curso lacan e a psicanálise- aula 15: as subjetivações na contemporaneidade
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Tema:
As subjetivações na contemporaneidadeCoordenação Alexandre Simões
ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de
autor reservados.
Lacan e a
Psicanálise:
interlocuções com a contemporaneidade
O sujeito na cena contemporânea:
Uma verificação:
cada vez mais, as circunstâncias que engendram as subjetividades na contemporaneidade nos levam a problematizar o alcance de perspectivas mentalistas acerca do psiquismo.
Perspectivas mentalistas acerca do psiquismo: pressupõem um espaço mental interiorizado,
individualizado e essencialista.
Esse espaço, herdeiro de uma longa tradição moderna que culmina no individualismo e no primado da razão tecnicista, classicamente se
pretende desvinculado e autônomo face à complexidade dos fenômenos que problematizam a vinculação do “interior” com o “exterior” (o ex-timo)
e suas múltiplas afetações.
Uma hipótese:
as subjetivações na atualidade, ao contrário, levam-nos insistentemente a articular domínios coletivos, institucionais, públicos e privados entre si, expondo-nos um panorama (tanto
clínico quanto coletivo) que requer uma estética, uma política e uma ética afeitas a essa complexidade.
Este argumento ecoa a noção de estrutura em Jacques Lacan:
... máquina original que põe em cena o sujeito
Aqui, devemos extrair devidamente as consequências do recurso à máquina/maquínico para se propor a
estrutura
• Composta por partes;• Partes articuláveis e rearranjáveis;• Domínio da bricolage;• Espaço do heterogêno;• Isso anda, isso funciona ...
É imprescindível localizarmos com justeza os dois grandes marcos do itinerário de Lacan:
Estes platôs comportam fundamentos,
formalizações, modos de transmissão, e orientações
bem distintos.
Comportam, por conseguinte, clínicas
diferentes.
Em sua primeira clínica (que compreende os vinte anos iniciais de seu ensino), como vimos, encontramos Lacan elaborando o “retorno a Freud”.
Temos aqui o que pode ser nomeado de clínica estrutural edípica: uma clínica do sujeito, da dialética e modalidades do desejo, da interpelação do Outro.
Esta é a clínica que se apresenta sob a primazia do simbólico: o inconsciente estruturado como uma
linguagem e as estruturas clínicas (neurose, psicose e perversão) edificadas em torno do Pai.
Já no que vem sendo comumente designado como a segunda clínica de Lacan,
(esboçada nos últimos dez anos de sua vida), encontramos orientadores clínicos face às transformações que nos são promovidas pela globalização e seus aparatos técnicos.
Estabelece-se, neste cenário que nos é atual, uma clínica psicanalíticaalém do Édipo, uma vez que os elementos verticais e hierarquizadores
orientadores da estruturaedípica foram deslocados.
Esta clínica, que busca estabelecer operadores para as subjetivações na nossa atualidade, é proposta sob várias designações:
clínica borromeana,clínica do gozo,
clínica do além do Édipo.
Em meio a um cenário no qual, segundo Lacan, o ‘Outro não existe’, temos a exacerbação da vertente indecifrável dosintoma.
É uma clínica na qual a plataforma é a experiência e oencontro com o Real.
Um convite:
Em nossa atualidade, reconhecemos potentes problematizações e
propostas que podem operacionalizar não bem uma clínica que se proporia como ampliada, contudo, uma clínica
transformada, construída e reconstruída em muitos lugares.
Diante de circunstâncias cotidianas que nos são apresentadas pelas anorexias, bulimias,
toxicomanias (das mais diversas ordens e não somente subsumidas ao objeto droga),
depressões, anomias, atuações e acessos de pânico, psicoses psiquiátricas (sem um lastro
estrutural) somos levados, pela perspectiva de uma clínica nômade, a rever os espaços e
estatutos do ato clínico.
Por intermédio de uma série de circunstâncias que fazem com que a cena contemporânea e o lugar do sujeito na mesma se tornem cada vez mais complexos e irredutíveis a modelos dicotômicos, causalistas e simplificadores somos levados a perceber a relevância de uma advertência: o psicanalista sempre deve estar atento ao horizonte de seu tempo.
É daí que ele extrai elementos imprescindíveis à vivacidade da psicanálise e, por fim, possibilita que a mesma dialogue, ainda, com as circunstâncias clínicas que afetam o nosso tempo.
Psicanálise em extensão ao setting:
Sempre suscita a indagação sobre
quais são as condições do (e para) o fazer analítico ?
Advertências que, em parte, justificam a indagação mencionada:
Vide Jacques LACAN. Variantes do tratamento-padrão. (1955):
“a psicanálise não é uma terapêutica como as outras”# “Pois a rubrica variantes não quer dizer nem
adaptação do tratamento, com base em critérios empíricos nem, digamos, clínicos, à variedade dos casos, nem uma referência às variáveis pelas quais se diferencia o campo da psicanálise, e sim uma preocupação, inquieta até, com a pureza dos meios e fins...” (Escritos, p. 326)
A tese sobre o ‘fechamento do inconsciente’ # é neste contexto que, ao comentar a formação (e
também o fazer cotidiano) do psicanalista, Lacan salienta suas relações com o não-saber, “sem o que ele nunca será nada além de um robô de analista.” (Escritos, p. 360)
Componentes heterogêneos que concorrem para a produção de
subjetividades:
• Componentes semiológicos significantes (-> educação, família, meio-ambiente, religião, artes, esporte, etc.);
• Elementos fabricados pela indústria dos mídia, do cinema, da internet, etc.;
• Dimensões semiológicas a-significantes (-> máquinas informacionais de signos, produzindo e veiculando significações e denotações que escapam às axiomáticas linguísticas);
O que determinará o lugar da psicanálise no cenário social das próximas décadas será sua capacidade de atualizar aquilo que está na origem da sua clínica: a sustentação de um campo de prática que põe qualquer tipo de experiência humana sob o crivo da interrogação.
(BEZERRA JÚNIOR. O ocaso da interioridade e suas
repercussões sobre a clínica. In: PLASTINO, Carlos Alberto (Org.). Transgressões . 2002, p. 238)
Prosseguiremos com o tema
Lacan e a contemporaneidade: confluências
Até lá!
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