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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁSECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

ELIANE CENCI PROENCI CARDOZO

ÁREA: CIÊNCIASPúblico alvo: Alunos do Ensino Fundamental – 6ª série/ 7º ano

PLANTAS MEDICINAIS E CULTURA AFRO-BRASILEIRA

CURITIBA2010

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

PLANTAS MEDICINAIS E CULTURA AFRO-BRASILEIRA

Caderno pedagógico – Material Didático apresentado como parte do Plano Integrado de Formação Continuada do Programa de Desenvolvimento Educacional da Secretaria de Estado da Educação do Paraná.

Professora PDE: Eliane Cenci Proenci Cardozo

Orientadora: Profª. Drª. Dulce Dirclair Huf Bais

CURITIBA, PR, BRASIL

2010

APRESENTAÇÃO

Caro (a) professor (a),

Este caderno pedagógico foi elaborado no Programa de Desenvolvimento

Educacional – PDE, atendendo o segundo período do programa. Neste material é

abordado o uso das plantas medicinais, vinculado a alguns aspectos da cultura afro-

brasileira, tendo como público alvo alunos da 6ª série (7º ano) do ensino

fundamental.

O ensino de ciências contempla o estudo das plantas e as relações do ser

humano com o meio ambiente. Observa-se que o estudo sobre as plantas

medicinais é abordado de forma superficial nos conteúdos curriculares; entretanto,

no cotidiano escolar, o uso dessas plantas é comum entre os alunos no tratamento

alternativo ou cura dos males físicos e emocionais. Essa prática ocorre entre os

alunos descendentes de diferentes etnias, culturas e religiões, retratando a

diversidade dos costumes característicos de cada condição.

Ao abordar, no ambiente escolar, conteúdos referentes ao uso das plantas

medicinais na cultura afro-brasileira, surgem comportamentos e falas que denotam

preconceito, desinformação e sátira.

A contribuição africana na formação da medicina popular brasileira é inegável.

Abordar essas contribuições em ambiente escolar é de extrema importância para o

conhecimento e valorização dessa cultura. Conhecer a cultura afro-brasileira

significa entre outras coisas, “quebrar” preconceitos. No Brasil ainda persiste “[...]um

imaginário étnico racial que privilegia a brancura e valoriza principalmente as raízes

européias da sua cultura, ignorando ou pouco valorizando as outras, que são a

indígena, a africana, a asiática” (BRASIL, 2004,p. 14).

A Lei 10.639/2003 determina que as disciplinas escolares trabalhem

conteúdos sobre a história e cultura afro-brasileira, possibilitando assim, que os

alunos afro-descendentes resgatem na escola a sua identidade étnica (BRASIL,

2003). E a escola é um dos espaços onde há oportunidade das pessoas aprenderem

sobre o valor da cultura e manterem contatos com as diferentes práticas culturais.

Este caderno é composto por três unidades, a serem trabalhadas

sequencialmente.

A primeira unidade abordará o histórico sobre o uso das plantas medicinais

em várias civilizações e será contada por dois personagens: Roger e Lili.

A segunda unidade tratará sobre quatro ervas medicinais – alecrim, arruda,

capim-limão e poejo –, na qual você encontrará informações referentes a

composição química, funções medicinais, mitos e o uso dessas ervas na culinária

com algumas receitas bem saborosas.

Algumas informações sobre as religiões afro-brasileiras, lendas e o uso de

plantas nessa cultura, você encontrará na terceira unidade.

Neste caderno você encontrará ainda, sugestões de atividades, dicas de

sites, indicações bibliográficas, tudo para você professor(a) enriquecer o seu

trabalho com o aluno.

Os desenhos e personagens que constam neste caderno foram criados pela

autora.

Vale a pena conferir

Eliane Cenci

Agradecimentos

À Deus pela saúde e proteção;

Ao meu esposo Luiz Rogério pela compreensão e apoio;

Aos meus filhos Luis Muriel, pelas sugestões de ilustração e Gabriel Fernando

pela compreensão que várias vezes adormeceu sem o “colo da mamãe”;

À querida mestre Prof. Dra. Dulce Dirclair Huf Bais, pela contribuição no

processo de construção deste trabalho.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................... 06

2 UNIDADE I............................................................................................................. 07

2.1 Histórico das plantas medicinais..........................................................................07

3 UNIDADE II.............................................................................................................13

3.1 Plantas Medicinais: Alecrim, Arruda, Capim-limão, Poejo....................................13

3.1.1 Alecrim...............................................................................................................14

3.1.2 Arruda................................................................................................................17

3.1.3 Capim-limão......................................................................................................19

3.1.4 Poejo.................................................................................................................21

4 UNIDADE III............................................................................................................26

4.1 Cultura Afro-Brasileira..........................................................................................26

4.1.1 Lendas- Ossain o orixá das folhas....................................................................29

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................33

6

1 INTRODUÇÃO

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 80% da população

mundial fazem uso de algum tipo de planta medicinal para tratar sintomas

desagradáveis. (BRASIL, 2001). No Brasil, essa prática também é comum e para

assegurar o uso correto dessas plantas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA) publicou, em março de 2010, uma lista com 66 drogas vegetais, onde

consta o nome científico, a denominação popular, as indicações, as contra-

indicações, a dosagem e a forma correta de preparar cada uma delas, já que a

forma de preparo influencia na ação terapêutica, entre outras informações

relevantes. Segundo a ANVISA, droga vegetal é diferente de medicamento

fitoterápico, ambas são obtidas de plantas medicinais, porém a primeira é

constituída de planta seca, inteira ou rasurada, utilizada para aliviar sintomas de

doenças de baixa gravidade. Medicamentos fitoterápicos são mais elaborados,

apresentados na forma de comprimidos e xaropes, entre outros.

O uso das plantas faz parte da prática terapêutica desde a antiguidade e

chegou até os dias atuais. A utilização das ervas está ligada não apenas à prática

terapêutica, mas também à religiosidade, entre as quais podemos citar o candomblé,

religião de matriz africana que possui sua religiosidade calcada nas substâncias

extraídas das plantas. A presença das plantas nas religiões de matriz africana está

ligada à manutenção do axé (poder, força) e é através das folhas sagradas que há

comunicação com as divindades. Nessas religiões, as plantas são utilizadas tanto

nas práticas religiosas como na cura das enfermidades.

A escolha das plantas abordadas neste caderno se deu devido aos mitos

existentes sobre elas e as semelhanças de uso na medicina popular brasileira com a

cultura afro-brasileira.

O objetivo deste material é mostrar o histórico, a cientificidade, mitos e

crenças sobre as plantas medicinais e ainda justificar o uso das plantas na cultura

afro-brasileira, permitindo a aprendizagem e o respeito às expressões culturais

negras que, juntamente com outras de diferentes raízes étnicas, construíram a

história do nosso país.

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2 UNIDADE I

HISTÓRICO DAS PLANTAS MEDICINAIS

A utilização de plantas como medicamento, provavelmente, teve seu início na

pré-história. O homem primitivo, através da observação e experimentação, descobriu

as qualidades de cada planta como: medicamentos, alimentos, venenos e outros.

Nas referências históricas sobre plantas medicinais, podemos verificar que

existem relatos do seu uso em praticamente todas as antigas civilizações.

Que tal conhecermos um pouco sobre essas histórias? Roger e Lili nos

levarão a uma viagem ao passado.

Você sabia que Shen Nung, um imperador chinês que

viveu no século 28 a. C., já fazia experiências com plantas?

Pois é isso mesmo! Ele escreveu um tratado médico, datado

de 3.700 a. C., sobre as propriedades medicinais das plantas,

onde afirmava que para cada enfermidade haveria uma planta

que serviria como remédio natural.

E em 1873, um egiptólogo alemão, George Ebers descobriu papiros com relatos da

medicina egípcia incluindo plantas. Os egípcios utilizavam ervas aromáticas na

medicina, na culinária, na cosmética e no embalsamento de seus mortos. A medicina

egípcia também se apoiava em elementos mágicos, religiosos e astrológicos.

Há registros históricos de 5 mil anos que mostram que os sumérios já faziam

uso de plantas com fins medicinais. Possuíam receitas muito valiosas que eram

conhecidas apenas pelos sábios, pelos sacerdotes e pelos feiticeiros. Esse

conhecimento era transmitido somente na velhice aos seus substitutos.

Na Índia, por volta de 1500 a. C., os médicos

desenvolviam técnicas de cirurgia e diagnóstico e usavam

ervas em seu tratamento.

É pessoal, a história sobre o uso das plantas é muito

interessante! Vamos continuar viajando no passado

para sabermos mais?

Você já ouviu falar em Hipócrates? Ele é considerado o

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“pai da medicina” (460-377a. C) e pregava que os recursos naturais como: água, ar,

plantas e sol auxiliavam o organismo no processo de cura. Ele considerava que se

deveria tratar a doença e não o doente.

Teofrasto (372-287 a. C), considerado o “pai da botânica”, fez descrições de

várias plantas, mostrando seus efeitos tóxicos e suas propriedades curativas.

Na era cristã, é destacado o trabalho dos herbolários Dioscórides e Galeno.

Dioscórides (40 a 90 da era cristã) foi médico de Nero, tendo acompanhado os

exércitos romanos na Península Ibérica e no norte da África. Além disso, viajou por

todo território mediterrâneo recolhendo muitas informações sobre as plantas dessa

região. Ele escreveu o tratado “De Matéria Médica” onde consta cerca de 600

produtos de origem vegetal, animal e mineral com indicação sobre o seu uso

médico. Essa obra foi utilizada como guia de ensino até o final da Idade Média, cujas

cópias em latim ainda eram feitas no século XV.

Galeno (130 a 200 d.C.) utilizou como base de conhecimento a medicina

hipocrática para criar um sistema de patologia e terapêutica de grande

complexidade. Suas fórmulas eram complicadas, constando de misturas de plantas,

produtos de animais e mágicas para tratar diretamente a doença. Um dos seus

maiores feitos foi a descoberta de um método de separar os princípios ativos de uma

planta denominado galênico, usado até os dias atuais.

Outros estudiosos destacaram-se na história, como Avicena (980 a 1037 d.C.)

médico árabe que ficou conhecido como “príncipe de todas as ciências”. Ele usava

lavanda, camomila e menta em seus preparos.

Na Idade Média, os estudos sobre as plantas medicinais sofreram uma

grande diminuição. Isso ocorreu devido a eventos históricos como a queda do

Império Romano. Mas, aos poucos essa situação alterou-se e os mosteiros

tornaram-se centros importantes de estudos. Seus membros utilizavam

criteriosamente os conhecimentos greco-latinos sobre o emprego das plantas

medicinais que cultivavam.

Houve um maior avanço na fitoterapia a partir do século XIX, com o progresso

científico na área da química, onde pesquisadores conseguiram analisar, identificar e

separar os princípios ativos das plantas.

9

Roger, você sabe a história das

ervas medicinais aqui no Brasil?

_ Sei Lili! E vamos contar agora para

nossos colegas.

No Brasil, houve influência dos

indígenas, europeus e africanos na

utilização de plantas no tratamento de enfermidades.

Porém, é difícil precisar, em termos quantitativos, qual foi a contribuição de cada um

desses elementos.

Os índios, como atentos observadores da natureza, conheciam bem a flora

brasileira e retiravam dela vários remédios. Na sua farmacopéia, havia plantas

cerimoniais, uma grande variedade de venenos, tônicos e

estimulantes. As práticas curativas sempre estiveram ligadas a

elementos mágicos e místicos. Eles acreditavam em fatores

sobrenaturais, quando se tratava de doenças sem uma causa

que poderia ser identificável como: ferimentos, fraturas,

envenenamentos. Os indígenas acreditavam que havia a

presença de espíritos inteligentes nas plantas, por isso elas eram capazes de curar.

A colonização portuguesa nos séculos XVI e XVII contribuiu profundamente

nas práticas médicas populares no Brasil. Trouxeram de

Portugal várias plantas como: arruda, manjericão, hortelã,

alho, pepino, melão, entre outras.

As plantas eram utilizadas pelos jesuítas em suas boticas

para a preparação de remédios. O transporte dessas

plantas de Portugal para o Brasil era difícil, visto que as

viagens levavam muitos dias. Sendo assim, os jesuítas

passaram a substituí-las por plantas utilizadas pelos indígenas. Do contato com os

índios, os jesuítas aprenderam sobre o emprego de várias plantas medicinais,

tornando-as famosas em todo o mundo.

A partir da terceira década do século XVI, chegaram ao Brasil os profissionais

que exerciam a medicina: os físicos, os cirurgiões, os barbeiros e os boticários,

trazendo vários instrumentos de lancetar, sangrar, cortar, entre outros. Os padres

também exerciam a função médica, pois, tinham noções de primeiros socorros e

10

conheciam botânica, embora suas funções prioritárias objetivavam catequizar os

índios.

Os africanos, ao chegarem ao Brasil Colônia, trouxeram o

seu conhecimento sobre as plantas medicinais, porém, não

encontraram aqui, todas as plantas utilizadas por eles na

sua terra de origem. Com isso, incorporaram ao seu acervo

de conhecimentos os vegetais nativos, aprendidos com os

indígenas e outros introduzidos pelos portugueses.

Várias plantas do continente africano foram introduzidas

no Brasil, sendo transportadas por meio dos navios

negreiros, entre elas estão o quiabo, a melancia, o dendezeiro e muitas outras.

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E aí pessoal, gostaram de aprender sobre o

histórico das plantas medicinais? Eu, adorei!

Agora é a sua vez! Vamos relembrar?

1) Pesquise no texto e responda:

a) Imperador chinês que viveu no século 28 a.C e

fazia experimentos com plantas;

b) É considerado o Pai da Medicina;

c) É considerado o Pai da Botânica;

d) A partir do século XIX, com os

avanços científicos na área da química,

elementos de algumas plantas

identificados e separados pelos

pesquisadores;

E) Planta medicinal introduzida no Brasil

pelos portugueses na época da

colonização.

2) Pense, reflita e responda:

a) Qual a importância dos portugueses, africanos e índios na formação da

medicina popular brasileira?

b) Pesquise: O que significa princípio ativo?

12

Dicas para professor(a).

Professor, neste momento, você poderá solicitar

aos alunos uma, entrevista com os pais, avós, tios,

sugerindo que façam um levantamento histórico sobre

o uso das plantas medicinais na família.

Para saber mais sobre o histórico das plantas medicinais, visite os

seguintes sites:

www.esalq.usp.br/siesalq/pm/aspectos_historicos.pdf

www.ibb.unesp.br/servicos/publicacoes/rbpm/pdf_v6_n3_2004/artigo_3_v

6_n3.pdf

http://users.matrix.com.br/mariabene/breve_historia_das_ervas.htm

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3 UNIDADE II

PLANTAS MEDICINAIS: ALECRIM, ARRUDA, CAPIM-LIMÃO E POEJO

Você já tomou chá para aliviar ou tratar alguma disfunção orgânica?

De que forma o chá deve ser preparado?

Considere a seguinte afirmação:Podemos utilizar qualquer quantidade de ervas medicinais que, por ser planta

natural, não faz mal à saúde.

Você concorda com a afirmação acima? Justifique.

Para preparar uma xícara de chá, qual a quantidade de erva a ser utilizada?

Faça uma entrevista com seus familiares perguntando o que eles sabem

sobre as seguintes plantas: alecrim, arruda, capim-limão e poejo.

Como já vimos na unidade 1, o uso de plantas medicinais para o tratamento

ou prevenção de males físicos e psíquicos é secular. Registros históricos mostram

que várias civilizações como os gregos, romanos, egípcios já usavam ervas com fins

medicinais e essa prática chegou até os dias atuais.

A Organização Mundial da Saúde reconhece que o uso de plantas medicinais

pela população mundial tem sido significativo e mostra que 80% da população

mundial fazem uso de algum tipo de erva medicinal.

No Brasil, o Governo Federal aprovou a Política Nacional de Plantas

Medicinais e Fitoterápicos por meio do decreto nº 5.813, de 22 de junho de 2006,

que pretende “garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional de

plantas medicinais e fitoterápicos” (BRASIL, 2006 p. 20), considerando as práticas

populares e tradicionais sobre as plantas medicinais. Mas, a ANVISA alerta que as

plantas medicinais não devem ser usadas em crianças menores de três anos,

gestantes e mulheres que estejam amamentando.

As plantas medicinais podem ser utilizadas de diversas formas. Podem ser

ingeridas e utilizadas em banhos e gargarejos. As partes das plantas usadas são as

cascas, raízes, caules, frutos, flores e folhas.

Historicamente, o uso das plantas na medicina popular brasileira apresentava

uma relação muito próxima entre religião e natureza, devido a influências indígenas,

africanas e européias. Nas práticas alternativas atuais, utilizadas por curandeiros ou

14

benzedeiras, “as terapias adotadas são sempre acompanhadas de orações,

penitências, promessas visando o merecimento da graça e da cura” (CAMARGO,

1998). Algumas plantas como a arruda (Ruta graveolens) e o alecrim (Rosmarinus

officinalis) são utilizadas nas benzeduras, com o objetivo de combater o “mau-

olhado” e o “quebranto”.

Olá colegas! Convido vocês para conhecer sobre algumas

plantas maravilhosas! São elas: alecrim, arruda, capim-limão e

poejo. Aqui você irá descobrir quais são as funções medicinais

dessas plantas, seu princípio ativo, mitos, receitas deliciosas e

muito mais!

Mas, atenção! Precisamos ter cuidado ao consumirmos

qualquer tipo de planta medicinal, pois elas possuem componentes químicos que

podem provocar reações graves a pessoa. Então, vamos lá?

ALECRIM

Fonte: A autora (2010).

O alecrim é uma planta que pertence à família Lamiaceae e à espécie

Rosmarinus officinalis, sendo originária da Europa, Ásia e África. É uma planta

arbustiva, muito ramificada que pode atingir até dois metros de altura. Seu caule é

lenhoso e as folhas são filiformes, opostas, desprovidas de pedúnculo, verdes e

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duras, com flores azuladas, brancas ou róseas que saem da axila das folhas. São

muitas as variedades de alecrim.

Rosmarinus, no latim, significa “orvalho que vem do mar”.

Os componentes químicos do alecrim são: óleo essencial com pineno,

canfeno, borneol, cineol, taninos, alcalóides, saponinas, flavonóides e ácido

rosmarínico.

USO MEDICINAL

O alecrim, em forma de chá, é utilizado como tônico do sistema nervoso

central, sendo muito útil no tratamento da depressão e de distúrbios digestivos.

Segundo a ANVISA, o uso tópico do alecrim contribui para o tratamento dos

distúrbios circulatórios e pode ser usado como antisséptico e cicatrizante. Deixar em

infusão de 3 a 6 gramas da folha em 150 ml de água e aplicar no local afetado duas

vezes ao dia. Mas, ATENÇÃO! É uma planta contra-indicada para gestantes,

pessoas com doenças prostática, gastroenterites dermatoses em geral e com

histórico de convulsão e, em doses excessivas, pode provocar irritações

gastrointestinais, nefrite e irritações na pele.

CULTIVO

Seu cultivo deve ocorrer preferencialmente em solos permeáveis e drenados,

em locais bem ensolarados. Devem ser colhidas apenas folhas adultas.

CULINÁRIA

Quer aprender receitas deliciosas utilizando o alecrim?

O alecrim é uma erva aromática de forte sabor e ligeiramente canforado,

sendo muito usado em pratos a base de carnes, peixes, pães e massas. É utilizado,

igualmente, em sopas, molhos, legumes, arroz e saladas. Para temperar carnes em

geral, fica ótimo: misturar em uma tigela um pouco de alecrim fresco, pimenta-do-

reino, meia colher de sal grosso e azeite. Misture com a carne e deixe por uma hora

na geladeira, para tomar gosto.

Outra receita muito saborosa é o robalo ao alecrim. Lembre-se: robalo é um

peixe. Veja como prepará-lo:

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Corte os pedaços do peixe, tempere com um pouco de

suco de limão, alho, sal e pimenta-do-reino. Pegue talos de

alecrim e espete os pedaços do peixe nos talos, colocando

uns quatro ou cinco pedaços do peixe na forma de espetinho.

Leve para fritar com uma mistura de óleo com azeite, sendo

mais azeite do que óleo. Utilize uma frigideira bem rasa.

CURIOSIDADES

Na Era Medieval, caules de alecrim eram queimados para purificar o ar dos

quartos de doentes.

Por ser considerado estimulante da memória, conta-se que estudantes gregos

usavam ramos de alecrim nos cabelos, quando submetidos a exames.

Era considerada pelos romanos e gregos a erva do amor, da fidelidade e da

amizade;

Na Idade Média, o alecrim era utilizado para afastar os insetos dos armários e

das bibliotecas.

LENDAS E MITOS

Conta-se que, em uma viagem, Nossa Senhora sentou-se à uma sombra de

um alecrim para amamentar Jesus, por isso acredita-se que a planta nunca atinja

altura superior à de Jesus adulto.

A crendice popular usa o alecrim para afastar “olho gordo”.

O alecrim, utilizado em defumações, ajuda na proteção do lar.

Acredita-se que essa erva só floresce no jardim de pessoas justas e piedosas.

Usado debaixo do travesseiro, o alecrim poderá afastar os sonhos ruins.

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ARRUDAA arruda pertence à família Rutáceae e à espécie Ruta graveolens. Originária

do Mediterrâneo, é uma planta subarbustiva que forma touceiras ramificadas e pode

atingir até um metro e meio de altura. Possui folhas alternas carnosas, pecioladas,

de cor verde-acinzentada. Suas flores são pequenas de cor amarelo-esverdeadas e

o fruto é capsular com sementes pardas e com caule ramificado.

Os componentes químicos da arruda incluem óleos essenciais, rutina e

furocumarina.

Fonte: A autora (2010)

USO MEDICINAL

A arruda está indicada para aumentar a resistência dos vasos sanguíneos,

evitando rupturas e hemorragias; bem como, no combate a piolhos, sarnas e outros

parasitas e alterações menstruais. Em doses excessivas, a arruda pode ser abortiva,

causar vertigens e fotossensibilização a luz. Administrações prolongadas podem

provocar nefrites e lesões hepáticas. É contra indicado para gestantes, lactantes, em

casos de hemorragias e sensibilidade na pele. Geralmente as partes utilizadas são

as folhas, as flores e a raiz.

ATENÇÃO! A arruda não consta na tabela de plantas medicinais regulamentadas pela ANVISA. Em algumas literaturas pesquisadas, o seu uso

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interno não é recomendado por possuir componentes tóxicos.

CULTIVO

O cultivo da arruda deve ocorrer em solos permeáveis, ricos em matéria

orgânica. Esta planta não apresenta exigência de clima; entretanto, locais

ensolarados são mais indicados. A colheita das folhas deve ocorrer antes da

floração.

CULINÁRIA

A arruda não é utilizada na culinária. Porém, já foi usada em saladas e molhos

e também servia para aromatizar vinhos. Suas raízes eram adicionadas a uma

bebida chamada “grappa” e funcionava como um licor digestivo.

CURIOSIDADES

Conta-se que no século XVII, uma grande peste atingiu a Europa, matando

centenas de pessoas. Não se sabia a causa e nem a cura da doença. Para marcar

as casas das pessoas atingidas pela doença, grandes cruzes eram pintadas na

parede. Alguns ladrões entravam nessas casas para roubar e não adoeciam. Muito

tempo depois, descobriu-se que esses ladrões se protegiam com uma mistura de

vinagre de vinho com arruda, sálvia, losna, menta, alecrim, cânfora, alho, noz-

moscada, cravo e canela.

A arruda colocada em portas e janelas contribui para repelir insetos.

Há séculos divulga-se que a arruda possui propriedades afrodisíaca para as

mulheres e para os homens funciona como um anti-afrodisíaco.

Na Idade Média, seus ramos eram utilizados como proteção contra as

feitiçarias.

Também na Idade Média, ramos de arruda serviam para aspergir água benta

nas pessoas presentes nos cultos religiosos.

Ainda hoje é utilizada por rezadores e benzedores para afastar mau-olhado.

LENDAS E MITOS

Acredita-se que um ramo de arruda atrás da orelha funciona como amuleto

para afastar mau-olhado. Segundo Biazzi (2002), o costume vem de antigos rituais

19

africanos, repassado para outras regiões, como a Europa, de onde veio para o

Brasil.

Um chá de arruda ajuda a pessoa a conhecer seu

futuro.

A arruda usada em banhos ajuda a combater todos os

tipos de mau-olhado.

Para proteger e evitar a inveja mantenha um ramo de

arruda pendurado na porta de entrada de casa.

CAPIM-LIMÃOO capim-limão é uma planta originária da Índia, pertence à família Poaceae e

à espécie Cymbopogon citratus (DC) Stapf. Normalmente é confundido com a erva-

cidreira (Melissa officinalis), devido à semelhança no aroma. É uma planta que forma

um emaranhado de ramos com até dois metros de altura. Suas folhas são alongadas

e estreitas, com limbo áspero nas duas faces. Suas flores são organizadas na forma

de cachos compostos e possui caule curto.

Na composição química do capim-limão estão presentes: óleos essenciais,

limoneno,dipenteno, combopogonol, citral e mirceno.

Fonte: A autora (2010)

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USO MEDICINAL

O capim-limão está indicado nos casos de cólicas intestinais e uterinas, no

tratamento de ansiedade, tensão nervosa, insônia, atua como calmante suave. Para

preparar o chá, basta deixar em infusão de 1 a 3 gramas da folha em 150 ml de

água e tomar uma xícara de chá de duas a três vezes ao dia.

Por ser um calmante, pode aumentar o efeito de medicamentos sedativos.

Deve ser evitado por pessoas com gastrite.

CULTIVO

Esta planta tem preferência por clima quente, úmido e locais bem

ensolarados. Adapta-se a qualquer tipo de solo. As touceiras do capim-limão devem

ser desbastadas periodicamente, retirando-se as folhas secas, isso favorece o

aparecimento de brotos.

CULINÁRIA

Que delícia! Agora é o momento de aprender algumas receitas! Vamos

começar por uma bebida.

Suco de capim-limãoVocê irá precisar de 40 folhas de capim-limão, 2 litros de água, 1/4 xícara

(chá) de suco de limão, açúcar a gosto.

Bata no liquidificador as folhas do capim-limão, junto com o suco do limão. Coe e

adoce. Se quiser, pode adicionar algumas folhas de hortelã. Agora é só saborear.

Vinagrete com capim-limãoBata no liquidificador 5 folhas de capim-limão em 100 ml de água. Coe em

uma peneira fina. Em uma tigela, coloque o suco do capim-limão, 2 colheres (sopa)

de suco de limão, 3 gotas de molho de pimenta vermelha e misture. Sempre

batendo, acrescente aos poucos, azeite de oliva até obter um vinagrete espesso.

Acrescente 1 cebola picadinha, 2 tomates cortados em cubos, cheiro verde e sal a

gosto.

Outra dica bem interessante é cortar o caule do capim-limão e adicionar a

carnes e refogados.

21

CURIOSIDADES

Sachês com folhas picadas de capim-limão perfumam o armário e afastam

insetos.

O capim-limão, cultivado em curvas de nível, controla a erosão.

Para clarear os dentes, deixe em infusão 1 colher (sopa ) do caule (rizoma)

picado do capim-limão em 150 ml de água e faça bochechos de 2 a 3 vezes ao dia.

LENDAS E MITOS

Considerada erva sagrada, o capim-limão é usada em defumações.

Acredita-se que o capim-limão melhora o humor de pessoas tristes e

desanimadas.

POEJOOriginário da Europa, o poejo é uma planta que pertence à família Lamiaceae

e à espécie Mentha pulegium L. É uma herbácea, prostrada, perene, com folhas

pequenas opostas, verdes escura. A inflorescência é racemosa, composta por flores

lilases.

No princípio ativo do poejo estão presentes óleos essenciais (como a

pulegona) e flavonóides.

Fonte: A autora (2010)

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USO MEDICINAL

No uso terapêutico, é indicado como expectorante e nas pertubações

digestivas, nos espasmos gastrointestinais, em cálculos biliares e em colecistite.

Prepare o chá deixando em infusão 1 grama das folhas de poejo em 150 ml de água

e tome uma xícara de chá (150 ml) de 2 a 3 vezes ao dia, durante ou após as

refeições.

É contra-indicado nos casos de gravidez, lactação, em crianças menores de 6

anos e em inalações.

O uso prolongado ou em doses excessivas pode provocar danos no fígado.

CULTIVO

Por ser uma planta de clima temperado, o poejo deve ser cultivado em solos

bem drenados, rico em matéria orgânica. Propaga-se por mudas. A colheita poderá

ocorrer três meses após o plantio.

CULINÁRIA

O poejo serve para temperar saladas, aromatizar sucos e molhos de mentas

para acompanhar carne de carneiro. É bastante utilizado na culinária portuguesa.

Sopa de pão com azeite e alhoColoque 600 gramas de pão duro, cortados em fatias, de molho na água por

30 minutos.

Numa panela, coloque 2 colheres (sopa) de azeite, 2 dentes de alho picados

e deixe dourar. Acrescente 1 litro de água na panela e deixe ferver. Adicione o pão

bem espremido e ferva por 3 minutos. Acrescente 3 ovos, 1 colher de sobremesa de

poejo, sal e deixe ferver em fogo baixo.

CURIOSIDADES

O poejo é um bom repelente de insetos.

Colocar sachês de poejo na coleira de animais, afasta as pulgas.

Alguns povos da antiguidade confeccionavam coroas utilizando o poejo.

Essas coroas eram usadas em cerimônias religiosas.

Os chineses usavam o poejo como calmante.

23

O nome científico do poejo deriva da palavra em latim “pulex” que significa

pulga. Costumava-se esfregar as folhas na pele ou queimá- las para repelir o inseto.

LENDAS E MITOS

Acredita-se que colocar ramos de poejo dentro dos sapatos, evita enjôos

durante as viagens.

O poejo traz saúde e alegria para a família.

É considerado erva da paz e, plantado perto de casa, contribui para o fim das

brigas.

24

Agora é a sua vez. Realize as atividades abaixo.

Será muito interessante!

1) Analise e responda:

a) De que forma o chá deve ser preparado?

b) Você concorda com a afirmação de que podemos utilizar qualquer

quantidade de ervas medicinais que, por serem naturais não fazem mal a

saúde? Justifique.

c) Para preparar uma xícara de chá, qual a quantidade de erva a ser

utilizada?

2) Releia o texto sobre as plantas medicinais e escreva as informações em

comum com as fornecidas por seus familiares. Acrescente também as

informações diferentes daquelas que estão no texto.

3) Você receberá da professora exemplares das plantas: alecrim, arruda,

capim-limão e poejo, observe a forma, cor, odor e a textura de cada uma

delas. Após a observação, represente por meio de desenhos e textos as

semelhanças e as diferenças encontradas entre elas.

4) A arruda e o capim-limão estão perdidas no meio do trânsito a

procura de alguns de seus princípios ativos. Ajude-as a encontrá-los,

25

traçando o caminho que cada uma delas deverá percorrer até chegar ao

seu princípio ativo. Não esqueça de respeitar a sinalização.

Dicas para o professor (a)

Professor para a atividade 3, poderá ser utilizada lupas, para uma

melhor visualização das estruturas da planta.

Para encontrar mais informações sobre plantas medicinais, visite os

seguintes sites:

www.campinas.snt.embrapa.br/plantasmedicinai s

http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connecte/bed98b8041b63b4f8cb5

dd255d42da10/tabela+drogas+vegetais.pdf?MOD=AJPERES

Livro:

Título: O maravilhoso mundo das plantas

Autora: Eliza Biazzi

26

4 UNIDADE III

CULTURA AFRO-BRASILEIRA

Você provavelmente já deve ter estudado ou ouvido falar

sobre os deuses gregos como: Zeus, deus de todos os deuses,

Poseidon, deus dos mares, Afrodite, deusa do amor e da beleza

ou as divindades romanas como: Apolo, rei de todos os deuses.

Netuno, deus dos mares e oceanos, Ceres deusa da

agricultura. E sobre as divindades africanas, como Xangô,

Yansã, Ossain, o que você sabe sobre elas?

E aí pessoal, vamos conhecer um pouco da cultura afro-brasileira?

Chegando ao Brasil, os negros escravizados, provindos de várias regiões do

continente africano, trouxeram consigo diferentes elementos culturais como: o

idioma, os cultos, as artes entre outros, que contribuíram para a formação da cultura

brasileira. Entre as importantes contribuições estão as religiões de matriz africana,

que foram formadas a partir dos povos iorubás e bantos provenientes da África

Ocidental e do Sul da África, respectivamente.

Esses povos foram vítimas de vários preconceitos, relativos à sua cultura,

inclusive a cultura religiosa e por muito tempo as comunidades de origem africana

sofreram “perseguições por parte da sociedade 'branca', sendo vistas como

demoníacas” (BARROS, 2007, p.16). Nos engenhos, os senhores proibiam os

escravos de praticarem a sua religião, acreditavam tratar-se de bruxaria, forçando o

negro a participar dos ritos católicos. Para continuarem com as suas práticas

religiosas, cultuando as suas divindades, os escravos fizeram sincretismo com os

santos da Igreja Católica. Com os impedimentos referentes a sua crença, eles

tiveram que reinventá-las adequando- as a sua nova realidade. Mesmo com essas

proibições e adequações ocorridos nos cultos religiosos, os negros não permitiram

que os seus costumes fossem extintos, tanto que as religiões

de matriz africana existentes hoje são a prova da resistência

dos negros em manterem suas tradições religiosas.

Vamos conhecer um pouco sobre as religiões afro-

brasileiras?

Podemos citar o candomblé como exemplo de religião

27

de matriz africana. O candomblé e demais religiões afro-brasileiras constituíram-se

em diferentes regiões do Brasil, com diferentes ritos e nomes locais, derivados de

tradições africanas diversas: candomblé ketu, na Bahia; xangô, em Pernambuco e

Alagoas; tambor de mina, no Maranhão e Pará; batuque, no Rio Grande do Sul; e

macumba, no Rio de Janeiro (LIMA, 2007). Derivado principalmente dos povos

iorubás, suas cerimônias são realizadas ao ritmo dos atabaques e cantos em um

terreiro e dirigidos por um pai ou mãe de santo.

O candomblé é uma religião com várias divindades, como os orixás, dos

negros iorubás; os inquices, dos negros Bantos; e os voduns, relacionados aos

negros jejes; porém, admite apenas um Deus como criador do universo, Oludumaré.

A umbanda é considerada por alguns como uma religião genuinamente

brasileira, nascida no Brasil formou-se a partir da mistura de várias tradições e

crenças africanas, espiritas, católicas e indígena.

As religiões de matriz africana possuem uma forte ligação com a natureza,

citando o candomblé de matriz Iorubá como exemplo, acreditam que cada ambiente

natural está relacionado a um orixá. Orixás são divindades, nas quais cada qual

representa um elemento da natureza.

Ossaim é o orixá das plantas medicinais e litúrgicas e detém o poder curativo

das plantas. É o orixá protetor das folhas, é o guardião dos segredos das plantas.

Seu símbolo é uma vara de ferro com sete pontas dirigidas para cima com a imagem

de um pássaro na ponta central.

Sem as folhas nada se faz nas cerimônias religiosas, “sem folhas não tem

orixá e sem orixá não tem contato com o sagrado” (BOTELHO, 2006, p.211). No

candomblé, há um ritual para se retirar as folhas da mata, é preciso dirigir-se às

plantas “na linguagem dos deuses, com palavras e cânticos apropriados” (SODRÉ,

2002, p.168).

Na cultura afro-brasileira todas as plantas são sagradas, pois são utilizadas

tanto nas práticas religiosas como na cura das enfermidades. As plantas que curam

são geralmente as mesmas que atuam no campo religioso.

O acervo de espécies vegetais utilizadas nos rituais africanos sofreu algumas

influências. Como no Brasil Colônia não havia todas as plantas sagradas utilizadas

por eles na sua terra de origem, incorporaram ao seu acervo de conhecimentos,

vegetais nativos, aprendidos com os indígenas e vegetais que aqui foram

28

introduzidos pelos portugueses.

As plantas estão presentes na preparação de banhos de defesa, de

purificação, na preparação de comidas e remédios e tem por função proporcionar o

bem estar. Os vegetais podem ser utilizados através da preparação de infusões,

chás, garrafadas, entre outros.

Você sabia que a cultura africana, juntamente com a

européia e indígena contribuiu na formação da medicina popular

brasileira?

Convido você a conhecer como o alecrim, a arruda, o

capim-limão e o poejo são utilizados em algumas casas de

candomblé.

O alecrim é uma planta dedicada ao orixá Oxalá. É usada

em banhos para purificar pessoas e em defumadores para afastar más vibrações

dos ambientes (BARROS, 2007; CAMARGO, 1998).

A arruda é uma planta dedicada a Exu, é usada em defumadores para

descarregar ambientes, em banhos para afastar o azar. São confeccionados

amuletos com galhos secos com a finalidade de proteger contra mau-olhado e

feitiços. Alguns terreiros do candomblé não utilizam a arruda, por ser considerada

um interdito, (BARROS,2007; CAMARGO,1998).

O capim-limão é utilizado em banhos purificatórios e em chás como calmante

é uma planta dedicada aos orixás Oxóssi e Xângo. (BARROS, 2007).

Na cultura afro-brasileira, o poejo é planta dos orixás Oxum e Ibeije. É

utilizada em “banhos de purificação e em crianças e mulheres com 'problemas de

barriga'” (BARROS,2007, p.419).

A cultura africana além de ter influenciado na formação da medicina popular,

também teve a sua participação na culinária brasileira, juntamente com os indígenas

e europeus.

Os negros adaptaram e recriaram pratos, substituindo vários ingredientes,

originando assim receitas saborosas. Vamos conhecer algumas dessas receitas.

Acarajé1 kg de feijão fradinho, 1 cebola, 1 colher (chá) de gengibre picado, 1 dente

de alho, sal a gosto e azeite de dendê para fritar. Para prepará-lo, deixe o feijão de

29

molho por aproximadamente 3 horas, lavando-o várias vezes para tirar a casca.

Num liquidificador bata o feijão, com a cebola, sal, gengibre e o alho, até formar uma

pasta. Numa panela deixe esquentar o azeite de dendê e com o auxílio de duas

colheres, molde e frite os bolinhos e coloque em papel absorvente. Corte os

acarajés e recheie-os com salada de tomate picadinho e molho de pimenta, vatapá e

camarão seco. Observação: ficar sempre batendo a massa enquanto os outros

estão fritando, isso evitará que a massa fique aguada.

Munguzá Para essa receita você irá precisar de 500 gramas de milho para munguzá,

500 ml de leite de coco, 2 xícaras (chá) de açúcar 100 gramas de coco ralado, 1

colher (sopa) de manteiga. Deixe o milho de molho na água na véspera para

amolecer. No dia seguinte, lave bem o milho e leve ao fogo para cozinhar numa

panela de pressão, com água suficiente para cobri-lo. Depois que o milho cozinhar

acrescente os outros ingredientes.

Lendas

Ossain, o orixá das folhas

Ossain recebeu de Olodumaré o segredo das folhas e ele não as dava a

ninguém, os outros orixás não tinham poder sobre nenhuma planta, dependiam de

Ossain para manter a saúde ou para o sucesso de suas iniciativas. Xangô, orixá

guerreiro e impetuoso deus da justiça, não admitia depender dos serviços de Ossain

e queixou-se a sua esposa Yansã, senhora dos ventos, que levantou as saias e

agitou-as, impetuosamente. Um vento forte começou a soprar. Ossain guardava o

segredo das ervas numa cabaça pendurada num galho de árvore, com o vento a

cabaça caiu no chão e quebrou, espalhando as folhas. Ossain ao perceber o que

aconteceu, gritou: “as folhas, as folhas”, mas não conseguiu impedir que os demais

orixás as pegassem e as dividissem entre eles, cada um tornou-se dono de algumas

delas, mas Ossain permaneceu senhor do segredo das plantas e das palavras que

devem ser pronunciadas para provocar a sua ação.

E assim, continuou a reinar sobre as plantas como senhor absoluto, graças ao

poder (axé ) que possui sobre elas.

30

Agora é a sua vez! Capriche nas atividades!

1) De acordo com o conteúdo estudado e a pesquisa

realizada com os familiares sobre as plantas medicinais,

preencha a tabela abaixo.

Plantas Funções Uso na medicina

popular brasileira

Uso nos rituais

afro-brasileiros

Alecrim

Arruda

Capim-limão

Poejo

2) Use a sua criatividade e realize as atividades abaixo, será muito

divertido!

a) Confeccione uma cartilha com história em quadrinhos, procurando

correlacionar o uso das ervas medicinais, alecrim, arruda, capim-limão e

poejo na cultura afro-brasileira com a medicina popular brasileira. Não

esqueça de incluir as crenças (mitos) sobre essas plantas.

b) Em grupos, elabore uma peça teatral, abordando o tema sobre a

cultura afro-brasileira.

Sugestões de temas:

Ossain, o orixá das plantas.

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Plantas medicinais na cultura afro-brasileira.

Religiões de matriz africana.

3) Com a ajuda do(a) professor(a) realize em um cantinho da escola, o

plantio das plantas estudadas.

4) Pesquise no dicionário o significado da palavra sincretismo.

Dicas para o professor (a)

Professor(a) leve os alunos ao laboratório de informática para

pesquisarem sobre outras divindades africanas, solicite que façam as

devidas anotações. Na sequência, os alunos deverão formular questões

sobre o assunto pesquisado. Separe a turma em dois grupos A e B. O

primeiro aluno do grupo A deverá fazer uma pergunta para o primeiro

aluno do grupo B, em seguida o primeiro do grupo B faz a pergunta para

o primeiro aluno da grupo A. E assim segue o jogo até chegar nos últimos

alunos dos grupos. Se um dos alunos não souber a resposta, outra pessoa

do grupo poderá responder. Ganhará o jogo o grupo que acertar o maior

número de questões.

Caro professor(a), você encontrará vídeos sobre a religiosidade afro-

brasileira nos sites abaixo:

32

www.youtube.com/watch?v=BKFdvXH5fpk Processo saúde e doença na

perspectiva do candomblé.

www.youtube.com/watch?v=yiZLVwYztTK&feature=related Religiosidade

afro-brasileira 1. Introdução

www.youtube.com/watch?v=jgFPHRpg1c&feature=related Religiosidade

afro-brasileira 2. As casas de nagô.

Para você aprender mais sobre a cultura afro-brasileira, visite os

seguintes sites:

www.acordacultura.org.br

www.unidadenadiversidade.org.br

http://www.aguaforte.com/herbarium/plantas.html

Livros:

Título: Ewé Òrisà: uso litúrgico e terapêutico dos vegetais nas casas de

candomblé Jêje-nagô.

Autores: José Flávio P. Barros e Eduardo Napoleão

Títulos: Plantas medicinais e de rituais afro-brasileiros II: estudo

etnofarmacobotânico.

Autora: Maria Thereza L. De Arruda Camargo

33

REFERÊNCIAS

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BARROS, J. F. P.; NAPOLEÃO, E. Ewé Òrìsà: uso litúrgico e terapêutico dos vegetais nas casas de candomblé Jeje-nagô. 3. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.

BIAZZI, E. O maravilhoso poder das plantas. 2. ed. Tatuí: CPB, 2002.

BOTELHO, D. Religiosidade afro-brasileira e o meio ambiente. Disponível em: http:/portalmec.gov.br/secad/cnijma/arquivos/educação_ambiental/afro_brasileira.pdf Acessado em 10/05/2010.

BRASIL. Diário Oficial da União. Resolução RDC 10, de 10 de março de 2010. Disponível em: www.in.gov.br/autenticidade.html Acessado em 15/06/2010

BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Tabela Drogas Vegetais. Disponível em: http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connecte/bed98b8041b63b4f8cb5dd255d42da10/tabela+drogas+vegetais.pdf?MOD=AJPERES Acessado em 15/06/2010

___________. Religiosidade afro-brasileira: a experiência do candomblé. In: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Educação – Africanidades – Brasil. Brasília: CEAD/UnB, 2006.

BRASIL. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA. Plantas medicinais 2006. Disponível em: www.campinas.snt.embrapa.br/plantasmedicinais Acessado em 28/05/2010

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Diretrizes curriculares nacionais para a educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana. Resolução n° 01, de 17 de junho de 2004. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/res012004.pdf Acessado em: 20/02/2010.

BRASIL, Ministério da Saúde. Proposta de Políticas Nacional de Plantas Medicinais e Medicamentos Fitoterápicos. 1ª ed., 2001. Disponível em: http://bvms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cd03_18.pdf Acessado em 15/05/2010.

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CAMARGO, M. T. L. A. Plantas medicinais e de rituais afro-brasileiros II: estudo etnofarmacobotânico. São Paulo: Ícone, 1998.

34

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