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Criado por
Mario Madureira
Ep. #: 108
“Meninas Grandes Não Choram”
Escrito por
Mario Madureira e Karina Bittencourt
28 de agosto de 2015
São Paulo, Brasil
1
ATO UM
Anteriormente em “Estrada das Lágrimas”.
SAMUEL arranja um emprego para pagar as contas atrasadas e
recebe mais uma conta para pagar. JOÃO questiona ANDRÉ se ele
está vendo o GUI novamente. LUCIA tenta falar com CAMILA, mas
DÉBORA afirma que ela está indisposta. SAMUEL beija ISABELA por
acidente e fica com medo de estar vivenciando uma tristeza
antiga. ANDRÉ apresenta LUCIA para seus pais e a beija pela
primeira vez. ROBSON e uma assistente social visitam SAMUEL
afirmando que LUCIA está vivendo em condições precárias por ser
menor de idade e afirmam que levariam LUCIA embora.
INT. CASA DA FAMÍLIA SANGES. SALA – NOITE
SAMUEL e LUCIA estão sentados lado a lado no sofá.
LUCIA
(angustiada)
O que vamos fazer agora, Samuel?
(suspira)
Tudo que não precisávamos era de mais um problema.
SAMUEL
Se você tivesse me avisado onde estaria,
talvez não estivéssemos nessa situação.
Que sirva de lição!
LUCIA
Sem sermão agora!
Estou tentando pensar em alguma coisa.
Pra que esse policial intrometido tinha
que piorar as coisas?
SAMUEL
Talvez ele tenha razão.
Talvez eu seja incapaz de cuidar de você.
(suspira)
Isso está sendo mais difícil do que pensei.
LUCIA
Ei, você está sendo ótimo.
Esse Robson não sabe nada sobre nós.
Ele deveria estar atrás dos nossos pais,
não perseguindo a gente.
SAMUEL
Bom, de qualquer maneira,
temos que encontrar uma saída.
2
Não sei... Falar com um advogado, talvez?
LUCIA
Advogado?
(se levanta do sofá)
Já sei!
Podemos falar com a mãe da Camila.
Ela é uma ótima advogada.
Pode ser que nos ajude.
SAMUEL
Ótimo! Então você fala com ela amanhã.
INT. CASA DA FAMÍLIA NOVAES. QUARTO DE ANDRÉ – NOITE
ANDRÉ está andando de um lado para o outro em seu quarto,
enquanto TOMMY está deitado em sua cama.
ANDRÉ
Será que ele disse algo para a Lucia?
TOMMY
Está na cara, André.
Ele quer separar vocês.
Está fazendo de tudo para conseguir isso.
ANDRÉ
(para de andar, cruzando os braços sob o peito)
Estava indo tudo tão bem.
O que eu faço, Tommy?
Não posso deixar que ele me afaste da Lucia.
Não agora.
TOMMY
Bom, primeiro faça as coisas do seu jeito.
Converse com a Lucia
e peça para ela lidar com o irmão.
Ela também não vai gostar de saber
que ele está interferindo dessa forma.
ANDRÉ
E se não funcionar?
TOMMY
Bem... Aí faremos do meu jeito.
A cena escurece e aparece o título “ESTRADA DAS LÁGRIMAS,
criado por Mario Madureira”.
3
FIM DO ATO UM
4
ATO DOIS
INT. RESTAURANTE TAVARES’S BURGER. SALÃO PRINCIPAL – DIA
ISABELA está organizando as mesas do restaurante quando
SAMUEL entra apressado. Ele para de andar, arfando e
olhando ao redor. Depois engole em seco quando vê
ISABELA, que sorri para ele.
SAMUEL
Hm, bom dia.
(coça a cabeça, desconfortável)
O Júlio já está aí?
ISABELA
Está sim, no escritório dele.
SAMUEL
Obrigado.
SAMUEL sai apressadamente do salão, indo em direção ao
escritório de JÚLIO. Quando chega, ele hesita, respira
fundo e bate três vezes na porta.
JÚLIO
(voz)
Pode entrar.
(levanta a cabeça e vê SAMUEL parado na porta)
Olá Samuel, bom dia. Chegou mais cedo hoje.
SAMUEL
Bom dia, Júlio.
(respira fundo)
É que eu tenho um assunto um pouco
delicado para falar com você.
JÚLIO
Sente-se, garoto.
Sou todo ouvidos.
SAMUEL
Obrigado.
(pigarreia)
Bom, eu não sei se o Vitor comentou com
você sobre os meus pais.
Eles estão desaparecidos.
JÚLIO
(franzindo a testa)
Sim, ele comentou. Eu sinto muito.
5
Se eu puder fazer alguma coisa...
SAMUEL
Na verdade, foi isso que eu vim lhe pedir:
um grande favor.
Eu tenho uma irmã mais nova
e as coisas vêm sendo difíceis desde
o desaparecimento dos nossos pais.
Esse é o motivo pelo qual eu precisei
tão urgentemente do emprego,
e esse é o motivo pelo qual estou aqui.
Preciso muito desse dinheiro agora.
Queria pedir um adiantamento.
Eu sei que é muito cedo, mas...
JÚLIO
(interrompe SAMUEL, fazendo um gesto com as mãos)
Garoto, está tudo bem.
Eu jamais negaria ajuda a alguém nessas condições.
Pode contar comigo.
SAMUEL sorri para JÚLIO, parecendo aliviado. JÚLIO lhe
estende a mão e eles se cumprimentam.
EXT. RUA QUALQUER – DIA
LUCIA e ANDRÉ estão andando lado a lado, em silêncio, em
direção à escola.
LUCIA
Aconteceu alguma coisa?
(franze a testa)
Você está quieto desde que saímos de casa.
ANDRÉ
Hm, na verdade eu preciso conversar com você.
(suspira)
Só não sei por onde começar.
LUCIA
(toca o braço de ANDRÉ e para de andar)
O que foi? Aconteceu alguma coisa?
ANDRÉ
(desvia o olhar de LUCIA)
Eu... Eu acho que seu irmão está tentando nos afastar.
LUCIA
Como assim, André?
6
ANDRÉ
Tem algumas coisas que eu preciso te falar.
Coisas que eu não achei necessário falar antes.
LUCIA
Fala logo, André! Não gosto de mistérios.
ANDRÉ
(passa a mão no cabelo)
Bom, no passado, quando eu ainda era criança,
eu tive um amigo imaginário chamado Gui.
Não era pra ser algo ruim ou preocupante,
Até que ele começou a me mandar fazer... Coisas.
LUCIA
(arregala os olhos)
Que tipo de coisas?
ANDRÉ
Coisas ruins, Lu.
Coisas que uma criança normal não faria.
(suspira)
Isso, obviamente, assustou muito minha família.
Mas foi uma coisa que eu superei
com a ajuda do Tomas.
(desvia o olhar)
Como eu disse, é passado.
LUCIA
(franzindo a testa)
Mas o que exatamente o Samuel tem a ver com isso?
ANDRÉ
O Samuel foi até o meu pai dizer que eu voltei a ver o
Gui.
Meu pai estava muito assustado.
Veio falar comigo ontem...
Eu achei que deveria te contar.
LUCIA
Claro...
Mas por que o Samuel faria uma coisa dessas?
ANDRÉ
Ele não gosta de mim, eu te disse.
Quer nos ver afastados.
Eu... Eu não quero que ele consiga isso.
LUCIA
7
(abraça ANDRÉ)
De jeito nenhum.
Não se preocupe... Vou resolver isso.
LUCIA fecha os olhos enquanto abraça ANDRÉ. Ele sorri,
aliviado.
INT. RESTAURANTE TAVARES’S BURGER. COZINHA – DIA
ISABELA está na cozinha quando SAMUEL entra com alguns
pratos em uma bandeja.
ISABELA
Ah, Samuel, eu preciso
falar com você.
SAMUEL
Hm... Está uma loucura lá fora.
Pode ser depois?
(se vira para sair da cozinha)
ISABELA
Mas eu só...
SAMUEL sai antes que ISABELA termine a frase. ISABELA
encara a porta com uma expressão confusa e volta a
trabalhar.
INT. CASA DE CAMILA. SALA – DIA
DÉBORA está sentada no sofá enquanto lê uma revista.
CAMILA desce as escadas com a mochila pendurada em um dos
ombros. DÉBORA olha para CAMILA e fecha a revista, se
levantando em seguida.
DÉBORA
Onde você pensa que vai?
CAMILA
Mãe, eu preciso ir para a escola.
Estou perdendo muita matéria e...
DÉBORA
Você não está se sentindo bem, está?
CAMILA
Eu estou melhor, mãe.
8
DÉBORA segura CAMILA pelos ombros e a empurra em direção
a um espelho redondo pendurado na parede.
DÉBORA
Você acha que isso é estar bem?
Eu já falei pra você!
Minha filha não vai sair desse jeito!
Se eles acham que você está gorda,
você vai ter que emagrecer!
CAMILA
Mãe, isso é loucura!
É só a escola, não um desfile de moda.
DÉBORA
Até porque você jamais estaria em um desfile com esse
peso.
CAMILA
(com lágrimas nos olhos)
O que você quer que eu faça?
Que eu fique dentro de casa
até ter virado uma cópia da Barbie?
Isso não vai acontecer.
DÉBORA
Isso é o que nós vamos ver.
(ajeita os cabelos e abre espaço para que CAMILA saia)
Você não vai a lugar nenhum. Suba.
CAMILA vai em direção da escada e sobe. Entra em seu
quarto e bate a porta, com lágrimas escorrendo em seu
rosto. Ela joga a mochila na cama e olha para o espelho.
Aos poucos ela começa a se olhar e tenta encolher a
barriga com uma tentativa de parecer mais magra.
INT. ESCOLA. PÁTIO – DIA
LUCIA está sentada em um banco enquanto ANDRÉ vem em sua
direção com duas latas de refrigerante. Ele se senta ao
lado de LUCIA e lhe entrega o refrigerante.
LUCIA
Obrigada.
ANDRÉ
Imagina.
(abre o refrigerante)
Você parece preocupada.
9
Tem a ver com o que Samuel fez?
LUCIA
Hm, sim, também.
Tem a ver com muita coisa.
(suspira)
Camila não veio hoje de novo.
ANDRÉ
Você não disse que a mãe dela cuidaria disso?
LUCIA
Sim, mas ela não me deu mais notícias.
Estou preocupada. Acho que vou até lá hoje.
Preciso conversar com a Débora, mesmo.
ANDRÉ
(ergue as sobrancelhas)
Precisa? Por quê?
LUCIA
Ah... É sobre a Camila, claro.
Quero saber como estão às coisas.
(pigarreia)
E os preparativos para a sua peça?
ANDRÉ
Eu tenho ensaio hoje.
A pré-estreia já é amanhã! Eu estou tão nervoso.
LUCIA
Não fique, vai dar tudo certo.
(segura a mão de ANDRÉ e sorri)
Aposto que você é um ótimo ator.
ANDRÉ
Isso você só vai saber amanhã.
LUCIA
E pode apostar, que eu estarei lá.
ANDRÉ
Você nunca pensou em atuar?
Ajuda muito a esquecer os problemas.
(sorri)
Você amaria.
LUCIA
Ah, isso não é pra mim.
Eu gosto mesmo é de escrever.
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ANDRÉ
(encara LUCIA, franzindo a testa)
Eu não sabia que você gostava de escrever.
LUCIA
Hm, não é nada demais.
Costumo escrever no meu diário.
Escrevo quando preciso externar algumas coisas.
Me faz sentir melhor.
ANDRÉ
Ah, você precisa me mostrar isso!
LUCIA
Não antes de ver você atuando.
ANDRÉ
Combinado então.
No dia da apresentação você me traz o diário.
LUCIA
Feito.
(estende a mão para cumprimentar ANDRÉ)
Vamos indo para a sala?
ANDRÉ
O sinal ainda não tocou, Lu.
LUCIA
Sim, mas eu preciso ir
ao banheiro antes de voltar para a sala.
ANDRÉ
Tudo bem, então. Te vejo na saída?
LUCIA
Pode ser, mas acho que vou direto
para a casa da Camila.
ANDRÉ
Te levo até lá, então.
LUCIA
Você tem ensaio, esqueceu?
(sorri)
Pode deixar, eu vou sozinha.
Nos falamos por mensagem.
ANDRÉ
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Fazer o que né?
(abraça LUCIA)
Até depois, então.
LUCIA acena para ANDRÉ e vai em direção ao banheiro. Ela
pega o celular e disca um número. Espera alguns segundos
antes de ser atendida.
LUCIA
Alô, Débora?
Sou eu, a Lucia.
(ouve por alguns segundos)
Eu preciso muito falar com você.
Tudo bem se eu for aí depois da escola?
(ouve por alguns segundos)
Tudo bem então. Te vejo mais tarde.
INT. CASA DE CAMILA. QUARTO – DIA
CAMILA está deitada em sua cama quando ouve a porta da
sala bater. Senta em sua cama bruscamente e se levanta
devagar. Abre uma fresta da porta e espia o corredor. Sai
do quarto lentamente e vai até a cozinha, abrindo um
armário alto e tirando alguns pacotes de doce dele. Abre
uma embalagem de chocolate e fecha os olhos enquanto
come. DÉBORA entra silenciosamente na cozinha e bate com
a mão na mesa, assustando CAMILA. A mesma derruba o doce
que tinha em mãos.
DÉBORA
O que você pensa que está fazendo?
FIM DO ATO DOIS
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ATO TRÊS
INT. RESTAURANTE TAVARES’S BURGER. BANHEIRO – DIA
SAMUEL sai do banheiro e vê ISABELA vindo em sua direção.
Ele desvia o olhar e anda apressadamente na direção
contrária.
ISABELA
Ei, Samuel.
Espera!
(alcança SAMUEL, segurando seu braço)
Eu preciso...
SAMUEL
Agora não, Isabela, estou ocupado. Com licença.
(solta seu braço do aperto de ISABELA
e continua andando)
INT. CASA DE CAMILA. COZINHA – DIA
CAMILA está diante de DÉBORA, lhe encarando com os olhos
arregalados. DÉBORA da um passo em sua direção e ela da
um passo para trás.
CAMILA
Mãe...
(engole em seco)
Eu só...
DÉBORA
Cale a boca, agora!
(se aproxima de CAMILA e segura
seu braço, encarando-a de perto)
O que eu foi que eu disse sobre comer qualquer coisa
que não estivesse dentro da sua dieta?
CAMILA
Foi a primeira vez, eu nunca...
DÉBORA
Não interessa.
(começa a puxar CAMILA para fora da cozinha)
Vamos resolver isso agora mesmo.
DÉBORA sai da cozinha arrastando CAMILA pelo braço. Sobe
as escadas e entra em um banheiro. CAMILA cai de joelhos
em frente ao vaso e olha para DÉBORA.
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CAMILA
Mãe, por favor...
DÉBORA
Você já sabe o que fazer.
(ajeita a postura e se vira para sair do banheiro)
E, lembre-se, não suje o tapete, querida.
EXT. RUA DA ESCOLA – DIA
ANDRÉ está parado ao lado do portão da escola quando vê
LUCIA chegar.
ANDRÉ
Ei, Lu!
LUCIA
André?
(franze a testa)
O que você ainda está fazendo aqui?
Achei que já tivesse ido embora.
ANDRÉ
Só queria me despedir.
(abraça LUCIA)
LUCIA
Só isso?
(levanta uma sobrancelha, o encarando)
ANDRÉ
Tudo bem.
(ri fraco)
Eu queria te pedir para que conversasse mesmo com o
Samuel.
LUCIA
Não se preocupe, eu vou falar com ele.
Quero saber como ele ficou sabendo de algo assim.
Mas André...
Saiba que o meu irmão é uma pessoa bem responsável.
Ele não faria algo assim, se não fosse verdade.
Devo me preocupar com isso?
ANDRÉ
Claro que não, Lucia.
Isso era coisa de criança.
Confie em mim.
LUCIA
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Ok.
ANDRÉ
Qualquer coisa me liga, tudo bem?
LUCIA
Pode deixar.
ANDRÉ se aproxima mais de LUCIA e a beija levemente.
LUCIA fecha os olhos e sorri. ANDRÉ se afasta e ajeita a
mochila nas costas.
ANDRÉ
Até mais tarde.
LUCIA
Boa sorte no ensaio.
LUCIA manda um beijo no ar para ANDRÉ e se vira, adotando
uma expressão desconfiada.
EXT. RUA DA CASA DE CAMILA – DIA
LUCIA toca a campainha da casa de CAMILA e aguarda
inquieta que lhe atendam. Passam-se alguns minutos sem
que ninguém atenda. LUCIA força levemente a maçaneta do
portão, que cede com facilidade por estar aberto. LUCIA
entra na casa, hesitante. Prepara-se para ir embora ao
constatar que a casa está vazia, então ouve um barulho
vindo do quarto de CAMILA. Decide subir as escadas e bate
na porta do quarto, mas não há resposta. Ao ouvir outro
barulho, LUCIA decide entrar e segue até o banheiro do
quarto. CAMILA está em frente ao vaso sanitário, com uma
escova de dente nas mãos, vomitando. LUCIA arregala os
olhos e da um passo pra trás, chamando a atenção de
CAMILA.
CAMILA
Lucia!
(se levanta e joga a escova de dente na pia)
LUCIA
Camila, o que você está fazendo?
(anda em direção do quarto)
Há quanto tempo você faz isso?
CAMILA
Lucia, por favor, não exagere.
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Não é nada demais, eu só...
LUCIA
Não é nada demais?!
Como você pode dizer isso?
Camila, isso é grave, é uma doença!
CAMILA
Isso não importa!
Eu estou bem, está tudo bem.
LUCIA
(segura o rosto da amiga)
Você não está bem!
Por que nunca me disse nada?
É por causa daquela montagem, não é?
CAMILA
(com lágrimas nos olhos)
Você não entenderia...
LUCIA
É claro que eu entenderia.
(abraça CAMILA)
Você já conversou com sua mãe sobre isso?
CAMILA
(arregala os olhos e se afasta bruscamente de LUCIA)
Não! Minha mãe não pode
ouvir nada sobre isso, entendeu?
De jeito nenhum.
LUCIA
Eu só quero o melhor pra você,
talvez se falássemos com ela...
CAMILA
Lucia, me prometa que você
jamais tocará nesse assunto com ninguém,
principalmente com a minha mãe!
LUCIA
Eu prometo.
(suspira)
Se você prometer que irá parar de fazer isso.
CAMILA
Eu...
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De repente, CAMILA e LUCIA escutam alguém subir as
escadas.
CAMILA
(pigarreia)
Estou ótima.
Só preciso de mais uns dias de descanso.
LUCIA olha para trás e vê DÉBORA parada ao lado da porta.
DÉBORA sorri para ela. CAMILA aperta levemente o pulso de
LUCIA, em uma advertência muda. LUCIA encara CAMILA e
suspira, dando um passo para trás.
DÉBORA
Camila, querida, você deveria estar deitada.
(olha para LUCIA)
Lucia, se importa de conversarmos lá em baixo?
Camila precisa descansar.
LUCIA
Hm, tudo bem.
(olha para CAMILA)
Depois nós conversamos. Por favor, me ligue.
Nós precisamos mesmo conversar.
CAMILA permanece em silêncio e LUCIA suspira, seguindo
DÉBORA para fora do quarto. DÉBORA e LUCIA caminham para
a sala e se sentam no sofá.
LUCIA
Obrigada por aceitar conversar comigo.
(suspira)
Dessa vez não é sobre a Camila que eu preciso falar.
Preciso da sua ajuda como advogada.
DÉBORA
Pode falar, querida.
LUCIA
Bom, aconteceu o seguinte...
INT. TEATRO ESTER – DIA
ANDRÉ está em cima do palco recitando uma poesia,
enquanto recebe observações de seu diretor.
DIRETOR
Isso, André. Maravilha.
Podemos parar por hoje.
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ANDRÉ
(se senta)
Está bom? Mesmo?
DIRETOR
Sim. Acredito que o público vai adorar.
O nosso esforço nessas duas semanas valeu a pena.
ANDRÉ
Que ótima notícia!
Para mim é importante deixar tudo perfeito.
É minha homenagem para o Tomas.
DIRETOR
O Tomas é uma pessoa maravilhosa.
Se ele estivesse aqui, teria orgulho do irmão.
ANDRÉ
Obrigado, mestre.
Amanhã será um grande dia.
INT. CASA DE CAMILA. SALA – DIA
LUCIA e DÉBORA estão acabando de conversar sentadas lado
a lado no sofá.
DÉBORA
(franze a testa)
Qual é o nome do policial que você citou?
LUCIA
É Robson.
(observa a expressão de DÉBORA mudar)
Você o conhece?
DÉBORA
Infelizmente sim, querida. Esse cara é um problema.
(bate com as mãos na perna)
E a assistente social?
Você sabe o nome dela?
LUCIA
Me lembro de Samuel ter citado...
Acredito que seja Patrícia alguma coisa.
DÉBORA
(sorri)
Patrícia Moreira!
Pra sua sorte eu a conheço,
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não precisa nem se preocupar mais com isso.
LUCIA
Então você acha que pode resolver?
DÉBORA
Claro. Considere o problema resolvido.
LUCIA
Como é bom ouvir isso!
(sorri)
Muito obrigada, eu nem sei como te agradecer.
DÉBORA
Não se preocupe com isso, querida.
Está tudo bem, fico feliz em ajudar.
LUCIA
Você me salvou.
(ri fraco)
Bom, agora eu preciso ir para minha casa.
Peça para Camila me ligar, por favor.
DÉBORA
Claro, eu peço sim.
(sorri e se levanta do sofá junto com LUCIA)
Eu te levo até a porta.
LUCIA e DÉBORA se despedem. DÉBORA volta para a sala e se
dirige as escadas. Entra no quarto de CAMILA, que está
totalmente envolvida por um cobertor, e a descobre.
CAMILA olha assustada para DÉBORA.
DÉBORA
Você ia dizer alguma coisa para ela, não ia?
CAMILA
Não, eu não ia.
DÉBORA
Sim, você ia.
(senta na cama e se aproxima de CAMILA)
Sabe por quê? Porque você é fraca.
Você não consegue aguentar nada sozinha.
CAMILA
Mãe...
DÉBORA
Na próxima vez que você chegar perto de dizer
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qualquer coisa para qualquer pessoa, não terá desculpas.
Não queira me ver irritada, Camila.
DÉBORA se levanta da cama e ajeita a roupa, ainda olhando
para CAMILA. Lágrimas escorrem pelo rosto de CAMILA.
DÉBORA
Chega de drama, Camila.
Está na hora de crescer.
(se vira para sair do quarto)
Meninas grandes não choram.
INT. RESTAURANTE TAVARES’S BURGER. SALÃO PRINCIPAL –
NOITE
SAMUEL está terminando de organizar as mesas para ir
embora quando ISABELA aparece ao seu lado, já sem o
avental e pronta para ir. SAMUEL arruma uma cadeira
bruscamente, e começa a se retirar em direção ao
banheiro.
ISABELA
Samuel?
ISABELA vai atrás de SAMUEL e o segura pelo braço. Os
dois se encaram e ISABELA nota que SAMUEL engole em seco.
ISABELA
Eu só queria dizer que o Júlio pediu
para você passar na casa dele hoje,
depois do expediente.
(sorri e solta o braço de SAMUEL)
Boa noite.
SAMUEL permanece parado no mesmo lugar durante alguns
segundos.
INT. CASA DA FAMÍLIA SANGES. SALA – NOITE
SAMUEL chega em casa e encontra LUCIA assistindo TV.
SAMUEL
Ei, Lucia.
Desculpa a demora, tive que passar na casa do meu chefe.
Considere as contas desse mês pagas!
LUCIA
(feliz)
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Sério? Que ótima notícia!
SAMUEL
(deixa as chaves na mesa de centro)
Resolveu as coisas com a mãe da sua amiga?
LUCIA
(se ajeita no sofá)
Sim. Está tudo resolvido.
Aliás, o Robson não ficou nada feliz
com a intervenção dela.
SAMUEL
Outra ótima notícia.
LUCIA
Mudando de assunto...
Eu preciso resolver outras coisas com você.
SAMUEL
(franzindo a testa)
Diga.
LUCIA
(se levanta e para em frente ao SAMUEL)
Por que você foi conversar com pai do André?
SAMUEL
O que? Eu...
LUCIA
Não minta pra mim, Samuel.
Eu sei o que você fez.
Quem foi que te contou aquelas coisas?
SAMUEL
Você tem que confiar em mim, Lucia!
O irmão dele, Tomas, pediu para que eu falasse
com os pais dele sobre isso.
LUCIA
Espera aí, o que?
(arregala os olhos)
O Tomas está em coma! Você está louco?
SAMUEL
(suspira)
Quando eu passei mal e desmaiei no outro dia,
eu pude ver o espírito dele.
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Ele me contou isso, Lucia. Eu te juro!
LUCIA
(da alguns passos para trás)
Meu Deus! Essa doença está afetando a sua cabeça.
SAMUEL
Lucia...
LUCIA
Não! Se afasta de mim.
Não é seguro ficar perto de você.
LUCIA anda para seu quarto, deixando SAMUEL para trás.
SAMUEL permanece parado durante alguns segundos, até que
a campainha toca. SAMUEL vai até a porta e a abre. ANDRÉ
está parado em frente à porta e arregala os olhos.
SAMUEL
O que você está fazendo aqui?
ANDRÉ
Eu vim falar com a Lucia.
SAMUEL
Você não vai vê-la, garoto.
ANDRÉ
Mas...
SAMUEL
Ouça bem o que eu estou te dizendo.
Ou você se afasta da minha irmã,
ou eu te afasto dela.
Espero que esteja me entendendo.
SAMUEL fecha a porta na cara de ANDRÉ
INT. CASA DA FAMÍLIA NOVAES. QUARTO DE ANDRÉ – NOITE
ANDRÉ entra apressado em seu quarto, batendo a porta em
seguida.
ANDRÉ
Tommy!
TOMMY
(aparece sentado na cama)
Estou aqui.
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ANDRÉ
Não adiantou a Lucia ter falado com ele.
Ele quer nos afastar. Ele me ameaçou.
TOMMY
Se acalma, André.
Não adianta perder a cabeça.
ANDRÉ
O que eu faço agora?
(se joga na cama, ao lado de TOMMY)
TOMMY
Só há uma solução.
ANDRÉ
Qual?
TOMMY
Simples, maninho.
Teremos que matar o Samuel.
FIM DO EPISÓDIO
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CRÉDITOS
CRIAÇÃO E SUPERVISÃO
Mario Madureira
“Meninas Grandes Não Choram”
ESCRITO POR
Mario Madureira e Karina Bittencourt
ILUSTRAÇÃO
Felipe Torres
“ESTRADA DAS LÁGRIMAS” É UMA OBRA DE FICÇÃO BASEADA NA
LIVRE CRIAÇÃO ARTÍSTICA E SEM COMPROMISSO COM A
REALIDADE.
Para mais informações, acesse:
www.mariomadureira.com.br