descrição, narrativa, dissertação

Upload: ednevess

Post on 11-Oct-2015

17 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • Descrio, narrativa,dissertao

    Paulo Costa Galvo

    INTRODUOA composio escrita tarefa difcil para a maioria

    dos alunos, mesmo queles em nvel universitrio. Arazo principal para isto talvez seja a falta de habilidadenatural que a maior parte das pessoas apresenta em seusdiscursos escritos, o que torna o ato de escrever comclareza e conciso, com coerncia, coeso, umaexperincia difcil para quase todos os estudantes.

    Porm, com base no pensamento de Raumsol,pseudnimo de Gonzlez Pecotche, (ver os livros deLogosofia) estamos certos de que os estudantescarentes de habilidade podero aprender comoconquist-la, e aqueles que ainda no a tmdesenvolvida o suficiente podero evoluir at alcanaruma boa condio.

    Este trabalho se relaciona s trs habilidades bsicasdo ato de escrever, como abordadas tradicionalmente, afim de dar aos estudantes pistas teis para que consigamsuperar a si mesmos em excelncia, no que tange escrita: descrio, narrao, e desenvolvimento deargumentos. Este no um artigo para especialistas,mas para gente de nvel universitrio que pretendeadquirir melhor controle sobre sua habilidade decomunicar via linguagem escrita.

  • O assunto inicial a descrio abordado emgeral, ou seja, no nos importamos com tratardescries individualizadas, tais como "descreva suacasa", mas colocamos tcnicas para descrever gneros,ou espcies num sentido amplo. Assim, em lugar deensinar aos estudantes "como descrever suas casas",focamos na "melhor tcnica para descrever sua casa".Se voc conhecer as tcnicas para desenvolver uma boadescrio generalizante, estar qualificado para tambmus-las em casos individuais. Os outros dois pontos narrativa e dissertao no podem ser divididos destamaneira, embora os problemas sejam enfrentados damesma forma em todos eles, tanto em composiespequenas como em dissertaes ou teses, tanto paranarrar eventos simples como para os complicados. Adiferena reside na complexidade do assunto que sedesenvolve, dependendo da natureza das idias criadas.

    Trabalhar com abstraes, tais como "amor" ou"responsabilidade", tem sido sempre ponto vulnervelna composio escrita. Sendo quase impossveldescrever nomes abstratos, recorremos a uma visomultidisciplinar: a mente humana s pode descrever"amor" na medida que ele seja parte de uma narrativa,ou de um argumento. Assim, por exemplo, quando umrapaz age desta ou daquela maneira com relao suaprpria me, isto significa que ele a ama. As mes do omelhor de si mesmas para suas crianas, sem pedir nadaem retorno, e isto o amor materno... Colocamos esteponto no limite entre descrever e definir objetos,partilhando ambas as reas.

    As definies, por outro lado, so idias, ou seja,podem ser divididas em argumentos.

  • Na verdade, os trs aspectos se mesclam, medidaque penetramos neles.

    Quanto dissertao e narrativa, assim como nadescrio, veremos as faculdades da mente mais usadaspara realiz-las, e como criar o pensamento que seconcretizar em cada uma delas.

    *1. Como criar um pensamentoAntes de abordar cada aspecto da composio

    escrita em sua essncia, preciso explicar um conceitoque Raumsol introduziu na cultura atual, destinado amudar por completo, no futuro, toda a abordagem dosfatos humanos: o conceito da diferena entre pensar epensamento. Trata-se de uma verdade simples, e chegaa estarrecer que nenhum pensador ocidental ouoriental jamais tenha chegado a ela. claro, por suaimportncia impossvel tratar aqui deste conceito comtoda amplido, pois seria necessrio escrever tratadosde psicologia para desenvolv-lo. Por toda a obra deRaumsol, porm, h elementos mais que suficientespara o ser humano realizar, finalmente, a funo paraque foi criado, partindo sempre do despertar de suaconscincia mediante este conhecimento lapidar.

    No livro "Logosofia Ciencia y Mtodo", Raumsolafirma:

    Apesar de filsofos e sbios, tantoda antiguidade como das idadesmoderna e contempornea, haverem

  • usado a faculdade de pensar, nenhumdeles jamais atribuiu vida prpria aospensamentos, nem declarou quepudessem reproduzir-se e ter atividadesdependentes ou independentes davontade do homem.

    A Logosofia (...) afirma que ospensamentos so entidades psicolgicasque se geram na mente humana, onde sedesenvolvem e ainda alcanam vidaprpria. Ensina a conhec-los,identific-los, selecion-los, e utiliz-loscom lucidez e acerto. Tais entidadespsicolgicas animadas se constituem emforas ativas de ordem construtiva apartir do instante em que ficamsubordinadas s diretivas da inteligncia,ou seja, que pelo processo de evoluoconsciente so submetidas a umarigorosa fiscalizao que permita dispordelas a servio exclusivo da inteligncia.

    Pelo ensinamento acima, observamos que a) umacoisa pensar, outra os pensamentos e b) ospensamentos em geral so autnomos e tm vidaprpria. Para um leigo no estudo da cultura criada porRaumsol, isto difcil de entender, mas ao darmosalguns exemplos simples, veremos se tratar de umconhecimento que nenhum pensador foi capaz dedescobrir, apesar de ser to bvio.

    Quando um estudante resolve problemas dematemtica, est pensando; est usando sua razo, umadas faculdades da inteligncia. Um cientista que coleta

  • dados, com toda pacincia, a respeito de algum fatonatural, para induzir uma teoria geral a partir do quecoletou, est usando sua observao combinada com oraciocnio, alm de contar tambm com a intuio. Umestudante de lnguas estrangeiras que memoriza umalista de cem ou duzentas palavras, est usando outrafaculdade da inteligncia, a memria.

    Estes exemplos acima dizem respeito utilizao damente, das faculdades da inteligncia. Vejamos agoracomo funcionam os pensamentos em sua fase autnoma ou seja, pensamentos que tm vida prpria e passamde uma mente a outra com extrema facilidade. Umapessoa que caminha pela rua e de repente lhe apareceuma msica que fica a repetir-se em sua cabea no estpensando, mas tem um pensamento autnomo atuandoem seu sistema mental. Um fumante que prope a simesmo parar de fumar e cria uma srie de razes paraisto, est pensando usando sua funo de pensar;mas quando fica um tempo sem o cigarro, vem oimpulso de fumar com uma srie de argumentos que lhedo apoio. No possvel considerar que este fumantetenha dupla personalidade. o pensamento reagindopara no perder seu domnio sobre a mente quecontrola. Assim tambm ocorre com o viciado emcorridas de cavalos ou em baralho; com as pessoas quecomem por compulso, ou que vivem tensas o diainteiro, com os nervos flor da pele por qualquerproblema...

    Os exemplos citados so bem simples. Os cientistasprocuram, inutilmente, a causa destas reaes nosneurnios, apenas porque no conhecem quase nada dapsicologia humana. impossvel que o vcio no baralhoseja causado por condicionamento fsico, uma vez queno se come baralho; nem preciso deglutir cavalos decorrida para tornar-se viciado nas corridas do jquei

  • clube. Quando uma pessoa boceja num determinadolugar, outras a imitam; quando em um nibus algumdispara a tossir, outros tambm comeam a tossir. Estesso exemplos simples de pensamentos que passam deuma mente a outra, e esta passagem eles realizam "comextrema facilidade", conforme o ensinamento deRaumsol.

    Tambm existem os pensamentos que controlam amente humana o dia inteiro, tais como a impacincia, atimidez, a indisciplina mental. Muitos estudantes tmum pensamento de incapacidade que lhes atrapalha orendimento escolar ou acadmico. Este pensamento extremamente nocivo. H pessoas cuja atuao na vida diminuda ou at anulada pela timidez, apesar de teremgrande capacidade. Alguns tentam superar a preguiamas no o conseguem, porque o pensamento dominasuas mentes quase por completo. A maioria dosestudantes tenta se concentrar no que lem ou precisamaprender, mas perdem um tempo considervel, pois aindisciplina mental os leva a desviar a ateno para milcoisas diferentes ao mesmo tempo...

    Algum leitor pode estar se perguntando se ospensamentos seriam como animais extra-fsicos, e aresposta que eles so realmente entidades com vidaprpria, portanto, tm energia imaterial, e usam ainteligncia do homem e da mulher para cumprir seusobjetivos. Para comprov-lo, basta observar ocomportamento de uma pessoa que chega sempreatrasada aos compromissos, ou o de outra que tem omau hbito de atirar lixo na rua. So hbitos nocivosque se tornaram pensamentos dominantes, portanto,controlam as mentes das pessoas. Por exemplo: umsujeito que mora a 60 km de um local e outro que moraa cinco minutos dali marcam um encontro para as novehoras. O primeiro cultivou o pensamento da

  • pontualidade; o segundo brasileiro tpico. O que moraa 60 km do lugar do encontro chegar antes da hora, ooutro chegar atrasado sempre dando uma srie dedesculpas para sua impontualidade...

    Como se pode tocar nos pensamentos, se soentidades incorpreas com vida prpria? perguntarcom razo algum dos leitores. Raumsol d a respostaem seu livro "Logosofia, Ciencia y Metodo":

    Os pensamentos, apesar desua imaterialidade, so to visveise tangveis como se fossem denatureza corprea, j que, se a umser ou objeto desta ltimamanifestao possvel v-locom os olhos e palp-lo com asmos fsicas, pode-se ver ospensamentos com os olhos dainteligncia e palp-los com asmos do entendimento, capazesde comprovar plenamente suarealidade subjetiva.

    Quando Raumsol criou seu mtodo comobjetivo de levar o ser humano a conhecer a si mesmoe evoluir conscientemente, visou tambm ensinar aconhecer todas as deficincias e defeitos que nos criamproblemas diariamente; identificar, selecionar estespensamentos chamados deficincias, ou os que sodefeitos. Alguns tm de ser controlados e postos aservio da inteligncia, como a rebeldia, por exemplo;outros devem ser literalmente eliminados tal o caso

  • do egosmo, dos engendros instintivos que induzem perversidade, do rancor, etc. Entretanto o mtodo deRaumsol tambm ensina a criar pensamentos que viroa servir a nossos propsitos de aperfeioamento, desuperao tanto exterior como interna.

    Os pensamentos so criados a partir de um quererforte (chamado "anelo" em espanhol, a lngua em queRaumsol escrevia), de uma inquietude qualquer (comoa necessidade de saber, por exemplo), de uma aspirao,uma necessidade ou um sentimento. Uma dasfaculdades da inteligncia, a principal chamadafaculdade de pensar cria este propsito. Porexemplo, este trabalho que o leitor ora consulta nasceudo propsito de levar aos alunos uma contribuio nosentido de transmitir o que sei a respeito da tcnica deescrever, com base nos ensinamentos de Raumsol, omestre que me ensinou a aperfeiar o uso da minhainteligncia. Igualmente, uma pessoa que planejaescrever um trabalho sobre "a revoluo literria deGuimares Rosa" ou "consequncias da corrupo naprodutividade anual do Brasil", primeiro cria umpropsito. Assim, tambm, o pensamento da melhoriaeconmica, o de estudar para assumir uma profisso,so todos propsitos surgidos ora de uma necessidade,ora de uma aspirao, etc.

    Em nosso caso, estamos estudando como se usa afuno de pensar ou seja, o uso de todas asfaculdades da inteligncia para produzir trabalhos dedescrio, narrao ou dissertao em forma escrita.Cada uma dessas criaes um pensamento que se vaigerar e fazer crescer usando a inteligncia. No ociosorepetir: uma coisa o uso da funo de pensar, outraso os pensamentos. Uma pessoa que entra em umnibus, senta-se e observa sua mente devaneando,aquele entra-e-sai de pensamentos que se movimentam

  • livremente pelo sistema mental esta pessoa no estpensando; so os pensamentos que transitam por seuespao mental sem nenhum controle.

    Vamos seguir adiante no processo de criar umpensamento, aps ger-lo como propsito. A maioriados propsitos no chega a se concretizar em realizaopor vrios motivos, sendo quase todos estes obstculospensamentos negativos que interferem na realizao. Omtodo de Raumsol ensina a superar estas causas defracasso. No caso que tratamos, para que o propsito serealize, ele precisa ganhar espao suficiente no sistemamental, amadurecer e realizar-se, passando do mundomental ao mundo fsico. necessrio que estepropsito se reproduza como pensamento, para ganharvida na realidade material.

    Reproduzir-se quer dizer "produzir-se outra vez."Como possvel a um pensamento produzir a si mesmonovamente?

    Ensina Raumsol a esse respeito:

    A reproduo de pensamentos namente se realiza por uma necessidadenatural e em obedincia lei deconservao.

    Suponhamos que a aspirao decultivar uma cincia, uma arte ou umaprofisso tenha chegado a concretizar-seali em um pensamento propsito. Essepensamento, para poder conservar empermanente ao o motivo central que oalenta, necessita reproduzir-se, e para

  • isto procriar novos pensamentos, umasvezes por prprio e espontneoconcurso, outras pelo concurso dospensamentos que sustentam a cincia, aarte ou a profisso eleitas.

    Ao culminarem os esforos na etapafinal de seu desenvolvimento, oconhecimento adquirido ser o frutohereditrio do pensamento propsitoque deu origem aos pensamentosconhecimentos, dos quais a intelignciase servir doravante para desenvolversuas atividades no campocorrespondente especialidadecultivada.

    O expressado ser suficiente paraque se compreenda que no basta criarum propsito, mas que foroso dot-lo de tudo quanto possa contribuir a seudesenvolvimento at sua total execuo.

    A reproduo de pensamentosaumentar, assim, a energia mental quedemanda a realizao de uma aspirao epermitir ao pensamento-propsitoabarcar uma zona da mente cada vezmais extensa.

    Vejamos como um pensamento deve se reproduzirna criao do trabalho dissertativo.

    Ao criar a idia que ser o ponto central dadissertao, o autor do texto ir buscar em sua mentetudo o que conhece a respeito do tema eleito.

  • Suponhamos que esse tema seja "o maior responsvelpela violncia urbana o consumidor de drogas ilcitas."O primeiro movimento ser o de buscar na mente tudoque se possui de conhecimentos a respeito da violnciaurbana, uma vez que no se pode escrever sobre aquiloque no se conhece. medida que o pensamento seforma por este meio, ele ir se reproduzindo, dia apsdia, at ganhar uma definio boa o suficiente para setornar trabalho de composio escrita.

    Entretanto apenas o conhecimento ou aexperincia pessoal podem no ser bastante paracompor o texto. Nesse caso, o pensamento dever sereproduzir usando o conhecimento alheio, que sebuscar em livros ou em conversas com pessoas queentendem do assunto. Este um problema central parase conceituar a criao. Como ningum conhece amente, seu funcionamento para criar pensamentos, noambiente acadmico se acredita, de modo s vezesbastante grosseiro, que criar pensamentos segregar ummonte de teorias novidadeiras, que as pessoas irorepetir durante certo tempo, at que outras assubstituam. por esta crena, fruto da ignorncia do que a inteligncia e os pensamentos, e da mecnica dosistema mental, os estudantes so obrigados a fazercitaes aos montes, a granel, em seus trabalhos; soproibidos de escrever em primeira pessoa, obrigados aproduzir apenas coisas "que todo mundo j conhece",pois se pensa que criar pensamentos inventar teoriasnovas, e como os estudantes ainda no conhecem tudoque os tericos figuraram, eles so incompetentes paracriar.

    Porm o estudante, ao compor seu trabalho escrito,est criando um pensamento em sua mente. Estepensamento, medida que se reproduz usando o que oestudante foi buscar em livros, ou nas anotaes em

  • classe, no conselho de professores, tomar forma namente de quem o criou como pensamento-prprio.Amadurecido, finalmente, este propsito propriedadedo criador do trabalho. Portanto, obrigar um estudantea fazer o triste papel de macaco de imitao,alinhavando citaes, alm de inibir a capacidade mentalde quem vtima dessa espcie de amesquinhamento dainteligncia alheia, viola a melhor tradio doindividualismo ocidental, introduz um mecanismo deglorificao do anonimato como se aindaestivssemos na Idade Mdia e constrange a mentede quem produz o trabalho escrito. Alguns professoreslevam to a srio a necessidade, em moda atualmente,de tolher a liberdade de pensar do estudante, que dizemser obrigatrio "escrever s o que todo mundo j sabe."Em outras palavras, o estudante no vale pelo quepensa, mas pelo que repete. Talvez esse mtodo sejafruto da crena de que o ser humano apenas ummacaco evoludo, o que faria de nossos estudantes umbando de macacos de imitao.

    Seja como for, criar um pensamento no significainventar teorias, dizer coisas originais ou que seja. Isto apenas uma faceta dos poderes que possui a mentehumana. Criar um pensamento segregar e re-segregara substncia mental que, ao amadurecer, poder passardo mundo mental para o mundo fsico onde se tornarrealidade.

    2. DescrioQue descrever algo? Uma resposta direta e

    simples seria: "Descrever colocar as caractersticas deum mineral, um vegetal, animal, ser humano ou de umapaisagem."

  • uma definio do que seria "descrever", masainda no nos diz como nossa mente trabalha quandoest criando uma descrio.

    Ponto importante a colocar deve ser o uso daobservao. De acordo com o pensador argentinoGonzlez Pecotche (Raumsol), as faculdades da nossamente, falando de modo bem simples, so: "pensar,razo, julgar, intuio, entender, observar, imaginar,memria, predizer, etc., as quais so assistidas poroutras faculdades que devemos chamar de acessrias,cujo trabalho discernir, refletir, combinar, conceber,etc. Todas estas faculdades formam a inteligncia. ALogosofia denominou a esta ltima "faculdade cume",porque abarca todas as faculdades da intelignciajuntas."

    Tais poderes intelectuais podem trabalhar de modoindependente ou como um sistema, interconectados ouinterpendentes. A observao, que a capacidademental bsica usada para realizar boas descries, podeoperar sozinha, porm de ordinrio ela se liga memria, razo, ou mesmo faculdade de pensar esta ltima a responsvel pela criao de pensamentos.De acordo com os conhecimentos de GonzlezPecotche, a faculdade de pensar o poder intelectualmais importante que temos em nossas mentes.

    Para descrever um objeto, podemos simplesmentecolocar suas propriedades, ou seja, suas caractersticas,sem comentrios adicionais. Caso se arranje estadescrio de modo organizado, se estar usando a razocombinada com a observao, uma vez que a razo afaculdade encarregada de organizar os pensamentos emnossa mente. Pode-se tambm enfeitar este objetomental, deixando que a imaginao interfira. Alm disto,suponhamos que a descrio contenha expresses de

  • entusiasmo, ou sensaes como o amor, o dio, rancor,depresso. Neste caso, a pessoa pode permitir, ou no,que participe no processo a sensibilidade, ou seja, asreaes sensveis, ou o instinto, que comanda as reaespassionais. Pode-se tambm descrever um objetousando o poder de combinar as sutilezas que o formam,mas pressupondo que ser preciso realiz-lo dememria. Ento aparecem a memria e a observaooperando em conjunto.

    Como se pode ver, a Logosofia nos sugere quetodos deveramos aprender como manejar as faculdadesda nossa inteligncia, e tambm as da nossasensibilidade com plena conscincia.

    2.a Como a razo contribui paraorganizar observaes?

    A razo absolutamente fria. Por isto, o discursoacadmico em geral considerado montono, oumesmo chato. Entretanto quando aparece a necessidadede arrumar os pensamentos em nossas mentes, a razo a faculdade chamada a atuar.

    Suponhamos que temos necessidade de explicar aum marciano o significado da palavra "cadeira". Nossoaliengena capaz de falar ingls, mas ele no sabe o que uma cadeira em outras palavras, at hoje ele nuncaviu este objeto. Como comear a explicao?

    A interferncia da razo nos diz que se deve dividira descrio em partes organizadas de acordo com ahierarquia, ou com seu grau de importncia. Vejamos,ento: o que mais importante numa cadeira?

  • Neste caso: o propsito do objeto, para que ele usado, esta a caracterstica mais distinta, a maisimportante qualidade ou propriedade dele.

    Assim, seria necessrio comear dizendo a nossoamigo marciano que "uma cadeira um objeto parasentar."

    Esta forma de pensar o que eu particularmentechamo de "raciocnio por excluso." Se dissermos aalgum que "uma ma algo para se comer", se estarexcluindo toda outra ao humana, exceo do ato decomer, das funes de uma ma. Assim, se estardizendo que uma ma NO algo que se usa paraescrever, ou para viajar por via area, ou para cortarmadeira mas algo para comer, e s para isto. Logo,mas so um tipo de comida. Voc tambm pode dizerque "uma ma uma fruta". O resultado seria omesmo, no que tange ao "raciocnio por excluso."

    Ento nosso marciano j sabe que "uma cadeira algo que os humanos usam para sentar." E o que mais importante numa cadeira? Seu peso? A cor? Omaterial que entrou em sua composio?

    Como estamos descrevendo a cadeira comogeneralizao, em forma de conceito comum a todas ascadeiras ou seja, sem especificar nenhuma cadeiraem particular, a cor, o material com que feita estaou aquela cadeira, a altura, nada disso importante.Devemos focar nossa ateno simplesmente noconceito de cadeira e descrev-lo.

    A maioria dos estudantes confunde as duasproposies, bem como mistura caractersticas da maiorimportncia com meros acidentes, o que torna suasdescries verdadeiras bagunas. Se usarmos

  • corretamente a faculdade da razo em tais casos, iremosperceber que descrever algo muito fcil de realizar. necessrio, em primeiro lugar, pensar em tornar aprpria descrio o mais simples possvel para a pessoaque est ouvindo ou lendo esta descrio.

    Boas descries so simples; e a faculdade quesimplifica a transmisso do conhecimento a razo. por isto que o conhecimento cientfico, quandotransmitido mente do pblico em forma depensamentos simples, se torna rpido e leve, s vezesat passvel de entender sem esforo.

    Que mais importante em uma cadeira, alm doseu objetivo? As pores mais importantes que acompem. Tais sees devem ser colocadas juntas demodo coordenado, caso contrrio o propsito dacadeira perder sua funo e teremos uma confusono lugar dele.

    Que partes da cadeira, ento, funcionam como umaintegrao de componentes, um todo? O encosto, oassento, e o suporte das quatro pernas. Tais so aspartes que, unidas ao propsito do objeto,transformariam tais elementos numa cadeira.

    Observe que, se voc mencionar s uma destaspartes componentes, tal como "uma cadeira tem quatropernas", perder a vantagem, previamente adquirida, deusar o "raciocnio por excluso". Cavalos, ces, touros,ursos, todos so objetos de quatro pernas. Assim, preciso manter-se conectado ao objetivo prvio fazer nosso amigo marciano entender para que "noserve" uma cadeira, varrendo da idia quaisquerpropsitos de seu conjunto que no sejam os

  • adequados. Para descrever algo bem, precisotransmitir a impresso de unidade.

    No caso da cadeira, se voc disser ao marciano que um objeto colorido (todo objeto tem cor), que feitade ferro (prdios, locomotivas, facas, espadas so feitasde ferro), que confeccionada com madeira (muitacoisa feita de madeira), voc vai perder o foco.Permanea atento para este ponto: "Preciso raciocinarde tal forma que meu raciocnio dever excluir todos osoutros objetos da minha descrio, e o que permanecerser reunido numa unidade." Esta juno decomponentes (propsito mais os principaisconstituintes) o que realiza o objeto, e uma boadescrio deve considerar este fato.

    2.b Qual a diferena entre descrever edefinir?

    Vamos continuar usando a organizao, feita porGonzlez Pecotche, das faculdades que compemnossa inteligncia. Existe uma grande diferena entre omodo como pensamos ao definir algo, e o modo comousamos nossa inteligncia para descrever esse mesmoobjeto. Para descrever o "homem" de modo superficial, neste caso, "homem" seria a pessoa humana noprecisamos de nada alm da nossa observao sozinha.Um homem tem cabea, um tronco, dois membrossuperiores, dois membros inferiores. No final dosmembros inferiores h as mos, na ponta dos membrosinferiores, os ps. O homem bpede.

    Se necessitssemos ir alm da mera descrio desuperfcie, porm, e captar a essncia do "homem", claro que o objeto se tornaria muito mais complexo dedefinir. Cadeiras so bem mais simples, claro. Qual

  • o propsito de um homem? O que existe dentro de suacabea? Como o homem v?...

    Seriam necessrias muitas horas para descrevermosum homem, a despeito de nossa tcnica de descrever ascoisas numa forma bem ch, de modo simples eobjetivo, porque o "homem" o ser mais sofisticadoque existe neste planeta. Acabamos de atingir a fronteiraentre as descries e as definies.

    Que , ento, uma definio?A fim de descrever algo, a faculdade intelectual

    bsica da nossa inteligncia a observao. Para definir,a faculdade do intelecto mais fundamental a... razo!

    Por que a razo? Simplesmente porque a razo irestimular as outras faculdades para sintetizarem oobjeto "homem" numa definio que abarcar todas assuas caractersticas bsicas. Com apoio nisso, entendoque a melhor definio curta para a essncia do"homem" a colocada por Aristteles algo como h2.500 anos atrs: "O homem um animal racional." Ouseja, h um lado animal na constituio dessa estruturatotal a que denominamos "homem", mas algo maisexiste nela, algo que os animais no possuem: a pororacional. Podemos assumir que, por "racional",Aristteles quis dizer "o homem composto por umsistema mental, um sistema sensvel, conscincia,ateno, livre-arbtrio, e alguns destes rgos existemapenas de modo rudimentar nos animais, enquantooutros nem existem."

    De qualquer forma, as definies se esclarecem emnossas mentes por graus de compreenso, desde queso conceitos.

  • Uma definio um conceito. Ele pode sercomposto por outros conceitos, mas primariamenteuma abstrao. As definies so conceitos puros,enquanto as descries referem-se a uma realidade quese coloca tambm fora de nossas mentes.

    Grosso modo, descrever dizer como um objeto,enquanto definir dizer o que ele .

    2.c Como descrever objetos abstratos?Acreditamos em absoluto que no possvel

    descrever objetos abstratos de modo direto porexemplo, dio ou responsabilidade, amor, saudade, etc.

    Coisas abstratas so noes, impresses, emoes,idias que no tm correspondncia no mundo material,etc. Eles no se referem a gneros ou a espcies queseriam possvels de transformar em descries. Porexemplo, "mamfero" uma idia que remete a qualqueranimal que pertena a um gnero, e possvel que vocpossa descrev-la. Mas como compor uma descrio doprprio signo "gnero"? uma palavra que s se prestaa definies, mas no a ser descrita. Tentar descreverabstraes seria o mesmo que preencher um vazio,tentar converter um objeto puramente mental em algoda realidade material, e tal tentativa resultaria numa aoimpossvel de realizar.

    Descrever saudade, digamos, algo totalmenteimpossvel. Saudade uma palavra que s existe emportugus, e mesmo em nossa lngua no h sinnimopara ela. "Saudade" um sentimento, mas pode sertambm uma sensao pura, como quando se usa apalavra em sentenas como "sinto saudade daquelesbons tempos." Neste caso, a pessoa no quer dizer"quero de volta aqueles bons tempos", mas apenas sente

  • uma nostalgia da felicidade que se curtia ento. Pode-sesentir saudade de um objeto, de um tempo, um espao,duma situao, duma pessoa, ou de animais, vegetais,minerais, duma pedra, de um ambiente... e comodescrever tudo isso?

    Alguns traduzem saudade como "sentir falta de",mas voc pode dizer "sinto falta da minha caneta",embora isto no signifique que voc sente saudade dela.Voc apenas sente falta da sua caneta para escreveralguma coisa, talvez porque sua ponta seja melhor..."Saudade" pressupe uma conexo pessoal entre voc eo objeto com o qual o sentimento vai uni-lo atravs darecordao. H o caso contrrio, em que uma pessoasente saudade de um objeto sem sentir falta dele. Poreexemplo, se voc diz "eu sinto saudade da bicicleta queeu tinha quando era menino", isto no significa quevoc sente falta da sua bicicleta, pois hoje em dia vocnem anda mais de bicicleta. E, alm dela ser hoje algointil, impossvel voc andar numa bicicleta decriana. Neste ltimo caso, "saudade" significa umarecordao da felicidade que se teve no passado, quandocriana, brincando com uma bicicleta de garoto, umaexperincia que s se pode ter de volta por via darecordao, mas na realidade fsica algo perdido parasempre.

    Voltando ao tema do conceito de definio:Se dissermos "O amor o poder de fertilizao do

    Universo", ou, com Gonzalez Pecotche, que o poder desustentao do Universo o amor de Deus, isto seriauma definio, no uma descrio do amor. Pode-seconcordar ou no com estes conceitos, mas impossvel no os conderarmos definies. Definiesno so pensamentos verdadeiros de antemo,aceitveis pelo ponto de vista de quem os ouve ou l,

  • ou at mesmo sensatos. A definio dos nazistas para"raa" no passa de um complexo de idias insanas. Naverdade, a maior parte da nossa comunicao diriarepousa sobre descries e definies que existem apriori em nossas mentes. o que o filsofo EmanuelKant chamou "intuio a priori". Se no existissem as"intuies a priori" (de acordo com o conceito kantianode intuio) seria impossvel realizarmos quaisquer atosde comunicao com nosso semelhante. O que Kantchama de "intuio", os linguistas chamam de"significado". Pareticularmente, prefiro o conceito doslinguistas, pois a intuio uma faculdade da mente, nouma simples juno do significante com o significadode um signo.

    Em forma de nota, esclareo queminha conceituao das faculdades damente se baseia no conhecimento deRaumsol (Gonzalez Pecotche) sobre ainteligncia e os pensamentos. O sistemamental composto pela mente de umlado, com suas faculdades, tais comopensar, imaginar, intuir, raciocinar, ou amemria, a observao, etc; do outrolado esto os pensamentos, que soentidades autnomas, tm vida prpria epodem passar de uma mente a outra comextrema facilidade. Para melhoresclarecimento sobre o que significaintuir no pensamento de GonzalezPecotche, ver "ImaginacinIntuicin", artigo publicado na coletnea"Articulos y Publicaciones".

  • Quanto ao conceito de significado suponhamosa frase: "Sua paixo por aquela garota era to intensa,que ele quase perdeu toda sua fortuna para satisfazerseus caprichos." A palavra seu pressupes conhecimentodo que seja posse; paixo uma palavra abstratacomplicadssima, e a usamos em geral com significadomuito vago e superficial, no em sua acepo profunda,para nos comunicar com as pessoas; a incluso de intensana frase tambm pressupe uma idia feita de antemosobre o que significa intensidade.

    Algumas pessoas acham que cada ser humano temsua realidade pessoal prpria, e que tais visesindividuais do universo so totalmente separadas dasoutras, ou seja, cada pessoa tem um diferente ponto devista sobre todas as coisas, e estas diferentes noesseparadas da realidade no se conectam entre si,havendo portanto bilhes de seres humanos combilhes de realidades individuais diferentes, que irolevar consigo at o final de seus dias em sua constituiopsicolgica. Se isto fosse verdade, no haveria o signolingustico que nos permite a comunicao com nossossemelhantes, e seramos ou esquizofrnicos todos, outeramos que nos comunicar projetando imagensmentais na realidade, como faziam nossos ancestraisantes de aprenderem a falar.

    Tambm guisa de nota: GonzalezPecotche nos ensina que o primeiroofcio da humanidade foi o que emespanhol se denomina "oficio mudo".Hoje em dia existe uma reminiscncia

  • deste ofcio, na brincadeira, praticadapelas crianas ou pelos jovens, de umapessoa fazer mmica para exprimir algo,enquanto as outras tentam entender oque a mmica quer dizer. A primeiralinguagem da humanidade foi esta, poisos primeiros homens ainda no tinham afala. Nas escolas onde se usa o mtodode Raumsol para ensinar crianas apensar, os meninos so estimulados abrincar de "oficio mudo" paradesenvolver a habilidade de exprimirpensamentos e para tornar maispoderosa a observao das sutilezas dalinguagem humana.

    Descrever pode tambm traduzir a expresso "dizerCOMO algo ", enquanto por outro lado definir podeser "dizer O QUE este algo." claro, para tentardescrever uma cadeira a fim de informar a algum OQUE ela , voc ter que discriminar sobre seu usotambm (para qu), ou sua descrio ser incompleta.Entretanto de certa forma "como" ou "o qu" so osobjetos, define a diferena entre descries e definies.

    Um ltimo comentrio: discriminarsobre O QU e PARA QU umacoisa ou um conceito no to fcilcomo parece. O ensinamento deGonzalez Pecotche neste rea abrangetodo o incio de seu trabalho a respeito

  • do conhecimento de si mesmo e doprocesso de evoluo consciente.

    Para conhecer a si mesmo, precisoconhecer a fundo a diferena entrepensar e pensamento dentro do prpriosistema mental, bem como a diferenaentre sentir e sentimento. Esteconhecimento pressupe a deciso deexaminar TODOS os conceitos (ou asdefinies) que existem em nossa mente de modo paulatino, claro, pois isto impossvel de fazer duma s vez. medida que se vai conhecendo overdadeiro mecanismo do sistemamental e do sistema sensvel, as leis queregem esse mecanismo tambm soconhecidas, e tudo que contradiz estasleis preconceito. Uma pessoa com amente pejada de preconceitosideolgicos, religiosos, pessoais, etc.,jamais consegue conhecer a si mesma,uma vez que no tem condio deentender o funcionamento de seussistemas mental e sensvel, nem deorganiz-los, por causa dos preconceitosque travam, desviam, distorcem ou atdestroem a possibilidade de haver estefuncionamento.

    2.d Algo sobre essncia e acidentePor que estas noes so importantes para realizar

    boas descries?

  • Tem havido ampla discusso filosfica a respeitodos conceitos de essncia e acidente. Uma vez que este s um artigo, no podemos mergulhar profundamenteno assunto, mas tratar apenas o bsico dele. Com intuitode informar os estudantes sobre as abordagenscontroversas definio de "homem", e ilustr-lo sobrequo disputada tem sido a questo das definies,vamos nos fixar numa tentativa rpda de entender osconceitos de essncia e acidente no pensamento deAristteles. De acordo com Aristteles, a essncia dohomem precede sua existncia. Assim, definir o que um"homem" se torna sinnimo de identificar a essncia dohomem. Tal essncia existe anteriormente a nossonascimento como membros da humanidade. Destamaneira, somos todos "animais racionais", e esse nosso estado permanente, no importando o queacreditamos ter sido o mtodo pelo qual tal essncia nostenha sido dada: por um deus religioso, por um deusno-religioso, pela natureza, pelas leis da Criao, etc.Conforme Aristteles, no existe livre-arbtrio emrelao escolha da essncia do homem, pois ela nosfoi concedida antes do nascimento, simplesmenteporque somos todos indivduos humanos, e no nos possvel escolher de outra forma. Em conformidade aopensamento de Aristteles, a essncia do homem defineo que somos, e se a mudarmos, nossa humanidadedesaparece.

    Com base nisto, as definies referem-se a poresessenciais da coisa que descrevemos ou definimos,enquanto a descrio poderia at se tornar maiscomplexa que uma definio. De acordo com adefinio de Karl Marx, a religio o pio do povo. Mascomo descrever uma religio? H algo mais a sercolocado, porm: se voc fizer uma cadeira em pedaos,e usar sua essncia material (madeira, por exemplo) parafazer molduras, esta essncia material a madeira

  • permanecer igual a si mesma, embora a descrio ou adefinio do que vir como consequncia da destruioda cadeira para fazer molduras mude por completo. Nasequncia, teremos que descrever ou definir umamoldura, e no uma cadeira, apesar do materialempregado ser o mesmo. Mais tarde, poderamosdesfazer a moldura e usar sua essncia material parafazer uma caixa, e assim por diante.

    Assim, a essncia de um objeto individualizado sua estrutura como um todo, no apenas a poroaparente desta. Tudo que faz parte da composio deuma coisa individualizada (esta cadeira, no cadeiras emgeral), pertence sua essncia; neste caso, isso torna asdescries um pouco mais difceis de realizar do quepoderia parecer num primeiro momento. Por outrolado, a descrio de um objeto no-individualizado, umsubstantivo de espcie (comum a todos os gneros,como televiso ou geladeira) deve ignorar sua essnciamaterial, que um acidente na medida desta descrio.Como se pode ver, o assunto relativo a descries edefinies algo mais complexo do que se poderiasupor numa considerao inicial.

    Voltemos rapidamente definio de "homem".Aristteles define os seres humanos como tendo umaessncia anterior a tudo o mais. A essncia do "homem" anterior sua existncia. Isto no difcil de entender:sculos antes de nascer, eu era um "animal racional".Sculos antes de nascer um cavalo, ele era umquadrpede. A essncia de um objeto ou de um ser vivoexiste em forma de arqutipo muito antes dele existir.Um pouco adiante, veremos como, em relao ao serhumano, isto no totalmente verdadeiro, quandoanalisarmos o pensamento de Gonzlez Pecotche a esserespeito.

  • No sculo XX, os filsofos existencialistaspensaram o oposto de Aristteles: os humanos no tmuma essncia a priori, porque a existncia humanaprecede sua essncia. Para os existencialistas, quando oshumanos chegam a este mundo eles s existem, simplese livremente, e isto quer dizer que sua humanidade no dada por antecipado. No momento em que ns,humanos, chegamos a este mundo, somos nada maisque uma forma existente. O que define nossa essncia a liberdade para escolher o que vamos FAZER.Adquire-se uma essncia imediatamente aps a primeiraescolha. Assim, "livre-arbtrio" questo de selecionaralgo em conexo com os valores do mundo. Nossaescolha pode variar de algo inocente at a mais radicalde todas as opes: podemos escolher apenas existir, eno ter essncia. Foi o que os "Beatniks" fizeram nosanos cinquenta: os crimes horrendos do passadorecente, a Segunda Guerra Mundial, era tudo evidncia,para a juventude do ps-guerra, que o mundo era tobaixo quanto pode ser o mais asqueroso dos objetos.Cerca de cinquenta milhes de pessoas forammassacradas na Segunda Guerra Mundial, e os horroresmais extremos haviam sido perpetrados recentementecontra a humanidade. A "Beat Generation" sentiu que avida nesse mundo no tem significado em absoluto, euma sociedade que permite a carnificina massiva quesabemos ter ocorrido no sculo XX no merece quevivamos nela. Influenciados pelo Zen-Budismo e pelaFilosofia Existencialista, grupos de jovenssimplesmente decidiram escolher no fazer nada nesteplaneta em outras palavras, existir apenas, e nuncapenetrar no mundo exceto para realizar o necessrio nosentido de praticar algum meio de sobrevivncia.Chamou-se a isto, mais tarde, "sociedade alternativa". Apalavra "Beat" uma gria americana que significa"consumido", exausto, abatido ao extremo. Os Beatles

  • (Beat+suffix) se inspiraram nos Beatniks para criar onome de seu grupo de rock'n roll.

    Para transmitir uma idia do quo complexo podeser o assunto colocado acima para a filosofiacomum, vamos ler um comentrio inserido naWikipedia sobre esta concepo da existncia anterior essncia (traduzido por mim para o portugus):

    A existncia precede a essnciaUma proposio central do

    existentialismo que a existnciaprecede a essncia, e isto significa que avida real de um indivduo o queconstitui sua "essncia", em vez deexistir uma essncia pre-determinadaque define o que ser humano. Apesarde ter sido Sartre quem explicitamentecunhou a frase, noes similares podemser achadas no pensamento de muitosfilsofos existencialistas, de Kierkegaarda Heidegger.

    [...] uma pessoa se define apenas (1)na medida em que age e (2) em que responsvel por suas aes. Porexemplo, algum que age cruelmentecom relao a seus semelhantes definido como um ser cruel. Alm disso,atravs da crueldade esta pessoa se tornaresponsvel por sua nova identidade(uma pessoa cruel). Isto se ope culpa

  • que em geral se coloca nos genes, ouseja, na "natureza humana".

    Como Sartre coloca a questo, emseu livro "O Existentialismo umHumanismo": "o homem primeiro detudo existe, encontra a si mesmo, surgepara o mundo e s depois vai sedefinir." claro, o aspecto maispositivo, teraputico disto, estimplicado: voc pode escolher de mododiferente, e ser bom em vez de ser umapessoa cruel. Aqui tambm fica bemclaro que a partir do momento em que ohomem pode escolher ser cruel ou serbom, ele no nenhuma dessas coisasessencialmente.

    Vamos comparar estes dois conceitos a idiaaristotlica e a existencialista sobre o que a essnciahumana. Pode-se definir uma coisa, maneiraaristotlica, mesmo anos, sculos ou milnios antes delaassumir existncia. Se um casal humano tiver duascrianas nos prximos anos, seus filhos projetadossero "animais racionais" longo tempo antes da mulherficar grvida. Este o conceito de essncia porAristteles: a essncia algo que precede a existncia.Por tal razo, podemos definir um cavalo ou uma estrelaantes deles adquirirem existncia. A definio umanoo mental sobre algum ser material, moral, mentalou espiritual; eis porque se pode definir qualquer coisaem particular, tenha ou no aquele objeto j adquiridoexistncia. Basta conhecermos o gnero ou a espcie qual ele pertencer quando passar a existir.

  • No oposto, os filsofos existencialistas acham queum ser humano no pode ser definido em absoluto,dado que nossa essncia se escolhermos ter uma s pode acontecer depois, e nunca antes, de assumirmosa existncia. De acordo com os existencialistas, ohomem o nico ser da natureza que pode escolher oque ele ser, e essa escolha condicionada por nossasaes. Assim, uma pessoa que pretende adquirir umaessncia deve AGIR, sendo tal ao uma questo deescolha; alm disto, qualquer escolha trar totalresponsabilidade pessoa que a realizou. De certaforma, com relao culpa o filsofo existencialista mais severo ainda que os religiosos cristos. Ningumpode culpar os "genes" ou as "doenas" por seu ato malescolhido. A pessoa sempre livre para escolher, noimportando as circunstncias. E assim que tiver feito aescolha, obrigada a assumir as consequncias, semnenhuma excusa em absoluto.

    No importando o que pensemos a respeito dosconceitos existencialistas mencionados aqui, eles nosfazem entender que volta e meia as definies so muitodifceis de realizar, em especial as que se referem aobjetos complexos. Mas voltemos ao Aristteles. Deacordo com o estagirita, a palavra essencial, apesar deseu significado muito complexo em relao a coisassofisticadas, deve ser oposta palavra acidental, e se apessoa for descrever uma coisa, deve separar suaessncia dos acidentes de sua composio. A cor de umacadeira, sua aparncia, o material de que foi feita, otamanho do objeto tudo acidente, com respeito descrio daquele objeto como um gnero. Assim, nodevemos simplificar muito os conceitos, mesmoquando os empregando na comunicao comum dodia-a-dia, pois quando algum decide mover-se umpouco adiante, adentrando a natureza das coisas, vai

  • descobrir que uma quantidade considervel de reflexo necessria para iluminar o objeto abordado.

    Vamos agora ao que nos ensina GonzalezPecoteche (Raumsol) a respeito dessa questocontroversa da definio do que um ser humano.Embora os existencialistas estejam certos quando dizemque o ser humano se faz, eles erram ao afirmar que estaconstruo de si mesmo ocorre na escolha, na opopara agir desta ou daquela maneira. Uma pessoa quepratica no campo experimental que sua prpriavida, seu mundo mental, algum que pratica osconceitos de sistema mental, funo de pensar,pensamentos, ensinados por Raumsol, sabe que o serhumano s existe de forma bastante embrionria, e osque ultrapassaram os estgios primitivos do que se podeconsiderar um autntico ser humano so muito poucos.

    Vejamos um sujeito que acorda na segunda-feira demanh de mau humor, e sai para trabalhar reclamandoda vida. No trajeto, se impacienta por causa dosproblemas do trnsito, e chega ao trabalho algonervoso. Enquanto trabalha, tem de enfrentar uma sriede problemas causados por suas deficinciaspsicolgicas, e as causas de seus problemas costumaatribuir a terceiros, o que lhe ocasiona uma srie dedesavenas com seus colegas ou semelhantes em geral.Desordem, indisciplina mental (por exemplo, o hbitode deixar tudo pra depois), impontualidade, asexploses temperamentais pelos contratempos epercalos dirios, vo minando o bom humor docidado ainda mais. Se empregado, a grosseria dochefe termina por acabar de vez com sua boa vontade.Esbarra na irritao dos colegas, e estes na sua prpriairritao. s vezes comete erros por causa do hbito defazer tudo de modo automtico. Aparte os momentosde bonana, que costumam ser poucos, na maior parte

  • do tempo a amargura o leva a sonhar com o prmio daloteria, a aposentadoria, as frias, a cerveja no final desemana... De volta para casa, ainda tem de enfrentarmais um problema, causado pela esposa, que prometeuao filho uma vingana do pai quando este chegar, poiso moleque fez meia dzia de travessuras pesadasdurante o dia. Como se no bastassem as irritaes forade casa, o cidado ainda tem de fazer o papel do deusrancoroso que vai s forras contra seus prprios filhos...

    Vejamos o que nos diz Gonzalez Pecotche arespeito da vida inconsciente, em seu livro "Curso deIniciacin Logosfica":

    Controle consciente dsexperincias pessoais

    44. No comum, o homem no consciente, na maior parte do dia, do quepensa e faz ou deixa de fazer, ou seja,no est atento a tudo que vaiacontecendo dentro dele. Distrai-se comsuma facilidade ou buscadesnecessariamente motivos dedistrao. Por outro lado, descuida deno poucas das coisas que deberiammerecer sua ateno, essa atenoconsciente que inclui o estudo de cadasituao, a anlise detalhada dascircunstncias que a criaram, aresponsabilidade que lhe incumbe emcada caso, etc. H os que trabalham compressa, como se fugissem deles mesmos,e os que o fazem com despreocupadalentido. Teme-se o esforo que

  • demanda o ato de pensar, amide seconfia na sorte para solucionar osproblemas. Aparte os momentos decio, ou de descanso, breves ouprolongados, a maioria busca amenizarao mximo seu tempo comentretenimentos e diverses. Queconscincia pode por de manifesto umser que vive na forma descrita? Estapergunta leva a definir o carter ambguode seu comportamento, que reflete nos ausncia de domnio, mas tambmfalta de sentido com respeito direoque se deve dar vida.

    A colocao dos existencialistas bastante ingnua.Uma pessoa que desconhece a atuao dospensamentos escrava deles na maior parte do tempo."De hoje em diante vou agir de modo diferente",promete-se quem passa por alguma experincia difcil,mas logo depois se pega atuando como sempre. Umestudante que sofre de falta de vontade crnica tenta seratento, concentrar-se nos estudos, mas no consegue.

    Os cientistas prevem, para meados do sculo XXI,que a doena mais comum da humanidade ser adepresso crnica. Eu, particularmente, o autor destetrabalho, pressinto e principalmente intuo para estesculo uma situao de sofrimento extremo, que ir seagravando at que a humanidade ser forada a acordarde seu sonho milenar.

    Este "sonho milenar" a que me refiro fcil deentender. H dois ou trs mil anos, o ser humanoandava a cavalo, e para viajar cem quilmetros

  • demorava s vezes um ms inteiro. Hoje se vai Lua, epara uma pessoa do Rio se comunicar com algum noJapo, basta mandar um email ou dar um telefonema.No aspecto espiritual, porm, continuamos andando acavalo. A diferena absurda entre evoluo material eestancamento moral e espiritual levou alguns aconsiderar que progresso no existe, mas isto fruto domaterialismo dos cientistas, que julgam ser possvelcausar progresso moral e espiritual pela melhoria dosmeios tecnolgicos o que, diga-se, o cmulo daingenuidade, ou da ignorncia.

    Basta olhar ao redor para constatar que o serhumano, como entidade fsica, material, alcanou umprogreso estupendo, mas como ser moral e espiritualcontinua num estgio prximo o que pior: bemprximo do que era h dois ou trs mil anos. Osconceitos relativos moral e ao esprito continuamquase os mesmos daqueles tempos, enquanto namedicina, na engenharia, no comrcio enfim, nacincia e na tecnologia em geral o progresso foiestupendo...

    Portanto bastante ingnuo afirmar que o serhumano se faz pelas escolhas, porque estas escolhasesto condicionadas aos pensamentos que escravizam amente deste ser humano embrionrio, que mal existecomo entidade consciente. Que espcie de escolhaconsciente pode fazer um sujeito que busca realizar algomas, presa de uma impacincia crnica, tenta "queimaretapas" o tempo todo e acaba desistindo de seu projeto?Um sujeito tmido, com a mente bloqueada pelopensamento chamado por Raumsol de "cortedad", vaiver suas escolhas influenciadas todo o tempo pelocomplexo de inferioridade, e as far por impulsos depensamentos que ele mal conhece ou que desconheceem absoluto. Se assumir uma essncia humana fosse to

  • fcil como dizem os existencialistas, no haveria tantofracasso no mundo...

    Este, enfim, o objetivo da cincia criada porRaumsol, chamada por ele de "Logosofia": levar o serhumano a superar tudo que existir dentro dele mesmoe for passvel de superao, criando assim uma novaindividualidade, muito mais ampla, mais livre do que aanterior. Isto o que a Logosofia chama "conhecimentode si mesmo", ou seja, quem cria a si mesmo conhece oque criou, e ainda ajuda o semelhante a fazer o mesmo,mas pela nica via possvel: o conhecimento.

    Dizer que, neste mundo onde vivemos hoje,controlado por foras cada vez mais materialistas e,muitas vezes, malignas, possvel fazer todas asescolhas por vontade prpria, demonstrar um enormedistanciamento da realidade que se vive. At mesmo emcoisas mnimas se observa que isto impossvel. Grandeparte dos jovens brasileiros saem de casa e assumemuma profisso que no a de suas escolhas, porqueprecisam com urgncia se livrar do ambiente infernalque vivem em seus lares, com pais intolerantes,desrespeitosos, cuja frequente alterao notemperamento faz os filhos acharem que viver na rua melhor do que viver em casa... Como um jovem nestasituao vai ter liberdade para fazer escolhasprofissionais refletidas, conscientes, se pressionadopor uma realidade to adversa?

    Parece, os filsofos nunca perderam o hbitomental de apoiar suas teorias na lgica do raciocniopelo raciocnio, divorciado da realidade humana euniversal... Mas, ns todos sabemos, a maior parte dasteorias no passa mesmo de manipulao de palavras...

  • Fechando esta parte de meu raciocunio, indo maisa fundo no conceito, podemos observar a diferenaenorme entre uma definio pura e simples, que esttica, e um conceito dinmico, que despertaria noapenas as faculdades da mente, mas tambm asensibilidade. Quando mente e sensibilidade atuamreunidas, pode ocorrer a ativao do princpioconsciente. Para que o conceito modifique a vidaindividual, preciso que ele passe a integrar aconscincia. Vejamos o que nos diz Raumsol a esserespeito, na sua conferncia "La razn y elconocimiento":

    As simples definies s servempara acalmar uma inquietudemomentnea. As perguntas que oinvestigador expressar devem serelaboradas por ele com plenaconscincia do valor que haver derepresentar para sua vida a explicaodas mesmas. E quando observardiariamente as coisas, os fatos, e em seusestudos meditar sobre cada um dosaspectos que lhe interesam vivamente,deve tratar sempre que tudo quantorecolher como explicao de suasinterrogaes seja transladado ao planodo permanente, do eterno; que essaexplicao, uma vez recolhida eabsorvida, no permanea como trasteintil dentro da mente, mas que esteja alipara servir-se dela cada vez que ascircunstncias o requeiram, pois s assim como a vida ganha corpo e se faz

  • possvel sua expanso sempre maisampla, tanto interna comoexternamente.

    *3. Narrativa

    Narrativas.f. Relato, exposio de um fato, de

    um acontecimento; narrao. / Conto,novela.

    Narraos.f. Ato ou efeito de narrar. /

    Exposio escrita ou verbal de um fato. /Obra literria em que se relata umacontecimento ou uma seqncia deacontecimentos e que se caracteriza pelapresena de personagens; narrativa;histria; conto. / Exerccio escolar queconsiste em redigir uma composio dognero narrativo.

    Fonte:http://www.dicionariodoaurelio.com/

  • Inferindo do que acabamos de ler no texto acima, overbo "narrar" significa apenas "contar uma histria".

    Enquanto as descries requerem principalmente afaculdade da observao para serem realizadas, asnarrativas se apiam em duas faculdades bsicas:memria e imaginao. Nenhuma das duas podedispensar a razo, se tm por objetivo organizar ospensamentos que integram o que ser narrado; claro,alm de ser impossvel ignorar a faculdade de pensar nopercurso, pois ela criar o pensamento central danarrao a ser criada.

    Pode-se narrar algo que aconteceu no mundo real.Neste caso, a faculdade da memria ser chamada atuao. Se a narrativa inventada, ou seja, se a histrianunca ocorreu na realidade, deve-se usar a imaginaopara figur-la.

    Em ambos os casos, a faculdade de pensar deverpatrocinar a reproduo do pensamento central danarrativa. Ele poder, inclusive, reproduzir-se empensamentos secundrios, como nas novelas deteleviso ou nos romances: h uma trama central evrias secundrias. Se a narrativa feita de memria, opensamento central tambm ter de se enriquecer ataparecer com amadurecimento satisfatrio. Estareproduo do pensamento dever ser feita com muitocuidado. Existem casos de pessoas que, ao tentaremcriar uma narrativa ou uma dissertao, vo colocandotudo que lhes assoma mente na composio escrita, eacabam no criando nada, pois a faculdade de pensarno est bem treinada para selecionar corretamente ospensamentos a integrar a reproduo da idia bsica, eo trabalho acaba como uma grande rvore cujos galhosdeveriam ter sido podados muito tempo atrs. Existem

  • ainda os que tomam um caminho, depois mudam depensamento ao sabor do que lhes aparece na mente.Estes acabam chegando sempre ao ponto de partida...sem nunca sair dele.

    As duas definies apresentadas (memria eimaginao) levam nossas mentes a conectar-se comuma terceira dimenso, que tem causado problemas aosfilsofos, desde que os homens comearam a refletirsobre o significado do mundo em que vivem, bemcomo de si prprios: a dimenso na qual devemosconceituar a palavra "verdade".

    Como foi afirmado, embora alguns digam que cadapessoa tem seu ponto de vista sobre a realidade, e quetais vises so excludentes, impossvel concordar comuma idia to extremista, a menos que consideremos ahumanidade como sendo formada por um conjunto deesquizofrnicos. No possvel percorrer o conceito deverdade neste artigo, mas vamos com certeza abordaralgo bsico dele.

    Em primeiro lugar, se a verdade no existisse, seriaimpossvel aos cientistas descobrirem as leis danatureza. As pessoas usam tais descobertas para criartecnologia, e esta simples evidncia demonstra que huma mirade de formas da verdade que podemosdesencavar em nossa busca permanente peloconhecimento. A prpria existncia da humanidade manifestao da verdade pois se algo tem vida nomundo real, deve necessariamente ter tambm umarealidade, e "real" uma das palavras quereconhecemos, pelo senso comum, como estando emconexo com a idia de verdade. Desta forma,considerando que ns existimos, tal existncia se provapor nossa conscincia de ns mesmos e do mundo ano ser, claro, que acreditemos em filosofias niilistas.

  • Se este o caso, a nica verdade que a pessoa vai aceitarcomo evidente a idia abstrata de que nada real oque no tem a ver conosco, felizmente...

    Entretanto o problema permanece aberto discusso: como confiar na memria humana? Este um imbrglio que tem confundido as mentes no campodo Direito, da Histria, Economia, e em muitosoutros...

    Suponhamos que ontem de manh vimos umacidente de trnsito. Cinco outras pessoas tambm oviram. Uma pessoa observou o evento do terrao de umapartamento, outra estava enchendo o tanque de seucarro numa bomba de gasolina, uma terceira passava denibus, a quarta testemunha um sujeito mope quetinha acabado de perder os culos estava de pprximo a voc, e um quinto cidado a se apresentarcomo testemunha dirigia um carro na vizinhanaquando ocorreu a coliso.

    Muitos pensadores ocidentais utilizariam o fato deque cada testemunha observou a batida de um ngulodiferente como prova de que as noes de realidadevariam de pessoa a pessoa, e de que no existeuniversalidade em nossas apreenses do mundo real.Voltemos a Gonzlez Pecotche, porm: nossopensador argentino afirmaria que tais ngulos no soexclusivos, mas complementares. Basta uma pessoasumarizar estas seis ou sete diversas verses da mesmarealidade, expurgar sua sntese de excessos imaginrios,e ter uma verso excelente, e unificada, do querealmente aconteceu antes, durante e aps a ocorrncia.

    A memria humana est sujeita influncia daimaginao, das paixes, de pensamentos distorcidos,mas tambm de nossos melhores pensamentos e

  • sentimentos tais como o amor, a compaixo, etc.Assim, como confiar em nossa memria, e convencer ans mesmos de que estamos afirmando a absolutaexpresso da verdade?

    Em minha opinio, o fato de diferentes verses damesma realidade poderem excluir umas s outras, noimportando quo falsas e pretensiosas elas possam ser,nos diz que a questo da verdade deveria ser substitudapor outra abordagem, algo menos perigosa, e um poucomais segura: devemos usar nossas memrias to livresde preconceitos quanto for possvel, e o mais prximoque puderem estar da verdade a respeito do fatoacontecido. Neste caso, a memria deve contar com aajuda da observao, da razo, da intuio, da faculdadede pensar; e a memria deve tentar com seriedadediminuir a influncia da imaginao, e manter estaltima sob controle nos limites de seu territrio.

    O conceito de Pecotche sobre a imaginao bemdiferente do comum. No livro "Exegesis Logosofica"(p. 41), Pecotche escreveu:

    Deve-se lidar com a imaginao comextremo cuidado.

    Nas mentes dos homens comuns,observamos que a imaginao promoveconfuso e erros, porque produz umahipertrofia das imagens que apresentacomo reais. usual confiar demais nestafaculdade mental, e em seguida culpar asconsequncias a outros fatores, nunca prpria imaginao. Por isto a Logosofiaadverte sobre a influncia da imaginao,

  • a qual necessrio neutralizar. Aimaginao inclina as pessoas ao fcil;acredita que vai a todo lugar, mas nuncaaparece em lugar nenhum; a imaginaose inebria com a fico, e raramenteconsegue realizar um projeto, dentre osmil e um que arquiteta. A imaginao svezes consegue levar a cabo um projeto,mas sempre com enormes dificuldades.A imaginao acredita, e faz a pessoaacreditar, que tudo fcil de realizar. Talmanobra diminui a fora da vontade, queno final acaba anulada.

    No processo para realizar quaisquerprojetos, especialmente aqueles que sodifceis de realizar, o trabalho dainteligncia que deve prevalecer. Ainteligncia move e ativa a vontade emdireo ao sucesso de seu trabalho.Esquecer tal realidade o equivalente apreferir uma inferioridade que as gentesno podem nem devem desejar.

    Pode-se inferir, do texto acima, que o conceito queRaumsol avana a respeito da imaginao diferente daidia comum que as pessoas armaram sobre estafaculdade mental. Se no usamos as outras faculdadespara controlar a imaginao, ela pode causar sriosproblemas nossa vida. As pessoas que vo comearum negcio e imaginam que o futuro s tem cores azuis,e logo depois descobrem que a vida uma luta dura, emgeral mergulham em pensamentos depressivos. Porquea maioria das pessoas tm uma imaginaodescontrolada, muito fcil aos lderes religiosos ou

  • polticos empurrarem seus seguidores a situaesdifceis, ou mesmo a guerras que matam milhes. Emperspectiva menos trgica, os demagogos convencemseus aderidos a lhes dar dinheiro em troca de benefciosdivinos, como se Deus fosse um mesquinhocomerciante. A imaginao tambm aumenta o volumedos nossos problemas, tornando-os maiores do que sona realidade...

    Porm Pecotche no nos est dizendo paraexcluirmos a imaginao do nosso cenrio mental; istoseria uma repetio do que a maioria das ideologiasreligiosas propem no caso das religies, elasprescrevem abolir a razo. A imaginao no devetrabalhar sozinha, desde que empurra as pessoas aforada realidade, quando elas permitem que o absolutismodas "imagens em ao" acontea. A questo bemsimples, de acordo com Pecotche: a imaginao sexerce funo criadora quando no se aparta darealidade. Portanto, preciso conhecer a realidade antesde usar a imaginao para criar algo. o que fazemtodos os grandes escritores atravs da mimesis. Oconceito aristotlico pode ser usado aqui para esclarecera idia de Raumsol: mimesis no imitatio, masconhecimento da realidade. A imaginao transformaeste conhecimento em imagens, e neste caso ela exercefuno criadora.

    Convido o leitor a observar como Guimares Rosa,um dos dez maiores escritores do mundo em todos ostempos, nos conta seu modo de criar:

  • [...] Buriti (NOITES DOSERTO), por exemplo, quase inteira"assisti", em 1948, num sonho duasnoites repetido. "Conversa de bois"(SAGARANA), recebi-a, em amanhecerde sbado, substituindo-se a penosaverso diversa, apenas tambm sobreviagem de carro-de-bois e que euconsiderava como definitiva ao ir dormirna sexta. "A terceira margem do rio"(PRIMEIRAS ESTRIAS) veio-me narua, em inspirao pronta e brusca, to"de fora" que, instintivamente, levanteias mos para "peg-la," como se fosseuma bola vinda ao gol e eu o goleiro."Campo geral" (MANUELZO EMIGUILIM) foi caindo j feita no papel,quando eu brincava com a mquina, porpreguia e receio de comear de fato umconto, para o qual s soubesse ummenino morador borda da mata e duasou trs caadas de tamandus e tatus;entretanto, logo me moveu e apertou, e,chegada ao fim, espantou-me a simetriae ligao de suas partes. O tema de "Orecado do morro" (NOURUBUQUAQU, NO PINHM) seformou aos poucos, em 1950, noestrangeiro, avanando somente quandoa saudade me obrigava, e talvez tambmsob razovel dose do vinho ou doconhaque. Quanto ao "Grande serto :Veredas", forte coisa e comprida demaisseria tentar fazer crer como foi ditado,

  • sustentado e protegido por foras ecorrentes muito estranhas.

    Estas foras e correntes "muito estranhas"advieram do prprio esprito deste grande escritor.Como carecemos por completo do conhecimento dens mesmos, ele as chama de "estranhas"... O que nose conhece, s vezes se nos afigura "estranho". Vejamosum texto de Gonzalez Pecotche sobre a imaginao,quando esta faculdade assume funo criadora:

    [...] Tambm (a imaginao)contribuiu formao de no poucoshomens das letras e da arte em suasdiversas manifestaes. Porm ali, longede induzir ao erro, guiou o ser medianteinspiraes, s vezes sublimes, a realizaras obras mais admirveis. [...] Deveu (aimaginao) contar inevitavelmente coma predisposio natural interna, quefavoreceu a exaltao eventual destafaculdade, elevada hierarquia depotncia criadora.

    [...] Porm essas exaltaes notrabalhavam sob o imprio daconscincia; pelo contrrio, uma foradesconhecida parecia dirigir-lhes amente e as mos em suas extraordinriasrealizaes artsticas ou literrias. [...]No so os conhecimentos de que podedispor a conscincia do ser os que

  • dominam esta faculdade, e sim ainspirao que a exalta obedecendo aoutros desgnios ignorados por elemesmo.

    Tal como as descries, as narrativas devem sertambm elaboradas de acordo com tcnicas. Naliteratura, h basicamente trs tipos de narrativas:romance, novella e conto. Alm destes, vamos incluir acrnica, por ser um gnero muito importante, existindoainda o teatro, que mescla literatura e arte. Pormvamos nos ater s trs partes bsicas da literatura:romance, novella e conto.

    O romance uma narrativa longa, com muitospersonagens diferentes, e uma trama com vrias sub-narrativas ou seja, no romance, o pensamento se re-produz com muito mais liberdade que nos outrosgneros. O conto uma narrativa que tem uma tramas, em geral sem tramas secundrias. Possui poucospersonagens, e satisfaz a necessidade dos leitores queno tm tempo para abordar tramas complicadas. Umanovella se coloca entre o romance e o conto; em outraspalavras, corre a meio caminho entre a narrativa longae a curta.

    A tcnica moderna de criar contos foi inventada nosculo XIX por autores americanos, particularmenteEdgard Allan Poe. O rpdo desenvolvimento docapitalismo nos Estados Unidos fez que elesprocurassem formas de expresso literria maisapropriadas aos tempos modernos, significando que astcnicas literrias deveriam se tornar melhor ajustadasao novo modo de vida capitalista. Os autores haviampercebido que o leitor capitalista no podia dedicar

  • muito tempo a ler longas descries, arabescoslingusticos, dilogos retricos pomposos,entrecortados pela ao apenas aqui e ali. O novo leitorno estava mais interessado em histrias que tomavamcentenas de pginas para se desenrolarem. Os temposmodernos impeliram os autores a colocar, em poucaspalavras, o ambiente onde suas narrativas deveriamocorrer, e ir direto ao assunto, transmitir muitas idias eaes em poucos pargrafos, excitar a mente do leitor einduzi-lo ao entusiasmo pela histria logo no comeo, eapresentar um final convincente.

    Talvez o melhor exemplo desta nova tcnica reunindo poesia e prosa, e fazendo um raconto seja"O Corvo" de Edgar Allan Poe. uma narrativa quetoma poucas estrofes para ser contada: pode-se l-la doincio ao fim em poucos minutos. Poe usou apenas duaslinhas e meia para colocar o ambiente onde a histriairia ocorrer; ainda na primeira estrofe, ele apresenta ocomeo da ao:

    Once upon a midnight dreary, while I pondered,weak and weary,

    Over many a quaint and curious volume offorgotten lore,

    While I nodded, nearly napping, suddenly therecame a tapping,

    As of someone gently rapping, rapping at mychamber door.

    " 'Tis some visitor," I muttered, "tapping at mychamber door;

    Only this, and nothing more."Considerando que o leitor brasileiro no tem

    obrigao de ler em ingls, vamos apresentar umacuriosidade literria: as tradues d'O Corvo feitas pordois gnios em minha opinio to talentosos quanto,

  • porm muitssimo mais profundos e complexos emmatria de idias do que Edgar Allan Poe. Vejamos "OCorvo" traduzido por Fernando Pessoa e Machado deAssis:

    MACHADO DE ASSISEm certo dia, hora, horaDa meia-noite que apavora,Eu, caindo de sono e exaustode fadiga,Ao p de muita lauda antiga,De uma velha doutrina, agoramorta,Ia pensando, quando ouvi portaDo meu quarto um soardevagarinho,E disse estas palavras tais:" algum que me bate porta de mansinho;H de ser isso e nada mais."

    FERNANDO PESSOANuma meia-noite agreste,quando eu lia, lento e triste,Vagos, curiosos tomos decincias ancestrais,E j quase adormecia, ouvi oque pareciaO som de algem que batialevemente a meus umbrais."Uma visita", eu me disse,"est batendo a meus

  • umbrais. s isto, e nada mais."

    Assim o leitor, em trs linhas, j sabe o tema dapoesia: uma histria, no uma coleo de pensamentos"poticos": algum bate porta do narrador numa horaque, como cr a superstio do povo, a das aparies.

    S aparecem trs personagens em O Corvo: ohomem que conta a histria, sua falecida esposa ounoiva, e o corvo de maus pressgios, smbolo de tudoque pode existir no lado mais obscuro da mentehumana. A maior parte dos contos se desenvolve aoredor de poucos personagens, porque no oferecem aoescritor tempo suficiente para apresentar muita gente aopblico. Histrias longas (romances) tm de usual umaidia bsica e muitas re-produes do pensamento emidias secundrias, que correm em direo dominantemaior para usar a terminologia formalista. Esta atcnica que vemos nas novelas de TV. Todas asnarrativas e poemas, de costume transmitem uma oumais idias filosficas que o autor quer fazer as pessoasentenderem e pensarem a respeito. A dominante realcostuma ser esta idia. Todos os eventos entrelaadosna trama constituem a parte material desta estrutura, eessa parte deve se acoplar esfera psquica dela. Ou seja,a histria deve aceitar a guia da idia ou das idias que aconduzem. Em linguagem de Raumsol, h umpensamento central que se reproduziu enquanto a idiaestava se desenvolvendo, e nos contos, as reproduesdo pensamento em idias secundrias so poucas ecurtas. Portanto, preciso usar a faculdade de pensarpara selecionar com cuidado o que se vai incluir nahistria, em especial nas narrativas longas, pois costume no resistir ao impulso de incluir tudo que vem

  • mente. Neste caso, como foi dito, a faculdade queseleciona a de pensar, responsvel pela criao dopensamento.

    Entretanto algumas vezes esta idia que guia ou quedirige no existe. Em "A Clean, Well-Lighted Place",Hemingway levou s duas ou trs pginas paradesenvolver um universo de pensamentos filosficos;em "O Corvo", porm, Edgar Allan Poe apenas contauma histria gtica. O ensaio de Poe intitulado "ThePoetic Principle" declara que uma histria no deveriater propsito moral algum. Portanto, em Hemingway opensamento central de base moral, enquanto AllanPoe usa a prpria trama como idia base. Ele advoga a"ars gratia artis", a arte pela arte:

    Tem-se considerado, de modo tcitoou assumido, direta ou indiretamente,que o objeto final de toda poesia aVerdade. Todo poema, tem-se dito,deveria inculcar uma moral; e esta moral o mrito potico do trabalho a serjulgado. () Temos considerado emnossas cabeas que escrever um poemaapenas pelo poema em si, e reconhecerque este foi nosso desgnio, seriaconfessar a ns mesmos que estamos emfalta com a verdadeira dignidade e com afora potica: porm o simples fato que, caso permitssemos a ns mesmosolhar em nossas almas, descobriramos lde imediato que sob o Sol no existenem pode existir trabalho mais digno

  • por completo mais nobre emsupremo que este poema per se estepoema que um poema e nada mais este poema escrito apenas pelo poemaem si.

    No ensaio "Que um romance psicodinmico",aqui publicado, discordei desta idia. Tomando por baseuma proposio til dos formalistas russos, diria queuma idia importante da literatura fazer o leitorenxergar a realidade de maneira renovada sempre, comose a repetio lhe trouxesse uma luz nova a cada dia. Osformalistas gostavam de Tolstoi, porque o autor deGuerra e Paz costumava usar uma srie de artifciosliterrios para obrigar o leitor a enxergar as coisas comorenovadas, e um deles era produzir o efeito deestranhamento, como por exemplo fazer um cavaloproferir um discurso comunista.

    Existe uma lei universal chamada "lei de repetio",que Raumsol descobre aos olhos humanos. Por esta lei entre outras, claro todas as coisas evoluem. Masa repetio, na humanidade comum, longe de produzirevoluo, reproduz uma rotina incessante, irritante. Oresultado a permanncia praticamente no mesmolugar sempre, e o que se colhe de evoluo espiritualneste processo mecnico quase nulo. Um dosobjetivos de Raumsol ensinar as pessoas a parar deevoluir de modo inconsciente e passar evoluoconsciente, comeando pela identificao,individualizao e seleo dos pensamentos, e pelaorganizao de seus sistemas mental, sensvel einstintivo. E um dos segredos que aprendi comRaumsol foi como usar a repetio para produzir umagrande novidade a cada dia, renovar impresses,

  • emoes, renovar pensamentos e sentimentos masnunca, jamais utilizando artifcios, pois o processo deevoluo consciente preconizado por Raumsol nonecessita deles. Este um dos grandes segredos doromance psicodinmico: a histria no tem nenhumartifcio em absoluto, sempre a mesma na trama,porm o leitor encontra nela novos alicientes morais eespirituais cada vez que retorna e renova sualeitura, porque a repetio em Logosofia no induz aocomportamnento mecnico, uma vez que o processo deevoluo consciente se realiza em espiral. Portanto, parauma histria ser psicodinmica essencial que elapossua contedo moral e espiritual, caso contrrio elase esgotar na primeira ou segunda leitura...

    O Corvo, porm, uma histria por ela mesma, umpoema per se e de modo assumido. Allan Poe notem inteno de ensinar nada na esfera moral. Empoucos minutos, o leitor encontra que uma mulherchamada Lenore tinha morrido, e que a lembrana dostempos idos, quando o narrador e Lenore tinham vividojuntos, ir assombrar para sempre a memria dohomem. O efeito sombrio das cortinas fantasmagricas;a hora (meia-noite), a noite invernal oferecem o pano defundo para a entrada de um corvo que profere umanica palavra: Nevermore (Nunca Mais). De incio opersonagem principal no leva a ave a srio, mas logoele salta dum estado de admirao com a entrada docorvo em sua cmara de dormir ao alarme, at queatinge o horror extremo realizando o propsito dePoe, que dar pbulo ao surgimento duma impressomacabra no peito do leitor.

    Na verdade, as histrias ps-modernas, expressoduma decadncia extrema, costumam tender maneiracomo Poe e seus confrades concebiam as novas formasliterrias. No preciso dizer que considero isto uma

  • expresso acabada da decadncia de uma culturamilenar que est se esboroando. O autor no temobrigao nenhuma de edificar a moral, a ideologia, areligio ou que seja. claro que o autor livre paraescrever o que quiser. Diga-se, na maioria das vezes estaquesto moral foi usada por fazedores de milagres comsede numa instituio multinacional riqussima, baseadana Itlia, ou pelos outros milagreiros, alm dosmanipuladores de ideologias e mentes que pulularam nosculo XX nazistas, comunistas, fascistas e outroscom objetivo de usar a literatura com o fim esprio deanular a funo de pensar dos leitores e manipular suasmentes. Na maior parte das vezes, isto encerrou aliteratura numa camisa de fora, como a que oscomunistas inventaram no sculo XX. Os autorescomunistas eram obrigados a enfiar o Marxismo emtudo que escreviam; isto era chamado de "RealismoSocialista". Durante muito tempo, os escritoresbrasileiros foram constrangidos a dar um "contedosocial" a suas histrias, sob pena de serem considerados"reacionrios". O clebre protesto de Cac Diegues, nosanos 70, quando veio mdia denunciar as "patrulhasideolgicas", marcou esta expresso para sempre noportugus do Brasil.

    O fato de ser adepto do romance psicodinmicocriado por Raumsol me leva a advogar um novo uso,uma nova forma de criar histrias com objetivo decontribuir para o avano moral e espiritual dahumanidade, livre por completo de constrangimentosreligiosos ou polticos; histrias que dependero porexclusivo do talento individual de seus autores, e da suahabilidade para transformar o nvel de conhecimento desi mesmo adquirido, em auxlio ao progresso extra-fsico da humanidade.

  • Vale a pena mencionar que desde as primeirasocorrncias literrias at o sculo XIX cristo, osescritores reconheceram tacitamente que o trabalhoprincipal de uma obra literria era edificar uma moralpositiva. A liberdade de todo constrangimentoideolgico, religioso ou poltico, ao menos nasdemocracias ocidentais, penetrou no campo literriosomente no final do sculo XIX.

    Por ltimo, devemos assinalar que os leitores nodevem acreditar que uma narrativa histrica anecessria expresso da verdade o que muitocomum entre os menos acostumados s teoriasliterrias. Por exemplo, uma narrao que ocorre naItlia durante a Segunda Guerra Mundial, e envolvesoldados brasileiros lutando no Vale do P, apresentaalguns fatos histricos patentes: os brasileiros foram osnicos latino-americanos a lutar na Segunda GrandeGuerra, sua briga real foi contra os alemes no norte daItlia, e isto aconteceu no sculo XX. tudo fato real.Porm os eventos que envolvero os protagonistas,seus amigos, etc., no importando se baseados ou noem caracteres reais, jamais expressaro a verdadeabsoluta, uma vez que os autores nunca descartam afaculdade de imaginar para criar suas narrativas.

    4. Dissertaes ou tesesDISSERTAO s.f. Discurso,

    exposio ou exame minucioso dedeterminado assunto. / Exerccio escritoem que os alunos expem suas idiassobre tema dado pelo professor, ou desua livre escolha.

  • In: Aurlio, Internet

    Dado que uma dissertao, breve ou longa, discurso feito para demonstrar que uma ou mais idiasesto corretas, corolrio dizer que as faculdades dainteligncia atuando para elaborar tal tipo decomposio so a faculdade de pensar, porque ela criaou seleciona pensamentos, e a razo a faculdadeencarregada de organizar objetos mentais. Estas so asduas faculdades principais da inteligncia alm doentendimento, da intuio, da memria, etc. Istosignifica que todo o mecanismo mental denominadopor Raumsol funo de pensar ser convocado aotrabalho.

    De incio, vou desenvolver minhas idias sobre oque uma dissertao, falando de modo generalizante,para em seguida expor alguma crtica sobre o conceitops-moderno de tese, ou de dissertao acadmica.

    ARGUMENTO s.m. Prova que serve paraafirmar ou negar um fato: argumento vlido./ Sumrio de um livro, de uma pea de teatroetc. / Lgica Raciocnio pelo qual se tirauma conseqncia de uma ou vriasproposies. // Lgica Argumento de umafuno, elemento cujo valor bastante paradeterminar o valor da funo dada.

    ARGUMENTAR v.t. e v.i. Usar deargumentos; discutir apresentando econtrapondo razes que, atravs doraciocnio lgico, levem a uma concluso.

  • Como se pode ler, em nenhum momento o Aurliodiz que argumento um pensamento com inteno deconvencer. No entanto, a maioria dos dicionrios assim odefiniria desde os gregos clssicos, conformeveremos adiante.

    No importando o quo popular seja esta verso,s posso admitir que um argumento tenha funo deconvencer em situaes muito especficas. Considerodefeituosa esta idia de que se deve convencer ointerlocutor. Em minha mente, o argumento composto por uma ou mais idias com o desgnio deavanar uma contribuio a outras inteligncias, semprecom o propsito de ajud-las a pensar melhor a respeitode algum assunto. Em poltica, ou mesmo no meiocientfico, os argumentos tm sido usados para fazer aspessoas pensarem igual a quem os profere, o que violaa liberdade individual.

    Abaixo, vamos ler a seo do meu livro "A Luz dosHomens" onde proponho uma nova noo para o signo"argumento":

    Se consultarmos a maioria dosdicionrios ou artigos sobre a arte dedissertar, veremos que se consideraargumento como sinnimo de raciocnioque tem por fim convencer. No entanto,penso que argumentar para convencer imoral; logo, no esta minha inteno.Este meu livro A LUZ DOSHOMENS aponta com seriedadepara os vcios impostos pelas ideologiaspolticas e religiosas, denuncia a

  • corrupo humana, mas no tenhointeresse em convencer as pessoas aconsiderarem meus pensamentosvlidos. Nenhum leitor deve acreditarem mim; pelo contrrio: as coisasescritas neste livro tm por fim convidara refletir sobre aspectos da condiohumana; identificar os artifcios dos quemanejam a mentira com o objetivo que considero o supra-sumo do mal de submeter os outros s suas vontades,a seus caprichos ou perversidade datirania, em especial a pior de todas: atirania que se intromete na conscinciado homem e destri os recursos moraisali enraizados.

    Segundo minha concepo da palavra "tica", oargumento um raciocnio que leva em si o propsitode trazer alguma contribuio ao ideal de melhorar o serhumano. Ou seja, o argumento composto por idiasque pretendem ser verdadeiras, porm tais idias nopodem intentar fazer o ouvinte ou leitor pensar damesma forma que o criador da argumentao. Criarargumentos uma arte desenhada para ajudar aspessoas a julgarem os fatos da condio humana demodo mais acurado, para corrigir erros, ou paramelhorar nossa sabedoria. O argumento planejado paraconvencer antidemocrtico ele agride a tica.

    De acordo com Gonzalez Pecotche (Raumsol): "Daverdade s surgem afirmaes, jamais hipteses." Istono significa que todo argumento deva ser verdadeiro,mas que, para se chegar verdade, preciso antespensar; se cada um contribui com seu aporte de

  • experincia, de observao, raciocnio, pode-se chegar verdade sem discusses estreis, mais prprias daintemperncia tpica da filosofia. Se cada teoria que seinventa contradiz as outras, onde est a verdade?...

    Existe ainda um outro aspecto dos maisimportantes, e que, se posto em prtica pela maioria daspessoas, impediria que os tiranos da mente humanaconduzissem coletividades inteiras, reduzidas aoesprito nmade, para o abismo das guerras, dofantstico cenrio de misrias espirituais, morais efsicas que advm aps a entrega que a ingenuidade faz,aos pastores da ideologia poltica e religiosa, de suasvontades e inteligncias.

    Com relao reproduo de pensamentos, etambm ligado ao dito acima, um dos mnaisimportantes objetivos de Raumsol ensinar quem sededica ao cultivo de seu pensamento a usar a faculdadeda observao. Existem pessoas cuja observao temsumo desenvolvimento, mas se atentarmos para comoela usada, veremos que a maioria dirige esta faculdadepara fora deles mesmos. No de admirar, pois vivemosnuma cultura voltada para o externo quase porcompleto.

    Entretanto a partir do momento em que se aprendea diferena entre pensar e pensamento, comea otreinamento de observar tudo que se passa na mente, guiado pelo mtodo de Raumsol com objetivo depromover uma superao poermanente e, o que desuma importncia, de defender a mente individual dasintromisses de pensamentos que se instalaram neladesde longa data, e tambm defend-la das intromissesde pensamentos alheios. Parte do mtodo logosficoensina, por exemplo, a fazer juzos com base emconcluses amadurecidas, e no com base nas

  • interpretaes alheias, que na maioria das vezes levamintenes no mnimo duvidosas. Se esta faculdade damente a observao usada com disciplina emtodo, torna-se impossvel aos demagogos, aos mal-intencionados, ao vigaristas, ou simplesmente sinformaes com intuito distorcido de penetrarem namente e fazerem nela o trabalho destrutivo que ahistria registra.

    Para criar pensamentos preciso, antes, criar umaindividualidade prpria, que exclui terminantemente apossibilidade de reduzir seu dono condio dehomem-massa, de esprito nmade. Esta realizaobastaria, sozinha, para avaliar o alto cunho pedaggicode um mtodo que visa ensinar o ser humano a pensar,como o mtodo criado por Raumsol.

    Vejamos que nos diz GonzlezPecotche sobre esta importantssimafaculdade chamada observao sempre, claro, chamando a ateno para oconceito logosfico da diferena entrepensar e pensamento:

    Do livro EXEGESISLOGOSFICA

    Quando se conseguir que aobservao, tal como fica indicado,constitua um hbito, se notar que atuaa conscincia. E isto se comprovaporque desaparece gradual edefinitivamente o inveterado costume dedistrair a mente em coisas vagas. O vaziomental produzido pela suspenso

  • frequente do pensamento uma espciede "letargo branco" assim odenomina a Logosofa que, sem sersono, recolhe a ateno como se o fosse,de modo que olhando no se v eouvindo no se escuta.

    A faculdade da observao deve seconstituir em viga permanente dafortaleza interna [...]. Isto lhe evitarincorrer em erros como os que secometem ao elaborar um juzo com basena apreciao alheia, e lhe evitartambm que em sua mente seintroduzam subrepticiamentepensamentos de ndole indesejvel,como os alarmistas, os tendenciosos ouos simplesmente nocivos para o prpriocampo mental.

    Esta , portanto, a possibilidade aberta pelo mtodode Gonzlez Pecotche: a de acumular sabedoriasuficiente para superar as deficincias da prpria mentee, em paralelo, impedir que mentes alheias manipulem aprpria inteligncia. Em outras palavras, tornar-se deverdade o dono de seu prprio campo mental. Istopossibilita ao ser humano criar seus prpriospensamentos. No campo acadmico, por um fim tendncia grosseira, comum nas universidadesbrasileiras, de impedir que o estudante pense,obrigando-o a repetir pensamentos alheios como sefosse macaco de imitao. Considera-se, de modobastante primitivo, que "pensar" criar um monte deteorias. Esta concepo limitadssima do que seja"pensar" leva os professores a agredir o que de melhor

  • existe na cultura do Ocidente: o desenvolvimento, indaque embrionrio, da individualidade.

    Um captulo de Plato intitulado Gorgias, mostra ognio de Scrates demonstrando, ao personagemGrgias, a verdadeira natureza da retrica. Este dilogose aplica a quaisquer perodos histricos, visto aspessoas usarem a retrica como ferramenta demanipulao, tornando desta forma sua prtica imoral,e passvel de culpa sob um ponto de vista tico. Nacitao abaixo, Gorgias aparece com o discurso malintencionado que Scrates ir condenar minutos aps:

    Scrates Qual , como voc diz,o bem mais importante que um homempode ter, bem que voc mesmo cria? D-nos uma resposta.

    Grgias Este bem, Scrates, que mesmo o melhor de todos os bens, oque confere liberdade aos homens, e aoindivduo confere poder sobre seuscompatriotas nos diferentes Estados.

    Scrates E como voc oconcebe?

    Grgias Existe algo maisimportante que a palavra que persuadeos juzes na corte, os senadores noconselho, os cidados na assemblia ouem qualquer outra reunio poltica? Sevoc tiver o poder de pronunciar estapalavra, transformar o doutor em seuescravo, e o treinador de ginstica emseu cativo, e o homem que empilha

  • dinheiro [...] ir acumular tesouros nopara ele mesmo, mas para voc, poisvoc tem a capacidade de falar econvencer a multido.

    No obstante o discurso de Grgias parecer umexagero, pergunto-me, e ao leitor ele no transmite ainterpretao usual que as pessoas geralmente do palavra argumento? Persuadir. Convencer. a fala dosditadores da ideologia religiosa e poltica, cujo objetivo sempre escravizar a mente humana e torn-la dcilinstrumento de seus baixos desgnios.

    O fenmeno da manipulao das mentes,envolvendo multides, convencendo centenas, milhares oumilhes de pessoas a renunciar a suas individualidadespara seguir os "condottieri", os "fuehrers", os"pastores", os "padres", como os rebanhos decarneirinhos so guiados por seus donos estefenmeno observado h sculos. WilliamShakespeare, em seu "Jlio Csar", faz Brutusconvencer facilmente o povo de Roma de que havialiderado uma inconfidncia, matando Csar, para o bemde Roma; alguns minutos depois, Marco Antnioconvence o povo romano do oposto, e os induz rebelio contra os novos detentores do poder. Em"Coriolanus", Shakespeare mostra a mesma tristerealidade: quo fcil conduzir a mente da multidopara onde se quer, bastando com isso que se domine ahabilidade, emulada por Grgias, de convencer. Respeitobastante os milhares de pginas gastos pelos tericospara explicar este fenmeno, mas a verdade simples, eno se necessita de livros e mais livros para explic-la:as pessoas desconhecem o que a mente e ospensamentos, no sabem que possuem um tesouro

  • denominado por Raumsol de "sistema mental", por isto to fcil convenc-las, seja do que for. O mais cmico que todos pensam que os outros so fceis deconvencer, que a humanidade que se deixa levar comtamanha facilidade como espritos nmades, mas deminhas observaes conclu que to fcil convenceros doutores das universidades, que se acham muitocapazes de pensar, quanto convencer os mortaiscomuns, que no possuem ttulos e comendas. A culturacomum no ensina ningum a pensar; s formaprofissionais. Fora de sua rea especfica, o sujeito maisgenial costuma se comportar s vezes pior que osoutros, que ele considera seus inferiores...

    Entre os seguidores de Hitler, Stalin, Mussolini,Mao Ts Tung, havia doutores, PhD's, cientistas derenome, grandes artistas, filsofos, tericos daliteratura, escritores, grandes cineastas... toda essa genteque se acha capaz de pensar s mil maravilhas. Algunsat dizem que os poetas possuem uma capacidade deenxergar a realidade de modo mais profundo que ocomum dos mortais...

    Pois ...Portanto, convencer no deve constituir o objetivo de

    um escritor que se preze, mas prefervel apenas tentarcontribuir com seu aporte para a evoluo dahumanidade. um propsito muito mais humilde emodesto do que as pretenses dos criadores das tais"metanarrativas" discursos fechados que explicamtudo, como o comunista, o das religies estas searrogam o direto de serem nada menos queproprietrias de Deus! o do doutor Freud (Freudexplica!), o das filosofias antigas e modernas, e de tantosoutros. Meta significa "alm de", e eles chegaram almdo qu? Afora o fracasso das "metas", nenhum deles

  • jamais narrou a realidade do ser humano em suaverdadeira estrutura mental, moral e espiritual. A tristesituao da humanidade est a, para demonstrar ofracasso da cultura vigente, ocidental e oriental, apesarde toda a empfia das grandes autoridades dopensamento acadmico.

    4.a A relao entre razo econhecimento

    Sempre que estou ensinando composio escrita,pergunto a meus alunos o que eles pensam ser aprincipal caracterstica duma boa dissertao oconhecimento do assunto ou a coerncia? A maioria dosestudantes responde que se uma pessoa no temconhecimento do que est sendo desenvolvido, serimpossvel ser coerente.

    Vamos ler o que diz Gonzlez Pecotche sobre arelao entre razo e conhecimento:

    A razo e no uma faculdade.Existe e no existe, e s aciona com basenos conhecimentos que se possua. oconhecimento que lhe d vida; sem ele, arazo no poderia exercer sua funocomo faculdade central da mente, pois oconhecimento constitui sua razo deexistir.

    A razo requer o auxlio imediato doconhecimento para poder discernir; elano pode estabelecer nenhum juzo semantes haver buscado e reunido oselementos indispensveis a tal funo.

  • De modo que os conhecimentosaumentam o volume e a considerao dojuzo que vai elaborando essa faculdadecentral chamada razo, a qual, nutridapor es