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CONEXÃO DE TUBOS DE
PERFURAÇÃO: UMA ABORDAGEM
ERGONÔMICA DA ATIVIDADE DE
SONDAGEM
Kermany Douglas Fernandes Ge (UFERSA)
Kléber da Silva Barros (UFERSA)
Paula Mirelli Queiroz e Silva (UERN)
A exploração de petróleo tem importante participação na economia
brasileira, sendo ponto estratégico para o desenvolvimento de políticas
econômicas e da matriz energética do país. O estado do Rio Grande do
Norte possui forte participação noo desenvolvimento desse mercado,
destacando-se como o maior produtor terrestre do país. Neste
necessário estão inseridas as Sondas de Perfuração Terrestre,
ambiente desta perquisa que visa levantar, identificar e analisar os
problemas decorrentes da atividade de conexão de tubos de
perfuração, bem como propor soluções ergonômicas no intuito de
melhoria das condições de trabalho.
Palavras-chaves: Sondas de Perfuração Terrestre, Conexão de Tubos,
Soluções Ergonômicas
XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.
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1. Introdução
As Sondas de Perfuração são equipamentos de grande porte usados na Exploração de
Petróleo. Como o próprio nome sugere, sua aplicação principal está na perfuração dos poços
de petróleo, contudo elas ainda podem ser usadas para avaliar e completar poços.
As Sondas de perfuração são classificadas segundo três características básicas: princípio de
funcionamento, capacidade de perfuração e modelo de força motriz. Quanto ao princípio de
funcionamento, as Sondas de Perfuração podem ser classificadas em Percusivas e Rotativas.
Quanto à capacidade de perfuração podem ser pequenas (até 1.200 metros de profudidade),
médias ( até 3.000 metros de profundidade) e grandes ( até 6.000 metros de profundidade). Já
em relação ao modelo de força motriz, essas podem ser mecânicas, também conhecidas como
convencionais; diesel elétricas, em que geradores elétricos impulsionam os motores da sonda;
e ainda automáticas, programadas por computadores.
No início da exploração eram utilizadas Sondas Percussivas, contudo essa é uma tecnologia já
obsoleta e mais de 90% da fatia da indústria de perfuração é dominada pelas Sondas
Rotativas, que serão objeto desse estudo.
As Sondas de Perfuração Mecânicas Rotativa vêm operando na Bacia Potiguar (estado do Rio
Grande do Norte) desde a década de 80 quando da descoberta de óleo na região, encontrado a
pequenas profundidades, inferior a 300 metros. Com o passar dos anos essa atividade se
intensificou e óleo e gás foram sendo explorados a profundidades cada vez maiores. A
atividade de exploração de petróleo possui participação destacada na economia local e têm se
constituído como principal responsável pelo desenvovimento da região, sendo a Bacia
Potiguar, atualmente, a maior bacia terrestre em volume de óleo do país.
Contudo, avanço semelhante não se percebeu nos equipamentos que operam nesse estratégico
mercado nacional e de alta rentabilidade. Muitos dos equipamentos operando na Bacia
Potiguar datam de décadas de 60, 70 e 80, quando ainda principiavam os conceitos e práticas
de Ergonomia e Segurança do Trabalho.
Atualmente 13 Sondas operam nesta Bacia, das quais 10 são Sondas Convencionais e apenas
três são Automáticas. Esse atraso tecnológico não se justifica em um mercado que movimenta
uma gigantesca soma de recursos econômicos e de mão de obra.
Devido à grande expansão dessa atividade nos últimos três anos houve uma renovação na
faixa etária da mão de obra utilizada. Contudo, outra característica dessa mão de obra, como
baixa formação técnica, se manteve inalterada. Muito disso se deve aos equipamentos usados
na região. Como já citado a maior parte deles são compostos de tecnologias obsoletas e esse
importante trabalho que movimenta a economia do estado e do país é constantemente
associado aos trabalhos braçais e que exigem alto esforço físico. Prova disso é que esse é um
dos poucos mercados de trabalho onde a mão de obra feminina ainda não conseguiu
penetração.
Dentre as principais características associado ao mercado de trabalho das Sondas de
Perfuração destacam-se: mão de obra pouco qualificada ou inexperiente, longas jornadas
diárias de trabalho de 12 horas, elevádos esforços físicos, condições ergonômicas adversas,
exposição a condições climáticas e ambientais desfavoráveis (exposição a chuva, insolação,
altas temperaturas, produtos químicos e jornadas diurnas e noturnas). Como consequência de
sua política de trabalho a indústria tem registrado elevados indices de acidentes de trabalho,
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fatalidades, afastamentos, redução da vida útil do trabalhador e aposentadorias precoces por
invalidez.
A utilização de Sondas Automáticas pode modificar o atual conceito dessa indústria, passando
a solicitar mão de obra mais tecnicamente qualificada, reduzindo os esforços físico, índices de
acidentes, aumentando a vida útil do trabalhador e oferecendo melhor qualidade de vida no
trabalho. As Sondas Automáticas são eregonomicamente, ecologicamente e seguramente
concebidas em seus projetos. Os novos modelos de Sondas buscam alinhar alta
disponibilidade operacional e segurança intríseca, alto desempenho, sustentabilidade e
ergonomia do trabalho.
Diante do exposto, é objetivo desse estudo levantar, identificar e analisar os problemas
decorrentes da atividade de conexão de tubos de perfuração durante as operações com Sondas
de Perfuração, bem como propor as adequações necessárias a fornecer um ambiente de
trabalho aceitável para os atuais padrões de ergonomia do trabalho, focando sempre a
interação homem – máquina e privilegiando soluções exeqüíveis ou já adotadas para a
indústria em questão.
A principal relevância e justificativa desse trabalho está em proporcionar aos trabalhadores
envolvidos nesta atividade de elevado esforço físico, melhorias em suas atividades laborativas
no tocante a melhores práticas ergonômicas e de segurança do trabalho. Do ponto de vista
acadêmico, tal pesquisa se revela como uma oportunidade singular de experimentação prática
dos conteúdos teóricos, principalmente por ser essa uma área de trabalho de acesso
extremamente restrito e possuidora de sérios problemas que se inserem no campo de
ergonomia.
2. Metodologia
Como procedimento metodológicos, primeiramente foram realizados estudos de campo e
observações onde se pode verificar a operação de três Sondas convencionais operando na
Bacia Potiguar. Durante o estudo pôde-se observar o desenvolvimento das atividades e
constatar as condições operacionais dos trabalhadores envolvidos.
Em seguida foram realizadas ações conversacionais com plataformistas de sonda com o
intuito de levantar dados relativos à insatisfações no trabalho, dores, afastamentos médicos,
absenteísmo, acidentes de trabalho e condições adversas. Tais observações e verbalizações
foram incrementadas com a produção de vídeos e fotografias que foram posteriormente
examinadas e debatidos exaustivamente pelos membros da equipe, o que levou a um maior
aprofundamento das operações e seus riscos físicos e ergonômicos. Também foi realizado
fotografias para compor o material metodológico do estudo.
Também a partir dos vídeos foram cronometrados os tempos de realização das conexões
durante as operações de manobra de coluna nas Sondas Convencionais, possibilitando
encontrar os tempos médios de execução das manobras e assim, utilizando o método OWAS –
Ovako Working Posture Analysis System - poder levantar, identificar e analisar os problemas
verificados na operação de conexão de tubos em operações com Sondas de perfuração.
3. Referencial
A perfuração de um poço de petróleo é realizada através de uma sonda. Na perfuração
rotativa, as rochas são perfuradas pela ação da rotação e peso aplicados a uma broca existente
na extremidade de uma coluna de perfuração, a qual consiste basicamente de comandos (tubos
de paredes espessa) e tubos de perfuração (tubos de paredes finas). Os fragmentos da rocha
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são removidos continuamente através de um fluido de perfuração ou lama. O fluido é injetado
por bombas para o interior da coluna de perfuração através da cabeça de injeção, ou swivel, e
retorna à superfície através do espaço anular formado pelas paredes do poço e a coluna. Ao
atingir determinada profundidade, a coluna de perfuração é retirada do poço e uma coluna de
revestimento de aço, de diâmetro inferior ao da broca, é descida no poço. O anular entre o
tubo de revestimento e as paredes do poço é cimentado com a finalidade de isolar as rochas
atravessadas, permitindo então o avanço da perfuração com segurança. Após a operação de
cimentação, a coluna de perfuração é novamente decida no poço, tendo sua extremidade uma
nova broca de diâmetro menor que a do revestimento para prosseguimento da perfuração.
(TRIGGIA, 2001)
Figura 1: Sonda Convencional de Perfuração. PETROBRAS – SC-106
Fonte: Banco de Imagens, PETROBRAS
Sondas de Perfuração rotativa são usadas em quase todas as operações hoje em dia. O poço é
perfurado aplicando-se um movimento de rotação na broca e uma força descendente.
Geralmente, a broca é rotacionada pela coluna de perfuração que recebe o movimento de
rotação da mesa rotativa e a força descendente é aplicada a broca usando seções de tubos
pesados de paredes espessa, chamados de comandos de perfuração, posicionados na coluna
acima da broca. As rochas cortadas são trazidas até a superfície através da circulação de um
fluido de perfuração que é injetado pelo interior da coluna até a broca e retorna pelo espaço
anular entre o poço e a coluna. As Sondas de Perfuração podem ser classificadas como
terrestres ou marítimas. (BOURGOYNE, 1991).
Figura 2: Sonda de Perfuração Semi-Automática. PETROBRAS, SC-115
Fonte: Banco de Imagens, PETROBRAS
Durante as operações em sondas se faz necessário realizar também de conexão de tubos de
perfuração na coluna principal. Tal atividade é iniciada quando o topo do Kelly (haste
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exagonal com orifício interno para a passagem de fluido, usada para transmitir movimento
rotativo para a coluna de perfuração) atinge a mesa rotativa (equipamento instalado no piso da
plataforma de perfuração, fornece movimento rotativo para o Kelly), é necessário acrescentar
um novo tubo de perfuração à coluna. Esta operação é chamada de Conexão.
O tubo a ser acrescentado é colocado no orifíco auxiliar para conexão (buraco do rato) junto à
mesa rotativa. Eleva-se o Kelly até o primeiro tubo de perfuração aparecer e coloca-se a cunha
(equipamento usado para prender a coluna na mesa rotativa) na coluna para que o seu peso
fique sustentado pela mesa rotativa. Desconecta-se o Kelly da coluna e conecta-o ao tubo de
perfuração a ser adicionado. Eleva-se o conjunto Kelly – tubo de perfuração e o conecta
novamente à coluna. Retira-se a cunha e desce a coluna até o Kelly encaixar na mesa rotativa
e volta-se a perfurar. No caso da perfuração com Top Drive a operação é semelhante.
(TRIGGIA, 2001).
A manobra completa consiste na retirada e descida de toda a coluna de perfuração para
substituição da broca, por exemplo. Dessa forma, durante a operação de manobra de coluna,
repetitivas operações de conexão/desconecção são realizadas sucessivamente até que toda a
coluna de perfuração esteja fora poço.
A Ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem. (IIDA, 1995).
Ergonomia é o estudo do relacionamento entre o homem e o seu trabalho, equipamento e
ambiente, e particularmente a aplicação dos conhecimentos de anatomia, fisiologia e
psicologia na solução do problema surgidos desse relacionamento. (Ergonomics Research
Society, Inglaterra 2006).
Os objetivos práticos da ergonomia são a segurança, satisfação e o bem estar dos
trabalhadores no seu relacionamento com sistemas produtivos. A eficiência virá como
resultado. (IIDA, 1995).
Diversos são os métodos encontrados na literatura para avaliação postural. Por sua vez, um
dos métodos mais tradicionais de avaliação postural é o OWAS, que foi desenvolvido pelo
grupo siderúrgico Finlandês denominado OVAKO Oy.
Segundo Cardoso Junior (2006), a combinação das diferentes posturas do tronco braços e
pernas produziram 84 posições que abrangem as posturas mais usuais do trabalho, assim
como combinações de cargas manuseadas pelos trabalhadores. Cada postura classificada pelo
método é descrita por um código de quatro dígitos, onde cada um deles descreve as posições
adotadas em relação aos braços, tronco, pernas e esforço requerido. Para essa classificação,
utiliza-e o quadro abaixo (figura 5):
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Fator Cód Postura 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
1 Reto 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
2 Flexionado para frente 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3
3 Rotacionado 1 1 2 2 2 3 3 3 3 3
4 Flaxionado e rotacionado 1 2 2 3 3 3 3 4 4 4
1 Abaixo dos ombros 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
2 Um deles acima dos ombros 1 1 1 2 2 2 2 2 3 3
3 ambos acima dos ombros 1 1 2 2 2 2 2 3 3 3
1 sentado 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2
2 Em pé, joelhos retos e peso uniforme 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2
3 Em pé, joelhos retos e peso concentrado 1 1 1 2 2 2 2 3 3 3
4 Em pé, joelhos flexionados e peso uniforme 1 2 2 3 3 3 3 4 4 4
5 Em pé, joelhos flexionados e peso concentrado 1 2 2 3 3 3 3 4 4 4
6 Ajoelhado 1 1 2 2 2 3 3 3 3 3
7 Andando 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2
1 Menor que 10 Kg 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
2 Entre 10 e 20 Kg 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
3 Acima de 20 Kg 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
Tronco
Braços
Pernas
Carga
Figura 3: Descrição dos níveis de ação, em função da porcentagem de duração da tarefa em cada postura, por
fator do método OWAS.
Fonte: Moacyr Machado Cardoso Junior, 2006, adaptado.
Para registrar as posturas o procedimento é observar a atividade e realizar uma relação entre
as posturas assumidas pelo trabalho, o tempo de exposição e a carga manuseada. A tabela de
classificação possui linhas que classificam a postura do trabalhador e colunas que repesentam
a porcentagem de tempo de exposição na escala de 10 a 100%. Assim, o primeiro dígito está
relacionado à posição do tronco, o segundo à posição dos braços, o terceiro está relacionado à
posição das pernas e quarto relaciona-se com a carga a ser manuseada ou esforço aplicado. Da
médias dos valores encontrados, obtém-se um fator total que dever ser encaixado no quadro
abaixo (figura 4), que indicará as respectivas recomendações.
Categoria
de AçãoExplicação Ação
1
Postura natural e normal sem efeito danoso para o sistema
músculo esqueléticoNão requer ação
2Postura com possibilidade de causar dano
Ações corretivas são requeridas num
futuro próximo
3
Postura com efeito danoso para o sistema músculo
esquelético
Ações corretivas são necessárias o
quanto antes
4A carga causada por essa postura tem efeito danoso
imediato sobre o sistema músculo esqueléticoAções corretivas imediátas
Figura 4: Categoria de ação, em função da predominância de posturas adotadas para a execusão de tarefas.
Fonte: Moacyr Machado Cardoso Junior, 2006, adaptado.
4. Descrição do posto de trabalho e da tarefa
De acordo com Iida (1995), define-se como posto de trabalho a menor unidade produtiva,
geralmente envolvendo um homem e o seu local de trabalho. Em uma análise ergonômica o
enfoque é baseado principalmente na análise biomecânica da postura. (IIDA, 1995).
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O posto de trabalho objeto desse estudo é denominado de plataformista. O plataformista de
sonda de perfuração é um profissional do mercado de exploração de petróleo. São suas
principais atribuições: efetuar as conexões de tubos de perfuração, realizar a desmontagem da
sonda durante o DTM – Desmontagem, Transporte e Montagem, auxiliar o torrista na
preparação de fluido de perfuração, coletar amostras da geologia que está sendo perfurado,
realizar a descida de revestimentos de perfuração, entre outras. Contudo, nosso estudo se dará
apenas na atividade final a ser desempenhada pelo plataformista de sonda de perfuração: a
conexão de tubos de perfuração.
A operação de conexão de tubos de perfuração ocorre diariamente, seja durante a perfuração
ou durante a manobra de coluna.
O trabalho em Sondas ocorre em tempo ininterrupto. As jornadas de trabalho são de doze
horas, sendo seis delas durante o dia e as outras seis durante a noite. Após 14 dias trabalhados,
os empregados gozam de 14 dias de folga. Durante a jornada de trabalho de 12 horas, os
empregados possuem um descanso de 15 minutos a cada 3 horas para realizar pequenas
alimentações e ainda uma hora para almoço ou jantar.
As atividades ocorrem a céu aberto e não são interrompidas por força de intempéries. Durante
o dia, o calor é intenso chegando a temperaturas de 45° C. Durante a noite a temperatura se
torna mais amena, média de 30° C.
No desempenho de suas atividades, os operadores de sonda trabalham sob nível de ruído
moderado e fazem uso de protetores auricular. Os ruídos são provenientes dos motores usados
para acionar os equipamentos das Sondas (Geradores, Guincho, Bombas de Lama, etc.) e da
própria ação da broca sobre o solo, do movimento rotatório da coluna de perfuração e das
reações vibratórias sobre a plataforma.
O grau de risco de uma atividade relaciona o potencial das lesões que podem ser causadas
durante o exercício do trabalho e pode variar do grau 1 ao grau 4. A atividade de sondagem é
uma atividade de grau de risco 4, ou seja, possui riscos de causar lesões permanentes, que
levam à incapacidade total ou morte. Assim, o exercíco da atividade de operação com Sondas
exige dos colaboradores alto nível de concentração e tensão.
Variantes DescriçãoPode ser
crítico?
Jorada de trabalho
Turnos de 12 horas, intervalos para
lanches e almoço/jantarSim
Luminosidade 6 horas da jornada são notunas Sim
Ambiente Exposto a sol e chuva Sim
Ruído Doses moderadas Não
Temperatura Ambientes entre 30° e 40° C Sim
Risco de Acidentes Grau de risco 4 Sim
Figura 5: Análise Qualitativa da Tarefa.
5. Descrição da atividade
Como já citado anteriormente, a atividade objeto desse estudo é a conexão de tubos de
perfuração. Durante a construção de um poço, vão sendo adicionados tubos à coluna de
perfuração para que a broca possa seguir avançando e atinja maiores profundidades.
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Os tubos manuseados medem 9 m de comprimento cada e pesam da ordem de 500 Kg. Os
tubos são conectados uns aos outros por meio de suas roscas. Cada tubo possui em suas
respectivas extremidades um pino com uma rosca externa e uma caixa com uma rosca interna.
A função do Plataformista é usar a “cunha” para fixar a coluna de perfuração na “mesa
rotativa” e utilizar as “chaves flutuantes” (equipamentos mantidos suspensos na plataforma
através de cabos, usadas em conjunto para aplicar torque aos componentes da coluna de
perfuração) para conectar os tubos de perfuração através de suas roscas.
O quadro abaixo descreve a sequência lógica do desempenho das tarefas durante a execusão
da atividade de conexão de tubos de perfuração, bem como ilustra os responsáveis por cada
tarefa e as respectivas ferramentas utilizadas.
Atividade Quêm? Ferramenta
1
Parar o movimento da coluna e
descontinuar o bombeio Sondador Comandos
2 Acunhar a coluna Plataformista Cunha
3 Desconectar o Kelly Plataformista Chaves Flutuantes
4
Mover e enroscar o Kelly no tubo no
buraco do rato Plataformista Corda de Cisal
5 Torquear/apertar o Kelly no tubo Plataformista Chaves Flutuantes
6
Mover e enroscar o tubo na coluna
acunhada Plataformista Corda de Cisal
7 Torquear/apertar o tubo na coluna Plataformista Chaves Flutuantes
8 Remover a cunha Plataformista Cunha
9 Retomar a perfuração Sondador Comandos
Figura 6: Descrição das etapas de atividade de conexão de tubos.
Assim, após o topo do Kelly atingir a mesa rotativa, o sondador pára o movimento de rotação
da coluna e a eleva até que apareça o primeiro tubo. Em seguida o sondador para o bombeio
de fluido e os plataformistas encaixam a cunha para sustentar o peso da coluna na mesa
rotativa. Com a coluna acunhada os plataformistas usam as chaves flutuantes para desconectar
o Kelly da coluna e o guiam fazendo uso de cordas até o buraco do rato onde se encontra o
tubo a ser adicionado. O Kelly é conectado com o uso das chaves flutuantes ao tubo a ser
adicionado à coluna de perfuração. Em seguida o sondado eleva o conjunto Kelly-tubo e os
plataformista os guiam até a mesa rotativa para serem conectados à coluna de perfuração. De
maneira análoga, o conjunto Kelly-tubo é enroscado à coluna através do molinete e torqueado
com o uso das chaves flutuantes. Assim, os plataformistas removem a cunha e o sondador
desce a coluna, retomando injeção de fluido e rotação, para reiniciar a perfuração.
6. Análise da Atividade do plataformista
Durante a realização da atividade de perfuração do poço e conexão dos tubos de perfuração,
diversas posturas são assumidas pelos trabalhadores, acionando vários pontos do corpo
simultâneamente.
A princípio realizou-se uma análise qualitativa da atividade em que foi possível identificar os
seguintes pontos favoráveis ao desempenho da atividade:
Boa pega e acionamento das ferramentas de trabalho;
Não existe manutenção prolongada dos esforços elásticos;
9
Não existe exigência simultânea de precisão e força elevada;
Durante a fase de perfuração, a freqüência de aplicação dos esforços é moderada;
De maneira análoga identificou-se os seguintes pontos negativos ao desempenho laboral:
Durante a fase de perfuração, a freqüência de aplicação dos esforços é moderada;
Existe má postura de trabalho na aplicação dos esforços;
Esforços muito intensos;
Durante a fase de manobra de coluna a freqüência de aplicação dos esforços é elevada;
O manuseio da cunha é realizado apenas com uma das são, há deslocamentos, alto nível de
esforço e associado à má postura;
Durante o manuseio das chaves flutuantes são realizados alternadamente esforços de tração
e de compressão nos movimentos biomecânicos e em posições desfavoráveis;
Existe necessidade de se abaixar para pegar a cunha;
Existem elevados riscos de acidentes físicos e ergonômicos na execução das atividades
(bater contra, ficar preso por, queda do mesmo nível...).
Através das entrevistas foram enumerados os seguintes fatores de insatisfação:
Durante a fase de perfuração, a freqüência de aplicação dos esforços é moderada;
Distância da família (as operações se dão muitas vezes em locais remotos e de difícil
acesso);
Trabalho sobre pressão por produção (dado o elevado valor do equipamento e da
produção);
Fadiga da atividade (dado a prolongadas jornadas de trabalho, elevados esforços físicos e
condições climáticas adversas);
Execução do trabalho noturno;
Presença de dores musculares principalmente durante as horas de descanso e no momento
de deitar para dormir.
As análises qualitativa da atividade permitiram fragmentá-la em micro-atividades e identificar
o tempo médio de realização de cada uma, conforme ilustrado no quadro a seguir. A partir
desta fragmentação e da utilização das tabelas do método OWAS também foi possível pontuar
cada micro-atividade em relação à postura adotada pelo plataformista, de modo a identificar
os principais problemas posturais da atividade laborativa.
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Figura 7: Classificação das atividades durante a operação de conexão quanto à postura adotada x tempo médio
de exposição.
7. Apresentação Dos Resultados
A partir dos levantamentos reportados, e da aplicação do método OWAS para as posturas
adotadas, identificou-se três posturas predominantes da execução da operação de conexão de
tubos de perfuração, que foram denominadas “Manuseio do Tubo em Pé”, onde os esforços
exigidos dos trabalhadores podem ser despresados; “Manuseio de Cunha”, postura
predominantemente em posição agachada; e “Manuseio das Chaves Flutuantes”, presença de
elevado esforço físico associado a má postura.
O quadro a seguir (figura 8) consolida os resultados da avaliação postural da atividade e
aplicação do método OWAS. Explicita a necessidade de intervenção nas etapas de Manuseio
de Cunha e Manuseio das Chaves Flutuantes.
11
Figura 8: Resultados do agrupamento das tarefas e aplicação de método OWAS.
7.1. Manuseio do Tubo em Pé
Nessa posição não estão sendo exigidos elevados esforços do trabalhador e sua postura
encontra-se relaxada. Nessa posição os trabalhadores encontram-se com o tronco reto, os
braços abaixo da linha dos ombros, em pé, com os joelhos retos e com o peso uniformemente
distribuído, bem como manuseia uma carga inferior a 10 Kg. Dos tempos médios observados,
constatou-se que essa posição é adotada pelo trabalhador durante 37,20% do tempo em que
este permanece realizando sua principal atividades, a conexão. Da aplicação dos métodos
temos que essa posição não oferece efeito danoso para o sistema músculo-esquelético e,
portanto nenhum ação é requerida;
Figura 9: Posição Neutra.
Fonte: Banco de Imagens, PETROBRAS.
7.2. Manuseio da Cunha
Esforços elevados estão sendo exigido do trabalhador, a carga manuseada apresenta peso
elevado e existe má postura na atividade. Os trabalhadores encontram-se com o tronco
flexionado para frente, com os braços abaixo da linha dos ombros, em pé, com os joelhos
flexionados e o peso uniformemente distribuído, bem como manuseia uma carga superior a 30
12
Kg. Durante a operação em estudo, os operadores permanecem 19,11% do tempo sob essa
postura, que apresenta possibilidades de causar dano e requer ações corretivas em um futuro
próximo;
Figura 10: Manuseio de Cunha.
Fonte: Banco de Imagens, PETROBRAS.
7.3. Manuseio Das Chaves Flutuantes
O Plataformista continua exercendo esforços físicos e em posições altamente desfavoráveis,
chegando quase a tocar o piso com seus joelhos. Os trabalhadores encontram-se com o tronco
flexionado para frente, os braços abaixo da linha dos ombros, em pé, com os joelhos
flexionados e peso uniformemente distribuído, bem como manuseia uma carga superior a 30
Kg. Adotam essa postura durante 43,68% do tempo em que realizam a atividade de conexão,
podendo ser danosa, requerendo uma ação corretiva em um futuro próximo.
Verificou-se que duas das posturas analisadas possuem possibilidades de causar danos e que
ações corretivas são requeridas. Somados os tempos de exposição, essas posturas representam
62,79% do tempo da tarefa, tempo bastante significativo para o desempenho da atividade.
Vale ressaltar que o método OWAS não leva em consideração as condições adversas
referenciadas na análise da tarefa, tais como: jornada de trabalho prolongada, luminosidade
insuficiente, exposição aberta às condições climáticas, ruído e temperatura. Dessa forma,
torna-se necessário a associação do método com a análise da atividade em seus aspéctos
“psicosociais”, que posivelmente são contribuidores do aumento do nível de tensões
musculares, lesões e estresse no trabalho.
Figura 11: Manuseio de Chaves Flutuantes.
Fonte: Banco de Imagens, PETROBRAS.
8. Conclusão
13
Este trabalho se propôs a analisar do ponto de vista ergonômico e utilizando o método OWAS
como ferramenta prática de análise de postura, a atividade conexão de tubos de perfuração de
poços de petróleo em sondas terrestres da Bacia Potiguar, no Rio Grande do Norte. Verificou-
se que esta atividade é extremamente desgastante do ponto de vista físico e mental do
trabalhador, além de possuir elevado grau de risco. Entre outras coisas, constatou-se que o
plataformista de sonda permaneceu em postura inadequada em mais de 60% do tempo de
execusão da tarefa.
Um dos caminhos recomendados nesse sentido é reduzir a movimentação manual de cargas.
Isso pode ser executado a partir da renovação da frota de Sondas por Sondas automáticas ou
semi-automáticas ou apenas com a adequação das Sondas já existente na Bacia Potiguar, ou
seja, o melhor caminho a ser adotado é a busca pela automatização dos processos de
movimentação de cargas. A intenção é afastar o homem do risco
Supõe-se que a automatização dos processos por meio de Sondas Automáticas ou Semi-
automáticas nas atividades de “conexão de tubos de perfuração”, “manuseio de cunha” e
“manuseio de chaves flutuantes”, posibilitará melhores condições de trabalho, principalmente
nos seguintes aspéctos: melhores níveis de segurança, ausência de más posturas decorrente
das operações, alto nível de redução da fadiga muscular, aumento do grau de satisfação da
força de trabalho, os empregados se sentem mais valorizados uma vez que a técnica é
privilegiada em função do esforço físico, aumento da confiabilidade das operações
minimizando o risco do erro operacional humano.
Por fim, esta pesquisa, até certo ponto, confirma as teorias ergonômicas de que o trabalho
manual com cargas deve ser evitado sempre que possível e que não apenas os esforços físicos
são determinantes para o surgimento de lesões e insatisfação do trabalhador, mas também os
aspéctos denominados “psicosociais”.
9. Bibliografia
BOURGOYNE JUNIOR, Adam T. et. al. Applied Drilling Engineering. Richardson, TX, USA. 1991. In:
Rotary Drilling Process. SPE TEXTBOOK SERIES, VOL 2.
CARDOSO JUNIOR, Moacyr Machado. “Avaliação Ergonômica: Revisão dos Métodos para Avaliação
Postural”. Santa Catarina, Brasil: Revista Produção, 2006.
IIDA, Itirio. ERGONOMIA Projeto e Produção. São Paulo: Edgar Blucher. 1993.
PETROBRAS. Banco de Imagens. Disponível em:
<http://s6000as11.serinf.petrobras.com.br/fotoweb/acervo.asp?id=5001>. Acesso em: 15 Jun 2009.
TRIGGIA, A. A., et. al. Fundamentos de Engenharia de Petróleo. 2 ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2004.
CAP IV PERFURAÇÃO.