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Brasil Governo Federal Ministério do Esporte
Universidade de Brasília – UnB Centro de Ensino a Distância – CEAD
Especialização em Esporte Escolar
Comparação entre as principais metodologias de ensino da Educação Física utilizadas no Programa
Segundo Tempo
Por:
Prof. Estevão Cunha da Trindade
Orientadora: Profa. Ms. Giannina do Espírito-Santo
Rio de Janeiro, 2007.
Estevão Cunha da Trindade
COMPARAÇÃO ENTRE AS PRINCIPAIS METODOLOGIAS DE ENSINO DA
EDUCAÇÃO FÍSICA UTILIZADAS NO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO
Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar.
Orientadora: Prof. Ms. Giannina do Espírito-Santo
Rio de Janeiro, 2007.
TRINDADE, Estevão Cunha
Comparação entre as principais metodologias de ensino da
Educação Física utilizadas no Programa Segundo Tempo.
xxp.
Monografia (Especialização) – Universidade de Brasília. CEAD,
2007.
1. Metodologias de Ensino 2. Esporte 3. Programa Segundo
Tempo 4. Educação Física
Estevão Cunha da Trindade
Comparação entre as principais Metodologias de ensino da Educação Física utilizadas no Programa Segundo Tempo
Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do título de
Especialista em Esporte Escolar, pelo Centro de Ensino a Distância, da
Universidade de Brasília, pela Comissão formada pelos professores:
Presidente:
Profa. Ms. Giannina do Espírito-Santo Centro Universitário Celso Lisboa
Membro:
Profa. Dra. Kátia Cristina Montenegro Passos Universidade Veiga de Almeida
Rio de Janeiro, 2007.
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Dedico este trabalho às crianças participantes do Programa em Juiz de Fora/MG que me proporcionaram momentos inesquecíveis de alegria e aprendizado. In Memoriam Frederico Carlos da Cunha Netto, meu avô pelo exemplo de dignidade, caráter e acima de tudo ser cristão.
Agradecimentos
Primeiramente a Deus por continuar me dando forças na luta diária da vida. A minha Tia Jacy pela ajuda, carinho e conforto nos momentos difíceis. A minha orientadora pela paciência que teve nas correções desse trabalho, exemplo de profissional.
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O correr da vida, embrulha tudo, A vida é assim... Esquenta, esfria, aperta e daí afrouxa, Sonega e depois desinquieta, O que ela quer da gente, é coragem...
Guimarães Rosa
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TRINDADE, E. C. Comparação entre as principais metodologias de ensino da Educação Física utilizadas no Programa Segundo Tempo. Monografia, Programa de Pós-Graduação Lato Sensu em Esporte Escolar, Centro de Educação a Distância, Universidade de Brasília, Rio de Janeiro, 2007.
RESUMO
A presente pesquisa vai comparar as principais metodologias de ensino utilizadas no PST. Vai contar sobre esse Programa desenvolvido em todo o Brasil e sua importância para as crianças participantes desse projeto do bairro de Granjas Betânia - Juiz de Fora/MG. Especificará as atividades que foram desenvolvidas, o nº. de crianças atendidas, os objetivos propostos do Projeto e contará sobre a instituição SEST/SENAT, onde foi desenvolvido o PST. Apresentará uma breve explicação das principais metodologias de ensino da educação física utilizadas no planejamento das atividades. Esse estudo procurou comparar essas metodologias com base em uma pesquisa respondida por 30 crianças, na faixa etária de 13 e 14 anos, de ambos os sexos através de um questionário composto por sete perguntas, com o intuito de analisar e verificar suas preferências esportivas e o método de ensino melhor aceito pelos alunos. As respostas das crianças foram apresentadas em gráficos e seus resultados foram discutidos por meio de embasamento teórico dos principais autores da área de Educação Física, propondo com isso investigar sobre que tipo de metodologia seria mais adequada para utilização nesse tipo de Projeto. Nos resultados verificou-se a preferência das crianças na metodologia Crítico-superadora do Coletivo de Autores e a partir disso foram colocados embasamentos teóricos explicando o porquê dessa preferência. Palavras-chave: Metodologias de Ensino. Esporte. Programa Segundo tempo. Educação Física.
viii
TRINDADE, E. C. Comparison among the main methodologies of teaching of the physical education used in the Program Second Time. Monograph, Program of Broad Masters degree Lato Sensu in School Sport, Center of Education the Distance, Universidade de Brasília, Rio de Janeiro, 2007.
ABSTRACT
To present research it will compare the main teaching methodologies used in PST. He/she/you will tell about that Program developed throughout Brazil and your importance for the participant children of that project of Granjas Betânia's neighborhood - Judge of Fora/MG. it will Specify the activities that they were developed, the no.. of assisted children, the proposed objectives of the Project and it will tell about the institution SEST/SENAT, where PST was developed. He/she/you will present an abbreviation explanation of the main methodologies of teaching of the physical education used in the planning of the activities. That study tried to compare those methodologies with base in a research answered by 30 children, in the age group of 13 and 14 years, of both sexes through a questionnaire composed by seven questions, with the intention of to analyze and to verify your sporting preferences and the method of better teaching accept for the students. The children's answers were presented in graphs and your results were discussed through a theoretical support of the principal authors of the physical education area, proposing with that to investigate on that methodology type would be more appropriate for use in that type of Project. In the results the children's preference was verified in the methodology Critical-superadora of the Bus of Authors and starting from that theoretical supports were placed explaining the reason of that preference.
Key-word: Methodologies of Teaching. Sport. Program Second time. Physical education.
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LISTA DE TABELA
TABELA
Página
1 Quadro comparativo das principais metodologias de ensino utilizadas no PST ............................................................................................................... 17
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LISTA DE FIGURAS
FIGURA
Página
1 Resposta à pergunta sobre o que achou das aulas ..................................... 20
2 Resposta à pergunta sobre qual seu esporte preferido ................................ 21
3 Resposta à pergunta sobre o que mais gosta e o que menos gosta no
PST ...............................................................................................................22
4 Resposta à pergunta sobre qual tipo de aula os alunos mais gostaram e
menos gostaram ...........................................................................................24
5 Resposta à pergunta sobre a sugestão de atividade para a aula que mais
gostou e que menos gostou ......................................................................... 28
6 Resposta à pergunta sobre o que mais despertou seu interesse pelas
aulas..............................................................................................................29
7 Resposta à pergunta sobre em qual aula houve maior participação da
turma .............................................................................................................30
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SUMÁRIO Página
CAPÍTULOS
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 01
2 REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................... 03
2.1 Histórico do Projeto.................................................................................. 03
2.1.1 Objetivos do Segundo Tempo..................................................................... 05
2.1.2 Atividades Desenvolvidas........................................................................... 07
2.1.3 O que é o Sest / Senat.............................................................................. 08
2.2 Metodologias de ensino da Educação Física ........................................ 08
2.2.1 Metodologias utilizadas no PST.................................................................. 09
2.2.2 Metodologia de Mosston e Ashworth ......................................................... 10
2.2.3 Metodologia das concepções abertas ........................................................ 11
2.2.4 Método de Criatividade ........................ ..................................................... 12
2.2.5 Metodologia do Ensino de Educação Física .............................................. 14
2.2.6 Quadro comparativo das principais metodologias de ensino utilizadas no
PST.............................................................................................................17
3 METODOLOGIA 18 3.1 Tipo de Estudo ......................................................................................... 18 3.2 Sujeitos do Estudo ................................................................................... 18 3.3 Instrumentos do Estudo........................................................................... 18 3.4 Procedimentos Metodológicos ............................................................... 19 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ....................................... 20
4.1 Característica dos Sujeitos do Estudo .................................................. 20 4.2 Avaliação Feita Pelos Alunos Sobre as Atividades Realizadas no
PST ............................................................................................................ 20
4.3 Atividade Preferida Pelos Alunos do PST ............................................. 21 4.4 Avaliação Feita pelos Alunos sobre a Metodologia Utilizada ............. 24 5 CONCLUSÃO ............................................................................................ 32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 34
A ANEXO – QUESTIONÁRIO ....................................................................... 37
xii
CAPÍTULO I
O PROJETO SEGUNDO TEMPO
1 INTRODUÇÃO O Projeto Segundo Tempo (PST) é um programa
do Ministério dos Esportes, idealizado no Governo
Lula, que propõe democratizar as atividades
esportivas e de lazer realizadas no contra turno-
escolar, ou seja, no primeiro tempo a escola e no
segundo atividades de lazer.
Atualmente na educação física escolar e no ensino dos esportes possuímos
diversas metodologias de ensino utilizadas no planejamento das aulas. É de extrema
importância que o professor de educação física adeque as diversas metodologias aos
perfis dos alunos e ao local de trabalho.
Para Libâneo: “não basta que os conteúdos sejam apenas ensinados, ainda que
bem ensinados, é preciso que se liguem de forma indissociável a sua significação
humana e social” (LIBÂNEO, 1985. p.39).
Constata-se que atualmente na educação física
escolar haja a necessidade de se oferecer maior e
melhor qualidade nas atividades desenvolvidas,
praticando o esporte valorizando outros
comportamentos que não a exclusão, a injustiça, a
dissimulação, a violência e a subjugação de uns
por outros.
A educação física deve entender o homem e respeitá-lo em sua individualidade,
sem, contudo cair num individualismo selvagem e alienante; deve entender este homem
enquanto produto da sua história, mas ao mesmo tempo, protagonista e artífice da
mesma; deve entender que a ação educativa não é, simplesmente, um ato de amor,
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antes de mais nada, um ato político. Além disso, a educação física deve proporcionar
prazer, alegria e aprendizado para o seu executante (Oliveira, 1987).
A pergunta central para este estudo é: Qual a preferência dos alunos em relação às diferentes metodologias de ensino aplicadas no PST?
Esse trabalho contribuirá para uma melhor adequação dos tipos de metodologias
mais apropriadas para otimizar o rendimento e a participação dos alunos nas atividades
do PST.
O objetivo do estudo é investigar as preferências dos alunos do PST em relação
às diferentes metodologias aplicadas nas aulas.
Essa pesquisa é importante já que sabemos que cada vez mais há uma
discussão com base nas metodologias de ensino apropriadas para o ensino da
educação física escolar e esse estudo irá propor uma metodologia que seja mais
adequada para ser utilizada nesse tipo de Projeto social.
Importante salientar que o ensino da Educação Física, baseado em princípios do
esporte de alto nível, tem como conseqüência a prática de poucos em detrimento da
prática de todos. Por outro lado, o ensino baseado em princípios educativos de um
esporte para todos tem como conseqüência o envolvimento de muitos, favorecendo a
motivação para a prática permanente e o desenvolvimento da criatividade, e isso fará
com que os alunos não sejam excluídos das atividades por se acharem com menos
habilidade que os outros (TAFFAREL, 1985).
Nos capítulos a seguir são separados alguns momentos da pesquisa. No capítulo
II onde se dá a fundamentação teórica do estudo, discorro sobre o Projeto Segundo
Tempo, contando um pouco da sua história, explicando seu funcionamento, as
atividades que eram desenvolvidas, sua estrutura física e material, o nível social dos
alunos e principalmente sua proposta para a comunidade atendida. Num segundo
momento do capítulo, o leitor terá uma apresentação sobre as principais metodologias
de ensino da educação física utilizadas no programa, além de um quadro comparativo
das mesmas.
No capítulo III é apresentada a metodologia do
estudo, onde são verificados o tipo de estudo, os
sujeitos que participaram da pesquisa, o
xiv
instrumento utilizado e como foram realizados os
procedimentos para coleta de dados.
O capítulo IV vem trazendo a apresentação e a discussão dos resultados
baseada nas metodologias abordadas no referencial teórico.
No último capítulo são apresentadas as conclusões alcançadas a partir da
pesquisa realizada.
xv
CAPÍTULO II
2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Histórico do Projeto
O PST foi criado para atender crianças estudantes
de escolas públicas proporcionando com isso uma
continuação do ensino escolar, ou seja, o primeiro
tempo na escola e o segundo tempo aprendendo
diversas modalidades esportivas.
O PST idealizado pelo Ministério do Esporte como forma efetiva de democratizar
o acesso à prática esportiva nos estabelecimentos públicos de educação do Brasil e de
tornar verdadeiro o preceito constitucional que define o esporte como direito de cada
um, por meio de atividades esportivas no contraturno escolar, visa, também, colaborar
para a inclusão social, o bem-estar físico, a promoção da saúde e do desenvolvimento
intelectual de crianças e adolescentes, principalmente dos que se encontram em
situação de vulnerabilidade social (ESCOBAR, 2005).
É realizado em parceria com o Ministério da Educação, através da Secretaria de
Esporte Educacional, com o objetivo de possibilitar o acesso à prática esportiva aos
alunos matriculados no ensino fundamental e médio e que vivem em áreas de
vulnerabilidade social.
Criado pela Medida Provisória 103, de 1° de janeiro de 2003, o Ministério do
Esporte tem como missão “formular e implementar políticas públicas inclusivas e de
afirmação do esporte e do lazer como direitos sociais dos cidadãos, colaborando para o
desenvolvimento nacional e humano”.
A tarefa do Ministério, portanto é de assegurar o acesso de todos as atividades
esportivas e de lazer, como parte do compromisso do governo de contribuir para a
redução do quadro de injustiças, exclusão e vulnerabilidade social que aflige boa parte
da população brasileira. Leva-se em conta, para isso, que o esporte e o lazer são
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questões de Estado, ao qual cabe promover sua democratização. E que são direitos
sociais, que podemos chamar de cidadania esportiva e de lazer.
Como cita Brito: O PST vem auxiliar professores e monitores a verem como este processo alienador pode ser modificado, e o acesso à aquisição de conhecimento pode ser desenvolvido em programas esportivos que ensinam e desenvolvem esportes através de um contexto gerador de ações democráticas (2004, p. 103).
O Programa Segundo Tempo caracteriza-se pelo acesso a diversas atividades e modalidades esportivas (individuais e coletivas) e ações complementares, desenvolvidas em espaços físicos da escola ou em espaços comunitários, tendo como enfoque principal o esporte educacional.
O público-alvo prioritário são crianças, adolescentes e jovens matriculados no
Ensino Fundamental e Médio dos estabelecimentos públicos de educação no Brasil
localizados em áreas de risco social, bem como aqueles que estão fora da escola, de
forma a oportunizar sua inclusão no ensino formal.
No Sest / Senat, localizado em Granjas Betânia, o PST teve início durante o mês
de abril de 2005 e conta com a participação de 200 crianças na faixa etária de 8 aos 14
anos.
O Projeto tem o apoio de várias entidades ligadas a Prefeitura de Juiz de Fora,
tais como: Astransp, Gettran, Amac, além de contar com o apoio do excelentíssimo
Prefeito da Cidade Sr. Alberto Bejani e do vice-governador de Belo Horizonte Sr. Clésio
Andrade Presidente da CNT.
Todos os alunos envolvidos no Projeto são oriundos de Escolas Públicas,
localizadas na região ao redor do Sest / Senat. A grande maioria dos alunos por virem
de famílias com renda mensal de até um salário mínimo apresentava graves problemas
sociais e de relacionamento. O índice de repetência escolar era extremamente alto
entre os alunos do Projeto.
Com relação à estrutura física, as instalações do Sest / Senat possuem
excelentes condições contando com duas quadras poliesportivas, uma piscina de 25
metros, uma piscina infantil, um campo de futebol, salão de jogos, salas de tv e vídeo,
sala de informática etc. Com relação aos recursos humanos, conta com o apoio de seis
estagiárias e um professor da área de educação física, além de um corpo de saúde
contando com médicos, odontólogos e psicólogos de plantão.
xvii
O Projeto que iniciou durante o ano de 2005 contempla crianças no período da
manhã e da tarde. No período da manhã as crianças entram às 8 horas e saem às
11h30min. Já no período da tarde as crianças entram 13 horas e saem às 16h30min.
As crianças recebem o material do Projeto, que incluí camisa e short. Recebem
também o café da manhã ou o lanche da tarde tudo isso custeado pelo Ministério dos
Esportes.
O material das atividades esportivas foi oferecido pelo Ministério dos Esportes
através do Projeto Pintando a Liberdade sendo composto de bolas de futebol, futsal,
basquete, voleibol, redes e uma verba em dinheiro para a compra de outros materiais
tais como cordas elásticas, cones, colchonetes, materiais de pintura etc.
Segundo o ex-Ministro dos esportes Sr. Agnelo Queiroz em entrevista, ele fala:
“O Segundo Tempo prova que uma criança praticando esporte custa ao poder público
10 vezes menos do que um presidiário”. Por isso pode-se dizer que os projetos
esportivos sociais como o Segundo Tempo são de extrema importância para melhorar a
qualidade de vida dos praticantes. Além de propiciar o contato com o esporte, o projeto
é um espaço apropriado para o desenvolvimento de capacidades e habilidades
motoras, da afetividade, da disciplina e da integração.
2.1.1 Objetivos do Segundo Tempo
A prática de esportes é importante na educação integral do ser humano, pois faz
com que o corpo esteja sempre em movimento e com isso haja um desenvolvimento
motor, corporal e cognitivo acelerado.
O esporte educa através da cooperação, solidariedade, noção de conjunto,
organização, discussão de regras, socialização e interesses em temas da cultura
corporal. As estratégias de um jogo esportivo podem ser decididas coletiva e
democraticamente, para tanto é necessário a compreensão do professor como
pedagogo, como mediador ora diretivo ora não-diretivo, ou seja, sem cair nos
abusos/extremos da diretividade (autoritarismo) ou não diretividade (espontaneismo).
No esporte, há oportunidades de formação, de educação e difusão de valores sociais,
conhecimentos e pensamentos voltados para o senso crítico. Crianças e adolescentes
das mais variadas classes sociais gostam do esporte, vivenciam experiências e
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oportunidades de alegria, prazer, confiança, expectativa, resolução de problemas,
amizade e sonho. A educação esportiva apresenta-se como oportunidade nas aulas de
Educação Física e na complementação do esporte escolar (contra-turno escolar) (SADI,
2004).
As atividades físicas e esportivas promovem um desenvolvimento motor e
corporal em quatro pilares fundamentais: afetivo, cognitivo, motor e social. Tudo isso se
relaciona com a prática de modalidades como handebol, futebol, futsal, basquetebol,
pois estes, como esportes coletivos coadunam e estabelecem um espírito de
colaboração e socialização dos praticantes.
Estas modalidades reúnem a maioria das características para o desenvolvimento
de algumas atividades naturais do ser humano, tais como: caminhar, correr, saltar,
arremessar, esquivar-se, desviar, girar, bloquear, etc. O handebol, por exemplo,
apresenta ainda aspectos fundamentais dentro das capacidades físicas condicionais e
coordenativas do ser humano como: velocidade, resistência, flexibilidade, força,
coordenação, agilidade. Com estas capacidades o indivíduo poderá se manter em
ótimas condições para uma vida melhor.
O movimento a favor dos valores sociais e dos princípios do esporte como meio
de educação vem se desenvolvendo muito, conseguindo resultados significativos.
Desta forma, praticar esportes contribui para resgatar valores sociais esquecidos e
importantes nas relações diárias. Sendo assim, busca-se garantir a prática do esporte
como um instrumento de educação através de uma visão humanista voltada para as
comunidades de baixa renda, entendendo que a prática de esportes não possui apenas
favorecimento para a formação dos alunos no âmbito do rendimento, colabora ainda,
para a formação do ser humano como um todo, que possui não só gestos motores, e
sim pensamentos e sentimentos que atuam constantemente em suas vidas.
Uma proposta pedagógica não pode estar nem aquém nem além do nível de
desenvolvimento da criança. Uma boa proposta, que facilite esse desenvolvimento, é
aquela em que a criança vacile diante das dificuldades, mas se sinta motivada, com
seus recursos atuais, a superá-las, garantindo as estruturas necessárias para níveis
mais elevados do conhecimento. (FREIRE, 1994)
xix
O Projeto Segundo Tempo além de propiciar uma prática esportiva de qualidade,
entende o esporte educacional como direitos de todos e dever do Estado entende a
atividade física como meio de promoção da saúde relacionando-a com práticas
cotidianas, oportuniza o direito dos alunos de entender, participar, identificar e modificar
questões sociais, garantindo assim sua verdadeira emancipação consolida a prática
esportiva educacional com a formação de conceitos inerentes a formação para a
cidadania, a saber: cooperação, emancipação, participação, co-educação, integração.
Favorece a construção de valores para uma verdadeira formação do ser humano
fundamentado na solidariedade, no respeito mútuo etc. Favorece o desenvolvimento e
valorização da ludicidade como elemento constitutivo da natureza humana; estimula o
desenvolvimento da criatividade e a formação do pensamento crítico. Contribui também
para o processo de inclusão social e educacional.
2.1.2 Atividades Desenvolvidas
As principais atividades realizadas nesse núcleo foram: atletismo, basquete,
futsal, futebol de campo, handebol, voleibol, atividades de recreação, oficinas de pintura
e de artesanato, cinema, palestras educativas, festivais e torneios esportivos, além de
eventos nas datas festivas.
Várias metodologias de ensino são utilizadas no planejamento das aulas, de modo que
os alunos possam sempre estar escolhendo as atividades que mais lhe interessam.
Importante ressaltar que os alunos têm grande participação na escolha das atividades que eles realizam. Procura-se como principais objetivos e metodologias preconizar sempre a inclusão dos alunos nas atividades, fazendo com que eles se respeitem e aceitem as diferenças de cada um. Os alunos estão sempre co-participando das escolhas das atividades de modo que questionem a questão do rendimento, e façam do jogo um meio para atingir prazer e auto-estima.
Durante a execução do projeto são ministradas palestras com os seguintes
temas: orientação sexual, estatuto da criança e do adolescente, educação para o
trânsito, DST / AIDS, preservação do meio ambiente, higiene dental, relacionamento
interpessoal, relacionamento familiar, alimentação saudável, drogas, tabagismo,
gravidez na adolescência, primeiros socorros, sendo que as crianças recebem cartilhas
educativas, escovas e pastas de dente.
xx
Além das palestras, conforme o andamento das atividades, as crianças passam
por acompanhamento médico (Oftalmologia, Pediatria, Cardiologia, Ginecologia e
Nutricionista) e Odontológico (orientação bucal, limpeza de dente e aplicação de flúor).
Com relação ao conteúdo das aulas nas diversas modalidades esportivas
executadas no Projeto, os alunos participam de atividades recreativas sobre o desporto
ensinado, aprendem os fundamentos de forma lúdica, aprendem sobre as regras de
cada modalidade, assistem vídeos e discutem sobre a importância do esporte como
papel de inclusão e socialização na sociedade.
2.1.3 O que é o Sest / Senat
O Sest (serviço social do transporte) e o Senat (serviço nacional de
aprendizagem do transporte) são entidades sem fins lucrativos que visam atender aos
trabalhadores em transporte e seus dependentes. Sua missão é desenvolver e
disseminar a cultura do transporte, promovendo a melhoria da qualidade de vida e do
desempenho profissional do trabalhador, bem como a formação/qualificação de novos
profissionais para eficiência e eficácia dos serviços a serem prestados á sociedade.
As atividades de esporte e lazer, inclusive o Projeto Segundo Tempo, são
oferecidas a toda a comunidade e caracterizam-se pela interação, convívio social e
informalidade. Propiciam aos freqüentadores das Unidades do Sest/Senat atividades
que causam prazer e bem-estar.
As áreas para esporte e lazer das Unidades do Sest/Senat, localizadas nos
grandes centros urbanos e nas principais capitais do País, possuem campos de futebol,
quadras polivalentes, playgrounds, salas de jogos, piscinas (infantil e adulta),
churrasqueiras, restaurante ou lanchonete e áreas verdes. E, para o conforto dos
usuários dessas áreas, as Unidades também dispõem de vestiários com chuveiros e
armários.
Portanto o Sest/Senat tem participação importantíssima na execução do Projeto
Segundo Tempo, já que com toda a sua estrutura proporciona as crianças atendidas
momentos únicos de prazer, alegria e bem-estar.
2.2 Metodologias de Ensino da Educação Física
xxi
Nesse tópico teremos uma apresentação sobre as principais metodologias de
ensino da educação física utilizadas no PST, além de um quadro comparativo das
mesmas.
xxii
2.2.1 Metodologias utilizadas no PST
O método de ensino diz respeito às técnicas, aos recursos e procedimentos
utilizados pelo professor, de forma inteligente e racional, para facilitar a aprendizagem
dos alunos, ou seja, promover a mudança de comportamentos desejáveis e duradouros
(MEDEIROS, 1977).
Durante as aulas do PST foram desenvolvidas diversas atividades de acordo
com as principais metodologias de ensino utilizadas na educação física escolar.
Importante ressaltar que essas Metodologias que foram utilizadas tiveram sempre o
intuito de romper com a valorização excessiva do desempenho como objetivo único na
escola.
Segundo Escobar:
Programas como este exigem de professores e monitores o conhecimento das condições objetivas da realidade brasileira, da realidade atual do esporte no país e das bases científico-metodológicas específicas para o ensino e treinamento de atividades esportivas (2005, p. 29).
Na Educação Física mais do que nunca, é necessário abandonar modelos
arcaicos que já não atendem às expectativas da sociedade atual, como é o caso do
modelo aptidão física que traz em si uma visão positivista da produtividade e concebe o
humano como uma máquina capaz de produzir trabalho. E, neste caso, deve-se
desconstruir as práticas segregacionistas, mesmo as mais simples que se apresentam
em nossas aulas e que requerem um trabalho diferenciado para as mesmas
(MEDEIROS, 2004).
Durante as aulas várias metodologias foram utilizadas e a partir daí os alunos
responderam um questionário acerca das mesmas. Cabe dizer que os alunos foram
informados sobre o significado de cada metodologia antes da realização das aulas.
xxiii
2.2.2 Metodologia de Mosston e Ashworth
Cada estilo de Mosston e Ashworth tem um valor maior que o outro, onde
nenhum estilo é melhor ou pior que o outro. Cada estilo é igualmente importante e está
diretamente relacionado a uma maior autonomia do aluno.
O objetivo principal é como trabalhar os conteúdos anteriores visando o
desenvolvimento global da criança nos seus aspectos físico, cognitivo, social e motor. O
objetivo final deve ser o estímulo ao processo de independência com uma autonomia
individualizada.
O ato de ensinar é considerado uma série de relacionamentos que se
desenvolvem entre professor e aluno, cabendo ao primeiro ajudar e estimular o
desenvolvimento do aprendiz como pessoa.
Identifica-se nesse método, categorias de decisões que serão tomadas de
acordo com a situação ensino-aprendizagem. São decisões sobre objetivos, conteúdos,
organização de conteúdos, atividades específicas, formas de retroalimentação para o
aprendiz.
Essas categorias de decisões são organizadas em três fases:
• Pré-impacto: contém as decisões anteriores ao contato professor/aluno como:
objetivo da aula, estilo, conteúdo, local, ritmo, incluindo a escolha do estilo;
• Impacto: inclui todas as decisões efetuadas no decorrer da tarefa. Ocorre a
implementação do conjunto das decisões do pré-impacto com ajustamentos
(seria o desenvolvimento);
• Pós-impacto: inclui todas as decisões referentes à execução, avaliação e
retroalimentação.
Dentro dessa proposta de ensino de Mosston e Ashworth foi utilizado
principalmente o estilo comando. Nesse estilo, que tem sido usado com predominância
nas aulas de Educação Física, todas as decisões são tomadas pelo professor, de cima
para baixo. O professor estabelece todas as regras, introduz o ponto chave do assunto,
compete ao aluno apenas realizar, seguir, obedecer. O aluno deve executar de acordo
com o modelo apresentado pelo professor (MOSSTON E ASHWORTH, 1986).
Os objetivos deste estilo são: resposta imediata a um estímulo; uniformidade;
conformidade; execução sincronizada; aderência a um modelo pré-determinado;
xxiv
reprodução de um modelo; precisão de respostas; manutenção dos padrões estéticos;
uniformização do grupo, sem respeito às diferenças individuais; segurança.
Pode-se dizer que o ensino é centrado no professor e no conteúdo, mas se
pretender desenvolver uma pessoa independente tornar-se-á necessário o pleno
desenvolvimento dos quatro canais: físico, social, emocional e intelectual.
Desta forma, o estilo comando pode ter implicações para os alunos, bem como
pode afetar o comportamento do professor e na seleção e no planejamento do
conteúdo. O conteúdo é fixado; o conteúdo é aprendido pela lembrança imediata e
através de execuções repetidas; o conteúdo pode-ser dividido em partes sendo
reproduzidas por procedimentos “estímulo-resposta”, e podem ser aprendidas em
espaço de tempo curto; o professor é o expert para seleção do conteúdo; diferenças
individuais não são observadas; o grupo realiza a tarefa uniformemente; o aluno sente o
progresso rapidamente (MOSSTON; ASHWORTH, 1986).
2.2.3 Metodologia das concepções abertas
O ensino da educação física deve capacitar os alunos a tratar de tal modo os
conteúdos esportivos nas mais diversas condições dentro e fora da escola, que estejam
em condições de criar, no presente ou no futuro, sozinhos ou em conjunto, situações
esportivas de modo crítico, determinadas autonomamente ou em conjunto. Dessa
forma, o aluno deve tornar-se aberto dentro da realidade esportiva. (HILDEBRANDT;
LAGING, 1986)
Uma concepção de ensino aberta baseia-se na idéia de propiciar ao aluno
possibilidades de decidir junto, importando a proporção das possibilidades de co-
decisão no grau de abertura do ensino da Educação Física. Esta proporção, no entanto,
depende do professor que avaliará a responsabilidade da turma. Numa concepção
aberta de ensino, solicita-se ao aluno que participe nas decisões.
A possibilidade pedagógica de formar o ensino aberto está primeiramente na
seleção e apresentação de conteúdos e formas de comunicação e no arranjo global do
ensino. As tentativas práticas mostram, não obstante o que o professor queira defender,
que os alunos têm toda condição de assumir competências de decisão. Por esta razão
chegamos à certeza de que concepções abertas não são utopia e nem subavaliação
xxv
das condições reais, ou impossíveis, mas que são praticáveis levando-se em conta a
realidade escolar atual.
Com relação aos conteúdos, para não se tornarem a própria razão do ensino,
são mais que o simples resultado de uma seleção de diversas áreas do esporte. Os
conteúdos são, para o aluno, formas de aparecimento e de ações esportivas
modificadas, conhecimentos, adequações e manutenção de valores. O ensino só se
reporta ao sujeito quando os conteúdos são concebidos no sentido de uma situação de
aplicação subjetiva. Vemos, portanto, que, na decisão do professor quanto aos
conteúdos, não se trata apenas da seleção dos conteúdos ou de grupos de conteúdos,
mas de uma preparação didática. (HILDEBRANDT; LAGING, 1986)
Outro fator importante é que, ao aluno é facultado um espaço livre onde poderá
individualmente buscar meios de solução, refletir sobre o processo de solução de
problemas, encontrar sua própria maneira de expressão e fazer experiências em
cooperação e comunicação com os outros, sem medo de possíveis erros ou de receber
sanções por parte do professor.
Portanto nessa metodologia o lema será: nada deve ser imposto, tudo deve ser
proposto. Os conteúdos serão sempre em co-decisão e co-participação, mas sempre
num grau alto de co-decisões para os alunos, o professor terá um grau de participação.
2.2.4 Método de criatividade
Do ponto de vista da pessoa humana, o ato criativo integra, em um esforço único
de busca do inédito, todas as capacidades da conduta humana-afetiva, cognitiva e
corporal. É nos atos de criação que se vislumbra o que há de verdadeiramente humano
nos homens. E, em nossa época, em nossa sociedade, é imprescindível que se
busquem formas na educação que considerem esta verdade (TAFFAREL, 1985).
Devido a isso o desenvolvimento da criatividade tornou-se um elemento
fundamental para o futuro de nossa sociedade pelo fato de não existir literatura na área
de Educação Física no Brasil sobre a metodologia da criatividade e pelo afirmado
acima.
Um dos principais objetivos deste método é capacitar o aluno a ter autonomia e
ser responsável pela sua vida futura, bem como seu agir esportivo.
xxvi
Nos estudos de Taffarel encontra-se a preocupação no desenvolvimento de uma
educação física genuinamente brasileira, que inclua nas suas aulas, práticas de
movimento da cultura brasileira, como: a capoeira, os jogos populares, as danças
folclóricas, etc. Encontra-se também a preocupação com os objetivos sócio-culturais,
não mais se limitando aos objetivos técnico-esportivos. Ainda recebe destaque da
autora, a preocupação em ver os alunos aplicarem os conhecimentos desenvolvidos
nas aulas fora da escola, como possibilidade de contribuição para uma melhor
qualidade de vida para si e para a coletividade, principalmente através da melhor
utilização do tempo livre, dos espaços públicos e dos materiais alternativos.
A Educação Física e o esporte se mostram muito criativos através da descoberta
de novas modalidades esportivas, novos jogos e formas de movimento ricas em
variação.
Essa metodologia critica o espaço da escola, que na realidade atual, tende por
limitar, moldar o aluno conforme determinado padrão estipulado pela sociedade,
representada pela classe dominante. Esta, não deseja mudanças no perfil do cidadão
não questionador, o qual não busca ser um agente transformador da realidade que o
cerca, e sim aceita conformado o que lhe é imposto, desde os seus primeiros anos
escolares até ao adulto cumpridor de seus deveres e não questionador de seus direitos.
Também critica a Educação Física Elitista feita através de um ensino formal,
onde o enfoque é o esporte de alto nível. Esta abordagem da Educação Física não
permite uma oportunidade para trabalhar-se a criatividade nos alunos, pois é
caracterizada através da prática de movimentos automatizados para que não haja
erros. Há uma seleção dos melhores alunos (os mais fortes, os mais rápidos, os mais
altos) e somente eles têm a oportunidade de treinar suas habilidades e exercitar sua
capacidade motora. É uma educação física exclusiva que deixa os que mais precisam,
os menos dotados de habilidades, relegados a um segundo plano, como se não
tivessem o direito de se beneficiarem com a prática da educação física.
Dentro das aulas do PST, foram utilizados dois métodos criativos de ensino na
educação física, são eles:
Perguntas operacionalizadas: perguntas conduzidas pelo professor que
induziriam a solução de problemas. Promove a incerteza diante à variedade de
xxvii
respostas possíveis, levando a descoberta de várias soluções para uma situação-
problema. Esse processo possibilita aos alunos, além de praticar jogos escolhidos, a
identificação da necessidade de se transformar as regras em função de certas
situações, do número, sexo e idade dos participantes, da capacidade e do interesse das
pessoas que compõem o grupo, além de buscar outras formas de utilização da quadra
e materiais disponíveis para a realização das atividades. É importante que os alunos
discutam a possibilidade de realização dos jogos em qualquer local disponível e não
apenas nos locais demarcados onde costumam ser realizados tanto na escola quanto
fora dela.
Segundo Mosston apud Taffarel: “A partir de uma determinada situação-
problema identificada ou apresentada, os alunos seriam estimulados a buscar soluções,
através das perguntas propostas pelo professor. As perguntas seriam relevantes ao
problema e aos alunos e seriam a eles comunicadas de forma oral ou escrita, como
propõe Mosston (TAFFAREL, 1985).
Outro método utilizado nas aulas do PST foi o Brainstorming (tempestade de
idéias). Esse método permite a facilitação do pensamento criativo através de tarefas
claras e não muito abrangentes, possibilitando aos membros do grupo a expressão livre
de suas idéias, criando assim, um clima de diálogo, experimentações e troca de
experiências. Permite também que os alunos emitam várias opiniões sem restrições e
sem se preocuparem com críticas.
Esse método permite a utilização de materiais alternativos já que este é um dos
problemas que ocorrem nas escolas. A multifuncionalidade dos materiais e seus
empregos nas aulas para a realização de jogos e movimentos é bastante proveitosa
para o surgimento de idéias e resoluções de problemas, além do fato de sua utilização
também em nossas horas de lazer.
Segundo Dieckert apud Taffarel, o brainstorming é um dos métodos que suas
experiências comprovaram como sendo adaptável para “a execução de ações,
movimentos e jogos esportivos”. Ressalta, no entanto, este autor, que as tarefas devem
ser de estrutura clara e não muito abrangentes, podendo ainda o brainstorming ser
realizado em pequenos grupos ou individualmente, de forma oral ou escrita
(TAFFAREL, 1985).
xxviii
2.2.5 Metodologia do Ensino de Educação Física
A quarta metodologia apresentada foi referente ao Coletivo de Autores que tem
como pressuposto responder aos interesses das classes populares: a pedagogia
crítico-superadora.
Nessa metodologia a educação física é entendida como uma disciplina que trata
de um tipo de conhecimento denominado de cultura corporal e que tem como temas o
jogo, a ginástica, o esporte e a capoeira.
O currículo ampliado, pregado pela visão crítico-superadora, tem como eixo a
explicação da realidade social complexa e contraditória. Ele questiona o objeto de cada
disciplina destacando sua função social, buscando sua contribuição particular para a
explicação da realidade social e natural no nível do pensamento do aluno. Para isso é
necessário o tratamento articulado do conhecimento sistematizado nas diferentes
áreas, para tanto, as matérias são tratadas como partes de um todo, que é o currículo
(COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Defende a afirmação dos interesses de classe das camadas populares,
valorizando a solidariedade, a distribuição e a emancipação.
Não desconsidera a necessidade dos elementos técnicos e táticos do esporte,
mas não os coloca como exclusivos e únicos conteúdos da aprendizagem.
O ensino e a aprendizagem têm como referência o ritmo particular de cada
aluno.
A reflexão pedagógica tem as seguintes características: é diagnóstica, judicativa
e teleológica.
Diagnóstica, porque remete à constatação e leitura dos dados da realidade.
Esses dados carecem de interpretação, ou seja, de um julgamento sobre eles.
É judicativa, porque julga a partir de uma ética que representa os interesses de
determinada classe social.
É teleológica, porque determina onde se quer chegar, busca uma direção.
Os princípios curriculares devem abranger:
xxix
A relevância social dos conteúdos, que vincula-se à explicação da realidade
social concreta e oferece subsídios para a compreensão dos determinantes sócio-
históricos do aluno, principalmente a sua condição de classe social.
A contemporaneidade dos conteúdos garante aos alunos o conhecimento do que
mais moderno existe no mundo contemporâneo.
Adequação às possibilidades sócio-cognitivas do aluno, adequando o conteúdo a
capacidade cognitiva e à prática social do aluno.
Simultaneidade dos conteúdos, apresentando e organizando os conteúdos de
forma simultânea.
Espiralidade da incorporação das referências do pensamento, compreendendo
as diferentes formas de organização de conhecimento e ampliando-as.
Provisoriedade do conhecimento, desenvolvendo a noção de historicidade para
que o aluno se perceba enquanto sujeito histórico.
É necessário que o ensino nessa metodologia tenha um sentido lúdico que busca
instigar a criatividade humana à adoção de uma postura produtiva e criadora de cultura.
A expectativa da educação física escolar, que tem como objeto a reflexão sobre
a cultura corporal, contribui para a afirmação dos interesses de classe das camadas
populares, na medida em que desenvolve uma reflexão pedagógica sobre valores como
solidariedade substituindo individualismo, cooperação confrontando a disputa,
distribuição em confronto com apropriação, sobretudo enfatizando a liberdade de
expressão dos movimentos - a emancipação - negando a dominação e submissão do
homem pelo homem (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Os alunos devem ter condição de fazer uma leitura crítica da realidade e com
isso questionarem se o que estão realizando tem importância para a sua vida. Os
alunos devem também criticar a educação física voltada para o desenvolvimento da
aptidão física.
xxx
CAPÍTULO III
3 METODOLOGIA 3.1 Tipo de Estudo
Trata-se de uma pesquisa qualitativa de cunho descritivo, que segundo Gil (2002) é caracterizado como pesquisa de campo, pois se estuda um determinado grupo e a coleta de dados no próprio campo de atuação dos investigados, utilizando técnicas de interrogação.
3.2 Sujeitos do Estudo
No presente estudo foram analisadas as respostas de 30 crianças na faixa etária
de 13 a 14 anos, participantes do PST no Bairro de Granjas Betânia em Juiz de
Fora/MG, com o intuito de verificar suas preferências em relação às principais
metodologias de ensino aplicadas na educação física escolar.
Cabe dizer que das 30 crianças entrevistadas, 18 eram meninos e 12 eram
meninas. Os alunos estavam inscritos na mesma turma do Projeto na parte da manhã e
isso se deve porque na parte da tarde havia poucos alunos referentes a essa faixa
etária.
3.3 Instrumentos do Estudo
O instrumento escolhido para coleta de dados foi o questionário (Anexo A), por se tratar de uma pesquisa exploratória, onde se busca conhecer uma determinada realidade, para a partir desse primeiro contato possam ser desenvolvidos estudos futuros de cunho explicativo.
Questionário é um instrumento de coleta de dados constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador. Em geral, o pesquisador envia o questionário ao informante, pelo correio ou por um portador; depois de preenchido, o pesquisado devolve-o do mesmo modo (MARCONI; LAKATOS, 1999, p.100).
Como toda técnica de coleta de dados, o questionário também apresenta uma série de vantagens como: atinge maior número de pessoas simultaneamente, a menos risco de distorção pela não influência do pesquisador, abrange uma área mais ampla. Algumas desvantagens como: grande número de perguntas sem respostas exige um universo mais homogêneo, não pode ser aplicado a pessoas analfabetas (MARCONI; LAKATOS, 1999).
3.4 Procedimentos Metodológicos
xxxi
Os alunos responderam a esse questionário após duas semanas de aulas
realizadas com as diferentes metodologias. As crianças foram informadas antes do
início das aulas sobre qual metodologia seria utilizada bem como suas principais
características.
Importante ressaltar que as crianças já tinham tido experiências com as
metodologias de ensino, pois elas eram sempre informadas no início de cada aula
sobre qual método seria utilizado.
Cabe informar que durante essas semanas ficou especificado o desporto que
seria utilizado para cada metodologia. Isso se deve ao fato dos alunos identificarem
com mais facilidade o método que seria ensinado e também para que os alunos
pudessem identificar seu método preferido através da dinâmica da aula e não através
de suas preferências esportivas. Nessas duas semanas os alunos tiveram as aulas de
futebol dentro do método de Mosston e Ashworth. Já as aulas de voleibol foram
baseadas na metodologia de concepções abertas. O basquete foi ensinado no método
de Criatividade e a metodologia Crítico-superadora foi utilizada para ensinar o
handebol.
Baseado nisso, foi possível averiguar a opinião dos alunos, interpretá-las e
mostrar os resultados através de gráficos discutindo-os através da bibliografia
consultada.
xxxii
CAPÍTULO IV 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 4.1 Característica dos Sujeitos do Estudo
Os alunos do PST que responderam ao questionário tinham entre 13 e 14 anos,
eram estudantes de Escolas públicas e participavam do Projeto na parte da manhã. A
turma era muito agitada com alunos bastante dispersos, onde às vezes tínhamos que
utilizar de meios mais rígidos para explicar as atividades. Apesar dessa situação os
alunos respeitavam sempre a autoridade do professor. Além disso, eram alunos de um
nível social, cultural e econômico bem baixo.
4.2 Avaliação Feita Pelos Alunos Sobre as Atividades Realizadas no PST Os alunos gostavam muito das atividades do Projeto, pois sempre fazíamos
redações com os mesmos para que contassem o que estavam achando e o que eles
sugeriam para ser realizado. Os alunos elogiavam as atividades, os professores, o
lanche e a estrutura onde era realizado o Projeto. Isso fica caracterizado na primeira
pergunta do questionário, que segue abaixo.
O que achou das aulas?
0
6
12
18
24
Excelente Ótima Boa Ruim Péssima
A grande maioria, 24 alunos, classificou as aulas como sendo excelentes, três
alunos indicaram como ótimas e mais três alunos apontaram-nas como sendo boas.
xxxiii
Tais resultados não surpreenderam, pois as aulas eram marcadas por um clima
de grande alegria e descontração.
A enorme aceitação das aulas pode ser confirmada através da proposta
educativa utilizada no PST e citada por Freire e Kunz abaixo:
Temos uma proposta alternativa às peneiras e seus olheiros. E essa proposta já
foi implementada em alguns lugares. Que não haja seleções, que não haja triagens. Os
centros esportivos devem receber, para ensinar esportes, todos os interessados que os
procurarem. Não importa a habilidade de quem chega. O jovem deve ser bem acolhido
e ensinado. Com o passar do tempo todos saberão qual o seu destino: ou ser um
praticante comum de esportes, para sua felicidade, sua saúde, seu lazer; ou se um
atleta, médio ou de alto nível. Porém, se as pessoas não tiverem a oportunidade de
permanecer em um local acolhedor, jamais poderão desenvolver satisfatoriamente suas
habilidades, às vezes, adormecidas. (FREIRE, 2005)
Pode-se diante dos resultados, resumir o que citou Elenor Kunz (1994) em sua
tese de doutorado e comparar com o que é aplicado no PST; “É uma irresponsabilidade
pedagógica trabalhar o esporte na escola que tem por conseqüências provocar
vivências de sucesso para uma minoria e vivência de insucesso ou de fracasso para a
maioria”.
Também apoiamos o que cita Sadi: [...] os professores de educação física teriam que promover o esporte, ensinando-o a todos. Seria necessário não apenas transmitir e ensinar técnicas dos esportes com vistas a competições, mas transformá-lo didaticamente. (SADI, 2004, p. 25).
4.3 Atividade Preferida Pelos Alunos do PST Algumas perguntas do questionário respondem muito bem as atividades que os
alunos mais gostavam e as que menos gostavam, segue abaixo o resultado nos
gráficos com os devidos comentários.
xxxiv
Qual seu esporte preferido?
0
6
12
18
Futebol Voleibol Basquete Handebol Outros
Tal resultado pode ser comprovado, pelo fato da maioria das crianças do projeto
serem de baixa renda e não possuírem verba para praticar outro esporte, a não ser na
escola. Isso é comprovado através da citação abaixo.
Isso pode ser explicado pelo fato destas crianças jogarem e brincarem em
espaços reduzidos (área, quintais e ruas), utilizarem-se de bolas não oficiais de
baixíssimo custo ou jogarem com qualquer coisa redonda ou arredondada: bolas de
meia, bexigas, frutas etc. Soma-se a isso a enorme popularização desse desporto no
Brasil
Uma outra linha para a popularização do futebol brasileiro seria a facilidade de
prática desse esporte, quer em termos de regras, como em termos de espaço e
equipamentos. De fato, as regras do futebol são de fácil compreensão em relação aos
outros esportes. Sua prática pode dar-se em qualquer lugar - campo, quadra, praia,
terreno baldio, rua - e a bola, o único material obrigatório, pode ser representada por
uma bola de meia, de plástico, uma lata, uma tampinha, etc. Com uniforme completo ou
não, com bola de couro ou não, em um campo demarcado ou não, todos jogam futebol.
(AZEVEDO, SUASSUNA; DAÓLIO, 2004)
O futebol foi escolhido por 17 alunos, já o voleibol foi apontado por sete alunos,
três alunos indicaram o basquete, um aluno preferiu o handebol e outros dois alunos
indicaram respectivamente atletismo e natação.
xxxv
O que mais gosta no PST e o que menos gosta? Mais gosta:
0369
12151821
Ativ Esp. Palestras Oficinas arte Torneios Outros
Menos gosta:
0
2
4
6
8
10
12
14
Ativ. Esportivas Palestras Oficinas arte Torneios Outros
Nessa questão os torneios e eventos esportivos foram apontados pela maioria
dos alunos, 21 no total, como a atividade que mais gosta. Quatro alunos indicaram as
oficinas de arte, três alunos escolheram as atividades esportivas e mais dois alunos
preferiam as palestras educativas. Outras atividades não foram citadas.
Já com relação ao que menos gostam, as palestras foram escolhidas por 14
alunos, 12 alunos indicaram as oficinas de arte e quatro alunos apontaram os torneios.
As atividades esportivas e outras atividades não foram selecionadas.
Segue abaixo algumas explicações do por que os torneios serem preferidos nas
atividades do PST.
Os torneios e eventos esportivos caracterizam o esporte, entretanto, acredita-se que temos que mudar a forma de trabalhar a competição, pois a mesma, além de ser uma prática segregadora, vem reforçando o individualismo que é o valor máximo da educação capitalista.
xxxvi
Os torneios e eventos esportivos eram organizados como uma festa. As crianças iam para os eventos para festejar; portanto, todos saíam felizes com isso. Além disso todas as crianças eram premiadas com lanches e medalhas. Esses eventos são formas de motivar as crianças para a continuidade das atividades conforme as citações abaixo de Bracht, apesar do mesmo ser um profundo crítico das competições, ele mostra como devem ser realizados tais eventos de forma a diminuí-la de forma excludente.
Segundo Bracht:
A competição é um elemento motivador para a participação nos jogos esportivos que não deve ser menosprezada. No entanto, existe a necessidade, de determinar embora seja difícil fazê-lo, os limites entre a desejabilidade e a indesejabilidade da competição, ou ainda o tipo de competição. (BRACHT, 1992, p. 110).
As regras nesses torneios e eventos esportivos são marcadas pelo princípio da
cooperação e não pelo princípio da competição discriminatória. Deve-se impedir a
sobrepujança da competição sobre o lúdico.
Bracht segue afirmando:
A competição é desejável na medida que os competidores encarem seus opositores como companheiros de jogo; torna-se indesejável na proporção em que os competidores percebam seus oponentes como rivais que precisam ser vencidos a todo custo e, mais indesejável ainda quando transformam estes em inimigos que devem ser odiados. (BRACHT, 1992, p. 110).
Nesses eventos esportivos as atividades eram
marcadas sempre pelo espírito da cooperação,
colaboração, solidariedade e decisão democrática.
Finalmente, deve-se deixar bem clara a idéia de que competir é importante. O
esporte sem a competição deixa de cumprir com seus aspectos mais interessantes que
são o confronto, a medição de forças, a busca pelo desafio. Aprender pela competição
é possível. Aprender pela competição é saudável. Competir é um aprendizado
constante que vale pata todos os momentos da vida, seja no esporte ou em qualquer
outra atividade do ser humano. (JUNIOR; KORSAKAS, 2006)
xxxvii
4.4 Avaliação Feita pelos Alunos sobre a Metodologia Utilizada Com relação à metodologia preferida dos alunos participantes do Projeto, segue
abaixo os resultados das perguntas propostas aos alunos com base no questionário e a
avaliação dos mesmos com os devidos embasamentos teóricos confirmando o porquê
dessa metodologia ser escolhida.
Qual o tipo de aula que você mais gostou e o que menos gostou? Para essa questão foi utilizada a seguinte nomenclatura e explicada aos alunos
dessa maneira.
Aula 1 - Método Mosston, onde o professor dá as regras do jogo e faz com que
os alunos repitam os movimentos do esporte.
Aula 2 - Metodologia de Concepções Abertas, na qual o professor pede que os
alunos participem da escolha das atividades.
Aula 3 - Criatividade nas Aulas de Educação Física, aula que o professor fornece
o material e pede para os alunos criarem as brincadeiras.
Aula 4 - Metodologia do Ensino de Educação Física, onde o professor apresenta
uma idéia e pede para os alunos realizarem a atividade a partir do conhecimento dos
alunos.
Aula que mais gostou
0
4
8
12
16
Aula 1 Aula 2 Aula 3 Aula 4
xxxviii
Aula que menos gostou:
0
6
12
18
Aula 1 Aula 2 Aula 3 Aula 4
Com relação à quinta pergunta do questionário 16 alunos indicaram a aula 4
como o método que mais gostaram. Em segundo ficou a aula 3 de Criatividade com
sete indicações. A aula 2 do método de Concepções abertas teve seis votos e o método
de Mosston, aula 1, foi indicado por somente um aluno.
Já com relação ao método que menos gostou, 18 alunos indicaram o método de
Mosston, cinco indicaram a aula do método de Concepções Abertas, quatro votaram no
método da aula 3 de Celli Taffarel e três indicaram o Coletivo de Autores, referente a
aula 4.
A grande rejeição pelo método de Mosston está no fato de ser uma metodologia
tecnicista, onde muitos alunos acabam sendo excluídos das atividades por não
apresentarem um rendimento tão alto nas mesmas e com isso sofrem certa
discriminação por parte dos alunos mais desenvolvidos tecnicamente. Tal método de
ensino já está superado nas aulas de educação física escolar, podendo ser utilizado em
clubes que buscam sempre o rendimento. Os próprios alunos reclamavam disso
durante o decorrer das aulas com frases do tipo: “Ele não passa a bola pra mim”, “Você
não sabe chutar, você é muito ruim”, etc. Essa exclusão que os alunos sofrem é
confirmada na citação abaixo.
Segundo Azevedo, Suassuna e Daolio:
[...] Um gesto técnico passou a ser aquele movimento eficiente, seja em termos biomecânicos, fisiológicos ou esportivos. Fazendo isso, a área de Educação Física e Esportes acabou por privilegiar certos alunos que já sabiam executar os movimentos tidos como eficientes, subjugando aqueles que apresentavam
xxxix
outras formas de expressão, fruto de outras experiências, valores diferentes e interesses específicos. (2004, p. 80)
As aulas de Educação Física e o esporte escolar se resumem frequentemente as
práticas dos fundamentos e à execução dos gestos técnicos esportivos, o que é pior, só
para alguns alunos, aqueles com habilidade. [...] há uma variedade enorme de
aprendizagens a serem conquistadas, bem como diferentes formas de atuação do
professor na condução do ensino, que devem considerar todos os alunos e suas
dificuldades. (DARIDO, 2002).
Concepções abertas e Criatividade ficaram próximas em ambas as indicações.
São dois métodos em que os alunos participam da escolha das atividades, interagindo
com o professor com perguntas e propondo soluções para a resolução de problemas.
Nas Concepções abertas, o professor sugere atividades para a turma adaptando-
as. Ao término da aula pergunta aos alunos se eles gostaram, o que precisa melhorar, o
que querem fazer para a próxima aula, ou seja, os alunos têm um grau de liberdade na
escolha das atividades. Devido a isso muitos alunos elogiaram esse método.
Já os métodos de Criatividade utilizados nas aulas do projeto, fazem com que os alunos proponham perguntas e dêem idéias para tornarem as atividades mais criativas, o que acarreta uma participação ainda maior nas aulas e no desenvolvimento das atividades, por isso que esse método foi preferido que o de Concepções abertas. Ainda assim Taffarel em seu livro Criatividade nas aulas de educação física confirma isso nas citações abaixo.
A preferência do Método de Criatividade para o de Concepções Abertas pode ser confirmada através das citações abaixo.
Consideramos que é necessário que o professor proponha atividades que tenham como objetivo claro o desenvolvimento da solidariedade, da cooperação e que essas atividades privilegiem também a criatividade e ludicidade. (SOUZA, 1994)
O PST supõe criatividade. Professores, monitores, estudantes e pais devem ser
incentivados à reflexão, criação e imersão em um contexto altamente gerador de novas
situações diárias para o processo de aquisição de conhecimento.(BRITO, 2004).
Segundo Taffarel (1985, p.66) “A utilização de
métodos criativos possibilita aos alunos um uso
mais diversificado de materiais e locais, o que
pode indicar um desenvolvimento do processo
criativo.”
xl
Continua Taffarel: “A utilização de métodos criativos facilita a emergência de
comportamentos de elevado nível de integração psico-físico-social, revelando
entusiasmo, alegria, satisfação e cooperação” (TAFFAREL, 1985, p.66).
Ainda Taffarel:
As opiniões dos alunos foram e que houve diferença entre as aulas com métodos criativos e as aulas tradicionais, nos aspectos de liberdade, alegria e criatividade. Expressaram a utilização, em situações extraclasse, de atividades relacionadas com os temas desenvolvidos em aula, como alterações nas regras dos jogos, utilização multifuncional dos materiais e locais e construção de implementos para a realização de jogos e movimentos. (TAFFAREL, 1985, p.66).
O método do Coletivo de autores foi o mais indicado pelos alunos por diversos
fatores relacionados abaixo:
Pelo fato de haver uma maior discussão em relação aos objetivos e conteúdos
das aulas. Os alunos nesse método estão sempre buscando a melhor maneira de se
organizarem. Há uma maior conversação com os alunos com relação às atividades
realizadas.
As aulas superam a questão do rendimento e promovem a leitura da realidade,
ou seja, os alunos discutem temas relacionados ao cotidiano. Pode-se confirmar isso
através das citações abaixo.
Defendemos para a escola uma proposta clara de conteúdos do ponto de vista
da classe trabalhadora, conteúdo este que viabilize a leitura da realidade estabelecendo
laços concretos com projetos políticos de mudanças sociais. (COLETIVO DE
AUTORES, 1992)
Além disso, o Coletivo de Autores defende a
afirmação dos interesses de classe das camadas
populares, valorizando a solidariedade, a
distribuição e a emancipação, tendo como
referência o ritmo particular de cada aluno.
Com essa perspectiva, a abordagem crítico-superadora coloca-se em clara
oposição à perspectiva tradicional de educação física que tem como objeto de estudo o
desenvolvimento da aptidão física do ser humano, pois, segundo os autores, esta visão
xli
contribuiu e tem contribuído para a manutenção da estrutura da sociedade capitalista,
defendendo os interesses da classe dominante no poder. (DAOLIO, 2004)
Que tipo de atividades você sugeriria para as aulas que mais gostou e que menos gostou?
Atividades sugeridas para as aulas que mais gostou:
0
2
4
6
8
10
12
+ Fundamentos +Jogos + Ativ. Lúd. + Participação + Discussão
Atividades sugeridas para as aulas que menos gostou:
0
3
6
9
+ Fundamentos + Jogos +Ativ. Lúd. + Paticipação + Discussão
Para as aulas que mais gostou 12 alunos indicaram que gostariam de ter tido mais exercícios com fundamentos, nove alunos gostariam de ter tido a oportunidade de uma maior participação na escolha das atividades e outros nove alunos gostariam de ter discutido mais sobre objetivos e conteúdos. Isso deve-se pelo fato dos métodos de concepções abertas e criatividade preconizarem uma maior participação dos alunos em detrimento a discussão sobre os objetivos e conteúdos das aulas com relação aos fatos do cotidiano, o que ocorre ao contrário no Coletivo de Autores, onde há uma maior discussão sobre objetivos conteúdos. Já com relação aos fundamentos nenhuma dessas três metodologias citadas anteriormente preconiza-os em suas aulas, e por isso o pedido por parte dos alunos para a inclusão de algum exercício técnico nessas atividades.
xlii
Nas aulas em que menos gostou nove alunos sugeriram que houvesse mais jogos adaptados, seis alunos indicaram que deveria haver mais atividades lúdicas, seis alunos sugeriram maior participação na escolha das atividades, outros seis alunos prefeririam que houvesse maior discussão sobre objetivos e conteúdos e três alunos sugeriram mais fundamentos.
Esses resultados mostram que apesar dos alunos terem preferido a metodologia crítico-superadora, os alunos sentem a falta de atividades que exercitem os fundamentos das modalidades esportivas, o que é característica predominantemente do método de Mosston e Ashworth que foi considerada a aula pela qual os alunos menos gostaram.
Os métodos Concepções abertas, Criatividade e Coletivo de autores não preconizam atividades tecnicistas, ao contrário do método de Mosston onde há mais fundamentos em detrimento de jogos, atividades lúdicas, participação na escolha das atividades e discussão sobre objetivos e conteúdos das aulas ocorridas nas outras metodologias.
Com relação a mais participação e discussão deve-se pelo fato dos métodos Concepções abertas e Criatividade preconizarem menos isso do que o Coletivo de Autores, que propõe intensa participação e discussão das atividades em relação aos temas do cotidiano fazendo com que os alunos busquem a melhor maneira de se organizarem.
O que mais despertou seu interesse pelas aulas?
0
6
12
18
Rigidez Abertura naescolha
Criatividade Discussão dosfatos
Nessa pergunta 18 alunos apontaram que era a discussão das atividades em
relação aos fatos do cotidiano. Seis alunos tinham seu interesse mais despertado
devido ao maior grau de abertura na escolha das atividades e outros seis alunos
indicaram a criatividade como forma de despertar seu interesse pelas aulas. A rigidez
do professor, mais presente no método de Mosston não teve indicação de nenhum
aluno.
xliii
Tal resultado reflete o que foi apresentado anteriormente com base nas citações
dos autores da área, e que confirma a preferência dos alunos na metodologia crítico-
superadora.
A discussão dos fatos é característica marcante do método do crítico-superadora
que propõe um projeto político pedagógico tendo como eixo curricular a apreensão e a
interferência crítica e autônoma na realidade, dentro de uma abordagem onde existe o
diálogo e a troca entre os professore, os alunos e toda a equipe pedagógica.
(COLETIVO DE AUTORES, 1992). ISSO NÃO É UMA PARTICULARIDADE DESSA
PROPOSTA METODOLÓGICA, ISSO ESTÁ PREVISTO NA LDB, NÃO CABE ESSE
COMENTÁRIO
Em qual aula você achou que teve maior participação da turma?
0
4
8
12
16
Mosston Concepçõesabertas
Criatividade Crítico superadora
Nessa pergunta 15 alunos acharam que foi na aula da metodologia crítico-
superadora, oito alunos indicaram a aula do método Criatividade e sete alunos acharam
que foi na aula de concepções abertas. O método de Mosston não teve indicação por
parte dos alunos.
Os resultados apresentados devem ser pelo fato destas metodologias terem uma
grande participação dos alunos na escolha das atividades, principalmente na
metodologia Crítico-superadora que foi a mais indicada.
Outro motivo para metade dos alunos ter indicado essa metodologia como a
mais participativa, está na inclusão que ela preconiza, conforme cita Darido:
xliv
A abordagem crítico-superadora tem nos alertado sobre a importância de a Educação e de a educação física contribuírem para que as mudanças sociais possam ocorrer diminuindo as desigualdades e as injustiças sociais. (DARIDO, 2004, p.130).
Assim, em uma aula que busca promover as capacidades motoras, cognitivas e
sociais dos alunos promovendo a liberdade para escolhas e tomadas de decisões em
jogo, aconteceria o seguinte: os alunos teriam liberdade para trazer e dividir idéias com
você, o professor. Os treinos teriam a responsabilidade dividida entre todos, e possíveis
boas idéias e respostas seriam estimuladas em um ambiente com mais liberdade de
participação e menos comando por parte dos que conduzem as sessões de treino.
(SOUZA, 2005).
xlv
CAPÍTULO V
5 CONCLUSÃO
Esse estudo teve como principal foco comparar as diversas metodologias de
ensino utilizadas no PST e verificar qual delas seria a preferida dos alunos participantes
desse núcleo.
Apesar de identificarmos a metodologia crítico-superadora como preferida dos alunos, não há como descrever o melhor método de ensino. Temos que adaptá-lo de acordo com a situação da aula, os conteúdos e objetivos propostos, o nível dos alunos, os materiais existentes e as características e preferências da turma.
A metodologia indicada é aquela que tenha uma visão crítica e desmistificadora
do processo histórico da cultura esportiva. Um método que crie o conhecimento a partir
do conhecimento e que faça o aluno se envolver e se interessar pela atividade que
esteja realizando.
Nas aulas deverá se oportunizar a sistematização,
ampliação e aprofundamento do conhecimento
específico do esporte em seus diferentes
aspectos, sem excluir a participação ativa e
criativa dos alunos.
Diante dos pontos de vista colocados pensamos
que as atividades esportivas escolares devem ser
norteadas pelo princípio da cooperação e que
estimulem a criatividade, ludicidade, e oportunize
ao aluno conhecimento da realidade, tendo como
princípio básico o desenvolvimento do bem
comum, evitando assim, a supremacia de uns
sobre os outros.
Segundo Resende:
[...] é possível inferir que todas as propostas teóricas elaboradas ao longo da história da educação física brasileira estejam, de alguma forma e em determinados níveis, influenciando a atual prática
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pedagógica dos professores atuantes na escola (RESENDE, 1994, p.32).
Na escola e em projetos sociais que preconizam a inclusão, é preciso resgatar os
valores que privilegiam o coletivo sobre o individual, defendem o compromisso da
solidariedade e respeito humano, a compreensão de que o jogo se faz a dois, e de que
é diferente jogar com o companheiro e jogar contra o adversário. (COLETIVO DE
AUTORES, 1992).
Em suma, um modelo de Educação Física que fuja dos moldes
tradicionais/esportivistas precisa abarcar as abordagens que tenham um enfoque mais
psicológico (Psicomotricista, Desenvolvimentista e Construtivista) aquelas com enfoque
mais sociológico e político (crítico-superadora, crítico-emancipatória e aquela contida
nos Parâmetros Curriculares Nacionais) e também biológico, como a da Saúde
Renovada. (DARIDO, 2004).
Portanto a elaboração desta pesquisa com base nos questionários respondidos pelos alunos foi oportuna e coerente, tentando levar o profissional da área a um trabalho planejado e organizado, contribuindo para que os alunos tenham aulas cada vez mais adequadas aos seus perfis e as suas situações sócio-econômicas e culturais.
Finalmente, espera-se que este estudo possa contribuir para estimular a utilização de novos programas educativos com o intuito, não apenas de ampliar os conteúdos já adquiridos pelos alunos, mas também de contribuir na formação global deste através de metodologias mais adequadas e mais inovadoras.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS VERIFIQUE SE CADA REFERÊNCIA QUE FOI COLOCADA AQUI, CONSTA CITADA NO CORPO DO TEXTO, AS QUE NÃO
ESTIVEREM RETIRE E VICE-VERSA
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