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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
Versão para registro histórico
Não passível de alteração
COMISSÃO ESPECIAL - PL 6753/13 - PROFORTE
EVENTO: Audiência Pública REUNIÃO Nº: 0020/14 DATA: 12/02/2014
LOCAL: Plenário 10 das Comissões
INÍCIO: 14h57min TÉRMINO: 17h31min PÁGINAS: 61
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
AMIR SOMOGGI - Especialista em Marketing e Gestão Esportiva. FERNANDO FERREIRA - Diretor da Pluri Consultoria.
SUMÁRIO
Debate sobre a situação econômica dos clubes de futebol, das confederações e das federações olímpicas no Brasil com especialistas em orçamento esportivo.
OBSERVAÇÕES
Há orador não identificado em breve intervenção. Houve exibição de imagens. Há orador não identificado. Houve intervenções fora do microfone. Ininteligíveis. Houve intervenções fora do microfone. Inaudíveis.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão Especial - PL 6753/13 - PROFORTE Número: 0020/14 12/02/2014
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Havendo número
regimental, declaro abertos os trabalhos da presente reunião ordinária da Comissão
Especial destinada a proferir parecer sobre o Projeto de Lei nº 6.753, de 2013, do Sr.
Renan Filho e outros, que cria o Programa de Fortalecimento dos Esportes
Olímpicos — PROFORTE.
Encontra-se à disposição dos Srs. Deputados cópia da ata da 7ª reunião,
realizada no dia 5 de fevereiro de 2014, no período da manhã. Pergunto se há
necessidade de leitura da referida ata.
(Não identificado) - Sr. Presidente, peço dispensa da leitura da ata.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Havendo pedido de
dispensa de leitura da ata, coloco-a em discussão. (Pausa.)
Não havendo quem a queira discutir, coloco-a em votação. (Pausa.)
Aprovada.
Comunico que recebemos os seguintes expedientes.
Da Secretaria da Mesa, cópia de ofício da Liderança do Democratas
indicando o Deputado Rodrigo Maia como titular desta Comissão.
Do Sr. Gil Castello Branco, Secretário-Geral da ONG Contas Abertas, do Sr.
Portella, Consultor da Portella e Associados, e do Sr. Walter de Mattos Jr.,
Presidente do Grupo Lance!, correspondência informando a impossibilidade de
participarem da audiência pública em função de compromissos já assumidos.
Ordem do Dia.
Esta reunião foi convocada para a realização de audiência pública com o
tema Debater a situação econômica dos clubes de futebol, das confederações e das
federações olímpicas no Brasil, com especialistas em orçamento esportivo,
atendendo ao Requerimento nº 34, de 2013, do Deputado Romário.
Convido a tomar assento à mesa o Sr. Fernando Ferreira, Diretor da PLURI
Consultoria. (Pausa.) O Sr. Fernando está a caminho, vindo do aeroporto.
Convido a tomar assento à mesa o Sr. Amir Somoggi, especialista em
marketing e gestão esportiva.
Antes de passar a palavra ao convidado, peço a atenção dos Srs. Deputados
para os procedimentos a serem observados durante a audiência.
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O convidado disporá de até 20 minutos para sua exposição, não podendo ser
aparteado. Ao fim das exposições, será concedida a palavra aos Deputados,
observada a ordem de inscrição, para, pelo prazo de 3 minutos cada um, formularem
suas questões, havendo a possibilidade de réplica e tréplica.
Informo ainda que nós estivemos na Assembleia Legislativa da cidade do Rio
de Janeiro no dia 7, sexta-feira, para seminário que promovemos com a presença de
vários Deputados Federais e Estaduais do Rio de Janeiro, bem como de
representantes de clubes de várias modalidades olímpicas — remo, canoagem e
outros. Nós tivemos uma excelente discussão. O Deputado Otavio Leite, Relator,
com certeza tirou um bom proveito desse encontro, que contou também com a
participação do América carioca e de clubes da terceira, quarta e até quinta divisão,
clubes amadores do Estado do Rio de Janeiro. O encontro foi de fato muito
proveitoso.
Nesta sexta-feira, dia 14, nós vamos estar na cidade de São Luís, no
Maranhão, fazendo o mesmo trabalho, ouvindo e coletando informações, para que
possamos elaborar um projeto importante para esta Casa e para o Brasil.
Em São Luís do Maranhão já estão confirmadas a minha ida e a do Deputado
Vicente Candido. Se há algum outro Deputado que queira ir a São Luís, que se
manifeste hoje: ir a São Luís é mais complicado por causa da logística dos voos. Eu,
por exemplo, vou ter que sair amanhã à noite, já que a audiência pública será às
14h. Precisamos organizar a logística para os que pretendem ir.
Na outra sexta-feira, dia 21, nós vamos estar na cidade de Florianópolis, onde
vamos fazer o seminário dos Estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do
Sul. O seminário a ser realizado em São Luís do Maranhão abrange os Estados das
Regiões Norte e Nordeste. Nós escolhemos São Luís por ser uma cidade neutra,
uma Suíça brasileira: ela é do Norte e também do Nordeste. Ela tem o privilégio de
ser da SUDAM e da SUDENE. Nós vamos estar em São Luís para ouvir times e
clubes das Regiões Norte e Nordeste.
Vamos dar início à audiência, ouvindo o Sr. Amir Somoggi. Sr. Amir, como o
senhor já sabe, buscamos aqui a discussão com a sociedade brasileira, de modo a
obtermos importantes sugestões e chegarmos a um bom projeto. É evidente que o
que nós vamos fazer nesta Casa é procurar dar à sociedade e ao Estado brasileiro o
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que lhes é de direito: o fomento do esporte no Brasil. O resto cabe à iniciativa
privada. É claro que não vamos entrar na questão da iniciativa privada, não vamos
trafegar por esse caminho. No entanto, são importantes as sugestões que a
iniciativa privada podem nos trazer para que os Deputados possam formatar as
nossas.
O senhor está com a palavra.
O SR. AMIR SOMOGGI - Muito obrigado. Vou me levantar para melhor
explicar os dados que eu trouxe.
Em primeiro lugar, quero agradecer o convite. É uma honra, como brasileiro,
estar nesta Casa para falar do tema que estudo há tanto tempo, há mais de uma
década: as finanças dos clubes, o negócio futebol.
Eu sou formado em administração de empresas e me especializei em gestão
esportiva, com o intuito de realmente contribuir para o futebol brasileiro. A primeira
coisa que eu gostaria de dizer é que nós, como brasileiros e apaixonados pelo
esporte, sabemos da importância do futebol. Entretanto, o futebol aqui no Brasil, e
também em outros lugares do mundo, posiciona-se muitas vezes acima das leis.
Acreditam que pode estar acima das leis quando não recolhe impostos, quando não
paga contribuições sociais, quando não faz aquilo que todas as empresas e todas as
entidades sem fins lucrativos fazem: recolher o IR de folha salarial.
Então, nós vamos discutir aqui a questão das finanças, mas acho importante
destacar que essa dívida gigantesca que os clubes têm hoje não se justifica por
terem gastado demais, mas porque foram autuados por não terem recolhido os
impostos devidos ao longo de muito tempo e recentemente também.
Isso é apenas uma introdução. No decorrer de minha apresentação vai ser
possível falar um pouco mais sobre isso.
A pergunta que solto aqui é: o PROFORTE é a solução? Ao final, espero ter
respondido, para mim e para os senhores, a essa importante pergunta.
Antes de entrar especificamente na questão financeira dos clubes, devemos
tentar entender o tamanho do nosso mercado. Antes de 2003, nós não tínhamos
muitos dados disponíveis. Uma lei publicada em 2003 obrigou os clubes a
publicarem suas demonstrações financeiras. A partir daí, foi possível começar a
entender o tamanho desse mercado.
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Em 2003, o mercado de clubes de futebol no Brasil — estou falando dos 100
maiores clubes brasileiros — faturava 800 milhões de reais. Esse montante foi
crescendo até chegar ao maior nível da sua história em 2012, ano dos últimos dados
disponíveis, quando esse mercado atingiu 3,5 bilhões de reais, um incremento de
335%. Apenas para citar, o IPCA acumulado desse período foi de 75%. Então, é
indiscutível o profundo crescimento do mercado do futebol. Se durante muitos anos,
2004, 2005, 2006, os clubes reclamavam da falta de recursos, hoje não se pode
dizer isso.
Vejamos alguns dados que comprovam isso: os direitos de transmissão, em
2012, atingiram o valor de 1,4 bilhão de reais; as transferências de atletas, outros
500 milhões de reais; os patrocínios, 497 milhões de reais; a bilheteria, 250 milhões;
as receitas com o clube social, 212 milhões; o sócio-torcedor, uma receita nova que
os clubes começaram a explorar na metade desta década, outros 180 milhões de
reais.
Isso quer dizer que, ao longo última década, a taxa de crescimento médio do
mercado brasileiro de clubes de futebol foi de 16% ao ano, muito acima de nosso
PIB, obviamente, e muito acima do crescimento da indústria do esporte no Brasil. Ou
seja, os clubes estão faturando, proporcionalmente, muito acima da indústria, ainda
que eles representem muito pouco dessa indústria, pouco mais de 4% de uma
indústria de 75 bilhões de reais.
Nós temos hoje clubes faturando acima de 300 milhões de reais, como é o
caso do Corinthians, líder do ranking, com 358 milhões de faturamento em 2012. O
São Paulo teve um faturamento de 284 milhões, o Internacional, de 260 milhões e
assim sucessivamente.
O primeiro dado que chama a atenção — e isso vai ser muito importante para
nós entendermos a situação financeira dos clubes — é que, no caso do Palmeiras e
do Atlético Paranaense, houve duas receitas não operacionais relacionadas às
arenas dos clubes, valores que entraram em 2012, impactando em quase 200
milhões o faturamento dos clubes e que não se repetirão nos próximos anos. Quer
dizer, esses valores foram exclusivos de 2012.
Por que eu estou falando isso? Isso é muito comum na venda de atletas: num
ano, o clube se dá bem, vende seus atletas, consegue dinheiro, mas o custo
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aumenta; no ano seguinte, reduz a venda de atletas — o custo continua alto — e
fecha com prejuízo. Esse é apenas um exemplo que eu queria passar aos senhores.
Esse forte incremento do mercado de futebol, especialmente a partir de 2009,
posicionou globalmente o futebol brasileiro como o maior mercado de clubes de
futebol do mundo fora da Europa. Hoje são 20 clubes por liga. Só na Alemanha é
que são 18 clubes. Aqui eu fiz um recorte com os 20 clubes do Brasil. Para que haja
realmente uma comparação entre os times europeus e brasileiros, eu excluí
transferências de atletas, que os europeus não consideram receita operacional, e os
impactos não operacionais, como os que citei no caso do Atlético Paranaense e do
Palmeiras.
Então, podemos dizer que hoje os 20 clubes brasileiros são as entidades que
mais faturam no futebol e movimentaram 917 milhões de euros, à frente da liga da
Rússia, da liga da Turquia, da liga da Holanda, muito próximo da liga francesa —
devemos passar a França até o final de 2014 ou início de 2015 — e atrás das ligas
da Itália, da Espanha, da Alemanha e da Inglaterra.
Isso significa que o mercado brasileiro está mais do que preparado para
caminhar com as próprias pernas. Os clubes de futebol têm dinheiro de sobra, a
ponto de logo mais serem a quinta força do futebol mundial — é questão de poucos
anos para que isso aconteça. Nós estamos falando de receitas clássicas dos clubes:
televisão, estádios, sócios e marketing, isto é, patrocínios e licenciamentos.
Para que tenham uma ideia do que isso representa, examinando os últimos 3
anos no que diz respeito às ligas mais importantes do mundo, o Brasil só não
cresceu mais do que a liga russa, muito impactada por magnatas que colocam
dinheiro nela, bem diferente do que acontece no Brasil. Nos 3 últimos anos, a liga
russa foi a que mais cresceu, 73% em euros, depois a brasileira, com seus 20
clubes, depois a turca, junto com a Premier League da Inglaterra, com 17%. Quer
dizer, o Brasil está crescendo num ritmo muito superior às ligas tradicionais, que
estão trabalhando num nível de faturamento já mais elevado do que o nosso.
A questão é: estamos crescendo como nunca crescemos e continuamos
vivendo um descontrole financeiro. Por quê? Essa é a primeira pergunta a que esta
apresentação tenta responder.
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Um dos principais motivos é o aumento da despesa. Os clubes,
tradicionalmente, aumentam sua despesa num ritmo superior ao de sua receita.
Quando digo despesa, não me refiro só à despesa do futebol, que é o carro-chefe
das despesas de qualquer clube de futebol, em alguns clubes representa 80%, 90%
da despesa. Mas o que fica muito claro com esse dado é que, em 2012, as
despesas totais dos maiores clubes brasileiros atingiram 3,4 bilhões de reais e
“somente” — entre aspas — 2 bilhões de reais foram gastos no custeio do
departamento de futebol. Quer dizer, os clubes têm, além do futebol, outras
despesas que estão corroendo sua lucratividade ou sua rentabilidade. Essas dívidas
são com o Governo Federal, atualizadas monetariamente e também dívidas
bancárias, contingências trabalhistas.
Os clubes sociais são deficitários e têm, portanto, um problema claro de
administração. Os presidentes são eleitos por um período específico de tempo e
muitas vezes querem marcar sua gestão na história do clube — não estou criticando
nenhum presidente em particular —, querem ser campeões de tudo, mas não
conseguem, muitas vezes, atingir seu objetivo esportivo e endividam muito o clube.
Como exemplo, tivemos recentemente o caso do Palmeiras — apenas para citar um
exemplo —, um clube que não tinha dívidas, muito equilibrado financeiramente, que,
na tentativa de ser campeão de todas as competições — foi campeão paulista num
dado momento e recentemente campeão pela Copa do Brasil —, num dado período,
viu a sua dívida crescer absurdamente. Quer dizer, houve um descontrole financeiro,
o que este gráfico não demonstra. Esta linha preta mostra quanto representa no
faturamento dos clubes o seu custo com o futebol. O ideal é que fique entre 60% e
65%, mas, se você olhar aqui, em 2012, deu 65%, só que impactado por muitos
valores que não se repetirão em 2013, como é o caso das luvas da Globo, bônus
que a Globo pagou para os clubes de uma vez só, e de receitas não operacionais,
as do Atlético Paranaense e do Palmeiras, por exemplo.
Então, o custo do futebol em 2010 era de 1,3 bilhão. No ano seguinte, 1,6
bilhão e agora 2 bilhões, que foi praticamente o faturamento desses clubes em 2011.
Quer dizer, estão gastando muito mais do que têm, em função da necessidade e do
sonho de serem campeões todos os anos — esse é o objetivo de todos os clubes.
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O descontrole fica claro neste gráfico, que representa o acumulado dos
déficits, nos últimos 6 anos, do futebol brasileiro, desses 20 clubes, que representam
mais de 80% do PIB do Brasil. Alguém pode dizer, ao olhá-lo, que em 2012 os
clubes fecharam no azul; que, pela primeira vez na história do futebol — eu monitoro
os balanços dos clubes desde 2003 —, fecharam com lucro, superávit de 23
milhões; e que, nos anos anteriores, houve prejuízos monstruosos: 377 milhões em
2011, 334 milhões em 2010, 273 milhões em 2009, 455 milhões em 2008, só para
citar esses últimos anos. Entretanto, desses 23 milhões de reais de superávit, cerca
de 350 milhões de reais foram as luvas da Globo, que eu citei.
Quer dizer, a Globo assinou um contrato por 4 anos, pagou como forma de
bonificação as luvas, uma única vez, pelo período de 4 anos. Se nós estivermos
imaginando que esses 350 milhões não se repetirão, qual será a chance desses
clubes fecharem no azul em 2013? Nula. Há uma expectativa no mercado de que,
em 2013, os clubes apresentem um dos piores prejuízos da sua história — para
alguns desses clubes. Então, nós temos que olhar com muita frieza para esses
números.
Se não houvesse o impacto do Atlético Paranaense e do Palmeiras com as
suas receitas não operacionais, o déficit dos clubes em 2012 já seria de 158 milhões
de reais e não haveria 23 milhões de reais de lucro. E o mais assustador: nos
últimos 7 anos, esses 20 clubes acumularam 1,7 bilhão de reais de déficit, mesmo
não pagando imposto. Quer dizer, não recolheram impostos e, mesmo assim,
fecharam com um prejuízo do tamanho do mundo, completamente fora daquilo que
nós almejamos para um futebol bem organizado e bem administrado.
Aí vem o grande reflexo de tudo isso: o endividamento dos clubes está em
profunda ascensão. Em 2003, a dívida do mercado brasileiro, de todos os clubes
brasileiros, estava na casa de 1,2 bilhão de reais e, em 2012, fechou em 5,5 bilhões
de reais, um aumento de 358%. Especialmente nesse primeiro período pré-
Timemania até a Timemania, houve, sim, um aumento das dívidas, em função dos
ajustes fiscais. Os clubes começaram a publicar nos seus balanços dívidas que eles
não reconheciam, o que foi muito bom, porque começamos a conhecer mais os
números dos clubes. Entretanto, como vai ficar mais claro nos próximos eslaides, de
2009 para cá, essa dívida não vem crescendo muito. A dívida que mais está
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crescendo é aquela que os clubes contraem com os bancos, por exemplo, que
geram uma despesa financeira superior a 300 milhões de reais por ano! Trezentos
milhões de reais por ano é o que os maiores clubes brasileiros gastam com
despesas financeiras, em função dos seus empréstimos bancários!
O PROFORTE não vai resolver esse problema. O PROFORTE vai resolver
uma parte desse problema. Se o clube continuar pegando dinheiro em banco para
tentar financiar sua atividade e sobreviver, ele vai continuar pagando juros
bancários. E pagar juros bancários significa não poder utilizar esse recurso na
categoria de base, na contratação de jogadores, no investimento em sua marca. É
uma questão de orçamento: vai faltar dinheiro, porque terão de pagar para o banco o
juro, então vão ter que tirar dinheiro de algum lugar.
Esse gráfico mostra que, se não houver realmente uma mudança no modelo
de administração do futebol brasileiro, provavelmente, daqui a 5, 6 ou 7 anos, eu ou
algum profissional da área será convidado a tentar discutir uma nova lei que resolva
aquela dívida, que não diminuiu.
Eu não consigo acreditar que, depois de tantas tentativas de REFIS,
Timemania e agora o PROFORTE, os clubes ainda não conseguiram encontrar um
modelo de gestão que seja mais eficiente. Para exemplificar o que estou dizendo, eu
trouxe um gráfico que cruza a dívida total dos 20 maiores clubes brasileiros com a
dívida que pode ser parcelada pela Timemania. Aí você tem a seguinte conclusão:
em 2008, a dívida a ser parcelada pela Timemania representava quase a metade da
dívida dos clubes. Os clubes deviam 2,5 bilhões e tinham 1,2 bilhão para a
Timemania. Em 2012, esse 1,2 bilhão atingiu 1,4 bilhão, segundo os balanços,
enquanto a dívida saltou para 4,5 bilhões. Quer dizer o seguinte: 31% da dívida dos
clubes são passíveis de parcelamento via Timemania; outros 69% não. Aí vem a
questão: se um clube promete um salário de 500 mil reais por mês para um atleta,
não o paga em dia, entra na justiça, recorre e ganha, isso não vai entrar no
PROFORTE, é um problema trabalhista da gestão do clube que tem que ser
resolvido com boa administração.
Então, a primeira mensagem que fica é: achar que o passivo dos clubes vai
ser resolvido apenas com o PROFORTE não é verdade, não pode ser considerado
verdade, porque, dentro desse bolo, existe um monte de dívidas que não são
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federais nem passíveis de parcelamento por meio de nenhuma lei que possa ser
criada. Essa é a primeira identificação.
A segunda questão: vamos então criar um fair-play similar ao ocorrido na
Europa, feito pela UEFA. Uma ótima ideia. Eu trago dados recém-publicados de dois
clubes que estão, entre aspas, “em desacordo com o fair-play financeiro”. O primeiro
deles, bastante criativo, é relativo ao Paris Saint-Germain, um clube importante da
França, mas que não tinha importância no cenário internacional naquele momento.
Ele foi comprado por um xeique árabe, que pegou um clube com 100 milhões de
euros de faturamento, no ano seguinte, esse clube já faturava 221 milhões de euros
e, no ano seguinte, 400 milhões de euros. Três anos antes, ele nem figurava entre
os clubes que mais faturavam na Europa. Em 2012, já era o décimo e, em 2013, era
o quinto. Impossível! Nenhum clube do mundo poderia ter tamanha evolução em tão
pouco tempo, por mais eficiente que fosse a sua administração! A explicação está
em que saiu de um faturamento de 37 milhões de euros com marketing, para um
faturamento de 140 milhões de euros com marketing, para um faturamento de 255
milhões de euros com marketing. Isso está muito claro.
Aqui no Brasil, esse fato não repercutiu. Eu escrevi sobre isso na coluna que
tenho semanalmente no LANCE!, mas na grande imprensa brasileira não repercutiu.
Infelizmente, na europeia, sim. Essa foi a forma que o xeique encontrou para burlar
o fair-play financeiro. Então, não adianta apenas criar o fair-play financeiro. Há que
se pensar em mecanismos que possam coibir qualquer tipo de estratagema que
permita a um clube estar de acordo com a regulação sem que ela passe por inflar
números de receita para equilibrar o orçamento do clube.
Apenas para citar o exemplo do PSG, ele fatura hoje mais do que Barcelona,
Real Madrid e Bayern de Munique, que são as três potências do mundo em termos
de marketing esportivo. É um bom exemplo do que está acontecendo na Europa
hoje e que a gente pode pensar para o Brasil também.
Outro exemplo da Europa, que também está em desacordo com o fair-play
financeiro é o Manchester City, um clube médio da Inglaterra com a sua importância
histórica, que foi comprado também por um magnata árabe. Desde que comprou o
clube, ele acumulou prejuízos astronômicos, ainda que tenham sido reduzidos ao
longo dos últimos anos.
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Só para vocês terem uma ideia, o prejuízo acumulado de 4 anos desse único
clube inglês equivale ao déficit somado dos 20 maiores clubes brasileiros numa
década! Nesse caso, o fair-play financeiro prova que a UEFA deveria punir esse
clube com a exclusão das competições, já que a média dos déficits dos últimos 3
anos é superior ao limite por ela estipulado de 45 milhões de euros de prejuízo.
Vamos aguardar para ver. Eu acho difícil que a UEFA puna-o. Aguardemos. Esse é
apenas mais um exemplo atual de como é difícil essa regulação no futebol.
A grande resposta é: fair-play financeiro, sim, com uma rígida e moderna
regulação.
Eu trago agora o exemplo da Alemanha, com a Bundesliga, primeira divisão
alemã, que, independente de regulações europeias da UEFA, da FIFA ou de quem
quer que seja, decidiu internamente reestruturar o seu futebol de acordo com as
modernas técnicas de gestão.
A Alemanha nos serve de exemplo porque recebeu uma copa do mundo.
Então, fica muito claro isso. Dois anos antes da copa, os 18 clubes da Alemanha
faturavam pouco mais do que 1 bilhão de euros e a sua dívida líquida era de 783
milhões de euros. Isso foi sendo reduzido ao longo dos anos, a ponto de hoje o
faturamento dos clubes alemães ter atingido 2,1 bilhões de euros e a dívida desses
clubes a casa dos 985 milhões de euros. Quer dizer, houve redução da participação
da dívida em relação ao faturamento, mesmo com o faturamento crescendo. Essa
fotografia é o contrário do que aconteceu no futebol brasileiro. Aqui, quanto mais os
clubes aumentaram a sua receita, mais aumentaram a sua dívida.
Só para citar dois dados que impressionam qualquer pessoa — eu,
pessoalmente, fico bem impressionado —, nos últimos 10 anos, esses 18 clubes
pagaram mais de 5 bilhões de euros em impostos e contribuições sociais. Lá não
tem REFIS, não tem Timemania, não tem PROFORTE; cada um tem que pagar os
impostos que deve, senão não participa das competições. O passado e o corrente.
Um dado superlegal também é que o futebol alemão investiu, nos últimos 10
anos, 569 milhões de euros nas categorias de base. Quer dizer, os clubes faturam
cada vez mais, devem cada vez menos, pagam cada vez mais impostos e ainda
investem nas categorias de base. Um modelo que merece ser estudado por todos do
futebol, inclusive aqui no Brasil.
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Para fechar a minha apresentação e me deixar à inteira disposição para
responder às perguntas, a minha primeira pergunta é: o PROFORTE é a solução?
Eu peguei, pelo menos, os dois dados mais importantes: quanto cresceu a
dívida e quanto cresceu a receita no período de 2003 a 2012. Vocês percebem que,
no início dessa série histórica, a dívida era pequena e próxima do faturamento. Quer
dizer, os clubes faturavam 800 milhões e tinham uma dívida de 1,2 bilhão, mas nós
sabemos que essas dívidas não são reais. Havia muita discussão sobre qual era o
tamanho das dívidas, que começaram a aparecer até culminar em 2006, 2007 e
2008 com a questão da Timemania. Os clubes registravam no seu balanço as
dívidas. A partir de então, essas dívidas começaram a crescer muito acima do que
deveria. Então, visualmente, percebe-se claramente esse rombo.
A grande questão é: eu tenho a informação que — vamos aguardar os
balanços de 2013 —, por conta do PROFORTE, muitos clubes pararam de recolher
impostos correntes, já considerando jogar esse imposto corrente no PROFORTE. E
aqueles clubes que pagam sempre em dia? Vou citar dois que são conhecidos no
Brasil inteiro, e não tenho nenhuma relação com esses clubes: Cruzeiro e Atlético
Paranaense. Sempre recolheram seus impostos, sempre recolheram suas
contribuições sociais e nunca esperaram que alguma lei surgisse para sanear os
clubes.
A grande questão que eu coloco é: se não houver contrapartidas concretas
que alterem o modelo de gestão dos nossos clubes...
O art. 7º ou 8º do PROFORTE, por exemplo, que trata claramente de como
reduzir o endividamento dos clubes, deveria, na minha opinião — eu não sou jurista
e nem teria por que colocar isso de forma concreta —, obrigar os clubes a mudarem
o seu modelo de administração para ser mais eficientes e reduzir a linha de prejuízo.
Nenhuma regulação tem falado que eles precisam parar de ter prejuízo. Tudo bem,
eles não precisam dar lucro, são entidades sem fins lucrativos, mas não podem ter
prejuízo. O Botafogo fechou 2012 com mais de 60 milhões de déficit, outros clubes
fecharam com 30, 40, 50, 60 milhões, recorrentemente. Quer dizer, nós não teremos
uma redução drástica das dívidas, que continuarão crescendo.
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O meu medo é que, quando montarmos os gráficos para 2013, 2014, 2015,
2016, 2017, 2018, 2020, tenhamos o mesmo problema, se não houver um trabalho
pedagógico.
Cito o ex-Secretário da Receita Federal Everardo Maciel, que, no meu
programa na CBN — eu tenho uma coluna na CBN aos domingos —, disse que o
PROFORTE ou qualquer legislação que possa ajudar os clubes teria
obrigatoriamente de determinar que, para ingressarem nas benesses dessa nova
legislação, os clubes mudem o seu modelo de gestão: ou mudam ou não serão
beneficiados.
Então, esta é a minha mensagem final. Estou totalmente à disposição de
todos os senhores para perguntas. Estes são os meus contatos. Agradeço muito.
Muito obrigado. Estou à inteira disposição. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Queria abrir o debate
enquanto chega o outro palestrante. Eu gostaria de abrir a inscrição. Em primeiro
lugar, está inscrito o autor do requerimento, o Deputado Romário.
Com a palavra o Deputado Romário.
O SR. DEPUTADO ROMÁRIO - Boa tarde, Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Boa tarde.
O SR. DEPUTADO ROMÁRIO - Boa tarde, Deputados e Deputadas, boa
tarde, Secretária. Uma boa-tarde especial ao Sr. Amir Somoggi.
Começo aqui a minha fala, não podendo ser diferente, parabenizando o
senhor por tudo que foi exposto aqui alguns minutos atrás. Eu só quero dizer que
fico muito feliz em ouvir essa fala do senhor, porque eu sou um dos poucos aqui
desta Comissão que entendo que não tem que se dar perdão e não tem que se dar
muito menos anistia a nenhum clube no que se refere às suas dívidas, porque nós
cidadãos pagamos os nossos impostos, todas as empresas pagam os seus
impostos. E por que os clubes não pagarem os seus impostos?
Então, essa apresentação está acima da perfeição. Eu daria uma nota 11 pelo
que o senhor acabou de expor aqui. Eu teria, como já havia conversado aqui com o
senhor antes, três perguntas a fazer. Vou pular a primeira, porque o que o senhor
acaba de dizer aqui realmente é estarrecedor, verdadeiro, honesto e principalmente
bastante corajoso, coisas que infelizmente muitos que vêm aqui nas audiências
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públicas não têm a coragem de dizer o que o senhor acabou de colocar aqui para
todos nós nesta Comissão.
O PROFORTE, na minha opinião, pode sim, deve e vai ajudar esses clubes
— espero eu e acredito eu também — a sanearem os seus problemas e as suas
dívidas, mas não com perdão e principalmente com anistia. Eu entendo, pelo que o
senhor acabou de dizer aqui, que mais uma vez comprova o que eu venho falando
não só aqui nesta Comissão, mas desde quando se começou a falar sobre dívidas
dos clubes, que infelizmente muitos dos nossos dirigentes desportivos e
administradores que fazem parte do cenário do esporte brasileiro — não estou me
referindo somente a clubes de futebol, estou dizendo num sentido bastante amplo da
palavra —, que a incompetência, que a má administração e que a desonestidade
reinam nesse meio, e o resultado, como todos nós sabemos e convivemos, estamos
presenciando a cada dia, é o endividamento maior desses clubes com essas
pessoas que realmente não fazem bem para o esporte brasileiro.
Eu poderia muito bem aqui citar alguns desses números que o senhor acabou
de dizer, mas com certeza está gravado, eu tenho aqui, — peço inclusive a
permissão do senhor para que eu possa colocar nas redes sociais quando terminar
esta audiência, porque eu acredito que são números bastante interessantes e
relevantes para que o povo brasileiro entenda de uma vez por todas que os clubes
têm saída sim, a partir do momento que eles se organizem e que coloquem nas suas
administrações pessoas competentes e pessoas que realmente sejam honestas no
sentido de quererem ajudar realmente os seus clubes e não infelizmente se
enriquecerem individualmente.
A primeira pergunta que eu tenho aqui para o senhor foi formatada por mim e
pelas pessoas que trabalham comigo, pela minha assessoria, é a seguinte: o senhor
tem informações sobre o volume de recursos que os clubes em geral apuram com a
venda de jogadores para o exterior? Quem são os líderes nesse comércio e quanto
isso representa no contexto das receitas dos clubes? Estas são praticamente as
minhas duas primeiras perguntas. E a outra é: o senhor pode expor ou falar aí
rapidamente dentro do seu tempo, é claro, o ranking das principais receitas dos
clubes a partir da televisão, publicidade e venda e ingressos que hoje existem.
Vamos falar apenas desses 20 clubes que comportam a Primeira Divisão.
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Eu quero dizer, em relação ao que o senhor acabou de dizer aqui, que nós
Deputados temos que entender que definitivamente nós temos os nossos clubes de
coração. O meu inclusive é o América, que infelizmente também por má
administração, incompetência — não, não é o Vasco não, é o América mesmo! — e
infelizmente desonestidade de muitos que ali passaram fizeram com o que o meu
Ameriquinha, que já foi um Mecão um dia, diferente do Fogão que é hoje, esteja
passando por um momento que praticamente, vamos dizer assim, 98, 99% dos
clubes brasileiros estejam passando.
Eu acredito que o PROFORTE pode sim e deve fazer com que esta Casa
atribua definitivamente responsabilidades fiscais em todos os outros sentidos a
esses dirigentes que infelizmente fazem mal definitivamente pelo que a gente vem
acompanhando e principalmente pela sua fala.
Então, eu fico feliz, agradeço de coração a sua participação aqui. E quero
afirmar que, para mim, na minha opinião, no meu modo de ver, essa foi a melhor
explanação feita aqui nessas... Quantas sessões, Presidente, já tivemos mais ou
menos...?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Umas oito, dez.
O SR. DEPUTADO ROMÁRIO - Nessas dez sessões mais ou menos que
tivemos aqui na Casa. Peço desculpas ao Presidente e ao Relator, Otavio Leite, pela
minha ausência, na sexta-feira, no Rio de Janeiro, porque as minhas filhas estavam
aqui em Brasília e uma delas infelizmente ficou um pouco adoentada e eu tive que
dar atenção. Pai de seis filhos é isso mesmo, é meio complicado, não é? Nem todos
os seis sempre estão bem. (Riso.)
Então, parabéns mais uma vez. O senhor como sempre será muito bem-
vindo. E, depois dessa explanação, o senhor me deu a liberdade de me dar o cartão
que com certeza eu vou usar, no bom sentido da palavra, para que possa me ajudar
a concluir alguns relatórios que eu tenho que fazer aqui nesta Comissão.
Muito obrigado.
O SR. AMIR SOMOGGI - Muito obrigado pelas palavras. Fico honrado.
Respondendo às suas colocações...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Não, nós vamos adiantar
um pouquinho, porque nós ouvir três para depois ouvi-lo.
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O SR. AMIR SOMOGGI - Ah, perfeito.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Por gentileza, anote. Não
estou te cortando...
O SR. AMIR SOMOGGI - Não, lógico, imagina.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - É para facilitar.
Eu vou passar a palavra antes para o Relator. Depois, nós vamos ouvir José
Rocha e Vicente Candido para depois V.Exa., o nosso convidado ilustre, poder falar.
O SR. DEPUTADO ROMÁRIO - Sr. Presidente, eu queria dizer ao expositor
que, se ele quiser, as perguntas estão aqui.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Ah, está certo. Eu queria só
fazer um reparo na fala do Deputado Romário. Evidentemente que ninguém aqui
pode censurar nada. E menos eu que sou o Presidente, pois estou aqui para presidir
mesmo, mas é importante dizer que, nesta Comissão, em momento algum, até
agora não ouvi de nenhum Deputado que quer dar perdão de dívida aqui. É
importante que fique claro que nós não estamos, nem tem nenhum Deputado que
até agora que eu vi que pudesse dizer assim: “Nós vamos dar o perdão de dívida.”
Hora nenhuma essa palavra saiu aqui de qualquer um dos Deputados da Comissão,
pelo menos eu tenho presidido todos até agora, fiquei ausente apenas na metade de
uma reunião e eu não ouvi de nenhum Deputado até agora que quisesse fazer
perdão de dívida.
O SR. DEPUTADO ROMÁRIO - Eu ouvi, Presidente, de alguns sim.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - É? O.k.
O SR. DEPUTADO ROMÁRIO - Por isso que eu falei.
O SR. DEPUTADO OTAVIO LEITE - Eu também me associo ao Presidente e
ao Deputado Romário ao cumprimentarem o Dr. Amir pela brilhante exposição. Eu
vou procurar ser bem objetivo. Vários colegas seguramente vão complementar o que
eu gostaria de indagar para não lhe tomar muito tempo.
Primeiro ponto: achei muito relevante, dentre todo esse universo de dívidas
que os clubes possuem, não esquecer que tem uma parte fiscal e outra que é muito
própria de cada clube que tem a ver com as suas ligações com os bancos, os seus
empréstimos normais a bancos e os seus problemas trabalhistas e com
fornecedores também — bem lembrado por um ex-Presidente de clube. Então, são
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cenários que não estão contabilizados na Receita Federal. O que nós estamos
focando, num primeiro momento, é a análise, o diagnóstico do quanto esses clubes
devem de uma maneira geral e a busca, ao mesmo tempo, de encontrar uma saída
para que eles possam ter um horizonte, planejarem e terem condições de quitar as
suas dívidas.
Agora, esse outro aspecto, eu apenas quero sublinhar, o viés bancário, o viés
trabalhista, que é uma coisa que todos devem ter muito em mente. Temos que
pensar sobre isso também.
Nós tivemos, no Brasil, Dr. Amir, uma lei que foi muito importante. Tivesse ela
sido implantada 20 anos antes o País seria outro. Refiro-me à Lei de
Responsabilidade Fiscal de 2000. Ela estabeleceu aos entes federados, à União,
aos Estados e aos Municípios uma série de obrigações em face de uma reequação
das suas dívidas com a União. Uma delas foi a limitação em 13% de tudo que cada
ente vier a arrecadar no futuro fosse comprometido com o pagamento dessa dívida.
Então, houve uma rolagem que se espraiou pela frente, e os Estados e os
Municípios ficaram amarrados de antemão a essa obrigação.
Quando nós desenhamos algo que possa ser positivo para os clubes, é
evidente que nós vamos incluir ao lado disso as obrigações que os clubes também
têm que ter. Ao mesmo tempo, há implicadores jurídicos que têm que ser
ultrapassados, porque nós estamos falando de associações privadas, de instituições
da sociedade que não estão ligadas diretamente à atividade pública, embora tenham
um múnus público, porque é do interesse público. Mas nós vamos encontrar uma
saída para isso.
O fato é que um programa que se apresentará será oferecido aos clubes que,
para obterem os benefícios, implicará na adesão às obrigações que vão ser
estabelecidas. Esse é o desenho. Agora, o valor, os juros, o tamanho, a quantidade
de parcelas, isso tudo está se discutindo, porque, pelos números que nós temos, o
quadro é muito pior do que a gente supunha do ponto de visa da capacidade dos
clubes honrarem isso aí. Nós não podemos, em hipótese nenhuma, é cair no engodo
de que vamos dar a solução e, no entanto, daqui a 6, 7 anos, está aí novamente a
busca de uma nova alternativa para tapar o buraco do que não se resolveu.
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Então, eu queria perguntar duas coisas: como o senhor avalia a inclusão do
certame lotérico, ou seja, de uma fonte de receita para ajudar a política pública
nesse campo. Qual é a política pública que a gente quer alcançar? A organização
dos clubes, uma nova responsabilidade fiscal para os clubes. É isto que a gente
quer. Um novo modelo de gestão, mas, no campo fiscal tributário, o primeiro ponto
seria isso. Como é que o senhor enxergaria a participação? Sabemos que a
Timemania não funcionou como devia. Todo mundo sabe os números aqui. Queria
saber isso.
A outra coisa é o seguinte: os focos que o senhor nos trouxe, ilustrações
muito importantes, situam-se na casa dos clubes principais. Nós temos nas Séries A,
B, C e D 101 clubes. Temos, segundo o FGTS, 5 mil clubes sociais no Brasil. E
temos, também segundo o FGTS, 63 clubes que perfazem 280 milhões de dívidas, e
outros 560 clubes que perfazem 50 milhões em dívidas, que não estão recolhendo o
FGTS, etc.
Então, só para nos situarmos perante esses dados: como é que o senhor
enxerga esses outros clubes? Porque a gente quer aqui também dar um horizonte
ou um norte para os clubes pequenos, ou melhor, para os grandes, médios e
pequenos clubes que fazem parte de uma cadeia produtiva do futebol.
E, finalmente, eu faria a seguinte colocação: a ausência de capital nos clubes
— que são instituições que precisam investir —, o que provocou ao longo dos
últimos tempos? O avanço da presença dos empresários, que tiveram, nessa
incapacidade dos clubes, terreno fértil para ganhar mais espaços econômicos,
financeiros, etc. Mas isso tem limite nessa história. O problema é que, parece-me,
muitos dos clubes estão cada vez mais nas mãos dos empresários.
Fale um pouco sobre isso.
É só. Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Peço apenas um minuto,
Deputado José Rocha, pois eu gostaria de convidar para compor a Mesa o Dr.
Fernando Ferreira, Diretor da Pluri Consultoria, que também atua na área de
marketing.
Após a intervenção do Deputado José Rocha, eu gostaria de pedir aos
Deputados inscritos que ouvíssemos primeiramente o Dr. Fernando, que vai falar por
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15 minutos, para que após pudéssemos dirigir perguntas aos dois, pois temos o
prazo de até às 16h45min para encerrarmos esta reunião.
Portanto, após a fala do Deputado José Rocha, ouviremos as respostas do
primeiro palestrante. Depois, vamos ouvir o segundo palestrante e seguimos na
mesma direção.
Gostaria, por fim, de lembrar a presença do Kleber Bambam, convidado do
Deputado Romário, famoso artista global.
O SR. DEPUTADO ROMÁRIO - Eu ia dizer isso.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Para nós é uma honra
recebê-lo aqui, assim como a todos os convidados que nos visitam aqui...
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA - E temos outro artista global aqui...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Está aqui outro artista
global: o nosso Stepan Nercessian. É muito importante a presença de todos aqui,
que muito nos honram com suas visitas à Comissão.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA - Ilustre Presidente, Deputado Jovair
Arantes; meu caro Relator, Deputado Otavio Leite; Amir Somoggi, Fernando
Ferreira, meus pares nesta Comissão, inicialmente, quero parabenizar o Amir pela
palestra que, talvez, tenha trazido maior conteúdo a esta Comissão.
Quero parabenizá-lo, realmente, pelo nível e conteúdo de sua exposição,
traçando a realidade da situação de nossos clubes no Brasil e fazendo um
comparativo em relação aos clubes de outros países.
Quero dizer também que o Deputado Romário preferiu não dar nota dez, mas
deu nota onze, porque onze é o número da camisa que ele sempre usou. Então, foi
uma auto-homenagem essa nota onze que ele lhe deu... (Risos.)
Mas estamos longe de pensar que o PROFORTE vai anistiar ou permitir que
os clubes deixem de pagar suas dívidas. Acho que o objetivo do PROFORTE aqui é
encontrarmos um meio, uma maneira de os clubes poderem pagar suas dívidas.
Acho que é este o objetivo — não é isto, Presidente?
Pelo menos é o objetivo do Relator desse projeto, ou pré-projeto, que está
sendo discutido nesta Comissão. E, certamente, a presença de V.Sa. e de todos os
que aqui se encontram — os que passaram por aqui e os que vão passar — é no
sentido de contribuir para que nós possamos, juntamente com o Relator, Deputado
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Otavio Leite, formatar um projeto que venha ao encontro dessa situação — e eu até
diria, pelo que ouvimos da exposição de V.Sa. — de emergência. Acho que o futebol
brasileiro está na UTI, e temos que retirá-lo da UTI.
E esta Casa, como a Casa da representação popular, não pode ficar ausente
em uma discussão tão importante como essa.
Fui Presidente do maior clube do Brasil, o Esporte Clube Vitória, da Bahia.
Peguei o clube em uma situação falimentar. Em 1984, o clube não tinha título há 4
anos; devia a todo mundo, especialmente a fornecedores; não tinha onde treinar;
não tinha plantel; não tinha nada; além de ter contra si onze ações trabalhistas. Eu
consegui resolver todas as ações trabalhistas, pagar todas as dívidas que o clube
tinha e, em 3 anos, eu zerei a dívida do clube. Além disso, fui campeão de juniores
no primeiro ano, campeão baiano no segundo ano e construí e inaugurei o Barradão.
Então, eu acho que fui um bom gestor. Deixei o clube zerado de dívidas —
zerado, zerado, zerado —, com um título de juniores e um título baiano que não
conseguia há muitos anos. O Bahia era campeão ad aeternum lá. E construí o
Barradão. O Vitória não tinha onde jogar, sempre pedia favores.
Hoje temos o nosso Barradão, um grande estádio. Não sei se V.Sa. teve a
possibilidade de conhecer.
Então, acho que o problema é de gestão. E V.Sa. colocou muito bem: precisa
haver um modelo de gestão para os clubes, para que eles possam sobreviver e se
manter. Com uma boa gestão e um bom marketing, com certeza, os clubes poderão
equacionar seus problemas.
Sempre relembro aqui a seguinte passagem: eu estava com um ex-
Presidente da CBF quando ele recebeu um telefonema do então Presidente do
Palmeiras; ele pedia um auxílio financeiro à CBF para pagar as dívidas do clube,
porque ele não tinha recursos sequer para pagar a folha. E o ex-Presidente
perguntou-lhe quanto pagava ao técnico; ele disse que pagava 400 mil reais. Então,
o ex-Presidente disse: “Eu pago ao técnico da seleção 250 mil reais, você paga ao
seu 400 mil; por isso você não consegue recursos para pagar a sua folha”. Essa foi
a resposta que o ex-Presidente da CBF deu a esse Presidente de clube.
Então, V.Sa. vê que, realmente, a questão é de gestão.
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Eu concordo plenamente com o nosso Relator, Deputado Otavio Leite. Acho
que essa questão do PROFORTE, que ainda será formalizada e secundada por esta
Comissão, deve criar condições para que haja adesão dos clubes. Os clubes não
serão obrigados a entrar no programa. Aqueles que entrarem deverão cumprir as
regras. Aí, sim, a legislação os obrigará a cumprir regras. Ninguém será obrigado,
mas, se entrar, vai ter que cumprir regras. E essas regras podem ser semelhantes
às referidas pelo Deputado Otavio Leite, às da Lei de Responsabilidade Fiscal. Aí,
sim, eles vão ser obrigados a se enquadrar nessa nova lei de responsabilidade fiscal
para os clubes. Aí vamos ter, talvez, um modelo de gestão que venha ao encontro
do desejado.
Para contraírem empréstimo bancário, os clubes têm que ter uma CND, uma
certidão negativa. Aí, sim, os clubes vão ter que sanear suas dívidas para terem seu
financiamento bancário. Deve haver uma CND, como todos os entes federados dela
precisam. Quem não tiver a CND e não quiser, não entra, não precisa aderir; mas aí
vai resolver o seu problema de dívida de outra maneira.
Então, acho que poderemos encontrar um caminho para colocar, realmente, o
futebol brasileiro nos trilhos.
V.Sa. falou da França, da Alemanha. Mas eu perguntaria: quantos clubes tem
a França disputando o campeonato?
O SR. AMIR SOMOGGI - Na Primeira e Segunda Divisão, é parecido com o
Brasil. Mas eu teria que investigar para me certificar quantos clubes profissionais
existem naqueles países.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA - É só para ajudar no meu raciocínio. Mas
acho que França tem o mesmo tamanho da Bahia. Lá disputam vinte e tantos clubes
na Primeira e Segunda Divisão. No Brasil, 5 mil clubes. Então, às vezes,
comparativos de clubes na França ou na Alemanha não são possíveis. Não dá para
comparar com a nossa situação.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - A realidade é outra.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA - A realidade é totalmente diferente.
O SR. AMIR SOMOGGI - Mas temos uma economia mais forte que a deles.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA - Mas lá, às vezes, é um xeque que tem
um clube; aqui não. Não tem nenhum xeque dono de clube no Brasil. No Brasil, os
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clubes não têm dono. Nenhum clube tem dono. Lá os xeques compram os clubes. E
aí ou saneiam a dívida ou afundam de vez, como está acontecendo lá com o
Manchester. Então, é uma realidade totalmente diferente.
Acho que, às vezes, a gente quer comparar coisas que não podem ser
comparadas. Comparar a realidade de um país desenvolvido com a realidade de um
país como o nosso, que tem um povo que não é o mesmo de lá, é diferente,
totalmente diferente.
Então, acho que temos que encontrar nossa solução. E a nossa solução,
acho, podemos encontrar na discussão do projeto que está sendo discutido nesta
Comissão, com contribuições importantes como a que V.Sa. nos deu aqui hoje, da
mais alta importância.
Muito obrigado pela sua exposição.
O SR. DEPUTADO ROMÁRIO - Sr. Presidente, peço a palavra.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Pois não, Deputado.
O SR. DEPUTADO ROMÁRIO - Sr. Presidente, apenas para finalizar minha
intervenção.
Primeiramente, depois do que foi exposto aqui pelo nosso Deputado, eu
gostaria e teria o maior orgulho de convidá-lo para ser Presidente do América, pois o
que ele fez em 3 anos não é fácil...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Ou do Atlético Goianiense
também. (Risos.)
O SR. DEPUTADO ROMÁRIO - E outra coisa, só para finalizar aquela outra
colocação minha, quando disse o que ouvi de alguns Deputados — e não só ouvi,
como no próprio texto do PROFORTE, no art. 12, está aqui: “(...) transformação da
dívida em bolsa”.
Na minha opinião, eu enxergo isso como uma forma de anistia ou de perdão.
Pode ser que outros não enxerguem, mas eu enxergo desse jeito.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - O.k. Está escrito no papel.
Passo a palavra ao nosso palestrante, para que responda as perguntas feitas
pelos três Deputados até agora. Depois, vamos ouvir o outro palestrante, para
darmos sequência aos trabalhos.
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O SR. AMIR SOMOGGI - Com relação às perguntas, vou responder a
primeira pergunta que o Deputado Romário me fez, com relação à visão que tenho à
gestão dos clubes, relativamente aos dirigentes.
Eu acredito que melhoramos muito ao longo dos últimos anos, mas estamos
ainda muito ruins, longe de onde temos que chegar.
Eu trabalho para vários clubes. Já trabalhei para muitos deles e posso afirmar
que nem todos os clubes são mal geridos, mas todos trabalham com conceitos
errados de gestão. Por exemplo — fazendo apenas uma contrapartida com o que o
Deputado José Rocha colocou —, é impossível não compararmos o Brasil com a
Alemanha ou com a França. Ora, o Brasil não quer ser a quinta potência mundial?!
Os nossos clubes, a exemplo do Corinthians, faturam muito. O Corinthians é
o vigésimo quinto clube do mundo em faturamento, mas deve uma fortuna em
impostos. Por quê?
Então, temos que pensar o seguinte: os clubes aqui no Brasil acham que
estão acima da lei. Se um dirigente não recolhe o IR da folha, ou o FGTS, isto não é
se sentir acima da lei?!
É uma opinião pessoal, como contribuinte, como brasileiro e como
empresário.
Eu recolho todos os meus impostos, todos os meses, inclusive os trimestrais;
os clubes não! Os clubes prometem salários de 700 mil reais e não pagam os
tributos e as contribuições sociais.
Então, eu não sou contra o PROFORTE ou contra qualquer coisa que possa
mudar o futebol brasileiro; eu sou contra, pedagogicamente, que um clube mau
pagador seja beneficiado, e o bom pagador continue sendo um bom pagador.
Passa-se a mensagem para a população brasileira — e é isto o que quem
está nas ruas percebe — que o futebol não é um ambiente sério, que é um ambiente
de corrupção; de falta de seriedade — esta é a imagem que a população brasileira
tem —; onde os investidores só investem quando são obrigados, porque trabalham
em setores ligados ao futebol e precisam do futebol para que as suas marcas
sobrevivam. Mas muitos não colocam um centavo no futebol porque não confiam.
Então, temos que mudar a imagem do futebol. Portanto, acho que esta Casa
tem um papel fundamental de elaborar uma lei que seja dura para os clubes, pois a
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imagem que a população deve ter é que o Congresso Nacional está cobrando dos
clubes que eles se coloquem como qualquer outra entidade, qualquer outra
empresa.
Então, a minha visão é assim: sou favorável a tudo que possa contribuir com
a melhora do futebol brasileiro, mas não sou favorável a que, daqui a 5 anos, a
dívida que é de 5,5 bilhões se transforme em 10 bilhões ou 8 bilhões.
Duvido que haja alguém no Brasil que consiga garantir que, aprovado o
PROFORTE — como aconteceu com a Timemania —, os clubes, num dado
momento, asfixiados por questões financeiras, não parem de recolher impostos e
comecem a fazer um lobby para uma nova legislação que permita que se jogue
dentro do bolo aquele recolhimento que não foi feito.
Então, esta é a minha opinião com relação à administração dos clubes.
Com relação à transferência de atletas, nos últimos 10 anos esse segmento
movimentou — e não só internacionalmente, apesar de os balanços muitas vezes
não abrirem o que é nacional ou internacional — algo em torno de 4,9 bilhões de
reais. Foi o que os clubes brasileiros faturaram nos últimos 10 anos vendendo
atletas. O Inter e o São Paulo são os dois clubes que mais faturam com
transferências de atletas do Brasil.
É bom lembrar que até 2007 os clubes viviam praticamente da monocultura
da formação de jogadores. Então, eles viviam quase que exclusivamente de vender
jogadores para tentar equilibrar suas contas. Veio a crise financeira internacional e
mudou esse cenário. Os clubes pararam de viver só disso e começaram a trabalhar
mais o marketing.
Com relação às receitas, hoje a principal fonte de renda dos clubes é a
televisão, com 40% do faturamento; seguida de jogadores e patrocínios, com 14%;
13% são oriundos do clube social e do sócio torcedor; e irrisórios 7% da bilheteria.
Só quero lembrar os senhores que a bilheteria dos clubes, em 2003, também
representava 7%. Passados 10 anos, estruturalmente, a bilheteria continua
representando apenas 7%.
Para citar um exemplo, alguns clubes europeus têm de 35% a 40% da receita
vindos do seu estádio.
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Com relação à segunda pergunta, eu sou favorável a que haja uma loteria,
que é uma nova fonte de renda que permite e contribui para que os clubes possam
se adequar a uma nova realidade financeira. Então, acho que a loteria não é o maior
problema. Na minha humilde opinião, o maior problema para mim é pedagógico: “Eu
não paguei nada até agora, o Governo foi lá e me ajudou. Eu, de novo, não vou
pagar nada e daqui a 10 anos o Governo vai me ajudar de novo”. E nós vamos fazer
isso por mais quantas décadas?
Não estou dizendo que não se possa ajudar os clubes, mas acho que se
deve, sim, exigir mudança. O clube que não recolher os impostos correntes tem que
ser sumariamente punido. O corpo do texto do PROFORTE está dizendo isso, ou
seja, se não pagar o corrente, o clube estará excluído. Eu não acredito, gente!
Perdão. Eu não acredito, conhecendo a administração dos clubes, que o clube vai
para a Terceira Divisão do Brasileiro porque não recolheu o IR na folha. Quer dizer,
eu gostaria que isso acontecesse, mas tenho minhas dúvidas.
Os pequenos clubes são fundamentais. É uma pergunta importante. Nós
temos 5 mil clubes. Nós temos que pensar nos pequenos, porque são celeiros de
formação de jogadores, têm importância local, mas eles não têm condições de
sobreviver se não começarem a investir também na gestão. Temos 5 mil clubes,
talvez tivéssemos que ter mil clubes, mais fortalecidos financeiramente. Talvez, 5 mil
clubes seja um excesso. Então, eu acho que vale para o grande, para o médio e
para o pequeno.
Eu sempre falo nas minhas palestras e escrevo artigos sobre o fato de que o
Brasil não tem um modelo de administração. Nós podemos ir à Alemanha e
encontrar um bom exemplo; ir à Espanha e encontrar um exemplo; ir aos Estados
Unidos e encontrar um exemplo. O Brasil não o tem. Nenhum dos senhores pode
citar um único clube que seja um modelo a ser seguido por todos os demais. Nós
precisamos criar modelos, benchmarks, que é o conceito empresarial. Com
benchmarks fica mais fácil a gente estruturar — e benchmarks parabenizando,
bonificando clubes bem administrados.
Quanto à questão relativa aos empresários, eles são, na verdade, a
consequência de tudo o que foi apresentado aqui. Quer dizer, os clubes devem
muito, têm problema de caixa, mas ainda buscam jogadores caros no mercado. Um
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bom exemplo recente é o Santos, que “contratou” — entre aspas — um jogador
caríssimo, que ele jamais teria condições de contratar, e o clube vira uma “barriga de
aluguel”. Não por eu ser santista, mas o Santos é muito grande para ser “barriga de
aluguel” de empresários de jogador. Isso vale para todos os clubes brasileiros.
Eu citei os casos do Inter, do São Paulo e de vários clubes que faturam com
venda de atletas. Não sei se os senhores sabem que, para alguns casos, o clube
que pagou o salário, que corre o risco de um processo trabalhista se o jogador entrar
na Justiça, é o menor beneficiado em uma transferência, porque os direitos
econômicos estão compartidos com empresários e com a família do atleta. Um bom
exemplo disso é o Neymar. É apenas para citar que os clubes são hoje, muitos
deles, “barrigas de aluguel”, vitrines de luxo de empresários de jogador. Então, é um
fato que merece ser estudado.
A própria UEFA gostaria de acabar com os direitos econômicos. A UEFA
gostaria de proibir que houvesse qualquer tipo de participação de terceiros na
contratação de atletas.
E, finalmente, com relação ao que disse o Deputado José Rocha, é a gestão
que vai fazer a diferença. Se não exigirmos, no corpo da lei, que os clubes sigam
rigorosamente uma nova política de gestão, uma lei de responsabilidade, de redução
de déficits, de redução de endividamento...
Qualquer dos senhores pode entrar na Internet e pegar o balanço de algum
clube: são 30 milhões, 40 milhões ou 50 milhões de reais de juros bancários pagos
em 1 ano! Daria para pagar o salário do Messi com o que um clube paga de juros
bancários. E muitos desses clubes estão com jogadores de “quinta categoria” —
entre aspas —, comparativamente aos que jogam no resto do mundo. Estão
gastando muito para ter um futebol de baixa qualidade. Por quê? Porque a
administração dos clubes não é orientada para alta performance.
O futebol alemão, que para mim é a referência que temos que seguir, estudou
as suas deficiências. Os clubes estavam com jogadores envelhecidos, a seleção
estava envelhecida, era a quarta ou quinta força da Europa, mas hoje é a segunda
força, por conta da gestão. Hoje a UEFA olha para Alemanha e fala: “Esse é o
modelo que eu gostaria que a Inglaterra tivesse, e não tem; que a Espanha tivesse,
e não tem; que a Itália tivesse, e não tem”. Por que nós, no Brasil, temos que tentar
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tropicalizar tudo. “Não, no Brasil tem que ser um modelo próprio.” Qual é o modelo?
De não recolher IR, de não recolher FGTS, de não pagar IPTU? “Ah, o IPTU não
tem que ser pago, porque, afinal, vamos dar contrapartida social para as criancinhas
carentes deste Brasil”. Falem-me de um clube que consiga estar em dia com a
Prefeitura local, porque dá uma contrapartida social na sua categoria de base, não
aos seus jogadores, mas à população da comunidade no entorno onde foi dado o
benefício do IPTU. Isso não está no PROFORTE. O IPTU é municipal, e há dívidas
gigantescas com o IPTU.
Então, eu finalizo aqui minha fala. Eu não sou um crítico voraz do futebol
brasileiro, eu sou um crítico voraz de factoides. Eu amo futebol, assim como os
senhores também amam, mas eu amo principalmente uma gestão organizada,
eficiente, bem administrada e regulada pelos órgãos competentes. E nem poderia
ser aqui, porque o art. 23 da Lei deixa bem claro que vão ficar sob a custódia da
CBF e do STJD as punições dentro de campo. Bem, aprovado isso, qual é a
garantia que a população brasileira tem de que um clube, a partir do momento que
seja mal administrado, vai ser punido e vai ser rebaixado para a Segunda ou
Terceira Divisão, como acontece hoje nos mercados mais maduros do mundo?
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Eu queria agradecer a
S.Sa. a priori, mas ele vai continuar conosco. Se houver ainda pergunta a ele, será
feita após a exposição do Dr. Fernando Ferreira, Diretor da Pluri Consultoria.
Está aberta a inscrição. O Dr. Fernando se atrasou por conta de voo. Por isso,
deu uma tumultuada. Agora, vamos ouvir o Dr. Fernando e, depois, seguimos com
as perguntas aos dois. O.k.?
Antes de ele começar a falar, é importante dizer que o principal objetivo desta
Comissão aqui — pelo menos, é o que tenho sentido de todos os Deputados, sem
nenhuma exceção — é os pequenos clubes brasileiros, que estão acabando. Esse é
o principal ponto.
O SR. DEPUTADO ROMÁRIO - Sr. Presidente, não sei se V.Exa. concorda
comigo, mas, se não se profissionalizarem e não entrarem numa regra, esses
pequenos clubes vão acabar. Por mais que o PROFORTE possa ajudar, eles têm
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que se profissionalizar. Eles têm que colocar pessoas competentes na sua
administração.
O SR. DEPUTADO VICENTE CANDIDO - Sr. Presidente, há no som um
ruído muito ruim, se a equipe técnica puder dar uma melhorada...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Solicito ao nosso técnico de
som que verifique qual é o problema. Realmente, o som está estranho. Vamos ver
se ele consegue deixá-lo melhor. O microfone do Deputado José Rocha está ligado
também.
O SR. FERNANDO FERREIRA - Bem, obrigado pelo convite, Deputado.
Desculpe-me pelo imprevisto logístico ocorrido. Enfim, eu sou Fernando Ferreira,
Diretor da Pluri Consultoria. Assim como o parceiro Amir, a gente trabalha com
várias empresas que investem ou pretendem investir no futebol — tristemente, a
maioria pretender investir no futebol, mas não investe decisivamente depois que
acaba conhecendo um pouco melhor como é o ambiente do futebol — e também
com os clubes de futebol; com grande parte deles a gente trabalha.
Eu vou fazer uma apresentação muito breve. Não é uma apresentação
positiva, como imagino que deva ter sido a do Amir também, porque, se se faz um
diagnóstico do futebol brasileiro, não se consegue fazer um diagnóstico positivo,
extracampo falando.
(Segue-se exibição de imagens.)
Então, em resumo, nós estamos falando, no meu modo de ver, de um futebol
que tem um calendário ruim, baixa qualidade dos jogos, queda na formação de
talento, violência e insegurança, ambiente institucional ruim — isso aqui é um
problema gravíssimo —, mercado inflacionado, clubes insolventes e estádios vazios.
Não dá muito para dizer que não é isso o que acontece no Brasil. Em maior ou
menor grau, esse é o desenho.
Bem, vou falar um pouquinho sobre esse fenômeno aqui, que é nítido, que é
um dos que a gente mais estuda, que é a perda de interesse do torcedor. Ela se
manifesta seja por presença de público no estádio, seja por interesse publicitário,
audiência, audiência de jogos e o interesse do torcedor, crescente, pelos clubes do
exterior. Principalmente nos últimos 15 ou 20 anos, isso é muito nítido. O futebol
brasileiro tem uma média de público de 4.700 pessoas por jogo — é isso —, 4.721
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pessoas por jogo durante a temporada de 2013, com um índice de ocupação dos
estádios de 26%. Imaginem uma empresa que tem uma capacidade de produção de
100 e que efetivamente só produz 26. Nós temos 74% dos estádios brasileiros, em
média, sem ninguém. Eu estou falando de todos os jogos de que os clubes
participam, de Copa Libertadores aos Estaduais. Nos Estaduais, a situação é
obviamente bem mais grave. O Brasileirão, olhando só a elite, a Série A do futebol
brasileiro, nós temos o 18º campeonato do mundo em média de público. Em
ocupação de estádios, nós somos o 31º. E um dado que eu considero assim... Se
fosse escolher uma coisa para exemplificar isso tudo, eu diria que é esse item aqui.
A última vez que o Campeonato Inglês, Campeonato Inglês Série A, não Premier
League Série A, teve uma média de público semelhante à do Brasileiro do ano
passado foi em 1904.
Esse aqui é um quadro com os 20 campeonatos com a maior média de
público do mundo. O Amir falou, por exemplo, da Bundesliga, o campeonato alemão,
que sempre é o primeiro, com 43 mil pessoas de média de público, com 95%, em
média, de ocupação dos estádios. Quer dizer, está sempre cheio; não importa qual
jogo, está sempre cheio. A maioria dos jogos é sold out, os ingressos são vendidos
com bastante antecedência. Depois, temos Inglaterra, Espanha, México, Itália,
Holanda, França, Estados Unidos, China, Inglaterra Segunda Divisão, Argentina,
Alemanha Segunda Divisão, Japão, Turquia, Rússia, Ucrânia, Austrália e Brasil.
(Não identificado) - Aí é só a Série A?
O SR. FERNANDO FERREIRA - É só Série A, a comparação da Série A de
todos os campeonatos. Aqui é a elite.
Passando um pouco, se a gente resumir em quatro tipos de campeonatos a
participação dos times brasileiros: nos campeonatos internacionais — Libertadores,
Sul-Americana e Recopa —, a média de público foi 25.315 pessoas, em 2013, com
uma ocupação de 60%; no regional, que na verdade é a Copa do Nordeste, 8.886
pessoas de média de público e 39% de ocupação; nos campeonatos nacionais das
quatro divisões — lá os 100 clubes participantes —, 7.936 pessoas de média e 31%
de ocupação; e nos estaduais, uma média de 2.526 pessoas e 19% de ocupação
nos estádios. Bem, no Brasil, ano passado, foram vendidos 18 milhões de ingressos.
(Intervenção fora do microfone. Ininteligível.)
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O SR. FERNANDO FERREIRA - A Copa do Brasil está aqui no Nacional,
dentro do Nacional.
(Intervenção fora do microfone. Ininteligível.)
O SR. FERNANDO FERREIRA - A Copa do Nordeste deu mais que o
Nacional — Nacional não só Série A, aqui há as quatro Séries, da A à D. Só o
Campeonato da Série A deu 14 mil pessoas, em média.
Bem, vamos fazer uma comparação com o mercado americano. Não dá para
comparar com os Estados Unidos, de fato, mas há várias atenuantes. Vamos pegar
a NFL, futebol americano, de que terminou agora o Super Bowl, há 1 ou 2 semanas.
Aquele é um campeonato que dura 4 meses. O futebol brasileiro, com 4.700 jogos,
levou 18 milhões de pessoas aos estádios. A temporada do futebol americano que
dura 4 meses, com uma média de 60 mil pessoas por jogo, levou 42 milhões de
pessoas. Um esporte, em 4 meses, levou 40 milhões de pessoas aos estádios.
Agora, o pior: o futebol americano não é o número 1. Em público, ele é o número 4,
porque ele perde para o basquete, para o hockey — que tem muito jogo —, e perde
também para o beisebol, o que mais leva público. Ou seja, os americanos
venderam, em quatro esportes, 160 milhões de bilhetes em campeonatos que duram
4 meses. E não há Regional, 5 mil jogos, e 2 daqueles esportes são disputados em
ginásios, não em estádios. É óbvio que, pelo poder econômico, eles têm que estar
numa situação diferente. O problema é o tamanho da diferença.
Estou usando os outros esportes, porque certamente o Amir já falou sobre o
futebol. Comparado ao da Europa, estamos bastante atrás. Agora, mesmo
considerando mercados muito avançados, como a Alemanha e a Inglaterra, por
exemplo, se a gente comparar com Rússia, Ucrânia, Turquia, é nessa divisão que a
gente está lutando. Hoje, em termos de negócio, em termos de mercado, em termos
de volume econômico, nós estamos na segunda divisão, nós não estamos
concorrendo com o pessoal, quer dizer, com as cinco ou seis principais ligas. A
nossa briga é com México, Turquia, Ucrânia, Rússia — com Rússia, eu diria que
nem é mais —, Austrália, que está se desenvolvendo brutalmente, porque é um
modelo totalmente de gestão. Esses mercados emergentes estão crescendo
bastante.
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Enfraquecimento de centros regionais importantes. Nos últimos 4 anos, 75
clubes deixaram de disputar campeonatos estaduais, porque ou se licenciaram ou
fecharam as portas; a gente nem sabe o que aconteceu. Simplesmente pararam de
disputar. Por quê? Porque não estavam aguentando mais. E isso a gente percebe
que é uma constante; mantida a situação atual, é uma tendência, uma incapacidade
econômica e financeira de botar um time em campo.
O calendário regional é excludente. Os estaduais todo mundo sabe. A gente
tem no Brasil 100 clubes que disputam nacionais; 550 que disputam estaduais, de
Primeira e Segunda Divisão. Esses 550 clubes têm 2 ou 3 meses de atividades.
Baixaram os 2 ou 3 meses, acabou. Aí, tem-se que demitir o jogador ou sei lá o quê,
ele volta a fazer outra coisa na vida, ele não tem continuidade. Aqui a gente está
falando de 12 mil jogadores, fora o restante da atividade do clube.
Outro fator que está acontecendo é perda de identidade local dos clubes.
Com esse quadro, só os grandes conseguem sobreviver. Os pequenos estão
morrendo, os grandes estão ficando machucados. E aí se tem concentração de
torcida obviamente em poucos centros, quatro. Só um dado para ilustrar: essa aqui é
uma pesquisa de torcida que mostra o interesse do torcedor pelo time do próprio
Estado. Só existem quatro Estados no Brasil hoje, só quatro, em que o torcedor
torce mais para o time do Estado do que para o time de fora: Rio Grande do Sul, Rio
de Janeiro, São Paulo — desculpe-me, são cinco —, Minas Gerais e Pernambuco, já
em um índice menor. Daqui para frente, todo mundo torce para time de fora. Por
quê? Porque os clubes vão perdendo força econômica. O torcedor vai se
desinteressando, porque o time vai perdendo qualidade, e passa a torcer por um
clube mais forte.
Agora, imaginem o seguinte. A gente pode falar: isso é efeito de rádio, TV, ao
longo do tempo. É verdade. Há 20 anos, temos um efeito novo no Brasil que é a TV
a cabo, que hoje está aí em mais de 60% ou 50% dos lares brasileiros, fora o “gato”.
Então, todo mundo tem TV a cabo, em que há 11 ou 12 canais que mostram futebol
internacional. O que está acontecendo? O mesmo fenômeno que faz com que os
torcedores dos locais em que os clubes são mais fracos passem a torcer pelos mais
fortes. O time do interior da Bahia ia perdendo porque o torcedor ia passando a
torcer pelo Flamengo; no Ceará, ia torcendo pelo Vasco; em Manaus, para o
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Corinthians. Esse mesmo fenômeno em escala nacional as pesquisas já mostram
que está acontecendo com os clubes nacionais.
O que as crianças fazem hoje? Elas jogam game, têm Internet. Hoje, um jogo
na Champions League é um fenômeno; qualquer criança sabe o que acontece. E
têm TV a cabo mostrando o quê? A nossa realidade de futebol cada vez mais pobre
versus aqueles jogos da Champions League, do futebol europeu. Então, de que
estamos falando, gente? É mercado, é uma disputa de mercado; queiram ou não, é
uma disputa de mercado. E o mercado lá fora vai se sobrepor ao nosso, está-se
impondo ao nosso. E aí o que nós estamos perdendo? Força, competitividade.
Finanças descontroladas. Aqui, os principais clubes, os 25 maiores, em
números de 2012: 2,8 bilhões de reais de receitas; 4,7 bilhões de reais de
endividamento; relação dívida/receita de 1,6 vezes, de que certamente o Amir já
falou; patrimônio líquido negativo consolidado de 62 milhões de reais, o que quer
dizer que, hoje, se se fechar a porta do futebol brasileiro, alguém tem que arrumar
62 milhões de reais para cobrir; e 213 milhões de reais de prejuízo no ano passado
e 1,8 bilhão de reais de prejuízo em 5 anos. Aí, a gente olha as despesas
financeiras, pelo endividamento muito alto: despesas financeiras de 323 milhões de
reais em 1 ano. Quer dizer, a despesa financeira foi maior do que o prejuízo, o que
mostra o peso da dívida para os clubes e a necessidade realmente de se fazer
alguma coisa com relação a isso. Mas reparem: nos últimos 5 anos, teve-se 1,8
bilhão de reais de prejuízos, contra 1,7 bilhão de reais de despesa financeira — quer
dizer, os clubes não estão aguentando é a dívida, não tem mais como suportar a
dívida, mas não é só ela —, enquanto as receitas cresceram 149%, a dívida cresceu
151%.
Nós continuamos no mesmo lugar. Apesar do forte crescimento de receita
que acontece raramente, fruto da questão da televisão, nós perdemos essa janela
de oportunidade. Quando houve a renegociação do contrato de TV, muito foi dito,
nós falamos muito sobre a necessidade de os clubes aproveitarem aquela receita
para efetivamente se ajustarem, mas na falta de algum tipo de indutor... Os clubes
são o quê? São entidades de competição. Então, se o meu adversário pega aquele
dinheiro para contratar jogador, eu vou fazer a mesma coisa. Se ninguém controlar
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essa situação, eu vou fazer a mesma coisa. Por quê? Porque ele vai ganhar título, a
torcida vai vir para cima de mim — o dirigente —, e todo mundo.
Então, quer dizer, é uma situação que precisa vir de cima para realmente ser
equacionada. Se se deixar por conta dos clubes, não há solução, a gente vai fica
eternamente...
Esse é o quadro evolução, em azul, de receita; em laranja, de despesa; e
evolução da relação receita/despesa, que cai aqui por conta do aumento de receita,
e, a partir de 2013, a gente já vê que começa a subir de novo. Mas vejam: apesar do
forte aumento de receita nesse período todo, a gente está no mesmo patamar de
relação entre endividamento e receita. Não saímos do lugar.
A gente tem discutido muito isso com um cliente nosso que investe muito no
futebol. Ele investe demais no futebol, põe muito dinheiro no futebol. Acho que é um
dos que mais põe dinheiro no futebol, e não é a rede de TV. Eles colocam para a
gente: “Ah, nós temos um programa que realmente pode gerar um aumento de
receita brutal para os clubes!” E gerou nos últimos 2 anos. O que aconteceu? Isso
aqui é uma piscina com ralo ajustável. Se se aumentar a mangueira, eles aumentam
o ralo. Isso aqui é enxugar gelo, enxugar gelo. Pode dobrar, pode jogar a receita dos
clubes brasileiros em 5 bilhões de reais, em 10 bilhões de reais; vai-se gastar 5
bilhões de reais, vai-se gastar 10 bilhões de reais. Isso é um ralo. O histórico mostra
isso.
Aqui é um dado que eu considero bastante interessante, é uma maneira que a
gente tem de mostrar o que pode estar acontecendo, quantos clubes estão pagando
acima da sua capacidade, quer dizer, quanto eles estão gastando com o futebol
acima da sua capacidade de pagamento. O que nós fizemos? É uma conta
complexa, que eu vou resumir da seguinte forma. Se se considerar as despesas dos
clubes de maneira geral, 65% delas são ligadas ao futebol, são as atividades do
futebol; 70% desse número são salários e encargos de time e comissão técnica.
Outras despesas que a gente chama de elásticas aqui, que são despesas que se
poderia supostamente reduzir — são despesas administrativas e tudo mais,
manutenção dos clubes —, representam 14%; 21% são essas despesas não
elásticas. Quer dizer, essas 21% estão contratadas, vão ter que pagar, não tem jeito.
(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)
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O SR. FERNANDO FERREIRA - É, e mais acordos trabalhistas fechados,
depreciação, coisas, questões contábeis aqui.
Imaginem a seguinte hipótese: os clubes viraram uma empresa e aí o dono
chega e fala o seguinte: “Olha você vai ter que se enquadrar,” — eu não estou
sugerindo que isso aconteça, eu estou exemplificando para ilustrar — “você vai ter
que se enquadrar à sua capacidade de pagamento, a quanto você tem”. Aí o que é
que acontece? Olha-se para o clube e vê-se que eles tiveram 200 milhões de reais
de prejuízo, em 2013. Esse foi o menor prejuízo em muitos anos, esse foi um
prejuízo fora da curva, não é comum, houve ano que chegou a 500 milhões de reais.
Dois clubes no Brasil, sozinhos, em 1 ano já deram prejuízo maior do que isso.
Mas vamos lá, imaginem a seguinte situação: o clube tem 200 milhões de
reais de prejuízo e tem um endividamento líquido de quase 5 bilhões de reais.
Imaginem que o clube faz um acordo com os seus credores nos seguintes termos:
“Eu vou zerar o meu déficit, eu não vou ter mais prejuízo e vou pagar a minha dívida,
vou pagar a minha dívida em 25 anos; vou pagar 4% dela ao ano”. Os clubes teriam
que, nessa situação, arrumar 400 milhões de reais por ano. Agora, vamos lá, olhem
para ver a dimensão do negócio: 400 milhões de reais por ano. Suponhamos que
esse gestor chegasse à conclusão: “Eu tenho que sanear essa empresa, eu tenho
que reduzir 400 milhões de reais em despesas”. Aí ele vai às despesas e olha. Se
reduzir sobre todas as despesas, eu vou chegar à conclusão de que os gastos do
clube estão 18% acima do que ele pode pagar.
Agora, a gente sabe que clube de futebol — o Deputado Romário sabe disso
muito bem — tem uma estrutura profissional, administrativa e tudo mais, em geral
muito enxuta e não muito sofisticada. Os custos são baixos, em geral a estrutura
patrimonial é depreciada, não há muita manutenção. Então, a gente sabe que, se
um clube de futebol tivesse que fazer um corte de gastos, de despesa, para se
adequar, se isso fosse inevitável, se ele fosse obrigado a fazer, ele teria que fazer
um corte em quê? Na folha salarial dos jogadores. Ele teria que fazer ali. Se ele
tivesse que fazer ali, nós chegaríamos à seguinte conclusão: os salários no futebol
brasileiro estão 37% acima do que os clubes podem pagar. Essa é uma ideia desse
número, 37% acima do que eles podem pagar. E por que estão? Porque há
competição. Eu estou pagando, o meu companheiro está pagando, o meu
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concorrente está pagando. Eu tenho que concorrer, é campeonato. Eu tenho que
correr atrás.
Então, nós estamos vivendo num ambiente em que não tem um cara fora da
curva, todos estão fora da curva. E quem faz um trabalho bem feito é penalizado.
Reparem: sendo muito pragmático na atual estrutura do futebol brasileiro, o clube
que paga as contas em dias é penalizado. Por quê? Porque ele tende a não ganhar
campeonato, porque sempre tem alguém que faz uma loucura. Sempre tem alguém
que gasta. Esse cara tem mais chance de ser campeão, esse cara fica bem com a
torcida. E o cara que faz a coisa bonitinha, que paga e tal, que tem pouca dívida,
esse cara... Não compensa, na estrutura atual do futebol brasileiro, o clube pagar
suas contas em dia e não ter endividamento. Essa é a mensagem que é passada
para o mundo do futebol todo dia.
Aqui, só para ver no que isso dá no final, uma comparação do tamanho.
Vejam, a Inglaterra é uma economia do tamanho da nossa. Nós ficamos brigando
com eles, “somos sexto, somos sétimo, tal e tal”, eles são um pouquinho maior do
que a gente, mas eles são uma economia do tamanho da nossa. Aí se vê: enquanto
a operadora vendeu o naming right da Arena Park na cidade de São Paulo, uma
cidade desse tamanho, muito bem localizada, por 300 milhões de reais por 20 anos,
o Manchester United vendeu o naming right do centro de treinamento por 450
milhões de reais por 8 anos. Quer dizer, é uma estupidez o tamanho da diferença da
gente para eles, é muito maior do que a diferença econômica — nós somos do
patamar deles —, é muito maior. Direitos de TV no Brasil, 1,3 bilhões de reais;
direitos de TV na Inglaterra, 10 bilhões de reais. É o produto. “Ah, mas a TV tinha
que pagar mais.” É o produto. A TV é um repassador de patrocínio e fica com a
parte dela. Se o clube não tem demanda para patrocínio e para isso, esse é o
produto.
O futebol brasileiro, na nossa ótica, está sob ataque de outras formas de
entretenimento, muito mais profissionais e estruturadas. Vamos lembrar: nos anos
60 e 70, o Maracanã com 150 mil pessoas e tudo mais. Não se tinha muita opção de
coisa para fazer. Os jogos eram muito melhores, não havia tanto jogo, o preço era
menor. O jogo, realmente, era um grande evento. Hoje, o cidadão comum tem vários
grandes eventos para participar. Ele tem várias opções para fazer com o tempo dele
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e com o dinheiro dele. Por exemplo, cinema é uma dessas. Os senhores lembram
20 anos atrás como eram as salas de cinemas; vejam como elas se transformaram.
Só que há um detalhe, o cinema tem conteúdo. Nós queremos ter estádio novo,
pusemos estádio novo, e o produto que está lá dentro... Então, meu amigo, nós
estamos com problema.
Ataque da crescente influência de clubes estrangeiros. É o “Efeito TV por
assinatura”. Essas grifes aqui estão botando os nossos clubes de joelhos. “Ah, mais
isso afeta de que maneira?!” Vou dizer duas maneiras que afetam. Uma é lógica:
venda de camisa. A venda de camisa é direta.
Outra coisa, à medida que esses programas que mostram campeonatos
internacionais são cada vez mais atraentes, e a TV aberta começa a olhar para isso
com mais carinho, em algum momento, ela pode chamar os clubes e falar o
seguinte: “Meu amigo, sabe esse contrato de 1,3 bilhões que nós fechamos aqui,
vamos renegociá-lo para baixo, porque eu quero pagar mesmo é para comprar o
direito de transmissão da Premier League lá, porque o meu pessoal está adorando
assistir esse negócio”. Provavelmente não vamos chegar a um ponto tão radical,
mas nós estamos caminhando e, no caminho, vamos perdendo dinheiro.
Então, isso aqui é um exemplo. Apresentarei rapidamente, porque é muito
grande. Nós fizemos uma pesquisa com 300 especialistas em gestão e marketing
esportivo sobre os principais problemas do futebol brasileiro. Há uma lista de 50
itens lá, até a coloco à disposição, caso os senhores queiram ter contato com a
pesquisa inteira, que é muito interessante. Mas eu vou dizer alguns itens que foram
os mais citados, os mais importantes: déficits financeiros recorrentes e fluxo de caixa
negativo em curto prazo; violência dentro e fora dos estádios; alto e crescente nível
de endividamento — outro índice de finanças. Depois, reparem mais abaixo que são
problemas de: governança, governança, governança, produto de futebol,
governança, governança, governança. Esse é o dia a dia dos clubes. Tudo isso, no
final, está relacionado a finanças.
E aqui a pergunta que vai um pouco nessa direção. Nós somos a 7ª economia
do mundo, à nossa frente só estão três países com tradição no futebol: Alemanha,
Inglaterra e França. Só são esses três. Se nós temos tradição, povo apaixonado e
uma economia grande, por que nós somos o 8º em receita dos clubes da Série A, o
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11º em valor de mercado dos elencos — isso quer dizer qualidade do que vai para
campo — e o 18º em público nos estádios? Quer dizer, estamos totalmente fora da
curva.
Isso tem a ver também, no final da história, com uma questão no Brasil que
está relacionada às finanças dos clubes que gera um paradoxo interessante, que é o
grande paradoxo do futebol brasileiro. Muita gente acha que as coisas não são tão
ruins porque a Seleção é boa. A Seleção Brasileira é a maior marca do futebol
mundial — a maior marca do futebol mundial! Mas enquanto ela é uma marca
espetacular, os nossos clubes são ilustres desconhecidos no mercado internacional.
E aqui quatro itens que a gente considera muito importantes para o futebol
brasileiro: controlar o prejuízo dos clubes, não apenas salário e tributos. A última
linha é que importa: a linha de Lei de Responsabilidade Fiscal, as linhas do balanço,
quer dizer, apresentar CND é uma coisa importante. Tem que se definir bem o que é
salário, é uma coisa importante. Os clubes são muito criativos para definir o que é
salário hoje, mas, amanhã, pode existir uma nova nomenclatura e uma nova conta,
para se criar uma maneira de driblar isso.
Então, o que nós achamos que é muito mais objetivo no final das contas é o
seguinte: limite para o prejuízo. Vamos dar um exemplo dos dois clubes que eu citei:
um deles teve um prejuízo de 170 milhões de reais no ano; o outro clube teve
prejuízo de 290 milhões de reais no ano. Isso é futebol brasileiro, dois clubes.
Então, repare, se você não limitar... O clube é assim, você fala: “Você é
obrigado a pagar impostos agora, não tem mais jeito, aqui você vai”. Da CND ele
não tem como fugir; quanto ao imposto está beleza, ótima medida. “Ah, você tem
que pagar salário em dia.” “Vamos criar uma comissão, um rebate de licenciamento,
um patrocínio à parte, vamos criar uma outra entidade.” Sempre tem uma maneira
de fugir.
Uma maneira de não fugir é o seguinte — afinal, clube é uma entidade que
tem que ter o direito de escolher a maneira de determinar os seus gastos, e elas são
diferentes de clube para clube, e aí, sim, não dá para comparar mesmo com a
Europa — é limitando a última linha: “Meu amigo, você não pode ter 30 milhões de
prejuízo por ano ao longo de 5 ou 6 anos”. É o que acontece com um dos clubes
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brasileiros, e o seu Presidente sempre fala de gestão responsável, enquanto dá 30
milhões de reais de prejuízo por ano.
Continuando os itens: punição esportiva é uma coisa importante — só que,
para um programa por adesão, isso acaba gerando distorções; responsabilidade
objetiva dos dirigentes. O Amir falou sobre credibilidade. De novo, a gente lida muito
com empresas, empresas grandes. Vocês não têm ideia da quantidade de empresas
gigantes que querem botar dinheiro no futebol, porque futebol tem relação com
alegria, com saúde. As empresas querem estar associadas com o quê? Com o
momento de alegria do torcedor. O Brasil tem 160 milhões de torcedores. Esses 160
milhões de torcedores têm um rendimento mensal de 122 bilhões de reais. Isso é o
que vai para o bolso dessa gente. Toda empresa quer estar relacionada com esses
caras.
E por que não estão? Por que o mercado é tão pequeno? O nosso mercado é
muito pequeno. Porque elas têm medo, elas não confiam. O futebol é visto por boa
parte da sociedade, complementando o que o Amir falou, como uma atividade quase
marginal. Eu sou um economista, a Pluri é uma consultoria econômica que trabalha
também com futebol, e, quando você fala isso, às vezes até atrapalha. Tem gente
que olha para você de maneira diferente, futebol é uma atividade quase marginal.
Isso precisa ser resgatado, violentamente resgatado.
E o último item: forçar a profissionalização — estrutura executiva. Qualquer
clube de futebol da Série A fatura hoje entre 50 e 100 milhões, mas há clube
faturando entre 350 e 400 milhões. Como vocês sabem, esses clubes têm dirigentes
não remunerados, mas não têm estruturas executivas fortes, em geral têm até um
nível de gerência. A gente costuma dizer o seguinte: reparem que qualquer empresa
de 150 milhões de reais está preocupada em contratar os melhores profissionais do
mercado, a garotada nova que está surgindo. “Eu quero trazer esse pessoal porque
é sangue novo, são novas ideias.” Qualquer empresa tem um trabalho de estagiário,
de trainee tudo mais.
Aí, você é um clube de futebol, você quer contratar bons profissionais para o
marketing, para as finanças, para contabilidade. Sabe qual é o plano de carreira que
você tem para oferecer para eles? Funciona assim, você chega para o garoto e fala:
“Olha, eu vou te contratar, você vai trabalhar aqui na área de marketing, vai começar
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como estagiário, analista e tal. Quando chegar a gerente, você pede demissão, entra
para a política, torce para o seu grupo ser eleito e você ser indicado para diretor de
marketing.” Se não for assim, ele não consegue ser diretor de marketing de um
clube de futebol.
São estruturas profissionais, gente. Não é porque o futebol são clubes
sociais... E não há problema em ser clube social: o Real Madrid é um clube social, o
Barcelona é um clube social e funcionam. Só que eles têm o quê? Estrutura
executiva, gente o dia inteiro, com autonomia, trabalhando para o quê? Para correr
atrás. Pessoal remunerado, com incentivo para o quê? Para trazer resultado para o
clube, olhando o clube como uma empresa. No final, o futebol hoje é o seguinte:
dinheiro. Se você não tem dinheiro, você não contrata, você não põe jogador em
campo.
Então, por que na última janela de transferência quase não houve negócios?
Porque os clubes não têm dinheiro, eles não estão no limite, não têm como
contratar. A única maneira que eles têm hoje é de recorrer a quem? A empresários,
não há alternativa; eles têm que recorrer a empresários. Virou aluguel de janela, isso
está instituído. Muitos clubes, aliás, apoiam essa ideia; isso está generalizado. Por
quê? Porque é o jeito que o cara tem. Se eu não tenho dinheiro para contratar, eu
arrumo quem tenha. E o cara que põe quer retorno, não tem conversa.
(Intervenção fora do microfone. Ininteligível.)
O SR. FERNANDO FERREIRA - Inclusive escala, tem mais isso.
Então, pessoal, era isso. Eu acho que me alonguei um pouco.
O SR. DEPUTADO JOSÉ ROCHA - Jogando Ceará e Bahia e o Barcelona
com Romário, o pessoal vai querer assistir o quê? (Risos.)
O SR. DEPUTADO ROMÁRIO - Bons tempos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Quero agradecer ao Dr.
Fernando...
O SR. DEPUTADO VICENTE CANDIDO - Também merece palmas o Dr.
Fernando, foi tão brilhante quanto o Amir. (Palmas.)
Você não vai ficar com ciúmes — não é, Amir?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Exato.
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Pela ordem de inscrição, os próximos oradores são: Deputado Vicente
Candido, Deputado Deley, Deputado Edinho Bez, que se retirou, mas se voltar
continua inscrito, Deputado André Figueiredo, que também se retirou.
(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Nós estamos dando
sequência, Deputado Romário.
O SR. DEPUTADO ROMÁRIO - Ah, entendi.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - V.Exa. é um dos autores do
requerimento e, teoricamente, eu estou partindo do princípio de que V.Exa. e o
Relator já perguntaram, mas nós vamos voltar. Não tem problema.
O SR. DEPUTADO ROMÁRIO - Mas a gente não vai poder fazer perguntas?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Vai poder, sim.
O SR. DEPUTADO AFONSO HAMM - Eu queria me inscrever também,
Presidente: Deputado Afonso Hamm.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Eu queria pedir que todos
fossem bem objetivos, porque nós temos, para ser exato, de 15 a 20 minutos para
liberar os dois, que têm voos marcados.
Vou pedir bastante objetividade. Isso é redundante para Deputado, mas...
O SR. DEPUTADO VICENTE CANDIDO - Presidente, temos que começar
oferecer para os nossos convidados hotel para que eles durmam aqui, porque todo
mundo vem aqui com problema de voo. Precisamos pagar hotel para eles também,
não só a passagem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - É verdade.
O SR. DEPUTADO VICENTE CANDIDO - Amir, você e o Fernando
conseguiram aqui um feito não muito comum em uma palestra: falaram de coisas
difíceis para gente ouvir, que doeram aos ouvidos, e conseguiram ser aplaudidos.
Eu estava ficando apreensivo aqui com o diagnóstico, que é verdadeiro, e nós
aplaudimos talvez pelo subsídio que trouxeram para o Congresso Nacional, com o
qual poderemos fazer uma lei o melhor possível, a mais real possível, a mais
aplicável das leis.
O que vocês deixam é o seguinte: talvez exagerando, precisaríamos de uma
comissão permanente de monitoramento e elaboração de medidas e normas,
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naquilo que for competência nossa constitucional, para tratar dessa matéria toda. Eu
acho que, com tudo isso, não vai ser ainda nesse prazo nosso, que está exíguo, até
pela situação do futebol, do esporte, que nós vamos dar conta de responder. Mas o
tema requer depois, através da Comissão Temática, a Comissão do Esporte, que
continuemos estudando e monitorando, para ver o que é de nossa competência,
para que não se retire a nossa responsabilidade de elaborar normas, melhorar e,
cada vez mais, contribuir com o produto esporte brasileiro. Acho que é isso que
vocês deixam muito aqui. Não há muito a comentar, vocês trazem um diagnóstico
superinteressante.
Não acho, Amir, e nunca pensei que o PROFORTE seja uma panaceia. Nós
já fizemos um debate juntos. Acho que é uma medida entre outras. Talvez, essa
medida contribua, na sua pontuação, com 30% ou 40% do problema. O resto,
provavelmente, será de competência mais privada das entidades do que do
Congresso Nacional e do Governo. Ainda que pelo sentido da utilidade pública do
esporte, o Congresso Nacional poderá continuar trabalhando questões dessa
natureza, com debates, com normas e tal.
Então, imagino que depois — o próprio Presidente Jovair tem pregado isso —
passada essa fase aqui, do tratamento da dívida, do fundo das loterias e, dentro
dela, das normas, poderemos ser rígidos com a transparência na governança. Mas
eu acredito que a governança podemos consertar também, por decreto ou por lei,
até porque é um problema cultural que não é só do esporte. Se assim fosse,
Fernando, o Brasil estaria resolvido — está certo?
Vamos estudar setores privados que também estão tão complicados quanto o
esporte brasileiro. Então, isso é até para baixar um pouco nossa angústia, porque,
como você colocou, a gente fica apreensivo. Mas isso é fruto do que o Brasil
conseguiu produzir até hoje com as entidades privadas e não privadas. Se a gente
for estudar o endividamento do setor público brasileiro, vai ficar mais apreensivo do
que isso. Um dos produtos dessas incorreções, dessas distorções é exatamente o
custo do dinheiro. A gente está vendo aqui para os clubes, mas não é só para os
clubes. Você pega a dívida pública brasileira e vê que é um absurdo, não há
matemático no mundo — nem o Oswald de Souza — que consiga explicar para nós
a matemática do endividamento público. Se pegar desde a época do Fernando
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Henrique, do Lula — e não estou culpando esse ou aquele Governo — tem uma
questão estrutural brasileira que reflete, por exemplo, se pegar o custo financeiro
versus o PIB do esporte, e acho que até refletiu pouco. No poder público é maior
ainda, com todos os cuidados. Em suma, há questões estruturais que não
dependem muito de nós aqui, mas temos que fazer.
Atendendo a solicitação do Presidente Jovair na celeridade da fala, eu
gostaria fazer um pedido a vocês, com base no que estudam. E vocês são muito
mais estudiosos do assunto do que nós. A partir do projeto que está escrito, está aí
o Relator, estão aqui também os nossos ensinamentos — nenhum projeto sai daqui
como entra, essa é a riqueza do debate aqui dentro e que estamos fazendo aqui não
só com os Parlamentares, mas principalmente com a sociedade civil, e vocês vieram
aqui com esse objetivo —, se pudessem ver o que se encaixa dentro do projeto e
passarem para o Relator e para a Comissão, como medidas que possamos colocar
no projeto. Por exemplo, a limitação de lucros é um negócio supernovo. Dá para
colocar isso numa lei? Dá para inserir isso numa lei e exigir isso de qualquer ente
privado ou público ou de economia mista ou de clubes, empresa ou não? Eu tenho
dúvida, mas, se puder, vamos trabalhar nisso.
Na governança, o que mais a gente pode exigir por lei? A alteração da Lei
Pelé foi um avanço, ainda não é o suficiente, mas o que mais dá para colocar para
que a gente possa ajudar a dar o choque cultural, porque o resto vai ser no dia a dia,
no banco da escola. Aí, vem uma deficiência brasileira: quantas escolas de gestão
pública de esporte ou do terceiro setor têm no Brasil? Até outro dia, havia duas
faculdades: a FGV e, agora, tem uma outra aí. Está aparecendo um pouco mais
pelos eventos Copa do Mundo e Olimpíadas. Então, também está dentro das nossas
deficiências a falta de formação de gestores não só para esse setor como para um
monte de outros. Tanto é que as grandes corporações acabam montando as
próprias escolas, porque o mercado não forma mão de obra. Durante anos, nós
trabalhamos essa questão do esporte como uma questão de menor importância,
como uma questão de lazer, etc., ninguém dá conta para isso. Os eventos Copa do
Mundo e Olimpíadas estão chamando a atenção dos dirigentes de todo o mundo,
públicos e privados. Então, passa-se a pensar: “Opa, isso aqui precisa ser mais
sério”.
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Você fez ali uma explicação no final, eu até ia brincar com você, dizendo o
seguinte: depois de tudo isso, só dá para acreditar que Deus é brasileiro, porque,
com tudo isso, nós ainda somos os melhores do mundo. Mas tirem a Seleção fora,
até porque hoje a Seleção que vai jogar na Copa do Mundo e que jogou na Copa
das Confederações não é formada praticamente no Brasil, não é isso? Então, talvez,
seja esta a explicação: está tudo lá fora. De repente, aparece jogador na Seleção de
quem eu nunca ouvi falar na minha vida, porque está lá no Qatar, está não sei onde,
foi para lá com 13 anos, formou-se lá e vai para a Seleção. Talvez, hoje 80% dos
jogadores da Seleção não atuam no Brasil. É uma explicação para isso, então, Deus
não é tão brasileiro assim. Com toda essa deficiência, ainda somos o melhor do
mundo, mas há uma explicação lógica para isso.
Então, eu esperaria isso, acho que não tem muito mais o que falar, tem o que
fazer. Estamos fazendo essa leitura correta de que temos que fazer; pior seria a
inércia de todos os envolvidos nisso. O mundo está mudando, o Brasil está
mudando. Vocês trazem dados importantes nessa questão da disputa do produto
futebol, do lazer, do esporte, como de outros produtos. Isso também requer um
estudo mais refinado nosso, para ver como vamos cercar tudo isso. A partir daí, é
vender melhor — é vender melhor. Eu acho que têm aí inquietações que nós vamos
ter que aprofundar muito mais para obter respostas.
Naquela provocação final que você faz de como cortar 20% para abater,
amortizar, a dívida, o mais imediato que eu acho possível fazer, que eu acho tem
musculatura para fazer, é o aumento da receita, não o aumento do custo. Você vai
cortar juros ou alguma outra coisa de endividamento. Nós estamos numa situação
muito parecida com o serviço público: gasta-se muito com a saúde, mas ainda não é
suficiente. É preciso aumentar o número de hospitais e de UPAs, como os que vão
ser inaugurados pelo Brasil afora, ou seja, vai-se aumentar mais ainda o custo do
serviço sem ter receita. Então, isso exige mais dinheiro. Nós vamos ter que trabalhar
muito mais novas receitas do que corte de custo, talvez, com algum aprimoramento
de um lado ou de outro.
Para fechar e não me alongar mesmo, Amir, eu acho que a gente tem que
trabalhar muito fortemente o foco na descentralização tanto do fomento público
quanto do privado. Daí vale a pena, assim que terminar este certame aqui, a gente
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discutir a verba de TV. Eu acho que, do jeito que ela é distribuída, ela é um tiro no
pé. Não dá para o PIB brasileiro ser focado em 20 clubes da primeira divisão. Esse é
um erro que os fomentadores de esporte públicos ou privados têm que olhar. Não dá
para ignorar o potencial de qualquer Estado brasileiro para a produção esportiva.
O SR. AMIR SOMOGGI - Perfeito, Deputado.
O SR. DEPUTADO VICENTE CANDIDO - Eu acho que o foco principal do
nosso projeto é ver como esse dinheiro vai chegar aos rincões do Brasil, pois lá têm
tantos talentos quanto no centro dinâmico do Brasil.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Eu queria lembrar que
todas as audiências — as realizadas até agora e as que virão — estão na página da
Comissão na Internet.
Concedo a palavra ao Deputado Danrlei, com a sua competente ação como
goleiro, agora, aqui, como Deputado.
O SR. DEPUTADO DANRLEI DE DEUS HINTERHOLZ - Obrigado, Sr.
Presidente. Quero saudar os convidados, o Amir e o Fernando, os nossos colegas
Deputados e o Relator.
Eu estou na mesma linha do Romário. Diante do que vocês nos passaram
aqui, apesar de estarrecedor, posso dizer que muitas vezes nós só imaginamos a
situação real. Mas, aqui, foi bem colocada a verdade. E por mais que doa para todos
nós que gostamos de futebol, que somos apaixonados por futebol — e eu posso
falar por mim que vivi desde os meus 12 anos dentro de clubes — isso tem que ser
dito porque aqui neste momento nós estamos trabalhando para melhorar o futebol
brasileiro. A ideia nossa é exatamente essa.
E vou dizer mais, Presidente, Relator Otavio Leite, nós devíamos pegar a
explanação dos nossos dois convidados e, a partir do que nós ouvimos aqui,
começar a trabalhar o projeto para realmente ajudar o futebol brasileiro. O que é
ajudar o futebol e os clubes, não só de futebol no Brasil? Ajudar é fazer com que
eles sejam corretos. E aí eu acho que uma das principais questões é não deixar nas
mãos dos clubes se eles querem ou não participar, mas, sim, se quiserem abrir suas
portas, jogar o campeonato, que eles têm que fazer dessa forma. Isso é muito
importante.
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Eu acho que as explanações dos dois convidados foram muito importantes
para que nós também reflitamos e possamos ter uma ideia diferente. Eu tinha uma
ideia muito parecida com a que vocês falaram, mas não imaginava que pudesse ser
tão grande e tão difícil a situação. Acho que só tem uma forma de nós ajudarmos,
Relator, os clubes brasileiros: obrigá-los a serem corretos. A melhor coisa que nós
aqui desta Casa podemos fazer para ajudá-los é fazer com que eles sejam o mais
corretos possível. E melhoraram muito — não é, Amir? — como já foi dito. E eu
posso dizer, porque o clube do meu coração, o Grêmio...
(Intervenção fora do microfone. Ininteligível.)
O SR. DEPUTADO DANRLEI DE DEUS HINTERHOLZ - É o segundo,
Presidente. (Risos.)
Do ano passado para este, o Grêmio trabalhava com 6,5 milhões de salários.
Para tentar melhorar, diminuir essa dívida e acalmar um pouco essa questão dentro
do clube, baixou para 4 milhões. Quer dizer, o time está numa Libertadores, e, ao
invés de melhorar o time, arrumar e ajeitar, o Presidente está tomando pauladas. —
tem que deixar bem claro, isso é verdade —, mas está tentando ajeitar o clube. É
bom para mim, que tenho o sonho de um dia ser Presidente do Grêmio. Quando eu
chegar lá, acho que as coisas estarão um pouco melhores.
Creio que vocês dois até agora, ao meu ver, Presidente, foram os
palestrantes mais importantes para que a gente possa trabalhar esse projeto. Quero
parabenizá-los e dizer que, junto com os meus colegas aqui nós vamos — podem
ter certeza e passem isso àqueles que trabalham com vocês e que têm intenção de
investir no futebol, e sei que são muitos —, nesta Casa, ajudá-los a investir cada vez
mais, para que o Brasil possa ter um futebol forte e, a partir de então, com pessoas
sérias que venham para fazer belas gestões.
Não importa se é no Brasil, não importa se é na Inglaterra, não importa se é
na China, é a gestão que faz com que os clubes crescem. Não importa a receita, se
você tem a receita de um ou de cem, trabalhe com a receita que você tem, e, em
cima dela, faça uma gestão correta e positiva. Eu acho que é hora de o Brasil
começar a se dar conta disso. O Brasil é muito velho ainda no pensamento daqueles
que estão à frente do futebol, daqueles que estão comandando seus clubes, e é
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hora de mudar isso. E já que eles não mudam por si só e não conseguem ver isso,
quem sabe esta Casa, com esse trabalho, não possa mudar essa questão.
Parabéns! Fiquei muito feliz porque agora nós temos muito mais questões a
trabalhar nesse projeto — não é, meu Relator —, confiando de que nós juntos
consigamos fazer isso.
E eu queria fazer uma pergunta, não sei se tem, e vocês respondam, se
quiserem ou não: como a CBF pode ajudar nisso? Claro, hoje, teremos que ir lá para
a CBF dar o o.k., para que tudo que for acertado e colocado neste projeto dê certo,
Se a CBF não assinar junto que esses clubes terão punições — e punições severas
—, caso não façam a sua gestão de forma correta... Além disso, todos nós sabemos
que a CBF, financeiramente, é uma entidade muito tranquila, enquanto que os
nossos clubes aqui estão correndo atrás de migalhas.
O SR. DEPUTADO OTAVIO LEITE - Presidente, permita-me só falar um
número, porque esse número eu não posso deixar de compartilhar. Em 2012, se não
me engano, 360 milhões foi o faturamento da CBF; lucro líquido, 55.
O SR. DEPUTADO DANRLEI DE DEUS HINTERHOLZ - Então, a minha
preocupação é esta: os clubes estão falidos, acabados, às vezes, virando “barriga
de aluguel” por migalhas, enquanto a nossa entidade maior do futebol está cada vez
ganhando mais. O que precisa ser feito? Como pode ser feito? Há alguma forma de
a CBF... Se os senhores tiverem a possibilidade de responder. Está aqui o Welber,
que é representante da CBF; é importante que esteja aqui, que bom que esteja aqui.
Quem sabe a CBF também nos ajude a reverter isso. O que mais a CBF poderia
fazer? Quando eu digo CBF, eu me refiro às Federações juntas, seja a goiana, seja
a gaúcha, todas elas. Acaba o jogo no domingo à tarde, eles só têm a receber,
porque quem paga juiz, quem paga praticamente tudo são os clubes. Eles só
recebem a parte deles. E eu não vejo voltar para o futebol brasileiro praticamente
nada. Quando tem que fazer estádio, vêm correr atrás de recursos federais.
Então, eu gostaria de saber se existe alguma forma de a CBF ajudar esses
clubes mais diretamente. Quais são ideias de vocês quanto ao que a CBF poderia
fazer? Não sei se eu estou conseguindo me fazer entender na pergunta. O que a
CBF poderia fazer, financeiramente, para ajudar a melhorar também a situação
desses clubes brasileiros? E, quando eu falo dos clubes, eu não estou falando dos
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20 que têm receita alta, estou falando dos 600 clubes, porque todos os outros
precisam também. Apesar do tamanho de cada um, a dívida cresce da mesma forma
que a dos grandes. Os menores também precisam sobreviver. Então, eu queria
deixar essa pergunta. Se os senhores tiverem algum estudo ou condições de
responder alguma coisa relacionada a isso, eu ficaria muito feliz, porque também
podemos dar ideia à própria CBF de apoio, incentivo, até mesmo para que ela
diminua um pouquinho o seu percentual, quem sabe, deixando para os clubes de
outra forma.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Eu quero só lembrar que,
pela ordem de inscrição, falará agora o Deputado Afonso Hamm, em seguida o
Deputado Romário e o Relator. Aí, nós vamos ouvir as respostas às perguntas, as
considerações finais e as despedidas dos nossos convidados. Então, eu quero
continuar na mesma celeridade, porque já são 16h55min e, às 17h10min, no
máximo, os nossos convidados têm que se retirar. Nós podemos continuar aqui, mas
eles precisam sair para não perderem o voo.
Então, com a palavra o Deputado Afonso Hamm.
O SR. DEPUTADO AFONSO HAMM - Vou ser objetivo então.
(Intervenção fora do microfone. Ininteligível.)
O SR. DEPUTADO AFONSO HAMM - Tenho certeza. A expectativa é
grande.
Sabem que a crítica e o diagnóstico é fácil, na minha opinião. Fazer o
diagnóstico é um pouquinho mais difícil. Mas o difícil mesmo é construir solução, e é
que nós queremos. Esse é o primeiro ponto.
Então, é importante o diagnóstico, são importantes pontos. Inclusive, em cima
dessa reflexão, que é a reflexão que não se fez na Comissão do Esporte, e agora na
Comissão Especial, com esses membros, com essa dedicação... Aliás, Presidente
Jovair Arantes e Relator Otavio Leite, todos os nossos colegas, esta é a Comissão
Especial de maior atividade neste momento no Congresso, pela efetividade de
audiências públicas, pela profundidade, tanto na qualidade das contribuições, a
exemplo dos dois que estão hoje aqui — o que agradecemos — e a exemplo das
que nós estamos fazendo. E uma inclusive, do dia 19, nós vamos discutir formação,
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porque um dos pilares de organização, a partir de uma busca de saneamento, de
equiparação nas questões de equalização na questão de dívida e receitas, que é o
tema que estamos comentando, nós temos que trabalhar em cima da estruturação,
que passa, lógico, por calendário, estrutura, entidade... Tem coisa que foge ao
nosso controle. Agora, com a responsabilização de uma lei — e aí é o ponto
importante —, os dirigentes vão pensar duas vezes se vão ser dirigentes. Outra, e
aqui quero usar uma linguagem de futebol: nós não estamos jogando a não fazer,
nós estamos jogando as ganhas, porque é muito fácil eu fazer a discussão vazia da
crítica, e a discussão responsável é a que está sendo feita aqui. Muitas vezes, a
gente pede às pessoas que venham contribuir e entender o que está sendo feito
aqui. Isto é importante: o diagnóstico do Brasil, o diagnóstico da área da agricultura,
o diagnóstico da saúde, o diagnóstico do futebol, com encaminhamento e busca de
um eixo estruturante.
Eu já fui Presidente desta Comissão, e um dos convencimentos que tenho é
de que está faltando uma lei geral do esporte no Brasil. O turismo fez uma lei geral,
que estruturou seu eixo central, estabeleceu suas diretrizes e vem regulamentando
essa lei, legislando pontualmente. Nós fazemos confusão de futebol com as demais
modalidades esportivas. É assim! Dentro desse cenário, a situação é Copa do
Mundo e Olimpíadas. Copa do Mundo e Olimpíadas, vamos fazer uma discussão
responsável disso. É a esta discussão que os nossos ilustres convidados estão
dando sua contribuição.
Outro ponto importante: se a dívida que está aí e o que existe, que é a
Timemania, não resolvem a questão, porque isso foi mostrado, a dívida cresce em
proporção maior do que aquilo que se arrecada. Não há encontro de contas. Há
solução para o futebol com esse modelo que está aí? Há responsabilidade para com
isso? É claro que não! São diagnósticos. Esse é um ponto. Há necessidade de mais
receitas? Estamos trabalhando para isso.
Fomos buscar receitas no âmbito do saneamento de dívidas, o que temos que
separar, porque é uma coisa diferente, e receitas na qualidade da gestão, o que foi
muito bem apontado aqui, como o marketing, como a própria gestão de custos do
clube nas suas contratações. Vemos aí o Grêmio fazendo o saneamento, um dos
clubes que acompanho. Ele chegou e definiu: o treinador não pode receber mais do
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que “x”. Se era de 800, agora o patamar é de 400 para os contratos dos jogadores.
Estão fazendo a gestão.
O futebol brasileiro não sairá do lugar se nós não encararmos o passivo. Isso
vale fundamentalmente para médios e pequenos clubes. Nós estamos buscando —
mais uma vez eu queria colocar isso — os diversos encaminhamentos através dessa
proposta do PROFORTE, que aponta, por exemplo, receita nova. Há uma loteria boa
no mundo e que pode ser usada aqui, que é a loteria instantânea. Nós não
queremos a receita dela, queremos uma parte dela.
Vamos debater a questão, para que a bolsa de formação, que é uma
ferramenta social, sim, com responsabilidade e com critério, possa e deva ajudar,
com receita nova, a resolver a parte do passado. Por que não? Já se fez isso em
outros setores. Ou há solução outra? É muito fácil responsabilizar os clubes se as
responsabilidades não foram apuradas e se não era esse o jogo. Por isso a lei é
importante. O bojo da lei constrói compromissos, comprometimentos e
responsabilidade a partir desse processo.
Então, eu queria discutir um pouquinho sobre isso, porque é importante. São
dois níveis: de incremento e de busca de receita. Elas devem ser ponderadas, e
devemos estabelecer isso dentro de uma proposta estrutural e estruturante para o
futebol. É dentro desse viés que eu entendo que esta discussão está sendo feita.
Não vou poder me estender, mas eu queria fazer apenas uma colocação
sobre esse aspecto. Nós temos condições, a partir de uma legislação que cuide de
uma parte, que é o passivo, que são as dívidas, sim, a forma; que cuide de receitas
novas e de algo do ponto de vista estrutural e de organização. E aí foge muito da
capacidade legislativa, mas nós temos que ter a capacidade de colocar algo que
estimule exatamente esse perfil. Eu acho que a responsabilização é um grande
caminho. Efetivamente, nós vamos conseguir aí estabelecer um novo patamar. Isto
é responsabilidade. A partir de um ponto, como nós estamos trabalhando, não de
forma pretensiosa, mas se abre uma discussão e se estabelece uma legislação que
possa ser estruturante para o futebol. E comprometimento tem que ser de todos. E
nós juntamos duas coisas. Nós juntamos o futebol, porque pode um clube de futebol
sanear as suas dívidas, bancando, com recurso novo, bolsas de formação e outras
modalidades, e também no futebol.
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E aí vem o eixo estruturante, de que não vou falar hoje, porque vai haver a
audiência do dia 19, que é a tese que eu tenho trabalhado de criar um fundo
formador. O fundo formador é um percentual das novas receitas para alavancar
tanto a parte de saneamento, quanto para estruturar o futebol, porque, hoje, como é
que você forma jogadores? Categorias de base, centros de treinamento.
Também informo que, no art. 29 da Lei Geral da Copa, está o que nós
colocamos, juntamente com o Relator, o Deputado Vicente Candido, em que vai ser
aplicado um percentual, um valor. Inclusive, há o compartilhamento com o Deputado
Romário em relação a essa proposição, não vou detalhá-la, que é para estimular
exatamente a construção de centros de treinamento. Isso é uma espécie de fundo
formador. Começamos a pegar um pouco o lucro da FIFA, e a FIFA, através da
Copa do Brasil, também precisa contribuir. Nós estamos conseguindo 20 milhões,
num primeiro momento, para ajudar essas estruturações e para estimular a
formação. No pós-Copa, quem sabe outros 80 milhões, 100 milhões.
Também surgiram debates aqui, em que foi dito, num primeiro momento, que
era impossível propormos tirar uma parte dos lucros da FIFA, por ocasião da Copa
do Mundo, na forma, vamos dizer assim, de oportunidade, em função de toda a
circunstância. Logo nós vamos poder detalhar. Isso não vai resolver, mas vai
contribuir. E se começa a obter um caminho de encaminhamento de resultados.
Era isso.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Nós vamos ouvir o
Deputado Romário. O Deputado Deley pediu a palavra por 1 minuto; depois vamos
ouvi-lo. Eu queria pedir a todos brevidade.
Só para lembrar, Deputado Romário, uma coisa que nós não podemos perder
de vista: a formação de atletas olímpicos no Brasil, historicamente, é feita pelos
clubes; diferentemente dos Estados Unidos e de outros países, em que as
universidades os formam. No Brasil, são os clubes, pelo menos eram.
O SR. DEPUTADO ROMÁRIO - Sr. Presidente, primeiramente quero
agradecer ao Sr. Fernando Ferreira pela presença, principalmente pela aula dada a
esta Comissão.
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Na minha opinião — isso é uma coisa particular —, dentro do que acabamos
de ouvir a respeito da realidade do nosso futebol, do momento que estamos vivendo,
eu gostaria de pedir que fosse feita a revisão total do PROFORTE. Particularmente,
na minha opinião, só continuaria o nome, o resto, tudo o que estiver dentro, todos os
artigos, os incisos e os parágrafos, eles realmente, hoje, não servem para ajudar o
futebol, pelo contrário. Na minha opinião, depois do que a gente ouviu, no que se
refere à realidade, principalmente aos números do esporte brasileiro, ele piora a
situação do futebol. A gente ouviu aqui a apresentação dos dois maiores
especialistas dessas áreas, que colocaram claramente que, realmente, estamos
enterrados, e só está faltando a pazinha de areia para acabar de fechar.
Parabenizo-os, mais uma vez, por tudo o que foi colocado. Fico feliz em saber
que, como autor desse requerimento, estou contribuindo diretamente para esta
Comissão. Eu acredito, pelo que ouvi dos Deputados, que, sem dúvida, esta foi uma
das melhores explanações que tivemos aqui, desde a primeira reunião.
Dou ao senhor, Sr. Fernando, a mesma nota que dei ao Sr. Amir, nota 11.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Dê 12 agora! (Risos.)
O SR. DEPUTADO ROMÁRIO - Vou continuar com 11.
Tenho certeza de que precisamos, sim, definitivamente, mudar tudo isso que
nós acabamos de ouvir.
Tenho perguntas em relação à CBF. Gostaria de saber se os senhores
entendem, mais ou menos no mesmo caminho do Deputado Danrlei, que é preciso e
onde é preciso enquadrar a CBF neste projeto. Qual é a inclusão definitivamente da
CBF nisso?
Só para contribuir com o Deputado Danrlei, uma das coisas que a CBF pode
fazer no momento para ajudar muito o futebol é o seu Presidente e o Vice saírem do
País, deixarem a administração, porque são dois bandidos, ladrões, corruptos, que
estão cada vez mais piorando o nosso futebol. Essa seria, na minha opinião, a
primeira atitude que a CBF teria que fazer. A outra é assumir realmente a sua
colocação e a sua responsabilidade como a maior entidade esportiva do País e uma
das mais importantes do futebol mundial.
Outra coisa que eu gostaria de saber também, como somos a sétima
economia do mundo, um dos últimos países em distribuição de renda, o que
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certamente impacta no público, é se o valor do ingresso também seria uma coisa
importante em todo este contexto.
Essas seriam as minhas perguntas.
Muito obrigado mais uma vez aos senhores pela participação.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - O.k.
Eu queria só lembrar que, parece, o Deputado Romário esqueceu o nome do
Deputado Danrlei, porque o Deputado Danrlei não o deixava fazer gol no Grêmio.
Não era isso?
O SR. DEPUTADO ROMÁRIO - Até já falei uma vez aqui, se não fosse o
Deputado Danrlei, eu teria feito 2 mil. (Risos.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - O Deputado Danrlei
implicou com ele e não o deixou fazer mais de mil.
Quero ouvir o Deputado Deley, mas antes só quero lembrar ao Deputado
Romário que o projeto que está sendo discutido, que foi colocado como
PROFORTE, é um projeto minimamente coletado por todos nós. Isso já foi
explicado, e voltarei a explicar isso. Nós fizemos a coletânea de todos os projetos
em andamento na Casa, formatamos um projeto mínimo para iniciarmos esta
discussão, porque, com o avançado da hora em relação a essa questão dos clubes
do Brasil, se faz necessária a urgência. Inclusive são vários os autores que
assinaram este projeto, começando pelo Deputado Renan Filho e pelo Deputado
Rodrigo Maia, do Rio de Janeiro. Ele é uma coletânea de todos os outros projetos
que trouxemos. Vamos aqui produzir um substitutivo através do Relator, que é o
nosso Deputado Otavio Leite.
Deputado Deley. (Pausa.)
O SR. DEPUTADO ROMÁRIO - Sr. Presidente, como fui citado, só quero
contraditar. Eu tenho bastante apreço e respeito pelos Deputados aqui citados,
autores do projeto, dois Deputados, dos muitos, Renan Filho e Rodrigo Maia, mas
acredito que as suas palavras me fortalecem mais ainda na minha certeza. Como é
uma coisa mínima, ainda dá tempo de retirar tudo o que existe dentro dele, repensar
e colocar outras coisas. Na minha opinião, de acordo com o que a gente ouviu e
como é formatado o projeto, eu falo particularmente por mim, não falo pelos outros
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— aprendi isso na minha vida —, realmente o projeto é muito ruim e muito prejudicial
ao momento do esporte brasileiro.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Deputado Deley, tem
V.Exa. a palavra.
O SR. DEPUTADO DELEY - Sr. Presidente, obrigado a V.Exa. pela
generosidade. Infelizmente, tive uma audiência fora e perdi a aula que foi dada aqui.
Eu vou direto ao ponto, rapidamente, pelo que eu li e me passaram aqui.
Fernando falou da questão dessa relação, de os clubes hoje estarem na mão dos
investidores e dos empresários. Existiria outra saída que vocês poderiam sugerir?
Segundo, já que vocês são profissionais, um trabalho desses seria
espetacular e custaria, mas vocês conhecem algum modelo que vocês acreditem
que caberia ao futebol brasileiro hoje, dentro desta crise? É a pergunta que faço a
Amir e a Fernando.
Fernando, nós disputamos agora a eleição para Presidente do Fluminense, e
uma das saídas que estávamos colocando, juntamente com o Dr. Pedro Trengrouse,
da Fundação, seria justamente esses clubes criarem uma fundação. Por quê? Você
separaria o futebol do clube social e do esporte olímpico, aproveitando a marca,
para que pudesse desenvolver o esporte olímpico nesses clubes, no Paysandu, no
Remo, no Goiás.
O que vocês acham da possibilidade de esses clubes terem uma fundação?
Automaticamente, você separaria o futebol do esporte olímpico, você daria
condições a esses clubes, a essas marcas poderosíssimas, para investir no esporte
olímpico.
Obrigado, Presidente Jovair.
Não vou me alongar, até pelo adiantado da hora.
Parabéns a vocês!
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Eu queria aproveitar a
oportunidade para dar mais tempo ao Fernando, porque a pergunta dirigida a ele foi
feita um pouco antes. Então, Fernando já vai dar a resposta. Por gentileza, no final
da resposta, já se despeça, recebendo nosso agradecimento. E vamos acrescentar
a pergunta que o Relator havia pedido para fazer antes.
Fernando, empreste o microfone que está à sua direita, por favor.
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O SR. DEPUTADO OTAVIO LEITE - Em relação à punição esportiva, pela
pesquisa que os senhores fizeram, como ela se dá na Alemanha, por exemplo? É
uma indagação que eu gostaria de fazer. Indago também se na Alemanha a loteria
esportiva da Alemanha contribui para esse business como um todo, essa equação
financeira complexa.
O SR. FERNANDO FERREIRA - Eu vou passar aqui alguns pontos que foram
levantados.
O Deputado Vicente Candido falou sobre a questão dos direitos de tevê. Eu
queria lembrar que a Itália fez isso. A Itália teve uma intervenção do Estado para a
mudança dos direitos de tevê. O Brasil adotou o modelo de sistema de direito de
distribuição de tevê que não está sendo mais utilizado no mundo inteiro. Quando a
gente entrou, a gente entrou em um modelo do qual os europeus estavam saindo.
Lá, há uma distribuição mais igualitária dos recursos; aqui no Brasil, a gente entrou
copiando o modelo que, na Espanha, é alvo de críticas tremendas, de que a Itália
está saindo, de que Portugal está saindo. Todo mundo está saindo desse modelo, e
a gente entrou quando todo mundo estava saindo. Então, esse é um ponto; é bem
interessante isso.
Eu me embaralhei, que eu misturei todas as perguntas aqui. Eu vou colocar
todas em sequência.
Foi colocada uma questão sobre fundo formador de categoria de base para
clube pequeno. Eu acho isso uma ideia bem interessante e até coloco o seguinte.
Essa é uma ideia em que poderia se analisar também — o Deputado colocou isso —
a questão dos próprios pequenos clubes, porque aqui, gente, o dinheiro não nasce
em árvore. O futebol de categorias inferiores é deficitário e provavelmente
continuará a ser. O que a Alemanha faz de novo? Pega uma parte das cotas de tevê
e as distribui. Uma parte das cotas de tevê acabam servindo de subsídio, porque se
desvencilhar dos clubes menores geraria uma receita muito grande para os clubes
maiores. Eles têm que dar uma contrapartida a isso, porque senão o que acontece?
Você mata o futebol regional; e, se você mata o clube pequeno, empresário não vai
investir para formar jogador no interior do Brasil. Você vai simplesmente perder
talentos. Então, esse é um ponto que precisa ser analisado.
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Há outro ponto que o Deputado Danrlei colocou sobre a CBF. Eu acho que a
CBF deveria ser a indutora de todo esse processo. Então, a gente tem um exemplo
do que acontece na UEFA. A UEFA é uma entidade muito profissional, que estuda
demais o mercado. O mercado é muito dinâmico, é dinâmico demais. As dificuldades
de hoje mudam daqui a um ano, e a CBF como a, entre aspas, “dona” do futebol,
teria a obrigação de ajustar isso, induzir, fazer com que o futebol efetivamente se
torne mais profissional. Era isso o que eu esperaria de uma entidade como a CBF.
Sobre loteria, eu sou um defensor da ideia. Eu acho isso interessante porque
eu acredito no seguinte. Eu estudo muito o potencial de consumo do torcedor. Os
torcedores brasileiros têm 120 bilhões de reais de rendimento. Só para vocês terem
uma ideia, a receita dos clubes oriunda diretamente do bolso dos torcedores, tirando
tevê e patrocínios, equivale a 0,07% do rendimento dos torcedores; é isso que eles
tiram. Por quê? Deputado Danrlei, aproveitando isso, a Pluri Consultoria estruturou
para o Grêmio uma rede de franquia de fast-food, que está sendo implementada.
Qual é a ideia daquilo? A ideia daquilo é justamente como a ideia das redes de lojas
de clubes, da loteria. Quer dizer, o torcedor tem o desejo de ajudar o clube, a
definição é o produto.
O SR. DEPUTADO VICENTE CANDIDO - Fernando, você me permite, sem
querer atrapalhar?
O SR. FERNANDO FERREIRA - Pois não.
O SR. DEPUTADO VICENTE CANDIDO - Na sua fala, você tirou fora da
comparação a Rússia, que talvez seria o mais comparável com a gente, porque é do
BRICS, é país em desenvolvimento. Eles estão no patamar da Europa? A angústia
— tanto você como o Amir a trazem aqui — é porque você nos compara só com o
Primeiro Mundo. Em termos de economia, estamos no pelotão do G-8, mas, em
termos de estrutura social e qualidade de vida, não. Então, se nos comparar com a
Nigéria, nós vamos ficar aqui numa folga muito grande; o País tem 180 milhões de
habitantes. Não se compara com os Estados Unidos, que são um terço da economia
do mundo; com os países da Europa, que têm 2 mil anos de existência. Isso nos
deixa muito angustiado. Talvez, se pudesse até nos mandar dados sobre o que é
comparável, para baixar talvez um pouco a nossa angústia, sem baixar a
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inquietação do que é preciso fazer, você nos ajudaria. Você tirou a Rússia na hora
em que você foi comentar isso na sua exposição.
O SR. FERNANDO FERREIRA - Sobre a Rússia, se você pegar a elite do
futebol — Inglaterra, Alemanha, Itália, Espanha e França, onde agora o futebol está
ocupando mais espaço —, a Rússia está mais para esse pessoal do que para o
nosso bloco. Então, nós estamos brigando, em mercado, com México, Turquia,
Ucrânia, Argentina; nós estamos brigando nesse bloco. Considerando o tamanho da
nossa economia, óbvio, o nosso nível de renda é muito inferior ao desse pessoal
todo, mas nós temos tradição, nós temos história, nós temos um povo fanático, nós
temos o futebol difundido no Brasil inteiro. Então, eu tirei a Rússia até porque ela
está fazendo uma parte importante. A Rússia está ganhando espaço pelo dinheiro
que vem dos magnatas, mas não é uma estruturação do futebol que a está fazendo
ir lá para cima, é dinheiro que está vindo de um, dois, três, quatro, cinco caras que...
(Intervenção fora do microfone. Ininteligível.)
O SR. FERNANDO FERREIRA - É, exatamente.
Sobre preço de ingresso, sobre o que o Deputado Romário comentou, é
incrível o que está acontecendo no Brasil. A gente faz muito relatório estudando
isso. Vou dar um número aqui muito resumido. A gente teve um IPCA, um índice de
inflação oficial, de 95% nos últimos 11 anos — de 2003 para cá que a gente tem o
histórico —, e o preço médio dos ingressos, categoria mais barata, dos times que
disputam a primeira divisão subiu 346% no período. E aí há outro dado, em linha
com o questionamento, que é mais impactante. A gente estudou, tomando 25 países
do mundo, qual era o preço do ingresso médio, considerando a renda per capita do
país, e quantos ingressos um torcedor de cada país poderia comprar com a sua
renda. E o Brasil tem o ingresso mais caro do mundo. Proporcionalmente à renda do
brasileiro, o Brasil tem o ingresso mais caro do mundo. Sobre isso a gente tem
relatórios que mostram país por país. Então, não é à toa... Aqui no Brasil acontece
uma coisa maluca: quanto mais esvazia o estádio, mais aumenta o preço. É uma
coisa doida. Ano a ano o público cai — e não é opinião do Fernando, a gente retrata
isso com os dados —, e ano a ano o preço do ingresso sobe.
Gente, o futebol é um produto como qualquer outro, é consumo. Está
aumentando o preço, o produto não é bom, o sujeito olha e fala: “O que vou fazer
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hoje com o meu dinheiro, com o meu tempo? Eu vou ao cinema, vou à balada, vou a
um ‘show’. Vou ver o jogo em casa, porque eu compro o ‘pay-per-view’, que é mais
barato que o preço do ingresso para assistir ao campeonato inteiro por mês”. Então,
o preço do ingresso é fundamental para o problema.
Por fim, eu queria dizer que eu fico muito satisfeito e agradeço. Fico à
disposição para o que eu puder dar de contribuição. Acho que o futebol realmente
está à margem, não está regulamento, tem muito buraco. Então, eu acho que falta
pressão sobre a CBF. Não entendo da questão legislativa para saber como se pode
enquadrar uma entidade privada, mas eu acho que é preciso pressão em cima da
CBF, porque ela é a principal indutora para transformar esse futebol. A ideia do
Deputado Vicente Candido de ter uma Comissão Permanente eu acho muito
positiva.
E diria o seguinte: o futebol não é mais um mercado pequeno, um setor
pequeno. Ele é um setor grande, vai crescer, porque é uma questão cultural, é uma
questão sociocultural, econômica. O futebol gera emprego, induz investimento.
Existem muitas empresas para trazer dinheiro para o futebol, para trazer emprego
para o futebol. Eu não posso dizer que o futebol é um pagador de impostos, porque,
na prática, ele não é. O futebol é, principalmente, um criador de felicidade. Então, eu
aqui tenho uma satisfação dupla de poder contribuir e também de dizer, como
vascaíno, duas questões: em primeiro lugar, o meu clube aqui é um dos piores
retratos da história, mas eu tenho a satisfação de estar aqui na presença de uma
das pessoas que mais me deu alegria na vida, para exemplificar que o futebol é um
criador de felicidade para o brasileiro como nada. Não tem nada igual.
Era isso o que queria deixar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Eu queria só lembrar que o
Deputado Romário só não é mais feliz porque não jogou no Atlético Goianiense.
O SR. DEPUTADO DANRLEI DE DEUS HINTERHOLZ - Peço só um aparte
em relação à questão dos ingressos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Eles têm voo às 18h20min.
Seja rápido, senão eles não vão chegar ao aeroporto.
O SR. DEPUTADO DANRLEI DE DEUS HINTERHOLZ - Acho que até para
eles vai ser importante falar sobre uma questão nova que está acontecendo no Rio
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Grande do Sul, principalmente com o Grêmio. Depois vocês podem fazer uma
pesquisa em relação a isso. Com as novas arenas, os preços dos ingressos
subiram, e o pessoal que não é da capital está deixando de ser sócio dos clubes. O
Grêmio, que tinha 58 mil, 60 mil sócios, está com 32 mil agora, e a alegação de
todos no interior é a seguinte: “Como é muito caro o ingresso e eu não vou a todos
os jogos, fica mais barato pagar o meu ingresso uma vez por mês do que ser sócio
do meu clube. Vou gastar a metade do valor que eu gasto hoje sendo sócio”. É uma
questão a mais que está tirando esse auxílio. Os clubes hoje precisam muito desses
sócios.
O SR. DEPUTADO DELEY - Fernando, você falou da relação empresário-
clube. Qual seria talvez a solução?
O SR. FERNANDO FERREIRA - Esse é um ponto importante. Eu acho o
seguinte: nós chegamos a um ponto incontrolável dessa situação. Eu não vejo como
resolver isso do ponto de vista de voltar atrás e os clubes terem um projeto de longo
prazo para fomentar a categoria de base e efetivamente fazer com que o jogador...
O problema é que a legislação permite que desde cedo o empresário entre no clube.
O empresário fica com o filé, porque o clube investe no jogador desde que é garoto,
gasta com a formação, mas o empresário pega o jogador na hora em que ele
consegue identificar se reduz o risco dele como investidor: “Um garoto com 9 anos
pode dar certo ou pode dar errado, mas um jogador com 14, 15, ou 16 anos já
diminui o risco de investimento.” Ele chega na hora H e fica com a parte boa, paga
uma grana para ficar com os melhores jogadores. Com isso, está reduzindo o risco e
ampliando a capacidade de retorno dele.
Eu acho que na atual situação, em que os clubes estão todos com o pires na
mão, não há solução, eles precisam do empresário. Não tem jeito, senão eles não
põem o time em campo. Isso virou uma situação delicada. Agora, isso tem que ser
regulamentado de novo. É preciso regulamentar esse mercado de agentes e
investidores. Esse mercado precisa ser regulamentado, porque tem gente boa aqui,
efetivamente tem gente que põe o dinheiro e quer ter o retorno. O futebol
proporciona o retorno, e para o clube isso é vantagem, porque o clube pode reduzir
o risco dele, concentrar o investimento. Então, existe uma parte boa, desde que seja
regulada. Mas esse mercado de agentes investidores não está regulamentado.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Peço que nos mande, por
favor, a sugestão dessa regulação, que nós poderemos inclui-la aí.
O SR. DEPUTADO DELEY - Lá fora é assim?
O SR. FERNANDO FERREIRA - Lá fora, o que acontece? Por exemplo, a
Inglaterra...
O SR. DEPUTADO DELEY - Desculpe-me, Presidente, acho um tema
importantíssimo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - O problema é que quem vai
perder o avião são eles. (Risos.)
O SR. DEPUTADO DELEY - Então, empreste o de V.Exa.
O SR. FERNANDO FERREIRA - Na Inglaterra, o que acontece? Lá é um
pouco diferente. As pessoas falam: “Na Inglaterra não existe a figura do empresário.”
Não, lá o empresário compra o clube. Lá, você ouve o seguinte: “Você quer investir
efetivamente no atleta? Então pega a parte ruim, que é ser dono do time.” Não
existe só atleta para você ganhar, você vai lá e vai vestir o time. Por exemplo,
quando a família Glazer compra o Manchester United, o que ela está fazendo? Ela
está comprando o time, o clube em si; ela tem a preocupação com o time em campo,
e ela já é investidora. Então, ela não precisa ter vários investidores como os clubes
têm, ela não precisa trabalhar com o agente. Por quê? Porque o dono do clube é o
agente. Ele vai prover os recursos necessários. Então, o que você está fazendo?
Você está transferindo o investidor, porque aqui no Brasil você tem vários
investidores que negociam com vários clubes. Então, um clube lá negocia com
vários investidores diferentes.
O que foi feito na Inglaterra, por exemplo? “Esse clube aqui não vai mais
negociar com esses investidores. Se esses investidores quiserem ter jogador, eles
vão ter que comprar um clube, ser o dono do clube.” E aí a família Glazer, por
exemplo, comprou o Manchester United, o time russo daqui, o árabe dali. Mas,
efetivamente, lá eles entram numa determinada regra, e acaba esse mercado, essas
pizzas.
Há também a questão da transparência. Eu não entendo por que não é
pública a informação da divisão dos direitos econômicos do jogador; eu não entendo
por que essa informação é sigilosa. Houve um clube que efetivamente fez isso anos
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atrás, o Corinthians, que fez uma vez e parou porque os outros clubes não seguiram
isso.
Lá fora é preciso saber de quem são os direitos econômicos do jogador, como
também uma coisa é importante: negociou o jogador, divulga. Por exemplo, Portugal
tem um modelo bem sucedido com o SADES. Negociou o jogador? Então, tá: quem
comprou? Pagou quanto? Foi para onde? Depositou onde? Quanto é o recurso? De
quanto é a comissão do agente? É preciso divulgar tudo. Não há nenhum motivo
para essas informações não serem divulgadas.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Eu gostaria de lembrar uma
questão sobre a qual eu queria falar no início da reunião. Na Escócia, aquele clube
tradicional chamado Rangers foi penalizado e caiu para a quinta divisão do
campeonato escocês, agora já está na segunda e faliu. O clube está absolutamente
falido.
O SR. AMIR SOMOGGI - O segundo clube mais importante do País.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Exatamente.
O SR. AMIR SOMOGGI - Em relação à CBF, eu queria agradecer. Se a CBF
não participar do PROFORTE, ele não existe. É importantíssimo que ela participe,
porque só ela pode dar a punição esportiva — nenhum de nós, nenhuma entidade
pode fazer isso. Portanto, a CBF tem que participar. O papel dela não é
simplesmente participar, mas exigir dos clubes uma mudança, e que essa gestão
também a atinja.
Eu não tenho esta informação, mas a CBF é a entidade que mais fatura com
marketing, e a informação que eu tenho é que há dois funcionários de marketing
dentro da entidade. Como é possível? É impossível uma empresa faturar 350
milhões e ter dois profissionais de marketing. Então, a CBF também tem que evoluir
como entidade, não apenas os clubes, até porque ela poderia influenciá-los nesse
sentido.
Agradeço muito. Quero fazer minhas as palavras do Fernando. Fiquei
honrado e muito feliz em estar aqui e poder dividir com vocês esses números que a
gente tem, e espero poder contribuir, mais na frente, no que for necessário.
Muito obrigado.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Eu quero, mais uma vez,
lembrar e convidar — acho que, até agora, está definido que irá a São Luís do
Maranhão apenas o Deputado Vicente e eu — outros membros da Comissão para
irem conosco a São Luís, na sexta-feira, às 14 horas. Na terça-feira, vamos ter a
audiência pública como Marcio Braga, ex-dirigente do Flamengo, e com o Dr. Pedro
Trengrouse.
O SR. DEPUTADO VICENTE CANDIDO - Sr. Presidente, aproveitando, eu
queria...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Pois não.
O SR. DEPUTADO VICENTE CANDIDO -...verificar com o Relator.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Só um pouquinho. Silêncio,
por favor.
O SR. DEPUTADO VICENTE CANDIDO - Queria saber se podemos agendar
para a semana que vem a reunião com a Confederação Brasileira de Clubes —
FENACLUBES, porque pega as outras modalidades de esporte e, como nós não
temos muito tempo disponível...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Então, vamos encaixar na
terça-feira a FENACLUBES. O.k.?
O SR. DEPUTADO OTAVIO LEITE - Pode ser a audiência do Deputado
Afonso Hamm.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Jovair Arantes) - Não, porque a dele é
específica. Vamos fazer na terça-feira mesmo. Fica o Marcio Braga, o Dr. Pedro e a
FENACLUBES.
Lembro que, na quarta-feira, nós teremos a audiência pedida pelo Deputado
Afonso Hamm, que será muito importante.
Quero lembrar que esta Comissão começou a ganhar muita importância, e a
participação hoje dos dois palestrantes foi fundamental. Eu acho que nós estamos
conseguindo um enriquecimento muito importante da Comissão com essas
audiências externas — já fizemos no Rio de Janeiro e vamos fazer em São Luís e
em Florianópolis. Nós não poderemos fazer outras externas, porque não teremos
tanto tempo.
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É necessário dizer e importante colocar aqui que nós vamos fazer um
substitutivo global deste PROFORTE, mas guardando a necessidade do objetivo
principal desta Comissão. Segundo, nós deveremos deixar consignado, ou escrito,
que nós deveremos ter uma Comissão — como sugestão do Deputado Afonso
Hamm e do Deputado Vicente — que possa fazer um marco definitivo do esporte no
Brasil, um novo marco divisório desta situação. O objetivo principal, a urgência é
resolvermos esses problemas. A Lei dos Portos deverá ver isso.
Não havendo mais nada a tratar, encerro a presente reunião. Agradeço a
todos a presença e convoco outra reunião para terça-feira, às 14 horas, em auditório
a ser lembrado, e na quarta-feira, idem.
Um abraço a todos!
Muito obrigado.