da escola pÚblica paranaense 2009 · 2013-06-14 · estados do sul do brasil”. com todos estes...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS SOLANGE BIORA
HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA: COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO VALE DO RIBEIRA DO PARANÁ E A PRÁTICA NO ENSINO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA.
Figura I CURITIBA 2009/2010
SOLANGE BIORA
UNIDADE DIDÁTICA TEMÁTICA
“HISTÓRIA E CULTURA AFRO-BRASILEIRA:COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO VALE DO RIBEIRA DO PARANÁ E A PRÁTICA NO ENSINO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA.”
Produção Didática apresentada ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE – da Secretaria de estado da Educação do Estado do Paraná,como requisito a Formação Continuada de Professores.
Área PDE: História NRE: Curitiba Orientadora: Profa. Dra.Cláudia Madruga Cunha IES vinculada: UFPR
CURITIBA 2009/2010
Lista de Figuras Figura I
GOMES JÚNIOR, Jackson; SILVA, Geraldo Luiz; COSTA, Paulo A.B. Paraná
Negro – fotografia e pesquisa histórica. Curitiba: UFPR/PROEC, 2008. P.64
Figura II
www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/myl
Figura III
www.funpar.ufpr.br:8080/funpar/boletim/novo2/...
Figura IV
http://www.gtclovismoura.pr.gov.br/modules/galeria/uploads/24/normal_Socorro_Ara
ujo_Corrego_do_Franco_Dona_Sidonia.jpg
Adrianópolis - Paraná
Figura V
Adrianópolis-PR. Comunidade Córrego do Franco. Socorro Araújo – educação.
http://www.gtclovismoura.pr.gov.br
4 APRESENTAÇÃO É papel do professor de História na Educação básica situar seu aluno sobre o contexto
histórico, social e cultural em que ele vive. Dentro deste cenário das novas políticas de
inclusão, os profissionais da história sentem-se forçados a perguntar pela constituição
multiétnica e cultural do Estado do Paraná, no desejo de cumprir sua tarefa de contribuir para
a construção de uma identidade local.
Mas o que traz segurança e motivação para este professor trabalhar com este tema,
uma vez que sua formação teve por base, uma história centrada nos imigrantes europeus e até
asiáticos? O que terá, então, esse profissional a dizer sobre seus conterrâneos afro-
descendentes? Pode ser percebida uma lacuna que se explicita, quando muito pouco se
encontra no meio escolar qualificado, de material didático que contribua para essa sua
pesquisa. O conhecimento como bagagem dos professores e conseqüente preparo de aulas
sobre a temática História e cultura afro-brasileira, especificamente as comunidades rurais
quilombolas do Paraná, acaba esgalgado!
Neste sentido, esse trabalho busca preencher alguns vazios que se fazem presentes em
torno de questões ligadas ao ensino da história e cultura afro-brasileira. Portanto, esta
Unidade Didática Temática, aponta algumas possibilidades e caminhos para subsidiar os
conteúdos curriculares de História e Cultura Afro-Brasileira, no ensino básico. Pretende
contribuir para que os docentes desta disciplina e outras afins possam aprimorar este diálogo
em sala de aula e ensinar a história sob uma educação ampla e não segmentária; pois, afinal
quando se fala de história trata-se da história do seu povo. A questão que fica por detrás de
tudo isto é se a história que hoje se ensina nas escolas do Estado do Paraná, é realmente a
história do povo que nele vive?
A temática a que se refere este material é especificamente sobre as comunidades rurais
quilombolas do Vale do Ribeira do Paraná e a prática no ensino de História. A intenção na
escolha deste assunto é facilitar o acesso e conhecimento aos docentes sobre este núcleo
cultural excluído da História local.
Através de fontes bibliográficas impressas e virtuais pesquisada, bem como relatos da
prática em sala de aula, esta produção didática surge para que possa contribuir em subsidiar a
ação dos professores e, neste contexto, ampará-los para atuar com autonomia pedagógica,
incluir nos conteúdos das aulas de História do Brasil e do Paraná as comunidades
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quilombolas.
1. Lei nº 10.639/03 e sua prática
Já há quase uma década, pode-se dizer que existem ações governamentais que tentam
resgatar a positividade identitária dos excluídos no contexto escolar. Estas tentam fazer
emergir a temática da História e cultura afro-brasileira nos conteúdos das disciplinas
curriculares, especialmente na disciplina de História. O Governo Federal promulgou a Lei
Federal nº10.639/03, ação que mostra-se como resultado da perseverança e insistência das
manifestações, das reivindicações e das presões do movimento negro desde abolição da
escravatura no Brasil. A referida lei determina que: “Art. 26 – Nos estabelecimentos de ensino
fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e
Cultura Afro-Brasileira.” (SEED-PR,2005 p.15)
No caderno temático, História e Cultura Afro Brasileira e Africana, lançado em 2005,
pela SEED-PR (p.35) , pode-se ler com clareza: “Um dos aspectos valorosos da lei é que ela
escancara, impõe a diversidade cultural e racial para quem negou-se até agora a ver que os
afro-brasileiros existem, foram e são sujeitos na construção da sociedade brasileira.”
Esta lei cumpre atenuar o modelo eurocêntrico no ensino de História e contribuir na
articulação de uma educação multicultural na escola brasileira.
Figura II Embora a obrigatoriedade da lei promulgada desde 2003, o que se vê no dia-a-dia das
escolas, é que por si só, este instrumento não garante a prática deste ensino. Tanto é que ainda
hoje em 2010, muitos docentes a desconhecem, por conta da formação profissional que não
20 de Novembro. “Dia Nacional da Consciência Negra”. Esta data deve fazer parte do Calendário Escolar. Outra conquista vinda através desta Lei. Na sua escola o que está sendo feito em alusão a este dia?
Pense nisso
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incluiu e não inclui no curriculo acadêmico, e até mesmo na formação continuada dos
professores da educação básica. Diante desta lacuna que separa a teoria da prática,
dificulta a iniciativa docente em qualquer ação para suprir a demanda da referida lei.
Percebe-se uma preocupação dos docentes com a exigência de praticar a lei. Mostram
Santana e Alves que a “aprovação da Lei 10.639/2003 gerou nos meios escolares e
acadêmicos algumas inquietações e muitas dúvidas”
(http://www.africaeafricanidades.com/documentos/Tensoesdesafios_Itapetinga.pdf) logo,
ainda, é latente entre nós a questão; como ensinar sobre povos e comunidades o que não se
conhece?
Neste sentido, o conhecimento e aplicabilidade da lei apontam para a escassez de
subsídios e materiais didáticos disponíveis na escola, meios instrucionais que resgatem
positivamente os povos excluídos na História, ou seja, os afro-descendentes. Com isso se
pode declarar ainda aberto e por se concretizar o espaço de inclusão na escola. O que está
proposto no documento regulatório não chega a ser uma prática desejável.
Dando enfoque às orientações curriculares, para a educação étnico-racial da
Prefeitura do Município de São Paulo, lançado em 2008, p.21, alerta-se para as
conseqüências de um meio escolar de ensino no qual se omite a cultura afro-brasileira em seu
currículo:
A obrigatoriedade da implantação da Lei nº 10.639/03, que determina nos currículos
escolares o ensino sobre História e cultura afro-brasileira, prioriza que o sistema educacional
brasileiro, não pode mais ficar isento de procurar meios que venham contemplar a temática
“[...] A ausência nos currículos escolares da história e da cultura afro-brasileiras e africanas reforçou o racismo, incutiu a percepção discriminatória nas crianças brancas em relação às pessoas negras, inibiu a auto-estima das crianças negras, estimulou a evasão e a repetência escolares e impossibilitou o acesso a outros conteúdos e conhecimentos produzidos pela humanidade.[...]”
“Cabe à escola a tarefa de pensar possibilidades de acesso às diferentes culturas, não no sentido de incluir em seu calendário datas exclusivas para trabalhá-las, mas no sentido de permitir que os alunos compreendam que há diferenças e semelhanças entre uma cultura e outra.” (FELIPE e TERUYA,2008 p.17)
Para refletir
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afro-descendentes, as comunidades remanescentes de quilombos nos conteúdos das
disciplinas curriculares.
Logo, parece mais que necessário se fomentar um debate sobre o significado do ensino
da História para as diversidades regionais. Especialmente no que se refere a História local,
emerge afastá-la dos exageros à europeização na produção do conhecimento histórico. Não
que se pretenda abolir a matriz européia em detrimento da matriz africana, embora se busque
pontuar um caminho de superação da unicidade da história de um povo, na historiografia
brasileira e paranaense.
Urge, portanto, rever os conteúdos, os materiais didáticos que acolham uma prática
pedagógica mais próxima dos grupos culturais esquecidos. Cabe resgatar uma outra história
do Paraná, uma ainda não contada na escola e nas instituições que preservam a memória local,
no resgate dos povos excluídos; incluindo entre eles, os afrodescendentes e as comunidades
rurais quilombolas do Vale do Ribeira do Paraná.
2. Resgatando os quilombos do Vale do Ribeira paranaense Os povos deixados à margem pela história oficial; ou seja, os remanescentes de
quilombos do Vale do Ribeira paranaense, serão aqui temátizados ao se destacar alguns
aspectos da sua gênese, tais como: suas vivências; cultura e realidade; os aspectos essenciais
AFRO-BRASILEIRO “ o conceito de afro-brasileiro foi popularizado na década de 1970 e difundido nos anos de 1980 pelos estudiosos das questões étnico-raciais em função da revisão feita ao conceito de raça na conferência da UNESCO em1950. O afro-brasileiro está vinculado à origem e a cultura africana e ao território de nascimento do individuo, marcando, portanto, uma situação sócio-cultural e com viés identitário” (arqs.portaleducacao.prefeitura.sp.gov.br/.../educacaoetnicoracial.pdf)
AFRO-DESCENDENTE “O conceito de afro-descendente é filho do contexto da globalização e também de articulações e negociações entre os descendentes de africanos nas diversas partes do mundo. O conceito de afro-descendente serviu, nessas condições, aos interesses mais diversos da população da diáspora africana, inclusive na conferência mundial contra o racismo, a xenofobia e outras formas correlatas que ocorreu em Durban (África do Sul) no ano de 2001”(arqs.portaleducacao.prefeitura.sp.gov.br/.../educacaoetnicoracial.pdf)
Aprofundando Conhecimento
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que formam este núcleo cultural no Paraná.
No Paraná, os negros escravos chegaram “com os Bandeirantes paulistas e
portugueses[...] em meados do século XVII” para trabalharem, na atividade econômica
principal, o tropeirismo e a erva-mate. Pesquisas mostram que em Castro, Tijucas do Sul,
Palmas e outras regiões, existiram quilombos, em menor escala que outras regiões do Brasil,
porém, os escravos viviam sob as mesmas condições de vida e sofrimento que todos os
demais escravos do período colonial brasileiro (www.diaadiaeducacao.pr.gov.br).
Após a abolição da escravatura, o Paraná não escapou à conjuntura nacional, ou seja, o
governo estadual não dispôs de qualquer auxílio financeiro ou material aos ex-escravos.
Sobrou a esse povo a sarjeta, as favelas, para sobreviverem constituindo-se neste descaso,
como parte do povo paranaense. Muitos problemas sociais, hoje enfrentados pela nossa
sociedade, incluindo alguns que parecem sem solução a médio prazo, nasceram aí nesse
Brasil colonial.
Segundo a Revista Africaxé (2004, p.4) citado no texto do objeto de aprendizagem,
sobre a presença negra no contexto histórico paranaense, mostra que “o censo de 2000, que
trouxe um percentual de 23% de afro-descendentes do conjunto de toda a população
paranaense.” Dados do IBGE, coletados em 2008 conclui quê, 28,5% da população
paranaense se autodeclara preta e parda. Em Santa Catarina esse índice é de 9,6% e no Rio
Grande do Sul é de 11,2%.
Esta estatística, ainda neste mesmo texto, afirma que “o Paraná é o mais negro dos três
Estados do Sul do Brasil”. Com todos estes dados fica dificil ignorar a diversidade étnico
cultural, das gentes do sul. Levando em conta que se destaca aqui as que vindas do continente
africano, mesclaram sua cultura e hábitos com os demais povos que caracterizam o Paraná.
“Somente o conhecimento da história da África e do negro poderá contribuir para se desfazer os preconceitos e estereótipos ligados ao segmento afro-brasileiro, além de contribuir para o resgate da auto-estima de milhares de crianças e jovens que se vêem marginalizados por uma escola de padrões eurocêntricos, que nega a pluralidade étnico-cultural de nossa formação.” (FERNANDES,
2005, p.382)
Para refletir
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A partir de 2004, inicia-se a pesquisa pelos futuros integrantes do Grupo de Trabalho
Clóvis Moura1, criado em 2005 pelo Governo do Estado do Paraná, com o objetivo de fazer o
trabalho de levantamento da existência das comunidades rurais quilombolas e Comunidades
Negras Tradicionais, para ajudar na tarefa de construir uma política de Estado, para estas
comunidades.
Este grupo de trabalho constatou que há diversas comunidades. Um número
significativo foi apontado, mostrando a emergência de uma ação mais afirmativa sobre este
contexto:
Segundo Gomes Júnior; Silva e Costa (2008 p.22) foram levantadas através de
mapeamentos, 90 (noventa) comunidades remanescentes de quilombos no Paraná, sendo 36
(trinta e seis) certificadas pela Fundação Cultural Palmares, órgão do Governo Federal,
responsável pela expedição de certificados de reconhecimento. As comunidades iniciaram “de
um tronco familiar e, em torno desses “casais primeiros”, foram se organizando e com o
tempo se definindo. O conjunto desses espaços e famílias é intitulado “Comunidade Negra
Rural Tradicional” e aquelas em que se fez a auto declaração e, por conseqüência, se obteve a
certificação, são conhecidas por “Comunidades Remanescentes de Quilombo.”
A localização deste povo não se define por uma ou outra região. Pode-se encontrá-los
tanto no litoral, em Guaraqueçaba, quanto na região oeste, no Guaíra. O povoamento no Vale
do Ribeira, mostra que a territorialidade negra está ligada à expansão das frentes de mineração
1 Cientista Social, que produziu obras significativas sobre os negros escravizados no Brasil e sobre a questão racial brasileira.
Somente a partir da carta constitucional de 1988,e através das pressões e luta do Movimento Negro que foi se descortinando a existência dos quilombos no Brasil . Apesar das comunidades serem centenárias em sua organização, inclusive no Estado do Paraná.
Sabendo mais
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da freguesia. Esta ilustrou-se desde de Iguape rumo Rio Ribeira fixando-se neste território
desde os séc. XVII-XVIII, onde os colonizadores “em posse de africanos escravizados,”
exploraram a região aurífera e a agricultura. Com a decadência da mineração por volta de
1790 e a crescente exploração “da cultura de cana, mandioca, café, feijão, fumo, milho e,
posteriormente da monocultura do arroz,” fez com que o “povoado localizado no Ribeirão
Iporanga,” (http//www.itcg.pr.gov) migrasse para a margem do Rio Ribeira. Assim
desenvolveu a organização das comunidades quilombolas do Vale.
Hoje se somam doze comunidades quilombolas, certificadas, pela Fundação Cultural
Palmares, no Vale do Ribeira paranaense. Elas estão distribuídas nos Municípios de
Adrianópolis, Doutor Ulysses, Cerro Azul, (existe um núcleo de famílias
pertencente ao quilombo Mamãs, localizado no município de Castro) e Bocaiúva do Sul, que
em dados oficiais do Governo Federal diz que o quilombo Areia Branca, pertence a
Adrianópolis.
No Município de Adrianópolis está a maior concentração de comunidades e famílias
quilombolas, atualmente contém nove comunidades certificadas pela Fundação Cultural
Palmares, que se chamam: João Surá, Praia do Peixe, Porto Velho, Três canais, Córrego do
Franco, Sete Barras, Córrego das Moças, São João, e Estreitinho. Estas comunidades surgiram
com a formação da territorialidade negra no Vale do Ribeira. Segundo o Instituto de Terras
Cartografia e Geociências do Paraná (2008) estão “Localizadas nas proximidades do Rio
Pardo, que se auto declararam remanescentes de quilombos”.
Essas comunidades que ainda se caracterizam por seu isolamento, mostram nessa
atitude as marcas da resistência que outrora lhes garantiu a existência. São quilombos
O poder constituinte reunidos em 1988 consignou o artigo 68 do ato das disposições constitucionais transitórias que dispõe: “Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.”
Aprofundando conhecimentos
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formados pelos ex- escravos que fugiram dos maus tratos à procura de um território livre para
viver. Sofreram, e nestes dias ainda sofrem com a falta de amparo e assistência aos meios
sócio-culturais que lhes garantam uma vida digna, não apenas a sobrevivência.
Esta situação precária soma-se à ausência de benefícios sociais, como bolsa família,
aposentadorias, bolsa escola, agravados pela falta de documentos pessoais. Poucas crianças
freqüentam a escola. Há anos as comunidades rurais quilombolas, clamam e lutam pelo
direito a terra, à saúde, educação, trabalho, respeito pelas suas diferenças, do modo de
organização, pela identidade religiosa e territorial.
A pressão dos vários interesses mercadológicos, no contexto das politicas neoliberais,
avançam sobre esse território e são uma constante ameaça à integridade cultural e ao cultivo
de roças comunitárias que subsistem no sistema de mutirão das famílias quilombolas. Carril,
sensivel aos temores deste povo explica que “a sua produção econômica é muito pequena e
não lhes dá margem de lucratividade, muitos aspectos ligados às suas relações sociais internas
e externas encontram-se comprometidas pelas mudanças no padrão de trabalho e pela sua
inserção no mercado”.(http://www.ub.es/geocrit/sn/sn119-39.htm) O que se ve como
consequência a estes fatores são escassez de alimentos e a dificuldade financeira na aquisição
“Reconhecer a existência dos quilombolas é aceitar a história de resistência de um povo, mas ao mesmo tempo o fracasso do Estado, que respaldado pelo mito da democracia racial e aliado à ideologia do branqueamento, mantinha a expectativa de que, com o passar do tempo, este grupoesqueceria suas origens.E então, reconhecer os quilombos é enxergar, do lado avesso do progresso tecnológico, científico e econômico, as marcas profundas da exclusão. Eis a questão.” (arqs.portaleducacao.prefeitura.sp.gov.br/.../educacaoetnicoracial.pdf)
Com esta realidade, é preciso rever a História do Paraná . A História não contada. A história das minorias, dos excluidos. Este pode ser um dos temas para a aula de História e cultura afro-brasileira.
Pense nisso
Para refletir
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de produtos básicos para suas sobrevivências. O que leva a marginalização das condições de
vida da população afrodescendente e esta sua situação de precariedade os soma aos baixos
indíces de desenvolvimento humano.
Outro fator de ameaça à sobrevivência deste povo é o conflito agrário com os grileiros
e com as madeireiras de porte internacional que invadem seu território. Estes, destroem suas
roças e derrubam a mata preservada, visando grandes lucros com o comércio extrativo da
mata atlântica, e por conseqüência, a destruição do meio ambiente. Nos cadernos temáticos da
SEED/PR/2008, pode se ler mais detalhes desta situação:
“ Nas comunidades localizadas no Vale do Ribeira Paranaense[...] as pressões são exercidas por fazendeiros( em sua maioria grandes pecuaristas)e pelas empresas de reflorestamento de pinus e eucalipto(associadas a grandes conglomerados nacionais e multinacionais produtores de celulose), que prejudicam a reprodução social dessas comunidades através da derrubada das matas nativas e ciliares, da destruição de nascentes,poluição das águas[...]e através do uso intensivo e indiscriminado de agrotóxico, além da invasão de suas terras” (SEED-PR/2008, p. 60).
Diante deste contexto, não se pode rejeitar em utilizar a lei 10.639/03 como um meio
de permitir a visibilidade deste povo e de suas questões. Pois muitas são as alterações na
preservação cultural legada dos seus ancestrais nos dias presentes e nem todos elas podem vir
contribuindo para a capacidade de emancipação identitaria destas comunidades rurais
quilombolas. Segundo Carril:
“Tanto as relações de reciprocidade, que preservam o modo de vida camponês com os graus de confiança interpessoal se alteram. Os mutirões foram abandonados em vista da luta que para cada um se impõe no dia-a-dia. O ritmo se altera, porque não há mais tempo que não esteja em prol de adquirirem meios e recursos financeiros para dar continuidade até a unidade familiar, núcleo de vida camponesa.” (http://www.ub.es/geocrit/sn/sn119-39.htm)
Esta realidade, frusta as comunidades que se deparam com o distanciamento do seu
bem cultural, que é a terra, onde, de geração em geração buscam outros meios para a
Das regiões do Estado do Paraná, o Vale do Ribeira é uma das que se apresenta com o menor IDH. Situação de extrema pobreza.
Sabendo mais
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sobrevivência.
Um os primeiros passos para amenizar a fragmentação cultural, diante das diversas
ameaças que vem sofrendo as comunidades rurais quilombolas é a titulação das terras. Porém,
a burocracia e a demora por parte dos órgãos governamentais na conclusão dos processos de
regularização dos territórios dos remanescentes de quilombos, só tem contribuído para o
acirramento do conflito agrário na região. Quando se pesquisa mais de perto esta realidade, o
que mostram os numeros é que os quilombos se sustentam sob uma situação de tremenda
vulnerabilidade:
“até hoje poucas comunidades no Brasil receberam o título de propriedade de suas terras. Hoje se estima que existam cerca de 2.500 comunidades quilombolas no Brasil, das quais apenas 65 receberam título desde 1988. Se fizermos a conta, veremos que a média de titulação é de 4 comunidades por ano. Mantido este ritmo serão necessários 625 anos para titular todas as terras de quilombos do Brasil, ou seja, no ano de 2.631 a situação estaria resolvida. Dá para esperar tanto?” (www.quilombosdoribeira.org.br)
Esta questão tem desafiado o governo e a própria população que habita os quilombos.
Segundo Juventino, quilombola da Comunidade de Remanescente de Quilombo do Varzeão,
Município de Doutor Ulysses é um dos atores desse processo onde espera realizações
concretas, tem se mostrado atuante na luta pela titulação das terras quilombolas:
“ A gente sempre brigando, esperando pelo governo. Quando a gente fala com o governo eles falam que a terra tem de ser intitulada. Temos nessa área mais de 3.000 pés de laranja. Tínhamos as placas que foram moídas pelas madereiras.” (http://afrobrasileira.multiply.com/journal/item/46)
“A identidade dos quilombolas é com a terra, e neste sentido a terra não é somente uma extensão geográfica, e, sim,um território cultural. Quilombola sem terra não deixa de ser quilombola, mas perde seu território cultural, assim como já perdeu sua língua e grande parte de seus valores.[...] Também os limites geográficos dos quilombos são tênues, por vezes a mesma cerca que separa o terreno do fazendeiro separa as terras quilombolas” (arqs.portaleducacao.prefeitura.sp.gov.br/.../educacaoetnicoracial.pdf)
Aprofundando conhecimentos
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A morosidade dos órgãos governamentais, em emitir o documento que dá a posse
legal dos territórios quilombolas, tem gerado situações de extrema violência e extermínio dos
povos quilombolas que habitam o vale do ribeira do Paraná, por parte dos madereiros que se
intitulam donos de suas terras. Até quando a sociedade vai fechar os olhos para esta
realidade?
Apesar de todo os tipos de sofrimento sentidos pelas comunidades quilombolas do
Vale do Ribeira, não se vê esmorecer a força desse povo ao lutar pela manutenção da cultura
dos seus antepassados. Para ilustrar um pouco mais da história deste povo tão paranaense
como os italianos, os alemães, os polacos, os árabes, etc., vale destacar as características
culturais recorrentes desta gente, que tem sobrevivido à massificação cultural que nestes
tempos não poupa ninguém. Valendo-se da pesquisa organizada por Gomes Júnior; Silva e
Costa (2008), passa-se a apresentar mais de perto a organização sócio-cultural deste povo.
Figura III
Recentemente, em 2008, os quilombolas da comunidade do Varzeão, em Doutor Ulysses, sofreram tentativa de homícidio e incêndio de suas casas, a mando das madereiras da região mediante jagunços e policiais, agindo arbitráriamente.Este fato é de conhecimento da comunidade escolar? É estudado no ensino de História?
Pense nisso
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Uma das coisas que caracterizam as populaçãoes quilombolas é a casa de farinha (de
mandioca) que expressa a identidade quilombola, no trabalho e uso coletivo, no espaço de
socialização, que tiram o sustento para suas famílias. As casas de farinha no seu mobiliário
centenário trazem uma marca registrada dos ancestrais dos quilombolas, que é o fogão de
barro conhecido como fogão de taipa, que também está presente nas casas, para envolta dele
se reunirem e conversarem sobre o dia-a-dia.
O modo como freqüentam outro ambiente utilitário, a cozinha como espaço social é
relevante para conhecê-los. As construções de suas casas mostram um diferencial, pois cada
construção dos quilombolas é feita coletivamente, utilizando barro e varas de bambus ou
taquaras. Esta última quando costumava ser uma vegetação abundante; atualmente, algumas já
foram melhoradas, como de tábuas e/ou substituídas por alvenaria. Os conhecimentos
acumulados historicamente possibilitam estas construções, suas divisões e seu sistema de
saneamento.
Nas divisões da casa, a cozinha é construída, do lado de fora separado do restante da
residência, pois na casa não deve entrar coisas mortas. “Nas comunidades quilombolas do
Paraná, esse traço cultural não é consciente e está bastante difuso. No entanto, as suas
cozinhas continuam sendo construídas fora do corpo da casa.” (GOMES JUNIOR; SILVA e
COSTA ,2008, p.95)
Este povo, tão alegre e tão sofrido, busca na religião conforto e adesão à uma
A maioria dos moradores do município de Adrianópolis, incluindo o meio escolar, desconhecem a existência das comunidades quilombolas do local. Portanto, neste ano de 2010, a Comissão Pastoral da Terra escolheu Adrianópolis para realizar a Romaria da Terra, trazendo os quilombolas até a cidade para expor sua cultura, religiosidade e trabalhos artisticos. Que tal trabalhar com os alunos este fato !
Sabendo
mais
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explicação sobre aquilo que os suplanta. Nisso operam, na singeleza de seus ritos, uma fusão
de elementos reinterpretados do catolicismo. Pode se dar como exemplo o Terço Cantado e
Recomendação da Quaresma na comunidade de João Surá, com elementos ancestrais da
religiosidade africana, marcando bem a tradição religiosa nos remanescentes de quilombos de
Adrianópolis. A agricultura de subsistência é outra marca cultural nas comunidades quilombolas do
Vale do Ribeira. Esta é uma atividade de plantio, familiar, voltada para o seu sustento,
preservando a biodiversidade do local, tanto que existem parques de preservação ambiental no
território quilombola. O benefício da biodiversidade preservada está presente na medicina
popular, que extrai da natureza remédios para cura de várias doenças.
Além da prática da agricultura de subsistência, o trabalho diário dos habitantes da
comunidade se concentra em criar pequenos animais como aves e suínos; em “construir casas,
paióis, templos, salões de baile; em fazer cerca para as plantações. Logo, esses afazeres
compõem sua “jornada diária de afazeres é necessária à sobrevivência e compõe um momento
agradável de descontração entre os pares.” (GOMES JÚNIOR; SILVA e COSTA ,2008, p.62).
Mas não se deve esquecer que nem tudo é júbilo nesta comunidade, pois a constante
violência no campo e a expulsão as famílias de pequenos agricultores pelos latifundiários tem
sido a marca da desagregação cultural de geração em geração, expulsando-os dos seus lugares
de origem, as populações quilombolas.
Cabe aos professores que desejam trabalhar com este tema lembrar um velho ditado:
“A união faz a força”. Pois parece ser esse o lema deste povo. É um exemplo essa sua união,
que se costura na realização das tarefas rotineiras dos quilombolas. A cada desafio eles se
juntam, fazem um mutirão, em que cada um contribui no que pode e sabe dentro das suas
“O crescimento assustador da ação das milicias armadas no Paraná tem sido constantemente denunciado pelas organizações de direitos humanos do Estado. Os dados da CPT(comissão pastoral da terra) demonstram o aumento assustador assustador da ação das milícias armadas escondidas sob a fachada de empresas de segurança no Paraná. Em 2007 foram 1.188 famílias violentadas, ameaçadas e intimidadas pelos grupos armados a serviço do latifúndio, um aumento de 35% se comparado com os dados de 2006(764 familias). Estes dados fazem do Paraná o 2º (atrás apenas do PA) no número de famílias vítimas das ações das mílicias paramilitares” (http://afrobrasileira.multiply.com/journal/item/46)
Sabendo mais
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condições, seja, intelectuais, físicas ou técnicas. Aceitam qualquer trabalho como doação
coletiva, desde fazer um roçado, quanto consertar ou reformar um equipamento. “É no
trabalho em conjunto que os quilombolas, de forma inconsciente, reforçam os laços de
ancestralidade, de união. Essa solidariedade é o que tem garantido a sobrevivência das
comunidades quilombolas do Paraná.” (GOMES JUNIOR; SILVA e COSTA ,2008, p.63)
A luta pela sobrevivência cultural, pela vivência em comunidade e pela preservação
de sua identidade é uma constante história presente no povo quilombola, é sua maior
conquista e garantia dos seus direitos.
Esta descrição sobre a realidade das comunidades rural quilombolas do Vale do
Ribeira demonstra que é possível dar início ao trabalho de conhecimento divulgando este
núcleo cultural no meio escolar. Especificamente, no ensino de História, quando se amplia
horizontes e subsídios para as práticas pedagógicas que naturalizem as diversidades culturais,
presentes na historiografia paranaense.
3. O Livro Didático e a História e Cultura Afro-Brasileira A temática História e Cultura Afro-brasileira tem sido abordada de forma superficial,
esporádica, excludente, distante da história do Brasil e da historiografia local. Quando se fala
Qual passo está sendo dado no ensino de História, na valorização cultural das
comunidades quilombolas? A pedagogia da auto-estima do ser negro ou descendente, ou a pedagogia da afirmação da inferioridade?
Pense nisso
“Desde os primórdios da colonização marcada pela discriminação racial, os negros tiveram as suas práticas ancestrais abafadas, marginalizadas e deturpadas, comprometendo, assim, a sua inserção plena no processo social brasileiro.”(FELIPE e TERUYA,2008,p.18)
Saber mais
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dos currículos escolares e dos livros didáticos se narra uma situação conseqüente a e este
panorama. Nos conteúdos curriculares atuais e nos livros didáticos, no ensino de História na
Educação básica, ainda predomina um conteúdo de padrão europeu. Tal formato tem trazido
muito mais a história do velho mundo, contada pelo poder dominante do que a história
contada pelos povos que foram colonizados, escravizados e excluídos do contexto histórico
social brasileiro e paranaense. Fernandes (2005, p.380) diz: “apesar da renovação teórico-
metodológica da História nos últimos anos, o conteúdo programático dessa disciplina na
escola fundamental tem primado por uma visão monocultural e eurocêntrica de nosso
passado.”
Ora, depois de tudo que foi tratado aqui sobre os afro-descendentes, os remanescentes
de quilombos, as comunidades rurais quilombolas do Brasil e do Paraná é de se esperar que
tanto a escola como o professor de história das séries finais do ensino fundamental, venham
a trabalhar seu material didático com outros subsídios em relação aos afro-descendentes
paranaenses.
Afinal tematizar este povo pode ser um meio que faça todos exigirem por encontrar
dados sobre este povo na biblioteca escolar! Um veículo de desinquietação que exija, por
exemplo, uma formação continuada oferecida pelo estado, para atualização da profissão do
professor de História, sobre conteúdos que incluem os afro-brasileiros!
Quer este material didático mostrar a insuficiência do que se disponibiliza para
pesquisa no contexto de atuação ao professor sobre este tema. Quer antes ser a pergunta:
Onde eles estão? Quem são eles? Quem os visualiza na escola, nos livros que se utilizam para
o ensino da história? E, sem fechar-se numa resposta ressalta-se a importância de trabalhar
conteúdos onde apareçam representados esse povo em seus direitos. Os remanescentes de
quilombos, as comunidades rurais quilombolas, na sua condição de sujeitos que contribuiram
“Currículos e manuais didáticos que silenciam e chegam até a omitir a condição de sujeitos históricos às populações negras e ameríndias têm contribuído para elevar os índices de evasão e repetência de crianças provenientes dos estratos sociais mais pobres. A grande maioria adentra nos quadros escolares e sai precocemente sem concluir seus estudos no ensino fundamental por não se identificarem com uma escola moldada ainda nos padrões eurocêntricos, que não valoriza a diversidade étnico-cultural de nossa formação”.(FERNANDES, P. 380,.381)
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e contribuem para a formação do povo paranaense não deveriam aparecer tão fugazmente, na
narrativa histórica e no rol de conteúdos
do livro didático no ensino de História do Brasil e do Paraná.
Com isso, não se deixa de evitar que o professor de história quando faz alusão; por
exemplo, a história do Brasil colonial e à abolição da escravatura, não os comente. É
lamentável que na história do Brasil República se explicite tanto sobre a vinda dos imigrantes
europeus, mas quase nada se diga do povoamento do Paraná, do povo negro. Quando se falará
dos movimentos rurais e urbanos? Quando se começará na história, a tematizar nossa
realidade social incluindo nela as contribuições e saga da sobrevivência do povo negro?
Quer este material alertar para o professor de História que na sua prática encontra
dificuldades e até poucas oportunidades de trabalhar a temática da história e da cultura afro-
brasileira, para importância deste profissional superar estas lacunas. Sendo todo professor um
formador de opinião, o que trabalha com a história mesmo sem contar com os subsídios dos
livros didáticos, não deve se eximir de sair em busca de um conhecimento multicultural para
sua abordagem. Tomando uma postura de desvendamento e positividade perante os afro-
descendentes paranaenses. Não se pode esquecer que a maior parte dos nossos problemas
sociais hoje vem do nosso desconhecimento da própria realidade.
Atualmente, vem sendo discutidas propostas de revisão do livro didático público,
atendendo a inclusão da temática História e cultura afro-brasileira nos currículos escolares.
Porém, pouco tem mudado nas narrativas deste material didático.
O Ministério da Educação e Cultura, órgão do Governo Federal responsável pela
escolha do livro didático, diz que um dos critérios de escolha do referido material é o de
delinear o caráter positivo sobre os negros nos escritos didáticos. Mas, ainda encontram-se
nestes materiais associações que maculam a imagem dos negros, dos afro-descendentes a
identidade inferior aos brancos. “Em pleno século XXI, as pesquisas sobre os livros didáticos
“A escola brasileira ignora tanto a África quanto os afrodescendentes. A sociedade brasileira, quando não os ignora, os olha com suspeita. Depois de passar toda a infância invisível nos livros escolares, ao entrar na adolescência esses jovens se tornam suspeitos em potencial.Texto: Oswaldo Faustino,“Reflexões diante de um espelho sem reflexo”, Novembro de 2007. Se não mudarmos juntos esta história, dificilmente esses jovens participarão na construção da própria cidadania”.(arqs.portaleducacao.prefeitura.sp.gov.br/.../educacaoetnicoracial.pdf)
Para refletir
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e paradidáticos mostram [...] materiais nas escolas que continuam a associar o negro e a negra
com percepções negativas tais como: não-humanidade, maldade, feiúra, tragédia, e a sujeira”
(www.mp.pe.gov.br/uploads/.../planonacional_10.6391.pdf )
Também, afirma Fernandes (2005, p.385) “Ainda hoje, apesar da renovação da
historiografia brasileira nos últimos anos, os livros didáticos existentes no mercado editorial
não contempla a riqueza da diversidade étnico-cultural de nosso país, cuja matriz afro-
brasileira merece ser ressaltada para que, de fato, tenhamos uma escola plural e democrática”.
Nessa tendência se investiga o modo de organização do material didático. Especial
mente o livro didático público distribuído pelo governo do estado do Paraná e pelo governo
Federal. Esse material é ferramenta muito usada no ensino de História das séries finais do
ensino fundamental e nas séries do ensino médio.
Questiona-se que estes livros sendo utilizados como base das aprendizagem pré-
definem e sacralizam conteúdos do ensino de história eurocêntrica deixando os afro-
descendentes, os quilombolas à margem das suas narrativas, àquelas consagradas pela
historiografia oficial.
Cabe aos docentes em contato com este material e outros que compõem o acervo da
biblioteca escolar, rever e refletir constantemente sobre o teor dos textos, imagens,
fotografias, especificamente em relação à diversidade cultural, para que não venha transmitir
aos alunos imagens estereotipadas, e negativas sobre o negro e seus descendentes na História
do Brasil e do Paraná.
Esmiuçar o material didático, que hoje se encontra na escola é mostrar o que ele não
chega a trazer sobre este tema tão relevante. Mais que isso, é revelar que essas seqüelas
contribuem para que este povo seja banido da visibilidade do meio escolar, contribuindo com
ações que o discriminam da identidade do ambiente escolar. Contribui, portanto, com outras
Nasce um evento público no Paraná para divulgar a cultura quilombola. A I Feira Quilombola do Paraná, divulgada no
site do NEREA/SEED, dias 27e 28 de agosto de 2010. Lembrando que, as comunidades quilombolas são
centenárias em sua existência no estado.
Saiba mais
21
invisibilidades tais como: as etnias diferenciadas e outras excluídas do meio sócio
educacional.
Neste contexto, o professor de História necessita de abastecer-se de subsídios, preparo
metodológico e consciência crítica, para se adequar de modo eficiente, para amparar uma
elevação positiva e significativa dos povos multiculturais.
Figura IV
4. Fontes de consultas e subsídios para além do livro didático
A seguir, algumas fontes para consultas na tentativa de minimizar as dificuldades de
trabalhar com a temática dos afrodescendentes e quilombolas. Estes acessos tentam dar
“No Brasil, o grupo afro-descendente negro, mesmo constituindo cerca de 50% da demografia brasileira, ainda está sub-representado na maioria das esferas da vida social. Essa ausência de representatividade repercute no sistema de ensino, que desqualifica ou simplesmente se cala a respeito da história e da cultura negro-africana.” (FELIPE e TERUYA,2008, P.10)
Para refletir
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subsídios para o professor que quer trabalhar este tema. Serão de grande auxílio no momento
em que planeja uma aula sobre os afrodescendentes e as comunidades quilombolas.
O tempo em pesquisar é escasso, daí a ideia de facilitar as buscas divulgando sites e
outros2 onde se pode encontrar na temática da História a cultura afro brasileira, as
comunidades quilombolas do Brasil e do Paraná.
Sites por assuntos:
a) Comunidades quilombolas do Paraná
soylocoporti.org.br (acesso em 25/08/10)
Aqui você vai encontrar: Desenvolvimento Sustentável Comunidade Quilombola João
Surá. Esta comunidade fica em Adrianópolis - Paraná; Textos: Sobre o Vale do Ribeira de SP
e PR, sobre o movimernto de luta contra barragens; Fotos: Da Romaria da terra em
Adrianópolis; Vídeos: Comunidade Quilombola João Surá. Acesso direto do canal yotube.
gtclovismoura.pr.gov.br (acesso em 25/08/10)
Se você quer saber mais sobre, a história dos quilombos e quilombolas no Paraná, os
marcos legais, as questões sociais, acesse já o Grupo de Trabalho Clóvis Moura, citado acima.
Nesse espaço digital se pontuam regiões do estado onde se vê de modo bem claro as
comunidades quilombolas, mostradas através de mapas, etc. Ainda, possui um acervo digital
com diversas fotos de todas as comunidades, bem como, de vídeos e documentos virtuais.
idesc.org.br(último acesso em25/08/10)
2 Veja ao final nas referências.
“Atualmente, a maioria dos analfabetos ou iletrados, semi-alfabetizados ou analfabetos funcionais em nosso País é composta de afro-brasileiros. Esse processo não se dá pela falta de interesse ou assiduidade, mas é fruto da política educacional que, entre outros aspectos, sugere o branqueamento, o enquadramento do comportamento social dos negros, denotando o racismo nas instituições de ensino.”(Orientações Curriculares,2008,p..67)
Sabendo mais
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Aqui você vai encontrar diversas notiícias sobre o que acontece no Vale do Ribeira em
são Paulo e no Paraná, sobre as questões que envolve as comunidades quilombolas e seu
território.
afrobrasileira.multiply.com(último acesso em 01/09/2010)
Este site é bem legal, pois traz vídeos de curta duração que podem ser usados dentro
do tempo da aula. Disponibiliza vários textos que atualizam o professor sobre as relações
étnico raciais no Paraná, além do acervo fotográfico mostrando os quilombos e quilombolas
do Varzeão em Doutor Ulysses e João Surá em Adrianópolis, ambos municípios paranaenses.
b) História e cultura afro-brasileira
museuafrobrasil.com.br(último acesso em 01/09/2010)
O Museu Brasil vai disponibilizar um banco de imagens bem legais!
pucminas.br/raça-cor-etnia (último acesso em 01/09/2010)
Criado na universidade que adota o nome, este site contém slides sobre as
comunidades quilombolas brasileira.
africanaescola.com.br(último acesso em 01/09/2010)
Esse é bem bacana de buscar, pois disponibiliza projetos (diversas aulas) que podem
ser apresentadas na escola. Também, apresenta uma série de conteúdos em artigos, palestras,
oficinas que auxiliam o professor na hora de preparar aulas sobre a temática.
afropress.com(último acesso em 01/09/2010)
Se você quer debater, opinar, comentar sobre a cultura multiétnica, este site
proporciona isso no espaço fórum. Veja que interessante, neste endereço o professor encontra
vários links para fazer contato por estado. Esta é uma oportunidade de pesquisa sobre os
afrodescendentes no Brasil.
c) Institucional
palmares.gov.br (último acesso em 17/09/2010)
Este site do Ministério dsa Cultura, Fundação Cultural Palmares é completo e
atualizado. Nele você pode encontrar, artigos diversos sobre a cultura afro no Brasil, na
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África e em outros Países. Também, encontra a história dos quilombos, as certificações de
territórios em todos os estados do Brasil. Dispõe de revistas e publicações bem interessantes,
para saber mais sobre a cultura afro brasileira.
Outro acesso que vai auxiliar bem o professor, para pesquisar esta área é o campo
Links, que traz diversos endereços institucionais e centros de pesquisas e núcleos de estudos
Afro-Brasileiros das universidades, carregados de riquíssimo conteúdo. É imprecindível
acessar este site antes de planejar suas aulas.
diaadia.pr.gov.br/nerea/ (último acesso em 17/09/2010)
O núcleo de Educação das Relações Étnico-Raciais e Afrosdecendência, pertence ao
Departamento de Diversidade da Secretaria de Educação do Estado do Paraná. Neste endereço
o professor encontra a agenda paranaense de consciência negra, para acompanhar e divulgar
os eventos na sua escola, bem como um rol de bibliografia na área, dados sobre as
comunidades quilombolas do Paraná, legislação, cadernos temáticos que mostram diversas
experiências de trabalhos em sala de aula sobre os afrodescendentes e comunidades
quilombolas. Este site deve ser sempre acessado pelos docentes no estado do Paraná, pois o
mesmo dispõe de apoio direto às práticas pedagógicas em sala de aula.
Figura V
Estas são algumas fontes, que servem de arrancada para que desperte, e sensibilize a
todos o início do trabalho, para garantir a visibilidade no meio educacional da cultura
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afrobrasileira e paranaense, representada nas comunidades rurais quilombolas. Espera-se que
a cada dia surjam mais pesquisas e divulgações, que superem as deficiências do livro didático,
que pouco auxiliam e motivam o professor a abordar a história e cultura afro-brasileira na
prática docente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Enfim, a idéia desta Unidade Didática Temática foi superar algumas barreiras de se
trabalhar nas aulas de história, diferentes formas de viver e visualizar o mundo, que existe
entre os diversos núcleos culturais que formam a nação brasileira, e principalmente a
paranaense, que são excluídos do acesso e garantia dos seus direitos.
A lei federal nº 10.639/03, e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das
Relações Etnicoraciais e para o ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana, como
arcabouço legal, dão clareza à necessária e urgente prática docente para o ensino que
considere a História e Cultura afro-brasileira.
Esta História presente em nosso meio, mas ao mesmo tempo invísivel na historiografia
brasileira e paranaense. Cabe à escola rever seu currículo e aos professores rever seu papel na
busca de contribuir para o processo de inclusão dos afrodescendentes. Pois, contar a história
deles é contar a nossa história de uma forma mais ampla, democrática e verossímel. Com isso
auxiliar na construção das suas identidades, preservando sua cultura e ajudando a delimitar
seus territórios de existência. Contribui-se assim, para a preservação de seu direitos de
igualdade social, para emolduração de sua autonomia, para a construção de sua cidadania. Ao
agregar as comunidades quilombolas aos conhecimentos da comunidade escolar, estar-se-á
ampliando o sentido e o valor de todos estarem na escola.
Logo, estender a temática “História e cultura afro-brasileira”, às outras disciplinas,
para que possam desenvolver um trabalho conjunto e constante, que elevem positivamente a
concepção e aprendizado da história multicultural com um olhar crítico ao material didático,
especificamente o livro didático, que é uma ferramenta presente em todas as disciplinas da
grade curricular, é um desafio a todos.
Diante do exposto, espera-se que esta produção didática, seja um início para o levante
de subsídios para além do livro didático, que venha facilitar a prática pedagógica, como
temário os afro-descendentes. Debater o seu significado com os alunos, motivando-os a se
comunicarem, com as comunidades quilombolas, quiçá visitá-los, intervir, pesqu isar,
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conhecer mais sobre este povo excluído na história do Brasil e do Paraná. Trazer para dentro
da escola a existência e vivência deste núcleo cultural.
O presente trabalho não teve a intenção de esgotar o assunto, até porque este, é focado
no sentido de levantar o debate que para alguns pode ser uma fonte de informações e a outros
uma fonte de inspiração em face do meio em que vivemos.
REFERÊNCIAS:
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28 www.portalafro.com.br www.quilombosdoribeira.org.br