das micro regioes geograficas -silvio simeone

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  • 8/18/2019 Das Micro Regioes Geograficas -Silvio Simeone

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    DAS “MICRORREGIÕES GEOGRÁFICAS” ÀS “REGIONAIS DE DESENVOLVIMENTOS”:

    regionalizações das terras acreanas e as possibilidades de novos rearranjos no

    princípio do século XXI

    “O homem-habitante é uma escala mais ampla do que o homem-produtor, este éapenas um aspecto do homem-habitante (A NDRADE, 1971, referindo ao processode trabalho no aménagement du territoire”)

    Silvio Simione da SilvaProfessor Assistente do Depto. de Geografia da

    Universidade Federal do Acre – UFAC.Pesquisador do Núcleo de Estudos, Pesquisas e

    Projetos de Reforma Agrária – NERA-FCT/UNESP.Doutorando do Curso de Pós-Graduação em

    Geografia da FCT/UNESP de Presidente Prudente.

    Correio eletrônico: [email protected]

    R ESUMO: Aqui, buscamos compreender os fundamentos das regionalizações mais recentesdas terras acreanas. Vimos os propósitos desses processos no contexto da Geografia e, comisto, os avanços e recuos na definição territorial das regiões. Partindo de críticas teóricas,defendemos em tese “a necessidade de rever as regionalizações vigentes no estado”. Nisto,fixamos pontos para a compreensão e superação das definições de regiões “naturais” ou“homogêneas” como parcialmente denota a divisão em “regionais de desenvolvimento”,apresentada no Zoneamento Ecológico Econômico do Acre.PALAVRAS CHAVE: Acre. Regionalização. Escalas regionais. Desenvolvimento.Planejamento.

    A QUESTÃO 

    Para a sociedade organizada, o ato social de administrar o espaço de

    vivência é de importância vital. Temos uma dimensão espacial na qual limitamos,

    racionalizamos e gerimos nossas ações. A definição de áreas, ou seja, de espaços

     prioritários a certas ações, é a forma de agirmos mais eficientemente no cotidiano social

    em que produzimos e somos reproduzidos. Aí redefinimos espaços passíveis de ações

    concretas, delimitamos territorialmente e começamos dar sentido de uma regionalização,

    na qual considerando nossas ações pretéritas, projeta-se nosso devir  social no lugar. Então,

    não somos estranhos a (re) formação ou (re) territorialização da região, pois fazemos parte

    da dinâmica social que se processa sobre o lugar.

    A região, portanto, independente das pré-concepções firmadas ao ser

    delimitada, é instância de racionalização de ações de quem a procura defini-la. Portanto, a

    tese básica do que se trata neste artigo, é que a “região” se firma como entidade territorial

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    na sua gestão, como “região administrativa”, na qual somos parte integrante e ativa nos

     processos que a produz.

    As condições para conhecê-la, leva-nos a superar as visões de regiões

    naturais ou homogêneas, para uma compreensão dos processos relacionais que produzem o

    território heterogeneamente. Ao territorializar, estes processos promovem o

    desenvolvimento desigual e contraditório dos lugares, o que nos permite identificar

    espaços privilegiados de concatenação de forças na firmação de identidades regionais. Por

    isto, o que define a região não é a homogeneidade, mas as correlações de forças que se

    combinam e conduzem a identidade regional no contato e confronto aos processos globais.

    Aí identificamos dimensões em que sobressaí reações, dando-nos a clareza do domínio

     político que “manifestado” materializam arranjos territoriais que se combinam – isto é, aregião.

    Portanto, a luz destes pressupostos, sob o ponto de vista de uma crítica

    radical, trataremos da firmação das últimas regionalizações do espaço territorial acreano,

    assim como da premência de novas discussões sobre estas questões em nível de Estado.

    A REGIÃO 

     Num dia do mês de setembro de 1998, numa conversa com umtrabalhador migrante em Brasiléia, este me fazia a seguinte afirmação: “na minha região as

    coisas não eram assim! Lá nós trabalhamos os morros, endireitamos leitos dos riachos,

    desmatamos e plantamos lavouras e pastagens; enfim fizemos o lugar produtivo. Ali nós

    mandávamos! Aqui está tudo para fazer! Nós é que temos de fazer”.

    Frases como estas são muitas comuns quando conversamos com

    migrantes sobre suas condições de vida local com relação a espaços vividos, ou seja, os

    territórios que deixaram para traz em suas andanças por estes rincões brasileiros. A região, portanto, comumente vista como algo presente, é uma entidade construída no processo de

    vivência na produção do espaço vivido da sociedade que se localiza. Assim, como

    território de bases físicas/naturais identificáveis, a região se redefine sob a projeção de

    ações sociais transformadoras do homem sobre o espaço que vive. Também como

    “domínio” em que se projeta das condições de exercício de poder, a região se define

    territorialmente, como espaço em que gestores a administram, projetando condições

    sociais/reprodutivas em áreas devidamente localizadas (referimos ação do poder público

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    estatal ou da sociedade organizada). Portanto, podemos dizer que a região é um constructo

    histórico de relações sociais produtivas, as quais projetaram-se sobre a formação

    físico/natural do espaço, dando uma identidade que se combina e torna possível de ser

    apreendida no lugar. Nisto é dinâmica e passível de redefinições ao longo da ampliação da

    complexidade das forças que produzem os territórios de vivência humana.

    É, portanto, o conceito e a definição de região uma necessidade constante

    na vida do homem. Numa sociedade, complexa a região se define por territórios

     preferenciais de ações políticas. Aí o poder público delimita formas de gestão do território,

    mas a sociedade se organiza na composição de forças que darão dinâmicas às relações de

     produção. Estas ao se reproduzirem territorializam no espaço vivido, novos processos na

    dinâmica territorial. Nisto a região é palco de combate e conciliação, de desigualdade e de busca de equacioná-la, mas é também lócus onde por mais abstrato que seja o conceito de

    espaço, seus elementos processuais estão passíveis de delimitação e conhecimento real na

    superfície terrestre, a partir da materialização dos “jogos de forças estabelecidos”. Então

    região não é o território, mas se define a partir de dimensões territoriais que nestes arranjos

     produzidos, dão-nos a configuração possível delimitação territorial, em condições sociais e

    temporais específicas. Por isto, essa delimitação não é definitiva, mas necessária de ser

    revista e considerada na dinâmica contraditória que produz espaço vivencial, sob critérios planificados pelo gestor ou pela sociedade que aí se territorializa.

    Projetamos então, um conceito de região que se define a partir das

    relações de produção e atribuições estratégicas da ação humana sobre o espaço,

    territorializando-se. Vemos aí, possibilidades de efetuarmos a definição de regiões

    geográficas1, numa ótica da dialética que produz o desenvolvimento desigual e combinado

    do território, mas que pouco tem sido considerada nos estudos regionais.

    Há, todavia, outros conceitos de região que não considera estacomplexidade presente no espaço produzido. Dentre essas cabe destacar aquela que

     provém do estudo e compreensão positivista clássica das “regiões naturais”

    implementadas, sobretudo, quando concepções naturalistas (até as primeiras décadas do

    século XX) exerceram influências dominantes sobre as ciências humanas. Essas regiões

    1 - Propomos outro caminho para conhecer a região geográfica. É preciso ir além da definição tradicional, naGeografia, em que se buscava apenas a compreensão empirista dos elementos naturais ou culturais em

    combinações específicas que conferia singularidades a região. Assim, a definição da região passa por processos sociais de produção dos quais manifestações socioculturais também são tributárias.

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    eram áreas que se definia a partir da identidade que a natureza lhe conferia, isto é, “dos

    domínios naturais” como: bacia hidrográfica, floresta, campos ou cerrados, montanhas,

    lagos etc. Sendo essas definidas pelas determinações da natureza, caberia aos estudos de

    regionalizações, captar os aspectos dominantes da paisagem natural e traduzi-los em

    espaços passíveis de serem delimitados. Isto seria muito prático se aplicado numa região

    em que sobressai o domínio natural como na Amazônia; porém, isto não refletiria a

    realidade, pois os elementos sociais que produzem as diferenciações regionais ficariam

    ignorados.

    Talvez a proposta mais aplicada no âmbito da Geografia Brasileira, tenha

    consistido na busca de identificar a região a partir de elementos que homogeneíza uma

     porção do território nacional. Isto factualmente se dá a partir das características dedomínios naturais (como florestas, rios, montanhas etc) ou socioculturais (presença de

    tipos étnicos, tradições locais etc.) ou econômicas (áreas agrícolas, áreas mais urbanizadas,

    áreas industriais etc.). Aí o elemento de maior expressividade é o identificador da região –

    são as regiões homogêneas2. No caso da Amazônia teria os rios e a floresta como principal

    definidor do território regional.

    AS REGIONALIZAÇÕES  Na a realidade brasileira, e mais precisamente, a realidade acreana,

    tivemos vários conceitos empregados nas definições regionais. Aqui trataremos apenas das

    regionalizações acreanas em “regiões homogêneas” e em “regiões geográficas” feitas pelo

    IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), para depois refletir sobre a

    regionalização proposta pelo Governo do Estado do Acre com as “regionais de

    desenvolvimento”.

     No final da década de 1960 o IBGE, definia uma regionalização doespaço brasileiro com base no conceito de região homogênea. Em nível macrorregional

    tinha se cinco grandes regiões: Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte. Em nível de

    2 - Esta concepção, em que tendo por bases o positivismo lógico, vê a região como “conjunto de lugares ondeas diferenças internas são menores que as existentes entre eles e qualquer elemento de outro conjunto delugares” (CORRÊA, 1998, p.32). A delimitação é um problema estatístico, em que a solução é obtida pelainvariabilidade das informações quantificáveis. Isso se pode resolver em laboratórios sem uma base empírica prévia ou processual da formação, bastando dados dos elementos dominantes para determinar sua expressãodelimitada em mapas. Uma vez que consideramos as informações de elementos humanos, podem-se obter

    condições de “regiões funcionais” que são definidas a partir dos movimentos de pessoas, mercadorias edecisões aplicadas sobre partes da superfície terrestre (ID. IBID, p.33-35).

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    espaços menores, no Acre, territorialmente tínhamos a Mesorregião Homogênea do Acre

    que correspondia ao território estadual, e internamente dividia-se em duas microrregiões

    homogêneas: Alto Purus (correspondendo às áreas orientais território acreano, drenadas

     pelos rios das bacias do Purus e no leste por rios da bacia do Madeira, como o Abunã) e

    Alto Juruá (correspondendo as áreas ocidentais do território acreano, drenadas pelos rios

    da bacia do Juruá). Aí se teve definido a base das regionalizações para ações

    administrativas nas duas décadas seguintes.

     No final da década de 1980 esta regionalização já não retratava a

    realidade brasileira, embora o elemento homogeinizador permanecesse. Assim, perante a

    dinâmica de um espaço que se produz contraditoriamente em complexidade e

    complementaridade com suas bases físicas, socioeconômicas e socioculturais, havia umdesafio para outra compreensão do território nacional, tendo em vista a ações efetivas mais

    eficientes. Da crítica e insuficiência das regiões homogêneas para retratar a realidade do

     país, busca-se outra concepção para a nova regionalização. Então, também sob a

    coordenação do IBGE, o conceito de “região geográfica”, numa concepção econômica e

    historicista, viria como base para outra regionalização sob uma visão mais crítica da

    realidade brasileira, em diferentes escalas territoriais. Então, tenta-se identificar os

    múltiplos processos se interagem na definição regional. Desse processo, em nívelmacrorregional, o país se caracterizaria por três grandes regiões – as “regiões

    geoeconômicas”: Centro-Sul, Nordeste e Amazônia.

    É dessa regionalização que começaremos a analisar mais especificamente

    a situação acreana. Nesse processo, definiu-se então em nível estadual duas mesorregiões

    geográficas: do Vale do Juruá e a do Vale do Acre; e cinco microrregiões geográficas: de

    “Brasiléia”, de “Rio Branco” e de “Sena Madureira” no Vale do Acre; de “Tarauacá” e de

    “Cruzeiro do Sul” no Vale do Juruá (mapa 1). No plano da configuração espacial as mesorregiões do Vale do Acre e do

    Vale do Juruá correspondiam aos territórios das antigas microrregiões homogêneas do Alto

    Purus e Alto Juruá respectivamente. Todavia, as mudanças de denominações denotam

    especialmente a maior diversificação na produção do estadual: não são mais as

    microrregiões homogêneas, baseadas na hidrografia, que se dividem internamente o

    Estado, pois a complexidade do espaço produzido já dá outra configuração regional. Isto

     justificou na divisão interna do Acre nas cinco microrregiões geográficas referidas. As

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    mudanças de escalas territoriais são denotadas pelas trocas internas nos nomes dos “fatos

    geográficos” denominadores: alto-rio (elemento natural do curso do rio dá dimensão

    geomorfológica de extensão trajeto fluvial) para vale (em que o elemento natural dá a

    dimensão territorial de áreas de abrangências demanda pelo rio). Já não é o rio de maior

    expressão a dominar a região, mas o território em que estrategicamente projetam os centros

    hegemônicos no processo produtivo no Estado. Nisto, por exemplo, podemos compreender

    o porquê da denominação da Mesorregião Geográfica Vale do Acre, quando o rio Acre é

    na verdade um afluente do rio Purus. O conteúdo que expressa a região drenada pelo Rio

    Acre e ele em si próprio, historicamente, conferiram-lhe a condição de um significado

    geopolítico que, na Amazônia, que extrapola ao limites de sua rede hidrográfica (tanto que

    foi este Rio que deu o nome ao Estado e não os rios principais: Purus e Juruá). Estesignificado, somente foi captado como identificador regional dado ao plano das relações

    socioespaciais e territoriais aí estabelecidas.

    Mapa 1:Acre – Divisão em regiões geográficas

    Feijó

    Tarauacá

     R o d r i g u e s

     

    A l v e s

     M â n c i o 

     L i m a

    Cruzeirodo Sul

    Boca do

    Acre

       N .

       C  a   l   i   f   ó  r  n   i  a

    Porto Walter 

    Marechal

    Thaumaturgo Jordão St. Rosa

    Manoel

    Urbano

    AM.

    RO.

    A s s i s  B r

     a s i lBrasiléia

    Cobija

    Epitaciolândia

    XapuriCapixaba

    Acrelândia

    0Km.703535

    Escala:

    Rio Branco

    Pto. Acre

    C  u  n  h  a   G  

    o  m  e  s  

    Nov a Linha 

    Bujari

       G  u   i  o

      m  a  r  d

     

       S  e  n . 

    de CastroPlácido

    LEGENDA:

    Cidade

    Capital

    Limites N acionais/internacionais 

    Limites entre Microrregiões

    Guajará

    Sena

    Madureira

    Mesorregião Vale do Juruá

    Microrregião de Cruzeiro do Sul

    Microrregião de Tarauacá

    Microrregião de Rio Branco

    Microrregião de Brasiléia

    Microrregião de Sena Madureira

    1

    2Mesorregião Vale do Acre

    3

    4

    5

    1

    2

    3

    4

    5

     Fonte: IBGE, 1991; ACRE, 2000.

    São nestes propósitos que a regionalização, efetiva-se na apreensão de

    municias como tentativa de individualizar as características do território. Ainda não se

     buscava a compreensão das forças contraditórias, resultantes das múltiplas determinações,

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    como processo contido no espaço regional produzido; daí a permanência territorial de

     bases físicas anteriores. Nota-se então, a dificuldade da aplicação de um conceito que parte

    da concepção de região como produto de forças contraditórias na dinâmica social desigual

    que produz o espaço vivido. Esta dificuldade está na operacionalização do que é

    específico, mas não homogêneo na sua configuração territorial3, como base para conhecer

    a região.

    AS MICRORREGIÕES GEOGRÁFICAS 

     No Acre, podemos dizer que com a identificação das microrregiões

    geográficas, tentou-se apreender tais especificidades. Porém, as dificuldades operacionais

    fizeram que o processo social produtor de especificidades, ainda não fosse apreendido emsua forma integral manifestada. Com estes termos, do ponto de vista de operacionalização,

    os limites políticos dos territórios municipais, ainda são as bases concretas para definir as

    microrregiões. Todavia, é inegável que isso já significou um avanço na tentativa de captar

    as diversidades regionais acreanas.

    Assim no plano microrregional, no Vale do Acre, têm-se as seguintes

    delimitações regionais:

    A Microrregião de Brasiléia.

    Localizada no Sul do Estado, abrange os municípios de Brasiléia,

    Epitaciolância, Xapuri e Assis Brasil. No tocante ao aglomerado urbano, Brasiléia junto

    com Epitaciolândia e a cidade boliviana de Cobija, forma um “contínuo urbano” de

    aproximadamente setenta e cinco mil habitantes. No âmbito macrorregional, caracteriza-se

    como a segunda área com maior expressividade da vida urbana na Amazônia-acreana. Isto

    reflete na tendência da firmação, aí, de um centro comercial em territórios bi-nacionais, deque a cidade boliviana já é uma “zona de livre comércio”.

    Todos os municípios são drenados pelo Rio Acre em trechos de seu

    médio e alto curso e, com exceção de Xapuri, os demais são áreas de limites internacionais

    com as repúblicas da Bolívia e do Peru. Sob o ponto de vista natural, caracteriza-se por

    3  - Neste aspecto, apesar de partir dos pressupostos pautados na crítica social da Geografia Radical, não serompeu com a visão clássica. Esta regionalização assemelha às concepções lablachianas em que processossocioculturais são considerados como determinantes. Não se captou a luta e as relações sociais de produção

    (em seu movimento histórico) que realmente é o identificador dinâmico dos espaços regionais, na escala dosocial que habita o lugar. Por isto aí vemos bases históricas, porém não numa concepção dialética.

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    floresta densa, onde sobressai uma flora diversificada muita valiosa em espécies. Isto fez

    desses territórios, áreas densamente povoadas por seringueiros, desde a ocupação inicial do

    Acre pela frente pioneira extrativista no final do século XIX. Dado essa situação com o

    avanço da frente pioneira agropecuária recente, tornaram-se áreas de intensos conflitos e

    luta pela terra. Isto reflete na realidade recente da questão agrária acreana com a

    implantação grandes fazendas de criação bovina, áreas de colonização e áreas de unidades

    de conservação de uso direto e indireto. Dentre as unidades de conservação de uso direto, a

    Reserva Extrativista Chico Mendes é também uma expressão da luta dos trabalhadores

    extrativistas na conquista de seu território de vivência. Aliado a isso a participação política

    e efetiva dos trabalhadores em sindicatos rurais, cooperativas e associações, demonstra

    uma região bastante suscetível a projetos alternativos de desenvolvimentos.

    A Microrregião de Rio Branco.

    Abrange áreas centro-leste do Vale do Acre, sendo drenados por rios da

    Bacia Hidrográfica do Purus (rio Acre e seus afluentes) e da Bacia Hidrográfica do

    Madeira (rio Abunã e seus afluentes). Forma-se pelos municípios de Rio Branco, Porto

    Acre, Bujari, Capixaba, Senador Guiomard, Plácido de Castro e Acrelândia. É a

    microrregião mais populosa; economicamente, a mais importante e é também, localizaçãoda sede do poder político estadual em “Rio Branco” – a capital do Estado. Por estas

    condições, centraliza a principal praça comercial e as poucas indústrias locais.

     No conjunto, isto se materializa com uma enorme disparidade no padrão

    de desenvolvimento econômico e nos serviços prestados, entre a capital e os municípios

    vizinhos. Ademais, é nesta região que alguns municípios apresentam os maiores índices de

    áreas desmatadas (como Acrelândia com 27,73%, Plácido de Castro com 41,45% e

    Senador Guiomard com 51,41%, conforme dados da Fundação de Tecnologia do Acre –FUNTAC em 1999, citado in: ACRE, 2000). Disto provém ser esta região área de grande

    expansão das atividades agrícolas e pecuárias no Estado.

    Partindo das situações constatadas, podemos afirmar que nesta

    microrregião, sob o ponto de vista dos processos sociais que a reproduz, já há uma

    diferenciação regional consolidada internamente. Se tivermos a regionalização como um

     processo de busca de eficiência aos programas e políticas de desenvolvimento, é necessário

    iniciar esta discussão com vista a possibilidade de uma divisão microrregional.

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    Possivelmente, seja mais viável tratarmos da divisão nas “regionais de desenvolvimentos”.

    Todavia, a isto retornaremos mais adiante.

    A Microrregião de Sena Madureira.

    Situa em áreas centrais território acreano, sendo que suas terras estendem

    de norte a sul do Estado, correspondendo aos municípios de Sena Madureira, Manoel

    Urbano e Santa Rosa do Purus. São drenados pelos rios Purus e seu afluente Iaco, que

    constituem nas principais vias de transportes por extensas áreas da microrregião. Os

    municípios de Sena Madureira e Manoel Urbano, em sua porção norte, é cortando pela BR-

    364 (sentido leste/oeste), de onde partem diversas estradas vicinais em áreas de

    colonização e fazendas de criação de gado bovino.O predomínio majoritário de áreas florestais faz do trabalhador florestal –

    o seringueiro, um sujeito social de grande expressão no ambiente rural, junto aos colonos,

    ribeirinhos e fazendeiros4. Há também vários grupos indígenas que habitam áreas dos altos

    rios, sendo que a maioria já produz numa economia de subsistência, baseada na agricultura

    e até na criação de poucos animais bovinos (sem, contudo ter deixado a caça e a pesca), os

    quais regionalmente são denominados de “caboclos”.

     Na Mesorregião Geográfica do Juruá temos:

    A Microrregião de Cruzeiro do Sul.

    Corresponde a parte mais ocidental do Acre em que se localizam os

    municípios de Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima, Rodrigues Alves, Porto Walter e Marechal

    Thaumaturgo. Trata-se de uma área fronteiriça com a República do Peru, na costa oeste,

    sendo que suas terras estendem de norte a sul do Estado. São áreas drenadas pelo Rio Juruá

    e seus afluentes, destacando como principal o Rio Noa.As características geomorfológicas irregulares demonstram um relevo

    que estende de planícies às áreas serranas (na Serra do Divisor, que já é formação pré-

    andina). Aí a floresta é dominante, sendo que os municípios com maiores percentuais de

    seus territórios desmatados são: Rodrigues Alves com 7,30% e Cruzeiro do Sul com

    4 - É bom ressaltar que, em todo o Estado, a formação de fazendas ocorre também em áreas mais distantesdas estradas. Porém, com menor freqüência. Quando isso ocorre geralmente, é com baixa produtividade,

    sendo que a formação de pastagem, com ou sem a criação extensiva do gado bovino, serve apenas para justificar a manutenção de latifúndios, sob o argumento de “serem propriedades produtivas”.

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    4,21%. Com essas especificidades, teve-se em áreas dessa microrregião a instalação do

    Parque Nacional da Serra do Divisor (Criado em 16/06/1986 pelo Decreto Federal n° 97

    839) que é a maior Unidade de Conservação de Uso Indireto no Acre; e, a Reserva

    Extrativista do Alto Juruá (RESEX Alto Juruá) que foi a segunda Unidade de Conservação

    de Uso Direto criada no Estado, já na década de 1990. As áreas desmatadas correspondem

    a: antigas localidades ribeirinhas, proximidades das cidades e vilas e margens das estradas

    existentes; aí se localizam áreas de colonização e fazendas de criação de gado bovino.

    Dados essas características em áreas florestais, a medida que se afasta dos núcleos urbanos,

    as figuras sociais que sobressai é a do seringueiro e colono ribeirinho, em antigos seringais

    e áreas da atual RESEX do Alto Juruá, e de indígenas (extratores, coletores e agricultores

    de diversas nações), em áreas de reservas.A cidade de Cruzeiro do Sul, com uma população pouco superior a

    quarenta mil habitantes (a segunda cidade do Estado em população), exerce a condição de

    núcleo central em nível microrregional, o que confere certa liderança sobre os demais

    municípios. Todavia, entendemos que aí, dado a situações atuais, inclusive com a

    implantação de novos municípios (Rodrigues Alves, Porto Walter e Mal. Thaumaturgo em

    1991/92), a distância física e as características dos processos produtivos a que submete

    cada lugar, já se fazem necessário rediscutir as possibilidades de outra divisãomicrorregional, juntamente com a microrregião de Tarauacá.

    A Microrregião de Tarauacá

    Localiza-se em áreas centrais do Estado, em recorte territorial que se

    estende de norte a sul. Corresponde aos municípios de Tarauacá, Jordão e Feijó em áreas

    drenadas pelos rios Tarauacá e Envira respectivamente (afluentes do Juruá). Na parte norte

    dos territórios dos municípios de Feijó e Tarauacá, a BR-364 faz a ligação por terra entreas duas cidades e de forma precária, dessas com Rio Branco e Cruzeiro do Sul. São nesses

    trechos da Rodovia que se localiza as principais áreas de colonização e fazendas de criação

     bovinas (o que também ocorre em áreas ribeirinhas, porém com menor freqüência), mas

    com menos representação que noutras microrregiões. Nas áreas florestais a população

    seringueira é predominante e, sejam em terras firmes (áreas centrais distantes dos rios) ou

    ribeirinhas (às margens), aí praticam atividades diversas que vai desde a tradicional coleta

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    extrativa, até práticas de pequenas lavouras e de criação de gado bovino5. Também a

     população indígena é bastante numerosa em tribos que habitam áreas na divisa com a

    República do Peru. Aí, domínio dos rios como via de acessibilidade é marcante,

     juntamente com a floresta que cobre, em alguns casos, praticante quase a totalidade do

    território municipal, como é a situação de Jordão.

    Jordão é a cidade mais isolada da microrregião, localizada no alto curso

    do Rio Tarauacá. No plano de sua localização e das formas de produção social

    estabelecidas, vemos uma maior proximidade com os municípios de Marechal Taumaturgo

    e Porto Walter, de que com os municípios de Feijó e Tarauacá. Aí, com já mencionamos,

    vemos uma identidade regional que se forja.

    São estes os pontos básicos possíveis de captar dessa configuraçãoregional elaborada e aplicada após 1989.

    Praticamente, o emprego dessa regionalização em nível de

    direcionamento a aplicação de políticas públicas de desenvolvimento pouco fora utilizado.

    Somente no final da década de 1990, essa divisão regional seria base territorial mapeada,

     para a (re) nominação das microrregiões como “regionais de desenvolvimento”, embora a

    concepção de região aí fosse diferente da concepção de “região geográfica”. Esta “nova

    regionalização” se deu no plano da gestão territorial que a equipe que governa o Acre (nomomento em que estamos produzindo esta análise), implantou para a efetivação de suas

    ações políticas em territórios definidos.

    Por final, com estes apontamentos visamos nos situarmos no conjunto da

    regionalização acreana. Um estudo minucioso sobre cada microrregião terá condição de

    identificar certas nuanças que não se pode captar numa leitura mais geral como esta; e,

    tampouco sob as bases conceituais que nortearam as “regionais de desenvolvimento”. Isto

    é o suficiente para afirmarmos que, no Acre, já se faz necessário avançar com propostas deregionalizações, mais coerentes e realistas, tanto do ponto de vista das políticas

    administrativas defendidas, como da sociedade localizada e também das concepções

    5 - É bom ressaltar que esta criação bovina que, as vezes, tem até aumentado relativamente, está longe de serum processo de expansão da pecuária para fins lucrativos como fazem os fazendeiros. Na verdade para estestrabalhadores, esta criação ainda que exceda a uma dezena de cabeça de rezes, tem a função de formar umareserva econômica para momentos de extremas necessidades. Isto, pois o gado vacum, é indiscutivelmente amercadoria de maior e mais fácil liquidez, em mão desses camponeses. Raramente se poderia falar de uma

    diferenciação social por esta causa, ou seja, aí não se está em curso necessariamente a capitalização dessestrabalhadores (o que pode até ocorre, mas é raro), e sim uma estratégia de sobrevivência.

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    científicas e filosóficas que norteiam tais processos (o que por sinal, foram poucas

    consideradas pela equipe responsável na definição das “regionais de desenvolvimento”).

    AS “REGIONAIS DE DESENVOLVIMENTO”

    Com a chegada ao governo do Estado do Acre, em 1998, de forças

     políticas partidárias de uma frente progressista (Frente Popular do Acre: formada por

     partidos como PT, PC do B, PSB, PMN, PL etc.), teve-se a implantação de um projeto de

    governo, pautado em princípios das propostas de “desenvolvimento sustentável”, herdeira

    das bases previstas no Relatório Our Future Commom6. Assim, sob apoio e

    acompanhamento do Ministério do Meio Ambiente do Brasil e organizações

    internacionais7, executou-se o Zoneamento Ecológico-Econômico do Acre – o ZEE/AC.Daí se produziu um documento final capaz de promover as orientações necessárias para a

    aplicação “mais eficientes das políticas governamentais” (ACRE, 2000).

    Este documento explicita uma concepção de “regionalização sob bases

    conceptuais em “regiões naturais”, como estratégia para a delimitação territorial de ações

    com vista ao desenvolvimento do Estado – são as “regionais de desenvolvimento”. Sob o

     ponto de vista do “Governo do Estado”, esta divisão regional não partia dos pressupostos

    em que foram definidas as “microrregiões geográficas”. Suas bases conceituais retrocedema compreensão positivista clássica, excluindo “o social” da construção e definição dos

    espaços regionais. Isto pode ser notado na seguinte afirmação: “a partir da rede

    hidrográfica [...], o Governo do Estado, em 1999, organizou o Estado em cinco Regiões de

    Desenvolvimento: Regional Baixo Acre, Alto Acre, Juruá, Purus, e Tarauacá/Envira”

    (ACRE, 2000, p.41). Continuando, afirmam que, a “hidrografia foi determinante” perante

    aos traçados dos rios que dificultam a ligação entre os municípios; isso formariam

    “diferenças” que devem ser consideradas no “planejamento e execução da açãogovernamental” (ID. IBID.).

    6  - Quero ressaltar isto, pois é preciso desfazer o “mito” de que estas propostas provêm dos movimentossociais dos trabalhadores na busca de um projeto de “desenvolvimento alternativo” para a região. Essesencontram espaço e apoio, ou seja, algumas ressonâncias nessas “novas propostas”, o que não era possívelanteriormente. Isso significou avanços, mas estamos adentrando num projeto de desenvolvimento vindo defora, ou melhor, propostos pelas grandes potências mundiais, que submete inclusive as forças de seguimentos progressistas locais na sua execução. Então se difunde a ideologia de que sabem “o que é bom para os paísese povos empobrecidos”, mas não praticam nada que interfiram em seus interesses econômicos.7  - Referimos a órgãos como o GTZ – Agência Alemã de Cooperação Técnica; o PNUD – Programa das

     Nações Unidas para o Desenvolvimento; a WWF – World Wildlife Fund; KFW – KreditanstaltWiederaufbau/Banco Alemão; o MMA – Ministério do Meio Ambiente do Brasil etc.

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     Na definição proposta pelo ZEE/AC (ACRE, 2000), as “regiões de

    desenvolvimento” são, então, porções territoriais que por suas condições físicas tem

    maiores afinidades do ponto de vista “geográfico”, quer dizer, natural (o que

    conceitualmente é deveras errôneo). Por isto são passíveis de tratamentos próprios com

     políticas definidas no projeto de “desenvolvimento sustentável” para o Acre. Aí se busca

    identificar potenciais naturais, como definidor de territórios para metas sociais e

    empresariais, numa perspectivas de viabilizar também a produção regional ao mercado, em

    diferentes escalas de abrangências.

    Há claramente aí uma confusão na concepção de região. O mesmo

    documento explicita que as regionais de desenvolvimento “correspondem às microrregiões

    estabelecidas pelo IBGE”, mas seguem a distribuição das “bacias hidrográficas dos principais rios acreanos” (ACRE, 2000, p.11). Ora! Como já vimos os pressupostos

    deterministas ambientais, presentes na concepção de região natural, são muitos diferentes

    dos que nortearam a regionalização em regiões geográficas do IBGE, o que denota uma

    confusão teórica na conceituação de região. Por isto é equivocada, pois denominam

    “regiões de desenvolvimento”, mas as definem, na realidade expressa no Documento,

    como “regiões naturais”. Além desta “confusão”, sob ponto de vista teórico e científico

    essa concepção de regionalização expressa no ZEE/AC (ID. IBID) é um retrocesso comrelação às bases já lançadas pelo IBGE. É insuficiente para captar as especificidades

    regionais, pois não rompeu com o traçado territorial das regiões feita pelo IBGE e

    retrocedeu a métodos de estudos regionais já superados.

    Por outro lado, a idéia de “região de desenvolvimento” é avançada

    denotando uma apreensão dos processos sociais produtivos que produz o

    “desenvolvimento” do território. Isto não é captado por um elemento físico, mas pela

    compreensão dos processos sociais e econômicos em face às forças hegemônicas globais,que se reproduzem localizadas espacialmente, inclusive sobre bases físicas e naturais. Aí se

    reproduz em formas e processos combinados de desenvolvimento que é desigual e

    contraditório”, mas que se materializam territorializados em regiões concretas. Isto seria

    uma “região de desenvolvimento”; porém no ZEE/AC não foi assim considerada.

    Ademais, não significa negar a importância das bases físicas de uma

    região, sobretudo, pois a rede hidrográfica e a floresta, em si são partes importantes no

    histórico processo de ocupação e formação político e territorial do Acre (e da Amazônia

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    em geral). Vemos então que essa base natural, uma vez apropriada pelos processos sociais

    reprodutivos capitalistas (pois antes aí já viviam indígenas), no plano da configuração

    espacial, participa como “assoalho” sob o qual as relações sociais de produção constroem e

    redefinem territórios e regiões. Tal é a importância que, como já tratamos, a antiga

    “Microrregião Homogênea do Alto Purus” foi redefinida como “Mesorregião Geográfica

    Vale do Acre”. Porém, o conteúdo do Vale do Acre é preenchido pelo papel geoestratégico

    que teve esse Rio no processo produtivo da região acreana.

    Outra situação que ainda salientamos, é a importância de planejar

    considerando as bases físicas, como o uso das fontes hídricas em que a água é também uma

    questão estratégica em qualquer processo de desenvolvimento regional implementado.

    Todavia, o queremos deixar claro é que isto por si só não define os territórios e as regiões, pois estes que são constructos sociais.

    Ademais, no plano de regionalização, a adoção da definição territorial

     pelo ZEE/AC, em nível estadual, confirmava a validade dos elementos que anos antes, o

    IBGE definira as microrregiões geográficas acreanas. Todavia, o que se fez com as

    “regionais de desenvolvimento” foi tomar o conteúdo mais avançado que definia as regiões

    geográficas e deu-lhe uma “roupagem nova”. Porém esta “roupagem” era de uma “moda já

    ultrapassada”, sob um discurso “moderno” difundido nas políticas neoliberais do“desenvolvimento sustentável”. Faltou a ousadia de avançar nos propósitos políticos que,

     partidariamente, seus mentores representam no Acre.

     No âmbito científico a que nos referimos, a visão determinista, há

    décadas já é algo superada. Os equívocos teóricos, lamentavelmente, estão nítidos.

    Contudo, dado a riqueza informativa do material, é lastimável saber que na equipe de

    elaboração do ZEE/AC, teve-se a presença de geógrafos, mas que não atentaram para estas

    questões (ou não quiseram atentar). Com estas ressalvas, podemos dizer que aregionalização do ZEE/AC tomou a divisão do Acre em “microrregiões geográficas”,

    atribuindo-lhes a denominação de “regiões de desenvolvimento”, mas com um conteúdo

    explicito de “regiões naturais”.

    Todavia, para amenizar as críticas, estamos certo de que a referida

    regionalização deve ser vista como um aparato de execução política governamental e não

    como a apreensão de um processo geográfico que se territorializa e, cientificamente, é

    captado e elaborado.

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    Portanto, obedecendo aos mesmos limites territoriais, assim se apresenta

    a referida regionalização:

    “Microrregião Geográfica de Brasiléia” forma a “Regional Alto

    Acre”;

    “Microrregião Geográfica de Rio Branco” forma a “Regional Baixo

    Acre”;

    “Microrregião Geográfica de Sena Madureira” forma a “Regional do

    Purus”;

    “Microrregião Geográfica de Tarauacá” forma a “Regional

    Tarauacá/Envira”;

    “Microrregião Geográfica de Cruzeiro do Sul” forma a “Regional doJuruá”.

    A POSSIBILIDADE DE NOVAS (RE) CONFIGURAÇÕES REGIONAIS 

    Apesar dos equívocos teóricos na conceituação de “região”, a que

    retratamos, o conteúdo das “microrregiões geográficas”, territorialmente falando, esteve

     presente no conteúdo das “regionais de desenvolvimento” do Governo do Estado.

    Tomando por base as configurações territoriais das regiões geográficas e as transformaçõesocorridas nos processos reprodutivos que deram formas e vida ao território neste vinte

    anos, como já vimos apontando, o conteúdo presente na configuração geográfica atual, já

    não é suficiente para refletir a realidade microrregional acreana. Pensar numa revisão na

    divisão microrregional, com base na dinâmica da geograficidade presente em processos

    reprodutivos recentes, é uma forma de revitalizar as regiões como entidade territorial apta a

    receber tratamentos específicos, conforme suas condições e processos próprios.

    Com este propósito podemos apontar para a possibilidade de uma nova(re) configuração microrregional. Justifica-se considerando a maior eficácia de bases

    territoriais para ações de políticas de desenvolvimento e maior coerência no processo de

    conceituação de região. Porém, deve ser gradativamente visto a partir de elementos que

    facilite enxergarmos as matizes processuais presentes que dão novas configurações ao

    território, no atual momento. Numa nova regionalização, firmaríamos as “regionais de

    desenvolvimento”, não como uma medida política do gestor sobre o território, mas como

    um aparato de investigação e conceituação geográfica, aplicado a redefinir a “região”

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    territorialmente tanto para de gestão do território, como para outros fins8  (por exemplo,

     para fins didáticos).

    Partindo destes pressupostos e considerando as informações que

    dispomos, duas configurações de “regionais”, estamos certo que já se definem. Estas são:

    Regional Sul-Ocidental

    Referimos ao extremo oeste do Estado entre as microrregiões geográficas

    de Tarauacá e Cruzeiro do Sul. Aí, já em áreas fronteiriças, sobressaem os novos

    municípios de Jordão, Mal. Thaumaturgo e Porto Walter (Mapa 2). Perante aos processos

     produtivos atuais, com forte participação de populações seringueiros e indígenas), de

    grandes partes seus territórios serem tomados por unidades de conservação (Parque Nacional da Serra do Divisor e a RESEX Alto Juruá e Alto Tarauacá), de apresentar

     poucas áreas desmatadas, de não terem vias de terrestres de acessos etc, esses municípios

    formam uma região que necessita de tratamentos políticos próprios.

    Mapa 2A “Regional Sul-Ocidental” na Mesorregião do Vale do Juruá

    Mâncio Lima

    Rodrigues Alves

    Cruzeiro do Sul

    Porto Walter 

    MarechalThaumaturgo

    Jordão

    Tarauacá

    Feijó

    Repúblicado Peru

    Nov a Linha  C  u  n  h  a   G  o  m  

    e s  

    St. Rosa

    ManoelUrbano

    Estado do Amazonas

    N

    35 0 35 70 105Km

    Escala

     Fonte: IBGE, 1996; ACRE, 2000. Reorganizado por Silvio Simione da Silva, 2003. 

    8  - Nisto estaríamos agora (re) invertendo o processo, de regionalização anterior. As novas regionais de

    desenvolvimento poderiam ser bases para futuros processos de regionalizações, inclusive, em regiõesgeográficas de órgãos como o IBGE.

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    Em tese, estamos certo de que pela veracidade da situação, o território

    referido, caracteriza a possibilidade real de uma “nova microrregião”, ou melhor, uma

    nova “regional de desenvolvimento”. Para isto mais que o fato da “vizinhança”, deve ser

    considerado os processos que tangem suas produções sociais, econômicas, ambientais e

    socioculturais. Tais situações se combinam numa “identidade regional” que é heterogênea

    em si, mas que no plano do desenvolvimento, vai se deferindo gradativamente dos

    municípios do norte e leste. Cabe salientar que esta identificação preliminar que aqui

    estamos fazendo, deve ser base para estudos mais aprofundados com vista a criação dessa

    “regional de desenvolvimento”, sob outros pressupostos conceituais de região. Todavia,

    isso que apresentamos é uma problematização e não a regionalização em si.

    Regional Norte-Oriental (ou Ponta do Abunã)

    Vimos que dentre as cinco microrregiões geográficas acreanas, a

    Microrregião de Rio Branco é a que comporta maiores diferenças internas. Isto demonstra

    que para a eficácia de uma regionalização em regionais de desenvolvimento, aí há uma

    necessidade urgente de rever as especificidades microrregionais. Os municípios mais

    orientais, nas duas últimas décadas do século XX, tiveram sua reprodução socioespacial

    como prolongamento dos processos produtivos no avanço da fronteira agropecuária ao

    longo da BR-364. Sobressaíram se assim Plácido de Castro, Acrelândia e Senador

    Guiomard, além de várias localidades em que já se formam vilarejos, como a Vila

    Campinas as margens da referida Rodovia, com mais de cinco mil habitantes em “área

    urbana”.

    Cabe ressaltar que, devido ao traçado territorial, a situação do município

    de Senador Guiomard é a mais atípica. Sua área rural norte está inserida nos processos

     produtivos idênticos aos vizinhos municípios citados, inclusive, muito mais ligada a

    incipiente “vida urbana e comercial” da Vila Campinas. Porém, sua área urbana e território

    circunvizinho ao sul do município, muito próximo de Rio Branco, gradativamente se insere

    no contexto produtivo do espaço da capital do estado. Um exemplo desta situação pode ser

    notado no trecho da estrada que liga as duas cidades, onde praticamente está tomado por

    chácaras de moradores urbanos, num longo e contínuo espaço semi-urbanizado já

    interligado (que aqui poderíamos falar de um espaço periurbano de Rio Branco).

    Isso, ao nosso ver, já demonstra que plano interno há uma necessidade de

    repensar a configuração político-administrativa acreana em diferentes níveis e escalas

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    territoriais. Entretanto, no momento, o que propomos é apontar situações e processos que

    nos permitam visualizar maiores identidades microrregionais, com novas possibilidades a

    serem estabelecidas, no tocante às “regionais de desenvolvimento”. Neste sentido, agora

    nos deteremos na faixa territorial que corresponde ao prolongamento da Ponta do Abunã

    (antiga área de litígio entre Acre e Rondônia, hoje território rondoniense) no Acre, ou seja,

    aos três referidos municípios.

    PROPÓSITOS PARA A IDENTIFICAÇÃO DA “R EGIONAL NORTE-ORIENTAL”

    A identificação de uma região é produto da materialização dos processos

    sociais que lhe atribuem características próprias, a ser apreendida através de estudos. Para

    o poder público, identificada a região, visa-se ter nesta entidade territorial, dimensõesespaciais mais propícias a tratamentos políticos próprios. Com esses propósitos vemos ser

     possível a identificação de uma nova regional no âmbito territorial da Microrregião

    Geográfica de Rio Branco. Referimo-nos aos municípios de Plácido de Castro, Acrelândia

    e Senador Guiomard, aos quais vamos identificar como “Regional Norte-Oriental” (mapa

    3), tendo em vista que os elementos definidores foram processos geográficos e não apenas

    um fenômeno natural.

    Por não se tratar de uma configuração do acaso, agora podemosapresentar situações e processos que nos ajudam a apreender a pertinência da questão.

    Todavia, ressaltamos que por si só, qualquer um dos pontos apresentados não explica a

    situação. Esta compreensão somente advém ao considerarmos no processo das imbricações

    que se têm no conjunto da produção do lugar em realidades heterogêneas que se combinam

    ou se conflitam em várias questões, como expomos a seguir:

    Do ponto de vista dos limites físicosSob o ponto de vista dos limites físicos, quase a totalidade territorial

    destes três municípios são drenados por rios da Bacia Hidrográfica do Madeira, no caso

     pela sub-bacia do Abunã. Neste plano, é essa a situação que mais individualiza essa área

    do território acreano. No que se refere as suas características geológicas e geomorfológicas

    não diferem de grande maioria das terras acreanas, apresentando-se em terrenos de

    Formação Terciária (Formação Solimões), com relevo em colinas, com solos poucos

    férteis, em que predominam os tipos latossolo amarelo e argissolo vermelho.

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    Originariamente eram terrenos cobertos pelas florestas abertas com palmeiras e bambuzais,

     por onde estendia ricos castanhais. Todavia, com a maciça ocupação e desmate ocorrido,

    grandes partes dessas vegetações já foram removidas. Neste momento, vastas áreas já estão

    desmatadas e a interferência dos novos processos da reprodução antrópica continua

    modificando as características naturais (ACRE, 1991; 2000).

    Mapa 3A “Regional Norte-Oriental” na Microrregião de Rio Branco

    Repúblicada Bolívia

    Estado deRondônia

    Estado do Amazonas

    Capixaba

    Xapuri

    Rio Branco

    Bujari

    PortoAcre

    Plácido deCastro

    Acrelândia

      S  e  n

      a  d  o  r   G  u   i  o  m

      a  r  d

    Sena

    Madureira

    N

    35 0 35 70 105Km

    Escala

     Fonte: IBGE, 1996; ACRE, 2000. Reorganizado por Silvio Simione da Silva, 2003. 

     Na bucólica paisagem às margens das rodovias, vemos os imensos

    castanhais, em que árvores colossais, moribundas e desnudas nos campos abertos das

     pastagens recém-formadas, agonizantes esperam a morte. A degeneração começa com a

    esterilidade gradativa, em que o desmate quebra o ciclo reprodutivo do castanhal. O fogo

    da queima anual das pastagens abre “chagas” no caule que sustenta a frondosa árvore. A

    destruição integral ocorre com a insensibilidade de quem desmatou e das leis ambientais,

    destinando-a ao seu retorno natural como húmus ao solo que lhe sustentara, quando já não

    tivera perecido nas queimadas anuais, tornando simplesmente cinza sobre o solo desnudo e

     pisoteado por bois. Isto retrata a realidade dramática local dos recursos florestais.

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    Historicamente essas características físicas foram de grande importância.

    A floresta com seus recursos naturais foi base para a ocupação produtiva da área com os

    seringais na extração da borracha e da castanha. O Rio Abunã era via de chegada e saída de

     produtos e mercadorias para grande parte do Acre. Esta era via de circulação de

    mercadoria que vinham pelo Rio Madeira, seguindo depois pelo Abunã, até a vila de

    Plácido de Castro, de onde seguia por terra para a capital do então Território Federal do

    Acre. Com a chegada da Rodovia BR-364 a Rio Branco, no final da década de 1960, essa

    situação muda e o povoamento se desloca para o eixo rodoviário. A hidrovia do Abunã fica

    em desuso para tais finalidades, pois a circulação já se estabelecia por rede terrestre ligada

    ao Centro-Sul, via Porto Velho.

    Do ponto de vista histórico e social

    A ocupação desta parte do Estado se deu com a formação de seringais no

    final do século XIX. As frentes produtivas e de povoamentos, a maioria provinda de

    Belém, Manaus e do Nordeste, chegavam via Rio Madeira-Abunã. Contudo, houve

    similaridade aos processos que ocorreram noutras partes da Amazônia-acreana (para quais

    as vias circulação se davam pelos rios Purus e Juruá): a mobilidade de força-de-trabalho

    era composta por migrantes nordestinos, deslocados em face da implantação das empresasextrativas – os seringais (financiados pelo capital financeiro industrial estrangeiro).

    Enquanto via de circulação, o Rio Madeira, pelo volume de água, apesar

    de apresentar cachoeiras em território rondoniense, é mais navegável de que seu vizinho

    Purus. Isto fez da rede Madeira-Abunã, via de circulação de mercadorias, também para

    abastecer cidades (como Rio Branco) que estava nas margens do Rio Acre (Bacia do rio

    Purus), como já tratamos anteriormente.

    Já em princípios da década de 1970, com o avanço da fronteiraagropecuária pela Amazônia atingindo as terras acreanas, novas frentes de ocupação se

    instalam na região. Fazendas de criação bovinas vão se fixando e vários projetos de

    colonização são implantados, tanto por órgãos federais como estaduais. Do ponto de vista

    social, a maioria dos migrantes agora provinham de correntes migratórias originárias do

    Centro-Sul do Brasil. Pode-se dizer que era um prolongamento das correntes que se

    arrastaram ao longo da BR-364, ocupando, criando cidades e vilas por Rondônia e nos

    anos 1970/80 chegava ao Acre.

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    Como os tipos sociais de migrantes centro-sulistas eram trabalhadores

    camponeses e fazendeiros em atividades agrícolas e pastoris, apesar das características

    físicas do solo, estes territórios foram reocupados com finalidades agropecuárias. A partir

    de então, esses sujeitos sociais e econômicos têm sido responsáveis pela atividade

    econômica aí implantada. Travam-se uma relação de domínio sobre a terra “desflorestada”

    como fonte de produção, diferente do que ocorre em áreas florestais onde esta relação com

    a terra é intermediada pelo significado da floresta em pé. Daí serem essas áreas, sob ponto

    de vista do impacto ambiental local (sobre a floresta e seus moradores), as mais

    violentamente atingidas no Estado.

    A expressividade dessas frentes se dá com a rápida transformação da

     paisagem rural, com a expansão da atividade agrícola e pastoril e com o crescimento dasvilas e cidades existentes (Plácido de Castro e Senador Guiomard). Também ao se fixarem

    esses migrantes “plantam sementes de novas cidades” e, assim surgiu o município

    Acrelândia (em áreas de antigos projetos de colonização, as margens de rodovia estadual) e

     povoados como Vila Campinas (também em áreas de projeto de colonização as margens da

    BR-364). Neste contexto que das três cidades, Plácido de Castro e Senador Guiomard teve

    sua emancipação política de no período 1976/77 e Acrelândia no período de 1991/92.

    Do ponto de vista econômico

    Como já tratamos, na ocupação recente, a produção econômica dessa

    região está essencialmente ligada às atividades agrícolas, pecuárias e madeireiras. A

    atividade madeireira é explorada por empresas, às vezes sediada noutros municípios, em

    que predomina a extração predatórias de espécies de maiores valores comerciais. O

    trabalho com manejo madeireiro é incipiente, mas que já se faz presente com projetos

    comunitários. Há também atividades de extração a borracha, que fora revitalizado sob ainfluência dos efeitos do preço subsidiado da borracha.

    O avanço da pecuária bovina de corte é notável, fazendo dessa atividade

    um empreendimento atrativo para empresários rurais, sobretudo pela disponibilidade de

    terra a ser tomada como propriedade privada, sobretudo, em áreas de antigos projetos de

    colonização. Também em meio a produtores camponeses, essa atividade avança tanto com

    a criação gado de corte como leiteiro; porém, muito mais com o caráter estratégico de

    sobrevivência pelo trabalhador, numa economia de excedente, de que como princípio de

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    capitalização. Todavia, isso já é o suficiente para que esses também absorvam tecnologias

    e formas de manejos mais adequados do rebanho. Tudo isso faz desta “regional”, uma das

    áreas mais expressivas na produção leiteira e de carne bovina no Estado.

    Já a agricultura está sendo praticada, em especial por trabalhadores

    camponeses em propriedades de médios e pequenos portes. Entretanto, essa atividade tem

    se deparado com as inadequações às condições locais (como já referimos, às limitações dos

    solos, às condições climáticas, aos regimes pluviais etc.), a falta do desenvolvimento de

    tecnologias adequadas às condições de produção na Amazônia, a falta de incentivos

    creditícios e a tecnificação do produtor, as condições poucas atrativas do mercado local

    etc. Apesar destas dificuldades, essa é uma das “regiões do Estado” em que mais se

     produzem gêneros alimentícios de primeira necessidade como milho, arroz, feijão e o café.Certamente, adequando-se o tipo de agricultura ou agrossilvicultura e

    considerando os pontos críticos levantados, esta região poderá se firmar como uma das

     principais áreas produtoras do Estado, com atividades produtivas não-florestais.

    Temos, entretanto que admitir que essas atividades têm limitações ao seu

    avanço. Os índices de desmatamentos já não permitem a expansão extensiva das atividades

    agropecuárias e agrícolas. Para a agricultura, tem-se feito várias experiências com

    atividades em sistemas agroflorestais e com mecanização dos solos agrícolas. Para a pecuária, o que resta é a intensificação das práticas criatórias, senão quisermos pagar o

     preço por uma degradação ainda maior das áreas florestais. Além disso, a própria

    intensificação da pecuária e até da agricultura tem seu impacto, pois se trata de solos rasos,

    com fertilidades baixas, expostos a regimes pluviais bastantes intensos e passíveis a

     processos de compactações. Isto poderá conduzi-los gradativamente a esterilidade em com

    o tempo de uso. Contudo, diante dessas tentativas, talvez aí se comece a desenhar novas

     possibilidades para estas atividades na Amazônia, inclusive, corrigindo os danos com osimpactos causados pelos acelerados desmatamentos que se teve inicialmente.

    Portanto, sob o ponto de vista socioeconômico esta identidade regional se

    forma a medida que as demandas sociais de quem já vive, trabalha e produz na região dos

    três municípios, requer tratamentos específicos. Isto como já apresentamos, pode ser

    notado, na maior intensidade de transformação na paisagem natural, na opção agrícola e

     pecuarista e nos impactos socioambientais já consumados. Por tudo isto, aí, a

    implementação de políticas de desenvolvimentos terá que se pautar em preocupações

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    socioambientais e nas próprias expectativas dos produtores locais (trabalhadores

    camponeses e fazendeiros), já que as economias das vilas e cidades são tributárias

    majoritariamente dessas produções rurais.

     No caso de Senador Guiomard com sua especificidade urbana antes

    ressaltada, cabe-nos ainda uma consideração. Sob o ponto de vista produtivo e econômico

    rural, justifica-se sua maior e proximidades a realidade dos outros municípios que estamos

    referindo, numa nova regionalização em escala micro, de que com a capital, Rio Branco.

    Do ponto de vista ambiental

     No âmbito do ambiente rural, os impactos nas florestas, nos cursos

    d`água, no regime pluvial e no modo de vida do trabalhador têm sido deveras sentido. Sobo impacto do desmatamento, florestas foram destruídas com seus recursos madeiros

     parcialmente aproveitados. Muitos seringais de onde antes a população seringueira

     produzia também sua sobrevivência, com trabalhos extrativos, deram lugar a áreas

    agricultáveis e de formação de pastagens.

     No período de estiagem, o regime dos rios foram alterados e cursos

    d`água menores, sazonalmente, podem secar. Conseqüentemente há uma alteração no nível

    hidrostático com o aprofundamento do lençol freático, a escassez de água potável também pode ser sentida pelos moradores. A água para criação de gado é prevenida a pelos açudes

    e “reservatórios” construídos para a captação nos períodos chuvosos. Esta variabilidade é

    sazonal na Amazônia, sendo que certos graus de oscilações são normais entre o “período

    chuvoso e de estiagem”. Porém, com o desmatamento deixando o solo desprovido de

    cobertura, sujeito a maior compactação natural ou pelo pisoteio do gado, ocorre uma

    ampliação dos efeitos de degradação ambiental atuando sob a composição pedológica e

    geomorfológica do lugar.O ambiente do trabalhador tradicional foi deveras alterado, pois com a

    mudança na base produtiva, a vida na floresta foi inviabilizada. Esse impacto

    socioambiental teve como origem o domínio fundiário estabelecido, com a implantação de

    colonização e áreas de fazendas, em que se reforçavam os espaços de reprodução da

     propriedade fundiária privada. Isto significava uma mudança radical na territorialização do

    domínio e uso da terra dos antigos seringais, nos quais após a falência da empresa

    capitalista, o trabalhador extrativista fixou meios de vida próprios sob bases de sua unidade

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    de produção na floresta – a colocação. A população seringueira reduzia-se na zona rural,

    migrando para as cidades sede dos municípios e para Rio Branco. Por conseqüência, do

     ponto de vista socioambiental, são nestes municípios acreanos que a potencialidade para

    novas atividades extrativistas são mais delicadas, dado o percentual desmatamento

    alcançado.

    Então, estamos diante de uma “regional de desenvolvimento” que carece

    de um planejamento específico no tratamento de questões a amenizar os problemas

    socioambientais. Contudo, neste processo, não se pode negar a tendência produtiva aos

    cultivos e criações bovinas, já consumadas em três décadas de avanços das forças recentes

    da frente pioneira agropecuária. Porém não se pode perder de vista as metas de incentivar a

    retomada de atividades florestais e agrossilvícolas, dado que para a primeira ainda há quase50% do território em floresta e para a segunda, pode-se ter aí mecanismos fortes e

    viabilização socioeconômica e ambiental ao trabalhador familiar, em áreas já semi-

    degradadas.

    Ponto de vista da gestão territorial

    Esta identificação microrregional fixa bases para racionalizar ações que

    visem atingir tanto suas dimensões produtivas e como também sociais em escala territorialmenor. Assim, ao tratar das questões ambientais, se por um lado, quase cinqüenta por cento

    dos territórios já estão desmatados, por outro, ainda há um percentual quase idêntico a ser

    considerado como áreas de florestas. Portanto, ao gerir esse território a questão da

    “vocação para a agropecuária”, não pode ser uma máxima seguida a risca. Neste sentido,

    dois padrões produtivos, ainda que bastantes divergentes, têm que ser encarados como

    campos de possibilidades objetivas para estes municípios; são estes: as atividades

    agropecuárias e a reativação mais intensa de atividades agroflorestais.Essa “Regional Norte-Oriental” na bacia do Abunã, talvez seja o

    território mais propício a gerar alternativas na construção de caminhos produtivos que

    concilie desenvolvimento humano, ambiental e econômico num projeto de firmação da

    atividade agropecuária perante a preservação ambiental e a produção agroflorestal. Este

    “campo de possibilidades” deve ser considerado num projeto que vise consumar o

    desenvolvimento do lugar, na amplitude da auto-sustentabilidade do local, respeitando a

    autonomia de quem aí vive, produz e trabalha.

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    Ao nosso ver, isto vai muito além do discurso do chamado

    “desenvolvimento sustentável”. Os tratamentos de questões socioambientais não terão que

    se adequar exclusivos aos limites naturais ou sociais, mas ao amplo conjunto das relações

    que estabelecem na produção dos territórios. É este processo que permite-nos ver a

    identidade regional que aí já se forja, diante das forças motoras que produzem tais

    dinâmicas e geram especificidades passíveis de tratamentos próprios.

    Portanto, esta “identidade regional” já tem base territorial socialmente

     produzida, apta a ações mais condizentes dos órgãos gestores na definição de políticas

     públicas locais. É este o intuito de defendermos a necessidade de rever as características

    territoriais, num novo processo de regionalização, em nível micro do espaço acreano. Esta

    “Microrregião” que aqui apresentamos como “Regional Norte-Oriental”, é a área queseguramente, temos mais elementos para afirmar que “sua identidade” distinta no contexto

    mais amplo da Microrregião Geográfica de Rio Branco (“Regional do Baixo-Acre”).

    PARA FINALIZAR  

    Pensar na definição de região como entidade concreta de escalas

    espaciais diferenciadas, é ponto de partida para definirmos processos de desenvolvimentos

    também em escalas diferentes. Normalmente, na escala macro tem se priorizado a produção e circulação sobre a promoção do social. Somente na escala micro tem notado

     pequenas preocupações com o social.

    Aqui propomos outro caminho. Ao compreendermos as formas de

     produção e atentarmos para questões localizadas que promovem o desenvolvimento do

    lugar, a região é vista como lócus de forças econômicas, mas também de forças sociais. Aí

    são produzidas identidades sob processos diversos, nos quais se combina a

    heterogeneidade como expressão da “unidade na diversidade” contida territorialmente. Nisto, o sujeito-habitante, com o intrínseco atributo de ser sujeito-

     produtor, como detentor da força-de-trabalho (processo social que produz espaços e forma

    os territórios), submetendo ou resistindo às forças do modo de produção vigente,

    territorializa-se e produz o lugar. Deste lugar se projetam bases que definem as

    especificidades regionais, pois a condição deste sujeito lhe insere no contexto da produção

    global, a partir de seu local de morada. Assim, a região sobressai com identificação de

    territórios em diferentes escalas, nos quais as forças produtoras geram diversidades, mas

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    constroem processualmente unidades regionais. Por isto, a região é produto de um

    desenvolvimento desigual e combinado (forças contraditórias) que territorialmente se

    materializam em realidades concretas.

    Com base nestas considerações, na realidade acreana, vemos que o

    conceito de “região de desenvolvimento” poderá significar avanços desde que rompemos

    com os equívocos teóricos que a definiram a partir de pressupostos de “regiões naturais”.

    Então, significa (re) conceituarmos a região; e, ao fazer isto, muda-se o conteúdo definido.

    Ao mudá-lo, a necessidade de outra regionalização fica evidente.

     Neste novo processo, as “regionais de desenvolvimento” passarão a

    serem definidas como constructos produzidos por forças sociais e econômicas, atuando

    sobre os lugares. Isto se dá a partir ações de agentes que promovem o desenvolvimentodesigual e combinado no âmbito de inserção microrregional nos processos globais. É neste

    contexto que vemos sobressair especificidades de espaços regionais que requer tratamentos

    de políticas públicas condizentes com as realidades que aí se individualizam e se firmam.

     Não se trata de defender a necessidade de uma política do “lugar” para o

    estado. O que estamos defendendo é que conhecendo e delimitando melhor o espaço

    administrado regionalmente, o órgão gestor poderá definir com maior coerência suas

    ações, conforme a realidade territorial na qual será aplicada.

    R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

    ACRE, Secretaria de Meio Ambiente do. Atlas Geográfico Ambiental do Acre.  Rio

    Branco: IMAC, 1991. 47p.

    ACRE, Governo do Estado. Programa Estadual de Zoneamento Ecológico-Econômico do

    estado do Acre: Aspectos Socioeconômicos e ocupação territorial  – documento final.

    Rio Branco: SECTMA, 2.000. v.II.ACRE, Governo do Estado.  Guia para usos da terra acreana com sabedoria:

    Zoneamento Ecológico Econômico do Acre. Rio Branco: SECTMA; Brasília: WWF-

    Brasil, 2.001. 68p.

    ANDRADE, Manoel Correia de. Geografia, Região e Desenvolvimento  (introdução ao

    “aménagement du territoire”). 2.ed. São Paulo: Brasiliense, 1971. 95p.

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    CORRÊA, Roberto Lobato. Região: Globalização, pluralidade e persistência

    conceitual. S.n.t. (mineo – Disc. Espaço, região e regionalização, Pós-Graduação em

    Geografia, FCT/UNESP, 1997).

     ___________. Região e organização espacial. 6.ed. São Paulo: Ática, 1998. 93p.

    DUARTE, Aluísio Capdeville. Regionalização – considerações metodológicas. In:

    Boletim de Geografia Teorética. Rio Claro: Depto. de Geografia/UNESP, 1980. v.10.

     p.05-32.

    FAISSOL, Esperidião. Urbanização e regionalizações: relações com o desenvolvimento

    econômico. Rio de Janeiro: IBGE, 1975. 247p.

    FERREIRA, Fco. W. Planejamento sim e não. 14. ed. São Paulo: Paz e terra, 1979.

    157p.IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Contagem da

    População de 1996 - Acre. Rio de Janeiro: FBGE, 1997. 3p.

    RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do Poder. São Paulo: Ática, 1993. 269p.

    SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado. São Paulo: HUCITEC, 1988.

    124p.

     ___________. A natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo:

    EDUSP, 2002. 381p. (Coleção Milton Santos, 1).SMITH, Neil. Desenvolvimento Desigual: natureza, capital e a produção de espaço. Rio

    de Janeiro: Bertrand Brasil, 1988. 250p.

    FROM “GEOGRAPHIC MICRO-REGIONS” TO “REGIONAL CENTERS FOR

    DEVELOPMENT”: regionalization of the lands of Acre and the possibility of new

    rearrangements at the beginning of the 21st century

    ABSTRACT: Here we seek to understand the grounds of the latest regionalizations in thelands of Acre. We have seen the purposes of these processes in the context of geographyand with this, the advances and drawbacks in the territorial definition of the regions.Starting from theoretical critique we argue about “the need for reviewing theregionalizations in place in the state”. In this aspect, we make some points to understandand to surpass the definitions of “natural” and “homogeneous” regions as the division in“regional centers for development” presented in the Economic-Ecological Zoning Programof Acre partially indicates.K EY WORDS: Acre. Regionalization. Regional Scales. Development. Planning.