contribuiÇÕes fonoaudiolÓgicas em emergÊncias …
TRANSCRIPT
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINOVAFAPI
CURSO DE GRADUAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA
DALILA MOUSINHO CARVALHO MATOS
MATHEUS BARBOSA VITOR
CONTRIBUIÇÕES FONOAUDIOLÓGICAS EM EMERGÊNCIAS VOCAIS
QUE ACOMETEM PROFISSIONAIS DA VOZ CANTADA: Revisão
Bibliográfica
TERESINA
2018
DALILA MOUSINHO CARVALHO MATOS
MATHEUS BARBOSA VITOR
CONTRIBUIÇÕES FONOAUDIOLÓGICAS EM EMERGÊNCIAS VOCAIS
QUE ACOMETEM PROFISSIONAIS DA VOZ CANTADA: Revisão
Bibliográfica
Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, apresentado ao Centro Universitário UNINOVAFAPI, como requisito para obtenção do título de Bacharel de Fonoaudiologia. Orientadora: Profª. Méssia Pádua Almeida Bandeira.
TERESINA
2018
Catalogação na publicação Antonio Luis Fonseca Silva– CRB/1035
Francisco Renato Sampaio da Silva –
M425c Matos, Dalila Mousinho Carvalho.
Contribuições fonoaudiologicas em emergencias vocais que acometem profissionais da voz cantada: revisão bibliografica / Dalila Mousinho Carvalho Matos; Matheus Barbosa Vitor. – Teresina: Uninovafapi, 2018.
Orientador (a): Prof. Me. Méssia Pádua Almeida Bandeira; Centro Universitário UNINOVAFAPI, 2018.
40. p.; il. 23cm.
CDD 616,855
Monografia (Graduação em Fonoaudiologia) – Centro Universitário UNINOVAFAPI, Teresina, 2018.
1. Voz profissional. 2. Voz cantada. 3. Disfonia. 4. Eletroestimulação nas disfonias. 5. Laserterapia em
Dedicamos mais essa conquista em nossas vidas àqueles que fazem parte dela, aos que nos amam incondicionalmente
AGRADECIMENTOS
À coordenação e corpo docente do curso de Fonoaudiologia do Centro
Universitário UNINOVAFAPI, pela ética e compromisso durante toda nossa jornada
acadêmica.
À nossa orientadora Méssia Pádua Almeida Bandeira, pelo apoio e confiança, e
pelo suporte no pouco tempo que lhe coube, para suas correções e incentivos.
À nossa família, amigos, e a todos que direta ou indiretamente contribuíram
para nossa formação, o nosso muito obrigado.
A voz, por transmitir mensagem e melodia, pode ser considerada o mais perfeito instrumento musical.
RESUMO
Introdução: As informações foram levantadas através do estudo da bibliografia já existente sobre a fonoaudiologia e o canto, descrevendo as características necessárias para o exercício da voz cantada, as diferenças existentes entre a voz falada e cantada, os mais frequentes acometimentos que impossibilitam o canto, além da importância do aquecimento e desaquecimento vocal na prevenção de patologias adquiridas pelo uso incorreto da voz. Objetivos: O objetivo geral do estudo foi caracterizar as situações em
que o cantor é acometido de intercorrências vocais no uso profissional da voz, por intermédio dos objetivos específicos de descrever as características essenciais para o exercício da voz cantada, identificar as emergências vocais mais frequentes em cantores, discutir sobre as emergências vocais que impedem o uso da voz e descrever possibilidades de intervenção fonoaudiológica junto às emergências vocais. Métodos: Trata-se de uma pesquisa bibliográfica tem como objetivo caracterizar as situações em que o cantor é acometido de intercorrências vocais no uso profissional da voz, bem como descrever as possibilidades de intervenção fonoaudiológica nestas situações. Desta forma, foi realizado um levantamento bibliográfico de artigos científicos achados no banco de dados da Scielo e Lilacs, publicados no período de 2008 a 2018. Resultados e Discussão: No decorrer desta pesquisa pôde-se notar a influência dos maus hábitos de higiene vocal no desempenho de profissionais que tem a voz cantada como instrumento de trabalho, bem como abordar as maneiras de intervenção fonoaudiológica junto às consequências que podem surgir que em sua maioria, são as disfonias funcionais primárias por modelo vocal inadequado. Contudo, a fonoaudiologia tem se voltado para o estudo dos profissionais da voz, mais especificamente dos cantores. Além disso, pode se evidenciar que o aumento do ingresso de profissionais no campo da voz cantada é diretamente influenciável no aumento da demanda por procura de um acompanhamento fonoaudiológico especializado, além da crescente busca por novos meios e possibilidades de tratamento dos frequentes danos que acometem o trato vocal de cantores. Conclusão: Os recursos tecnológicos aqui descritos são de suma importância para uma terapia mais eficiente e eficaz, porém os mesmos não substituem a terapia vocal convencional, uma vez que os benefícios aos pacientes tornam-se mais visíveis quando estes recursos são utilizados de forma concomitante. Descritores: qualidade da voz, canto, disfonia, estimulação elétrica nervosa
transcutânea e lasers.
ABSTRACT
Introduction: The information was collected through the bibliographical article already
existing about speech therapy and the singing, describing the characteristics necessary for the exercise of sung voice, the differences between the spoken voice and sung, the most frequent complications that make singing impossible, besides the importance of the heating and vocal quenching in the prevention of acquired pathologies by the incorrect use of the voice. Goals: The general objective of the study was to characterize the situations in which the singer is affected by vocal intercurrences in the professional use of voice, through the specific objectives of describing the essential characteristics for the exercise of sung voice, to identify emergencies more frequent vocals in singers, discuss about the vocal emergencies that prevent the use of voice and to describe possibilities of speech-language intervention with vocal emergencies. Methods: This literature review aims to characterize the situations in which the singer is affected by vocal intercurrences in the professional use of voice, as well as describe the possibilities speech intervention in these situations. Thus, was performed a bibliographic survey of scientific articles found in the database of Scielo and Lilacs, published in the period from 2012 to 2018. Results and discussion: During of this search it may be noted the
influence of bad habits of vocal hygiene on the performance of professionals that has the voice sung as a working tool, as well as addressing the ways speech therapy intervention with the consequences that may arise, which mostly, are the primary functional dysphonies by inadequate vocal model. Yet, Speech therapy has been focused on the study of voice professionals, more specifically the singers. Besides that it can be evidenced that the increase in the number of professionals in the field of sung voice is directly influenced by the increase in demand for follow-up Speech-Language specialized beyond the growing search for new means and possibilities of treatment of the frequent damages that affect the vocal tract of singers. Conclusion: The technological resources described here are of paramount importance for a therapy more efficient and effective, however the same do not substitute conventional speech therapy, since the benefits to patients become more visible when these resources are
used concomitantly.
Key-Words: voice quality, sung voice, dysphonia, transcutaneous electrical nerve stimulation and lasers.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................12
2 OBJETIVOS ...............................................................................................................14
2.1 OBJETIVO GERAL ..................................................................................................14
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................................14
3 REFERENCIAL TEÓRICO ..........................................................................................15
3.1 CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS PARA A PRODUÇÃO DA VOZ CANTADA.....15
3.1.1 RESPIRAÇÃO .......................................................................................................15
3.1.2 FREQUENCIA .......................................................................................................17
3.1.3 RESONÂNCIA .......................................................................................................19
3.1.4 INTENSIDADE ......................................................................................................20
3.1.5 ARTICULAÇÃO .....................................................................................................20
3.1.6 POSTURA .............................................................................................................21
3.1.7 AQUECIMENTO E DESAQUECIMENTO VOCAL ................................................22
3.2 EMERGÊNCIAS VOCAIS FREQUENTES EM CANTORES ...................................24
3.3 CONDUTAS FONOAUDIOLÓGICAS EM EMERGÊNCIAS VOCAIS ......................25
3.3.1 LASER DE BAIXA POTÊNCIA APLICADA À FONOAUDIOLOGIA ......................25
3.3.2 ELETROESTIMULAÇÃO NAS EMERGÊNCIAS VOCAIS ....................................26
4 METODOLOGIA .........................................................................................................28
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................................29
6 CONCLUSÃO .............................................................................................................34
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................35
ANEXOS ANEXO A – DECLARAÇÃO DE ANUÊNCIA DA COORDENAÇÃO DE
PESQUISA E PÓS GRADUAÇÃO DO UNINOVAFAPI
12
1 INTRODUÇÃO
A voz é uma identificação individual, em geral condizendo com a estrutura
física, sexo e faixa etária. Além destes aspectos, a transmissão da emoção é observada
na emissão vocal pelo envolvimento das vias neuromotoras do sistema motor
emocional (FERNANDES, 2003), que geram um sentido de inter-relação na
comunicação, que se modifica de acordo com a situação e o contexto (BEHLAU e
PONTES, 1995). A produção de voz é uma função adaptada e aprendida, que
necessita de um controle neurofisiológico, altamente integrado e preciso
(ARONSON,1990).
É importante lembrar que muitas pessoas utilizam a voz profissionalmente,
como por exemplo, os cantores, atores, professores, jornalistas, locutores de rádio,
advogados, operadores de telemarketing, feirantes e vendedores ambulantes. Estes
indivíduos podem ser suscetíveis ao surgimento de disfonias por sobrecarregarem o
aparelho fonatório, em especial quando existem inadaptações laríngeas, uso
inadequado ou abusivo da voz, com eventual desenvolvimento de lesão das pregas
vocais ou quando esta lesão é anterior ao uso profissional da voz (CAMPIOTTO et al.,
2013). Desta forma, para os cantores, o conhecimento a respeito da inter-relação entre
ciência e arte é essencial para o adequado aperfeiçoamento do canto. De forma
contrária, este desconhecimento interfere no sucesso de suas atividades, na qualidade
e na produtividade da voz (MURRY; ROSEN, 2000; GÓMES, 2003).
De modo geral, o cantor popular não tem treino formal de voz (OLIVEIRA, 1995)
e inicia a carreira no canto informalmente. O cantor popular, em geral, desconhece
muitas das regras de higiene vocal e das estratégias de conservação da voz. Os
abusos mais frequentes neste grupo de profissionais da voz são o tabagismo, etilismo,
pouca hidratação, alimentação e/ou sono inadequados, excesso de uso da voz, uso da
voz em ambientes inadequados com fumaça e ruídos, estresse (geralmente por
horários desregulados e por instabilidade financeira) e técnica inadequada causando,
em geral, um grau de tensão excessivo na produção do canto (BEHLAU, 2005).
13
Ainda de acordo com Campiotto et al. (2013), perder a voz ou apresentar
alterações na sua qualidade significa, também, perder parcialmente a sua identificação
pessoal, limitando as possibilidades de comunicação interpessoais. Os distúrbios na
produção de voz, chamados de disfonias, podem surgir de forma súbita ou gradual,
com caráter transitório ou permanente, dependendo do tipo de lesão e/ou distúrbio
funcional que afete as estruturas envolvidas na emissão vocal. É importante ressaltar
que o quadro de disfonia envolve uma série de sintomas e sinais e que o fato de se
observar um ou outro aspecto vocal alterado não indica, necessariamente, um distúrbio
vocal instalado, como, por exemplo, um caso em que há alteração apenas de
ressonância e articulação, que são fenômenos que participam e interferem na qualidade
do som, nem sempre pode ser interpretado como um quadro de disfonia.
As informações foram levantadas através do estudo da bibliografia já existente
sobre a fonoaudiologia e o canto, descrevendo as características necessárias para o
exercício da voz cantada, os mais frequentes acometimentos que impossibilitam o
canto, além da importância do aquecimento e desaquecimento vocais na prevenção de
patologias adquiridas pelo uso incorreto da voz.
A motivação para o desenvolvimento deste estudo veio não só do interesse de
compreender mais a fundo a dinâmica da voz no âmbito profissional e seus riscos
acerca de comprometimentos vocais, surgiu também da quantidade não satisfatória de
trabalhos científicos voltados às possibilidades de intervenções fonoaudiológicas nos
acometimentos vocais que impossibilitam o exercício da voz cantada por estes
profissionais.
Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo caracterizar as situações
em que o cantor é acometido de intercorrências vocais no uso profissional da voz, e
com isso, contribuir para o crescimento dos estudos direcionados à atuação
fonoaudiológica nas emergências vocais mais frequentes em profissionais da voz
cantada.
14
2 OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral
Caracterizar as situações em que o cantor é acometido de intercorrências vocais
no uso profissional da voz descritos na literatura.
2.2. Objetivos Específicos
Descrever as características essenciais para o exercício da voz cantada;
Identificar e discutir as emergências vocais mais frequentes em cantores;
Descrever possibilidades de intervenção fonoaudiológica junto às emergências
vocais.
15
3 REFERENCIAL TEÓRICO
3.1 Características Essenciais para a Produção da Voz Cantada
Segundo Murry e Rosen (2000) juntamente com Gómes (2003), citados por
Andrade, Fontoura e Cielo (2007), para falar e cantar utilizam-se os mesmos órgãos
fonoarticulatórios, sendo que no canto, os ajustes de tais órgãos são realizados
conforme as exigências da música. Isso se refere à sustentação da coluna sonora, à
igualdade tímbrica, à dicção, o fraseado e à interpretação, que ocorrem exclusivamente
na voz cantada. Desta forma, para os cantores, o conhecimento a respeito da inter-
relação entre ciência e arte é essencial para o adequado aperfeiçoamento do canto. De
forma contrária, este desconhecimento pode interferir no sucesso de suas atividades,
na qualidade e na produtividade da voz. As causas de alterações vocais podem ser
variadas, porém, no caso dos cantores, o uso incorreto da voz (mau uso e abuso) é o
principal fator desencadeante para tais problemas.
3.1.1 Respiração
De acordo com Costa (2001) citado por Andrade; Fontoura; Cielo (2007), no
canto, a respiração é programada de acordo com as frases musicais e pausas, o que
não ocorre na fala, quando a entrada e saída de ar variam de acordo com a emoção e a
mensagem transmitida. Em ambos os casos, deve-se evitar o ruído na inspiração que,
visando à estética e à técnica, deve ser curta e oral, agindo nas costelas inferiores,
favorecendo a expansão da caixa torácica e assegurando o ar pleno (soma do ar
residual e do ar inspirado).
Pinho (1998); Costa (2001); Dinville (2001) citados por Andrade; Fontoura; Cielo
(2007) mencionam, o tipo respiratório realizado durante a fonação, quer seja no canto
16
ou na fala, deve ser costodiafragmático-abdominal, possibilitando uma respiração
ampla e profunda, evitando o aumento de tensão muscular da região cervical. Já
durante a expiração, para um melhor controle de saída de ar, utiliza-se a musculatura
abdominal.
De acordo com Pinho (1998); Thorpe et al. (2002) citados por Andrade;
Fontoura; Cielo, (2007) esse controle da respiração varia conforme a intensidade do
som, a altura, o timbre, a extensão e a duração da frase musical Salienta-se que, no
canto, um bom suporte respiratório é essencial para a adequada projeção vocal.
Costa (2001) citado por Andrade; Fontoura; Cielo (2007) relata que muitos
cantores utilizam um tipo de respiração em que os músculos diafragma e abdominais
são empurrados para baixo durante a expiração, havendo muito esforço devido à
excessiva pressão de ar localizada na laringe, que tenciona a região cervical. Além
disso, ainda realizam exercícios visando a abertura das costelas inferiores, em que
participam os músculos intercostais, diafragmático e abdominais.
Pinho (1998) citado por Andrade; Fontoura; Cielo (2007), para a melhora no
controle expiratório, relata alguns exercícios tais como a emissão de vogais áfonas
longas e sons fricativos surdos e sonoros. Esses sons devem ser produzidos de forma
controlada e suave, através da sustentação dos músculos intercostais e descontração
progressiva da musculatura durante a expiração
Conforme Costa (2001) citado por Andrade; Fontoura; Cielo (2007) finalmente
deve ocorrer a contração progressiva da musculatura abdominal até o final do ar de
reserva expiratória. Portanto, em relação às diversas técnicas para a promoção de
controle respiratório, cada qual com suas especificidades, o fonoaudiólogo deve atuar
de forma dinâmica em parceria com o professor de canto.
Em estudo com quatro cantores profissionais, Thorpe et al. (2002) citados por
Andrade; Fontoura; Cielo (2007) observaram que a grande projeção da voz dos cantores
era resultado de um alargamento da caixa torácica, particularmente na dimensão
lateral, e de um pequeno decréscimo na dimensão lateral abdominal. Portanto, os
autores sugerem que o grande suporte abdominal requerido para a ampla projeção é
obtido pelo aumento da ativação dos músculos abdominais que atuam medialmente
17
3.1.2 Frequência
Menaldi (1992); Heylen et al., (2002) citados por Andrade; Fontoura; Cielo,
2007) em relação à extensão de frequência da voz cantada, que se refere à faixa de
máxima e mínima de frequência vocal que o cantor consegue produzir, a fonação é
produzida com uma série mais rica de frequências fundamentais e harmônicos (em
torno de duas oitavas e meia) e com intensidade mais forte do que durante a fala.
Murbe et al. (2002) citados por Andrade; Fontoura; Cielo (2007) investigaram a
relação entre feedback auditivo e sinestésico e voz cantada, no que diz respeito ao
controle da frequência vocal de cantores no início do seu aprendizado. Concluiu-se que
o feedback auditivo contribuiu de forma significativa para o controle da frequência vocal.
Em pesquisa posterior, realizada com cantores acompanhados no início de seus
estudos e após três anos de estudos de canto. Concluíram ainda, que a contribuição
do feedback auditivo no controle da frequência não apresentou melhora significativa ao
final dos três anos de estudo de canto, ao contrário do feedback sinestésico, que
contribuiu substancialmente para a exatidão da entonação.
Brown, Rothman e Sapienza (2000) citados por Andrade; Fontoura; Cielo (2007)
compararam as vozes faladas e cantadas de cantores profissionais e não cantores,
verificando que não houve diferença em relação à frequência e intensidade, no que se
refere à voz falada, nos dois grupos. Porém, na voz cantada, as diferenças mais
consistentes encontradas foram a presença do vibrato e dos formantes da voz no grupo
dos cantores, e ausência desses parâmetros no grupo dos não cantores.
De acordo a tabela de Santos (2011), existem infinitas vozes humanas, todas
elas com o seu registo específico, por isso há classificações gerais de extensões
vocais, para cada sexo, mas muitas vezes as vozes podem encontrar-se em registros
intermédios, o que dificulta a classificação.
18
Tabela 1 – Classificações gerais das extensões vocais nas vozes cantadas.
Extensões vocais femininas (da mais aguda para a mais grave)
Soprano Registro mais agudo (Sol 2 ao Lá 5).
Meio-soprano
Registro intermédio entre soprano e contralto. Pode atingir grandes extensões (Sol 2 ao Dó
5).
Meio-contralto
Registro intermédio entre meio-soprano e contralto (Mi Bemol 2 ao Lá 4).
Contralto
Registro mais grave, soa quase com a plenitude de uma voz masculina (Fá 2 ao sol 4).
Extensões vocais masculinas (da mais aguda para a mais grave)
Contratenor
Adaptação da técnica do falsete. Apesar das propriedades vocais variarem entre contratenores, é comum a todos eles o timbre perceptivelmente distinto da voz feminina, para um ouvido mais atento.
Haute-conte
Une a emissão da voz de peito e voz de cabeça combinados, alcançando notas extremamente agudas sem recorrer ao falsete (Ré 2 ao Ré 4).
Tenor
Corresponde à faixa de sons mais aguda que pode ser emitida, no canto lírico, por um indivíduo do sexo masculino (Dó 2 ao Dó 4).
Baritenor
Timbre intermédio entre o tenor e o barítono, é uma voz muito intensa robusta encorpada, a extensão é excepcionalmente grande (Sol 1 ao Si 3).
Barítono
Registro vocal que se encontra entre o baixo e o tenor. É uma das vozes mais comuns em cantores (Sol 2 ao Sol 4).
Baixo-barítono Timbre intermédio entre barítono e baixo.
Baixo
Extensão mais grave, predominando-se na posição de peito devido à sonoridade no registo grave (Ré 1 ao Sol 3).
Fonte: SANTOS (2011).
19
3.1.3 Ressonância
De acordo com Dinville (2001) citado por Andrade; Fontoura; Cielo, 2007) na
voz cantada e falada, a ressonância vocal consiste na modificação, pelas cavidades de
ressonância, do som produzido pelas pregas vocais, ocorrendo efeitos de
amortecimento e amplificação desse sinal sonoro. A ressonância, no canto, é
geralmente alta, havendo maior concentração do foco de energia sonora na parte
superior do trato vocal, enquanto que na fala ela caracteriza-se como média. Uma
ressonância equilibrada tem como objetivo promover ao máximo o alívio da sobrecarga
muscular da laringe, com a utilização de ajustes musculares adequados. Muitos
cantores utilizam um certo grau de nasalidade no intuito de dissipar a energia sonora
sem sobrecarregar a laringe.
Segundo Menaldi (1992); Behlau, Rehder (1997) citados por Andrade;
Fontoura; Cielo, 2007) sendo a voz cantada o resultado de um treinamento vocal
realizado com muita disciplina, a qualidade da voz caracteriza-se por ser mais estável.
Para que o cantor possa melhorar esse parâmetro, sofrendo menos influências de
fatores externos, é importante que tenha um bom controle auditivo, técnica apropriada,
além da propriocepção, que auxilia as coordenações musculares. No entanto, a
qualidade vocal da fala pode ser influenciada pelas emoções e pela natureza do
discurso, sendo muito sensível ao interlocutor, uma vez que tende a ser espontânea.
De forma contrária, no canto, em que as peças musicais são geralmente conhecidas
pelo ouvinte, a carga emocional e a retórica do texto tornam-se mais previsíveis.
3.1.4 Intensidade
Behlau, Rehder (1997); Henrich et al., (2003) citados por Andrade; Fontoura;
Cielo (2007) quanto à intensidade, na fala ela é relativamente constante, o que não
ocorre no canto, quando são necessárias variações controladas num limite que pode ir
de 45 a 110 decibéis. Esse amplo espectro sonoro está relacionado à quantidade de ar
20
expirado, ao tensionamento das pregas vocais, que agem com resistência ao fluxo
aéreo transglótico, e à amplificação do som ocorrida nas caixas de ressonância,
proporcionando ao cantor uma fonação com menor gasto energético.
Brown (1996); Pinho (1998); (Schutte, Star, Miller, 2003) citados por Andrade;
Fontoura; Cielo (2007) afirmam que no canto o controle da intensidade é também
chamado de apoio respiratório, com características espectrais acústicas diferentes,
maior nível de pressão sonora e de pressão subglótica do que na fala e no canto sem
apoio. Os cantores experientes e os profissionais sabem da importância do suporte dos
músculos diafragmáticos e abdominais na obtenção de um melhor controle respiratório,
o que também influencia a qualidade tonal, a extensão e a dinâmica vocais.
3.1.5 Articulação
Segundo Behlau (2005) citado por Andrade; Fontoura; Cielo (2007), no uso da
voz falada, é essencial que haja uma boa articulação das palavras já que a mensagem
que será transmitida depende delas.
Ainda conforme Behlau (2005) citado por Andrade; Fontoura; Cielo (2007), no
canto, a projeção vocal é primordial, sendo necessário que a boca esteja mais aberta,
reduzindo os obstáculos à saída do som. Porém, se no canto o som se projeta de forma
mais livre, essa configuração orofaríngea cria peculiaridades singulares para a
formação das palavras, incluindo o abrandamento ou reforço de certas consoantes e a
neutralização/fusão de vogais em determinados pontos da extensão vocal. Nesse caso,
a mensagem não depende apenas das palavras, mas também dos aspectos musicais,
necessitando de apurada qualidade vocal. Fatores como a distância do público e o
objetivo a ser alcançado, tanto na voz falada quanto na voz cantada, determinam o tipo
de projeção vocal.
21
3.1.6 Postura
Quanto à postura, durante a fala ocorrem mudanças constantes, não havendo,
dependendo da postura adotada, grande interferência em sua produção. Tais variações
são naturais, conhecidas como linguagem corporal, sendo úteis na complementação
das ideias na fala (BEHLAU, REHDER, 1997) citados por Andrade; Fontoura; Cielo,
(2007). No canto, variações de postura corporal podem interferir negativamente na
produção sonora e na estabilidade da qualidade vocal. Portanto, na prática do canto
deve-se sempre manter o corpo numa posição ereta e confortável, sem movimentação
exagerada, já que se requer mais expressão facial do que corporal.
Costa e Silva (1998) citado por Andrade; Fontoura; Cielo (2007) relatam que
uma postura adequada para a fonação seria manter um ângulo de 90o entre o queixo e
a proeminência laríngea, favorecendo a livre movimentação da laringe no sentido
vertical. Quando o corpo encontra-se em posição inadequada com curvatura da coluna
vertebral e retração torácica, tornam-se evidentes a diminuição da capacidade
respiratória e as dificuldades no apoio respiratório.
3.1.7 Aquecimento e Desaquecimento Vocal
Para Scarpel e Pinho (2001); Facincani et al., (2001) citados por Andrade;
Fontoura; Cielo, (2007) os profissionais da voz, principalmente os cantores, estão
sempre atentos à permanência de uma boa qualidade vocal, buscando os cuidados
necessários para manter a saúde da voz. Em relação à fisiologia da musculatura
corporal, o cantor, em sua preparação vocal, pode ser comparado a um atleta que
utiliza o aquecimento muscular prévio para a posterior execução do esporte.
Sataloff (2000), Foss e Keteyian (2000) citados por Andrade; Fontoura; Cielo
(2007) o canto, a prática torna-se eficaz na medida em que são utilizados exercícios
com fonemas em escalas e arpejos, no intuito de desenvolver e manter saudáveis os
22
órgãos fonoarticulatórios. Essa preparação para o canto é chamada de aquecimento
vocal, disponibilizando ao corpo condições adequadas para uma atividade mais intensa,
prevenindo-o de possíveis danos. Preparando-se corretamente a musculatura, a
execução da atividade ocorrerá livre de esforços desnecessários, com maior resistência
e flexibilidade.
Costa e Silva (1998); Milbrath e Solomon (2003) citados por Andrade; Fontoura;
Cielo (2007) descrevem que o aquecimento age em tendões, ligamentos e músculos,
deixando-os mais flexíveis, reduzindo o atrito interno e permitindo a prevenção de
lacerações das fibras musculares e tecidos conjuntivos. Para o canto, tais exercícios
geram o aumento do fluxo sanguíneo para a região das pregas vocais, levando-as a
uma melhor captação, proporcionando maior intensidade, projeção vocal e articulação
dos sons, resultando em componentes harmônicos mais completos.
Vintturi et al. (2001); Facincani et al. (2001); Brown (1999), Scarpel e Pinho
(2001), citados por Andrade; Fontoura; Cielo (2007) quanto ao tempo de aquecimento,
autores diferem nas opiniões sugere um período de quarenta e cinco minutos. Para a
duração aproximada de quarenta minutos é compreendida como um tempo suficiente
de trabalho. Prefere um tempo de dez a quinze minutos. Pode-se ainda conjugar o
aquecimento da musculatura vocal com o da musculatura corporal, sendo que o
período de descanso entre o aquecimento e o início da atividade deve ser de cinco a
dez minutos.
Blaylock (1999) citado por Andrade; Fontoura; Cielo (2007), em estudo
realizado com sujeitos que apresentavam alterações vocais, observou que a qualidade
vocal dos sujeitos estudados mostrou significativa melhora com a prática do
aquecimento vocal sistemático.
Behlau e Rehder (1997) citados por Andrade; Fontoura; Cielo (2007) relatam
que durante o canto, ocorrem diferentes ajustes motores (pitch mais elevado
e loudness mais forte) que devem ser evitados na fala. Portanto, após a utilização
prolongada da voz cantada, deve-se retornar aos ajustes fono-respiratórios da fala
habitual, evitando abusos vocais e possíveis problemas fisiológicos, realizando
exercícios de desaquecimento ou de repouso vocal.
23
Saxon e Schneider (1995) citados por Andrade; Fontoura; Cielo (2007) acredita-
se que, por meio da prática do desaquecimento vocal, ocorra a eliminação da tensão
corporal e laríngea e o alongamento gradual do tecido vocal, proporcionando,
igualmente, um equilíbrio muscular pelo retorno às extensões vocais mais baixas e
habituais. Essas atividades pós-performance promovem um melhor retorno do sangue
ao coração, evitando que coágulos permaneçam nas extremidades dos tecidos,
havendo menor tempo de recuperação corporal. Isso porque o fluxo sanguíneo
aumenta na região laríngea após a atividade vocal (canto e fala). Devido à esse motivo,
uma parada brusca do canto pode acarretar pregas vocais edemaciadas e mais
sensíveis, com formação de agrupamentos de coágulos em sua superfície.
Behlau, Rehder e Pela (1998); Facincani et al, (2001) citados por Andrade;
Fontoura; Cielo, (2007) as técnicas usadas para o aquecimento e o desaquecimento
vocal são praticamente as mesmas. Porém, o aquecimento vocal é realizado em torno
de dez a quarenta minutos antes de iniciar o canto ou alguma atividade que exija maior
uso da voz, e o desaquecimento vocal é feito após o uso prolongado da voz, durante
aproximadamente cinco minutos.
3.2 Emergências Vocais Frequentes em Cantores
Sataloff (2001); Mishra, Rosen, Murry (2000); Mitrovic et al., (2002) citados por
Andrade; Fontoura; Cielo, (2007) todo cantor, no início de sua formação e durante a
carreira, deveria passar por avaliações periódicas (anuais) com profissionais
especializados em voz, a fim de prevenir futuras alterações vocais. Os exames mais
importantes a serem realizados são o otorrinolaringológico, que engloba exame clínico
do nariz, cavidade oral, faringe, ouvidos e laringe; e o fonoaudiológico, que envolve
aspectos funcionais (análise vocal subjetiva, extensão musical de voz, análise acústica
objetiva, exame da fala, e exame auditivo), além do histórico do cantor. Especialistas
24
em cuidados vocais são essenciais para todos os pacientes, porém são cruciais para
profissionais da voz.
Sataloff (2000); Carroll, Phil (2000) citados por Andrade; Fontoura; Cielo (2007)
ressaltam que, assim, como os cantores necessitam de cuidados específicos, os
profissionais especialistas em cuidados com a voz devem, em seu trabalho, combinar
os conceitos tradicionais da medicina com as modernas tecnologias e especificidades
da voz profissional, tornando-se hábeis no cuidado da voz do artista.
Behlau et al., (2001) citados por Andrade; Fontoura; Cielo (2007) afirmam que a
demanda energética e física sofrida pelos órgãos fonoarticulatórios envolvidos no canto
é muito grande. Por isso, existe a necessidade de maior atenção na prevenção de
possíveis alterações vocais. Uma voz considerada adequada é aquela produzida sem
lesões teciduais e nervosas, e sem desequilíbrio muscular ou mucoso, ocorrendo uma
harmonia sonora, caracterizando a eufonia. Pode-se constatar uma disfonia quando um
desses fatores estiver alterado.
Conforme Behlau, Azevedo, Pontes (2004) citados por Andrade; Fontoura;
Cielo (2007), na literatura, existem várias linhas de classificação das disfonias, sendo
que, de acordo com a etiologia, alguns autores utilizam os termos disfonia funcional,
organo-funcional e orgânica, na dependência da causa do distúrbio de voz. As disfonias
são comuns em profissionais da voz, mais especificamente em cantores que, muitas
vezes, selecionam ajustes musculares inadequados à voz cantada (disfonia funcional
primária por falta de conhecimento vocal) e ou adotam um modelo de voz inadequado
às suas características anatomo-fisiológicas laríngeas (disfonia funcional primária por
modelo vocal inadequado).
Vasilenko, Pavlikhin, Izgarysheva (2000) citados por Andrade; Fontoura; Cielo
(2007), no intuito de prevenir as alterações ocupacionais da laringe, os cantores,
principalmente os profissionais, devem preocupar-se com a qualidade de sua voz
durante a carreira, sua idade, tempo de trabalho, o volume de trabalhos adicionais
(concertos e atividades pedagógicas) e condições sociais e de vida. Os distúrbios
vocais também podem depender do tipo de voz do cantor e do estado de seu sistema
nervoso.
25
3.3 Condutas Fonoaudiológicas nas Emergências Vocais
Considerando a Resolução CFFa nº 428, de 2 de março de 2013, o
Fonoaudiólogo atua na saúde do trabalhador, uma vez que as disfonias estão
enquadradas no Artigo 20 da Lei 8213/91 que cuida de doenças ocupacionais, tendo
em vista intercorrências consequentes do uso profissional da voz cantada. Logo, a
Fonoaudiologia encontra-se na busca por diversos recursos que podem ser favoráveis,
se utilizados juntamente com a terapia vocal convencional.
3.3.1 Laser de Baixa Potência Aplicado à Fonoaudiologia
O termo LASER é a abreviação da expressão inglesa Light Amplification by
Stimulated Emission of Radiation (Amplificação da luz por emissão estimulada de
radiação, em português) que se dá por uma radiação eletromagnética, unidirecional,
monocromática, feixe estreito, propagação paralela e ondas de fótons. Portanto, o efeito
terapêutico se dá pela ação sobre as células que são influenciadas e ativadas por
efeitos fotofísicos, fotoquímicos e fotobiológicos sobre os tecidos que sofrem a
irradiação (GOMES; SCHAPOCHNIK, 2017).
De acordo com Mouffron (2017), a laserterapia é indicada para uma série de
tratamentos. Ela pode ser usada isoladamente ou como coadjuvante em diversos
processos, favorecendo o reparo tecidual, a redução da dor, a drenagem de edemas,
resolução de inflamações, dentre outros. Na Fonoaudiologia, o laser de baixa potência
pode ser um grande aliado em diversas áreas de atuação, sobretudo relacionadas à
motricidade orofacial, à disfagia e à voz. Uma das principais aplicações do equipamento
de laser para Fonoaudiologia é a sua aplicação na voz profissional, através da
laserterapia, com emissão de raios de baixa potência combinada aos exercícios de
fonoaudiologia, tonificando e flexionando mais as fibras das cordas vocais; sua ação
26
fibrinolítica também favorece sua maleabilidade e elasticidade, sendo utilizado este
recurso inclusive em casos de emergência. O aparelho de laserterapia - ao contrário do
laser de alta potência - não causa descamação, provocando o estímulo à síntese do
colágeno, dando mais firmeza e elasticidade às fibras.
3.3.2 Eletroestimulação nas Emergências Vocais
Considerando o Parecer CFFa nº 43, de 6 de abril de 2016, da Lei nº 6.965/81,
que dispõe sobre a regulamentação da profissão de fonoaudiólogo, outra opção de
recurso que pode ser utilizado na reabilitação de alterações vocais, é a Estimulação
Elétrica Transcutânea, da qual o fonoaudiólogo só usufrui possuindo formação
específica teórico-prática de, no mínimo, 120 horas.
Para Siqueira et al. (2017), a conduta da reabilitação vocal depende
principalmente do conhecimento das manifestações na qualidade vocal e laringe do
indivíduo. A Terapia Manual Laríngea (TML) aconselha o trabalho com os músculos
supra-hióideos, esternocleidomastóideos e região da membrana tíreo-hióidea. A TML
tem como objetivo principal relaxar a musculatura tensa que prejudica a função
fonatória equilibrada. Outra técnica bastante utilizada para promover o relaxamento da
musculatura perilaríngea e cervical é a Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea
(TENS). Além do relaxamento, promove melhora da vascularização na região aplicada.
A estimulação elétrica por meio de eletrodos de superfície é um procedimento
terapêutico não invasivo e de grande utilidade na prática clínica. Esse recurso tem sido
utilizado no tratamento de diversas alterações e doenças com objetivo de estimular
nervos sensitivos e motores de diferentes regiões corporais (GUIRRO, 2004).
Entretanto, a escolha da corrente quanto à sua frequência, intensidade, e
largura de pulso, bem como a colocação de eletrodos influencia o tipo de estímulo que
a musculatura da laringe pode receber. A TENS de baixa frequência e forte intensidade
27
com aplicação de eletrodos na região submandibular e fibras descendentes do músculo
trapézio, promove fortes vibrações na laringe (SIQUEIRA, 2017).
Para Santos et al. (2015), a Fonoaudiologia pode se beneficiar e apresentar
resultados satisfatórios com esta técnica aliada à terapia convencional. Estudos
demonstram resultados favoráveis do uso da eletroestimulação na melhora da
qualidade vocal. As disfonias ou até as afonias podem ser definidas como qualquer
dificuldade ou alteração na emissão natural da voz. A literatura aponta a disfonia por
tensão muscular como uma alteração hiperfuncional da fonação, originada por lesões
laríngeas benignas, como nódulos e espessamento da mucosa. Técnicas de
relaxamento cervical e laríngeo são recomendadas no tratamento destas alterações por
tensão muscular a fim de buscar o equilíbrio da musculatura intrínseca da laringe, desta
forma, a TENS pode colaborar no tratamento das disfonias e afonias, por promover
analgesia e relaxamento muscular.
28
4 METODOLOGIA
O presente trabalho foi realizado através de pesquisa bibliográfica que se
caracteriza pelo levantamento de toda a bibliografia já publicada em forma de livros,
revistas, publicações avulsas e imprensa escrita sobre um determinado assunto
(MARCONI, LAKATOS, 2009).
Esta revisão de literatura tem como objetivo caracterizar as situações em que o
cantor é acometido de intercorrências vocais no uso profissional da voz, bem como
descrever as possibilidades de intervenção fonoaudiológica nestas situações. Desta
forma, foi realizado um levantamento de artigos científicos encontrados no banco de
dados da Scielo e Lilacs. A coleta de dados ocorreu de agosto a outubro de 2018, e
optou por artigos publicados no período de 2007 a 2017 sendo utilizados os seguintes
descritores: qualidade da voz, canto, disfonia, estimulação elétrica nervosa
transcutânea e lasers.
Após a seleção de 16 artigos científicos foi feita uma leitura preliminar dos
textos obtidos para delimitar o material apto ao uso na pesquisa, e, posteriormente,
destes foram incluídos no trabalho, 10 artigos que contiveram os objetos de estudo
descritos pelos pesquisadores, e foram excluídos os 6 restantes cujo assunto não
condisse com o tema abordado. Os dados encontrados foram analisados, comparados,
discutidos e interpretados para fins de formular a discussão e considerações finais do
trabalho.
Foram respeitados os aspectos éticos, sendo o projeto encaminhado à
Coordenação de Pesquisa e Pós-graduação do Centro Universitário UNINOVAFAPI,
solicitando a declaração de anuência para a realização da pesquisa.
29
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
No decorrer desta pesquisa pôde-se notar a influência dos maus hábitos de
higiene vocal no desempenho de profissionais que tem a voz cantada como instrumento
de trabalho, bem como abordar as maneiras de intervenção fonoaudiológica junto às
consequências que podem surgir, que em sua maioria, são as disfonias funcionais
primárias por modelo vocal inadequado. Para a realização deste estudo foi feita uma
análise bibliográfica por meio de artigos científicos já elaborados.
Foram analisados 10 artigos publicados na área deste estudo, destes artigos, 1
(10%) contemplou o objetivo de descrever as características essenciais para o exercício
da voz cantada; 2 (20%) discorreram sobre as emergências vocais mais frequentes em
cantores; e 7 (70%) desses artigos abordaram as possibilidades de intervenção
fonoaudiológica junto às emergências vocais.
É cada vez mais comum entre os profissionais que utilizam a voz
profissionalmente, a conscientização de que ela é uma ferramenta que necessita de
cuidados especiais. Para quem não cuida corretamente, os problemas mais frequentes
são rouquidão (disfonia) e afonia. Pensando nisso, diversas formas de reverter essas
intercorrências juntamente como a terapia fonoaudiológica convencional vêm sendo
utilizadas na atualidade.
Contudo, a Fonoaudiologia tem se voltado para o estudo dos profissionais da
voz, mais especificamente dos cantores. Além disso, pode se evidenciar que o
aumento do ingresso de profissionais no campo da voz cantada é diretamente
influenciável no aumento da demanda por procura de um acompanhamento
fonoaudiológico especializado, além da crescente busca por novos meios e
possibilidades de tratamento dos frequentes danos que acometem o trato vocal de
cantores.
No que se refere às características essenciais para a produção da voz cantada,
de acordo com Murry e Rosen (2000) e Gomés (2003), citado por Andrade; Fontoura;
Cielo (2007), na fala e canto utilizam-se os mesmos órgãos fonoarticulatórios, porém no
canto, são realizados alguns ajustes de tais conforme as exigências da música. Isto se
30
refere à sustentação da coluna sonora, à igualdade tímbrica, à dicção, o fraseado e à
interpretação, que ocorrem exclusivamente na voz cantada. Desta forma, recomenda-se
que, para os cantores, o conhecimento a respeito da relação entre a funcionalidade dos
órgãos envolvidos na fala e arte é essencial para um adequado aperfeiçoamento do
canto. Caso contrário, este desconhecimento pode comprometer no sucesso de suas
atividades, na qualidade e na produtividade da voz. São várias as causas de alterações
vocais, porém, nos cantores, o uso incorreto da voz (mau uso e abuso) é o principal
fator desencadeante para tais problemas.
Quanto às emergências vocais mais frequentes que acometem alguns cantores,
segundo Dinville (2001) citado por Andrade; Fontoura; Cielo (2007), as disfonias ou
afonias que ocorrem na voz cantada podem decorrer de vários fatores como: os
métodos empíricos utilizados por alguns professores de canto, a falta de conhecimentos
específicos sobre aspectos relacionados à produção vocal, classificação vocal errônea
ou por vontade do cantor, usos vocais incorretos, e a não utilização de técnicas de
aquecimento e desaquecimento vocais.
Alguns hábitos vocais do cantor também podem ser incompatíveis com seu
bem-estar vocal, danificar os tecidos laríngeos e produzir uma qualidade de voz
alterada. Dentre os hábitos prejudiciais está o fumo, álcool, poluição, drogas,
medicamentos, alimentação inadequada, vestuário incorreto, além de hábitos do próprio
comportamento vocal como, gritar sem suporte respiratório, pigarrear ou tossir
excessivamente, falar em ambientes ruidosos ou abertos ou com frequência em
quadros gripais e de crises alérgicas, praticar exercícios físicos conversando e cantar
inadequada ou abusivamente (DASSIE-LEITE; DUPRAT; BUSH, 2011).
Do ponto de vista da prática clínica, os sinais e sintomas vocais geralmente
aparecem associados à presença de dores, que surgem quando a voz é usada da
maneira incorreta, com esforço, tensão, ou ausência de técnica adequada, no caso de
cantores. O indivíduo pode mencionar desconforto ou dor à fonação, limitando seu
rendimento vocal ou até mesmo impossibilitando tal ato (ROCHA; MORAES; BEHLAU,
2012).
31
Em se tratando das possibilidades de intervenção fonoaudiológica junto a estas
emergências vocais, o tratamento das disfonias é um processo que envolve
procedimentos de diversas naturezas, com o objetivo de promover uma melhor
comunicação oral, reduzindo o esforço fonatório e adequando a qualidade vocal às
necessidades pessoais, sociais e profissionais de cada indivíduo. Na terapia vocal, em
sua maioria, é utilizada uma combinação de abordagens diretas, que envolvem
exercícios específicos, a fim de controlar e coordenar os vários aspectos do sistema
vocal, além da terapia vocal indireta, que se concentra em ajudar o paciente a controlar
e manter a sua voz, por meio de orientação quanto à produção da voz,
aconselhamento, controle de estresse e relaxamento geral (SILVA et al., 2014).
Silva et al. (2014) acrescentam que, os cantores que apresentam quadros de
disfonias são profissionais que fazem parte de uma categoria especial dentro dos vários
distúrbios de voz, por possuírem elevada demanda vocal e por apresentarem forte
tendência a riscos de alterações na voz. Algumas mudanças na voz, que parecem
imperceptíveis para alguns pacientes, podem ser desastrosas para um paciente que é
profissional da voz cantada, pois o impacto de uma disfonia nesse grupo é geralmente
grave, por comprometer a longevidade da carreira. Portanto, cantores populares
profissionais que realizaram acompanhamento fonoaudiológico especializado
apresentaram redução de desvantagens vocais.
As definições de conduta da reabilitação vocal dependem predominantemente
do conhecimento a respeito das manifestações que afetam a qualidade vocal e a
laringe do indivíduo. A Terapia Manual Laríngea (TML) preconiza o trabalho com os
músculos esternocleidomastóideos, supra-hióideos e região da membrana tíreo-hióidea.
Esta técnica tem como objetivo principal relaxar a musculatura excessivamente tensa que
inibe a função fonatória equilibrada, característica observada nas disfonias. Outro recurso
capaz de relaxar a musculatura cervical laríngea é a Estimulação Elétrica Nervosa
Transcutânea (TENS), que pode ser aplicada nesse tipo de disfonia, além da analgesia a
TENS é capaz de promover melhora na vascularização da região aplicada (SIQUEIRA et
al., 2017).
32
A Fonoaudiologia pode se beneficiar e apresentar resultados satisfatórios com
esta técnica quando a mesma é aliada à terapia vocal convencional. Estudos apontam
resultados favoráveis do uso da eletroestimulação na melhora da qualidade vocal em
pacientes disfônicos. Para o tratamento de disfonias por tensão muscular ou uso
inadequado da voz, são recomendadas técnicas de relaxamento cervical e laríngeo a
fim de obter o equilíbrio da musculatura intrínseca da laringe. Com base nisso, a TENS
por promover analgesia e relaxamento muscular, pode colaborar para o tratamento da
disfonia funcional (SANTOS et al., 2015).
Outro recurso que também pode ser favorável ao tratamento emergencial de
alterações vocais, é o Laser de Baixa Intensidade (LIB), que baseia-se na radiação
unidirecional, de feixe estreito e com propagação de modo paralelo, que é aplicado
sobre o tecido da área comprometida, no caso desde estudo, na região laríngea.
Este tipo de radiação é utilizado para fins terapêuticos e, para alcançar tal
finalidade, os comprimentos de onda geralmente utilizados são o vermelho e o
infravermelho. Contudo, quanto maior o comprimento de onda maior será a penetração
no tecido (GOMES; SCHAPOCHNIK, 2017).
De acordo com Gomes e Schapochnik (2017), o LIB é um tratamento
coadjuvante, alternativo e não invasivo, que auxilia na aceleração de processos de
cicatrização, na modulação de inflamações ou no favorecimento da analgesia.
Gomes e Schapochnik (2017) descrevem a ação do LIB da seguinte forma: o
laser é aplicado sobre o tecido da região comprometida, o estímulo é absorvido pelo
tecido à nível celular, em consequência disso, ocorrem reações bioquímicas que
favorecem as respostas pretendidas com esta alternativa de tratamento (anti-
inflamatório, analgésica, cicatricial, antiedematoso, reparação nervosa/ muscular e anti-
bactericida).
A laserterapia é uma modalidade terapêutica que está sendo cada vez mais
estudada no campo acadêmico, por se tratar de um procedimento não invasivo que tem
poder de bioestimulação na área irradiada, ou seja, de estimular os processos celulares
para obter resultados positivos. A ação anti-inflamatória mostra-se muito satisfatória
após a realização do procedimento, além disso, este recurso tem poder de elevar a
33
produção de substâncias responsáveis pelo bloqueio da dor, como por exemplo, a
endorfina, e nas áreas com maior tensão muscular resulta em um aumento da
circulação sanguínea (MATOS et al., 2017).
Com base no que foi exposto neste estudo, fica evidente a necessidade e a
importância do acompanhamento fonoaudiológico especializado na prevenção e
tratamento de graves alterações vocais que acometem profissionais da voz cantada.
34
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As disfonias funcionais primárias por modelo vocal inadequado ou abuso vocal,
foram apontadas como as principais intercorrências que podem acometer profissionais
da voz cantada. Estas ocorrem em função de diversas situações as quais estão
expostos os cantores, desde o desconhecimento de técnicas corretas estabelecidas
para o exercício do canto, até a prática de hábitos nocivos ao trato vocal.
Após esta revisão bibliográfica, fica evidente a necessidade do emprego de
recursos objetivos no acompanhamento da terapia fonoaudiológica, principalmente nos
casos de emergências vocais. Os recursos tecnológicos aqui descritos são de suma
importância para uma terapia mais eficiente e eficaz, porém os mesmos não substituem
a terapia vocal convencional, uma vez que os benefícios aos pacientes tornam-se mais
visíveis quando estes recursos são utilizados de forma conjunta.
Assim, com base no trabalho aqui apresentado, nota-se o crescente interesse
na aplicabilidade das técnicas mencionadas acima na Fonoaudiologia. Porém, os
trabalhos que pesquisam estes recursos na área da voz ainda são escassos, mas
devido à importância do uso destas técnicas é necessário que mais pesquisas sejam
realizadas na área.
12
REFERÊNCIAS ANDRADE, S.; FONTOURA, D.; CIELO, C. Inter-relações entre fonoaudiologia e canto. PUC- Rio Grande do Sul. 2007. Acesso em 14 de novembro de 2018. Disponível em https://www.revistas.ufg.br/musica/article/view/1758/12191. BEHLAU, M. Voz profissional: aspectos gerais e atuação fonoaudiológica. Voz: o livro do especialista. IN: BEHLAU Vol. 2. Rio de Janeiro. Revinter, 2005. Pág. 335 Cap. 12. CAMPIOTTO et al. Avaliação vocal. IN: ANELLI et al. Novo tratado de fonoaudiologia. Vol. 3. São Paulo. Editora Manole. 2013. Pág. 635 Cap. 48. DASSIE-LEITE, A.; DUPRAT, A.; BUSH, R. Comparação de hábitos de bem estar vocal entre cantores líricos e populares. Rev. CEFAC. São Paulo. 2011.
GOMES, C.; SCHAPOCHNIK, A. O uso terapêutico do laser de Baixa Intensidade (LBI) em algumas patologias e sua relação com a atuação na Fonoaudiologia. Distúrb Comun. São Paulo. 2017. MATOS et al. Laserterapia aplicada à motricidade orofacial: percepção dos membros da Associação Brasileira de Motricidade Orofacial – Abramo. João Pessoa (PB). 2017. Pareceres e recomendações-conselho federal de fonoaudiologia. Disponível em http://www.fonoaudiologia.org.br/cffa/index.php/pareceres-e-recomendacoes/. Acesso em 7 de novembro de 2018. SANTOS et al. Uso da eletroestimulação na clínica fonoaudiológica: uma revisão integrativa da literatura. Rev. CEFAC. Minas Gerais. 2015.
SILVA et al. Efeitos da reabilitação fonoaudiológica na desvantagem vocal de cantores populares profissionais. Centro de Estudos da Voz – CEV – São Paulo. 2014. SIQUEIRA et al. Efeitos da terapia manual laríngea e da estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) na diadococinesia laríngea em mulheres disfônicas: estudo clínico randomizado. Rev. CoDAS. São Paulo. 2017.
ROCHA, C.; MORAES, M.; BEHLAU, M. Dor em cantores populares. Jornal da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. São Paulo. 2012.
12
ANEXO
COORDENAÇÃO DE PESQUISA
DECLARAÇÃO
Declaramos para os devidos fins, que o projeto de pesquisa intitulado:
“CONTRIBUIÇÕES FONOAUDIOLÓGICAS EM EMERGÊNCIAS VOCAIS QUE
ACOMETEM PROFISSIONAIS DA VOZ CANTADA: revisão bibliográfica”, dos alunos
Matheus Barbosa Vitor e Dalila Mousinho Carvalho Matos orientados pela Profa Méssia Pádua
Almeida Bandeira foi cadastrado na Coordenação de Pesquisa, processo nº 100/2018.
Teresina, 17 de outubro de 2018
Profa. Dra. Eliana Campêlo Lago
Coordenadora de Pesquisa e Mestrado Profissional em Saúde da Família