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Curso ABFascias - Módulo 1 Fáscia do Movimento: Cabeça, pescoço e tronco Citologia, histologia, neurofisiologia e anatomia

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Curso ABFascias - Módulo 1

Fáscia do Movimento:

Cabeça, pescoço e tronco

Citologia, histologia, neurofisiologia e anatomia

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SUMÁRIO

1. Tecido Conectivo ou Conjuntivo................................................................3

1.1 Matriz Extracelular.........................................................................................6

1.2 Substância Fundamental Amorfa...................................................................7

1.3 Fibras...........................................................................................................12

1.4 Células do Tecido Conectivo.......................................................................13

2. Fáscia..........................................................................................................14

2.1 Funções das Fáscias...................................................................................16

2.2 Histologia das Fáscias.................................................................................17

2.3 Fundamentos Básicos das Fáscias.............................................................19

2.4 Tensegridade: Enxergando a Fáscia como uma rede tensional

interconectada ao longo de todo o organismo.............................................24

2.5 Inervação das Fáscias.................................................................................25

2.6 Divisões das Fáscias...................................................................................25

2.6.1 Fáscia Superficial..............................................................26

2.6.2 Fáscia Profunda................................................................28

3. Anatomia das Fáscias da Cabeça e do Pescoço.....................................29

3.1 Fáscia Superficial da Cabeça......................................................................30

3.2 Fáscia Superficial do Pescoço.....................................................................31

3.3 Fáscia Profunda do Crânio..........................................................................32

3.4 Fáscia Profunda do Rosto...........................................................................33

3.5 Fáscia Profunda do Pescoço.......................................................................34

4. Anatomia das Fáscias do Tórax e Abdômen...........................................37

4.1 Fáscia Superficial do Tórax e Abdômen......................................................37

4.2 Fáscia Profunda do Tórax e Abdômen........................................................38

5. Anatomia das Fáscias da Coluna.............................................................49

5.1 Fáscia Superficial da Coluna.......................................................................50

5.2 Fáscia Profunda da Coluna.........................................................................50

6. Referências Bibliográficas........................................................................56

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1. TECIDO CONECTIVO OU CONJUNTIVO

Tecido conectivo ou tecido conjuntivo (TC) é considerado uma das

quatro maiores classes de tecido do corpo humano. As outras três são tecido

epitelial, muscular e neural.

O TC dá forma ao corpo e aos órgãos, propiciando coesão, conexão e

suporte estrutural a diversos tecidos do organismo. Ele está presente em todas

as partes do corpo.

Os 3 principais componentes do TC são:

1. Células: Fornecem as propriedades metabólicas do tecido;

2. Fibras: São responsáveis pelas propriedades mecânicas;

3. Substância Fundamental Amorfa: Promove a plasticidadade e a

maleabilidade do tecido.

A proporção desses 3 componentes varia de acordo com a região do

corpo, dependendo da demanda e da função. Em alguns locais, o TC é muito

celular e apresenta poucas fibras; em outros, o componente fibroso predomina;

e também há regiões em que a substância fundamental amorfa é mais

presente.

As principais células do TC são os fibroblastos, que produzem colágeno

e outros materiais intercelulares. Adipócitos e células mesenquimais

indiferenciadas também estão presentes.

Todas as células do TC são derivadas das células mesenquimais, que

são encontradas no embrião. Estas células, na sua maioria, são derivadas do

mesoderma. Alguns TC da região da cabeça são derivados do ectoderma.

A consistência da MEC é variável, podendo assumir faixas de

compacidade que beiram a gelatinosa até um material rígido como osso.

Consequentemente, o TC também apresenta essa mesma variabilidade de

consistência.

Fig.1 – Fotomicroscopia eletrônica da fáscia humana: células de musculatura lisa,

fibras de colágeno, capilares fasciais e nervos autonômicos. Fonte: Staubesand e Li,

1997.

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Fig.2 – Composição do Tecido Conectivo. Fonte: Stecco, 2015.

Para classificar o TC deve-se levar em consideração a quantidade e

organização dos seus 3 principais componentes, descritos acima. Quando o TC

precisa de maior resistência, como nos ligamentos e tendões, a quantidade de

colágeno é maior do que a quantidade de células. Por outro lado, um TC

composto na sua maioria por células, como o tecido adiposo (adipócitos), não é

muito resistente.

As funções do TC são:

Suporte estrutural e função mecânica, de sustentação, proteção e

isolamento e compartimentalização. O TC forma as cápsulas que dão forma

e compartimentalização aos órgãos e sistemas.

Função de conexão e união dos tecidos do corpo, como ligamentos,

tendões e fáscias.

Proteção dos órgãos, promovendo preenchimento e amortecimento entre as

vísceras.

Resposta imunológica, inflamatória e proteção contra infecções

Intercâmbio metabólico entre o sangue e os tecidos, tendo papel importante

na nutrição celular. O TC está presente nas membranas dos capilares e

regula este intercâmbio de nutrientes.

Regula a difusão das substâncias do organismo.

Reparação tecidual depois de lesão, na função de formar o tecido cicatricial.

Transporte de sangue e reserva energética (o tecido adiposo é um TC

especializado).

Tecido Conectivo

Células (Metabolismo)

Fibroblastos

Adipócitos

Macrófagos e Mastócitos

Células Mesenquimais

Indiferenciadas

Condroblastos, condrocitos,

osteoblastos e osteócitos

Fibras (Mecânica) Colágeno

Elastina

Substância Fundamental Amorfa (Viscosidade e

Plasticidade)

Glicosaminoglicana

Proteoglicanos

Água

Íons

MEC

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Tipos de Tecido Conectivo ou Tecido Conjuntivo

Tecido Conectivo ou Conjuntivo Propriamente Dito: É subdividido em

Frouxo e Denso. Este último ainda é subdivido em Regular, Irregular e

Elástico.

o TC Frouxo (ou Areolar): É caracterizado por abundância de

substância fundamental amorfa (SFA), com poucas fibras e células.

O elemento celular principal é o fibroblasto e uma pequena

quantidade de adipócitos (que servem mais para promover/facilitar o

deslizamento tecidual). A principal fibra presente é a de colágeno e

ela está disposta de forma multidirecional para formar uma rede

frouxa entre as células. Fibras elásticas também estão presentes.

Um dos locais onde há TC Frouxo é entre músculos e órgãos para

permitir e facilitar o deslizamento entre eles.

o TC Denso: É caracterizado por apresentar grande quantidade de

fibras colágenas largas e robustas que oferecem considerável força

para o tecido. As fibras são tão numerosas que não se observam

espaços entre elas e as células. Fibras elásticas também estão

presentes, e são em maior número ou em menor número

dependendo do tipo de TC Denso em questão (TC Denso Elástico

possui maior número de fibras elásticas do que no TC Denso

Regular, por exemplo). Fibroblastos são as únicas células visíveis e

são dispostas em fila entre as fibras. A principal função do TC Denso

é transmitir forças e conectar diferentes órgãos e músculos.

Tecido Conectivo ou Conjuntivo Embrionário: Inclui o Tecido

Mesenquimatoso e Gelatinoso/Mucoso.

Tecido Conectivo ou Conjuntivo Especializado: Incluem o Tecido Adiposo,

Hematopoiético, Cartilaginoso e Ósseo. O tecido adiposo possui grande

relação com a fáscia superficial.

Fig.3 – Classificação do Tecido Conjuntivo Propriamente Dito. Fonte: Stecco, 2015.

TC Propriamente Dito

TC Frouxo

TC Denso

Regular

Ordenado

Ligamentos

Tendões

Aponeuroses

Organização em Multicamadas

Fáscia Aponeurótica

Fáscia Epimisal

Irregular

Elástico

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O TC do sistema fascial é o Propriamente Dito Denso Regular. É o único

tecido que mantém uma relação direta com os tecidos epitelial, muscular,

visceral e nervoso.

No passado, os termos “fascia” e “aponeurose” eram usados como

sinônimos. Entretanto, baseados na disposição de suas fibras colágenas, a

aponeurose (chamada de “tendão plano”) pode ser diferenciada da fáscia

profunda, apesar de ambas serem TC Propriamente Dito Denso Regular. A

aponeurose apresenta agrupamentos de fibras colágenas dispostas em

paralelo, já a fáscia profunda possui multicamadas de fibras de colágeno (cada

camada possui fibras dispostas em paralelo; entretanto, quando as camadas

são sobrepostas, as fibras de colágeno de cada camada são dispostas de

forma não paralela). Outra diferença é que as aponeuroses conectam músculos

aos ossos e a fáscia profunda liga músculos entre si.

Propriedades Biomecânicas do Tecido Conectivo ou Conjuntivo

Viscoelasticidade: O tecido tem a capacidade de voltar ao ponto inicial de

forma gradual após uma deformação. (ENGLES, 2001).

Creep: É a capacidade de deformação contínua durante a aplicação de uma

carga constante em um determinado período de tempo (ENGLES, 2001;

OAKAYA, 2001).

Histerese: É uma propriedade física diretamente relacionada com a energia

perdida pelo tecido na forma de calor após um ciclo de aplicação e retirada

de carga. Isso ocorre porque a energia absorvida pelo tecido para poder se

deformar é maior que a energia dissipada após a remoção da força externa

(TAYLOR,1990).

Relaxamento ao Stress: Quando o tecido é mantido em deformação

constante, a resistência oferecida pelo material diminui progressivamente

com o tempo (TAYLOR, 1990).

Tixotropismo: É um fenômeno que altera a viscosidade do tecido conjuntivo

após ser agitado, passando do estado de sol para gel e vice-versa

(ENGLES, 2001).

1.1 MATRIX EXTRACELULAR

A matrix extracelular (MEC) refere-se aos componentes extracelulares

do tecido conectivo ou conjuntivo (TC) e dos tecidos de suporte. Essa matriz

distribui tensões de estresse mecânico e fornece o ambiente estrutural para as

células presentes.

A MEC é um arcabouço composto por substância fundamental amorfa

(SFA) e fibras, em que as células se aderem e podem se mover (STRANDING,

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2008). Nos organismos pluricelulares é o espaço formado por fibras de

colágeno e elastina, íons extracelulares (responsáveis por determinar a

expressão genética celular), diversos polímeros, complexos glicoproteicos,

proteoglicanos (PG), glicoaminoglicanos (GAG), elastina, células imunológicas

como macrófagos, fibroblastos, colágeno, vasos sanguíneos, hormônios de

crescimento, metabólitos, catabólitos e citocinas presentes em todo o corpo.

(PISCHINGER, 2004).

1.2 SUBSTÂNCIA FUNDAMENTAL AMORFA

A substância fundamental amorfa (SFA) é uma substância em forma de

gel que, como o próprio nome diz, não apresenta forma, organização e

estrutura definida.

Resumidamente, podemos dizer que a SFA é a MEC sem as fibras de

colágeno e elastina, por isso, pode ser também chamada de matriz extrafibrilar.

Ela é responsável por dar suporte e nutrição às células. Além disso, ela é um

lubrificante para os diversos elementos da MEC (HUKINSA & ASPDEN, 1985).

A presença de macromoléculas (PG e GAG) na SFA permite que a fibras de

colágeno deslizem com pouco atrito até que os cross-links interfibrilares se

tensionem.

A MEC está em constante deformação buscando a homeostasia entre o

meio intra e extracelular. Qualquer mudança de pH, concentrações iônicas,

acúmulo de produtos metabólicos alteram sua constituição. Pequenas

mudanças podem alterar o gasto energético das reações químicas, incluindo

transporte transmembrana, interações antígeno anticorpo, síntese de proteínas,

reações oxidativas, interação entre actina e miosina, estado de gel e sol dos

polissacarídeos entre outros. Radicais livres formados a partir do metabolismo

de O2 e stress psíquico prejudicam a homeostasia da MEC, e se mantidos por

tempo maior podem contribuir para a desregulação dos processos naturais da

MEC (PISCHINGER, 2004).

Quem gera a resposta à essas alterações são os fibroblastos. Eles são o

centro de regulação da MEC normal e são capazes de reagir em segundos

quando há alterações produzindo PG e glicoproteínas estruturais adequadas

para se adaptar, porém não são capazes de distinguir entre o que é bom ou

ruim. Se tais mudanças se tornam crônicas, a SFA é formada de forma não

fisiológica, o que pode levar ao desenvolvimento de disfunções crônicas e até

tumores (PISCHINGER, 2004).

A capacidade de regulação da MEC tem assim grande importância nos

processos das doenças. Em todas as doenças agudas e crônicas há

perturbação da regulação e alteração na estrutura da MEC (PISCHINGER,

2004).

Além disso, a MEC é conectada ao Sistema Endócrino através da rede

vascular, ao Sistema Nervoso Central pelos axônios e ao Sistema Nervoso

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Periférico pelas terminações nervosas livres. Assim, todos esses sistemas

estão conectados entre si e com os Centros Regulatórios Superiores que

podem influenciar na matriz. (PISCHINGER, 2004)

Fig.4 – Representação didática da SFA (gel transparente) com a presença de fibras colágenas

e elásticas, vasos sanguíneos, nervos e células, como fibroblastos, neutrófilos e macrófagos.

Fonte: Myers, 2009.

Proteoglicanos

Proteoglicanos (PG), também chamados de proteoglicanas, são

glicoproteínas extracelulares, cuja estrutura consiste em uma proteína central

ligada a vários glicosaminoglicanos (GAG).

Os açúcares presentes nos GAG possuem grupos de sulfato e carboxila,

e, por isso, são carregados com alta carga negativa. Portanto, atraem cátions

como Na+ que tem forte atração por água. Essa diferença de polaridade no

meio intra e extracelular provoca uma constante movimentação de íons para

dentro e para fora da célula com liberação de energia, importante para manter

o equilíbrio tônico, iônico e osmótico da MEC. Se há diminuição das

concentrações de água os GAG alteram sua conformação impedindo o trânsito

livre de substâncias. (PISCHINGER, 2004).

A alta densidade de carga negativa atrai água, formando um gel

hidratado que caracteriza a turgência e a viscoelasticidade dos TC. Essa

viscoelasticidade permite que o tecido retorne a sua forma original após um

estresse mecânico e permite que as fibras de colágeno deslizem uma sobre a

outra com pouca fricção, absorvendo forças que afetam e deformam o tecido.

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As funções dos GAG são hidratar a MEC, fornecer rigidez à MEC para

resistir a compressões e deformações do tecido (dependendo da quantidade de

água retida na SFA) e preencher espaços.

Os PG podem estar presentes na membrana celular, podendo se ligar à

fatores de crescimento (IGF alfa-1). O tamanho dos poros da membrana celular

é determinado pela existência das PG, assim elas garantem o equilíbrio tônico,

iônico e osmótico. (PISCHINGER, 2004).

Fig.5 – Proteoglicanos do tecido conjuntivo

Ácido Hialurônico

Ácido Hialurônico (AH) é o GAG mais presente no TC frouxo e é o único

que não apresenta grupo de sulfato.

Os PG são ligados ao AH por ligações proteicas, formando

“macromoléculas gigantes”. Essas macromoléculas são hidrofílicas e são

abundantes na SFA de cartilagens para promover o turgor de pressão

característico; propiciam, ao mesmo tempo, a maciez e a firmeza dos olhos; e

protegem os vasos sanguíneos do cordão umbilical através da Geléia de

Wharton.

O AH está amplamente distribuído na MEC, particularmente no

endomísio e no TC perivascular e perineural (STECCO et al., 2013). Foi

demonstrado que o AH também está presente em grandes quantidades na

interface entre a fáscia profunda e o músculo. Ele atua como um lubrificante

que promove o deslizamento da fáscia sobre o epimísio do músculo (MC

COMBE, et al. 2001).

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Fig.6 – Ácido Hialurônico

Parece ter sido identificada uma lâmina de células sintetizadoras do AH

localizada na camada mais interna da fáscia profunda. Em alusão aos

sinoviócitos e aos hialócitos, que secretam o AH presente nas articulações

sinoviais e nos olhos, essas células produtoras do AH fascial podem ser

denominadas de “fasciócitos” (STECCO et al., 2011).

Figura 7 – Presença de Fasciócitos (células em azul) entre as fibras de colágeno.

Fonte: Stecco, 2015.

O AH é responsável pela humidade da pele e promove a lubrificação

entre músculos, tendões e fáscias. Parece que o deslizamento entre estas

estruturas são influenciadas pela quantidade de AH presente na MEC. Grandes

quantidades de AH auxiliam no deslizamento fascial e na recuperação de

lesões, uma vez que estimulam a proliferação de células satélites após um

estiramento/ruptura nas fibras musculares.

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Pequenas cadeias de AH podem se associar, aumentando o tamanho e

quantidade da molécula, modificando assim suas propriedades hidrodinâmicas

e viscoelásticas. Quando o AH se torna mais viscoso e menos lubrificante, as

linhas de força entre as camadas da fáscia profunda se modificam, e os

receptores presentes na fáscia passam a ter um limiar nociceptivo menor

(favorecendo as dores miofasciais). Esse processo de redução do

deslizamento entre as camadas de TC denso da própria fáscia é denominado

de densificação.

Tem se discutido que uma estratégia terapêutica eficaz é reverter esse quadro

de viscosidade do AH, tornando a fáscia mais deslizável entre suas próprias

camadas e com o músculo (STECCO et al, 2013).

Mudanças na quantidade e tamanho do AH contribui para dor,

inflamação e perda de função. Algumas pesquisas demonstraram que em

condições de estresse, o AH se torna despolimerizado e polímeros de menor

massa molecular são gerados. Essa reação de fragmentação do AH resulta em

polímeros menores que possuem propriedades angiogênicas, inflamatórias e

imunológicas (HORTON, et al, 1999; NOBLE, 2002). Fragmentos de AH

promovem inflamação, angiogênese e reações imunológicas ao estimular a

produção de citocinas inflamatórias e a quimiotaxia de macrófagos.

As estratégias para reverter o quadro de agregação das moléculas de

AH e o consequente aumento de viscosidade do TC frouxo entre as camadas

fasciais seriam aumentar a temperatura e promover a alcalinização do local

através de terapias manuais.

Estudos mostram que a redução do pH acarretado pela produção do

ácido lático em atividades esportivas promove mais ligações de moléculas de

AH, gerando a densificação. Esses resultados podem explicar o típico aumento

de rigidez observado em atletas após uma competição intensa. O ácido lático

não é o único componente que promove essa rigidez na fáscia, mas é uma

substância que catalisa essa reação.

O AH é extremamente abundante na embriogênese, em tecidos que

estão num processo de rápido crescimento e desenvolvimento e em situações

de reparo e regeneração.

O turnover do AH (a substituição de moléculas antigas por novas

moléculas) ocorre em 2-4 dias; o de outros GAG ocorrem com 7-10 dias. Isso

quer dizer que as células que produzem o AH devem estar sempre ativadas,

pois há um alto risco de redução rápida da quantidade desta macromolécula na

SFA caso ocorra interrupção de sua síntese. Existe um mecanismo de

feedback que estimula a síntese de AH caso o organismo detecte alto grau de

resíduos originados da quebra desta macromolécula. Além disso, tem se

estabelecido que estresse mecânico e deformações no TC representam

estímulos para a síntese de MEC (ADHIKARI et al 2011).

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Fibrose X Densificação

Primeiramente, precisamos diferenciar uma alteração na morfologia do

tecido de uma alteração na função do tecido.

A alteração na morfologia seria um rearranjo macroscópico da

composição e conformação de toda a fáscia. Haveria alteração no tecido

conectivo ou conjuntivo denso (colágeno Tipo I e III) que seria facilmente

identificado com os métodos de ressonância magnética e ultrassonografia. Um

tecido é considerado fibrose quando existe alteração no tecido conectivo

denso, no sentido de ter um aumento anormal na quantidade de colágeno.

A densificação é uma disfunção da fáscia e consiste na alteração do

tecido conectivo frouxo, mais especificamente do ácido hialurônio,

glicosaminoglicanas e células adiposas. Essa alteração pode envolver esses

três componentes em conjunto, ou apenas um deles, de forma isolada. Como

já mencionamos, a alteração na quantidade ou qualidade desses componentes

do tecido conectivo frouxo altera a viscosidade e o deslizamento de camadas

de tecido conectivo denso.

1.3 FIBRAS

Existem dois tipos de fibras produzidas pelas células do TC: Colágenas e

Elásticas.

Fibras Colágenas

As fibras colágenas são flexíveis e apresentam alta força tênsil. Os tipos de

fibras mais importantes são:

Tipo I: É a fibra mais prevalente, constituindo 90% do total de colágeno do

corpo. É encontrada na derme, ossos, tendões, fáscia, cápsula de órgãos e

em muitas outras regiões.

Tipo II: São as principais fibras que constituem as cartilagens.

Tipo III (ou fibras reticulares): Suas fibras apresentam uma disposição

desorganizada e servem de suporte para as células de vários tecidos e

órgãos. Além disso, estão presentes nos limites de epitélios, em TC frouxos,

ao redor de adipócitos, pequenos vasos sanguíneos, nervos, tendões e TC

intramuscular. Elas são secretadas durante a formação e desenvolvimento

de todos os TC, inclusive na formação de cicatriz.

Tipo IV: Suas fibras são componentes fundamentais da lâmina basal do

epitélio.

A síntese de fibras colágenas é de responsabilidade dos fibroblastos. O

colágeno Tipo III, que dá suporte ao estroma do tecido hematopoiético e

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linfático, é produzido pelas células reticulares; o mesmo colágeno Tipo III, que

reveste os nervos (endoneuro), é sintetizado pelas células de Schwann.

Fibras Elásticas

As fibras elásticas são mais finas que as de colágeno e estão dispostas

num padrão ramificado para formar uma rede tridimensional. Elas permitem

que o tecido lide com alongamentos e distensões; fibras de colágeno são

interpostas com as fibras elásticas com o intuito de limitar essas deformações e

prevenir rupturas.

As fibras elásticas são constituídas por Elastina e Fibrilina. Em grande

parte, as fibras elásticas são sintetizadas pelos fibroblastos; entretanto, fibras

elásticas arteriais são produzidas por células do músculo liso da túnica média.

1.4 CÉLULAS DO TECIDO CONECTIVO

Fibroblastos

Os fibroblastos são as principais células do TC e sua função principal é

manter a integridade estrutural do TC, produzindo fibras colágenas e elásticas

e os carboidratos complexos da MEC. Essas células também são responsáveis

pelo processo de remodelação do TC através do processo de síntese e

degradação das fibras colágenas e proteínas. A proliferação e degradação dos

fibroblastos é um processo diário e normal, resultante de estímulos mecânicos

em que o corpo e tecido são submetidos, como caminhar, correr, movimentar

de forma geral e praticar atividade física. Até mesmo os estímulos mecânicos

que ocorrem durante o repouso e sono estimulam o TC.

Em situação de lesão, os fibroblastos são induzidos a mitose e possuem

função essencial na cicatrização. Inicialmente, no processo de cicatrização, os

fibroblastos sintetizam o colágeno Tipo III (que é uma forma mais fraca de

colágeno). Depois, o colágeno Tipo I passa a ser sintetizado para compor a

cicatriz formada.

Adipócitos

Adipócitos podem estar presentes nos vários tipos de TC. O conjunto de

adipócitos forma um TC especializado, denominado de tecido adiposo. Esse

termo só passa a ser utilizado quando o adipócito se torna a célula

predominante do tecido e sua função principal passa a ser o armazenamento

de energia.

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Células do Estroma

Essas células possuem o potencial das células embriônicas

mesenquimais de se diferenciarem em vários tipos celulares, como os

osteoblastos, condrócitos, adipócitos, miócitos e neurônios. Elas possuem

grande capacidade de se renovarem.

Fig.8 – Células do Estroma

2. FÁSCIA

A fáscia é um TC Propriamente Dito Denso de característica ininterrupta,

que circunda e conecta os músculos, estruturas nervosas e vísceras,

constituindo assim um importante elemento de comunicação mecânica entre os

vários sistemas corporais; ou seja, desempenha um importante papel na

transmissão miofascial de forças (HUIJING, 2009). É um tecido ativo

mecanicamente, que possui funções proprioceptivas e nociceptivas (YAHIA et

al. 1992; SCHLEIP et al. 2005; STECCO et al. 2006, 2007, 2008, 2013b;

BHATTACHARYA et al. 2010; TESARZ et al. 2011).

A fáscia é descrita como uma rede tensional distribuída ao longo de todo

o corpo humano (SCHLEIP & MÜLLER, 2012), gerando um verdadeiro

ambiente de tensegridade, onde ocorre a transmissão de força miofascial.

A série de congressos internacionais de pesquisa em fáscia possui um

consenso de que uma estrutura de tecido conectivo denso em camadas é

denominada de “fáscia própria”. Ao mesmo tempo, existem diversas outras

estruturas anatômicas de tecido conectivo denso e fibroso que não são

denominadas de “fáscia própria”, mas que são considerados elementos de uma

vasta rede fascial que corroboram com a transmissão de força miofascial

(FINDLEY et al., 2007; HUIJING et al., 2009; CHAITOW et al., 2012) (Fig. 9).

Os elementos anatômicos que são englobados nessa rede tensional são:

cápsula de articulações e órgãos, septos musculares, ligamentos, retináculos,

aponeuroses, tendões, miofáscia e neurofáscia (SCHLEIP & MÜLLER, 2012).

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Fig.9 – Diferenciação do tecido fascial de acordo com a densidade e alinhamento das

fibras - Fonte: SCHLEIP & MÜLLER, 2012

É extremamente importante entender que a fáscia e sua arquitetura

fibrosa se adaptam especificamente a uma história de cargas e demandas

mecânicas prévias (BLECHSCHMIDT, 1978; CHAITOW, 1988), assim como

qualquer outro tecido do corpo. A fáscia é o único tecido no corpo com notável

capacidade de modificação da sua textura, onde mantém a plasticidade e

modifica a maleabilidade, dependendo da forma que é manipulado (SCHLEIP,

2003).

A arquitetura ou disposição das fibras de colágeno respondem ou se

adaptam a cargas mecânicas. A fáscia de indivíduos jovens apresenta uma

orientação do colágeno em duas direções; além disso, cada fibra se apresenta

numa forma ondulada (Fig.10 - Esquerda). Como visto em estudos com

animais, aplicação de cargas e exercícios adequados induz ao aumento das

ondulações nas fibras de colágeno. Ausência ou insuficiência de exercício leva

à formação de uma rede de fibras multidirecional e à redução das ondulações

das fibras (Fig. 10 - Direita) (SCHLEIP & MULLER, 2012).

Fig. 10 – Crimp Forms do colágeno. Fonte: SCHLEIP & MÜLLER, 2012

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16

Células contráteis já foram visualizadas na fáscia crural, tóraco-lombar e

peitoral (STAUBESAND & LI, 1996). A presença de células contráteis pode

fazer com que a fáscia modifique sua rigidez conforme a situação de

movimento e postura para transmitir forças tensivas de forma mais eficiente.

“A fáscia é o lugar onde devemos buscar as enfermidades e é o lugar

que deveria ser estudado e onde devemos aplicar o tratamento das

enfermidades[...].“ (STILL, 1899)

2.1 FUNÇÕES DAS FÁSCIAS

Revestimento: os diferentes grupos musculares do corpo estão envolvidos por

fáscia. Nos músculos encontramos uma membrana de tecido conjuntivo

externa, o epimísio, que envolve todo o ventre muscular; logo abaixo

encontramos o perimísio, que envolve os diferentes feixes de fibras

musculares; e mais profundamente chegamos ao endomísio, que envolve cada

fibra muscular. Em ambos os extremos do ventre muscular se unem as três

camadas de tecido conjuntivo para formar o tendão ou a aponeurose, e então

se continuam com o perióstio do osso. O sistema fascial é sempre contínuo. A

fáscia reveste todo o corpo através da fáscia superficial e da fáscia profunda;

mais profundamente encontramos as camadas que descrevemos acima, o

epimísio, perimísio e endomísio. Além disso, as fáscias revestem as vísceras, o

sistema nervoso central, os vasos sanguíneos e nervos.

Conexão: o tecido fascial conecta estruturas viscerais entre si e relaciona

estruturas miofasciais superficiais com outras mais profundas. A fáscia conecta

os músculos, estruturas nervosas e vísceras, constituindo assim um importante

elemento de comunicação mecânica entre os vários sistemas corporais.

Suspensão: os mesos e ligamentos viscerais funcionam como ancoragem para

distintos órgãos, conectando-os até as paredes das cavidades que os abrigam

e os mantendo suspensos em suas posições perante a gravidade. Além disso,

contribuem para o correto deslizamento e mobilidade viscerais (Exemplo:

Fáscia de Told direita permite o deslizamento entre o rim direito e o fígado).

Adaptação às forças mecânicas: as fibras que constituem a fáscia, tais como

reticulina, elastina e colágeno, se organizam seguindo a direção da força que

atua sobre elas. Uma tensão mecânica prolongada sobre o tecido fascial

estimula a secreção de fibras de colágeno e aumenta a molécula de ácido

hialurônico local, causando uma densificação nos tecidos que altera sua

capacidade elástica e sua função.

Integridade postural: a fáscia possui um grande número de estruturas

neurosensoriais mielinizadas que confere a este tecido grande papel na

propriocepção. A cada posição ou a cada ângulo de um determinado

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movimento, a fáscia vai sendo tensionada e os fusos musculares captam essas

tensões e informam ao sistema nervoso central acerca da postura e

movimento.

Transmissão de movimento: a fáscia transmite movimentos primordiais como

batimento cardíaco, movimento respiratório primário e respiração diafragmática

a todas as partes do corpo.

Compartimentalização: as fáscias formam distintos compartimentos no corpo,

agrupando estruturas anatômicas segundo seu ponto de vista funcional.

Assegurar a vascularização e a inervação: todos os vasos e nervos correm

pelas fáscias (ou seja, as fáscias promovem sustentação para vasos e nervos)

o que facilita a chegada aos órgãos e demais tecidos. Normalmente quando se

formam áreas fibróticas entre os planos teciduais, ocorrem alterações na

inervação e vascularização, alterando a função da estrutura.

Armazenamento de energia: Proveniente do tecido gorduroso

Mecanotransdução: o sistema fascial tem a função de comunicação celular

secundária a um estímulo mecânico mediante a transmissão de sinais através

da MEC e que se sustentam nos mecanismos de mecanotransdução.

Mecanotransdução é uma resposta celular do tecido conjuntivo secundária a

manipulação. As forças mecânicas de compressão e tensão aplicadas às

células geram alteração na membrana celular transformando estímulos

mecânicos em reações bioquímicas e genéticas. As integrinas tem papel

fundamental nesse fenômeno. Quando há aumento de tensão no meio

extracelular, as integrinas transmitem essa tensão para o meio intracelular.

Ocorre a abertura dos canais de cálcio e, através da contração dos

miofilamentos de actina (componente do citoesqueleto), a tensão chega até o

núcleo da célula, fazendo uma reprogramação celular.

2.2 HISTOLOGIA DAS FÁSCIAS

O tecido conjuntivo é derivado do mesoderma e se desenvolve

principalmente a partir das cristas neurais. É um tecido de sustentação e é

composto basicamente por células e uma matriz extracelular (MEC).

As células do tecido conjuntivo podem ser dividas em células imóveis

(células mesenquimais, fibroblastos ou fibrócitos, adipócitos, condroblastos ou

condrócitos, osteoclastos ou osteoblastos) e células móveis (macrófagos,

monócitos, mastócitos, células dendríticas, células plasmáticas, neutrófilos,

eosinófilos).

A MEC é formada por proteínas contráteis e pela substância

fundamental. As proteínas são de 3 tipos: fibras de colágeno, fibras de elastina

e fibras reticulares (colágeno Tipo III). A substância fundamental é um material

homogêneo com viscosidade variada de líquido até gel, bioquimicamente

complexo e altamente hidratado.

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Fig. 11 – Divisão das células do tecido conjuntivo

As fibras de colágeno são as proteínas mais importantes do corpo,

produzidas pelos fibroblastos, elas representam 60 a 70% da massa total do

tecido conjuntivo. Dispõem-se em formar ondulada e são remodeladas quando

submetidas a carga mecânica (SCHLEIP, 2003).

Fig. 12 – Divisão das fibras do tecido conjuntivo

CÉLULAS

FIBROBLASTOS

ADIPÓCITOS

MACRÓFAGOS

MASTÓCITOS CÉLULAS

MESENQUIMAIS INDIFERENCIADAS

OSTEOBLASTOS OSTEOCLASTOS

CONDROBLASTOS CONDRÓCITOS

FIBRAS

COLÁGENO

RETICULARES ELASTINA

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As mudanças constantes na viscosidade da MEC permitem a substância

fundamental fixar água, influenciar na atividade metabólica das células e

prevenir disseminação de infecções (ela forma uma rede hidratada ao redor

das proteínas contráteis que assegura a lubrificação e permite absorver choque

e resistir a compressões).

A substância fundamental amorfa é formada principalmente por

glicosaminoglicanos (GAG) não sulfatados (ácido hialurônico) e sulfatados,

além de proteoglicanos (PG) e glicoproteínas de adesão (fibronectina). Essas

moléculas conectam as células entre si e as células com os vasos sanguíneos

para garantir a nutrição adequada e o metabolismo celular.

Fig.13 – Substância Fundamental Amorfa

A substância fundamental é uma substância amorfa tipo gel que envolve

as células. É responsável por sustentar e nutrir as células, determina a

conformidade, a mobilidade e a integridade do sistema conjuntivo. É um

lubrificante e aglutinante para os diversos elementos da MEC (STECCO, 2015).

Em geral existem poucos vasos sanguíneos irrigando o tecido conjuntivo

e, ao contrário, existem muitos vasos linfáticos. Além disso, existem

terminações nervosas sensitivas de vários tipos que detectam tensões

mecânicas, estímulos dolorosos e mudanças de temperatura.

2.3 FUNDAMENTOS BÁSICOS DAS FÁSCIAS

Remodelação: Uma característica marcante do TC é de que ele possui

grande capacidade de adaptação quando submetido regularmente a

SUBSTÂNCIA FUNDAMENTAL

AMORFA

GLICOSAMINOGLICANOS

PROTEOGLICANOS

FIBRONECTINA ÁGUA

ÍONS

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estresse mecânico; os fibroblastos remodelam sua atividade alterando a

arquitetura do tecido para aquela que melhor se ajusta à demanda. Como

exemplo, podemos perceber que a locomoção bípede faz a fáscia lateral da

coxa se desenvolver e apresentar uma firmeza à palpação. Em usuários de

cadeira-de-rodas não observamos esses achados, uma vez que eles já não

possuem mais a demanda mecânica de uma pessoa que pode deambular.

Através dos fibroblastos, o colágeno sintetizado se remodela e altera seu

arranjo constantemente para se adequar à carga imposta ao tecido. A cada

ano que passa, metade de todas as fibras de colágeno do corpo é

substituída por novas fibras (NEUBERGER & SLACK, 1953). Outros dados

apontam que 30% do colágeno de todo o organismo humano se renova a

cada 6 meses e 75% em 2 anos.

De forma interessante, a fáscia de pessoas mais jovens apresenta

colágenos com uma conformação mais ondulada (Crimp), contribuindo mais

com as características elásticas. Nos idosos, as fibras são mais planas

(STAUBESAND et al., 1997). Pesquisas confirmaram que a prática regular

de atividade física pode induzir a síntese de colágeno mais ondulado, ou

seja, a fibra que está teoricamente mais presente em indivíduos jovens e

que possui uma capacidade de armazenamento elástico maior (JARNIVEN

et al., 2002, REEVES et al., 2006; WITVROUW et al., 2007).

Mecanismo da Catapulta: Consiste no armazenamento de energia potencial

elástica pelo tendão e pela fáscia, que quando liberada é transformada em

energia cinética, gerando movimento. Este mecanismo de armazenar

energia para depois liberar na forma de movimento rege todos os

movimentos do nosso corpo, do andar ao correr e saltar.

No passado, era postulado que, para ocorrer um movimento através de uma

articulação, o músculo esquelético deveria encurtar/contrair e essa energia

passaria para os tendões e depois para os ossos. Nessa forma clássica de

transmissão de energia o músculo ativamente muda o seu comprimento,

enquanto os tendões e aponeuroses quase não alteram de tamanho. O

elemento fascial permanece passivo.

Na visão moderna, a fibra muscular muda pouco de comprimento, quase

que contraindo isometricamente (o músculo enrijece contraindo, sem

ocorrer mudanças significativas de tamanho). Já o componente fascial

funciona de uma maneira elástica, encurtando e alongando como se fosse o

movimento de um Yo-yo. O encurtar e alongar do elemento fascial é que

gera o movimento (FUKUNAGA et al., 2002; KAWAKAMI et al., 2002).

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Fig. 14 – Comportamento elástico do componente fascial. Fonte: Kawakami, 2002.

Variados Tipos de Demanda Mecânica Atuam de Forma Diferente no

Tecido Fascial e Muscular: Diferentes tipos de alongamentos e

fortalecimentos parecem alcançar componentes fasciais distintos. Algumas

pesquisas mostraram que o alongamento dinâmico ou balístico é capaz de

modificar o tecido conectivo, deixando-o mais elástico (DECOSTER et al,

2005):

o Exercícios resistidos tradicionais alcançam ou interferem nas fibras

musculares ativamente e nas fibras colágenas em série e

transversas. Entretanto, pouco efeito pode ser esperado nas fibras

colágenas em paralelo (fáscia extramuscular e intramuscular).

o Alongamentos estáticos tradicionais, na presença de fibras

musculares relaxadas, vão interferir pouco nas fibras colágenas em

série. No entanto, o tecido fascial em paralelo é bem estimulado

nesse tipo de atividade.

o Ativação muscular na presença de alongamento (fortalecimento em

posição alongada) é o tipo de atividade que estimula todos os tecidos

fasciais; tanto os em série quanto os em paralelo (extra e

intramuscular). Alguns estudos demonstram que poucas repetições

deste modelo de exercícios já são suficientes para promover um

efeito na fáscia (MAGNUSSON et al, 2010).

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Fig. 15 – Efeito de diferentes estímulos no tecido fascial - Fonte: Magnusson, 2010.

Hidratação: É interessante saber que aproximadamente dois terços do

volume da fáscia é composto por água. Durante um alongamento ou

compressão local da fáscia, uma quantidade significativa de água é

empurrada das zonas que recebem maior pressão, similarmente ao que

acontece quando esprememos uma esponja (SCHLEIP, 2012a). Após esse

processo, a região manipulada é preenchida por um novo fluído,

proveniente dos tecidos e rede vascular adjacentes. Aplicações de carga

externa ao tecido fascial geram, num primeiro momento, a saída de água,

mas, posteriormente, ocorre nova entrada de fluido, promovendo uma

reidratação (CHAITOW, 2009). Estudos de Sommer and Zhu (2008)

sugerem que essa reidratação acontece através de uma água denominada

bound water (líquido de aparência cristalina), que poderia ser uma água

com qualidade melhor que determina uma fáscia mais saudável e

fisiológica. A água que estava previamente no tecido fascial, que foi

removida pela manipulação tecidual, pode ser denominada de bulk water,

que tem qualidade inferior e acaba contribuindo com as alterações e

disfunções fasciais.

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Órgão sensorial: A fáscia apresenta um rico suporte de nervos sensoriais,

que incluem receptors proprioceptivos, receptores multimodais e

nociceptores. Se englobarmos a fáscia profunda, os tecidos conectivos

intramusculares, o periósteo, a fáscia visceral e a fáscia superficial como

sendo componentes de um “grande sistema fascial” do corpo humano, a

fáscia pode ser considerada como a estrutura mais rica e abundante em

órgãos sensoriais. É a certamente a estrutura com maior importância na

propriocepção (SCHLEIP, 2003).

Alguns tecidos fasciais, como o retináculo, apresentam mais inervações

sensoriais do que os outros; e parece que tais tecidos possuem mais

capacidade para detectar ligeiras mudanças multidirecionais de tensão. Em

contrapartida, os tecidos com menos inervações sensoriais (como a

aponeurose bicipital), conseguem detectar poucas mudanças direcionais na

tensão (STECCO et al., 2007, 2008).

Achados recentes indicam que camadas fasciais superficiais são mais

abundantes em terminações nervosas sensoriais do que as camadas mais

profundas. Mais especificamente, a zona que compreende a fáscia profunda

e a região subdermal rica em tecido conectivo frouxo parece ser a que

possui a maior concentração de inervação sensorial (TESARZ, 2011). É

justamente nessa zona que ocorre o deslizamento entre as camadas

fasciais.

Fig. 16 – Receptores fasciais, localização, padrão de ativação e resultados com a estimulação.

Fonte – Schleip, 2013.

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2.4 TENSEGRIDADE: ENXERGANDO A FÁSCIA COMO UMA REDE

TENSIONAL INTERCONECTADA AO LONGO DE TODO O ORGANISMO

A tensegridade é um sistema de arquitetura comumente utilizado para a

formação dos sistemas naturais, que se auto-estabilizam mecanicamente

devido à maneira como forças compressivas tensionais são distribuídas e

equilibradas pela estrutura.(INGBER,1998).

É um sistema de estabilização onde o componente passivo exerce uma

constante tensão sobre o sistema articular, diminuindo o gasto energético e o

controle a nível central (WC, 2015).

Existe uma pré-tensão passiva do tecido conjuntivo que conecta tudo e

permite o equilíbrio entre sistemas antagônicos nos 3 planos de movimento,

visando a economia de energia.

Essas tensões são geradas por fibroblastos, miofibroblastos, proteínas

contráteis, células musculares livres na matriz extracelular (MEC) e pelo fluxo

de líquidos, e são transmitidas do meio extracelular para o meio intracelular por

proteínas de membrana celular chamadas integrinas. Essa tensegridade gera

um sistema de compensação onde aumentando a tensão em uma direção

automaticamente ocorre diminuição na direção contrária (BERNAROCH, 2006;

SPECTOR, 2010).

Há duas categorias de tensegridade:

Estrutura de domos geodésicos de Buckminster Fuller: armações de

suportes rígidos capazes de suportar tensão ou compressão.

Estrutura de pré-estresse de Keneth Snelson: composta por membros que

suportam tensão e outros que suportam compressão; ambos entram em

pré-estresse antes que se aplique uma força externa sobre a estrutura.

Essas estruturas equilibram o estresse recebido pelo sistema. No corpo

humano, a tensegridade se expressa do nível macro ao microscópico. No que

se refere às células, os elementos que estabilizam sua forma são: os

miofilamentos contráteis, os microtúbulos e microfilamentos e os filamentos

intermediários, que serão descritos posteriormente.

A mecânica da tensegridade também pode controlar a bioquímica da

célula. Em experimentos, Singhvi, Chen e Whitesides (Harvard) viram que

podiam modificar o programa genético ao mudar a forma de células vivas, e

que quando tomavam forma nem muito achatada nem muito retraída,

mantinham-se estáveis e ainda eram capazes de se diferenciar em tecidos

específicos (células capilares, células hepáticas, etc.). Já as células achatadas

eram mais propensas a se dividirem, e as células mais arredondadas ativavam

a apoptose.

Wang e Butler (HARVARD SCHOOL OF PUBLIC HEALTH, 1993), ao

torcerem moléculas individuais enquanto mensuravam a resposta celular,

descobriram que as células ficavam mais endurecidas quando suas integrinas

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eram sujeitadas ao aumento do estresse, e que poderiam ficar mais

endurecidas ou flexíveis ao variar o pré-estresse do citoesqueleto, mudando,

por exemplo, a tensão dos microfilamentos contráteis.

2.5 INERVAÇÃO DAS FÁSCIAS

A inervação das fáscias profundas e superficiais é controlada,

principalmente, pelo sistema nervoso autônomo simpático (SNAS). Já as

fáscias internas (fáscias viscerais) recebem inervação simpática na sua

camada superficial e parassimpática nas camadas mais profundas (serosas).

O sistema aferente se constitui por mecanorreceptores (SCHILEIP,

2003), e são gerados principalmente pelos fusos intramusculares (perimísio),

órgãos tendinosos de Golgi (junção miotendínea), corpúsculos de Pacini e

Ruffini (controlam a velocidade de movimento) e pelas terminações nervosas

livres ou interoceptores.

2.6 DIVISÕES DAS FÁSCIAS

Fig. 17 – Divisão das fáscias. Fonte: Stecco, 2015.

FÁSCIAS

SUPERFICIAL GORDURA,

DESLIZAMENTO

PROFUNDA

MOVIMENTO

(ENDOMÍSIO, PERIMÍSIO, EPIMÍSIO)

INTERNA VISCERAL

NEURAL NEURAL

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2.6.1 FÁSCIA SUPERFICIAL

A fáscia superficial é a camada fibrosa de tecido conectivo que divide o

tecido subcutâneo em camada adiposa superficial e camada adiposa profunda

(Fig. 3). A camada adiposa superficial fica logo abaixo da pele e logo acima da

fáscia superficial, e, também pode ser denominada de tecido adiposo

superficial. A camada adiposa profunda é delimitada superior e inferiormente

pela fáscia superficial e profunda, respectivamente; pode ser chamada de

tecido adiposo profundo. Dependendo do local do corpo humano, frente às

necessidades mecânicas e biológicas de cada região corporal, as camadas

adiposas podem variar de espessura e quantidade de fibras colágenas, assim

como a própria fáscia superficial. Em algumas áreas do corpo, a fáscia

superficial pode estar aderida à fáscia profunda ou pode ter mais de uma

camada (se dividindo em duas camadas), além de poder estar envolvendo

vasos sanguíneos e linfáticos, nervos e tecido adiposo. A túnica externa dos

vasos sanguíneos possui extensões fibrosas que se conectam à fáscia

superficial, gerando uma relação de conexão mecânica entre estas duas

estruturas. Nas proeminências ósseas e em alguns ligamentos, a fáscia

superficial se junta com a profunda (STECCO C, 2015).

Figura 18 – Linhas em azul, indicando locais onde a fáscia superficial se funde com a

fáscia profunda. Fonte: Stecco, 2015.

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Fig. 19 – A fáscia superficial é formada por fibras colágenas frouxamente entrelaçadas e com

abundantes fibras elásticas. Ela possui a função de manter a integridade da pele, dar suporte

ao tecido subcutâneo e manter a luz das veias pérvias. Fonte: Stecco, 2015.

Histologicamente, a fáscia superficial é formada por uma rede de fibras

colágenas e elásticas dispostas de forma irregular. Macroscopicamente, pode

ser identificada como uma membrana bem delimitada e definida. A fáscia

superficial se torna muito fina na parte distal dos membros e é impossível de

separá-la fisicamente dos tecidos adjacentes (camada adiposa superficial e

profunda).

O retináculo da cutis superficial (na camada adiposa superficial) e o

retináculo da cutis profundo (na camada adiposa profunda) se inserem na

fáscia superficial através de áreas de espessamento da fáscia em forma de

leque ou cone. A fáscia superficial e ambos os retináculos da cutis formam uma

rede envolvendo os lóbulos de gordura; esse conjunto todo forma uma âncora

que liga pele e os tecidos mais profundos (fáscia profunda e músculo). Essa

arquitetura gera, ao mesmo tempo, um sistema flexível e resistente de

transmissão de forças multidirecionais. A fáscia superficial e os retináculos da

cutis superficial e profundo, em conjunto, podem ser denominados de Banda

Fascial Subcutânea. Essa banda possui a função de dar suporte e organizar o

tecido gorduroso.

Em indivíduos mais jovens, a fáscia superficial possui um certo grau de

elasticidade que permite ao tecido subcutâneo se adaptar às deformações

impostas na pele e em seguida voltar ao seu estado original. Com o

envelhecimento, a fáscia superficial e o retináculo da cutis reduzem sua

elasticidade, e é por isso que se formam as rugas e as hipotonias da pele ao

envelhecer.

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A fáscia superficial separa a pele do sistema músculo-esquelético,

permitindo o deslizamento fisiológico entre músculo e pele, com a fáscia

superficial e as camadas de gorduras no meio.

2.6.2 FÁSCIA PROFUNDA

Refere-se às camadas fibrosas densas que interagem com os músculos.

Ela conecta diferentes elementos do sistema musculoesquelético e é

importante na transmissão de forças. De acordo com sua espessura e

relacionamento com os músculos subjacentes, é dividida em fáscia

aponeurótica (ex. fáscia toracolombar, bainha do reto, fáscia profunda dos

membros) e fáscia epimisal (ex. fáscia profunda do tronco).

Figura 20 – Divisões da Fáscia Profunda. Fonte: Stecco, 2015.

Fáscia Profunda

Fáscia Epimisal

Nos membros é a fáscia que recobre cada músculo. Por

exemplo: Fáscia epimisal do bíceps, do tríceps, do

braquial, do deltóide, etc,

No tronco é a fáscia que recobre ou engloba cada

músculo. Por exemplo: Fáscia epimisal dos

oblíquos abdominais externo e interno, do

transverso do abdômen, dos intercostais, grande dorsal, peitoral maior e

menor, serrátil anterior e posterior, eretores da

espinha, rombóides, etc.

Fáscia Aponeurótica

Nos membros é a fáscia que recobre todo o segmento

ou membro. Por exemplo: Fáscia aponeurótica da

perna, do pé, do braço, do antebraço, etc.

No tronco é a fáscia que serve de inserção de vários

grupos musculares. Por exemplo: Fáscia

tóracolombar e bainha do reto-abdominal.

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No tronco, a fáscia profunda está dividida em três camadas, que se

dividem em duas para envelopar um conjunto de músculos, apresentando

contato direto com o epimísio dos músculos. Nos membros, a fáscia profunda

(aponeurótica) envolve e conecta vários músculos, se conectando à fáscia

epimisal apenas nos septos intramusculares.

A fáscia epimisal ou muscular (endomísio, epimísio e perimísio) se junta

formando os ligamentos, aponeuroses e tendões, sendo importante para o

movimento humano. As fibras musculares são agrupadas em um fascículo. O

espaço entre as fibras é preenchido pelo endomísio, enquanto o espaço entre

os fascículos é preenchido pelo perimísio. O conjunto de vários fascículos

forma os músculos, que são envolvidos pelo epimísio (STECCO et al., 2011).

O perimísio tem a função de conduzir carga e possui alto poder de

adaptação, aumentando ou diminuindo sua rigidez dependendo do estímulo.

Apresentam grande densidade de miofibroblastos, e está presente em maior

quantidade nos músculos tônicos que nos músculos fásicos.

A continuidade fascial, desde a fibra individual até a fáscia epimisal,

serve para transmitir a contração do fuso neuromuscular da profundidade até a

superfície (movimento ativo) e transmitir o estiramento passivo da fáscia ao

fuso neuromuscular.

3. ANATOMIA DAS FÁSCIAS DA CABEÇA E DO PESCOÇO

Fig. 21 – Fáscia superficial e profunda da cabeça e pescoço. Fonte: Stecco, 2015.

FÁSCIA DA CABEÇA E DO PESCOÇO

FÁSCIA SUPERFICIAL

GÁLEA DA CABEÇA

FÁSCIA TEMPORAL SUPERFICIAL

SISTEMA MUSCULOAPONEURÓTICO

SUPERFICIAL

MÚSCULO PLATISMA

FÁSCIA PROFUNDA

FÁSCIA PROFUNDA DO CRÂNIO

FÁSCIA PROFUNDA DO ROSTO

FÁSCIA PROFUNDA DO PESCOÇO

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A fáscia profunda da cabeça (crânio e rosto) está organizada em uma só

camada, enquanto no pescoço se divide em três: camada superficial, média e

profunda.

3.1 FÁSCIA SUPERFICIAL DA CABEÇA

GÁLEA DA CABEÇA: preenche o escalpo do crânio, funcionando como elo de

ligação entre os músculos superficiais da cabeça (frontal, occipital e auricular).

A Gálea é contínua com a fáscia temporal superficial, com a fáscia do sistema

musculoaponeurótico superficial da face e com o platisma.

Fig. 22 – Fáscia superficial da cabeça e pescoço.

FÁSCIA TEMPORAL SUPERFICIAL: recobre o músculo temporal, sendo

ricamente vascularizada e separada da fáscia profunda por tecido conjuntivo

frouxo. É contínua anteriormente com os músculos frontal e orbicular do olho,

posteriormente com o músculo auricular posterior e com o occipital, e

superiormente com a Gálea da Cabeça. Nessa fáscia, originam-se os músculos

auricular anterior, temporoparietal e auricular superior, e encontram-se os

vasos temporais superficiais, o nervo auriculotemporal, os ramos temporal e

zigomático do nervo facial.

SISTEMA MÚSCULO APONEURÓTICO SUPERFICIAL DA FACE: constituída

por uma malha de tecido conjuntivo (tecido adiposo profundo) com músculos

Gálea da cabeça

Músculo Occipital

Fáscia Temporal Superficial

Músculo Frontal

Platisma

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interligados, apresentando muitas fibras elásticas quando a pessoa é jovem

(havendo uma diminuição com o envelhecimento, formando rugas). Na

bochecha, ocorre um acúmulo de gordura (formando a gordura de Bichat), e na

região das glândulas parótidas o tecido adiposo profundo desaparece,

ocorrendo uma aderência entre as fáscias superficial e profunda. No arco

zigomático o tecido adiposo profundo é muito fino, sendo atravessado pelos

músculos bucinador e zigomático (que conectam a fáscia profunda com a

fáscia superficial). O tecido adiposo superficial no rosto é interligado às fibras

musculares dos músculos mímicos através do retináculo superficial da cútis.

Fig. 23 – Posição do músculo bucinador, unindo a fáscia profunda com a fáscia superficial.

Fonte: Stecco, 2015.

3.2 FÁSCIA SUPERFICIAL DO PESCOÇO

PLATISMA: é envolvido pela fáscia superficial do pescoço e se adere

firmemente a ela. É contínuo superiormente com o sistema

musculoaponeurótico superficial da face, inferiormente com a fáscia superficial

do tórax e deltoide, posteriormente com a gálea da cabeça e fáscia superficial

do tórax. Funde-se posteriormente no ligamento nucal e anteriormente na linha

alba cervical.

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32

3.3 FÁSCIA PROFUNDA DO CRÂNIO

Fig. 24 – Fáscia profunda do crânio. Fonte: Stecco, 2015.

FÁSCIA EPICRANIANA: separada da Gálea da cabeça por tecido conjuntivo

frouxo ricamente vascularizado. É contínua com a fáscia temporal profunda

(lateralmente) e com a fáscia de Tenon (anteriormente)

FÁSCIA TEMPORAL PROFUNDA: superiormente envolve o músculo temporal

e se insere na fáscia epicraniana, inferiormente se insere no arco zigomático

onde se divide em duas camadas. O espaço entre essas camadas é

preenchido por uma bolsa de gordura responsável pela independência da

musculatura mímica em relação a musculatura mastigatória. Inferiormente as

duas camadas se continuam com a fáscia parotidamassetérica.

Fig. 25 – Fáscia Temporal Profunda e sua continuação com a fáscia parotidamassetérica

(abaixo do arco do zigomático). Fonte: Stecco, 2015.

FÁSCIA PROFUNDA DO

CRÂNIO

FÁSCIA EPICRANIANA

FÁSCIA TEMPORAL PROFUNDA

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33

3.4 FÁSCIA PROFUNDA DO ROSTO

Fig. 26 – Fáscia profunda do rosto. Fonte: Stecco, 2015.

FÁSCIA PAROTIDAMASSETÉRICA: é contínua com a fáscia temporal profunda,

envolvendo a parte anterior do músculo masseter, inserindo-se superiormente na

face lateral do arco do zigomático; posteriormente no ligamento estilomandibular,

processo estiloide e ventre posterior do músculo digástrico (inserindo-se no bordo

posterior da mandíbula); inferiormente no bordo inferior da mandíbula; e

anteriormente no bordo anterior da mandíbula e processo coronoide.

Anteriormente envia uma expansão para a fáscia bucofaríngea, enquanto

posteriormente emite outra expansão que cobre a glândula parótida

superficialmente (formando a fáscia parótida). Um desdobramento desta fáscia

abriga o ducto parótideo (ou de Stenon). Superficialmente se relaciona com uma

capa subcutânea por onde passa a artéria transversa da face, os ramos bucal,

marginal da mandíbula e ramo cervical do nervo facial.

Fig. 27 – Fáscia Parotidamassetérica. Essa fáscia é contínua inferiormente com a camada

superficial da fáscia profunda da cervical. Fonte: Stecco, 2015.

FÁSCIA PROFUNDA DO

ROSTO

FÁSCIA PAROTIDA

MASSETÉRICA

FÁSCIA PTERIGÓIDE

FÁSCIA DE TENON

FÁSCIA BUCOFARÍNGEA

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FÁSCIA PTERIGÓIDE: origina da lâmina lateral do processo pterigoide do

esfenoide (origem da fáscia bucofaríngea) e insere na espinha do esfenoide,

fissura petrotimpânica e mandíbula. Recobre os mm. pterigóides lateral e

medial, conecta-se na cápsula articular e no menisco da articulação

temporomandibular (junto com o mm. pterigóide lateral), além de enviar

expansões para o tendão do músculo masseter e para o periósteo da

mandíbula

FÁSCIA DE TENON: é a continuação da fáscia epicraniana anteriormente,

envolve os seis músculos do olho e globo ocular sincronizando o trabalho

deles. Forma a bainha para o músculo elevador do supercílio. Posteriormente

se conecta com a gordura da órbita e continua com a bainha do nervo óptico

até se inserir na bolsa lacrimal.

FÁSCIA BUCOFARÍNGEA: conecta-se com o músculo bucinador (função

mímica e mastigatória) e envolve o músculo constritor da faringe (apófise

basilar do occipital). Insere na parte posterior do processo alveolar da maxila e

do processo pterigoide do esfenoide, e é contínua com a adventícia da faringe

e do esôfago.

3.5 FÁSCIA PROFUNDA DO PESCOÇO

As fáscias do pescoço ou cervicais são formadas por 3 camadas: superficial,

média (pretraqueal) e profunda (prevertebral). As três camadas se unem

formando a bainha carotídea por onde passa a veia jugular, artéria carótida

comum, plexo nervoso simpático carotídeo, nervo vago e vasos linfáticos.

Fig. 28 – Fáscia profunda do pescoço. Fonte: Stecco, 2015.

FÁSCIA PROFUNDA DO

PESCOÇO

CAMADA SUPERFICIAL

CAMADA MÉDIA (PRÉ-TRAQUEAL)

CAMADA PROFUNDA (PRÉ-VERTEBRAL)

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CAMADA SUPERFICIAL DA FÁSCIA PROFUNDA CERVICAL: Está

intimamente ligada à gordura da pele do pescoço e ao músculo platisma (fáscia

superficial). Superiormente se insere na linha nucal superior do occipital; no

processo mastoide e conduto auditivo externo do temporal; na fáscia

massetérica e no bordo inferior do corpo da mandíbula (algumas fibras se

inserem mais superiormente). Inferiormente se insere na incisura jugular do

esterno, clavículas e espinha das escápulas. Anteriormente recobre a região

infra-hióidea e supra-hióidea, fixa-se no bordo inferior do corpo do hióide

desdobrando-se em duas folhas: uma superficial que recobre as glândulas

submandibulares e se fixa no bordo inferior da mandíbula, e outra profunda que

se fixa no corno maior do hióide após contornar o tendão do músculo

digástrico. Junto com o hióide a folha profunda forma um corredor osteofibroso

para esse tendão o qual se fixa na fáscia que recobre os músculos milo-hióide

e hipoglosso. Lateralmente a lâmina superficial se desdobra para envolver o

ECOM e então vai até a região supraclavicular relacionado-se com os nervos

supraclaviculares. Apresenta também outro desdobramento para envolver a

veia jugular externa e os nervos occipital menor, auricular magno e transverso

do pescoço. Posteriormente envolve o músculo trapézio e se insere no bordo

posterior do ligamento nucal. É contínuo com a fáscia que envolve os mm.

grande dorsal, peitoral maior e deltoide.

Fig. 29 – Fáscia profunda cervical: camada superficial e suas conexões. Essa fáscia envolve os

músculos Trapézio Superior e ECOM.

Trapézio Superior ECOM

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CAMADA MÉDIA (OU PRÉ-TRAQUEAL) DA FÁSCIA PROFUNDA CERVICAL:

Essa camada está dividida em duas folhas. A folha superficial envolve os

músculos esterno-hióideos e omo-hióideos e se insere na parte posterior da

clavícula continuando com a fáscia dos músculos subclávio, peitoral menor e

elevador da escápula. Superiormente se insere no hióide e inferiormente se

insere na incisura jugular do esterno e nas clavículas. A folha profunda envolve

os músculos esterno-tireóideos e tireo-hióideos, as glândulas tireóide e

paratireoide e é contínua com o pericárdio. Lateralmente se funde com a

camada superficial da fáscia cervical profunda e se insere junto com ela à

frente do trapézio. Na linha média a camada superficial da fáscia profunda

cervical e a lâmina superficial da camada média se fusionam do hióide até o

istmo da glândula tireóide. Posteriormente é contínua com a fáscia alar que

conecta as duas artérias carótidas comuns com a fáscia da faringe e esôfago,

sendo continua também com a fáscia bucofaríngea. No tórax forma expansões

para os ligamentos suspensores da pleura.

CAMADA PROFUNDA (OU PRÉ-VERTEBRAL) DA FÁSCIA PROFUNDA

CERVICAL: recobre anteriormente os músculos reto anterior da cabeça e

escalenos e se fixa nos tubérculos anteriores das apófises transversas das

vértebras cervicais, descendo inferiormente entre o esôfago e a coluna.

Posteriormente envolve os músculos longuíssimo e semiespinhais. Apresenta

desdobramentos que contém troncos simpáticos e o nervo frênico, e emite uma

espécie de tubo para passagem do plexo braquial, sendo contínua com a

bainha axilar. O espaço entre essa fáscia e o esôfago se denomina espaço

retrofaríngeo, importante para a deglutição.

Fig. 30 – Fáscia profunda cervical

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4. ANATOMIA DAS FÁSCIAS DO TÓRAX E ABDÔMEN

Fig. 31 – Fáscia superficial e profunda do tórax e abdome. Fonte: Stecco, 2015.

A fáscia superficial no abdome é espessa, sendo chamada de fáscia de

Scarpa. No tórax é a expansão da camada fibroelástica. A fáscia profunda é

fina e organizada em 3 camadas: superficial, média e profunda.

4.1 FÁSCIA SUPERFICIAL DO TÓRAX E DO ABDÔMEN

A fáscia superficial do tórax é a continuação da fáscia superficial do

pescoço e músculo platisma, continuando inferiormente como fáscia superficial

do abdome. Ela divide o tecido subcutâneo em duas subcamadas: camada

adiposa superficial (CAS) e camada adiposa profunda (CAP), separados pela

fáscia superficial propriamente dita. A CAP é geralmente mais fina com poucos

lóbulos de gordura, e os lóbulos presentes são finos e pouco delimitados.

Possui septos fibrosos oblíquos conectando a fáscia superficial e a profunda e

tem como função principal o deslizamento entre as camadas. Está ausente na

região do esterno e linha alba, onde ocorre a fusão entre as fáscias superficial

e profunda. Outros locais onde ocorre essa fusão são: clavícula, acrômio, sexta

costela e ligamento inguinal. Já a CAS conecta a derme com a fáscia

superficial e possui septos fibrosos (mais grossos) perpendiculares, com

função de amortecimento de tensões.

A fáscia superficial propriamente dita é uma camada fibroelástica

constituída principalmente por fibras de colágeno e elastina, sendo encontrados

pequenos lóbulos de gordura entres elas.

FÁSCIA SUPERFICIAL

FÁSCIA PROFUNDA

CAMADA SUPERFICIAL

LÂMINA POSTERIOR DA FÁSCIA

TORACOLOMBAR

CAMADA MÉDIA FÁSCIA DO MM.

SERRÁTIL POSTERIOR

CAMADA PROFUNDA

LÂMINA ANTERIOR DA FÁSCIA

TORACOLOMBAR

FÁSCIA EPIMISAL DOS MM. ERETORES DA

ESPINHA

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No abdome superior é muito mais fina, apresentando uma camada

translúcida de colágeno entre as camadas profunda e superficial de gordura.

Envolve as glândulas mamárias internamente, e entre a clavícula e glândulas

mamárias se espessa formando o ligamento de Giraldes (que suspende a

mama). No abdome inferior é espessa, não uniforme e branca, sendo

denominada fáscia de Scarpa, que continua inferiormente depois do ligamento

inguinal como fáscia lata (fáscia da coxa). Nos homens essa fáscia se expande

para o pênis e cordão espermático até o escroto formando parte da fáscia de

Dartos. Do escroto segue para trás continuando com a fáscia do períneo.

As fibras fasciais se estendem obliquamente em sentido craniocaudal da

lombar até a região anterior do tronco, seguindo as linhas de clivagem da pele.

Se juntam na região anterior na linha alba e no umbigo.

4.2 FÁSCIA PROFUNDA DO TÓRAX E DO ABDÔMEN

No tronco, a fáscia profunda é também dividida em três camadas

(superficial, média e profunda), separadas por tecido conjuntivo frouxo que

permite deslizamento entre elas. Em muitos lugares ocorre fusão entres essas

camadas, criando linhas específicas onde convergem todas a forças

musculares. A mais importante delas é a linha alba na bainha do reto

abdominal.

Existem duas fáscias aponeuróticas com importantes funções

perceptivas e de transmissão de forças: fáscia toracolombar e bainha do reto

abdominal.

O desenvolvimento dos músculos do tronco é determinado

provavelmente pela necessidade de conectar os membros superiores e

inferiores.

CAMADA SUPERFICIAL DA FÁSCIA PROFUNDA: é formada por uma camada

fibrosa espessa ao nível cervical e mais fina conforme desce na direção do

abdome. Envolve os músculos grandes que realizam a rotação e que conectam

os membros. Na cervical envolve o ECOM e trapézio superior, no tórax os

músculos peitoral maior (fáscia peitoral) e grande dorsal, e no abdome envolve

o músculo oblíquo externo (fáscia do oblíquo externo), inserindo-se na bainha

do reto abdominal.

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39

Fig. 32 – Fáscia profunda - camada superficial. Fonte: Stecco, 2015.

o FÁSCIA PEITORAL: recobre o músculo peitoral maior, e possui duas

lâminas: a lâmina profunda, que se insere no perióstio da clavícula; e a

lâmina superficial, que continua superiormente com o ECOM,

lateralmente com a fáscia do deltoide e com a fáscia axilar, enviando

também uma expansão para a fáscia braquial. Sobre o músculo serrátil

anterior essas duas camadas se unem formando uma lâmina simples,

chamada fáscia anterolateral do tórax. Posteriormente essa fáscia se

abre novamente envelopando o mm. grande dorsal. Medialmente a

camada profunda da fáscia peitoral se adere ao periósteo do esterno e

se continua com a fáscia peitoral contralateral. Inferiormente a fáscia

peitoral manda expansões para o reto abdominal e para a fáscia do

oblíquo externo.

Fig. 33 – Camada superficial da fáscia profunda do tronco envolve e conecta os músculos

peitoral maior e obliquo externo.

FÁSCIA PROFUNDA CAMADA

SUPERFICIAL

CERVICAL ECOM E TRAPÉZIO

TÓRAX PEITORAL MAIOR E GRANDE DORSAL

ABDOME OBLÍQUO EXTERNO

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Fig. 34 – Fáscia peitoral (e conexões).

CAMADA MÉDIA DA FÁSCIA PROFUNDA: na cervical envolve os músculos

infra-hióideos, no tórax os músculos subclávios, peitoral menor (fáscia

clavipeitoral) e serrátil anterior e no abdome o músculo oblíquo interno (fáscia

do obliquo interno). Esses músculos se movimentam nos planos frontal e

horizontal, sendo conectados e coordenados pela fáscia que os recobre.

Fig. 35 – Fáscia profunda – camada média.

FÁSCIA PEITORAL

PEITORAL MAIOR

SUPERIORMENTE ECOM

LATERALMENTE DELTÓIDE E FÁSCIA AXILAR E BRAQUIAL

INFERIORMENTE: OBLÍQUO EXTERNO E

RETO ABDOMINAL

MEDIALMENTE: FÁSCIA PEITORAL CONTRALATERAL

FÁSCIA ANTEROLATERAL DO

TÓRAX

GRANDE DORSAL

CAMADA MÉDIA DA FÁSCIA PROFUNDA

CERVICAL INFRA-HIÓIDEOS

TORÁX

SUBCLÁVIOS

PEITORAL MENOR

SERRÁTIL ANTERIOR

ABDOME OBLÍQUO INTERNO

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o FÁSCIA CLAVIPEITORAL: é uma forte camada de tecido conjuntivo que

nasce na clavícula, envelopa os músculos subclávio e peitoral menor.

Por baixo do músculo subclávio essa fáscia continua com a camada

média da fáscia profunda do pescoço superiormente, envelopa o

músculo serrátil anterior anteriormente e os músculos romboides e

elevador da escápula posteriormente. Lateralmente envia expansões

que formam o ligamento suspensor da axila (que arrasta a fáscia axilar

para cima quando o braço é levantado). No braço, continua com a fáscia

do músculo coracobraquial.

Fig. 36 – Camada média da fáscia profunda do tronco envolve, anteriormente, os músculos

peitoral menor, subclávio e serrátil anterior.

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Fig. 37 – Fáscia clavipeitoral.

CAMADA PROFUNDA DA FÁSCIA PROFUNDA: na cervical envolve os

músculos escalenos, no tórax os músculos intercostais (fáscia dos intercostais),

no abdome os músculos reto abdominal e transverso abdominal (fáscia do

transverso do abdome) e na pelve os músculos piriformes. Nessa camada os

músculos têm disposição longitudinal movimentando-se nesse plano. O

músculo transverso abdominal e sua fáscia conecta aos músculos iliopsoas,

quadrado lombar e parede anterior da fáscia toracolombar, sendo importante

na conexão entre os elementos miofasciais anteriores e posteriores.

FÁSCIA CLAVIPEITORAL

SUBCLÁVIO

CAMADA MÉDIA DA FÁSCIA PROFUNDA

DO PESCOÇO

SERRÁTIL ANTERIOR

ROMBÓIDES

ELEVADOR DA ESCÁPULA

PEITORAL MENOR FÁSCIA AXILAR

FÁSCIA DO OBLÍQUO INTERNO

FÁSCIA CORACOCLAVICULAR

LIGAMENTO COSTOCORACÓIDE

FÁSCIA DO MM. CORACOBRAQUIAL

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Fig. 38 – Fáscia profunda – camada profunda.

o FÁSCIA INTERCOSTAL E ENDOTORÁCICA: a fáscia intercostal

envolve os músculos intercostais internos e externos e dá passagem aos

nervos intercostais. Continua com a fáscia do músculo transverso do

abdome e com a bainha do reto abdominal inferiormente, insere no

perióstio do esterno medialmente, e se conecta à pleura parietal

(internamente), formando a fáscia endotorácica (que une a fáscia

muscular - fáscia intercostal - com a fáscia visceral - pleura parietal). No

abdome essa relação ocorre entre a fáscia muscular e o peritônio

parietal. A fáscia endotorácica continua inferiormente com a fáscia do

diafragma e ao nível do hiato esofágico forma o ligamento frênico

esofageal, importante para o bom funcionamento do esfíncter

gastroesofágico. Também forma a membrana suprapleural que se insere

no bordo interno da primeira costela e na parte anterior do processo

transverso da sétima vértebra cervical, emitindo fibras para os músculos

escalenos. Posteriormente insere no periósteo dos corpos vertebrais

onde continua com a fáscia pré-vertebral que recobre os músculos pré-

vertebrais e o disco intervertebral. Medialmente continua com os

ligamentos frenopericárdicos que unem o diafragma ao pericárdio. A

fáscia endotorácica faz parte do tendão central unindo estruturas

cervicais, torácicas e abdominais.

CAMADA PROFUNDA DA

FÁSCIA PROFUNDA

CERVICAL ESCALENOS

TÓRAX INTERCOSTAIS

ABDOME

TRANVERSO ABDOMINAL

RETO ABDOMINAL

PELVE PIRIFORME

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Fig. 39 – Fáscias intercostais. Fonte: Stecco, 2015.

FÁSCIA PROFUNDA DO ABDOME: os grandes músculos do abdome têm a

fáscia epimisal fina com função proprioceptiva e uma fáscia aponeurótica larga

com função de transmissão de forças. Existe tecido conjuntivo frouxo entre as

camadas epimisais permitindo deslizamento entre elas. As aponeuroses se

fundem na bainha do reto abdominal.

o FÁSCIA DO OBLÍQUO EXTERNO: é espessa e forte, adere ao

músculo oblíquo externo, insere na lateral do reto abominal e

desce para fazer parte do ligamento inguinal. Inferiormente e

lateralmente se estende continuando-se com a fáscia lata, fibras

profundas se inserem na espinha ilíaca antero-superior e

tubérculo púbico; e medialmente se continua com a fáscia

pectínea. Tensões nesse músculo são transmitidas e dissipadas

na bainha do reto abdominal.

FÁSCIA INTERCOSTAIS

INTERCOSTAIS INTERNOS EXTERNOS

FÁSCIA DO TRANSVERSO DO

ABDOME E BAINHA RETO ABDOMINAL

FÁSCIA ENDOTORÁCICA

PLEURA PARIETAL

FÁSCIA DO DIAFRAGMA

LIGAMENTO FRÊNICO ESOFAGEAL (ESÔFAGO)

LIGAMENTO COSTOPLEURAL (1a

COSTELA)

LIGAMENTO TRANVERSOPLEURAL (TRANSVERSA DE C7)

LIGAMENTO VERTEBROPLEURAL

(CORPO DE C7)

ESCALENOS

FÁSCIA PRÉ-VERTEBRAL

LIGAMENTOS FRENOPERICÁRDIOS

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Fig. 40 – Fáscia do Oblíquo Externo e sua continuação com o ligamento inguinal. Fonte:

Stecco, 2015.

Fig. 41 – Fáscia do Oblíquo Externo - conexões.

FÁSCIA DO OBLÍQUO EXTERNO

BAINHA DO RETO ABDOMINAL

LIGAMENTO INGUINAL

FÁSCIA LATA

FÁSCIA PECTÍNEA CANAL INGUINAL

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Fig. 42 – Camadas musculares do abdome. Fonte: Gray – Anatomia

o FÁSCIA DO OBLÍQUO INTERNO: é fina, cruza a linha alba e vai

para o lado contralateral também se inserindo na bainha do reto

abdominal. A camada superficial é formada pela fáscia epimisal

do músculo e a profunda é formada pela aponeurose do seu

tendão. Insere na parte anterior da fáscia toracolombar, crista

ilíaca, púbis, linha pectínea e ligamento inguinal. Uma expansão

dessa fáscia origina o cordão espermático nos homens e o

ligamento do útero nas mulheres.

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Fig. 43 – Fáscia do obliquo interno - conexões. Fonte: Stecco, 2015.

o FÁSCIA DO TRANSVERSO DO ABDOME: é a fáscia mais

interna dos músculos do abdome. É envolvida pela sua fáscia

epimisal e separada da fáscia do oblíquo interno por tecido

conjuntivo frouxo (distalmente eles se unem). Conecta ao

ligamento inguinal, crista ilíaca, parede anterior da fáscia

toracolombar e parte interna da cartilagem costal das seis últimas

costelas (onde tem interdigitações com o diafragma).

Fig. 44 – Fáscia do Transverso Abdominal - conexões. Fonte: Stecco, 2015.

o BAINHA DO RETO ABDOMINAL: recebe inserção de três

músculos de cada lado: oblíquo externo, oblíquo interno e

transverso abdominal. As aponeuroses se fundem lateralmente à

FÁSCIA DO OBLÍQUO INTERNO

RETO ABDOMINAL

PARTE ANTERIOR DA FÁSCIA

TORACOLOMBAR

LIGAMENTO INGUINAL

LIGAMENTO DO ÚTERO E CORDÃO

ESPERMÁTICO

FÁSCIA DO TRANSVERSO ABDOMINAL

PAREDE ANTERIOR DA FÁSCIA

TORACOLOMBAR

FÁSCIA DO OBLÍQUO INTERNO

LIGAMENTO INGUINAL

DIAFRAGMA

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bainha e algumas fibras cruzam de lado. A linha alba é a área

onde ocorre o maior cruzamento dessas fibras e não a inserção

delas. Ele funciona como o músculo digástrico, transmitindo e

harmonizando tensões. Sua parede anterior é reforçada por

expansões da fáscia do peitoral maior que cruzam de lado ao

nível do processo xifoide. Insere no púbis, parte anterior do

ligamento inguinal e medialmente tem inserções na linha alba.

Fig. 45 – Bainha do Reto Abdominal. Fonte: Stecco, 2015.

Fig. 46 – Expansões miofasciais da bainha do reto abdominal. Fonte: Stecco, 2015.

BAINHA DO RETO ABDOMINAL

OBLÍQUO INTERNO

OBLÍQUO EXTERNO

TRANSVERSO ABDOMINAL

PEITORAL MAIOR

LIGAMENTO INGUINAL

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o FÁSCIA TRANSVERSAL: é a fáscia epimisal do músculo

transverso abdominal, constituindo a camada fascial entre a

parede abdominal e o peritônio (separada desta por tecido

conjuntivo frouxo). Contém grande quantidade de gordura

principalmente na região posterior e pelve. Envolve o sistema

urogenital, veia cava inferior, aorta e adrenais e se continua

inferiormente com a fáscia adrenovesical pélvica, canal inguinal e

escroto.

Fig. 47 – Fáscia transversal. Fonte: Stecco, 2015.

5. FÁSCIAS DA COLUNA

As fáscias da coluna se estendem da linha nucal superior do occipital até

a região lombopélvica. Junto com os músculos elas formam multicamadas

miofasciais com características que variam de região para região. É dividida

também em fáscia superficial e profunda.

FÁSCIA TRANSVERSAL

MM. TRANSVERSO ABDOMINAL

PERITÔNIO

SISTEMA UROGENITAL, VEIA CAVA, A. AORTA,

ADRENAIS

FÁSCIA ADRENOVESICAL

PÉLVICA

CANAL INGUINAL

ESCROTO

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5.1 FÁSCIA SUPERFICIAL DA COLUNA

É uma fáscia fibrosa muito espessa, principalmente na porção proximal

da coluna, rica em tecido adiposo, que envolve toda a região posterior do

tronco e abdome. As fibras fasciais seguem a linha de clivagem da pele numa

direção oblíqua anterior no sentido crânio-caudal. É bem organizada na região

do ânus, formando o esfíncter externo do ânus.

O Tecido Adiposo Superficial da coluna é geralmente espesso enquanto

o profundo pode ser espesso na região lateral lombar e fino ou ausente na

região sacral, o que justifica grande incidência de úlceras de pressão na região.

A gordura da região subcutânea tende a aumentar com a idade principalmente

nas partes baixas da coluna e na região infraglútea.

A fáscia superficial se adere à fáscia profunda na região dos processos

espinhosos. Na região torácica o retináculo da cútis profundo é formado por

muitos septos que se inserem no ligamento supraespinhoso, criando uma

conexão entre a fáscia superficial e a profunda. Essa adesão longitudinal ao

longo dos processos espinhosos divide o tronco em dois lados que funcionam

de forma independente, embora conectados em regiões especificas da torácica

e da lombar.

FÁSCIA TORACODORSAL: é a fáscia que preenche a região

paraescapular, sendo forte e possuindo uma camada fibroelástica bem

vascularizada. É uma região importante porque é um dos poucos locais

que apresenta gordura marrom (brown adipose tissue - BAT). Essa

gordura possui propriedades intrínsecas e metabólicas benéficas e é

capaz de dissipar energia diretamente na forma de calor, sendo

considerada um importante mecanismo para a termorregulação nos

humanos.

5.2 FÁSCIA PROFUNDA DA COLUNA

A fáscia profunda da coluna é formada por aponeuroses, fáscias

aponeuróticas e epimisais, e está disposta em 3 camadas. A aponeurose é um

tipo de tendão plano que possui fibras de colágeno dispostas em paralelo. O

arranjo dessas fibras permite resistência à tração. As fáscias epimisais são

mais finas e aderidas aos músculos. As fáscias aponeuróticas são espessas e

podem ser isoladas dos músculos mais profundos. Tanto a fáscia epimisal

como a fáscia aponeurótica transmite força ao longo dos planos miofasciais,

sendo que a epimisal transmite pequenas forças (gramas) enquanto a

aponeurótica transmite grandes forças (quilogramas). É dividida em camada

superficial, média e profunda.

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Fig. 48 – Fáscia profunda da coluna. Fonte: Stecco, 2015.

CAMADA SUPERFICIAL DA FÁSCIA PROFUNDA DA COLUNA: envolve os

músculos trapézio, grande dorsal, glúteo máximo, incluindo a lâmina posterior

da fáscia toracolombar. A fáscia desses músculos é fibrosa e fina aderindo

firmemente à musculatura subjacente através dos septos intramusculares.

Essas camadas se inserem superiormente no crânio na linha nucal superior do

occipital, no ligamento nucal na região cervical e se continua inferiormente nos

ligamentos supra espinhais e processos espinhosos de todas as vértebras de

C7 a L4. Lateralmente no pescoço a camada superficial da fáscia profunda da

coluna se continua com a camada superficial da fáscia profunda do pescoço,

envelopando o ECOM e o trapézio. Por cima do ombro se insere na espinha da

escápula e acrômio e continua descendo com a fáscia profunda do músculo

deltoide. Anteriormente se continua com a fáscia profunda da axila e do peitoral

maior. No abdome recobre o músculo oblíquo externo e inferiormente se insere

na crista ilíaca.

Fig. 49 – Camada superficial da fáscia profunda - conexões.

FÁSCIA PROFUNDA DA COLUNA

CAMADA SUPERFICIAL LÂMINA POSTERIOR DA

FÁSCIA TORACOLOMBAR

CAMADA MÉDIA FÁSCIA DO SERRÁTIL

POSTERIOR

CAMADA PROFUNDA

LÂMINA ANTERIOR DA FÁSCIA TORACOLOMBAR

FÁSCIA EPIMISAL DOS ERETORES DA ESPINHA

CAMADA SUPERFICIAL DA

FÁSCIA PROFUNDA

TRAPÉZIO

GRANDE DORSAL

GLUTEO MAXIMO

LAMINA POSTERIOR DA FTL

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Fig. 50 – Fáscia Toracolombar (lâmina posterior). É possível observar as conexões entre glúteo

máximo, grande dorsal e trapézio superior (todos envolvidos pela camada superficial da fáscia

profunda da coluna)

CAMADA MÉDIA DA FÁSCIA PROFUNDA DA COLUNA: é formada por

músculos finos: rombóides e serrátil posterior e suas fáscias. O músculo serrátil

posterior é mais profundo em relação aos romboides, sendo separados por

uma camada fascial (fáscia do serrátil). A fáscia do rombóide se divide ao

longo do bordo médio da escápula, sendo a camada superficial contínua com a

fáscia do infraespinhoso e do supraespinhoso e a camada profunda contínua

com a fáscia do serrátil anterior. Medialmente a camada média se insere nos

processos espinhosos e nos ligamentos interespinhosos e lateralmente se

estende para o ângulo das costelas e se continua com a fáscia do serrátil

anterior e fáscia clavipeitoral.

o FÁSCIA DO SERRÁTIL: é uma camada fibrosa bem definida que

envelopa os mm. serrátil posterior superior e serrátil posterior

inferior formando uma camada que permite perfeito deslizamento

entre os músculos que saem na coluna vertebral em direção as

extremidades (plano de deslizamento latero-lateral) e a

musculatura extensora profunda. Se continua anteriormente com

a fáscia do serrátil anterior.

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CAMADA PROFUNDA DA FÁSCIA PROFUNDA DA COLUNA: formada pela

lamina anterior da fáscia toracolombar (fáscia aponeurotica) e pela fáscia que

envolve os eretores da espinha (fáscia epimisal). Na fáscia dos eretores da

espinha apenas os músculos interespinhosos e multífidos tem seu envoltório

bem definido, os demais músculos se fundem uns aos outros.

Fig. 51 – Camadas miofasciais da coluna. Fonte: Gray – Anatomia

Fig. 52 – Fáscia epimisal dos eretores da espinha. Fonte: Stecco, 2015.

LÂMINA ANTERIOR DA FÁSCIA

TORACOLOMBAR

OBLÍQUO INTERNO

TRANSVERSO DO ABDOME

FÁSCIA EPIMISAL DOS ERETORES DA ESPINHA

ROTADORES, INTERTRANSVERSÁRIOS

E ESPINHAIS

LONGUÍSSIMO

ILIOCOSTAIS

MULTÍFIDOS

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o FÁSCIA TORACOLOMBAR: é uma estrutura importante que transmite força

dos músculos grande dorsal, glúteo máximo, paravertebrais e anteriores do

tronco. A lâmina posterior da fáscia toracolombar envolve a parte posterior dos

músculos espinhais e a lâmina anterior repousa entre os músculos espinhais e

o quadrado lombar (modelo de duas lâminas).

Distalmente insere-se na espinha ilíaca póstero-superior, crista ilíaca e

ligamentos sacroilíacos posteriores. A lâmina posterior da fáscia toracolombar

insere nos ligamentos supraespinhosos e processos espinhosos até o nível de

L4. Inferiormente à L4 bolsas de colágeno cruzam para o outro lado se

inserindo no sacro, espinha ilíaca póstero-superior contralateral e crista ilíaca

contralateral. A lâmina anterior insere medialmente nos processos espinhosos

das vértebras lombares e lateralmente nos mm. oblíquo interno e transverso do

abdome.

A fáscia toracolombar pode ser considerada um grande retináculo que conecta

os dois lados do corpo e o membro superior ao inferior contralateral. Sua

continuidade anatômica com os músculos abdominais é imprescindível para o

controle lombar.

Obs.: Do ponto de vista funcional a fáscia do quadrado lombar está

intimamente relacionada com as fáscias pélvicas (fáscia do iliopsoas) e

abdominais (fáscia do transverso), em vez de estar relacionada com a fáscia

toracolombar. A lâmina posterior da fáscia do quadrado lombar tem conexões

com a lâmina anterior da fáscia toracolombar, enquanto a lâmina anterior tem

forte relação com a fáscia transversal.

Fig. 53 – Organização da Fáscia Toracolombar (modelo de 2 lâminas). Fonte: Stecco, 2015.

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o FÁSCIA DO ILIOPSOAS: pode ser considerada a continuação da fáscia do

mm. transverso abdominal, estando separada da fáscia transversal e da fáscia

renal por tecido conjuntivo frouxo. Sua lâmina posterior se insere nos

processos transversos lombares formando a lâmina anterior da fáscia

toracolombar. Sua lâmina anterior recobre os músculos iliopsoas e quadrado

lombar, então se liga ao ligamento longitudinal anterior da coluna vertebral para

se juntar à fáscia do mm. transverso abdominal contralateral.

Inferiormente na pelve se continua com a fáscia ilíaca e, quando entra na coxa,

com a fáscia lata. Superiormente emite expansões para a fáscia do diafragma.

Todos os ramos do plexo lombar passam pela fáscia do iliopsoas, os troncos

simpáticos passam abaixo do arco do psoas maior e o ramo genitofemoral

passa abaixo desse plano fascial.

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