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CURTA NOSSA PÁGINA VOL. 22 | N. 37 | 2017 | http://dx.doi.org/10.15448/1980-3710.2017.1 A luta de classes em Que Horas ela Volta? Mayara Luma Assmar Correia Maia Lobato P. 48 O choque do real em Azul é a cor mais quente Otacílio Amaral Filho, Sérgio do Espírito Santo Ferreira Júnior e Tarcízio Macedo CURTA NOSSA PÁGINA Crédito: Shutterstock P. 20 A Comunicação Móvel e Ubíqua do Instagram Eduardo Campos Pellanda e Melissa Streck P. 10

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Page 1: Crédito: Shutterstockrepositorio.pucrs.br/.../2/Metodologias_de_Pesquisa_em_Telejornalis… · definido como o jornalismo produzido para e pela te-levisão. Com o avanço paulatino

Caravaggio Rammstein e MadonnaTiciano Paludo

P79

Hipermodernidade sociabilidade e tecnologias digitais Erika Oikawa

P89

Manifestaccedilotildees e miacutedias alternativasAntonio Brasil e Samira Moratti Frazatildeo

P127

Curta nossa paacutegina

VOL 22 | N 37 | 2017 | httpdxdoiorg10154481980-371020171

A luta de classes em Que Horas ela VoltaMayara Luma Assmar Correia Maia Lobato

P 48

O choque do real em Azul eacute a cor mais quenteOtaciacutelio Amaral Filho Seacutergio do Espiacuterito Santo Ferreira Juacutenior e Tarciacutezio Macedo

Curta nossa paacutegina

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P 20

A Comunicaccedilatildeo Moacutevel e Ubiacutequa do Instagram Eduardo Campos Pellanda e Melissa Streck

P 10

O campo do telejornalismo tem se consolidado como aacuterea de pesquisa nos uacuteltimos dez anos Neste periacuteodo a predominacircncia dos estudos de caso empresta agrave aacuterea uma fase introdutoacuteria dos processos teoacutericos O presente artigo prevecirc avanccedilar um pouco nesta perspectiva e apresentar modelos metodoloacutegicos que vecircm sendo testados por diferentes pesquisadores na proposiccedilatildeo de uma teoria do jornalismo que visa referendar os estudos e pesquisas em telejornalismo no Brasil Para tanto apresenta na primeira parte os percursos metodoloacutegicos mais utilizados nos uacuteltimos anos por grupos de estudo e pesquisa de referecircncia e na segunda parte explicita duas propostas metodoloacutegicas que contemplam a audiecircncia a recepccedilatildeo e os processos de pesquisa empreendidos

Telejournalismacutes field has been consolidated as a research area in the last ten years At this period the predominance of the case studies lends to the area an introductory phase of the theoretical processes This present article foresees to advance in this perspective and to present methodological models that have been tested by different researchers in the proposition of a theory of journalism which aims to endorse studies and researches in telejournalism in Brazil To do so it presents in the first part the methodological paths most used in recent years by study groups and reference research and in the second part it explains two methodological proposals that contemplate the audience the reception and the research processes undertaken

Resumo Abstract

Telejournalism research methodology audience analysis reception analysis

Telejornalismo pesquisa metodologia anaacutelise de audiecircncia anaacutelise de recepccedilatildeo

KeywordsPalavras-chave

Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo1

Research Methodologies in Telejournalism

Recebido em 25 de julho de 2017 Aprovado em 25 de julho de 2017

Caacuterlida Emerim2

PORTO ALEGRE | v 22 | n 37| 2017 | pp 02-09DOI httpdxdoiorg 10154481980-37102017128073Sessotildees do Imaginaacuterio

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Cristiane Finger3

Beatriz Cavenaghi4

AUTOR CONVIDADO

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

A centralidade dos estudos em Telejornalismo

No campo dos estudos sobre a televisatildeo haacute um foco muito produtivo no desenvolvimento de pesqui-sas em torno da ficccedilatildeo televisiva e de formatos e gecircne-ros privilegiadamente ficcionais Poreacutem o jornalismo de televisatildeo ou o telejornalismo recebia pouca aten-ccedilatildeo uma situaccedilatildeo que vem se invertendo nos uacuteltimos dez anos Nesta nova perspectiva os estudos em te-lejornalismo iniciaram por outras aacutereas como a socio-logia a antropologia a filosofia e ateacute mesmo a psico-logia entre outros Uma anaacutelise mais geral sobre os resultados da maioria destes trabalhos permite afirmar que eles partem de perspectivas ideais ou seja tentam analisar criticar ou estudar os processos do telejornalis-mo focando no que ele deveria fazer e natildeo no que ele realmente faz

Assim haacute um campo aberto para pesquisas em te-lejornalismo que mantenham o foco nos fazeres pro-dutivos nas suas especificidades e principalmente na anaacutelise sobre o que o telejornalismo vem produzindo e como ele vem se desenvolvendo ao longo dos anos Esta perspectiva teoacuterica e metodoloacutegica pode promo-ver uma abertura fulcral nos estudos no campo do te-lejornalismo que permita fazer circular o conhecimen-to alimentar a formaccedilatildeo profissional potencializar a qualidade das produccedilotildees existentes no mercado bem como promover uma oxigenaccedilatildeo nos proacuteprios estudos acadecircmicos sobre o tema

Diante do exposto o presente artigo se propotildee a apresentar alguns percursos teoacutericos e metodoloacutegi-cos em telejornalismo que vecircm sendo utilizados por diferentes grupos de trabalho no Brasil de forma pro-dutiva e com resultados extremamente pertinentes e contributivos Nesta esteira estatildeo os trabalhos realiza-

dos pelo Grupo Anaacutelise em Telejornalismo (Universi-dade Federal da Bahia) pelo Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo (Universidade Federal de Santa Catarina) e pelo Grupo de Pesquisa Televisatildeo e Audiecircncia (Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul) Aleacutem destes apresenta-se tambeacutem aqui a proposta desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-Line (GJOL) da Universidade Fede-ral da Bahia porque sua metodologia oferece uma fun-cionalidade operacional aos estudos de televisatildeo e do telejornalismo

O texto inicia por uma breve discussatildeo sobre a con-ceituaccedilatildeo do campo e do proacuteprio termo telejornalismo e depois desdobra as metodologias empregadas pelos grupos citados Ressalta-se que neste aspecto investe mais na apresentaccedilatildeo de duas propostas metodoloacutegi-cas que permitem estudar o receptor de notiacutecias em diferentes suportes o televisual e os dos dispositivos moacuteveis A ecircnfase no aspecto da recepccedilatildeo reflete a pre-ocupaccedilatildeo das pesquisas empreendidas pelas autoras nos uacuteltimos dois anos

Sobre as telas do telejornalismoHaacute alguns anos o termo telejornalismo tem sido

definido como o jornalismo produzido para e pela te-levisatildeo Com o avanccedilo paulatino das novas tecnologias e do campo de atuaccedilatildeo do jornalismo em diferentes te-las se faz necessaacuterio repensar se esta concepccedilatildeo ainda consegue definir o tipo especiacutefico de jornalismo audio-visual e suas infinitas possibilidades narrativas

Assim o artigo propotildee desmembrar o proacuteprio ter-mo telejornalismo e compreender se haacute possibilidades semacircnticas de ampliaacute-lo para aleacutem do senso comum que o compreende de forma direta ligada agrave televisatildeo Na eacutepoca de seu surgimento se definiam as imagens

pelo seu suporte porque os suportes teriam caracte-riacutesticas definidas cujas fronteiras expressivas eram pas-siacuteveis de delimitaccedilatildeo Se natildeo vejam Fotojornalismo o jornalismo que utilizava as imagens fotograacuteficas para narrar sobre as histoacuterias do mundo Cinejornalismo que se fundava nas imagens capturadas pela cacircmera cinematograacutefica e telejornalismo aquele que remetia agraves imagens capturadas pela cacircmera de viacutedeo analoacutegi-co da televisatildeo

O que se propotildee repensar a partir destes processos de hibridaccedilatildeo constantes das produccedilotildees contemporacirc-neas e o surgimento de novos suportes eacute que o termo ldquotelerdquo talvez possa ser problematizado a partir da con-cepccedilatildeo de telas e natildeo apenas especificamente a tela televisiva Neste aspecto pode-se compreender por ldquotelardquo partindo de glossaacuterios de termos teacutecnicos ma-nuais de tecnologia digital ou mesmo pelos dicionaacuterios como um nome mais geneacuterico para designar superfiacutecie (quadro material refletivo) para a projeccedilatildeo (frontal ou traseira) de imagens

Para pensar ldquotelerdquo primeiro se recorre ao dicionaacuterio etimoloacutegico que o escreve com grafia tel(e) e o define como elemento composto do grego que estaacute ligado agrave noccedilatildeo de longe longe de ou ao longe podendo re-meter tambeacutem agrave noccedilatildeo de distacircncia ou de modelo de transmissatildeo de dados a distacircncia Este uacuteltimo aliaacutes eacute a proacutepria essecircncia da definiccedilatildeo de telecomunicaccedilatildeo se-gundo o glossaacuterio publicado pela Anatel (BR)

telecomunicaccedilatildeo 1 (Dec 9705788) comunicaccedilatildeo realizada por processo eletromagneacutetico 2 (RR) qualquer transmissatildeo emissatildeo ou recepccedilatildeo de siacutembolos sinais texto imagens e sons ou inte-ligecircncia de qualquer natureza atraveacutes de fio de raacutedio de meios oacutepticos ou de qualquer outro sis-

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

tema eletromagneacutetico telecomunicaccedilatildeo analoacutegica 1 (Dec 9705788) telecomunicaccedilatildeo de informaccedilatildeo codificada com o uso de teacutecnica analoacutegica teleco-municaccedilatildeo digital 1 (Dec 9705788) telecomunica-ccedilatildeo de informaccedilatildeo codificada com o uso de teacutecnica digital (Anatel 2017)

Ou seja se articularmos estas definiccedilotildees podemos afirmar que Tele + Jornalismo seria um jornalismo feito para ser distribuiacutedo para eou ao longe ou ainda trans-mitido para lugares distantes muito mais do que um jornalismo para ser exibido apenas numa tela de visatildeo (definiccedilatildeo mais comum do aparelho televisatildeo)

Assim numa primeira acepccedilatildeo este trabalho assu-me a perspectiva de que estudar telejornalismo eacute es-tudar um jornalismo para as telas incluindo televisatildeo computador smartphone celular tablets ou os demais dispositivos e suportes que se utilizem de uma tela de visatildeo ou de uma tela refletiva para exibir dados5 Defi-nido o escopo da proposta propotildee-se a seguir apre-sentar de forma breve as metodologias que vecircm sendo empregadas no campo dos estudos em telejornalismo cujos resultados tecircm ajudado a fortalecer e ampliar as pesquisas especiacuteficas do campo

Alguns percursos metodoloacutegicos de anaacutelise em telejornalismo

O grupo Anaacutelise em Telejornalismo da UFBA pro-potildee uma articulaccedilatildeo teoacuterica entre os cultural studies e a teoria da linguagem para compreender o que definem como os modos de endereccedilamento A saber

Modo de endereccedilamento eacute aquilo que eacute caracte-riacutestico das formas e praacuteticas comunicativas especiacute-

ficas de um programa diz respeito ao modo como um programa especiacutefico tenta estabelecer uma forma particular de relaccedilatildeo com sua audiecircncia (cf Morley amp Brunsdon 1978) A anaacutelise do modo de endereccedilamento deve nos possibilitar entender quais satildeo os formatos e as praacuteticas de recepccedilatildeo solicitadas e construiacutedas pelos telejornais (Mota Gomes 2007 p 4)

O conceito de modos de endereccedilamento tal qual afirma Mota Gomes surge nos estudos sobre a anaacute-lise fiacutelmica ligada agrave screen theory sendo aplicado agrave produccedilatildeo televisual na perspectiva de compreender a relaccedilatildeo dos textos televisivos com seus receptores A proposta metodoloacutegica do grupo Anaacutelise em Telejor-nalismo considera aspectos histoacutericos sociais ideoloacute-gicos e culturais do telejornalismo empregando ope-radores de anaacutelise que se constituem em 1) mediador 2) contexto comunicativo 3) pacto sobre o papel do jornalismo e 4) organizaccedilatildeo temaacutetica e sua relaccedilatildeo com premissas e conceitos adotados Tal proposta se funda em outros dois conceitos metodoloacutegicos opera-cionais aleacutem dos modos de endereccedilamento estrutura de sentimento advinda de Raymond Williams gecircnero televisivo advindo dos estudos do grupo a partir de Raymond Williams Martiacuten Barbero e Stuart Hall6

O grupo de Pesquisa em Jornalismo On-Line (GJOL) propotildee um modelo hiacutebrido de pesquisa cuja metodologia opera no acircmbito teoacuterico e empiacuterico e ar-ticula procedimentos qualitativos e quantitativos de forma complementar A partir dos pressupostos apre-sentados por Marcos Palacios e Elias Machado desen-volvidos desde 1995 o pesquisador atua em trecircs ma-cro-etapas

1) Revisatildeo preliminar da bibliografia acompanhada da anaacutelise de organizaccedilotildees jornaliacutesticas relaciona-das ao objeto de estudo 2) Delimitaccedilatildeo do objeto com formulaccedilatildeo das hipoacuteteses de trabalho e estu-dos de caso com pesquisa de campo (participante ou natildeo) nas organizaccedilotildees jornaliacutesticas e 3) Elabo-raccedilatildeo de categorias de anaacutelise processamento do material coletado e definiccedilatildeo conceitual sobre as particularidades dos objetos pesquisados (Macha-do e Palacios 2006 p 47)

Nesta perspectiva o GJOL assume o jornalismo como fenocircmeno e o compreende como processo sen-do possiacutevel aliar aos preceitos da investigaccedilatildeo o mes-mo percurso da produccedilatildeo tradicional em jornalismo ou seja apuraccedilatildeo produccedilatildeo circulaccedilatildeo e consumo de informaccedilotildees A perspectiva do grupo eacute que esta meto-dologia possa contemplar a revisatildeo bibliograacutefica sobre o objeto e tambeacutem possa permitir a testagem do refe-rencial conceitual em estudos de caso especiacuteficos

No Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejor-nalismo da Universidade Federal de Santa Catarina a semioacutetica discursiva tem guiado algumas das anaacutelises que pretendem compreender o telejornalismo em suas especificidades A semioacutetica discursiva se propotildee a ser uma teoria geral da significaccedilatildeo bem como uma meto-dologia operatoacuteria para a descriccedilatildeo dos discursos e das praacuteticas sociais

Estudar portanto o telejornalismo compreendido pela acepccedilatildeo semioacutetica eacute olhar para o seu modo de produccedilatildeo de sentido ou a maneira que este se cons-troacutei para provocar significaccedilotildees e interpretaccedilotildees Con-siderando-se um campo de conhecimento especiacutefico a semioacutetica quer estudar os processos de produccedilatildeo de significaccedilatildeo e sentidos organizando metodologias

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

dagem natildeo indica um perfil soacutecio-demograacutefico dos po-tenciais telespectadores de um programa assim como natildeo aponta qual perfil de puacuteblico eacute imaginado pelos produtores do telejornal O conceito aplicado agrave anaacutelise relaciona-se com o telespectador que eacute configurado no texto independente da intenccedilatildeo dos produtores

Esta abordagem metodoloacutegica encontra subsiacutedios teoacutericos nos estudos literaacuterios ndash que muito antes do de-senvolvimento dos estudos das miacutedias e seus recepto-res jaacute discutiam a construccedilatildeo do destinataacuterio no discur-so7 - e tambeacutem em pesquisas realizadas jaacute no contexto televisivo8

Portanto a proposta metodoloacutegica do telespecta-dor discursivo se relaciona com os modos de dizer ou seja com as estrateacutegias discursivas operadas tanto no acircmbito do conteuacutedo quanto no aspecto expressivo No contexto da produccedilatildeo televisiva as estrateacutegias discursi-vas compreendem as escolhas relacionadas agrave estrutura-ccedilatildeo do conteuacutedo televisivo responsaacuteveis pela organiza-ccedilatildeo do ldquomodo de dizerrdquo dos programas (Duarte 2000) O percurso de anaacutelise proposto estaacute esquematizado em trecircs etapas como demonstra a Figura 1

A primeira etapa procura avaliar a relaccedilatildeo dos pro-gramas com o contexto comunicacional com a emis-sora e com a grade de programaccedilatildeo onde o programa estaacute inserido Estas categorias satildeo fundamentais para a compreensatildeo dos modos de funcionamento do pro-grama uma vez que o contexto mercadoloacutegico tem im-plicaccedilotildees diretas no resultado dos programas (Emerim 2010) Como exemplo podemos considerar dois tele-jornais locais concorrentes exibidos na mesma faixa de horaacuterio Um deles poreacutem eacute precedido na grade de pro-gramaccedilatildeo por um programa de variedades com grande audiecircncia nacional enquanto outro eacute exibido logo apoacutes um desenho animado em um canal que historicamen-

que possibilitem ldquoarticular produccedilatildeo e reconhecimen-to dos sentidos considerando os diferentes sistemas culturais e sociais em que essas instacircncias estatildeo inseri-dasrdquo (Emerim 2014 p 108) O maior desenvolvimento operacional da Semioacutetica Discursiva ocorre com Al-girdas Greimas e a Escola de Paris quando postula o discurso como foco de seus estudos sobre qualquer tipo de texto Greimas acredita que uma estrutura nar-rativa pode se manifestar em qualquer tipo de texto e estabelece trecircs niacuteveis de anaacutelise para explicar a ge-raccedilatildeo de discursos de qualquer sistema semioacutetico 1) estruturas semio-narrativas 2) estruturas discursivas e por fim 3) estruturas textuais

Assim o meacutetodo de inspiraccedilatildeo poacutes-estrutural eacute uma anaacutelise empiacuterica de caraacuteter teoacuterico-praacutetico que centra a ecircnfase no exame do niacutevel discursivo considerando a televisatildeo e seus produtos a partir de seu contexto e por isso algumas premissas me-todoloacutegicas devem ser previstas no interior da proacute-pria proposta analiacutetica (Emerim 2014 p 113)

Se cada produccedilatildeo midiaacutetica telejornaliacutestica eacute um

texto compreendendo que ele tem marcas discursivas expressas neste texto e que permitem o seu reconheci-mento a centralidade da anaacutelise no niacutevel discursivo per-mite descrever e entender o processo de significaccedilatildeo bem como para a que puacuteblico esta produccedilatildeo se desti-na Assim o meacutetodo prevecirc um percurso que descreva analise e interprete iniciando pela linguagem passan-do pelas teacutecnicas e as especificidades de sua natureza e por fim contemple a recepccedilatildeo Sem esquecer-se do contexto que parte da compreensatildeo do papel social e da funccedilatildeo que o telejornalismo exerce na sociedade contemporacircnea

A seguir apresenta-se uma proposta metodoloacutegica intitulada Anaacutelise do telespectador discursivo que ini-ciou no GIPTele com base e nos princiacutepios da semioacutetica discursiva e que estaacute em fase de potencializaccedilatildeo e am-pliaccedilatildeo

Anaacutelise do telespectador discursivoProcurando compreender os fatores que podem in-

fluenciar sucessos e fracassos de audiecircncia no contex-to do telejornalismo esta proposta manteacutem o foco no relacionamento estabelecido entre o programa e seus telespectadores por meio de contratos comunicativos Portanto esta proposta de anaacutelise dos telejornais tem como pressuposto que o programa televisivo propotildee ao telespectador um relacionamento estabelecendo regras para sua leitura Tais regras se manifestam no texto televisivo na forma de marcas discursivas como vestiacutegios das operaccedilotildees realizadas pela instacircncia de enunciaccedilatildeo que podem ser observadas e analisadas

Assim chega-se ao que propomos chamar de te-lespectador discursivo um conceito operacional que representa a configuraccedilatildeo das estrateacutegias comunicati-vas operadas no programa que sustentam o contrato estabelecido entre ele e seu puacuteblico Assume-se em concordacircncia com Fausto Neto que a instacircncia de re-cepccedilatildeo ldquoeacute construiacuteda jaacute no interior do proacuteprio processo discursivo por meio de muacuteltiplas operaccedilotildees articuladas pelos processos da proacutepria linguagemrdquo (1995 p 194) Para o autor o discurso jornaliacutestico ldquoarrumardquo o receptor em uma posiccedilatildeo conveniente para a leitura do texto e assim os telespectadores satildeo ldquocapturadosrdquo

O telespectador discursivo natildeo representa uma construccedilatildeo socioloacutegica ao contraacuterio ele eacute da ordem da virtualidade uma vez que eacute observaacutevel apenas no inte-rior do texto televisivo Em outras palavras esta abor-

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destacando a maneira como eles se movimentam em cena o tom de voz a velocidade da fala e outras ca-racteriacutesticas marcantes que possam demonstrar como tentam se relacionar com o telespectador chamar sua atenccedilatildeo ou estabelecer com ele uma afinidade No pla-no do conteuacutedo observa-se (1) os temas recorrentes (2) os quadros fixos e as seacuteries especiais exibidas no pro-grama A anaacutelise destas duas categorias parte de um levantamento quantitativo das mateacuterias exibidas para identificar possiacuteveis ldquotendecircncias temaacuteticasrdquo Por fim a categoria (3) formas de conversaccedilatildeo direta com o teles-

te apresenta baixos iacutendices de audiecircncia Mesmo que os dois telejornais tenham operaccedilotildees enunciativas mui-to parecidas o contexto comunicacional em que estatildeo inseridos teraacute impactos diferentes para o resultado de cada um deles

Na segunda etapa da anaacutelise satildeo observados os aspectos expressivos relacionados com a estrutura in-terna do telejornal e que se repetem em todas as suas ediccedilotildees Eles satildeo divididos em duas categorias (1) com-posiccedilatildeo visual incluindo elementos como vinheta e ce-naacuterio considerando o tamanho do espaccedilo as cores pre-

dominantes e os elementos de cena e (2) apresentaccedilatildeo onde satildeo observados o perfil a trajetoacuteria e a formaccedilatildeo profissional de cada um dos atores discursivos

A terceira etapa divide-se entre o plano da expres-satildeo e o do conteuacutedo9 No plano da expressatildeo obser-va-se (1) a dinacircmica visual do programa com foco no uso dos elementos que compotildeem o cenaacuterio aleacutem dos enquadramentos e movimentos de cacircmera mais fre-quentes (2) aspectos da postura da gestualidade e da verbalizaccedilatildeo dos apresentadores e de outros atores dis-cursivos (apresentadores colunistas e comentaristas)

Figura 1 Esquema das etapas de anaacuteliseFonte Cavenaghi 2013

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

pectador observa o texto falado por apresentadores e repoacuterteres procurando em especial marcas do relacio-namento com o telespectador

Na experiecircncia de aplicaccedilatildeo desta metodologia de anaacutelise foi possiacutevel destacar os modos de dizer dos te-lejornais e assim observar aspectos que diferenciam cada programa ndash mesmo que sejam muito parecidos em seus formatos Cada programa opera diferentes es-trateacutegias para construir seus discursos e como conse-quecircncia construir seus contratos comunicativos com os telespectadores Quando observamos estas estrateacutegias ndash atraveacutes das categorias de anaacutelise aqui apresentadas ndash podemos inferir sobre o relacionamento proposto ao telespectador e assim sobre o perfil de telespectador discursivo configurado no texto

Telejornalismo e os indicativos para uma narrativa transmedia

A televisatildeo vive um momento de incertezas tanto pela mudanccedila da plataforma analoacutegica para digital quanto pela sua real vocaccedilatildeo frente aos pro-dutos oferecidos por outras miacutedias principalmen-te as digitais O jornalismo tambeacutem passa por um questionamento importante quanto ao papel que desempenha junto agrave sociedade que cada vez mais eacute produtora dos seus proacuteprios conteuacutedos

Todas as mudanccedilas atingem diretamente as ro-tinas de produccedilatildeo a cultura das redaccedilotildees os con-teuacutedos informativos e a distribuiccedilatildeo deles as es-trateacutegias narrativas assim como as relaccedilotildees com a audiecircncia Enquanto algumas tecnologias disponiacute-veis estatildeo em implantaccedilatildeo e outras ainda em de-senvolvimento eacute preciso projetar novos modos de atuaccedilatildeo tantos dos profissionais como dos teles-pectadores

Natildeo eacute porque existe a tecnologia que o puacuteblico vai adotaacute-la A adoccedilatildeo e o sucesso de uma tecnologia dependem de sua adequaccedilatildeo agrave demanda e agraves ex-pectativas do puacuteblico em determinado momento No caso da televisatildeo temos de pensar em quais ti-pos de interatividade vatildeo agradar o puacuteblico (Canni-to 2010 p 155)

Para o desenvolvimento do telejornalismo dentro deste contexto aleacutem das outras telas como computado-res tablets celulares e consoles de videojogos eacute preci-so pensar em novos paradigmas como afirmou Scolari (2004) a articulaccedilatildeo da TV com outras miacutedias interativas o empoderamento do telespectador a interaccedilatildeo entre emissorreceptor a interaccedilatildeo entre receptorreceptor a possibilidade de acesso a qualquer hora e lugar o uso da interatividade digital para customizar programaccedilatildeo e programas o fim das fronteiras riacutegidas entre conteuacutedo e publicidade o fim da linguagem audiovisual padratildeo da TV a adoccedilatildeo da linguagem multimiacutedia transversal inte-rativa com a colaboraccedilatildeo do usuaacuterio

Ainda segundo o autor este eacute o tempo da hipertv uma televisatildeo instalada em rede nos termos definidos por Castells (1999) conectada com outras plataformas libertando-se aos poucos da programaccedilatildeo em fluxo e lanccedilando matildeo de narrativas transmidiaacuteticas

De acordo com Jenkins (2009) a narrativa transme-dia entrou em debate puacuteblico pela primeira vez em 1999 com o lanccedilamento do filme independente A Bruxa de Blair Desde entatildeo a induacutestria do entretenimento tem aplicado estas estrateacutegias que vatildeo aleacutem de transpor um conteuacutedo de um meio para outro Trata-se da expansatildeo do produto que vai ser alterado e complementado por outros conteuacutedos ateacute mesmo pelos usuaacuterios em dife-

rentes meios e suportesOs estudos de recepccedilatildeo jaacute eram suficientemente

complexos nas chamadas miacutedias tradicionais A partir da perspectiva de que a relaccedilatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo publicos natildeo eacute direta as chamadas teorias hipodeacutermica e funcionalistas foram substituidas pelas teorias criacuteticas culturoloacutegicas e comunicativas (Wolf 1994)

Agora com as novas tecnologias haacute o empodera-mento do receptor A expectativa eacute mapear as mudanccedilas no campo da recepccedilatildeo das notiacutecias veiculadas nos tele-jornais quando acontece em outras locais (fora de casa) em outras situaccedilotildees de atenccedilatildeo (em atitude de espera ou deslocamento) com outros dispositivos e telas

Nas miacutedias tradicionais os receptores eram consi-derados muitas vezes apenas como consumidores passivos previsiacuteveis estaacuteveis e ateacute leais a algumas empresas Agora devem ser pensados como usuaacute-rios ativos migratoacuterios ou nocircmades conectados so-cialmente e por isso mesmo receptores barulhen-tos (Jenkins 2009)

Ainda no campo da recepccedilatildeo dois fenocircmenos comeccedilam a ser estudados na perspectiva tambeacutem do telejornalismo A segunda tela que eacute o uso de novos dispositivos como smartphones tablets no-tebooks entre outros de forma simultacircnea agrave pro-gramaccedilatildeo da TV Essa navegaccedilatildeo paralela permite o consumo de conteuacutedos editoriais complementares (saber mais sobre a reportagem os repoacuterteres os apresentadores as fontes o contexto outras notiacute-cias afins)

A SocialTV compartilha informaccedilotildees impres-sotildees opiniotildees com outros telespectadores atraveacutes das redes social A experiecircncia torna-se mais com-plexa e rica as pessoas fazem questatildeo de assistir tambeacutem ao vivo para acompanhar o que os outros

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

estatildeo falando sobre determinada notiacutecia O que se diz na rede repercute e muitas vezes pode interfe-rir imediatamente no conteuacutedo veiculado

Mais do que adotar uma uacutenica metodologia o que o Grupo de Pesquisa Televisatildeo e Audiecircncia tem se proposto eacute a pensar o futuro do telejornalismo sob o prisma destes novos fenocircmenos destes novos conceitos destes novos atores desta nova realidade

Consideraccedilotildees FinaisAs metodologias brevemente apresentadas nes-

te artigo podem ser aplicadas aos estudos em tele-jornalismo e aos dos produtos televisuais de modo geral O nuacutemero de publicaccedilotildees em livros artigos em revistas certificadas e da produccedilatildeo cientiacutefica em diferentes acircmbitos (graduaccedilatildeo e poacutes-gradua-ccedilatildeo) credenciam a eficaacutecia destas metodologias na anaacutelise das questotildees cruciais para o telejornalismo

A proposta do artigo foi a de apresentaacute-las e poder dividir com o campo os percursos e os pres-supostos das anaacutelises a fim de discutir suas possi-bilidades e restriccedilotildees bem como ampliar suas pro-posiccedilotildees no acircmbito do telejornalismo visando cada vez mais o fortalecimento desta aacuterea em especiacutefico como uma aacuterea fundamental para o jornalismo con-temporacircneo

Ressalta-se tambeacutem a pertinecircncia da discussatildeo sobre o termo ou o conceito de telejornalismo trazi-da pelo artigo de forma breve mas que merece uma imersatildeo mais aprofundada por parte dos estudiosos da aacuterea A proposta inaugural aqui trazida compre-ende telejornalismo como um campo especiacutefico do jornalismo que se dedica ao estudo das produccedilotildees exibidas em telas sendo elas televisatildeo tablet eacutecran do computador ou de celular com base moacutevel ou

fixa Embora se tenha jaacute um campo aberto para o telejornalismo em dispositivos moacuteveis e novas telas haacute ainda um enorme espaccedilo aberto para pesquisas que possam de fato compreender a televisatildeo e o jornalismo feito para a televisatildeo Tanto do ponto de vista histoacuterico quanto de formatos e linguagens Que diraacute dos implementos tecnoloacutegicos que foram en-formando e con-formando a produccedilatildeo em tele-jornalismo na televisatildeo aberta e fechada

Portanto natildeo se trata apenas de marcar um lu-gar de fala especiacutefico e pertinente ao telejornalis-mo nos estudos contemporacircneos do jornalismo trata-se acima de tudo de uma escolha epistemo-loacutegica de fundo que natildeo soacute caracteriza os estudos empreendidos pelos grupos aqui representados como tambeacutem aponta uma reflexatildeo geral em tor-no da natureza desta especificidade considerando as relaccedilotildees que estabelece com a sociedade e com os sujeitos Eacute uma escolha epistemoloacutegica porque aponta para o desenvolvimento de uma teoria que versa sobre um conhecimento especiacutefico que assim como a teoria do jornalismo articula-se em modos de ser e modos de fazer que determinam sua carac-teriacutestica de natureza hiacutebrida

A consistecircncia desta premissa apresenta-se pe-las metodologias aqui descritas e pelos resultados que as pesquisas da aacuterea tecircm permitido trazer para compor este campo teoacuterico especiacutefico Natildeo obs-tante reitera-se o percurso em pleno desenvolvi-mento sobre o estudo de postulados e meacutetodos de teorias e praacuteticas dos diferentes ramos dentro do telejornalismo que permitam efetivar as conclusotildees pertinentes a esta que poderemos intitular daqui a algum tempo de teoria do telejornalismo embora para os autores deste artigo jaacute eacute um campo existen-

te em plena consolidaccedilatildeoPor fim mais do que postular conclusotildees o arti-

go se propotildee a abrir o espaccedilo de discussatildeo e quer de fato convidar os pesquisadores de e sobre o Tele-jornalismo a se debruccedilarem sobre esta temaacutetica au-xiliando no desenvolvimento dos pressupostos aqui trazidos de modo democraacutetico e coletivo como forma de ampliar o debate e fortalecer o constructo teoacuterico que se almeja

Referecircncias ANATEL Glossaacuterio de Termos da Anatel Teleco-municaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwanatelgovbrlegislacaooview=faqampcatid=20ampsearch=teleco-municaC3A7C3A3o201ampfaqid=1174gt Aces-so em 5 jul 2017

CANNITO Newton A Televisatildeo Digital Interativi-dade convergecircncia e novos modelos de negoacutecios Satildeo Paulo Summus 2010

CASTELLS Manuel A sociedade em rede Satildeo Pau-lo Paz e Terra 1999

CAVENAGHI Beatriz Telejornalismo local estrateacute-gias discursivas e a configuraccedilatildeo do telespectador Florianoacutepolis Universidade Federal de Santa Catari-na 2013 153p Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Jornalis-mo do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Jornalismo

DUARTE Elizabeth Bastos Reflexotildees sobre o texto televisivo In CONGRESSO BRASILEIRO DE CIEcircNCIAS DA COMUNICACcedilAtildeO 23 Anais Manaus 2000

ECO Umberto Lector in faacutebula Satildeo Paulo Pers-

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

pectiva 1986 EMERIM Caacuterlida Anaacutelise de telejornalismo uma proposta metodoloacutegica In ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM JORNALISMO 8 Anais Satildeo Luiz 2010

______ Telejornalismo e Semioacutetica Discursiva In VIZEU Alfredo MELLO Edna PORCELLO Flaacutevio COUTINHO Iluska (orgs) Telejornalismo em ques-tatildeo Florianoacutepolis Insular 2014 FAUSTO NETO Antocircnio A deflagraccedilatildeo do sentido estrateacutegias de produccedilatildeo e de captura da recepccedilatildeo In SOUZA Mauro Wilton Sujeito o lado oculto de receptor Satildeo Paulo Brasiliense 1995 GREIMAS Algirdas Julien Dicionaacuterio de Semioacutetica Satildeo Paulo Cultrix sd ______ LANDOWSKI E Anaacutelise do Discurso em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo Global 1986

JENKINS Henry Cultura da convergecircncia Satildeo Pau-lo Aleph 2009

MACHADO Elias PALACIOS marcos Um modelo hiacutebrido de pesquisa a metodologia aplicada pelo GJOL In LAGO (org) Claudia BENETTI Maacutercia Me-todologia de Pesquisa em Jornalismo Satildeo Paulo Paulus 2006

MOTA GOMES Itacircnia Maria Questotildees de Meacutetodo-na anaacutelise do telejornalismo premissas conceitos operadores de anaacutelise Revista E-Compoacutes 2007 (abril)

SCOLARI Carlos Hacer Clic Hacia una sociosemioacute-tica de las interacciones digitales Barcelona Gedi-sa 2004

VERON Eliseo Quando ler eacute fazer a enun-ciaccedilatildeo no discurso da imprensa escrita In VEROacuteN Eliseo Fragmentos de um teci-do Satildeo Leopoldo Editora Unisinos 2004

VIZEU Alfredo Telejornalismo das rotinas produti-vas agrave audiecircncia presumida In VIZEU Alfredo MOTA Ceacutelia Ladeira PORCELLO Flaacutevio Antocircnio Camargo Telejornalismo a nova praccedila puacuteblica Florianoacutepo-lis SC Insular 2006

______ Decidindo o que eacute notiacutecia os bastidores do telejornalismo [2000] Porto Alegre EDIPUCRS 2005

WOLF Mauro Teorias da Comunicaccedilatildeo Lisboa Presenccedila 1994

Notas1 Uma versatildeo deste artigo foi apresentada no 13o En-

contro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo re-alizado em Campo Grande (UFMS) em novembro de 2015

2 Jornalista Mestre em Semioacutetica Doutora em Proces-sos Midiaacuteticos professora e pesquisadora na Gradua-ccedilatildeo e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (POSJORUFSC - Campus Trindade Bloco A CCE Departamento de Jornalismo Bairro Trindade FlorianoacutepolisSC Brasil CEP 88000-000) Liacuteder do Grupo Interinstitucional de Pesquisa

em Telejornalismo (GIPTele) E-mail carlidaemerimgmailcom

3 Jornalista Doutora em Comunicaccedilatildeo professora do Curso de Jornalismo e pesquisadora no Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Comunicaccedilatildeo Social da PUCRS (PPGCOMPUCRS - Av Ipiranga 6681 Bairro Partenon Porto AlegreRS Brasil CEP 90619-900) Coordenado-ra do Grupo de Pesquisa Televisatildeo e Audiecircncia E-mail cristianefingerpucrsbr

4 Jornalista Mestre em Jornalismo Doutoranda em En-genharia e Gestatildeo do Conhecimento (UFSC) pesqui-sadora do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo (GIPTele) professora do IELUSC (Rua Princesa Isabel 438 Centro Joinville - Santa Catarina Cep 89301-270) E-mail cavenaghibeagmailcom

5 Esta discussatildeo eacute melhor realizada por Emerim (2014) e em capiacutetulo de livro do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo que estaacute no prelo

6 Os principais textos que permitem conhecer com mais vagar esta metodologia estatildeo citados especificamen-te nas referecircncias bibliograacuteficas

7 Ver por exemplo Eco (1986)

8 Ver por exemplo o trabalho de Alfredo Vizeu (2005 2006)

9 Considera-se que expressatildeo e conteuacutedo satildeo comple-mentares e indissociaacuteveis mas aqui esta divisatildeo aju-da a operacionalizar a anaacutelise

Page 2: Crédito: Shutterstockrepositorio.pucrs.br/.../2/Metodologias_de_Pesquisa_em_Telejornalis… · definido como o jornalismo produzido para e pela te-levisão. Com o avanço paulatino

O campo do telejornalismo tem se consolidado como aacuterea de pesquisa nos uacuteltimos dez anos Neste periacuteodo a predominacircncia dos estudos de caso empresta agrave aacuterea uma fase introdutoacuteria dos processos teoacutericos O presente artigo prevecirc avanccedilar um pouco nesta perspectiva e apresentar modelos metodoloacutegicos que vecircm sendo testados por diferentes pesquisadores na proposiccedilatildeo de uma teoria do jornalismo que visa referendar os estudos e pesquisas em telejornalismo no Brasil Para tanto apresenta na primeira parte os percursos metodoloacutegicos mais utilizados nos uacuteltimos anos por grupos de estudo e pesquisa de referecircncia e na segunda parte explicita duas propostas metodoloacutegicas que contemplam a audiecircncia a recepccedilatildeo e os processos de pesquisa empreendidos

Telejournalismacutes field has been consolidated as a research area in the last ten years At this period the predominance of the case studies lends to the area an introductory phase of the theoretical processes This present article foresees to advance in this perspective and to present methodological models that have been tested by different researchers in the proposition of a theory of journalism which aims to endorse studies and researches in telejournalism in Brazil To do so it presents in the first part the methodological paths most used in recent years by study groups and reference research and in the second part it explains two methodological proposals that contemplate the audience the reception and the research processes undertaken

Resumo Abstract

Telejournalism research methodology audience analysis reception analysis

Telejornalismo pesquisa metodologia anaacutelise de audiecircncia anaacutelise de recepccedilatildeo

KeywordsPalavras-chave

Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo1

Research Methodologies in Telejournalism

Recebido em 25 de julho de 2017 Aprovado em 25 de julho de 2017

Caacuterlida Emerim2

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Cristiane Finger3

Beatriz Cavenaghi4

AUTOR CONVIDADO

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A centralidade dos estudos em Telejornalismo

No campo dos estudos sobre a televisatildeo haacute um foco muito produtivo no desenvolvimento de pesqui-sas em torno da ficccedilatildeo televisiva e de formatos e gecircne-ros privilegiadamente ficcionais Poreacutem o jornalismo de televisatildeo ou o telejornalismo recebia pouca aten-ccedilatildeo uma situaccedilatildeo que vem se invertendo nos uacuteltimos dez anos Nesta nova perspectiva os estudos em te-lejornalismo iniciaram por outras aacutereas como a socio-logia a antropologia a filosofia e ateacute mesmo a psico-logia entre outros Uma anaacutelise mais geral sobre os resultados da maioria destes trabalhos permite afirmar que eles partem de perspectivas ideais ou seja tentam analisar criticar ou estudar os processos do telejornalis-mo focando no que ele deveria fazer e natildeo no que ele realmente faz

Assim haacute um campo aberto para pesquisas em te-lejornalismo que mantenham o foco nos fazeres pro-dutivos nas suas especificidades e principalmente na anaacutelise sobre o que o telejornalismo vem produzindo e como ele vem se desenvolvendo ao longo dos anos Esta perspectiva teoacuterica e metodoloacutegica pode promo-ver uma abertura fulcral nos estudos no campo do te-lejornalismo que permita fazer circular o conhecimen-to alimentar a formaccedilatildeo profissional potencializar a qualidade das produccedilotildees existentes no mercado bem como promover uma oxigenaccedilatildeo nos proacuteprios estudos acadecircmicos sobre o tema

Diante do exposto o presente artigo se propotildee a apresentar alguns percursos teoacutericos e metodoloacutegi-cos em telejornalismo que vecircm sendo utilizados por diferentes grupos de trabalho no Brasil de forma pro-dutiva e com resultados extremamente pertinentes e contributivos Nesta esteira estatildeo os trabalhos realiza-

dos pelo Grupo Anaacutelise em Telejornalismo (Universi-dade Federal da Bahia) pelo Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo (Universidade Federal de Santa Catarina) e pelo Grupo de Pesquisa Televisatildeo e Audiecircncia (Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul) Aleacutem destes apresenta-se tambeacutem aqui a proposta desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-Line (GJOL) da Universidade Fede-ral da Bahia porque sua metodologia oferece uma fun-cionalidade operacional aos estudos de televisatildeo e do telejornalismo

O texto inicia por uma breve discussatildeo sobre a con-ceituaccedilatildeo do campo e do proacuteprio termo telejornalismo e depois desdobra as metodologias empregadas pelos grupos citados Ressalta-se que neste aspecto investe mais na apresentaccedilatildeo de duas propostas metodoloacutegi-cas que permitem estudar o receptor de notiacutecias em diferentes suportes o televisual e os dos dispositivos moacuteveis A ecircnfase no aspecto da recepccedilatildeo reflete a pre-ocupaccedilatildeo das pesquisas empreendidas pelas autoras nos uacuteltimos dois anos

Sobre as telas do telejornalismoHaacute alguns anos o termo telejornalismo tem sido

definido como o jornalismo produzido para e pela te-levisatildeo Com o avanccedilo paulatino das novas tecnologias e do campo de atuaccedilatildeo do jornalismo em diferentes te-las se faz necessaacuterio repensar se esta concepccedilatildeo ainda consegue definir o tipo especiacutefico de jornalismo audio-visual e suas infinitas possibilidades narrativas

Assim o artigo propotildee desmembrar o proacuteprio ter-mo telejornalismo e compreender se haacute possibilidades semacircnticas de ampliaacute-lo para aleacutem do senso comum que o compreende de forma direta ligada agrave televisatildeo Na eacutepoca de seu surgimento se definiam as imagens

pelo seu suporte porque os suportes teriam caracte-riacutesticas definidas cujas fronteiras expressivas eram pas-siacuteveis de delimitaccedilatildeo Se natildeo vejam Fotojornalismo o jornalismo que utilizava as imagens fotograacuteficas para narrar sobre as histoacuterias do mundo Cinejornalismo que se fundava nas imagens capturadas pela cacircmera cinematograacutefica e telejornalismo aquele que remetia agraves imagens capturadas pela cacircmera de viacutedeo analoacutegi-co da televisatildeo

O que se propotildee repensar a partir destes processos de hibridaccedilatildeo constantes das produccedilotildees contemporacirc-neas e o surgimento de novos suportes eacute que o termo ldquotelerdquo talvez possa ser problematizado a partir da con-cepccedilatildeo de telas e natildeo apenas especificamente a tela televisiva Neste aspecto pode-se compreender por ldquotelardquo partindo de glossaacuterios de termos teacutecnicos ma-nuais de tecnologia digital ou mesmo pelos dicionaacuterios como um nome mais geneacuterico para designar superfiacutecie (quadro material refletivo) para a projeccedilatildeo (frontal ou traseira) de imagens

Para pensar ldquotelerdquo primeiro se recorre ao dicionaacuterio etimoloacutegico que o escreve com grafia tel(e) e o define como elemento composto do grego que estaacute ligado agrave noccedilatildeo de longe longe de ou ao longe podendo re-meter tambeacutem agrave noccedilatildeo de distacircncia ou de modelo de transmissatildeo de dados a distacircncia Este uacuteltimo aliaacutes eacute a proacutepria essecircncia da definiccedilatildeo de telecomunicaccedilatildeo se-gundo o glossaacuterio publicado pela Anatel (BR)

telecomunicaccedilatildeo 1 (Dec 9705788) comunicaccedilatildeo realizada por processo eletromagneacutetico 2 (RR) qualquer transmissatildeo emissatildeo ou recepccedilatildeo de siacutembolos sinais texto imagens e sons ou inte-ligecircncia de qualquer natureza atraveacutes de fio de raacutedio de meios oacutepticos ou de qualquer outro sis-

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tema eletromagneacutetico telecomunicaccedilatildeo analoacutegica 1 (Dec 9705788) telecomunicaccedilatildeo de informaccedilatildeo codificada com o uso de teacutecnica analoacutegica teleco-municaccedilatildeo digital 1 (Dec 9705788) telecomunica-ccedilatildeo de informaccedilatildeo codificada com o uso de teacutecnica digital (Anatel 2017)

Ou seja se articularmos estas definiccedilotildees podemos afirmar que Tele + Jornalismo seria um jornalismo feito para ser distribuiacutedo para eou ao longe ou ainda trans-mitido para lugares distantes muito mais do que um jornalismo para ser exibido apenas numa tela de visatildeo (definiccedilatildeo mais comum do aparelho televisatildeo)

Assim numa primeira acepccedilatildeo este trabalho assu-me a perspectiva de que estudar telejornalismo eacute es-tudar um jornalismo para as telas incluindo televisatildeo computador smartphone celular tablets ou os demais dispositivos e suportes que se utilizem de uma tela de visatildeo ou de uma tela refletiva para exibir dados5 Defi-nido o escopo da proposta propotildee-se a seguir apre-sentar de forma breve as metodologias que vecircm sendo empregadas no campo dos estudos em telejornalismo cujos resultados tecircm ajudado a fortalecer e ampliar as pesquisas especiacuteficas do campo

Alguns percursos metodoloacutegicos de anaacutelise em telejornalismo

O grupo Anaacutelise em Telejornalismo da UFBA pro-potildee uma articulaccedilatildeo teoacuterica entre os cultural studies e a teoria da linguagem para compreender o que definem como os modos de endereccedilamento A saber

Modo de endereccedilamento eacute aquilo que eacute caracte-riacutestico das formas e praacuteticas comunicativas especiacute-

ficas de um programa diz respeito ao modo como um programa especiacutefico tenta estabelecer uma forma particular de relaccedilatildeo com sua audiecircncia (cf Morley amp Brunsdon 1978) A anaacutelise do modo de endereccedilamento deve nos possibilitar entender quais satildeo os formatos e as praacuteticas de recepccedilatildeo solicitadas e construiacutedas pelos telejornais (Mota Gomes 2007 p 4)

O conceito de modos de endereccedilamento tal qual afirma Mota Gomes surge nos estudos sobre a anaacute-lise fiacutelmica ligada agrave screen theory sendo aplicado agrave produccedilatildeo televisual na perspectiva de compreender a relaccedilatildeo dos textos televisivos com seus receptores A proposta metodoloacutegica do grupo Anaacutelise em Telejor-nalismo considera aspectos histoacutericos sociais ideoloacute-gicos e culturais do telejornalismo empregando ope-radores de anaacutelise que se constituem em 1) mediador 2) contexto comunicativo 3) pacto sobre o papel do jornalismo e 4) organizaccedilatildeo temaacutetica e sua relaccedilatildeo com premissas e conceitos adotados Tal proposta se funda em outros dois conceitos metodoloacutegicos opera-cionais aleacutem dos modos de endereccedilamento estrutura de sentimento advinda de Raymond Williams gecircnero televisivo advindo dos estudos do grupo a partir de Raymond Williams Martiacuten Barbero e Stuart Hall6

O grupo de Pesquisa em Jornalismo On-Line (GJOL) propotildee um modelo hiacutebrido de pesquisa cuja metodologia opera no acircmbito teoacuterico e empiacuterico e ar-ticula procedimentos qualitativos e quantitativos de forma complementar A partir dos pressupostos apre-sentados por Marcos Palacios e Elias Machado desen-volvidos desde 1995 o pesquisador atua em trecircs ma-cro-etapas

1) Revisatildeo preliminar da bibliografia acompanhada da anaacutelise de organizaccedilotildees jornaliacutesticas relaciona-das ao objeto de estudo 2) Delimitaccedilatildeo do objeto com formulaccedilatildeo das hipoacuteteses de trabalho e estu-dos de caso com pesquisa de campo (participante ou natildeo) nas organizaccedilotildees jornaliacutesticas e 3) Elabo-raccedilatildeo de categorias de anaacutelise processamento do material coletado e definiccedilatildeo conceitual sobre as particularidades dos objetos pesquisados (Macha-do e Palacios 2006 p 47)

Nesta perspectiva o GJOL assume o jornalismo como fenocircmeno e o compreende como processo sen-do possiacutevel aliar aos preceitos da investigaccedilatildeo o mes-mo percurso da produccedilatildeo tradicional em jornalismo ou seja apuraccedilatildeo produccedilatildeo circulaccedilatildeo e consumo de informaccedilotildees A perspectiva do grupo eacute que esta meto-dologia possa contemplar a revisatildeo bibliograacutefica sobre o objeto e tambeacutem possa permitir a testagem do refe-rencial conceitual em estudos de caso especiacuteficos

No Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejor-nalismo da Universidade Federal de Santa Catarina a semioacutetica discursiva tem guiado algumas das anaacutelises que pretendem compreender o telejornalismo em suas especificidades A semioacutetica discursiva se propotildee a ser uma teoria geral da significaccedilatildeo bem como uma meto-dologia operatoacuteria para a descriccedilatildeo dos discursos e das praacuteticas sociais

Estudar portanto o telejornalismo compreendido pela acepccedilatildeo semioacutetica eacute olhar para o seu modo de produccedilatildeo de sentido ou a maneira que este se cons-troacutei para provocar significaccedilotildees e interpretaccedilotildees Con-siderando-se um campo de conhecimento especiacutefico a semioacutetica quer estudar os processos de produccedilatildeo de significaccedilatildeo e sentidos organizando metodologias

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dagem natildeo indica um perfil soacutecio-demograacutefico dos po-tenciais telespectadores de um programa assim como natildeo aponta qual perfil de puacuteblico eacute imaginado pelos produtores do telejornal O conceito aplicado agrave anaacutelise relaciona-se com o telespectador que eacute configurado no texto independente da intenccedilatildeo dos produtores

Esta abordagem metodoloacutegica encontra subsiacutedios teoacutericos nos estudos literaacuterios ndash que muito antes do de-senvolvimento dos estudos das miacutedias e seus recepto-res jaacute discutiam a construccedilatildeo do destinataacuterio no discur-so7 - e tambeacutem em pesquisas realizadas jaacute no contexto televisivo8

Portanto a proposta metodoloacutegica do telespecta-dor discursivo se relaciona com os modos de dizer ou seja com as estrateacutegias discursivas operadas tanto no acircmbito do conteuacutedo quanto no aspecto expressivo No contexto da produccedilatildeo televisiva as estrateacutegias discursi-vas compreendem as escolhas relacionadas agrave estrutura-ccedilatildeo do conteuacutedo televisivo responsaacuteveis pela organiza-ccedilatildeo do ldquomodo de dizerrdquo dos programas (Duarte 2000) O percurso de anaacutelise proposto estaacute esquematizado em trecircs etapas como demonstra a Figura 1

A primeira etapa procura avaliar a relaccedilatildeo dos pro-gramas com o contexto comunicacional com a emis-sora e com a grade de programaccedilatildeo onde o programa estaacute inserido Estas categorias satildeo fundamentais para a compreensatildeo dos modos de funcionamento do pro-grama uma vez que o contexto mercadoloacutegico tem im-plicaccedilotildees diretas no resultado dos programas (Emerim 2010) Como exemplo podemos considerar dois tele-jornais locais concorrentes exibidos na mesma faixa de horaacuterio Um deles poreacutem eacute precedido na grade de pro-gramaccedilatildeo por um programa de variedades com grande audiecircncia nacional enquanto outro eacute exibido logo apoacutes um desenho animado em um canal que historicamen-

que possibilitem ldquoarticular produccedilatildeo e reconhecimen-to dos sentidos considerando os diferentes sistemas culturais e sociais em que essas instacircncias estatildeo inseri-dasrdquo (Emerim 2014 p 108) O maior desenvolvimento operacional da Semioacutetica Discursiva ocorre com Al-girdas Greimas e a Escola de Paris quando postula o discurso como foco de seus estudos sobre qualquer tipo de texto Greimas acredita que uma estrutura nar-rativa pode se manifestar em qualquer tipo de texto e estabelece trecircs niacuteveis de anaacutelise para explicar a ge-raccedilatildeo de discursos de qualquer sistema semioacutetico 1) estruturas semio-narrativas 2) estruturas discursivas e por fim 3) estruturas textuais

Assim o meacutetodo de inspiraccedilatildeo poacutes-estrutural eacute uma anaacutelise empiacuterica de caraacuteter teoacuterico-praacutetico que centra a ecircnfase no exame do niacutevel discursivo considerando a televisatildeo e seus produtos a partir de seu contexto e por isso algumas premissas me-todoloacutegicas devem ser previstas no interior da proacute-pria proposta analiacutetica (Emerim 2014 p 113)

Se cada produccedilatildeo midiaacutetica telejornaliacutestica eacute um

texto compreendendo que ele tem marcas discursivas expressas neste texto e que permitem o seu reconheci-mento a centralidade da anaacutelise no niacutevel discursivo per-mite descrever e entender o processo de significaccedilatildeo bem como para a que puacuteblico esta produccedilatildeo se desti-na Assim o meacutetodo prevecirc um percurso que descreva analise e interprete iniciando pela linguagem passan-do pelas teacutecnicas e as especificidades de sua natureza e por fim contemple a recepccedilatildeo Sem esquecer-se do contexto que parte da compreensatildeo do papel social e da funccedilatildeo que o telejornalismo exerce na sociedade contemporacircnea

A seguir apresenta-se uma proposta metodoloacutegica intitulada Anaacutelise do telespectador discursivo que ini-ciou no GIPTele com base e nos princiacutepios da semioacutetica discursiva e que estaacute em fase de potencializaccedilatildeo e am-pliaccedilatildeo

Anaacutelise do telespectador discursivoProcurando compreender os fatores que podem in-

fluenciar sucessos e fracassos de audiecircncia no contex-to do telejornalismo esta proposta manteacutem o foco no relacionamento estabelecido entre o programa e seus telespectadores por meio de contratos comunicativos Portanto esta proposta de anaacutelise dos telejornais tem como pressuposto que o programa televisivo propotildee ao telespectador um relacionamento estabelecendo regras para sua leitura Tais regras se manifestam no texto televisivo na forma de marcas discursivas como vestiacutegios das operaccedilotildees realizadas pela instacircncia de enunciaccedilatildeo que podem ser observadas e analisadas

Assim chega-se ao que propomos chamar de te-lespectador discursivo um conceito operacional que representa a configuraccedilatildeo das estrateacutegias comunicati-vas operadas no programa que sustentam o contrato estabelecido entre ele e seu puacuteblico Assume-se em concordacircncia com Fausto Neto que a instacircncia de re-cepccedilatildeo ldquoeacute construiacuteda jaacute no interior do proacuteprio processo discursivo por meio de muacuteltiplas operaccedilotildees articuladas pelos processos da proacutepria linguagemrdquo (1995 p 194) Para o autor o discurso jornaliacutestico ldquoarrumardquo o receptor em uma posiccedilatildeo conveniente para a leitura do texto e assim os telespectadores satildeo ldquocapturadosrdquo

O telespectador discursivo natildeo representa uma construccedilatildeo socioloacutegica ao contraacuterio ele eacute da ordem da virtualidade uma vez que eacute observaacutevel apenas no inte-rior do texto televisivo Em outras palavras esta abor-

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destacando a maneira como eles se movimentam em cena o tom de voz a velocidade da fala e outras ca-racteriacutesticas marcantes que possam demonstrar como tentam se relacionar com o telespectador chamar sua atenccedilatildeo ou estabelecer com ele uma afinidade No pla-no do conteuacutedo observa-se (1) os temas recorrentes (2) os quadros fixos e as seacuteries especiais exibidas no pro-grama A anaacutelise destas duas categorias parte de um levantamento quantitativo das mateacuterias exibidas para identificar possiacuteveis ldquotendecircncias temaacuteticasrdquo Por fim a categoria (3) formas de conversaccedilatildeo direta com o teles-

te apresenta baixos iacutendices de audiecircncia Mesmo que os dois telejornais tenham operaccedilotildees enunciativas mui-to parecidas o contexto comunicacional em que estatildeo inseridos teraacute impactos diferentes para o resultado de cada um deles

Na segunda etapa da anaacutelise satildeo observados os aspectos expressivos relacionados com a estrutura in-terna do telejornal e que se repetem em todas as suas ediccedilotildees Eles satildeo divididos em duas categorias (1) com-posiccedilatildeo visual incluindo elementos como vinheta e ce-naacuterio considerando o tamanho do espaccedilo as cores pre-

dominantes e os elementos de cena e (2) apresentaccedilatildeo onde satildeo observados o perfil a trajetoacuteria e a formaccedilatildeo profissional de cada um dos atores discursivos

A terceira etapa divide-se entre o plano da expres-satildeo e o do conteuacutedo9 No plano da expressatildeo obser-va-se (1) a dinacircmica visual do programa com foco no uso dos elementos que compotildeem o cenaacuterio aleacutem dos enquadramentos e movimentos de cacircmera mais fre-quentes (2) aspectos da postura da gestualidade e da verbalizaccedilatildeo dos apresentadores e de outros atores dis-cursivos (apresentadores colunistas e comentaristas)

Figura 1 Esquema das etapas de anaacuteliseFonte Cavenaghi 2013

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pectador observa o texto falado por apresentadores e repoacuterteres procurando em especial marcas do relacio-namento com o telespectador

Na experiecircncia de aplicaccedilatildeo desta metodologia de anaacutelise foi possiacutevel destacar os modos de dizer dos te-lejornais e assim observar aspectos que diferenciam cada programa ndash mesmo que sejam muito parecidos em seus formatos Cada programa opera diferentes es-trateacutegias para construir seus discursos e como conse-quecircncia construir seus contratos comunicativos com os telespectadores Quando observamos estas estrateacutegias ndash atraveacutes das categorias de anaacutelise aqui apresentadas ndash podemos inferir sobre o relacionamento proposto ao telespectador e assim sobre o perfil de telespectador discursivo configurado no texto

Telejornalismo e os indicativos para uma narrativa transmedia

A televisatildeo vive um momento de incertezas tanto pela mudanccedila da plataforma analoacutegica para digital quanto pela sua real vocaccedilatildeo frente aos pro-dutos oferecidos por outras miacutedias principalmen-te as digitais O jornalismo tambeacutem passa por um questionamento importante quanto ao papel que desempenha junto agrave sociedade que cada vez mais eacute produtora dos seus proacuteprios conteuacutedos

Todas as mudanccedilas atingem diretamente as ro-tinas de produccedilatildeo a cultura das redaccedilotildees os con-teuacutedos informativos e a distribuiccedilatildeo deles as es-trateacutegias narrativas assim como as relaccedilotildees com a audiecircncia Enquanto algumas tecnologias disponiacute-veis estatildeo em implantaccedilatildeo e outras ainda em de-senvolvimento eacute preciso projetar novos modos de atuaccedilatildeo tantos dos profissionais como dos teles-pectadores

Natildeo eacute porque existe a tecnologia que o puacuteblico vai adotaacute-la A adoccedilatildeo e o sucesso de uma tecnologia dependem de sua adequaccedilatildeo agrave demanda e agraves ex-pectativas do puacuteblico em determinado momento No caso da televisatildeo temos de pensar em quais ti-pos de interatividade vatildeo agradar o puacuteblico (Canni-to 2010 p 155)

Para o desenvolvimento do telejornalismo dentro deste contexto aleacutem das outras telas como computado-res tablets celulares e consoles de videojogos eacute preci-so pensar em novos paradigmas como afirmou Scolari (2004) a articulaccedilatildeo da TV com outras miacutedias interativas o empoderamento do telespectador a interaccedilatildeo entre emissorreceptor a interaccedilatildeo entre receptorreceptor a possibilidade de acesso a qualquer hora e lugar o uso da interatividade digital para customizar programaccedilatildeo e programas o fim das fronteiras riacutegidas entre conteuacutedo e publicidade o fim da linguagem audiovisual padratildeo da TV a adoccedilatildeo da linguagem multimiacutedia transversal inte-rativa com a colaboraccedilatildeo do usuaacuterio

Ainda segundo o autor este eacute o tempo da hipertv uma televisatildeo instalada em rede nos termos definidos por Castells (1999) conectada com outras plataformas libertando-se aos poucos da programaccedilatildeo em fluxo e lanccedilando matildeo de narrativas transmidiaacuteticas

De acordo com Jenkins (2009) a narrativa transme-dia entrou em debate puacuteblico pela primeira vez em 1999 com o lanccedilamento do filme independente A Bruxa de Blair Desde entatildeo a induacutestria do entretenimento tem aplicado estas estrateacutegias que vatildeo aleacutem de transpor um conteuacutedo de um meio para outro Trata-se da expansatildeo do produto que vai ser alterado e complementado por outros conteuacutedos ateacute mesmo pelos usuaacuterios em dife-

rentes meios e suportesOs estudos de recepccedilatildeo jaacute eram suficientemente

complexos nas chamadas miacutedias tradicionais A partir da perspectiva de que a relaccedilatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo publicos natildeo eacute direta as chamadas teorias hipodeacutermica e funcionalistas foram substituidas pelas teorias criacuteticas culturoloacutegicas e comunicativas (Wolf 1994)

Agora com as novas tecnologias haacute o empodera-mento do receptor A expectativa eacute mapear as mudanccedilas no campo da recepccedilatildeo das notiacutecias veiculadas nos tele-jornais quando acontece em outras locais (fora de casa) em outras situaccedilotildees de atenccedilatildeo (em atitude de espera ou deslocamento) com outros dispositivos e telas

Nas miacutedias tradicionais os receptores eram consi-derados muitas vezes apenas como consumidores passivos previsiacuteveis estaacuteveis e ateacute leais a algumas empresas Agora devem ser pensados como usuaacute-rios ativos migratoacuterios ou nocircmades conectados so-cialmente e por isso mesmo receptores barulhen-tos (Jenkins 2009)

Ainda no campo da recepccedilatildeo dois fenocircmenos comeccedilam a ser estudados na perspectiva tambeacutem do telejornalismo A segunda tela que eacute o uso de novos dispositivos como smartphones tablets no-tebooks entre outros de forma simultacircnea agrave pro-gramaccedilatildeo da TV Essa navegaccedilatildeo paralela permite o consumo de conteuacutedos editoriais complementares (saber mais sobre a reportagem os repoacuterteres os apresentadores as fontes o contexto outras notiacute-cias afins)

A SocialTV compartilha informaccedilotildees impres-sotildees opiniotildees com outros telespectadores atraveacutes das redes social A experiecircncia torna-se mais com-plexa e rica as pessoas fazem questatildeo de assistir tambeacutem ao vivo para acompanhar o que os outros

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

estatildeo falando sobre determinada notiacutecia O que se diz na rede repercute e muitas vezes pode interfe-rir imediatamente no conteuacutedo veiculado

Mais do que adotar uma uacutenica metodologia o que o Grupo de Pesquisa Televisatildeo e Audiecircncia tem se proposto eacute a pensar o futuro do telejornalismo sob o prisma destes novos fenocircmenos destes novos conceitos destes novos atores desta nova realidade

Consideraccedilotildees FinaisAs metodologias brevemente apresentadas nes-

te artigo podem ser aplicadas aos estudos em tele-jornalismo e aos dos produtos televisuais de modo geral O nuacutemero de publicaccedilotildees em livros artigos em revistas certificadas e da produccedilatildeo cientiacutefica em diferentes acircmbitos (graduaccedilatildeo e poacutes-gradua-ccedilatildeo) credenciam a eficaacutecia destas metodologias na anaacutelise das questotildees cruciais para o telejornalismo

A proposta do artigo foi a de apresentaacute-las e poder dividir com o campo os percursos e os pres-supostos das anaacutelises a fim de discutir suas possi-bilidades e restriccedilotildees bem como ampliar suas pro-posiccedilotildees no acircmbito do telejornalismo visando cada vez mais o fortalecimento desta aacuterea em especiacutefico como uma aacuterea fundamental para o jornalismo con-temporacircneo

Ressalta-se tambeacutem a pertinecircncia da discussatildeo sobre o termo ou o conceito de telejornalismo trazi-da pelo artigo de forma breve mas que merece uma imersatildeo mais aprofundada por parte dos estudiosos da aacuterea A proposta inaugural aqui trazida compre-ende telejornalismo como um campo especiacutefico do jornalismo que se dedica ao estudo das produccedilotildees exibidas em telas sendo elas televisatildeo tablet eacutecran do computador ou de celular com base moacutevel ou

fixa Embora se tenha jaacute um campo aberto para o telejornalismo em dispositivos moacuteveis e novas telas haacute ainda um enorme espaccedilo aberto para pesquisas que possam de fato compreender a televisatildeo e o jornalismo feito para a televisatildeo Tanto do ponto de vista histoacuterico quanto de formatos e linguagens Que diraacute dos implementos tecnoloacutegicos que foram en-formando e con-formando a produccedilatildeo em tele-jornalismo na televisatildeo aberta e fechada

Portanto natildeo se trata apenas de marcar um lu-gar de fala especiacutefico e pertinente ao telejornalis-mo nos estudos contemporacircneos do jornalismo trata-se acima de tudo de uma escolha epistemo-loacutegica de fundo que natildeo soacute caracteriza os estudos empreendidos pelos grupos aqui representados como tambeacutem aponta uma reflexatildeo geral em tor-no da natureza desta especificidade considerando as relaccedilotildees que estabelece com a sociedade e com os sujeitos Eacute uma escolha epistemoloacutegica porque aponta para o desenvolvimento de uma teoria que versa sobre um conhecimento especiacutefico que assim como a teoria do jornalismo articula-se em modos de ser e modos de fazer que determinam sua carac-teriacutestica de natureza hiacutebrida

A consistecircncia desta premissa apresenta-se pe-las metodologias aqui descritas e pelos resultados que as pesquisas da aacuterea tecircm permitido trazer para compor este campo teoacuterico especiacutefico Natildeo obs-tante reitera-se o percurso em pleno desenvolvi-mento sobre o estudo de postulados e meacutetodos de teorias e praacuteticas dos diferentes ramos dentro do telejornalismo que permitam efetivar as conclusotildees pertinentes a esta que poderemos intitular daqui a algum tempo de teoria do telejornalismo embora para os autores deste artigo jaacute eacute um campo existen-

te em plena consolidaccedilatildeoPor fim mais do que postular conclusotildees o arti-

go se propotildee a abrir o espaccedilo de discussatildeo e quer de fato convidar os pesquisadores de e sobre o Tele-jornalismo a se debruccedilarem sobre esta temaacutetica au-xiliando no desenvolvimento dos pressupostos aqui trazidos de modo democraacutetico e coletivo como forma de ampliar o debate e fortalecer o constructo teoacuterico que se almeja

Referecircncias ANATEL Glossaacuterio de Termos da Anatel Teleco-municaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwanatelgovbrlegislacaooview=faqampcatid=20ampsearch=teleco-municaC3A7C3A3o201ampfaqid=1174gt Aces-so em 5 jul 2017

CANNITO Newton A Televisatildeo Digital Interativi-dade convergecircncia e novos modelos de negoacutecios Satildeo Paulo Summus 2010

CASTELLS Manuel A sociedade em rede Satildeo Pau-lo Paz e Terra 1999

CAVENAGHI Beatriz Telejornalismo local estrateacute-gias discursivas e a configuraccedilatildeo do telespectador Florianoacutepolis Universidade Federal de Santa Catari-na 2013 153p Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Jornalis-mo do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Jornalismo

DUARTE Elizabeth Bastos Reflexotildees sobre o texto televisivo In CONGRESSO BRASILEIRO DE CIEcircNCIAS DA COMUNICACcedilAtildeO 23 Anais Manaus 2000

ECO Umberto Lector in faacutebula Satildeo Paulo Pers-

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

pectiva 1986 EMERIM Caacuterlida Anaacutelise de telejornalismo uma proposta metodoloacutegica In ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM JORNALISMO 8 Anais Satildeo Luiz 2010

______ Telejornalismo e Semioacutetica Discursiva In VIZEU Alfredo MELLO Edna PORCELLO Flaacutevio COUTINHO Iluska (orgs) Telejornalismo em ques-tatildeo Florianoacutepolis Insular 2014 FAUSTO NETO Antocircnio A deflagraccedilatildeo do sentido estrateacutegias de produccedilatildeo e de captura da recepccedilatildeo In SOUZA Mauro Wilton Sujeito o lado oculto de receptor Satildeo Paulo Brasiliense 1995 GREIMAS Algirdas Julien Dicionaacuterio de Semioacutetica Satildeo Paulo Cultrix sd ______ LANDOWSKI E Anaacutelise do Discurso em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo Global 1986

JENKINS Henry Cultura da convergecircncia Satildeo Pau-lo Aleph 2009

MACHADO Elias PALACIOS marcos Um modelo hiacutebrido de pesquisa a metodologia aplicada pelo GJOL In LAGO (org) Claudia BENETTI Maacutercia Me-todologia de Pesquisa em Jornalismo Satildeo Paulo Paulus 2006

MOTA GOMES Itacircnia Maria Questotildees de Meacutetodo-na anaacutelise do telejornalismo premissas conceitos operadores de anaacutelise Revista E-Compoacutes 2007 (abril)

SCOLARI Carlos Hacer Clic Hacia una sociosemioacute-tica de las interacciones digitales Barcelona Gedi-sa 2004

VERON Eliseo Quando ler eacute fazer a enun-ciaccedilatildeo no discurso da imprensa escrita In VEROacuteN Eliseo Fragmentos de um teci-do Satildeo Leopoldo Editora Unisinos 2004

VIZEU Alfredo Telejornalismo das rotinas produti-vas agrave audiecircncia presumida In VIZEU Alfredo MOTA Ceacutelia Ladeira PORCELLO Flaacutevio Antocircnio Camargo Telejornalismo a nova praccedila puacuteblica Florianoacutepo-lis SC Insular 2006

______ Decidindo o que eacute notiacutecia os bastidores do telejornalismo [2000] Porto Alegre EDIPUCRS 2005

WOLF Mauro Teorias da Comunicaccedilatildeo Lisboa Presenccedila 1994

Notas1 Uma versatildeo deste artigo foi apresentada no 13o En-

contro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo re-alizado em Campo Grande (UFMS) em novembro de 2015

2 Jornalista Mestre em Semioacutetica Doutora em Proces-sos Midiaacuteticos professora e pesquisadora na Gradua-ccedilatildeo e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (POSJORUFSC - Campus Trindade Bloco A CCE Departamento de Jornalismo Bairro Trindade FlorianoacutepolisSC Brasil CEP 88000-000) Liacuteder do Grupo Interinstitucional de Pesquisa

em Telejornalismo (GIPTele) E-mail carlidaemerimgmailcom

3 Jornalista Doutora em Comunicaccedilatildeo professora do Curso de Jornalismo e pesquisadora no Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Comunicaccedilatildeo Social da PUCRS (PPGCOMPUCRS - Av Ipiranga 6681 Bairro Partenon Porto AlegreRS Brasil CEP 90619-900) Coordenado-ra do Grupo de Pesquisa Televisatildeo e Audiecircncia E-mail cristianefingerpucrsbr

4 Jornalista Mestre em Jornalismo Doutoranda em En-genharia e Gestatildeo do Conhecimento (UFSC) pesqui-sadora do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo (GIPTele) professora do IELUSC (Rua Princesa Isabel 438 Centro Joinville - Santa Catarina Cep 89301-270) E-mail cavenaghibeagmailcom

5 Esta discussatildeo eacute melhor realizada por Emerim (2014) e em capiacutetulo de livro do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo que estaacute no prelo

6 Os principais textos que permitem conhecer com mais vagar esta metodologia estatildeo citados especificamen-te nas referecircncias bibliograacuteficas

7 Ver por exemplo Eco (1986)

8 Ver por exemplo o trabalho de Alfredo Vizeu (2005 2006)

9 Considera-se que expressatildeo e conteuacutedo satildeo comple-mentares e indissociaacuteveis mas aqui esta divisatildeo aju-da a operacionalizar a anaacutelise

Page 3: Crédito: Shutterstockrepositorio.pucrs.br/.../2/Metodologias_de_Pesquisa_em_Telejornalis… · definido como o jornalismo produzido para e pela te-levisão. Com o avanço paulatino

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

A centralidade dos estudos em Telejornalismo

No campo dos estudos sobre a televisatildeo haacute um foco muito produtivo no desenvolvimento de pesqui-sas em torno da ficccedilatildeo televisiva e de formatos e gecircne-ros privilegiadamente ficcionais Poreacutem o jornalismo de televisatildeo ou o telejornalismo recebia pouca aten-ccedilatildeo uma situaccedilatildeo que vem se invertendo nos uacuteltimos dez anos Nesta nova perspectiva os estudos em te-lejornalismo iniciaram por outras aacutereas como a socio-logia a antropologia a filosofia e ateacute mesmo a psico-logia entre outros Uma anaacutelise mais geral sobre os resultados da maioria destes trabalhos permite afirmar que eles partem de perspectivas ideais ou seja tentam analisar criticar ou estudar os processos do telejornalis-mo focando no que ele deveria fazer e natildeo no que ele realmente faz

Assim haacute um campo aberto para pesquisas em te-lejornalismo que mantenham o foco nos fazeres pro-dutivos nas suas especificidades e principalmente na anaacutelise sobre o que o telejornalismo vem produzindo e como ele vem se desenvolvendo ao longo dos anos Esta perspectiva teoacuterica e metodoloacutegica pode promo-ver uma abertura fulcral nos estudos no campo do te-lejornalismo que permita fazer circular o conhecimen-to alimentar a formaccedilatildeo profissional potencializar a qualidade das produccedilotildees existentes no mercado bem como promover uma oxigenaccedilatildeo nos proacuteprios estudos acadecircmicos sobre o tema

Diante do exposto o presente artigo se propotildee a apresentar alguns percursos teoacutericos e metodoloacutegi-cos em telejornalismo que vecircm sendo utilizados por diferentes grupos de trabalho no Brasil de forma pro-dutiva e com resultados extremamente pertinentes e contributivos Nesta esteira estatildeo os trabalhos realiza-

dos pelo Grupo Anaacutelise em Telejornalismo (Universi-dade Federal da Bahia) pelo Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo (Universidade Federal de Santa Catarina) e pelo Grupo de Pesquisa Televisatildeo e Audiecircncia (Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica do Rio Grande do Sul) Aleacutem destes apresenta-se tambeacutem aqui a proposta desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa em Jornalismo On-Line (GJOL) da Universidade Fede-ral da Bahia porque sua metodologia oferece uma fun-cionalidade operacional aos estudos de televisatildeo e do telejornalismo

O texto inicia por uma breve discussatildeo sobre a con-ceituaccedilatildeo do campo e do proacuteprio termo telejornalismo e depois desdobra as metodologias empregadas pelos grupos citados Ressalta-se que neste aspecto investe mais na apresentaccedilatildeo de duas propostas metodoloacutegi-cas que permitem estudar o receptor de notiacutecias em diferentes suportes o televisual e os dos dispositivos moacuteveis A ecircnfase no aspecto da recepccedilatildeo reflete a pre-ocupaccedilatildeo das pesquisas empreendidas pelas autoras nos uacuteltimos dois anos

Sobre as telas do telejornalismoHaacute alguns anos o termo telejornalismo tem sido

definido como o jornalismo produzido para e pela te-levisatildeo Com o avanccedilo paulatino das novas tecnologias e do campo de atuaccedilatildeo do jornalismo em diferentes te-las se faz necessaacuterio repensar se esta concepccedilatildeo ainda consegue definir o tipo especiacutefico de jornalismo audio-visual e suas infinitas possibilidades narrativas

Assim o artigo propotildee desmembrar o proacuteprio ter-mo telejornalismo e compreender se haacute possibilidades semacircnticas de ampliaacute-lo para aleacutem do senso comum que o compreende de forma direta ligada agrave televisatildeo Na eacutepoca de seu surgimento se definiam as imagens

pelo seu suporte porque os suportes teriam caracte-riacutesticas definidas cujas fronteiras expressivas eram pas-siacuteveis de delimitaccedilatildeo Se natildeo vejam Fotojornalismo o jornalismo que utilizava as imagens fotograacuteficas para narrar sobre as histoacuterias do mundo Cinejornalismo que se fundava nas imagens capturadas pela cacircmera cinematograacutefica e telejornalismo aquele que remetia agraves imagens capturadas pela cacircmera de viacutedeo analoacutegi-co da televisatildeo

O que se propotildee repensar a partir destes processos de hibridaccedilatildeo constantes das produccedilotildees contemporacirc-neas e o surgimento de novos suportes eacute que o termo ldquotelerdquo talvez possa ser problematizado a partir da con-cepccedilatildeo de telas e natildeo apenas especificamente a tela televisiva Neste aspecto pode-se compreender por ldquotelardquo partindo de glossaacuterios de termos teacutecnicos ma-nuais de tecnologia digital ou mesmo pelos dicionaacuterios como um nome mais geneacuterico para designar superfiacutecie (quadro material refletivo) para a projeccedilatildeo (frontal ou traseira) de imagens

Para pensar ldquotelerdquo primeiro se recorre ao dicionaacuterio etimoloacutegico que o escreve com grafia tel(e) e o define como elemento composto do grego que estaacute ligado agrave noccedilatildeo de longe longe de ou ao longe podendo re-meter tambeacutem agrave noccedilatildeo de distacircncia ou de modelo de transmissatildeo de dados a distacircncia Este uacuteltimo aliaacutes eacute a proacutepria essecircncia da definiccedilatildeo de telecomunicaccedilatildeo se-gundo o glossaacuterio publicado pela Anatel (BR)

telecomunicaccedilatildeo 1 (Dec 9705788) comunicaccedilatildeo realizada por processo eletromagneacutetico 2 (RR) qualquer transmissatildeo emissatildeo ou recepccedilatildeo de siacutembolos sinais texto imagens e sons ou inte-ligecircncia de qualquer natureza atraveacutes de fio de raacutedio de meios oacutepticos ou de qualquer outro sis-

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tema eletromagneacutetico telecomunicaccedilatildeo analoacutegica 1 (Dec 9705788) telecomunicaccedilatildeo de informaccedilatildeo codificada com o uso de teacutecnica analoacutegica teleco-municaccedilatildeo digital 1 (Dec 9705788) telecomunica-ccedilatildeo de informaccedilatildeo codificada com o uso de teacutecnica digital (Anatel 2017)

Ou seja se articularmos estas definiccedilotildees podemos afirmar que Tele + Jornalismo seria um jornalismo feito para ser distribuiacutedo para eou ao longe ou ainda trans-mitido para lugares distantes muito mais do que um jornalismo para ser exibido apenas numa tela de visatildeo (definiccedilatildeo mais comum do aparelho televisatildeo)

Assim numa primeira acepccedilatildeo este trabalho assu-me a perspectiva de que estudar telejornalismo eacute es-tudar um jornalismo para as telas incluindo televisatildeo computador smartphone celular tablets ou os demais dispositivos e suportes que se utilizem de uma tela de visatildeo ou de uma tela refletiva para exibir dados5 Defi-nido o escopo da proposta propotildee-se a seguir apre-sentar de forma breve as metodologias que vecircm sendo empregadas no campo dos estudos em telejornalismo cujos resultados tecircm ajudado a fortalecer e ampliar as pesquisas especiacuteficas do campo

Alguns percursos metodoloacutegicos de anaacutelise em telejornalismo

O grupo Anaacutelise em Telejornalismo da UFBA pro-potildee uma articulaccedilatildeo teoacuterica entre os cultural studies e a teoria da linguagem para compreender o que definem como os modos de endereccedilamento A saber

Modo de endereccedilamento eacute aquilo que eacute caracte-riacutestico das formas e praacuteticas comunicativas especiacute-

ficas de um programa diz respeito ao modo como um programa especiacutefico tenta estabelecer uma forma particular de relaccedilatildeo com sua audiecircncia (cf Morley amp Brunsdon 1978) A anaacutelise do modo de endereccedilamento deve nos possibilitar entender quais satildeo os formatos e as praacuteticas de recepccedilatildeo solicitadas e construiacutedas pelos telejornais (Mota Gomes 2007 p 4)

O conceito de modos de endereccedilamento tal qual afirma Mota Gomes surge nos estudos sobre a anaacute-lise fiacutelmica ligada agrave screen theory sendo aplicado agrave produccedilatildeo televisual na perspectiva de compreender a relaccedilatildeo dos textos televisivos com seus receptores A proposta metodoloacutegica do grupo Anaacutelise em Telejor-nalismo considera aspectos histoacutericos sociais ideoloacute-gicos e culturais do telejornalismo empregando ope-radores de anaacutelise que se constituem em 1) mediador 2) contexto comunicativo 3) pacto sobre o papel do jornalismo e 4) organizaccedilatildeo temaacutetica e sua relaccedilatildeo com premissas e conceitos adotados Tal proposta se funda em outros dois conceitos metodoloacutegicos opera-cionais aleacutem dos modos de endereccedilamento estrutura de sentimento advinda de Raymond Williams gecircnero televisivo advindo dos estudos do grupo a partir de Raymond Williams Martiacuten Barbero e Stuart Hall6

O grupo de Pesquisa em Jornalismo On-Line (GJOL) propotildee um modelo hiacutebrido de pesquisa cuja metodologia opera no acircmbito teoacuterico e empiacuterico e ar-ticula procedimentos qualitativos e quantitativos de forma complementar A partir dos pressupostos apre-sentados por Marcos Palacios e Elias Machado desen-volvidos desde 1995 o pesquisador atua em trecircs ma-cro-etapas

1) Revisatildeo preliminar da bibliografia acompanhada da anaacutelise de organizaccedilotildees jornaliacutesticas relaciona-das ao objeto de estudo 2) Delimitaccedilatildeo do objeto com formulaccedilatildeo das hipoacuteteses de trabalho e estu-dos de caso com pesquisa de campo (participante ou natildeo) nas organizaccedilotildees jornaliacutesticas e 3) Elabo-raccedilatildeo de categorias de anaacutelise processamento do material coletado e definiccedilatildeo conceitual sobre as particularidades dos objetos pesquisados (Macha-do e Palacios 2006 p 47)

Nesta perspectiva o GJOL assume o jornalismo como fenocircmeno e o compreende como processo sen-do possiacutevel aliar aos preceitos da investigaccedilatildeo o mes-mo percurso da produccedilatildeo tradicional em jornalismo ou seja apuraccedilatildeo produccedilatildeo circulaccedilatildeo e consumo de informaccedilotildees A perspectiva do grupo eacute que esta meto-dologia possa contemplar a revisatildeo bibliograacutefica sobre o objeto e tambeacutem possa permitir a testagem do refe-rencial conceitual em estudos de caso especiacuteficos

No Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejor-nalismo da Universidade Federal de Santa Catarina a semioacutetica discursiva tem guiado algumas das anaacutelises que pretendem compreender o telejornalismo em suas especificidades A semioacutetica discursiva se propotildee a ser uma teoria geral da significaccedilatildeo bem como uma meto-dologia operatoacuteria para a descriccedilatildeo dos discursos e das praacuteticas sociais

Estudar portanto o telejornalismo compreendido pela acepccedilatildeo semioacutetica eacute olhar para o seu modo de produccedilatildeo de sentido ou a maneira que este se cons-troacutei para provocar significaccedilotildees e interpretaccedilotildees Con-siderando-se um campo de conhecimento especiacutefico a semioacutetica quer estudar os processos de produccedilatildeo de significaccedilatildeo e sentidos organizando metodologias

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dagem natildeo indica um perfil soacutecio-demograacutefico dos po-tenciais telespectadores de um programa assim como natildeo aponta qual perfil de puacuteblico eacute imaginado pelos produtores do telejornal O conceito aplicado agrave anaacutelise relaciona-se com o telespectador que eacute configurado no texto independente da intenccedilatildeo dos produtores

Esta abordagem metodoloacutegica encontra subsiacutedios teoacutericos nos estudos literaacuterios ndash que muito antes do de-senvolvimento dos estudos das miacutedias e seus recepto-res jaacute discutiam a construccedilatildeo do destinataacuterio no discur-so7 - e tambeacutem em pesquisas realizadas jaacute no contexto televisivo8

Portanto a proposta metodoloacutegica do telespecta-dor discursivo se relaciona com os modos de dizer ou seja com as estrateacutegias discursivas operadas tanto no acircmbito do conteuacutedo quanto no aspecto expressivo No contexto da produccedilatildeo televisiva as estrateacutegias discursi-vas compreendem as escolhas relacionadas agrave estrutura-ccedilatildeo do conteuacutedo televisivo responsaacuteveis pela organiza-ccedilatildeo do ldquomodo de dizerrdquo dos programas (Duarte 2000) O percurso de anaacutelise proposto estaacute esquematizado em trecircs etapas como demonstra a Figura 1

A primeira etapa procura avaliar a relaccedilatildeo dos pro-gramas com o contexto comunicacional com a emis-sora e com a grade de programaccedilatildeo onde o programa estaacute inserido Estas categorias satildeo fundamentais para a compreensatildeo dos modos de funcionamento do pro-grama uma vez que o contexto mercadoloacutegico tem im-plicaccedilotildees diretas no resultado dos programas (Emerim 2010) Como exemplo podemos considerar dois tele-jornais locais concorrentes exibidos na mesma faixa de horaacuterio Um deles poreacutem eacute precedido na grade de pro-gramaccedilatildeo por um programa de variedades com grande audiecircncia nacional enquanto outro eacute exibido logo apoacutes um desenho animado em um canal que historicamen-

que possibilitem ldquoarticular produccedilatildeo e reconhecimen-to dos sentidos considerando os diferentes sistemas culturais e sociais em que essas instacircncias estatildeo inseri-dasrdquo (Emerim 2014 p 108) O maior desenvolvimento operacional da Semioacutetica Discursiva ocorre com Al-girdas Greimas e a Escola de Paris quando postula o discurso como foco de seus estudos sobre qualquer tipo de texto Greimas acredita que uma estrutura nar-rativa pode se manifestar em qualquer tipo de texto e estabelece trecircs niacuteveis de anaacutelise para explicar a ge-raccedilatildeo de discursos de qualquer sistema semioacutetico 1) estruturas semio-narrativas 2) estruturas discursivas e por fim 3) estruturas textuais

Assim o meacutetodo de inspiraccedilatildeo poacutes-estrutural eacute uma anaacutelise empiacuterica de caraacuteter teoacuterico-praacutetico que centra a ecircnfase no exame do niacutevel discursivo considerando a televisatildeo e seus produtos a partir de seu contexto e por isso algumas premissas me-todoloacutegicas devem ser previstas no interior da proacute-pria proposta analiacutetica (Emerim 2014 p 113)

Se cada produccedilatildeo midiaacutetica telejornaliacutestica eacute um

texto compreendendo que ele tem marcas discursivas expressas neste texto e que permitem o seu reconheci-mento a centralidade da anaacutelise no niacutevel discursivo per-mite descrever e entender o processo de significaccedilatildeo bem como para a que puacuteblico esta produccedilatildeo se desti-na Assim o meacutetodo prevecirc um percurso que descreva analise e interprete iniciando pela linguagem passan-do pelas teacutecnicas e as especificidades de sua natureza e por fim contemple a recepccedilatildeo Sem esquecer-se do contexto que parte da compreensatildeo do papel social e da funccedilatildeo que o telejornalismo exerce na sociedade contemporacircnea

A seguir apresenta-se uma proposta metodoloacutegica intitulada Anaacutelise do telespectador discursivo que ini-ciou no GIPTele com base e nos princiacutepios da semioacutetica discursiva e que estaacute em fase de potencializaccedilatildeo e am-pliaccedilatildeo

Anaacutelise do telespectador discursivoProcurando compreender os fatores que podem in-

fluenciar sucessos e fracassos de audiecircncia no contex-to do telejornalismo esta proposta manteacutem o foco no relacionamento estabelecido entre o programa e seus telespectadores por meio de contratos comunicativos Portanto esta proposta de anaacutelise dos telejornais tem como pressuposto que o programa televisivo propotildee ao telespectador um relacionamento estabelecendo regras para sua leitura Tais regras se manifestam no texto televisivo na forma de marcas discursivas como vestiacutegios das operaccedilotildees realizadas pela instacircncia de enunciaccedilatildeo que podem ser observadas e analisadas

Assim chega-se ao que propomos chamar de te-lespectador discursivo um conceito operacional que representa a configuraccedilatildeo das estrateacutegias comunicati-vas operadas no programa que sustentam o contrato estabelecido entre ele e seu puacuteblico Assume-se em concordacircncia com Fausto Neto que a instacircncia de re-cepccedilatildeo ldquoeacute construiacuteda jaacute no interior do proacuteprio processo discursivo por meio de muacuteltiplas operaccedilotildees articuladas pelos processos da proacutepria linguagemrdquo (1995 p 194) Para o autor o discurso jornaliacutestico ldquoarrumardquo o receptor em uma posiccedilatildeo conveniente para a leitura do texto e assim os telespectadores satildeo ldquocapturadosrdquo

O telespectador discursivo natildeo representa uma construccedilatildeo socioloacutegica ao contraacuterio ele eacute da ordem da virtualidade uma vez que eacute observaacutevel apenas no inte-rior do texto televisivo Em outras palavras esta abor-

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destacando a maneira como eles se movimentam em cena o tom de voz a velocidade da fala e outras ca-racteriacutesticas marcantes que possam demonstrar como tentam se relacionar com o telespectador chamar sua atenccedilatildeo ou estabelecer com ele uma afinidade No pla-no do conteuacutedo observa-se (1) os temas recorrentes (2) os quadros fixos e as seacuteries especiais exibidas no pro-grama A anaacutelise destas duas categorias parte de um levantamento quantitativo das mateacuterias exibidas para identificar possiacuteveis ldquotendecircncias temaacuteticasrdquo Por fim a categoria (3) formas de conversaccedilatildeo direta com o teles-

te apresenta baixos iacutendices de audiecircncia Mesmo que os dois telejornais tenham operaccedilotildees enunciativas mui-to parecidas o contexto comunicacional em que estatildeo inseridos teraacute impactos diferentes para o resultado de cada um deles

Na segunda etapa da anaacutelise satildeo observados os aspectos expressivos relacionados com a estrutura in-terna do telejornal e que se repetem em todas as suas ediccedilotildees Eles satildeo divididos em duas categorias (1) com-posiccedilatildeo visual incluindo elementos como vinheta e ce-naacuterio considerando o tamanho do espaccedilo as cores pre-

dominantes e os elementos de cena e (2) apresentaccedilatildeo onde satildeo observados o perfil a trajetoacuteria e a formaccedilatildeo profissional de cada um dos atores discursivos

A terceira etapa divide-se entre o plano da expres-satildeo e o do conteuacutedo9 No plano da expressatildeo obser-va-se (1) a dinacircmica visual do programa com foco no uso dos elementos que compotildeem o cenaacuterio aleacutem dos enquadramentos e movimentos de cacircmera mais fre-quentes (2) aspectos da postura da gestualidade e da verbalizaccedilatildeo dos apresentadores e de outros atores dis-cursivos (apresentadores colunistas e comentaristas)

Figura 1 Esquema das etapas de anaacuteliseFonte Cavenaghi 2013

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

pectador observa o texto falado por apresentadores e repoacuterteres procurando em especial marcas do relacio-namento com o telespectador

Na experiecircncia de aplicaccedilatildeo desta metodologia de anaacutelise foi possiacutevel destacar os modos de dizer dos te-lejornais e assim observar aspectos que diferenciam cada programa ndash mesmo que sejam muito parecidos em seus formatos Cada programa opera diferentes es-trateacutegias para construir seus discursos e como conse-quecircncia construir seus contratos comunicativos com os telespectadores Quando observamos estas estrateacutegias ndash atraveacutes das categorias de anaacutelise aqui apresentadas ndash podemos inferir sobre o relacionamento proposto ao telespectador e assim sobre o perfil de telespectador discursivo configurado no texto

Telejornalismo e os indicativos para uma narrativa transmedia

A televisatildeo vive um momento de incertezas tanto pela mudanccedila da plataforma analoacutegica para digital quanto pela sua real vocaccedilatildeo frente aos pro-dutos oferecidos por outras miacutedias principalmen-te as digitais O jornalismo tambeacutem passa por um questionamento importante quanto ao papel que desempenha junto agrave sociedade que cada vez mais eacute produtora dos seus proacuteprios conteuacutedos

Todas as mudanccedilas atingem diretamente as ro-tinas de produccedilatildeo a cultura das redaccedilotildees os con-teuacutedos informativos e a distribuiccedilatildeo deles as es-trateacutegias narrativas assim como as relaccedilotildees com a audiecircncia Enquanto algumas tecnologias disponiacute-veis estatildeo em implantaccedilatildeo e outras ainda em de-senvolvimento eacute preciso projetar novos modos de atuaccedilatildeo tantos dos profissionais como dos teles-pectadores

Natildeo eacute porque existe a tecnologia que o puacuteblico vai adotaacute-la A adoccedilatildeo e o sucesso de uma tecnologia dependem de sua adequaccedilatildeo agrave demanda e agraves ex-pectativas do puacuteblico em determinado momento No caso da televisatildeo temos de pensar em quais ti-pos de interatividade vatildeo agradar o puacuteblico (Canni-to 2010 p 155)

Para o desenvolvimento do telejornalismo dentro deste contexto aleacutem das outras telas como computado-res tablets celulares e consoles de videojogos eacute preci-so pensar em novos paradigmas como afirmou Scolari (2004) a articulaccedilatildeo da TV com outras miacutedias interativas o empoderamento do telespectador a interaccedilatildeo entre emissorreceptor a interaccedilatildeo entre receptorreceptor a possibilidade de acesso a qualquer hora e lugar o uso da interatividade digital para customizar programaccedilatildeo e programas o fim das fronteiras riacutegidas entre conteuacutedo e publicidade o fim da linguagem audiovisual padratildeo da TV a adoccedilatildeo da linguagem multimiacutedia transversal inte-rativa com a colaboraccedilatildeo do usuaacuterio

Ainda segundo o autor este eacute o tempo da hipertv uma televisatildeo instalada em rede nos termos definidos por Castells (1999) conectada com outras plataformas libertando-se aos poucos da programaccedilatildeo em fluxo e lanccedilando matildeo de narrativas transmidiaacuteticas

De acordo com Jenkins (2009) a narrativa transme-dia entrou em debate puacuteblico pela primeira vez em 1999 com o lanccedilamento do filme independente A Bruxa de Blair Desde entatildeo a induacutestria do entretenimento tem aplicado estas estrateacutegias que vatildeo aleacutem de transpor um conteuacutedo de um meio para outro Trata-se da expansatildeo do produto que vai ser alterado e complementado por outros conteuacutedos ateacute mesmo pelos usuaacuterios em dife-

rentes meios e suportesOs estudos de recepccedilatildeo jaacute eram suficientemente

complexos nas chamadas miacutedias tradicionais A partir da perspectiva de que a relaccedilatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo publicos natildeo eacute direta as chamadas teorias hipodeacutermica e funcionalistas foram substituidas pelas teorias criacuteticas culturoloacutegicas e comunicativas (Wolf 1994)

Agora com as novas tecnologias haacute o empodera-mento do receptor A expectativa eacute mapear as mudanccedilas no campo da recepccedilatildeo das notiacutecias veiculadas nos tele-jornais quando acontece em outras locais (fora de casa) em outras situaccedilotildees de atenccedilatildeo (em atitude de espera ou deslocamento) com outros dispositivos e telas

Nas miacutedias tradicionais os receptores eram consi-derados muitas vezes apenas como consumidores passivos previsiacuteveis estaacuteveis e ateacute leais a algumas empresas Agora devem ser pensados como usuaacute-rios ativos migratoacuterios ou nocircmades conectados so-cialmente e por isso mesmo receptores barulhen-tos (Jenkins 2009)

Ainda no campo da recepccedilatildeo dois fenocircmenos comeccedilam a ser estudados na perspectiva tambeacutem do telejornalismo A segunda tela que eacute o uso de novos dispositivos como smartphones tablets no-tebooks entre outros de forma simultacircnea agrave pro-gramaccedilatildeo da TV Essa navegaccedilatildeo paralela permite o consumo de conteuacutedos editoriais complementares (saber mais sobre a reportagem os repoacuterteres os apresentadores as fontes o contexto outras notiacute-cias afins)

A SocialTV compartilha informaccedilotildees impres-sotildees opiniotildees com outros telespectadores atraveacutes das redes social A experiecircncia torna-se mais com-plexa e rica as pessoas fazem questatildeo de assistir tambeacutem ao vivo para acompanhar o que os outros

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

estatildeo falando sobre determinada notiacutecia O que se diz na rede repercute e muitas vezes pode interfe-rir imediatamente no conteuacutedo veiculado

Mais do que adotar uma uacutenica metodologia o que o Grupo de Pesquisa Televisatildeo e Audiecircncia tem se proposto eacute a pensar o futuro do telejornalismo sob o prisma destes novos fenocircmenos destes novos conceitos destes novos atores desta nova realidade

Consideraccedilotildees FinaisAs metodologias brevemente apresentadas nes-

te artigo podem ser aplicadas aos estudos em tele-jornalismo e aos dos produtos televisuais de modo geral O nuacutemero de publicaccedilotildees em livros artigos em revistas certificadas e da produccedilatildeo cientiacutefica em diferentes acircmbitos (graduaccedilatildeo e poacutes-gradua-ccedilatildeo) credenciam a eficaacutecia destas metodologias na anaacutelise das questotildees cruciais para o telejornalismo

A proposta do artigo foi a de apresentaacute-las e poder dividir com o campo os percursos e os pres-supostos das anaacutelises a fim de discutir suas possi-bilidades e restriccedilotildees bem como ampliar suas pro-posiccedilotildees no acircmbito do telejornalismo visando cada vez mais o fortalecimento desta aacuterea em especiacutefico como uma aacuterea fundamental para o jornalismo con-temporacircneo

Ressalta-se tambeacutem a pertinecircncia da discussatildeo sobre o termo ou o conceito de telejornalismo trazi-da pelo artigo de forma breve mas que merece uma imersatildeo mais aprofundada por parte dos estudiosos da aacuterea A proposta inaugural aqui trazida compre-ende telejornalismo como um campo especiacutefico do jornalismo que se dedica ao estudo das produccedilotildees exibidas em telas sendo elas televisatildeo tablet eacutecran do computador ou de celular com base moacutevel ou

fixa Embora se tenha jaacute um campo aberto para o telejornalismo em dispositivos moacuteveis e novas telas haacute ainda um enorme espaccedilo aberto para pesquisas que possam de fato compreender a televisatildeo e o jornalismo feito para a televisatildeo Tanto do ponto de vista histoacuterico quanto de formatos e linguagens Que diraacute dos implementos tecnoloacutegicos que foram en-formando e con-formando a produccedilatildeo em tele-jornalismo na televisatildeo aberta e fechada

Portanto natildeo se trata apenas de marcar um lu-gar de fala especiacutefico e pertinente ao telejornalis-mo nos estudos contemporacircneos do jornalismo trata-se acima de tudo de uma escolha epistemo-loacutegica de fundo que natildeo soacute caracteriza os estudos empreendidos pelos grupos aqui representados como tambeacutem aponta uma reflexatildeo geral em tor-no da natureza desta especificidade considerando as relaccedilotildees que estabelece com a sociedade e com os sujeitos Eacute uma escolha epistemoloacutegica porque aponta para o desenvolvimento de uma teoria que versa sobre um conhecimento especiacutefico que assim como a teoria do jornalismo articula-se em modos de ser e modos de fazer que determinam sua carac-teriacutestica de natureza hiacutebrida

A consistecircncia desta premissa apresenta-se pe-las metodologias aqui descritas e pelos resultados que as pesquisas da aacuterea tecircm permitido trazer para compor este campo teoacuterico especiacutefico Natildeo obs-tante reitera-se o percurso em pleno desenvolvi-mento sobre o estudo de postulados e meacutetodos de teorias e praacuteticas dos diferentes ramos dentro do telejornalismo que permitam efetivar as conclusotildees pertinentes a esta que poderemos intitular daqui a algum tempo de teoria do telejornalismo embora para os autores deste artigo jaacute eacute um campo existen-

te em plena consolidaccedilatildeoPor fim mais do que postular conclusotildees o arti-

go se propotildee a abrir o espaccedilo de discussatildeo e quer de fato convidar os pesquisadores de e sobre o Tele-jornalismo a se debruccedilarem sobre esta temaacutetica au-xiliando no desenvolvimento dos pressupostos aqui trazidos de modo democraacutetico e coletivo como forma de ampliar o debate e fortalecer o constructo teoacuterico que se almeja

Referecircncias ANATEL Glossaacuterio de Termos da Anatel Teleco-municaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwanatelgovbrlegislacaooview=faqampcatid=20ampsearch=teleco-municaC3A7C3A3o201ampfaqid=1174gt Aces-so em 5 jul 2017

CANNITO Newton A Televisatildeo Digital Interativi-dade convergecircncia e novos modelos de negoacutecios Satildeo Paulo Summus 2010

CASTELLS Manuel A sociedade em rede Satildeo Pau-lo Paz e Terra 1999

CAVENAGHI Beatriz Telejornalismo local estrateacute-gias discursivas e a configuraccedilatildeo do telespectador Florianoacutepolis Universidade Federal de Santa Catari-na 2013 153p Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Jornalis-mo do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Jornalismo

DUARTE Elizabeth Bastos Reflexotildees sobre o texto televisivo In CONGRESSO BRASILEIRO DE CIEcircNCIAS DA COMUNICACcedilAtildeO 23 Anais Manaus 2000

ECO Umberto Lector in faacutebula Satildeo Paulo Pers-

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

pectiva 1986 EMERIM Caacuterlida Anaacutelise de telejornalismo uma proposta metodoloacutegica In ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM JORNALISMO 8 Anais Satildeo Luiz 2010

______ Telejornalismo e Semioacutetica Discursiva In VIZEU Alfredo MELLO Edna PORCELLO Flaacutevio COUTINHO Iluska (orgs) Telejornalismo em ques-tatildeo Florianoacutepolis Insular 2014 FAUSTO NETO Antocircnio A deflagraccedilatildeo do sentido estrateacutegias de produccedilatildeo e de captura da recepccedilatildeo In SOUZA Mauro Wilton Sujeito o lado oculto de receptor Satildeo Paulo Brasiliense 1995 GREIMAS Algirdas Julien Dicionaacuterio de Semioacutetica Satildeo Paulo Cultrix sd ______ LANDOWSKI E Anaacutelise do Discurso em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo Global 1986

JENKINS Henry Cultura da convergecircncia Satildeo Pau-lo Aleph 2009

MACHADO Elias PALACIOS marcos Um modelo hiacutebrido de pesquisa a metodologia aplicada pelo GJOL In LAGO (org) Claudia BENETTI Maacutercia Me-todologia de Pesquisa em Jornalismo Satildeo Paulo Paulus 2006

MOTA GOMES Itacircnia Maria Questotildees de Meacutetodo-na anaacutelise do telejornalismo premissas conceitos operadores de anaacutelise Revista E-Compoacutes 2007 (abril)

SCOLARI Carlos Hacer Clic Hacia una sociosemioacute-tica de las interacciones digitales Barcelona Gedi-sa 2004

VERON Eliseo Quando ler eacute fazer a enun-ciaccedilatildeo no discurso da imprensa escrita In VEROacuteN Eliseo Fragmentos de um teci-do Satildeo Leopoldo Editora Unisinos 2004

VIZEU Alfredo Telejornalismo das rotinas produti-vas agrave audiecircncia presumida In VIZEU Alfredo MOTA Ceacutelia Ladeira PORCELLO Flaacutevio Antocircnio Camargo Telejornalismo a nova praccedila puacuteblica Florianoacutepo-lis SC Insular 2006

______ Decidindo o que eacute notiacutecia os bastidores do telejornalismo [2000] Porto Alegre EDIPUCRS 2005

WOLF Mauro Teorias da Comunicaccedilatildeo Lisboa Presenccedila 1994

Notas1 Uma versatildeo deste artigo foi apresentada no 13o En-

contro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo re-alizado em Campo Grande (UFMS) em novembro de 2015

2 Jornalista Mestre em Semioacutetica Doutora em Proces-sos Midiaacuteticos professora e pesquisadora na Gradua-ccedilatildeo e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (POSJORUFSC - Campus Trindade Bloco A CCE Departamento de Jornalismo Bairro Trindade FlorianoacutepolisSC Brasil CEP 88000-000) Liacuteder do Grupo Interinstitucional de Pesquisa

em Telejornalismo (GIPTele) E-mail carlidaemerimgmailcom

3 Jornalista Doutora em Comunicaccedilatildeo professora do Curso de Jornalismo e pesquisadora no Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Comunicaccedilatildeo Social da PUCRS (PPGCOMPUCRS - Av Ipiranga 6681 Bairro Partenon Porto AlegreRS Brasil CEP 90619-900) Coordenado-ra do Grupo de Pesquisa Televisatildeo e Audiecircncia E-mail cristianefingerpucrsbr

4 Jornalista Mestre em Jornalismo Doutoranda em En-genharia e Gestatildeo do Conhecimento (UFSC) pesqui-sadora do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo (GIPTele) professora do IELUSC (Rua Princesa Isabel 438 Centro Joinville - Santa Catarina Cep 89301-270) E-mail cavenaghibeagmailcom

5 Esta discussatildeo eacute melhor realizada por Emerim (2014) e em capiacutetulo de livro do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo que estaacute no prelo

6 Os principais textos que permitem conhecer com mais vagar esta metodologia estatildeo citados especificamen-te nas referecircncias bibliograacuteficas

7 Ver por exemplo Eco (1986)

8 Ver por exemplo o trabalho de Alfredo Vizeu (2005 2006)

9 Considera-se que expressatildeo e conteuacutedo satildeo comple-mentares e indissociaacuteveis mas aqui esta divisatildeo aju-da a operacionalizar a anaacutelise

Page 4: Crédito: Shutterstockrepositorio.pucrs.br/.../2/Metodologias_de_Pesquisa_em_Telejornalis… · definido como o jornalismo produzido para e pela te-levisão. Com o avanço paulatino

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tema eletromagneacutetico telecomunicaccedilatildeo analoacutegica 1 (Dec 9705788) telecomunicaccedilatildeo de informaccedilatildeo codificada com o uso de teacutecnica analoacutegica teleco-municaccedilatildeo digital 1 (Dec 9705788) telecomunica-ccedilatildeo de informaccedilatildeo codificada com o uso de teacutecnica digital (Anatel 2017)

Ou seja se articularmos estas definiccedilotildees podemos afirmar que Tele + Jornalismo seria um jornalismo feito para ser distribuiacutedo para eou ao longe ou ainda trans-mitido para lugares distantes muito mais do que um jornalismo para ser exibido apenas numa tela de visatildeo (definiccedilatildeo mais comum do aparelho televisatildeo)

Assim numa primeira acepccedilatildeo este trabalho assu-me a perspectiva de que estudar telejornalismo eacute es-tudar um jornalismo para as telas incluindo televisatildeo computador smartphone celular tablets ou os demais dispositivos e suportes que se utilizem de uma tela de visatildeo ou de uma tela refletiva para exibir dados5 Defi-nido o escopo da proposta propotildee-se a seguir apre-sentar de forma breve as metodologias que vecircm sendo empregadas no campo dos estudos em telejornalismo cujos resultados tecircm ajudado a fortalecer e ampliar as pesquisas especiacuteficas do campo

Alguns percursos metodoloacutegicos de anaacutelise em telejornalismo

O grupo Anaacutelise em Telejornalismo da UFBA pro-potildee uma articulaccedilatildeo teoacuterica entre os cultural studies e a teoria da linguagem para compreender o que definem como os modos de endereccedilamento A saber

Modo de endereccedilamento eacute aquilo que eacute caracte-riacutestico das formas e praacuteticas comunicativas especiacute-

ficas de um programa diz respeito ao modo como um programa especiacutefico tenta estabelecer uma forma particular de relaccedilatildeo com sua audiecircncia (cf Morley amp Brunsdon 1978) A anaacutelise do modo de endereccedilamento deve nos possibilitar entender quais satildeo os formatos e as praacuteticas de recepccedilatildeo solicitadas e construiacutedas pelos telejornais (Mota Gomes 2007 p 4)

O conceito de modos de endereccedilamento tal qual afirma Mota Gomes surge nos estudos sobre a anaacute-lise fiacutelmica ligada agrave screen theory sendo aplicado agrave produccedilatildeo televisual na perspectiva de compreender a relaccedilatildeo dos textos televisivos com seus receptores A proposta metodoloacutegica do grupo Anaacutelise em Telejor-nalismo considera aspectos histoacutericos sociais ideoloacute-gicos e culturais do telejornalismo empregando ope-radores de anaacutelise que se constituem em 1) mediador 2) contexto comunicativo 3) pacto sobre o papel do jornalismo e 4) organizaccedilatildeo temaacutetica e sua relaccedilatildeo com premissas e conceitos adotados Tal proposta se funda em outros dois conceitos metodoloacutegicos opera-cionais aleacutem dos modos de endereccedilamento estrutura de sentimento advinda de Raymond Williams gecircnero televisivo advindo dos estudos do grupo a partir de Raymond Williams Martiacuten Barbero e Stuart Hall6

O grupo de Pesquisa em Jornalismo On-Line (GJOL) propotildee um modelo hiacutebrido de pesquisa cuja metodologia opera no acircmbito teoacuterico e empiacuterico e ar-ticula procedimentos qualitativos e quantitativos de forma complementar A partir dos pressupostos apre-sentados por Marcos Palacios e Elias Machado desen-volvidos desde 1995 o pesquisador atua em trecircs ma-cro-etapas

1) Revisatildeo preliminar da bibliografia acompanhada da anaacutelise de organizaccedilotildees jornaliacutesticas relaciona-das ao objeto de estudo 2) Delimitaccedilatildeo do objeto com formulaccedilatildeo das hipoacuteteses de trabalho e estu-dos de caso com pesquisa de campo (participante ou natildeo) nas organizaccedilotildees jornaliacutesticas e 3) Elabo-raccedilatildeo de categorias de anaacutelise processamento do material coletado e definiccedilatildeo conceitual sobre as particularidades dos objetos pesquisados (Macha-do e Palacios 2006 p 47)

Nesta perspectiva o GJOL assume o jornalismo como fenocircmeno e o compreende como processo sen-do possiacutevel aliar aos preceitos da investigaccedilatildeo o mes-mo percurso da produccedilatildeo tradicional em jornalismo ou seja apuraccedilatildeo produccedilatildeo circulaccedilatildeo e consumo de informaccedilotildees A perspectiva do grupo eacute que esta meto-dologia possa contemplar a revisatildeo bibliograacutefica sobre o objeto e tambeacutem possa permitir a testagem do refe-rencial conceitual em estudos de caso especiacuteficos

No Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejor-nalismo da Universidade Federal de Santa Catarina a semioacutetica discursiva tem guiado algumas das anaacutelises que pretendem compreender o telejornalismo em suas especificidades A semioacutetica discursiva se propotildee a ser uma teoria geral da significaccedilatildeo bem como uma meto-dologia operatoacuteria para a descriccedilatildeo dos discursos e das praacuteticas sociais

Estudar portanto o telejornalismo compreendido pela acepccedilatildeo semioacutetica eacute olhar para o seu modo de produccedilatildeo de sentido ou a maneira que este se cons-troacutei para provocar significaccedilotildees e interpretaccedilotildees Con-siderando-se um campo de conhecimento especiacutefico a semioacutetica quer estudar os processos de produccedilatildeo de significaccedilatildeo e sentidos organizando metodologias

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dagem natildeo indica um perfil soacutecio-demograacutefico dos po-tenciais telespectadores de um programa assim como natildeo aponta qual perfil de puacuteblico eacute imaginado pelos produtores do telejornal O conceito aplicado agrave anaacutelise relaciona-se com o telespectador que eacute configurado no texto independente da intenccedilatildeo dos produtores

Esta abordagem metodoloacutegica encontra subsiacutedios teoacutericos nos estudos literaacuterios ndash que muito antes do de-senvolvimento dos estudos das miacutedias e seus recepto-res jaacute discutiam a construccedilatildeo do destinataacuterio no discur-so7 - e tambeacutem em pesquisas realizadas jaacute no contexto televisivo8

Portanto a proposta metodoloacutegica do telespecta-dor discursivo se relaciona com os modos de dizer ou seja com as estrateacutegias discursivas operadas tanto no acircmbito do conteuacutedo quanto no aspecto expressivo No contexto da produccedilatildeo televisiva as estrateacutegias discursi-vas compreendem as escolhas relacionadas agrave estrutura-ccedilatildeo do conteuacutedo televisivo responsaacuteveis pela organiza-ccedilatildeo do ldquomodo de dizerrdquo dos programas (Duarte 2000) O percurso de anaacutelise proposto estaacute esquematizado em trecircs etapas como demonstra a Figura 1

A primeira etapa procura avaliar a relaccedilatildeo dos pro-gramas com o contexto comunicacional com a emis-sora e com a grade de programaccedilatildeo onde o programa estaacute inserido Estas categorias satildeo fundamentais para a compreensatildeo dos modos de funcionamento do pro-grama uma vez que o contexto mercadoloacutegico tem im-plicaccedilotildees diretas no resultado dos programas (Emerim 2010) Como exemplo podemos considerar dois tele-jornais locais concorrentes exibidos na mesma faixa de horaacuterio Um deles poreacutem eacute precedido na grade de pro-gramaccedilatildeo por um programa de variedades com grande audiecircncia nacional enquanto outro eacute exibido logo apoacutes um desenho animado em um canal que historicamen-

que possibilitem ldquoarticular produccedilatildeo e reconhecimen-to dos sentidos considerando os diferentes sistemas culturais e sociais em que essas instacircncias estatildeo inseri-dasrdquo (Emerim 2014 p 108) O maior desenvolvimento operacional da Semioacutetica Discursiva ocorre com Al-girdas Greimas e a Escola de Paris quando postula o discurso como foco de seus estudos sobre qualquer tipo de texto Greimas acredita que uma estrutura nar-rativa pode se manifestar em qualquer tipo de texto e estabelece trecircs niacuteveis de anaacutelise para explicar a ge-raccedilatildeo de discursos de qualquer sistema semioacutetico 1) estruturas semio-narrativas 2) estruturas discursivas e por fim 3) estruturas textuais

Assim o meacutetodo de inspiraccedilatildeo poacutes-estrutural eacute uma anaacutelise empiacuterica de caraacuteter teoacuterico-praacutetico que centra a ecircnfase no exame do niacutevel discursivo considerando a televisatildeo e seus produtos a partir de seu contexto e por isso algumas premissas me-todoloacutegicas devem ser previstas no interior da proacute-pria proposta analiacutetica (Emerim 2014 p 113)

Se cada produccedilatildeo midiaacutetica telejornaliacutestica eacute um

texto compreendendo que ele tem marcas discursivas expressas neste texto e que permitem o seu reconheci-mento a centralidade da anaacutelise no niacutevel discursivo per-mite descrever e entender o processo de significaccedilatildeo bem como para a que puacuteblico esta produccedilatildeo se desti-na Assim o meacutetodo prevecirc um percurso que descreva analise e interprete iniciando pela linguagem passan-do pelas teacutecnicas e as especificidades de sua natureza e por fim contemple a recepccedilatildeo Sem esquecer-se do contexto que parte da compreensatildeo do papel social e da funccedilatildeo que o telejornalismo exerce na sociedade contemporacircnea

A seguir apresenta-se uma proposta metodoloacutegica intitulada Anaacutelise do telespectador discursivo que ini-ciou no GIPTele com base e nos princiacutepios da semioacutetica discursiva e que estaacute em fase de potencializaccedilatildeo e am-pliaccedilatildeo

Anaacutelise do telespectador discursivoProcurando compreender os fatores que podem in-

fluenciar sucessos e fracassos de audiecircncia no contex-to do telejornalismo esta proposta manteacutem o foco no relacionamento estabelecido entre o programa e seus telespectadores por meio de contratos comunicativos Portanto esta proposta de anaacutelise dos telejornais tem como pressuposto que o programa televisivo propotildee ao telespectador um relacionamento estabelecendo regras para sua leitura Tais regras se manifestam no texto televisivo na forma de marcas discursivas como vestiacutegios das operaccedilotildees realizadas pela instacircncia de enunciaccedilatildeo que podem ser observadas e analisadas

Assim chega-se ao que propomos chamar de te-lespectador discursivo um conceito operacional que representa a configuraccedilatildeo das estrateacutegias comunicati-vas operadas no programa que sustentam o contrato estabelecido entre ele e seu puacuteblico Assume-se em concordacircncia com Fausto Neto que a instacircncia de re-cepccedilatildeo ldquoeacute construiacuteda jaacute no interior do proacuteprio processo discursivo por meio de muacuteltiplas operaccedilotildees articuladas pelos processos da proacutepria linguagemrdquo (1995 p 194) Para o autor o discurso jornaliacutestico ldquoarrumardquo o receptor em uma posiccedilatildeo conveniente para a leitura do texto e assim os telespectadores satildeo ldquocapturadosrdquo

O telespectador discursivo natildeo representa uma construccedilatildeo socioloacutegica ao contraacuterio ele eacute da ordem da virtualidade uma vez que eacute observaacutevel apenas no inte-rior do texto televisivo Em outras palavras esta abor-

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destacando a maneira como eles se movimentam em cena o tom de voz a velocidade da fala e outras ca-racteriacutesticas marcantes que possam demonstrar como tentam se relacionar com o telespectador chamar sua atenccedilatildeo ou estabelecer com ele uma afinidade No pla-no do conteuacutedo observa-se (1) os temas recorrentes (2) os quadros fixos e as seacuteries especiais exibidas no pro-grama A anaacutelise destas duas categorias parte de um levantamento quantitativo das mateacuterias exibidas para identificar possiacuteveis ldquotendecircncias temaacuteticasrdquo Por fim a categoria (3) formas de conversaccedilatildeo direta com o teles-

te apresenta baixos iacutendices de audiecircncia Mesmo que os dois telejornais tenham operaccedilotildees enunciativas mui-to parecidas o contexto comunicacional em que estatildeo inseridos teraacute impactos diferentes para o resultado de cada um deles

Na segunda etapa da anaacutelise satildeo observados os aspectos expressivos relacionados com a estrutura in-terna do telejornal e que se repetem em todas as suas ediccedilotildees Eles satildeo divididos em duas categorias (1) com-posiccedilatildeo visual incluindo elementos como vinheta e ce-naacuterio considerando o tamanho do espaccedilo as cores pre-

dominantes e os elementos de cena e (2) apresentaccedilatildeo onde satildeo observados o perfil a trajetoacuteria e a formaccedilatildeo profissional de cada um dos atores discursivos

A terceira etapa divide-se entre o plano da expres-satildeo e o do conteuacutedo9 No plano da expressatildeo obser-va-se (1) a dinacircmica visual do programa com foco no uso dos elementos que compotildeem o cenaacuterio aleacutem dos enquadramentos e movimentos de cacircmera mais fre-quentes (2) aspectos da postura da gestualidade e da verbalizaccedilatildeo dos apresentadores e de outros atores dis-cursivos (apresentadores colunistas e comentaristas)

Figura 1 Esquema das etapas de anaacuteliseFonte Cavenaghi 2013

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pectador observa o texto falado por apresentadores e repoacuterteres procurando em especial marcas do relacio-namento com o telespectador

Na experiecircncia de aplicaccedilatildeo desta metodologia de anaacutelise foi possiacutevel destacar os modos de dizer dos te-lejornais e assim observar aspectos que diferenciam cada programa ndash mesmo que sejam muito parecidos em seus formatos Cada programa opera diferentes es-trateacutegias para construir seus discursos e como conse-quecircncia construir seus contratos comunicativos com os telespectadores Quando observamos estas estrateacutegias ndash atraveacutes das categorias de anaacutelise aqui apresentadas ndash podemos inferir sobre o relacionamento proposto ao telespectador e assim sobre o perfil de telespectador discursivo configurado no texto

Telejornalismo e os indicativos para uma narrativa transmedia

A televisatildeo vive um momento de incertezas tanto pela mudanccedila da plataforma analoacutegica para digital quanto pela sua real vocaccedilatildeo frente aos pro-dutos oferecidos por outras miacutedias principalmen-te as digitais O jornalismo tambeacutem passa por um questionamento importante quanto ao papel que desempenha junto agrave sociedade que cada vez mais eacute produtora dos seus proacuteprios conteuacutedos

Todas as mudanccedilas atingem diretamente as ro-tinas de produccedilatildeo a cultura das redaccedilotildees os con-teuacutedos informativos e a distribuiccedilatildeo deles as es-trateacutegias narrativas assim como as relaccedilotildees com a audiecircncia Enquanto algumas tecnologias disponiacute-veis estatildeo em implantaccedilatildeo e outras ainda em de-senvolvimento eacute preciso projetar novos modos de atuaccedilatildeo tantos dos profissionais como dos teles-pectadores

Natildeo eacute porque existe a tecnologia que o puacuteblico vai adotaacute-la A adoccedilatildeo e o sucesso de uma tecnologia dependem de sua adequaccedilatildeo agrave demanda e agraves ex-pectativas do puacuteblico em determinado momento No caso da televisatildeo temos de pensar em quais ti-pos de interatividade vatildeo agradar o puacuteblico (Canni-to 2010 p 155)

Para o desenvolvimento do telejornalismo dentro deste contexto aleacutem das outras telas como computado-res tablets celulares e consoles de videojogos eacute preci-so pensar em novos paradigmas como afirmou Scolari (2004) a articulaccedilatildeo da TV com outras miacutedias interativas o empoderamento do telespectador a interaccedilatildeo entre emissorreceptor a interaccedilatildeo entre receptorreceptor a possibilidade de acesso a qualquer hora e lugar o uso da interatividade digital para customizar programaccedilatildeo e programas o fim das fronteiras riacutegidas entre conteuacutedo e publicidade o fim da linguagem audiovisual padratildeo da TV a adoccedilatildeo da linguagem multimiacutedia transversal inte-rativa com a colaboraccedilatildeo do usuaacuterio

Ainda segundo o autor este eacute o tempo da hipertv uma televisatildeo instalada em rede nos termos definidos por Castells (1999) conectada com outras plataformas libertando-se aos poucos da programaccedilatildeo em fluxo e lanccedilando matildeo de narrativas transmidiaacuteticas

De acordo com Jenkins (2009) a narrativa transme-dia entrou em debate puacuteblico pela primeira vez em 1999 com o lanccedilamento do filme independente A Bruxa de Blair Desde entatildeo a induacutestria do entretenimento tem aplicado estas estrateacutegias que vatildeo aleacutem de transpor um conteuacutedo de um meio para outro Trata-se da expansatildeo do produto que vai ser alterado e complementado por outros conteuacutedos ateacute mesmo pelos usuaacuterios em dife-

rentes meios e suportesOs estudos de recepccedilatildeo jaacute eram suficientemente

complexos nas chamadas miacutedias tradicionais A partir da perspectiva de que a relaccedilatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo publicos natildeo eacute direta as chamadas teorias hipodeacutermica e funcionalistas foram substituidas pelas teorias criacuteticas culturoloacutegicas e comunicativas (Wolf 1994)

Agora com as novas tecnologias haacute o empodera-mento do receptor A expectativa eacute mapear as mudanccedilas no campo da recepccedilatildeo das notiacutecias veiculadas nos tele-jornais quando acontece em outras locais (fora de casa) em outras situaccedilotildees de atenccedilatildeo (em atitude de espera ou deslocamento) com outros dispositivos e telas

Nas miacutedias tradicionais os receptores eram consi-derados muitas vezes apenas como consumidores passivos previsiacuteveis estaacuteveis e ateacute leais a algumas empresas Agora devem ser pensados como usuaacute-rios ativos migratoacuterios ou nocircmades conectados so-cialmente e por isso mesmo receptores barulhen-tos (Jenkins 2009)

Ainda no campo da recepccedilatildeo dois fenocircmenos comeccedilam a ser estudados na perspectiva tambeacutem do telejornalismo A segunda tela que eacute o uso de novos dispositivos como smartphones tablets no-tebooks entre outros de forma simultacircnea agrave pro-gramaccedilatildeo da TV Essa navegaccedilatildeo paralela permite o consumo de conteuacutedos editoriais complementares (saber mais sobre a reportagem os repoacuterteres os apresentadores as fontes o contexto outras notiacute-cias afins)

A SocialTV compartilha informaccedilotildees impres-sotildees opiniotildees com outros telespectadores atraveacutes das redes social A experiecircncia torna-se mais com-plexa e rica as pessoas fazem questatildeo de assistir tambeacutem ao vivo para acompanhar o que os outros

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

estatildeo falando sobre determinada notiacutecia O que se diz na rede repercute e muitas vezes pode interfe-rir imediatamente no conteuacutedo veiculado

Mais do que adotar uma uacutenica metodologia o que o Grupo de Pesquisa Televisatildeo e Audiecircncia tem se proposto eacute a pensar o futuro do telejornalismo sob o prisma destes novos fenocircmenos destes novos conceitos destes novos atores desta nova realidade

Consideraccedilotildees FinaisAs metodologias brevemente apresentadas nes-

te artigo podem ser aplicadas aos estudos em tele-jornalismo e aos dos produtos televisuais de modo geral O nuacutemero de publicaccedilotildees em livros artigos em revistas certificadas e da produccedilatildeo cientiacutefica em diferentes acircmbitos (graduaccedilatildeo e poacutes-gradua-ccedilatildeo) credenciam a eficaacutecia destas metodologias na anaacutelise das questotildees cruciais para o telejornalismo

A proposta do artigo foi a de apresentaacute-las e poder dividir com o campo os percursos e os pres-supostos das anaacutelises a fim de discutir suas possi-bilidades e restriccedilotildees bem como ampliar suas pro-posiccedilotildees no acircmbito do telejornalismo visando cada vez mais o fortalecimento desta aacuterea em especiacutefico como uma aacuterea fundamental para o jornalismo con-temporacircneo

Ressalta-se tambeacutem a pertinecircncia da discussatildeo sobre o termo ou o conceito de telejornalismo trazi-da pelo artigo de forma breve mas que merece uma imersatildeo mais aprofundada por parte dos estudiosos da aacuterea A proposta inaugural aqui trazida compre-ende telejornalismo como um campo especiacutefico do jornalismo que se dedica ao estudo das produccedilotildees exibidas em telas sendo elas televisatildeo tablet eacutecran do computador ou de celular com base moacutevel ou

fixa Embora se tenha jaacute um campo aberto para o telejornalismo em dispositivos moacuteveis e novas telas haacute ainda um enorme espaccedilo aberto para pesquisas que possam de fato compreender a televisatildeo e o jornalismo feito para a televisatildeo Tanto do ponto de vista histoacuterico quanto de formatos e linguagens Que diraacute dos implementos tecnoloacutegicos que foram en-formando e con-formando a produccedilatildeo em tele-jornalismo na televisatildeo aberta e fechada

Portanto natildeo se trata apenas de marcar um lu-gar de fala especiacutefico e pertinente ao telejornalis-mo nos estudos contemporacircneos do jornalismo trata-se acima de tudo de uma escolha epistemo-loacutegica de fundo que natildeo soacute caracteriza os estudos empreendidos pelos grupos aqui representados como tambeacutem aponta uma reflexatildeo geral em tor-no da natureza desta especificidade considerando as relaccedilotildees que estabelece com a sociedade e com os sujeitos Eacute uma escolha epistemoloacutegica porque aponta para o desenvolvimento de uma teoria que versa sobre um conhecimento especiacutefico que assim como a teoria do jornalismo articula-se em modos de ser e modos de fazer que determinam sua carac-teriacutestica de natureza hiacutebrida

A consistecircncia desta premissa apresenta-se pe-las metodologias aqui descritas e pelos resultados que as pesquisas da aacuterea tecircm permitido trazer para compor este campo teoacuterico especiacutefico Natildeo obs-tante reitera-se o percurso em pleno desenvolvi-mento sobre o estudo de postulados e meacutetodos de teorias e praacuteticas dos diferentes ramos dentro do telejornalismo que permitam efetivar as conclusotildees pertinentes a esta que poderemos intitular daqui a algum tempo de teoria do telejornalismo embora para os autores deste artigo jaacute eacute um campo existen-

te em plena consolidaccedilatildeoPor fim mais do que postular conclusotildees o arti-

go se propotildee a abrir o espaccedilo de discussatildeo e quer de fato convidar os pesquisadores de e sobre o Tele-jornalismo a se debruccedilarem sobre esta temaacutetica au-xiliando no desenvolvimento dos pressupostos aqui trazidos de modo democraacutetico e coletivo como forma de ampliar o debate e fortalecer o constructo teoacuterico que se almeja

Referecircncias ANATEL Glossaacuterio de Termos da Anatel Teleco-municaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwanatelgovbrlegislacaooview=faqampcatid=20ampsearch=teleco-municaC3A7C3A3o201ampfaqid=1174gt Aces-so em 5 jul 2017

CANNITO Newton A Televisatildeo Digital Interativi-dade convergecircncia e novos modelos de negoacutecios Satildeo Paulo Summus 2010

CASTELLS Manuel A sociedade em rede Satildeo Pau-lo Paz e Terra 1999

CAVENAGHI Beatriz Telejornalismo local estrateacute-gias discursivas e a configuraccedilatildeo do telespectador Florianoacutepolis Universidade Federal de Santa Catari-na 2013 153p Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Jornalis-mo do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Jornalismo

DUARTE Elizabeth Bastos Reflexotildees sobre o texto televisivo In CONGRESSO BRASILEIRO DE CIEcircNCIAS DA COMUNICACcedilAtildeO 23 Anais Manaus 2000

ECO Umberto Lector in faacutebula Satildeo Paulo Pers-

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pectiva 1986 EMERIM Caacuterlida Anaacutelise de telejornalismo uma proposta metodoloacutegica In ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM JORNALISMO 8 Anais Satildeo Luiz 2010

______ Telejornalismo e Semioacutetica Discursiva In VIZEU Alfredo MELLO Edna PORCELLO Flaacutevio COUTINHO Iluska (orgs) Telejornalismo em ques-tatildeo Florianoacutepolis Insular 2014 FAUSTO NETO Antocircnio A deflagraccedilatildeo do sentido estrateacutegias de produccedilatildeo e de captura da recepccedilatildeo In SOUZA Mauro Wilton Sujeito o lado oculto de receptor Satildeo Paulo Brasiliense 1995 GREIMAS Algirdas Julien Dicionaacuterio de Semioacutetica Satildeo Paulo Cultrix sd ______ LANDOWSKI E Anaacutelise do Discurso em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo Global 1986

JENKINS Henry Cultura da convergecircncia Satildeo Pau-lo Aleph 2009

MACHADO Elias PALACIOS marcos Um modelo hiacutebrido de pesquisa a metodologia aplicada pelo GJOL In LAGO (org) Claudia BENETTI Maacutercia Me-todologia de Pesquisa em Jornalismo Satildeo Paulo Paulus 2006

MOTA GOMES Itacircnia Maria Questotildees de Meacutetodo-na anaacutelise do telejornalismo premissas conceitos operadores de anaacutelise Revista E-Compoacutes 2007 (abril)

SCOLARI Carlos Hacer Clic Hacia una sociosemioacute-tica de las interacciones digitales Barcelona Gedi-sa 2004

VERON Eliseo Quando ler eacute fazer a enun-ciaccedilatildeo no discurso da imprensa escrita In VEROacuteN Eliseo Fragmentos de um teci-do Satildeo Leopoldo Editora Unisinos 2004

VIZEU Alfredo Telejornalismo das rotinas produti-vas agrave audiecircncia presumida In VIZEU Alfredo MOTA Ceacutelia Ladeira PORCELLO Flaacutevio Antocircnio Camargo Telejornalismo a nova praccedila puacuteblica Florianoacutepo-lis SC Insular 2006

______ Decidindo o que eacute notiacutecia os bastidores do telejornalismo [2000] Porto Alegre EDIPUCRS 2005

WOLF Mauro Teorias da Comunicaccedilatildeo Lisboa Presenccedila 1994

Notas1 Uma versatildeo deste artigo foi apresentada no 13o En-

contro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo re-alizado em Campo Grande (UFMS) em novembro de 2015

2 Jornalista Mestre em Semioacutetica Doutora em Proces-sos Midiaacuteticos professora e pesquisadora na Gradua-ccedilatildeo e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (POSJORUFSC - Campus Trindade Bloco A CCE Departamento de Jornalismo Bairro Trindade FlorianoacutepolisSC Brasil CEP 88000-000) Liacuteder do Grupo Interinstitucional de Pesquisa

em Telejornalismo (GIPTele) E-mail carlidaemerimgmailcom

3 Jornalista Doutora em Comunicaccedilatildeo professora do Curso de Jornalismo e pesquisadora no Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Comunicaccedilatildeo Social da PUCRS (PPGCOMPUCRS - Av Ipiranga 6681 Bairro Partenon Porto AlegreRS Brasil CEP 90619-900) Coordenado-ra do Grupo de Pesquisa Televisatildeo e Audiecircncia E-mail cristianefingerpucrsbr

4 Jornalista Mestre em Jornalismo Doutoranda em En-genharia e Gestatildeo do Conhecimento (UFSC) pesqui-sadora do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo (GIPTele) professora do IELUSC (Rua Princesa Isabel 438 Centro Joinville - Santa Catarina Cep 89301-270) E-mail cavenaghibeagmailcom

5 Esta discussatildeo eacute melhor realizada por Emerim (2014) e em capiacutetulo de livro do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo que estaacute no prelo

6 Os principais textos que permitem conhecer com mais vagar esta metodologia estatildeo citados especificamen-te nas referecircncias bibliograacuteficas

7 Ver por exemplo Eco (1986)

8 Ver por exemplo o trabalho de Alfredo Vizeu (2005 2006)

9 Considera-se que expressatildeo e conteuacutedo satildeo comple-mentares e indissociaacuteveis mas aqui esta divisatildeo aju-da a operacionalizar a anaacutelise

Page 5: Crédito: Shutterstockrepositorio.pucrs.br/.../2/Metodologias_de_Pesquisa_em_Telejornalis… · definido como o jornalismo produzido para e pela te-levisão. Com o avanço paulatino

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dagem natildeo indica um perfil soacutecio-demograacutefico dos po-tenciais telespectadores de um programa assim como natildeo aponta qual perfil de puacuteblico eacute imaginado pelos produtores do telejornal O conceito aplicado agrave anaacutelise relaciona-se com o telespectador que eacute configurado no texto independente da intenccedilatildeo dos produtores

Esta abordagem metodoloacutegica encontra subsiacutedios teoacutericos nos estudos literaacuterios ndash que muito antes do de-senvolvimento dos estudos das miacutedias e seus recepto-res jaacute discutiam a construccedilatildeo do destinataacuterio no discur-so7 - e tambeacutem em pesquisas realizadas jaacute no contexto televisivo8

Portanto a proposta metodoloacutegica do telespecta-dor discursivo se relaciona com os modos de dizer ou seja com as estrateacutegias discursivas operadas tanto no acircmbito do conteuacutedo quanto no aspecto expressivo No contexto da produccedilatildeo televisiva as estrateacutegias discursi-vas compreendem as escolhas relacionadas agrave estrutura-ccedilatildeo do conteuacutedo televisivo responsaacuteveis pela organiza-ccedilatildeo do ldquomodo de dizerrdquo dos programas (Duarte 2000) O percurso de anaacutelise proposto estaacute esquematizado em trecircs etapas como demonstra a Figura 1

A primeira etapa procura avaliar a relaccedilatildeo dos pro-gramas com o contexto comunicacional com a emis-sora e com a grade de programaccedilatildeo onde o programa estaacute inserido Estas categorias satildeo fundamentais para a compreensatildeo dos modos de funcionamento do pro-grama uma vez que o contexto mercadoloacutegico tem im-plicaccedilotildees diretas no resultado dos programas (Emerim 2010) Como exemplo podemos considerar dois tele-jornais locais concorrentes exibidos na mesma faixa de horaacuterio Um deles poreacutem eacute precedido na grade de pro-gramaccedilatildeo por um programa de variedades com grande audiecircncia nacional enquanto outro eacute exibido logo apoacutes um desenho animado em um canal que historicamen-

que possibilitem ldquoarticular produccedilatildeo e reconhecimen-to dos sentidos considerando os diferentes sistemas culturais e sociais em que essas instacircncias estatildeo inseri-dasrdquo (Emerim 2014 p 108) O maior desenvolvimento operacional da Semioacutetica Discursiva ocorre com Al-girdas Greimas e a Escola de Paris quando postula o discurso como foco de seus estudos sobre qualquer tipo de texto Greimas acredita que uma estrutura nar-rativa pode se manifestar em qualquer tipo de texto e estabelece trecircs niacuteveis de anaacutelise para explicar a ge-raccedilatildeo de discursos de qualquer sistema semioacutetico 1) estruturas semio-narrativas 2) estruturas discursivas e por fim 3) estruturas textuais

Assim o meacutetodo de inspiraccedilatildeo poacutes-estrutural eacute uma anaacutelise empiacuterica de caraacuteter teoacuterico-praacutetico que centra a ecircnfase no exame do niacutevel discursivo considerando a televisatildeo e seus produtos a partir de seu contexto e por isso algumas premissas me-todoloacutegicas devem ser previstas no interior da proacute-pria proposta analiacutetica (Emerim 2014 p 113)

Se cada produccedilatildeo midiaacutetica telejornaliacutestica eacute um

texto compreendendo que ele tem marcas discursivas expressas neste texto e que permitem o seu reconheci-mento a centralidade da anaacutelise no niacutevel discursivo per-mite descrever e entender o processo de significaccedilatildeo bem como para a que puacuteblico esta produccedilatildeo se desti-na Assim o meacutetodo prevecirc um percurso que descreva analise e interprete iniciando pela linguagem passan-do pelas teacutecnicas e as especificidades de sua natureza e por fim contemple a recepccedilatildeo Sem esquecer-se do contexto que parte da compreensatildeo do papel social e da funccedilatildeo que o telejornalismo exerce na sociedade contemporacircnea

A seguir apresenta-se uma proposta metodoloacutegica intitulada Anaacutelise do telespectador discursivo que ini-ciou no GIPTele com base e nos princiacutepios da semioacutetica discursiva e que estaacute em fase de potencializaccedilatildeo e am-pliaccedilatildeo

Anaacutelise do telespectador discursivoProcurando compreender os fatores que podem in-

fluenciar sucessos e fracassos de audiecircncia no contex-to do telejornalismo esta proposta manteacutem o foco no relacionamento estabelecido entre o programa e seus telespectadores por meio de contratos comunicativos Portanto esta proposta de anaacutelise dos telejornais tem como pressuposto que o programa televisivo propotildee ao telespectador um relacionamento estabelecendo regras para sua leitura Tais regras se manifestam no texto televisivo na forma de marcas discursivas como vestiacutegios das operaccedilotildees realizadas pela instacircncia de enunciaccedilatildeo que podem ser observadas e analisadas

Assim chega-se ao que propomos chamar de te-lespectador discursivo um conceito operacional que representa a configuraccedilatildeo das estrateacutegias comunicati-vas operadas no programa que sustentam o contrato estabelecido entre ele e seu puacuteblico Assume-se em concordacircncia com Fausto Neto que a instacircncia de re-cepccedilatildeo ldquoeacute construiacuteda jaacute no interior do proacuteprio processo discursivo por meio de muacuteltiplas operaccedilotildees articuladas pelos processos da proacutepria linguagemrdquo (1995 p 194) Para o autor o discurso jornaliacutestico ldquoarrumardquo o receptor em uma posiccedilatildeo conveniente para a leitura do texto e assim os telespectadores satildeo ldquocapturadosrdquo

O telespectador discursivo natildeo representa uma construccedilatildeo socioloacutegica ao contraacuterio ele eacute da ordem da virtualidade uma vez que eacute observaacutevel apenas no inte-rior do texto televisivo Em outras palavras esta abor-

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destacando a maneira como eles se movimentam em cena o tom de voz a velocidade da fala e outras ca-racteriacutesticas marcantes que possam demonstrar como tentam se relacionar com o telespectador chamar sua atenccedilatildeo ou estabelecer com ele uma afinidade No pla-no do conteuacutedo observa-se (1) os temas recorrentes (2) os quadros fixos e as seacuteries especiais exibidas no pro-grama A anaacutelise destas duas categorias parte de um levantamento quantitativo das mateacuterias exibidas para identificar possiacuteveis ldquotendecircncias temaacuteticasrdquo Por fim a categoria (3) formas de conversaccedilatildeo direta com o teles-

te apresenta baixos iacutendices de audiecircncia Mesmo que os dois telejornais tenham operaccedilotildees enunciativas mui-to parecidas o contexto comunicacional em que estatildeo inseridos teraacute impactos diferentes para o resultado de cada um deles

Na segunda etapa da anaacutelise satildeo observados os aspectos expressivos relacionados com a estrutura in-terna do telejornal e que se repetem em todas as suas ediccedilotildees Eles satildeo divididos em duas categorias (1) com-posiccedilatildeo visual incluindo elementos como vinheta e ce-naacuterio considerando o tamanho do espaccedilo as cores pre-

dominantes e os elementos de cena e (2) apresentaccedilatildeo onde satildeo observados o perfil a trajetoacuteria e a formaccedilatildeo profissional de cada um dos atores discursivos

A terceira etapa divide-se entre o plano da expres-satildeo e o do conteuacutedo9 No plano da expressatildeo obser-va-se (1) a dinacircmica visual do programa com foco no uso dos elementos que compotildeem o cenaacuterio aleacutem dos enquadramentos e movimentos de cacircmera mais fre-quentes (2) aspectos da postura da gestualidade e da verbalizaccedilatildeo dos apresentadores e de outros atores dis-cursivos (apresentadores colunistas e comentaristas)

Figura 1 Esquema das etapas de anaacuteliseFonte Cavenaghi 2013

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pectador observa o texto falado por apresentadores e repoacuterteres procurando em especial marcas do relacio-namento com o telespectador

Na experiecircncia de aplicaccedilatildeo desta metodologia de anaacutelise foi possiacutevel destacar os modos de dizer dos te-lejornais e assim observar aspectos que diferenciam cada programa ndash mesmo que sejam muito parecidos em seus formatos Cada programa opera diferentes es-trateacutegias para construir seus discursos e como conse-quecircncia construir seus contratos comunicativos com os telespectadores Quando observamos estas estrateacutegias ndash atraveacutes das categorias de anaacutelise aqui apresentadas ndash podemos inferir sobre o relacionamento proposto ao telespectador e assim sobre o perfil de telespectador discursivo configurado no texto

Telejornalismo e os indicativos para uma narrativa transmedia

A televisatildeo vive um momento de incertezas tanto pela mudanccedila da plataforma analoacutegica para digital quanto pela sua real vocaccedilatildeo frente aos pro-dutos oferecidos por outras miacutedias principalmen-te as digitais O jornalismo tambeacutem passa por um questionamento importante quanto ao papel que desempenha junto agrave sociedade que cada vez mais eacute produtora dos seus proacuteprios conteuacutedos

Todas as mudanccedilas atingem diretamente as ro-tinas de produccedilatildeo a cultura das redaccedilotildees os con-teuacutedos informativos e a distribuiccedilatildeo deles as es-trateacutegias narrativas assim como as relaccedilotildees com a audiecircncia Enquanto algumas tecnologias disponiacute-veis estatildeo em implantaccedilatildeo e outras ainda em de-senvolvimento eacute preciso projetar novos modos de atuaccedilatildeo tantos dos profissionais como dos teles-pectadores

Natildeo eacute porque existe a tecnologia que o puacuteblico vai adotaacute-la A adoccedilatildeo e o sucesso de uma tecnologia dependem de sua adequaccedilatildeo agrave demanda e agraves ex-pectativas do puacuteblico em determinado momento No caso da televisatildeo temos de pensar em quais ti-pos de interatividade vatildeo agradar o puacuteblico (Canni-to 2010 p 155)

Para o desenvolvimento do telejornalismo dentro deste contexto aleacutem das outras telas como computado-res tablets celulares e consoles de videojogos eacute preci-so pensar em novos paradigmas como afirmou Scolari (2004) a articulaccedilatildeo da TV com outras miacutedias interativas o empoderamento do telespectador a interaccedilatildeo entre emissorreceptor a interaccedilatildeo entre receptorreceptor a possibilidade de acesso a qualquer hora e lugar o uso da interatividade digital para customizar programaccedilatildeo e programas o fim das fronteiras riacutegidas entre conteuacutedo e publicidade o fim da linguagem audiovisual padratildeo da TV a adoccedilatildeo da linguagem multimiacutedia transversal inte-rativa com a colaboraccedilatildeo do usuaacuterio

Ainda segundo o autor este eacute o tempo da hipertv uma televisatildeo instalada em rede nos termos definidos por Castells (1999) conectada com outras plataformas libertando-se aos poucos da programaccedilatildeo em fluxo e lanccedilando matildeo de narrativas transmidiaacuteticas

De acordo com Jenkins (2009) a narrativa transme-dia entrou em debate puacuteblico pela primeira vez em 1999 com o lanccedilamento do filme independente A Bruxa de Blair Desde entatildeo a induacutestria do entretenimento tem aplicado estas estrateacutegias que vatildeo aleacutem de transpor um conteuacutedo de um meio para outro Trata-se da expansatildeo do produto que vai ser alterado e complementado por outros conteuacutedos ateacute mesmo pelos usuaacuterios em dife-

rentes meios e suportesOs estudos de recepccedilatildeo jaacute eram suficientemente

complexos nas chamadas miacutedias tradicionais A partir da perspectiva de que a relaccedilatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo publicos natildeo eacute direta as chamadas teorias hipodeacutermica e funcionalistas foram substituidas pelas teorias criacuteticas culturoloacutegicas e comunicativas (Wolf 1994)

Agora com as novas tecnologias haacute o empodera-mento do receptor A expectativa eacute mapear as mudanccedilas no campo da recepccedilatildeo das notiacutecias veiculadas nos tele-jornais quando acontece em outras locais (fora de casa) em outras situaccedilotildees de atenccedilatildeo (em atitude de espera ou deslocamento) com outros dispositivos e telas

Nas miacutedias tradicionais os receptores eram consi-derados muitas vezes apenas como consumidores passivos previsiacuteveis estaacuteveis e ateacute leais a algumas empresas Agora devem ser pensados como usuaacute-rios ativos migratoacuterios ou nocircmades conectados so-cialmente e por isso mesmo receptores barulhen-tos (Jenkins 2009)

Ainda no campo da recepccedilatildeo dois fenocircmenos comeccedilam a ser estudados na perspectiva tambeacutem do telejornalismo A segunda tela que eacute o uso de novos dispositivos como smartphones tablets no-tebooks entre outros de forma simultacircnea agrave pro-gramaccedilatildeo da TV Essa navegaccedilatildeo paralela permite o consumo de conteuacutedos editoriais complementares (saber mais sobre a reportagem os repoacuterteres os apresentadores as fontes o contexto outras notiacute-cias afins)

A SocialTV compartilha informaccedilotildees impres-sotildees opiniotildees com outros telespectadores atraveacutes das redes social A experiecircncia torna-se mais com-plexa e rica as pessoas fazem questatildeo de assistir tambeacutem ao vivo para acompanhar o que os outros

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estatildeo falando sobre determinada notiacutecia O que se diz na rede repercute e muitas vezes pode interfe-rir imediatamente no conteuacutedo veiculado

Mais do que adotar uma uacutenica metodologia o que o Grupo de Pesquisa Televisatildeo e Audiecircncia tem se proposto eacute a pensar o futuro do telejornalismo sob o prisma destes novos fenocircmenos destes novos conceitos destes novos atores desta nova realidade

Consideraccedilotildees FinaisAs metodologias brevemente apresentadas nes-

te artigo podem ser aplicadas aos estudos em tele-jornalismo e aos dos produtos televisuais de modo geral O nuacutemero de publicaccedilotildees em livros artigos em revistas certificadas e da produccedilatildeo cientiacutefica em diferentes acircmbitos (graduaccedilatildeo e poacutes-gradua-ccedilatildeo) credenciam a eficaacutecia destas metodologias na anaacutelise das questotildees cruciais para o telejornalismo

A proposta do artigo foi a de apresentaacute-las e poder dividir com o campo os percursos e os pres-supostos das anaacutelises a fim de discutir suas possi-bilidades e restriccedilotildees bem como ampliar suas pro-posiccedilotildees no acircmbito do telejornalismo visando cada vez mais o fortalecimento desta aacuterea em especiacutefico como uma aacuterea fundamental para o jornalismo con-temporacircneo

Ressalta-se tambeacutem a pertinecircncia da discussatildeo sobre o termo ou o conceito de telejornalismo trazi-da pelo artigo de forma breve mas que merece uma imersatildeo mais aprofundada por parte dos estudiosos da aacuterea A proposta inaugural aqui trazida compre-ende telejornalismo como um campo especiacutefico do jornalismo que se dedica ao estudo das produccedilotildees exibidas em telas sendo elas televisatildeo tablet eacutecran do computador ou de celular com base moacutevel ou

fixa Embora se tenha jaacute um campo aberto para o telejornalismo em dispositivos moacuteveis e novas telas haacute ainda um enorme espaccedilo aberto para pesquisas que possam de fato compreender a televisatildeo e o jornalismo feito para a televisatildeo Tanto do ponto de vista histoacuterico quanto de formatos e linguagens Que diraacute dos implementos tecnoloacutegicos que foram en-formando e con-formando a produccedilatildeo em tele-jornalismo na televisatildeo aberta e fechada

Portanto natildeo se trata apenas de marcar um lu-gar de fala especiacutefico e pertinente ao telejornalis-mo nos estudos contemporacircneos do jornalismo trata-se acima de tudo de uma escolha epistemo-loacutegica de fundo que natildeo soacute caracteriza os estudos empreendidos pelos grupos aqui representados como tambeacutem aponta uma reflexatildeo geral em tor-no da natureza desta especificidade considerando as relaccedilotildees que estabelece com a sociedade e com os sujeitos Eacute uma escolha epistemoloacutegica porque aponta para o desenvolvimento de uma teoria que versa sobre um conhecimento especiacutefico que assim como a teoria do jornalismo articula-se em modos de ser e modos de fazer que determinam sua carac-teriacutestica de natureza hiacutebrida

A consistecircncia desta premissa apresenta-se pe-las metodologias aqui descritas e pelos resultados que as pesquisas da aacuterea tecircm permitido trazer para compor este campo teoacuterico especiacutefico Natildeo obs-tante reitera-se o percurso em pleno desenvolvi-mento sobre o estudo de postulados e meacutetodos de teorias e praacuteticas dos diferentes ramos dentro do telejornalismo que permitam efetivar as conclusotildees pertinentes a esta que poderemos intitular daqui a algum tempo de teoria do telejornalismo embora para os autores deste artigo jaacute eacute um campo existen-

te em plena consolidaccedilatildeoPor fim mais do que postular conclusotildees o arti-

go se propotildee a abrir o espaccedilo de discussatildeo e quer de fato convidar os pesquisadores de e sobre o Tele-jornalismo a se debruccedilarem sobre esta temaacutetica au-xiliando no desenvolvimento dos pressupostos aqui trazidos de modo democraacutetico e coletivo como forma de ampliar o debate e fortalecer o constructo teoacuterico que se almeja

Referecircncias ANATEL Glossaacuterio de Termos da Anatel Teleco-municaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwanatelgovbrlegislacaooview=faqampcatid=20ampsearch=teleco-municaC3A7C3A3o201ampfaqid=1174gt Aces-so em 5 jul 2017

CANNITO Newton A Televisatildeo Digital Interativi-dade convergecircncia e novos modelos de negoacutecios Satildeo Paulo Summus 2010

CASTELLS Manuel A sociedade em rede Satildeo Pau-lo Paz e Terra 1999

CAVENAGHI Beatriz Telejornalismo local estrateacute-gias discursivas e a configuraccedilatildeo do telespectador Florianoacutepolis Universidade Federal de Santa Catari-na 2013 153p Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Jornalis-mo do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Jornalismo

DUARTE Elizabeth Bastos Reflexotildees sobre o texto televisivo In CONGRESSO BRASILEIRO DE CIEcircNCIAS DA COMUNICACcedilAtildeO 23 Anais Manaus 2000

ECO Umberto Lector in faacutebula Satildeo Paulo Pers-

PORTO ALEGRE | v 22 | n 37 | 2017| pp 02-09Sessotildees do Imaginaacuterio

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

pectiva 1986 EMERIM Caacuterlida Anaacutelise de telejornalismo uma proposta metodoloacutegica In ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM JORNALISMO 8 Anais Satildeo Luiz 2010

______ Telejornalismo e Semioacutetica Discursiva In VIZEU Alfredo MELLO Edna PORCELLO Flaacutevio COUTINHO Iluska (orgs) Telejornalismo em ques-tatildeo Florianoacutepolis Insular 2014 FAUSTO NETO Antocircnio A deflagraccedilatildeo do sentido estrateacutegias de produccedilatildeo e de captura da recepccedilatildeo In SOUZA Mauro Wilton Sujeito o lado oculto de receptor Satildeo Paulo Brasiliense 1995 GREIMAS Algirdas Julien Dicionaacuterio de Semioacutetica Satildeo Paulo Cultrix sd ______ LANDOWSKI E Anaacutelise do Discurso em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo Global 1986

JENKINS Henry Cultura da convergecircncia Satildeo Pau-lo Aleph 2009

MACHADO Elias PALACIOS marcos Um modelo hiacutebrido de pesquisa a metodologia aplicada pelo GJOL In LAGO (org) Claudia BENETTI Maacutercia Me-todologia de Pesquisa em Jornalismo Satildeo Paulo Paulus 2006

MOTA GOMES Itacircnia Maria Questotildees de Meacutetodo-na anaacutelise do telejornalismo premissas conceitos operadores de anaacutelise Revista E-Compoacutes 2007 (abril)

SCOLARI Carlos Hacer Clic Hacia una sociosemioacute-tica de las interacciones digitales Barcelona Gedi-sa 2004

VERON Eliseo Quando ler eacute fazer a enun-ciaccedilatildeo no discurso da imprensa escrita In VEROacuteN Eliseo Fragmentos de um teci-do Satildeo Leopoldo Editora Unisinos 2004

VIZEU Alfredo Telejornalismo das rotinas produti-vas agrave audiecircncia presumida In VIZEU Alfredo MOTA Ceacutelia Ladeira PORCELLO Flaacutevio Antocircnio Camargo Telejornalismo a nova praccedila puacuteblica Florianoacutepo-lis SC Insular 2006

______ Decidindo o que eacute notiacutecia os bastidores do telejornalismo [2000] Porto Alegre EDIPUCRS 2005

WOLF Mauro Teorias da Comunicaccedilatildeo Lisboa Presenccedila 1994

Notas1 Uma versatildeo deste artigo foi apresentada no 13o En-

contro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo re-alizado em Campo Grande (UFMS) em novembro de 2015

2 Jornalista Mestre em Semioacutetica Doutora em Proces-sos Midiaacuteticos professora e pesquisadora na Gradua-ccedilatildeo e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (POSJORUFSC - Campus Trindade Bloco A CCE Departamento de Jornalismo Bairro Trindade FlorianoacutepolisSC Brasil CEP 88000-000) Liacuteder do Grupo Interinstitucional de Pesquisa

em Telejornalismo (GIPTele) E-mail carlidaemerimgmailcom

3 Jornalista Doutora em Comunicaccedilatildeo professora do Curso de Jornalismo e pesquisadora no Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Comunicaccedilatildeo Social da PUCRS (PPGCOMPUCRS - Av Ipiranga 6681 Bairro Partenon Porto AlegreRS Brasil CEP 90619-900) Coordenado-ra do Grupo de Pesquisa Televisatildeo e Audiecircncia E-mail cristianefingerpucrsbr

4 Jornalista Mestre em Jornalismo Doutoranda em En-genharia e Gestatildeo do Conhecimento (UFSC) pesqui-sadora do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo (GIPTele) professora do IELUSC (Rua Princesa Isabel 438 Centro Joinville - Santa Catarina Cep 89301-270) E-mail cavenaghibeagmailcom

5 Esta discussatildeo eacute melhor realizada por Emerim (2014) e em capiacutetulo de livro do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo que estaacute no prelo

6 Os principais textos que permitem conhecer com mais vagar esta metodologia estatildeo citados especificamen-te nas referecircncias bibliograacuteficas

7 Ver por exemplo Eco (1986)

8 Ver por exemplo o trabalho de Alfredo Vizeu (2005 2006)

9 Considera-se que expressatildeo e conteuacutedo satildeo comple-mentares e indissociaacuteveis mas aqui esta divisatildeo aju-da a operacionalizar a anaacutelise

Page 6: Crédito: Shutterstockrepositorio.pucrs.br/.../2/Metodologias_de_Pesquisa_em_Telejornalis… · definido como o jornalismo produzido para e pela te-levisão. Com o avanço paulatino

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

destacando a maneira como eles se movimentam em cena o tom de voz a velocidade da fala e outras ca-racteriacutesticas marcantes que possam demonstrar como tentam se relacionar com o telespectador chamar sua atenccedilatildeo ou estabelecer com ele uma afinidade No pla-no do conteuacutedo observa-se (1) os temas recorrentes (2) os quadros fixos e as seacuteries especiais exibidas no pro-grama A anaacutelise destas duas categorias parte de um levantamento quantitativo das mateacuterias exibidas para identificar possiacuteveis ldquotendecircncias temaacuteticasrdquo Por fim a categoria (3) formas de conversaccedilatildeo direta com o teles-

te apresenta baixos iacutendices de audiecircncia Mesmo que os dois telejornais tenham operaccedilotildees enunciativas mui-to parecidas o contexto comunicacional em que estatildeo inseridos teraacute impactos diferentes para o resultado de cada um deles

Na segunda etapa da anaacutelise satildeo observados os aspectos expressivos relacionados com a estrutura in-terna do telejornal e que se repetem em todas as suas ediccedilotildees Eles satildeo divididos em duas categorias (1) com-posiccedilatildeo visual incluindo elementos como vinheta e ce-naacuterio considerando o tamanho do espaccedilo as cores pre-

dominantes e os elementos de cena e (2) apresentaccedilatildeo onde satildeo observados o perfil a trajetoacuteria e a formaccedilatildeo profissional de cada um dos atores discursivos

A terceira etapa divide-se entre o plano da expres-satildeo e o do conteuacutedo9 No plano da expressatildeo obser-va-se (1) a dinacircmica visual do programa com foco no uso dos elementos que compotildeem o cenaacuterio aleacutem dos enquadramentos e movimentos de cacircmera mais fre-quentes (2) aspectos da postura da gestualidade e da verbalizaccedilatildeo dos apresentadores e de outros atores dis-cursivos (apresentadores colunistas e comentaristas)

Figura 1 Esquema das etapas de anaacuteliseFonte Cavenaghi 2013

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

pectador observa o texto falado por apresentadores e repoacuterteres procurando em especial marcas do relacio-namento com o telespectador

Na experiecircncia de aplicaccedilatildeo desta metodologia de anaacutelise foi possiacutevel destacar os modos de dizer dos te-lejornais e assim observar aspectos que diferenciam cada programa ndash mesmo que sejam muito parecidos em seus formatos Cada programa opera diferentes es-trateacutegias para construir seus discursos e como conse-quecircncia construir seus contratos comunicativos com os telespectadores Quando observamos estas estrateacutegias ndash atraveacutes das categorias de anaacutelise aqui apresentadas ndash podemos inferir sobre o relacionamento proposto ao telespectador e assim sobre o perfil de telespectador discursivo configurado no texto

Telejornalismo e os indicativos para uma narrativa transmedia

A televisatildeo vive um momento de incertezas tanto pela mudanccedila da plataforma analoacutegica para digital quanto pela sua real vocaccedilatildeo frente aos pro-dutos oferecidos por outras miacutedias principalmen-te as digitais O jornalismo tambeacutem passa por um questionamento importante quanto ao papel que desempenha junto agrave sociedade que cada vez mais eacute produtora dos seus proacuteprios conteuacutedos

Todas as mudanccedilas atingem diretamente as ro-tinas de produccedilatildeo a cultura das redaccedilotildees os con-teuacutedos informativos e a distribuiccedilatildeo deles as es-trateacutegias narrativas assim como as relaccedilotildees com a audiecircncia Enquanto algumas tecnologias disponiacute-veis estatildeo em implantaccedilatildeo e outras ainda em de-senvolvimento eacute preciso projetar novos modos de atuaccedilatildeo tantos dos profissionais como dos teles-pectadores

Natildeo eacute porque existe a tecnologia que o puacuteblico vai adotaacute-la A adoccedilatildeo e o sucesso de uma tecnologia dependem de sua adequaccedilatildeo agrave demanda e agraves ex-pectativas do puacuteblico em determinado momento No caso da televisatildeo temos de pensar em quais ti-pos de interatividade vatildeo agradar o puacuteblico (Canni-to 2010 p 155)

Para o desenvolvimento do telejornalismo dentro deste contexto aleacutem das outras telas como computado-res tablets celulares e consoles de videojogos eacute preci-so pensar em novos paradigmas como afirmou Scolari (2004) a articulaccedilatildeo da TV com outras miacutedias interativas o empoderamento do telespectador a interaccedilatildeo entre emissorreceptor a interaccedilatildeo entre receptorreceptor a possibilidade de acesso a qualquer hora e lugar o uso da interatividade digital para customizar programaccedilatildeo e programas o fim das fronteiras riacutegidas entre conteuacutedo e publicidade o fim da linguagem audiovisual padratildeo da TV a adoccedilatildeo da linguagem multimiacutedia transversal inte-rativa com a colaboraccedilatildeo do usuaacuterio

Ainda segundo o autor este eacute o tempo da hipertv uma televisatildeo instalada em rede nos termos definidos por Castells (1999) conectada com outras plataformas libertando-se aos poucos da programaccedilatildeo em fluxo e lanccedilando matildeo de narrativas transmidiaacuteticas

De acordo com Jenkins (2009) a narrativa transme-dia entrou em debate puacuteblico pela primeira vez em 1999 com o lanccedilamento do filme independente A Bruxa de Blair Desde entatildeo a induacutestria do entretenimento tem aplicado estas estrateacutegias que vatildeo aleacutem de transpor um conteuacutedo de um meio para outro Trata-se da expansatildeo do produto que vai ser alterado e complementado por outros conteuacutedos ateacute mesmo pelos usuaacuterios em dife-

rentes meios e suportesOs estudos de recepccedilatildeo jaacute eram suficientemente

complexos nas chamadas miacutedias tradicionais A partir da perspectiva de que a relaccedilatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo publicos natildeo eacute direta as chamadas teorias hipodeacutermica e funcionalistas foram substituidas pelas teorias criacuteticas culturoloacutegicas e comunicativas (Wolf 1994)

Agora com as novas tecnologias haacute o empodera-mento do receptor A expectativa eacute mapear as mudanccedilas no campo da recepccedilatildeo das notiacutecias veiculadas nos tele-jornais quando acontece em outras locais (fora de casa) em outras situaccedilotildees de atenccedilatildeo (em atitude de espera ou deslocamento) com outros dispositivos e telas

Nas miacutedias tradicionais os receptores eram consi-derados muitas vezes apenas como consumidores passivos previsiacuteveis estaacuteveis e ateacute leais a algumas empresas Agora devem ser pensados como usuaacute-rios ativos migratoacuterios ou nocircmades conectados so-cialmente e por isso mesmo receptores barulhen-tos (Jenkins 2009)

Ainda no campo da recepccedilatildeo dois fenocircmenos comeccedilam a ser estudados na perspectiva tambeacutem do telejornalismo A segunda tela que eacute o uso de novos dispositivos como smartphones tablets no-tebooks entre outros de forma simultacircnea agrave pro-gramaccedilatildeo da TV Essa navegaccedilatildeo paralela permite o consumo de conteuacutedos editoriais complementares (saber mais sobre a reportagem os repoacuterteres os apresentadores as fontes o contexto outras notiacute-cias afins)

A SocialTV compartilha informaccedilotildees impres-sotildees opiniotildees com outros telespectadores atraveacutes das redes social A experiecircncia torna-se mais com-plexa e rica as pessoas fazem questatildeo de assistir tambeacutem ao vivo para acompanhar o que os outros

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

estatildeo falando sobre determinada notiacutecia O que se diz na rede repercute e muitas vezes pode interfe-rir imediatamente no conteuacutedo veiculado

Mais do que adotar uma uacutenica metodologia o que o Grupo de Pesquisa Televisatildeo e Audiecircncia tem se proposto eacute a pensar o futuro do telejornalismo sob o prisma destes novos fenocircmenos destes novos conceitos destes novos atores desta nova realidade

Consideraccedilotildees FinaisAs metodologias brevemente apresentadas nes-

te artigo podem ser aplicadas aos estudos em tele-jornalismo e aos dos produtos televisuais de modo geral O nuacutemero de publicaccedilotildees em livros artigos em revistas certificadas e da produccedilatildeo cientiacutefica em diferentes acircmbitos (graduaccedilatildeo e poacutes-gradua-ccedilatildeo) credenciam a eficaacutecia destas metodologias na anaacutelise das questotildees cruciais para o telejornalismo

A proposta do artigo foi a de apresentaacute-las e poder dividir com o campo os percursos e os pres-supostos das anaacutelises a fim de discutir suas possi-bilidades e restriccedilotildees bem como ampliar suas pro-posiccedilotildees no acircmbito do telejornalismo visando cada vez mais o fortalecimento desta aacuterea em especiacutefico como uma aacuterea fundamental para o jornalismo con-temporacircneo

Ressalta-se tambeacutem a pertinecircncia da discussatildeo sobre o termo ou o conceito de telejornalismo trazi-da pelo artigo de forma breve mas que merece uma imersatildeo mais aprofundada por parte dos estudiosos da aacuterea A proposta inaugural aqui trazida compre-ende telejornalismo como um campo especiacutefico do jornalismo que se dedica ao estudo das produccedilotildees exibidas em telas sendo elas televisatildeo tablet eacutecran do computador ou de celular com base moacutevel ou

fixa Embora se tenha jaacute um campo aberto para o telejornalismo em dispositivos moacuteveis e novas telas haacute ainda um enorme espaccedilo aberto para pesquisas que possam de fato compreender a televisatildeo e o jornalismo feito para a televisatildeo Tanto do ponto de vista histoacuterico quanto de formatos e linguagens Que diraacute dos implementos tecnoloacutegicos que foram en-formando e con-formando a produccedilatildeo em tele-jornalismo na televisatildeo aberta e fechada

Portanto natildeo se trata apenas de marcar um lu-gar de fala especiacutefico e pertinente ao telejornalis-mo nos estudos contemporacircneos do jornalismo trata-se acima de tudo de uma escolha epistemo-loacutegica de fundo que natildeo soacute caracteriza os estudos empreendidos pelos grupos aqui representados como tambeacutem aponta uma reflexatildeo geral em tor-no da natureza desta especificidade considerando as relaccedilotildees que estabelece com a sociedade e com os sujeitos Eacute uma escolha epistemoloacutegica porque aponta para o desenvolvimento de uma teoria que versa sobre um conhecimento especiacutefico que assim como a teoria do jornalismo articula-se em modos de ser e modos de fazer que determinam sua carac-teriacutestica de natureza hiacutebrida

A consistecircncia desta premissa apresenta-se pe-las metodologias aqui descritas e pelos resultados que as pesquisas da aacuterea tecircm permitido trazer para compor este campo teoacuterico especiacutefico Natildeo obs-tante reitera-se o percurso em pleno desenvolvi-mento sobre o estudo de postulados e meacutetodos de teorias e praacuteticas dos diferentes ramos dentro do telejornalismo que permitam efetivar as conclusotildees pertinentes a esta que poderemos intitular daqui a algum tempo de teoria do telejornalismo embora para os autores deste artigo jaacute eacute um campo existen-

te em plena consolidaccedilatildeoPor fim mais do que postular conclusotildees o arti-

go se propotildee a abrir o espaccedilo de discussatildeo e quer de fato convidar os pesquisadores de e sobre o Tele-jornalismo a se debruccedilarem sobre esta temaacutetica au-xiliando no desenvolvimento dos pressupostos aqui trazidos de modo democraacutetico e coletivo como forma de ampliar o debate e fortalecer o constructo teoacuterico que se almeja

Referecircncias ANATEL Glossaacuterio de Termos da Anatel Teleco-municaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwanatelgovbrlegislacaooview=faqampcatid=20ampsearch=teleco-municaC3A7C3A3o201ampfaqid=1174gt Aces-so em 5 jul 2017

CANNITO Newton A Televisatildeo Digital Interativi-dade convergecircncia e novos modelos de negoacutecios Satildeo Paulo Summus 2010

CASTELLS Manuel A sociedade em rede Satildeo Pau-lo Paz e Terra 1999

CAVENAGHI Beatriz Telejornalismo local estrateacute-gias discursivas e a configuraccedilatildeo do telespectador Florianoacutepolis Universidade Federal de Santa Catari-na 2013 153p Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Jornalis-mo do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Jornalismo

DUARTE Elizabeth Bastos Reflexotildees sobre o texto televisivo In CONGRESSO BRASILEIRO DE CIEcircNCIAS DA COMUNICACcedilAtildeO 23 Anais Manaus 2000

ECO Umberto Lector in faacutebula Satildeo Paulo Pers-

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

pectiva 1986 EMERIM Caacuterlida Anaacutelise de telejornalismo uma proposta metodoloacutegica In ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM JORNALISMO 8 Anais Satildeo Luiz 2010

______ Telejornalismo e Semioacutetica Discursiva In VIZEU Alfredo MELLO Edna PORCELLO Flaacutevio COUTINHO Iluska (orgs) Telejornalismo em ques-tatildeo Florianoacutepolis Insular 2014 FAUSTO NETO Antocircnio A deflagraccedilatildeo do sentido estrateacutegias de produccedilatildeo e de captura da recepccedilatildeo In SOUZA Mauro Wilton Sujeito o lado oculto de receptor Satildeo Paulo Brasiliense 1995 GREIMAS Algirdas Julien Dicionaacuterio de Semioacutetica Satildeo Paulo Cultrix sd ______ LANDOWSKI E Anaacutelise do Discurso em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo Global 1986

JENKINS Henry Cultura da convergecircncia Satildeo Pau-lo Aleph 2009

MACHADO Elias PALACIOS marcos Um modelo hiacutebrido de pesquisa a metodologia aplicada pelo GJOL In LAGO (org) Claudia BENETTI Maacutercia Me-todologia de Pesquisa em Jornalismo Satildeo Paulo Paulus 2006

MOTA GOMES Itacircnia Maria Questotildees de Meacutetodo-na anaacutelise do telejornalismo premissas conceitos operadores de anaacutelise Revista E-Compoacutes 2007 (abril)

SCOLARI Carlos Hacer Clic Hacia una sociosemioacute-tica de las interacciones digitales Barcelona Gedi-sa 2004

VERON Eliseo Quando ler eacute fazer a enun-ciaccedilatildeo no discurso da imprensa escrita In VEROacuteN Eliseo Fragmentos de um teci-do Satildeo Leopoldo Editora Unisinos 2004

VIZEU Alfredo Telejornalismo das rotinas produti-vas agrave audiecircncia presumida In VIZEU Alfredo MOTA Ceacutelia Ladeira PORCELLO Flaacutevio Antocircnio Camargo Telejornalismo a nova praccedila puacuteblica Florianoacutepo-lis SC Insular 2006

______ Decidindo o que eacute notiacutecia os bastidores do telejornalismo [2000] Porto Alegre EDIPUCRS 2005

WOLF Mauro Teorias da Comunicaccedilatildeo Lisboa Presenccedila 1994

Notas1 Uma versatildeo deste artigo foi apresentada no 13o En-

contro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo re-alizado em Campo Grande (UFMS) em novembro de 2015

2 Jornalista Mestre em Semioacutetica Doutora em Proces-sos Midiaacuteticos professora e pesquisadora na Gradua-ccedilatildeo e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (POSJORUFSC - Campus Trindade Bloco A CCE Departamento de Jornalismo Bairro Trindade FlorianoacutepolisSC Brasil CEP 88000-000) Liacuteder do Grupo Interinstitucional de Pesquisa

em Telejornalismo (GIPTele) E-mail carlidaemerimgmailcom

3 Jornalista Doutora em Comunicaccedilatildeo professora do Curso de Jornalismo e pesquisadora no Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Comunicaccedilatildeo Social da PUCRS (PPGCOMPUCRS - Av Ipiranga 6681 Bairro Partenon Porto AlegreRS Brasil CEP 90619-900) Coordenado-ra do Grupo de Pesquisa Televisatildeo e Audiecircncia E-mail cristianefingerpucrsbr

4 Jornalista Mestre em Jornalismo Doutoranda em En-genharia e Gestatildeo do Conhecimento (UFSC) pesqui-sadora do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo (GIPTele) professora do IELUSC (Rua Princesa Isabel 438 Centro Joinville - Santa Catarina Cep 89301-270) E-mail cavenaghibeagmailcom

5 Esta discussatildeo eacute melhor realizada por Emerim (2014) e em capiacutetulo de livro do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo que estaacute no prelo

6 Os principais textos que permitem conhecer com mais vagar esta metodologia estatildeo citados especificamen-te nas referecircncias bibliograacuteficas

7 Ver por exemplo Eco (1986)

8 Ver por exemplo o trabalho de Alfredo Vizeu (2005 2006)

9 Considera-se que expressatildeo e conteuacutedo satildeo comple-mentares e indissociaacuteveis mas aqui esta divisatildeo aju-da a operacionalizar a anaacutelise

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

pectador observa o texto falado por apresentadores e repoacuterteres procurando em especial marcas do relacio-namento com o telespectador

Na experiecircncia de aplicaccedilatildeo desta metodologia de anaacutelise foi possiacutevel destacar os modos de dizer dos te-lejornais e assim observar aspectos que diferenciam cada programa ndash mesmo que sejam muito parecidos em seus formatos Cada programa opera diferentes es-trateacutegias para construir seus discursos e como conse-quecircncia construir seus contratos comunicativos com os telespectadores Quando observamos estas estrateacutegias ndash atraveacutes das categorias de anaacutelise aqui apresentadas ndash podemos inferir sobre o relacionamento proposto ao telespectador e assim sobre o perfil de telespectador discursivo configurado no texto

Telejornalismo e os indicativos para uma narrativa transmedia

A televisatildeo vive um momento de incertezas tanto pela mudanccedila da plataforma analoacutegica para digital quanto pela sua real vocaccedilatildeo frente aos pro-dutos oferecidos por outras miacutedias principalmen-te as digitais O jornalismo tambeacutem passa por um questionamento importante quanto ao papel que desempenha junto agrave sociedade que cada vez mais eacute produtora dos seus proacuteprios conteuacutedos

Todas as mudanccedilas atingem diretamente as ro-tinas de produccedilatildeo a cultura das redaccedilotildees os con-teuacutedos informativos e a distribuiccedilatildeo deles as es-trateacutegias narrativas assim como as relaccedilotildees com a audiecircncia Enquanto algumas tecnologias disponiacute-veis estatildeo em implantaccedilatildeo e outras ainda em de-senvolvimento eacute preciso projetar novos modos de atuaccedilatildeo tantos dos profissionais como dos teles-pectadores

Natildeo eacute porque existe a tecnologia que o puacuteblico vai adotaacute-la A adoccedilatildeo e o sucesso de uma tecnologia dependem de sua adequaccedilatildeo agrave demanda e agraves ex-pectativas do puacuteblico em determinado momento No caso da televisatildeo temos de pensar em quais ti-pos de interatividade vatildeo agradar o puacuteblico (Canni-to 2010 p 155)

Para o desenvolvimento do telejornalismo dentro deste contexto aleacutem das outras telas como computado-res tablets celulares e consoles de videojogos eacute preci-so pensar em novos paradigmas como afirmou Scolari (2004) a articulaccedilatildeo da TV com outras miacutedias interativas o empoderamento do telespectador a interaccedilatildeo entre emissorreceptor a interaccedilatildeo entre receptorreceptor a possibilidade de acesso a qualquer hora e lugar o uso da interatividade digital para customizar programaccedilatildeo e programas o fim das fronteiras riacutegidas entre conteuacutedo e publicidade o fim da linguagem audiovisual padratildeo da TV a adoccedilatildeo da linguagem multimiacutedia transversal inte-rativa com a colaboraccedilatildeo do usuaacuterio

Ainda segundo o autor este eacute o tempo da hipertv uma televisatildeo instalada em rede nos termos definidos por Castells (1999) conectada com outras plataformas libertando-se aos poucos da programaccedilatildeo em fluxo e lanccedilando matildeo de narrativas transmidiaacuteticas

De acordo com Jenkins (2009) a narrativa transme-dia entrou em debate puacuteblico pela primeira vez em 1999 com o lanccedilamento do filme independente A Bruxa de Blair Desde entatildeo a induacutestria do entretenimento tem aplicado estas estrateacutegias que vatildeo aleacutem de transpor um conteuacutedo de um meio para outro Trata-se da expansatildeo do produto que vai ser alterado e complementado por outros conteuacutedos ateacute mesmo pelos usuaacuterios em dife-

rentes meios e suportesOs estudos de recepccedilatildeo jaacute eram suficientemente

complexos nas chamadas miacutedias tradicionais A partir da perspectiva de que a relaccedilatildeo dos meios de comunicaccedilatildeo publicos natildeo eacute direta as chamadas teorias hipodeacutermica e funcionalistas foram substituidas pelas teorias criacuteticas culturoloacutegicas e comunicativas (Wolf 1994)

Agora com as novas tecnologias haacute o empodera-mento do receptor A expectativa eacute mapear as mudanccedilas no campo da recepccedilatildeo das notiacutecias veiculadas nos tele-jornais quando acontece em outras locais (fora de casa) em outras situaccedilotildees de atenccedilatildeo (em atitude de espera ou deslocamento) com outros dispositivos e telas

Nas miacutedias tradicionais os receptores eram consi-derados muitas vezes apenas como consumidores passivos previsiacuteveis estaacuteveis e ateacute leais a algumas empresas Agora devem ser pensados como usuaacute-rios ativos migratoacuterios ou nocircmades conectados so-cialmente e por isso mesmo receptores barulhen-tos (Jenkins 2009)

Ainda no campo da recepccedilatildeo dois fenocircmenos comeccedilam a ser estudados na perspectiva tambeacutem do telejornalismo A segunda tela que eacute o uso de novos dispositivos como smartphones tablets no-tebooks entre outros de forma simultacircnea agrave pro-gramaccedilatildeo da TV Essa navegaccedilatildeo paralela permite o consumo de conteuacutedos editoriais complementares (saber mais sobre a reportagem os repoacuterteres os apresentadores as fontes o contexto outras notiacute-cias afins)

A SocialTV compartilha informaccedilotildees impres-sotildees opiniotildees com outros telespectadores atraveacutes das redes social A experiecircncia torna-se mais com-plexa e rica as pessoas fazem questatildeo de assistir tambeacutem ao vivo para acompanhar o que os outros

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

estatildeo falando sobre determinada notiacutecia O que se diz na rede repercute e muitas vezes pode interfe-rir imediatamente no conteuacutedo veiculado

Mais do que adotar uma uacutenica metodologia o que o Grupo de Pesquisa Televisatildeo e Audiecircncia tem se proposto eacute a pensar o futuro do telejornalismo sob o prisma destes novos fenocircmenos destes novos conceitos destes novos atores desta nova realidade

Consideraccedilotildees FinaisAs metodologias brevemente apresentadas nes-

te artigo podem ser aplicadas aos estudos em tele-jornalismo e aos dos produtos televisuais de modo geral O nuacutemero de publicaccedilotildees em livros artigos em revistas certificadas e da produccedilatildeo cientiacutefica em diferentes acircmbitos (graduaccedilatildeo e poacutes-gradua-ccedilatildeo) credenciam a eficaacutecia destas metodologias na anaacutelise das questotildees cruciais para o telejornalismo

A proposta do artigo foi a de apresentaacute-las e poder dividir com o campo os percursos e os pres-supostos das anaacutelises a fim de discutir suas possi-bilidades e restriccedilotildees bem como ampliar suas pro-posiccedilotildees no acircmbito do telejornalismo visando cada vez mais o fortalecimento desta aacuterea em especiacutefico como uma aacuterea fundamental para o jornalismo con-temporacircneo

Ressalta-se tambeacutem a pertinecircncia da discussatildeo sobre o termo ou o conceito de telejornalismo trazi-da pelo artigo de forma breve mas que merece uma imersatildeo mais aprofundada por parte dos estudiosos da aacuterea A proposta inaugural aqui trazida compre-ende telejornalismo como um campo especiacutefico do jornalismo que se dedica ao estudo das produccedilotildees exibidas em telas sendo elas televisatildeo tablet eacutecran do computador ou de celular com base moacutevel ou

fixa Embora se tenha jaacute um campo aberto para o telejornalismo em dispositivos moacuteveis e novas telas haacute ainda um enorme espaccedilo aberto para pesquisas que possam de fato compreender a televisatildeo e o jornalismo feito para a televisatildeo Tanto do ponto de vista histoacuterico quanto de formatos e linguagens Que diraacute dos implementos tecnoloacutegicos que foram en-formando e con-formando a produccedilatildeo em tele-jornalismo na televisatildeo aberta e fechada

Portanto natildeo se trata apenas de marcar um lu-gar de fala especiacutefico e pertinente ao telejornalis-mo nos estudos contemporacircneos do jornalismo trata-se acima de tudo de uma escolha epistemo-loacutegica de fundo que natildeo soacute caracteriza os estudos empreendidos pelos grupos aqui representados como tambeacutem aponta uma reflexatildeo geral em tor-no da natureza desta especificidade considerando as relaccedilotildees que estabelece com a sociedade e com os sujeitos Eacute uma escolha epistemoloacutegica porque aponta para o desenvolvimento de uma teoria que versa sobre um conhecimento especiacutefico que assim como a teoria do jornalismo articula-se em modos de ser e modos de fazer que determinam sua carac-teriacutestica de natureza hiacutebrida

A consistecircncia desta premissa apresenta-se pe-las metodologias aqui descritas e pelos resultados que as pesquisas da aacuterea tecircm permitido trazer para compor este campo teoacuterico especiacutefico Natildeo obs-tante reitera-se o percurso em pleno desenvolvi-mento sobre o estudo de postulados e meacutetodos de teorias e praacuteticas dos diferentes ramos dentro do telejornalismo que permitam efetivar as conclusotildees pertinentes a esta que poderemos intitular daqui a algum tempo de teoria do telejornalismo embora para os autores deste artigo jaacute eacute um campo existen-

te em plena consolidaccedilatildeoPor fim mais do que postular conclusotildees o arti-

go se propotildee a abrir o espaccedilo de discussatildeo e quer de fato convidar os pesquisadores de e sobre o Tele-jornalismo a se debruccedilarem sobre esta temaacutetica au-xiliando no desenvolvimento dos pressupostos aqui trazidos de modo democraacutetico e coletivo como forma de ampliar o debate e fortalecer o constructo teoacuterico que se almeja

Referecircncias ANATEL Glossaacuterio de Termos da Anatel Teleco-municaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwanatelgovbrlegislacaooview=faqampcatid=20ampsearch=teleco-municaC3A7C3A3o201ampfaqid=1174gt Aces-so em 5 jul 2017

CANNITO Newton A Televisatildeo Digital Interativi-dade convergecircncia e novos modelos de negoacutecios Satildeo Paulo Summus 2010

CASTELLS Manuel A sociedade em rede Satildeo Pau-lo Paz e Terra 1999

CAVENAGHI Beatriz Telejornalismo local estrateacute-gias discursivas e a configuraccedilatildeo do telespectador Florianoacutepolis Universidade Federal de Santa Catari-na 2013 153p Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Jornalis-mo do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Jornalismo

DUARTE Elizabeth Bastos Reflexotildees sobre o texto televisivo In CONGRESSO BRASILEIRO DE CIEcircNCIAS DA COMUNICACcedilAtildeO 23 Anais Manaus 2000

ECO Umberto Lector in faacutebula Satildeo Paulo Pers-

PORTO ALEGRE | v 22 | n 37 | 2017| pp 02-09Sessotildees do Imaginaacuterio

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

pectiva 1986 EMERIM Caacuterlida Anaacutelise de telejornalismo uma proposta metodoloacutegica In ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM JORNALISMO 8 Anais Satildeo Luiz 2010

______ Telejornalismo e Semioacutetica Discursiva In VIZEU Alfredo MELLO Edna PORCELLO Flaacutevio COUTINHO Iluska (orgs) Telejornalismo em ques-tatildeo Florianoacutepolis Insular 2014 FAUSTO NETO Antocircnio A deflagraccedilatildeo do sentido estrateacutegias de produccedilatildeo e de captura da recepccedilatildeo In SOUZA Mauro Wilton Sujeito o lado oculto de receptor Satildeo Paulo Brasiliense 1995 GREIMAS Algirdas Julien Dicionaacuterio de Semioacutetica Satildeo Paulo Cultrix sd ______ LANDOWSKI E Anaacutelise do Discurso em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo Global 1986

JENKINS Henry Cultura da convergecircncia Satildeo Pau-lo Aleph 2009

MACHADO Elias PALACIOS marcos Um modelo hiacutebrido de pesquisa a metodologia aplicada pelo GJOL In LAGO (org) Claudia BENETTI Maacutercia Me-todologia de Pesquisa em Jornalismo Satildeo Paulo Paulus 2006

MOTA GOMES Itacircnia Maria Questotildees de Meacutetodo-na anaacutelise do telejornalismo premissas conceitos operadores de anaacutelise Revista E-Compoacutes 2007 (abril)

SCOLARI Carlos Hacer Clic Hacia una sociosemioacute-tica de las interacciones digitales Barcelona Gedi-sa 2004

VERON Eliseo Quando ler eacute fazer a enun-ciaccedilatildeo no discurso da imprensa escrita In VEROacuteN Eliseo Fragmentos de um teci-do Satildeo Leopoldo Editora Unisinos 2004

VIZEU Alfredo Telejornalismo das rotinas produti-vas agrave audiecircncia presumida In VIZEU Alfredo MOTA Ceacutelia Ladeira PORCELLO Flaacutevio Antocircnio Camargo Telejornalismo a nova praccedila puacuteblica Florianoacutepo-lis SC Insular 2006

______ Decidindo o que eacute notiacutecia os bastidores do telejornalismo [2000] Porto Alegre EDIPUCRS 2005

WOLF Mauro Teorias da Comunicaccedilatildeo Lisboa Presenccedila 1994

Notas1 Uma versatildeo deste artigo foi apresentada no 13o En-

contro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo re-alizado em Campo Grande (UFMS) em novembro de 2015

2 Jornalista Mestre em Semioacutetica Doutora em Proces-sos Midiaacuteticos professora e pesquisadora na Gradua-ccedilatildeo e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (POSJORUFSC - Campus Trindade Bloco A CCE Departamento de Jornalismo Bairro Trindade FlorianoacutepolisSC Brasil CEP 88000-000) Liacuteder do Grupo Interinstitucional de Pesquisa

em Telejornalismo (GIPTele) E-mail carlidaemerimgmailcom

3 Jornalista Doutora em Comunicaccedilatildeo professora do Curso de Jornalismo e pesquisadora no Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Comunicaccedilatildeo Social da PUCRS (PPGCOMPUCRS - Av Ipiranga 6681 Bairro Partenon Porto AlegreRS Brasil CEP 90619-900) Coordenado-ra do Grupo de Pesquisa Televisatildeo e Audiecircncia E-mail cristianefingerpucrsbr

4 Jornalista Mestre em Jornalismo Doutoranda em En-genharia e Gestatildeo do Conhecimento (UFSC) pesqui-sadora do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo (GIPTele) professora do IELUSC (Rua Princesa Isabel 438 Centro Joinville - Santa Catarina Cep 89301-270) E-mail cavenaghibeagmailcom

5 Esta discussatildeo eacute melhor realizada por Emerim (2014) e em capiacutetulo de livro do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo que estaacute no prelo

6 Os principais textos que permitem conhecer com mais vagar esta metodologia estatildeo citados especificamen-te nas referecircncias bibliograacuteficas

7 Ver por exemplo Eco (1986)

8 Ver por exemplo o trabalho de Alfredo Vizeu (2005 2006)

9 Considera-se que expressatildeo e conteuacutedo satildeo comple-mentares e indissociaacuteveis mas aqui esta divisatildeo aju-da a operacionalizar a anaacutelise

Page 8: Crédito: Shutterstockrepositorio.pucrs.br/.../2/Metodologias_de_Pesquisa_em_Telejornalis… · definido como o jornalismo produzido para e pela te-levisão. Com o avanço paulatino

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

estatildeo falando sobre determinada notiacutecia O que se diz na rede repercute e muitas vezes pode interfe-rir imediatamente no conteuacutedo veiculado

Mais do que adotar uma uacutenica metodologia o que o Grupo de Pesquisa Televisatildeo e Audiecircncia tem se proposto eacute a pensar o futuro do telejornalismo sob o prisma destes novos fenocircmenos destes novos conceitos destes novos atores desta nova realidade

Consideraccedilotildees FinaisAs metodologias brevemente apresentadas nes-

te artigo podem ser aplicadas aos estudos em tele-jornalismo e aos dos produtos televisuais de modo geral O nuacutemero de publicaccedilotildees em livros artigos em revistas certificadas e da produccedilatildeo cientiacutefica em diferentes acircmbitos (graduaccedilatildeo e poacutes-gradua-ccedilatildeo) credenciam a eficaacutecia destas metodologias na anaacutelise das questotildees cruciais para o telejornalismo

A proposta do artigo foi a de apresentaacute-las e poder dividir com o campo os percursos e os pres-supostos das anaacutelises a fim de discutir suas possi-bilidades e restriccedilotildees bem como ampliar suas pro-posiccedilotildees no acircmbito do telejornalismo visando cada vez mais o fortalecimento desta aacuterea em especiacutefico como uma aacuterea fundamental para o jornalismo con-temporacircneo

Ressalta-se tambeacutem a pertinecircncia da discussatildeo sobre o termo ou o conceito de telejornalismo trazi-da pelo artigo de forma breve mas que merece uma imersatildeo mais aprofundada por parte dos estudiosos da aacuterea A proposta inaugural aqui trazida compre-ende telejornalismo como um campo especiacutefico do jornalismo que se dedica ao estudo das produccedilotildees exibidas em telas sendo elas televisatildeo tablet eacutecran do computador ou de celular com base moacutevel ou

fixa Embora se tenha jaacute um campo aberto para o telejornalismo em dispositivos moacuteveis e novas telas haacute ainda um enorme espaccedilo aberto para pesquisas que possam de fato compreender a televisatildeo e o jornalismo feito para a televisatildeo Tanto do ponto de vista histoacuterico quanto de formatos e linguagens Que diraacute dos implementos tecnoloacutegicos que foram en-formando e con-formando a produccedilatildeo em tele-jornalismo na televisatildeo aberta e fechada

Portanto natildeo se trata apenas de marcar um lu-gar de fala especiacutefico e pertinente ao telejornalis-mo nos estudos contemporacircneos do jornalismo trata-se acima de tudo de uma escolha epistemo-loacutegica de fundo que natildeo soacute caracteriza os estudos empreendidos pelos grupos aqui representados como tambeacutem aponta uma reflexatildeo geral em tor-no da natureza desta especificidade considerando as relaccedilotildees que estabelece com a sociedade e com os sujeitos Eacute uma escolha epistemoloacutegica porque aponta para o desenvolvimento de uma teoria que versa sobre um conhecimento especiacutefico que assim como a teoria do jornalismo articula-se em modos de ser e modos de fazer que determinam sua carac-teriacutestica de natureza hiacutebrida

A consistecircncia desta premissa apresenta-se pe-las metodologias aqui descritas e pelos resultados que as pesquisas da aacuterea tecircm permitido trazer para compor este campo teoacuterico especiacutefico Natildeo obs-tante reitera-se o percurso em pleno desenvolvi-mento sobre o estudo de postulados e meacutetodos de teorias e praacuteticas dos diferentes ramos dentro do telejornalismo que permitam efetivar as conclusotildees pertinentes a esta que poderemos intitular daqui a algum tempo de teoria do telejornalismo embora para os autores deste artigo jaacute eacute um campo existen-

te em plena consolidaccedilatildeoPor fim mais do que postular conclusotildees o arti-

go se propotildee a abrir o espaccedilo de discussatildeo e quer de fato convidar os pesquisadores de e sobre o Tele-jornalismo a se debruccedilarem sobre esta temaacutetica au-xiliando no desenvolvimento dos pressupostos aqui trazidos de modo democraacutetico e coletivo como forma de ampliar o debate e fortalecer o constructo teoacuterico que se almeja

Referecircncias ANATEL Glossaacuterio de Termos da Anatel Teleco-municaccedilatildeo Disponiacutevel em lthttpwwwanatelgovbrlegislacaooview=faqampcatid=20ampsearch=teleco-municaC3A7C3A3o201ampfaqid=1174gt Aces-so em 5 jul 2017

CANNITO Newton A Televisatildeo Digital Interativi-dade convergecircncia e novos modelos de negoacutecios Satildeo Paulo Summus 2010

CASTELLS Manuel A sociedade em rede Satildeo Pau-lo Paz e Terra 1999

CAVENAGHI Beatriz Telejornalismo local estrateacute-gias discursivas e a configuraccedilatildeo do telespectador Florianoacutepolis Universidade Federal de Santa Catari-na 2013 153p Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Jornalis-mo do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Jornalismo

DUARTE Elizabeth Bastos Reflexotildees sobre o texto televisivo In CONGRESSO BRASILEIRO DE CIEcircNCIAS DA COMUNICACcedilAtildeO 23 Anais Manaus 2000

ECO Umberto Lector in faacutebula Satildeo Paulo Pers-

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

pectiva 1986 EMERIM Caacuterlida Anaacutelise de telejornalismo uma proposta metodoloacutegica In ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM JORNALISMO 8 Anais Satildeo Luiz 2010

______ Telejornalismo e Semioacutetica Discursiva In VIZEU Alfredo MELLO Edna PORCELLO Flaacutevio COUTINHO Iluska (orgs) Telejornalismo em ques-tatildeo Florianoacutepolis Insular 2014 FAUSTO NETO Antocircnio A deflagraccedilatildeo do sentido estrateacutegias de produccedilatildeo e de captura da recepccedilatildeo In SOUZA Mauro Wilton Sujeito o lado oculto de receptor Satildeo Paulo Brasiliense 1995 GREIMAS Algirdas Julien Dicionaacuterio de Semioacutetica Satildeo Paulo Cultrix sd ______ LANDOWSKI E Anaacutelise do Discurso em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo Global 1986

JENKINS Henry Cultura da convergecircncia Satildeo Pau-lo Aleph 2009

MACHADO Elias PALACIOS marcos Um modelo hiacutebrido de pesquisa a metodologia aplicada pelo GJOL In LAGO (org) Claudia BENETTI Maacutercia Me-todologia de Pesquisa em Jornalismo Satildeo Paulo Paulus 2006

MOTA GOMES Itacircnia Maria Questotildees de Meacutetodo-na anaacutelise do telejornalismo premissas conceitos operadores de anaacutelise Revista E-Compoacutes 2007 (abril)

SCOLARI Carlos Hacer Clic Hacia una sociosemioacute-tica de las interacciones digitales Barcelona Gedi-sa 2004

VERON Eliseo Quando ler eacute fazer a enun-ciaccedilatildeo no discurso da imprensa escrita In VEROacuteN Eliseo Fragmentos de um teci-do Satildeo Leopoldo Editora Unisinos 2004

VIZEU Alfredo Telejornalismo das rotinas produti-vas agrave audiecircncia presumida In VIZEU Alfredo MOTA Ceacutelia Ladeira PORCELLO Flaacutevio Antocircnio Camargo Telejornalismo a nova praccedila puacuteblica Florianoacutepo-lis SC Insular 2006

______ Decidindo o que eacute notiacutecia os bastidores do telejornalismo [2000] Porto Alegre EDIPUCRS 2005

WOLF Mauro Teorias da Comunicaccedilatildeo Lisboa Presenccedila 1994

Notas1 Uma versatildeo deste artigo foi apresentada no 13o En-

contro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo re-alizado em Campo Grande (UFMS) em novembro de 2015

2 Jornalista Mestre em Semioacutetica Doutora em Proces-sos Midiaacuteticos professora e pesquisadora na Gradua-ccedilatildeo e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (POSJORUFSC - Campus Trindade Bloco A CCE Departamento de Jornalismo Bairro Trindade FlorianoacutepolisSC Brasil CEP 88000-000) Liacuteder do Grupo Interinstitucional de Pesquisa

em Telejornalismo (GIPTele) E-mail carlidaemerimgmailcom

3 Jornalista Doutora em Comunicaccedilatildeo professora do Curso de Jornalismo e pesquisadora no Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Comunicaccedilatildeo Social da PUCRS (PPGCOMPUCRS - Av Ipiranga 6681 Bairro Partenon Porto AlegreRS Brasil CEP 90619-900) Coordenado-ra do Grupo de Pesquisa Televisatildeo e Audiecircncia E-mail cristianefingerpucrsbr

4 Jornalista Mestre em Jornalismo Doutoranda em En-genharia e Gestatildeo do Conhecimento (UFSC) pesqui-sadora do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo (GIPTele) professora do IELUSC (Rua Princesa Isabel 438 Centro Joinville - Santa Catarina Cep 89301-270) E-mail cavenaghibeagmailcom

5 Esta discussatildeo eacute melhor realizada por Emerim (2014) e em capiacutetulo de livro do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo que estaacute no prelo

6 Os principais textos que permitem conhecer com mais vagar esta metodologia estatildeo citados especificamen-te nas referecircncias bibliograacuteficas

7 Ver por exemplo Eco (1986)

8 Ver por exemplo o trabalho de Alfredo Vizeu (2005 2006)

9 Considera-se que expressatildeo e conteuacutedo satildeo comple-mentares e indissociaacuteveis mas aqui esta divisatildeo aju-da a operacionalizar a anaacutelise

Page 9: Crédito: Shutterstockrepositorio.pucrs.br/.../2/Metodologias_de_Pesquisa_em_Telejornalis… · definido como o jornalismo produzido para e pela te-levisão. Com o avanço paulatino

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Metodologias de Pesquisa em Telejornalismo

pectiva 1986 EMERIM Caacuterlida Anaacutelise de telejornalismo uma proposta metodoloacutegica In ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISADORES EM JORNALISMO 8 Anais Satildeo Luiz 2010

______ Telejornalismo e Semioacutetica Discursiva In VIZEU Alfredo MELLO Edna PORCELLO Flaacutevio COUTINHO Iluska (orgs) Telejornalismo em ques-tatildeo Florianoacutepolis Insular 2014 FAUSTO NETO Antocircnio A deflagraccedilatildeo do sentido estrateacutegias de produccedilatildeo e de captura da recepccedilatildeo In SOUZA Mauro Wilton Sujeito o lado oculto de receptor Satildeo Paulo Brasiliense 1995 GREIMAS Algirdas Julien Dicionaacuterio de Semioacutetica Satildeo Paulo Cultrix sd ______ LANDOWSKI E Anaacutelise do Discurso em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo Global 1986

JENKINS Henry Cultura da convergecircncia Satildeo Pau-lo Aleph 2009

MACHADO Elias PALACIOS marcos Um modelo hiacutebrido de pesquisa a metodologia aplicada pelo GJOL In LAGO (org) Claudia BENETTI Maacutercia Me-todologia de Pesquisa em Jornalismo Satildeo Paulo Paulus 2006

MOTA GOMES Itacircnia Maria Questotildees de Meacutetodo-na anaacutelise do telejornalismo premissas conceitos operadores de anaacutelise Revista E-Compoacutes 2007 (abril)

SCOLARI Carlos Hacer Clic Hacia una sociosemioacute-tica de las interacciones digitales Barcelona Gedi-sa 2004

VERON Eliseo Quando ler eacute fazer a enun-ciaccedilatildeo no discurso da imprensa escrita In VEROacuteN Eliseo Fragmentos de um teci-do Satildeo Leopoldo Editora Unisinos 2004

VIZEU Alfredo Telejornalismo das rotinas produti-vas agrave audiecircncia presumida In VIZEU Alfredo MOTA Ceacutelia Ladeira PORCELLO Flaacutevio Antocircnio Camargo Telejornalismo a nova praccedila puacuteblica Florianoacutepo-lis SC Insular 2006

______ Decidindo o que eacute notiacutecia os bastidores do telejornalismo [2000] Porto Alegre EDIPUCRS 2005

WOLF Mauro Teorias da Comunicaccedilatildeo Lisboa Presenccedila 1994

Notas1 Uma versatildeo deste artigo foi apresentada no 13o En-

contro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo re-alizado em Campo Grande (UFMS) em novembro de 2015

2 Jornalista Mestre em Semioacutetica Doutora em Proces-sos Midiaacuteticos professora e pesquisadora na Gradua-ccedilatildeo e Poacutes-Graduaccedilatildeo em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (POSJORUFSC - Campus Trindade Bloco A CCE Departamento de Jornalismo Bairro Trindade FlorianoacutepolisSC Brasil CEP 88000-000) Liacuteder do Grupo Interinstitucional de Pesquisa

em Telejornalismo (GIPTele) E-mail carlidaemerimgmailcom

3 Jornalista Doutora em Comunicaccedilatildeo professora do Curso de Jornalismo e pesquisadora no Programa de Poacutes Graduaccedilatildeo em Comunicaccedilatildeo Social da PUCRS (PPGCOMPUCRS - Av Ipiranga 6681 Bairro Partenon Porto AlegreRS Brasil CEP 90619-900) Coordenado-ra do Grupo de Pesquisa Televisatildeo e Audiecircncia E-mail cristianefingerpucrsbr

4 Jornalista Mestre em Jornalismo Doutoranda em En-genharia e Gestatildeo do Conhecimento (UFSC) pesqui-sadora do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo (GIPTele) professora do IELUSC (Rua Princesa Isabel 438 Centro Joinville - Santa Catarina Cep 89301-270) E-mail cavenaghibeagmailcom

5 Esta discussatildeo eacute melhor realizada por Emerim (2014) e em capiacutetulo de livro do Grupo Interinstitucional de Pesquisa em Telejornalismo que estaacute no prelo

6 Os principais textos que permitem conhecer com mais vagar esta metodologia estatildeo citados especificamen-te nas referecircncias bibliograacuteficas

7 Ver por exemplo Eco (1986)

8 Ver por exemplo o trabalho de Alfredo Vizeu (2005 2006)

9 Considera-se que expressatildeo e conteuacutedo satildeo comple-mentares e indissociaacuteveis mas aqui esta divisatildeo aju-da a operacionalizar a anaacutelise