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CRIANÇA E BRINQUEDO: CONSTRUINDO OS ESPAÇOS DA INSTITUIÇÃO CRECHE Christiane Montenegro de Araújo – UFMS Anamaria Santana da Silva - UFMS INTRODUÇÃO A instituição creche tem recebido hoje grande atenção e transformações devido às mudanças ocorridas nas políticas de atendimento à infância, mas, nem sempre foi assim. O conceito de infância, bem como as primeiras preocupações com o atendimento a criança, datam a partir do século XVII na Europa, porém, elas surgem com o intuito assistencialista, onde o cuidado com a criança era o principal objetivo das instituições. No Brasil essa realidade não foi diferente, conforme Silva (1999/2002, p. 9), No que se refere ao atendimento à criança pequena, pode-se afirmar que até o início do século XX, as iniciativas de atendimento à criança pobre ficavam a cargo de ações de caráter familiar/particular e religioso, destacando-se o atendimento aos “expostos” nas “Casas da Roda”. Em 1938, com a desativação das “Casas da Roda”, a criança deixa de ser objeto apenas de caridade e passa a ser objeto de políticas de Estado. Inicia-se nesse momento, a elaboração de leis e a criação de órgãos destinados ao atendimento infantil . Sabe-se que o movimento feminista teve também grande contribuição para que acontecessem transformações no atendimento à infância, pois com a efetivação das indústrias no Brasil e a entrada das mulheres no mercado de trabalho, muitas tiveram que procurar instituições que pudessem “cuidar” de seus filhos durante a sua jornada de trabalho. Assim, ocorreram muitas manifestações que reivindicavam por creches, ou melhor, um espaço onde as crianças pequenas pudessem ser deixadas enquanto suas mães trabalhavam fora. Após muitos protestos, os donos das indústrias concedem alguns benefícios sociais que buscam controlar os trabalhadores, entre eles, algumas creches e escolas maternais onde as operárias que tivessem filhos pudessem deixá-los (OLIVEIRA, 1992). Em Mato Grosso do Sul, as políticas de atendimento à criança de zero a seis anos de idade, especificamente as creches, foram implementadas pela Secretaria de Desenvolvimento Social e pelo FASUL – Fundo de Assistência de Mato Grosso do Sul, no início dos anos 80.

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CRIANÇA E BRINQUEDO: CONSTRUINDO OS ESPAÇOS DA INSTITUIÇÃO CRECHE

Christiane Montenegro de Araújo – UFMS Anamaria Santana da Silva - UFMS

INTRODUÇÃO

A instituição creche tem recebido hoje grande atenção e transformações devido às

mudanças ocorridas nas políticas de atendimento à infância, mas, nem sempre foi assim.

O conceito de infância, bem como as primeiras preocupações com o atendimento a

criança, datam a partir do século XVII na Europa, porém, elas surgem com o intuito

assistencialista, onde o cuidado com a criança era o principal objetivo das instituições.

No Brasil essa realidade não foi diferente, conforme Silva (1999/2002, p. 9),

No que se refere ao atendimento à criança pequena, pode-se afirmar que até o início do século XX, as iniciativas de atendimento à criança pobre ficavam a cargo de ações de caráter familiar/particular e religioso, destacando-se o atendimento aos “expostos” nas “Casas da Roda”. Em 1938, com a desativação das “Casas da Roda”, a criança deixa de ser objeto apenas de caridade e passa a ser objeto de políticas de Estado. Inicia-se nesse momento, a elaboração de leis e a criação de órgãos destinados ao atendimento infantil .

Sabe-se que o movimento feminista teve também grande contribuição para que

acontecessem transformações no atendimento à infância, pois com a efetivação das indústrias

no Brasil e a entrada das mulheres no mercado de trabalho, muitas tiveram que procurar

instituições que pudessem “cuidar” de seus filhos durante a sua jornada de trabalho. Assim,

ocorreram muitas manifestações que reivindicavam por creches, ou melhor, um espaço onde

as crianças pequenas pudessem ser deixadas enquanto suas mães trabalhavam fora. Após

muitos protestos, os donos das indústrias concedem alguns benefícios sociais que buscam

controlar os trabalhadores, entre eles, algumas creches e escolas maternais onde as operárias

que tivessem filhos pudessem deixá-los (OLIVEIRA, 1992).

Em Mato Grosso do Sul, as políticas de atendimento à criança de zero a seis anos de

idade, especificamente as creches, foram implementadas pela Secretaria de Desenvolvimento

Social e pelo FASUL – Fundo de Assistência de Mato Grosso do Sul, no início dos anos 80.

2

O governo do estado incentiva várias iniciativas, tais como, o PROAPE (Programa de

Atendimento ao Pré-escolar) e o PROEPRE (Programa de Educação Pré-escolar) e mais os

projetos na área de assistência - Creches Domiciliares propostas pela Secretaria de

Desenvolvimento Social e implementadas juntamente com a Organização Mundial para

Educação Pré-escolar – OMEP; AS Creches Casulo, propostas pela Secretaria de Ação Social

e comunitária e mantidas pela Legião Brasileira de Assistência – LBA; e as Creches

Comunitárias do FASUL, mantidas por entidades filantrópicas - (SILVA, 1998). Ações e

projetos que acabavam atendendo a clientela, mas que deixavam o Governo isento das suas

responsabilidades.

Porém, todas essas iniciativas apesar de terem soluções imediatas, acabavam

efetivando ainda mais o assistencialismo, pois a finalidade de cada projeto era o de “cuidar”

das crianças para que suas mães pudessem trabalhar.

Ainda segundo Silva (1998, p. 26),

De acordo com essa concepção de creche, a profissional que

trabalha nesse equipamento não necessita de formação

específica, pois entende-se que o trabalho de “cuidar das

crianças” é uma extensão do trabalho que ela realiza em casa e

que aprendeu no dia-a-dia de mãe ou dona de casa.

Com o processo de municipalização da educação infantil, atualmente, em algumas

cidades do Estado, as creches já estão vinculadas às Secretarias Municipais de Educação,

porém, ainda existem aquelas que permanecem ligadas à Assistência.

No Brasil, a partir da Constituição de 88 o atendimento à criança de 0 a 6 anos passa a

ser garantido, pois nela a educação infantil passa a ser reconhecida como “um direito da

criança, uma opção da família e um dever do Estado”, deixando assim de ser um favor

prestado a sociedade. No entanto, o seu caráter assistencialista ainda permanece por um

tempo, sendo substituído pelo educativo a partir da LDB 9394/96, dessa forma as políticas de

atendimento a creche passam a ter novas preocupações.

Como diz Oliveira (1992, p. 22),

Segundo o projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, atualmente em discussão no Congresso Nacional a

creche passa a ser vista como responsável, junto com a família,

pela promoção do desenvolvimento das crianças, ampliando

suas experiências e conhecimentos.

3

E assim, percebe-se quanta luta teve até o dia atual para que ocorressem as

modificações nas políticas de atendimento à criança de zero a seis anos, que este atendimento

deixasse de ser simplesmente uma substituição da família e passasse a ter importância mesmo,

o simbólico, o cognitivo, o social e o emocional das crianças que nas instituições precisam

passar grande parte do dia. Por isso, os responsáveis pelas crianças nas instituições, passam a

ter que proporcionar às mesmas, momentos significativos, tendo que redirecionar os olhares,

fazer estudos e planejar o dia delas para que seja atraente, ou seja, que faça com que ela

desenvolva os aspectos citados acima, fazendo aquilo que toda criança mais gosta e sabe

fazer, que é o brincar.

Sendo assim, e levando em consideração todo estudo feito nas políticas de

atendimento à infância, esta pesquisa se propôs identificar a disponibilidade e a qualidade dos

brinquedos nas creches; perceber como as crianças os utilizam, o que significa para elas os

brinquedos e conhecer quais as maneiras que os professores utilizam esses brinquedos no dia-

a-dia da creche.

Para sua realização foi necessária a contagem e a relação dos brinquedos disponíveis

no ambiente, desde os brinquedos que estão nas salas de aula, no parquinho, até os que ficam

guardados na sala dos professores, brinquedoteca ou depósitos. Este trabalho tem a

importância de contribuir para estudos referentes às crianças que ficam grande parte do seu

dia na creche, mostrando assim a relevância e a necessidade dos brinquedos, do ponto de vista

da qualidade e da quantidade para essas crianças.

Como diz Oliveira (2002), a creche é um dos contextos de desenvolvimento da

criança. Além de prestar cuidados físicos, ela cria condições para o seu desenvolvimento

cognitivo, simbólico, social e emocional. Portanto, é um local rico para o desenvolvimento da

criança.

Segundo Kishimoto (1997), o brinquedo tem uma grande importância no

desenvolvimento, pois cria novas relações entre situações no pensamento e situações reais.

Porém, para que ocorra esse desenvolvimento vários pontos precisam ser levados em

consideração, como por exemplo, a concepção e a forma de trabalhar do educador e a

importância que ele dá para os brinquedos e brincadeiras.

4

Alguns pontos foram relevantes para nortear as observações, tais como: qual o grau de

autonomia das crianças nas brincadeiras? De quem é a iniciativa, das crianças ou professora?

Os brinquedos estão ao alcance das crianças? Como é resolvida a questão da disputa por certo

brinquedo? Qual o espaço utilizado e tempo disponível para as brincadeiras? Qual a relação

da criança com o brinquedo? Como é a interação das crianças nas brincadeiras? Existe divisão

de gênero? As brincadeiras são espontâneas ou dirigidas? Estas questões nortearam as

observações e contribuíram para que fossem alcançados os objetivos traçados na proposta da

pesquisa.

METODOLOGIA

Na finalidade de identificar a disponibilidade dos brinquedos, e como as crianças e

professores utilizam os mesmos, a proposta desta pesquisa iniciou-se com estudos teóricos

para fundamentar o trabalho sobre os temas: educação infantil, o papel do brinquedo, as

teorias do brincar e a interação criança-criança. Além disso, contamos com reuniões

periódicas com a orientadora para debater esses temas.

Após a primeira etapa, o trabalho de campo foi iniciado, com visitas às instituições

buscando o consentimento para a realização da pesquisa, e, prontamente já era iniciada a

contagem e a elaboração da relação dos brinquedos existentes na creche, bem como a

avaliação das condições de conservação dos mesmos. Ao mesmo tempo, iniciávamos as

observações das crianças e professores com esses brinquedos.

No momento em que a visita era feita para pedir autorização para a realização da

pesquisa, imediatamente combinava-se os horários que seriam realizadas as observações, pois,

embora todas as creches municipais tenham os mesmos horários para a entrada e saída das

crianças e professores, elas têm rotinas diferenciadas umas das outras.

Sendo assim, ficou estabelecido que a pesquisa seria feita nas 8 creches existentes no

município de Corumbá, ou seja, a presente pesquisa abrange a totalidade das instituições,

quais sejam: Creche Municipal Inocência Cambará, Creche Municipal Maria Candelária

Pereira, Creche Santa Rosa, Creche Ana Gonçalves do Nascimento, Creche CAIC, Creche

Municipal Valódia Serra, Creche Rosa Josetti e Creche Municipal Maria Bem-Vinda Rabello.

A faixa etária das crianças que freqüentam as respectivas creches é de 0 a 3 anos; o período de

funcionamento é das 07:00 às 17:00 hs. Optamos para melhor observação em delimitar nosso

campo empírico, então observamos duas salas de nível I, três salas de nível II e três salas de

5

nível III, dentre as oito creches. Cada sala visitada possui uma professora e uma assistente,

com exceção de uma creche que possui uma professora e duas assistentes.

Nossas idas foram realizadas diariamente a cada creche, no período matutino e

vespertino, e esses dois períodos ainda foram sub-divididos em dois horários ficando assim:

das 08:00 às 09:30, das 09:30 às 11:00, das 14:00 às 15:30 e das 15:00 às 17:00 hs.

No primeiro dia de visita era feita a relação dos brinquedos, e nos três dias seguintes,

foram feitas as observações, a fim de presenciarmos os diversos momentos e situações vividas

pelos profissionais na rotina da creche.

Embora o objetivo da pesquisa fosse o de verificar como os brinquedos são utilizados

pelas crianças e professores, após o aprofundamento teórico, foi levado em consideração, o

fato de que a criança é um ser ativo e que brinca até nos momentos que não são designados

para isso, como o da refeição e o do banho. Por isso, as observações também ocorreram

nesses momentos.

As visitas ao campo foram permeadas pela observação e consequentemente o seu

registro no diário de campo. Neste relatório usamos nomes fictícios, para a preservação da

identidade das crianças. Realizamos conversas informais com as professoras e as assistentes o

que nos possibilitou conhecer um pouco mais da rotina das crianças e professores, fato que

favoreceu um maior enriquecimento da pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os brinquedos

Em primeiro lugar, apresentaremos a relação dos brinquedos encontrados nas oito

creches municipais de Corumbá, a quantidade, a qualidade e seu estado de conservação, bem

como os locais onde os mesmos são guardados. Essa lista foi elaborada em cada creche

visitada e os brinquedos foram contados e avaliados em cada um dos espaços onde se

encontravam, porém foram todos colocados em uma mesma tabela.

Tabela 1 Relação dos brinquedos encontrados nas salas do nível I,II e III; sala dos professores; sala da diretora; brinquedoteca; sala de aula desativada; corredor; depósito

6

Brinquedos Quantidade Qualidade (1)1 Estado de conservação 2

Ábaco 5 (SN)5 Açucareiro de plástico 1 (S)1 Agogô (Inst. Musical) 6 (SN)6 Alfabeto (madeira) 4 (SN)4 Alinhavo (madeira) 248 (SN)248 Aparelho de DVD 2 (N)2 Aparelho de som 1 (SN)1 Aparelho telefônico 3 (S)3 Argola de encaixe 95 (S)95 Argola de borracha 1 (N)1 Arvore grande de cartolina (confeccionado pela profª.)

1 (SN)1

Avião pequeno de ferro (corda) 3 (SN)1 (S)2 Avião pequeno de plástico 6 (SN)2 (S)4 Barraca do homem aranha (tecido) 2 (N)2 Balde para areia 28 (N)13 (SN)12 (S)3 Bambolê 148 (N)55 (SN)76

(S)17 Barco grande de papelão (confeccionado pela profª.)

1 (N)1

Barco plástico 27 (N)13 (SN)11 (S)3 Batedeira (plástico) 11 (N)6 (SN)5 Bexiga 2 Bichinho de borracha 335 (N)9 (SN)302

(S)24 Bichinho de plástico 172 (N)20 (SN)115

(S)37 Bicho de pano 1 (SN)1 Bicho de pelúcia (pequenos e médios) 119 (SN)82 (S)37 Bicho de pelúcia (grande) 21 (SN)16 (S)5 Bicicleta (p/ criança) 1 (SN)1 Bloco lógico de madeira 4 (SN)4 Bóia 2 (S)2 Bola de borracha (média) 51 (N)17 (SN)26 (S)8 Bola de borracha (pequena) 78 (N)12 (SN)66 Bola de couro 5 (SN)4 (S)1 Bola de encaixe (plástico) 2 (S)2 Bola de jornal 23 (S)23 Bola de meia 16 (SN)16 Bola de parque 4 (SN)3 (S)1 Bola de plástico 38 (SN)26 (S)12 Bola de plástico (boliche) 12 (SN)12 Bola de vôlei 1 (S)1 Boliche (somente as garrafas) 13 (SN)8 (S)5 Boliche (kit com 6 garrafas e uma bola)

50 (N)18 (SN)32

1 Em todas as creches pesquisadas a maioria dos brinquedos não é de boa qualidade, os mesmos se estragam e deterioram com muita facilidade, exceto os brinquedos de madeiras. 2 Novo (N), semi-novo (SN), sucateado (S)

7

Bolsas de crochê 2 (S)2 Bolsa (adulto) 2 (S)2 Bolsas de plástico 1 (S)1 Boneca (bebê) 6 (SN)6 Boneca de pano 16 (SN)13 (S)3 Boneca de plástico (grande) 33 (SN)25 (S)8 Boneca de plástico (média) 79 (N)23 (SN)45

(S)11 Boneca de plástico (pequena) 60 (N)18 (SN)27

(S)15 Boneco de plástico 8 (SN)8 Boneco de pano 29 (SN)11 (S)18 Boneco feito com caixa de leite 3 (S)3 Bote (plástico) 1 (S)1 Brinquedos de garrafa peti (carrinho, helicóptero, bimbokê)

41 (S)41

Brinquedos de lata (amassa terra, pé de lata)

6 (S)6

Bule 5 (SN)5

Bumbo 10 (SN)8 (S)2 Bumbo (Inst. Musical) 1 (SN)1 Cachorro de pano 2 (S)2 Cadeira de madeira para criança 6 (SN)6 Cadeira de plástico para boneca 1 (SN)1 Cadeira de plástico para criança 18 (SN)15 (S)3 Caixa de leite (pintadas com carinhas) 8 (S)8 Caixa de ovos pintadas 9 (S)9 Caixa surpresa (madeira) 5 (SN)4 (S)1 Caminhão bombeiro 1 (SN)1 Caminhão grande de plástico 57 (N)24 (SN)19

(S)14 Caminhão médio de plástico 35 (N)17 (SN)12 (S)6 Caminhão pequeno de plástico 29 (N)5 (SN)18 (S)6 Caminhão pequeno (kit trânsito) 69 (N)33 (SN)28 (S)8 Caminhão pequeno (kit boaiadeiro) 13 (N)5 (SN)7 (S)1 Caminhão miniatura 9 (SN)7 (S)2 Carrinho com argolas para encaixar 5 (SN)2 (S)3 Carrinho com peças de encaixe 12 (SN)9 (S)3 Carrinho de boneca (plástico) 45 (N)28 (SN)15 (S)2 Carrinho de compras (plástico) 40 (N)17 (SN)23 Carrinho de corda 3 (S)3 Carrinho de fórmula 1 (miniatura) 5 (SN)5 Carrinho de madeira (formato de bichinho)

2 (SN)2

Carrinho de plástico (puxar formato de bichinhos)

76 (N)2 (SN)68 (S)6

Carro grande de plástico 10 (SN)3 (S)7 Carteira (adulto) 3 (S)3 Casinha de isopor para criança 1 (SN)1 Casinha de madeira para criança 2 (SN)2 Casinha de montar de plástico 6 (N)2 (SN)4 Casinha de papelão para crianças 3 (SN)3

8

Casinha de tecido 1 (N)1 Cavalinho de corda 1 (S)1 Cavalinho de pau 73 (SN)39 (S)34 Celular (plástico) 1 (S)1 Cesta para boneca 2 (S)2 Chocalho (Inst. Musical) 11 (SN)11 Chocalho plástico 58 (N)15 (SN)37 (S)6 Chupeta (boneca) 1 (S)1 Colher para areia 2 (SN)2 Copo plástico 8 (S)8 Corda 59 (SN)54 (S)5 Dado de espuma 1 (SN)1 Dado de papelão (cores, figuras geométricas, vogais, números)

17 (SN)17

Dominó (madeira) 3 (SN)3 Dominó (plástico) 3 (N)2 (SN)1 Elefante inflável 2 (S)2 Embalagens (creme, desodorante, óleo p/ bebê, condicionador)

106 (S)106

Encaixe de madeira 1 (SN)1 Escala (madeira e colorido) 4 (SN)4 Espada (plástico) 2 (S)2 Estante (miniatura de plástico) 1 (S)1 Fantoche 41 (N)7 (SN)28 (S)6 Ferramentas (plástico) 16 (SN)6 (S)10 Flores (garrafa peti) 2 (S)2 Fogãozinho com três panelas (plástico) 54 (N)23 (SN)31 Funil 1 (S)1 Garrafa peti vazia 30 (S)30 Garrafa (lancheira) 2 (S)2 Garrafa pequenas com água colorida 35 (S)35 Garrafas peti com areia 31 (S)31 Garrafas peti com água e bonecas 9 (S)9 Garrafas peti (com figuras de animais ) 3 (S)3 Girafa de plástico 1 (S)1 Gol de plástico pequeno 1 (N)1 Gravador (plástico) 1 (SN)1 Guitarra (plástico) 9 (SN)4 (S)5 Jarra plástico 1 (S)1 Jogo casa do ratinho (feito de sucata) 1 (S)1 Jogo de dama de papelão 3 (N)3 Jogo de numerais de madeira 3 (N)3 Jogo de palavras (papelão) 5 (N)5 Jogos de trânsito (papelão) 2 (N)2 Jogos em EVA (dama, ludo, jogo da velha)

9 (SN)9

Jogo seqüência lógica (papelão) 3 (N)3 kit de encaixe tipo lego com 170 peças pequenas

25 (SN)5 (S)20

Kit gesso (criação no gesso) 4 (N)4 Kit quebra-cuca 6 (SN)6 Laço 1 (S)1 Lanterna (adulto) 1 (S)1

9

Letras e números para areia 13 (SN)13 Linha do movimento 3 (SN)3 Liquidificador 9 (N)3 (SN)4 (S)2 Livro (banho) 4 (S)4 Lousa 11 (SN)11 Maleta com quadro e peças para montar

1 (N)1

Mamadeira (boneca) 1 (S)1 Máquina fotográfica (plástico) 5 (SN)2 (S)3 Máquina de mimeografar (plástico) 1 (S)1 Máscara para parede (papelão) 25 (SN)25 Máscara para teatro (espuma) 2 (SN)2 Máscara para teatro (papelão) 19 (SN)19 Mesa (p/ criança) 3 (SN)3 Microssystem 13 (SN)13 Minhocão 6 (SN)4 (S)2 Móbiles 8 (SN)5 (S)3 Mordedor (borracha) 1 (SN)1 Moto (plástico) 2 (SN)2 Moto (criança) 7 (SN)7 Navio musical 1 (S)1 Pá para areia 3 (SN)3 Palhaço de encaixe 38 (SN)7 (S)31 Palhaço de pano 1 (S)1 Palito de picolé 5 (S)5 Pandeiro (Inst. Musical) 12 (SN)12 Panelinha (kit com 5 peças) 44 (N)13 (SN)31 Peças de encaixe para montar bichinhos

16 (SN)3 (SN)13

Peças de encaixe para montar trenzinho 2 (S)2 Peças de encaixe (avulsas/pequenas) 394 (SN)332 (S)62 Peças de encaixe (Kit peças médias) 9 (SN)2 (S)7 Peças de plástico variadas (cabeça de boneca, urso, cabeça de palhaço, frutas, bichos, homenzinhos, régua, avião etc.)

1262 (N)89 (SN)934 (S)239

Peças para leitura de gravuras para matemática

39 (SN)39

Peneira para areia 6 (SN)4 (S)2 Piano 2 (S)2 Pilão (artesanato/miniatura) 1 (SN)1 Pintinho de corda e de plástico 1 (S)1 Pires (plástico) 5 (S)5 Pneu decorado 1 (S)1 Prato (cozinha) 12 (SN)10 (S)2 Prato (Inst. Musical) 4 (SN)4 Quebra-cabeça 11 (N)4 (SN)5 (S)2 Quebra-cabeça (madeira) 6 (SN)6 Rádio (plástico) 1 (S)1 Raquetes (plástico) 2 (S)2 Regador 9 (SN)6 (S)3 Relógio educativo 58 (N)24 (SN)32 (S)2 Revistas (avon, natura, luzon) 24 (S)24 Revólver para atirar água 1 (S)1

10

Robô (plástico) 1 (S)1 Saleiro de plástico 1 (SN)1 Serrote 2 (SN)2 Short (boneco) 1 (S)1 Sofá (criança) 1 (SN)1 Surdo (Inst. Musical) 2 (SN)2 Talheres de plástico 4 (SN)3 (S)1 Tambor (Inst. Musical) 5 (SN)5 Tambor (plástico) 3 (SN)2 (S)1 Tangran 7 (SN)7 Tapete pedagógico (Kit grande e pequeno)

6 (N)1 (SN)2 (S)3

Tapete pedagógico (peça avulsa) 39 (SN)24 (S)15 Tapete pedagógico pequeno (peças avulsas)

8 (S)8

Teatro de fantoche 5 (SN)5 Teclado (criança) 1 (S)1 Teclado de computador 1 (SN)1 Telefone 1 (S)1 Telefone celular (plástico) 3 (S)3 Telefone de plástico 2 (S)2 Tesoura (plástico) 1 (S)1 Tiara com enfeite (p/ representação) 4 (SN)4 Trator (grande) 1 (S)1 Travesseiro para boneca 1 (S)1 Travesseiro para criança (formato bichinho)

1 (S)1

Travesseiro para criança (formato de livro)

1 (S)1

Trenzinho de encaixe 6 (S)6 Triângulo (Inst. Musical) 4 (SN)4 Tubarão de plástico 2 (S)2 TV pedagógica de papelão 7 (SN)7 Urso (plástico) 1 (S)1 TV 14 polegadas 3 (SN)3 Vassoura (p/ criança) 1 (S)1 Violão (plástico) 4 (SN)1 (S)3 Vídeo cassete 6 (SN)5 (S)1 Xícara 15 (SN)7 (S)8

Tabela 2 Brinquedos da Parte externa / Parque

Brinquedos Quantidade Qualidade Estado de conservação

Balanço 35 Bom Semi-novo Balanço comunitário 1 Bom Semi-novo Caminho com as mãos 6 Bom Semi-novo Circuito 4 Bom Semi-novo Escorregador 9 Bom Semi-novo Gangorra 18 Bom Semi-nova Labirinto 1 Bom Semi-novo Manilha 2 Bom Semi-nova

11

Piscina 1 Bom Semi-nova Roda 1 Bom Semi-novo

Tabela 3 Brinquedos Parte Externa/pátio

Brinquedos Quantidade Qualidade (1) Estado de conservação

Casinha de madeira dentro havia os brinquedos abaixo relacionados

1 Bom Semi-nova

Barraca de feira 1 Bom Semi-nova Carrinho para boneca 2 Bom Semi-novo Fogão com armário 1 Bom Semi-novo Moto para criança 1 Bom Semi-novo Penteadeira 1 Bom Semi-novo

Tabela 4 Brinquedos encontrados no Refeitório

Brinquedos Quantidade Qualidade (1) Estado de conservação (2)

Aparelho de TV 14 polegadas

5 Bom Semi-nova

Aparelho de som 2 Bom Semi-novo Aparelho de vídeo cassete

4 Bom Semi-novo

A organização do tempo e do espaço para os brinquedos e brincadeiras nas creches

A partir dos dados levantados no decorrer da pesquisa procuraremos descrever e

discutir de que maneira as crianças e professores utilizam os brinquedos e qual o significado

destes para as crianças.

O tempo das brincadeiras

As creches dividem o dia da criança em horários específicos para tudo que terão a

fazer, e para as brincadeiras isso não é diferente. Durante as observações constatamos que

todas as creches disponibilizam horários para as brincadeiras, sejam dirigidas ou livres, tanto

na parte da manhã quanto à tarde, e nesse tempo as crianças se envolvem tanto com os

brinquedos quanto com seus colegas.

12

Segundo Froebel, brincar é a fase mais importante da infância – do desenvolvimento

humano neste período – por ser a auto-ativa representação do interno – a representação de

necessidades e impulsos internos (Apud, KISHIMOTO,1998), sendo assim, baseado nesta

afirmação, constatamos na grande parte do tempo que estivemos observando que, para a

criança o seu dia gira em torno das brincadeiras sejam elas direcionadas ou livres com horário

ou não.

Em uma das nossas observações:

“a professora levou todas as crianças para o refeitório, pois estava na hora da

janta, ficaram separadas por níveis, em mesinhas, e no nível que estávamos

acompanhando duas crianças sentaram em uma mesa separada devido à falta

de espaço na outra onde estava o seu grupo, enquanto elas esperavam o

lanche brincavam o tempo todo de “bicho” como eles mesmos caracterizaram,

tampava o rosto com a camiseta, mostravam um para o outro e ainda

chamavam a colega que estava em outra mesa para participar da brincadeira,

mas nesse momento chegou o lanche, que era um pedaço de bolo e refresco,

então um dos meninos que estavam separados ao invés de comer o bolo

começou a passar na mesa imitando um carrinho, inclusive fazia o som do

carro com a boca e mostrava para seu colega.”(Diário de campo, Nível III,

16:00 horas, dia 28/04/2006).

Em uma outra situação as crianças estão em horário de lanche:

“Júlio pega as canecas das outras crianças que já terminaram de tomar o

suco para fazer uma pilha de canecas, tentando encaixa-las.” (Diário de

campo, Nível III, 16:05 horas, dia 28/04/2006 ).

As crianças brincam até nos momentos que para os adultos é considerado um

momento sério, onde elas tentam fazer com eles não brinquem, mas que nem sempre

conseguem controlar.

Nem sempre as brincadeiras são livres, muitas professoras utilizam o momento da

brincadeira para direcionar a mesma, ou seja, coloca um determinado objetivo para essa, e o

que constatamos é que nesse momento as crianças nem sempre estão dispostas a atenderem ao

pedido da professora, em algumas observações vimos que as crianças queriam fazer outras

coisas ou se cansavam muito rápido daquilo que era esperado por elas. Como nesse caso:

13

“As professoras decidem levar as crianças para o lado de fora da sala, tentam

fazer uma roda para brincar de ciranda, mas como a turma é grande, pois

havia dois níveis em uma sala só, as professoras decidem separar a turma,

então cada professora tenta brincar com a sua turma. Só conseguiram cantar

uma música, pois em alguns segundos as rodas se desfizeram, e as professoras

decidiram caminhar com as crianças pelo pátio, dizendo que iam passear na

floresta. Porém, esse passeio na floresta também só durou uma volta no pátio,

às crianças logo se dispersaram.”(Diário de campo, Nível II, 08 horas e 25

minutos, 20/02/2006).

Porém, nem sempre as brincadeiras dirigidas não alcançam seus objetivos, não há uma

regra, e a prova disso é esse próximo relato, onde fizemos uma observação em uma

determinada creche no período da manhã e a professora utilizou esse momento para fazer

atividades que foram programadas por ela.

“Ela chamou todos para sentarem bem perto dela, para eles visualizarem as

figuras do livro que ela iria contar uma história, à medida que ela ia contando

ia também mostrando as figuras que eram feitas de cartolina e fixadas em

palitos de picolé, eles além de prestarem atenção faziam perguntas sobre o

bicho e pediam para repetir a história. Após essa atividade que durou uns 5

minutos, a professora preparou o ambiente para eles jogarem basquete, eles

tinham que acertar a bola de borracha na caixa que estava em cima de uma

cadeira, ela foi chamando um por um, alguns não quiseram, e ela nos disse

que eles estavam inibidos com a nossa presença. Logo após mais uns 5

minutos a professora colocou a caixa deitada no chão de modo que parecesse

um gol, para que eles chutassem a bola lá dentro, o processo se deu da mesma

maneira que o anterior. Depois de todos participarem ela recolheu esses

objetos, pegou vários brinquedos (que estavam guardados em uma sala

separada) e colocou tudo no chão, eles foram pegando conforme a sua

vontade.” (Diário de campo, Nível II, 08 horas e 15 minutos, 17/03/2006).

Durante o momento disponibilizado para as brincadeiras as crianças interagem o

tempo todo, elas aproveitam o tempo e os brinquedos como que prevendo que tudo aquilo tem

tempo certo para acabar, portanto elas brincam juntas ou sozinhas, dividem ou não os

brinquedos que escolhem, e quando isso acontece surgem as brigas. Nessa observação as

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crianças ainda estavam sob a responsabilidade da atendente, e essa colocou vários brinquedos

espalhados pelo chão, dentre eles haviam utensílios domésticos e peças de encaixe. As

crianças logo que viram se interessaram pelos brinquedos, porém houve a divisão de alguns

grupos, e nesse momento houve também brigas devido à disputa por certos brinquedos.

Quatro crianças estavam brincando embaixo da mesinha e uma menina diz:

“ Dá pra mim mamãe! Olhando para colega que estava ao seu lado.

E esta responde:

- Cala boca, cala boca. Olhando para o lado como se pedisse ajuda para seu

outro colega.

Os outros dois olham para a menina que pediu e continuam:

- Cala boca, cala boca.

E então ela fica irritada com a gritaria e ataca o rosto da colega, dando

vários beliscões.

Nesse momento foram logo interrompidos pela atendente que desfez o

grupinho.”(Diário de campo, Nível II, 08 horas e 30 minutos, dia 05/12/2005).

As atendentes e professores durante as observações estavam sempre separando as

brigas ocorridas, e se a briga fosse por um brinquedo, este ficava na maioria das vezes com a

criança que estava primeiro com o brinquedo.

As brigas durante as brincadeiras de criança, ocorreram tanto em brincadeiras dirigidas

quanto em brincadeiras livres, apesar deles parecerem mais inquietos quando as brincadeiras

eram dirigidas, pois para aqueles que não estavam na vez da brincadeira, permaneciam muito

tempo parados, sem poderem ao menos levantar do lugar. Como nessa ocasião onde havia

dois níveis juntos fazendo uma mesma atividade:

“... às 14 horas e trinta minutos as professoras param de brincar com o

circuito e levaram todos para jogar boliche, uma delas arrumou as garrafas

para eles jogarem, todos tiveram a oportunidade de jogar, cada um que

jogava voltava para o lugar, eles até tentavam levantar, mas as atendentes

estavam sempre mandando eles sentarem. Às 14 horas e 40 minutos terminou

essa brincadeira e eles foram brincar com o dado (grande) que tem 1 figura

em cada lado, cada hora 1 deles jogava e a figura que caísse para cima eles

cantavam a música. Entre jogada e outra Pedro e Miguel começaram a se

bater, mas a atendente logo separou os dois. Às 14 horas e 55 minutos

terminou a brincadeira e só então as professoras disseram que elas poderiam

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levantar para brincar com alguns brinquedos que elas colocaram pelo chão

para que as crianças pegassem.” (Diário de campo, Nível II e III, às 14 horas

e 30 minutos, dia 05/04/06.)

No nível I a rotina é bem parecida com dos outros níveis, exceto o tempo para as

brincadeiras que são maiores, pois nos dias que fomos observar percebemos que as crianças

que neles estão, passam os períodos revezando entre brincar, comer, dormir e tomar banho.

Mesmo quando uns vão tomar banho ou mamar os brinquedos ficam pelo chão.

Nos dois níveis I que estivemos não houve brincadeiras dirigidas, a professora de uma

das creches interagiu mais com as crianças do que da outra, além de disponibilizar vários

brinquedos para as crianças. Nessa creche onde houve maior contato das crianças com os

brinquedos as crianças trocavam de brinquedo muito rápido.

“Mesmo com todos os brinquedos espalhados pelo chão, só 3 crianças se

interessaram pó eles, uma delas foi a Tassiana que pegou a peneira e um

garfo (que são peças do baldinho), ela ficou passando esse garfo na peneira

por um tempinho, haviam mais 2 crianças perto dela, mas elas não brincavam

juntas. Tassiana largou os objetos para ir pegar outros brinquedos que

estavam sobre uma mesinha, ficou lá ao lado da Gláucia que também brincava

com uma boneca, mas em poucos minutos largou a boneca e sentou-se no chão

sem brincar com nada. A Tassiana também já havia largado os brinquedos da

mesinha e já tinha voltado para manusear o baldinho e o garfo que estavam

no mesmo lugar que ela deixou.” (Diário de campo, Nível I, 14 horas e 40

minutos, 07/03/2006).

“Graziela é um bebê, bem novinha, mas muito esperta, ela não veio na creche

nessa semana toda que estou fazendo a observação, por isso eu só a conheci

hoje. Todos os brinquedos chamam a sua atenção, mas nenhum recebe

atenção especial, ela troca de brinquedo o tempo todo, mas não fica um

segundo sem nada na mão.”(Diário de campo, Nível I, 09:00 horas, dia

09/03/2006).

A tendência de uma criança muito pequena é satisfazer seus desejos imediatamente;

normalmente, o intervalo entre um desejo e a sua satisfação é extremamente curto

(VYGOTSKY, 1991, p. 106).

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Todas as creches possuem parquinhos, sejam eles apropriados ou não para as crianças

brincarem, pois alguns estão na direção do sol, outros estão com o mato muito alto e outros

ficam na terra, e quando chove fica impossível para as crianças brincarem, mas ainda assim

durante as observações tivemos a oportunidade de acompanhar em uma creche as crianças do

nível III que foram para o parque junto às crianças do nível II.

“Nessa ocasião ficaram com as crianças 3 professoras e 3 atendentes. A

professora do nível II que estávamos acompanhando, levou para eles 6

bambolês e 2 jogos de boliche algumas crianças não se interessaram pelos

brinquedos do parque e acabaram preferindo o bambolê, como foi o caso da

Camila, do Vinicius, do Talles, do Jorge, do Mauro e do Ricardo, que

pegaram o bambolê e começaram a interagir juntos, até tentaram girar o

bambolê na cintura, mas como houve uma certa dificuldade Talles resolveu

empurrar no chão, como se estivesse girando um pneu, e todos eles logo

passaram a fazer os mesmos gestos.”

(Diário de campo, Nível III, 14:30 horas, 28/04/06).

Nesse mesmo momento muitas crianças balançavam ou giravam na roda, auxiliadas

pelas professoras, nessa observação em particular não houve momentos de brigas ou muita

interação entre as crianças que estavam nos brinquedos, elas pareciam estar imersas em seus

momentos individuais.

Os Espaços

Na maioria das creches que foi realizada a pesquisa, os brinquedos não estavam

disponíveis para que as crianças brincassem na hora que tivessem vontade, nestas, os

brinquedos não ficavam na sua própria sala e sim em locais como: sala da diretora, sala dos

professores, sala de aula desativada, brinquedoteca, corredores e depósitos. Alguns dos

brinquedos que ficam nessas salas são brinquedos novos ainda embalados, os brinquedos que

já estão disponíveis para as crianças brincarem são levados para as salas no momento das

brincadeiras, que acontecem em horários disponibilizados pela professora da sala; nesse

momento a mesma pega os brinquedos e dispõem todos no chão, a partir disso as crianças

escolhem com o que deseja brincar e muitos formam grupinhos para suas brincadeiras.

Nas creches que possuíam alguns brinquedos na própria sala de aula (que é a minoria)

estes ficam em caixas ou sacos, no canto da sala ou em cima do armário. Mas mesmo nestas,

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as crianças possuem horários para utilizarem os brinquedos para as suas brincadeiras,

portanto, só pegam os mesmos com a permissão da professora.

Ao término das brincadeiras, os brinquedos são recolhidos pela professora com a ajuda

das crianças e são guardados de volta em seus devidos lugares. Elas estão tão acostumadas

com essa rotina que guardam os brinquedos sem se queixarem.

Na hora do banho, em todas as creches, as crianças vão acompanhadas pelas

atendentes, divididas, seja por gênero ou por quantidade, então para as que ficam esperando,

umas professoras colocam os brinquedos pelo chão e outras colocam fita VHS ou DVD. No

período da manhã ao chegarmos para uma observação vimos que as crianças estavam

brincando pelo chão, mas logo a atendente pegou algumas crianças (entre meninos e

meninas),

“as poucas crianças que estão para fora do banheiro brincam sozinhas, cada

uma com um pouco de peças do relógio educativo, não interagem entre si.”

(Diário de campo, Nível II, 09:00 horas, dia 21/02/2006).

Durante as observações percebemos também que, além dos brinquedos não estarem à

disposição das crianças para elas brincarem quando sentirem vontade, também, o espaço

utilizado para as brincadeiras varia de acordo com o desejo da professora; algumas levam em

consideração o clima que faz no momento, ou seja, pela região ter um clima muito quente, e

algumas salas ficarem na direção do sol às vezes pela manhã ou à tarde, elas levam as

crianças e os brinquedos para um local adequado para que a atividade seja livre e confortável.

Em algumas creches, as professoras utilizam à parte externa da creche, seja na

varanda ou embaixo de uma árvore. Como observamos em uma creche no período matutino

um momento de brincadeiras entre as crianças e professor.

“O professor amarrou uma corda em dois pilares e todos eles sem exceção

brincavam de se pendurar na corda. Porém, as maiorias das brincadeiras

acontecem num curto período de tempo, e logo eles saíram dessa atividade e

foram pegar um capim, davam para o professor dizendo que era flor, até que o

professor os proibiu de ir ao mato, então uma das meninas que estava

participando dessa brincadeira pegou o capim e começou a passar pelos

pilares dizendo que estava pintando, chamou um menino e os dois juntos

faziam de conta que estavam fazendo desenhos nos pilares.” (Diário de

campo, Nível II, 09:00 horas, dia 06/12/2005).

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No brinquedo, os objetos perdem sua força determinadora, a criança vê um objeto,

mas age de maneira diferente em relação àquilo que vê. Assim é alcançada uma condição em

que a criança começa a agir independentemente daquilo que ela vê (VYGOTSKY, 1991, p.

110).

Nas brincadeiras livres observamos que as crianças não se dividem por gênero,

tamanho, idade ou coisas parecidas, elas se agrupam mesmo por afinidade, mesmo nas

creches que observamos no inicio do ano e as crianças ainda não tinham grande convívio, a

maioria delas já formavam grupinhos, e esses variavam entre meninos e meninas. Nesse tipo

de brincadeira as professoras não costumam interferir, as crianças escolhem com quem

querem brincar e de que querem brincar desde que, seja com os brinquedos que as professoras

disponibilizaram. As crianças também não selecionam o brinquedo que pegam, elas não

discriminam se tal objeto é de menina ou menino, elas se envolvem com os brinquedos não

levando em consideração as regras que geralmente são colocadas pelos adultos, e isso

acontece tanto com as crianças menores, do nível I, quanto com as maiores, nível II e III).

A ação regida por regras começa a ser determinada pelas idéias e não pelos objetos

(VYGOTSKY, 1991).

Esse trecho foi tirado do diário de campo feito no nível I,

“João estava sentado brincando com uma boneca, ele ficou com essa boneca

durante uns 15 minutos, nesse tempo ele brincou sempre sozinho, esfregava a

cabeça da boneca no chão, sacudia ela para ficar olhando o cabelo dela

balançar, mas quando ele ouviu o barulho do telefone que a assistente estava

mexendo, largou a boneca e foi sentar perto dela para poder pegar no

telefone.” (Diário de campo, 08 horas e 20 minutos, dia 09/03/2006).

Aqui nos mostra como a indiferença em relação ao tipo de brinquedo para a maioria

das crianças que observamos não importou:

“Patricia brincava sozinha com peças de encaixe, desviei meu olhar para dar

uma olhada no geral e vi que o Murilo brincava com o carro de compras e

com uma boneca grande, ele tentava colocar a boneca no carro para

empurrar, Patrick e Júnior colocaram o carrinho com formato de bichinho de

cabeça para baixo e brincavam de rodar a roda, Mikaela brincava com um

baldinho, colocava alguns bichinhos dentro, Breno estava sentado

empurrando um caminhão, Felipe e Luan interagiam juntos com três

caminhões, Marcos também puxava 2 caminhões de uma só vez, amarrou a

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corda de um deles no outro e ficou puxando pela sala.” (Diário de campo,

Nível II, 08 horas e 50 minutos, 17/03/2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No decorrer da pesquisa, observamos que os brinquedos estão divididos entre

sucateados, semi-novos e novos. Ao começarmos nossas observações, no mês de novembro

de 2005, percebemos que os brinquedos eram todos sucateados e que ficavam guardados nas

próprias salas das crianças, mesmo que essas não pudessem pegar a hora que desejassem,

porém, após o recesso de fim de ano, retornamos as observações e vimos que não só na

primeira creche, como em todas as outras os brinquedos estavam novos, ainda guardados em

suas caixas ou plásticos e muitos deles ficavam em salas que não eram as salas das crianças.

Foi-nos dito por todos os responsáveis pelas creches que tem esses brinquedos ainda

guardados, que estes vão sendo disponibilizados à medida que surgem as necessidades.

Verificamos que alguns desses brinquedos ainda novos são de qualidades ruins,

objetos de plásticos frágeis ou rodas que descolam com facilidade. Porém, são os brinquedos

distribuídos pela Prefeitura para todas as creches, por isso nos habituamos a ver os mesmos

tipos de brinquedos em todas as creches que passamos.

Na rotina da creche, o momento do brincar é muito mais importante para as crianças,

do que para os adultos, pois elas brincam o tempo todo, seja na hora da refeição ou no

momento disponibilizado pelo professor para simplesmente brincarem.

A criança não separa esses momentos no seu dia, ela brinca até quando não tem

objetos próprios para isso, ela cria, imagina situações e faz disso a sua experiência. Para ela, a

qualidade dos brinquedos não tem significado, pois várias vezes vimos crianças brincando

com um carro sem rodinha, ou uma boneca sem braço, se o brinquedo é novo ou sucata para a

criança não importa, esses são aspectos não relevantes para ela.

A criança interage com certo objeto de acordo com as suas necessidades, nem sempre

o brinquedo que ela brinca está relacionado com o que está em suas mãos, porém, isso para

ela não é motivo para não brincar, ela aproveita todos os objetos e todos os momentos para

brincar, seja sozinha ou acompanhada.

Os professores não costumam interagir com as crianças em brincadeiras que não sejam

dirigidas, e também não costumam dar significados para os objetos que não sejam os seus

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próprios, quem geralmente faz isso é a própria criança. Por isso, vimos bem poucas vezes, as

crianças procurando um professor ou atendente para brincar.

Para alguns dos professores que tivemos contato durante a pesquisa, a prática do

cuidar ainda se faz mais presente do que o momento do brincar, e quando esse último se faz

presente o professor acaba deixando que ele tenha finalidade em si próprio, não interferindo e

canalizando esse momento para o desenvolvimento da criança em todos os aspectos que ela

desenvolve nessa fase da sua vida como vimos em leituras, onde se espera que a Educação

Infantil seja um espaço em que a criança brinque e desenvolva capacidades como a atenção, a

imitação, a memória, a imaginação e mais a sua identidade e autonomia.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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