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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ –SEED

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ – UENP

CAMPUS DE JACAREZINHO –

NÚCLEO REGIONAL – CORNÉLIO PROCÓPIO

UVA RUBI: MEMÓRIA, IDENTIDADE E ENSINO DE HISTÓRIA

SANTA MARIANA – PARANÁ

2010

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ - SEED

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ – UENP

CAMPUS DE JACAREZINHO

NÚCLEO REGIONAL - CORNÉLIO PROCÓPIO

MARIA REGINA MASSAN CARDONAZIO

UVA RUBI: MEMÓRIA, IDENTIDADE E ENSINO DE HISTÓRIA

Produção Didático

Pedagógico – Caderno Temático

apresentado ao Colegiado do Curso de

História do Centro de Ciências

Humanas e da Educação da

Universidade Estadual do Norte do

Paraná, campus Jacarezinho, como

parte das atividades do Programa de

Desenvolvimento Educacional do

Governo do Paraná – PDE/2009.

Orientador: Prof. Me.

Maurício de Aquino

__________________________________________________

SANTA MARIANA – PARANÁ

2010

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APRESENTAÇÃO

É com orgulho que apresento à rede Estadual de Educação, o

resultado de uma das atividades realizadas pelo Programa de Desenvolvimento

Educacional, do Paraná. Programa este inédito, criado pelo governo Estadual.

Uma política de formação continuada e de valorização dos professores da

Rede Pública Estadual em parceria com o Ensino Superior, visando melhoria

na Educação Básica. Programa este, que nos proporcionou um retorno à

Universidade, para aprofundamento de estudo e atualização de

conhecimentos.

Apresento o Caderno Temático “Uva Rubi: Memória, Identidade

e Ensino de História”. Material elaborado com o objetivo de propiciar aos

alunos do Colégio Estadual “Joaquim Maria Machado de Assis” uma

sensibilidade acerca da memória e cultura local, motivando-os a aproveitar

diferentes momentos que oportunizem análise de diferentes fontes, através de

postura reflexiva que estimule o gosto pelo saber. Conhecer a história local é

fundamental para que saibamos interpretá-la e dar-lhe a devida evidência.

O presente material, que constitui, em parte o histórico da

colonização do Paraná, do município de Santa Mariana e o cultivo da Uva Rubi,

presta uma singela homenagem a família do Sr. Okuyama, que sempre viveu

da agricultura e que no final da década de 1960 decidiu-se arriscar na

produção de uva Itália.

Como bem o diz a historiadora Selva G. Fonseca(2006,p.62):

É preciso romper com a formação livresca, distanciada da realidade educacional brasileira [...] o professor de história é produtor de saberes, capaz de assumir o ensino como descoberta, investigação, reflexão e produção.

A LDB, Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional,

enfatiza a necessidade de se observar as características locais e regionais da

sociedade e da cultura. A lei abre espaço para uma proposta de ensino de

História local e determina que o ensino de História no Brasil leve em

consideração as contribuições de diferentes etnias e cultura para a formação

do povo brasileiro.

Desta forma, a necessidade de valorizarmos nossa memória e

cultura local para a construção indispensável de uma escola verdadeiramente

plural e cidadã é que articulamos a pesquisa.

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Enquanto professores/educadores devemos ser agentes de

transformação, reflexão e reconstrução da experiência humana, para

podermos realmente alcançar a verdadeira aprendizagem, sempre partindo da

micro para a macro história. As Diretrizes Curriculares, enfatizam a importância

da história local, como forma de aproximar o aluno da realidade, além levá-los

a uma investigação sobre o surgimento da Uva Rubi, no município de Santa

Mariana.

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AGRADECIMENTOS

Ao findar este Caderno Temático não poderia deixar de

agradecer primeiramente a Deus, por me conceder o privilégio de conviver com

inúmeras pessoas maravilhosas que estiveram juntas durante a minha

caminhada e que contribuíram de diferentes formas para a viabilização do meu

trabalho .

Meu agradecimento em especial ao professor orientador Me.

Maurício de Aquino (UENP), pela paciência, dedicação e confiança depositada

em meu trabalho, pela presença sempre vigilante e firme comigo, sempre

orientando e sanando minhas muitas dúvidas e incertezas de meu estudo.

Ao meu esposo Vitor, que esteve sempre paciente, diante do

meu stress no dia-a-dia, presente com palavras de confiança e estímulo de

que seria capaz de terminar o meu trabalho. Aos meus filhos, Rafael, Rafaela

e Rodolfo, pelo carinho e dedicação me auxiliando quanto a formatação e

fotografias inseridas no trabalho.

À equipe gestora, equipe pedagógica, funcionários e

professores, meus colegas e amigos, em especial a Professora Ana Paula

Tomazini Helbel, que muito me estimulou e auxiliou quanto à construção, ao

desenvolvimento do Projeto e do Material Didático, correção ortográfica,

concordância, formatação e implementação do mesmo. Agradecimento

especial pelo apoio dada a nossa iniciativa.

A Professora Ana Beatriz Albino assessora pedagógica (CRTE)

minha gratidão pelos ensinamentos repassados com muita competência e

paciência nos Cursos Sacir e Moodle e pela amizade construída ao longo

desse período.

Aos professores PDE 2009: Maria do Carmo, Cristina, Rose,

Dora, Mariza, Angélica, Marcio Polido e Cipriano em especial a Rosiana

Caldonazzo Rosa, (Bambam) cunhada/amiga e irmã que durante todo este ano

de curso e trabalho sempre esteve presente ajudando, auxiliando,

conversando, inserindo trabalhos no e-escola e no Sacir, telefonando,

passando e-mail para sanarmos dúvidas de trabalho, pelas viagens que

fizemos à Jacarezinho, Ponta Grossa, Cornélio Procópio e demais localidades

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de curso, pela amizade construída ao longo de todo este período a minha

gratidão sincera.

“A memória, na qual cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir ao presente e ao futuro. Devemos trabalhar de forma que a memória coletiva sirva para libertação e não para servidão dos homens” (LE GOFF. p,471)

Enfim, meu agradecimento a todos, que me ajudaram, direta ou

indiretamente para realização do meu trabalho, vocês estarão sempre presente

em minha memória, no meu trabalho e no meu coração, muito obrigado!

MARIA REGINA MASSAN CARDONAZIO

Autora

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa: O Caminho do Café no Paraná ............................................... 7

Figura 2 - Mapa da Ferrovia São Paulo - Paraná .............................................. 9

Figura 3 – Praça Matriz de Santa Mariana ....................................................... 11

Figura 4 - Entrada de Santa Mariana – Rod. 369 ............................................ 13

Figura 5 – Estação Ferroviária ......................................................................... 14

Figura 6 – Cultura de Trigo ............................................................................... 15

Figura 7 – Uva Rubi ......................................................................................... 16

Figura 8 – Uva Rubi ......................................................................................... 17

Figura 9 – Homenagem Sr. Okuyama .............................................................. 19

Figura 10 – Homenagem Sr. Okuyama ............................................................ 19

Figura 10 – Imagem Área de Santa Mariana .................................................... 22

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Expansão de Abril a Dezembro do Primeiro Ano ........................... 10

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SUMÁRIO

1 – IDENTIFICAÇÃO .......................................................................................... 1

2 - TEMA DE ESTUDO DA INTERVENÇÃO: ..................................................... 1

3 – TÍTULO ......................................................................................................... 1

4 – INTRODUÇÃO ............................................................................................. 1

5 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA/REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................... 3

5.1 - Ocupação do Norte Novo do Paraná ..................................................... 6

5.2 - A Missão Montagu ................................................................................. 7

5.3.- A Ferrovia .............................................................................................. 9

6 – HISTÓRICO DA CIDADE ........................................................................... 11

6.1 - História da Uva Rubi no Município de Santa Mariana .......................... 16

6.2 - A Uva “Rubi é Marianense ................................................................... 17

7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 23

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SECRETARIA DE ESTADO DA E DUCAÇÃO - SEED

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

PLANO DE TRABALHO DE INTERVENÃO PEDAGÓGICA

1 – IDENTIFICAÇÃO

1.1 - Professora PDE: Maria Regina Massan Cardonazio

1.2 - Área: HISTÓRIA

1.3 - N.R.E. Cornélio Procópio

1.4 - Professor Orientador: Me. Maurício de Aquino

1.5 - IES vinculada: UENP – Campus de Jacarezinho

1.6 - Escola de Implementação: Colégio Estadual Joaquim Maria

Machado de Assis – Ensino Fundamental e Médio

1.7 - Público e objeto de intervenção : Alunos da 8 Série “A”.

2 - TEMA DE ESTUDO DA INTERVENÇÃO:

Didática e o Ensino de História

3 – TÍTULO

Uva Rubi: Memória , Identidade e Ensino de História

“UVA RUBI : MEMÓRIA, IDENTIDADE E ENSINO DE HISTÓRIA’

4 – INTRODUÇÃO

O Paraná é uma das 27 unidades federativas do Brasil . Está

situado na região sul do país e tem como limites São Paulo ao Norte e leste,

oceano Atlântico (leste), Santa Catarina (sul), Argentina (sudoeste) Paraguai

(oeste) e Mato Grosso do Sul (noroeste). O início do desbravamento de seu

território marcou sua integração na História do Brasil e no contexto mundial.

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No século XVI o Paraná, então em grande parte pertencia a

coroa Espanhola, foi colonizado primeiramente pelos jesuítas. Em 1576, foi

fundado à margem esquerda do rio Paraná, Vila Rica do Espírito Santo. Com

três cidades e diversas reduções ou pueblos a região ficou denominada com o

status de “Província Real Del Guaira”. No século XVII os bandeirantes paulistas

e, faziam incursões periódicas em seu vasto território, capturando-lhe os índios

livres para escravisar-lhes. Já em 1629, os estabelecimentos dos Padres

Jesuítas, com exceção de Loreto e Santo Inácio, estavam completamente

devastados pelos bandeirantes paulistas e, em 1632, Vila Rica do Espírito

Santo, último reduto espanhol capaz de oferecer resistência foi sitiado e

devastado por Antonio Raposo Tavares. Somente em 1820 o território ocidental

do Paraná passou definitivamente a coroa Portuguesa passando a integrar

politicamente a província de São Paulo, sendo conhecida como “Comarca de

Curitiba”.

O povoamento do Paraná resultou em três ciclos: à mineração,

a criação e o comércio de gado e a pequena agricultura.

No início do século XVIII, caravanas de tropeiros abriram o

caminho para transporte de gado desde o Rio Grande do Sul, até a baixada

paulista e os campos de Minas Gerais.

No final do século XIX e início do século XX, o Norte do

Paraná, uma região de terra roxa muito fértil, era, uma extensa floresta. A

colonização espontânea foi marcada pelo arrojo de homens saídos de Minas

Gerais ou São Paulo, que foram chegando à área de Cambará, entre 1904 e

1908. Rapidamente, a faixa ente Cambará e o Rio Tibagi – uma linha que

representaria o futuro percurso da ferrovia São Paulo-Paraná – foi tomada por

grandes propriedades cujos donos, via de regra, as subdividiram em pequenas

parcelas vendidas como lotes urbanos ou rurais.

É nesta faixa de terra que surge Santa Mariana, entre os

assentamentos de núcleos básicos de colonização na rota de eixo rodo-

ferroviário estabelecidos progressivamente, a uma distância de 100 quilômetros

uns dos outros, que definiram em ordem: Londrina, Maringá, Cianorte e

Umuarama, cidades planejadas. Entre esses núcleos urbanos principais,

fundou-se, de 15 em 15 quilômetros, pequenos patrimônios, cidades bem

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menores com Santa Mariana, uma das muitas cidades que surgiram com a

finalidade de abastecer a população rural.

Como a maior parte das cidades da Região do Norte Novo do

Paraná, Santa Mariana, surgiu ao redor da ferrovia, pois no início do século XX,

havia a necessidade do transporte de café. A ferrovia na época era o único

meio de transporte da região.

Neste material busquei integrar a história do Paraná, história

do Município de Santa Mariana e o surgimento da Uva Rubi, para assim

podermos fazer uma relação entre micro e macro história. Pretendo resgatar a

memória e a cultura local e fazer com que nossos educandos se sintam

sujeitos integrantes da nossa história e possam fazer uma reflexão sobre o

assunto.

5 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA/REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Por meio das Diretrizes Curriculares, a História tem como

objetivo de estudo os processos históricos relativos às ações e às relações

humanas praticadas no tempo, bem como a respectiva significação atribuída

pelos sujeitos, tendo ou não consciência dessas ações. As relações humanas

produzidas por essas ações podem ser definidas como estruturas sócio-

históricas, ou seja, são as formas de agir, pensar, sentir, representar, imaginar,

instituir e de se relacionar social, cultural e politicamente. (DCN, 2009, p.46)

Foi pensando no homem como objeto e sujeito de estudo,

levando-o a ter consciência de sua importância dentro da sociedade que se

apresenta é que iniciamos nosso trabalho, propondo um material que permita

ao educando uma reflexão sobre o surgimento da Uva Rubi, no município de

Santa Mariana, onde eles possam sentir-se parte integrante da história local e

que os leve a perceber que somos agentes transformadores de uma sociedade

e que mesmo vivendo em uma comunidade pequena, também contribuímos

para formação histórica do Norte Novo do Paraná.

Os historiadores da Nova História Cultural, tais como Carlo

Ginzburg e Giovanni Levi, compreenderam, por meio da micro-história, que a

relação entre local e o universal é um problema de escalas. Para eles, esta

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diferença se refere a distintos graus nas perspectivas de análise. Um olhar

local é um procedimento fundamental para perceber as fissuras nas estruturas

sócio-históricas, e apontar caminhos que mapeiam as transformações

estruturais que ocorrem durante a constituição do processo histórico. (DCE.

2009, p.63)

Neste sentido ter um olhar crítico à cultura local é fundamental

para entendermos mudanças e permanências, transformações estruturais que

ocorreram na sociedade marianense durante o processo de cultivo da uva

Rubi. Procurar entender as mudanças que ocorrem em nossa sociedade, no

início do século XXI, que fez com que grande parte da produção de Uva, até

então cultivada para venda, hoje devido a agrotóxicos esteja em decadência.

Que nossos educandos, tenham consciência do seu passado,

visto que este está sempre presente em nossa memória. Memória está, que

muitas vezes feita de fragmentos dispersos, ou sem nexos, elaborada pelo jogo

da lembrança e do esquecimento, muitas vezes fugitiva. Porém esta memória é

o resultado do trabalho de reapropriação e de negociação que toda pessoa faz

em relação ao passado. Não podemos deixar no esquecimento da memória,

pois devemos retratá-la, para conhecimento de outros.

Para Hobsbawm, a História não é uma simples descrição de

fatos ocorridos ocasionalmente na experiência humana, mas a possibilidade de

compreender os problemas que a caracterizam e quais devem ser as

condições para sua solução. É fazer uma reflexão positiva dos fatos nos quais

estamos inseridos, "por mais insignificantes que sejam os nossos papéis –

como observadores de nossa época..." para ele, o ofício dos historiadores é

lembrar o que os outros esquecem, o que consequentemente os torna de

fundamental importância na construção da experiência humana.

Sabemos que a tradição oral é uma forma de transmitir cultura

e conhecimento de uma geração para outra, onde as pessoas mais velhas

deveriam ter dentro de nossa sociedade um papel mais valorizado, são

pessoas sábias, visto que a experiência de vida são fundantes neste processo

de construção do conhecimento sistematizado e elaborado.

A tradição oral pode ser vista como um sistema coerente e

aberto para construir conhecimentos. A tradição oral e a pesquisa acadêmica

podem ter idéias diferentes acerca do que seja uma evidência legítima, e suas

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explicações certamente são estruturadas de forma diferente. (FERREIRA,

2006, p.155)

Desde os primórdios da história das civilizações percebemos

as imagens presentes, nas relações entre homem e mundo. O homem sempre

se expressou através de imagens. As fotografias nos contam histórias, revelam

costumes, práticas, pois evita o esquecimento garantindo sua durabilidade no

tempo.

Porém a fotografia não vale por mil palavras, pois ela é apenas

um complemento de informações uma pista para desvendarmos o passado.

São fatos congelados que nos faz revivermos o passado tal como era ou como

imaginamos que seria. Devemos enxergar a fotografia como um documento

histórico e não apenas ilustração de um trabalho. Ao analisarmos a fotografia,

quantas maravilhas descobrimos e quantas hipóteses levantamos.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais, a

organização do currículo para o ensino de História está dividido em Conteúdos

Estruturantes, procurando através dele aproximar e organizar campos da

História e seus objetos.

Os Conteúdos Estruturantes: Relação de Trabalho, Relação de

Poder e Relações Culturais. São conteúdos que apontam para o estudo das

ações e relações humanas que constituem o processo histórico, o qual é

dinâmico.

Por meio destes conteúdos Estruturantes, relações Culturais

para o estudo da temática proposta no Projeto de Intervenção Pedagógica na

Escola, consiste em refletir, o que é vivenciado pelo homem no tempo atual,

estar ligado aos remotos da história, fazer romper com o tradicionalismo,

buscar novas metodologias, onde nossos educandos possam sentir gosto

pelas aulas de história. Para assim construir um saber elaborado.

A finalidade do ensino de História é a formação do pensamento

histórico dos alunos por meio da consciência histórica. Pode-se afirmar, a partir

disto, que os Conteúdos Estruturantes são imprescindíveis para o ensino de

História, pois são entendidos como fundamentais na organização curricular e

são a materialização desse pensamento histórico. Esses Conteúdos

Estruturantes são carregados de significados, os quais delimitam e selecionam

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os conteúdos básicos ou temas históricos, que por sua vez se desdobram em

conteúdos específicos. (DCE. 2009, p.63)

5.1 - Ocupação do Norte Novo do Paraná

A região denominada “Norte Novo” limita-se ao Norte com o

Rio Paranapanema, ao Sul com a cidade de Manoel Ribas , a Leste com o Rio

Tibagi e a Oeste com o Rio Ivaí, compreendendo as cidades-polo de Londrina,

Maringá , Apucarana e Ivaiporã. A denominação de “Novo” para essa parte da

região vincula-se de certo modo à forma de sua colonização que foi bastante

diferenciada do chamado Norte Pioneiro.

Boa parte desta região (compreendendo as cidades de

Londrina, Maringá e Apucarana) foram colonizadas por uma companhia

inglesa, portanto iniciativa privada.

A Região, que era povoada por índios coroados e caboclos,

despertou interesse de empresas de colonização como a Companhia

Marcondes de Colonização, Indústria e Comércio, “A terra (...) sempre foi

ocupada, antes e durante a colonização portuguesa pelos índios e depois pelos

bandeirantes que procuravam escravizar estes índios e conquistar as terras

para o domínio português.” (OBERDIECK, 1997, p.15)

Esta companhia pertencia ao sertanista José Soares

Marcondes. Este sertanista foi pioneiro da Alta Sorocabana desde 1919, tendo

fundado aquela Companhia em 25 de Outubro de 1920. Como o Sr. Marcondes

não entendia do gerenciamento da Companhia, a presidência da empresa foi

confiada ao Sr. Custódio Coelho (ex-diretor do Banco do Brasil na época).

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Figura 1 - Mapa: O Caminho do Café no Paraná

Este administrador não foi fiel àquela empresa, tirando proveito

pessoal e desviando valores para viagens ao exterior à procura de crédito aos

colonos. Suas despesas pessoais eram grandes e os empréstimos no exterior

(ingleses) vultuosos, e com isso, descapitalizou a empresa de tal forma que,

quando o dono e seus herdeiros perceberam quão grave era a situação, não

havia mais como evitar a falência da Companhia, e nem tão pouco evitar a

perda da concessão dos 500 mil alqueires concedidos pelo Governo Estadual

para o projeto de Colonização. O governador, Sr. Afonso Camargo, ao

considerar que o prazo para colonização havia expirado, retirou-as da

Companhia Marcondes e transferiu-as para uma companhia inglesa.

5.2 - A Missão Montagu

Os ingleses em sua expansão imperialista, sempre buscaram a

aplicação de seus capitais com retorno garantido. A crise financeira que,

acometeu os países europeus após a Primeira Guerra Mundial, atingiu também

a Inglaterra, impedindo-a de realizar altos investimentos no exterior. Porém, no

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Brasil era diferente, pois, devedor aos bancos ingleses, dava margem à

parceria em projetos de colonização.

Portanto, o principal objetivo da visita dos ingleses ao Brasil em

1923, num evento conhecido como “Missão Montagu”, foi solucionar a dívida

externa brasileira. A Missão Montagu chegou em 31 de Dezembro de 1923,

tendo sido organizada por bancos credores ingleses, o que vem confirmar seu

objetivo.

Não houve nenhum convite por parte do então Presidente da

República Sr. Artur Bernardes.

Simon Joseph Frazer (Lord Lovat) além de assessor da Missão

Montagu, também teria como objetivo verificar se havia retorno, caso fossem

aplicados capitais ingleses para obter produção de algodão em larga escala,

para atender as necessidades da indústria de tecidos ingleses. Lovat teria

ficado impressionado com a terra roxa de Cambará, propondo a compra,a

intenção era destruir as plantações de café e plantar algodão. Mas o

proprietário recusou a proposta de venda, Lovart foi alertado, de que poderia

adquirir terras roxas com baixos preços, do próprio Estado do Paraná, isto

porque havia grande dificuldades de transporte.

Segundo objetivo de Lovat, era estudar as reservas florestais,

ou seja “avaliar as reservas de madeira-de-lei e avaliar a rentabilidade de um

plano de loteamento”. (JOFFILY,1995, p.74)

Outro fator que atraiu a atenção dos ingleses, foi a existência

de um ramal ferroviário. Visualizando a possibilidade de muitos outros

empreendimentos, do que apenas o plantio de algodão, a Brazil Plantations

Syndicate Ltd, foi desativada, fundou-se a Paraná Plantation Ltd., com capital

de 750.000 libras, em Londres.

No Brasil criou-se a sua subsidiária, a Companhia de Terras

Norte do Paraná (CTNP). Em 1925 a Companhia de Terras Norte do Paraná,

adquiriu 350.000 alqueires de terras do Estado do Paraná e continuou

comprando mais terras até chegar 544.017 alqueires, o que correspondia a

décima sexta parte da área total do Estado.

O Estado do Paraná acreditava que ganharia com a

colonização privada, primeiro porque a venda das terras para Companhias

privadas ainda que por preços baixos e doze anos para pagar, dariam maiores

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lucros do que as simples concessões; depois, ao serem emitidos os títulos de

posse, poderiam recolher impostos dos donos dos lotes e da produção e

comercialização neles desenvolvidos.

5.3.- A Ferrovia

Figura 2 - Mapa da Ferrovia São Paulo - Paraná http://bp0.blogger.com/_QX59rhqBelE/R5t2Beu6mpI/AAAAAAAAAwM/-38aXt8my5E/s1600-

h/spp_map.jpg

Em todo o projeto de colonização da Companhia de Terras

Norte do Paraná, esteve presente e com destaque a ferrovia. Responsável pela

integração social e econômica da região, com o resto do Estado e do país, a

trajetória de sua construção foi bastante longa.

Por iniciativa do Major Antonio Barbosa Ferraz, juntamente

com outros fazendeiros da região – fundou a Estrada de Ferro São Paulo-

Paraná (EFSPP) visando estender os trilhos de Ourinhos à Cambará. A

Companhia Agrícola Barbosa, acreditava que de nada adiantava produzir sem

ter como transportar.

A permissão para construção da ferrovia SP-PR pelo grupo

paulista, chegou em Agosto de 1920, dada pelo Presidente Caetano Munhoz

da Rocha. No princípio acreditava-se que o ramal acabaria se adaptando a

outras linhas do Estado e ligando-se à Curitiba – Paranaguá. Entretanto, o que

ocorreu foi o contrario. Este trecho da Estrada, media 29 km, e os trabalhos

ficaram a cargo do engenho Gastão de Mesquita Filho. Porém, quando ficou

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pronto em junho de 1924, os dirigentes da AP-PR, estavam cientes de que não

teriam condições financeiras para ir além da estação de Cambará. Por esse

motivo, decidiram atrair a atenção do ingleses da Missão Montagu.

Essa Companhia que faliu em 1927, foi extinta em 1929,

através de um Decreto. Porém, as negociações das terras da antiga

concessão, foram feitas com os ingleses em 1925.

A presença daquele ramal ressaltou interesses ingleses com

relação à ferrovia. Três anos depois (1928) após ter estendido esse ramal até

às margens do Rio Paranapanema, a CTNP comprou quase todas as ações da

Companhia Ferroviária São Paulo – Paraná (CFSP-PR) e comprometeu-se

com o governo estadual de entregar a linha entre Cambará e Jataí (um pouco

mais de 200 km) em três anos.

Dessa forma, têm-se a seguinte tabela da expansão de Abril

a Dezembro do primeiro ano.

Abril 1930 Ingleses chegam com

a ferrovia ao Ingá (Andirá)

Junho 1930 Ingleses chegam com

a ferrovia ao km 82 (Bandeirantes)

Dezembro 1930 Ingleses chegam com

ferrovia ao km 107 ( Santa Mariana) e

ao km 125 (Cornélio Procópio)

Fonte: WACHOWICZ, Norte Velho, Norte Pioneiro, 1987 a.p.144

Tabela 1 – Expansão de Abril a Dezembro do Primeiro Ano

Cornélio Procópio é um município brasileiro do estado do

Paraná. A cidade foi batizada em homenagem ao Coronel Cornélio Procópio de

Araújo Carvalho, figura de destaque no Império durante o final do século XIX. O

Coronel foi o patrono da estação ferroviária do km 125, sendo este, o marco de

toda a expansão econômica da região na qual está inserida a cidade. O coronel

Procópio deixou nove filhos, entre os quais Mariana Balbina Procópio

Junqueira, casada com seu primo de 2º grau, Francisco da Cunha Junqueira,

dono da gleba Laranjinha.

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6 – HISTÓRICO DA CIDADE

Figura 3 – Praça Matriz de Santa Mariana

Foto: Praça da Matriz – Dia 15 de novembro de 1949 – Arquivo de família; Ari Soares do

Nascimento

Entre os anos de 1923 e 1926, o Dr. Francisco da Cunha

Junqueira comprou cerca de 5.486 alqueires de terra entre os rios cinza e

laranjinha. Dentro dessa gleba, Francisco da Cunha Junqueira havia formado

algumas fazendas, dentre as quais Santa Mariana, cujo nome foi homenagem

à sua esposa Mariana Balbina Procópio Junqueira, filha do Coronel Cornélio

Procópio de Araújo Carvalho. A fazenda Santa Mariana contava na época com

mais de 80 mil pés de café de diferentes idades.Em 1926 chegam as primeiras

famílias japonesas, para trabalharem como colonos, são elas: Takuiiti Tsukuda,

Shiguezo Tsukuda, Kyohei Watanabe e Umebara.

Em 1928, chega a família Ramon Gongora para formarem a

fazenda Santo Antonio. Em 1929, chega a família Primo Bassi. Em 1930,

chegam mais famílias japonesas, Zinjiro Ebara, Sadanoshim Kimura, Toshio

Kimura, Shitizaemam Taeiwa e Sadao Akabane que fundaram o alto palmital. A

família do Sr. Pedro Moreira da Silva foi residir na Fazenda Palmito. Nesta

época estavam construindo a estação ferroviária do lado de baixo da linha, era

de madeira e construída pelos portugueses. Em 1931, chegam mais famílias

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japonesas entre elas a família do Sr. Kotaro Okuyama que foram para a

fazenda Alto Palmital onde bem mais tarde descobriu a Uva Rubi.

Francisco da Cunha Junqueira era um político paulista e como

tal envolveu-se na Revolução Constitucionalista de 1932, ao lado de seu

Estado. Como foram derrotados, Francisco Junqueira acabou sendo deportado

para Portugal pelo governo de Getúlio Vargas. Em dificuldades financeiras,

vendeu suas terras no Paraná. Na venda da gleba, os diversos compradores

obedeceram a seguinte proporção: Antônio Moreira de Abreu, sua mulher

Maria do Carmo Rennó Moreira e Delfim Rennó Moreira que receberam dois

mil alqueires. Antonio Paiva Junior e Francisco Moreira da Costa receberam

teoricamente dois mil quinhentos alqueires.

Essa extensa propriedade adquirida por Antonio de Paiva

Junior de Francisco Moreira da Costa começava em um marco de canela

cravado na margem esquerda do Laranjinha, seguia em direção sudoeste por

15 quilômetros e setecentos e setenta metros. Quando Antonio de Paiva Junior

e Francisco Moreira da Costa compravam o imóvel Laranjinha, seus

proprietários já haviam vendido lotes e negociados com a estrada de ferro São

Paulo-Paraná a faixa de terreno onde passaram os seus trilhos, a caminho do

Tibagi. Quando Antonio de Paiva Junior e Francisco Moreira da Costa lotearam

a gleba de propriedade comum, criaram a Companhia de Colonização de

Terras Paiva e Moreira.

Antes, porém, Francisco Junqueira planejou o parcelamento

das propriedades e deixou planejados dois núcleos urbanos, denominados

SANTA MARIANA em homenagem a sua esposa Mariana e Cornélio Procópio

em homenagem a seu sogro.

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Figura 4 - Entrada de Santa Mariana – Rod. 369 Foto: Rafaela Thais Cardonazio

Santa Mariana, como muitas outras cidades da nossa região,

originou-se da estrada de ferro pela qual se processava o escoamento da

produção cafeeira da região do norte pioneiro. Graças a estrada de ferro,

começaram a surgir nos locais em que se estabeleciam estações, pequenos

povoados ou vilas que deram origem as cidades, o que foi o casa de Santa

Mariana.

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Figura 5 – Estação Ferroviária http://www.estacoesferroviarias.com.br/pr-spp/stamariana.htm

1934/1935

No início do povoamento, as ruas principais eram a rua da

estação e a rua paralela à mesma. O desenvolvimento do novo povoado

dependia exclusivamente da via férrea por onde chegavam trazidos pelos

trens: alimentos, remédios, roupas, até fermento para fazer pão. O único meio

de comunicação com o Estado e o país era o “Morse” da estação e o único

meio de transporte era o trem. Com o progresso econômico trazido

principalmente pelo café, a cidade cresceu, expandiu-se novos meios de

comunicação e transportes surgiram.

Em 1934, havia se formado um pequeno povoado em terras

pertencentes aos Dr. Francisco Junqueira, o qual foi aos poucos se

desenvolvendo com a presença de correntes e constantes forasteiros de

diversas procedências, animados pela fertilidade da gleba.

Assim já em 1938, precisamente a 20 de outubro era baixado

um Decreto Lei Estadual Nº 7.573, pelo qual foi criado o Distrito de Santa

Mariana, que pertencia ao município de Bandeirantes.

Nove anos depois, em virtude da própria expansão econômica

e do desenvolvimento da cultura do café, em pouco tempo Santa Mariana

apresentou condições para se emancipar política e administrativamente e o

Distrito, foi elevado a Categoria de Município a 11 de outubro de 1947, pela Lei

Estadual nº 2, havendo se verificado a 1º de novembro do mesmo ano as

instalações de sua sede.

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“Capital da Amizade” como, carinhosamente ficou conhecida,

Santa Mariana chega aos 63 anos de sua emancipação política e já se projeta

como um dos principais municípios paranaenses em termos de produção

agrícola, com participação destacável à nível de Estado. Seu solo roxo, dos

mais férteis do Brasil, aliado ao emprego das mais avançadas tecnologias no

campo, colocam-no entre os principais municípios paranaense, notadamente

das culturas de trigo e soja.

Figura 6 – Cultura de Trigo Foto: (Rafaela Thais Cardonazio) Maio de 2010

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6.1 - História da Uva Rubi no Município de Santa Mariana

Figura 7 – Uva Rubi frutasraras.sites.uol.com.br/vitisvinifera.htm

A persistência e a dedicação ao trabalho são traços comuns

aos agricultores japoneses que vivem no Brasil. A Uva Rubi é uma variedade

de uva graúda e de cor forte, hoje é conhecida em todo o país e fora dele. Mas

essa delícia só foi parar na mesa do consumidor brasileiro graças ao olhar

atento e a paciência oriental de um agricultor do norte do Paraná.

Segundo Fonseca (2006, p. 11):

A história em todas as suas dimensões, é essencialmente formativa. Assim, seu ensino, os sujeitos, os saberes, as práticas, as experiências didáticas tem uma enorme importância para a vida social, para construção da democracia e da cidadania. É por meio dos diversos processos, mecanismos, fontes e atos educativos que compreendemos a experiência humana as tradições, os valores, as idéias e as representações produzidas por homens e mulheres em diversos tempos e lugares.

Nessa perspectiva histórica é que falaremos do Sr. Kotaro

Okuyama, chega ao Brasil com seis anos de idade. A família dele

desembarcou em São Paulo, em 1929. Sr. Kotaro se casou com dona Fumiko.

Uma filha de imigrantes que ele conheceu aqui no Paraná.

Quer dizer conhecer não é o termo mais apropriado para o que aconteceu com

eles.

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O casamento foi arranjado. Aconteceu a 62 anos. Sr. Kotaro e

Dona Fumiko, vieram morar em Santa Mariana, onde vivem ate hoje.

Sr. Kotaro sempre viveu da agricultura e no final da década de

1960 decidiu arriscar num negócio que era totalmente novo aqui: a produção

de uva Itália.

6.2 - A Uva “Rubi é Marianense

Figura 8 – Uva Rubi http://www.santamariana.pr.gov.br/Prefeitura/?acessa=UVA RUBI

O clima do norte do Paraná mudou bastante daquele tempo,

começou a aparecer geada em 1953 e 1955. Depois de 1963 veio a geada com

uma seca brava.

É muito difícil encontrar alguém que não tenha provado ainda o

sabor inconfundível da uva rubi. Seus lindos cachos, com bagas avermelhadas

são um constante convite ao nosso paladar. O que pouca gente sabe é que a

rubi é nossa. Fruto da capacidade do nosso povo.

A uva rubi nasceu quando em 1968, o fruticultor Kotaro

Okuyama proprietário rural próximo a sede de nosso município, iniciou sua

plantação de uva Itália por estanquia.

Durante o ano de 1970, sua plantação foi seriamente

prejudicada por fenômenos meteorológicos, ocorrendo desigualdade de

brotação compulsória através de processos químicos e mecânicos.

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No ano de 1973, em operação feita com a finalidade de retirar

bagas estragadas, o Sr. Okuyama descobriu um cacho de dez a doze bagas de

coloração avermelhadas, de pouco vigor. Dentro da estufa apareceu o segundo

cacho. Seguindo a orientação dos técnicos da cooperativa a que era

associado, Sr. Kotaro foi reproduzindo o galho da parreira que originou a uva

escura. Foi fazendo mudas e descobriu que elas sempre produziam frutos

rosados. Como a cor da uva lembrava um rubi, a nova variedade foi batizada

assim. Após 4 anos de observação, cuidou-se da multiplicação, deixando a

rama original, mas aproveitando a ramificação que mantinha a mesma

característica. O galho em apreço mostrou que a cor rosada era permanente,

de modo que as ramificações, 5 de início, foram separadas da videira mãe 80

bobulhas. Para Lins (2005, p. 15):

A transmissão não se afasta da parte da criação, que é sempre um fator fundador. Para transmitir, é necessário ser capaz tanto de lembrar como de esquecer. Em relação à transmissão, o esquecimento opera como um “contrabando da memória”.

Foi justamente para não deixar que esta mutação se tornasse

esquecimento, ou um contrabando da memória é que o Sr. Okuyama, após

enxerto, à distribuiu para diversos viticultores do Paraná e São Paulo.

“Eu não vendi nada naquela época. Dei tudo, porque não tinha

interesse, a cor também não era grande coisa”, fala. (OKUYAMA)

Sr. Kotaro não deu muito valor à descoberta, mas muita gente

deu... hoje a uva rubi é plantada em quase todas as regiões produtoras do

país e inclusive fora dele. Há cultivos na Europa e no Japão. Ele virou

personalidade em Santa Mariana. Ganhou até um monumento em sua

homenagem na praça principal da cidade.

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Figura 9 – Homenagem Sr. Okuyama

Figura 10 – Homenagem Sr. Okuyama Monumento em homenagem ao senhor Okuyama localizado na Praça Getúlio Vargas - Foto:

(Rodolfo Luís Cardonazio)

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Entre as vantagens dessa cepa, em relação à Itália, está na

economia de mão-de-obra, pois não é preciso mais fazer a análise do índice de

brix do cacho uvas para constatação do grau de maturação. Na rubi, a

coloração indica o gosto mais apreciável do paladar.

Em 1978, 13 municípios do Paraná e São Paulo já possuíam 6

mil pés e Iboti, no Rio Grande do Sul, cerca de trezentas plantas, sem contar

500 mudas que a Cooperativa Agrícola de Cotia recebeu para distribuição, com

uma produção prevista para 1980, de 100 mil caixas, no mínimo. Ao fruticultor

Kotaro Okuyama, descobridor da uva rubi, foram prestadas as seguintes

homenagens: o jornal Shimbum, noticiando o aparecimento da nova uva,

dedicou-lhe o louvor de mais elevada estima e, em editorial, sob o título de “O

que é o trabalho frutífero”, deu destaque ao esforço do Sr. Okuyama com a

produção da “Rubi”; no 7º Congresso Brasileiro de Olericultura, realizado em

Salvador, foi relacionado o aparecimento do novo cultivar de videira, sob a

denominação de “Uva Rubi Okuyama”; pela Cooperativa Agrícola de Cotia -

Cooperativa Central, pela sua dedicação à exploração do novo cultivar vitícula.

O Suplemento Agrícola do Jornal “O Estado de São Paulo” cedeu uma página

para o artigo de apresentação e divulgação da uva “Rubi”. Como sendo

originária deste município, o Sr. Okuyama foi homenageado pela Associação

Cultural de Santa Mariana, pelo seu trabalho e dedicação pelo

desenvolvimento da nova variedade.

Sr. Kotaro e dona Fumiko concederam uma entrevista ao

Globo Rural, exibido pela Rede Globo de Televisão no dia 08 de junho de 2008

sobre Uvas Japonesas. Reportagem em comemoração ao cem anos de

imigração japonesa no Brasil.

No município de Santa Mariana, são poucos os dados e

referências e em relação ao surgimento da uva rubi. Foi pensando em resgatar

a memória e a cultura local, que a pesquisa foi iniciada. Procurando assim

levar nossos educandos a pesquisar, analisar fatos de nossa vivência, e

conseqüentemente construindo um ensino-aprendizagem sistematizado,

priorizando o conhecimento adquirido ao longo da sua existência.

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Como bem o diz a historiadora Selva G. Fonseca (2006, p.62):

é preciso romper com a formação livresca, distanciada da realidade educacional brasileira, à dicotomia bacharelado/licenciatura se processou articulada à defesa de uma formação que privilegiasse o professor/pesquisador, isto é, o professor de história produtor de saberes, capaz de assumir o ensino como descoberta, investigação, reflexão e produção.

Foi pensando em tudo isso, principalmente na produção do

saber elaborado e construído pelos estudantes é que articulamos a pesquisa.

Enquanto professores/educadores devemos ser agentes de

transformação desta reflexão e reconstrução da experiência humana, para

podermos assim alcançar a verdadeira aprendizagem.

A finalidade da História é a busca da superação das carências

humanas, fundamentada por meio de um conhecimento constituído por

interpretações históricas. Essas interpretações são compostas por teorias que

diagnosticam as necessidades dos sujeitos históricos e propõem ações no

presente e projetos de futuro. Já a finalidade do ensino de História é a

formação de um pensamento histórico a partir da produção do conhecimento.

(DCN, 2009, p.47)

Por isso enquanto educadores, o que ensinamos vai muito

além de nossa especialidade acadêmica. Neste sentido devemos articular

esses diferentes saberes no processo de formação para só assim atingirmos

realmente a aprendizagem.

FONSECA (2006, p.71) destaca que o objeto do ensino de

História é constituído de tradições, idéias, símbolos e representações que dão

sentido às diferentes experiências históricas vividas pelos homens nas diversas

épocas.

Nós professores temos nossa maneira própria de ser, pensar,

agir e ensinar, procurando transformar saberes em conhecimentos

efetivamente elaborados e construídos, levando nossos alunos a assimilar,

incorporar e refletir sobre esses ensinamentos.

Procuramos através de nosso trabalho, “impedir que as ações

realizadas pelos homens se apaguem com o tempo”. (HERÓDOTO) Pois,

sabemos perfeitamente que aquilo que não é documentado através da escrita e

imagens podem se perder com o passar o tempo. Muitas vezes a nossa

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memória é falha, e cai no esquecimento. Somos seres humanos, e temos

relapsos de memória.

Segundo LE GOFF (p.470)

A memória coletiva é não somente uma conquista, é também

um instrumento e um objeto de poder. São as sociedades cuja memória social

é, sobretudo, oral, ou que estão em vias de constituir uma memória coletiva

escrita, aquelas que melhor permitem compreender esta luta pela dominação

da recordação e da tradição, esta manifestação da memória.

A memória coletiva sempre esteve presente é a memória que

faz com que nós indivíduos percebamos o vínculo que temos com nossa

história, história esta fundamental para a construção de uma identidade local,

regional e nacional.

Figura 10 – Imagem Área de Santa Mariana

http://www.santamariana.pr.gov.br/Prefeitura/?acessa=HISTÓRICO DO MUNICÍPIO

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7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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LUCINÉIA, Steca Cunha e FLORES, Mariléia Dias. História do Paraná Do

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Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais – História e Geografia – 3ª

edição, 2001.

Projeto Político Pedagógico do Colégio Estadual Joaquim Maria Machado de

Assis.

REVISTA SANTA MARIANA – 43 anos é uma publicação da

Prefeitura do Município de Santa Mariana, 1990, Administração José Polônio.

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www.hjobrasil.com/.../uva%20e%20vinho/uvahistoria01.htm - Acesso em

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http://virtualbib.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/viewFile/2278/14

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http://bp0.blogger.com/_QX59rhqBelE/R5t2Beu6mpI/AAAAAAA

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http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://frutasraras.sites.

uol.com.br/vitisvinifera_arquivos/image004.jpg&imgrefurl=http://frutasraras.sites

.uol.com.br/vitisvinifera.htm&h=255&w=340&sz=18&tbnid=2By1-

Gag5NnunM:&tbnh=89&tbnw=119&prev=/images%3Fq%3Duva%2Brubi&hl=pt-

BR&usg=__lW_AQEK73BGbm0ziKS5mO446810=&ei=KA4ATMGfNYuGuAfYm

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Acesso em 28/05/2010

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http://www.webartigos.com/articles/22804/1/Contribuicao-de-Eric-Hobsbawn-na-

Historia/pagina1.html. Acesso em 28/05/2010

http://www.estacoesferroviarias.com.br/pr-spp/stamariana.htm