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Coutinho, M., 2002, Economia Social em Portugal. Emergncia do Terceiro
Setor na Poltica Social, Tese de doutoramento apresentada em provas
pblicas no ISEG/Universidade Tcnica de Lisboa, a 2 de Dezembro, 2002,cap. IV.
Captu lo IV
Soc iedade Civi l : um ins trum ento d e anlise
so bre a inf lunc ia do terc eiro sec tor n a
poltic a s oci al
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IVSociedade Civil: um instrumento de anlise sobre a influncia
do terceiro sector na poltica social
A so cied ade civ il o co nju nto de ins titu ies, organ izaes e com po rtam ento ssituado s entre o Estado, o mu ndo empresarial e a famlia. Especif icament e, incluior gan izaes vo lu ntrias e no lu cr ativ as de d ifer ent es espcies, in st itu iesfilant rpic as e de econo mi a soc ial e mov im ento s po ltico s, form as de parti cip ao so ciale comp rom isso s na esfera pblica e os valores e padres cultu rais a eles asso ciados
316.
As origens conceptuais de sociedade civil e das organizaes que a
compem, remontam aos sculos XVII, com Althusius (1557-1638), XVIII com
Wolff (1679-1754) e XIX, com Tocqueville (1805-1859), como referimos j no
captulo II. Captulo onde se tentou traar o conceito de sociedade civil
enquanto espao caracterizador da arquitectura da sociedade, pr-activo, de
responsabilidade multiforme e que, no domnio da poltica social, se
consubstancia em espaos de solidariedade e caminhos de cooperao.
Configura-se atravs de organizaes, cujas fronteiras de diferenciao
conceptual, com manifestaes vrias da sociedade (que nem sempre as
integradas na economia social, mas que lhe servem por vezes de suporte, no
contexto ideolgico e pragmtico), so difceis de definir, porque se
interpenetram, confundindo-se mesmo, quando se pretende diferenciar
campos de aco. Nesta linha de pensamento, a sociedade civil integra
movimentos mercantis, econmicos, sociais, culturais e outros que, mesmo no
se impondo pelo seu desempenho econmico (no sendo, sempre integrveis
no terceiro sector), se impem pelo seu pragmatismo (movimentos feministas,
etc.), informando os prprios objectivos de aco das organizaes do terceiro
sector. O conceito de sociedade civil concede assim relao estabelecida
entre grupos, que se caracterizam pela diversidade ideolgica e de intervenoprtica, uma capacidade integradora dos mesmos.
Por este motivo, no presente captulo, em que se pretende fazer
exerccios de medio da sociedade civil, enquanto espao de manifestaes
de cidadania integradas nas orientaes da poltica social portuguesa,
utilizaremos, com frequncia, o termo sociedade civil, dada a fragilidade entre
fronteiras conceptuais, sobretudo, como iremos ver, em determinados
contextos de evoluo histrica e poltica.
316ISTR, 2000, p. 5.
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As organizaes da sociedade civil (OSC) constituem-se assim como
canais, atravs dos quais os cidados podem participar na implementao das
decises pblicas, identificar, priorizar e resolver problemas pblicos e garantirprocuras no satisfeitas, desenvolvendo recursos pblicos e privados. Embora
os seus contornos desenhem perspectivas especficas de desenvolvimento,
nem sempre se situam num campo bem definido de actividade econmica, ou
no domnio da poltica social.
De uma forma abrangente diramos que ao abordar os movimentos da
sociedade civil referimos todo o tipo de agrupamentos constitudos pelos que
detm necessidades e aspiraes, para colectivamente criarem respostas
adequadas s suas intenes e projectos. No nosso caso, integrado no objectode estudo, privilegiamos aqueles que tiveram implicaes directas na poltica
social.
4.1. Nota introdutria
Em Portugal, ao longo do ltimo sculo, as organizaes da sociedade
civil, de suporte poltica social, foram apresentando, em termos de
distribuio, vrios cenrios (o quadro 34 representa uma tabela cronolgica,
tipificando os seus principais representantes em Portugal).
Organizaes houve que se foram desenvolvendo numa tica social
catlica, com o princpio da subsidariedade, a nvel da Igreja Catlica e
integrados na hierarquia religiosa.
Outras, de que so exemplo por excelncia as misericrdias, podero
ser consideradas como primeiras iniciativas de oferta de servios pblicos que,
de certa forma, integraram o grmen do desenvolvimento de um servio debem estar de proteco aos indigentes, idosos, doentes e deficientes.
Tiveram, mesmo, um papel fundamental ao nvel do sector hospitalar, at 1974
(data em que foram nacionalizados os hospitais das Misericrdias). As suas
iniciativas eram inicialmente suportadas quer pelos rendimentos do seu esplio,
quer por donativos de particulares; a partir de 1979 desenvolveram-se acordos
e parcerias de articulao entre Estado e misericrdias317, no sentido de apoiar
financeiramente o seu funcionamento (o desenvolvimento das suas valncias).
317O artigo 6 do estatuto das IPSS, aprovado pelo Decreto Lei n519-G2/79 de 29 de Dezembro impunha a cooperao entre as duaspartes. Com o Despacho Normativo n 387/80 ficou regulamentada a cooperao.
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Quadro 34 - Tabela cronolgica das principais instituies portuguesas dasociedade civil
OSC Data de criao Objectivos
Misericrdias1 Sculo VI Proteco subsidiria aos doentes e indigentes
Mutualidades 1293 Criao de mecanismos de proteco social
Conferncias Vicentinas 1617 Proteco subsidiria aos desprotegidos
Cruz Vermelha 1836 Apoio curativo
Ordem de Malta2 1899 Instituio de beneficncia de utilidade pblica
Associao Catlica Internacionalda Juventude Feminina3
1897 Apoio juventude feminina
Cooperativas Sculo XIX Produo de bens e servios
Organizaes Populares de Base 1974Dinamizao cultural e comunitria e oferta deservios a grupos alvo
CERCIs 1976Associaes cooperativas para apoio ao cidadoportador de deficincia
IPSSs 1979 Criao de servios de aco social
Empresas de Insero 1998Criao de emprego escala local, integrandonovas actividades ligadas s necessidades aindano satisfeitas pelo mercado
1 - Em 1976 criada a Unio das Misericrdias; 2 - Em 1977 ganham forma os servios de assistncia da Ordem deMalta; 3 - Criada na Sua
As mutualidades e as cooperativas caracterizaram-se sempre pela
criao de esquemas de proteco social e de produo de bens e servios,
respectivamente, em alturas em que a classe trabalhadora reivindicavamecanismos de proteco.
Actualmente a situao em Portugal sugere que, no domnio da poltica
social, o terceiro sector e o Estado se relacionam fortemente, fruto de
motivaes econmicas e scio-polticas que levam utilizao do sector no
lucrativo, pelo sector pblico, assunto a que procuraremos dar o decidido
relevo na continuidade do trabalho. Na nossa sociedade h j um nmero
significativo de OSC que tem uma aco que integra os objectivos de bem
estar social em que os seus recursos provm essencialmente do governo, departiculares e da prestao de servios. Por outro lado, o surgimento de novos
protagonistas, novas necessidades, novos problemas, leva tentativa de
organizar respostas/estratgias de sobrevivncia e a que se procure aceder a
apoios e novas frmulas de aco (entre as quais as integradas no MSE).
Ao falar de novos protagonistas, falamos, entre outros, de novos
excludos, novos desempregados, novos imigrantes, etc., que desafiam,
quer iniciativas de uma nova economia social, quer de uma poltica social que
maximize o seu potencial, mobilizando polticas activas.
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neste contexto que se inserem as organizaes actuais do terceiro
sector. Algumas dentro das lgicas tradicionais Misericrdias, IPSSs,
cooperativas organizando a prestao de servios numa cultura desolidariedade, integrados, ou no, em projectos de desenvolvimento
comunitrio, mas sempre para responder a necessidades locais. Outras,
integram uma nova filosofia de intervenouma nova economia socialpara
criao de emprego, ou outros espaos que visam a obteno de rendimento
(como as empresas de insero, as experincias de micro-crdito, os servios
de proximidade) ou para o desenvolvimento de actividades de solidariedade e
voluntariado (como o banco do tempo).
No presente captulo permitimo-nos dar visibilidade abrangncia das
OSC, por distritos, atravs da criao de indicadores, definidos a partir de uma
metodologia de clculo de scores, vindo assim a ser construdo o perfil da
sociedade civil de 1890 a 1990 (partindo da procura emprica sobre a matria
em estudo). As organizaes escolhidas, pelo perodo de tempo a que se
reportam e por facilidade de recolha, so, essencialmente, iniciativas que
integram a lgica tradicional de economia social. Mais concretamente, o estudo
dedica-se criao de indicadores capazes de dar visibilidade s organizaesda sociedade civil, que (ao longo do sculo XX), ao lado das organizaes
pblicas e do mercado foram dando suporte poltica social. Criaram,
inclusivamente, espao a que formas actuais de iniciativas do terceiro sector se
viessem a desenvolver (como veremos no estudo de casos).
Daremos assim conta do esforo que desenvolvemos com o objectivo de
conseguir informao capaz de caracterizar a sociedade civil em cada
momento e da vontade em iniciar um percurso de investigao que venha a dar
sustentao a estudos comparativos em diferentes estdios de evoluo das
OSC. So estratgias de anlise localizadas em determinados perodos de
tempo, atravs das quais se pretende criar painis de observao,
metodologias experimentais que permitam anlises prospectivas e at estudos
longitudinais.
Dada a diversidade das fontes, relativas s principais instituies
portuguesas, emergentes da sociedade civil, fomos trabalhando com alguma
margem de erro, utilizando at testemunhos vividos.
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Refira-se por exemplo que muitos grupos formados em 1974-1979 se
extinguiram, sem que nunca se tenham registado e outros ainda existentes
nunca fizeram o seu registo formal (situao que impede, por exemplo que sejamedida a taxa do seu desaparecimento). Por outro lado, existe uma quase
ausncia de trabalhos empricos neste domnio. H, registe-se, trabalhos
pontuais, muito situados no tempo e no domnio social, a que recorremos, mas
que no contm informao emprica. Finalmente, mesmo a nvel das IPSSs,
que a partir de 1979 passaram a ter que responder a registos prprios, os
registos sobre as financiadas pela Segurana Social no estavam data
centralizados. Muitos desapareceram mesmo, j que os processos com 10
anos, ou mais vo para o chamado arquivo morto, sendo muitas vezesdestrudos.
4.2. Um cenrio sobre a sociedade civil portuguesa ao longo do
sculo XX
A recolha de dados para medio das organizaes, emergentes da
sociedade civil. Ao longo do sculo foi um trabalho que exigiu um perodo longo
de pesquisa, em fontes variadas, j que no existe ao nvel das estatsticas
nacionais dados sistematizados que obedeam a uma metodologia especfica.
A metodologia de recolha de informao foi exaustiva e permitiu-nos aceder a
indicadores que nos ajudaram a desenhar o cenrio da sociedade civil em cada
momento de referncia, de acordo com o percurso de investigao que
preconizamos (percurso cumprido no captulo III).
Recorremos s estatsticas do Instituto Nacional de Estatstica (INE)
para obter dados sobre casas do povo, casas dos pescadores, caixas dereforma, associaes de beneficncia e censos populacionais. Relativamente
aos sindicatos, recorremos ao trabalho de Cerdeira (1998) no qual feita uma
abordagem exaustiva destas organizaes. Sobre cooperativas obtivemos a
boa colaborao do INSCOOP que nos possibilitou o acesso a registos
realizados neste domnio. No que se refere s mutualidades utilizamos os
dados sistematizados em Rosendo (1996), por considerarmos ser uma obra de
referncia fundamental, no s relativamente s mutualidades, mas
economia social enquanto rea de investigao cientfica.
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As informaes sobre as instituies particulares de solidariedade social
(IPSS) e as valncias foram obtidas nos registos da Carta Social de 1998 e em
relatrios cedidos pela Direco Geral de Aco Social. Para dar coerncia recolha de indicadores utilizou-se a informao desagregada ao distrito e
sempre relacionada com o total da populao.
Consideramos o distrito como dimenso geogrfica referencial, por ser
um espao territorial representativo de um conjunto especfico de recursos e
oportunidades flexveis e dinmicas, caracterizado ainda pela presena activa
de identidades especficas, de OSC, de redes sociais e, naturalmente, por um
contexto cultural definido. Por outro lado, estando a abordagem fortemente
enraizada na recolha emprica efectuada em cada distrito, adquire particularrelevncia ao ser expressa como cenrio das OSC, cujas implicaes na
poltica social portuguesa descrevemos no captulo III.
Em qualquer caso, para evitar ms interpretaes clarificou-se em anexo
1 a origem dos dados utilizados para clculo dos indicadores.
Recolhidos os dados e feito um primeiro diagnstico, foi-nos permitido
ter uma radiografia das organizaes do terceiro sector. No entanto, o
diagnstico constituiu somente o primeiro passo da nossa base de
conhecimentos.
O nosso objectivo , de facto, desenvolver um trajecto de investigao,
especificamente dirigido para a construo de indicadores que permitam obter
elementos que, cruzados, nos ajudem a comprovar uma das caractersticas
fundamentais das organizaes do terceiro sector: a sua capacidade de
fortalecer o capital social e as competncias individuais e colectivas, assentes
em, ou tendo como suporte, redes de sociabilidade. Partimos do pressuposto
que a existncia de espaos de solidariedade e de caminhos decooperao, em cada espao territorial, potencia a criao de redes e
articulaes inter-institucionais, capazes de gerar caminhos alternativos, para
criao da malha social e econmica necessria construo de uma cultura
de responsabilidade (caminhos de cidadania), necessria ao avano de
estratgias de incluso.
Neste momento, a nossa primeira pretenso dar visibilidade s
disparidades e evoluo das OSC, de forma a fazer sobressair a maior ou
menor densidade de organizaes em cada espao territorial.
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Pretendemos que os seus resultados possam ajudar-nos a reflectir sobre
as influncias causais que o tipo e a abrangncia das organizaes, que
operam no domnio da poltica social, podero ter sobre o desenvolvimento dasredes de sociabilidade (ora mobilizando espaos de solidariedade, ora
caminhos de cooperao), reflexes com implicaes prticas para a
abordagem operacional da poltica social, sobretudo para que se descubram
formas de articulao das polticas sociais com as estratgias de incluso pelo
econmico.
A metodologia utilizada poder ainda ajudar-nos a encontrar indicadores
de avaliao, sobre o papel e a importncia de estruturas sociais e
econmicas, no domnio da poltica social. Estruturas que, para alm de seremolhadas como requisitos teis para a sua operacionalizao, so requisitos
necessrios para que cada distrito promova inovao no domnio da economia
social. Esta perspectiva reforar ainda o significado de local, numa economia
em processo de globalizao. Da que o que se pretender tornar relevante
no so as caractersticas de cada tipo de organizao, mas o potencial
estratgico que pode partir da rede de organizaes, criada em cada espao
geogrfico.
Atravs do clculo de scores, construmos um perfil da sociedade civil ao
longo do sculo, analisando alguns anos que consideramos de referncia:
1890, 1910, 1930, 1950, 1970, 1980 e 1990318.
At 1970 optou-se por uma diferena de vinte anos, por se considerar
que os perodos so representativos, em termos de mudana de estratgias de
interveno poltica e social e, consequentemente, no que se refere ao papel
da sociedade civil, enquanto suporte fundamental da aco, a saber:
O ano de 1890 surge como referncia importante, j que foi em1889, que se criou a Direco Geral de Sade e Beneficncia,
que pretendeu coordenar a proteco social e a assistncia319.
Logo em 1891 aprovada a primeira regulamentao especfica
das mutualidades que entre 1834 e 1889 tiveram um
crescimento significativo, reforando o seu papel ao nvel da
proteco social;
318E que vm na continuidade da anlise efectuada sobre poltica social no captulo III.319Decreto de 4 de Outubro de 1889.
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o ano de 1910 marca o incio da I Repblica que pretendeu, a
partir de 1911, definir medidas de proteco pblica320,
baseando-se o princpio da sua organizao nos alicerces damutualidade livre, de carcter regional321;
o ano de 1930, marcado pela influncia do Estado Novo,
surgido em 1926, que vem criar as primeiras instituies de
previdncia que se estenderam aos vrios grupos profissionais;
o ano de 1950 surge como eixo representativo das orientaes
surgidas nesse perodo e marca o incio de um tempo em que se
afirmam tcnicas alternativas de interveno social, a que oplano de ajuda rural, implementado em 1959 e o servio de
promoo social comunitria, criado em 1965, vieram a dar
corpo;
consideramos o ano de 1970 como marco de referncia de
novas atitudes no domnio da poltica de assistncia social;
as dcadas de 80 e 90 impuseram-se pela criao de um
sistema de segurana social, a integrao na ComunidadeEuropeia, a definio do pacto de cooperao entre Estado e
sociedade civil e a consagrao alargada de direitos.
Como j referimos, caracterizamos as OSC atravs da construo de
dois indicadores: espaos de solidariedade e caminhos de cooperao322,
definindo-se assim os suportes sociais que tornam operacional a poltica social.
Se certo que grande parte das organizaes emergem da associao de
indivduos, na busca do bem estar comum, a sua aco pode, no entanto,
desenvolver-se ora numa base de reciprocidade ora de criao de servios
dirigidos a terceiros.
No primeiro caso, para Portugal, englobmos organizaes nas quais
existe uma dependncia mtua entre associados (os espaos de
solidariedade).
320Os seguros sociais obrigatrios que vieram a ser formalmente definidos s em 1919.321Decreto 5636 de 10 de Maio de 1919.322Indicadores vm na continuidade da abordagem conceptual iniciada no captulo II.
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No segundo estaro integradas as organizaes no lucrativas que se
caracterizam pela sua forma de produo de bem estar e que se estruturam de
forma distinta daquela, por consubstanciarem a aco redistributiva doEstado323(os caminhos de cooperao).
Particularmente relevante, para a anlise dos grficos que se seguem,
o conceito de desenvolvimento local, uma vez que estar em relevo a malha
(distrital) das OSC, que se preconiza como sendo espaos de resposta a
necessidades bsicas insatisfeitas (que geram empobrecimento e excluso
social). Espaos que, na ausncia de respostas pblicas eficazes, mobilizem
capacidades e recursos locais (grupos e instituies que promovamalternativas de auto-emprego, de servio de proximidade, de voluntariado, etc.).
4.2.1. Metodologia de clculo dos scores
Para caracterizar a dimenso espaos de solidariedade, utilizaram-se
as seguintes variveis:
- Nmero de mutualidades e seus associados;
- Nmero de cooperativas e seus associados;
- Nmero de casas do povo e, quando possvel, seus associados;
- Nmero de casas dos pescadores e, quando possvel, seus
associados;
- Nmero de sindicatos e, quando possvel, seus associados;
- Nmero de associaes.
Na caracterizao da dimenso caminhos de cooperao foram
utilizadas as variveis:
- Nmero de misericrdias;
- Nmero de instituies de beneficncia e, quando possvel, seus
beneficirios;
- Nmero de instituies particulares de solidariedade social;
- Nmero de valncias das instituies.
Em cada grfico a ordenao dos distritos obedece ordem alfabtica.
323De que so exemplo, por excelncia, as IPSS.
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Dado que no conseguimos obter para todos os perodos o mesmo
nmero de variveis, em virtude das mesmas no estarem disponveis nas
estatsticas nacionais, ou em outras entidades a que recorremos, o clculo dosscoresteve, que ser adaptado a cada ano. Registamos em anexo as variveis
utilizadas, no sentido de facilitar e justificar a apresentao dos resultados.
O score324de cada um dos indicadores, em cada distrito, dado pela
diferena entre o valor do indicador e a mdia geral de todos os distritos,
dividida pelo respectivo desvio padro. portanto uma medida normalizada
que representa o nmero de desvios padro que cada distrito apresenta acima,
ou abaixo, da mdia geral. O score final a mdia aritmtica dos scoresque
integram cada um dos dois indicadores considerados (espaos desolidariedade e caminhos de cooperao).
Em cada ano de referncia relacionamos sempre as OSC com a
populao do respectivo distrito (nmero de OSC por 10 000 habitantes).
Quando os indicadores envolvem duas variveis, o nmero de OSC e o
nmero de associados (ou de beneficirios), o indicador final a mdia entre
nmero de OSC por 10 000 habitantes e o nmero de associados sobre o total
da populao.
A metodologia utilizada assentou nos seguintes momentos:
1. Identificao das organizaes a considerar para cada ano,
sendo de referir que a forma como os dados se apresentam no
igual em cada perodo. Optmos por fazer uma escolha,
recolhendo elementos sobre as organizaes que em cada ano
se relacionaram, directamente, com estratgias de suporte
poltica social;
2. Criao de scores normalizados para os indicadores em cadadistrito, dados pela diferena entre o valor de cada indicador e a
mdia geral para todos os distritos, dividida pelo respectivo
desvio padro. assim uma medida normalizada que representa
o nmero de desvios padro que um distrito representa acima ou
abaixo da mdia;
3. Em cada distrito o score foi obtido pela mdia aritmtica dos
scoresdos indicadores.
324Refira-se que o clculo dos scoresseguiu os contornos metodolgicos utilizados por Mendes, 1999.
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Sempre que as bases de dados utilizadas disponibilizavam nmeros
sobre os beneficirios dos seus servios, ou o nmero de associados de uma
organizao, aplicamos uma metodologia de clculo assente em 3 fases:1. a percentagem do nmero de organizaes por 10 000
habitantes;
2. a percentagem do nmero de associados e/ou beneficirios das
aces sobre a populao total;
3. o valor registado para cada indicador dado pela mdia
aritmtica dos dois e posteriormente calculado o score de acordo
com a metodologia j referida (o score dado pela diferenaentre o valor do indicador e a mdia geral para os distritos,
dividida pelo respectivodesvio padro).
A aplicao da metodologia em referncia d-nos conta da
heterogeneidade diferenciadora das OSC no territrio continental. Valores
negativos representam o nmero de desvios padro que um distrito apresenta
abaixo da mdia; significam que nessa regio a abrangncia das OSC fica
aqum da mdia nacional. Os distritos considerados mdios so os que
apresentam scoresmais prximos do zero325.
No se apresentou a ordenao dos distritos no sentido da
hierarquizao absoluta dos mesmos, por se considerar que dimenso das
organizaes do terceiro sector correspondem diferentes estratgias de
interveno que reflectem opes e tendncias diversas, segundo o contexto
demogrfico, cultural, scio-econmico e poltico.
325O anexo 1 rene toda a informao recolhida e utilizada no clculo dos scores, no sentido de possibilitar a quem aler ter uma opinio avalizada sobre os mesmos.
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4.2.2. Definio dos scores
Os grficos que se seguem identificam valores, sobre a abrangncia das
organizaes, que integram o colectivo responsvel pela criao do capital
social, em cada distrito.
Com desenvolvimentos diferentes entre distritos (territorializados),
quando comparados entre os anos de referncia, fornecem-nos indicativos
sobre a sua evoluo.
Como qualquer trabalho experimental que se inicia, no sentido de ir mais
longe no diagnstico (e mostrar o que est escondido), no permitem uma
viso ainda muito esclarecida. Levantam, sim, questes que abordaremos nas
notas de concluso, no sentido de abrir caminho definio de metodologias
de medio mais consistentes, de acordo com novas opes tericas e
metodolgicas, decorrentes deste primeiro estudo.
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Caminhos de Cooperao: Espaos de Solidariedade:
Score mximo: 2.40 Portalegre Scoremximo: 3.07 Lisboa
Scoremnimo: -1.11 Aveiro Score mnimo: -0.67 Aveiro
Na poca agora em anlise, o mutualismo foi efectivamente a primeirafora dinmica dos centros urbanos, para onde emigrava a maior parte dos
trabalhadores da indstria. Da que as grandes cidadesLisboa e Porto, onde
vivia 23% da populao portuguesa apresentem os scoresmximos no que
respeita aos espaos de solidariedade. tambm a fase da publicao dos
primeiros diplomas legais que reconhecem e regulamentam o associativismo
mutualista.
No caso das misericrdias que prefiguram nesta data como os principais
suportes dos caminhos de cooperao (alternativas, essencialmente de
beneficincia, caridade e assistncia aos pobres e indigentes), a sua incidncia
no interior centro e Alentejo Portalegre e vora, onde vivia 5% da
populao326.
326Optou-se por integrar na construo destes scoresapenas as mutualidades e as misericrdias, por serem as nicasorganizaes com dados disponveis. No est em causa a importncia das cooperativas, sobre as quais obtivemosigualmente dados quantitativos. No entanto, porque s havia registos sobre quatro distritos Aveiro, Faro, Lisboa e
Portonaturalmente que a sua pouca incidncia pelo pas daria resultados pouco fidedignos, relativos aos espaos desolidariedade. no entanto digno de referncia o facto de Lisboa e Porto integrarem, respectivamente 25 e 8cooperativas, o que corresponde a 94% das existncias.
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Caminhos de Cooperao: Espaos de Solidariedade:
Score mximo: 2.22 Portalegre Scoremximo: 3.16 Lisboa
Scoremnimo: -1.07 Porto Score mnimo: -0.60 Guarda
Da anlise do grfico se depreende que data da implantao da
Primeira Repblica, 1910, o associativismo mutualista e cooperativo manteve-
se ascendente, em Lisboa e Porto, os grandes centros urbanos onde vivia
ento 27% da populao327. Nesses distritos as mutualidades aumentaram de
208 para 699 e as cooperativas passaram de um total de 33 para 102 328,
motivo porque para caracterizar a dimenso espaos de solidariedade,
utilizaram-se j as cooperativas para clculo do score.
interessante verificar que a variao dos scores caminhos de
cooperao, apresenta picos considerveis em Beja, 2.02, vora, 1.57 e
Portalegre, 2.22, o que significa que se mantm nesses distritos, iniciativas de
assistncia. Esta situao est associada ao facto de a residir 7,6% da
populao portuguesa e estarem estabelecidos 22% do total das instituies.
Verifica-se, no entanto, que nas grandes cidades que as misericrdias
apresentam uma cobertura mais frgil. Em Lisboa o valor das misericrdias por
10000 habitantes de 0.24 e no Porto de 0.12, enquanto que em Portalegre
de 1.07.
327Aumento de 4%, relativamente a 1890.328Alis, o movimento cooperativo estendeu-se por todo o pas, com excepo dos distritos de Aveiro, Beja, Guarda,Viana do Castelo e Vila Real.
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Caminhos de Cooperao: Espaos de Solidariedade:
Score mximo: 1.27 vora Scoremximo: 1.15 Lisboa
Scoremnimo: -0.84 Braga Score mnimo: -0.96 Guarda
O grfico 3 revela os scores espaos de solidariedadecom valores bastantenegativos, muito embora se mantenham ainda elevados nos principais centros
urbanos329. De qualquer forma, de registar uma alterao (valores mais
negativos) na posio que esse score apresentava por todo o pas. Retrata uma
certa retraco das alternativas com base na reciprocidade e na ajuda mtua. O
certo que o associativismo entrou em recesso, desaparecendo bastantes
organizaes ao longo do pas, algumas das quais por imposies legais. As
mutualidades diminuram, a nvel nacional, 42%, sendo esta descida
especialmente significativa nas duas principais cidades.
O score caminhos de cooperao330 integra j a mdia dos scores das
misericrdias e das associaes de beneficncia331.
A sua maior abrangncia manteve-se no interior alentejano.
329No caso dos sindicatos utilizamos informao referente a 1939, em virtude de no termos valores, por distritos, paraanos anteriores.330No clculo de qualquer dos scores utilizamos valores relativos a associados ou a beneficirios, j que do conta dapopulao envolvida.331Uma vez que existiam j registos sobre associaes de beneficncia no Anurio Estatstico do INE.
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Caminhos de Cooperao: Espaos de Solidariedade:
Score mximo: 0.91 Lisboa Scoremximo: 2.88 Portalegre
Scoremnimo: -0.85 Guarda Score mnimo: -0.94 Porto
Da anlise do grfico verificamos que excepo de Portalegre e vora, a
distribuio dos scores espaos de solidariedadeno apresentam posies com
desvios muito pronunciados. Incluiu j valores relativos s casas dos pescadores,
casas do povo e caixas de reforma332, organismos que representam 73% do total
das OSC. No podemos deixar de referir que estes organismos, sendo baseados
em reciprocidade e ajuda mtua, eram de constituio obrigatria e tutelados pelo
Estado333. Lisboa relacionada com os valores anteriores e os outros distritos, teve
uma grande inverso na sua posio, dada a diminuio das mutualidades de 215
para 73334...
Os scores caminhos de cooperao surgem por todo o pas com desvios pouco
pronunciados, contrariamente ao que se apresentava para 1930.
332Dados disponveis nas estatsticas nacionais.333Assim sendo, so organizaes da sociedade civil, para criar mecanismos de proteco, mas no emergem de umamobilizao endgena. Sublinhando Salamon (1995), estas organizaes so criadas por compromissos da polticapblica conjuntural.334Movimentos migratrios para as grandes cidades podero estar tambm na origem destas diferenas, uma vez que,como sabemos, os scoresso sempre calculados com base na relao entre as OSC e o total da populao em cadamomento.
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Caminhos de Cooperao: Espaos de Solidariedade:
Score mximo: 1.94 Portalegre Scoremximo: 1.96 Portalegre
Scoremnimo: -0.97 V. Castelo Score mnimo: -0.50Leiria
s misericrdias que desenvolviam uma aco, no domnio daassistncia, foi sempre reconhecida a permanncia das suas existncias. A
abrangncia da sua interveno manteve-se, o que caracteriza o score
caminhos de cooperao com poucos desvios. Ressalve-se os distritos de
Portalegre, vora e Castelo Branco cujo valor positivo elevado se deve, em
nosso entender, ao fenmeno emigratrio que teve incio no final da dcada de
cinquenta335.
O mesmo parece sugerir o facto do scoreespaos de solidariedade, emPortalegre e vora, ser alto336, acrescido do facto das cooperativas terem
aumentado nestes distritos (alis a nvel nacional), como forma de combate
crise agrcola.
335As estatsticas registam para os referidos distritos uma diminuio de 68 503 habitantes.336 Sempre que possvel, e numa tentativa de integrar a dimenso do resultado da interveno das OSC fomosutilizando para clculo dos scoresos valores relativos aos associados das OSC, o que se concretizou para o ano de
1970, relativamente aos scios das casas do povo, das casas dos pescadores, das mutualidades e dos sindicatos.Pela primeira vez obtivemos elementos relativos s valncias, atravs da Carta Social de 1998, referentes a 1974. um dado importante, uma vez que d visibilidade s respostas tipo ao nvel da aco social.
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Caminhos de Cooperao: Espaos de Solidariedade:
Score mximo: 2.23 Portalegre Scoremximo: 0.53 Coimbra
Scoremnimo: -1.21 Viseu Score mnimo: -0.96 Setbal
No grfico 6 importa sobretudo atentar para a cobertura, com desviospouco significativos, dos scores espaos de solidariedade. O nmero de
associaes de cultura e recreio (num total de 5304 por todo o pas)
responsvel pela sua configurao. Esta situao decorre, em nosso entender,
do facto de o ano de 1980 ter recebido os frutos da agitao social vinda da
dcada de 70: pelas preocupaes com o desenvolvimento e com a reforma do
sistema de segurana social e pela transio do regime.
Os scores caminhos de cooperao337
, com grandes desvios ao longodo pas so um pouco reveladores da nova forma de interveno social mista
(Estado IPSS) e traduzem uma situao que pode considerar-se inovadora e
que d consistncia ao compromisso estatal face universalidade do risco.
337Adoptamos para clculo deste score a mdia aritmtica dos scores das misericrdias, das IPSS e das valncias.
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Caminhos de Cooperao: Espaos de Solidariedade:
Score mximo: 1.99 Guarda Scoremximo: 1.13 vora
Scoremnimo: -1.16 Porto Score mnimo: -0.67 Braga
Em termos de abrangncia de interveno, o grfico acima d-nos contade scores caminhos de cooperao que apresentam desvios significativos,
sendo as zonas de interior centro de montanha e do Alentejo as que
apresentam os valores positivos mais elevados. Em causa poder estar a
afluncia constante de populao s grandes cidades e ao litoral, o que confere
a estas ltimas uma constante incapacidade de resposta a necessidades no
satisfeitas. No entanto, os scores espaos de solidariedade apresentem
menores desvios, e mantm a sua configurao, relativamente ao ano de 1980.Ousaramos dizer que o facto representa um cenrio marcado pelas
orientaes definidas para criao de uma segurana social universal,
informado por viragens scio-econmicas e polticas, e pela efectivao de um
pacto de universalizao de cidadania338.
338O Pacto de Cooperao para a Solidariedade Social, assinado em Dezembro de 1997.
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4.2.3. Notas de concluso
O estudo efectuado apresenta assimetrias assinalveis. Desde logoressalta a existncia de distritos com scores, nas duas dimenses,
constantemente negativos (Aveiro, Vila Real, Viana do Castelo, Viseu). Tal
situao sugere que, comparativamente aos restantes, esto e/ou sempre
estiveram em situao de desvantagem, no que se refere mdia nacional de
cobertura de estruturas sociais. Entre outras, estaro na base razes de ordem
demogrfica, movimentos populacionais provocados pelas alteraes no
mercado de trabalho, por movimentos migratrios, o regresso das ex-colnias(com a fixao das populaes nas cidades mais importantes), orientaes
polticas para criao de OSC em reas especficas, maior ou menor dinmica
associativa, etc. De salientar tambm a situao de pouca importncia desses
distritos no sistema urbano nacional, demonstrativa do subdimensionamento
das OSC. Apesar de tudo, distritos mais pequenos, do interior centro e
Alentejo, apresentam scores mais elevados, provavelmente beneficiando da
combinao de alguma expanso das OSC com perda de populao.
Apesar das expectativas colocadas no clculo dos scores, a mais valia
trazida por esta metodologia no est no valor da abrangncia das OSC, mas
no facto de sugerir que se questione, por exemplo, at que ponto a dimenso
das organizaes da sociedade civil implica, necessariamente, um terceiro
sector mais forte, maior capital social, maior participao social. De facto,
momentos houve (e o grfico relativo a 1950, regista-o bem) em que se
mobilizaram movimentos associativos obrigatrios (casas do povo, casa dos
pescadores) que no cumprem, portanto, o desenvolvimento do capital social
(elemento primordial da economia social). Em causa est o tipo de
organizaes, as razes causais da sua aco e a metodologia utilizada para
criao de esquemas de proteco, de aumento de competncias, de
desenvolvimento de oportunidades, e a forma como cada um assume a sua
responsabilidade, como promotor e/ou parceiro no processo de
desenvolvimento da comunidade de que faz parte. Assim sendo, a abrangncia
das OSC no tem relao directa com uma sociedade civil mais forte.
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Neste domnio, relativamente metodologia de clculo da abrangncia
das OSC e sua relao com o aumento de capacidades de participao, de
cultura de responsabilidade, surgem elementos que importante realar. Ocerto que h motivaes que levam os indivduos ou os grupos a desenvolver
comportamentos altrustas ou de maximizao das oportunidades e das
liberdades individuais. Consideramos, no entanto, que neste campo, a proviso
directa pelo Estado dos servios de bem estar, o apoio pecunirio ou
subsidiarizao de actividades (como referimos j no captulo II), incentivaria
pela negativa, a criao de espaos de solidariedade, ou pela positiva a
implementao de caminhos de cooperao. No grfico 4, ficou salientado queos espaos de solidariedade no apresentavam, em 1950, grandes desvios,
entre distritos. Esse valor decorre das ento criadas casas do povo e outros
organismos baseados na reciprocidade, mas tutelados pelo Estado339.
Sendo certo que, nesta condio, o seu contributo para uma sociedade
mais participativa seria frgil, tal poder sugerir a introduo de um elemento
novo na aplicao do clculo, que passar pela aplicao de um sistema de
pesos, melhor dizendo, de factores de ponderao, como por exemplo:
a organismos baseados na reciprocidade, mas de criao
obrigatria, como os corporativos, conferir-se-ia um peso de 1/3;
a organismos, tambm baseados na reciprocidade, mas de base
voluntria, conferir-se-ia um valor duplo.
O scorede cada dimenso, em cada distrito, passaria a ser no a mdia
aritmtica, mas a mdia ponderada dos scores de cada uma das dimenses.
Esta reflexo sugere que o fortalecimento desta metodologia de clculo
passar, precisamente, pela adopo de um sistema de pesos, com base na
relevncia dos indicadores (estabelecendo-se para isso uma escala de
pontuao). Tal situao valida que se venha a fazer a ordenao dos scores,
por distritos, com o estabelecimento de pesos especficos para cada indicador,
ajustando o modelo de avaliao.
339De criao obrigatria, como referimos.
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O certo que, cada organizao tem as suas prprias motivaes e
objectivos, quando se trata de intervir, seja no domnio da poltica social, seja
da economia. Tendo em conta que o estabelecimento de factores deponderao tem subjacente a aceitao de pesos especficos a adoptar,
parece-nos que, para isso, se deveria:
entrar em linha de conta com todos os indicadores que
compem cada dimenso. Num exerccio completo, o mesmo
deveria incluir todo o tipo de organizaes da sociedade civil que
do suporte poltica social em Portugal;
definir para cada indicador atributos que, realmente, o integramnuma dimenso determinada (sendo que haver atributos que
influenciam pela negativa e atributos que influenciam pela
positiva);
definir, a partir da, com o mnimo de subjectividade possvel, a
escala de pontuao;
da definio da escala de pontuao decorreria a escala de
ponderao para cada score.Desta feita, outros elementos deveriam ser tidos em conta na
identificao/construo de indicadores, tais como as dinmicas familiares, de
vizinhana (famlias de acolhimento, por exemplo), de voluntariado, e mesmo
culturais (pelas suas implicaes ao nvel da criao de servios de bem estar).
O certo que, normalmente, em zonas mais perifricas e de interior, o suporte
aos idosos, aos deficientes e s crianas garantido por redes familiares e de
vizinhana. Esta situao poder levar a uma retraco em termos da criao
de infra-estruturas sociais. Por outro lado, em zonas menos afectadas por
movimentos de transformao macro-organizacional, da gesto do sistema
produtivo, os movimentos associativos assumem contornos de maior
informalidade, o que poder torn-los encobertos luz das estatsticas
organizadas (subdimensionando-os).
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Factores crticos
Em termos de nota crtica, ser de referir que, tendo como pretenso,obter uma viso mais esclarecida, sobre as OSC e a forma como assumem os
desafios da economia social, a definio de scores tem tambm os seus
inconvenientes. Mostra a situao num determinado momento, esttica, de
acordo com o ponto de vista do investigador. Por outro lado, no contexto da j
referida multiplicidade de fontes, para recolha dos dados que suportam este
estudo, no podemos conferir-lhe um valor absoluto.
Apesar das limitaes, pretende-se que seja um ponto de partida para
uma interpretao da evoluo da sociedade civil portuguesa em cadamomento, que abra um campo de investigao a novas opes tericas e
metodolgicas, de forma a consolidar uma metodologia interpretativa sobre a
abrangncia das OSC em Portugal.
4.3. O ndice de Desenvolvimento da Sociedade Civil (IDSC)
o caso de Viana do Castelo em 1998
A construo do ndice de desenvolvimento da sociedade civil baseou-
se num conjunto de iniciativas, entre outros, o New Civic Atlas elaborado
pelo CIVICUS e UNDPs Human Development Index340
. Na Argentina, a
definio do IDSC foi implementada com base na elaborao de perfis
provinciais da sociedade, que qualitativamente descrevessem a dinmica
institucional, incluindo o tipo de organizaes, principais objectivos, recursos
humanos, articulaes e populao alvo341
. Os seus resultados foram a
chave para a definio metodolgica do IDSC e a elaborao do manual de
procedimentos para obter o IDSC na Argentina.
Tendo como objectivo lanar um olhar mais consistente sobre a
sociedade civil, crimos um novo espao de experimentao sobre as OSC a
construo do ndice de Desenvolvimento da Sociedade Civil (IDSC).
Escolhemos um dos distritos que se encontram com scores constantemente
negativoso de Viana do Castelo342, para o qual recolhemos dados relativos a
1998 (ver anexo 2).
340Luna, 1999, pp. 2.341Idem, p. 4.342 tambm o distrito onde a autora exerce a sua profisso, como assistente social, o que facilitou a colheita dedados.
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Sendo a nossa preocupao a necessidade de em Portugal serem
criados parmetros mensurveis e verificveis, relativos sociedade civil,
pareceu-nos sugestivo um estudo que tivesse subjacente a criao de uminstrumento para medir o desenvolvimento da sociedade civil, relacionando a
sua estrutura, o seu processo e os seus resultados. Por outro lado,
acompanha-nos a convico de que combinar diferentes metodologias de
avaliao, neste tipo de investigao, uma estratgia para se vencer as
fraquezas e as limitaes de cada mtodo.
Assim, com o estudo experimental que se segue, pretendemos criar uma
nova forma de olhar as OSC, num distrito que apresentou scores negativos ao
longo do sculo e onde, no entanto, se desenvolveram movimentosassociativos importantes desde os anos 70, os quais ainda hoje fazem reflectir
na comunidade as suas aces.
A oportunidade de construo do ndice no presente trabalho est no
facto de dar continuidade perspectiva (iniciada com a definio de scores)de
anlise da densidade das redes formadas pelas OSC, em cada distrito. Outro
factor que refora esta organizao do estudo considerarmos que uma
generalizao da experincia, por distritos, pode trazer consigo uma inovao
terica, ao fomentar a compreenso interactiva dos fenmenos sociais e
econmicos, que no podem ser compreendidos, independentemente do seu
contexto institucional e cultural. Refora ainda, e uma vez mais, os
instrumentos para avaliao do significado do local no contexto da economia
social.
Utilizamos dimenses que tm feito parte do nosso percurso de
abordagem sobre as organizaes da sociedade civil, nomeadamente:
1. os seus objectivos;2. o seu mbito de incidncia (resultados, procuras que satisfaz),
3. a diversidade dos seus intervenientes (tcnicos, institucionais,
financeiros);
4. o seu desempenho (articulaes interinstitucionais, diversidade
da interveno);
5. a criao de redes; dimenses que requerem uma abordagem
sistmica e estratgias metodolgicas diversas.
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Com a construo do IDSC pretendemos demonstrar de que forma as
OSC cumprem positiva, ou negativamente, os desafios propostos pelas
organizaes do terceiro sector, entre outros:1. de procura de autonomia financeira, sendo que o indicador sobre
os recursos financeiros importante para explicar a capacidade
das OSC terem um desempenho eficiente em cada distrito;
2. de heterogeneidade, visvel no indicador sobre diversidade
institucional;
3. de criao de redes sociais (visvel no valor do ndice
articulaes) que promove o potencial das organizaes aoadquirirem (especialmente) conhecimentos (pela troca de
saberes), outras formas de informao e know-how, no sentido
de promover o desenvolvimento do capital social;
4. de diversidade de actuao, visvel no valor do ndice
diversidade de interveno (no sentido de dar respostas
adequadas e oportunas).
certo que as organizaes que integram o ndice so padronizadas e
corporizam processos de interveno que obedecem a modelos mais ou
menos institucionalizados pelas orientaes de poltica social. Por outro lado,
em muitos projectos de desenvolvimento local, ou de combate excluso
social, vai sendo hbito criar modalidades bsicas de articulao sistmica e
interactiva. Daqui ressalta que o resultado do ndice, em cada momento,
poder ser caracterizador de fases da vida dos projectos, decorrentes tambm
de orientaes de poltica social (porque acompanham a sua durao e s
vezes se prolongam para alm deles). O desafio ser construir uma
metodologia de anlise das OSC, tendo como base os vectores de onde
decorre o desenvolvimento da malha social, cujo principal produto a
construo do capital social num determinado espao geogrfico os seus
recursos (humanos e financeiros), o seu desempenho, a sua vitalidade, os seus
resultados.
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A construo do ndice surge assim como proposta alternativa no
domnio da anlise emprica das OSC, na medida em que d conta da maior ou
menor densidade de organizaes num distrito, capaz de gerar umacapacidade de interveno social e econmica, com implicaes sobre as
estratgias de empowerment. Por outro lado, ao avanar com a criao de um
indicador com potencial para exercitar estudos comparativos sobre a sociedade
civil, entre distritos, d visibilidade dinmica das organizaes do terceiro
sector.
A variao dos seus valores (que decorre, entre outros, da capacidade
de acesso a financiamentos pblicos, privados, ou por donativos, do tipo e dadiversidade das actividades a que se propem, das redes e articulaes
estabelecidas, da forma como orientam as suas ofertas), poder traduzir
momentos de maior fortalecimento ou maior fragilidade no desenvolvimento do
capital social.
Metodologia de clculo do IDSC
A metodologia utilizada foi implementada a partir do perfil distrital do:
tipo de organizaes;
principais assuntos/objectivos;
recursos financeiros e humanos;
articulaes e populao alvo.
O IDSC construdo a partir de 3 ndices intermdios, relativos :
estrutura, processo e resultados:
a) O ndice estrutura integra os seguintes indicadores:
nmero de organizaes da sociedade civil identificadas;
percentagem do staff de assalariados;
oramento das organizaes da Sociedade Civil;
recursos financeiros prprios das organizaes;
idade mdia das organizaes no ano de 1998.
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b) O ndice processo integra os seguintes indicadores:
vitalidade institucional: organizaes com menos de 2 anos
sobre o total das organizaes registadas; articulaes institucionais: organizaes que assinaram
acordos formais no ltimo ano;
estrutura das redes institucionais: organizaes que
participaram em redes conjuntas de trabalho
diversidade temtica: nmero de valncias cuja
percentagem acima de 20% do total.
c) O ndice resultados integra os seguintes indicadores:
participao dos cidados: membros activos nas
organizaes;
beneficirios directos dos programas ou projectos
nmero de centmetros quadrados de novas publicaes
sobre OSC, nos jornais de maior circulao, no perodo
designado;
percentagem de temas submetidos a legislatura, por OSCdurante o perodo de referncia/total de temas;
incidncia sectorial na sade e na educao.
O clculo do valor dos ndices intermdios a mdia dos valores obtidos
pelos indicadores.
A ordenao da tipologia que utilizamos feita de acordo com a
definio de 3 tipos de organizaes:
1. fundaes: financiadas por outras entidades, mas legalmenteindependentes, por desenvolverem actividades filantrpicas;
2. associaes de desenvolvimento, com diferentes fontes de
recursos, para alm das cotizaes dos scios que pretendem
satisfazer necessidades e promover laos de solidariedade,
sempre bem definidos localmente;
3. organizaes de suporte para fornecimento de servios sociais e
no lucrativas.
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Decorrente desta tipologia utilizamos mais concretamente: mutualidades,
IPSSs, Misericrdias, cooperativas, associaes e sindicatos.
Num contexto de escassez de dados que suportem este tipo de estudos,duas alternativas se afiguravam: recusar por completo a experincia, ou
assumir o estudo com limitaes, deixando sempre claros os pressupostos da
anlise. Optamos pela ltima, utilizando vrios instrumentos e suportes de
recolha de informao, tais como a anlise de fontes estatsticas, dados
administrativos e a aplicao de um inqurito.
O inq urito comea quan do qu alqu er co isa ins atis fatria, quando as
crenas trad icio nais esto in adequ adas o u em qu esto, quando os facto sneces srio s p ara reso lver as in certezas no so conhecid os , qu ando aship teses m ais relevant es no so imag inad as. O q ue est na o rigem do
inqurit o meram ent e o pr ob lema343
.
A recolha de informao atravs de inqurito (anexo 2), resultou de trs
preocupaes: a inexistncia de dados sistematizados, no domnio das OSC, a
garantia de uma cobertura razovel do distrito e a necessidade de obter
indicadores chave para a formulao de hipteses de investigao. A base de
dados do universo de organizaes identificadas foi assim construda a partirdas respostas que se reportam ao ano de 1998, e contou com o apoio do ento
Servio Sub-Regional de Segurana Social. A maior dificuldade foi sem dvida
conseguir as respostas o mais completas possvel, para obter informao
relevante de forma a poder construir um indicador slido e que descrevesse
com fidelidade as diferentes dimenses do ndice. Em todo o caso, para evitar
ms interpretaes e clarificar a forma como fomos dando corpo aos vrios
procedimentos, colocamos no anexo 3 a forma de clculo do IDSC.
Quando utilizada a varivel populao total do distrito, reportamo-nos
aos Censos de 1991.
343Brewer, 1989, p. 56.
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Resultados do inqurito lanado s OSC do distrito de Viana do
Castelo em 1998/construo do IDSC
Foram enviados 520 inquritos (universo das OSC que se apuraram). A
adeso foi de 45%, caracterizando-se a amostra, de acordo com o quadro 35,
pela grande percentagem de associaes55,2% do total.
As organizaes em anlise foram criadas, na sua maioria por grupos de
pessoas cujo propsito era proporcionar servios e estruturas de apoio a
grupos especficos. Fornecem, por isso, em geral, servios de proteco social.
Quadro 35Percentagem das OSC que responderam ao InquritoAssociaes 55.2%
Centros Sociais e Paroquiais 15.2%
IPSS344 9.1%
Conferncias Vicentinas 6.5%
Cooperativas 3.9%
Fundaes 0.4%
Critas 3.5%
Sindicatos 2.6%
Misericrdias 1.7%
Outros 1.7%
TOTAL 100%
As OSC integram vrios tipos de actividades que articulam e
complementam na sua forma de funcionamento. A actividade para que a maior
parte se vocaciona para as culturais (42.6%), seguida de actividades
desportivas (31.7%) e actividades com crianas e jovens (28.7%) (quadro 36).
Quadro 36Actividades desenvolvidas pelas OSC
Actividades culturais 42.6%
Actividades desportivas 31.7%
Actividades com crianas e jovens 28.7%
Formao 26.1%
Actividades com idosos 25.7%
Actividades jurdicas 20.0%
Actividades de investigao 11.7%
344Importa referir que este valor est subdimensionado, uma vez que a maior parte das associaes e todos os centrossociais, e paroquiais, que responderam, tm tambm o estatuto de IPSS No entanto, achmos importante coloc-loscom a designao com que responderam ao inqurito.
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IDSC - ndice estrutura
Para definir o ndice estrutura adoptou-se um conjunto de indicadoresdivididos por quatro reas: a dimenso das OSC, a importncia dos recursos, a
diversidade institucional e a idade das OSC.
Relativamente dimenso das OSC adoptou-se o seguinte indicador:
OSC que responderam ao inqurito sobre a populao total do distrito.
Relativamente importncia dos recursos adoptaram-se os indicadores:
1. nmero dos assalariados ao servio das OSC, sobre a
populao economicamente activa, no distritoque caracterizouos recursos humanos;
2. oramento das OSC sobre o PIB, distrital e o mesmo oramento
sobre os custos decorrentes das actividades que caracterizou
os recursos financeiros.
O valor da importncia dos recursos a mdia aritmtica dos dois
indicadores:
para clculo da diversidade institucional adoptaram-se como
indicadores o tipo de instituies que representam mais de 20%
do total das OSC sobre a totalidade das OSC;
para clculo do indicador idade das OSC utilizou-se o nmero
das OSC com a idade mdia sobre o total das OSC.
A determinao do ndice estrutura foi a mdia aritmtica dos quatro
indicadores e resultou num valor de 0.248. A maioria dos indicadores
apresentou valores relativamente prximos da mdia, o que, em termos de
recursos financeiros, poder significar que, na sua maioria, esto prximas da
capacidade de sustentao do seu funcionamento. Registe-se que muitas das
instituies tm recursos prprios, patrimnio prprio (sobretudo as
misericrdias) e outras avanaram j com contratos de prestao de servios,
sendo o lucro da actividade investido na organizao.
Quanto dimenso das OSC, apresenta um valor extremamente baixo,
0.00092. Regista-se assim a pouca abrangncia das instituies, relativamente
ao total da populao.
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A idade das OSC, apresenta um valor baixo, 0.004345.
Dos indicadores de primeiro nvel que apresentam valores mais baixos
registaramos a dimenso das OSC e a vitalidade institucional.Esta situao leva-nos a reflectir sobre o facto dos servios
desenvolvidos pelas OSC serem aspectos que, quando satisfatrios, facilitam a
vida quotidiana. Assim, no h dvida que um acesso fcil a equipamentos
desportivos, culturais ou a servios de bem estar sero elementos
diferenciadores em matria de qualidade de vida e de bem estar. Baixos
ndices ao nvel da dimenso e da vitalidade poder ser nota de uma maior
vulnerabilidade nas famlias e comunidades em momentos que afectam assuas vidas.
IDSCndice processo
Para definir o ndice processo adoptou-se um conjunto de indicadores
divididos por trs reas: vitalidade institucional, articulaes e diversidade na
interveno:
relativamente vitalidade institucional adoptou-se o seguinte
indicador: nmero de OSC com 2 ou menos anos sobre o total
das OSC;
relativamente s articulaes adoptaram-se os indicadores:
a) nmero de OSC que assinaram acordos de parceria sobre
o total das OSCque caracterizou as articulaes formais;
b) nmero de OSC que promoveram ou partilharam projectos
sobre o total das OSCque caracterizou a participao em
rede.
O valor das articulaes a mdia aritmtica dos dois indicadores.
345Ressalte-se que 67% das OSC foram criadas a partir de 1975, havendo um intervalo muito grande entre as datas defundao. H registos de instituies que foram criadas em 1505, indicador que dever ser tido em conta.
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.
346 O presente diagrama uma adaptao do diagrama de LUNA, 1999 (relatrio cedido). Os indicadores foram
calculados com base: a) na informao obtida nos inquritos enviados; b) informao obtida junto do Servio Sub-Regional de Segurana Social de Viana do Castelo, sobre oramentos e despesas das IPSSs e valncias emfuncionamento; c) INE, Censos de 1991.
Diagrama3
Estrutura geral do ndice de desenvolvimento da sociedade civil no distrito de
Viana do Castelo (1998)346
ndices intermdios 1 nvel de indicadores 2 nvel de indicadores 3 nvel de indicadores
Dimenso das OSC0.00092
Importncia dos
recursos
humanos0.324
Importncia dos recursos0.438
Diversidade Institucional0.552
Importncia dos
recursos
financeiros
0.552
Oramentodas OSC/PIB
0.009
Autonomiafinanceira
1.096
Idade das OSC0.004
Estrutura0.248
Vitalidade institucional0.030
Articulaes na interveno0.154
Articulaesinstitucionais
0.243
Diversidade da interveno0.216
Participao emredes
institucionais0.065
Processo0.133
IDSC0.317
Beneficirios directos0.572
Resultados0.572
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relativamente diversidade da interveno adoptou-se o seguinte
indicador: nmero de valncias com peso superior a 20% sobre o
total das valncias.A determinao do ndice processo foi a mdia aritmtica dos trs e
resultou num valor, 0.133, informado pela maioria dos indicadores (vitalidade,
articulaes e diversidade) que apresentavam valores baixos. Atente-se, no
entanto, ao valor que define a diversidade das intervenes, 0.216, que pode
revelar a diversidade de valncias tipificadas e no de respostas inovadoras
para satisfao real das necessidades geradas pelos diferentes factores de
excluso, ou mesmo para criao de alternativas econmicas flexveis. Tendo
em conta que a maioria das organizaes que responderam ao inqurito tm oestatuto de IPSS, podem realmente correr o perigo de perder flexibilidade e
autonomia, por se encontrarem sob a tutela do Estado, j que procuram, por
vezes, responder a modelos que integram lgicas que no as basilares de
economia social.
O nvel de articulao e de participao em redes (que regista o
cumprimento da funo de responsabilidade multiforme da sociedade civil)
em geral fraco, 0.065, de acordo com o clculo efectuado. Considera-se, no
entanto, que este processo bastante condicionado pela proximidade espacial
e pela homogeneidade cultural existente em cada distrito.
Para a nova economia social, paradigmtico perceber que a
cooperao em rede, que se perspectiva crescente, um factor no mercantil e
no econmico que, contudo, tem importncia para o desempenho econmico
de cada local (em especial no fortalecimento do capital social e de espaos
para promoo de competncias individuais e colectivas).
Leva-nos, no entanto, a lanar uma questo: ser, ou no, de aceitarque os esforos de criao do capital social em cada comunidade estaro
ligados densidade das redes sociais?
As OSC que assinalaram estar em rede institucional foram as que
aderiram ao RMG, ou assinaram parcerias com projectos sociais. So portanto
articulaes inter-institucionais no mbito das novas orientaes polticas
iniciadas em 1986 com os Projectos de Luta Contra a Pobreza e s quais o
Pacto Social para a Solidariedade Social, definido em 1996, deu consistncia.
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Nestas circunstncias, ousaremos dizer que podemos introduzir um
elemento novo na nossa anlise, no sentido de que est tomada conscincia
prtica da importncia do trabalho em rede para o desenvolvimento local, que,entre outros atributos, gerador de modelos novos de deciso:
1. deciso conjunta entre membros colaboradores ou associados
de diferentes origens institucionais;
2. novas metodologias e prticas de desenvolvimento, da
decorrendo diversidade e inovao ao nvel das iniciativas de
interveno interveno social para reintegrao no
econmico/estratgias econmicas de aco para a inclusosocial.
IDSCndice resultados
Para definir o ndice resultados347adoptou-se como indicador o nmero
de beneficirios directos sobre o total da populao, resultando um valor de
0.572. Traduz, em nosso entender uma realidade aparentemente estranha:
contraditria relativamente dimenso das OSC ou sobredimensionada
relativamente abertura de alguns servios.
O resultado final do IDSC a mdia aritmtica dos trs intermdios e
resultou num valor de 0.317. Tendo em conta que o IDSC varia entre 0 (zero,
desenvolvimento mnimo) e 1 (desenvolvimento mximo), encontra-se ainda
distante do 0.5, o que poderemos assinalar que vir seguramente reforar os
scoresconstantemente negativos, definidos pelo exerccio anterior.
347 Relativamente ao ndice resultados no foram conseguidos elementos para os indicadores participao dos
cidados (medida atravs nmero de associados), visibilidade e incidncia sectorial (indicadores previstos notrabalho original a que tivemos acesso), pelo que a abordagem dos resultados foi medida s a partir dos beneficiriosdos servios prestados.
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4.3.3. Notas de concluso sobre o IDSC
Vrios critrios podero ser utilizados para permitir uma abordagemconceptual unificadora das OSC. A tendncia neste trabalho foi para analis-
los, atravs de caractersticas distintivas: o modo como se estruturam, a
autonomia financeira, a articulao interinstitucional e os resultados da sua
interveno.
A necessidade de se encontrar formas de avaliao mais profundas das
dinmicas institucionais um facto assumido, no sentido de se ter uma ideia
sobre aspectos chave que, atravs dos indicadores, reflictam a dimenso e oimpacto da sociedade civil. Pese embora a rpida manipulao dos dados que
a metodologia utilizada permite, no dispe em si mesma de um poder
explicativo. Descreve relaes, estruturas, mas cabe ao autor atribuir-lhe um
sentido, assente num modelo terico prvio, o que, partida, se constitui como
limitao metodolgica.
O facto de se aceitar a orientao definida pelo New Civic Atlas,
elaborada pelo CIVICUS e UNDPs Human Development Index, no implica
que se prossiga, acriticamente, ignorando consideraes que se cruzam com
as finalidades que se pretendem atingir. Desde logo porque, reconhecendo-lhe
como vantagem o facto do ndice permitir a comparao dos valores tomados
por uma mesma varivel em pocas diferentes e ainda a avaliao da variao
relativa sofrida pelas variveis consideradas, em relao ao ano que se
convencionou tomar por base, temos, no entanto, que deixar no ar algumas
questes:
1. quando comparados ndices, a partir de quando se poder dizer
que a diferena entre si significativamente positiva ou negativa;
2. poder a rigidez dos nmeros esconder factores, ou relaes
mais pertinentes (que factores? que relaes?).
Existe a conscincia de que a descrio de uma varivel por uma
expresso sinttica, poder seguir procedimentos diferentes, consoante o tipo
de informao de que se dispe.
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Por outro lado, h informaes que no so quantitativamente
mensurveis, pelo que se a preciso da metodologia utilizada permite
descrever relaes e estruturas, a sua capacidade para elucidar limitada aomodelo terico que se construiu previamente e em funo do qual se escolheu
um mtodo de anlise.
Refira-se ainda o facto de ser um instrumento que combina a medio
de um conjunto de dimenses chave das OSC. Um ponto positivo da
decorrente foi ter ajudado a construir esse suporte de anlise, o que contribuiu
para a identificao do tipo de elementos que, combinados, identificam e
avaliam as aces que podero conferir maior ou menor desenvolvimento s
OSC. Num quadro de pesquisa em cincias sociais, as peculiaridades daanlise em presena esto no facto da construo sistemtica do IDSC poder
permitir avaliaes mais pontuais (localizadas em pequenos espaos
geogrficos, num determinado perodo de tempo), avaliaes comparativas,
estudos longitudinais e at anlise prospectiva.
Apesar da quantidade de informao ser inferior que desejaramos, e
do inqurito obedecer a um determinado ponto de vista (decidido pelo autor, de
acordo com o seu conceito de OSC e das suas funes), foi um alerta para a
sua dimenso e complexidade. De facto, ao nvel das organizaes h
discrepncia em termos de funcionamento e proviso de bens e servios, j
que a sua capacidade de encontrar formas de interveno especficas, de se
relacionar e articular com entidades pblicas e privadas muito diversa. Esta
situao diferencia as suas atitudes perante a sociedade, dificultando tambm
o consenso na sistematizao dos dados. Um ponto a reter, relativamente
metodologia foi o ter-nos permitido a identificao dos indicadores que
contribuem para dar maior ou menor visibilidade dinmica da sociedade civil(como, por exemplo, os indicadores articulaes na interveno, diversidade
das intervenes e participao em redes). Sublinhando Pezzini (2002),
zonas onde a criao de redes seja mais slida, podem traduzir um capital
social forte, um patrimnio de confiana nas relaes sociais, uma tradio de
mobilizao cvica na vida associativa348.
348Pezzini, 2002, p. 6.
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Refira-se ainda o facto do ndice ser esttico no tempo, o que contrasta
com a realidade de permanente evoluo que as OSC encerram, sendo
sempre limitada a descrio das suas dimenses. A sua interpretao, luzdos dados e do modelo que serviram para a sua determinao, sero
seguramente legitimados com o alargamento do estudo a outros distritos e em
vrios momentos de evoluo.
Em nosso entender a construo do IDSC poder ser uma mais valia
para a definio de indicadores das chamadas avaliaes de acompanhamento
e avaliao sumativa, na medida em que poder permitir uma viso
permanente de processos de interveno articulaes institucionais, criaode redes, diversidade temtica e adapt-la produo de informao sobre
os resultados decorrentes das iniciativas das OSC.
Cidados org anizados vo assum indo respon sabil idades crescentes ehom ogneas, tentando alcanar m aior identidade e pro tagoni smo nummodelo de interaco c entrado na comp lementaridade dos actores
349.
Os ndices de processo350 ou de resultados351 (cruzados, por
exemplo, com variveis caracterizadoras de processos de insero peloeconmico) podero vir a fornecer indicadores importantes em termos de
eficcia (quando as aces conduzem a efeitos teis e esperados, de acordo
com os objectivos definidos) e de eficincia (quando um desempenho conduz a
bons resultados que, por sua vez, esto directamente ligados a uma afectao
racional dos meios utilizados).
Aposta-se assim na construo de sistemas de anlise para avaliao
de processos, partindo do pressuposto de que a eficcia e a eficincia s seconseguem se, atravs de um sistema que combine avaliao e interveno,
se produzirem mudanas e melhorias nas formas de gesto e de articulao
dos recursos envolvidos.
349Luna, 1999, p. 2.350 Que integra os indicadores sobre vitalidade institucional, articulaes institucionais, participao em redes ediversidade de intervenes.351No nosso caso, beneficirios directos.
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Do ponto de vista metodolgico, a anlise do IDSC parece sugerir que
existe coeso entre os vrios indicadores, podendo considerar-se que, apesar
de se situar ainda no domnio da experimentao, um ndice consistente.Queremos com isto avanar que consideramos que o IDSC est dotado de
meios que podero permitir a criao de sistemas que questionem o
planeamento, o processo de interveno e os impactes e afinar critrios
importantes para a definio de orientaes estratgicas de poltica social
(inclusive no que se refere monitorizao de procedimentos).
Factores crticos
A metodologia de anlise desenvolvida envolve ainda factores crticos,
que se colocam, globalmente, a toda a investigao em cincias sociais.
partida, regista-se a necessidade dos procedimentos e dispositivos utilizados
na metodologia de clculo do IDSC no terem contornos meramente tcnicos e
burocrticos, j que se buscam objectivos bem mais amplos. Pretende-se que
o mesmo se constitua como um valor acrescentado no que se refere ao
conhecimento cientfico das OSC e ao seu papel na definio de linhas
orientadoras de intervenes favorveis ao desenvolvimento de uma sociedade
inclusiva. Para esse efeito, vrios elementos devero estar presentes:
1. dever o ndice poder captar o carcter diversificado e
heterogneo dos estatutos jurdicos envolvidos, caracterizando-
se assim os diferentes desempenhos econmico e social, da
decorrentes;
2. dever o IDSC definir intervalos de variao (para que se
possam comparar processos de funcionamento com referncia a
um dado momento) e reprogramar, ou ajustar propostas;
3. dever o ndice medir a evoluo dos fenmenos sociais,
fornecendo elementos indispensveis para a reorientao das
actividades econmicas e da poltica social.
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Acompanha-nos ainda a conscincia de que este sistema de anlise
dever sempre ser integrado num mbito sistmico e prospectivo, numa
orientao que conecte anlises intensivas e dados qualitativos, sepretendermos produzir efeitos de aprendizagem.
Por um lado, porque, diferentemente dos interesses ligados a reas de
interveno tradicionais, a capacidade das OSC para desenvolverem
actividades em torno dos objectivos a que se propem visvel em muitas
situaes. Por outro, porque um ponto central do equacionamento da sua
interveno a capacidade de inovar, criar e negociar. Dar visibilidade a esta
situao exige, no entanto, o estudo de percursos de vida das OSC, objecto deque passaremos a dar conta.
Experincias portuguesas do terceiro sector: emergncia, percursos,
inovao e criatividade
na pequena comunidade que se experimenta o reconhecimento e sefortalece a identidade; na pequ ena com unid ade que se aprend e a discern ir faceaos d esafios e interpelaes do mu ndo exterior; na pequ ena com unid ade qu e
se exercita e pratica a solidariedade e a partilha fraterna352
.
Ao longo dos seus mais de 25 anos de existncia as organizaes
associativas sofreram mltiplas influncias. Depois de Abril de 1974 as
organizaes populares de base desenvolveram-se devido dinmica scio
poltica, vivendo-se por todo o pas um clima contagiante de empenho na
produo da dinamizao cultural. A prioridade das aces era aproximar a
populao de prticas culturais, tais como a alfabetizao, o teatro e a
actividade scio-poltica. Atingindo uma maturidade elevada as organizaes
populares de base (OPB) adoptaram os mtodos da gesto do sector privado e
so, actualmente, na sua maioria, financiadas pelo sector pblico, figurando
como empresas com formas de partenariado pblico/privado.
Existem por isso nestes processos duas tendncias relevantes: a
associao por iniciativa prpria e a associao integrada num processo de
mediao institucional. Esta ltima parte das condies de grande dfice na
produo de servios sociais.
352Silva, 1999.
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Os objectivos dos bens e produtos so assumidos pelos prprios
actores/agentes de interveno e os modos de os realizar esto dependentes
da sua capacidade de atrair investimentos para os produzir localmente.Esta evoluo marcou a estrutura das organizaes do terceiro sector e
a sua forma de estar, na procura de um equilbrio entre os objectivos sociais e
a organizao de servios para satisfazer necessidades: ponto crucial da
economia social, enquanto actividade econmica centrada nas pessoas.
A partir dos anos 80, em Portugal, assiste-se a uma forte exploso de
pequenas estruturas cooperativas e associativas. A ideia de conjugar
objectivos econmicos e sociais nas estruturas produtivas faz o seu caminho,
atravs de dois movimentos que tenderam a encontrar-se. O das cooperativas
que eclodiram a partir de 1974 (entre 1970 e 1980 passaram de 539 para 3488)
e o das associaes prestadoras de servios de apoio social, que fornecem
servios no mercantis aos seus membros e s colectividades, com uma tripla
funo:
1. reintegrao nos circuitos de mercado de trabalho ou de
formao de populaes em situao de excluso;
2. utilizao de novos recursos, j que os financiamentos pblicos
so insuficientes;
3. oferta de servios.
Ao nvel da poltica social as organizaes da sociedade civil cresceram
continuamente, participando no processo de formulao poltica e de
fornecimento de servios. Tratou-se, por isso, de reinventar novos modos de
colaborao. Partindo da tese de que o desenvolvimento s efectivo se se
reconstrurem as estruturas de suporte da comunidade e as relaes das
pessoas entre si, reala-se desde logo a importncia dos projectos colectivos
que do aos indivduos que se associam a possibilidade de se identificarem
com os problemas que partilham e, a partir da, encontrarem solues.
Pareceu-nos interessante proceder a uma anlise de algumas destas
organizaes, no sentido de ter um conhecimento de base indutiva, que nos
permitisse identificar oportunidades diversas e inovadoras por elas
despoletadas.
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Em todo o caso, como atrs referimos, limitamos o estudo a duas - do
distrito de Viana do Castelo353 - que se distinguem nos objectivos de
interveno e na posio econmica e social que ocupam, bem como no seumbito de aco. Foram associaes que sustentaram o desenvolvimento de
actividades localizadas geograficamente, permitindo a abertura e integrao na
comunidade, uma maior polivalncia e, consequentemente, um maior domnio
em todo o processo de desenvolvimento. Estas experincias remetem para a
questo crucial na fundao de um movimento colectivo que saber evitar
resistncias e mobilizar motivaes dos agentes sociais para se envolverem na
satisfao de necessidades e na realizao de direitos e deveres. A resposta a
problemas concretos surgiu como a via eficaz para levar prtica estratgiasde desenvolvimento cultural e econmico.
Colocamo-nos, por isso perante a necessidade de dar a conhecer o
cenrio que, nos anos 70 levou emergncia das organizaes que iro ser
alvo do estudo, reportando-nos, em especial ao perodo vivido em Viana do
castelo aps Abril de 1974. Tornou-se impossvel medir o crescimento rpido
do universo que inclua associaes de vizinhana, grupos profissionais, de
servios cvicos ou religiosos, que promoviam causas e eram fundadas por
doaes, donativos, como fundaes ou comerciais (venda de servios).
Muitas destas associaes tornaram-se instrumentos de influncia poltica e a
sua dimenso to larga como os seus interesses. Trouxeram novas ideias,
advogaram, protestaram, mobilizaram suportes pblicos, forneceram servios,
implementaram e geraram acordos nacionais e internacionais, mudaram
normas e instituies.
O quadro 38 sistematiza o panorama das OSC no distrito de Viana do
Castelo, na dcada de 1970. Os registos, foram difceis de obter e o seulevantamento pode ser considerado, um trabalho de equipa (ver fonte do
quadro).
Para alm da pesquisa efectuada junto de entidades como a Segurana
Social e o Governo Civil, tivemos a colaborao de actores que poca
lideraram projectos locais e que, actualmente guardam nos seus arquivos
pessoais as experincias passadas.
353Onde, como foi j referido a autora desenvolve a sua actividade como assistente social e, nessa qualidade tem umconhecimento profundo e directo das organizaes do terceiro sector a existentes.
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Captulo IV - Sociedade Civil: um instrumento de anlise sobre a influnciado terceiro sector na poltica social
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Foram estes ltimos que nos deram conta das existncias poca de
grupos de teatro, grupos folclricos e bandas.
O Governo Civil forneceu-nos elementos sobre as associaes culturaise desportivas e a Segurana Social facultou-nos informao sobre as
misericrdias, as IPSSs e os jardins de infncia de iniciativa popular,
facilitando-nos o acesso aos seus arquivos.
Quadro 38 - Viana do Castelo: OSC na dcada de 70