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CONTROLE DE VELOCIDADE DE MOTOR CC E TACO-GERADOR
Arthur Rosa, Everton Adriano Mombach e Rafael Bregalda.
Instituto Federal de Santa Catarina – IFSC
Chapecó – Santa Catarina – Brasil Curso Superior de Engenharia de Controle e Automação
Projeto integrador 2 Prof. Vinícius Berndsen Peccin
Resumo: Este trabalho relata o desenvolvimento do projeto de um controlador de velocidade em malha
fechada para um motor CC de 1KW utilizando um taco-gerador como transdutor de velocidade.
Inicialmente é apresentada a teoria sobre a máquina CC, suas características dinâmicas e o modelo
matemático. Em seguida são relatados os métodos utilizados para o levantamento dos parâmetros da
máquina para então apresentar o projeto do controlador proposto. Resultados experimentais foram
obtidos e são discutidos no final do trabalho apresentando os pontos de sucesso, as dificuldades
encontradas e sugestões de melhorias para trabalhos futuros.
Palavras chave: Controle de velocidade; Motor CC; Taco-gerador.
Introdução
O motor de corrente contínua (CC) é
uma máquina elétrica que transforma energia
elétrica em energia mecânica. A máquina CC
funciona a partir do princípio da atração e
repulsão de campos magnéticos. Motores CC
apresentam configurações onde possuem imãs
permanentes ou eletroímãs como é o caso de
motores de grande porte. O resultado da
interação dos campos magnéticos é a produção
de um conjugado eletromecânico produzindo
movimento rotacional do eixo.
O controle de velocidade dos motores
CC é de certa forma simples, principalmente
quando comparado ao motor de corrente
alternada, pois a velocidade é diretamente
proporcional à tensão elétrica aplicada no
enrolamento de armadura [1].
Outras características importantes
para o controle de velocidade da máquina CC é
o fato de possuir valores constantes de tensão,
torque e velocidade em regime permanente
apresentando características lineares [1].
O controle de velocidade em malha
fechada de motores CC é de grande relevância
prática tanto no meio acadêmico, auxiliando no
processo ensino aprendizagem da teoria de
controle clássico e moderno, quanto a nível
industrial, sendo indicado em processos que
necessitam de velocidades precisas ou com
baixo grau de variação.
Nesse sentido é apresentado o
desenvolvimento de um controlador PI para um
motor CC de 1KW.
1. Modelo dinâmico do motor CC
O acionamento de uma máquina CC
que parte do repouso possui um regime
transitório que em muitos casos não necessita
ser considerado, como por exemplo, no estudo
das máquinas elétricas. No entanto é evidente
que este regime transitório é de extremo
interesse no desenvolvimento de controladores
uma vez que as características dinâmicas de um
sistema definem desde o tipo de controlador a
ser utilizado até os valores de ganhos
necessários para garantir o desempenho
desejado do sistema [2].
Para determinar a dinâmica do motor
CC tanto em regime transitório quanto em
regime permanente é necessário levantar o
modelo da máquina CC, que se baseia em
equações elétricas, mecânicas e
eletromecânicas e pode ser obtido através da
aproximação apresentada na figura 1.
Figura 1. Modelo do motor CC
Onde Ea é a tensão de armadura; Ia a corrente
de armadura; Ra a resistência de armadura; La
a indutância de armadura; Ef a tensão de
campo; If a corrente de campo; Rf a resistência
de campo; Lf a Indutância de campo; Eb a força
contra eletromotriz; Tm o torque mecânico;
ωm a velocidade angular; J o momento de
inércia da máquina; B o coeficiente de atrito
viscoso e Kb a constante de força contra
eletromotriz.
A equação diferencial do circuito de
armadura é dada por:
∗ A equação do torque é dada por:
Como o campo do motor CC é mantido
com valor de tensão e corrente constante
podemos dizer que:
∗ E a força contra eletromotriz do motor
é proporcional à velocidade, dada por:
∗ Considerando condições iniciais nulas,
aplicando a transformada de Laplace nas
equações anteriores e reorganizando as
mesmas são obtidas as seguintes equações:
∗
∗ Dessa maneira é possível determinar o
diagrama de blocos do motor CC com campo
independente, onde a entrada é a tensão de
armadura (Ea) e a saída é a velocidade angular
(ωm) em radianos por segundo, conforme a
figura 2 apresenta.
Figura 2 – Diagrama de blocos do Motor CC
É importante observar que motores CC
de grande porte, como o utilizado neste
projeto, possuem uma bobina adicional
chamada bobina série. A bobina série tem
como função evitar o disparo do motor caso a
alimentação de campo seja perdida,
funcionando como um sistema de segurança do
próprio motor. Uma das configurações mais
comuns de ligação desta bobina é em série com
a bobina de armadura, logo, o modelo não é
alterado uma vez que os parâmetros elétricos
de armadura serão a soma dos parâmetros da
bobina série e da bobina de armadura.
2. Levantamento dos parâmetros do motor
O levantamento dos parâmetros do
motor foi realizado através de ensaios e
também a partir de medições com
equipamentos apropriados. Os parâmetros
elétricos, tais como resistência e indutância das
bobinas, foram obtidos através de uma ponte
LCR. Por outro lado os parâmetros mecânicos
foram definidos através de ensaios, segundo o
indicado em [1].
A tabela 1 resume as características
elétricas do motor.
Tabela 1 – Parâmetros elétricos do motor CC
Indutância (mH) Resistência (Ω)
Campo -- 608,3 Armadura 2,38 2,49
Série 0,203 0,76
A constante de força contra
eletromotriz Kb foi definida através da seguinte
equação:
Assim, aplicando diferentes tensões de
armadura, medindo a corrente e a velocidade
da máquina é possível determinar a constante
de força contra eletromotriz com facilidade.
O atrito viscoso do motor é definido
pela equação abaixo:
∗
Logo, torna-se fácil a determinação
deste parâmetro através de ensaio.
O momento de inércia foi definido
através do teste de “run down” proposto em
[2]. Neste ensaio a máquina é mantida em
regime permanente e então desligada
abruptamente observando-se o tempo de
parada da mesma. Através do tempo de parada
(t) pode-se definir o momento de inércia
através da seguinte equação:
∗
∗ ∗
A tabela 2 resume os parâmetros
utilizados no modelo matemático da planta. É
importante observar que os testes foram
realizados mantendo a tensão de campo em
184,5V.
Tabela 2 – Parâmetros dinâmicos do motor CC
Kb B J
Valor obtido 0,8115 0,005995 0,118
3. Validação do modelo matemático
Obtidos os parâmetros do motor e
assim o modelo dinâmico do mesmo tornou-se
possível valida-lo a partir de simulação com o
software MatLab®. A resposta do modelo a um
degrau de 157V é apresentado na figura 3.
Comparando a velocidade alcançada em regime
permanente (1800RPM) na simulação e no
motor real constatou-se que o modelo era
adequado.
Figura 3 – Validação do modelo
A função de transferência em malhada
aberta do motor é dada por:
25400 1256.5 1.7704
4. Projeto do controlador
Com o modelo validado iniciou-se o projeto do controlador. Os objetivos do controlador são: garantir erro zero em regime permanente, rejeitar perturbações e seguimento de referência de velocidade. Assim, foi selecionado para o sistema um controlado PI, que segundo [3] apresenta o melhor desempenho neste tipo de aplicação. A equação do controlador utilizado é apresentada abaixo:
Us Kp ∗ +1 1, ∗ - Es
Onde: U(s) é a ação de controle; Kp o
ganho proporcional; Ti o ganho integral e E(s) o
erro.
O tempo de estabilização proposto
inicialmente foi menor que 2,5 segundos com
overshoot máximo de 2%. Aplicando a teoria de
projeto de controle clássico foram
determinados os ganhos do primeiro
controlador. Observando a ação de controle e o
tempo de estabilização constatou-se que era
possível tornar o sistema mais rápido, sendo
assim foram reajustados os ganhos do
controlador. A tabela 3 resume os ganhos
propostos.
Tabela 3 – Ganhos do controlador proposto
Kp 0.118
Ki 0,38
A função de transferência do
controlador é apresentada a seguir.
Gc 0.11821 10.38 ∗ 4
O resultado de desempenho do
controlador proposto é apresentado na figura
4, onde a linha vermelha representa a
velocidade do motor, a linha azul representa a
ação de controle e a linha verde representa a
referência.
Figura 4 – Desempenho em simulação do
controlador projetado
O diagrama de blocos utilizado para
obter os resultados apresentados acima pode
ser observado na figura 5.
Figura 5 – Diagrama de blocos do sistema de
controle
5. Projeto eletrônico e mecânico
O projeto eletrônico foi realizado de
forma modular para tornar fácil a identificação de possíveis falhas além tornar possível o desenvolvimento em paralelo dos módulos, possibilitando assim um melhor aproveitamento do tempo de projeto.
Inicialmente foi desenvolvido o sistema de alimentação dos elementos de controle, tais como os sensores e o micro controlador. Uma fonte chaveada de 24Vcc 2A foi utilizada para alimentar o controlador, entretanto outros níveis de tensão eram
necessários para alimentar o circuito de chaveamento (18V), transdução de corrente e tensão (12V) e sistema de processamento e nível lógico (5V). Para essa finalidade fora projetado um estágio de condicionamento contendo reguladores de tensão da série LM78XX.
O sistema de transdução de tensão foi projetado segundo o princípio de divisores resistivos. Um filtro de segunda ordem, um sistema de isolação e proteção foi utilizado no mesmo. A transdução de corrente utiliza o sensor ACS712 – 20A (figura 6) em conjunto com um estágio de ganho, isolação e filtro de terceira ordem assim como sistema de proteção contra surtos de tensão.
Figura 6. Sensor de corrente
A realimentação de velocidade do
sistema é feita através de um taco-gerador da
marca Hohner, série 77, com eixo vazado
mostrado na figura 7. O sinal de saída é do
padrão industrial de 4 – 20mA, escala de 0 –
2500RPM.
Figura 7. Taco-gerador Hohner
Um circuito de conversão do sinal de
corrente para sinal de tensão foi projetado uma
vez que o conversor A/D do micro controlador
tem como referência sinal de tensão. O circuito
é composto por um resistor variável ligado em
paralelo com a saída de corrente, contendo um
capacitor de filtro, um resistor série e um diodo
zener. O circuito de conversão é mostrado na
figura 8.
Sensor de Velocidade
24Vcc
250R 3300uF
10R
5 .1V
Sinal parauControlador
Figura 8. Circuito de medição de velocidade
O circuito de potência utilizado é
composto por dois transistores de efeito de
campo MOSFETS IRF740 ligados em paralelo e
pelo drive IR2010.
A alimentação do circuito de potência
do motor contou com o auxílio de uma bancada
de acionamento de máquinas elétricas, devido
os valores de tensão e correntes elevados do
sistema. O esquema de ligação do circuito de
potência é apresentado na figura 9.
Figura 9. Circuito de potência
Como dispositivo de processamento
foi utilizado uma plataforma de
desenvolvimento Arduino Mega R3 que conta
com um micro controlador ATmega2560. Esta
plataforma foi embarcada no sistema através
de barras de pinos, tornado a conexão segura.
A figura 10 mostra a plataforma de
desenvolvimento embarcada no sistema.
Figura 10. Plataforma embarcada
A figura 11 mostra o controlador
desenvolvido junto com a bancada contendo o
motor e o alternador.
Figura 11. Controlador e bancada
O acoplamento mecânico entre as
máquinas elétricas pode ser observado na
figura 12.
Figura 12. Acoplamento do sistema mecânico
6. Resultados
O desempenho do controlador
proposto é mostrado na figura 13. A linha
escura tracejada indica o estado do sistema; a
linha com tom amarelado é o valor digital do
sinal PWM (0 a 1024) que ilustra a ação de
controle; a linha azul mostra a velocidade do
motor e a linha vermelha mostra o setpoint de
velocidade. O tempo de amostragem do gráfico
é de 10ms.
O sistema é sempre iniciado com uma
rampa de aceleração, incrementando
gradativamente o sinal PWM. Após a
estabilização da rampa o sistema entra em
estado de espera mantendo a velocidade em
aproximadamente 400RPM. Durante este
período o usuário pode definir a referência de
velocidade que deseja e então acionar o
sistema de controle. Na figura 13 o setpoint foi
definido em 1600RPM.
O estado de controle ativo identifica o
momento em que a ação de controle PI passa a
aturar no sistema. Neste momento observa-se
que o controlador leva o sistema à referência
desejada. Após alguns segundos de operação
são aplicadas duas perturbações através do
alternador acoplado ao motor.
Inicialmente é imposta uma carga ao
sistema, consequentemente, reduzindo a
velocidade do motor. Imediatamente o
controlador autua aumentando a ação de
controle para buscar a referência. Em seguida a
carga é retirada do fazendo com que a
velocidade do motor aumente. Neste momento
o controlador diminui a ação de controle e
novamente estabiliza o sistema.
Os testes são conclusivos e mostram
que o sistema de controle opera segundo o
projetado, seguindo a referência, rejeitando
perturbações e assim garantindo erro nulo em
regime permanente.
7. Conclusões
Notoriamente a metodologia de
projeto aplicada no desenvolvimento do
sistema de controle de velocidade mostrou-se
eficiente uma vez que os resultados obtidos são
conclusivos. O sistema de controle apresentou
o desempenho desejado, cumprindo com os
requisitos de projeto e dos clientes, definidos
previamente.
Os ajustes mecânicos realizados na
bancada reduziram as vibrações observadas
inicialmente. A adição de um segundo mancal
tornou o sistema mais estável, reduzindo as
vibrações do eixo e consequentemente
melhorando o sinal de referência de velocidade
do taco-gerador, diminuindo também o
aquecimento do mesmo. O alinhamento do
alternador também contribuiu com a
diminuição da vibração.
Para os trabalhos futuros são
sugeridos o projeto de um filtro ativo com
ajuste de ganho para o sinal do taco-gerador,
melhorando a leitura de velocidade, e a
utilização de um conversor AD de maior
resolução; a verificação e calibragem do sensor
de tensão e do sensor de corrente presente no
controlador que por motivos práticos não pode
ser devidamente verificado; também é sugere-
se a verificação das características elétricas do
alternador e assim levantar a relação de
potência e velocidade do mesmo para assim ser
projetado um sistema de cargas conectadas ao
alternador melhorando a didática do sistema.
Referências
[1] REIS, Laurinda N. Controle e
Servomecanismos – Estudo do Motor de
Corrente Contínua. Universidade Federal do
Ceará – Departamento de Engenharia Elétrica.
[2] OGATA, Katsuhiko. Engenharia de
Controle Moderno. 5ª Edição. São Paulo:
Pearson Prentice Hall, 2010.
[3] SINGH, Bindeshwar, et al. Design of
Controllers PD, PI &PID for Speed Control of
DC Motor Using IGBT Based Chopper. German
Journal of Renewable and Sustainable Energy
Research (GJRSER). Vol. 1, Issue.1, pp. 29-49,
2013.
Figura 13. Resultados experimentais