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1 Diretoras do Instituto de Educação Presidente Kennedy (Rio Grande do Norte, 1965 - 1975) Maria Claudia Lemos Morais do Nascimento (UFRN) E-mail: [email protected] Maria Arisnete Câmara de Morais (UFRN) E-mail: [email protected] RESUMO A pesquisa analisa as Práticas das Professoras Diretoras que dirigiram o Instituto de Educação Presidente Kennedy em Natal, Rio Grande do Norte, entre (1965 1975). Insere-se na temática da História das Instituições escolares e da formação de professores. Fundamenta-se nos pressupostos da História Cultural de (CHARTIER, 1990), (MORAIS, 2002; 2003; 2006), dentre outros autores. Realizamos a coleta de dados no acervo do Instituto Superior de Educação Presidente Kennedy e no acervo do Grupo de Pesquisa História da Educação, Literatura e Gênero/UFRN. Entre a presença das Professoras analisadas, destaco: Francisca Nolasco Fernandes, primeira Diretora da Escola Normal de Natal, nomeada em 30 de setembro de 1952; Crisan Siminéa, diretora da Instituição entre os anos de 1967 a 1970; Ezilda Elita do Nascimento, diretora da unidade Escola de Aplicação entre 1963 a 1968; Teresinha Pessoa Rocha, diretora do Jardim de Infância entre 1960 a 1970 e Maria Arisneide de Morais entre os anos de 1970 a 1975. O estudo evidenciou que estas professoras fazem parte das primeiras diretoras do Instituto de Educação Presidente Kennedy e por, a partir delas, especificamente na figura de Dona Francisca Nolasco Fernandes, observarmos o estabelecimento de um novo quadro de gestão predominantemente feminino. Esse trabalho justifica-se pelo nosso interesse em conhecer e analisar o papel dessas mulheres frente à educação. Palavras-Chave: História da Educação. Instituições escolares. Diretoras. Palavras Iniciais Este trabalho faz parte do Projeto História da Leitura e da Escrita no Rio Grande do Norte (1910-1980)/CNPq, vinculado ao Grupo de Pesquisa História da Educação, Literatura e Gênero (MORAIS, 2014). A relevância em pesquisar a atuação das Professoras/Diretoras do Instituto de Educação Presidente Kennedy justifica-se pelo nosso interesse em conhecer e analisar o papel dessas mulheres frente à educação. Esta investigação pretende contribuir para a historiografia da educação no Brasil e, em especial, no estado do Rio Grande do Norte.

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Page 1: Diretoras do Instituto de Educação Presidente Kennedy (Rio ... · Oliveira – Dona Chicuta – diretora (MORAIS, 2006). Dona Chicuta, foi a primeira mulher a dirigir a Escola Normal

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Diretoras do Instituto de Educação Presidente Kennedy

(Rio Grande do Norte, 1965 - 1975)

Maria Claudia Lemos Morais do Nascimento (UFRN)

E-mail: [email protected]

Maria Arisnete Câmara de Morais (UFRN)

E-mail: [email protected]

RESUMO

A pesquisa analisa as Práticas das Professoras Diretoras que dirigiram o Instituto de

Educação Presidente Kennedy em Natal, Rio Grande do Norte, entre (1965 – 1975).

Insere-se na temática da História das Instituições escolares e da formação de

professores. Fundamenta-se nos pressupostos da História Cultural de (CHARTIER,

1990), (MORAIS, 2002; 2003; 2006), dentre outros autores. Realizamos a coleta de

dados no acervo do Instituto Superior de Educação Presidente Kennedy e no acervo do

Grupo de Pesquisa História da Educação, Literatura e Gênero/UFRN. Entre a presença

das Professoras analisadas, destaco: Francisca Nolasco Fernandes, primeira Diretora da

Escola Normal de Natal, nomeada em 30 de setembro de 1952; Crisan Siminéa, diretora

da Instituição entre os anos de 1967 a 1970; Ezilda Elita do Nascimento, diretora da

unidade Escola de Aplicação entre 1963 a 1968; Teresinha Pessoa Rocha, diretora do

Jardim de Infância entre 1960 a 1970 e Maria Arisneide de Morais entre os anos de

1970 a 1975. O estudo evidenciou que estas professoras fazem parte das primeiras

diretoras do Instituto de Educação Presidente Kennedy e por, a partir delas,

especificamente na figura de Dona Francisca Nolasco Fernandes, observarmos o

estabelecimento de um novo quadro de gestão predominantemente feminino. Esse

trabalho justifica-se pelo nosso interesse em conhecer e analisar o papel dessas mulheres

frente à educação.

Palavras-Chave: História da Educação. Instituições escolares. Diretoras.

Palavras Iniciais

Este trabalho faz parte do Projeto História da Leitura e da Escrita no Rio

Grande do Norte (1910-1980)/CNPq, vinculado ao Grupo de Pesquisa História da

Educação, Literatura e Gênero (MORAIS, 2014). A relevância em pesquisar a atuação

das Professoras/Diretoras do Instituto de Educação Presidente Kennedy justifica-se pelo

nosso interesse em conhecer e analisar o papel dessas mulheres frente à educação. Esta

investigação pretende contribuir para a historiografia da educação no Brasil e, em

especial, no estado do Rio Grande do Norte.

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Entre a presença das diretoras, destacamos: Francisca Nolasco Fernandes,

primeira Diretora da Escola Normal de Natal, nomeada em 30 de Setembro de 1952 a

30 de Janeiro de 1956; e na segunda gestão de 24 de Março de 1959 a 1966; Crisan

Siminéa em 1967 a 1970; Ezilda Elita do Nascimento, diretora da unidade Escola de

Aplicação, entre os anos de 1963 – a 15 de março de 1968; Teresinha Pessoa Rocha,

diretora do jardim de infância entre os anos de 1960 a 1970 e Maria Arisneide de

Morais, diretora da Escola Normal entre 1971 a 1975. O Instituto de Educação

Presidente Kennedy consolidou-se como responsável pelo preparo dos mestres

primários no Rio Grande do Norte.

O trabalho fundamenta-se metodologicamente nas teorizações de Chartier

(1990) que evidencia a importância do estudo sobre as práticas para a compreensão de

uma realidade social numa perspectiva histórica. O conceito de representação postulado

por este autor nos permite entender as práticas das referidas diretoras/professoras como

a representação de uma realidade vivenciada pelas diretoras. Essa representação se

configurava na maneira como administravam o Instituto de Educação Presidente

Kennedy no período analisado.

Desta forma, também entendemos que os “atores envolvidos no processo

educativo” conforme assinala Gatti Júnior (2002), são representados pelas professoras

estudadas. Nessa perspectiva, se torna indispensável a análise do cotidiano do espaço

materializado no Instituto de Educação Presidente Kennedy, buscando configurar as

práticas dessas gestoras nos diversos acontecimentos que ajudaram a reconstituir em

parte suas trajetórias profissionais vividas na referida instituição.

Na busca por fontes documentais acerca das práticas das diretoras e professoras

Francisca Nolasco Fernandes, Crisan Siminéa, Ezilda Elita do Nascimento, Teresinha

Pessoa Rocha e Maria Arisneide de Morais, pesquisamos nos arquivos do Instituto de

Educação Superior Presidente Kennedy (atual nomenclatura da Instituição), no Arquivo

Público do Estado do Rio Grande do Norte e no Acervo do Grupo de Pesquisa História

da Educação Literatura e Gênero e também nos acervos disponíveis das professoras

estudadas.

Nesses acervos dialogamos com – Livro de informações sobre a Escola Normal

de Natal, resumo das atividades da secretaria de Educação e Cultura do período entre

1964-1965; e planos para o ano de 1966, fotografias, registros de cursos, diplomas das

educadoras e dos acervos pessoais disponíveis. Fizemos, ainda, uma entrevista com a ex

diretora Maria Arisneide de Morais, realçando as suas atividades enquanto diretora do

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Instituto de Educação Presidente Kennedy. Pesquisamos ainda no livro Menina feia e

amarelinha (FERNANDES, 1973) que forneceu informações sobre a atuação da

Diretora Francisca Nolasco Fernandes. Estes documentos permitiram o conhecimento

das atividades desenvolvidas nesse estabelecimento de ensino, sob a coordenação das

referidas educadoras. Tomar as práticas dessas professoras e diretoras como objeto de

pesquisa, significa também estudar importantes acontecimentos que nortearam o

contexto educacional do Rio Grande do Norte.

Sobre o Instituto de Educação Presidente Kennedy

O Instituto de Educação Presidente Kennedy foi construído e inaugurado em

22 de novembro de 1965. Essa realização se deu no Governo Aluísio Alves, com

investimentos advindos do convênio firmado entre o Estado/ Superintendência do

Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), Ministério da Educação (MEC) e a Aliança

para o Progresso/United States Agency for International Development (USAID).

Destinou-se à instalação da Escola Normal de Natal, à Escola de Aplicação, ao Jardim

de Infância, bem como a criação de aperfeiçoamento de professores e cursos de

especialização.

O Instituto de Educação Presidente Kennedy, no final do ano de 1966, formava

a sua primeira turma, conferindo aos formandos o diploma de professor primário,

assinado pelo secretário de Educação Jarbas Bezerra e Francisca Nolasco Fernandes de

Oliveira – Dona Chicuta – diretora (MORAIS, 2006). Dona Chicuta, foi a primeira

mulher a dirigir a Escola Normal de Natal, após sete direções masculinas, e esteve a

frente dessa instituição entre os anos de 1952-1956 e 1959-1966, período de mudanças

de espaço, estrutura e nomenclatura - Instituto de Educação e, posteriormente passou a

se chamar Instituto de Educação Presidente Kennedy.

Além de Dona Francisca Nolasco Fernandes, enfatizamos nesse trabalho a

presença feminina nas direções do Instituto Kennedy, seja na direção geral, seja nas

direções das suas unidades: Escola Normal de Natal, Escola de Aplicação e Jardim de

Infância. A presença das professoras/diretoras: Crisan Siminéa (diretora geral), Ezilda

Elita do Nascimento (diretora da Escola de Aplicação), Teresinha Pessoa Rocha

(diretora do Jardim de Infância) e Maria Arisneide de Morais (diretora geral da Escola

Normal de Natal) que atuaram nessa Instituição e contribuíram para o funcionamento e

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consolidação deste espaço de formação de professores, durante a primeira década de seu

funcionamento.

Francisca Nolasco Fernandes

Francisca Nolasco Fernandes, filha de Pedro Nolasco de Sena e Paulina Maria

da Conceição, foi Educadora, escritora e jornalista; nasceu em Jardim de Piranhas,

Caicó, Rio Grande do Norte em 15 de Dezembro de 1908. “Caicó, sua cidade natal, está

sempre presente nos seus textos, nas suas memórias.” (MORAIS, 2006, p. 35). Aspectos

que a mestra Francisca Nolasco revive em suas crônicas e reminiscências.

Dona Chicuta, foi a primeira mulher a dirigir a Escola Normal de Natal, após

sete direções masculinas, e esteve a frente dessa instituição entre os anos de 1952-1956

e 1959-1966, inclusive quando essa instituição passou a funcionar no Instituto de

Educação Presidente Kennedy. As marcas desse período de significativas mudanças,

nos usos e costumes da sociedade natalense, são abordadas no livro de Morais (2006),

intitulado Chicuta Nolasco Fernandes, intelectual de mérito.

Foto 1 – Dona Chicuta Nolasco entre as normalistas no Instituto de Educação – Atualmente E.

E. do Atheneu Norte – Riograndense (Década de 1950).

Fonte: Aquino (2007).

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De professora à primeira Diretora. Em 04 de Junho de 1951 Dona Chicuta foi

nomeada professora da Escola Normal da cadeira Português. Assim foi a história de sua

admissão como professora dessa instituição:

Segundo suas reminiscências, naquele tempo as pessoas alcançavam o

magistério por três caminhos: a) tempo útil de serviço público; b)

mérito provado no magistério; c) um bom pistolão. Ela, embora

relutante, incentivada pelo então diretor da Escola Normal, o professor

Clementino Câmara, embarcou na categoria C. (MORAIS, 2006, p.

64).

O ato de nomeação como Diretora da Escola Normal de Natal, saiu no Diário

Oficial de 30 de setembro de 1952, conforme o artigo 86 do decreto-lei n. 123 de 28 de

Outubro de 1941, ocupando a vaga existente deixada pelo professor Clementino

Hermógenes da Silva Câmara.

Francisca Nolasco Fernandes conquistou uma postura de educadora

competente, dedicada e atuante frente a instituição que tanto se orgulhara de fazer parte.

“Na direção da Escola Normal, entre as metas da professora Chicuta Nolasco Fernandes

estava a valorização das professorandas, a partir mesmo do uso do uniforme completo.”

(MORAIS, 2006, p. 82).

Dignificar e enaltecer a figura da normalista foram palavras de ordem

entre os objetivos da educadora Chicuta Nolasco Fernandes. Pretendia

despertar nas suas alunas a consciência da sua valorização

profissional, a dignidade da carreira escolhida e o seu papel relevante

na sociedade. ‘Elas estão por aí, formadas, mais de setecentas, durante

a minha gestão’ (MORAIS, 2006, p. 83).

O depoimento do então Suplente de Senador e ex Secretário de Educação do

Rio Grande do Norte, João Faustino, durante o governo Tarcísio de Vasconcelos Maia,

mostrou bem o lado competente e dinâmico de Chicuta Nolasco:

Na condição de secretária cuidava dos meus afazeres e torcia todos os

dias pelo sucesso do nosso trabalho, redigia a minha correspondência

pessoal e em cada carta respondida, sempre com a linguagem limpa e

perfeita, existia uma lição de amizade, um exemplo de educadora,

uma palavra de afeto. O texto de Dona Chicuta era refinado, cheio de

sentimentos e de contornos poéticos.

Três décadas nos afastam de um tempo promissor para a educação do

Rio Grande do Norte. Época em que se implantou o estatuto do

magistério, se qualificou doze mil professores que eram leigos, se fez

a chamada escolar, se construiu 1.200 salas de aula, se criou a

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orquestra sinfônica do Estado promovendo concertos didáticos nas

escolas públicas, se deu celeridade e eficiência à máquina pública.

No contexto desse sucesso, estavam as pessoas, foram elas que deram

vida ás coisas criadas, delas saíram o talento e o idealismo, quase

revolucionários, para promover mudanças e edificar o momento de

grandes realizações na educação do Rio Grande do Norte.

Dentre essas pessoas estava Dona Chicuta, a competente e sempre

admirada ex-diretora da escola Normal de Natal, amiga otimista diante

dos desafios do cotidiano. (MORAIS, 2006, p. 93).

Dona Chicuta continua lembrada pelos pesquisadores que se interessam pela

história da educação no Rio Grande do Norte, exemplo das pesquisas de Morais (2006)

e Silva (2013).

Crisan Siminéa

Nasceu na cidade de Angicos/RN, em 27 de outubro de 1927. Filha do casal

Francisco Siminéa Filho e Maria do Carmo Siminéa. Foi alfabetizada pela mãe em

Angicos e passou longo período da infância aos cuidados dos avós maternos na Fazenda

Jordão. Em 1936, seus pais vieram residir em Natal, a fim de que os filhos estudassem.

No ano de 1940, seu pai faleceu, e sua mãe ficando viúva, passou muitas

dificuldades para continuar criando os oito filhos. Apesar de seu pai ter sido funcionário

do Ministério da Agricultura, não deixou pensão para a família, tornando a luta materna

ilimitada para educar os filhos, por isso o amor de Crisan por sua mãe era

incomensurável (CARVALHO, [19--]).

A educadora iniciou sua carreira como professora em 1942, ministrando aulas

particulares. Cursou o Técnico em Contabilidade no Colégio Nossa Senhora das Neves

de 1943/1949 e foi bacharelada e licenciada em Letras Neolatinas pela Faculdade de

Filosofia Ciências e Letras de Natal - UFRN. Também Licenciada em Pedagogia

Habilitação em Supervisão Escolar no ano de 1976 pela UFRN. Obteve Mestrado

concluído na Universidade de São Paulo (USP) (CURRICULO..., [19--]).

Ministrou aulas em vários estabelecimentos de ensino na capital potiguar,

dentre os quais destacamos: o Instituto Sagrada Família, a Escola Padre Miguelino, o

Colégio Estadual Ateneu Norte-Rio-Grandense, a Escola Técnica Federal do Rio

Grande do Norte (atualmente Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do

Rio Grande do Norte – IFRN), o Colégio Santo Antônio Marista, a Associação Potiguar

de Ensino e Cultura, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte e a UNIPEC (atual

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nomenclatura Universidade Potiguar). Dos anos de 1960 a 1990, boa parte da vida da

professora é dedicada à educação, alternado e conciliando as funções de professora e

diretora. “Seu legado tem caráter didático e educacional através do qual é lembrada

como uma educadora de referência.” (SILVA, 2013, p. 130).

Integrou o conselho Estadual de Educação e como representante deste, o

conselho de Administração do Instituto de Formação de Professores Presidente

Kennedy.

Enquanto educadora, Crisan Siminéa participou de diversos estudos e

projetos visando estabelecer e enfatizar a importância da educação

enquanto instrumento do crescimento humano e cultural. Suas

publicações, essencialmente voltadas para a proposição de parâmetros

e definições do ato de estudar e da compreensão da língua enquanto

ferramenta, são frutos de pesquisas e trabalhos desenvolvidos ao longo

dos anos junto aos seus alunos e com a parceria de professores

colaboradores. (MEDEIROS; MORAIS, 2002, p. 6).

Durante a gestão no Instituto de Educação Presidente Kennedy, a educadora

realizou diversos cursos nas áreas administrativas e de planejamento, entre eles: Curso

de Administração Escolar – Centro Regional de Treinamento em Administração –

Universidade do Ceará em 1967, Curso de Perspectivas do Desenvolvimento Global –

Fundação José Augusto em 1970, Treinamento em Técnicas de Trabalho em Grupo –

Centro de Educação Integrada (CIE), em 1970, Curso de aperfeiçoamento para

Diretores 2º grau – SEEC em 1972 (CURRICULO..., [19--]).

Participou da elaboração do Regimento escolar do Instituto de Educação

Presidente Kennedy em 1968 e Coordenou Cursos de Titulação de Professores Leigos a

nível de 2º grau – Instituto de Educação Presidente Kennedy – SEEC/MEC –

19773/1974 (CURRICULO..., [19--]).

Com o seu exemplo e perseverança conseguiu formar a equipe de professores

de que necessitava e orgulhava. Para a diretora, era um compromisso de honra

encaminhar as jovens na retidão, lealdade, responsabilidade preparando-as

integralmente, isto é, desenvolvendo a capacidade de resolverem problemas, aptidões

para enfrentarem a realidade lógica das coisas, e, naturalmente serem educadas para

poderem educar. Sua energia transbordava e transformava o comportamento das futuras

professoras. Ela não desejava o bom, exigia o ótimo. Segue as palavras de Crisan:

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A convivência foi curta, mas a doação foi profunda. Direção,

professores e alunos se doaram num mesmo fim. – a educação.

Já vos disse que a educação é uma dinâmica de conjunto, e só a

formação do espírito garante a perpetuidade, resiste ao tempo, e a

onda adversa não abaterá sua vitalidade, a luz brilhará sempre lata e

pura.

A educação exige sacrifícios, renúncia e assim fostes preparados.

Caminhaste com sacrifício três anos para um colégio quase que fora

da cidade. Aceitastes ensinamentos e disciplina, renunciastes festas,

mas formastes o fosso espírito. Confio que tudo isto não foi em vão, o

desejo que tendes de servir à educação como retribuição de que

recebestes será sentido pelo poder Público na década de 70, já

anunciada e decantada como Década da Educação.

A necessidade de professores especializados, ou melhor mais bem

formados é uma verdade constatada. Para auxiliarmos a suprir esta

necessidade, não temos medido esforços, todavia, não sentimos o

prazer e a felicidade de vê-los aproveitados. A culpa talvez seja por

falta de recursos do próprio Estado pois os vencimentos não condizem

com a profissão. O comércio, a indústria oferecem mais e a

necessidade de sobrevivência afasta-os da sala de aula. Entre o leigo,

que às vezes por falta de preparo não pôde ingressar em outra

atividade, o magistério apresenta-se como o mais fácil. A inversão de

valores sempre foi marcante. A política partidária, os interesses

pessoais, muitas vezes não deram lugar a justiça.

Acreditamos na reorganização do país, confiamos no sacrifício dos

homens atuantes, pois a reeducação é muito mais árdua, e eles agora

trabalham e lutam por isto.

Sabemos que esta geração é a do sacrifício para o bem futuro. Aceitai

o sacrifício como nós o aceitamos. Pensai na geração futura, pensai no

Brasil, pensai na união entre os homens, vós fostes preparados com

civismo, com amor, com doação, com renúncia para que inicieis

aquilo que sempre pensamos em fazer: a formação integral, a

formação do homem para a vida.

O professor primário tem mais oportunidade que o professor no

Ensino Médio e o Universitário. Ele é um cultivador, um modulador

de almas em formação. Prepará-los bem, é o nosso dever.

Não foi em vão que analisamos juntos o discurso do então Presidente:

‘’Sou oferta e aceitação’’. Sêde oferta, sede aceitação, aceitação do

que for justo. Não aceiteis por interesses pessoais, mas pelo interesse

coletivo, pelo bem comum, pelo bem do Brasil.

Não vos pergunteis – o que vou fazer? ENSINAI. Segui os

ensinamentos do Cristo, ensinai. Recordai as palavras do patrono de

vosso Colégio. Presidente John Kennedy: ‘Não penso naquilo que

meu país pode fazer por mim, mas no que eu posso fazer por ele’.

(SIMINÉA, [197-?], p. 1-2).

Hoje a Biblioteca do Instituto de Formação de Professores Presidente Kennedy

(I.F.P.), leva o nome da Professora Crisan Siminéa, inaugurada em Junho de 1995 nas

presenças Exmo. Sr. Governador do Rio Grande do Norte, Garibalde Alves Filho –

Secretário de Educação, Cultura e Desportos, Prof. João Faustino Ferreira Neto –

Diretor Geral do I.F.P. Prof. Francisco Quinho Chaves Filho como forma de prestar

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homenagem deixando sua imagem gravada junto aos livros que fizeram parte tão

próxima da sua vida.

Teresinha Pessoa Rocha

A professora e diretora Teresinha Pessoa Rocha, em acordo com os álbuns do

jardim de infância remanescentes no arquivo do Instituto de educação presidente

Kennedy, foi Diretora da unidade Jardim de Infância da referida Instituição por, pelo

menos durante uma década, entre – 1960 – 1970. Segue a imagem da professora

Terezinha Pessoa, localizada no acervo da Instituição:

Foto 2 – Professora Teresinha Pessoa Rocha

Fonte: Arquivo do Instituto de Educação Presidente Kennedy.

Segundo as lembranças de uma das ex-alunas do Jardim de Infância no Instituto

de Educação Presidente Kennedy, Maria Coeli, assim a professora Teresinha Pessoa é

lembrada:

Dona Teresinha era alta, magra, loira, postura elegante. Bastava ela

olhar para entendermos o que ela queria dizer. Professora

comprometida que trabalhava com o grupo. Havia integração e bom

relacionamento entre as Diretoras. (MARIA COELI, 2015).

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Ezilda Elita do Nascimento

Dona Ezilda Elita do Nascimento foi diretora da unidade Escola de Aplicação

no Instituto de Educação Presidente Kennedy, entre os anos de 1963 a 1968. Obteve a

sua aposentadoria aos 15 dias do mês de março do ano de 1968, por decreto datado de

16 de fevereiro do ano em curso a pedido da professora. Segundo relato de uma ex-

aluna da escola de aplicação, assim dona Ezilda é lembrada:

Dona Ezilda era uma mulher forte e comprometida. Diretora atuante,

preocupada em como os professores desempenhavam seu papel. Era

ao mesmo tempo: orientadora, coordenadora e supervisora. (MARIA

COELI, 2015).

Na percepção de Thompson (1998), as entrevistas orais, quando bem

conduzidas, se transformam em um instrumento eficiente para diminuir a distancia entre

os informantes e o pesquisador e, por consequência, o acesso aos documentos privados,

como é o caso das fotografias e correspondências.

Foto 3 – Recordação escolar da Escola de Aplicação do Instituto de educação – ano 1964. Sob a

direção da professora Ezilda Elita do Nascimento

Fonte: Arquivo pessoal da professora Maria Coeli

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Maria Arisneide de Morais

A professora Maria Arisneide de Morais nasceu no estado do Rio Grande do

Norte, na cidade de Patú, a 20 de Setembro de 1939. Filha do casal Aristides Benigno

de Morais e Maria Cristina de Morais; teve uma ampla atuação no cenário educacional

do Rio Grande do Norte. Atuou como professora, coordenadora de prática de ensino e

diretora da Escola Normal de Natal, entre os anos de 1970-1975. Ingressou na Escola

Normal de Natal no ano de 1959, fazendo parte da turma Governador Aluísio Alves –

50º – ‘A’ em 1961.

A educadora Maria Arisneide lecionou em vários estabelecimentos de ensino a

exemplos do: Grupo Escolar Augusto Severo; Foi professora de Didática dos Estudos

Sociais, Didática das Ciências, Didática da Linguagem, História da Educação, Didática

Geral e Educação Pré-primária no Curso Normal do Instituto Maria Auxiliadora; além

de Professora no Curso de atualização em técnicas de ensino para professores da Escola

Normal do Instituto de Educação Presidente Kennedy. A mesma, relatou-me o seguinte:

Eu era considerada uma professora que não reprova nenhum aluno,

porque quando sentia alguma dificuldade me voltava para resolver.

Gostava de criar e elaborar estratégias para facilitar a compreensão

dos meus alunos, atividades pedagógicas práticas e diferentes.

Dificilmente fazia estudos de grupo porque não acredito muito nesse

método de aprendizagem, acaba-se por diluir o aprendizado. (MARIA

ARISNEIDE, 2014).

Foto 4 – Formatura de Maria Arisneide de Morais (1961).

Fonte: Arquivo pessoal da professora Maria Arisneide.

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Diplomou-se também no curso Superior de Pedagogia pela Universidade

Federal do Rio Grande do Norte em 20 de dezembro de 1966, fazendo parte da primeira

turma do curso de Pedagogia diplomada no contexto da Federalização (SILVA, 2013).

Aprovada em Concurso Público, Maria Arisneide foi nomeada para exercer a

docência no Instituto de Educação Presidente Kennedy na cadeira de Didática Geral e

Práticas de Ensino. Foi professora das Disciplinas de Sociologia Educacional, Didática

Geral e História da Educação. Certificou-se em 27 de Fevereiro de 1971 no Curso de

Diretores de Estabelecimentos de Ensino Normal do Nordeste, oferecido pelo Instituto

Nacional de Estudos Pedagógicos no Centro Regional de Pesquisas Educacionais do

Recife, em Recife/PE (CURRICULO..., 1973).

Além disso, trabalhou na Secretaria de Educação na unidade setorial de

planejamento e no Ministério da Educação e Cultura (MEC) e na Fundação Estadual de

Planejamento Agrícola do RN. Na extinção da Fundação a professora passou a exercer

atividades no Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente/IDEMA.

Hoje se encontra aposentada (MARIA ARISNEIDE, 2014).

Palavras finais

Em todas as fases da história, a presença da mulher na educação sempre foi de

fundamental importância. No Rio Grande do Norte algumas mulheres conseguiram se

destacar, tanto na vida intelectual quanto em sala de aula, ora escrevendo, ora dirigindo

escolas, ora desenvolvendo atividades políticas (FURTADO, 2006).

Saliento que este trabalho destaca a trajetória da vida profissional das primeiras

diretoras do Instituto de Educação Presidente Kennedy em sua primeira década de

funcionamento “professoras que atuaram em momentos significativos de transição

organizacional” (SILVA, 2013, p. 122).

A pesquisa realizou-se principalmente, a partir de fontes documentais, as quais

foram selecionadas, organizadas e analisadas permitindo lançar um novo olhar em

velhas fontes. Buscar entre os vestígios, identificar e conhecer as práticas educativas das

referidas educadoras.

Concluímos que ainda há muito a ser feito, em termos de pesquisas que

evidenciem as práticas educativas das professoras/diretoras que contribuíram para a

formação de gerações ao longo da História da Educação no Estado do Rio Grande do

Norte.

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Referências

AQUINO, Luciene Chaves de Aquino. De Escola Normal de Natal a Instituto de

Educação Presidente Kennedy (1950 – 1965): configurações, limites e possibilidades

da formação docente. 2007. 259 p. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós

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