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DESENHO: arte e criação

Copyright: Instituto Arte na Escola

Autor deste material: Elaine Schmidlin

Revisão de textos: Soletra Assessoria em Língua Portuguesa

Diagramação e arte final: Jorge Monge

Autorização de imagens: Ludmilla Picosque Baltazar

Fotolito, impressão e acabamento: Indusplan Express

Tiragem: 200 exemplares

Créditos

MATERIAIS EDUCATIVOS DVDTECA ARTE NA ESCOLA

Organização: Instituto Arte na Escola

Coordenação: Mirian Celeste Martins

Gisa Picosque

Projeto gráfico e direção de arte: Oliva Teles Comunicação

MAPA RIZOMÁTICO

Copyright: Instituto Arte na Escola

Concepção: Mirian Celeste Martins

Gisa Picosque

Concepção gráfica: Bia Fioretti

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(William Okubo, CRB-8/6331, SP, Brasil)

INSTITUTO ARTE NA ESCOLA

Desenho: arte e criação / Instituto Arte na Escola ; autoria de Elaine Schmidlin ;

coordenação de Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque. – São Paulo : Insti-

tuto Arte na Escola, 2006.

(DVDteca Arte na Escola – Material educativo para professor-propositor ; 105)

Foco: LA-A-2/2006 Linguagens Artísticas

Contém: 1 DVD ; Glossário ; Bibliografia

ISBN 85-98009-99-7

1. Artes - Estudo e ensino 2. Desenho 3. Educação do olhar I. Schmidlin,

Elaine II. Martins, Mirian Celeste III. Picosque, Gisa IV. Título V. Série

CDD-700.7

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DVD

DESENHO: arte e criação

Ficha técnica

Gênero: Documentário sobre a linguagem do desenho, apre-sentando obras e depoimentos de artistas, alunos e curadora.

Palavras-chave: Desenho; educação do olhar; poética pesso-al; linha; textura; meio ambiente; observação sensível.

Foco: Linguagens Artísticas.

Tema: Três diferentes abordagens da linguagem do desenho:um artista modernista; o ensino de desenho; o olhar sobre acidade e o gesto da artista.

Artistas abordados: Di Cavalcanti, Silvio Dworecki, CarlaCaffé, Debret, Frans Post.

Indicação: A partir da 1ª série do Ensino Fundamental.

Direção: Maria Ester Rabello.

Realização/Produção: Rede SescSenac de Televisão, São Paulo.

Ano de produção: 2000.

Duração: 23’.

Coleção/Série: O mundo da arte.

SinopseO documentário, dividido em três blocos, inicia-se com os dese-nhos de Di Cavalcanti, mestre modernista, presentes no acervodo Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo- MAC/USP, comentados pela curadora Helouise Costa. Nosegundo bloco, Silvio Dworecki, em seu estúdio, introduz con-ceitos do desenho como processo significante de toda estruturadas artes visuais. O artista provoca seus alunos em processosexpressivos que enfatizam a observação atenta e desinibição dotraço. O último bloco traz a construção poética da artista CarlaCaffé com seus desenhos da cidade e da presença humana nocontexto urbano, realizados em suas viagens.

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Trama inventivaFalar sem palavras. Falar a si mesmo, ao outro. Arte, lingua-gem não-verbal de força estranha que ousa, se aventura atocar assuntos que podem ser muitos, vários, infinitos, domundo das coisas e das gentes. São invenções do persis-tente ato criador que elabora e experimenta códigosimantados na articulação de significados. Sua riqueza: ultra-passar limites processuais, técnicos, formais, temáticos,poéticos. Sua ressonância: provocar, incomodar, abrir fissurasna percepção, arranhar a sensibilidade. A obra, o artista, aépoca geram linguagens ou cruzamentos e hibridismo entreelas. Na cartografia, este documentário é impulsionado parao território das Linguagens Artísticas com o intuito dedesvendar como elas se produzem.

O passeio da câmera

As imagens nos convidam a conhecer a linguagem do dese-nho como uma atividade, não só de riscar papéis, mas dedefinir intenções, em que “o que vai vir a ser se anuncia”,como diz Dworecki.

Inicialmente, o percurso da câmera apresenta a curadoraHelouise Costa que nos aproxima dos desenhos realizados porDi Cavalcanti, com procedimentos variados. A seguir, o artistaeducador Silvio Dworecki nos mostra sua metodologia: adesinibição do traço e a liberdade gestual. Carla Caffé nosconvida para um passeio pela cidade de São Paulo com seusprédios, restaurantes, templos, ambientes e calçadas. Nossoolhar é capturado pelos gestos dessa andarilha que traça seusdesenhos a partir da observação.

O foco deste documentário, alocado em Linguagens Artísti-cas, é a linguagem do desenho como um meio tradicional,abrindo espaço para a caricatura, o design e a história em qua-drinhos. No mapa potencial, você verá outros territórios e per-cursos potenciais.

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Sobre os artistas

Quem desenha está próximo da essência das coisas...

Silvio Dworecki

Emiliano Di Cavalcanti (Rio de Janeiro/RJ, 1897–1976),mestre modernista, ao longo de seus 79 anos, produz desenhoscom lápis grafite, nanquim e bico-de-pena, com o colorido trans-parente das aquarelas e experimentações com a técnica descraper board 1 . Seus desenhos apresentam contornos quedemarcam sua pintura até a década de 40, em poucos traçosou muitos detalhes que definem formas, texturas e sombras.Em alguns trabalhos, percebem-se influências cubistas,expressionistas e surrealistas.

Cria charges e caricaturas. Realiza também a capa do catálogopara a Semana de Arte Moderna em 1922. Um ano antes, ex-põe no Diário da Noite a série de desenhos Fantoches da meia-

noite que atraiu a atenção dos modernistas Mário de Andradee Oswald de Andrade para o seu trabalho.

A experimentação no desenho, em procedimentos variados, émais visível do que na pintura. Segundo a curadora da exposi-ção, é no desenho que Di Cavalcanti se permite experimentar,assimilar referências novas e criar sua linguagem pessoal.

Silvio Dworecki (São Paulo/SP, 1949) é artista plástico e pro-fessor universitário. Seu estudo é centrado na “busca dotraço perdido”, na capacidade expressiva da criança que,no período da alfabetização, muitas vezes é levada a abando-nar a linguagem do desenho.

Desenvolve um método - Desinibição do traço e criação da lin-

guagem figurativa pessoal2 - que estimula os alunos para aredescoberta do traço e do gesto na produção do desenho. Se-gundo o crítico de arte Agnaldo Farias3 , sua obra é moduladapela imaginação e apresenta um “exame acurado dos materiaise dos processos envolvidos na sua consecução”. Vida e obra seenlaçam com o ensino de arte no espaço do Jogo Estúdio.

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Carla Caffé (São Paulo/SP, abril de 1965), artista plástica,arquiteta e cineasta4 , registra em seus desenhos a memóriadas paisagens construídas pelos homens ao longo do temponas cidades por onde transita, em suas viagens pelo Brasil eno mundo. Dessas, surgem seus Cadernos de viagem, nos quaisdesenhos e colagens lembram simbolicamente os habitantesda cidade. Interessa-se pelos bordados, costuras, pela presen-ça humana na paisagem urbana, na intervenção ingênua, comoas “santas” das padarias.

Seu percurso poético conecta-se com as obras de Debret e FransPost, artistas-viajantes5 que no século 17 registram a história eos costumes brasileiros. Com linhas precisas e definidas quelembram, de certa forma, a linguagem das histórias emquadrinhos, sua produção de desenhos percorre o espaçoda memória e da identidade da cidade numa busca constan-te da preservação das histórias pessoais e coletivas.

Os olhos da arteAo rasgar o papel eu estou criando uma linha, e linha não é desenho?Essa atividade de desenhar é uma atividade não só de riscar papelcom lápis; ela é uma atividade também de definir intenções, de sabero que se quer...

Silvio Dworecki

A palavra desenho deriva do latim designare que significa marcar,indicar, conectando-se com o termo desígnio - intenção, propósi-to. Linguagem com caráter singular em sua forma de comu-nicar uma idéia, um pensamento, uma emoção. O desenho seapresenta como possibilidade de conhecimento artístico eestético desde seu significado mágico para o homem das caver-nas até os desenhos em grandes formatos e as linguagens híbri-das contemporâneas, abarcando ainda as produções ilustrativase formas construtivas e técnicas da arquitetura e do design.

O desenho é uma das primeiras manifestações de linguagemutilizadas pela criança no desejo de comunicar idéias, sen-sações, emoções, sentimentos, etc. Ao desenhar, conta histó-rias, canta, se diverte, fantasia, imagina. No papel, na areia, no

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chão, em outros suportes, a criança cria espaços gráficos paraa construção de seu universo particular.

É desenho a maneira como [a criança] organiza as pedras e as folhasao redor do castelo de areia, ou como organiza as panelinhas, ospratos, as colheres, na brincadeira de casinha. Entendendo o de-senho o traço no papel ou em qualquer superfície, mas também amaneira como a criança concebe o seu espaço de jogo com osmateriais de que dispõe6 .

Assim, o desenho tem múltiplos significados, tornando idéiasvisíveis sobre uma superfície por meio de pontos, manchas, li-nhas, e também por meio de cortes, dobras, entre outras possi-bilidades. Com enfoque artístico, científico, lúdico, industrial,arquitetônico, publicitário, etc., a linguagem do desenho se fazpresente: é comunicação e expressão. Está presente na pintura,gravura, escultura, ilustração, cinema (storyboard), partituramusical, poesia visual, esquemas de coreografia, moda, plantasarquitetônicas, esquemas matemáticos, ilustrações de biologia,química, física, mapas e cartografias, entre outros, configuradosa partir de propostas projetadas e desenhadas por alguém.

Com lápis, pena e pincel, tesoura, goivas, pregos ou mouse,entre outras possibilidades, apresenta idéias do mundo imagi-nário ou da realidade. Pode ser um desenho artístico ou umaversão preparatória para uma outra obra, um esboço ou estu-

Carla Caffé - Minhocão

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do. Sua natureza aberta e processual permite o registro queacompanha a rapidez do pensamento.

É traçado, risco, projeto, plano, forma, feitio, configura-ção, sendo a linha o elemento essencial configurador dasformas expressivas que conectam idéias e pensamentos,emoções e sensações. A linha se liga ao gesto e pode seapresentar uniforme, densa, fina, espessa, reta, curva, traçadacom maior ou menor pressão, rápida ou lenta, ampla ou redu-zida, tímida ou intensa, configurando texturas e manchas eminfinitas possibilidades de combinações.

A linha está presente nos sinais da nossa impressão digital ou naimpressão de pegadas em superfícies diversas, em riscosdeflagrados em muros e outros lugares da paisagem urbana, nanatureza como a nervura das plantas ou nas configurações estelares,em teias e trilhas de animais. Ver o desenho nas coisas do mundoimplica na educação do olhar. Augusto, aluno de Dworecki, comen-ta: “uma das coisas fundamentais foi que o desenho me ensinou aolhar. Hoje ando pela rua muito mais saboreando, olhando, apreci-ando a partir do olhar, do que focando no pensamento”.

A linguagem do desenho é possibilidade de reinventar, criar,imaginar, observar, perceber, sentir, conhecer, desejar. Serum desenhista é fácil, basta um lápis e um papel ou um dedo naareia, para a tradução de múltiplos olhares significativos sobreas coisas do mundo.

Silvio Dworecki -

Taturana na horizontal

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O passeio dos olhos do professorAntes de planejar a utilização do documentário, convidamosvocê a vê-lo. O registro de suas impressões é importante esugerimos que inicie um diário de bordo, como instrumento parao seu pensar pedagógico durante todo o processo. Uma pautado olhar poderá ajudá-lo:

O que é desenho para você? Que relações você estabelececom os conceitos revelados pelo documentário?

Qual o sentido de desenvolver a linguagem do desenho naescola? O que o documentário instiga a pensar mais?

Que idéias podem ampliar as possibilidades do desenho emsala de aula?

Quais relações entre memória, história e desenho odocumentário apresenta?

O que seus alunos gostariam de ver no documentário?

A reflexão sobre essas e outras questões pode suscitar bonsprojetos. Veja as anotações que você fez enquanto assistiu aodocumentário e desenhe um mapa do que você considera maisimportante. O que você gostaria que seus alunos compreen-dessem sobre a linguagem do desenho?

Percursos com desafios estéticosNão existe uma ordem nos percursos aqui sugeridos. A escutaatenta é imprescindível, para que preconceitos, tímidas pergun-tas e os sentimentos aflorados em seus alunos possam se trans-formar em conteúdos a serem aprofundados.

O passeio dos olhos dos alunos

Algumas possibilidades para o início:

Um olhar estrangeiro, que vê como se fosse a primeira vez,instiga para perceber o que não vemos com nosso olhar dis-

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Zarpando

MediaçãoCultural

componentes da ação cultural

agentes

curador, professor, artista

acervo, coleção

Forma - Conteúdo

elementos davisualidade

linha, textura, ponto, forma,manchas, luz e sombra

temáticas

relações entre elementosda visualidade

figurativa: paisagem urbana, natureza,figuras humanas; contemporânea: identidade,arte e vida, subjetividade, diário pessoal

sobreposição, tempo,tensão, composição

SaberesEstéticos eCulturais

história da arte artistas viajantes, arte moderna

Formação:Processos deEnsinar eAprender

educação estética, educação do olhar,concepções de ensino de arte

aprender com os mestres, aprender com outrosartistas, valorização da produção do aprendiz

aprendiz de arte

professor-propositor

ensino de arte

artista-professor, produção teórica

Linguagens Artísticas

meios tradicionais

desenho, desenho de observação, desenho de memória,desenho de imaginação, desenho a bico-de-pena

linguagens híbridas,técnica mista

história em quadrinhos,caricatura, cartum, design,publicidade, arquitetura

linguagensconvergentes

meiosnovos

artesvisuais

heranças culturais,conservação,memória coletiva,restauração

educação ambiental, exercício de cidadania eresponsabilidade social, valorização do patrimônio

PatrimônioCultural

bens simbólicos

espaços públicos, parques,monumentos, cultura brasileira,sítios arqueológicos preservação e

memória

educaçãopatrimonial

Processo deCriação

ação criadorapoética pessoal, gesto expressivo, cadernos de desenho,percurso de experimentação, gesto no traço, infância produtiva

estudos em ateliês de outros artistas,viagens de estudo, ateliê, rua

ambiência de trabalho

observação sensível, repertório pessoal e cultural,atitude lúdica, leitura de mundo, memória

potências criadoras

ConexõesTransdisciplinares

arte e ciênciasda natureza

ecologia, meio ambiente

arte e ciênciashumanas

cotidiano, cidades,geografia, iconografia

qual FOCO?

qual CONTEÚDO?

o que PESQUISAR?

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traído. Numa expedição, os alunos podem registrar aspectosvisuais presentes em linhas e texturas dos pisos e das calça-das, dos muros e das janelas e portas, na arquitetura, nosornamentos, etc. A conversa sobre os registros dessa expe-dição pode ser prolongada pela exibição do terceiro bloco dodocumentário que apresenta a artista Carla Caffé.

A percepção do gesto e do traço se dá no livre movimentodo corpo. Um amplo espaço como o pátio, por exemplo,pode ser preparado com grandes folhas de papel kraft, nochão, nas paredes e colunas, em lugares de difícil acesso,como embaixo da escada, se houver. O desafio é que osalunos experimentem desenhar em múltiplas direções e mo-vimentos rápidos, lentos, fortes, leves, nervosos, calmos,tensos, agressivos, amorosos, etc., em rodízio pelos dife-rentes espaços. Um fundo musical pode ajudar. Os alunospodem também sugerir outros movimentos exploratórios.Depois da conversa sobre as produções, é interessante vero segundo bloco do documentário.

Nosso olhar fica mais atento quando temos focos específi-cos para apurar a percepção. Prepare os alunos para queassistam ao primeiro bloco do documentário, desenhando eanotando. O que podem perceber sobre a linguagem verbale visual no documentário e em suas anotações?

Seja qual for a ação proposta, a intenção é provocar o olharatento dos alunos para a linguagem do desenho como forma decomunicação, expressão e conhecimento. Como também pro-vocar o “corpo desenhante”, as relações entre o gesto corporale o registro da linha no espaço. Animados pelo documentário,o que seus alunos sugerem para entrar no universo da lingua-gem do desenho? O mapa do DVD pode ajudá-lo a vislumbrarpossibilidades e problematizá-las com os alunos.

Ampliando o olharMarcas gráficas do desenho (ponto, linha, textura, manchas,rasgos e furos) podem estar no papel, em riscos no muro,no mapeamento das estradas, na impressão digital, nas pe-

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gadas dos animais; em sinais que evidenciam a presençahumana, ou que foram feitos pela natureza. Uma expediçãopela rua da escola, especialmente se já viram o terceiro blocodo documentário, sugere o desafio de investigar as marcasde desenhos que podem ser registradas com fotografias,cópias com papel manteiga ou vegetal ou frottage7 ,enfatizando as linhas, texturas das marcas encontradas.

Você pode programar com seus alunos a produção de dese-nhos de pequenos trajetos pré-estabelecidos pelo grupo.Esses desenhos podem formar um grande mapa dos arre-dores da escola. Para ampliar o repertório dos alunos, éinteressante mostrar o desenho de diferentes mapas quetrazem informações geográficas, do turismo, da história doslugares, das ruas ou rodovias, do clima, etc. Gostariam debrincar e criar desenhos de mapas imaginários?

Com os olhares mais atentos para a linguagem do desenho,desafie os alunos a perceberem, no primeiro bloco dodocumentário, os diversos materiais e técnicas, as diferen-tes qualidades das linhas dos desenhos de Di Cavalcanti.Mesmo que esta parte do documentário já tenha sido vista,exiba-a novamente, pois o olhar pode estar mais aguçado.Desenhar no escuro da sala de projeção os desenhos quechamam mais a atenção e apresentá-los depois pode seruma ação instigante para as crianças maiores.

A imaginação pode aflorar, convidando os alunos a inventarhistórias com materiais e suportes diversos: giz, pedaços detijolo ou de carvão para desenhar no pátio da escola; um gravetopara desenhar numa caixa de areia; cordas para desenhar/fazerlabirinto; uma tesoura para desenhar no papel em branco…Que histórias podem ser contadas por esses desenhos? Umaforma interessante de ampliar o repertório dos alunos é con-versar sobre as ilustrações dos livros que gostam de ler.

Pequenos pedaços de lápis de cera ou lápis integral, amarradoscom fita crepe nas pontas dos dedos, podem gerar interessan-tes desenhos. Perceber a liberdade do gesto, a maior ou menorpressão na superfície são desafios para esses desenhos.

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Uma boa conversa pode reavivar a imagem dos desenhis-tas que viram no documentário, além de outros. Para inici-ar, você pode lembrá-los da fala de Carla Caffé: “não passoa limpo. Gosto da primeira impressão. (...) Posso até fazertrês começos, depois que eu comecei o desenho, não temretorno”. O que os alunos podem discutir sobre seus pró-prios desenhos e processos de criação a partir dessa fala?

Conhecendo pela pesquisa

A pesquisa dos vários riscadores e suportes possíveis, a partirdos desenhos vistos no documentário, provoca a criação. Olápis é freqüentemente utilizado como contorno, para colorirdepois. Usá-lo com exclusividade pode gerar descobertas detexturas, densidades diferentes obtidas pela pressão ou le-veza, percepção de nuances diferentes de cinzas e das qua-lidades dos grafites (6B, HB, etc.). O preto e o branco po-dem ser explorados também com carvão, giz de quadro e atépasta de dente, em superfícies claras e escuras.

A técnica do scraper board, utilizada por Di Cavalcanti, podeser experimentada de uma forma mais simples: cobrir bem opapel com giz de cera branco, aplicar uma camada de nanquimpreto (para fixar melhor, passe o pó de giz ou talco sobre onanquim), esperar secar. Depois, é só desenhar com uma agu-lha grossa ou prego – linhas brancas sobre uma superfícieescura. Para onde a ousadia pode levar os alunos?

Gibis, jornais ou outros veículos de informação de sua cidadepodem ser fonte de pesquisa de charges e caricaturas, fazen-do uma ponte com esse aspecto no trabalho de Di Cavalcanti,com cunho de crítica social. Converse com os alunos tambémsobre as vinhetas presentes na tv. Um painel com todas aspesquisas pode alimentar a curiosidade e a invenção das cri-anças para a criação de suas próprias charges e caricaturas.

Uma nova exibição do terceiro bloco com os desenhos deCarla Caffé pode levar à pesquisa de histórias em quadri-nhos que influenciam o traço da artista. Ela cita Corto

Maltese - um marinheiro aventureiro das primeiras décadas

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do século 20, criado por Hugo Pratt e Valentina, protago-nista de histórias adultas, criada em 1965 por Guido Crepax,que adota ângulos inusitados. Enquadramento, tipo de li-nhas, superfícies, manchas, texturas, perspectivas podemser investigadas nas histórias em quadrinhos que as crian-ças conhecem. Os mangás, de origem japonesa, não devemser esquecidos. É possível organizar equipes de pesquisa eincentivar a leitura e criação de histórias em quadrinhos emuma construção coletiva ou individual.

Os artistas-viajantes podem se tornar uma fonte de desco-bertas. Se houver possibilidade, marque na sala deinformática um tempo para a pesquisa por meio da internet.

A análise de todos os desenhos realizados, percebendo os traçose marcas, densidades e espessuras, classificando as descober-tas, poderá ajudar a perceber os desenhos feitos também pelosartistas, botânicos e cientistas. O que podem descobrir sobre isso?

Uma pesquisa para educadores: muitos estudos foram fei-tos com o objetivo de conhecer o desenho das crianças e asrelações com a fala e a escrita, além da estrutura perceptivaespacial que advém da escrita. Sugerimos a leitura das pu-blicações de Edith Derdyk, Silvio Dworecki, Ana AngélicaAlbano Moreira e Analice Dutra Pillar. O convite é propor umaboa conversa com seus parceiros sobre tais estudos, compa-rando produções de classes diversas e percebendo as possi-bilidades das intervenções propostas. Essas ações podemcriar um espaço valioso para a sua formação contínua.

Desvelando a poética pessoalComo disse Dworecki no documentário, é preciso: disciplina,desenhar muito e observar sempre. Convide os alunos a elabo-rarem o seu próprio Caderno de trajetos, inspirados pelosCadernos de viagem de Carla Caffé. Observação e registro deaspectos urbanos, colagens com objetos como tíquetes, selos,tampinhas, bordados, guardanapos personalizados, adesivos,desenhos de tudo que os rodeia no cotidiano, ligados à vida dacidade onde moram, podem compor este caderno.

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Amarrações de sentidos: portfólio

Com seu aluno, você pode traçar um mapa de conhecimentose caminhos percorridos com a linguagem do desenho tendocomo ponto de partida este documentário. Uma exposição or-ganizada por todos pode tornar visível a diversidade da lingua-gem do desenho.

Os cadernos de trajetos, os trabalhos e as pesquisas realiza-das podem ser organizados também em pastas de formatosdiferentes ou num grande caderno da classe, complementadospor textos sobre o que ficou mais significativo.

Valorizando a processualidade

O ponto de partida foi a sua escolha por este documentário. Ocaminho trilhado e compartilhado com seus alunos pode ser revis-to por você por meio de algumas questões: seus alunos amplia-ram o traço de seus desenhos? Compreenderam a importância dodesenho como registro e memória? Perceberam a linguagem dodesenho como forma de expressão e comunicação? Apuraram oolhar para perceber texturas, densidades e plasticidade da linha?

As respostas a essas questões podem ser obtidas nos cader-nos de trajetos, nas produções e pesquisas realizadas. Entre-tanto, reservar um espaço especial para ouvir as consideraçõesdos alunos, sobre o desenho e este projeto desenvolvido, tam-bém é importante.

Você pode, ainda, encontrar na DVDteca Arte na Escola outrosdocumentários interessantes para complementar algumas ques-tões levantadas. Fica aqui o convite!

GlossárioCaricatura – do italiano caricare, “fazer pensar”, carregar. Surge na Gréciaantiga, é adotada em Roma e, posteriormente, pelo imaginário gótico me-dieval. A partir dos finais do século 16, apresenta “dois significados que nãose excluem: um, basicamente, etimológico e necessário, mas restrito à for-ma, ou seja, o de um desenho ‘carregado’, exacerbado ou hiperbólico, querealça, pela desproporção, traços físicos predominantes; o outro, em que

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essa forma vem revestida de uma intenção satírica, crítica, burlesca ounegativa, representando as características psicológicas de uma personali-dade real ou de um personagem típico, isto é, daquele que resume umacategoria social (o político, o malandro, o artista, o grande empresário, etc.).A caricatura busca, portanto, revelar os aspectos contraditórios ou absur-dos que levam ao ridículo o caricaturado ou a situação descrita - política,social ou de costumes.” Fonte: <www.videotexto.info/caricatura.html>.

Charge – “Desenho opinativo, de crítica e de humor, referente a um episódioespecífico, ou temporalmente limitado, habitualmente de natureza social oupolítica, e cujos personagens representam pessoas reais e de notoriedadepública. Assim sendo, a charge pressupõe que o leitor tenha conhecimentoprévio do fato ocorrido, a fim de poder interpretá-lo com exatidão. Do francêscharge, no duplo sentido de ‘fazer pensar e acusar’, praticamente idêntico aode caricatura.” Fonte: <www.videotexto.info/charge.html>.

Linha – “Vamos considerar a linha como o espelho do gesto no espaço do pa-pel. O ponto sai do repouso, passeia pelo papel vislumbrando, dele mesmo,uma memória do trajeto; eis a linha. A linha é o depósito gráfico da pulsão, doritmo, do movimento, da ação motora e energética, revelando no papel pontos,traços, manchas, resultantes da interação mão/gesto/instrumento. Destainteração nascem as qualidades expressivas da linha: a intensidade, a duração,a espessura, a dimensão, o ritmo, a tensão, a tipologia.” Fonte: DERDYK, Edith.Formas de pensar o desenho. São Paulo: Scipione, 1988, p. 144.

BibliografiaCAFFÉ, Carla; BEIGUELMAN, Giselle. São Paulo na linha. São Paulo: DBA, 2000.

DERDYK, Edith. Formas de pensar o desenho. São Paulo: Scipione, 1988.

DWORECKI, Silvio. Camadas de tempo: 30 anos nas artes plásticas. SãoPaulo: Scipione, 1997.

___. Em busca do traço perdido. São Paulo: Scipione, 1998.

FERREIRA, Sueli. Imaginação e linguagem no desenho da criança. Cam-pinas: Papirus, 1998.

MOREIRA, Ana Angélica Albano. O espaço do desenho: a educação doeducador. São Paulo: Loyola, 1999.

PILLAR, Analice Dutra. Desenho e construção do conhecimento na crian-

ça. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

___. Desenho e escrita como sistema de representação. Porto Alegre: ArtesMédicas, 1996.

Bibliografia de arte para criançasGALDINO, Jefferson. Brincando com arte: Di Cavalcanti. São Paulo:

Noovha América, 2003.

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REYNOLDS, Peter H. O ponto. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

ROCHA, Ruth; ROTH, Otávio. O livro do lápis. São Paulo: Melhoramen-tos, 1992. (O homem e a comunicação).

Seleção de endereços sobre arte na rede internetOs sites abaixo foram acessados em 15 abr. 2005.

CAFFÉ, Carla. Disponível em: <http://sampacentro.terra.com.br/textos.asp?id=145&ph=19>.

DI CAVALCANTI. Disponível em: <www.dicavalcanti.art.br>.

DWORECKI, Silvio. Disponível em: <www.arte.unb.br/anpap/dworecki.htm>.

ENCICLOPÉDIA BRASILEIRA DOS GIBIS. Disponível em: <www.gibindex.com>.

Notas1 Scraper board é uma técnica empregada por Di Cavalcanti em algunsdesenhos mostrados no documentário. O nanquim é aplicado sobre o car-tão revestido de uma camada de gesso e posteriormente raspado, deixan-do aparecer o branco.2 Leia mais sobre sua metodologia no seu Em busca do traço perdido, pu-blicado pela Scipione em 1998.3 FARIAS, Agnaldo. Coisas vistas, coisas imaginadas. In: SilvioDWORECKI, Camadas de tempo: 30 anos nas artes plásticas, p. 18.4 Foi diretora de arte do filme Narradores de Javé e co-diretora de produ-ção de Central do Brasil.

5 Jean-Baptiste Debret (França, 1768-1848) foi o pintor mais importanteda Missão Artística Francesa. Frans Post (Holanda, 1612-1680) fez parte,juntamente com Eckhout, da comitiva científica e artística de Maurício deNassau que desembarcou em Pernambuco.6 Ana Angélica Albano MOREIRA, O espaço do desenho: a educação doeducador, p. 51.7 Frottage é o termo francês que indica a ação de transferir texturas deuma superfície para outra, mediante o esfregamento de lápis, giz de ceraou crayons através do papel. É uma técnica empregada com freqüência naescola, desde a educação infantil.

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