a algum grupo de consumidores. O modo de atuação e das condições
oferecidas pelo mercado engrandece o indivíduo em detrimento de uma
preocupação social de sobrevivência.
No trabalho “Consumo Precário100“, a professora Maria Eduarda, emprestando a
definição de Jean Baudrillard101 em “A sociedade do consumo” nos indica que “as
nossas relações com os objetos, com as pessoas, com a cultura, com o lazer e, ás
vezes com o trabalho e também com a política, são cada vez mais reguladas pelo
lúdico, tornando-se uma arma publicitária poderosa a serviço dos governos.”
Lançando mão das estratégias publicitárias, o governo federal brasileiro puxou para
o âmbito da esfera superior, a questão do trato com a pobreza, levando para seu
controle a responsabilidade de atender e cuidar da população pobre brasileira.
99 In: Kotler, 2000 p 25100 ROCHA, Maria Eduarda da Mota.. O consumo precário : pobreza e cultura de consumo em um município do litoral nordestino. Sao Paulo: s.n, 1998. Dissertação de Mestrado DM 300 R692c PUC SP 1998.101 Baudrillard, J. – A Sociedade do Consumo, 1991, p119. in; O consumo precário : pobreza e cultura de consumo em um município do litoral nordestino
152
Utilizando-se das poderosas ferramentas do marketing, o governo busca identificar
uma realidade, colocando-a para conhecimento da sociedade, identificando uma
população pobre que necessita de atendimento e principalmente pela necessidade
de participação na sociedade, conferindo-lhes condições de renda para que possam
se habilitar a pertencer nessa sociedade. Essa habilitação implica em apropriar-se
de uma renda financeira, cabendo ao governo proporcionar-lhes condições mínimas
para esta participação no mercado consumidor buscando conciliar a realidade de
renda atribuída com potenciais necessidades criadas nos indivíduos.
Considerando a realidade econômica do Brasil e a capacidade financeira imposta
pelo sistema, através dos programas e políticas públicas podemos perceber a
indução à inserção cada vez maior a esse sistema, comprometendo indivíduos com
a relação de sobrevivência e consumo e alimentando o circuito financeiro capitalista.
RENDA Meios
BOLSA FAMILIA MICROCREDITOForma de Inserção na vida social Produção e consumo orientado
Objetiva:
Pertencimento
Pelo esquema acima, buscamos reproduzir a discussão sobre a questão da renda
no universo de atuação das políticas de concessão ao crédito produtivo.
Consideramos a parcela da população sem o emprego formal ou em condições
mínimas de renda, os meios governamentais disponibilizados para acesso à renda
distribuída pelo programa social e a renda proporcionada pela concessão de crédito
aplicado à produção e a geração de renda própria.
Ambas as ações, gestadas pelos governos, buscam a inserção na vida social e a
condução para a produção e a geração de renda própria, proporcionando a condição
para dignamente pertencer à sociedade.
153
O microcrédito sustenta-se como política social integrando o conjunto de condições
necessárias para o patrocínio do mínimo para a promoção da produção geradora de
renda. Faz parte das microfinanças, entendida pelo BNDES, “como toda e qualquer
operação financeira destinada à população de baixa renda. Trata da provisão de
serviços financeiros a clientes de baixa renda, incluindo trabalhadores por conta
própria” (MARTINS, 2002, p.59)
O elo entre o microcrédito e a promoção da dignidade é o trabalho autônomo, em
especial diante da constatação de que o desemprego é um dos flagelos das
sociedades modernas (YUNUS, 2006, P 268). Os Estados, a maioria signatários das
Convenções da Organização Internacional do Trabalho – OIT, ressaltam
efusivamente a busca pelo aumento dos postos de emprego, quando deveriam ter
como preocupação, também, a promoção de meios de trabalho autônomo para
absorver de imediato o contingente disponível, diante da impossibilidade de prover
postos de emprego para toda a população nas atuais conjunturas.
Além de ser um mero instrumental financeiro de acesso ao crédito e promoção de
oportunidade empreendedora, o microcrédito adquire um caráter de função social a
partir do momento em que o indivíduo pode “contribuir para aumentar o bem-estar
comum exercendo suas capacidades de produtor” (YUNUS, 2006, p.277).
Considerações finais:
154
A modernização da economia trouxe consigo processos de reestruturação produtiva
que ampliaram o desemprego e a precarização do trabalho e colocou para o Estado
o desafio de atender as necessidades de promoção das pessoas.
A realização tardia de fixação das pessoas no território e as condições para o
provimento de renda encontrou um contingente de brasileiros pobres confirmando o
desencontro entre o desenvolvimento da sociedade e a economia.
O conceito primeiro de desenvolvimento implica um conjunto de coeficientes sociais
e econômicos que sinalizem para a realização dos direitos políticos, civis e sociais
que possam criar condições capazes de reduzir a concentração de renda e as
desigualdades. O desenvolvimento econômico brasileiro alcançou nos últimos
cinqüenta anos índices que superaram, em muito, os demais países em
desenvolvimento no mundo, porém os problemas sociais e as conquistas políticas,
simultaneamente se revelaram defasados.
O setor tradicional é cumpridor de sua funcionalidade para o capitalismo
subdesenvolvido e dependente. É constituído dos pobres que trabalham por conta
própria ou sem carteira de trabalho assinada, que são, primeiramente, parte do setor
informal ou do setor dos excluídos. “Seu papel é o de oferecer trabalho a baixo
preço para toda uma série de atividades auxiliares que facilitam a realização de
lucros e a acumulação capitalista” 102
Gerações foram sendo formadas com conceitos de subalternização e desprovidas
dos agentes políticos que pudessem intermediar as suas relações sociais. Muitos
predicativos foram empregados por uma elite nacional para definir a grande massa
da população brasileira e foram, por longo período, criando uma identificação de
pobreza. Pessoas que “resistiam a assumir o papel de trabalhador adequado à
realidade do mercado”. O posicionamento imposto, cobrando das pessoas para
assumir esse “papel de trabalhador” não garantiu a prometida inserção nesse
102 In: O Conceito de Desenvolvimento do ISEB Revisitado, Luiz Carlos Bresser-Pereira Trabalho apresentado ao IX Encontro Nacional de Economia Política, Uberlândia, 8 a 11 de junho de 2004 disponível em http://www.ie.ufu.br/ix_enep_mesas/Mesa%2017%20-%20Economia%20Pol.pdf
155
mercado. A realidade do mercado não absorveu todos os elementos do contingente
de excluídos e despreparados.
Essa redefinição do uso da força de trabalho relegou grupos à marginalidade de
todo processo. As condições de produção do lucro, e a mais valia, posicionaram
grupos de trabalhadores, já imbuídos da força produtiva, a competirem com outros
grupos – os imigrantes - que traziam consigo na sua formação, melhores condições
técnicas e contavam com o apoio governamental que pretendia definir um perfil para
o trabalhador brasileiro e com isso novos grupos foram relegados à exclusão social.
A metamorfose dos grupos de trabalhadores em condições de exercer a força
produtiva estava realizada. Neste processo, novamente, os grupos não preparados,
já relegados e carentes de atendimento somam-se aos assistidos pelos programas
assistenciais caritativos e religiosos. Constitui-se ai um pensamento, presente no
consciente coletivo brasileiro, de que povo é somente aquele que está inserido no
sistema produtivo, ou seja, aquele que produz, atende os requisitos para manter a
produção e submete-se ao domínio do poder do Estado.
A natural reprodução destes grupos gerou um contingente de pobreza, não instruído,
vivendo em condições distantes do mínimo para a sobrevivência e carente de apoio
e atenção, sujeitando-se aos desmandos do poder político e do poder econômico.
O contexto entre a realidade do emprego, do desemprego, do subemprego, o
pauperismo no cotidiano e essa interpretação, intencional e equivocadamente,
construída ao longo do tempo sobre as condições de vida da população, são
traduzidas pela polarização das lutas sociais em torno do acesso à terra, do
emprego, do salário, pelas condições de trabalho, acesso a saúde, a habitação, pela
educação e pelos diretos políticos.
Os processos estruturais como o desenvolvimento extensivo e intensivo do
capitalismo estão na base dessas desigualdades e antagonismos em que a relação
de conflito da propriedade do capital e a força do Estado estão presentes na
exploração do trabalhador do campo e da cidade. Essas desigualdades e
156
antagonismos são expressos pela fome, desnutrição, falta de habitação condigna e
de mínimas condições de saúde.
O grupo de alijados do sistema, com baixa ou nenhuma escolaridade, sem
especialização e preparo para os projetos de implantação do parque industrial
brasileiro com foco na indústria nacional, é parte do setor tradicional formado por
pessoas “marginais” ou “excluídas” dos benefícios do desenvolvimento, mas que
fazem parte do sistema capitalista, mesmo que muitos grupos se empenhem em
ofuscá-los.
As diferenças sociais, que também são econômicas e culturais, acabam por separar
os grupos, indicando e definindo à esses grupos um lugar nesta sociedade. A
questão social expressa pela pobreza, pela exclusão e pela subalternidade indica a
marginalização do indivíduo, sinalizando-o para ocupar determinados lugares nessa
sociedade, limitando seus movimentos para o exercício de sua cidadania. Pobreza,
exclusão e subalternidade, formam um conjunto com conteúdos que através da
forma assumida nos indica onde se “localizam” as pessoas que estão à margem do
processo de reprodução do capital. Seu lugar está imposto pela sociedade.
O capitalismo reduz a sociedade no indivíduo, de forma a particularizar seus
momentos, suas participações pelo individual. A condição é estrutural, de forma que
a solução encontrada foi o estabelecimento de um programa que possa localizar as
pessoas, posicionando-as num território com vínculos localizados com a escola e os
serviços de saúde, buscando primeiramente a fixação deste indivíduo na sua
comunidade. Esse processo se estabelece a partir de suas necessidades atendidas
e os laços sociais que se produzem.
Centralizados no programa Bolsa Família, os programas de transferência de renda,
buscam realizar a fixação de muitas famílias nos seus locais, amenizando por
determinado período, o movimento migratório. Esta fixação evidencia a condição
necessária para a formação dos sistemas primários de vida social, localizada, fixada
e propensa à formação social, estimulando o comércio e o consumo.
157
O contingente de beneficiados, em processo continuo de formação está habilitado
para participar dos programas de transferência de renda a partir de suas trajetórias
históricas e seus currículos de incertezas e descapacitação, gerados, em muitos
momentos, pela própria ausência do estado.
A gestação da identidade da pobreza brasileira, ao buscar pertencer a um grupo,
cria pessoas que vivem em condições precárias, porém negociam algo, se
apropriam de um mínimo, recebem donativos ou se sujeitam às precárias condições
de exploração e dominação para executar algum tipo de trabalho, alheios - em
muitos momentos - aos olhares do estado.
Os programas de transferência de renda no Brasil atribuem à pobreza o seu lugar na
sociedade, localizando, identificando e classificando seus indivíduos a partir de uma
relação externa a vida cotidiana.
O ordenamento político atual indica a viabilidade de implantação do sistema de
concessão do “microcrédito” com base nas experiências nacionais de transferência
de renda, bem como importando modelos de outras partes do mundo. Os programas
de transferência de renda, no caso brasileiro condicionados no Bolsa família,
causaram impacto na vida das pessoas e provocou sua ampliação com a proposta
de continuidade, atrelamento e a conjugação com as demais políticas sociais, como
a exemplo o microcrédito.
Estas iniciativas sugerem a contribuição e efetiva participação do indivíduo para sua
própria promoção e conseqüente redução dos níveis de pobreza. Sem a pretensão
de afirmar que os programas de transferência de renda são dispositivos redentores
para os pobres e de que o microcrédito é a solução para todos os males de que
padecem os indivíduos na sociedade, predominantemente os pobres, o objetivo é
fomentar a discussão sobre a implantação de um sistema de concessão do
microcrédito, “orientado e organizado na sua estrutura de funcionalidade”lv
concebendo a situação real de condicionalidades impostas pelo sistema capitalista.
Muitos programas de transferência de renda são "executados" lvi seguindo os
158
manuais predefinidos, sem aplicar ou ampliar uma discussão local sobre a questão
principal, a permanência das pessoas na pobreza.
A configuração de programas de atendimento à pobreza, pelos programas de
transferência de renda, pelos programas de microcrédito e pelo atendimento
generalizado e discriminatório que se observa nas instituições financeiras, que
representam o portal de entrada para o sistema capitalista, expressa a contradição
de sua existência, pela criação de barreiras e pelos dispositivos criados pelos
governos para inserir os pobres e os descapacitados financeiramente no sistema
para atuar como consumidores, formados por um modelo governamental.
159
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Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil acesso em set 2009. http://www.undp.org.br/hdr/Atlas.htm, http://www.pnud.org.br/atlas/
165
ANEXO A - Questões dirigidas aos candidatos a crédito, beneficiados pelo Programa Banco do Povo.
QUESTÕES DIRIGIDAS PARA OS CANDIDATOS AO CRÉDITO - BENEFICIADOS PELO PROGRAMA BANCO DO POVO - SOROCABA
Qualificação do entrevistado:
a) Nome Idade
c) Nascido no município? Outra região? Qual? e) Endereço
f) Telefone para contato
g) Escolaridadeh) Estuda atualmente? i) Qual Curso?
j) Escolaridade do Pai Escolaridade da Mãe a. Região (ou Estado ou cidade) do nascimento do Pai
b. Região (ou Estado ou cidade) do nascimento da Mãe
Atividade / trabalho / empregoa) Já trabalhou com carteira assinada? b) Trabalha ainda?c) Teve outro tipo de emprego/ ocupação anterior,d) Quanto tempo ficou sem trabalho?
QUESTÕES DIRIGIDAS PARA OS CANDIDATOS REFERENTE:AO NEGÓCIO / ATIVIDADE QUE PRATICA / ATUA/ FAZ
Negócio atual / renda atual
a) Que tipo de atividade exerce atualmente?
166
b) Qual sua renda? (aproximada)c) Há quanto tempo está no negócio, d) Já havia pensado em fazer / realizar este tipo de negócio antes,?
e) Quantas pessoas participam com você desta atividade?
i. São da família? ii. Amigos, ? iii. Funcionários ? iv. Colaboradores ? v. Ajudantes ?
f) Dá para ampliar o negócio?g) É melhor trabalhar assim ou com carteira assinada?h) Quanto tira em média por semana/ mês, i) Quanto gasta com telefone (celular e fixo), (importante pela possibilidade de viabilizar negócios)
j) Tem carro,? a. é usado para o trabalho, b. é da família, ?k) Quanto gasta com combustível /mês? (aproximadamente)l) Alguém na família já realizava este tipo de negócio / ocupação (esta atividade) antes?
m) Como aprendeu? i. Fez ou frequentou cursos? ii. quanto tempo? iii. quanto custou?
QUESTÕES DIRIGIDAS PARA OS CANDIDATOS REFERENTES:AO CRÉDITO / CONDIÇÃO DE CRÉDITO
Empréstimo / créditoa) Já fez algum tipo de empréstimo?(anteriormente, em banco, financeira)?
b) Tem conta bancária atualmente? Quanto tempo? i. Tem cheque especial? ii. Já fez CDC (crédito direto ao consumidor)? iii. Tem poupança em banco? Se sim, qual a principal finalidade desta poupança? iv. Tem algum tipo de financiamento?1. Carro 2. Casa/ apto3. Outro
167
Qual o prazo deste financiamento? Quanto por mês?
Facilidades e dificuldades -) Empréstimo pelo Banco do Povo)
a) Quando fez o primeiro empréstimo, teve alguma dificuldade? Se sim, quais foram?
b) Neste período tinha conta bancária? Teve que abrir? Como foi?
c) Em quantas parcelas / prestações você pagou o empréstimo?
d) É o primeiro empréstimo? (no Banco Povo) 1) Se Sim i. Quanto emprestou? ii. Nº parcelas iii. Quanto foi o Juro? iv. Precisou de Aval? a). Quem? (amigo, parente, conhecido, outro) b) Como? (refinanciamento carro, penhora, imóvel, carro, outro) 2) Não i. Quantas vezes já fez empréstimos no Banco do Povo? ii. Quais os valores? iii. Para que foi utilizado? iv. No negócio, quais foram as Facilidades que você teve? v. Quais foram as Dificuldades que você enfrentou?
vi. Quem foram seus Avalistas? vii. O qual foi mais fácil, o empréstimo atual ou o anterior? viii. Por quê?
Depoimento:
Contexto atual a) Como você classificaria, atualmente, a sua situação de trabalho?
Formal / informal / empregado / dono do negócio / outro?
b) Como você avalia a situação de "ter uma carteira de trabalho assinada”, o isso que significa para você?
c) Você paga algum tipo de “previdência” para futura aposentadoria?
168
Qual?
d) Você faria empréstimos de maior valor, caso fosse oferecido por algum banco? E pelo Banco do Povo?
e) Para que você investiria este valor emprestado? f) As seguintes frases fazem você lembrar do quê? Complete “Com o "dinheiro na mão" eu faria .................................”“Se eu tivesse esse dinheiro eu montaria um negócio .....................”
“Você pensa em estudar?” Gostaria de fazer o quê?“O que você pensa para o futuro dos seus filhos em relação a emprego, trabalho, renda?
“O que você pensa sobre os empréstimos que o Banco do Povo oferece?
Como teve conhecimento do Banco do Povo?
Caso você já tenha realizado outro tipo de empréstimo, por favor, responda:
Já pediu empréstimo(s) para:Bancos / Financeiras / Agiotas / Familiares / Amigos
Qual foi a necessidade que fez com que solicitasse o empréstimo?Faria novamente? Em quais circunstâncias / situações?
169
ANEXO B - Questões dirigidas aos agentes de crédito do Banco do Povo
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULOPUC SP
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EMSERVIÇO SOCIAL
QUESTÕES DIRIGIDAS AOS AGENTES DE CRÉDITO BANCO DO POVO DE SOROCABA
Questões Banco do Povo - Perguntas de partida:
Α)O que é o Banco do Povo?
Β)Como é administrado e como foi implantado?
a.Quando iniciou suas atividades?
b.Qual o objetivo do programa?
Χ)A quem se destinam os empréstimos?
∆)Quais são a exigências para o candidato ao crédito?
Ε)O candidato tem que morar (ou ter um “negócio”) no município?
Φ)È consultado o SERASA ou SCPC?
Γ)Tem aval? Qual tipo?
Η)O empréstimo pode ser destinado para pessoas na INFORMALIDADE?
a.Quais são as exigências?
b.Como é o aval?
Ι)Para as pessoas em situação de FORMALIDADE quais os documentos
necessários?
ϑ)Para as pessoas na INFORMALIDADE o que pode ser financiado?
a.Quais são os limites de crédito?
Κ)Para as pessoas NA FORMALIDADE que pode ser financiado?
170
a.Quais são os limites de crédito?
Λ)Qual é a taxa de juro (ao mês) aplicada no empréstimo?
Μ)Qual é a origem dos recursos? Federal, estadual ou municipal?
a.Quais as parcelas de participação de cada esfera governamental?
Ν)Quais foram os resultados obtidos em 2008?
a.Quantidade de operações no 1º semestre:
b.Quantos de recursos financeiros foram destinados?
c.Quanto de recursos foi emprestado?
d.Quantidade de operações no 2º semestre:
e.Quantos de recursos financeiros foram destinados?
f.Quanto de recursos foi emprestado?
Ο)Quais foram os resultados obtidos em 2009?
a.Quantidade de operações no 1º semestre:
b.Quantos de recursos financeiros foram destinados?
c.Quanto de recursos foi emprestado?
d.Quantidade de operações no 2º semestre:
e.Quantos de recursos financeiros foram destinados?
f.Quanto de recursos foi emprestado?
Π)Quantos empréstimos foram solicitados em 2008?
a.Quantos foram recusados?
b.Quais os motivos mais relevantes?
Θ)Quantos empréstimos foram solicitados em 2009?
a.Quantos foram recusados?
b.Quais os motivos mais relevantes?
Ρ)Quantos empréstimos foram concedidos para mulheres?
a.Em 2008?
b.Em 2009?
Σ)Quais os tipos de atividades / ocupações que receberam os empréstimos?
a.Em 2008
171
b.Em 2009
Τ)Quais os tipos de atividades que pretenderam o empréstimo e foram
recusados?
a.Em 2008
b.Em 2009
Υ)Quais foram as metas (nº de empréstimos X recursos destinados) definidas
para:
a.2008
b.2009
ς)Quem define estas metas?
Ω)Existe algum órgão fiscalizador do Banco do Povo?
Ξ)Em relação ao AVAL
a.Como é autorizado?
b.Tem que comprovar patrimônio / Conta bancária?
Ψ)Em relação aos AGENTES DE CRÉDITO:
a.Qual é a importância de sua atividade?
b.Como você observa / enxerga o candidato ao crédito?
c.Já observou mudança na vida destas pessoas, a partir do empréstimo?
d.Como você se definiria a partir da possibilidade de colaborar com a
mudança de vida destas pessoas?
e.Você participou de algum treinamento para atender o público?
f.Como você avalia a importância desta atividade?
g.Qual é sua formação educacional? Em qual área?
h.Você já precisou fazer algum tipo de empréstimo no Banco do Povo?
i.Caso positivo, pagou em quantas vezes?
ii.Caso negativo, você faria um empréstimo em quais
circunstâncias?
Ζ) Em algumas palavras defina a importância do programa BANCO DO POVO
na vida das pessoas?
172
ANEXO C – Formulário apresentado para coleta de dados para a pesquisa
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC SPPROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM SERVIÇO SOCIALOrientadora: Profa. Dra. Maria Carmelita Yazbek
Mestrando: Estevam César (11) 2712-2352
Nome do beneficiário / Empresa
Responsável
Atividade ContatoDestinação do empréstimo
Valor R$
1º emprésti
mo ?
Pedido
iniciado em
Concluído em
Como teve
conhecimento
sobre o BP
173
ANEXO D - Formulário com os resultados da pesquisa, depoimentos coletados na pesquisa
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC SPPROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM SERVIÇO SOCIALOrientadora: Profa. Dra. Maria Carmelita Yazbek
Mestrando: Estevam César (11) 2712-2352
Pseudônimo AtividadeDestinação do empréstimo
Obs.:
GERÂNIO (ca pri c h o e d e v o ç ã o )
Motorist a /Taxist a
Fin a n c i o u o c o n s e r t o d o m o t o r d a Kom bi qu e utiliza par a tra b a l h a r
T e m u m Táxi e m p o nt o fixo e u m a Kom bi par a alu g u e l q u e tra b a l h a c o nju nt a m e n t e c o m o ir m ã o m a i s n o v o .
BROMÉLIA (firm e z a , p er s e v e r a n ç a e re si st ê n c i a)
Co o p e r a ti v a d e c at a d o r e s d e m a t e r i a l re ci cl á v e l - a m b u l a n t e s
Fin a n c i a m e n t o d e u m c a m i n h ã o us a d o par a retira d a d o s m a t e ri ai s n o s po nt o s d e re ci cl a g e m
A c o o p e r a ti v a te m 6 0 a s s o c i a d o s , nu m e r o q u e v ari a m uit o dur a n t e o s p erí o d o s d o a n o o u q u a n d o c o n s e g u e m al gu m tipo d e e m p r e g o , el e s atu a m n a s m a i s div er s a s for m a s d e re c o l hi m e n t o d e m a t e ri al re ci cl á v e l . Sã o p e s s o a s qu e re c o l h e m o s m a t e r i a i s n o s c o n d o m í n i o s e p o nt o s a ut o riz a d o s par a d e p o s i ç ã o , a n d a m p el a s rua s "pux a n d o " o s c a rrin h o s pr ef e r e n c i a l m e n t e a nt e s d o h or á ri o d e pic o d o trân sit o (ant e s d a s et e d a m a n h ã e d e p o i s d a s 1 9 h s). T er m i n a n d o o pa g a m e n t o d o c a m i n h ã o pr et e n d e m inv e s tir nu m a pick- up par a re c o l h e r o s m a t e r i a i s n a re gi ã o c e n tr al da cid a d e , p oi s n e s t a re gi ã o n ã o é p er m iti d a circ ul a r c a m i n h õ e s gr a n d e s .
MARGARIDA (ino c ê n c i a e firm e z a )
Co m é r c i o / loja d e roup a s / br e c h ó
Fin a n c i o u ex p o s it o r e s e "ar ar a s " n o pri m e i r o c o n tr a t o e n o s e g u n d o c o n tr a t o u m a m á q u i n a re gi str a d o r a
Co m e ç o u v e n d e n d o d e port a e m p ort a , ref or m o u s al a d a c a s a e a b riu u m a loja c o m re gi str o n a Pref eitur a .
174
FLOR DE CACTO (Per s e v e r a n ç a)
Cha v e i r o
No pri m e i r o c o n tr at o fina n ci o u n o v a m á q u i n a par a faz er c ó pi a s d e c h a v e s , e n o s e g u n d o c o n tr a t o c a pit al d e gir o par a pa g a r o c o n d o m í n i o d o e s p a ç o alu g a d o n o s h o p p i n g
Tra b a l h a c o m a m ul h e r q u e fica n a loja n o s h o p pi n g e n q u a n t o el e at e n d e a o s c h a m a d o s a d o m i c ili o
GIRASSOL (Dignid a d e e c o nfi a n ç a )
Costur eir o
Fin a n c i o u m á q u i n a s d e c o s t ur a n o pri m e i r o c o n tr a t o , n o s e g u n d o c o n tr a t o fina n c i o u m a t e r i a l par a ex p o s i ç ã o da s rou p a s e m s h o p pi n g
T e m re gi str o n a Pref eitur a c o m o a ut ô n o m o / faz cur s o d e e nf e r m a g e m , m a s n ã o pr et e n d e par a r c o m o ra m o da c o s t ur a .
ANEXO D - Formulário com os resultados das entrevistas
ALFAZEMA (cal m a )
Mecâ ni c o - aut o s
No pri m e ir o c o n tr a t o a d q uiriu u m el e v a d o r par a c a rr o s e q ui p a m e n t o su a oficin a , n o s e g u n d o c o n tr at o c o m p r o u ferr a m e n t a s e c o m p r e s s o r d e ar.
Fez cur s o d e m e c â n i c o n o SENAI por é m n ã o c o n s e g u i u s e fixar n o s e m p r e g o s p el a pr ó pri a d efini ç ã o d e "indi s ci plin a d o " n o s h o r á ri o s qu e o s patr õ e s c ol o c a v a m par a cu m p rir. Per c e b e u q u e tra b a l h a n d o por c o n t a at e n di a m e l h o r o s cli e nt e s e ntr e g a n d o n o pra z o s e m a pr e s s ã o d o patr ã o . Te m u m a oficin a e m lo c a l fixo e u m s e r vi ç o d e guin c h o par a at e n d e r a s e m e r g ê n c i a s . Apó s q uit ar o s e g u n d o e m p r é s t i m o pr et e n d e s oli cit ar n o v o c o n tr a t o par a retific ar o m o t o r d o c a m i n h ã o guin c h o .
ORQUIDEA (Pur ez a)
Repr e s e n t a n te c o m e r c i a l Pe s s o a Jurídic a
c o n tr at o u o pri m e i r o e m p r é s t i m o par a c o m p r a r n o v a s m á q u i n a s d e e m b a l a g e m , n o s e g u n d o c o m p r o u u m c o m p u t a d o r e n o ter c e i r o - já c o m o PJ c o n s e g u i u c a pit al d e gir o par a c o m p r a r pr o d ut o s .
tra b a l h a c o m c o m e r c i o d e d o c e s c o m p r a n d o por at a c a d o e fra ci o n a n d o par a v e n d a n o v ar ej o . Atuou h á 1 0 a n o s n a infor m a li d a d e e n o a n o d e 2 0 0 8 c o n s e g u i u re gi str a r a e m p r e s a c o m o p e s s o a jurídic a , repr e s e n t a n t e c o m e r c i a l
ACÁCIA (Eleg â n c i a)
Ca b el e ir e ir a - Salã o d e Belez a
Fez d oi s c o n tr a t o s , n o pri m e i r o c o m p r o u s e c a d o r e s d e c a b e l o e pia par a lav a r , n o s e g u n d o c o m p r o u c a d e i r a s d e c a b e l e i r e i r a e pr o d ut o s par a o s al ã o .
Tra b a l h a v a nu m a torr ef a ç ã o d e c af é e m frent e d e su a c a s a e p er c e b e u qu e o s c ol e g a s n ã o tinh a m te m p o par a s e cui d a r, c o m o c o rt ar c a b e l o s e "faz er " a s un h a s - exi g ê n c i a s d o tra b a l h o . Moran d o e m frent e d o tra b a l h o at e n d i a e m su a c a s a o s c ol e g a s , d eix o u o e m p r e g o e m o n t o u o s al ã o nu m qu a rt o da c a s a . Atual m e n t e u m a d a s filha s a ajud a e pr et e n d e s e g u ir n a pr ofis s ã o .
175
CAMÉLIA (Rec o n h e c i me nt o)
Loja d e Roup a Infantil
T e m re gi str o n a Pref eitur a c o m o v e n d e d o r a a m b u l a n t e , s oli cit o u o pri m e i r o c o n tr at o par a c o m p r a r ar m á ri o s e m a t e ri al par a e m b a l a r a s rou p a s - s a c o l a s e s t a m p a d a s c o m su a m a r c a .
Está n o a g u a r d o d a apr o v a ç ã o d e o utr o c o n tr a t o , p oi s pr ef e r e s er c h a m a d a d e "s a c o l e i r a ", ativid a d e q u e faz h á 1 5 a n o s , c o m p r a n d o roup a s n a 2 5 d e Març o e m SP e v e n d e n d o n o int eri or. Já m o r o u e m Sã o Paul o , m a s pr ef er e o int eri o r por ter m a i s te m p o par a s e d e s l o c a r e s e d e di c a r à s cli e nt e s . Aten d e n a lojinh a e n a s e m p r e s a s qu e p er m it e m ex p o r pr o d ut o s n o s h or á ri o s d e al m o ç o e s a í d a d e fun ci o n á ri o s .
AMARILIS (Orgulh o)
Loja d e roup a s - br e c h ó
Contr at o u o pri m e i r o e m p r é s t i m o par a ref or m a r a loja.
Te m re gi s tr o n a Pref eitur a c o m o v e n d e d o r a a m b u l a n t e e at e n d e c o m a loja n a s al a d e su a c a s a
PETÚNIA (v e n c e r o b s t á c u l o s )
Carr o d e Cald o d e c a n a
Contr at o u o pri m e i r o e m p r é s t i m o par a c o m p r a o c a rrin h o d e c al d o d e c a n a , m o r a e m frent e u m a e s c o l a e u m a fa bric a , fato qu e fa cilitou o c o n v e n c i m e n t o d o s a g e n t e s d e cr é dit o par a a ut o riz ar o e m p r é s t i m o .
Na é p o c a p e di u par a u m a filha, qu e tinh a "r e gi str o e m c a rt eir a " poi s "ain d a tinh a e m p r e g o n a fa bri c a " m o n t a d o r a d e ap a r e l h o s d e c el ul a r par a s e r su a a v a li st a . Pref er e s er c h a m a d a d e Don a Petúni a , poi s é a s s i m q u e a c o n h e c e m p el o b airr o .
LÍRIO (Sort e) Carrin h o d e lan c h e s
Con s e g u i u d oi s cr é dit o s , o pri m e i r o foi par a c o m p r a r o c a rrin h o e o s e g u n d o c o m p r o u a e s trutur a d o c a rrin h o d e lan c h e s qu e m o n t o u s o b r e u m a pic k- up
Co m o o c arrin h o d e lan c h e s qu e fic a v a e s t a c i o n a d o n a e s q u i n a d e su a c a s a , pr ó xi m o d e al g u m a s p e q u e n a s e m p r e s a s qu e for a m s e inst al a n d o n a z o n a indu stri al, c o n s e g u i u c o m p r a r u m a pick- up us a d a e re c o n t r a t a n d o u m n o v o re c ur s o m o n t o u a e s trutur a d e u m n o v o c a rrin h o s o b r e e s t a pic k- up, Atual m e n t e a c o m p a n h a o s e v e n t o s n a cid a d e e te m lic e n ç a d e a m b u l a n t e par a e s t a c i o n a r pr óxi m o a e s s e s o s e v e n t o s e v e n d e r s e u s lan c h e s .
VIOLETA (Leald a d e )
Pe s s o a Jurídic a - Co m é r c i o d e Roup a s
Contr at o u d oi s e m p r é s t i m o s . O pri m e ir o e m p r e s t o u par a c o m p r a r b al c õ e s ex p o s i t o r e s e o s e g u n d o par a c a pit al d e gir o d e c o m p r a .
Mes m o ten d o u m a loja a b e r t a n a frent e d a c a s a da irm ã qu e m o r a nu m a rua m o v i m e n t a d a d o b airr o , n ã o tinh a lic e n ç a da Pref eitur a . No pri m e i r o c o n tr at o ain d a er a infor m a l e e m p r e s t o u par a c o m p r a r b al c õ e s ex p o s it o r e s e o s e g u n d o já tinh a aut o riz a ç ã o "à titulo pr e c á r i o " par a fun ci o n a r c o m o loja e e m p r e s t o u par a utilizar c o m o c a pit al d e gir o d e c o m p r a .
176
Anexo E: Entrevistas por ano e número de contratações
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC SP
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM SERVIÇO SOCIAL
Orientadora: Profa. Dra. Maria Carmelita Yazbek
Mestrando: Estevam César (11) 2712-2352
Pseudônimo AtividadeDestinação do empréstimo
Valor (R$) do recurso
Ano c o n tr at a ç ã o Praz o d e fina n ci a m e n t o
Con cluí d o e m
Co m o te v e c o n h e c i m e n t o
s o b r e o BP
GERÂNIO (capricho e devoção)
Motorista /TaxistaFinanciou o conserto do motor da Kombi que utiliza para trabalhar
1º contrato R$ 900,00
20071º contrato : 12 meses
2008Amigos e entrevistas nos jornais
BROMÉLIA (firmeza, perseverança e resistência)
Cooperativa de catadores de material reciclável - ambulantes
Financiamento de um caminhão usado para retirada dos materiais nos pontos de reciclagem
1º contrato R$ 6.300,00 2º contrato
(em análise) R$ 6.000,00
20071º contrato : 18 meses
2009Câmara de Vereadores
MARGARIDA (inocência e firmeza)
Comércio / loja de roupas / brechó
financiou expositores e "araras" no primeiro contrato e no segundo contrato uma máquina registradora
1º contrato R$ 678,00 2º contrato R$ 430,00
2006 / 2008
1º contrato : 08 meses 2º contrato : 12 meses
2007 / 2009
Filha que viu pela Internet
FLOR DE CACTO (Perseverança)
Chaveiro
no primeiro contrato financiou nova máquina para fazer cópias de chaves, e no segundo contrato capital de giro para pagar o condomínio do espaço alugado no shopping
1º contrato R$ 520,00 2º contrato R$ 600,00
2007 / 2008
1º contrato : 10 meses 2º contrato : 06 meses
2008 / 2009
Jornal e amigo que já havia contratado o empréstimo.
GIRASSOL (Dignidade e confiança)
Costureiro
Financiou máquinas de costura no primeiro contrato, no segundo contrato financiou material para exposição das roupas em shopping
1º contrato R$ 1.050,00 2º contrato R$ 540,00
2007 / 2009
1º contrato : 12 meses 2º contrato : 06 meses
2008 / 2009
Pela Internet e na faculdade onde estuda.
177
ALFAZEMA (calma)
Mecânico - autos
No primeiro contrato adquiriu um elevador para carros equipamento sua oficina, no segundo contrato comprou ferramentas e compressor de ar.
1º contrato R$ 2,180,00 2º contrato
R$ 1.320,00
2006 / 2008
1º contrato : 14 meses 2º contrato : 12 meses
2008 / 2009
Pelo Jornal e TV
Anexo E: Entrevistas por ano e número de contratações
ORQUÍDEA (Pureza)
Representante comercial Pessoa Jurídica
contratou o primeiro empréstimo para comprar novas máquinas de embalagem, no segundo comprou um computador e no terceiro - já como PJ conseguiu capital de giro para comprar produtos.
1º contrato R$ 360,00 2º contrato
R$ 1.490,00 3º contrato R$ 850,00
2006 / 2007 / 2009
1º contrato : 06 meses 2º contrato : 12 meses 3º contrato : 06 meses
2007 / 2008 / 2009
Pelo gerente do banco para o qual devia o cheque especial.
ACÁCIA (Elegância)
Cabeleireira - Salão de Beleza
Fez dois contratos, no primeiro comprou secadores de cabelo e pia para lavar, no segundo comprou cadeiras de cabeleireira e produtos para o salão.
1º contrato R$ 1.750,00 2º contrato R$ 960,00
2007 / 2008
1º contrato : 12 meses 2º contrato : 12 meses
2008 / 2009
Pelo Jornal e por entrevista na rádio
CAMÉLIA (Reconhecimento)
Loja de Roupa Infantil
Tem registro na Prefeitura como vendedora ambulante, solicitou o primeiro contrato para comprar armários e material para embalar as roupas - sacolas estampadas com sua marca.
1º contrato R$ 1.100,00
20071º contrato : 12 meses
2009Entrevista na rádio
AMARÍLIS (Orgulho)
Loja de roupas - brechó
contratou o primeiro empréstimo para reformar a loja.
1º contrato R$ 2.700,00
20081º contrato : 09 meses
2009Uma cliente e pelo jornal
PETÚNIA (vencer obstáculos)
Carro de Caldo de cana
contratou o primeiro empréstimo para compra o carrinho de caldo de cana, mora em frente uma escola e uma fabrica, fato que facilitou o convencimento dos agentes de crédito para autorizar o empréstimo.
1º contrato R$ 1.800,00
20071º contrato : 14 meses
2009
A diretora da escola próxima a sua casa a ajudou
LÍRIO (Sorte)Carrinho de lanches
Conseguiu dois créditos, o primeiro foi para comprar o carrinho e o segundo comprou a estrutura do carrinho de lanches que montou sobre uma pick-up
1º contrato R$ 2.050,00 2º contrato
R$ 1.400,00
2007 / 2008
1º contrato : 12 meses 2º contrato : 08 meses
2009 / 2009
Pelo jornal e pela rádio
178
VIOLETA (Lealdade)
Pessoa Jurídica - Comércio de Roupas
contratou dois empréstimos. O primeiro emprestou para comprar balcões expositores e o segundo para capital de giro de compra.
1º contrato R$ 630,00 2º contrato
R$ 1.500,00
2007 / 2008
1º contrato : 07 meses 2º contrato : 06 meses
2007 / 2009
Um amigo que já havia emprestado.
ANEXO F – Modelo de Termo de Livre consentimento para entrevistas
TERMO DE LIVRE CONSENTIMENTO
Aceito participar da pesquisa intitulada de “A economia no andar de baixo: ascender ou acender perspectivas de pertencimento geradas pelo microcrédito produtivo fornecido pelo Banco do Povo de Sorocaba, SP” conduzida pelo aluno pesquisador Estevam César Silva, do Programa de Estudos Pós-graduados em Serviço Social da PUC SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Fui informado (a) que a pesquisa tem por objetivo: “analisar a relação entre a questão da geração de renda e os entraves burocráticos, as perspectivas e possibilidades inseridas nos programas de inclusão social por transferência de renda, focando o contexto das dificuldades econômicas e sociais com o conseqüente deslocamento de trabalhadores para o setor da informalidade”.
Nesta etapa, aceito participar da entrevista enquanto sujeito da pesquisa, a qual será realizada a pesquisa quanti-qualitativa com entrevista semi estruturada, visando contribuir com os objetivos descritos.
Tenho conhecimento de que tenho a liberdade de me recusar a participar da referida pesquisa e deixá-la a qualquer momento, sem prejuízo para a minha vida pessoal e profissional.
Fui também esclarecido (a) de que meu nome bem como informações de cunho pessoal não serão divulgados nos resultados da pesquisa e as informações que darei serão utilizadas exclusivamente com o fim acadêmico aqui proposto.
Concordo com o uso de gravação: ( ) Sim ( ) Não
Sorocaba, SP, _________/__________/___________
179
__________________________ ______________________Assinatura do (a) entrevistado (a) Assinatura do pesquisadorNome: Nome: Estevam César Silva
Anexo G: Entrevistas por ano e número de contratações
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC SP
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM SERVIÇO SOCIAL
Orientadora: Profa. Dra. Maria Carmelita Yazbek
Mestrando: Estevam César (11) 2712-2352
Pseudônimo AtividadeDestinação do empréstimo
Valor (R$) do recurso
Ano c o n tr at a ç ã o Praz o d e fina n ci a m e n t o
Con cluí d o e m
Co m o te v e c o n h e c i m e n t o
s o b r e o BP
GERÂNIO (capricho e devoção)
Motorista /TaxistaFinanciou o conserto do motor da Kombi que utiliza para trabalhar
1º contrato R$ 900,00
20071º contrato : 12 meses
2008Amigos e entrevistas nos jornais
BROMÉLIA (firmeza, perseverança e resistência)
Cooperativa de catadores de material reciclável - ambulantes
Financiamento de um caminhão usado para retirada dos materiais nos pontos de reciclagem
1º contrato R$ 6.300,00 2º contrato
(em análise) R$ 6.000,00
20071º contrato : 18 meses
2009Câmara de Vereadores
MARGARIDA (inocência e firmeza)
Comércio / loja de roupas / brechó
financiou expositores e "araras" no primeiro contrato e no segundo contrato uma máquina registradora
1º contrato R$ 678,00
2º contrato R$ 430,00
2006 / 2008
1º contrato : 08 meses
2º contrato : 12 meses
2007 / 2009
Filha que viu pela Internet
FLOR DE CACTO (Perseverança)
Chaveiro
no primeiro contrato financiou nova máquina para fazer cópias de chaves, e no segundo contrato capital de giro para pagar o condomínio do espaço alugado no shopping
1º contrato R$ 520,00 2º contrato R$ 600,00
2007 / 2008
1º contrato : 10 meses
2º contrato : 06 meses
2008 / 2009
Jornal e amigo que já havia contratado o empréstimo.
GIRASSOL (Dignidade e confiança)
Costureiro
Financiou máquinas de costura no primeiro contrato, no segundo contrato financiou material para exposição das roupas em shopping
1º contrato R$ 1.050,00 2º contrato R$ 540,00
2007 / 2009
1º contrato : 12 meses
2º contrato : 06 meses
2008 / 2009
Pela Internet e na faculdade onde estuda.
180
ALFAZEMA (calma)
Mecânico - autos
No primeiro contrato adquiriu um elevador para carros equipamento sua oficina, no segundo contrato comprou ferramentas e compressor de ar.
1º contrato R$ 2,180,00 2º contrato
R$ 1.320,00
2006 / 2008
1º contrato : 14 meses
2º contrato : 12 meses
2008 / 2009
Pelo Jornal e TV
Anexo G: Entrevistas por ano e número de contratações
ORQUÍDEA (Pureza)
Representante comercial Pessoa Jurídica
contratou o primeiro empréstimo para comprar novas máquinas de embalagem, no segundo comprou um computador e no terceiro - já como PJ conseguiu capital de giro para comprar produtos.
1º contrato R$ 360,00 2º contrato
R$ 1.490,00 3º contrato R$ 850,00
2006 / 2007 / 2009
1º contrato : 06 meses
2º contrato : 12 meses
3º contrato : 06 meses
2007 / 2008 / 2009
Pelo gerente do banco para o qual devia o cheque especial.
ACÁCIA (Elegância)
Cabeleireira - Salão de Beleza
Fez dois contratos, no primeiro comprou secadores de cabelo e pia para lavar, no segundo comprou cadeiras de cabeleireira e produtos para o salão.
1º contrato R$ 1.750,00 2º contrato R$ 960,00
2007 / 2008
1º contrato : 12 meses
2º contrato : 12 meses
2008 / 2009
Pelo Jornal e por entrevista na rádio
CAMÉLIA (Reconhecimento)
Loja de Roupa Infantil
Tem registro na Prefeitura como vendedora ambulante, solicitou o primeiro contrato para comprar armários e material para embalar as roupas - sacolas estampadas com sua marca.
1º contrato R$ 1.100,00
20071º contrato : 12 meses
2009Entrevista na rádio
AMARÍLIS (Orgulho)
Loja de roupas - brechó
contratou o primeiro empréstimo para reformar a loja.
1º contrato R$ 2.700,00
20081º contrato : 09 meses
2009Uma cliente e pelo jornal
PETÚNIA (vencer obstáculos)
Carro de Caldo de cana
contratou o primeiro empréstimo para compra o carrinho de caldo de cana, mora em frente uma escola e uma fabrica, fato que facilitou o convencimento dos agentes de crédito para autorizar o empréstimo.
1º contrato R$ 1.800,00
20071º contrato : 14 meses
2009
A diretora da escola próxima a sua casa a ajudou
LÍRIO (Sorte) Carrinho de lanches
Conseguiu dois créditos, o primeiro foi para comprar o carrinho e o segundo comprou a estrutura do carrinho de lanches que montou sobre uma pick-up
1º contrato R$ 2.050,00 2º contrato
R$ 1.400,00
2007 / 2008
1º contrato : 12 meses
2º contrato : 08 meses
2009 / 2009
Pelo jornal e pela rádio
181
VIOLETA (Lealdade)
Pessoa Jurídica - Comércio de Roupas
contratou dois empréstimos. O primeiro emprestou para comprar balcões expositores e o segundo para capital de giro de compra.
1º contrato R$ 630,00 2º contrato
R$ 1.500,00
2007 / 2008
1º contrato : 07 meses
2º contrato : 06 meses
2007 / 2009
Um amigo que já havia emprestado.
Notas:
182
i Nesta dissertação entendemos por Mobilidade Social, a possibilidade de melhoria das condições de vida dessa população em termos de seu usufruto de bens e serviços necessários a uma sobrevivência com dignidade.
ii Para esta dissertação buscamos os modelos de redistribuição de renda aplicados no Brasil, a partir de FHC 2002,.(..renda mínima, renda cidadã, bolsa escola, discussões sobre bolsa alimentação e auxilio gás)
iii Entendemos como “mobilidade social” a possibilidade de melhoria das condições de vida presente. A análise sob a ótica capitalista é o desafio.
iv Renda per capita, conceituada como renda auferida por pessoa no contexto de um núcleo familiar ou social - Atualmente a Referência mais utilizada para análises quantitativas de pobreza, porém existem outras iniciativas e estudos sobre outros indicadores que possam mensurar o nível de pobreza e que procuram avaliar principalmente as questões locais, onde as pessoas se desenvolvem (Ex índice PIB que avalia e agrega o potencial de felicidade das pessoas, a sua realização pessoal)
v No contexto atual do sistema capitalista observa-se que o modelo está esgarçado e a atual crise financeira 2008/2009 gerada pelos bancos, a partir da hegemonia do “dólar” norte americano responde, em parte, por esta situação. Talvez seja a grande oportunidade para perceber e impor alguns limites ao avanço desenfreado do capital sobre o homem.
vi Condição de desigualdade pela posse e retenção da renda, comprovada por inúmeras pesquisas sociais e econômicas, com desdobramentos no poder político..(..concentração de renda)
vii As questões relacionadas ao mundo do trabalho - a questão do trabalho se insere e permeia todas as análises.
viii Concebendo o Brasil inserido num contexto mundial e recebendo as influências dessa economia desnacionalizada – sem pretensão de realizar estudos aprofundados na área da economia financeira.
ix É importante diferenciar Inserção social de Integração social – Segundo o conceito de Robert Castell em Anete Brito , p183, “Favorecer a Integração Social como recurso para
contrabalançar as forças sociais. Forças estas que pressionam para uma dinâmica excludente. Distingue de inserção social que atua em setores específicos e não contempla um dinâmica que tem caráter
estrutural,
x Bangladesh, Pequeno país no sul da Ásia com área de 147 mil km², quase que totalmente circundado pela Índia, com população predominantemente de religião Islâmica (83%) com pouco mais de 160 milhões habitantes, sendo 70 % concentrados na área rural. (dados 2007) http://www.portalbrasil.net/asia_bangladesh.htm
xi Previsto no estatuto social de formação das instituições financeiras. Circular BACEN,2008
xii É importante analisar se o agrupamento dos programas sociais num único programa, permitiu a utilização dos “serviços” que são realizados nos estados e municípios , como os de cadastramento e levantamento de dados. Ações locais teriam alcance maior, em nível regional ou federal contribuindo para projetos regionalizados, partindo da valorização das próprias experiências municipais que acabaram por convergir para o atual Bolsa Família. Os estudos realizados identificam propostas locais centradas nos municípios que fizeram, (e ainda fazem) coleta de dados que trabalhados contribuem com informações gerenciais importantes.
xiii No sentido de perpetuação da pobreza, com gerações de pessoas sendo “condicionadas” para serem pobres, ....Mãe pobre ....filhos pobres?.
xiv “Padrão-ouro - O sistema de organizações monetárias sob o qual o valor do dinheiro de um país é legalmente definido como uma quantidade fixa de ouro, e o meio de circulação doméstico toma a forma de moedas de ouro e/ou notas conversíveis à vista em ouro a taxas legalmente determinadas. Duas condições básicas são necessárias para que um padrão-ouro pleno exista: a obrigação da autoridade monetária de trocar a moeda doméstica por ouro em qualquer quantidade à taxa especificada (isto inclui a cunhagem irrestrita de
moedas a partir de lingotes de ouro entregues a ela) e a liberdade de importação e exportação de ouro por parte dos indivíduos” (Pearce, p. 171-2). PEARCE, D.W. (Ed.) (1991). The MIT dictionary of modern economics. 3rd. ed. Cambridge : MIT Press.
xv O conceito de ‘transnacionalização’ adotado é o conferido pelo Professor Paul Singer apresentado no texto dos relatórios da pesquisa “O Brasil e a economia mundial: crise e perspectivas”, julho de 1984, disponível e acessada através do endereço virtual http://www.cebrap.org.br/imagens/Arquivos/introducao_7.pdf , acessado em julho/2009. “ A transnacionalização redefine a presença das grandes firmas que atuam em vários paises, redefine o funcionamento dos oligopólios e dos papeis econômicos do Estado e redefine a capacidade de autonomia deste na elaboração e execução das políticas econômicas nacionais. Em outras palavras, as transações externas aumentaram sua importância dentro de cada economia nacional; os sistemas financeiros integraram-se à escala internacional e as grandes firmas, as corporações transnacionais criaram novos vínculos entre os paises, sejam produtivos e comerciais , sejam de serviços e de tecnologia. Esse conjunto de fatores externos – que configuram a transnacionalização – passou a condicionar cada realidade nacional de uma maneira mais profunda e distinta da que prevalecia anteriormente. Ou seja, a transnacionalização da produção e do capital produziu um conjunto de alterações que redundaram na quebra de autonomia na definição e na execução de políticas econômicas nacionais, e essa é uma realidade distinta da do período 1929 – 1950.
xvi “Diplomacia do dólar” - Foi durante a administração do presidente republicano Willian Taft - EUA (1909-1913) que a expressão "diplomacia do dólar" consagrou-se. O termo foi adotado após a publicação de uma brochura escrita por James Leets intitulada United States and Latin América: dollar diplomacy, aparecida em 1921. No entanto, quem lhe deu forma política foi o secretário de Estado Philander C. Knox, que, numa declaração, afirmou ter ‘obtido’ para os financistas e construtores norte-americanos, por meios não confessáveis, contratos e concessões no valor de 200 milhões de dólares utilizando-se de dois magros créditos de 100 mil dólares cada um. Desta forma, o Departamento do Estado se transformava num Ministério dos Lucros Exteriores. A sedimentação oficial desta política foi consagrada pelo próprio presidente Taft: "Se por um lado é verdade", disse ele, "que nossa política estrangeira não deve se desviar do reto caminho da justiça, isso não exclui de nenhum modo uma atividade de intervenção para assegurar aos nossos comerciantes e aos nossos capitalistas investimentos e recursos que beneficiem ambas as partes" - "Os Estados Unidos são felizes ao encorajar e apoiar os banqueiros americanos que aceitaram estender sua mão caridosa a esses países para prover sua reabilitação financeira"(discurso do Presidente Willian Taft no Congresso em 3 de dezembro de 1912) consulta realizada em Voltaire Schilling, http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/roosevelt_dolar.htm acessado em mar 2009.
xvii off-shore -Termo utilizado em economia que define a não fixação de território para o capital financeiro.
xviii É importante esclarecer que a formação do FED Federal Reserve atende aos interesses privados, pois sendo de origem privada, somente é comparado aos demais “Bancos Centrais” pelo poder de decisão sobre a economia nacional norte americana.
xix Organização internacional com compromisso dos princípios da democracia representativa e de economia de livre mercado. Formada pelos 30 países que produzem metade de toda riqueza no mundo,com sede em Paris.
xx “mercados emergentes” e “ciranda financeira global”, O termo Mercados emergentes é comumente usado para descrever o negócio e a atividade de mercado em industrialização ou regiões emergentes do mundo. O termo "ciranda financeira" foi cunhado por Maria da Conceição Tavares, e divulgado em 1979, numa manchete do "Jornal do Brasil". É o giro financeiro apenas com fins especulativos, não há investimento na produção sem gerar empregos ou riquezas para o país.
xxi Trabalho material, plausível, que pode ver o resultado mediato da sua materialização.
xxii Está fora do alcance das mãos, mas produz mais valia, é a variação da complexidade do trabalho, a comunicabilidade das máquinas.
xxiii No pensamento de Jurgen Habermas, a inserção significa que a ordem política se mantém aberta para incluir também os marginalizados, inserindo-os, sem confiná-los na uniformidade da comunidade homogênea de um povo. Para isso, é significativo o princípio da voluntariedade, onde todos estão dispostos a conviver pacificamente, excluindo as diferenças culturais e, conseqüentemente, a motivação de conflitos.
xxiv Produção - no sentido de emancipação pelo ‘conhecimento’ integrado e compartilhado, não somente à informação necessária para a produção industrial imediata e não congruente na formação do pensamento e legitimação da continuidade através do crescimento e da reprodução em sociedade.
xxv Mais Valia Relativa. – expansão das relações de troca entre os setores da produção.
xxvi Modelos de discursos do SEBRAE, www.sebrae.com.br
xxvii Conceitos e informações disponibilizadas on-line e copiladas através da site do MDS www.mds.gov.br/bolsafamilia/
CadÚnico: Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), disciplinado pelo Decreto n° 6.135, de 36 de junho de 2007, e regulamentado pela Portaria nº 376, de 16 de outubro de 2008, é um instrumento de coleta de dados e informações com o objetivo de identificar todas as famílias de baixa renda existentes no país.
xxviii Seminário, População, Pobreza e Desigualdade, Belo Horizonte MG, 2007,
xxix Crédito Comunitário: a experiência da Portosol pesquisador no CEDEC. Marco Antonio Carvalho Teixeira - Instituição Comunitária de Crédito Portosol fundada em 17 de janeiro de 1996, como resultado de um antecedente histórico representado por duas iniciativas formuladas por atores sociais distintos. A primeira deu-se através do Plano de Desenvolvimento Econômico - o PDE, elaborado pela Prefeitura de Porto Alegre tinha como objetivo geral democratizar o desenvolvimento econômico da cidade e previa, dentre seus subprogramas, a instalação de uma linha de crédito destinada aos micro e pequenos empreendedores. A segunda iniciativa foi formulada pelo legislativo através do Projeto de Lei n.º 275/91, propondo a criação do Banco Municipal de Porto Alegre (BAMPA).
xxx Muhammad Yunus, 2001
xxxi Programa de Geração de Emprego e Renda (PROGER) é um programa instituído pelo Ministério do Trabalho (FAT) com a finalidade de financiar projetos de investimentos que proporcionem a geração de emprego, viabilizando o desenvolvimento sustentado das microempresas e empresas de pequeno porte para: abrir um negócio novo, ampliar ou modernizar a sua empresa. O financiamento pode ser obtido através do Banco do Brasil ou Caixa Econômica Federal. O PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – é um programa do Governo Federal criado em 1995, com o intuito de atender de forma diferenciada os mini e pequenos produtores rurais que desenvolvem suas atividades mediante emprego direto de sua força de trabalho e de sua família. Tem como objetivo o fortalecimento das atividades desenvolvidas pelo produtor familiar, de forma a integrá-lo à cadeia de agronegócios, proporcionando-lhe aumento de renda e agregando valor ao produto e à propriedade, mediante a modernização do sistema produtivo, valorização do produtor rural e a profissionalização dos produtores familiares.
xxxii A Accion International é uma organização privada, sem fins lucrativos, com sede nos Estados Unidos, é composta por uma rede de 25 organismos filiados que trabalham em trinta países latino-americanos (e seis cidades americanas), assessorando-os na metodologia de atuação com microcrédito, e no desenvolvimento institucional. Entre 1991 e 1997 a Accion concedeu 1,7 bilhão de dólares em empréstimos, uma média de 600 dólares, a mais de 1,3 milhão de microempreendedores que trabalham arduamente em seus negócios.
xxxiii Ferroban é nome fantasia da Ferrovia Bandeirantes S.A., empresa que arrematou a Malha Paulista da Rede Ferroviária Federal em 1998 em processo de privatização; após a transferência da FEPASA pelo Estado de São Paulo para a Rede Ferroviária Federal. Originalmente da Malha Paulista (ex FEPASA da Rede Ferroviária Federal, no processo de privatização sofreu duas cisões, o trecho de Vale Fértil a Uberlândia ficou sob o controle da Ferrovia Centro Atlântica (FCA) e os trechos de Iperó a Apiaí e Rubião Junior a Presidente Epitácio que ficou sob o controle da Ferrovia Sul Atlântica (FSA) que posteriormente passou a ser denominada América Latina Logística (ALL)
xxxiv O Porto de Santos, localizado no município de Santos, no estado de São Paulo, é o principal porto brasileiro. É também o porto de contêineres mais movimentado da América Latina Ele apresenta grande diversidade de terminais de movimentação de cargas - granéis sólidos e líquidos e carga geral. O sistema de acessos terrestres ao porto é formado pelas rodovias Padre Anchieta e Imigrantes e pelas ferrovias Ferroban e MRS.
xxxv Setor terciário - Distribuição setorial e regional da riqueza gerada - tipologia criada a a partir da análise fatorial dos dados setorias contidos nos PIBs municipais definindo um conjunto de sete tipos de municípios - Notas Metodológicas - Atlas SEADE da Economia Paulista - SEADE 2007 - http://www.seade.gov.br/produtos/atlasecon/notas/cap6_nota.pdf
xxxvi O índice ou coeficiente de Gini é uma medida de concentração ou desigualdade. É comumente utilizada para calcular a desigualdade da distribuição de renda. O índice de Gini aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia de "0 a 1", onde o zero corresponde a completa igualdade de renda, ou seja, todos têm a mesma renda e 1 que corresponde à completa desigualdade, isto é, uma só pessoa detém toda riqueza, e as demais nada tem.
xxxvii O IDH - O objetivo da elaboração do Índice de Desenvolvimento Humano foi oferecer um contraponto um outro indicador muito utilizado, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas uma dimensão econômica do desenvolvimento. Criado por Mahbub ul Haq com a colaboração do economista indiano Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1998, O IDH pretende ser uma medida geral, sintética, do desenvolvimento humano.
xxxviii Muar, pequeno animal criado nas regiões sulinas e que tinha enorme resistência para as estradas da época, que podia carregar maior volume de mercadoria.
xxxix Região central do Brasil inicialmente conhecida pela extração de ouro em abundância, Minas Gerais.
xl Adolfo Frioli, historiador Sorocabano., pesquisador da Geo-história da região de Sorocaba
xli Denominação dada aos apetrechos, acessórios e ferramentas que o cavaleiro, tropeiro, levava em sua viagem. Incluía desde alicates, panelas, cobertores até ferramentas para extração de dentes. (Vera Job)
xlii Invernada: Termo que designa a estação para preparação e estocagem de alimentos para manutenção dos animais durante o período do inverno.
xliii Denominação de Sorocaba, na língua Tupi- Guarani .
xliv “......nessa ocasião que se vai produzir a construção da imagem de Manchester Paulista. A expressão foi utilizada a partir de 1905, depois de uma visita do superintendente da Estrada de Ferro União Sorocabana e Ytuana (E.F.U.S.Y), Alfredo Eugenio de Almeida Maia, para inaugurar um melhoramento da empresa. Ele usou em seu discurso a expressão Manchester Brasileira, mas a referência àquele centro fabril britânico foi incorporada ao imaginário sorocabano, fazendo com que o setor têxtil acabasse “sendo o grande responsável pela imagem de modernidade em Sorocaba” (PINTO, 2003, p. 93).
xlv Sorocabana, A implantação da estrada de ferro careceu da instalação de uma oficina que se tornou referência pela produção de peças de reposição e ferramentas utilizadas nas máquinas e equipamentos e estações da ferrovia. Produzia-se desde peças para locomotivas, carteiras escolares para aas “escolas dos
filhos de ferroviários” até bancos para estações ferroviárias. Com isto foi se estimulando uma cultura de “carreira” profissional para os filhos dos ferroviários e se estabelecendo um novo grupo pertencente á sociedade sorocabana. Aliada a estes profissionais foram se implantando inúmeras oficinas prestadoras de serviços que consumiam grande um grande contingente de mão de obra não especializada.
xlvi A condição de proprietária de terras e imóveis advêm da relação entre o fim do tráfico negreiro, a imigração de trabalhadores livres, a mercantilização da terra e a abolição da escravidão africana que está no entendimento de Lígia Osório Silva (SILVA, Lígia Osório. Terras devolutas e latifúndio; Efeitos da Lei de 1850. Campinas-SP: Unicamp, 1996.p14 ) ao tratar do significado da Lei de Terras na definição das terras devolutas no Brasil. Foi interpretada como ato complementar à lei Eusébio de Queiroz (que proibiu o tráfico negreiro). A Lei de Terras se integra no processo social de re-significação da terra na reprodução das relações sociais, como reserva de valor, como referencial de riqueza, além de se estabelecer como o local da produção.
xlvii As mulheres representavam, em junho de 2005, a maioria da população em idade ativa (53,6%), e os homens, 46,4%. Por faixa etária, a população em idade ativa ficou assim distribuída: 9,1% de 10 a 14 anos; 6,0% de 15 a 17 anos; 15,0% de 18 a 24 anos; 44,7% de 25 a 49 anos; e 25,1% entre os que tinham 50 anos ou mais. Acessado em junho 2009 e disponível no: site http://www1.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme_nova/pme122002crrj.shtm
xlviii Em desenvolvimento - Definição adotada para classificar grupos de países no contexto capitalista de desenvolvimento econômico dependente.
xlix Pequena economia: atribui-se a definição para as movimentações de pequenos valores individualmente que, somados a totalidade de pobres e sobreviventes da grande economia apresentam valores expressivos. Segundo dados do Banco do Nordeste, somente da região nordeste do Brasil em 2008, dos mais de 1 milhão de empréstimos em operações realizadas, 70,07% foram de até R$ 1.000,00, movimentando R$ 1.087.558.203,22 em crédito concedidos a pessoas, muitas, em situação de inadimplência com o sistema de crédito nacional ou sem condições de arcar com as barreiras de limitações para acesso ao sistema de concessão de crédito. “Pequena economia” é conceito formulado pelo geógrafo Prof. Milton Santos.
l Francisco de Oliveira, entrevista CEBRAP, O Vicio da Virtude, 2004 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-33002006000300012
li A Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) é considerada a mais abrangente e detalhada pesquisa domiciliar realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no Brasil. Os dados estatísticos publicados em setembro de 2009, referentes a renda, trabalho e acesso a bens e serviços, foram coletados em setembro de 2008. Os principais resultados positivos da Pnad são: • Aumento do número de empregos formais e recuo do desemprego. • Crescimento da renda média do trabalhador e dos domicílios. • Índice de escolarização cresceu entre jovens. Problemas que ainda precisam ser sanados: • Distribuição de renda: a parcela 10% mais rica da população brasileira concentra 42,7% dos rendimentos do trabalho, enquanto os 10% mais pobres ficam com o 1,2% restante. • Diferenças entre regiões do país: Centro-Oeste é a mais rica, Nordeste a mais pobre, proporcionalmente, em relação à renda média do trabalho. • A taxa de analfabetismo apenas se estabilizou: um em cada dez jovens de 18 anos ou mais não sabe ler nem escrever. • Falta saneamento básico: um em cada quatro lares brasileiros não possui nenhum tipo de coleta de esgoto. • Acesso a internet ainda é baixo: 5,3 acessos em cada 100 mil habitantes, contra uma média de 30 acessos em países europeus. http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinteseindicsociais/default.shtm
lii A reprodução ampliada do capital . A compreensão das partes que compõem o valor é fundamental para a compreensão de como se dá a reprodução ampliada do capital – é justamente na composição do valor que reside o segredo para se compreender como é possível que uma sociedade aumente seu capital. A importância dessa compreensão fica clara quando se sabe que os economistas liberais falharam justamente ao não ver o capital constante. Para compreender como se dá a reprodução do capital, é preciso entender como se divide a produção social – e ela se divide como o valor das mercadorias: uma seção (a que chamaremos seção I) produz as mercadorias que repõem o capital constante; a outra (seção II), as mercadorias de consumo final que compõem o capital variável e a mais-valia. A reprodução do capital, portanto, se dá da seguinte forma: a seção I, ao produzir mercadorias, consome o capital constante produzido por ela mesma, e o capital variável produzido pela seção II; a seção II, o capital variável que ela mesma produziu, e o capital constante produzido pela outra. No entanto, desta forma não há aumento do capital social, mas apenas sua reprodução simples. Para haver reprodução ampliada do capital, é preciso que parte da mais-valia se converta em capital constante, possibilitando que a nova produção ocorra numa escala maior. E isto revela um erro fundamental dos economistas liberais, que não conseguem explicar a ampliação da produção, senão pelo bordão “a produção cria sua própria demanda” O valor de uma mercadoria após sua produção é maior do que o valor do capital constante e do capital variável empregados, porque foi agregado valor através do trabalho aplicado. A parte do valor que “sobra”, denominada mais-valia ou sobretrabalho, é apropriada pelo capitalista. No entanto, ele não a guarda para si, mas a investe novamente na produção, pois a concorrência dos demais capitalistas o obriga a modernizar a produção, produzindo mercadorias em maior quantidade e de menor valor unitário. Conseqüentemente, a produção capitalista não tem como fim o enriquecimento do próprio capitalista, mas é uma produção pela produção. É no crescimento do capital constante que reside a possibilidade da reprodução ampliada do capital. Quando realiza sua produção (ou seja, vende-a no mercado), o capitalista adquire a capacidade de ampliá-la. Esta capacidade se transforma em necessidade com o avanço tecnológico e a diminuição do valor socialmente necessário para a produção de uma unidade de mercadoria. Para que possam competir uns com os outros, os capitalistas investem na modernização da produção. Ao se modernizar a produção, portanto, aumentam os custos com capital preexistente e diminui o valor agregado às mercadorias em cada etapa da produção. Aumenta a parte do capital constante, em detrimento do capital variável e da mais valia. Concorre para isto o fato de que cada novo avanço da técnica leva ao surgimento de novos ramos industriais, elevando o número de etapas da produção social, alterando a proporção entre as duas seções da economia em favor daquela que produz capital constante.
liii Boaventura S. Santos (2005) afirma que o modelo da economia de mercado tem aumentado as desigualdades sociais e isto é verificável tanto nos países centrais como periféricos (claro que com mais intensidade e gravidade nestes últimos). Diz ele, das 100 maiores economias do mundo, 47 encontram-se nas mãos de grandes empresas multinacionais e há várias empresas privadas hoje que possuem mais riquezas que muitos países. Segundo dados da ONU, dos 84 países mais pobres, 54 diminuíram seu PIB, sendo que destes 14 reduziram em torno de 35%. Atualmente, 1,5 milhões de pessoas vivem com menos de 1 dólar/dia; e outras 2 milhões vivem com até 2 dólares/dia. Mesmo nos EUA as desigualdades aumentaram onde 20% das famílias mais ricas detêm em torno de 80% das riquezas, situação nunca vista antes. As 200 pessoas mais ricas do mundo entre 1994 a 1998 dobraram suas riquezas. Portanto, após a crise da década de 70, com a consolidação do capitalismo do mercado e o fim do Estado do bem estar social ou da providência, há um crescimento considerável das desigualdades sociais e enriquecimento das grandes corporações transnacionais. http://www.espacoacademico.com.br/087/87ebert.htm, SANTOS, Boaventura de Souza. A globalização e as ciências sociais. São Paulo: Cortez, 2005 (25-102)
liv Parto para esta afirmação concebendo a exploração político partidária claramente adotada pelo governo federal e pelas movimentações de capital financeiro que acorrem aos municípios pobres brasileiros pelos recursos destinados ao Bolsa família que nas datas da liberação são motivo de festa para muitos municípios.
lv A questão da funcionalidade é descrita em como “funcionar” no sistema capitalista, onde o sistema financeiro é protegido e constantemente blindado sustentando-se no Estado com a proteção das instituições e dos poderes constituídos;
lvi Executados, no sentido de serem absorvidos sem a devida preocupação com o debate político, ignorando e dispensando em muitos casos o potencial local para avaliar e propor alternativas.
ERRATA PÁGINAPARÁGRAFOLINHATEXTO REDIGIDOALTERAR/ ACRESCENTARResumo–31ªconceitosistemaSummary-26ªcurrentsystem304°4ªatividade meio que o individuo utilizaatividade meio,
que o individuo utiliza333°5ªutilizautiliza,35citação9ªsupriremsuprir35citação12ªnanão372°2ªseguindo oprosseguindo no1152°6ªrepresentam“representam”1153°3ªcondiçãosituação1154º5ºcondiciona-
secondicionado167---Anexo D – Depoimentos coletados nas entrevistas