coordenadoria de comunicaÇÃo social / presidÊncia …...17025. assim, o instituto se torna o...

47
COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA - FIOCRUZ ANO I ABR 2004 4

Upload: others

Post on 03-Oct-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA - FIOCRUZ

ANO I

ABR 2004

4

Page 2: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 20042

Page 3: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 3

E D I T O R I A L

PresidentePaulo Marchiori Buss

Vice-Presidente de Serviçosde Referência e AmbienteAry Carvalho de Miranda

Vice-Presidente deDesenvolvimento Institucional,Informação e Comunicação

Paulo Ernani Gadelha

Vice-Presidente de Ensino eRecursos Humanos

Tânia Celeste Matos Nunes

Vice-Presidente de Pesquisa eDesenvolvimento Tecnológico

Euzenir Nunes Sarno

Chefe de GabineteArlindo Fábio Gómez de Sousa

Coordenadoria de ComunicaçãoSocial/Presidência

REVISTA DE MANGUINHOSNº 4 - ABRIL/2003

Coordenação: Christina Tavares

Edição: Wagner de Oliveira

Redação e reportagem:Pablo Ferreira, Pedro Sloboda,Raquel Aguiar, Ricardo Valverde,Sarita Coelho, Wagner de Oliveira

Colaboradores:Paula Lourenço (CPqAM),Vivi Fernandes (EPSJV)

Edição de arte:Guto Mesquita

Projeto gráfico:Guto Mesquita e Sergio Magalhães

Fotografia: Peter Ilicciev

Administração CCS: Beatriz Ayres

Apoio administrativo/Eventos:Assis Santos

Secretaria: Inês Campos e Sílvia Roza

Mensageiro: Daniel Lima dos Santos

O que você achou da novaRevista de Manguinhos?

Mande seus comentários para:

Av. Brasil, 4365 - Manguinhos - Rio deJaneiro - CEP: 21045-900

e-mail: [email protected]

tel: (21) 2270-5343

CEste número da Revista de Manguinhos faz umaampla revisão sobre a contribuição da Fiocruzcom relação ao complexo HIV/Aids. São projetosde pesquisa e desenvolvimento, ensino,assistência e cooperação técnica que estão emcurso na Instituição, visando enfrentar este queé um dos maiores desafios sanitários que ahumanidade enfrenta na sua já longa trajetóriana história do planeta.

O programa brasileiro de Aids é consideradoexemplar, por ser um dos mais bem-sucedidos domundo. As Instituições de C&T do país tiveram umpapel de relevo neste sucesso, entre elas a Fiocruz.O conhecimento sobre o quadro epidemiológicodinâmico da epidemia; avaliação de melhorespráticas educativas; produção e inovação emmedicamentos e diagnóstico para o HIV; melhorespráticas clínicas em Aids; estão entre algumas dasinovações que a Fiocruz vem desenvolvendo comocontribuição ao controle da doença.

Além do HIV/Aids, um conjunto de outrasnotícias procura mostrar à sociedade o que aFiocruz vem fazendo em prol da saúde dosbrasileiros. Sempre com a perspectiva docompromisso histórico com a ética e a cidadania,que tem pautado a já longa vida da instituição,que comemora 104 anos no próximo 25 de maio.

Boa leitura e um grande abraço, em nome dacomunidade da Fiocruz.

Paulo Marchiori BussPresidente da Fiocruz

aro(a) Leitor(a):

Page 4: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 20044

Os caminhosda tuberculose

Recrudescimento dadoença e genoma do

causador são novidades

QuandotrabalharadoeceEstudos trazemnovas luzes sobresaúde no trabalho

6 NotasNotasNotasNotasNotas

16 PesquisaPesquisaPesquisaPesquisaPesquisaGravidez sem álcoole sem sustos

18 PesquisaPesquisaPesquisaPesquisaPesquisaMãe deprimida,bebê prematuro

42 ResenhasResenhasResenhasResenhasResenhasA repercussão da teoriade Darwin no Brasil

43 ResenhasResenhasResenhasResenhasResenhasNovos livros daEditora Fiocruz

46 ArtigoO exemplo da Aids

13

Saúde do trabalhador

Saúde pública

20

Í N D I C E

Uma novapolítica para osimunobiológicosProjeto Inovação em Saúde,estudo sobre mercados devacina e produção de novoimunizante estão em destaque

8Vacinas

Page 5: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 5

44

Um lugar para a ciênciaLivro resgata o passadoda arquitetura em Manguinhos

38

22

Fio da História

BiossegurançaBiossegurançaBiossegurançaBiossegurançaBiossegurança

Frentes debatalha contraum inimigocomumEm diferentes linhas de pesquisa, Fiocruzavança nos estudos sobre a doença

Aids

A chegada denovos laboratórios

Alta segurança paramanipular microorganismos

Arquivo J. Pinto/COC - Fiocruz

Divulgação CPqGM

Divulgação IOC

Page 6: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 20046

N O T A S

Estudo sobrecélulas-troncogarante prêmioa cientistasda Fiocruz

Transplantar células-troncoda medula para o coração de umpaciente com comprometimentodo órgão em decorrência da do-ença de Chagas. Parece notíciade um futuro distante, mas nãoé. A pesquisa básica que deu ori-gem ao método desenvolvido porRicardo Ribeiro dos Santos eMilena Botelho Soares, imunolo-gistas do Centro de PesquisasGonçalo Moniz (CPqGM) da Fio-cruz, e Antonio Carlos Camposde Carvalho, fisiologista e pes-quisador da UFRJ, e que já de-monstrou sucesso em cinco pa-cientes, venceu a categorianacional do Prêmio Zerbini deCardiologia. Lançado no início de2003 pelo Instituto do Coração(Incor) do Hospital das Clínicasde São Paulo, um dos mais avan-çados centros de tratamento depatologias cardíacas no mundo,e pela Fundação Zerbini, o Prê-mio Zerbini de Cardiologialaureou, com US$ 20 mil, os me-lhores trabalhos nas categoriasnacional, internacional e Incor.

Mario SaMario SaMario SaMario SaMario Sayyyyyeeeeegggggrrrrrecebe oecebe oecebe oecebe oecebe oPrêmio DirPrêmio DirPrêmio DirPrêmio DirPrêmio DireitoseitoseitoseitoseitosHumanosHumanosHumanosHumanosHumanos

Na categoria idosos, o médi-co Mario Antônio Sayeg, professoremérito da Escola Nacional de Saú-de Pública Sergio Arouca, rece-beu o Prêmio Direitos Humanosconcedido pelo Governo Federalem reconhecimento ao seu traba-lho em prol dos direitos dos ido-sos. A premiação foi entregue pelopresidente da República em exer-cício José Alencar. Especialista emgeriatria, cardiologia e saúde pú-blica, Sayeg é professor-titular daFiocruz desde 1967. O hoje pro-fessor emérito é membro da Co-missão de Ética em Pesquisas comSeres Humanos, da qual foi presi-dente entre 1991 e 1997. É autorde livros sobre a saúde dos idosose já havia recebido da AssembléiaLegislativa do Estado do Rio de Ja-neiro a Medalha Tiradentes, em1999, e a condecoração de Honraao Mérito Nacional em Saúde Pú-blica, concedida pela SociedadeBrasileira de Higiene, em 2000.

INCQS ganhado Inmetrocredenciamentoinédito no país

O Instituto Nacional de Con-trole de Qualidade em Saúde(INCQS) conseguiu credencia-mento para a realização de ensai-os de microscopia, toxicológicos,farmacológicos e de alimentos noInstituto Nacional de Metrologia,Normalização e Qualidade (Inme-tro). O credenciamento atesta acompetência técnica do INCQSpara o cumprimento da norma co-nhecida como NBR ISO/IEC17025. Assim, o Instituto se tornao primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais deControle de Qualidade em Saúdedo Brasil a receber o reconheci-mento alcançado por poucas ins-tituições de vigilância sanitária emtodo o mundo. O INCQS é o prin-cipal órgão nacional para asquestões tecnológicas e normati-vas relativas ao controle da qua-lidade de insumos, produtos,ambientes e serviços voltadospara o setor de saúde.

Divulgação IOC/Fiocruz

Ensaios do INCQS foram certificados pelo Inmetro

Page 7: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 7

MorreFredericoSimõesBarbosa

Ex-diretor da Escola Na-cional de Saúde Pública Ser-gio Arouca e do Centro dePesquisas Aggeu Magalhães,no Recife, Frederico SimõesBarbosa faleceu no início demarço. Frederico participouativamente do processo deredemocratização da Fio-cruz, que culminou com aposse de Sergio Arouca napresidência da Fundação.Iniciou as suas atividades depesquisa na década de 1940,sendo um dos primeiros aconduzir estudos epidemio-lógicos de longa duração noBrasil. O seu nome esteveestreitamente associado àconsolidação da epidemio-logia como campo de inves-tigação, tanto na academiaquanto nos serviços de saú-de pública. Orientou deze-nas de teses de mestrado edoutorado nas áreas de pa-rasitologia, medicina tropicale epidemiologia.

Vem aí o Jogoda Água, sobremeio ambiente

Temáticas que vão além dasdisciplinas tradicionais dos currí-culos escolares podem e devemser discutidas nas escolas. E osjogos educativos têm muito a co-laborar com isso. Mais do quecompetitivos, eles estimulam odebate com os alunos sobre te-mas que não podem ser incor-porados apenas aos conteúdos dequímica, física, biologia, históriaou literatura. Em um estudo ini-ciado há cinco anos, pesquisado-res do Centro de Educação emCiências (CEC) do Museu da Vidada Fiocruz constataram a carên-cia da temática sobre meio ambi-ente em jogos para o públicoinfanto-juvenil. E não pararam poraí. Resolveram eles mesmos de-senvolver o material. Depois deum vasto levantamento, um pro-tótipo de jogo de perguntas e res-postas que explora o tema daágua já está sendo testado.

Programa detroca de seringa étema de coletâneainternacional

O pesquisador FranciscoInácio Bastos, do Centro de Infor-mação Científica e Tecnológica, éo responsável pela organização dosuplemento especial do TheInternational Journal of DrugPolicy – em parceria com SteffanieStrathdee, da Escola de Saúde Pu-blica Johns Hopkins, dos EUA.Segundo Bastos, a publicaçãoAcesso de usuários de drogasinjetáveis a seringas estéreis noséculo XXI: progressos e perspec-tivas representa a mais abrangen-te coletânea sobre programas detroca de seringas já publicada,com artigos sob diferentes aspec-tos, de distintos países e culturas.

Foto: Jorge de CarvalhoDiagnósticoDiagnósticoDiagnósticoDiagnósticoDiagnósticosalivar parasalivar parasalivar parasalivar parasalivar paraleishmanioseleishmanioseleishmanioseleishmanioseleishmaniose

Até saber se está com leish-maniose, enfermidade causadapelo protozoário Leishmaniabraziliensis, o paciente passa porprocedimentos diagnósticos inva-sivos, incômodos para o doente ecomplexos para os profissionaisde saúde. Pesquisadores do Insti-tuto de Pesquisa Clínica EvandroChagas e da Escola Nacional deSaúde Pública Sergio Arouca es-tão desenvolvendo um métodoalternativo que detecta a presen-ça de anticorpos anti-Leishmaniana saliva. O procedimento, maissimples, rápido e menos descon-fortável, poderá substituir o exa-me de sangue, usado comocomplemento à biópsia na identi-ficação da doença.

O jogo está sendo testado por alunos eprofessores de escolas do Rio de Janeiro

Page 8: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 20048

IO F I C I N A D E V A C I N A S

Uma novapolítica para osimunobiológicos

Page 9: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 9

AFiocruz, maior produtorade vacinas do país, estácoordenando uma ini-ciativa que indica no-vos caminhos para a

política nacional de produção e pes-quisa na área, dominada desde adécada de 1980 pelo Programa deAuto-suficiência Nacional de Imu-nobiológicos (Pasni). Coam basenas discussões feitas nas oficinascom 173 gestores, pesquisadores etecnólogos, o Subprojeto Vacinas,parte do Projeto Inovação em Saú-de, da Fiocruz, apontou propostaspara dinamizar e ampliar o setor,por meio de uma reformulação e or-ganização estratégica. A idéia éenfocar tanto a fabricação quantoa pesquisa, contribuindo para di-minuir a dependência brasileira deinsumos importados.

“Enquanto o Programa deAuto-suficiência Nacional de Imu-nobiológicos (Pasni) enfatiza ape-nas a fabricação, queremos contem-plar as duas dimensões. Temos queincorporar o conhecimento à pro-dução. A autonomia está na capa-cidade de inovar e não apenas numparque industrial ultramoderno”,defende o secretário de ProgramasRegionais do Ministério da Integra-ção Nacional, Carlos Gadelha, pri-meiro coordenador do Projeto Ino-vação, hoje sob a tutela de José daRocha Carvalheiro.

As propostas incluem a criaçãodo Programa Nacional de Competi-tividade em Vacinas (Inovacina) e aCâmara Multisetorial de Imunobio-lógicos. Com essas iniciativas, o Pro-jeto Inovação espera resolver ouamenizar gargalos que dificultam ocrescimento e desenvolvimento daárea de imunobiológicos, por meioda coordenação das pesquisas naárea, modificações nas políticas deapoio à investigação científica, pro-dução, assessoria e estímulo à me-lhoria da gestão e dos recursos hu-manos, entre outras medidas.

A orientação das ações e estra-

tégias governamentais no setor fica-ria a cargo do Inovacina. Suas atri-buições incluiriam a definição dapolítica de preços, gestão, recursoshumanos, propriedade intelectual,regulação, normas de qualidade, mo-dernização, pesquisa e prioridades.

Já a Câmara Multisetorial deImunobiológicos seria responsávelpela discussão de problemas e ava-liação das prioridades e políticaspara a área. Formado por represen-tantes dos ministérios da Saúde, In-tegração Nacional, Desenvolvimen-to e Ciência e Tecnologia, o órgãoincluiria componentes da AgênciaNacional de Vigilância Sanitária (An-visa), Secretaria de Vigilância emSaúde (SVS), Secretaria de Ciência,Tecnologia e Insumos para a Saúde(SCTIE), das agências de fomento àpesquisa, do Banco Nacional de De-senvolvimento Econômico e Social(BNDES) e dos produtores de vaci-nas e soros, entre outros.

“Sem parceiros poderosos, aCâmara corre o risco de perder oapoio político e se tornar incapaz deefetuar as mudanças e iniciativasnecessárias”, avalia Carvalheiro.

O órgão seria composto poruma instância superior, responsá-vel pelas definições estratégicas, ecâmaras técnicas, que fariam oassessoramento em áreas como ges-tão, qualidade, pesquisa e desen-volvimento e financiamento.

Um panoramada pesquisa emvacinas no país

As quatro oficinas realizadasno ano passado tiveram como baseestudos elaborados sob encomen-da do Subprojeto Vacinas. As pes-quisas analisaram o panorama dapesquisa e produção de imunobio-lógicos no país, traçando um qua-dro em que se destaca a grandequantidade de pessoal treinado, opotencial do mercado interno, aobsolescência tecnológica, a escas-sez de recursos, a falta de parceriaentre instituições de pesquisa e a

lenta dinâmica gerencial.O estudo elaborado por Julie

Milstien, da University of Maryland,indicou as tendências da indústriapara os próximos anos, identifican-do atributos e fraquezas do Brasilno desenvolvimento de vacinas.Entre os pontos fortes, o trabalhoaponta o apoio governamental, ogrande potencial do mercado inter-no, a força dos programas de imu-nização e a grande quantidade defuncionários treinados. Entretanto,de acordo com a consultora, o paísainda padece de uma relativa escas-sez de investimentos em pesquisa edesenvolvimento, o que dificulta ini-ciativas de inovação no setor.

Já Manuel Limonta, do Institu-to de Hematologia e Imunologia deHavana, analisou a matriz tecnoló-gica e a capacidade de fabricaçãodos produtores públicos de vacinas.No seu estudo, ele mostrou a ne-cessidade de renovação tecnológi-ca nas linhas de produção, que, emalguns casos, contam com equipa-mentos com mais de 20 anos.

O terceiro estudo, feito porJosé Vítor, da Universidade Fede-ral do Rio de Janeiro (UFRJ), anali-sou a capacidade científica paradesenvolvimento de vacinas noBrasil. A falta de parceria entre pro-dutores e grupos de pesquisa emvacinas ligados a universidades foium dos problemas detectados peloconsultor, que observou ainda adeficiência na infra-estrutura ade-quada para realização de estudosclínicos e scale up (aumento da es-cala de produção da vacina).

O sistema de gestão dos pro-dutores foi o tema do último estu-do, organizado por José Castanhar,da Fundação Getúlio Vargas do Riode Janeiro (FGV-RJ). O consultoravaliou os fabricantes de vacinas,assinalando a necessidade de mu-danças nas suas dimensões institu-cional e gerencial, com o objetivo demelhorar a gestão interna, adaptar aestrutura jurídico-institucional, au-mentar a eficiência e buscar a dinâ-mica gerencial do setor privado.

Pedro Sloboda

Page 10: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 200410

MUNICÍPIOMUNICÍPIOMUNICÍPIOMUNICÍPIOMUNICÍPIO

xistem hoje no país 3.500pediatras que vacinampacientes em seus con-sultórios e 450 clínicasprivadas de imunização.

Os números são significativos, maso mercado privado de vacinas erauma incógnita até o estudo iné-dito realizado pelo sanitarista JoséGomes Temporão, professor daEscola Nacional de Saúde Públi-ca Sergio Arouca (Ensp) da Fio-cruz e atual diretor do InstitutoNacional do Câncer (Inca). Apósum ano e meio de pesquisa, osanitarista sistematizou a história,o perfil e o real peso econômicodo mercado privado de imunizan-tes, que permanecia desconheci-do pelo Programa Nacional deImunização (PNI), responsávelpela oferta gratuita à populaçãode 44 imunobiológicos.

Uma das maiores dificulda-des do estudo que acompanha aevolução do mercado privado devacinas entre 1997 e 2000 foi aausência de dados, o que exigiuo levantamento de informações

O comércio de vacinas no Brasildispersas e o preenchimento delacunas através de entrevistascom fabricantes, distribuidores ecomerciantes de vacinas. Os re-sultados são surpreendentes: to-das as vacinas vendidas no seg-mento privado são importadas,mais da metade é aplicada emSão Paulo e cerca de duas milempresas imunizam regularmen-te seus funcionários. Criadas nadécada de 1980, as primeiras clí-nicas de imunização eram liga-das a profissionais que adquiri-ram experiência na área com otrabalho prestado no sistema pú-blico de saúde.

Movimentando cerca de R$170 milhões ao ano, o mercadoprivado de vacinas constitui umdos principais segmentos da in-dústria farmacêutica no país.“Apesar de movimentar cercade 43% do total de recursos des-pendidos pelo mercado de va-cinas como um todo, o setor pri-vado cobre uma populaçãoinfinitamente menor”, o pesqui-sador avalia. “No entanto, o

Emercado privado se concentra so-bre aquelas vacinas que não es-tão incorporadas no PNI, ou quedentro do PNI são restritas a fai-xas etárias específicas, como avacina para gripe. Existiria, emrealidade, um grau de comple-mentaridade entre os segmentospúblico e privado.”

Além de traçar o primeiropanorama fiel do mercado devacinas no país, um dos pontosfundamentais do estudo é alertarpara a ausência de fiscalizaçãono setor privado. “Os imunobi-ológicos precisam ser mantidosem condições adequadas para ga-rantir sua eficácia”, adverte Tem-porão. “Apesar de não provocarprejuízo à saúde, uma vacina malconservada perde sua função.Sem contar que a expansão domercado privado de vacinas re-presenta, politicamente, a inser-ção da lógica privada em umsetor que historicamente apre-senta hegemonia do Estado, oque compromete o princípio daequidade.” (Raquel Aguiar)

Técnico trabalha na produçãode vacina, cujo mercadoprivado no Brasil movimentaR$ 170 milhões ao ano

Page 11: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 11

Instituto de Tecnolo-gia em Imunobioló-gicos (Bio-Mangui-nhos) inicia este anoa produção da trípli-

ce viral, única das 12 vacinas in-cluídas no Programa Nacional deImunizações (PNI) que ainda eraimportada. Fruto de um acordo detransferência de tecnologia assi-nado com a multinacional farma-cêutica Glaxo Smith Kline (GSK),a nacionalização da fabricação davacina representará uma econo-mia de U$ 15 milhões aos cofrespúblicos nos primeiros cinco anosde parceria. Nos anos seguintes,esse número poderá chegar a U$100 milhões.

A previsão éque sejam fabri-cadas 20 mi-lhões de dosesem 2004, alcan-çando a marca de110 milhões de uni-dades até o quinto anode vigência do acordo. Avacina, que confere imunida-de a sarampo, rubéola e caxum-ba, será manufaturada no Centrode Produção de Antígenos Viraisde Bio-Manguinhos, com previ-são de conclusão para o segun-do semestre deste ano. Além datríplice viral, o Centro será res-ponsável pela fabricação, em2004, de cinco milhões de dosesda dupla viral, contra sarampo erubéola, também incluída no PNI.

O Ministério da Saúde come-çou a importar a tríplice viral delaboratórios estrangeiros em 2001.

Produção da trípliceviral nacionalizada

Entretanto, ela gerava efeitoscolaterais indesejáveis, como fe-bre alta, pois a cepa utilizada naprodução da vacina contra caxum-ba provocava mais reações adver-sas que outras disponíveis no mer-cado por preço mais alto. Em2001, foram aplicadas 4.646.845doses da tríplice viral.

Para atender ao pedido doMinistério da Saúde, que solici-tou a fabricação de uma vacinacom efeitos colaterais mais leves,foram procuradas cepas mais ade-quadas, chegando-se à GlaxoSmith Kline. Segundo o diretorda unidade, Akira Homma, atransferência de tecnologia só foipossível porque Bio-Manguinhosmostrou ser um laboratório capaz

de absorver a nova técnica.“Sem uma coopera-ção como esta que

Oassinamos com a GSK, levaría-mos 15 ou 20 anos para chegarao produto final. As parcerias en-curtam caminhos e significamavanços efetivos para o bem-es-tar da população”, avalia o Se-cretário Nacional de Vigilânciaem Saúde, Jarbas Barbosa, afir-mando que parcerias com o setorprivado se revelam rotas provei-tosas para o governo e para asempresas.

Tão proveitosas que o pre-sidente da GSK, Jean Stéphenne,já se mostrou interessando emfirmar novos acordos, onde fi-guraria como provedora ou mes-mo receptora de tecnologias,como no caso da Penta Brasil,vacina desenvolvida por Bio-Manguinhos e pelo InstitutoButantan que, a partir de 2005,passará a oferecer, em uma úni-ca dose, imunização para coque-luche, tétano, difteria, hepatiteB e HiB (bactéria capaz de pro-vocar pneumonia e um tipo de

meningite).

A vacina tríplica viralreúne numa mesma dose

os imunizantes contrasarampo, rubéola e caxumba

Page 12: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 200412

m 2003, mais de 12 milhõesde pessoas acima de 60 anosforam imunizadas contra o ví-rus da gripe na Campanha deVacinação do Idoso e a quan-

tidade de crianças menores de cincoanos que foram vacinadas na primeiraetapa da Campanha Nacional contra aPoliomielite passou de nove milhões.Os números apurados pela Funasa edivulgados pela imprensa confirmamum crescimento das imunizações noBrasil. Agora, uma cartilha dirigida a pro-fissionais de saúde e preparada pelaFiocruz pretende trazer novos indica-tivos sobre o tema ao abordar as rea-ções provocadas pelas vacinas.

“Tomei vacina no ano passado.No mesmo dia, tive muita sonolência,moleza, dor no peito e tosse. Meusfilhos me levaram para o hospital eeu fiquei internada oito dias. Por isso

eu não tomei vacina neste ano. Fiqueicom medo de provocar uma doençade novo”, diz a dona de casa Maria deLourdes Vicente, de 71 anos, mora-dora de São João de Meriti, municípioda Baixada Fluminense do estado doRio de Janeiro.

Assim como Maria de Lourdes,outras pessoas podem ter deixado deir aos postos de vacinação pelo mes-mo motivo. Com o objetivo de tor-nar os trabalhadores de nível médioque atuam em salas de vacina maisinformados sobre os eventos adver-sos após a vacinação e, conseqüen-temente, esclarecer a população, aEscola Politécnica de Saúde JoaquimVenâncio, por meio do Núcleo de Saú-de Coletiva, desenvolveu a Cartilhade Eventos Adversos Pós-Vacinação,por solicitação da Coordenação Ge-ral do Programa Nacional de Imuni-zação da Secretaria de Vigilância emSaúde (CgPNI/SVS/MS).

Vivi Fernandes

Cartilha serádisponibilizada emsalas de imunização

“Na medida em que a quantidadede doenças diminui com o aumento daimunização, os eventos adversos tornam-se mais perceptíveis. Notamos que as pu-blicações sobre o tema atingiam basica-mente os profissionais de nível superior.No entanto, os quadros profissionais dassalas de vacina são compostos predomi-nantemente por trabalhadores de nívelmédio. Por isso procuramos a Escola Poli-técnica, que é uma referência na forma-ção de nível médio em saúde”, diz a co-ordenadora do PNI, Maria de Lourdes Maia.

Atuando como fonte de consultaem salas de vacina, material de leituraindividual e de apoio à formação e atu-alização, a Cartilha pretende estimulara prevenção e a notificação dos even-tos adversos pós-vacinação. “Isso geraum constante aprimoramento da vaci-nação, mantendo assim a credibilidadedo programa”, diz Ieda Barbosa, coor-denadora do projeto ao lado da pes-quisadora Gladys Miyashiro.

Iniciada há dois anos, a Cartilha serálançada em setembro, mês em que oPNI comemora 30 anos. A validação domaterial didático foi feita nas cinco regi-ões do país e, para isso, o grupo contoucom a parceria da Rede de Escolas Téc-nicas do SUS (RET-SUS) e com as Coor-denações do Programa de Imunizaçõesdos estados e municípios. “Da validação,também participaram os professoresMarileide do Nascimento Silva e Maurode Lima Gomes, com quem reunimosgrupos de trabalhadores do serviço, au-xiliares de enfermagem, enfermeiros edocentes que atuam na formação des-tes trabalhadores, que fizeram a leiturada cartilha e de maneira pontual comen-taram sobre sua linguagem, forma e con-teúdo”, ressalta Ieda.

E

E N S I N O

Em dia com osefeitos da vacinação

Page 13: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 13

Os caminhos da

Marcelo de Souza tem 35 anos.

Fraco, com as pernas e os braços quase

em pele e osso, de olhar tristonho,

cabisbaixo e fala para dentro, há mais de

três anos está doente. Pobre, morador da

favela Mandela de Pedra, no subúrbio do

Rio de Janeiro, o pedreiro desempregado

sofre de tuberculose, doença em que o

Brasil ocupa um dos maiores índices de

casos do mundo.

tuberculose

P E S Q U I S A

Pablo Ferreira

Page 14: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 200414

uando a tuberculose édiagnosticada e tratadacorretamente, em seismeses a chance de curaé total. Mas geralmente

não é isso o que ocorre e o abandono dotratamento é hoje um grande entravepara o controle da enfermidade no país.Marcelo, um caso típico de paciente quenão vinha recebendo a devida atenção,já desistiu diversas vezes. Com isso, de-senvolveram-se bacilos resistentes emseu organismo e agora ele precisará, alémdos três diferentes medicamentos usa-dos, tomar injeções para se curar e o tra-tamento demorará um ano.

Atualmente, Marcelo freqüenta oPrograma de Saúde da Família (PSF) euma vez por mês participa de reuni-ões no Centro de Saúde da Fiocruz,onde recebe uma cesta básica, remé-dios e se reúne com agentes que es-clarecem dúvidas e o estimulam a con-tinuar a viver. Questionado por queabandonara o tratamento das outrasvezes, ele diz que antes, “após uns trêsmeses, achava que estava curado eparava de tomar os remédios”. No en-tanto, o pedreiro agora garante que édiferente e elogia muito o trabalho dasagentes de saúde: “antes eu não tinhaessas pessoas. Elas me apóiam, expli-cam coisas e me tratam com muitocarinho. Desta vez, vou até o fim”.

A história de Marcelo reflete, decerta forma, a atual situação da tuber-culose, que atinge cerca de 100 milpessoas no Brasil. Segundo dados daOrganização Mundial de Saúde (OMS),o país é o único das Américas a figurarentre os 22 responsáveis por 80% doscasos no mundo, ocupando a 15a posi-ção. Ao lado de nações como Afega-nistão, Bangladesh e Tanzânia, poucagente sabe que aqui, por causa da tu-berculose, mais de 5,5 mil pessoas mor-rem todo ano. “Certamente é uma dasdoenças infecciosas que mais mata noBrasil”, afirma o médico e pesquisadorGenésio Vicentin, do Centro de Saúdedo Trabalhador e Ecologia Humana(Cesteh) da Fiocruz.

Para ele, há muito o investimen-to do Estado em recursos necessáriosao controle da enfermidade é insufici-ente. Sem isso, tornou-se difícil a for-

mação de equipes especializadas e de-vidamente preparadas com médicos,enfermeiros, assistentes socias evisitadores. Conseqüentemente, outrosproblemas surgem, como a monitora-ção inconstante do tratamento. “Mui-tos pacientes o abandonam por esta-rem mal informados, por não seremconstantemente estimulados, por umacompanhamento deficiente ou devi-do a problemas causados por pressõessócio-econômicas, como a necessida-de de priorizar a busca de um empre-go ou de fundo emocional, especial-mente a reduzida auto-estima”, explica.

Rita de Cássia, enfermeira doCentro de Saúde da Fiocruz, diz que láo abandono chega a 25% (acima dos10% recomendáveis). “E podemos con-siderar isso razoável se compararmoscom muitos postos que existem por aíe observarmos as dificuldades da rede– por exemplo, agora estamos semraio-x”, afirma.

Marcelo também recebe visitasde Janet Aleixo, agente de saúde doPSF. Enquanto caminha em direção à

casa do doente, por entre as ruelasquentes da favela, ela não pensa duasvezes antes de responder por que oabandono é tão alto: “olhe ao seu re-dor. A maior parte dessa gente não temlazer, não tem emprego, passa o diatodo ociosa, isso tira a vontade de qual-quer um de viver”. Por trás de suaspalavras, a definição clara do proble-ma da tuberculose no Brasil: muitasvezes, sem ter nos meios de comuni-cação o mesmo espaço que dengue eAids, ela atinge, sobretudo, as classesmenos favorecidas. Apontada por mui-tos como um “mal social”, a sua proli-feração está intimamente ligada às con-dições precárias de vida.

“A aglomeração de pessoas é oprincipal fator de transmissão. Se ima-ginarmos uma família de cinco ou seispessoas amontoadas num mesmo bar-raco, quando uma delas traz a tubercu-lose para casa os outros correm enor-me risco de também serem infectados”,explica Vicentin. Má alimentação, faltade higiene, tabagismo, alcoolismo ouqualquer outro fator que gere baixa

Q

Paciente atendido noposto de saúde daFiocruz: o abandonodo tratamento vemagravando a situaçãoda tuberculose

Page 15: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 15

Genoma da vacinaBCG Moreau seráseqüenciado

m dos melhores tiposde BCG (Bacilo deCalmette e Guérin)em utilização no mun-do para imunização

contra tuberculose, o Moreau-RJ,cepa brasileira da Mycobacteriumbovis, terá o seu genoma seqüen-ciado por pesquisadores da Fiocruze da Fundação Ataulpho de Paiva(FAP). O projeto Genoma BCGMoreau-RJ, lançado em março, estáorçado em R$ 500 mil e será con-cluído em um ano. A iniciativa per-mitirá a melhoria da eficácia, dimi-nuição dos efeitos colaterais eampliação do controle de qualida-de na produção da vacina.

Segundo os especialistas, oefeito da vacina poderá ser ampli-ado com a reintrodução de antíge-nos importantes produzidos porgenes que desapareceram dogenoma do Moreau-RJ após anosde produção. “Poderemos melho-rar a vacina através da engenhariagenética, manipulando os genes deacordo com sua função”, explica umdos coordenadores do projeto, opesquisador do Instituto OswaldoCruz (IOC) e diretor científico daFAP, Luiz Roberto Castello-Branco.

Na produção, será possívelcriar mecanismos de avaliaçãogenômica do BCG, que permitirãogarantir a estabilidade genética ea qualidade em diferentes condi-ções de produção e estocagem.“Além disso, poderemos aumen-tar a qualidade da vacina com amodificação consciente do sistemade produção”, explica um dos co-ordenadores do projeto, o pesqui-

sador do Instituto Oswaldo Cruz(IOC) Wim Degrave.

Iniciativa permitirámelhoria na qualidade

da vacina brasileiracontra tuberculose

Outras características da vaci-na também serão estudadas. Atra-vés da análise do genoma e de suaexpressão, os cientistas tentarão des-cobrir porque o BCG confere imu-nidade parcial à hanseníase e é efi-caz no tratamento do câncersuperficial de bexiga e asma. Alémdisso, eles buscarão explicar aatuação da vacina como imunomo-dulador, melhorando a resposta dosistema imunológico.

A iniciativa abre caminho tam-bém para o desenvolvimento de va-cinas recombinantes com o BCG(Bacilo de Calmette e Guérin). Essetipo de vacina é obtido ao se inse-rir em uma bactéria os genes quecodificam antígenos de outras en-fermidades. Assim, agregando ge-neticamente ao BCG trechos deDNA responsáveis pela síntese deantígenos de tétano e varicela, porexemplo, ele passa a conferir imu-nidade a várias doenças. Além deser barata – custa, em média, U$0,15 por dose – a cepa brasileiratem a vantagem de poder ser apli-cada por via oral e causar poucosefeitos colaterais.

“As possibilidades são grandes,mas isso demanda tempo. Até che-gar ao público, a vacina precisapassar por muitos testes pré-clíni-cos e clínicos”, pondera Degrave.

resistência orgânica, também favoreceo estabelecimento da doença.

Até a década de 1970, a tubercu-lose estava em declínio no país. Porém,esse panorama começa a mudar no iní-cio dos anos 80, quando se observa umaumento e logo após uma estabilizaçãode sua incidência. De acordo com Vi-centin, a causa disso foi a descentraliza-ção inadequada das ações contra a en-fermidade, quando o governo federalpassou tal responsabilidade para os es-tados e, com a criação do Sistema Úni-co de Saúde, para os municípios.

“Na verdade, a descentralização éuma idéia positiva, pois tem intençãode ampliar a rede pública, aumentar acapacidade de controle de doenças emelhorar o atendimento à população.Mas esse processo não ocorreu apro-priadadamente e houve uma série devácuos.” O médico se refere aos pro-blemas econômicos ocorridos a partir dogoverno João Figueiredo, ao fim da di-tadura militar, e aos cortes públicos empolíticas sociais que se seguiram em vir-tude da implementação de políticas ne-oliberais no país. “Simplesmente trans-feriram-se as responsabilidades, mas nãoos recursos. Estes, inclusive, sofreramcortes para destinarem-se a outros pro-pósitos”, resume.

Apesar de a Aids ter contribuídopara o aumento da tuberculose, ape-nas 3,3% de seus doentes têm o vírusHIV. De acordo com Vicentin “a tuber-culose atinge bem menos a classemédia e alta e quando ocorre, freqüen-temente está associada à Aids, daí sevaloriza muito mais a segunda, o quedá a falsa impressão de que a tubercu-lose é hoje menos importante”.

Grave e causada por uma bacté-ria chamada Mycobacterium tubercu-losis (também conhecida como bacilode Koch), a tuberculose é transmitidapelas vias respiratórias. O contágio sedá pelas gotículas de escarro elimina-das pelo enfermo quando este tosseou espirra. Quanto aos sintomas, Vicen-tin explica: “a tosse prolongada pormais de três semanas, mesmo sem fe-bre, é o primeiro indício da infecção.Depois pode se seguir catarro, febreacompanhada de muito suor, perda deapetite e emagrecimento”.

U

Page 16: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 200416

e sem sustosálcoolGravidez sem

P E S Q U I S A

Page 17: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 17

udar os hábitos alimenta-res durante a gravidez éuma estratégia comumdas futuras mães paraproporcionar ao bebê um

desenvolvimento saudável e equilibra-do. Mas poucas gestantes imaginamque um pequeno deslize no consumode bebidas alcoólicas pode colocar tudoa perder. Basta ingerir, em uma mes-ma ocasião, cinco ou mais doses deálcool para sujeitar o bebê ao risco deadquirir a chamada Síndrome AlcoólicaFetal (SAF), um conjunto de anomali-as que envolve retardo mental e pro-blemas no desenvolvimento psicomo-tor e emocional. Em alguns casos, podeincluir complicações cardíacas capazesde colocar em risco a vida da criança.

Segundo dados americanos, a sín-drome acomete de uma a duas criançasa cada mil nascimentos. “No Brasil nãoexistem estatísticas regionais para a SAF”,esclarece a psicóloga e fisioterapeutaLaisa Liane Paineiras, mestranda do Insti-tuto Fernandes Figueira (IFF) da Fiocruz,que há quatro anos acompanha casos dadoença em crianças cariocas. “Como aSAF é uma síndrome complexa, quepode comprometer a saúde e o desen-volvimento da criança em diversos grause através de diferentes manifestações,

não existe no Brasil ou no mundo umaestimativa sobre a expectativa de vidadestes pacientes”, completa.

Os estudos sobre a SAF começa-ram há apenas 20 anos. Até então, ascrianças com esta síndrome eramdiagnosticadas como portadoras deDown devido às semelhanças entre ossintomas das duas doenças. Suas cau-sas, entretanto, são muito distintas. “En-quanto a origem do Down é genética,determinada por uma falha no DNA dobebê, que possui um cromossomo amais do que o normal, a SAF é umasíndrome congênita, adquirida por umfeto saudável durante a gravidez”, es-clarece a pesquisadora.

A SAF é diagnosticada a partir detrês fatores que, diferentemente da sín-drome de Down, só podem ser detecta-dos após o nascimento. “O primeiro é oretardo mental, marcado por uma mal-formação do corpo caloso, responsávelpela ligação entre os dois hemisférios docérebro”, a pesquisadora enumera. “Ou-tro fator é o atraso no desenvolvimentopsicomotor. Por isso, as crianças com SAFapresentam dificuldades na evoluçãomotora, cognitiva e emocional, o quepode significar problemas de fala, loco-moção e aprendizagem ou dificuldadesem expressar seus sentimentos e em serelacionar com outras pessoas. O tercei-ro fator é a apresentação de feições ca-racterísticas, marcadas pelo nariz rebai-xado, queixo curto, lábio superior fino eolhos puxados.” Em certos casos, as cri-anças com SAF desenvolvem apenas al-guns dos sintomas isoladamente ou apre-sentam patologias cardíacas quereduzem sua sobrevida.

Concentração de álcool nosangue pode levar síndrome

a se manifestar no bebê

Apesar dos portadores de Downtambém serem caracterizados pelosolhos puxados, as marcas distintivas sãoo pescoço largo, o posicionamento bai-xo das orelhas e a distância entre o de-dão do pé e os demais dedos. A dife-renciação do Down em relação à SAF,no entanto, não consiste apenas no re-conhecimento dos sinais característicosou na realização de exame genético,

mas sobretudo na análise da história devida da mãe. “Geralmente, quando amãe descobre que seu filho é portadorde SAF, nega o consumo de álcool eresponsabiliza o marido”, observa Laisa.“No entanto, é apenas através do au-mento da concentração alcoólica nacorrente sanguínea da mãe que a SAFpode se manifestar na criança.”

A pesquisadora sugere a estimu-lação precoce como alternativa paraproporcionar uma melhor qualidade devida para as crianças portadoras de SAFou Down. “Participo de um grupointerdisciplinar que presta atenção a cri-anças portadoras de SAF na AssociaçãoPestalozzi de Niterói”, relata a psicólo-ga. “Como o comprometimento das cri-anças é físico, sensório e mental, a equi-pe envolve psicólogos, fisioterapeutas,fonoaudiólogos, pedagogos, terapeutasocupacionais e hidroterapeutas que bus-cam estimular os pacientes de formaglobal desde o nascimento até os seisanos de idade.

Ainda que nos casos de retardograve não seja possível conseguir fa-zer com que a criança fale, por exem-plo, é viável estimulá-la a andar, a de-senvolver suas emoções e a terindependência para comer ou se ves-tir, contribuindo para sua inserção soci-al”. Segundo a pesquisadora, um fatorfundamental no processo de estimula-ção precoce é a inclusão da criança emsua própria família, incentivando os paisa estimular seus filhos nas atividadesda vida cotidiana.

A pesquisadora alerta que um dosmaiores riscos para a SAF, além dadesinformação sobre o tema, é a de-mora na detecção da gravidez. “O gran-de problema é que a deflagração daSaf pela ingestão alcoólica geralmenteocorre no primeiro trimestre de gravi-dez, justamente quando a mulher ain-da não sabe que está grávida”, alerta.“É bom lembrar que o filho de umagestante que bebe um ou dois drinquesnão corre o risco de desenvolver SAF,mas apenas no caso da ingestão supe-rior a cinco doses de uma só vez”. Es-tudos recentes realizados nos EstadosUnidos também associam o consumode álcool durante a gravidez à ocor-rência de abortos espontâneos.

Raquel Aguiar

M

Page 18: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 200418

prematuross problemas de saúdecausados pelo nasci-mento prematuro deum bebê são comunse até previsíveis, mas

apenas recentemente chamou-seatenção para o fato de que o estadoemocional da mãe também pode in-fluenciar no desenvolvimento da cri-ança. “A prematuridade do nascimen-to pode determinar um tipo dedepressão materna específica, comefeitos duradouros para a relação en-tre mãe e bebê capazes de levar acriança a desenvolver doenças psicos-somáticas nos dois primeiros anos devida”, explica a psicóloga e psicana-lista Manola Vidal, que estuda o temaem seu projeto de doutoramento noInstituto Fernandes Figueira (IFF).

Depressão surge pelosentimento de culpa pelonascimento antes de hora

“O nascimento de um bebêreformula a estrutura emocional damulher, que assume o papel de mãe,e por isso causa um tipo de depressãoespecífico, diferente dos demais”, apesquisadora observa. A especialistadefende o reconhecimento da especi-ficidade da depressão que acometemães de bebês prematuros em rela-ção à depressão pós-parto, da mesmaforma que o quadro de tristeza ligadoà maternidade é considerado distintodos demais episódios depressivos.

Segundo os protocolos médicos

atuais, a depressão pós-parto se dis-sipa até o primeiro semestre após onascimento da criança, enquanto ochamado baby blues , ou depressãoleve, é mais comum e está presenteapenas nos primeiros dias seguintesao nascimento. No caso de um partoprematuro, a depressão da mãe estárelacionada a um sentimento de cul-pa pelo nascimento fora de hora e,apesar da assistência neonatal huma-nizada permitir o acompanhamentodo filho durante a internação na uni-dade de tratamento intensivo, per-siste um sentimento de separaçãoque retarda o ingresso da mulher nafunção materna e pode causar pro-blemas na formação de vínculos emo-cionais com a criança.

“São os laços criados com o bebênessa fase que vão permitir à mãe re-conhecer as necessidades do filho,como fome e dor”, esclarece. “Muitasvezes, a separação durante a interna-ção do bebê resulta em uma integra-ção deficiente com a mãe em ambien-te doméstico, o que pode gerardificuldades no reconhecimento dasdemandas da criança e levar ao desen-volvimento de doenças psicossomáti-cas, tornando comuns as reinternaçõesnos primeiros anos de vida.”

A separação de mãe e filho du-rante a internação no pós-parto podeser agravada pelo vivência cotidiana naUTI neonatal, onde a mãe presenciatratamentos agressivos como a entu-bação e o óbito de outros bebês, pro-longando o período depressivo.

deprimida,Mãebebês

O

Page 19: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 200420

Trabalho compatívelcom o indivíduo

Já é reconhecido, por exemplo,que ocupações ligadas à capacidadedecisória, exaustão física ou ruído exces-sivo podem estar relacionadas a altas ta-xas de colesterol. A obesidade, por suavez, é mais comum entre profissões debaixo status social e geralmente está li-gada ao estresse. Em outros casos, podeser resultado de uma alimentação sabo-rosa, que representa uma tentativa deatenuar conflitos no ambiente de traba-lho. A jornada noturna está ligada a dis-túrbios alimentares e do sono. Em pro-fissões que exigem a posição sentadapor tempo prolongado ocorre reduçãoda densidade óssea, enquanto o traba-lhador sujeito a calor excessivo, expostoa agrotóxicos, metais ou outros agentesquímicos pode sofrer redução na produ-ção de espermatozóides.

Para minimizar o efeito nocivo dotrabalho sobre a saúde humana, Waiss-man aconselha a revisão das relaçõesprofissionais. “Os trabalhadores não de-vem ser adaptados às necessidades daempresa, mas o sistema de trabalhodeve ser compatível com as possibili-dades do indivíduo”, critica. “No casodo trabalho noturno, por exemplo, écomum impor ao trabalhador o mesmoritmo exigido no turno do dia. Mas, comosomos uma espécie diurna, trabalhar ànoite é, por si, uma sobrecarga.”

O especialista considera o acom-panhamento médico fundamental paraqualquer trabalhador, mas chama aten-ção para o perigo de exclusão se, porexemplo, descobre-se que um empre-gado tem maior suscetibilidade às con-dições exigidas pela função que de-sempenha. Ao contrário, também épossível encontrar grupos de funcio-nários bem adaptados ao sistema detrabalho, dando a idéia enganosa deque a função não oferece risco quan-do, na verdade, aqueles que apresen-taram problemas de saúde já foram dis-pensados do serviço.

Enquanto as influências do siste-ma de trabalho sobre a saúde humanaainda estão sendo definidas, os prejuí-zos que as substâncias químicas podemcausar são velhos conhecidos. Confiraalgumas das substâncias químicas mais

ósforo, chum-bo e benzenosão substânciasquímicas co-muns em am-

bientes industriais que jáno início do século 20eram reconhecidas comonocivas à saúde do traba-

lhador. As suspeitas de queo sistema e a organização do

trabalho também podem inter-ferir no desenvolvimento de doenças,no entanto, ainda são pouco estuda-das. “Os médicos, de forma geral, nãoreconhecem que certas patologias es-tão ligadas à ocupação profissional”,alerta o endocrinologista William Waiss-man, pesquisador da Escola Nacionalde Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp)da Fiocruz. “Por isso a preocupação emcriar protocolos que demonstrem quedoenças comuns podem estar associa-das ao sistema de trabalho. Assim osmédicos podem ter orientação não sópara o diagnóstico, como também paraidentificar condições de trabalho pas-síveis de causar doenças”.

Segundo o especialista, é impos-sível isolar uma causa única na geraçãode doenças relacionadas ao trabalho, oque dificulta o reconhecimento destesfatores nocivos. “O efeito do sistema detrabalho sobre o organismo costuma sercumulativo, resultando em doençascrônicas”, esclarece. Como o sistemaendócrino formado por glândulas pro-dutoras de substâncias que controlam ometabolismo é um importante elo deligação entre o meio ambiente e a car-ga genética de cada pessoa, torna-se umaspecto da saúde humana mais suscetí-vel às influências da organização e dasdemandas do trabalho.

QuandoQuando

trabalharadoeceadoece

trabalhar

F

Page 20: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 21

Saúde no lixocomuns nos ambientes de trabalho eos riscos que comportam para o siste-ma endócrino.Chumbo - Associado à esterilidadede mulheres desde o século 19.Fósforo - Associado a doenças da glân-dula tireóide já no início do século 20.DDT (dicloro-difenil-tricloro-etano) - Osefeitos desmasculinizantes do pesticidaforam verificados na década de 1940.HCB (hexaclorobenzeno) - Em dosesletais, o agrotóxico usado no combate afungos acumula grande quantidade degordura no fígado e pode causar altera-ções no metabolismo da vitamina A.PCBs (bifenilas policloradas) - Pre-sente no fluido de transformadores, al-tera o metabolismo de lipídios causan-do elevação das taxas de colesterol ede triglicerídeos.PVC (cloreto de polivinila) - Materialbásico para a produção de tubos plás-ticos e cartões de crédito, está associa-do ao câncer de testículo.Cloreto de vinila - Usado na fabri-cação de plásticos, inibe a glândulatireóide e pode causar insuficiênciareversível da glândula adrenal.Dioxinas e furanos - Usados comoconservante de madeira, bloqueiam aação dos hormônios tireoidianos e po-dem causar alterações no fígado ehipotálamo.Dissulfeto de carbono - Usado nafabricação de filmes, no refino da pa-rafina, na produção de viscose e rayon,pode causar alterações na taxa decolesterol, além de provocar aumentoda incorporação de colesterol na pare-de arterial. Existem relatos de impo-tência desde a década de 1930.Ftalatos - Empregados na produçãode peças de automóveis, suprimen-tos médicos, invólucros de plásticopara alimentos e frascos de bebidas,pode causar atrofia testicular e redu-ção da fertilidade.Percloroetileno - Solvente usadopara gorduras, ceras e borrachas, prin-cipalmente na indústria de lavagem aseco, aumenta o risco de infertilidadeem mulheres.

* As informações acima foram gentil-mente cedidas por William Waissman, autordo capítulo “Endocrinopatologia associada aotrabalho” publicado no livro “Patologias dotrabalho” (Editora Atheneu).

desemprego e o em-pobrecimento nuncalevaram tantos brasi-leiros a tirar o susten-to do lixo. A partir deentrevistas realizadas

em um lixão, um aterro sanitário euma cooperativa de catadores lo-calizados no Rio de Janeiro, alémde associações de reciclagem emMinas Gerais e no Rio Grande doSul, a assistente social DeniseChrysóstomo de Moura Juncá tra-çou um perfil dos trabalhadores dolixo, analisando em seu projeto depós-graduação na Escola Nacionalde Saúde Pública Sergio Arouca(Ensp) da Fiocruz como percebemsaúde e doença emuma atividade em quenão faltam riscos epreconceitos.

“‘Cair no lixo’,como os catadorescostumam dizer, não éuma escolha, mas umanecessidade”, a pes-quisadora explica. “Masnão deixa de haver en-tre eles a certeza deque desempenhamum trabalho digno,que exige habilidade,rotina e normas de con-duta”. Entre os traba-lhadores que atuamem aterros sanitários elixões e aqueles que fazem parte decooperativas e associações existeuma diferença fundamental: a per-cepção do lixo como matéria-prima,e não como resto. “Em cooperati-vas e associações, os catadores sepercebem como agentes ambientais,vencendo o estigma que cerca o tra-balho com o lixo”, observa.

Seja em aterros, cooperativasou associações, a noção de saúdeentre os catadores é a mesma. “Elesreconhecem doenças de pele e écomum ouvir reclamações sobre do-res articulares ou problemas alérgi-cos, mas sempre de forma vaga e

sem relação direta com o lixo”, a pes-quisadora avalia. “O catador só seconsidera doente quando fica impos-sibilitado de trabalhar”. Os acidentesprovocados por materiais cortantese pelo intenso trânsito de caminhõessão percebidos como os maiores ris-cos da atividade. “Muitas vezes oscatadores improvisam proteção paraos braços e pernas, mas o acidenteé atribuído, na maioria das vezes, aodescuido do trabalhador”, explica.

É comum encontrar famílias in-teiras trabalhando no lixo. “Já conhe-ci mulheres que amamentavam re-cém-nascidos no lixão”, recorda apesquisadora. “É muito complicadoatribuir a doença exclusivamente ao

contato com o lixo no ambiente detrabalho, porque quem trabalha nes-ta atividade geralmente vive em con-dições precárias também no que dizrespeito à habitação e à alimentação.Existem catadores que ganham atédez salários mínimos mensais, mas amédia de ganhos é de um a três salá-rios para o sustento de toda a famí-lia”. Entre trabalhadores de coopera-tivas e associações o atendimentomédico é mais comum, enquanto noslixões não é raro encontrar o uso demedicamentos achados entre os de-tritos ou de ervas indicadas pela sa-bedoria popular.

Estudo avaliou riscos envolvendo trabalho com lixo

O

Page 21: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 200422

P R O G R A M A S I N T E G R A D O S / A I D S

D

Frentes de batalha contra o trabalho de caracterização dos vírus HIV em circulação no

Brasil ao estudo de fatores de risco ligados à transmissão da

doença de mãe para filho, passando pela produção de medica-

mentos anti-retrovirais que chegam atualmente a mais de 120

mil portadores da doença no país, são múltiplas e relevantes as ações de

grupos da Fiocruz no enfrentamento da Aids.

Tem sido assim desde que um grupo de cientistas da Fundação, coor-

denados pelo imunologista Bernardo Galvão, isolou pela primeira vez, em

1987, o vírus HIV no Brasil, abrindo perspectivas para uma série de ações

e estudos que, desde então, vêm ajudando o programa de Aids do gover-

no brasileiro a ser reconhecido no mundo inteiro.

As páginas a seguir tratam de resultados de diferentes linhas de pes-

quisa que certamente trarão impacto ao estudo da doença. Aids que segue

sendo sinônimo de flagelo em várias partes do mundo, mas que, por outro

lado, encontra no esforço coletivo de cientistas e outros profissionais de

saúde uma esperança para seu controle definitivo.

Aids

Page 22: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 23

um inimigo comum

Amostras com vírus da Aids sendoanalisadas em laboratório daFiocruz, que mantém várias linhasde pesquisa sobre a doença

Page 23: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 200424

vírus da imunodeficiên-cia humana (HIV) apre-senta uma elevada taxade mutação. Para avali-ar o impacto dessas

mudanças virais, o Laboratório de Aidse Imunologia Molecular do InstitutoOswaldo Cruz está realizando umasérie de estudos que poderão ser usa-dos como base no desenvolvimentode vacinas nacionais e na inclusão dasvariantes que circulam no país emcompostos vacinais produzidos emtodo o mundo.

“Trabalhamos na área de carac-terização do vírus, não do genoma com-pleto, mas das várias partes que codi-ficam proteínas importantes para aresposta imune”, diz Mariza Morgado,coordenadora do laboratório. Segundoela, o perfil de vírus que circula no Bra-sil varia de região para região. “Os sub-tipos que mais circulam no Sudeste sãoo B e o F, no Nordeste é praticamenteo B e no Sul o mais prevalente é o C. Eisso não é apenas um jogo de letras,

Para decifrar osdisfarces do HIVConhecimento dos subtipos de HIV que circulamno país pode ajudar na produção de vacinas

Oessa diversidade genética se reflete emuma diversidade de resposta imunoló-gica, que pode ter importância em re-lação à vacina”, explica.

Atualmente, a comunidade cien-tífica internacional discute se é precisoproduzir uma vacina para cada subtipodo HIV, ou se uma única vacina seriacapaz de conferir proteção. “A dúvidaé se um indivíduo infectado com de-terminado subtipo responde igualmen-te a antígenos derivados de outros sub-tipos”, comenta.

Um forte argumento para a dú-vida são os vários casos de superinfec-ção, em que o portador de determina-do subtipo se re-infecta em contatocom um novo subtipo. Outra situaçãomuito freqüente é a formação de vírusrecombinantes, quando duas variantesvirais se juntam, gerando um genomaúnico também infectivo. Ambos casosindicam que um vírus não protege con-tra a entrada de outro, o que reforça aidéia de que uma vacina deverá con-templar todos os subtipos virais ou pelo

menos os mais predominantes.Os cientistas ainda questionam

se a resposta às terapias anti-retrovi-rais varia de acordo com os subtipos.Em um estudo realizado recentemen-te, a equipe liderada por Mariza, emparceria com profissionais do Institu-to de Pesquisas Clínicas Evandro Cha-gas (Ipec), avaliou a resposta terapêu-tica, tomando como base indivíduosbons respondedores e maus respon-dedores. Foram estudados pacientesinfectados com os subtipos B, F, como recombinante BF e com uma vari-ante do subtipo B que só circula noBrasil, o Bbr. Dados preliminares nãomostraram importância do subtipoviral em relação à resposta terapêuti-ca. “Aparentemente o subtipo viral nãoinfluenciou na eficácia da resposta te-rapêutica, mas essa é ainda uma pri-meira análise”, conta Mariza.

Segundo ela, esse tipo de estu-do se enriqueceria muito se fossemincorporadas amostras do subtipo C,comum na região Sul do país. Cientis-

AIDS - FRENTES DE BATALHA CONTRA UM INIMIGO COMUM

Page 24: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 25

tas acreditam que esse seja o subtipoque mais se dissemina no mundo. Den-tro desse contexto, a equipe do labo-ratório de Aids juntamente com pes-quisadores do Ipec avaliou a transmissãovertical (de mãe para filho) em paci-entes atendidos em três hospitais doRio de Janeiro e três serviços médicosdo Rio Grande do Sul.

Os pesquisadores verificaram aaceitação do teste rápido de HIV, aprevalência de infecção em gestan-tes que não tiveram acesso ao pré-natal e a taxa de transmissão intra-úte-ro e no pós-parto. “Trabalhamoscontextos genéticos diferentes: Rio deJaneiro, aonde predominam o B e oF, e Sul, aonde predomina o C”, diz apesquisadora.

Os resultados mostraram que aprevalência de mulheres que chega-vam positivas ao parto era bem dife-rente. “No Rio de Janeiro, a prevalênciafoi de 1.32%, enquanto no Sul foi de6.5%”, diz ela. Apesar disso, ao obser-var a transmissibilidade do vírus, não

foi detectada nenhuma diferença natransmissão mãe-filho nas duas regiõesestudadas, que ficou em 6%. “Issomostra que, aparentemente, o subtipoC não parece ter uma eficiência maiorna transmissão vertical, diz”.

Estudos revelam que os subtipostambém não influenciam, quando seanalisa a capacidade dos anticorpos dopaciente de bloquear a entrada do ví-rus na célula – a não ser em alvos muitoprecisos. Até hoje, nenhum protótipovacinal conseguiu bloquear a entradado vírus nas células. Por isso, a espe-rança atualmente é que a vacina mudea história natural da doença.

“A idéia é vacinar indivíduos ne-gativos a fim de desencadear uma res-posta imune tanto de anticorpos quan-to de células. Uma vez em contatocom o vírus, esses indivíduos seriaminfectados com uma carga viral bas-tante reduzida, em decorrência da res-posta imune ao vírus e, conseqüente-mente, apresentariam ausência ou umtempo muito maior de evolução para

a doença”, explica ela.Outra possibilidade no campo das

vacinas é a utilização protótipos diver-sos capazes de induzir uma respostaimune que auxiliaria a terapia anti-retroviral no controle da replicação viral.Segundo Mariza, um indivíduo que res-ponde muito bem à terapia, ao longodo tempo pode apresentar queda daresposta imune, por esta não estar sen-do estimulada. Se ele começar a de-sencadear resistência às drogas, teráboas chances de fazer altos picosvirais. A vacina terapêutica serviriapara contrabalançar essa situação, por-que ela estaria sempre “lembrando”ao sistema imune que o vírus aindaestá presente.

Mariza acredita que em curtoprazo o Brasil já comece a testar va-cinas terapêuticas. No laboratório deaids da Fiocruz, já foram identifica-dos alguns alvos para formulação e/ou testagem de protótipos vacinais apartir de seqüências de variantes bra-sileiras do HIV.

Page 25: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 200426

AIDS - FRENTES DE BATALHA CONTRA UM INIMIGO COMUM

Page 26: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 27

os países em desenvol-vimento existe umamorte mais rápida dosindivíduos infectadoscom o vírus da imuno-deficiência humana

(HIV). Pesquisadores do Laboratóriode Imunologia Clínica do InstitutoOswaldo Cruz descobriram que umdos motivos deste aceleramento estáligado às infecções do trato gastro-intestinal, que geram aumento dacarga viral do indivíduo. “Indivíduosmoradores em países tropicais e sub-desenvolvidos têm uma elevada taxade parasitoses intestinais e infecçõesgastrointestinais de origem bacterianae viral, provocadas principalmentepela falta de saneamento básico”, dizLuiz Roberto Castello Branco, chefedo laboratório.

A equipe acompanha pacientescom HIV em seus aspectos imunoló-gicos e nutricionais. Os pesquisadoresavaliam a imunidade da mucosa doaparelho gastro-intestinal e monitoramo aparecimento e evolução das infec-ções intercorrentes. Além de aumen-tar a carga viral, eles constataram queas infecções gastro-intestinais provo-cam modificações nos subtipos virais.“As infecções do trato gastro-intestinalprovocam um aumento da carga viral,e esta replicação do HIV facilita a mu-tação do mesmo, gerando subespéciesdo vírus”, explica Castello Branco.

O vírus escapa da resposta imu-ne do indivíduo infectado e dos medi-camentos por meio das mutações, queocorrem durante a transcrição de RNApara DNA. Com uma simples altera-

ção (em um aminoácido, por exem-plo), os remédios podem deixar defazer efeito. Considera-se efetivo umtratamento anti-HIV quando a quanti-dade de vírus por mililitro de sangue(carga viral) é reduzida até atingir ní-veis indetectáveis pelos métodos dequantificação mais sensíveis.

O HIV não é totalmente erradica-do porque, entre outras razões, existemno organismo alguns reservatórios ondeele se aloja: os macrófagos e os linfócitosT CD4+ de memória. Ambos têm capa-cidade de resistir aos efeitos do vírus,podendo manter-se infectados por umperíodo relativamente longo. Cientistasde diferentes centros de pesquisa des-cobriram que mediadores inflamatórios,liberados pelo organismo como respos-ta aos insultos de natureza infecciosa,modulam a replicação viral em macró-fagos, induzindo, na maioria das vezes,seu aumento.

Estudo avalia papel dasco-infecções na elevação

da carga viral

Várias condições podem resultarna elevação da carga viral e na persis-tência da infecção em indivíduos HIV-positivos, entre elas as co-infecções.Um estudo iniciado no Laboratório deImunologia Clínica pretende avaliar aco-infecção com a leishmaniose. “Aidéia é estudar como um agente para-sitário, no caso a Leishmania, interferena evolução da infecção pelo HIV. Aleishmaniose é uma doença endêmicano Brasil e está ocorrendo umasobreposição de áreas onde os doisagentes infecciosos se encontram. Isso

porque a epidemia de HIV está seinteriorizando e a leishmaniose estáatingindo os grandes centros”, explicaDumith Chequer Bou-Habib.

Segundo o pesquisador, o estu-do, em parceria com professores Uni-versidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ), consiste em infectar macrófa-gos com Leishmania e com HIV, eavaliar a multiplicação de ambos osagentes. Eles pretendem fazer estu-dos semelhantes com outras co-infec-ções, como a tuberculose – que atu-almente é a que provoca mais mortesem portadores do vírus.

Esses estudos são importantesno desenvolvimento de produtos quí-micos capazes de inibir a replicaçãoviral. Duas composições químicas,analisadas pelos pesquisadores, de-monstraram eficácia como inibidoresda replicação do HIV. A primeira, cujoartigo está submetido, trata-se de umalcalóide. A segunda, pesquisada emparceria com professores da Univer-sidade Federal Fluminense (UFF), éuma molécula definida, de origemnatural brasileira. Segundo Bou-Habib, ambas inibem a replicação doHIV em macrófagos e em linfócitosT, as células-alvo do HIV. “É impor-tante ressaltar que este é apenas umprimeiro passo de uma linha que es-tuda produtos químicos com poten-ciais inibitórios”

Nestes projetos os pesquisadorescontam com a colaboração da Univer-sidade de Londres, dos Institutos Naci-onais de Saúde (NIH, Estados Unidos),da UFRJ, da UFF e de pesquisadoresde outras unidades da Fiocruz.

Da moléculaao pacienteGrupo estuda clinicamente pacientes HIV-positivos einvestiga produtos capazes de inibir a replicação viral, in vitro

N

Page 27: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 200428

inte anos depois daidentificação do pri-

meiro caso de Aids noBrasil – ocorrida em 1983

–, o Instituto de Tecnolo-gia em Fármacos (Far-Manguinhos)da Fiocruz vê consolidada sua po-sição como principal produtor na-cional de medicamentos anti-retro-virais (ARV), que combatem o HIV.Com vocação para a pesquisa e odesenvolvimento de novos produ-tos, Far-Manguinhos fabrica cercade 1,3 bilhão de unidades farma-cêuticas por ano e tem por objetivoelevar esse número a 1,8 bilhão em

Far-Manguinhos dobraprodução de anti-retrovirais

2004. Em relação aos ARV – Far-Manguinhos produz sete dos 15que são distribuídos pelo SUS a120 mil portadores da doença –, aprodução, que em 2002 chegou a150 milhões de unidades (cápsu-las, bisnagas e comprimidos), de-verá dobrar este ano.

“Cerca de 60% dos ARV são fei-tos aqui em Far-Manguinhos. Temospraticamente uma fábrica dentro daoutra para dar conta da demanda doMinistério da Saúde (MS). Dos nos-sos 180 funcionários, 35 se dedicamà produção dos anti-retrovirais”, dizo farmacêutico Jorge Costa.

VO empenho da Coordenação

Nacional de DST e Aids em garan-tir o acesso universal e gratuito aosARV – esforço que conta com a con-tribuição estratégica de Far-Mangui-nhos –, tem resultado na diminui-ção da mortalidade por Aids etambém no número de internaçõesem hospitais públicos. De acordocom dados do MS, o índice deinternações por doenças oportunis-tas, como tuberculose, pneumoniae outras, teve uma redução de 80%.De 1997 a 2001, 358 mil internaçõesforam evitadas, gerando uma eco-nomia de US$ 1,1 bilhão.

Linha de produção de medicamentos em Far-Manguinhos, que produz vários dos anti-retrovirais distribuídos pelo SUS

AIDS - FRENTES DE BATALHA CONTRA UM INIMIGO COMUM

Foto: Rogério Reis

Page 28: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 29

Departamento de En-demias Samuel Pessoa(Densp), da Ensp, fir-mou, em julho, umacordo com a Secreta-

ria de Estado de Administração Peni-tenciária do Rio de Janeiro (Seap), parao programa de colaboração técnico-ci-entífico com ênfase na capacitação dosistema penitenciário do estado para otratamento de Aids e tuberculose.

O Núcleo de Assistência Farma-cêutica (NAF), do Departamento deCiências Biológicas (DCB), atualmen-te desenvolve a pesquisa Diagnosticodo financiamento do acesso aos anti-retrovirais na América Latina (em coo-peração com a Unaids e o governofrancês) e tem a responsabilidade porsecretariar a Rede Global sobre Financi-amento da Atenção a Saúde de PessoasVivendo com HIV/Aids, que visa promo-ver a expansão do acesso dessas pesso-

Aids em presídios

Fiocruz, em conjunto como Imperial College, daInglaterra, vem anali-sando a tendência daepidemia de Aids no

Brasil. Em 2003 desenha-se um ce-nário mais eqüitativo no tratamentoda doença, como explica FranciscoInácio Bastos, do Centro de Infor-mação Científica e Tecnológica (Cict)da Fiocruz e responsável pelo estu-do. “A despeito das diferenças soci-ais e regionais, o acesso ao tratamen-to vem se ampliando. Não há maisexpressiva disparidade entre sobre-vida de pacientes do Sudeste e Nor-deste, por exemplo”.

Pesquisas avaliamevolução da doença no Brasil

A

O

Bastos é também um dos co-ordenadores de uma pesquisa daFundação, em parceria com a Or-ganização Mundial de Saúde e aUniversidade do Estado do Rio deJaneiro (UERJ), sobre infecção porHIV em usuários de drogas injetá-veis. De nível mundial, no Brasilfoi concluída em 2001, apontandoredução de 70% na taxa de infec-ção. O pesquisador afirma que, aocontrário do que se previa, essaspessoas vêm mantendo comporta-mento de menor risco e buscandotratamento.

Nessa mesma linha, um es-tudo envolvendo a Fiocruz, Uni-

versidade da Pensilvânia e oCentra-Rio, centro de apoio ausuário de drogas no Rio, anali-sa respostas de um questionáriomultimídia preenchido por paci-entes do centro. O computadormostra-se uma eficiente interfacecom essa população, inclusivepara respostas a questões delica-das em torno da Aids, como se-xualidade.

Acompanhando a evolução dadoença há 13 anos, Bastos destacaque as conquistas não podem le-var ao descuido, pois a taxa de in-fecção por HIV ainda é grande e otratamento, complexo.

as aos cuidados de saúde.Um projeto coordenado pela

pesquisadora Marilia Sá Carvalho, doDepartamento de Administração e Pla-nejamento em Saúde, avalia a sobrevi-da dos pacientes com Aids de hospi-tais cariocas através das bases de dadosbrasileiras.

No Centro de Saúde Escola Ger-mano Sinval Faria (CSEGSF), o Nú-cleo de DST/Aids acompanha atual-mente cerca de 200 pacientes. Aproposta de aproximar o serviço desaúde e a comunidade levou à cria-ção do Bazar da Solidariedade, como objetivo de prestar socorro emer-gencial a pacientes e suas famílias, aOficina Artesanal, que inicialmente foisugerida para mulheres soropositivase que hoje gera renda para as mu-lheres de Manguinhos, e a Associa-ção de Mulheres e Amigos do Com-plexo de Manguinhos.

Page 29: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 200430

erca de 90 criançasportadoras do vírusda Aids recebem as-sistência no ambula-tório de Doenças In-

fecciosas e Parasitárias (DIP) doDepartamento de Pediatria doInstituto Fernandes Figueira(IFF). Elas são consultadas no mí-nimo uma vez por mês e rece-

Qualidade de vida para peque

Cbem gratuitamente toda a medi-cação de que precisam. “O prin-cipal objetivo é permitir que acriança portadora do HIV leveuma vida normal: estude, prati-que esporte e brinque comoqualquer outra”, afirma a médi-ca Ana Cláudia Mamede, respon-sável pelo ambulatório – quetambém acompanha mais de 60

meninos e meninas menores de18 meses ainda sob suspeita deapresentarem o HIV.

Além disso, o IFF atende agestantes infectas pelo vírus daAids, de modo a evitar a trans-missão do HIV das mães para osfilhos, que ocorre principalmentedurante o parto. Quando a mu-lher não segue nenhum tratamen-

AIDS - FRENTES DE BATALHA CONTRA UM INIMIGO COMUM

Page 30: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 31

nos portadoresto, as chances de seu filho nas-cer portador do HIV são de 25%.Esse risco, porém, cai para 2%se ela receber uma combinaçãode remédios e for submetida àcesárea eletiva (feita na 38ª se-mana de gestação, antes do rom-pimento da bolsa d’água e daentrada em trabalho de parto). “De1994 a 2001, das 128 mulheres

que seguiram esse protocolo aquino IFF, apenas quatro tiveram fi-lhos infectados pelo HIV, sendoque nenhum desses casos de trans-missão ocorreu depois de 1997”,diz o médico Marcos Pone, coor-denador do DIP.

Quanto às crianças portado-ras do vírus da Aids atendidas hojeno IFF, em geral, suas mães não

fizeram pré-natal de forma ade-quada e só procuraram o institu-to no momento do parto ou apóso nascimento dos filhos infecta-dos. “Casos em que a mulher sódescobre sua condição de porta-dora do HIV quando um filhonasce com o vírus são mais co-muns do que se imagina”, contaAna Cláudia.

Page 31: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 200432

tualmente, a Fiocruz en-frenta o problema datransmissão vertical daAids em duas principaisfrentes. Estas represen-

tadas, primeiramente, por uma pesqui-sa que verifica a presença do HIV noleite materno e depois por um traba-lho que observa que muitos recém-nas-cidos de mães doentes já apresentam,antes mesmo de qualquer tratamento,vírus resistentes a certos remédios anti-retrovirais. Os projetos são levados

Transmissão mãe/filho e presençado vírus no leite materno

adiante pelo Departamento de Virolo-gia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) esão coordenados pelos biomédicosSandra Simonetti e José Simonetti.

“A transmissão vertical acontecequando uma gestante infectada com oHIV passa o vírus para seu bebê”, ex-plica Sandra. A possibilidade maior docontágio é na hora do parto, quando acriança está mais exposta ao sangue eoutros fluídos da mãe. Porém, a conta-minação pode se dar durante a gravi-dez — o vírus pode, em certos casos,

passar pela placenta que protege ofeto. Daí a importância de se saberantes ou durante a gravidez se a mãeé soropositiva. Sem tratamento, a pos-sibilidade de transmissão vertical é de40%. Com os devidos cuidados, cai para5%, completa Simonetti.

A amamentação também repre-senta um risco para o neném. “A crian-ça que se alimenta do leite da mãe comAids, pode ter, em média, 15% dechances de contrair a doença”, explicao pesquisador, justificando o objetivo

A

AIDS - FRENTES DE BATALHA CONTRA UM INIMIGO COMUM

Page 32: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 33

falta de qualidade do pré-natal realizado no Nordes-te do Brasil pode estarcontribuindo com atransmissão do vírus da

Aids de mãe para filho. Pesquisa base-ada em dados da região coletados peloMinistério da Saúde (MS) e em visitasa dois hospitais públicos referência notratamento da doença no Rio Grandedo Norte, revela que, enquanto em SãoPaulo, estado que concentra cerca de50% dos casos de Aids no País, a taxade crescimento anual de transmissãomaterno-infantil chega a menos de 5%,no Nordeste, esse percentual atingiu17% dos bebês nascidos de 1990 a1996, ano em que foi introduzida emâmbito nacional a terapia anti-retroviral(ARV) em gestantes. O estudo foi con-cluído recentemente pelo Centro dePesquisa Aggeu Magalhães (CPqAM),unidade técnico-científica da Fiocruzem Pernambuco.

De acordo com os dados da pes-quisa, cerca de 28% das gestantes por-tadoras do vírus HIV atendidas em doishospitais estaduais do Rio Grande doNorte sequer foram à farmácia das uni-dades de saúde para receber gratuita-mente o AZT, um dos medicamentosutilizados no tratamento da aAids e cujoefeito assemelha-se ao de uma “vaci-na” para o recém-nascido. “Qualquerrecusa da gestante é grave, principal-mente quando se sabe que o uso doAZT durante a gestação reduz em até2/3 o risco de transmissão do vírus parao bebê”, ressaltou a médica Ana Brito,responsável pelo levantamento incor-porado à sua tese de doutorado de-fendida recentemente.

Integrante do Comitê Assessor deEpidemiologia do Programa Nacionalde DST/Aids, Ana Brito disse que, di-ante dos resultados, comprova-se anecessidade de estabelecimento deações de avaliação e monitoramentodo programa de adesão aos anti-retro-virais no Nordeste, apontando para anecessidade do fortalecimento do tra-tamento, sobretudo na questão detransmissão vertical (de mãe para fi-

lho). “Isso demonstra que é precisomelhorar o pré-natal no país e essa açãotem de ser mais descentralizada”, co-mentou a médica, alegando que, em-bora o Sistema Único de Saúde (SUS)garanta ampla cobertura, o atendimen-to à atenção secundária no Nordestepermanece centralizado, desde os pro-cedimentos de urgência até os maiscomplexos.

Além de verificar a recusa dasmães, a pesquisadora observou que, noRio Grande do Norte, onde fez visitasàs farmácias dos hospitais referência notratamento de Aids em Natal e emMossoró bem como revisão dos pron-tuários, cerca de 35,9% das pessoascom indicação de medicamentos anti-retrovirais entre os 498 pacientes adul-tos atendidos nessas unidades de saú-de não aderiram ao tratamento ARV.Ana Brito detectou também que 10,4%desses pacientes não aceitaram o tra-tamento, o que corresponde ao nãocomparecimento à farmácia por umperíodo de seis meses após a data daprescrição médica.

“Procuramos analisar o que esta-va associado a essa não-adesão e per-cebemos que 35,9% dos que não ade-riram aos anti-retrovirais, ou seja, queforam menos de cinco vezes à farmá-cia, iniciaram a terapia com os medica-mentos tardiamente, após um interna-mento hospitalar”, citou a médica. Ouso de drogas lícitas ou ilícitas (álcool,maconha, cola e crack) também estáassociado a uma menor adesão. A pro-porção dos portadores de HIV comhistória de consumo de drogas até umano anos de iniciar a terapia ARV foi21% inferior em relação aos que nãofizeram sua ingestão.

No levantamento, verificou-seque a inclusão dos inibidores deprotease, drogas que estariam associa-das a maior ocorrência de efeitoscolaterais, não apresentou associaçãocom a baixa adesão à terapia anti-retroviral. Os resultados do trabalhoforam apresentados, em agosto desteano, na reunião técnico-científica doPrograma Nacional de DST/Aids.

Pré-natal preocupante

A

de se avaliar e detectar a presença doHIV no leite materno. O estudo teveinício há dois anos e o número de ges-tantes analisado ainda é pequeno parase estabelecer dados definitivos.

A verificação de vírus resistentesa remédios antri-retrovirais em crian-ças infectadas também se explica, poistraça qual será a conduta terapêutica efacilita o planejamento de tratamentosmais específicos. “Muitas vezes, a grá-vida já está em tratamento, o que tor-na possível a transmissão de vírus re-sistentes para o feto”, diz Sandra,ressaltando a importância de examesde Aids antes da gravidez e durante opré-natal, “esse ainda é o passo princi-pal para se evitar a transmissão verti-cal”, conclui José Simonetti.

Page 33: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 200434

OMinistério da Saúde dis-tribuiu medicamentosanti-retrovirais para 128mil pacientes em todopaís em 2003. Este ano,

o número aumentará em 20 mil, atin-gindo a marca de 148 mil atendidospelo Programa Nacional de DST/Aids,reconhecido internacionalmente pelosseus bons resultados. Além do sucessodo Programa na área de assistência àsaúde, o Brasil também desponta naárea de pesquisa sobre o tratamento eprevenção da doença, ao ser incluídonum esforço internacional de estudosde ponta em Aids organizado por re-des do National Institutes of Health(NIH), agência de pesquisa em saúdedo governo americano.

A Fiocruz será responsável pelogerenciamento dos estudos e resulta-dos no Brasil. O trabalho inclui o testede três novos medicamentos contraAids em cem pacientes, a avaliaçãoem 1.750 bebês de um esquema tra-tamento para evitar a transmissão dadoença a recém-nascidos filhos demães HIV positivas diagnosticadas du-rante o parto, duas estratégias de pre-venção da transmissão do vírus em ca-sais heterossexuais.

Até o fim de 2004, o grupo deensaios clínicos em Aids, liderado porBeatriz Jegerhorn Grinsztejn, ValdiléaVeloso e José Henrique Pilotto, do Ins-tituto de Pesquisa Evandro Chagas(Ipec), iniciará sua participação nos trêsestudos internacionais coordenados porredes ligadas ao NIH. Além de gerenciaros trabalhos e resultados no Brasil, ogrupo fará o atendimento a pacientes.A equipe reúne especialistas do Insti-

Brasil participará depesquisa mundial sobretratamento de Aids

tuto Oswaldo Cruz (IOC), do Centrode Informação Científica e Tecnologia(Cict) e do próprio Ipec. O grupo par-ticipará de estudos conduzidos pelasredes Adult Aids Clinical Trials Group(AACTG) e HIV Prevention TrialsNetwork (HTPN).

“Na área de tratamento, a parce-ria será com o AACTG, considerada amaior rede de ensaios clínicos do mun-do. A pesquisa deve começar em ju-nho deste ano e avaliará a eficácia detrês tratamentos anti-retrovirais em cempacientes brasileiros que ainda não re-cebem esse tipo de medicação. Aotodo, serão analisados 1.250 soroposi-tivos em 12 centros de pesquisa espa-lhados em todo o globo.

Os pesquisadores da Fiocruz se-rão responsáveis pelo atendimento aospacientes, análises laboratoriais e con-solidação dos dados obtidos. A parce-ria com o AACTG já rendeu a amplia-ção das instalações do ambulatório doIpec. O Instituto recebeu do NIH umaverba de U$ 84 mil para construçãode oito novas salas para atendimentoexclusivo a soropositivos.

Com o HTPN, o grupo partici-pará de dois projetos na área de pre-venção. O estudo HPTN 040 avaliarátrês medidas profiláticas pós-exposi-ção usadas em recém-nascidos filhosde mães HIV positivas diagnosticadasdurante o parto. Um total de 1.750bebês será distribuído aleatoriamenteem três grupos, que receberão medi-cações diferentes. O primeiro será tra-tado apenas com Zidovudina (AZT),medida preventiva padrão em todo omundo. Já o segundo receberá tam-bém Nevirapina. Aos restantes será ad-

ministrado um esquema formado porAZT, Lamivudina e Nelfinavir.

“A duração do projeto é de 33meses e, a partir dos resultados obti-dos, será possível identificar qual a op-ção mais eficaz na prevenção à trans-missão vertical da Aids”, explica Pilotto,frisando que, nesse projeto, o grupo seráresponsável pelo gerenciamento técni-co global, administração, análiseslaboratoriais e consolidação dos dados.

Ainda na mesma rede, o estudoHPTN 052 vai comparar duas estraté-gias de prevenção da transmissão deHIV em casais heterossexuais em queum dos cônjuges é portador do vírusda Aids e o outro não, conhecidoscomo sorodiscordantes. Sessenta casaisserão divididos aleatoriamente em doisgrupos. Um terá contato apenas comos métodos comuns, como o uso dacamisinha e o aconselhamento. Nooutro, os soropositivos sem indicaçãopara tratamento anti-retroviral recebe-rão remédios, além de terem acessoàs medidas tradicionais.

“Vamos saber se a medicação temalgum efeito protetor nessa populaçãoque não exige tratamento”, afirmaBeatriz. O Ipec será responsável pelogerenciamento nacional do estudo epelo atendimento de parte dos pacien-tes. A previsão é que os trabalhos co-mecem no segundo semestre.

Além dos novos estudos, o gru-po termina este ano uma parceria como Comprehensive International Pro-gram of Research on Aids (Cipra), redede apoio a estudos em Aids tambémligada ao NIH. O Cipra concedeu aogrupo uma doação para planejamentoe organização no valor de U$ 50 mil, o

AIDS - FRENTES DE BATALHA CONTRA UM INIMIGO COMUM

Page 34: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 35

Page 35: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 200436

que permitiu a realização de treinamen-tos e eventos e a conclusão de umestudo com gestantes soropositivas doRio de Janeiro e do Rio Grande do Sul.Em agosto, serão apresentados o rela-tório de atividades e um novo projetode pesquisa. A meta é receber umadoação para pesquisa exploratória, quepode chegar a U$ 500 mil. Segundo acoordenadora do projeto, Mariza Mor-gado, do Instituto Oswaldo Cruz, comessa verba será possível aprofundar ostrabalhos iniciados na primeira etapa,detalhando as diferenças entre as epi-demias de Aids nos dois estados. Nes-se novo estudo, será utilizada a mes-ma amostra do projeto HPTN 040.

Caso a proposta seja aceita, ogrupo de ensaios clínicos renovará seurelacionamento com o Cipra, manten-do, simultaneamente, quatro parceriascom redes do NIH. Para BeatrizGrinsztejn, esse reconhecimento inter-nacional é fruto do trabalho e dos re-sultados obtidos pela equipe nessesonze anos de atividades.

“Muitos dos principais avanços ci-entíficos na luta contra a Aids surgirama partir de trabalhos desenvolvidos porredes do NIH. Participar disso é ser pi-oneiro na pesquisa sobre a doença”,comemora Beatriz.

AIDS - FRENTES DE BATALHA CONTRA UM INIMIGO COMUM

A doençano Brasil

pacientes receberãomedicamentos anti-retrovirais doMinistério da Saúdeem 2004

148 mil

5.762

277.141

600 mil

400 mil

R$ 508milhões

Formado a partir do Laboratório de Higi-ene, criado em 1887, o National Institutesof Health (NIH) é hoje um dos princi-pais pólos de pesquisa em saúde do mun-do, englobando 20 institutos e sete cen-tros localizados nos EUA. O NIH é ligadoao Departamento de Saúde e ServiçosHumanos do governo americano e de-senvolve estudos em várias áreas, comocâncer, genética, hematologia, alcoolis-mo etc. As redes Adult Aids Clinical TrialsGroup (AACTG), HIV Prevention TrialsNetwork (HTPN) e ComprehensiveInternational Program of Research on Aids(Cipra) fazem parte do National Instituteof Allergy and Infectious Diseases, uni-dade responsável por estudos em aler-gia e doenças infecciosas.

O que é o NIH?

serão gastos peloserão gastos peloserão gastos peloserão gastos peloserão gastos peloMinistério da SaúdeMinistério da SaúdeMinistério da SaúdeMinistério da SaúdeMinistério da Saúdeem medicamentosem medicamentosem medicamentosem medicamentosem medicamentosanti-ranti-ranti-ranti-ranti-retretretretretrooooovirais estevirais estevirais estevirais estevirais esteano, número ano, número ano, número ano, número ano, número R$ 34R$ 34R$ 34R$ 34R$ 34milhõesmilhõesmilhõesmilhõesmilhões menor que menor que menor que menor que menor queo gasto em 2003o gasto em 2003o gasto em 2003o gasto em 2003o gasto em 2003

portadores de HIVdesconhecem suacondição sorológica

soropositivos vivem no Brasilsegundo estimativa doMinistério da Saúde

casos de Aids foramregistrados desde 1980

novos casos de Aids foramnotificados no ano passado

Page 36: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 37

Fiocruz deu o primeiropasso para a nacionaliza-ção do teste rápido paradiagnóstico do vírusHIV tipos 1 e 2, causa-

dores da Aids. Um acordo de transfe-rência de tecnologia assinado com aempresa americana Chembio permi-tirá que o Instituto de Tecnologia emImunobiológicos (Bio-Manguinhos)comece a fabricar ainda no primeirosemestre deste ano os primeiros kitsde exames rápidos. A previsão é deque, ao fim de três anos, os custos nacompra do teste caiam pela metade,gerando uma economia de cerca deU$ 500 mil para o Programa Nacionalde Doenças Sexualmente Transmis-síveis e Aids (PNDST/Aids). O pro-grama efetua cerca de 300 mil exa-mes desse gênero anualmente,importando todos os kits, a um custopróximo de U$ 1 milhão.

O teste rápido, que indica emapenas dois minutos a presença dovírus, é fundamental em diagnósticosprematuros, como em grávidas quenão fizeram pré-natal ou em recém-nascidos, permitindo assim que me-didas profiláticas sejam tomadas paraevitar a infecção de bebês na chama-da transmissão vertical, de mãe parafilho. Esse tipo de transmissão respon-deu por 82,3% dos casos de infecçãopor HIV em crianças menores de 13anos no Brasil no ano passado.

A expectativa é que a produ-ção comece em dois meses e sejacapaz de atender à demanda do Mi-nistério da Saúde já no primeiro ano.Na fase inicial, a Fiocruz compraráos insumos da Chembio e finalizaráa produção no Brasil, reduzindo opreço em mais de 20%. A partir doterceiro ano, a produção será total-mente nacionalizada, gerando umaeconomia de 50%.

Com o acordo, Bio-Mangui-nhos será capaz de adaptar a tec-nologia do teste rápido anti-HIVpara desenvolver, em curto prazo,exames similares para diagnosticaroutras doenças, como dengue,leptospirose e leishmaniose.

Bio-Manguinhos produzirá teste rápido

A

ovens que já participaram deprojetos sociais revelam maiorconhecimento sobre DST s, ten-dem a se prevenir mais e apre-sentam maior preocupação coma gravidez precoce. Esses são os

resultados preliminares de um estudo,apoiado pela Fundação Ford, que avaliaa repercussão de projetos sociais natrajetória de vida de jovens carentes noRio de Janeiro. A pesquisa é realizada noLaboratório de Educação em Ambientee Saúde (Depto de Biologia/IOC) da Fi-ocruz, que há anos se dedica a trabalhosem torno da prevenção do HIV/Aids. En-tre os projetos nessa área, destaca-se,também, a nova edição do jogo Zig-Zaids, agora com perguntas mais atuali-zadas na versão CD-Rom.

Estão sendo avaliados quatroprojetos sociais que visam dar novas al-ternativas aos jovens: o Programa Fazen-do e Aprendendo, o Projeto Monitoresdo Museu da Vida, ambos da Fiocruz, aorganização não governamental Ex-Cola,e o Grupo Cultural Afro Reggae. A pes-quisa baseia em entrevistas com 42 jo-vens, de ambos os sexos, com idadesentre 18 e 24 anos, com e sem partici-pação nos referidos projetos. O estudoleva em conta temas como, trajetória fa-

Aids e educação

Jmiliar, escolaridade, experiência sexual,relações de gênero, discriminação sociale étnico/racial, uso de drogas, DST s, vi-olência e rede social.

“Os primeiros resultados mostramque jovens que participaram deprojetos sociais têm um vocabuláriomais aprimorado, maior noção de ci-dadania, se preocupam mais com a gra-videz e ampliam seus conhecimentossobre DST´s/Aids”, diz a pesquisadoraFátima Cecchetto.

O outro projeto é uma iniciativaque deu certo e já rendeu uma patentepara a Fiocruz. A versão impressa dojogo Zig-Zaids chegou às escolas a par-tir da distribuição de 100 mil exempla-res pelo Ministério da Saúde. A partirdas sugestões enviadas por alunos e pro-fessores, a equipe da Fiocruz montouuma nova versão do jogo, em formatoCD-Rom, que inclui além das questõeshabituais, temas como sexualidade, dro-gas e primeira vez. “Ainda não se sabecomo vai ser a distribuição desse pro-duto, temos uma pequena quantidadedestinada à doação”, diz Sandra Rebello,também do laboratório.

Visite também o site:www.fiocruz.br/piafi/zigzaids/

O teste rápido dá o resultado em dois minutos

Page 37: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 200438

P E S Q U I S A

Pesquisador da Fiocruz em Recife trabalha no novo laboratório quevai manipular microorganismos que põem em risco a saúde humana

Fiocruz ganhalaboratórios de segurança

Divulgação CPqGM/Fiocruz

Page 38: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 39

Governo Federal estáimplantando umarede de laboratóriosde alta segurança noPaís para a manipu-

lação de microorganismos quepõem em risco a saúde humana econtra os quais é essencial prote-ger a população. Um dos labora-tórios de Nível de Biossegurança3 (NB 3) começou a funcionar emmarço no Centro de PesquisasAggeu Magalhães (CPqAM), emPernambuco, e outro no Centro dePesquisa Gonçalo Moniz (CpqGM),na Bahia, ambas unidades da Fio-cruz. O objetivo principal da RedeNacional de Laboratórios de Saú-de Pública será prestar serviçospara o Ministério da Saúde (MS).Além dos novos NB 3 da Fiocruz,devem ter esse tipo de laborató-rio, neste ano, o Instituto Pasteure o Instituto Adolfo Lutz, em SãoPaulo; o Laboratório Central(Lacen) do Rio Grande do Sul; oLacen de Brasília; o Lacen do Cea-rá; e o Instituto de Medicina Tro-pical de Manaus, no Amazonas.

O Departamento de Virologiado Instituto Oswaldo Cruz tam-bém está recebendo investimentosda Rede Nacional em um de seuslaboratórios que desenvolve pes-quisas em Aids e ainda montou re-centemente um NB3 para a inves-tigação de rickettsias e hantavírus,com investimentos próprios da Fi-ocruz (ver matéria a seguir).

O investimento total da Redede Laboratórios é de R$ 32 milhões.Para o secretário de Vigilância emSaúde do Ministério da Saúde (SVS/MS), Jarbas Barbosa, é importantepara o país ter condições de fazertestes de vírus e bactérias com se-gurança para os cientistas e para acomunidade. Ele informou que asunidades servirão para as deman-das habituais e para situações de

emergência, entre elas a realizaçãode testes de substâncias utilizadasna prática de bioterrorismo, comoo pó de antraz, em 2001. “Quandotivemos aquele problema do antrazno Brasil, testamos mais de três milamostras de pós suspeitos, concen-trando as análises em dois labora-tórios, no Rio de Janeiro e em SãoPaulo, porque não dispúnhamos deuma rede como essa”, lembrou.

As equipes que irão atuar nosNB 3 de todo o país serão treina-das por profissionais do Centro dePrevenção e Controle de Doenças(CDC) de Atlanta, dos Estados Uni-dos, considerado o melhor labo-ratório do mundo em doençasemergentes. O treinamento estáestruturado em dois módulos: ma-nejo para os profissionais que de-senvolverão atividades diagnósti-cas e manutenção para aquelesdevem verificar e ter o controle dascondições adequadas de funciona-mento dos equipamentos ou dasáreas finais do laboratório.

Com um custo de R$ 2 milhões,financiados pelo Banco Mundial(Bird), o NB 3 da Fiocruz de Per-nambuco será destinado para ativi-dades científicas nas áreas de pestee hantavirose. O CPqAM presta as-sessoria para o MS no controle dapeste desde 1966, realizando essetrabalho não só em Pernambuco,mas também no Ceará, no Rio Gran-de do Norte, na Paraíba, em Alago-as, na Bahia, em Minas Gerais e noRio de Janeiro. Devido à experiên-cia, o Aggeu Magalhães tornou-sereferência para a peste em todo opaís e será, em breve, referênciapara hantavirose em âmbito regio-nal, já que essa doença possui osmesmos reservatórios animais dapeste: os roedores silvestres.

Uma das responsáveis peloServiço de Referência em peste, apesquisadora Nilma Cintra Leal, ga-rante que o NB 3 proporcionará umsalto qualitativo no manuseio de

material virulento, na produção deantígenos e na elaboração de no-vas pesquisas. No local, serão fei-tos, para a peste, diagnóstico, pro-dução de imunobiológicos e análisemolecular da bactéria Yersiniapestis, causadora da doença. “Semcontar que teremos condições maisadequadas para guardar cepas deY. pestis que pode ser um agentede bioterrismo”, detalhou Nilma.Para hantavirose, a função do NB3 será propiciar diagnóstico soro-lógico, isolamento do vírus e aná-lise molecular.

Atualmente, o Serviço de Refe-rência em peste produz insumospara diagnóstico da peste e prestaassessoria aos programas de contro-le da doença nas esferas municipais,estaduais e federal. Realiza, ainda,em atividades de pesquisa, a carac-terização molecular das cepas de Y.pestis, com o intuito de identificaras variações genômicas naturais eproteínas específicas para desenvol-ver novas técnicas de diagnóstico dapeste em soros humanos, pulgas ehospedeiros vertebrados.

No NB 3 da unidade pernam-bucana integrada à rede do MS, ha-verá, inclusive, a realização de estu-dos moleculares de Mycobacteriumtuberculosis, microorganismo causa-dor da tuberculose. Para executar ostrabalhos laboratoriais no CPqAM,foram adquiridos 51 equipamentos.Entre eles, autoclave horizontal combarreira (onde será feita toda a es-terilização de materiais), cabine desegurança biológica, estufas bac-teriológicas, incubadora com gáscarbônico, microscópios dos tiposinvertido, binocular e para imuno-fluorescência com sistema de foto-documentação, centrífuga refrige-rada, contêineres para nitrogêniode pequeno e grande portes.

Já no NB 3 da Fiocruz/Bahiaserão realizadas pesquisas com osvírus HIV e HTLV e doenças comohepatite B e tuberculose.

OPaula Lourenço

Page 39: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 200440

Departamento de Virolo-gia do Instituto OswaldoCruz (IOC) já conta, desdeagosto passado, com umlaboratório especial para a

investigação de rickettsias e hantaví-rus. As bactérias rickettsias são trans-mitidas por artrópodes, como pulgas,piolhos, carrapatos e ácaros, e causama febre maculosa brasileira e o tifo,entre outras doenças. Já os hantavírussão transmitidos por roedores e pro-vocam pneumonias e febres hemorrá-gicas. Como se destina ao diagnósticoe à pesquisa de microorganismos queoferecem grave risco à saúde humanae podem se disseminar no ambiente,o novo laboratório tem nível de bios-segurança 3 (NB3) - o segundo maiornível existente -, sendo consideradoreferência nacional para rickettsioses ereferência regional para hantaviroses.

As rickettsioses e hantaviroses sãoenfermidades que apresentam eleva-da mortalidade e contra as quais nãoexistem vacinas. “O tratamento dessasdoenças é facilitado pelo diagnósticoprecoce, mas os profissionais da saú-de, em geral, não conhecem as mani-

festações clínicas decorrentes da infec-ção por rickettsias ou hantavírus”, afir-ma a médica Elba Lemos, coordenado-ra no novo laboratório.

Com menos de seis meses deexistência, o laboratório vem implemen-tando diferentes técnicas microbiológi-cas, moleculares e de imunohistoquími-ca no desenvolvimento das atividadestanto de pesquisa como de referência.Outras técnicas, como o isolamento derickettsias em cultura de células, porexemplo, em breve serão iniciadas, coma instalação de alguns equipamentos jáadquiridos pela Fiocruz.

Entre os objetivos futuros do la-boratório, está o mapeamento da dis-tribuição de doenças provocadas porrickettsias no país. “Os vetores dessasdoenças estão em toda parte do terri-tório nacional, mas somente o Sudesteapresenta casos clínicos. Nossa idéia éque haja uma subnotificação por contado desconhecimento das enfermida-des. Em termos de números, essas do-enças não são tão importantes como odengue, mas o quantitativo de óbitosé bastante elevado”, diz Elba.

No caso do hantavírus, há umgrande potencial de parcerias com pa-íses latino-americanos. “Desde 1998

O

Novo laboratório pesquisarickettsioses e hantaviroses

existe um intercâmbio com o Institu-to Carlos Malbrán de Buenos Aires. AArgentina possui uma vasta experiên-cia em febre hemorrágica, já produzseus próprios kits e nos fornece antí-genos de hantavírus. Mais recentemen-te tivemos a perspectiva de realizaruma parceria com o Instituto Come-morativo Gorgas do Panamá”, comen-ta a médica.

Entre outros parceiros, ela citaas universidades federais (UFF, UFRJ,UFRRJ) e estadual (Uerj) do Rio deJaneiro e a Empresa Brasileira de Pes-quisa Agropecuária (Embrapa) de SãoCarlos, com as quais realiza projetos.“Isso sem falar nos parceiros aqui naFiocruz. É importante lembrar que olaboratório foi montado com verba dainstituição e possui uma estrutura NB3muito boa. Havendo necessidade, olaboratório vai estar à disposição paratrabalhar com outros patógenos”,acrescenta.

De acesso restrito, o novo labo-ratório apresenta pressão negativa. Issosignifica que o fluxo de ar é unidireci-onal, sempre de fora para dentro dasala, onde existem ductos de exaustão.“Para sair do laboratório, o ar tem quepassar por um sistema eficiente de fil-tros, o que garante um elevado con-trole biológico”, explica Elba.

As amostras contendo os micror-ganismos são manipuladas em cabinesbiológicas, de modo a impedir a expo-sição do pesquisador aos agentes cau-sadores de doenças. Todas as superfí-cies - como paredes, chão e bancadas- são rigorosamente lisas, para facilitara limpeza. O laboratório apresenta ain-da uma autoclave dupla face para es-terilizar os materiais usados, e um lava-olhos, para o socorro imediato no casode um eventual acidente. “Um pesqui-sador sozinho não deve trabalhar noNB3: é fundamental que ele estejaacompanhado por, pelos menos, umaoutra pessoa”, alerta Elba.

Sarita Coelho

O novo labora-tório tem nívelde segurança 3,o segundo maiorexistente

Page 40: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 41

Page 41: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 200442

R E S E N H A S

A recepçãodo darwinismono Brasil

Motivo de controvérsias noBrasil do século 19, a te-oria da seleção das espé-cies foi aceita por muitos,mas também rejeitada,

considerada polêmica e incompreendi-da. Diversos campos do saber utiliza-ram o adjetivo darwinista para argumen-tar suas ideologias, o que gerou umaconfusão de conceitos. Nesse cenário,opositores da teoria de seleção das es-pécies acabaram sendo consideradossimpatizantes de Darwin. Além disso,idéias preconceituosas serviram paraforjar uma imagem de formação socialhierarquizada, colocando índios e negrosem um patamar inferior. É o que mos-tra essa coleção de ensaios recém-lançada pela Editora Fiocruz.

De acordo com a obra, um dosprimeiros a comprovar a teoria da evo-lução das espécies no país foi o ale-mão Johann Friedrich Theodor Müller(1822-1897), conhecido como Fritz

A recepção do darwinismo no BrasilOrganizado por Heloisa Maria Bertol Domingues,Magali Romero de Sá e Thomas GlickEditora Fiocruz - 192p. R$ 21,00

Muller. Emigrante estabelecido emBlumenau, o pesquisador decidiu com-provar o livro de Darwin sobre a ori-gem das espécies e descobriu que crus-táceos portadores de pinças gigantese maiores filamentos olfativos eramselecionados.

Apesar de reconhecido porDarwin, Müller nunca conseguiu cha-mar mais atenção dos cientistas daépoca do que nosso próprio impera-dor Dom Pedro II. Amigo de grandespesquisadores europeus, Pedro II tro-cou correspondência com opositoresde Darwin durante anos, e chegou alhes enviar fósseis e materiais indíge-nas para serem analisados.

É possível notar que as figuras dodarwinista Fritz Muller e do antidarwi-nista Pedro II são simbólicas. No finaldo século 19, coexistiam no país resis-tência e aceitação ao pensamento donaturalista inglês. Na verdade, muitosse aproveitaram da idéia de evolução

para defender convicções pessoais,religiosas e filosóficas. Um exemplodisso foi o discurso liberal republicano,que considerava uma “evoluçãodarwiniana” a derrubada da monarquia.

Na época, a miscigenação brasi-leira atraía cientistas de todo o mundo,o que converteu o país em um grandelaboratório. Acreditava-se que os mate-riais arqueológicos restantes de assen-tamentos humanos eram registros dopassado indígena. A estratégia era asso-ciar esses depósitos ao crânio primitivoe demonstrar as deficiências biológicasdos índios. Também existiam idéias deque a espécie humana era originaria-mente negra e foi se tornando brancapor meio da “seleção sexual”.

Esse cenário conturbado da che-gada do darwinismo no Brasil faz daobra uma excelente fonte de pesquisapara historiadores, arqueólogos,geneticistas e amantes da história daciência em geral.

Page 42: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 43

É veneno ou é remédio?Agrotóxicos, saúde eambiente

Frederico Peres e Josino CostaMoreira (organizadores)Editora Fiocruz - 384 p.(21) 3882-9093

Apesar de protegerem as lavou-ras de pragas, os agrotóxicos sãoconhecidos por causar graves pro-blemas de saúde e desastres

ambientais. Nesse livro, são avaliadas as conseqüênciasdo uso abusivo dos pesticidas para o homem e o ambien-te. Os autores apresentam as metodologias para o moni-toramento dos efeitos negativos e estratégias para a solu-ção dos problemas ligados aos agrotóxicos.

O dilema preventivista:contribuição para acompreensão e críticada medicina preventiva

Sergio AroucaEditora Fiocruz - 272 p.(21) 3882-9093

Essa é a primeira publicação da tesede doutorado do sanitarista SergioArouca, falecido em agosto passa-

do, na forma de livro. O dilema preventivista, defendido em1975 na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, rompeuparadigmas e inspirou toda uma geração de pesquisadores,sendo decisivo para a constituição do campo da saúde coletiva.Em sua nova versão, a obra conta com o comentário de per-sonalidades da saúde em cada um de seus capítulos.

Caminhos da arquitetu-ra emManguinhos

Renato da Gama-Rosa Costa(organizador)Casa de Oswaldo Cruz/Faperj -141 p. (21) 2598-4343

Reconhecido internacionalmen-te como uma das mais primorosas obras do estilo ecléti-co na arquitetura, o Castelo Mourisco é sede da Funda-ção Oswaldo Cruz e uma espécie de símbolo da ciênciabrasileira. Para não deixar morrer sua história, o estudiosoda arquitetura e do urbanismo Renato da Gama-RosaCosta organizou o livro que reúne artigos e palestras so-bre o Castelo e outros prédios históricos.

Pessoas muito especiais:a construção social doportador de deficiência ea reinvenção da família

Fátima Gonçalves CavalcanteEditora Fiocruz - 430 págs.(21) 3882-9093

Buscar histórias de sucesso entrefamílias de deficientes mentais,formar uma visão integral do

paciente que ultrapasse a doença e confortar os pais quesão surpreendidos pelo nascimento de uma criançaespecial. Com esses objetivos, a psicóloga FátimaGonçalves Cavalcante começou o desafio de escrever umlivro que contribua para inovar a área de saúde, cada vezmais voltada para a questão social.

História, ciências,saúde: Manguinhos

Volume 10, número 3Casa de Oswaldo Cruz(21) 2209-4111

Os 50 anos de criação do Minis-tério da Saúde (MS) são destaquedesta edição da revista. O con-texto político e social que per-mitiu a desvinculação da Saúdeda Educação, até então juntas em

um mesmo ministério, é investigado em um artigo minu-cioso, que buscou investigar a história do estabelecimen-to do MS. Além desse, mais dez artigos aparecem na re-vista que divulga a recente produção acadêmica sobre opassado da saúde e da ciência.

Quando a vida começadiferente: o bebê e suafamília na UTI neonatal

Maria Elisabeth Lopes Moreira,Nina de Almeida Braga eDenise Streit Morsch(organizadores)Editora Fiocruz - 192 p.(21) 3882-9093

Problemas e deficiências gravesem bebês recém-nascidos podem

exigir longos períodos de internação, gerando medo eansiedade para a família da criança. O livro busca esclare-cer e aconselhar pais e familiares que são obrigados avivenciar, por poucos dias ou muitos meses, a estressanterotina de uma UTI neonatal.

Page 43: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 200444

F I O D A H I S T Ó R I A

Um lugar para a ciencia

S

O castelo da Fiocruz prestes a ser concluído, em 1917

Ana Palma

ilencioso e discreto, OswaldoCruz jamais explicou com cla-reza o que o levou à deliranteescolha das formas do castelode Manguinhos. Como o alpi-

nista que escalou o Everest “porqueele está lá”, o cientista quis aquele es-tilo “porque é o mais bonito”. De fato,o castelo virou símbolo da ciência edos sonhos do sanitarista. Mas a suntu-osidade exótica do Castelo Mourisco,uma das mais impressionantes obras doestilo eclético no país, costuma obscu-recer a diversidade arquitetônica docampus da Fundação Oswaldo Cruz, noRio de Janeiro. São mais de 80 cons-truções, do castelo famoso a prédiosmodernistas em concreto armado eprojetos contemporâneos arrojados.

Agora, o livro Um lugar para aciência: a formação do campus de Man-guinhos resgata o passado da arquite-tura e da ciência brasileira a partir deum passeio pelo registro vivo da Fun-dação centenária. Recuperando fotosinéditas, mapas originais, projetos erascunhos muitas vezes garimpados emregistros sem qualquer identificação, osarquitetos Benedito Tadeu de Olivei-ra, Renato da Gama-Rosa Costa e Ale-xandre José de Souza Pessoa fizeramo primeiro registro sistemático da his-tória da Fiocruz a partir do seu campus.

No século 16, o espaço que seriaocupado pela Fiocruz era habitado poríndios tupinambás. Até o século 18 aterra cultivou açúcar e depois café. Em1870 foi loteada, como acontecia coma maior parte do subúrbio carioca, emuma fazenda que seria desapropriadapelo governo em 1892 para abrigar oInstituto Soroterápico Federal, assumi-do por Oswaldo Cruz em 1902 e trans-formado em Instituto Oswaldo Cruz (fu-tura Fundação Oswaldo Cruz) em 1908.

De um rascunho feito pelo sani-tarista em 1904, o Castelo Mouriscocomeçou a se concretizar em 1905

pelas mãos do arquiteto português LuizMoraes Junior, que Oswaldo Cruz co-nheceu em um trem, em um dos epi-sódios pitorescos narrados no livro.

“Buscamos informações dispersasem museus, depósitos e arquivos”,conta Renato. “Também produzimosdados novos através de entrevistas aarquitetos e cientistas que participaramda história da instituição, o que permi-tiu preencher lacunas que permaneci-am desconhecidas”. Assim, os autorespuderam dedicar cada capítulo do li-vro a uma década do século 20 e

reconstituir o espaço do campus em11 momentos.

O Castelo Mourisco é o ícone daetapa inicial da arquitetura no campusde Manguinhos, caracterizada pelo es-tilo eclético, que se estende até a dé-cada de 1940. Então, tem início a fasemodernista na arquitetura das constru-ções do campus, afinada com a van-guarda artística da época. Ao lado umadas obras mais representativas do pe-ríodo, o Pavilhão Arthur Neiva, proje-tado por Jorge Ferreira, conhecido in-ternacionalmente por bem utilizar os

^

Page 44: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 45

princípios da arquitetura moderna. Opainel decorativo em azulejos é assi-nado pelo paisagista Burle Marx.

A partir da década de 1970 ven-ce a opção pela funcionalidade, marcada etapa contemporânea. O tomba-mento do conjunto histórico pelo Ins-tituto do Patrimônio Histórico Nacio-nal (Iphan) em 1981 marcou o iníciodas obras constantes de manutenção erecuperação.

Anexos ao final do livro chamama atenção para as unidades da Fiocruzdispersas em seis estados do país e tra-zem uma listagem cronológica dasconstruções analisadas. Um terceirocompêndio reúne os perfis dos maisimportantes arquitetos que contribuí-ram para a instituição.

Castelo:jóia do conjunto

Em 1903, Oswaldo Cruz esboçouum croqui do Castelo. A proposta ini-cial constituía-se de um prédio de doispavimentos, com corpo horizontal,varandas, escada e já previa ornamen-tações em estilo mourisco, mas aindanão incluía as duas torres e deveriaabrigar, além da parte administrativa doinstituto, um museu, a biblioteca, e,claro, os laboratórios moderníssimos naépoca.

O Pavilhão Mourisco, como émais conhecido o prédio central da Fi-ocruz, começou a ser construído em1904. Nenhum recurso foi poupado naconstrução. Com 50 metros de altura e45 de largura, assenta-se sobre umabase de granito negro. Olhado de fora,apresenta-se em tons sóbrios noavermelhado dos tijolos das paredesexternas e no revestimento de cobredas duas torres.

As varandas são revestidas deazulejos portugueses, o piso é cobertode mosaicos franceses, que lembramos desenhos dos tapetes árabes. Asportas são de peroba amarela entalha-da, com maçanetas de bronze doura-do. As paredes e o teto são de estu-que cor de mate dourado, decorado emalto-relevo com elementos geométri-cos. A escadaria principal é de ferroforjado e mármore de Carrara.

O estilo neomourisco torna-seainda mais vívido no terceiro andar,onde o salão de leitura é dividido emdois ambientes por uma elegante ar-cada apoiada sobre colunas, com pa-redes e teto em estuque branco escul-pido com arcos, rosáceas e caneluras.

No teto do quarto e último pavimen-to, visível desde o hall de entrada noprimeiro piso, um grande vitral emcores fortes coroa toda a obra.

Nenhum detalhe foi esquecido:os gradeamentos das janelas têm 18desenhos diferentes; a louça dos ba-nheiros veio da Inglaterra; as lumi-nárias alemãs, fabricadas em ferrofundido ou bronze dourado, têm cú-pulas de opalina lilás. O elevador tem

cabine de mogno, cúpula de espe-lhos e portas internas de cristalbisotado. Instalado em 1909, é omais antigo ainda em funcionamen-to no Rio de Janeiro.

Próximos ao Pavilhão Mourisco,erguem-se dois outros prédios em puroe sóbrio estilo inglês: o Pavilhão doRelógio, de 1902, e o da Cavalariça paraAnimais Inoculados, de 1904. O primei-ro destaca-se pelo relógio de quatrofaces, que ainda funciona. O segundo,pela beleza das janelas com sacadas egradeamento art-nouveau.

Um portuguêsem estilo mourisco

Foi num vagão de trem daLeopoldina que o jovem engenheiroportuguês Luiz de Morais Júnior co-nheceu Oswaldo Cruz. Naquele épo-ca, o Instituto Soroterápico Federalacabara de ser criado e Morais fazia,cotidianamente, o mesmo percursodos técnicos de Manguinhos, pois tra-balhava na reforma da igreja da Pe-nha, subúrbio do Rio de Janeiro. Apartir daí, mal ele sabia que seu desti-no iria se entrelaçar intimamente aode Oswaldo Cruz e ao conjunto arqui-tetônico de Manguinhos, onde se des-taca a obra do castelo mourisco.

Ao fazer amizade com o pesso-al do Instituto Soroterápico, Moraispassou a conhecer de perto o traba-lho que os pesquisadores faziam nolaboratório da Fazenda de Mangui-nhos. Sua vida profissional mudou tan-to quanto a de seus companheiros,quando Oswaldo cruz assumiu, emmarço de 1903, a Diretoria Geral deSaúde Pública. Desde então, Luiz deMorais tornou-se artífice não só doconjunto arquitetônico de Mangui-nhos, como também de todas as ins-talações criadas ou reformadas porOswaldo Cruz, no seu esforço demodernizar o sistema sanitário do Riode Janeiro.

Mas a grande obra de Morais foimesmo em Manguinhos. Tanto que,desde 1981, o conjunto arquitetônicoda Fiocruz está protegido por tomba-mento decretado pelo Serviço doPatrimônio Histórico Nacional.

Obras para a abertura da Avenida Brasil,no terreno do IOC, na década de 40(acima) e a capa do livro

Page 45: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 200446

A

A R T I G O

resposta brasileira à Aids tem sido motivo de dis-

cussões, debates e publicações científicas em

revistas especializadas, bem como objeto de

cobertura através dos meios de comunicação.

E isso se tem dado não apenas em nível naci-

onal, mas também internacional. E, de modo inédito para os

temas relativos à saúde, o debate tem atingido os mais di-

versos segmentos da sociedade. Entretanto, na grande mai-

oria das vezes, a difusão da informação e o debate da resposta

brasileira se dá focalizando quase que exclusivamente os

aspectos relativos à atenção à saúde das pessoas vivendo

com HIV/Aids e mais especificamente ao acesso ao

tratamento com anti-retrovirais, omitindo-se ou, às

vezes, não dando a devida relevância à resposta

brasileira no que concerne a outras áreas como a

de direitos humanos, as ações de promoção da

saúde e intervenções voltadas à prevenção.

Também, em muitas situações, tem-se ne-

gligenciado todo um elenco de atividades que se

antecederam e possibilitaram resultados bem-su-

cedidos na rede pública. Longe de querer

minimizar ou considerar como menos importan-

te a oferta universal de assistência médica e de

anti-retrovirais em particular, mas também por

representar o reconhecimento, na prática, dos

direitos de cidadania estabelecidos na Constituição.

Por outro lado, freqüentemente tem sido relegado a

um segundo plano ou mesmo omitido todo o processo his-

tórico que gerou a base cientifica e operacional que tem

dado sustentabilidade às ações de saúde pública na área de

Aids. Estas sempre foram pautadas, de modo exemplar e

raro na saúde publica brasileira, por uma continuidade na

implementação das diretrizes gerais traçadas, bem como no

permanente aprimoramento, tendo em vistas as mudanças

do perfil da epidemia e os avanços científicos na área.

A parceria entre a sociedade civil e o Estado, nesse

campo, tem gerado experiências inigualáveis, servido de

referência para vários países do mundo e proclamado como

exemplo de intervenção bem-sucedida, por organismos in-

ternacionais, notadamente o Unaids. Vale ressaltar ainda que

não apenas nas ações desenvolvidas, as ONGs têm se des-

Ações brasileiras na área de Aidsatraem a atenção internacional

tacado, mas também na parceria com o Estado na formula-

ção de políticas, estratégias e normas técnicas. Nesse con-

texto, soma-se a comunidade científica, que imensa

contribuição tem trazido ao aperfeiçoamento das normas

técnicas, nos mais diversos campos.

O programa brasileiro, desde os anos 80 e mais no-

tadamente na década de 90, estabeleceu comissões, câma-

ras técnicas e instâncias de gestão participativa e controle

social, instâncias fundamentais na formulação de políticas,

monitoramento das ações e controle social da utilização

dos recursos públicos. Neste contexto, não poderia deixar

de registrar o relevante papel da Comissão Nacio-

nal de Aids, de caráter consultivo e local perma-

nente de debate científico, além de atuar como

instrumento de suporte político, pelo seu caráter

representativo e multissetorial.

A resposta brasileira pode ainda ser carac-

terizada por seu componente político, no que

concerne à decisão de governo na sua implantação

e na garantia dos recursos financeiros necessários

para sua manutenção e aprimoramento. E essa

decisão política, no que concerne a garantia de

recursos financeiros, se manteve mesmo duran-

te as crises financeiras.

Também nessa área a Fundação Oswal-

do Cruz exerce papel inquestionável na garantia de insu-

mos básicos, notadamente na produção de anti-retrovirais.

Esses esforços conjuntos ampliaram e consolidaram o re-

conhecimento internacional do Brasil como referência na

área de Aids. Antes de concluir, seria omisso e injusto se

deixasse de fazer referência à personagem régia de todo

esse processo, Lair Guerra. Lair esteve presente desde os

primeiros passos para a conformação da política nacional,

com competência e compromisso, de modo incansável,

trabalhando diuturnamente para construir essa realidade.

Com a honra de ter trabalhado sob sua diretriz, meu cari-

nho e eterno reconhecimento.

Pedro Chequer é representante do Programa das NaçõesUnidas para HIV/Aids (Unaids) na Federação Russa.

Versão integral do artigo em www.fiocruz.br/ccs

Pedro Chequer

Page 46: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 2004 47

Page 47: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / PRESIDÊNCIA …...17025. Assim, o Instituto se torna o primeiro laboratório da Rede Na-cional de Laboratórios Oficiais de Controle de Qualidade

abril de 200448