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CRISTIANISMO: A MENSAGEM ESQUECIDA

Capa: Equipe O ClarimProjeto gráfico: Equipe O ClarimRevisão: Enéas Rodrigues Marques

Todos os direitos reservados© Casa Editora O Clarim(Propriedade do Centro Espírita O Clarim)Rua Rui Barbosa, 1070 — Centro — Caixa Postal 09CEP 15.990-903 — Matão-SP, BrasilFone: (16) 3382-1066 — Fax: (16) 3382-1647CNPJ: 52.313.780/0001-23Inscrição Estadual: 441.002.767.116www.oclarim.com.br | [email protected]/casaeditoraoclarim

FICHA CATALOGRÁFICA

Hermínio C. MirandaCristianismo: a mensagem esquecida1ª edição: 19894ª edição: fevereiro/2016 - 6.000 exemplaresMatão/SP: Casa Editora O Clarim416 páginas – 16 x 23 cm

ISBN – 978-85-7357-145-5 CDD – 133.9

Índice para catálogo sistemático:

133.9 Espiritismo133.901FilosofiaeTeoria133.91 Mediunidade133.92 Fenômenos Físicos133.93 Fenômenos Psíquicos

Impresso no BrasilPresita en Brazilo

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Sumário

Prefácio 9

1 O problema 13

2 A historicidade 19I Jesus existiu mesmo? 19II Resumo e conclusões 49

3 Aspectos históricos específicos 51I Jesus nasceu em Belém? 51II Jesus é descendente de Davi? 54III Jesus teve pai terreno? 57IV O anjo anunciou Jesus? 62V Jesus teve irmãos? 63VI Jesus é o Messias? 69VII Jesus é Deus? 80VIII Resumo e conclusões 89

4 Pausa I: A doce mensagem da madrugada no jardim 91

5 Realidades ignoradas 97I Milagre 97II Ressurreição 125III Sobrevivência 160

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IV Preexistência 171V Palingenesia 178

6 Os textos 191I Documentos canônicos 191II Como se vê o cristianismo primitivo refletido no gnosticismo? 218

7 Pausa II: Exercício de ficção científica 235

8 Corpo e espírito da Igreja 241

9 Jesus: tradição e reformulação 257

10 Sacramentos 267

11 Paulo – uma reflexão 281I Fé, esperança e caridade 281II Salvação 294III Livre-arbítrio 301IV As epístolas 305V O sistematizador 311VI Pneumatismo 321VII Os carismas 337VIII Reavaliação 365

12 Cristianismo e Doutrina de Jesus 375I O amor como princípio ordenador 375II Reino de Deus 382III Um bravo e honesto depoimento 393IV A mensagem esquecida 396

13 O moço rico e a velha milionária 403

Bibliografia 411

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Prefácio

Cicatrizavam-se ainda os ferimentos produzidos pela 1ª Guerra Mundial, quando um grupo de teólogos e pensadores cristãos resolveu es-crever um estudo sobre a crise em que mergulhara a sociedade de então. Chamou-se o livro Christianity and the crisis1 e foi publicado na Inglaterra, em 1933.

Embora não especificamente formuladas, duas questões básicas se colocavam como motivadoras do alentado volume: 1) Teria falhado o cris-tianismo na tarefa de ordenar uma sociedade, senão ideal, pelo menos ra-zoavelmente equilibrada e feliz? 2) Teria ainda o cristianismo condições de realizar essa tarefa?

Se falhara o cristianismo, por quê? Se podia corrigir situações crí-ticas, ou, no mínimo, dar uma contribuição decisiva nesse sentido, que medidas teria de adotar e sugerir?

O Dr. A. Herbert Gray lembra, no ensaio de sua autoria, que muitos consideram inadequada a mensagem de Jesus, que apenas teria servido para aqueles tempos e no contexto em que ele viveu, mas não para as complexidades e sofisticações da nossa era. Ou, quem sabe, a mensagem seria ainda válida, mas o ser humano, em geral, não a entendeu ou, mes-mo entendendo-a, deixara prevalecer a dureza de coração que o próprio Cristo assinalara?

Esta última hipótese era de considerar-se, mas não explicava tudo. Quem sabe as Igrejas – o plural é do Dr. Gray – não haviam estado todo

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esse tempo a trabalhar com um modelo de cristianismo diverso daquele que propunha Jesus? Neste caso, então, o que a sociedade moderna estava rejeitando, com o esvaziamento dos templos, que se intensificaria poste-riormente, não era o cristianismo autêntico de Jesus, mas uma doutrina adulterada que pouco ou nada teria a ver com o que Ele ensinou.

Seja como for, não havia mais espaço para dúvidas: o cristianismo vigente não tinha respostas adequadas para as mazelas da civilização. Por isso, propunha o autor o retorno às origens, ignorando teólogos, comen-taristas e até apóstolos, inclusive Paulo, de volta a Jesus.

– Não queremos o Cristo dos credos – bradava ele –, mas o profeta campesino que fala num tom de voz que exige atenção.

***Mais de meio século passou por cima de tais especulações. Muita

coisa aconteceu e nada aconteceu. Se havia uma crise na década de 30, que dizermos deste entardecer do século XX? O mundo vive, dorme, tem pesadelos à noite e desperta, pela manhã, em cima de um depósito desco-munal de armas nucleares capazes de desintegrá-lo numa imperceptível fração do tempo que levou a sua formação.

É inadmissível a ideia de que o cristianismo não tenha uma contri-buição de vital importância para reordenação da caótica sociedade em que vivemos. Tem. Mas que tipo, que modelo de cristianismo produzirá esse milagre? Obviamente, não é nenhum desses que aí estão estrutura-dos institucionalmente.

Este livro é, pois, uma reflexão sobre a aflição, escrito sob a pressão da urgência. É um documento crítico, como não poderia deixar de sê-lo, não, porém, um ensaio sobre o desespero. Nem uma agressão ou gesto de hostilidade a esta ou àquela denominação cristã inevitavelmente envol-vida na exposição dos argumentos suscitados. É passado o momento de identificar culpados, acusá-los e condená-los. O que precisa ser identifi-cada, com urgência, é a verdadeira face do cristianismo e recuperado o conteúdo da esquecida mensagem do Cristo, sem as complexidades teo-lógicas, sem a rigidez cadavérica do dogma, sem o ritualismo vazio. Antes

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de desenhar o perfil do cristão ideal, como desejam teólogos modernos, imperioso é redefinir, com poucos e seguros traços, o do próprio cristia-nismo, desfigurado por séculos de desastradas manipulações e desastro-sos abusos.

Ao contrário do que fomos induzidos a crer, o pensamento de Jesus é de desconcertante simplicidade e nitidez, pois a Verdade é tão simples, iluminada e transparente quanto transcendente. Não há necessidade de toda uma vasta arquitetura teológica e hierárquica para gerir a nossa vi-vência espiritual. O próprio Cristo deixou isso bem claro ao ensinar que a Verdade se oculta sutilmente aos sábios e presunçosos e se mostra, em todo o esplendor da sua singular beleza, aos simples, mansos e humildes. Por isso atribui a estes a prioridade na implantação do Reino de Deus, a herança da Terra e a visão transcendental da divindade.

Somos todos testemunhas e vítimas dessa realidade perversa: a de eruditos tentando ensinar uma verdade, que ignoram, aos simples, que a conhecem pela força mágica da intuição.

O Reino de Deus – tema central da pregação de Jesus – se resume na realização do amor na intimidade de cada um. Feito isso, descobriremos, felizes e perplexos, que também no mundo em que vivermos – seja ele onde for – estará implantado o império da paz.

Prevalece, por enquanto, a irretocável observação do Cristo:– Os homens desejam a paz, mas não buscam as coisas que trazem

a paz.HCM

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O problema

– Foi em Antioquia que, pela primeira vez, os discípulos rece-

beram o nome de cristãos. (Atos 11 :26)

Em comemoração aos quatro séculos e meio da Reforma Protestan-te, o TIME dedicou a sua cover story, em 24 de março de 1967, a uma espé-cie de reavaliação da obra iniciada por Lutero, em 1517. Lembro-me do impacto que me causou a informação de que um conclave internacional que reunira, em 1963, as melhores cabeças pensantes do protestantismo não conseguira interpretar, em termos modernos, o conceito fundamen-tal da doutrina reformista, ou seja, a da justificação pela fé.

E me perguntava – ingenuamente, é certo – se a comunidade pro-testante mundial se dera conta da gravidade de tal impasse. Achava eu que a desconfortante descoberta deveria provocar algo como uma crise de identidade no movimento protestante ou, pelo menos, um reexame em profundidade nas estruturas da sua teologia. Tanto quanto pude ob-servar, nada disso aconteceu. Continuou tudo como sempre, ou seja, a mesma pregação básica e as mesmas práticas tradicionais, variando ape-nas, aqui e ali, no tempo e no espaço, diferentes tipos de ênfase sobre este ou aquele aspecto particular.

Como explicar a mim mesmo, um curioso e atento outsider, que te-nham sido inconclusivos os debates em torno do moderno conceito de jus-

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tificação? De que maneira, então – me perguntava eu –, havia evoluído a doutrina protestante a partir de Lutero, que, por sua vez, fora buscar em Paulo os fundamentos do seu ideário? O que estaria restando do protestan-tismo sem um claro entendimento da justificação? Quais as suas tônicas? Que propostas estaria apresentando, no mundo moderno, aos que buscam explicar a vida? Que opções estaria oferecendo? Que esperanças? Que pers-pectivas? Ou, mais amplamente ainda, que era ser cristão? O que buscam e esperam os que se dizem cristãos? Salvação? Mas o que é salvar-se? A fé salva, dizem os pregadores. E o que é fé? Um impulso espontâneo e criativo gerado no próprio ser, ou dom indefinível, dádiva incompreensível, acaso feliz? E que tipo de fé? Passiva, desligada da responsabilidade pelos pró-prios atos? Ou seja: fé desinteressada das obras?

Talvez por causa dessas e de inúmeras outras perguntas que me ocorriam, decidi assumir a modesta condição de teólogo amador e, ainda por cima, autodidata, no esforço de tentar encontrar respostas. É que a linguagem dos meus “colegas”, profissionais da teologia – com as raras e honrosas exceções de praxe – era (e continua) impenetrável ao enten-dimento dos vis mortais, como eu. Além do mais, acostumei-me a pensar com a minha própria cabeça, certo de que as mais convincentes respos-tas são aquelas que nós próprios encontramos, ordenamos e formulamos. Outra observação importante cabe aqui. A busca não estava sendo impul-sionada sob a pressão de inquietações e angústias pessoais minhas. Eu tinha (e tenho) as “minhas” respostas, não especificamente em termos de teologia protestante ou católica, pois não faço parte de seus respectivos quadros, mas é certo que me sentia estimulado pelo desafio de compre-ender as razões de uma situação que me parecia esdrúxula, ou seja, como pode sobreviver e manter-se estruturada e atuante uma doutrina cujos postulados básicos se tornaram inexplicáveis ou inaceitáveis à mente mo-derna? Que, em outras palavras, distanciou-se ou até mesmo desligou-se de suas origens, de sua motivação inicial?

Sem que nisto vá a mínima intenção depreciativa, é legítimo per-guntar-se ainda: Será que o humilde pastor ou pároco das diminutas co-

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munidades de crentes espalhadas por todo o mundo sabe que uma parte considerável das suas respectivas teologias já desmoronou? Que a outra parte está sendo questionada, reavaliada, reexaminada, reinterpretada em termos que a tornaram, no mínimo, incompreensível e, se compreen-dida, inaceitável, em confronto com seus dogmas oficiais?

Ainda há pouco, me dizia alguém, aí pelo interior, que seu irmão tivera de vender o aparelho de TV porque se tornara “crente”, ou seja, membro de uma das humildes comunidades protestantes. Que tem isso a ver com a doutrina cristã? Para ser cristão tenho de vender a minha televisão? Por quê?

Percorrendo o dial de um rádio, há tempos, em busca da hora certa, dei com um pastor a discorrer sobre o Juízo Final, que considerava imi-nente. Achava ele que o Cristo viria à Terra em duas etapas: da primeira, para recolher e levar consigo todos os que pertencessem à SUA Igreja – obviamente, a igreja do orador – e da segunda, então, para julgar os de-mais, que, aliás, já estariam, a meu ver, julgados e condenados pelo sim-ples fato de não terem integrado a primeira leva de pessoas rumo ao céu.

Não cometo a imprudência e a indelicadeza de julgar que o caro amigo pastor fosse insincero – ele falava com a maior convicção e ob-viamente acreditava naquilo que dizia. Estou disposto a ouvir, também, a contestação de que essa pode não ser a melhor teologia protestante, mas é indiscutível que são essas as ideias que, em inúmeros grupamen-tos, pelo mundo afora, estão sendo levadas ao homem e à mulher que se consideram cristãos, e às crianças que se preparam para sê-lo, em futuro próximo.

É claro que o nosso pastor radiofônico, imbuído das melhores inten-ções e das mais puras motivações, não tem notícia do que hoje se discute e especula ou, se a tem, prefere ignorar o debate. O certo é que se questio-na, no âmbito do cristianismo, a verdadeira essência da temática de seus sermões, radiofonizados ou não, dos seus escritos em jornais e folhetos, de tudo aquilo, enfim, que os trabalhadores mais modestos da seara divul-gam como sendo a boa moeda cristã, com a qual o crente está convicto de

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adquirir o seu lugarzinho no céu, a salvo dos horrores do inferno, livre, afinal, das pressões insuportáveis do demônio.

Seria ridículo dizer que estou preparado para alinhar todas as res-postas às perguntas que a mim mesmo formulei, ao ler a reportagem do TIME. Creio, porém, estar hoje em melhores condições de debater com o leitor inteligente e aberto a alguns desses desconcertantes aspectos. E é precisamente para isso que o convido: para pensarmos juntos, a ver se en-tendemos o que está se passando com o que hoje conhecemos pelo nome de cristianismo.

Comecemos por algumas perguntas bem simples, das mais simples possíveis. Esta, por exemplo: Que é um cristão?

– Do, ou relativo ou pertencente ao cristianismo – ensina Aurélio Buarque de Hollanda3. – Que professa o cristianismo.

Cristianismo, ainda segundo o Prof. Aurélio, é “o conjunto de religiões cristãs, isto é, baseadas nos ensinamentos, na pessoa e na vida de Jesus Cris-to: o catolicismo, o protestantismo e religiões ortodoxas orientais”.

São definições sensatas, inteligentes e sintéticas. Mais não se pode exigir de um dicionário.

Já o dicionário de Funk & Wagnalls4 e, com ligeiras variações, o Webster5, dizem o seguinte, que traduzo: “Cristão – aquele que profes-sa ou segue a religião de Cristo”. Coisa parecida diz o Larousse6 que, também, traduzo: “Cristão – aquele que é batizado e professa a religião do Cristo”.

O que nos leva a colocar novas perguntas: Há uma religião do Cris-to? Ou seja, teria ele fundado especificamente uma religião? Ou, ainda, de outra maneira: o que hoje conhecemos por cristianismo é a fiel e exa-ta expressão do pensamento de Jesus Cristo? O cristianismo moderno é cristão? Só pode ser cristão aquele que foi batizado? Ou que esteja for-malmente ligado a uma das várias seitas ditas cristãs e suas numerosas ramificações? Qual delas? Somente posso considerar-me cristão, segui-dor, admirador, estudioso, praticante dos princípios éticos pregados pelo Cristo se pertencer a alguma dessas ramificações? A ser inevitável a afir-

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mativa, como parece ser, no entendimento dos ministros das várias seitas – todas exclusivistas, naturalmente – teria de haver, por exemplo, uma organização bem estruturada e hierarquizada, à qual se filiasse aquele que desejasse declarar-se adepto das ideias de Sócrates ou de Aristóteles. Ressalvo, antes de qualquer interpretação apressada, que não considero o Cristo um mero filósofo, e nem Sócrates ou Aristóteles foram meros filósofos. Estamos aqui especulando sobre se a adesão a um corpo dou-trinário estratificado exige ou não, em princípio, algum título distintivo, rótulo específico ou forma particular de iniciação, juramento, fidelidade, aceitação irrestrita.

Mahatma Gandhi, um dos mais categorizados espíritos do nosso tempo, foi grande admirador do Cristo e achava mesmo incongruente a disparidade entre o que constava nos textos evangélicos e o procedimen-to daqueles que se diziam cristãos. Não sendo cristão, segundo a precisa definição dos dicionários – não era batizado e não professava a religião do Cristo – ele foi cristão dos melhores, na prática do amor ao próximo, na mansidão, no entendimento fraterno, no viver limpo, correto, modes-to, autêntico.

– Digo aos hindus – declarou ele, certa vez – que suas vidas serão imperfeitas se também não estudarem reverentemente os ensinamentos de Jesus.

– É possível para alguém, hoje – disse o Padre Dino Belluci, da Universidade Gregoriana de Roma, citado pelo TIME –, deixar a Igreja organizada e empenhar-se em continuar como cristão fora do cristia-nismo organizado.

Mesmo aqui, contudo, não nos livramos das perguntas. Esta, por exemplo: Como ser cristão fora do cristianismo institucionalizado, se dentro dele a conceituação é cada vez mais confusa? No entendimento do Padre Belluci, aquele que tentasse ser cristão fora do cristianismo es-truturado estaria dispensado ou não dos sacramentos, dos rituais e da frequência aos templos, conservando apenas a prática da ética pregada por Jesus? Estaria esse cristão marginal salvo, segundo a Igreja?

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Como percebe o leitor, voltamos sempre ao eixo principal em tor-no do qual giram todos os problemas deste universo de ideias: O que é ser cristão?

O teólogo suíço (católico) Hans Küng7 escreveu um tratado de 700 páginas para tentar responder a essa única pergunta, aparentemente tão simples. O problema, contudo, está em que, antes de se tentar responder à pergunta “O que é ser cristão?”, temos de recuar um passo ou dois para uma questão anterior e prioritária: O que é cristianismo?

Raymond Brown8, teólogo americano (também católico) escreveu seiscentas páginas exclusivamente sobre o nascimento de Jesus.

É forte a evidência de que o cristianismo, tal como é hoje conhecido, necessita urgentemente de ser repensado. E que, a despeito das dúvidas levantadas quanto aos textos sobreviventes, é ao Cristo que precisamos retornar para um confronto honesto e dramático entre o que ele ensinou e o que hoje temos como seu.

Há, pois, certa unanimidade na perplexidade, que indica a imperiosa necessidade de um retorno às origens, para reexaminá-las mais uma vez, na tentativa de reconstituir os caminhos percorridos. Ou, para dizê-lo com maior precisão: para identificar os pontos em que a mensagem do Cristo derivou para os descaminhos.