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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

0

CADERNO TEMÁTICO

A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NA ESCOLA

PPPPPPPPDDDDDDDDEEEEEEEE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO

EDUCACIONAL

CORNÉLIO PROCÓPIO/JACAREZINHO – PARANÁ 2010

1

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ - UENP

A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NA ESCOLA

MARIA APARECIDA LEANDRO MARIA APARECIDA MENEZES BUENO EIZUKA MARIA ISABEL FIORIM

CORNÉLIO PROCÓPIO/JACAREZINHO – PARANÁ 2010

2

MARIA APARECIDA LEANDRO MARIA APARECIDA MENEZES BUENO EIZUKA

MARIA ISABEL FIORIM

A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NA ESCOLA

Produção Didático Pedagógica - Caderno Temático, apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, da Secretaria de Estado da Educação, sob a orientação da Professora Mestre Ana Rita Levandovski, da Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP.

CORNÉLIO PROCÓPIO/JACAREZINHO – PARANÁ 2010

3

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ............................................................................................................

UNIDADE I – A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NO CONTEXTO ESCOLAR: uma

Experiência no Ensino Fundamental

Maria Aparecida Leandro. ................................................................................................ .

RESUMO......................................................................................................................... ..

REFERÊNCIAS..................................................................................................................

UNIDADE II – O PAPEL DOS PAIS NA EDUCAÇÃO ESCOLAR: Uma Experiência

com quintas séries

Maria Isabel Fiorim.........................................................................................................

RESUMO....................................................................................................... ....................

REFERÊNCIAS................................................................................................................

UNIDADE III – FAMÍLIA E ESCOLA: Uma Parceria em prol da qualidade

da aprendizagem

Maria Aparecida Menezes Bueno Eizuka ......................................................................... .

RESUMO...........................................................................................................................

FUNÇÃO DA ESCOLA PÚBLICA ...................................................................................

CONTRIBUIÇÕES DA PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NA APRENDIZAGEM

ESCOLAR ....................................................................................................................... ..

REFERÊNCIAS................................................................................................................

04

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47

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APRESENTAÇÃO

A melhoria da qualidade da educação ofertada pela escola pública é fonte de

preocupações de educadores e pais que acreditam ser este o espaço mais

apropriado para a transmissão dos conhecimentos sistematizados. Pesquisas

demonstram que um trabalho de parceria entre escola e família é de fundamental

importância para que problemas como a evasão, a repetência e a baixa qualidade

do ensino sejam combatidos e que a educação ofertada às crianças, adolescentes e

jovens seja pautada por critérios de qualidade.

Hoje, sabe-se que a escola e a família são as duas principais instituições

responsáveis pela educação, e há um crescente movimento no sentido de se obter a

participação da família no processo educacional de seus filhos, contribuindo com a

escola no relevante papel de encontrar alternativas para os problemas presentes no

dia a dia escolar, complementando-se para que os objetivos maiores da educação

sejam atingidos.

Visando estabelecer uma relação de parceria entre escola e família, onde os

problemas presentes no cotidiano escolar possam ser amplamente discutidos,

direcionamos nossa pesquisa com o propósito de aprofundar estudos e organizar

este caderno temático, intitulado: A Participação da Família na Escola que prima

pela análise de questões referentes ao cotidiano escolar e à melhoria das relações

entre essas duas instâncias.

Na primeira Unidade Temática abordaremos A Participação da Família no

Contexto Escolar: uma experiência no Ensino Fundamental. Um breve relato das

origens da família e da escola e suas transformações através dos tempos,

terminando com um estudo dos encaminhamentos legais que, no presente, colocam

essas duas instituições como co-responsáveis pela educação da criança e do

adolescente, buscando subsídios para se estabelecer uma relação de parceria entre

elas, verificando como a presença e participação dos pais influencia na vida escolar

de seus filhos.

A segunda Unidade Temática: O papel dos pais na educação escolar:

uma experiência com quintas séries apóia-se na necessidade de uma interação e

formação de uma parceria entre família e escola como ponto de partida em busca de

5

uma aprendizagem com mais qualidade, principalmente nas quintas séries. Esta

temática tem em vista esclarecer as funções que compete a cada uma dessas

instituições, levando em consideração as reais condições da escola e das famílias.

Esta pesquisa tem como objetivo geral: compreender a importância da relação

família e escola, visando identificar os benefícios que a participação da família traz

para o desempenho escolar dos filhos. Tais objetivos foram pensados e elaborados

com o propósito de melhorar o desempenho escolar e reduzir os índices de reprova

de nossos alunos.

Na terceira Unidade Temática abordamos: Escola e Família uma parceria

em prol da qualidade da aprendizagem, propondo a participação dos pais e/ ou

responsáveis referentes á vida escolar dos filhos, contribuindo para uma melhoria na

aprendizagem. O objetivo é resgatar o papel dos pais na vida escolar dos filhos,

enfatizando que a primeira aprendizagem informal é adquirida na família e a escola

contribui para a formação social do aluno. Busca-se a contribuição da família com os

profissionais da escola para que cada um cumpra sua função social em prol do

sucesso da aprendizagem escolar.

Acreditamos que os temas presentes nesse Caderno Temático são

fundamentais e ressaltamos a necessidade de se estabelecer uma parceria entre

escola e família, como requisito necessário para que as relações no contexto escolar

ocorram em um clima de cordialidade, norteadas pelo respeito e pela cooperação,

tornando o ambiente escolar favorável ao desenvolvimento do processo pedagógico,

contribuindo, principalmente, para a aprendizagem qualitativa e para sucesso

escolar.

6

UNIDADE I

A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NO CONTEXTO ESCOLAR: UMA

EXPERIÊNCIA NO ENSINO FUNDAMENTAL

AUTORA: LEANDRO, Maria Aparecida

[email protected]

ORIENTADORA: LEVANDOVSKY, Ana Rita [email protected]

Pais, escola, professores precisam sentir a educação como uma co-responsabilidade, ou seja, obrigação de todos.

PARO

7

RESUMO

A tarefa de educar é árdua e nos últimos tempos têm se mostrado ainda

mais difícil para a família e, consequentemente, para a escola estabelecer parceria

com tal educação, por isso a necessidade de integrar essas duas esferas de

convívio da criança e do adolescente. Assim, faz-se necessário observar a influência

da participação dos pais na vida escolar dos filhos, destacando o importante trabalho

de cooperação, que pode e deve acontecer entre escola e família, objetivando o

sucesso do aluno, seu pleno desenvolvimento, seu preparo para o exercício da

cidadania e sua qualificação para o trabalho, como prevê a Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional, LDBEN 9394/96. Sendo a escola e a família as duas

principais instituições responsáveis pela educação dessas pessoas é preciso fazer

com que uma parceria entre ambas aconteça para que seja possível caminhar em

direção à melhoria da qualidade do ensino ofertado pela escola pública e atenuar o

problema da evasão e da repetência, lembrando que uma educação de qualidade só

se faz quando todos os envolvidos no processo têm clareza de sua função e de seu

papel, caminham juntos, resolvendo os problemas e as diferenças, enfrentando as

dificuldades e tendo como ponto de partida e de chegada o pleno desenvolvimento

do aluno como cidadão consciente e participativo, conhecedor de seus direitos e de

seus deveres e qualificado para lutar por seus objetivos, dispondo de mecanismos

que só uma educação norteada por critérios de qualidade é capaz de oferecer.

Palavras-chave: Ensino; Aprendizagem; Educação; Família; Escola.

8

Encontramos diferentes conceitos de família. Na maioria deles ela é descrita

como um grupo social primário, formado por diversas pessoas, quase sempre ligado

por laços de parentesco. Fazem parte desse grupo, os pais, os filhos, irmãos, tios,

avós, primos, sobrinhos, etc.

Em algumas épocas a família era tida como patriarcal e extensa, pois,

agrupava além dos familiares diretos, pais, mães e filhos, os agregados, que eram

os conhecidos, os amigos, afilhados, empregados, etc., do chefe do local, cuja

autoridade era determinada pelo número de pessoas que tinha sob o seu domínio e,

ou proteção. Hoje, a literatura mostra a família composta por diferentes formações,

onde a anteriormente mostrada como a mais comum e tradicional, nem sempre está

presente.

Em Taveiros e Rocha (2007, p. 11) encontramos que

o termo família é derivado do latim famulus, que significa escravo doméstico. Foi criado na Roma Antiga para designar um novo grupo social que surgiu entre as tribos latinas, ao serem introduzidas a agricultura e também a escravidão legalizada. Nessa época predominava uma estrutura familiar patriarcal em que um vasto leque de pessoas se encontrava sob a autoridade do mesmo chefe. A partir de então as pessoas passaram a formar vínculos matrimoniais, formando novas famílias. Dessas novas famílias fazia também parte a descendência gerada que, assim, tinha duas famílias - a paterna e a materna.

De acordo com pesquisas, as formações familiares são marcadas por velhos

costumes e nas famílias modernas atuais ainda se podem perceber alguns

elementos oriundos das organizações familiares dos séculos passados. Assim é que

encontramos indícios de que, a autoridade do chefe de família, é oriunda da antiga

família romana; da família medieval ainda prevalece o caráter sacramental do

casamento; da cultura portuguesa destaca-se à solidariedade e o sentimento de

ligação afetiva, etc.

Em estudos realizados verificamos modelos de diferentes núcleos familiares

onde a educação nem sempre ficava a cargo dos membros mais próximos da

criança como pais e mães. Em sua dissertação de mestrado (REIS, 1983) cita quatro

modelos de família: a família aristocrática, a família camponesa, a família proletária e

a família burguesa.

Na família aristocrática dos séculos XVI e XVII, as crianças eram, em geral,

educadas por vários habitantes do castelo e muitas vezes eram enviadas para

outras casas nobres, onde se completava sua educação; o seu aprendizado era

dirigido para a obediência à hierarquia social; na família camponesa desta mesma

9

época, a aldeia era o centro e a encarregada de manter os costumes e as tradições,

as crianças aprendiam participando desde muito cedo da rotina da comunidade e

obedecendo as normas sociais e era comum passarem por períodos de

aprendizagem em casa de outra família. Na família proletária do século XIX, as

crianças eram criadas de maneiras informais, por parentes, vizinhos ou mesmo

soltas pelas ruas do bairro, e, posteriormente passou-se a dar prioridade e

importância à educação e preocupar-se com o futuro dos filhos. E na família

burguesa, também no século XIX, a educação dos filhos estava a cargo da mãe, a

criança quase não tinha contato com outras crianças até ir para a escola e deveria

ser educada para ser um homem autônomo, com capacidade para evoluir nos

negócios, autodisciplinado e de moral perfeita.

No Brasil, os dados históricos sobre a origem e a organização familiar são

recentes e reúnem poucos dados, os quais são um tanto fragmentados, pois até

pouco tempo atrás, o tema raramente era estudado (KALOUSTIAN, 2008).

De acordo com estudos realizados, verifica-se que na Idade Média o

sentimento de infância era muito passageiro e superficial, durava no máximo dois

anos para cada criança que conseguia sobreviver, pois, até mesmo as famílias ricas

presenciavam a morte de muitas de suas crianças. Nesse contexto, em que não

havia interesse pela vida infantil, nem o consequente desejo de conservar os filhos,

as crianças que morriam eram logo substituídas por outras e nessa repetida

substituição não se cultivavam sentimentos de afeição por parte das famílias.

Somente, a partir da disseminação do discurso de alguns reformadores, os adultos

passaram pouco a pouco a adquirirem a consciência de que precisavam proteger

suas crianças e se preocupar com elas, inclusive com sua vida.

De acordo com (ARIÉS, 2006, p. 193), "na Idade Média e no início dos

tempos modernos as crianças misturava-se com os adultos, e a família cumpria a

função de transmitir a vida, os bens e os nomes". Esse autor descreve a infância

como um período muito curto da vida da criança, a partir da qual se fundia com os

adultos e era comum encontrar classes escolares com crianças de dez anos,

praticamente a idade que começavam a estudar, misturadas com pessoas de

dezoito, vinte anos ou até mais.

Apenas a partir do século XVII, os educadores conseguiram estabelecer

uma separação ente infância e adolescência, pautados pelo sucesso das instituições

escolares que administravam. Entretanto, como a escola na idade média não era

10

destinada às crianças, mas sim, uma espécie de escola técnica destinada à

instrução dos clérigos, jovens ou velhos, ela acolhia independentemente da idade,

da mesma forma, crianças, jovens e adultos, não considerando o nível de

conhecimento que tivessem.

Essa mentalidade permaneceu até o século XVIII, quando algumas classes

escolares ainda comportavam níveis diversos de idades, ia-se para a escola quando

se podia, cedo ou tarde, não importava. Essa falta de idade para se entrar na escola,

ou, para frequentar essa ou aquela classe só desaparece no século XIX. Nem todo

mundo, porém, passava pela escola. Havia casos de meninos que jamais tinham

frequentado o colégio ou que nele haviam permanecido durante muito pouco tempo,

apenas um ou dois anos.

A disciplina escolar também é originária dessa época medieval, com suas

raízes na disciplina religiosa, onde os alunos eram submetidos a um controle cada

vez mais rigoroso, apoiados cada vez mais pelas famílias que passavam a ver

nessas atitudes, condições básicas para uma boa educação.

Já no século XIX, a educação era um caso de crianças e jovens, tinha a

duração de quatro ou cinco anos no mínimo, com uma disciplina cada vez mais

rigorosa e efetiva e não era uma questão de classe social, já que havia entre as

classes mais privilegiadas pessoas que não se escolarizavam. Muitas vezes era uma

questão de ofício.

Do século XV ao XVII ocorreram mudanças significativas nas famílias. Ela

vai se transformando na medida em que transforma suas relações com a criança,

em que passam a dar importância às mesmas.

Em muitos países, principalmente da Europa, os serviços domésticos se

confundiam com a aprendizagem, sendo uma forma muito comum de educação. As

crianças aprendiam pela imitação do adulto, ou instruídos por um mestre, que lhes

ensinava determinado ofício através da realização do mesmo; as famílias

mandavam seus filhos para serem ensinadas nas casas de outras famílias e, por

sua vez, recebiam em sua casa os filhos de outrem. As crianças eram colocadas nos

trabalhos domésticos, por meio dos quais se desenvolvia a educação. Essa prática

era muito comum e muito difundida em todas as classes sociais (Airés, 2006).

Nessa forma de transmissão de conhecimentos não havia um lugar

específico para a escola, por isso havia as classes escolares, onde os meninos

aprendiam quando se podia, sem levar em consideração sua idade. O que era

11

comum, era a aprendizagem por intermédio dos serviços prestados em casa de

terceiros, como aprendizes, nem sempre se ensinava a educação formal: ler,

escrever, contar. A educação da criança era garantida pela sua presença e

participação nas atividades dos adultos, quase sempre de outra família (AIRÉS,

2006). Na mesma obra encontramos que "em acordos, nem sempre amparados por

contratos, as crianças eram cedidas a famílias estranhas, às vezes havia alguma

exigência de aprendizagem escolar, mas, geralmente o serviço doméstico era a

forma mais comum de educação" (p. 106).

Na Idade Média, a escola era reservada a um pequeno número de clérigos e

misturavam as diferentes idades. Dessa época em diante, entretanto, a educação

passou a ser fornecida cada vez mais pelos colégios, deixando de ser um privilégio.

A partir do século XV, surgiram os institutos de ensino. O colégio tornou-se

então uma instituição necessária e se abriu a um crescente número de pessoas,

leigos, nobres, burgueses, mas, também às famílias das classes populares.

Nessa época discutiam-se as vantagens de se mandar as crianças para a

escola, afastando-as do convívio de seus familiares e passando a se considerar a

possibilidade das crianças serem educadas em casa, através dos chamados

"preceptores", que eram pessoas incumbidas de acompanhar e orientar na

educação da criança. Geralmente as crianças viviam na casa do mestre ou em

pensionatos, mas esse afastamento da família já não era tão grande, pois em dias

de feiras recebiam as visitas dos familiares, que lhes ofereciam dinheiro e provisões.

Também faziam visitas à família, sendo necessária, muitas vezes a intervenção do

mestre para que essas visitas não fossem muito frequentes (AIRÉS, 2006).

Como as crianças passaram a conviver maior tempo com seus familiares

cresce o sentimento de afetividade e de aproximação e os laços entre eles se

estreitam. A família começa a manter-se afastada da sociedade; a criança conquista

seu lugar junto aos pais e os adultos passaram a se preocupar com sua educação e

com seu futuro.

Como podemos perceber nos textos estudados, desde a Sociedade

Medieval até o século XIX, o ensino ficava basicamente a cargo da família, a qual

desempenhava essa função de acordo com seus próprios conceitos, cada qual a

seu jeito, na convivência, observação e participação nas atividades do dia a dia,

geralmente em casas estranhas, a educação ia se processando de forma informal e

assistemática.

12

Com as mudanças ocorridas na sociedade, acelerando os acontecimentos

sociais, econômicos, políticos, culturais multiplicando as informações. Houve a

necessidade de uma instituição organizada que se responsabilizasse pela

transmissão dos conhecimentos acumulados pela humanidade, sistematizando-os e

tornando-os comuns a todos. Surge então a escola.

A escola é uma instância organizada onde os saberes acumulados são

levados às novas gerações de forma sistematizada e intencional, ainda que esteja

longe de cumprir com sua função social de transmitir uma educação de qualidade

aos que nela ingressam e permanecem, necessitando trabalhar no sentido de que

crianças, jovens e adultos assimilem ativamente os conhecimentos transmitidos.

(Luckesi, 1992).

Luckesi (1992, p.78) afirma que:

A escola nasceu de uma necessidade do próprio processo social; à medida que este se tornou mais complexo. A escola cresceu e ganhou novas estruturas à medida que as sociedades também foram gerando novas necessidades. Hoje, embora a escola agregue funções supletivas, a sua função essencial continua a ser, mediar para as novas gerações, a apropriação da cultura acumulada pela humanidade.

A complexidade na sociedade aponta para a necessidade de uma

organização educacional. A escola assumiu o papel de formalizar conhecimentos

produzidos pela humanidade, sistematizá-los e torná-los comuns a todos e com isso

boa parte da educação que era oferecida pela família perdeu sua legitimidade.

No Brasil, a educação percorreu um longo caminho desde suas primeiras

organizações até nossos dias, tendo passado no decorrer de sua história por

diferentes abordagens pedagógicas, as quais muitas vezes reproduziam os valores

que imperavam na sociedade da época.

Tendo sido o Brasil oficialmente descoberto em 1.500, apenas em 1.549,

com a chegada do primeiro governador geral e com ele, dos primeiros jesuítas, teve

início a educação formal (SAVIANI, 2008, p.15).

O ensino ofertado pelos jesuítas nos colégios por eles dirigidos e nos

seminários estava de acordo com os interesses das elites, as quais também dirigiam

o país; às camadas populares, que constituíam a maioria da população, apenas uma

educação elementar, para que permanecessem alheias e excluídas e não

questionassem a ordem vigente e os privilégios (SILVA, 2008).

13

À instrução formal tinham direito apenas os filhos homens, excluindo-se

ainda o primogênito, ao qual cabia uma educação voltada para o preparo em

assumir a direção dos negócios da família, centrado principalmente na agricultura,

tendo a responsabilidade de dar continuidade aos negócios do pai; as mulheres

também estavam excluídas de qualquer tipo de educação formal. O ensino ofertado

era humanista, de cultura geral, enciclopédico e não passava de uma formação

média para a classe dominante (ROMANELLI, 1978).

Os filhos das classes favorecidas que eventualmente quisessem cursar o

ensino superior, seguindo outras carreiras, que não a sacerdotal, deveriam estudar

na Europa, principalmente na Universidade de Coimbra, "já que o governo de

Portugal não permitia a criação de universidades na colônia" (ARANHA, 2008, p.

191).

Por mais de dois séculos os jesuítas "promoveram a catequese dos índios, a

educação dos filhos dos colonos, a formação de novos sacerdotes e da elite

intelectual (ARANHA, 2006, p.140).

Durante as primeiras décadas da República, entre os anos de 1920 até a

organização da comissão que iria elaborar o projeto que resultaria na Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional n° 4.024, em 1.948, várias reformas foram

elaboradas na tentativa de solucionar os graves problemas educacionais

acumulados durante os anos. Nessa época, a educação passou a ser vista como

redentora de todos os males sociais e os setores empregadores do país passaram a

necessitar e a exigir um trabalhador com algum conhecimento e um tipo

determinado de comportamento, então a escola pública torna-se necessária (SILVA,

2008).

Com o passar do tempo as famílias da classe trabalhadora passam a

procurar escola para seus filhos, acreditando, segundos estudos realizados, ser

essa a única forma de se libertarem da situação social a qual estavam submetidos.

Situação que os colocava em subempregos, que fazia com que sofressem

discriminação e preconceitos. Viam a escola como uma perspectiva de romper com

a pobreza em que viviam.

Essa mesma família passa então a deixar para a escola funções que antes

era de sua responsabilidade, muitas vezes se esquecendo que a criança é o retrato

de todo o aprendizado que adquire antes de ingressar no sistema formal de

educação.

14

Hoje, de acordo com pesquisas, sabe-se que essas duas instituições, família

e escola, são as principais responsáveis pela educação da criança e do adolescente

e há um crescente movimento no sentido de fazer com que a família participe do

processo educacional de seus filhos, contribuindo com a escola no relevante papel

de encontrar alternativas para os problemas educacionais, pois, escola e família

precisa se complementar para que os objetivos maiores da educação se

concretizem.

De modo geral é na instituição familiar que a criança se desenvolve e é ela a

encarregada de providenciar os meios necessários à sua sobrevivência, oferecendo-

lhe bases afetivas seguras e proporcionando-lhes condições que lhes possibilitem

participar da sociedade na qual estão inseridos, de forma autônoma, produtiva,

crítica e responsável.

Atualmente muito tem se discutido sobre o papel dos pais na vida escolar

das crianças e dos adolescentes e pouco tem se visto dessa participação. Com as

famílias muitas vezes desestruturadas, onde seus membros não se entendem, onde

a violência está presente e a falta de tempo para se dedicar às crianças é

justificativa comum, torna-se mais difícil trazer os pais para a escola. Nestes casos,

fica para a escola não só o trabalho de cumprir a sua função de transmissora de

conhecimento histórico e social, de ensinar conteúdos culturalmente herdados, mas

também fazer o papel que seria da família, papel esse que consiste em preparar

seus filhos por meio de informações consistentes para a vida em sociedade.

Sociedade, essa, onde as mudanças ocorrem de forma cada vez mais

aceleradas. As informações sociais, econômicas, culturais se multiplicam e a escola,

inserida nesse contexto, não tem a mesma capacidade de acompanhar essas

transformações tornando-se desinteressante para as crianças e adolescentes, que

mergulhados num mundo em movimento não encontram na prática pedagógica

diária motivações que os estimulem a investir na aprendizagem. Além disso, muitos

pais e familiares tem se afastado da escola, alegando na maioria das vezes falta de

tempo, por conta também dessa rotina apressada imposta pelas exigências da vida

moderna.

As relações entre escola e família são nos dias de hoje uma das questões

mais urgentes no contexto escolar, pois, se a família é o primeiro grupo social do

qual a criança faz parte, a escola é, seguramente, o segundo e unir essas duas

instâncias é investir na qualidade do ensino ofertado pela escola pública.

15

Faria Filho (2000, p.13) coloca que "devido às mudanças pelas quais nas

últimas décadas tem passado a família, ou em face das constantes alterações

observadas na escola, observa-se hoje uma exaltação da necessidade de se

estabelecer um efetivo diálogo entre a escola e a família". É necessário lembrar

também as diversas formas de organização familiar presentes em nossa sociedade,

onde convivem num mesmo espaço pais, filhos, avós, primos, tios, e outros arranjos.

Para Hickiman (2007, p.20):

O pai mantenedor, a mãe que cuida da harmonia da casa e os filhos obedientes ao pai. Esse é o modelo de família ainda absolutamente valorado nessa sociedade, e o que se percebe é que é um modelo absolutamente impossível de ser mantido, principalmente para as classes mais pobres, ou seja, para os grupos mais excluídos, onde a família igualitária é o modelo possível, em que todos têm que trabalhar, em que primeiro os filhos mais velhos e a mulher são envolvidos no mercado de trabalho: e a figura paterna, outrora como centro da família hierárquica e patriarcal deixa de ser a figura principal.

Atualmente a sociedade passa por transformações de forma cada vez mais

crescentes e com características mais acentuadas e, inseridas nessa sociedade,

família e escola não conseguem, muitas vezes, acompanhar esse desenvolvimento

e esse ritmo acelerado, lembrando também que essas duas instituições foram

acumulando problemas próprios, ao longo dos tempos e não conseguem dar conta

de resolvê-los.

É preciso ter presente que as mudanças ocorridas na sociedade

repercutiram na vida familiar, modificando desde sua formação estrutural, ao

provedor do sustento e outros aspectos. Se antes cabia ao pai o sustento da casa,

hoje, essa tarefa é quase sempre dividida entre os seus membros adultos; se à mãe

cabia a educação dos filhos, ensinando-lhes valores como respeito, religião,

obediência e outros presentes e convenientes a cada época, essa já não é mais sua

principal função e nem exclusiva. Prover o sustento dos filhos e zelar pelo seu

desenvolvimento moral, cultural, educacional, é, no momento presente, função do

casal, ou, do adulto diretamente responsável pela criança e que se encontra à frente

da família, independente da forma como ela se encontra constituída.

Atualmente podemos identificar diferentes formações familiares. Ainda

encontramos a tradicional família nuclear formada por poucos integrantes, (Samara,

1993, p.34), composta geralmente por pais, mães e filhos, embora sem as

características de antigamente, tão presentes em livros de literatura onde a mesma

é descrita como nuclear, patriarcal e extensa, (Aranha, 2007, p.21). Paralelamente a

16

essa forma de organização familiar, temos as famílias formadas por pais separados,

chefiadas por mulheres ou por homens; a família extensa (formada por membros de

diferentes gerações); a família homossexual, etc.

Mesmo com toda a diversidade da família atual, algumas características que

vem apresentando são comuns, como, por exemplo, a diminuição do número de

filhos, a inserção da mulher no mercado de trabalho e sua participação na renda

familiar, diminuição dos casamentos legais e religiosos, diminuição do número de

componentes.

É preciso saber que família é essa que está presente no cotidiano da escola

e que escola é essa que sente tanta necessidade de retomar as relações com a

família, lembrando que diferentes fatores interferem nas relações entre a escola e a

família, destacando-se o meio ao quais essas famílias estão inseridas, urbano ou

rural, número de componentes, principalmente número de filhos, nível de

escolarização dos seus membros, trabalho dos pais, nível sócio econômico (FARIA

FILHO, 2000).

A família deve compreender a função da escola e a sua proposta e buscar

formas de cooperar com ela. Por outro lado, a escola deve procurar conhecer seu

aluno e sua família para melhor se relacionar com eles e desenvolver seu trabalho

de maneira mais eficiente. É preciso levar em consideração o que acontece com o

aluno fora do ambiente escolar, pois isso, com certeza vai influenciar em sua

aprendizagem, estando essa, diretamente ligada a valores como comportamento,

limites, disciplina, gosto pelo que é ensinado, vontade de aprender, normas de

conduta, etc.

Fazer com que a família participe não significa apenas "marcar presença"

em reuniões ou em festas e comemorações, mas participar efetivamente na

educação do aluno, uma vez que a participação da família é muito importante para a

formação da criança, seja essa formação cultural, psíquica, ética, moral ou

educacional.

Família e escola compartilham a responsabilidade pela educação da criança,

mas é preciso levar em consideração quais objetivos, conteúdos e métodos definem

o campo de ação de cada uma. Assim sendo, a escola precisa voltar o seu interesse

para os períodos em que o aluno está afastado da mesma, buscar o apoio da família

e procurar conhecer o tipo de educação que ela está ofertando, que tipo de incentivo

17

está oferecendo à criança, se está havendo um acompanhamento do processo de

ensino e aprendizagem do aluno por seu responsável, qualquer que seja ele.

Sendo a escola e a família as principais responsáveis pela educação da

criança e do adolescente, é interessante observar que, a Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional (LDBEN 9394/96), que regulamenta a Educação em nosso

país, traz em alguns de seus artigos escola e família como co-responsáveis pela

educação. O primeiro artigo coloca que "a educação abrange os processos

formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no

trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e

organizações de sociedade civil e nas manifestações culturais". No segundo artigo

encontramos que "a educação, dever da família e do estado, inspirada nos princípios

de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno

desenvolvimento do educando, seu reparo para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho" (LDBEN 9394/96).

É preciso que haja uma união de esforços, para que graves problemas que

afetam a educação ofertada pelas escolas públicas brasileiras, entre os quais se

destacam a evasão, a repetência e a baixa qualidade do ensino, sejam

solucionados, ou pelo menos, amenizados, lembrando que abandonar a escola ou

reprovar não é ideal, ou adequado, mas sim, um entrave para o crescimento pessoal

de qualquer aluno.

Vasconcellos (l994) coloca que a reprovação está longe de ser a melhor

solução porque o aluno precisa é ser ajudado em suas dificuldades e não ser

condenado a repetir os mesmos conteúdos, as mesmas experiências. É preciso

superar esse conceito de que "reprovar" é normal, benéfico para o aluno, tão

enraizado na comunidade escolar e aceito por professores, pais e até mesmo pelos

alunos.

De acordo com Paro (2000), se a escola pública precisa ser competente, ela

deve levar em conta a necessidade de seus alunos e fazer com que eles sejam

seduzidos pelo desejo de aprender. Esse autor explica que o "aprender a estudar"

não é um hábito que aparece de uma hora para outra, ele precisa ser cultivado,

incentivado, trabalhado.

Diante dos muitos fatores que influenciam no desenvolvimento escolar do

aluno e em seu aproveitamento, levando-o muitas vezes à evasão e à repetência,

18

faz-se necessário que escola e família busquem ações conjuntas, para enfrentar

com mais clareza esses problemas, para que soluções possam ser encontradas.

No Projeto Político Pedagógico (PPP, 2009, p.29), da escola foco dessa

pesquisa, verificam-se ações que devem ser de competência da escola e também

da família, quando em sua Filosofia e Princípios Pedagógicos diz que:

A escola como espaço de apropriação do saber sistematizado, contribui aos interesses populares porque pode contribuir efetivamente para eliminar a seletividade social, transmitindo a todos os alunos os saberes investidos na vida cotidiana, como leitura, escrita, matemática, saberes tecnológicos, econômicos e jurídicos, articulando-os às experiências de cada um.

A seguir, o citado documento coloca que o "conhecimento é um objeto

específico do ato pedagógico de fundamental importância, sendo indispensável que

o aluno se aproprie do conhecimento historicamente acumulado pela humanidade e

desenvolva as condições para produzir novos saberes".

Quanto ao que é de responsabilidade dos pais, o (PPP, 2009, p. 32,) traz

que "a escola procura auxílio junto à comunidade, principalmente junto aos pais,

atribuindo-lhes responsabilidades relacionadas aos aspectos relevantes dos alunos".

A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988, traz

em alguns de seus artigos a responsabilidade da família e da escola com relação à

educação da criança e do adolescente, lembrando que a educação é dever do

Estado e da Família; que é dever do Estado e da Sociedade assegurar à criança e

ao adolescente, entre outros, o direito à educação. O terceiro parágrafo do artigo

208 traz em seu texto informações referentes a matricula e frequência dos alunos,

colocando que "Compete ao poder público recensear os educandos no ensino

fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela

frequência à escola".

No artigo 277, trata da prioridade que deve ser dispensada à criança e ao

adolescente com relação à educação e outros direitos, lembrando que "é dever da

família, da sociedade e do estado assegurar à criança e ao adolescente, com

absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer.

Também o artigo 299, coloca o dever dos pais com relação aos seus filhos, dizendo

que "os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores..."

(CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 2008).

O caderno de subsídios para elaboração do regimento escolar, da Secretaria

de Educação do Estado do Paraná também destaca o aspecto de parceria que deve

19

haver entre escola e família quando coloca que a escola deve promover atividades

de articulação com a família e a comunidade e informar os pais ou responsáveis

sobre a frequência do aluno e sobre seu aproveitamento. Aos pais compete assumir

junto à escola ações de co-responsabilidade que assegurem a formação do aluno e

acompanhar o desenvolvimento do aluno sob sua responsabilidade.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu Artigo 4°, também destaca

como dever do estado, da comunidade e da sociedade, assegurar com absoluta

prioridade à criança e ao adolescente, entre outros, o direito à vida, educação,

saúde, lazer, cultura, esporte, profissionalização, liberdade, dignidade e proteção

contra qualquer forma de discriminação e violência.

É preciso lembrar que, independente do dever presente nos textos legais, a

função dos pais deve ser pautada na responsabilidade, no amor, no compromisso,

no senso de justiça, no respeito pela criança e pelo adolescente, observando as

especificidades presentes nas diferentes fases da vida.

É necessário ressaltar a importância da parceria entre escola e família, como

requisito para que as relações no contexto escolar ocorram em um clima de

cordialidade, onde metas como a permanência do aluno na escola sejam alcançadas

e que venham acompanhadas pelo sucesso pautado na qualidade do ensino.

Se antes a família assumia o compromisso de educar seus filhos em todos

os sentidos, transmitindo-lhes seus conhecimentos, ainda que de forma

assistemática, pelo convívio com os adultos e por sua participação nas atividades

que eram desempenhadas por estes, pela observação e pela assimilação da vida da

comunidade, hoje, ela necessita novamente legitimar os seus princípios e transmitir

aos seus filhos as suas noções do que é certo ou errado, valores de religiosidade,

ética, cidadania, respeito, regras de comportamento em grupo, coisas do cotidiano,

que nem sempre são conhecimentos formais, nem mesmo de incumbência da

escola, mas que são muito importantes. Deve, ainda, transmitir-lhes noções de

limites, fazer com que a criança e o jovem pensem sobre suas atitudes, lembrando

que a família é o agente primário de qualquer educação e que a primeira

aprendizagem, qualquer que seja ela, é adquirida em casa, na família, de maneira

informal e é essa aprendizagem, esses conhecimentos que a criança levará para a

escola quando nela ingressar.

20

Vygotsky (1998) coloca que "o aprendizado das crianças começa muito

antes delas frequentarem a escola. Qualquer situação de aprendizado com a qual a

criança se defronta na escola tem sempre uma história prévia".

Colocar a família como participante do processo educacional, contribuindo

no relevante papel de encontrar alternativas para os problemas educacionais é um

aspecto fundamental no processo de ensino e de aprendizagem.

Mas, de que forma envolver a família no processo de ensino e

aprendizagem? Quais estratégias devem ser estabelecidas para a aproximação da

família com a escola? A presença da família na escola contribui para o sucesso do

aluno e melhora as relações no contexto escolar?

Cabe à escola buscar esse envolvimento e essa participação através de

ações pedagógicas que envolvam o coletivo escolar, visto que os objetivos previstos

são comuns, ou seja, a comunidade escolar espera e deseja que o aluno permaneça

na escola e que receba uma educação de qualidade, que seja capaz de orientá-lo

para exercer o seu papel de cidadão consciente e atuante na sociedade. Lembrando

que os indivíduos, como cidadãos, devem participar dos processos educativos,

respeitando o seu espaço e o espaço dos demais e assumindo suas

responsabilidades.

A prática de estabelecer essa parceria é um desafio, mas algumas ações

podem ser previstas no início do ano letivo e serem colocadas em prática durante o

decorrer do mesmo, chamando cada segmento da escola a assumir o seu papel,

não delegando a outro aquilo que é de sua responsabilidade.

Reuniões devem ser realizadas desde o início do ano letivo, para o

estabelecimento de ações nas quais as responsabilidades de cada segmento devem

ser abordadas.

Para que as ações estabelecidas possam ser colocadas em prática e para

que obtenham sucesso, uma boa relação entre a família e a instituição escolar se

faz necessário, devendo ser esse trabalho contínuo, permanecendo durante todo o

período em que o aluno estiver frequentando a escola, e, não somente no tempo em

que estiver nas séries iniciais, onde é comum maior presença da família.

De acordo com (PARO, 2000, p.221) "verifica-se uma falta de tempo dos

pais e demais membros da família para acompanharem o desenvolvimento das

atividades escolares da criança e também uma falta de preparo e conhecimento dos

mesmos para fazer esse acompanhamento". Ainda, segundo esse autor, a escola

21

que se preocupa em dar continuidade à educação ofertada pela família precisa

encontrar formas de conseguir o apoio desta em sua tarefa de desenvolver nos

alunos atitudes positivas e duradouras; ele coloca também que a função de ensinar

é da escola, que para isso conta com profissionais específicos, especialmente

preparados para exercerem essa atividade, no entanto é preciso que haja

continuidade entre a educação ofertada pela instituição escola e a oferecida pela

instituição família, uma complementando a outra.

Baseando-se nas diversidades existentes na família atual, faz-se necessário

ampliar a participação na escola de outros membros da família, não apenas pais e

mães, lembrando que hoje as famílias são formadas pelas mais diferentes

combinações e considerando que a família padrão e ideal é aquela que dá conta de

cuidar de seus filhos, não importando a forma como está organizada.

De acordo com Kaloustian (2008):

A família é o espaço indispensável para a garantia da sobrevivência de desenvolvimento e da proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como vem se estruturando. É a família que propicia os aportes afetivos e, sobretudo materiais necessários ao desenvolvimento e bem estar de seus componentes. Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, é em seu espaço que são absorvidos os valores éticos e humanitários, e onde se aprofundam os laços de solidariedade.

Verificamos, após estudos realizados, que com o passar dos tempos a

família foi se transformando, porém, é preciso ter claro que, qualquer que seja a sua

composição, continua tendo como papel primordial desempenhar funções

educativas, transmitir valores culturais, religiosos, éticos, hábitos e costumes;

fornecer subsídios para que o indivíduo se desenvolva socialmente e estabeleça

relações de convívio com os demais de forma harmoniosa e equilibrada. É também

a responsável pela sobrevivência da criança e do adolescente provendo as suas

necessidades materiais. Deve, entretanto, estabelecer uma relação de parceria com

a escola, a qual, além de trabalhar com os conhecimentos acumulados pela

humanidade, também pode reforçar a educação oferecida pela família. (Carvalho,

2008).

Sendo a família, juntamente com a escola, as duas instituições responsáveis

pela educação da criança e do adolescente, é preciso fazer com que uma parceria

entre ambas aconteça para que seja possível caminhar em direção a melhoria da

qualidade do ensino oferecido pela escola pública e atenuar o problema da evasão e

22

da repetência, partindo do princípio de que é necessário fazer com que os alunos e

também os professores sejam cativados pelos atos de ensinar e de aprender e que

juntamente com os pais e demais segmentos da escola entendam que uma

educação de qualidade só se faz quando todos os envolvidos no processo têm

clareza de sua função e de seu papel, caminham juntos, resolvendo os problemas e

as diferenças, enfrentando as dificuldades, somando as vitórias e aprendendo

sempre. Tendo como ponto de partida e de chegada, o pleno desenvolvimento do

aluno como cidadão consciente e participativo, conhecedor de seus direitos e de

seus deveres, qualificado para lutar por seus objetivos, dispondo de mecanismos

que só uma educação norteada por critérios de qualidade é capaz de oferecer.

Se, escola e família precisam se complementar para que os objetivos

maiores da educação se concretizem, é a escola que, através de sua equipe

administrativa e pedagógica e de seu corpo docente que deve fazer com que essa

parceria aconteça, resgatando aqueles pais ou responsáveis que ainda não se

fazem presentes, lembrando que a família desempenha papel fundamental no

sentido de garantir que o direito à educação seja cumprido, não podendo esquecer

também, seu dever de colaborar e participar do processo educativo e do contexto

escolar onde seu filho está inserido, buscando compreender a função da escola, sua

proposta e buscando formas de cooperar com ela, onde metas como a permanência

do aluno na escola sejam alcançadas e que venham acompanhadas pelo sucesso,

pautado na qualidade do ensino.

23

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação e da Pedagogia. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2008.

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24

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VYGOTSKY, Lev Semenovich. A Formação Social da Mente. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

25

UNIDADE II

O PAPEL DOS PAIS NA EDUCAÇÃO ESCOLAR:

UMA EXPERIÊNCIA COM QUINTAS SÉRIES

Autora: FIORIM. Maria Isabel

[email protected]

Orientadora: LEVANDOVSKY, Ana Rita

[email protected]

"Tão importante quanto o que se ensina e se aprende é como se ensina e

como se aprende". (César Coll)

26

RESUMO

No Brasil, principalmente na escola pública, sabe-se que o fracasso escolar

ocorre por vários motivos. Alguns associados à classe social, onde os baixos níveis

de escolaridade e a baixa renda da clientela escolar são fatores que refletem

negativamente tanto na formação, como na participação dos pais na escola e no

acompanhamento da aprendizagem de seus filhos. Outros fatores contribuem para a

existência do alto índice de repetência, porém um dos que tem contribuído

significativamente para o insucesso escolar é o pouco compromisso dos pais com a

educação escolar dos filhos. Sendo assim, torna-se necessário o esclarecimento do

papel da família e de seus membros e o fortalecimento das relações escola e

família, que são os principais suportes que a criança tem para enfrentar os desafios

que a vida lhe apresentar. Tendências atuais de gestão escolar, voltadas para a

presença dos pais e da comunidade na escola, procuram maior participação e

envolvimento das famílias com o processo de aprendizagem dos alunos em busca

de melhorias, produtividade e qualidade no ensino público. Destacam que o apoio da

família é fundamental para um bom desenvolvimento físico, social e educacional da

criança e do adolescente. Afirmam que os pais são os grandes preparadores e

influenciadores de seus filhos ao longo de sua vida e através das relações que

estabelecem no lar, são os alicerces para o desenvolvimento futuro. Sendo assim,

na perspectiva de diminuir os índices de repetência visa-se construir uma parceria

entre escola e família, desenvolvendo ações que levem os pais a conscientizarem-

se da importância que tem a sua participação e apoio para a melhoria do

aprendizado de seus filhos, e consequentemente para o sucesso escolar.

Palavras-chave: Família e escola; Ensino Fundamental; Aprendizagem;

Formação de professores.

27

Vários estudos são desenvolvidos seja na área da neurologia, psicanálise,

pedagogia em busca de atender as questões relacionadas aos problemas de

aprendizagem. Diante dos referenciais médicos e psicológicos é que se buscam as

explicações neurológicas, disfunções cerebrais, disritmia, falhas na atenção, enfim

vários são os motivos principalmente quando se aborda a aprendizagem e os

problemas que determinam o fracasso escolar. Fatores estes que levam a um

questionamento quanto ao papel de professor ou da escola com relação a sua

função social. O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), Artigo 4°,

aponta primeiramente a família como responsável pela formação de seus filhos,

como vemos a seguir:

[...] é dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e a convivência familiar e comunitária. (Brasil, 1990)

Nos últimos anos as instituições família e escola passaram por acentuadas e

diversas mudanças que acabaram por redefinir sua estrutura, seu significado e o seu

papel na sociedade. Com isso, os papéis da escola foram ampliados para dar conta

dos novos padrões de família e de sociedade. Por um lado os professores reclamam

que os pais devem estabelecer limites e ensinar aos filhos os princípios básicos de

respeito aos semelhantes, boas maneiras, higiene, etc. Por outro lado os pais se

recusam a comparecer as escolas para ouvir reclamações ou auxiliar seus filhos na

aprendizagem, já que ensinar conteúdos é função da escola, dos professores. Em

relação ao papel da escola complementa Macedo (2002, p.04), “[...] agora, a escola

tornou-se para todos, isto é, tornou-se compulsória e obrigatória, cumprindo o direito

de nela as crianças poderem aprender o que é significativo para suas vidas”.

É nesse âmbito e na necessidade de uma aprendizagem significativa que

estes papéis não podem ser confundidos e nem deixados de ser cumpridos.

Segundo alguns estudiosos problemas de ordem afetiva, ligados ao

desenvolvimento emocional, podem interferir na aprendizagem do aluno, que

depende de circunstâncias sociais iniciadas na família em função do papel que a

criança tem no grupo familiar. O grupo familiar influencia através de suas ligações:

afetividade, limites, e principalmente com o acompanhamento do desempenho

escolar, tornando-se necessário ao professor investigar como vem ocorrendo o

processo de aprendizagem e verificar na criança o que está por trás da sua

28

linguagem e forma de expressão, da organização do seu universo de significações,

de representações, de desejo daquele que não está aprendendo e principalmente a

relação deste sujeito com o conhecimento e o significado que o aprender tem para

ele. De acordo com Ramos (1998, p. 115), ao referir-se à educação:

[...] aqueles que cuidam devem ter o desejo que o outro se transforme, cresça, estabelecendo mensagens e limites claros, informações e conhecimentos entre seus membros. É pelo afeto, cuidado e proteção que se iniciam os primeiros sentimentos de estima que repercutem na aprendizagem escolar.

Estudos como este, deixam claro que a participação dos pais, ou dos

responsáveis na vida escolar da criança exerce um papel fundamental para o bom

desempenho escolar e, que se houver um diálogo entre a família e a escola a

tendência é que este desempenho melhore ainda mais, além de melhorar o

comportamento dos alunos em sala de aula e os problemas de adaptação ser

superados com maior facilidade.

É comum nos dias de hoje ouvir “os pais perderam autoridade sobre seus

filhos”, “as crianças de hoje não obedecem a ninguém”. O que revela uma mudança

clara de um sentimento que as relações entre pais e filhos mudaram muito nas

últimas gerações, e nem tudo é positivo nessa mudança. Pois é possível perceber

um comportamento permissivo por parte dos pais, e com isso a escola se vê

sobrecarregada e se volta contra a família, porque precisa suprir a falta de

autoridade e acaba abarcando todos os aspectos da vida pessoal e de

relacionamento.

Muitas vezes as famílias culpam a sociedade como um todo, incluindo a

escola, alegando que a mesma deixou de cumprir certos valores tradicionais. Isto

tudo cria uma situação de impotência entre as duas principais instituições de

educação: a família e a escola. No entanto, os pais são os principais responsáveis

pela educação de seus filhos, e tal responsabilidade não se pode renunciar, assim

afirma Lópes (2002, p.20):

A autoridade é necessária na educação. Os pais possuem autoridade de maneira natural, mas devem conservá-la com um comportamento exemplar e com a manutenção das regras por meio de argumentos e compreensão. Educar implica saber dizer não em certas ocasiões. Equivocar-se não afeta a autoridade, se sabe reconhecer e corrigir o engano.

29

Para isso os pais contam com a autoridade natural que vem do fato de

serem os procriadores, assim não se trata de perder esta autoridade, mas sim de

fazê-la de forma adequada. Com relação à escola pode se dizer que ela é o único

lugar pelo qual passam os cidadãos de maneira obrigatória, onde a aprendizagem é

ofertada e torna-se pré-requisito para que mais tarde eles consigam acesso ao

trabalho e a muitos benefícios que a sociedade oferece. A família influencia

diretamente por manter seu filho na escola e em até que nível eles estudarão, além

do término da escolaridade obrigatória.

A família tradicional mudou de forma radical, a família de hoje costuma

reduzir-se muitas vezes a pais e filhos, quando não somente a um dos pais e ambos

adultos têm horário de trabalho que não lhes permite dedicar-se um tempo

suficientes para o cuidado e a educação dos filhos. Muitas crianças ficam com babás

que não tem como educar ao estilo antigo e nem tem escolaridade. Assim a escola

acaba por ser o local oportuno para desenvolver os hábitos de socialização que a

vida em comunidade requer, no entanto, por mais que os professores tenham todas

as atenções exigidas, jamais serão iguais aos pais.

Os pais são responsáveis legais e morais pela educação de seus filhos. E

sua participação no sistema educacional, como toda participação social equivalente,

tem a perspectiva de colaboração e controle. Com a primeira se potencializam os

recursos e as ações da escola, enquanto com o controle se estimula a melhora de

qualidade da educação escolar.

É necessário o resgate de uma vivência escolar e o prazer de aprender,

podendo orientar os professores, atender os pais e alunos na perspectiva de

transformar as relações família e escola, em prol do aprendizado qualitativo e da

contribuição efetiva da instituição escolar à formação cidadã. Para reverter

situações de fracasso escolar, buscar criar formas agradáveis para atrair os pais à

escola, seja através de reuniões específicas e de curta duração, ou em eventos

realizados pela comunidade escolar, nas quais se oferecem lanches, realizam-se

jogos e recreações envolvendo pais e filhos. Quem sabe, assim criar situações de

interação, harmonia que os levam a se sentir mais à vontade e motivados a

participarem da escolaridade de seus filhos e, consequentemente, contribuam para a

melhoria da aprendizagem dos mesmos, ajudando a reverter o quadro de evasão e

repetência da escola.

30

Um dos papéis principais da família está na socialização da criança e no

envolvimento com sua educação. A convivência entre pais e filhos, o diálogo as

experiências de amor e respeito, os valores, as regras sociais são fatores que

influenciam diretamente na formação da personalidade e do caráter e

consequentemente na aprendizagem. Família e escola são os principais

sustentáculos que a criança tem para enfrentar os desafios que a vida lhe impõe,

sendo assim a participação da família no ambiente escolar é fundamental no

processo de ensino/aprendizagem. Assim em relação à autoridade da família afirma

Gomide (2004, p.14).

Os pais não devem estabelecer regras excessivas, rígidas e difíceis de serem cumpridas. Quando os pais ou professores criam muitas regras, os filhos ou alunos, por saturação, deixam de prestar atenção a grande parte delas, burlando-as. Quando as regras são difíceis de serem cumpridas, porque são muitos rígidas, a chance de que sejam desrespeitadas aumenta, (.) Raramente uma criança atinge os critérios rígidos estabelecidos pelos pais ou professores nas primeiras tentativas. Portanto as chances de fracasso são muito grandes, gerando desapontamento para ambas as partes.

Assim surge a necessidade da família estar integrada e formando parceria

com a escola, e professores podem estar detectando as dificuldades de

aprendizagem e contribuir para reverter a situação, afinal as características e

particularidades de cada família marcam a trajetória e formação dos educandos.

Quando família e escola mantêm boas relações as condições para um melhor

aprendizado e desenvolvimento da criança podem ser maximizados.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Nº 9.394) traz a

questão do dever da educação logo no TÍTULO II, Artigo 2º "A educação, dever da

família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de

solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando,

sua preparação para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho."

Ainda neste âmbito, o artigo 1º da LDB cita: "a educação abrange os processos

formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no

trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e

organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais".

Sendo assim a escola deve reconhecer a importância da participação dos

pais e auxiliar as famílias a exercerem o seu papel na educação dos filhos e,

respectivamente na transformação da sociedade.

31

Com frequência pais e professores se sentem preocupados em relação ao

desinteresse em aprender e falta de motivação dos filhos, dos alunos. Para tanto é

preciso saber até que ponto um estudante se esforça para realização de tarefas e

atividades que o levam a aprender, porém para que ele se interesse é preciso que

ele tenha claro a importância de estudar determinado conhecimento e que tenha

definidas as metas que busca com a aprendizagem. Além de estar ciente das

estratégias que devem ser orientadas para facilitar a compreensão e a aquisição de

capacidades que lhe permitam serem competentes. A isto tudo se configura a

atuação de professores e pais. Afinal a desmotivação dos alunos não acontece de

um dia para outro, podendo se dizer que é uma série de desencontros do aluno com

os objetivos de aprendizagem escolar. E para evitar que os mesmos se

desinteressem pela aprendizagem requer muita dedicação da equipe de professores

e do apoio familiar. Nesse sentido, referindo-se ao papel da família no processo de

aprendizagem escolar de seus filhos, Marchesi (2006, p.77) esclarece que “[...]

tampouco se deve esquecer a responsabilidade da família, já que são muitas as

iniciativas que esta pode desenvolver para evitar que o aluno se desinteresse pela

aprendizagem”.

Muitas vezes o problema está na falta de estímulo da família para ajudar a

criança a enfrentar as dificuldades. E complementa Marchesi (2006, p.77):

[...] a família deve cooperar para que não se instale em seu filho o sentimento de incompetência frente às tarefas escolares devido a suas dificuldades de aprendizagem. Para evitar essa situação, os pais devem ajudá-lo em suas primeiras etapas escolares, especialmente na aprendizagem da leitura-escrita e habilidades lógico-matemáticas.

Ninguém discute que educar nos dias de hoje em meio a tantos problemas

sociais e econômicos, separação de casais, correria do dia-a-dia, ascensão

profissional das mulheres não é fácil. Mas, estas situações justificam que muitos pais

não dediquem um mínimo de tempo ao acompanhamento da educação de seus

filhos? Que deleguem toda a responsabilidade de educação à escola ou que

somente apareçam na escola caso aconteça um problema grave? É perceptível que

as crianças que têm melhor desempenho na escola são aquelas que as famílias se

envolvem mais em seus estudos.

Segundo Coll (1995, p.251), a família, principalmente durante os anos

escolares, deveria educar as crianças com base em: “[...] estilos educativos

democráticos, por sua judiciosa combinação de controle e afeto, comunicação e

32

exigências de maturidade, os que propiciam um melhor desenvolvimento da

criança”. A criança precisa ter uma base sólida na família, afetuosa, com valores

positivos, pois as características pessoais podem ser influenciadas, direcionando a

mesma a ter atitudes boas ou más.

No entanto, a falta de tempo e o ritmo de vida atropelado, somado a

distância entre pais e filhos, provocada pelas novas tecnologias e pela mudança de

valores dos jovens em relação às décadas anteriores, enfim o contexto cultural e

social, assim como a estrutura da família são os determinantes dos vínculos que se

estabelecem entre família e escola. Para facilitar esta relação é preciso que os

professores valorizem o envolvimento dos pais e se esforcem para informá-los e

incentivá-los para que colaborem, assim cria-se um laço de confiança e de

comprometimento. Para Marchesi (2006, p.156) “[...] a participação ativa dos pais na

educação de seus filhos e sua colaboração com os objetivos escolares é uma das

variáveis principais para assegurar um bom progresso dos alunos ou, pelo menos,

para evitar seu fracasso escolar”.

É o desejo de qualquer professor que os pais acompanhem a lição de casa,

compareçam nas reuniões, demonstrem cooperação e atenção em relação ao

desempenho escolar dos filhos. Para tanto, a escola precisa oportunizar diversas

situações para estar em contato com os pais, deixando-os informados de todos os

assuntos pertinentes à escola e a vida escolar de seu filho. Provavelmente a

informação em relação ao trabalho que se está desenvolvendo na escola

proporcionará mais confiança e comprometimento dos pais. Em relação à questão

da participação da população na escola esclarece Paro (2006 p.16-17):

[...] dificilmente será conseguida alguma mudança se não partir de uma postura positiva da instituição com relação aos usuários, em especial pais e responsáveis pelos estudantes, oferecendo ocasiões de diálogo, de convivência verdadeiramente humana, numa palavra de participação na vida da escola. Levar o aluno a querer aprender implica um acordo tanto com educandos, fazendo-os sujeitos, quanto com seus pais, trazendo-os para o convívio da escola mostrando-lhes quão importante é sua participação e fazendo uma escola pública de acordo com interesses de cidadãos.

A maior dificuldade, entretanto, está em construir uma relação de parceria,

de maneira que cada um assuma e cumpra suas funções. A escola deve propor

intervenções para buscar maior aproximação com a família, planejar e estabelecer

compromissos que amenizem o bloqueio existente e possa substanciar o papel da

33

família no desempenho escolar dos filhos e o papel da escola na formação e

construção do conhecimento. Segundo Piaget:

[...] uma ligação estreita e continuada entre os professores e os pais leva a muita coisa, pois mais que uma informação mútua, este intercâmbio acaba resultando em ajuda recíproca e, frequentemente, em aperfeiçoamento real dos métodos. Ao aproximar a escola da vida ou das preocupações profissionais dos pais, e ao proporcionar, reciprocamente, aos pais um interesse pelas coisas da escola, chega-se até mesmo a uma divisão de responsabilidades (2002, p. 50).

A divisão de responsabilidades pode ser ainda encontrada no regimento da

escola, foco desta pesquisa, seção II, dos deveres da comunidade escolar, Art. 173,

consta que cabe aos pais ou responsáveis, além de outras atribuições legais:

IV - Assumir junto à escola ações de co-responsabilidade que assegurem a

formação educativa do filho;

IX - Comparecer às reuniões e demais convocações do setor pedagógico e

administrativo da escola, sempre que for necessário;

XI - Acompanhar o desenvolvimento escolar do aluno pelo qual

é responsável.

Para tanto se faz necessário que escola e família busquem assumir seus

papéis, com propósitos semelhantes, a favor de uma melhoria de desempenho dos

filhos, dos alunos e com o compromisso de garantir a aprendizagem de todos,

contribuindo assim para um ensino de melhor qualidade. É o que propõe uma gestão

democrática, devendo ser um instrumento de transformação das práticas escolares,

sem temor em abrir para maior participação para os que têm compromisso com a

escola pública e que exercem com seriedade o seu trabalho. Para Spósito (2002,

p.49) “mais que ‘integração da escola com a família e a comunidade’ ou

‘colaboração dos pais’, é preciso entender como mecanismo de representação e

participação política”.

Assim, segundo Paro (2007, p.16):

[...] a escola que toma como objeto de preocupação levar o aluno a querer aprender precisa ter presente a continuidade entre a educação familiar e a escolar, buscando formas de conseguir a adesão da família para sua tarefa de desenvolver nos educandos atitudes positivas e duradouras com relação ao aprender, ao estudar. Grande parte do trabalho do professor seria facilitado se o estudante já viesse para escola predisposto para o estudo e se, em casa ele tivesse quem, convencido da importância da escolaridade, o estimulasse a esforçar-se ao máximo para aprender.

34

A participação efetiva da população na escola só vai obter mudança e

sucesso se a instituição partir de uma postura positiva em relação aos usuários e em

especial com os pais e responsáveis pelos estudantes, oferecendo ocasiões de

diálogo, de convivência humana, ou seja, de participação na vida da escola. Além

disso, criando um clima de estímulo, harmonia e de reforço positivo da autoestima

do aluno pelo professor.

Segundo Gomide (2004, p.52) “os pais são os principais mediadores entre a

criança e o mundo. A criança aprende sobre o mundo pelos olhos dos pais, de suas

reações de suas experiências” e assim podemos complementar que têm na escola

os olhos do professor para direcioná-lo nos caminhos do saber, ajudando-o a se

formar um cidadão, sujeito de sua prática social e transformador de sua própria

história.

No entanto, é imprescindível implementar projetos como este, que tratam do

contexto sociocultural e que fomentem a relação família e escola. Afinal, com as

pesquisas e leituras realizadas de autores e estudiosos conceituados, assim como

também, de profissionais da educação, conclui-se que entram em consonância ao

referir-se a este tema. Deixando claro que a parceria entre família e escola deve

estar voltada para o fortalecimento dos laços de aproximação entre ambas,

despertando uma confiança mútua, condições essenciais para o sucesso do

processo educacional. Portanto, a escola necessita desta relação com a família para

que juntas possam compartilhar os aspectos que envolvam o aluno, no que diz

respeito ao aproveitamento escolar. Tornando-se um processo relevante para o

desenvolvimento de um trabalho valioso em prol da educação, proporcionando

contribuições que poderão mudar os rendimentos escolares em busca de uma

aprendizagem mais significativa e a redução do índice de repetência.

35

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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38

UNIDADE III

Família e Escola: uma parceria em prol da qualidade

da aprendizagem

Autora: EIZUKA, Maria Aparecida Menezes Bueno

[email protected]

Orientadora: LEVANDOVSKI, Ana Rita

[email protected]

39

RESUMO

Estudos mostram que a participação da família na escola pública nem

sempre está ligada à tomada de decisões e sim como mera forma de prestação de

serviços. Este trabalho nos mostra que a participação da família deve visar ações

efetivas que contribuam para o bom desempenho do aluno. Escola e família têm os

mesmos objetivos: fazer a criança se desenvolver em todos os aspectos e ter

sucesso na aprendizagem, no desempenho escolar. Quando há parceria entre

essas instituições, os índices de evasão e violência diminuem e o rendimento das

turmas melhora de forma significativa. Quando todos nós tivermos clareza de que a

função social da escola está em possibilitar ao aluno o acesso ao conhecimento e

que este é via de emancipação humana e social, estaremos sim preocupados com a

aprendizagem efetiva. Portanto deve-se pensar numa integração dos pais com a

escola, em que ambos se apropriem de informações que favoreçam a educação

escolar, tornando em benefício de ambos na forma da melhoria da educação dos

filhos.

Palavras - chave: escola e família; aprendizagem escolar; gestão escolar

40

FUNÇÃO DA ESCOLA PÚBLICA

A escola pública brasileira, nas últimas décadas, passou a atender um

número cada vez maior de estudantes das classes populares. Sendo assim, justifica-

se a existência da escola pública aumentando a necessidade de discussões

contínuas sobre o papel do ensino básico no projeto de sociedade que se quer para

o país.

As Diretrizes Curriculares Estaduais do Paraná (DCE, 2009) tem a proposta

de formar sujeitos que construam sentidos para o mundo e compreendam o contexto

social e histórico de que são frutos e que, pelo acesso ao conhecimento, sejam

capazes de uma inserção social e transformadora na sociedade, onde todos tenham

oportunidades.

Quanto ao papel da escola pública ela se define de formas diferentes,

dependendo das políticas públicas que estão em vigor. Sendo assim, os sujeitos da

escola pública são frutos de seu tempo histórico e das relações sociais em que está

inserido, um ser único e singular atuando no mundo da maneira como compreende e

como pode participar. Os sujeitos da educação básica devem ter acesso ao

conhecimento produzido pela humanidade por meio de disciplinas escolares dando

ênfase a socialização do conhecimento. É este conhecimento que lhe possibilitará

compreender o mundo em suas contradições e, à luz da história dos homens,

moverem esforços para mudar sua prática social. Sendo esta função da instituição

escolar importante para os estudantes das classes menos favorecidas, que tem nela

alguma oportunidade, ou única, de acesso ao conhecimento científico da reflexão

filosófica e do contato com a arte, enfatizando a importância de todas as disciplinas

(DCE, 2009).

O papel da escola só será alcançado se todos os profissionais da educação

forem responsáveis pela escola, pela sociedade, pelos alunos e pela aprendizagem.

Independente da condição social e econômica, se pertencente ao grupo

étnico e cultural e possíveis necessidades especiais de aprendizagem, à escola

cabe promover a aprendizagem para todos.

41

Contribuições da participação da família na aprendizagem escolar

Escola e família têm diferentes formas de educar. Na escola a educação é

formal com objetivos e uma intencionalidade, no entanto na família a educação é

informal, mas é possível alegar que os pais ao agirem educativamente fazem com a

intenção de educar. Os pais são os primeiros educadores e cuidadores ao mesmo

tempo, e o primeiro contexto de desenvolvimento (Coll, 1999).

É dever da família independente de situação econômica e social contribuir

para a socialização dos filhos em relação aos valores socialmente constituídos,

oferecer proteção e cuidado garantindo-lhes subsistência em condições dignas, dar

suporte à evolução das crianças e ajudá-las no processo de escolarização e de

instrução progressiva em outros âmbitos e instituições sociais. Devem também

ajudar os filhos a serem pessoas emocionalmente equilibradas, capazes de

estabelecer vínculos afetivos satisfatórios e respeitosos com os outros e consigo

mesmo.

Assim Bordieu (1984), considera que na trajetória social dos indivíduos, a

família tem um papel de primeira ordem, porque, juntamente com a escola, é a

responsável pela transmissão cultural, a sua eficiência depende do grau em que a

mesma família participe dessa cultura.

Todo ambiente deixa ao alcance de forma mais ou menos intencional,

experiências educativas com aprendizagem ou elementos da cultura popular e

científica promovendo o desenvolvimento pessoal através da aprendizagem

construtivista. A aprendizagem é o motor do nosso desenvolvimento, pois se

ampliam as possibilidades de relacionar-se com os outros de maneira construtiva, de

inserir-se de forma satisfatória nos grupos e instituições sociais e de se ver uma

pessoa competente.

É imprescindível conceber a escola como espaço incondicional de

socialização do conhecimento e de instrumentalização da comunidade escolar. Dois

fatores importantes se destacam: a participação dos pais no acompanhamento da

aprendizagem, considerando suas condições concretas e objetivas, situadas nas

contradições sociais, que condicionam esta possibilidade de acompanhamento. O

outro é o papel da escola na promoção desta aprendizagem a partir da clareza de

42

sua função social, dos instrumentos e critérios de avaliação dos processos de ensino

e aprendizagem e da própria prática pedagógica.

A escola pública tem o dever de prever mecanismos institucionais que

estimulem a participação de alunos, pais e comunidade escolar, buscando a

superação da situação atual de precariedade do ensino público, visando ações

efetivas que contribuam para o desempenho escolar (PARO, 1995).

O ensino de qualidade leva em conta os interesses dos usuários e se

priorizam formas eficazes de proceder à avaliação do desempenho da escola

envolvendo nesse processo os próprios usuários que são os beneficiários de uma

educação de qualidade. Os conselhos de classe precisam perder o caráter

burocrático e responsabilizador do baixo rendimento dos alunos a fatores externos a

escola. É preciso que os mecanismos institucionais avaliem não apenas o

desempenho dos alunos, mas todo o processo escolar, tendo os pais e alunos como

avaliadores, pois eles são usuários da escola e seus interesses devem ser

considerados. Sendo que a escola tem funções específicas de transmitir o

conhecimento científico, histórico-cultural produzido pela sociedade, esta não teria a

função somente de dar uma educação de qualidade, mas dar continuidade a

educação familiar e aos pais caberia dar apoio e contribuição na aprendizagem

escolar. Por essa razão é necessário que haja integração dos pais na escola

favorecendo a educação e beneficiando o ensino da escola pública. É no seio da

família que deveriam se desenvolver hábitos de estudo, pois é um local preparado

para o aprendizado desses hábitos antes da criança frequentar a escola (PARO,

2007).

Observa-se que os pais na maioria das vezes não têm tempo disponível

para estar com os filhos devido à intensa jornada de trabalho e tentam suprir a

ausência com presentes. A família precisa analisar e refletir sobre sua função

promovendo o crescimento e interessando-se por seu aprendizado intelectual

transformando os laços familiares em sua experiência de crescimento entre pais e

filhos contribuindo para a eficácia do processo ensino aprendizagem (PRESTES

2004).

Estuda-se a aprendizagem em diversas concepções e teorias. Vivem-se um

tempo em que as pessoas devem ter flexibilidade e criatividade diante das

mudanças, conviver com as diferenças e desigualdades. A aprendizagem garante a

continuidade do processo histórico de cada época e a conservação da sociedade

43

como tal e a implementação de transformações sociais. É um processo de encontro

e diálogo entre sujeitos. Envolve ação e diálogo, construção e reconstrução de

conhecimentos, referências do passado associadas ao presente e futuro (ROSA,

2001).

A família e a escola como outras instituições passaram por mudanças e

acabaram redefinindo seu significado, sua estrutura e seu papel. A família cumpria a

função que assegurava a transmissão da vida, dos bens, nomes, uma cultura, um

estilo de vida moral, ético, religioso sendo responsável pela forma singular de

vivenciar esse patrimônio.

No final do século XVIII os pais começaram a se interessar em proporcionar

a todos os filhos uma aprendizagem assegurada pela escola. A família e a escola

como outras instituições passaram por mudanças e acabaram redefinindo seu

significado, sua estrutura e seu papel.

Quando nos referimos à família, estamos nos referindo às de hoje, com as

quais o aluno convive, pois o modelo de família sofreu grandes transformações.

Algumas não sabem como impor limites, são omissas, não esclarecem aos filhos

que eles têm direitos e deveres a cumprir. Nestes casos a família transfere para a

escola quase toda a responsabilidade de educar os filhos. Cabe, pois, considerar

que, “um ambiente familiar [...] é aquele em que a criança convive, sejam com pais,

avós, tios, etc., pois serão essas pessoas que o influenciarão e direcionarão sua

conduta” (OLIVEIRA, 2005, p. 50).

No parágrafo único, artigo 53, do Estatuto da Criança e do Adolescente

(ECA), afirma-se que é direito dos pais e/ou responsáveis ter ciência do processo

pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais. À escola

compete cumprir suas funções relacionadas à aprendizagem escolar dos alunos e

criar formas para que a família possa acompanhar esse trabalho.

Espera-se que a família dê continuidade a educação dada pela escola de

forma que os pais ajudem na tarefa dos filhos e a escola propicie formas de

contribuição dos pais na vida escolar dos filhos. Considera-se importante o

desenvolvimento de hábitos de estudo e valorização do conhecimento e a família

seria o lugar privilegiado para se desenvolver tais hábitos, mesmo antes da criança

freqüentar a escola.

A escola está se responsabilizando pelo papel dos pais na educação dos

filhos devido às mudanças ocorridas na estrutura familiar. Os pais são permissivos

44

esquecendo que os filhos necessitam de apoio, educação e que eles têm direitos,

mas também deveres a cumprir. É preciso que a família pense e analise sobre sua

função e dever que lhe é designado de educar os filhos, interessar-se pelo seu

aprendizado intelectual contribuindo para a eficácia e melhoria do processo ensino

aprendizagem (PRESTES, 2004).

Muitas discussões sobre o fracasso escolar acabam se transformando em

tentativas de descobrir quem são os culpados, os pais esperam ações dos

professores e os professores depositam nos pais grandes expectativas das quais

eles não tem condições ou não sabem o que fazer, prejudicando o estudante que

deveria ser a prioridade tanto da escola como da família (PATTO, 1997).

A percepção do fracasso escolar segundo (Patto, 1997) é dificultada por

justificativas para o desempenho do sistema educacional, deslocando discussão de

um problema coletivo, social para o plano individual de falhas da criança.

O fracasso escolar entendido como a soma das taxas de retenção e evasão

escolares, é um dos problemas sociais mais graves do Brasil, o maior na área

educacional. A superação do fracasso escolar depende de uma mudança de olhar

ao invés de justificá-lo pelas carências da criança, o que ela não sabe, sua condição

de carência global enfim, assumi-lo como mais um desrespeito a um direito

fundamental do ser humano : o direito de aprender, o direito ao ensino, o direito ao

acesso aos bens culturais (PATTO,1997).

Para Vigotski (1992), uma das principais dificuldades na prática educativa é

a separação dos aspectos intelectuais de um lado e os afetivos do outro, pois o

funcionamento psicológico tipicamente humano, segundo ele, é o intelectual e o

afetivo. Daí decorre a importância dos laços familiares e que antecedem os laços

escolares. Busca-se a união da família com a escola, pois o cidadão que formamos

não é somente nosso aluno, mas um integrante de uma comunidade que precisa de

orientação, sendo assim plantamos uma semente de mudança (PRESTES, 2004).

É fundamental a parceria entre a educação familiar e a escolar, buscando

formas de conseguir a adesão da família para sua tarefa de desenvolver nos

educandos, atitudes positivas e duradouras com relação ao aprender e estudar.

Com essa atitude grande parte do trabalho do professor seria facilitada se ele fosse

estimulado e motivado (PARO, 2007).

Estudos mostram que a participação da comunidade na escola pública nem

sempre está ligada à tomada de decisões ou como mera forma de prestação de

45

serviços ou contribuição financeira, mas visam ações efetivas que contribuam para o

bom desempenho do estudante (PARO, 2007).

O mesmo autor afirma ainda que a participação da comunidade na escola,

como todo processo democrático, é um caminho que se faz ao caminhar o que não

elimina a necessidade de se refletir previamente a respeito dos obstáculos e

potencialidades que a realidade apresenta para a ação (PARO, 2003). E para que a

escola pública reverta a situação indesejável em que se encontra exige-se

movimentos em todos os níveis e instâncias da sociedade. Portanto quando se

reinvidica um espaço de participação na escola é por que é imprescindível para que

se faça uma escola de boa qualidade (Paro, 2003).

Paro (2003) diz também que é preciso proporcionar meios para que os pais

participem da vida escolar dos filhos, não basta só permitir que os pais participem

mais que haja condições propiciadoras desta participação. Uma das medidas seria a

instituição facilitar a participação na escolarização dos filhos. Os pais teriam um

determinado tempo de isenção de horas do trabalho sem perdas para comparecer à

escola e comprovar sua participação em reuniões sobre a vida escolar dos filhos,

tudo isso teria que ser regulamentado para ter maior credibilidade. Isto seria de

fundamental importância numa escola participativa, pois os problemas escolares e

as decisões a respeito da educação de seus filhos teriam que ser solucionados na

escola e com a participação concreta da camada dos trabalhadores.

Dificilmente a participação da família na escola conseguirá alguma mudança

se não partir de uma postura positiva da instituição escolar com relação aos que

fazem parte dela, em especial pais e responsáveis, dando oportunidades para

diálogos de convivência verdadeiramente humana. “Levar o aluno a querer”

aprender implica um acordo tanto com educandos, fazendo-os sujeitos, quanto com

seus pais, trazendo-os para o convívio da escola, mostrando-lhes quão importante é

sua participação e fazendo uma escola pública de acordo com seus interesses de

cidadãos (PARO, 1995).

Participação é um processo de conquista não somente por parte da

comunidade ou dos interessados, mas do professor, gestor, alunos, pais, enfim

todos os funcionários da instituição. Ela é fator fundamental na formação para a

cidadania.

A participação dos pais na vida escolar dos filhos buscando um melhor

desempenho escolar pode ter abordagens diferentes. Uma delas trata-se de que a

46

função de ensinar é da escola, não cabendo aos pais arcar com toda

responsabilidade. Por outro lado os pais têm direito a uma boa educação escolar

para seus filhos sem ter de trabalhar para a escola. É claro que o fato da escola ter

funções específicas não a isenta de dar continuidade entre educação familiar e

escolar, por outro, é possível imaginar um tipo de relação entre pais e escola que

não esteja fundada na exploração dos primeiros pela segunda. Pode-se pensar

numa integração dos pais com a escola, em que ambos se apropriem de um bem

cultural para ambos e, por outro, pode favorecer a educação escolar, tornando em

benefício dos pais, na forma de melhoria da educação dos seus filhos.

À escola cabem todas as responsabilidades que não são suas, mas sim uma

questão social, que envolve o governo, a sociedade civil organizada e a família que

são referenciais da formação de caráter, ética, crença e moralidade do sujeito do

processo em questão. É claro que a escola tenha responsabilidade social, pois a ela

compete promover a inclusão, o respeito à diversidade e a individualidade, despertar

para a construção do “eu” e a descoberta do “outro”, e antes disso cabe à família,

instituição primeira na vida da criança, desenvolver a afetividade, a sensibilidade, o

respeito, os limites, o conviver. A educação ainda é o caminho para a construção de

uma sociedade igualitária e a família continua sendo o princípio dessa formação.

Segundo Vigostsky o ensino aprendizagem deve ter como ponto de partida o

desenvolvimento real da criança e como ponto de chegada os conhecimentos que

estão por vir, ou seja, a escola tem o papel de fazer o aluno avançar em sua

compreensão do mundo, a partir de seu desenvolvimento já consolidado tendo em

vista as etapas posteriores, ainda não alcançados (Oliveira, 1993).

Portanto a relação família e escola devem ser tratadas com medidas

específicas para seu real contexto de ações voltadas para a educação integral da

criança, criando um ambiente receptivo a todos, propondo uma educação de

qualidade.

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