“conduzindo e formando sujeitos para o ato de … · desenvolvimento agrário (mda), o centro de...
TRANSCRIPT
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 5148
“CONDUZINDO E FORMANDO SUJEITOS PARA O ATO DE EDUCAR EM BANANEIRAS”: O CURSO DE PEDAGOGIA E AS MARCAS DE SUA
FORMAÇÃO (2006-2011) 1
Vivian Galdino de Andrade2
Este artigo traz em si o relato de uma pesquisa realizada no âmbito do curso de
Pedagogia do Campus III da Universidade Federal da Paraíba, com o intuito de refletir sobre
os seus recém completos 10 anos de existência. Ele representa uma tentativa de expor e
registrar a história de criação de um curso de licenciatura em um Centro marcadamente
atrelado às questões agrárias.
O Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias – CCHSA - está localizado entre os
municípios de Bananeiras e Solânea/PB. Foi sede do antigo Centro de Formação de
Tecnólogos (CFT), que surgiu a partir do Patronato Agrícola Vidal de Negreiros (CAVN),
escola agrícola criada pelo Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio em meados de
1913, durante o governo do Presidente Venceslau Brás. Espaço de formação para o ensino
médio, para a educação profissional (Habilitação em Agropecuária, Agroindústria e
Aquicultura) e para os ensinos de graduação (em Ciências Agrárias, Bacharelado em
Agroindústria, Agroecologia, Pedagogia e Administração) o campus tem uma identidade
acadêmica intensamente voltada ao que é agrário. Visível é a sua relação com a realidade do
campo.
Dentro deste contexto, indagamos: como se deu a criação de um Curso de Pedagogia
dentro de um espaço veementemente voltado às questões técnicas e rurais? E quais as
tensões e relações de poder estiveram presentes no ato de sua implementação? Foi
perseguindo estes objetivos que desenvolvemos este artigo, atentando para discutir as marcas
institucionais que o curso de Pedagogia carrega em si e registra nos sujeitos que ele forma.
A nossa escolha temporal para este artigo se deu a partir do ano de criação do curso –
2006 – encerrando-se com o ano em que se deu a primeira avaliação realizada pelo MEC –
2011. Nos deteremos melhor em seus primeiros anos de criação, sendo o relatório de
1 Esse texto foi fruto da experiência de orientação do Trabalho de Conclusão de Curso de Aleilma Gonçalves
Ramos, intitulado “’As marcas de uma formação’: uma versão da história de criação para o curso de Pedagogia da UFPB/CCHSA (2006-2008)”.
2 Doutora em História da Educação pela Universidade Federal da Paraíba. Professora adjunta do Departamento de Educação da mesma instituição, Campus III. E-mail: <[email protected]>.
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 5149
avaliação utilizado como fonte para se pensar o que era posto como olhar e referência
institucional para a formação dos/as graduandos/as.
Nossa metodologia partiu da realização de entrevistas segundo os princípios
conceituais da História Oral. Quatro professores foram entrevistados, sendo dois deles
elaboradores do projeto de criação do curso, e os outros dois compõe uma amostra inicial dos
primeiros professores concursados para as vagas destinadas ao corpo docente do mesmo. A
partir dos relatos e das memórias destes quatro professores obtivemos dados que nos
auxiliaram a melhor substanciar esta discussão.
O curso de Pedagogia da UFPB/Campus III
Mapeado e marcado por um contexto de necessidade de um curso voltado para a área
educacional, com vistas a atender a população das cidades circunvizinhas e concentrado no
desejo de suprir uma demanda que procurava por um curso que aliasse as noções de
“educação” à identidade do “campo”, características pertencentes tanto ao CCHSA quanto à
cidade de Bananeiras, foi que surgiu o ensejo para a criação do curso de Pedagogia no
Campus III. Como relata o PPP3
O projeto de criação do Curso de Pedagogia representa um esforço no sentido de ampliar o escopo do Centro de Formação de Tecnólogos, desenvolvendo de forma mais complexa e sistemática as atividades de ensino, pesquisa e extensão no Campus III – Bananeiras. Além de propiciar a criação de um ambiente acadêmico de pesquisa e reflexão sobre as relações de ensino e aprendizagem em suas múltiplas dimensões, esta iniciativa oferecerá à comunidade uma opção de qualificação profissional de nível superior que o nosso entorno social há muito demandava. (2008, p.4)
Como um projeto que nascia da necessidade de adequar as iniciativas do meio
acadêmico às necessidades e características do meio social é que surge a pretensão de criação
do curso. Segundo nossas pesquisas o cenário começou a ficar mais propício no ano de 1998,
quando o Colégio Agrícola Vidal de Negreiros deu início a um Curso de Formação Continuada
para Professores do Campo, tendo a parceria do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST) e do Instituto Nacional de Reforma Agrária (INCRA), por meio do Programa
Nacional de Educação da Reforma Agrária (PRONERA). O objetivo deste curso perpassava a
3 O Projeto Político Pedagógico do Curso de Pedagogia foi elaborado no ato de sua criação, em 2006. No ano de
2008 uma nova versão foi elaborada em 2008, e ainda vigente, é utilizado por nós como fonte para este artigo. Ainda intitulado como “PPP – Projeto Político Pedagógico”, esta versão se define “[...] como um instrumento intermediário que contempla diagnósticos, problematizações, planejamento, avaliação, modos de concretizar ações direcionadas a realização de determinadas demandas sociais, culturais, históricas e educacionais” (PPP, 2008, p.14).
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 5150
iniciativa de formar jovens das áreas de assentamentos da região, e aconteciam “[...] tendo
em vista a necessidade de dar continuidade e aprofundamento à formação da população para
atuar no campo, contribuindo para a melhoria da produção agropecuária e da agroindústria
familiar, [...]” (PPP, 2008, p.7).
Ainda como consta no PPP, já no ano de 2001, a parceria entre estas instâncias e a
universidade só se consolida quando se dá inicio o curso Técnico em Agropecuária, destinado
a princípio para 60 jovens filhos de agricultores assentados em áreas de reforma agrária. Nos
anos de 2003 e 2004 esta parceria é renovada, sendo 58 jovens de assentamento formados
no Curso Técnico de Agropecuária e 55 passam a ser firmar como alunos regulares do curso
de Licenciatura em Ciências Agrárias. Iniciativas como estas passam a ser realizadas também
na modalidade virtual, quando é criado o curso de Especialização em Educação Básica por
Tutoria a Distância nestes mesmos anos. Segundo o que narra o projeto de criação do curso,
estas ações continuam se intensificando em anos posteriores:
No ano de 2005 foi criado um projeto de extensão, como primeira fase da atividade batizada por Residência Agrária, intitulado, ‘Qualificação de Graduados e Técnicos de Nível Superior das Ciências Agrárias para a Educação do Campo nas áreas de Reforma Agrária e Agricultura Familiar’. Este trabalho foi realizado, em parcerias com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal da Paraíba, o Centro de Formação de Tecnólogos da Universidade Federal da Paraíba, o Movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terra, (MST) e a Comissão Pastoral da Terra, (CPT). Em novembro de 2006 teve início no Campus III o curso de especialização em ‘Agricultura Familiar Camponesa e Educação do Campo’ em parceria com a Universidade Federal de Sergipe, Universidade Federal Rural de Pernambuco e Universidade Federal da Bahia. (PPP, 2008, p.8)
Esses convênios, firmados com órgãos como o INCRA e o PRONERA e com demais
instituições federais, propiciaram a compreensão alargada de que o Campus necessitava de
um curso voltado à área de Educação. Segundo Silva (2016), um dos fundadores do curso, e
também participante da comissão elaboradora do projeto, “[...] tínhamos vários convênios,
com Assentamentos, com o Movimento do MST e uma série de outras coisas, e se via muita
carência nessa área de Educação, então essas foram as motivações que geraram a criação do
curso de Pedagogia no Campus”.
Diante deste contexto, que atrelava as questões agrárias à educação, e visando dar
continuidade a essa história de formação de profissionais na área camponesa, foi que houve a
criação do Curso de Pedagogia no ano de 2006. O objetivo maior era o de formar
profissionais para atuar na área educacional, principalmente para atender a demanda que
existia na região.
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 5151
Na atualidade, no Estado da Paraíba, principalmente nas regiões de Bananeiras, Solânea, Borborema, Belém, Arara, Casserengue, Pilões [...] há uma crescente necessidade de formação de Pedagogos para atender a demanda de profissionais para atuação nas áreas de educação escolar, não escolar e do campo. Esta necessidade vem se alargando, porque, na região e nas proximidades há ausência e carência de Universidades públicas e gratuitas para formar o grande contingente de Professores(as), Coordenadores(as) pedagógicos, Gestores(as) que já atuam nas escolas mas, que ainda não tiveram a oportunidade de freqüentar um curso de nível superior. Há na região um curso de Magistério de segundo grau no qual cursam aproximadamente 700 alunos, que ao concluírem o curso podem ter a chance de ingressarem na universidade. (PPP, 2008, p.8-9)
A implantação deste curso se configurou como algo urgente, principalmente no que
diz respeito aos processos de profissionalização de sujeitos para atender às modalidades de
ensino referentes à Educação Infantil, às series iniciais do Ensino Fundamental e da
Educação Escolar do Campo, foco este que se tornaria, mais tarde, a área de concentração do
curso. Além do mais, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Nº 9394/96, em seu artigo 62º
estabelecia a obrigatoriedade de formação de docentes em nível superior, fundamentando
ainda mais a necessidade da existência de um curso de Pedagogia no Campus III, tendo em
vista que a única escola normal da cidade de Bananeiras - Professor Pedro Augusto de
Almeida4 - já não podia mais suprir devidamente a demanda desta modalidade na cidade.
Para uma das fundadoras do curso:
[...] eu fui observando que na região o único curso de Pedagogia que existia no momento era em João Pessoa, e assim..., é uma região muito ampla, porque eu trabalhava no curso de Ciências Agrárias e percebia que muitos professores da educação básica faziam o curso de Ciências Agrárias por causa da licenciatura. Só que esse curso não ajudava o professor, não o instrumentalizava para desenvolver o seu trabalho pedagógico, sua prática docente na sala de aula. [...] observando essa procura dos professores por Ciências Agrárias, muitos deles casados que não tinham essa perspectiva de sair da região para ir embora para João Pessoa... devido a isso fui criando essa sensibilidade. [...] E sendo eu dessa área da Pedagogia passei a pensar sobre isso. [...] Então na época eu fiz um projeto de extensão para trabalhar a alfabetização no Grãozinho para os professores e nesse projeto ele aglutinava alunos do curso de Ciências Agrárias para trabalhar com a alfabetização, mas eu fui observando que era muito insuficiente. O curso de Pedagogia foi pensado nesse contexto. (MACEDO, 2016).
4 Segundo Martins, Silva e Aquino (2016, p. 8) “[...] o Curso Normal, foi instituído inicialmente numa instituição
privada no Município de Bananeiras/PB. Somente no decorrer da década de 1970, deu-se a criação do Curso Normal público, nas instalações do Colégio Estadual de 1º e 2º Graus, José Rocha Sobrinho, sob a denominação ‘Curso Profissionalizante Pedagógico’. Seguindo o itinerário do Ensino Normal, em 1982 deu-se início a edificação de um prédio próprio para este nível de ensino, uma entre tantas outras exigências para a criação da Escola Normal Oficial de Bananeiras por meio do Decreto Estadual 10.121 de 27 de dezembro de 1983”, denominada assim de Escola Estadual Normal Pedro Augusto de Almeida.
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 5152
Pela fala acima, o curso de Pedagogia nasce notadamente marcado pelas necessidades
da região, delineado com uma identidade voltada ao campo. O Grãozinho5, mencionado por
Macedo, era uma unidade de educação infantil que existia dentro do Campus desde 1980,
voltado de início para atender os filhos dos funcionários. Porém, ele acaba se substanciado
mais enfaticamente por crianças da comunidade local. Hoje, o Grãozinho é considerado
Laboratório de Ensino do Curso de Pedagogia, não mais direcionado ao ensino regular de
crianças da educação infantil.
No entanto, este espaço, pelo próprio nome, já carregava em si aspectos do campo.
Essa seria uma das primeiras marcas institucionais do Centro, impressas nos sujeitos infantis
ainda no início de sua formação. Este sinal ganha expressão específica e bem delineada no
curso de Pedagogia quando no item ‘habilitação’ do PPP há definido o perfil de aluno que se
deseja formar, habilitado para o Magistério e para a Educação escolar do Campo.
Quando a gente estava fazendo o levantamento das necessidades da região para criação do curso, a gente fez essa descoberta de que na época havia na região de Bananeiras 44 escolas, somente 2 estavam localizadas no perímetro urbano, todas as outras estavam no campo. Nas outras regiões também, não somente aqui em Bananeiras, mas em outras cidades há a necessidade de se pensar um pouco sobre a especificidade das escolas multisseriadas localizadas no campo, por isso a área de concentração do curso de Pedagogia é na educação escolar do campo. (MACEDO, 2016).
Tal escolha pela área de concentração deve-se tanto pelo contexto de carências
existentes nesta especificidade do conhecimento em Bananeiras e cidades vizinhas, como
pela falta de profissionais qualificados, metodologias de ensino que favorecessem os aspectos
cognitivos e culturais do alunado desta região. A criação do curso de Pedagogia justificou-se
tanto pela natureza acadêmica, como também pela necessidade de uma intervenção social no
meio em que o Campus III estava inserido
No entanto, criar um curso não é algo tão simples assim. Simboliza planejamento
antecipado no PDI6 da Universidade, gerenciamento de apoio quanto à criação, elaboração de
projeto pedagógico curricular concernente com a legislação específica, contratação de
professores e tantas outras realizações que chegam a contemplar até a infraestrutura do
5 Esta instituição tem sido estudada por Janiely da Costa Cunha. Orientada por nós, a monografia intitula-se "De
Escola a Laboratório de Ensino: as múltiplas facetas históricas do ‘Grãozinho’ (1986-2016)”. 6 Plano de Desenvolvimento – PDI é elaborado para um período de 5 (cinco) anos. “[...] é o documento que
identifica a Instituição de Ensino Superior (IES), no que diz respeito à sua filosofia de trabalho, à missão a que se propõe, às diretrizes pedagógicas que orientam suas ações, à sua estrutura organizacional e às atividades acadêmicas que desenvolve e/ou que pretende desenvolver”. Disponível em: <http://www2.mec.gov.br/sapiens/pdi.html>. Acesso em 01/11/2016. Confira o PDI na UFPB, para os anos de 2014 a 2018, no seguinte endereço <http://www.ufpb.br/sites/default/files/pdfs/PDI%20UFPB%202014-2018_Final3%20-27.05.pdf>.
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 5153
Campus. Apesar da necessidade de existência de um curso com estas características no
Centro, constatamos que havia falta de apoio institucional para sua criação:
O curso não era muito bem visto não, sua ideia de criação... inclusive o próprio reitor na época - se eu não me engano era Polari - não o via com muita simpatia. Justamente porque ele tinha um perfil estabelecido para o Centro de Bananeiras e ele imaginava que o curso de Pedagogia fugia um pouco desse percurso. Então o curso de Pedagogia foi uma coisa fora do planejado, você sentia isso, aquela coisa que não se manifestava oficialmente, mas existiam rumores até mesmo entre o alunado, que questionava porque a gente iria criar esse curso aqui? Era uma coisa vista com pouca simpatia. (SILVA, 2016).
Esta narração nos leva a refletir que o projeto de criação do curso partiu de lutas
específicas e isoladas. Sobre estas lutas Macedo (2016) ainda descreve que a inspiração de
implantação do curso partiu de uma comissão constituída por três professores, e que teria o
auxílio do então chefe de departamento na época, professor Luiz Felipe de Araújo.
[...] na época o chefe de departamento era Felipe e eu compartilhei com ele essas intenções que surgiram a partir do olhar a cerca dessas necessidades de formação desses professores, então ele me apoiou bastante. Ele fez o registro no Plano de Desenvolvimento da Instituição (PDI), como um projeto para ser executado no contexto desse plano, e em 2006 a gente começou a fazer o projeto. [...] Depois foi divulgado a Lei de Diretrizes e Bases do curso de Pedagogia e a gente teve que desfazer um pouco desse projeto e ajustá-lo a essas diretrizes. O ano de 2006 foi um ano de dedicação a esse projeto, de idas e vindas para João Pessoa [...], na verdade foram três professores que integraram essa comissão para elaboração do curso de Pedagogia: Kilder, Socorro Queiroga e eu. (MACEDO, 2016)
Acreditamos que Macedo deva está fazendo relação ao Parecer CNE/CP nº 5/2005,
que inclui a emenda retificativa constante do Parecer CNE/CP nº 3/2006, quando resolve,
em seu Art. 1º que “institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em
Pedagogia, licenciatura, definindo princípios, condições de ensino e de aprendizagem,
procedimentos a serem observados em seu planejamento e avaliação, pelos órgãos dos
sistemas de ensino e pelas instituições de educação superior do país” 7. A publicação destes
artigos no mesmo ano de produção do PPP do curso de Pedagogia deve ter alterado sua
redação.
7 Ainda nestes termos explicitados nos Pareceres CNE/CP nos 5/2005 e 3/2006, em seu Art. 2º temos: “As
Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia aplicam-se à formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf>. Acesso em 29/10/2106
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 5154
Este projeto não ganhou o apoio do Centro, inclusive pela compreensão que o curso
de Pedagogia poderia descaracterizar uma identidade construída historicamente para o
CCHSA, ligada ao que é agrário e rural. Dizemos historicamente, por que o CAVN nasce como
um patronato agrícola, uma instituição federal voltada ao ensino agrícola e a formação
disciplinar de meninos. O curso de Pedagogia traz, desde sua gênese, uma forte adesão de
meninas advindas do magistério e até hoje lida com questões de gênero que envolve desde a
‘feminização do magistério’ ao ‘retorno do homem a esse magistério’. Sua existência no
Campus abriria a oportunidade para atender um público mais diversificado, ampliando a
existência de outras tensões simbólicas.
Ainda no que compete a estas tensões históricas muitas outras podem estar ligadas a
este processo de implantação do curso, entre elas:
Sobre as tensões, na época a gente era de um departamento que estava composto por professores do curso de Administração e professores que trabalhavam na licenciatura em Ciências Agrárias. E quando o curso de Pedagogia vai nascendo, muitos professores desta licenciatura vão para o curso de Pedagogia... Nessa época eu observava muitas tensões, pois o reitor Polari não concordava com esse curso de Pedagogia aqui, por essa justificativa de ser um campus agrário e que o curso seria dissonante em relação a essa demanda pela questão agrária. E aí a gente observa um link também com o agrário no contexto de um território também agrário, porque as escolas estão inseridas nesse contexto do campo. Por isso é que a gente vai trabalhar também com essa educação do campo. [...] Quando a gente estava trabalhando no projeto do curso outros professores também chegaram e diziam: “mas olha o reitor não concorda com esse curso”, mas só que o curso já estava registrado no PDI, aí eu acho que foi dado condição por esse registro. (MACEDO, 2016)
O Campus esteve permeado por três Departamentos, 0 DCBS (Departamento de
Ciências Básicas e Sociais), DAP (Departamento de Agropecuária) e o DTR (Departamento de
Tecnologia Rural). Com a chegada dos cursos de Administração e Pedagogia em 2006 esta
configuração foi redefinida, se modificando ainda mais com o passar dos anos. O DCBS se
fragmenta em DSCA (Departamento de Ciências Sociais Aplicadas) e DE (Departamento de
Educação). O DAP se reconfigura com a chegada do curso de Agroecologia, se desmembrando
em DCA (Departamento de Ciência Animal) e DA (Departamento de Agroecologia). Já o DTR
passa a ser redefinido como DGTA (Departamento de Gestão e tecnologia agroindustrial).
É por meio deste desenho, com suas divisões administrativas, que conseguimos
compreender os focos de trabalho que são desenvolvidos no Centro, estando o Departamento
de Educação, criado no ano de 2011, como o único a se destacar nas questões voltadas no
âmbito dos processos educativos. Neste sentido, antes desta atual configuração, a fala de
Macedo retrata a convivência de três coordenações em um mesmo Departamento, o DSCA, e
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 5155
as disputas e relações de poder que nele eram vivenciadas. Aquino (2016) endossa esta
discussão quando expressa que estas tensões partiam na verdade da disputa por vagas entre
estes cursos:
Não me recordo de conflitos, não necessariamente conflitos. Quando eu cheguei aqui existia o curso de Administração e o curso de Pedagogia, eles eram componentes de um mesmo Departamento que era o Departamento de Ciências Sociais Aplicadas – DCSA. Então a gente sabe que existia anteriormente a nossa chegada conflitos decorrentes exatamente da disputa por vagas entre coordenadores de cursos, porque as vagas eram do DCSA, então percebia-se que existiam dois coordenadores ali disputando aquelas vagas. E nem sempre essas disputas eram cordiais, às vezes elas transcendiam.
Ao ser criado, o curso de Pedagogia ficou lotado, como já mencionamos, no DCSA e
passou a dividir o âmbito das discussões com os cursos de Administração e Ciências Agrárias.
No entanto, as demandas e os interesses eram diversos, se tinham três coordenações em um
mesmo departamento, as propostas não convergiam para um mesmo fim, principalmente
quando a discussão envolvia vagas para concurso. O curso de Pedagogia, recém chegado,
carecia da contratação de novos professores e para pleiteá-las assumiu diversas disciplinas
em outros cursos.
QUADRO 1 – CORPO DE DOCENTES (2008)
CORPO DOCENTE FORMAÇÃO
Cícero Agra (professor substituto) Historiador
Diogo Fernandes dos Silva Sociólogo
Edson Brito Guedes Filósofo
Francisca Alexandre de Lima Pedagoga
Geralda Macedo Pedagoga
Kilder Silva Sociólogo
Luciene Chaves de Aquino Pedagoga
Luís Felipe de Araújo Matemático
Maria Aparecida Valentim Afonso Pedagoga
Fonte: Quadro elaborado pela autora, 2016.
A tabela acima expõe os professores que compunham o corpo docente do curso no ano
de 2008. Era uma média de cinquenta componentes curriculares obrigatórios, dezenove
complementares e cinco flexíveis, o que perfazia uma carga horária alta para cada docente.
Mesmo que em 2006 o curso tivesse ofertado apenas uma turma noturna, com quarenta
vagas, no período seguinte, já em 2007, ele passaria a ter também mais uma turma diurna,
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 5156
com cinqüenta vagas, o que levaria no ano de 2008 a uma média de 220 alunos no curso para
nove professores.
Essa demanda acabaria justificando a aquisição de novas vagas para concurso e gerou
a contratação de novos professores em 20098. Já no ano de 2010 sete novas contratações
aconteceriam, ampliando o escopo para o qual o curso estava destinado, agora atendendo
componentes curriculares dos demais cursos existentes no campus9. Sua existência hoje no
Centro ampara o desenvolvimento de todas as atividades atreladas a educação.
No entanto, ainda no período de sua criação, sua existência não era bem vista, é o que
relata Macedo quando cita:
Na época eu não vi oposição de ninguém aqui do campus quanto a fundação do curso, não observei oposição de fato, mas era interessante você observar o reitor se posicionando contra, ele começa a chamar atenção das pessoas para ser colocar contra também. Era um contra velado, ele não se manifestava, mas ficava indiferente. [...] e depois outros professores, que até então não se posicionavam contra, passariam a questionar: “vocês vão criar um curso onde o reitor é contra?”. (MACEDO, 2016)
A indiferença do próprio reitor da universidade geraria um posicionamento contrário
a existência do curso. A criação de cursos em centros universitários deve acatar mais que
posicionamentos políticos, precisa considerar a necessidade da região onde o mesmo está
inserido. Como nos aponta Macedo (2016)
[...] eu achei interessante, porque sou muito amiga dos coordenadores de curso e teve momentos que eu chorei bastante na frente deles falando dessa indiferença do reitor. De fato, eu localizei bastante essa indiferença deles de não perguntar mais pelo curso, não perguntar como estava sendo esse projeto. E aí eu ficava em silêncio diante disso, mas continuava trabalhando. Fui várias vezes em João Pessoa, ía no nosso carro usando nosso combustível, sem apoio. O pró-reitor de graduação veio aqui e fez uma abertura de uma etapa acadêmica [...] ele revelou que não era a favor na época desse curso. Então, o que eu vejo é que o reitor da universidade tem que estar aberto às necessidades da população e não se fechar para o campus.
No que concerne a criação de cursos de graduação, a Resolução Nº 16/2015 do
CONSEPE10 aprova o Regulamento dos Cursos Regulares de Graduação da Universidade
8 No ano de 2009 mais quatro professores chegariam ao curso, e em 2010 mais sete novos professores. Já em
2011, o corpo docente se ampliaria ainda mais, com a chegada de dois professores. Atualmente, o curso conta com 22professores efetivos em seu corpo docente.
9 Atualmente 104 componentes estão lotados no Departamento de Educação, do qual o curso de Pedagogia faz parte.
10 Esta resolução foi utilizada por nós porque reúne as resoluções anteriores sobre a criação de cursos superiores na UFPB, estando todas as anteriores disponíveis no seguinte endereço eletrônico: <file:///C:/Users/PVL/Downloads/Rsep16_2015.pdf>.
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 5157
Federal da Paraíba, apontando o seguinte em seu capítulo II, sobre a criação, suspensão e
extinção de cursos de graduação:
Art. 9º O processo de criação de um curso de graduação tem início nas unidades referidas no artigo 5º, mediante deliberação favorável dos respectivos órgãos colegiados. § 1º. A disponibilização da infraestrutura necessária à implantação e funcionamento do curso de graduação compete às unidades de vinculação. [...]. Art. 10 Compete à Pró-Reitoria de Graduação prestar assessoramento didático-pedagógico durante a elaboração do projeto de criação do curso, devendo, ainda, emitir parecer quanto à sua criação. Art. 11 Cabe ao CONSUNI autorizar a criação, suspensão ou extinção de curso. Art. 12 Cabe ao CONSEPE criar, suspender ou extinguir curso. (Resolução Nº 16/2015 do CONSEPE/UFPB)
Neste aspecto, era dever da pró-reitoria prestar assessoramento para a elaboração do
PPP do curso. Além disto, o processo de criação de um curso numa instituição superior é
produto de uma interação contínua e dinâmica entre os conhecimentos implícito e explícito
existentes no Projeto Pedagógico Institucional (PPI)11 da Universidade. Nesta mesma
Resolução, em seu Capítulo I, referente à “Elaboração dos projetos pedagógicos de cursos”,
existe o seguinte condicionamento:
Art. 14 Os Projetos Pedagógicos dos Cursos de Graduação (PPP) presenciais e a distância da UFPB expressam os principais parâmetros para a ação educativa, por meio de um conjunto de ações sócio-políticas e técnico-pedagógicas, garantindo a formação global e crítica do indivíduo, como forma de capacitá-lo para o exercício da cidadania, e tomam por base: I - a política de ensino, pesquisa e extensão de graduação desta Universidade; 12 II - o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) e o Projeto Pedagógico Institucional (PPI) da UFPB; III - os dispositivos fixados no Regimento Geral da Universidade; IV. As normas emanadas dos órgãos educacionais nacionais referentes às diretrizes curriculares dos Cursos de Graduação e dos Cursos Superiores de Tecnologia e Seqüenciais. (Resolução Nº 16/2015 do CONSEPE/UFPB)
Diante desta conjuntura, o cenário se mostrava adequado para a criação do curso de
Pedagogia. A falta de apoio institucional e as questões que cercavam a vinda de vagas para o
Centro só endossavam as tensões existentes. O número reduzido do corpo docente do curso
levava a solicitação de professores de outros cursos para atuar em Pedagogia, substanciando
ainda mais estes conflitos:
Na implantação do curso tinham alguns professores que eram da licenciatura em Ciências Agrárias. Professores do Colégio também auxiliaram, como Edson e Diogo. [...] Essa dificuldade de conseguir professores no início foi
11 O Projeto Pedagógico Institucional (PPI) compreende os seguintes aspectos: “Política de Ensino, Política de
Pesquisa, Política de Extensão, Política de Assistência e Promoção Estudantil, Política de Gestão, Responsabilidade Socioambiental da Instituição, Integração Universidade-Setor Produtivo”. Ele se encontra disponível no PDI da Universidade.
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 5158
uma realidade aqui. Foi muito difícil suprir essa quantidade de professores. Veio uma leva de concursos, acho que a professora Luciene foi uma das primeiras a ser contratada especificamente para o curso de Pedagogia, e posteriormente houve a contratação de vários outros com as vagas advindas do REUNI, um programa do governo federal. Foi nesse contexto que vieram outros concursos, e o curso de Pedagogia passou a ter um quadro bom de professores. (SILVA, 2016)
Como mencionou Silva (2016), Luciene Aquino foi uma das primeiras professoras
contratadas, ocupando a vaga do concurso para a área de História da Educação. Ela também
fez parte do nosso rol de sujeitos entrevistados, e traz suas memórias abaixo sobre este
momento vivenciado.
[...] quando eu cheguei aqui já tinha um professor substituto que estava ministrando a disciplina de História da Educação, que era o professor Cícero Agra. Ele é historiador e tinha afinidade acadêmica e teórica com essa disciplina. Como eu sou pedagoga e tinham outras disciplinas sem professor [...] fui ensinar Currículo. Eles estavam no 3º e 4º período, porque era um curso noturno, na época só tinha duas turmas noturnas. Mas, foi um início de muita dificuldade, até mesmo nessa questão da distribuição das disciplinas. Quem estava aqui e era do curso de Pedagogia mesmo eram os professores Geralda, Edson Brito, Cícero Agra, Diogo e Socorro Queiroga. Eles foram, quando eu cheguei, o corpo docente do curso. Depois chegou eu, a professora Aparecida Valentim e a professora Francisca Alexandre, nós três. A medida que as disciplinas precisavam ser ofertadas eram distribuídas entre a gente, independente do que a gente ensinava ou para o que fez o concurso. (AQUINO, 2016)
Para além destas questões, foi também a infraestrutura do campus mais um elemento
dificultador desta consolidação do curso. É o que também aponta Aquino (2016):
Quando nós chegamos aqui não existiam laboratórios, não existia brinquedoteca... existia apenas a sala de coordenação, mal equipada. Nós funcionamos por algum tempo sem uma impressora e passamos tempos difíceis. [...] As aulas aconteciam no CAVN, naquele pavilhão superior. Ficamos mais ou menos um ano e meio por lá. Nesse período foi edificado aquele prédio que é chamado de “bloco vermelho” - Alcides Marcelino - aí nós ficamos dando aula lá por volta de um ano e meio, dois anos [...]. Os laboratórios foram criados a partir de uma verba que veio para criar esses prédios aqui da segunda Chã. A gente fez um levantamento de material para equipar esses laboratórios, o de informática e o de Multimeios. A brinquedoteca só foi criada mediante os preparativos para a avaliação do curso de Pedagogia pelo MEC [...] (AQUINO, 2016)
As aulas aconteciam em um bloco de aulas voltado para todos os cursos. Foi apenas
em maio de 2012 que os cursos de Agroecologia, Administração e Pedagogia ganhariam
prédios próprios, construídos com verbas do programa Reuni na Segunda Chã, terreno
situado dentro da Universidade. Problemas como estes só seriam parcialmente solucionados
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 5159
quando houve a primeira avaliação do curso pelo MEC12, e sobre ela nos deteremos melhor a
seguir.
As marcas institucionais de uma formação
Em busca pelo reconhecimento do curso, fruto de uma política de avaliação da
qualidade do ensino superior no Brasil, foi que em meados do mês de abril de 2011 o Campus
III recebeu a visita de uma comissão representativa do MEC13. Tal reconhecimento é
obrigatório quando o curso de graduação tem completado 50% de sua carga horária, sendo
condição necessária para a validade nacional dos diplomas emitidos.
No item que caracteriza a instituição, o relatório de avaliação descreve a estrutura
multicampi da UFPB e destaca que entre os Campi “Especificamente, o campus III,
Bananeiras - Centro de Ciências Humanas Sociais e Agrárias - CCHSA, centra-se na formação
tecnológica, de característica voltada para as ciências agrárias, prioritariamente” (Relatório
de avaliação do MEC, 2011). No período de sua visita “[...] o curso tinha 235 estudantes
regularmente matriculados e contava com o trabalho de 20 professores” (Idem). O curso não
contava ainda com Diretório Acadêmico e não havia representação discente em outras
instâncias colegiadas. Vivenciando mais este momento, já com a nova coordenação de curso,
o curso de Pedagogia passa a ser avaliado. Sobre isso comenta a coordenadora da época:
Pra gente naquela época foi decepcionante, porque pouco tempo antes tinha acontecido a avaliação de Pedagogia dos Campus de João Pessoa e Mamanguape, eles têm uma história muito parecida com a nossa, porque a criação foi muito próxima. Os três cursos enfrentavam os mesmos problemas institucionais, inclusive o que associava a contabilização da carga horária, fator considerado grave em nossa avaliação. A computação de toda a nossa carga horária estava de acordo com a Lei, inclusive ultrapassa o que sugere a regulamentação, mas a distribuição das disciplinas dentro dessa carga horária é que não estava condizente com o que a legislação pedia. Esse era um erro nosso, mas também de João Pessoa e Mamanguape, e para nossa surpresa, Mamanguape não foi penalizado com esse erro e João Pessoa também não. João Pessoa ficou com nota 4, Mamanguape com nota 5 e somente a equipe que veio pra Bananeiras foi que viu o erro e nos penalizou por ele, nos dando nota 3.0. (BARBOSA, 2016)
12 Esta questão da Infraestrutura ainda foi elemento de análise do Instrumento de avaliação do MEC, no ano de
2011, ao apontar: “Os espaços físicos utilizados atendem adequadamente. A IES possui auditórios e salas de multimeios, com dispositivos de imagem e som, multimídia e informática, que podem ser acessados por todos os acadêmicos, para estudo e pesquisa, correspondendo aos objetivos e especificidades do Curso. O ambiente contém condições de acesso para sujeitos com necessidades especiais. Possui três laboratórios de Informática, uma brinquedoteca (que está sendo implementada). Há, vinculada à IES, uma escola de Educação Infantil, na qual são realizadas atividades de estágio e monitoria do Curso. [...]”. (Relatório de Avaliação do MEC, 2011, p.4)
13 Foram os Avaliadores "ad-hoc" Liliana Soares Ferreira e Glaúcia Signorelli de Queiroz Gonçalves.
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 5160
O PPP do curso apresentava uma matriz curricular com 3.210h de carga horária,
sendo um total de 1.680h de conteúdos básicos profissionais, 1.140h de conteúdos
complementares obrigatórios, 120h de conteúdos complementares optativos e 270h de
conteúdos complementares flexíveis. Esta carga horária, apesar de ultrapassar a que exigia as
Diretrizes Curriculares Nacionais, não contemplava em sua distribuição as 2.800 horas de
atividades formativas. Segundo Barbosa (2016), este item somado a não existência do
componente de Libras no currículo ocasionara a nota inferior aos demais cursos de
Pedagogia avaliados nos Campus da UFPB.
Além deste, outros critérios seriam considerados para a avaliação do curso, dentre
eles o que são denominados pelo Instrumento como “dimensões”. Elas se caracterizam da
seguinte forma:
Dimensão 1 – Organização didático Pedagógica do curso (envolvendo: 1.1. Perfil do egresso/ 1.2. Objetivos do curso/ 1.3. Metodologia/ 1.4. Matriz curricular/ 1.5. Conteúdos curriculares/ 1.6. Coerência da bibliografia/ 1.7. Processo de avaliação da aprendizagem/ 1.8. Alfabetização e letramento/ 1.9. Integração do aluno à prática educativa/1.10. Integração com os sistemas públicos de ensino Municipal, Estadual e Distrito Federal/ 1.11. Estágio supervisionado/ 1.12. Atividades complementares/ 1.13. Atendimento ao discente/ 1.14. Número de vagas / 1.15. Autoavaliação do curso). Dimensão 2 – Corpo Docente (envolvendo: 2.1. Composição e atuação do NDE/ 2.2. Titulação acadêmica do NDE/ 2.3. Titulação, formação acadêmica e experiência do coordenador de curso/ 2.4. Titulação acadêmica do corpo docente / 2.5. Experiência no exercício da docência na educação infantil ou nos anos iniciais do ensino fundamental/ 2.6. Experiência de docência na educação superior/ 2.7. Regime de trabalho/ 2.8. Números de vagas anuais autorizadas por docente equivalente a tempo integral (ver glossário)/ 2.9. Produção científica/ 2.10. Número médio de disciplinas por docente/ 2.11. Composição e funcionamento do colegiado de curso ou equivalente) Dimensão 3 – Instalação Física (envolvendo: 3.1. Sala de professores e sala de reuniões/ 3.2. Gabinetes de trabalho para professores/ 3.3. Salas de aula / 3.4. Acesso dos alunos a equipamentos de informática/ 3.5. Registros acadêmicos/ 3.6. Livros da bibliografia básica/ 3.7. Livros da bibliografia complementar/ 3.8. Periódicos especializados/ 3.9. Informatização da biblioteca/ 3.10. Acervo multimídia/ 3.11. Ambientes para estudo em grupo e individual/ 3.12. Brinquedoteca/ 3.13. Laboratórios de ensino)
O relatório destaca ainda outros itens considerados problemas para a avaliação: “1.
Que o PPC não descreve bibliografias básicas, nem complementares”; “2. Que na Biblioteca
foram encontradas, tombadas no acervo, obras em quantidade inferior à proporção entre
exemplares e quantidade de estudantes”. 3. “Que não foram encontrados periódicos
impressos especializados na área de Educação” (Relatório de avaliação do MEC, 2011).
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 5161
Considerando estes aspectos e outros anunciados nas dimensões citadas a nota obtida pelo
curso de Pedagogia em 2011 foi 3 (três). Mesmo com todos os processos empenhados para
que tal pontuação fosse revista, a nota permaneceu a mesma.
Neste contexto, temos que a nota máxima que pode ser adquirida em avaliações como
estas é de 5 (cinco); e a nota que desclassifica um curso, podendo rebaixá-lo e talvez extingui-
lo, seria de 2 (dois). O 3 (três) seria uma nota satisfatória para que o curso continuasse sendo
ofertado, mas chama atenção para questões que precisariam ser revistas e reajustadas para o
melhor desempenho do curso. Como apontamentos conclusivos da aplicação deste
instrumento no Curso, destacou-se:
Esta Comissão, tendo realizado as ações preliminares de avaliação, as considerações sobre cada uma das três dimensões avaliadas e sobre os requisitos legais, todas integrantes deste relatório, e considerando também os referenciais de qualidade dispostos na legislação vigente, atribui os seguintes conceitos por dimensão: Dimensão 01 – 3; Dimensão 02 – 4; Dimensão 03 – 3. Portanto, o Curso de Pedagogia apresenta um perfil satisfatório (conceito final 3,0) de qualidade. (Relatório de avaliação do MEC, 2011, p.12)
Das dimensões apreciadas, a que obteve maior nota foi a que correspondia ao corpo
docente, estando as demais notas consideradas “satisfatórias”. O mesmo instrumento,
conclui ainda que as marcas deixadas pelo curso em seu graduado/a correspondem a um
perfil do egresso que descreve “[...] um profissional reflexivo, que atue na ação docente,
sendo agente de transformação e esteja sensível à educação do campo, que é o enfoque dado
ao Curso, conforme se pode observar na matriz curricular e no PPC” (Relatório de Avaliação
do MEC, 2011, p.6).
Outra marca efetiva do curso tem sido a realização dos Encontros de Pedagogia.
Geralmente, eles costumam ser anuais e agregam os trabalhos acadêmicos de discentes do
curso, como também de professores da Educação Básica das cidades circunvizinhas. É um
evento que acontece com recursos limitados, geralmente provenientes de suas inscrições. No
entanto, envolve grande número de alunos e docentes, que organizados em comissões
realizam o Encontro.
Tais comissões variam desde a de “Orçamento e Finanças” às comissões de “Logística
e Infraestrutura”, “Cerimonial”, “Recepção e Credenciamento”, “Comunicação e Mídias”,
“Editorial e Sociocultural”. Todas elas compostas por alunos. No quadro a seguir constam as
temáticas de discussão existentes nos seis eventos realizados até então:
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 5162
QUADRO 2 – ENCONTRO DE PEDAGOGIA
Fonte: Quadro elaborado pela autora, 2016.
O Encontro contribui para a socialização do conhecimento e para o diálogo constante
que deve ocorrer entre o Ensino Superior e a Educação Básica. Da mesma forma que, como
aponta Aquino (2016), tem sua carga-horária aproveitada nos componentes flexíveis14. Eles
foram bem quistos pelo instrumento de avaliação do MEC (2011, p.3) e descritos da seguinte
forma: “Anualmente, o curso promove um Encontro de Pedagogia, em 2011 ocorrerá sua
quarta edição. A cada Encontro uma temática é discutida. A síntese da terceira edição foi
publicada em um livro: Educação Escolar do Campo e Direitos Humanos”. (Avaliação
Institucional do MEC, 2011, p.3).
Apesar de percebemos um intervalo de aproximadamente dois anos sem a existência
do Encontro, desde a fundação do curso até os dias atuais, é perceptível que este evento já se
tornou umas das marcas significativas da formação do curso sobre seus discentes. Como mais
um meio de divulgação das atividades de ensino, pesquisa e extensão realizadas pelo Centro.
Uma das diversas marcas ainda deixadas pelo curso na identidade do docente em formação
pode ser percebida na estrutura curricular do curso, tendo entre seus componentes a
Pesquisa e Prática em Educação do Campo e o Estágio em Educação do Campo. Estas
14 Os conteúdos complementares flexíveis (Tópicos Especiais em Educação I e II) encontram-se em acordo com a
resolução no 34/2004 do CONSEPE e perfazem uma carga horária de 105h em 07 créditos, ocorrendo ao longo do Curso e regido por resolução interna do curso 01/2011. Esses conteúdos são compostos por Atividades de Pesquisa, Extensão e Monitoria, em situação de bolsista ou voluntariado; curso de extensão universitária; componentes livres escolhidos pelo aluno entre as disciplinas oferecidas em outros cursos de graduação, em áreas a fins, contemplando conteúdos de aprofundamento na área da Educação; participação e/ou apresentação de trabalhos em congressos, encontros, exposições, jornadas, colóquios, seminários, cursos, oficinas, workshops e outras atividades similares, que tratem da área da Educação ou áreas afins. (PPC, 2012, p.73).
EDIÇÃO TEMÁTICA PERÍODO DE REALIZAÇÃO
I Encontro de Pedagogia
Formação Docente: Experiências Educacionais em Espaços Formais e Não
Formais; De 22 a 24 de outubro de 2008
II Encontro de Pedagogia
Educação Escolar do Campo e Direitos Humanos
De 17, 18 e 19 de novembro de 2009
III Encontro de Pedagogia
Educação Infantil: Das Práticas Pedagógicas às Políticas Púbicas
De 17 a 19 de novembro de 2010
IV Encontro de Pedagogia
Práticas Educativas, Culturas e Diversidades De 05 a 07 de dezembro de 2011
V Encontro de Pedagogia
Docência e Práticas Educativas De 18, 19 e 20 de novembro de 2014
VI Encontro de Pedagogia
Leituras e Transversalidades 20, 21 e 22 de setembro de 2016
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 5163
disciplinas envolvem o período final da formação do/a pedagogo/a em Bananeiras. No
âmbito da prática, o estágio traz a seguinte ementa:
Estágio Supervisionado V – Docência em escolas do Campo EMENTA: Estudo avaliativo sobre a prática pedagógica das escolas do Campo objeto do próprio estágio, considerando as implicações teórico-metodológicas relacionadas às questões de observação e prática do estágio, enquanto situação de aprendizagem da sistematização da prática pedagógica, caracterização e avaliação da participação do estagiário enquanto sujeito da formação no processo de desenvolvimento do estágio.
A existência destes componentes curriculares, associados ao contexto em que se
insere o curso de Pedagogia do Campus III, deixa marcas indeléveis na formação do/a
pedagogo/a, é o que demonstra, por fim, o PPP, ao traçar o perfil do egresso quando intenta
prepará-los para:
- Planejar executar, coordenar, acompanhar e avaliar atividades no âmbito da educação escolar e não escolar. - Produzir e divulgar conhecimento científico-tecnológico do campo educacional, em contextos escolares do campo e cidade e em contextos não-escolares. - Formar educadores para atuação específica junto às populações que trabalham e vivem no e do campo, no âmbito das diferentes etapas e modalidades da Educação Infantil e Fundamental, e da diversidade de ações pedagógicas necessárias para concretizá-la como direito humano e como ferramenta de desenvolvimento social. - Contribuir na construção de alternativas de organização do trabalho escolar e pedagógico que permitam o desenvolvimento do ensino da educação Infantil e Fundamental no e do campo, com a rapidez e a qualidade exigidas pela dinâmica social em que seus sujeitos se inserem e pela histórica desigualdade que sofrem. - Estimular ações articuladas de ensino, de pesquisa e de extensão voltadas para demandas da Educação do Campo e educação com características urbanas. - Formar educadores para atuação na educação básica em escolas do campo tornando-os aptos a fazer a gestão de processos educativos e a desenvolver estratégias pedagógicas que visem a formação de sujeitos humanos autônomos e criativos capazes de produzir soluções para questões inerentes a sua realidade, vinculadas à construção de um projeto de desenvolvimento sustentável de campo e de país. (PPP, 2008, p.18) Os destaques em itálico são nossos.
Desta forma, temos que o/a licenciado/a em Pedagogia do Campus III deva ser o/a
professor/a que executa suas atividades pautadas em um planejamento amplo, direcionado
para as necessidades pedagógicas e sociais dos espaços urbanos mas também rurais, e que
tem na sua atuação a especificidade da formação para a Educação do Campo.
É com o desenhar do perfil do egresso que finalizamos este artigo, cientes que
teríamos muito mais a tratar. Acreditamos que conseguimos dar relevo as marcas identitárias
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 5164
da cidade de Bananeiras que perpassam o Campus III tanto quanto alicerçam o curso de
Pedagogia. Porém, ainda cremos que o mesmo consegue estabelecer uma virada identitária
quando associa o agrário à formação do/a pedagogo/a – educador/a social, para além das
profissões técnicas. Neste mesmo sentido, ele consegue corresponder a uma forte demanda
que existia na região, ampliando a formação de profissionais docentes para além da cidade de
Bananeiras/PB.
Esta discussão ainda nos permitiu perceber que as marcas de formação que ora
tratamos estão relacionadas entre si, possuem uma ligação que contempla todo o cenário de
fundação do curso, com as tensões e conflitos, mas também com as conquistas e a abertura
para um cenário mais amplo à presença de novas Licenciaturas no Centro. Ainda neste
percurso, percebemos que estas marcas talhadas na história do Curso de Pedagogia estão
presentes em alunos e em professores, na formação de cada uma destas identidades, estão
presentes nas relações que se deram e que ainda estão por vir. São insígnias que marcam
tanto os professores que vivenciaram tal implementação (nas incertezas, sentimentos de luta
e afirmação, desejos de estabilização de uma vida profissional) quanto os alunos que
iniciaram pela primeira vez um curso superior, que se identificam com a docência e que
contribuirão a posteriori com o desenvolvimento da educação em seus municípios de origem.
Contemplam ainda os anseios de professores que ainda estão por vir e que também farão
parte da história deste curso que acaba de completar uma década de existência.
Referências
ALMEIDA, Luana Costa. O Curso de Pedagogia da Unicamp: Marcas de Formação. Campinas, SP:[s.n] 2007. ALBERTI, Verena. Manual de História oral. 2 ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2004. BRASIL. MEC/CNE. Resolução CNE/CP 1/2006. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura. BRASIL. LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. No. 9394/96, Brasília, 1996. ___. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura - Resolução CNE/CP 1/2006. Diário Oficial da União, Brasília, 16 de maio de 2006.
Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 5165
FURLAN, Cacilda Mendes Andrade. História do Curso de Pedagogia no Brasil: 1939-2005. In: CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – EDUCERE, 8, 2008, Curitiba. Anais... Curitiba, 2008. Projeto Político Pedagógico. Curso de Pedagogia. Bananeiras, 2008. PROJETO Pedagógico Curricular. Curso de Pedagogia. Bananeiras, 2012. RAMOS, Aleilma Gonçalves. ’As marcas de uma formação’: uma versão da história de criação para o curso de Pedagogia da UFPB/CCHSA (2006-2008). Monografia (Pedagogia) - Universidade Federal da Paraíba, Bananeiras, 2016. MARTINS, Eliana; SILVA, Israiane Alves; AQUINO, Luciene Chaves. A história da formação docente em Bananeiras/PB: a instituição do curso normal no Colégio Sagrado Coração de Jesus. Disponível em: <http://www.prac.ufpb.br/anais/XIIIENEX_XIENID/ENEX/PROBEX/ARTIDO/4>. Acesso em: 03/03/2017. MEC. Relatório de Avaliação do Curso de Pedagogia –UFPB .Bananeiras, 2011.
Entrevistas
AQUINO, L.C. (2016), BARBOSA, R.C. (2016), MACEDO, G. (2016), SILVA, K. (2016)