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  • 8/13/2019 Corra, Felipe., & Almeida, Marco Antonio Bettine de. (2012). Teorias dos Movimentos Sociais e Psicologia Poltica. Psicologia Poltica, 12 (25), 549-569.

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    Teorias dos Movimentos Sociais e Psicologia Poltica

    Theories of Social Movement and Political Psychology

    Teoras de los Movimientos Sociales y Piscologa Poltica

    Felipe Corra [email protected]

    Marco Antonio Bettine de Almeida [email protected]

    ResumoO artigo relaciona a Psicologia Poltica com as teorias dosmovimentos sociais. Discute distintas teorias dos movimentos

    sociais: os primeiros tempos e as abordagens psicolgicas, a

    abordagem estrutural da Teoria da Mobilizao de Recursos, a

    nfase da cultura e da ideologia na Teoria dos Novos

    Movimentos Sociais, a mobilizao poltica e a busca da esfera

    cultural/ideolgica da Teoria do Processo Poltico, a busca de

    avano com a Teoria do Confronto Poltico. Partindo de uma

    definio da Psicologia Poltica como campo interdisciplinar de

    estudos do poder e dos movimentos sociais como atores polticos

    relevantes, centrais nas relaes de poder contemporneas, oargumento fundamental do artigo que, por sua abordagem

    relacional das trs esferas sociais (econmica, poltica/jurdica/

    militar e cultural/ideolgica), por sua interdisciplinaridade e

    por conseguir conciliar elementos racionais/objetivos e

    emocionais/subjetivos, estrutura social e ao humana,

    abordagens macro e microssociais, a Psicologia Poltica oferece

    elementos para que se afirme sua relevncia na compreenso

    adequada dos movimentos sociais.

    Palavras-chavePsicologia Poltica, Movimentos Sociais, Teoria dos Movimentos

    Sociais, Poder, Interdependncia das Esferas.

    AbstractThe article relates the Political Psychology with the social

    movements theories. It discusses various theories of social

    movements: the first times and psychological approaches, the

    structural approach of the Resource Mobilization Theory, the

    Pesquisador do Grupo deEstudos e Pesquisas emPsicologia Poltica, PolticasPblicas e Multiculturalismo

    GEPSIPOLIM e Mestre peloPrograma de Mudana Social eParticipao Poltica da Escolade Artes, Cincias eHumanidades da Universidade deSo Paulo, So Paulo, SP, Brasil.Doutor em Educao Fsicapela Universidade de Campinas Brasil, pesquisador do Grupo deEstudos e Pesquisas emPsicologia Poltica, PolticasPblicas e Multiculturalismo GEPSIPOLIM e docente doPrograma de Mudana Social eParticipao Poltica da Escola

    de Artes, Cincias eHumanidades da Universidade deSo Paulo, So Paulo, SP, Brasil.

    Corra, Felipe., & Almeida,Marco Antonio Bettine de.(2012). Teorias dos MovimentosSociais e Psicologia Poltica.Psicologia Poltica, 12(25),549-569.

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    Psicologia Poltica, Movimentos Sociais e Poder

    Elaborar uma abordagem psicopoltica das teorias dos movimentos sociais implica definirdois conceitos fundamentais: Psicologia Poltica e movimento social.

    Maritza Montero (2009:202-203), ao discutir as distintas definies de Psicologia Poltica,afirma: a condio de definio da Psicologia Poltica no est, de maneira alguma,estabelecida; entretanto, ela aponta trs caminhos que vm sendo percorridos para essaconceituao. Um deles a define por meio da inter-relao entre dois campos disciplinaresseparados: Psicologia e Poltica, e utiliza teorias e conceitos psicolgicos para explicarfenmenos polticos; outro a define como um novo campo disciplinar, constitudo pela fusoda Psicologia e da Poltica, com seus prprios fundamentos terico-metodolgicos.Finalmente, a autora apresenta um terceiro caminho para a definio de Psicologia Poltica,conceituando-a como:

    [...] um espao multidisciplinar que se ocupa de descrever, analisar e explicar os

    fenmenos que dizem respeito vida pblica, em funo das prescries sociais geradaspara organizar esta vida, e dos mecanismos de poder que nela operam, evidenciando osrecursos comunicativos, persuasivos e de fora empregados neste espao. (Montero,2009:204)

    Essa definio tem como foco as interaes entre o pblico e o privado, espaos que seinter-relacionam e inter-influenciam, na busca pela compreenso das relaes entre sociedadee indivduo, por meio de elementos polticos e psicolgicos. Tais elementos no sodisciplinares e se relacionam e se influenciam nas anlises mais abrangentes do poder.

    Doug McAdam, Sidney Tarrow e Charles Tilly (2009) concebem os movimentos sociaiscomo parte de fenmenos mais amplos, ligados ao confronto poltico1, e assim os definem:

    Um movimento social uma interao sustentada entre pessoas poderosas e outras queno tm poder: um desafio contnuo aos detentores de poder em nome da populao cujosinterlocutores afirmam estar ela sendo injustamente prejudicada ou ameaada por isso. [...]Esta definio especfica exclui as reivindicaes coletivas de poderosos em relao a

    poderosos, esforos coletivos para se evadir ou se auto-renovar e alguns outros fenmenosprximos que, de fato, compartilham caractersticas importantes com as interaes queesto dentro das fronteiras. Ns nos concentramos nas relaes dominantes-subordinados

    baseados na hiptese de que o confronto que envolve uma desigualdade substancial entreos protagonistas tem caractersticas gerais distintivas que ligam movimentos sociais arevolues, rebelies e nacionalismos de base popular (bottom-up). (McAdam, Tarrow,Tilly, 2009:21)

    1 Trata-se, aqui, do termo contentious, que vem sendo utilizado em casos como contentious politics,dynamics of contention etc. Ainda que contentious venha sendo traduzido no Brasil como confronto Cf. Tarrow (2009) e McAdam, Tarrow, Tilly (2009) , apesar da existncia do termo confrontation,possibil idades distintas so possveis: contenda, contencioso, sem mencionar outras. Independente dotermo utilizado, relevante apontar que contentious, para os tericos da Teoria do Confronto Poltico(TCP), envolve o confronto, mas no se resume a ele.

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    poltica dos sujeitos, esto dando lugar para que sejam cada vez maiores os setores dapopulao que se organizem para incidir na soluo de problemas pontuais. nestecontexto que surgem os novos movimentos sociais, preocupados com temas comoecologia, o desarmamento, a situao da mulher na sociedade etc. (Sabucedo, 1996:25-26)

    O movimento social constitui essa organizao no-institucional, que atua nas diferentesesferas sociais, distintamente dos partidos polticos e das instituies do Estado, na busca porganhos de curto prazo. Eles podem se aproximar mais de paradigmas clssicos,marcadamente classistas e com demandas voltadas ao campo do trabalho e s necessidades

    bsicas como moradia, terra, emprego, salrios, etc., ou de paradigmas contemporneos,como os novos movimentos sociais aos quais se refere o autor, com demandas policlassistase, em grande medida, culturais e identitrias.

    Relacionar diretamente Psicologia Poltica e movimentos sociais com o poder exige que sedefina esta categoria, central para os objetivos pretendidos. Para Toms Ibez (2007:44), h

    poder em todas as sociedades: as relaes de poder so consubstanciais ao prprio fatosocial, so-lhe inerentes, impregnam-no, contm-no, no prprio instante em que dele

    emanam. Ele assim reflete sobre o que chamou de paradigma estratgico do poder:

    O poder uma relao, um ato. O poder algo que se exerce. O poder tem uma presenadifusa em toda a estrutura social, se produz em todo lugar do social. onipresente no

    porque chega a todos os lugares, mas porque brota de todas as partes. [...] O poder toma aforma dos modelos da fsica. O poder consubstancial com o social, no existem, assim,zonas sem poder, ou que escapem ao seu controle. O poder imanente aos domnios emque se manifesta, a economia est constituda por relaes de poder que lhes so prprias.O poder ascendente, os poderes locais vo delineando efeitos de conjunto queconformam os nveis mais gerais: modificando as relaes de fora locais modificam-se osefeitos do conjunto. [...] O poder , antes de tudo, uma instncia produtiva. O poder

    produz saber, engendra procedimentos e objetos de saber. Quem ocupa uma posio depoder produz saber. O poder resulta de uma vitria; tem a guerra por origem. Osmecanismos do poder so da ordem do controle e da regulao, da gesto e da vigilncia.[...] O poder no funciona a partir do soberano, mas a partir dos sujeitos. A vida osmbolo do poder, seu objetivo gerir e administrar a vida. (Ibez, 1982:99-100)

    Pode-se, partindo deste referencial, conceituar o poder como uma relao social dinmicae conflitiva entre diferentes foras assimtricas, na qual h preponderncia de uma fora emrelao (s) outra(s). Essa relao , no mnimo, bilateral, e envolve aqueles que exercem o

    poder e aqueles que sofrem seus efeitos; no h, portanto, relao de poder sem sujeitos. Opoder emana das relaes sociais que se do em todas as esferas sociais e no se restringe,

    assim, a uma noo jurdica, a um reflexo da economia, da cultura, s instituies ou aossoberanos.Para Felipe Corra, a dominao um tipo de poder e pode ser definida da seguinte

    maneira:

    Relao social hierrquica que pode ocorrer nas trs esferas da sociedade [econmica,poltica/jurdica/militar, cultural/ideolgica] e institucionalizar-se com uns decidindoaquilo que diz respeito a outros e/ou a todos. Explica as desigualdades estruturais, envolverelao de mando/obedincia entre dominador/dominado, alienao do dominado, entre

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    outros aspectos. o fundamento bsico das relaes de classes, ainda que no possa serreduzida dominao de classe. Sua aplicao generalizada implica um sistema dedominao. (Corra, 2012:80-81)

    Partindo do campo conceitual em questo, e retomando a definio de movimento social

    apresentada, pode-se afirmar que as relaes de dominao, como parte do fenmeno maisamplo do poder, envolvem questes relativas s trs esferas sociais2e motivam o surgimentoe o desenvolvimento dos movimentos sociais.

    Alfredo Errandonea (1989:95-96) estabelece alguns tipos de dominao: a explorao dotrabalho (esfera econmica); a coao fsica e o controle poltico-burocrtico (esfera

    poltica/jurdica/militar); a alienao, a propaganda e as aes culturais e ideolgicas quelegitimam dominaes (esfera cultural/ideolgica). Segundo sustenta o autor, as dominaes

    podem ser de classe ou no, neste ltimo caso, nas dominaes de gnero, de raa eimperialistas; podem sobrepor-se ou ocorrer separadamente. Envolvem, assim como os

    prprios movimentos sociais, elementos polticos e psicolgicos.As relaes de dominao explicam, em grande medida, a razo de ser dos movimentos

    sociais, os quais buscam mobilizar agentes dominados para lutar, de maneira sustentada,contra agentes dominadores, visando modificar tais relaes. Os movimentos sociais tm porobjetivo constituir uma fora social e, por meio do confronto poltico, consolidar umcontrapoder, capaz de modificar as relaes sociais em jogo entre dominanantes-subordinados.

    Entretanto, dominao, confronto poltico e aes coletivas vm ocorrendo durante toda ahistria; os movimentos sociais, distintamente, de acordo com Tilly e Wood (2008:3),constituem um fenmeno histrico, com incio na Europa Ocidental e na Amrica do Norte,durante o sculo XVIII, que se generalizou globalmente e vem permanecendo no tempo at o

    2 Utiliza-se a definio das esferas de Bruno Rocha (2009:285-286). Esfera econmica.A economia estrelacionada ao mundo do trabalho, da produo e da circulao de bens, produtos, riquezas e servios;trata das condies materiais e ainda de bens no tangveis de desenvolvimento e existncia mesma da so-ciedade e como se d a partilha ou concentrao do produto social. Trata-se de uma esfera que envolveproduo, distribuio e consumo dos bens de uma sociedade determinada; os meios materiais de existn-cia dos homens e mulheres; os sistemas de trocas e suas estruturas. Esfera poltica/jurdica/militar. A po-ltica est relacionada aos nveis gerais de deciso numa sociedade; o nvel que analisa os partidos, go-vernos, organismos macro do Estado e das foras sociais organizadas (grupos, organizaes, dentro doinstitucional, partidos polticos esquerda ou direita, com distintas variaes, legais ou no); o espao dasnegociaes e enfrentamentos entre dominantes, entre as classes oprimidas e dos arranjos. O jurdico estrelacionado ao campo jurdico e diretamente ao Poder Judicirio; tambm dos foros, das normas, das ins-tncias reguladoras que sancionam (aos litgios por ex.) e podem definir a punio dentro de uma socieda-de. No se deve confundir necessariamente o direito com a lei, a defesa com o advogado e o acordo nor-mativo (ex. uma base estatutria) com a definio de leis. O militar est relacionado ao emprego da for-a, de maneira sistemtica ou no, tendo que ver, como todos os nveis repressivos, de violncia na socie-dade e do possvel enfrentamento opresso fsica, das estruturas de dominao e de liberta-o/emancipao atravs do uso da fora. Esfera cultural/ideolgica. A cultura est relacionada com asatitudes, normas, crenas, mais ou menos compartilhadas pelos membros de uma sociedade. Envolve co-nhecimentos, arte, moral, costumes e hbito, e possui relao com as instituies sociais, a forma de vidaem sociedade, as existncias familiares, os laos, os vnculos e as perspectivas. A ideologia diz respeito atudo o que circula no campo das ideias, das subjetividades, das conotaes que no so materiais, ao n-vel do simblico e das representaes. Faz parte daquilo que seria o inconsciente coletivo e tambm doque transcende o material. Os sentimentos de religiosidade e o mundo das utopias e das aspiraes do serhumano se encontram neste nvel. Os contedos das mensagens, a esttica e valores contidos na comuni-cao e na cultura tambm esto neste nvel.

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    envergadura, principalmente na Europa Ocidental e na Amrica do Norte. Essas mudanas,que ocorreram concomitantemente ao surgimento e o desenvolvimento das Cincias Sociais,subsidiaram investigaes sobre massas, multides, classes sociais e aes coletivas. Teoriassociais desenvolvidas por autores clssicos como, no caso da Sociologia, Karl Marx, MaxWeber, mile Durkheim , em alguma medida, estabeleceram as bases para investigaes queincluiriam, em algum tempo, os movimentos sociais.

    Os franceses Gabriel Tarde e Gustave Le Bon, por meio de investigaes sobre apsicologia das massas/multides, na passagem do sculo XIX para o sculo XX, explicaramos movimentos sociais de seu tempo como fruto da desorganizao social e da patologia

    psicolgica. Segundo Serge Moscovici (1993:197-228), para Tarde e Le Bon, as multides, asmassas, seriam um produto da desagregao social e de uma diminuio dos marcos normaisda vida social. Irracionais por natureza, as multides viveriam em um estado de sonho eiluso, em um tipo de loucura coletiva, possuindo sentimentos contraditrios que semanifestariam em seu nervosismo e em sua violncia.

    Nos Estados Unidos, entre os anos 1940 e 1960, tambm se desenvolveram teorias para

    explicar as aes coletivas em geral, e os movimentos sociais em particular, que se apoiavamno binmio desorganizao social e patologia psicolgica. De acordo com esse enfoque scio-psicolgico, Maria da Glria Gohn afirma que:

    [...] as insatisfaes que geravam as reivindicaes eram vistas como respostas s rpidasmudanas sociais e desorganizao social subseqente. A adeso aos movimentos seriamrespostas cegas e irracionais de indivduos desorientados pelo processo de mudana que asociedade industrial gerava. Nessas abordagens dava-se, portanto, grande importncia reao psicolgica dos indivduos diante das mudanas, reao considerada comocomportamento no-racional ou irracional. (Gohn, 2007:24)

    Para McAdam (2003:281-282), conciliavam-se macro-teorias sociolgicas, que

    sustentavam que os movimentos sociais resultavam da desorganizao social, com micro-teorias, que identificavam em dficits sociais e/ou psicolgicos fatores que impulsionariamindivduos a fazer parte desses movimentos. Diversas teorias desenvolveram-se nessa

    perspectiva: 1.) A Escola de Chicago e os interacionistas; 2.) A sociedade de massas deFromm, Hoffer e Kornhauser; 3.) A abordagem sociopoltica de Lipset e Rudolf Heberle; 4.)O comportamento coletivo sob a tica do funcionalismo, de Parsons, Turner, Killian eSmelser; 5.) As teorias organizacionais-comportamentalistas de Selzinick, Gusfield eMessinger. (Gohn, 2007:25-48) Elas alinhavam-se, de maneira mais ampla, teoria poltica

    pluralista, dominante nos Estados Unidos daquele momento, produzida por autores comoRobert Dahl, Nelson Polsby e David Truman.

    Os pluralistas viam tanto os Estados Unidos quanto outros pases como sistemas polticosabertos e, pelo menos, minimamente responsivos, sendo caracterizados pela barganha e

    pela negociao, realizadas por um amplo conjunto de grupos que possuem relativaigualdade no poder. A presena de movimentos sociais poderia ser vista como algoinconsistente com essa teoria, a no serque esses movimentos fossem vistos no comoesforos polticos instrumentais, mas como veculos teraputicos por meio dos quais

    pessoas com necessidades emocionais enfrentariam os efeitos prejudiciais dadesorganizao social e pessoal. (McAdam, 2003:282)

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    Sendo o sistema poltico aberto a todos institucionalmente, inclusive s minorias, efuncionando como uma poliarquia, os movimentos sociais no teriam razo de ser, e s

    poderiam ser considerados anomalias sociais abordagem que se relaciona ao funcionalismodurkheimiano, explicadas desde um ponto de vista psicolgico; caberia Psicologia, e no Sociologia ou s Cincias Polticas, analis-los.

    Tais posies se relacionam, em alguma medida, no modelo desenvolvido por Prado(2001:158), com autores que concebem o campo do poltico sem contradies, comestabilidade e equilbrio institucional, e caracterizam os sujeitos como psicolgicos ou psico-sociolgicos: S. Freud, G. Le Bon, N. Smelser, T. Parsons, R. Turner, L. Killian, G. Mead, H.Cantril.

    Os turbulentos anos 1960 foram fundamentais para uma mudana significativa nas teoriasdos movimentos sociais, demonstrando, empiricamente, o disparate das posies dospsiclogos das massas e as insuficincias das posies pluralistas. Esse contexto implicou osurgimento de uma nova corrente de interpretao dos movimentos sociais nos EstadosUnidos, a Teoria da Mobilizao de Recursos (TMR). Aes coletivas desse perodo

    demonstravam que aqueles movimentos sociais possuam peculiaridades em relao aomovimento operrio; Angela Alonso (2009:50-51) afirma que, em grande medida, eles nose baseavam em classe, mas, sobretudo, em etnia (o movimento pelos direitos civis), gnero(o feminismo) e estilo de vida (o pacificismo e o ambientalismo), para ficar nos mais

    proeminentes. Tampouco visavam a revoluo poltica, no sentido da tomada do poder deEstado. No eram manifestaes irracionais, mas mobilizaes articuladas, que colocavamem xeque no s abordagens como as de Tarde e Le Bon, ou mesmo as pluralistas, mastambm o marxismo e o funcionalismo, que possuam certa insero nos meios acadmicos.

    Reagindo s abordagens anteriores, a TMR voltou-se contra as abordagens psico-sociais, emesmo contra a prpria Psicologia, enfatizando que esta no seria uma disciplina capaz deexplicar os movimentos sociais. Negou a nfase irracionalidade e, de certa maneira,

    conforme afirma Carol Mueller (1992:5) fundamentada em crticos da TMR como D. Snow,W. Gamson, B. Klandermans , a tudo o que era subjetivo: emoes, ideologias, sentimentos,identidades, crenas e cultura. A TMR priorizou ferramentas tericas provindas das categoriaseconmicas, sendo a varivel mais relevante os recursos (humanos, financeiros, infra-estrutura entre outros), conforme explicam Bob Edwards e John McCarthy (2004:125): oconceito de recursos indispensvel em qualquer anlise do poder e das relaes conflitivas;conseqentemente, central na anlise dos movimentos sociais.

    Segundo Enrique Laraa (1999:15), para a teoria da mobilizao de recursos, osmovimentos sociais so grupos racionalmente organizados que perseguem determinados fins ecujo surgimento depende dos recursos organizativos que dispem. Margit Mayercomplementa, com base em John McCarthy e Mayer Zald, afirmando que a TMR:

    [...] concebe que o campo dos movimentos sociais est em livre competio com outrossetores da sociedade em um mercado aberto de grupos e idias. Esse mercado no possuitendncia rgida estrutural. Nele, os movimentos sociais competem com outrasorganizaes pela fidelidade e pelos recursos da populao, calculam e executam aesque lhes do notoriedade e que aumentam seu nmero de membros da mesma maneira queuma corporao se engajaria em campanhas publicitrias para aumentar suas vendas e seuslucros. (Mayer,1995:176)

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    Para os autores da TMR, os movimentos sociais so atores polticos racionais, no sentidoweberiano, que disputam recursos com outras organizaes e instituies, segundo estratgiase tticas, atuando dentro e fora da institucionalidade do Estado. Outro aspecto relevante foi aincorporao da Sociologia das Organizaes anlise dos movimentos, muito em funo dasobras de Mancur Olson, McCarthy e Zald. O movimento social, como uma empresa, seria umator em um mercado de bens, e deveria se estruturar da maneira mais adequada possvel.

    Para McAdam (2003:283), mesmo com todas as suas limitaes, a TMR, contando com aseriedade emprica de seus pesquisadores, conseguiu modificar o rumo das pesquisas sobre osmovimentos sociais, superar a concepo psicolgica tradicional dos movimentos sociais ereorientar o campo para o estudo das organizaes, das redes, do poder e da poltica; almdisso, proporcionou um avano significativo no debate, que alcanou um novo patamar a

    partir de suas formulaes.Fruto do mesmo contexto dos anos 1960 surgiu, na Europa, a Teoria dos Novos

    Movimentos Sociais (TNMS). Promovida por autores como Alain Touraine, JurgenHabermas, Alberto Melucci e Claus Offe, a TNMS possui foco fundamental na esfera

    cultural/ideolgica, negando que ela constitua uma superestrutura determinada por umainfraestrutura de base econmica; tal o aspecto que define a TNMS, pois alguns de seusautores negam a distino entre velhos e novos movimentos sociais. Essa teoria foi criada, emgrande medida, com base nos objetos (os novos movimentos sociais) sobre os quais sedebruaram seus autores, priorizando nas anlises questes como cultura, ideologia,conscincia, crena, micromobilizao e solidariedade, ocupando-se, conforme afirma Laraa(1999:15), especialmente do papel que desempenham os processos de construo deidentidades coletivas em sua formao.

    Touraine (2008:216) aponta que o conceito de movimento social til quando ele ajuda aredescobrir os atores sociais, quando eles foram esquecidos tanto pelas teorias marxistasestruturalistas quando pelas teorias racionalistas das estratgias e decises. Trata-se, para ele,

    de colocar a abordagem sociocultural no centro das anlises. Para Habermas (2008:201), huma distino entre a velha poltica, levada a cabo, no caso dos movimentos sociais, porempregados, trabalhadores-operrios e a classe mdia profissional, em busca de ganhoseconmicos e polticos, e a nova poltica, realizada pela classe mdia, pelos jovens e gruposcom alto nvel de educao, na busca por qualidade de vida, igualdade, auto-realizaoindividual, participao e direitos humanos. Segundo Habermas (2008:202), essesmovimentos so: antinucleares, pacifistas, de ao cidad, alternativos (ocupaes urbanas ecomunidades), de minorias (gays e dificuldade de locomoo), de defesa do fundamentalismoreligioso, contra impostos, de estudantes, de resistncia a reformas, de mulheres. As questesculturais e ideolgicas, centrais nesses movimentos, teriam, segundo sustenta, constitudoimperativos aos pesquisadores. Fundamentada na obra de Touraine, Alonso (2009:60) afirma

    que, segundo os tericos da TNMS, o trabalho teria perdido a centralidade nas sociedadescontemporneas e a dominao teria se tornado eminentemente cultural. Os novosmovimentos no surgiriam mais por questes de desigualdades econmicas, implicandomobilizaes de base classista, mas, como sustenta Habermas (2010:164-165), por lutassimblicas, quando sujeitos de direito buscam autonomia e participao poltica.

    Provavelmente, a categoria mais relevante na anlise da TNMS a identidade coletiva, aqual seria gerada no processo das aes coletivas. Seriam os atores sociais que criariam essasidentidades, a partir de sua definio em relao a si mesmos, aos outros e ao prprio

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    ambiente em que esto inseridos; um processo complexo e no-linear que envolveria relaessociais amplas e constantes. Melucci desenvolveu uma teoria robusta acerca da identidadecoletiva; criticando abordagens exclusivamente psicolgicas ou estruturais, para ele, em umdos casos, havia ao sem atores e, em outro, atores sem ao. (Alonso, 2009:65)Buscando na identidade coletiva uma mediao entre comportamentos individuais e osfenmenos coletivos, Melucci afirma:

    A identidade coletiva permite que os atores sociais atuem como sujeitos unificados edemarcados e que mantenham o controle de sua prpria ao; por outro lado, entretanto,eles podem atuar como corpos coletivos, pois completaram, em alguma medida, o

    processo construtivo da identidade coletiva. [...] Pode-se falar da identidade coletiva comoa habilidade de um ator coletivo reconhecer os efeitos de suas aes e atribuir a si mesmoesses efeitos. Assim definida, a identidade coletiva pressupe, primeiro, uma habilidadede auto-reflexo dos atores sociais. A ao coletiva no somente uma reao aosestmulos sociais e do ambiente; ela produz orientaes e significados simblicos que

    podem ser reconhecidos pelos atores. Em segundo lugar, ela implica que eles possuam

    uma noo de causalidade e pertencimento; so, portanto, capazes de atribuir a si mesmosos efeitos de suas aes. Esse reconhecimento implica uma habilidade de apropriar-se dosresultados de suas prprias aes, de compartilh-las com outros e de decidir como elasdevem ser realizadas. Em terceiro lugar, a identidade implica uma habilidade de se

    perceber a durao, o que permite aos atores estabelecer uma relao entre o passado e ofuturo e ligar a ao a seus efeitos. (Melucci, 2001:72-73)

    O postulado central da TNMS comum aos trabalhos de Touraine, Habermas e Melucci evidencia novos tipos de dominao que, ainda que encontrem nas ideologias elementosexplicativos, so marcadamente culturais, afetando as diferenas entre os mbitos pblico e

    privado, modificando subjetividades e gerando novos conflitos. As demandas dos novos

    movimentos sociais seriam mais simblicas, em torno das identidades e dos estilos de vida.3

    As crticas publicadas por Cohen em 1985 e a realizao dos debates em 1987, quegeraram os dois volumes deInternational Social Movement Research(1988), e em 1988, queculminaram na edio deFrontiers in Social Movement Theory(1992), inauguram um perodode debates entre a TMR e a TNMS, que ter como resultado, nos Estados Unidos, a criao daTeoria do Processo Poltico (TPP); figuram entre seus tericos mais relevantes C. Tilly, S.Tarrow, D. McAdam, David Snow e Robert Benford. Gohn (2007:79-87), num balano dessesdebates, que deram espao a significativos estudos comparativos entre a TMR e a TNMS,aponta o esforo para a aproximao, o dilogo e o intercmbio entre tericos de ambas ascorrentes; tericos da TMR aceitaram as crticas de seu reducionismo racionalista eestruturalista e seu desenvolvimento constitui as prprias razes da TPP.

    De acordo com Alonso (2009:54;58), a TPP investe numa teoria da mobilizaopoltica, sendo esse um de seus principais fundamentos. McAdam (1999:36) enfatiza que aexpresso processo poltico relaciona-se a duas noes centrais: 1.) Em contraste com

    3 Por razo desse foco, parece evidente que autores que definem a Psicologia Poltica conforme as duasprimeiras conceituaes de Montero [1.) Inter-relao entre Psicologia e Poltica, com a utilizao deconceitos psicolgicos para explicar fenmenos polticos; 2.) Campo disciplinar caracterizado pela fusoda Psicologia e da Poltica, com seus prprios fundamentos terico-metodolgicos] tenham maior afinida-de com as abordagens da TNMS do que com outras.

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    vrias formulaes clssicas, considera-se que um movimento social , acima de tudo, umfenmenopoltico, e no psicolgico. 2.) Um movimento representa um processocontnuodesde sua gerao at seu declnio, e no uma srie descontinuada de estgios dedesenvolvimento. Os movimentos sociais, segundo tericos da TPP, deveriam ser analisadoscom o mesmo ferramental utilizado para as anlises polticas e os movimentos sociaisdeveriam ser analisados em termos processuais e no parciais.

    Prado ressalta, alm disso, as tentativas que marcaram a TPP em sua busca de superar oracionalismo e o estruturalismo mais duro da TMR, por meio da incorporao de aspectosanalticos relativos esfera cultural/ideolgica:

    H uma forte preocupao com explicaes que no se reduzam nem a determinantesestruturais, nem somente a determinaes psicolgicas. Estas correntes tericas somarcadas pela motivao em explicar o carter mediatrio entre a objetividade e osaspectos subjetivos, pela compreenso do impacto das aes coletivas nas instituies

    polticas e por entender os elementos culturais que compem as aes coletivas. (Prado,2001:156-157)

    Pode-se afirmar que a nfase na mobilizao poltica e o esforo de incorporao dosaspectos culturais e ideolgicos, mesmo que ainda com certos limites, a partir de umenquadramento macro-histrico, marcam caractersticas fundamentais da TPP, sendo asoportunidades polticas e os frames suas categorias mais relevantes. McAdam(1999:40;48) enfatiza que a noo de oportunidade poltica em certa medida, apropriada dePeter Eisinger toma em conta o fato de que mudanas favorveis nas oportunidades

    polticas diminuem a disparidade de poder entre insurgentes e seus oponentes; isso,aumenta os custos para se reprimir o movimento. Conforme enfatiza, ainda que haja umreferencial subjetivo nessas mudanas, elas so mudanas estruturais objetivas. Visandocomplementar essa abordagem mais estrutural, Snow e Benford (1992:136-137) enfatizam a

    noo deframes, partindo das teorias de Erving Goffman, por meio da qual discutem como osindivduos dotam de sentido suas experincias e aes. Para eles, essa categoria refere-se aum esquema interpretativo que simplifica a condensa o mundo de fora, apontando ecodificando seletivamente objetos, situaes, eventos, experincias e seqncias de aesdentro de um ambiente presente ou passado de uma pessoa. Tal noo prioriza a maneiracognitiva de como agentes percebem a realidade e como membros dos movimentos sociaisformulam suas noes de justia/injustia, moral/imoral, tolervel/intolervel, as quais

    possuem relao direta com sua motivao para se mobilizar.Para alm da abordagem dos primeiros tempos, que considerava os movimentos sociais

    como evidncia da desorganizao social e da patologia psicolgica, as trs outras teoriasapresentadas (TMR, TNMS e TPP) constituem os paradigmas mais difundidos nos meiosacadmicos de investigao sobre os movimentos sociais.

    Em suma, as trs teorias agora clssicas sobre movimentos sociais tm contornosbastante peculiares. A TMR focalizou a dimenso micro-organizacional e estratgica daao coletiva e praticamente limou o simbolismo na explicao. J a TPP privilegiou oambiente macropoltico e incorporou a cultura na anlise por meio do conceito derepertrio, embora no tenha lhe dado lugar de honra. A TNMS, inversamente, acentuouaspectos simblicos e cognitivos e mesmo emoes coletivas , incluindo-os na prpriadefinio de movimentos sociais. Em contrapartida, deu menor relevo ao ambiente

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    poltico em que a mobilizao transcorre e aos interesses e recursos materiais que elaenvolve. (Alonso, 2009:69)

    Em termos histricos, o desenvolvimento da TPP reduziu o espao da TMR e logo asuplantou; a TNMS continuou a existir e desenvolveu-se para alm da Europa. (Alonso,

    2009:59) Entretanto, o debate entre a TPP e a TNMS, estimulado por Melucci e outros, foifundamental para o estabelecimento de certos consensos.

    O estudo dos movimentos sociais tem sido sempre dividido pelo legado dualista dasanlises estruturais como uma precondio para a ao coletiva e das anlises dasmotivaes individuais. Estes paralelos, e algumas vezes, entrelaados conjuntos deexplicaes nunca preencheram a lacuna entre comportamento e significado, entrecondies objetivas e motivos e orientaes subjetivas. (Melucci, 2001 apudPrado,2001:165-166)

    A busca de superao desse dualismo foi a tnica que determinou os debates,

    principalmente durante os anos 1990. Tericos da TNMS assumiram que a TPP possuaaspectos mais adequados para lidar com a racionalidade e a lgica dos movimentos sociais,agregando elementos terico-metodolgicos que envolvem recursos, estratgias eoportunidades. A TPP admitiu a falta de espao que elementos culturais/ideolgicos tinhamem sua abordagem, passando a refletir mais profundamente sobre aspectos subjetivos comoemoes, ideologias, sentimentos, identidades, crenas e cultura. Esse processo, ainda que notenha equiparado completamente as teorias (Gohn, 2010:45), permitiu certa sntese, assumida

    por parte significativa dos pesquisadores.Alonso (2009:69-73) buscou elencar os pontos fundamentais dessa sntese, aqui

    reproduzidos esquematicamente. 1.) Os movimentos sociais so atores relevantes dasociedade e fazem parte das disputas polticas que se do no Estado, mas tambm fora dele.

    2.) A estrutura social e tudo o que ela implica economia, Estado, desigualdades, classes etc. so fatores relevantes, mas, sozinhos, no so capazes de explicar o surgimento, odesenvolvimento e o desaparecimento dos movimentos sociais. 3.) No h determinismonecessrio e obrigatrio das estruturas econmicas e polticas uma em relao outra e nemem relao s estruturas culturais e ideolgicas. 4.) Na anlise dos movimentos sociais, helementos relevantes tanto em termos macro quanto microssociais. 5.) O sujeito um agentesocial que, se sofre determinaes estruturais, tambm possui capacidade para modificar arealidade dentro da qual est inserido. 6.) Os movimentos sociais no resultam diretamente deestratgias e clculos racionais de determinados atores, ainda que contem, frequentemente,com elementos como estratgia (envolvendo fora, objetivos, alianas) e racionalidade. 7.)Processos, mobilizaes/desmobilizaes e oportunidades polticas so caractersticas

    geralmente presentes no surgimento, no desenvolvimento e no desaparecimento dosmovimentos sociais. 8.) Os movimentos sociais possuem caractersticas que extrapolam aracionalidade e que evidenciam aspectos subjetivos, emocionais etc., contando sempre comelementos culturais, ideolgicos, identitrios e cognitivos, exigindo, por isso, elementos deanlise da Sociologia e das Cincias Polticas, mas, tambm, da Psicologia Social.

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    Teorias dos Movimentos Sociais e Psicologia Poltica

    Podem-se realizar algumas comparaes entre as distintas abordagens e teorias dosmovimentos sociais apresentadas anteriormente.

    Em termos de sua concepo de poder e dos prprios movimentos sociais, as abordagensdos primeiros tempos tendem a conceber o poder de maneira estritamente institucional, comosinnimo de Estado, sendo os movimentos sociais frutos da desorganizao social e da

    patologia psicolgica. Abordagem que foi modificada radicalmente a partir da TMR, daTNMS e da TPP, que trabalham com uma concepo de poder mais ampla, para alm doEstado, e consideram os movimentos sociais atores polticos relevantes.

    A TMR possui foco estrutural, dando foco nas questes materiais, objetivas, racionais,sendo os recursos as variveis mais relevantes. De um ponto de vista das trs esferas, pode-sedizer que a TMR concede prioridade absoluta s esferas econmica e poltica/jurdica/militar;a esfera cultural/ideolgica praticamente no recebe ateno. Desenvolvendo-se no contatocom a TNMS, a TPP, ainda que incorpore elementos relativos esfera cultural/ideolgica

    (elementos imateriais, subjetivos, emoes e sentimentos), continua a enfatizar aquilo que objetivo, estrutural, racional e manter, ainda que de maneira menos absoluta, o foco nasesferas econmica e poltica/jurdica/militar. A TNMS estabelece um contraponto ao focoestrutural da TMR e mesmo da TPP, por meio da prioridade que confere esferacultural/ideolgica e aos elementos imateriais, subjetivos, s emoes e aos sentimentos.

    Essas prioridades possuem relao direta com as disciplinas consideradas mais adequadaspara o estudo dos movimentos sociais. As abordagens dos primeiros tempos consideram queestes so objeto da Psicologia, e sugerem uma abordagem, em grande medida, clnica; naTMR sugere-se um abandono da Psicologia e um foco exclusivo nas Cincias Sociais(especialmente na Sociologia e nas Cincias Polticas). A TNMS apia-se bastante naPsicologia Social e a TPP, ainda que priorize as Cincias Sociais, considera que a Psicologia

    Social possui elementos tericos relevantes.Conforme afirmam Jos Luis lvaro e Alcia Garrido (2007:479): a escolha dos mtodos

    e tcnicas de investigao deve estar subordinada natureza do objeto de estudo e no ocontrrio. As abordagens terico-metodolgicas para o estudo dos movimentos sociaisdevem, portanto, estar em acordo com seus objetos que, de acordo com o que afirma Silva(2012:149), vm tomando um lugar expoente no contexto do pensamento das chamadasCincias Sociais e Humanas. Nesse sentido, considera-se fundamental que se desenvolvamelementos terico-metodolgicos capazes de aprofundar o conhecimento dos movimentossociais, a partir de uma noo relacional de totalidade, que no os considera parcialmente, demaneira reducionista, mas toma em conta suas distintas perspectivas. Como fenmenosligados diretamente ao poder em geral, os movimentos sociais devem ser estudados a partir danoo de interdependncia das esferas econmica, poltica/jurdica/militar e cultural/ideolgica.

    Por isso, a perspectiva interdisciplinar constitui um aspecto fundamental desses estudos,visto que as disciplinas, tomadas em conta individualmente, no possuem a capacidade deexplicao necessria. Parece que as teorias dos movimentos sociais vm demonstrando, como passar do tempo, certa aproximao dessa perspectiva, ao tomarem em conta, partindo de

    pesquisas empricas, abordagens distintas e mais abrangentes.

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    Abordagens contemporneas, como a Teoria do Confronto Poltico (TCP), desenvolvidaentre a segunda metade dos anos 1990 e incio dos anos 2000, vm tentando trabalhar nessesentido, incorporando elementos da sntese mencionada anteriormente e buscando avanar emrelao a elas. A TCP tem proporcionado um conjunto interessante de ferramentas para acompreenso dos movimentos sociais e enfatizado dois elementos centrais para suainvestigao: a perspectiva relacional da interdependncia e a necessidade de uma abordageminterdisciplinar. Propondo ampliar o objeto de estudo e trabalhar em investigaescomparativas, os tericos da TCP sugerem considerar os movimentos sociais parte de umfenmeno mais amplo: contentious politics [confronto poltico], que envolve lutas polticascoletivas e conflitivas.

    Por serem, na maioria, provenientes da TPP, esses tericos, buscando estudar osmovimentos sociais desde uma noo relacional e, portanto, de interdependncia , tiveramde continuar a incorporao de elementos relativos esfera cultural/ideolgica em seusmtodos e teorias. McAdam (1994) trabalhou as relaes entre os movimentos sociais e acultura, Tarrow (1992) tentou compreender a relao entre movimentos sociais, mentalidades,

    culturas polticas e frames coletivos e Tilly (1996) dedicou-se ao estudo da ideologia emfenmenos sociais mais amplos que os movimentos sociais. Adotam o que chamam deperspectiva relacional:

    A necessidade de levar em conta a interao estratgica, a conscincia e a culturahistoricamente acumulada. Tratamos a interao social, os laos sociais a comunicao e aconversao no somente como expresses da estrutura, da racionalidade, da conscinciaou da cultura, mas como lugares ativos de criao e mudana. Passamos a pensar nas redesinter-pessoais, na comunicao inter-pessoal e nas vrias formas de negociao contnua incluindo a negociao de identidades como elementos que figuram centralmente nasdinmicas do confronto. (McAdam, Tarrow, Tilly, 2001:22)

    A adoo dessa perspectiva relacional busca, em certo sentido, conciliar razo e elementosobjetivos, presentes h mais tempo em suas anlises, com a emoo e elementos subjetivos nacompreenso dos episdios de confronto.

    McAdam, Tarrow e Tilly (2009:13) tambm notaram os problemas da especializao e dadisciplinaridade para o estudo dos movimentos sociais; se por um lado, esse foco tem

    permitido aprofundar verticalmente os estudos, por outro vem impedindo anlises maisamplas, relacionais e comparativas. Defendem, por isso, abordagens interdisciplinares,capazes de abarcar o conhecimento de distintas reas de pesquisas e, por isso, compreendermais adequadamente os objetos.

    Em Dynamics of Contention, McAdam, Tarrow e Tilly (2001), a partir da anlise de 18episdios de confronto nos Estados Unidos, Europa, frica e Amrica Latina, que envolvemmovimentos sociais, revolues, democratizao e nacionalismo , identificam mecanismosque ocorrem em um nmero significativo de casos e que, articulados, constituem processosmais amplos, explicando episdios de confronto. Sua concluso que diversos mecanismos tais como apropriao social, ao inovadora, certificao,formao de categoria, mudanade identidade, atribuio de oportunidade/ameaa, competio, agenciamento (brokerage),atribuio de similaridadeentre outros podem aparecer, e de fato aparecem, em diferentesepisdios. Por diferentes combinaes, os mecanismos articulam-se em processos maisamplos tais como constituio de atores e identidades, polarizao, mudana de escala

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    entre outros , explicando distintos confrontos. Ao apresentar esse conjunto de mecanismos eprocessos, a TCP proporciona aos investigadores ferramentas de anlise e quadros dereferncia que auxiliam por meio de diversas combinaes de mecanismos e processos, oumesmo articulados com outros na anlise e na explicao dos episdios de confronto, queincluem os movimentos sociais.

    Nossas anlises concretas repetidamente envolvem combinaes de mecanismosrelacionais com cognitivos e/ou relacionados ao meio. [...] Em tais circunstncias, no estclaro, a princpio, se estamos observando dois ou trs mecanismos distintos quefreqentemente se articulam, ou se descobrimos uma combinao, suficientementeinvarivel de mudanas cognitivas, relacionais e relativas ao meio, que justifique tratar ocomplexo como um nico e robusto processo. Tambm no podemos decidir, no geral e a

    priori, como os elementos interagem se, por exemplo, as mudanas cognitivas sempreprecedem as mudanas relacionais ou vice-versa. A interao entre os mecanismoscognitivos, relacionais e relativos ao meio apresenta problemas urgentes para a teoria e a

    pesquisa do confronto poltico. (McAdam, Tarrow, Tilly, 2001:310)

    Os autores afirmam que, independente dos 18 episdios avaliados e da identificao demecanismos e processos que ocorrem com freqncia, no se pode concluir automaticamente:que tais mecanismos so sempre existentes; que determinados mecanismos sempre criam osmesmos processos; que a combinao encontrada entre mecanismos relacionados ao meio,cognitivos e relacionais sempre se repete. Assim, negam os esquemas pr-definidos dasrelaes entre estrutura e conjuntura; sociedade, grupo e indivduo; economia, poltica,cultura; razo e emoo, objetividade e subjetividade.

    O desenvolvimento da TCP constitui um exemplo concreto de (re)ajuste terico-metodolgico em funo do objeto; neste caso, dos movimentos sociais e outros tipo deconfronto poltico.

    Na TCP, assim como na TMR, na TNMS e na TPP, os movimentos sociais so fenmenosligados ao poder, de inegvel relevncia poltica, e que envolvem aspectos relacionaisreferentes s trs esferas sociais. Entretanto, a maneira como muitos desses movimentos vmsendo pesquisados permitem apenas compreenses parciais, que algumas vezes ocultamequvocos.

    Para a adoo de uma perspectiva relacional, tomando em conta a interdependncia dasesferas, e ao mesmo tempo interdisciplinar, cumpre superar a dicotomizao apontada porSilva:

    Como podemos observar, as teorias tradicionais de anlise de movimentos sociais tendema enfatizar e atribuir causalidade a apenas um dos aspectos do fenmeno, sendo, em

    alguns momentos, enfatizada a esfera econmica-estrutural e, em outros, a simblica-cultural. Mas convm lembrar que pensar os movimentos sociais e as aes coletivasdessa maneira dicotomizada equivale a reduzir fenmenos muito mais abrangentes aaspectos que se completam e interagem de forma complexa. (Silva, 2012:191)

    Essa dicotomizao, em certo sentido reducionista, pode ser observada nas abordagens eteorias dos movimentos sociais: as abordagens psicolgicas dos primeiros tempos, aabordagem estrutural da TMR, a nfase cultural e identitria da TNMS, o foco prioritrio namobilizao poltica na TPP. Ela envolve diferentes questes, centrais nos debates sobre a

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    teoria social: relaes entre as esferas, com prioridade ou determinao de uma(s) em relaoa outra(s); prioridade no racional e objetivo ou no emocional e subjetivo; prioridade naestrutura social ou na ao humana voluntria; prioridade na anlise macrossocial oumicrossocial.

    Pesquisadores contemporneos tm realizado esforos para romper essa dicotomizaocriticada por Silva. McAdam (1994:39), ao discutir as oportunidades polticas, afirma: extremamente difcil separar essas mudanas objetivas nas oportunidades polticas dos

    processos subjetivos. Tarrow (2001:3-4) prope que se analisem elementos estruturais esubjetivos/emocionais dos movimentos sociais, por meio daquilo que chama familiar voices[vozes familiares], que envolveriam organizaes, recursos, violncia, oportunidades

    polticas, e loud silences[altos silncios], que envolveriam interaes culturais, simblicas eemoes. Trata-se, para ambos os autores, de investir em uma reconciliao doracional/objetivo com o emocional/subjetivo.

    Salvador Sandoval (1989:434) afirma que h uma nova tendncia apontando para aintegrao futura dos campos disciplinares da Sociologia e da Psicologia Social

    especificamente na rea de estudo dos determinantes do conflito social; a necessidade deintegrar essas disciplinas est ligada, em primeiro lugar, compreenso dos movimentossociais como fenmenos que envolvem as trs esferas sociais e, tambm, tentativa deconciliar estrutura social e ao humana voluntria, anlise macro e microssocial. Posio que

    parece tambm ser a de Federico Javaloy (1993:278), que sustenta uma abordagem que superetanto as perspectivas psicologistas [...], que no prestam ateno no contexto social, como asexclusivamente sociolgicas, que tentam explicar o comportamento coletivo limitando-se afatores polticos, econmicos e organizacionais. Apoiando-se em Turner, Javaloy enfatiza anecessidade de superar a separao entre indivduo e sociedade e descobrir alguma maneirade relacionar os processos psicolgicos com os determinantes histricos, culturais, polticos eeconmicos da conduta. Seria necessrio, segundo sustenta, compreender a agncia humana

    dentro de um determinado contexto, que possui influncia sobre ela, ainda que no lhe limiteou determine completamente, assim como compreender as relaes individuais e coletivas,

    partindo de noes mais ou menos amplas, de sua interao.A Psicologia Poltica, compreendida como campo interdisciplinar de estudos do poder,

    permite uma compreenso adequada dos movimentos sociais; fundamentalmente por doismotivos.

    Em primeiro lugar, seu carter interdisciplinar permite que se compreendam estes objetosdesde suas vrias perspectivas e que se superem as abordagens reducionistas ou parciais.Assim, conforme se viu no debate das abordagens e teorias dos movimentos sociais,disciplinas como Sociologia, Histria, Psicologia, Cincias Polticas, Economia entre outras,

    podem oferecer elementos terico-metodolgicos importantes para a explicao dos

    movimentos sociais.Em segundo lugar, sua maneira de compreender o poder que, ligada diretamente sua

    interdisciplinaridade, toma em conta as trs esferas sociais, a partir de uma perspectivarelacional e de interdependncia, superando as dicotomizaes. Os aprendizados realizadoscom os estudos das abordagens e teorias dos movimentos sociais indicam que no se podetrabalhar com mtodos, teorias sociais ou mesmo quadros de referncia, que tomem, deantemo, posies definitivas acerca das determinaes entre as esferas sociais. A grandemaioria dos tericos dos movimentos sociais afirma que no h determinismo necessrio e

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    obrigatrio entre as esferas e, todas elas, quando se trata de uma anlise que envolve o poder,possuem relevncia. Trata-se, portanto, no de forar um encaixe do objeto no mtodo e/ou nateoria, mas de observ-lo a partir de um ferramental terico-metodolgico que proporcioneuma compreenso adequada da realidade social. Os estudos empricos vm demonstrando queessa relao de interdependncia entre as esferas faz com que, em distintos momentos, osmovimentos sociais possam ser explicados por diferentes fatores (econmicos, polticos,culturais etc.) e dificilmente apenas por um deles; trata-se, assim, de buscar compreend-los

    por meio dessa perspectiva relacional.Enfim, considera-se que a Psicologia Poltica possui as condies para reunir elementos

    terico-metodolgicos com vistas realizao dessas investigaes relacionais, maisabrangentes, dos movimentos sociais, e tambm elementos que permitam superar asdicotomias que vm caracterizando historicamente seus estudos; pode, nesse sentido, forneceras bases para uma sntese que explique esses movimentos por elementos econmicos,

    polticos e culturais; racionais/objetivos, emocionais/subjetivos; estruturais e voluntrios;macro e microssociais.

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