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CRDA - CENTRO DE REFERÊNCIA EM
DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO
SENSU EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
CRISTINA DETALONDE GIRON
A INCLUSÃO NA ESCOLA REGULAR UTOPIA OU REALIDADE?
São Paulo
2009
CRDA - CENTRO DE REFERÊNCIA EM
DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
EM EDUCAÇÃO ESPECIAL
CRISTINA DETALONDE GIRON
A INCLUSÃO NA ESCOLA REGULAR
UTOPIA OU REALIDADE?
São Paulo
2009
Monografia apresentada como parte
dos requisitos para aprovação no
Curso de Especialização Lato Sensu
em Educação Especial e submetida
ao Centro de Referência em
Distúrbios de Aprendizagem – CRDA,
sob a orientação da Profª Lucilla da
Silveira Leite Pimentel.
RESUMO
“A Inclusão na escola regular”, título desta monografia, abordará a questão da
inserção de alunos com deficiência nas escolas e salas de aula regulares, se
realmente este trabalho de inclusão está sendo feito, qual o papel da Lei nessa
questão e quais os problemas sociais enfrentados.
Também apresentará um paralelo entre Inclusão Escolar e Inclusão Social
como situação interdependente.
A inclusão na escola regular é utopia ou realidade? Quais os fatores levados
em consideração para uma inclusão, como se sentem os professores e alunos?
Estas são algumas das questões que fazem parte da reflexão e análise interpretativa
que compõe este trabalho acadêmico.
Como ilustração e relato de experiência trará uma pesquisa feita em uma escola
da Zona Norte de São Paulo - onde é feito um trabalho com alunos deficientes nas
salas de aula de ensino regular - com uma criança com deficiência motora, bem
como as dificuldades encontradas por alunos, pais e profissionais envolvidos nesse
processo.
Palavras-chave: inclusão, deficientes, educação, escola regular, lei.
ABSTRACT
“The inclusion in a regular school,”title of this monograph a question of insertion
deficiency students in schools and regular classrooms, if this inclusion work really is
done. What are the Saw`s am on this question and what are the social problems
faced?
This monograph will introduce a confrontation betwen school inclusion and social
inclusion how dependent situation.
Is the inclusion in a regular school utopia or reality? What are the points for a
inclusion? How does the teachers and students feel?
These are some questions that are a reflection and interpretative analisys that are
on this academic work.
For demonstration and personal experience there is a research with a school on
North zone in São Paulo with deficiency students in classrooms of regular teaching,
with one child motor deficiency, well with the dificulties found for students, parents
and profissionals in this process.
Key – words: inclusion, deficiency, education, regular school, law.
1
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................................................2
CAPÍTULOI - INCLUSÃO SOCIAL E ESCOLAR.......................................................4
1- Integração X Inclusão .............................................................................................6
2- O que é utopia? ......................................................................................................8
3- O que diz a Lei ......................................................................................................12
CAPÍTULO II – A ATUAÇÃO DOS PROFESSORES E A INCLUSÃO .....................13
1- Os professores na Inclusão ...................................................................................13 2 – O aluno no processo da Inclusão ........................................................................17
CAPÍTULO III – RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA ESCOLAR INCLUSIVA ............18
1 - Resultados Obtidos...........................................................................................19
2 - Análise Interpretativa ........................................................................................22
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................24
REFERÊNCIAS............................. ...........................................................................26
2
INTRODUÇÃO
A Inclusão na escola regular é um assunto muito discutido por diferentes
áreas do conhecimento, como a psicologia, a sociologia, a educação, presente em
conferências, cursos e bancos acadêmicos.
Desde 1996 que a inclusão na escola regular tornou-se obrigatoriedade
prevista na Lei 9.394. Porém, 12 anos depois, a inclusão é uma realidade nas
escolas? A escola está preparada para receber o aluno deficiente?O que é inclusão
efetivamente social e a inclusão escolar? Qual a importância social e escolar que a
inclusão exerce? Quais os desafios da inclusão?
Esse trabalho surgiu da necessidade de obter respostas para estas questões
de políticas públicas ligadas à educação inclusiva na escola regular, conhecer em
que medida a inclusão faz parte da rotina escolar, o que é preciso fazer para que
seja uma ação no âmbito social e pedagógico e não simplesmente o cumprimento da
Lei.
OBJETIVOS
Este trabalho tem como intenção básica reconhecer se a inclusão de alunos
deficientes em salas regulares está acontecendo e como é realizado esse trabalho,
quais os desafios encontrados, se é realmente possível fazê-lo, visto ser proposta
muito nova e são poucas as escolas que a executam. Ainda, descobrir o que
pensam alguns dos profissionais que lidam com essa experiência.
MATERIAL E MÉTODOS
Na tentativa de responder o questionamento aqui exposto, a metodologia
adotada partiu de uma reflexão em torno de uma consulta bibliográfica e da
realidade prática em sala de aula regular com crianças deficientes.
Acrescentamos uma pesquisa em uma escola situada na Zona Norte de São
Paulo, onde é realizado um trabalho de inclusão de crianças com deficiências em
sala de aula regular.
Para apresentação desta monografia, no Capítulo I concentra-se o que se
entende por integração e inclusão, a questão social e escolar dessa inclusão, se é
possível realizá-la ou não passa de utopia, que só existe na teoria e na Lei.
3
CASUÍSTICA
O capítulo II trata atuação dos professores na inclusão, o que pensam, como
vem agindo diante desta realidade, quais os obstáculos encontrados, quais os
subsídios dados pela própria escola para sua realização. Como fica o aluno no
processo de inclusão, seus relacionamentos com os profissionais e com os outros
alunos, como os outros alunos vivenciam esta experiência.
No capítulo III relata-se uma pesquisa feita numa escola na Zona Norte de
São Paulo, onde se trabalha há dez anos com inclusão, com um aluno deficiente em
cada sala de aula regular, desde educação infantil até o 5º ano do Ensino
Fundamental I. A pesquisa traz o caso de um desses alunos incluídos, que entrou na
escola na educação infantil e hoje cursa o 3º ano do Ensino Fundamental I. O aluno
apresenta paralisia cerebral com alguns comprometimentos motores.
Será apresentado o caso de um aluno com paralisia cerebral e todo o
processo dele na escola, seus relacionamentos e conquistas. Como a escola o
recebeu, as expectativas dos profissionais comprometidos com esse trabalho,
professores, coordenação, direção.
RESULTADOS
Direção e professores escolheram, dentre os alunos incluídos na Escola
Mirante, o caso de H.,um menino de 8 anos com paralisia cerebral.
O uso de material apropriado, a atenção, a socialização e o empenho dos
professores levaram o aluno H. a comprovar suas habilidades.
4
CAPÍTULO I
INCLUSÃO SOCIAL E ESCOLAR
Este capítulo tem o objetivo de definir a inclusão de acordo com alguns
autores e traçar um paralelo sobre inclusão social e inclusão escolar.
A questão da inclusão social é ampla porque existem pessoas que, pelos
mais variados motivos, encontram-se alocadas em uma categoria aparentemente
específica: a dos excluídos. Só se fala em exclusão porque existem muitas situações
excludentes e esta é definida como algo desvantajoso, ruim, preconceituoso,
indesejável. A exclusão vem sendo colocada como a grande vilã em contraponto à
inclusão, esta tida como a solução para os problemas dos chamados excluídos. Por
parecer que todos aqueles que estão excluídos de alguma forma, de uma hora para
outra farão parte de grupos, a inclusão talvez não seja assim tão fácil, é preciso
muitas mudanças, entre elas a própria mentalidade das pessoas que excluem devido
a sua raça, religião, deficiência de toda ordem, posição social.
Existem diferentes formas de exclusão, como por exemplo, pessoas que
moram nas ruas, sem ter o que comer, sem acesso à educação, à saúde, sem
emprego, necessidades básicas para uma vida digna. Outra forma de exclusão
consiste na construção de espaços fechados e isolados da comunidade, dentro
desta mesma comunidade: a construção de manicômios, prisões, etc. Nesta forma
de excluir podemos acrescentar as instituições para pessoas com deficiência
motora que, durante muito tempo, constituíram-se na única modalidade socialmente
aceita para atender a esta parcela da população, na qual percebe-se aqui a idéia de
separar o diferente, colocá-lo em um espaço próprio.
Segundo Celina Bartalotti (2006), falar em inclusão social implica falar em
democratização dos espaços sociais, em crença na diversidade como valor, na
sociedade para todos. Incluir não é apenas colocar junto, e principalmente negar a
diferença, mas respeitá-la como constitutiva do humano. A inclusão é, portanto, uma
proposta de construção de cidadania, um processo de mão dupla, onde a pessoa
com deficiência e a sociedade precisam se modificar.
Ao pensarmos em democratização, em diversidade como valor, não
podemos esquecer que ainda existe um elemento importante que impera na
5
sociedade: o preconceito. E este dificulta muito o processo de inclusão social,
porque as pessoas ainda julgam incapaz o deficiente, seja ele motor, visual ou
auditivo.
Não se faz inclusão com demagogia, belos discursos, etc. A verdadeira
inclusão será construída a partir da consciência da realidade e da criação efetiva de
mecanismos de transformação social.
A Lei nº. 9.394/96. estabelece as diretrizes e bases da educação nacional no
art.4º,III, atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino. Haverá, quando necessário, serviços
de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da
clientela de educação especial. Educação especial para o trabalho, visando a sua
efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os
que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante
articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam
uma habilidade superior na áreas artística, intelectual ou psicomotora. Com isso,
define que é crime impedir o acesso de pessoas com deficiência ao trabalho, à
escola ou a qualquer espaço social por conta de sua condição, utilizando-se do que
se chama de discriminação positiva, ou seja, são propostas leis que, mais do que
proibir a discriminação,garantem certa vantagem para partes da população que
historicamente vêm sendo prejudicadas em seu acesso aos benefícios sociais. Estão
aí as chamadas leis de cotas sociais, por exemplo. Chama-se de discriminação
positiva porque se destaca para proteger. A lei garante o acesso, mas não a
permanência. Hoje em dia, por exemplo, as empresas são obrigadas por Lei a
contratar uma porcentagem de funcionários com deficiência, mas o que garantirá a
permanência desse funcionário é o desempenho do mesmo em relação às suas
atividades. Isso também acontece nas faculdades.
Estar junto, participar, contribuir, trocar, ver valorizadas suas produções, são
partes integrantes de um processo de inclusão social.
6
1- Integração X Inclusão
O processo de integração escolar tem sido entendido de diversas maneiras.
O uso da palavra “integração” refere-se mais especificamente à inserção de alunos
com deficiência nas escolas comuns, mas seu emprego dá-se também para
designar alunos agrupados em escolas especiais para pessoas com deficiência ou
mesmo em classes especiais, grupos de lazer ou residências para deficientes.
Pela integração escolar, o aluno tem acesso às escolas por meio de várias
possibilidades educacionais, que vai da inserção às salas de aula de ensino regular
ao ensino em escolas especiais.
O processo de integração ocorre em uma estrutura educacional que oferece
ao aluno a oportunidade de transitar no sistema escolar, de classe regular ao ensino
especial, em todos os seus tipos de atendimento: escolas especiais, classes
especiais em escolas comuns, salas de recursos e outros. Trata-se de uma
concepção de inserção parcial, porque o sistema prevê serviços educacionais
segregados.
Os defensores da inclusão questionam não somente as políticas e a
organização da educação especial e da regular, mas também o próprio conceito de
integração. Ela é incompatível com a integração, já que prevê a inserção escolar de
forma radical, completa e sistemática. Todos os alunos, sem exceção, devem
freqüentar as salas de aula do ensino regular.
Na perspectiva inclusiva, suprime-se a subdivisão dos sistemas escolares
em modalidades de ensino especial e ensino regular. As escolas atendem às
diferenças sem discriminar e trabalhar à parte com alguns alunos quando houver
necessidade, pois há momentos importantes onde isto é recomendável. Também
não estabelecem regras específicas para planejamento e avaliação de currículos,
atividades e aprendizagem de alunos com deficiência e necessidades educacionais
especiais (MANTOAN, 2008).
Associar a inclusão como sendo apenas escolar é um conceito ingênuo de
inclusão. Porque a inclusão social das pessoas com deficiência deve acontecer em
todas as áreas sociais, saúde, esporte, lazer, na preparação dessas pessoas para o
trabalho, transporte e também na escolarização. Somente a oportunidade de
socialização oferecida pela escola não basta para essas pessoas ou crianças como
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indivíduos, cidadãos que tem direitos, mas acima de tudo, devem ter oportunidades.
A integração possibilita ao indivíduo acessar tudo que o outro tem, criam-se serviços
para ele, mas este é quem tem que se adequar. Daí a diferença de integração e
inclusão. A inclusão é um processo social, o mundo ideal onde todos os espaços e
coisas são acessíveis para as pessoas com ou sem deficiência.
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2- O que é utopia?
A definição de utopia, no dicionário da Língua Portuguesa da Editora
Melhoramentos, diz-se de tudo que está fora da realidade, que não foi realizado no
passado nem poderá vir a sê-lo no futuro. Plano ou sonho irrealizável ou de
realização num futuro imprevisível, ideal, fantasia.
Terezinha Rios ultrapassa esse conceito do senso comum para envolver a
utopia nos projetos. Ela afirma que:
“ Quando se projeta, tem-se sempre em mente um
ideal. Confunde-se, às vezes, inadequadamente,
o ideal com algo irrealizável, que se classifica de
utópico. O ideal é sim utópico, mas é preciso re-
cuperar o sentido de utopia, que significa, na ver-
dade, não algo impossível de ser realizado, mas
algo ainda não realizado” ( RIOS,1999:74) .
A partir dessa ideia da autora, podemos considerar que, por mais difícil que
seja a concretização de projetos sociais escolares inclusivos, eles carecem de uma
postura crítica de todos envolvidos para que se tenha em mãos todas as
possibilidades, os limites das circunstâncias continuamente checadas e o empenho
de dirigentes e educadores, pois deles também depende a realização de uma prática
educativa voltada para a inclusão do diferente.
Este trabalho tem como objetivo retratar um pouco da educação, da questão
da inclusão e saber se é possível uma educação inclusiva, não como um movimento
utópico, fantasioso, inviável nos dias de hoje, mas talvez possível no futuro.
A Educação Inclusiva é um produto histórico de uma época e realidade
educacionais contemporâneas. Uma época que exige que abandonemos muitos de
nossos estereótipos e preconceitos.É importante não focar o sujeito isoladamente. É
preciso que se identifique também no contexto social. A maneira como tem sido
tratados os deficientes ao longo da nossa civilização é um problema social maior do
que se pensa, é um problema público.
Segundo Mrech (2009), na Suécia, a partir de 1968, já era possível se
encontrar crianças deficientes sendo introduzidas nas classes regulares.
Paralelamente, houve também a criação de classes especiais no sistema municipal
de ensino. Era bastante comum, naquela época, os deficientes serem deixados nas
9
residências, abandonados pela família. Constatou-se que este tipo de atendimento
não funcionava. Aos poucos, foram surgindo novos serviços médicos, assistenciais e
educacionais.
No entanto, foi somente, em 1975, que os Estados Unidos da América
instituíram a primeira lei pública de defesa dos direitos dos portadores de deficiência.
A Lei Pública – nº 94-142 de 1975 – O ATO DE EDUCAÇÃO A TODAS AS
CRIANÇAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA, que apresentava quatro objetivos
principais:
“1.Garantir que os serviços de educação Especial sejam colocados à
disposição das crianças que dele necessitem.
2. Assegurar que as decisões sobre o fornecimento de serviços a crianças
deficientes sejam tomadas de maneira justa e adequada.
3. Estabelecer uma administração transparente e procedimentos e requisitos
de auditoria para a educação especial em todos os níveis do governo.
4. Providenciar fundos federais para auxiliar os estados a educarem os
alunos deficientes”.
Através dessa Lei toda criança deficiente passou a ter acesso a um ensino
de qualidade.
Em 1986, Madeleine Will, Secretária – Assistente encarregada dos Serviços
de Educação Especial e Reabilitação, do Departamento de Educação dos Estados
Unidos, tornou possível que crianças deficientes, fossem inseridas nas classes
regulares.
Em 1990 surgiu o ADA (AMERICAN WITH DISABILITIES ACT), lei que
garante a todos os norte-americanos deficientes não serem discriminados apenas
em função da deficiência no emprego, nos serviços públicos e em situações de
acomodações, tais como, em viagens.
Em 1991 surgiu o IDEA- Ato de Educação para os indivíduos com
Deficiências, ou seja , ampliação das propostas da Lei Pública nº94.142, na qual a
criança deficiente norte-americana dentro do contexto do IDEA – 91 só sai da classe
regular se a natureza da severidade do seu caso assim o exigir.
Mas a legislação norte-americana não parou por aí. Em 1997 foi feita uma
emenda à legislação anterior – a Lei Pública 105 – 17 que aumentou ainda mais os
direitos das crianças deficientes e seus familiares. Para os pais dos deficientes esta
legislação passou a garantir:
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1. Educação pública e gratuita para seu filho.
2. Os pais devem ser notificados quando seu filho vai ser avaliado na escola.
Eles tem o direito de saber o resultado e podem questionar os resultados obtidos
pela avaliação.
3. Os pais tem que consentir a respeito de todos os procedimentos usados
pela escola. Neste caso, a escola e os pais precisam chegar a novos acordos.
(Ibidem)
Em suma, pode-se constatar que abordar hoje a questão da Educação
Inclusiva nos Estados Unidos, não é apenas remetê-la ao setor educacional. Daí
entender porque em muitos trabalhos a Educação Inclusiva seja vista como sinônimo
do conceito de Inclusão. Ela está prevista por lei e fornece um suporte praticamente
integral aos sujeitos e suas famílias. Por exemplo, na sociedade norte-americana e,
em muitos países do mundo, há um amplo destaque às adaptações dos espaços
físicos aos deficientes. Dos shoppings às escadas e elevadores comuns, dos
banheiros públicos à estruturação das ruas e serviços de transportes, a Inclusão faz
parte da sociedade, nas áreas comuns destinadas a todos.
Já no Brasil, o conceito de ambiente social menos restrito ou restrito, tem
sido empregado de uma forma redutora, abarcando apenas a sala de aula. É por isto
que os defensores da Inclusão tem sempre em mente o contexto maior – a busca
pela Sociedade Inclusiva.
Quanto à integração, apenas prevê a inserção seletiva dos alunos
deficientes no ensino regular; eles devem se adaptar sozinhos aos parâmetros
vivenciados pelos outros alunos. Quando isto não ocorre, eles vão para as classes e
as escolas especiais. Assim, é mantido o conceito de deficiência no sentido
tradicional.
Já a Inclusão parte do postulado do ambiente menos restrito. O aluno
deficiente deverá ser mantido no ensino regular com a ajuda e o suporte necessário
dos professores do ensino regular e do ensino especial. Há a crítica ao conceito
clássico de deficiência baseado no modelo médico e a adoção do conceito de
deficiência baseado no modelo social, privilegiando-se ao máximo as
potencialidades do deficiente.
Com isto, não se quer dizer que a busca pela sociedade inclusiva é a busca
da utopia. Mas, exatamente o contrário, pois esta é uma tentativa de quebrar com
uma sociedade que exclui e estigmatiza.
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A Inclusão não é apenas um produto das leis norte-americanas. Ela é um
movimento mundial de luta dos deficientes e suas famílias na busca dos seus
direitos e lugar na sociedade. A legislação de cada país revela apenas a amplitude
destas discussões.
A Inclusão não é colocar crianças deficientes no ensino regular sem suporte,
não é um movimento oriundo dos políticos brasileiros atuais para cortar verbas e
prejudicar os professores do ensino regular. É um movimento mundial que visa a
implantação de uma educação menos estigmatizadora para todos. É um processo,
não um estado.
É importante ressaltar que a Inclusão tem sido usada no Brasil com fins
políticos espúrios. Com isto, serviços de Educação Especial tem sido desativados
sem que nada tenha sido colocado no lugar.
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3. O que diz a Lei
Segundo a LEI Nº 9394/96 – LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO
NACIONAL – 1996 no seu:
CAPITULO V
DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
“Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a
modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de
ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.
§1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola
regular, para atender as peculiaridades da clientela de educação especial.
§2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços
especializados, sempre que, em função das condições específicas dos alunos, não
for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular.
§3º A oferta da educação especial, dever constitucional do Estado, tem início
na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.”
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com
necessidades especiais:
I – currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização
específicos, para atender às suas necessidades;
II – terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível
exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e
aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os
superdotados;
III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior,
para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular
capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns;
IV – educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na
vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem
capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos
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oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas
áreas artística, intelectual ou psicomotora;
V – acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares
disponíveis para o respectivo nível do ensino regular.
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão
critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos,
especializadas e com atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio
técnico e financeiro pelo Poder público.
Parágrafo único. O poder Público adotará, como alternativa preferencial, a
ampliação do atendimento aos educandos com necessidades especiais na própria
rede pública regular de ensino, independentemente do apoio às instituições
previstas neste artigo.”
A lei nº9394/96 é clara quando afirma que a Educação Especial será
oferecida preferencialmente na rede regular de ensino. Diz também que serviço de
apoio especializado será feito quando necessário. Mas o que se vê é que estão
querendo acabar com as escolas especiais sem substituir por outro serviço. A
questão da Inclusão, como já vimos anteriormente, é social, pois primeiro é preciso
que o deficiente seja incluído na sociedade e a escola é um dos locais onde esse
processo deveria ocorrer naturalmente.
O serviço paralelo à escola regular em muitos casos é extremamente
necessário, pois há pessoas com as mais diversas deficiências. Não podemos
formatar como se só existisse um tipo de deficiente e que tanto projetos pedagógicos
como práticas e metodologias únicas servirão para ele. Isso é a principal angústia e
preocupação dos professores, que diante da exigência da lei se viram
despreparados para atender os alunos deficientes. O ideal seria que os professores
tivessem tido um período para se capacitar antes de receber este aluno. O que não
aconteceu. A necessidade de o professor da rede regular de ensino buscar recursos
e subsídios para lidar com essa nova questão surgiu porque, de repente, em sua
sala de aula estava um aluno deficiente querendo estudar e fazendo valer seus
direitos, ou seja, ao invés de preparar o professor e a equipe escolar para receber o
aluno, o mesmo já estava lá antes dessa capacitação acontecer.
Assim como temos um professor de ensino regular que está preocupado em
como fazer com o aluno deficiente e os demais sem deficiência, do outro lado temos
o especialista em determinada deficiência, mas estará preparado para auxiliar o
14
professor da rede regular? O ideal seria que pudesse existir uma parceria e não um
trabalho particular, feito cada um do seu lado.
Ao governo compete oferecer recursos e condições para que a Inclusão de
alunos com deficiência seja um trabalho sério, com o qual os alunos possam
aprender até o limite em que conseguem chegar, com ensino de qualidade e
professores que explorem essas possibilidades.
O movimento inclusivo nas escolas, por mais que seja muito contestado, é
irreversível, o que significa que todos devem deixar de lado preconceitos e
resistências e tentar fazer parte desse processo de mudança. É isso que veremos
no próximo capítulo sobre os professores e a Inclusão, quais os desafios e
dificuldades enfrentadas.
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CAPÍTULO II
A ATUAÇÃO DOS PROFESSORES E A INCLUSÃO
1. Os professores na inclusão
As escolas que não estão atendendo alunos com deficiência em suas turmas
regulares, se justificam, na maioria das vezes, com o despreparo dos seus
professores para este fim.
Neste capítulo veremos o que pensam os professores sobre a Inclusão e
como se sentem frente a esta realidade.
Segundo a pesquisa feita por Claudia Gomes e Altamir Barbosa (2006) com
68 docentes do Ensino Fundamental I de 1ª a 4ª série da rede municipal de Mogi
das Cruzes (SP), os professores, mesmo sendo possuidores de uma formação
acadêmica, não apresentam preparo profissional adequado para atuar com
deficientes em suas salas de aula regulares. Eles afirmam não estar capacitados
para a atuação em uma escola inclusiva. Falta não só preparo, mas também
informação a respeito desse assunto, dos alunos com deficiência e suas limitações.
Cabe ressaltar que existe uma questão fundamental a ser considerada, que
diz respeito ao fato de que os professores que participaram da pesquisa não
consideram ser de sua responsabilidade e competência educar alunos com
deficiência.
Por outro lado, a partir do momento em que surge a legislação, os
professores se viram inseguros em relação a nova realidade, não lhes foi oferecido
nenhum curso ou tipo de capacitação para ter uma idéia ou noção de como atuar
quando houver um aluno deficiente em sua sala de aula. Primeiro se pensou no
acesso desse aluno à escola e depois na preparação do professor.
Tudo que é novo assusta, dá medo, gera angústia e insegurança. As
pessoas que defendem a inclusão falam em respeito ao aluno, mas e o respeito com
o professor? Um professor deve ficar calado a tudo que lhe é imposto? Não
podemos esquecer que toda preparação leva tempo, ainda mais quando é uma
geração com vestígios de preconceito, resistência em aceitar o diferente.
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O professor deveria ter tido tempo para se preparar, repensar sua prática e
verificar se quer trabalhar com essa realidade. Porém, os alunos estão chegando e
agora não há outra alternativa ao professor, se não a de ir em busca de novos
caminhos.
Como disse Lino de Macedo (2008) em seu texto Fundamentos para uma
Educação Inclusiva:
“ Vamos ter que rever as nossas formas de avaliar, de
aprovar, de reprovar. Vamos ter que melhorar a nossa condição de
trabalho. Muitas pessoas vêm essas inclusões como piora, como
mais uma dificuldade no caminho dos professores, como mais uma
pressão. O salário é pouco, as condições de trabalho nem sempre
são boas, há mais essa exigência de incluir essas crianças
deficientes.É isso que afirmam muitas pessoas que tem coragem de
dizer o que pensam, que não tem vergonha de falar do incômodo,
por mais justo que possa ser, que é receber crianças que se
diferenciam muito da “média da classe”. É importante assumirmos
o preconceito, a nossa dificuldade, o medo, a nossa impotência,
porque só assim vamos poder, pouco a pouco, assumir de fato, uma
formação que promova a Educação Inclusiva”. (MACEDO,2008)
Contudo, a Inclusão está “batendo em nossa porta” e não podemos mais
ignorá-la. É difícil, depende da realidade da escola, da acessibilidade que esta
possui e da disponibilidade e vontade do professor em fazer um trabalho sério e de
qualidade. Não podemos afirmar que é um trabalho impossível a ser realizado, a
prova disso é o pensamento e atitudes dos alunos frente à Inclusão. É o que
veremos a seguir sobre os benefícios e desafios dos alunos de uma escola inclusiva.
17
2. O aluno no processo da inclusão
Neste item veremos as diversas posições dos alunos frente à Inclusão.
Existem pessoas que não acreditam nos benefícios que os alunos podem tirar da
nova situação, especialmente os casos mais graves, pois não teriam condições de
acompanhar os avanços dos colegas e seriam mais marginalizados e discriminados
que nas classes e escolas especiais.
Segundo Rosa Maria Gasparini Nazar (2008),em uma escola inclusiva os
alunos com alguma deficiência ganham respeito, convívio social e oportunidade de
desenvolver suas potencialidades, porque adquirem experiências diretas com a
variedade das capacidades humanas, aprendem a gostar da diversidade,
demonstram responsabilidade e melhor aprendizagem através da convivência no
trabalho em grupo, são melhor preparados para a vida adulta em uma sociedade
diversificada e entendem que são diferentes, mas não inferiores.
Por outro lado, os estudantes sem deficiência também são beneficiados com
a convivência com alunos deficientes, porque perdem o medo e o preconceito em
relação ao diferente, desenvolvem a cooperação e a tolerância, tem acesso a uma
visão bem mais ampla dos papéis sociais, adquirem grande senso de
responsabilidade, melhoram o rendimento escolar, percebem desde cedo que as
famílias e os espaços não são homogêneos e que as diferenças são enriquecedoras
para o ser humano.
Portanto, a convivência de alunos deficientes com aqueles que não são
tende a ser um processo tranqüilo, ainda mais se for entre crianças de 3 a 10 anos
que estão desprovidas de preconceitos nessa faixa etária; normalmente, o
preconceito nessa idade, se houver, será por parte dos pais e não das crianças. E
mesmo promovendo a solidariedade a Inclusão não será um movimento de caridade
e sim de responsabilidade social, ou seja, de toda uma sociedade.
Na tentativa de verificar se a Inclusão está sendo realizada na rede regular
de ensino, o capítulo a seguir trará uma pesquisa feita na Zona Norte de São Paulo
sobre escolas de Inclusão.
18
CAPÍTULO III
RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA ESCOLAR INCLUSIVA
Neste capítulo traremos o caso de uma criança que freqüenta uma escola
particular de ensino regular na qual é realizado o trabalho de inclusão de alunos com
deficiência.
Para realizar essa pesquisa foi feita uma visita a 10 escolas particulares na
Zona Norte de São Paulo, apenas uma trabalha com alunos deficientes em sala de
aula regular. As demais disseram que não há muita procura desses alunos e quando
ocorre, casualmente, não recusam essas matrículas, mas deixam claro para os pais
a falta de estrutura.
O Colégio particular Mirante, situado na zona Norte de São Paulo, trabalha
há 12 anos com inclusão. Atualmente atende em média um aluno com deficiência
em cada série regular, desde Educação Infantil até o Ensino Fundamental I. É uma
escola pequena com no mínimo 9 e no máximo 15 alunos por sala.
Foram coletadas informações sobre um dos alunos que faz parte do
processo de inclusão no Colégio Mirante, com o relato da diretora e das professoras
que realizam esse trabalho, como parte ilustrativa dessa pesquisa. É sempre muito
bom conversar com profissionais da área de educação, saber seus medos,
angústias, tentativas. Principalmente nessa questão da inclusão, a diretora e as
professoras do Colégio Mirante se mostraram dispostas a trocar ideias, falar dos
obstáculos, dos acertos com relação ao aluno H. que é um menino encantador, com
muita energia e vontade de aprender.
O aluno H. de 8 anos, possui paralisia cerebral. A mãe não possui nenhuma
deficiência e o pai é desconhecido pela escola.
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1. Resultados obtidos
Em 2006 o aluno H. ingressou na escola com 5 anos no Jardim II da
Educação Infantil. Ele tem paralisia cerebral, comprometimento motor, porém se
locomove normalmente com ajuda de aparelhos na perna.
Ingressou no Jardim II ,mas seu material didático era de Jardim I (um estágio
anterior do que ele estava), porque não conseguia nem pegar num lápis. O primeiro
passo conta a diretora, foi melhorar sua auto-estima, tinha uma enorme resistência
em tentar as coisas, era extremamente inseguro, tremia de medo ao executar
qualquer atividade. Começou com garatujas (rabiscos próprios de criança de 2 anos)
e a partir dos elogios de sua professora e o apoio dos demais colegas da sala foi
desenvolvendo de uma maneira extraordinária sua coordenação motora.
H. foi muito bem aceito pelos outros alunos, a diretora e a professora
contaram que no seu segundo dia na escola haveria aula de futebol e elas estavam
muito apreensivas em como não excluir H. da aula. As duas subiram com todos os
alunos da sala na quadra quando, de repente, um colega perguntou a H. se ele
sabia jogar futebol, o mesmo respondeu que sim, então bem rápido o colega
rebateu: “Ótimo! Então você pode ser o goleiro”. E resolveu a situação, deixando a
professora e a diretora “pasmas”, pois os adultos ainda tem certos cuidados e
preconceitos em relação ao deficiente.
No ano seguinte (2007), H. foi para o 1º ano do Ensino Fundamental I , seu
material didático devido a seu grande desenvolvimento foi de Jardim II. Ele tinha um
ótimo vínculo afetivo com a professora e o grupo o acolheu até melhor que o do ano
anterior, era uma turma tranqüila que respeitava muito H. Era um grupo de alunos
que não estava junto desde o início e isso facilitou a integração entre eles. A
professora começou a propor desafios para H. e isso foi deixando-o cada vez mais
seguro, porque começou a perceber que ele era capaz. A mesma relatou que foi a
primeira vez que trabalhou com aluno com deficiência, o que a assustou, mas teve
muito suporte da direção da escola e apoio da mãe.Quando chegou, sem conseguir
pegar no lápis, o trabalho com H. foi todo focado na coordenação motora grossa e
fina, com material de pulsão, alinhavo, massa de modelar, recorte com tesoura
própria, lápis triangular. A mãe de H., segundo a diretora, é muito presente e
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participativa a todas as solicitações da escola, como a compra de alguns materiais
mais apropriados, como uma tesoura especial e um apoio de caderno de 45 graus,
acatando e providenciando tudo sempre o mais rápido possível. Em matemática H.
surpreendia, sempre utilizando material concreto como palito, ábaco, dado, dominó.
Ele participa de tudo, passeios, projetos, feiras culturais. Sua mãe também o leva a
muitos passeios culturais, o que facilita muito no processo ensino-aprendizagem. O
início foi difícil. H. não queria fazer as coisas sozinho, a professora sentava a seu
lado e insistia, ele queria que ela pegasse na mão dele, mas ela não pegava e ele
ficava muito nervoso, conta. A sala de H. no Jardim II e 1º ano tinha 11 alunos e ele
ficou esses dois anos com a mesma professora.
No começo de 2008, H. foi para o 2º ano do Ensino Fundamental I e seu
material seria de 1º ano, mas ele ficou muito irritado e quis que seu material fosse de
2º ano como o dos demais colegas da sala. A equipe escolar juntamente com a
mãe de H. resolveram fazer o teste. O material utilizado é uma apostila bimestral
com todas as disciplinas integradas, suas respostas na apostila são escritas como
ele consegue e a professora, às vezes, escreve embaixo. Além dos cadernos para
cada disciplina, H. possui ainda um caderno quadriculado para melhorar e
desenvolver sua coordenação motora, esse caderno a mais é uma necessidade
específica para seu desenvolvimento.
Para surpresa de todos, o aluno H. está acompanhando o material didático
do 2º ano e como possui algumas limitações motoras suas avaliações são feitas em
múltipla-escolha e H. só tira nota dez. Ele já está alfabetizado e compreende
perfeitamente todo o conteúdo, apresentando dificuldade somente para escrever,
escreve com certa lentidão e de letra de forma, sua fala demonstra que a paralisia
cerebral é leve. Sua coordenação motora melhorou muito desde que entrou na
escola até aqui. Não apresenta nenhum comprometimento intelectual e cognitivo,
participa das aulas com entusiasmo e sempre surpreende com suas respostas,
demonstrando ser muito inteligente. H. adora as aulas de teatro e é o aluno que
mais se destaca nessa aula. A sala possui 8 alunos com H. A professora desse ano
relatou que já trabalhou com alunos com síndrome de Down, gosta muito desse
trabalho e não apresentou resistência em atuar com alunos deficientes, foi
pesquisar, se preparar, fez várias capacitações que a escola mesmo ofereceu para
estar preparando seus profissionais para trabalhar com inclusão.
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A professora do Jardim e do 2º ano relataram ter curso de formação em
Pedagogia, mas infelizmente a faculdade não prepara o professor para trabalhar
com alunos deficientes.
A mãe de H. contou à diretora da escola que 8 escolas recusaram a
matrícula dele, alegando falta de estrutura e material capacitado. Antes de H.
ingressar no Colégio Mirante ele estava numa escola de Educação Infantil cujo
material didático vinha perfeitamente preenchido. Ela começou a questionar os
resultados mostrados ali com o que H. fazia em casa, então resolveu mais uma vez
procurar uma escola inclusiva, que fizesse um trabalho pedagógico e não omitisse o
que realmente seu filho conseguia fazer. Isso para ela explica o fato de, no começo,
ele estar totalmente inseguro em suas atividades e principalmente querer que a
professora pegasse em sua mão para a realização das mesmas, o que indica que
esse deveria ser o procedimento que H. estava acostumado na escola anterior.
Além da escola, H. tem suporte de alguns profissionais especializados como
fonoaudióloga, fisioterapeuta e psicóloga, que trabalham com ele em outro período
fora do horário escolar.
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2- Análise Interpretativa
De acordo com a pesquisa apresentada anteriormente, pode-se perceber
que a questão da inclusão, não é só de âmbito escolar, mas chega a ser um
problema social. Cabe à sociedade estar preparada para a Inclusão, precisa parar
de olhar para o deficiente com preconceito, procurar promover acessibilidade para
que este tenha uma melhor qualidade de vida e tenha também mais oportunidades,
pois deficiência não é sinônimo de incapacidade. O indivíduo pode ter certas
limitações, mas não podemos simplesmente julgá-lo de não poder fazer nada. O
deficiente físico, por exemplo, assim como foi visto na pesquisa, tem seu cognitivo
em perfeitas condições para se desenvolver, suas limitações físicas não o impedem
de ler uma notícia, pensar para resolver uma situação-problema e até utilizar outros
recursos como o computador.
Muitas escolas e seus profissionais não se sentem preparados para lidar
com esse tipo de situação. Conforme foi dito, faltou preparar a escola para receber
esses alunos, mas como isso não aconteceu, agora está na hora de correr atrás, a
sociedade deve se informar e principalmente para eliminar o preconceito contra o
deficiente. Os desafios assustam, mas são necessários para o crescimento de
qualquer ser humano. Pior do que se negar por incapacidade, medo ou despreparo,
é omitir-se de um trabalho, como se este estivesse sendo feito, o que é grave pois
mascara uma realidade.
É necessário um trabalho conjunto entre direção, coordenação, professores,
auxiliares, abertura e flexibilidade na avaliação. É importante buscar conhecimentos
para saber lidar com o deficiente. Como podemos ver, as crianças são mais
receptivas do que os adultos, elas não tem o preconceito enraizado. Aprendemos
muito com as crianças. A participação e colaboração dos pais também é muito
importante, fundamental.
Enfim, de acordo com a pesquisa citada aqui pode-se podemos verificar que
a Inclusão escolar na rede regular de ensino não é a utopia do impossível, ela é
possível. Embora não esteja sendo realizada na maioria das escolas, é uma
proposta que pode ser concretizada dentro das possibilidades e do compromisso
social e educativo da instituição. Claro que cada escola terá uma realidade diferente
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da outra, em número de alunos, recursos, espaço físico, pais e professores com as
mais diferentes experiências de vida. A faixa etária dos alunos também pode
influenciar em seu comportamento, por exemplo, a receptividade de crianças talvez
seja diferente da de adolescentes. Mas todos tem condições de tentar reverter esse
quadro. A questão da Inclusão tanto na escola como na sociedade faz parte de uma
responsabilidade social e não podemos achar que não temos nada a ver com isso.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A inclusão de deficientes nas escolas regulares ainda caminha lentamente.
Embora muitas escolas façam um trabalho sério, não é possível dizer que todas as
escolas trabalham com inclusão porque está na Lei.
A inclusão depende de muitos fatores como: número de alunos por sala,
qual a deficiência do aluno, apoio e estrutura familiar, estrutura e organização da
escola, projeto pedagógico, espaço físico e acessibilidade dos recursos, como
rampas para receber um aluno com deficiência física. Não se pode focar só no
professor a responsabilidade de incluir um aluno deficiente.
É ingênuo dizer que todas as escolas regulares aceitam alunos com
deficiência. Não é esta a realidade atual, mas não podemos dizer que a Inclusão
desses alunos é utopia, pois é possível realizar um trabalho com um aluno deficiente
numa sala de aula regular. O problema é que muitas escolas se negam a tentar,
dizendo aos pais desses alunos que não tem estrutura para recebê-lo, como
recursos de acessibilidade e profissionais especializados, obrigando-os a procurar
outro lugar, pois é difícil para um pai deixar seu filho sem escola ou onde já
afirmaram não ter estrutura para trabalhar com ele.
Contudo, a questão da inclusão escolar é também um problema social.
Através dela as pessoas aprendem a ter respeito umas com as outras independente
de raça, religião, deficiência, sem preconceito e não porque está na Lei. É sim uma
questão de cidadania.
H. é um aluno com paralisia cerebral leve, numa escola pequena, com
poucos alunos por sala, uma inclusão que deu certo. Mas não podemos esquecer
que existem pessoas com deficiências graves e que, infelizmente, a sala regular
talvez não tenha o que aquela pessoa como cidadão de uma sociedade precisa.
Então, nesse caso, é essencial que os dirigentes estabeleçam parcerias com outros
profissionais, como um especialista em educação especial para auxiliar no trabalho
educativo e inclusivo.
Se não é proveitoso para um aluno com alguma deficiência permanecer o
tempo todo na sala de aula regular, é importante que se perceba tal necessidade e
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se crie adequações de horários, conteúdos, atividades. A escolaridade pode ser um
direito, mas o bem estar, a qualidade de vida e o convívio social são imprescindíveis.
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REFERÊNCIAS
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utopia ou possibilidade? São Paulo: Paulus, 2006.
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