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Coerência, Coerência, Desdobramento, Desdobramento, Dignidade Dignidade Repensando Famílias e Terapia Repensando Famílias e Terapia Vincenzo Di Nicola Vincenzo Di Nicola

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Coerência, Coerência, Desdobramento, Desdobramento, Dignidade Dignidade

Repensando Famílias e TerapiaRepensando Famílias e Terapia

Vincenzo Di NicolaVincenzo Di Nicola

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Montreal, Quebec Photo : V Di Nicola

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HISTÓRIAS EM FAMÍLIA IVHISTÓRIAS EM FAMÍLIA IV

Famílias e AdolescênciaFamílias e Adolescência

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

CLÍNICA DE ATENDIMENTO PSICOLÓGICO

08 a 10 de Novembro de 2012

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AgradecimentosAgradecimentos

• Instituto de Psicologia e a Clínica de Atendimento Psicológico, UFRGS

• AGATEF – Associação Gaúcha de Terapia Familiar

• Dra. Maria Aparecida Kruse Dib

• Dra. Mara Lúcia Rossato

• Dra. Olga Falceto Garcia

• Dr. Alberto Stein

• Dra. Maria Inês Santos Rosa

• Revista Pensando Famílias – Dra. Helena Centano Hintz Turku, Finlândia Photo : V Di Nicola

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Coerência, Coerência, Desdobramento, Desdobramento, Dignidade Dignidade

Repensando Famílias e TerapiaRepensando Famílias e Terapia

Vincenzo Di NicolaVincenzo Di Nicola

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

CLÍNICA DE ATENDIMENTO PSICOLÓGICO

9 & 10 de Novembro de 2012

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Vincenzo Di NicolaVincenzo Di NicolaM.Phil., M.D., Ph.D., F.R.C.P.C, F.A.P.A.M.Phil., M.D., Ph.D., F.R.C.P.C, F.A.P.A.

Chefe do Atendimento de Pedopsiquiatria eChefe do Atendimento de Pedopsiquiatria eVice-Director do Departamento de PsiquiatriaVice-Director do Departamento de Psiquiatria

Hospital Maisonneuve-RosemontHospital Maisonneuve-RosemontProfessor TitularProfessor Titular

Departamento de PsiquiatriaDepartamento de PsiquiatriaUniversidade de Montreal Universidade de Montreal

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Meu partidoé um coração partido

e as ilusões estão todas perdidasos meus sonhos foram todos vendidos

tão barato que eu nem acreditoeu nem acredito

que aquele garoto que ia mudar o mundo(mudar o mundo)

frequenta agora as festas do “grand monde”Meus heróis morreram de overdose

meus inimigos estão no poderideologia

eu quero uma pra viverideologia

eu quero uma pra viver

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““IdeologiaIdeologia”” – Cazuza– Cazuza

O meu prazeragora é risco de vida

meu sex and drugs não tem nenhum rock’n’rolleu vou pagar a conta do analista

pra nunca mais ter que saber quem eu sou

(saber quem eu sou)pois aquele garoto que ia mudar o mundo

(mudar o mundo)agora assiste a tudo em cima do muroMeus heróis morreram de overdose

meus inimigos estão no poderideologia

eu quero uma pra viverideologia

… pra viver

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– – Mario QuintanaMario Quintana

Quem faz um poema abre uma janela.

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ObjetivosObjetivos

• Abranger algumas problemáticas

Problemática:

s.f. Conjunto de problemas da mesma natureza: a problemática da adolescência.Natureza dos problemas que são propostos por um filósofo: a problemática kantiana.

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ObjetivosObjetivos

• Problematizar as noções de família e de terapia

Problematizar:

(lat problematizare) vtd Dar forma de problema a; tornar problemático: “... problematizava ainda um desenlace satisfatório” (Euclides da Cunha)

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ObjetivosObjetivos• Identificar algumas aporias

Aporia:

s.f. Filosofia. Dificuldade lógica, sem solução. Retórica. Dúvida retórica, dúvida simulada pelo orador.

Subjetividade – subjetivação e dessubjetivação, singular e múltiplo

Coerência, desdobramento, dignidade

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Três problemáticasTrês problemáticas

• Identidade/subjetividade

• Família/sistema/cultura

• Terapia/mudança

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Identidade (estranheza?)Identidade (estranheza?)

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A Família (sagrada?)A Família (sagrada?)

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Progresso e ordem (terapia?)Progresso e ordem (terapia?)

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Repensando familías e terapia Repensando familías e terapia em sete facesem sete faces

• Coerência

• Subjetividade

• Terapia e mudança

• O evento

• Trauma

• Desdobramento

• Dignidade

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– – José Gil,José Gil, Em Busca da Identidade: Em Busca da Identidade: O Desnorte O Desnorte (2009)(2009)

• Um dos traços [da] identidade é a capacidade que temos de viver o local como global.

• Trata-se de uma questão de alcance da percepção.

• O nosso território mental é limitado, e as suas fronteiras muralhas que não reenviam a nossa imagem, o que nos permite reconhecermo-nos imediatamente.

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– – José Gil,José Gil, Em Busca da Identidade: Em Busca da Identidade: O Desnorte O Desnorte (2009)(2009)

• Por isso essa percepção se reduz a uma identificação empobrecida – mas com imensos benefícios secundários como a segurança fácil,

as rotinas apaziguadoras e a paz espírito que nos traz a ausência de duvidas sobre o sentido da vida.

• Pequeno território, percepção de curto alcance e reconhecimento autocomplacente da nossa imagem constituem condições do fechamento de nós em nós – e parâmetros da nossa identidade.

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CoerênciaCoerência

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SubjetividadeSubjetividade

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Terapia / MudançaTerapia / Mudança

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O Evento O Evento

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TraumaTrauma

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DesdobramentoDesdobramento

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DignidadeDignidade

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Après la Coupe mondiale - 2006Après la Coupe mondiale - 2006 Photo : V Di Nicola Photo : V Di Nicola

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Définição de culturaDéfinição de cultura

A cultura é uma série de orientações (tanto explícitas como implícitas) que os indivíduos herdam como membros de uma determinada sociedade, que lhes diz como devem ver o mundo, como devem experienciá-lo emocionalmente, e como devem comportar-se em relação às outras pessoas, às forças sobrenaturais ou aos deuses, e ao meio ambiente natural.— Cecil Helman

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ReflexãoReflexãoMarco Polo descreve uma ponte, pedra por pedra. “Mas

qual é a pedra que sostenta a ponte?”

“A ponte não é sustentada por uma ou outra pedra,” responde Marco,“mas pela linha do arco que elas formam.”

Kublai Khan permanece em silêncio, refletindo. Então ele acrescenta: “Por que você fala das pedras? É apenas o arco que me importa.”

Polo responde: “Sem pedras não existe arco.”

—Italo Calvino, Le città invisibili/Cidades Invisíveis

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O ProblO Problema - ema - בבל בבל מגדל - - מגדלMigdal BavelMigdal Bavel

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Torre de BabelTorre de Babel

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A SoluçãoA Solução

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Pedra de RosetaPedra de Roseta

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Léxico da adaptação culturalLéxico da adaptação cultural

Cultura de originem

• Enculturação

Cultura hospedeira

• Aculturação

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Léxico da adaptação culturalLéxico da adaptação cultural

Na cultura de originem …

• Enculturação – um processo de lenta acquisição das lentes culturais da nossa sociedade; crescer numa cultura; isso implica que a cultura é transmitida de geração em geração

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Léxico da adaptação culturalLéxico da adaptação cultural

Na cultura hospedeira …

• Aculturação – um processo de refocalizar ou mudar lentes culturais, que abrange o espectro da assimilação (ou total imersão na cultura hospedeira) ao afastamento (ou total separação)

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Léxico da adaptação culturalLéxico da adaptação cultural

Cultura de originem

• Enculturação

Cultura hospedeira

• Aculturação

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Léxico da adaptação culturalLéxico da adaptação cultural

• Separação/partição (ghettos, favelas, bidonvilles … segregação por classe social, raça, lingua ou por religião)

• Integração (acomodações recíprocas)

• Assimilação (uma nova identidade solidária com a sociedade hospedeira)

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Lexique de l’adaptation culturelleLexique de l’adaptation culturelle

• Séparation Ghettoïsation Ségrégation

• Intégration Pluralisme culturel Interculturalisme Créolisation (métissage culturelle)

• Assimilation Universalisme Uniformisme

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Encontros InterculturaisEncontros Interculturais

Concepções negativas dos encontros interculturais

• Choque • Trauma• Ansiedade

• Luto

Tema geral: Ruptura, deslocação et derrota

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Encontros InterculturaisEncontros Interculturais

Concepções positivas dos encontros interculturais

• Surpresa• Aprendizagem • Encanto

• Celebração

Tema geral: Descobrimento e crescimento

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Encontros InterculturaisEncontros Interculturais

Concepções negativas

• Choque cultural• Trauma• Ansiedade

• Luto

Tema: Deslocação e derrota

Concepções positivas

• Surpresa• Aprendizagem• Encanto

• Celebração

Tema: Descobrimento e crescimento

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ReflexãoReflexão

Je est un autre.

—Arthur Rimbaud, poeta

Eu é um outro.

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Terapia de LimiarTerapia de Limiar

Quando é aplicada ao trabalho com crianças e famílias que estão passando por uma mudança cultural e ao estudo das pessoas liminares e estados transicionais, a terapia familiar cultural pode ser chamada de terapia de limiar.

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Terapia de LimiarTerapia de LimiarOs objectivos de se estudar as pessoas liminares e os

estados transicionais são:

1. Identificar as condições da mudança cultural

2. Estudar seu impacto sobre as crianças (mutantes culturais) e o ciclo de vida familiar

3. Catalagar padrões de a adaptação à mudança cultural

4. Reconhecer transtornos psiquiátricos que emergem nas condições da mudança cultural

5. Construir modelos de formação de identidade e mudança

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Famílias Immigrantes eFamílias Immigrantes ePsicoterapia Transcultural (2004) Psicoterapia Transcultural (2004)

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–– Victor Turner, Victor Turner, The Ritual Process (1969)The Ritual Process (1969)

Os atributos da liminaridade ou das personae liminares (pessoas que estão num limiar, na soleira) são necessariamente ambíguos, uma vez que essa condição e essas pessoas escapam ou escorregam da rede de classificações que normalmente localiza estados e posições intermediária entre as posiçoes designadas e organizadoras pela lei, costumes, convenções e cerimoniais. Como tal, seus atributos ambíguos e indeterminados são expressos por uma rica variedade de símbolos nas muitas sociedades que ritualizam as transições sociais e culturais.

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– – Edward Said numa conversa Edward Said numa conversa com Salman Rushdiecom Salman Rushdie

A noção de passar para o outro lado,

de passar de uma identidade para outra,

é extremamente importante para mim,

sendo como sou – como todos nós somos – uma espécie de híbrido.

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Metáfora – O Agente Metáfora – O Agente RecíprocoRecíproco

Sem a metáfora da memória e história, nós

não podemos imaginar … o que é ser uma

outra pessoa. A metáfora é o agente

recíproco, a força universalizadora que torna

possível imaginar o coração do estranho.

— Cynthia Ozick

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– – Salman RushdieSalman Rushdie

Todas as histórias são assombradas pelos fantasmas das histórias que elas

poderiam ter sido.

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Um Estranho na FamíliaUm Estranho na FamíliaCultura, Famílias e TerapiaCultura, Famílias e Terapia

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Mara Selvini Mara Selvini PalazzoliPalazzoli(1916-1999)(1916-1999)

(1916-1999)

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– – Mara Selvini PalazzoliMara Selvini Palazzoli

A terapia familiar

é o ponto de partida

para um estudo de unidades sociais

cada vez mais amplas.

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A terapia familiar é o espaço que abrimos para explorar as possibilidades da família.

Terapia FamiliarTerapia Familiar

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– – Cecil HelmanCecil Helman

A terapia familiar proporciona uma das áreas mais proveitosas de cooperação

entre a psicologia, a psiquiatria e a antropologia médica.

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A Terapia Familiar CulturalA Terapia Familiar Cultural… um entrelaçamento de histórias e instrumentos

Histórias – as situações familiares difíceis expressas nas narrativas da vida da família

Instrumentos – métodos clínicos para se compreender e se trabalhar com essas histórias em contextos culturais

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Aspectos Chaves da Aspectos Chaves da Terapia Familiar CulturalTerapia Familiar Cultural

• A TFC é um encontro cultural

• A TFC examina a cultura apresentada

• A TFC gera uma perspectiva subjectiva

• A TFC adiciona complexidade à terapia familiar

• A TFC trata-se da mudança cultural

• A TFC em si é um produto cultural

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Instrumentos Clínicos em Instrumentos Clínicos em Terapia Familiar CulturalTerapia Familiar Cultural

Instrumento

• Espirais• Máscaras• Papéis• Códigos• Estratégias Culturais

• Pontes• Histórias

• Sutura

Explicação

• Encontrando estranhos• Camuflagem cultural• Incluídos e excluídos• A tradução – cultural e terapêutica • A adaptação e a aculturação

• O ciclo da vida da família cultural• A narrativa – um jardim de

caminhos que se bifurcam• A TFC como a reparação de uma

história

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– – George SteinerGeorge Steiner

[Um] ser humano realiza um ato de tradução, no sentido plena da palavra,

quando recebe uma mensagem falada de um outro ser humano. Em resumo: dentro de uma linguagem ou entre lingugens, a

communicação humana equivale à tradução.

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Toda terapia familiar

é uma forma de tradução –

da linguagem, da cultura e

do processo familiar.

Terapia como traduçãoTerapia como tradução

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– – Ignazio SiloneIgnazio Silone

Nos damos a cada pessoa

o direito de contar sua história

à sua propria maneira.

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Montreal, Quebec Photo : V Di Nicola

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RéflexionRéflexion

L’enfance est un couteau

planté dans la gorge.

On ne le retire pas

facilement.

– Wajdi Mouawad

dramaturge

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ReflexãoReflexão

A infância é uma faca plantada na garganta.

Não é tão facil retirá-la.

– Wajdi Mouawad

dramaturgo

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Conceito de traumatismo Conceito de traumatismo (Sigmund Freud, 1926)(Sigmund Freud, 1926)

• Idéias conscientes que ultrapassem o ego

• A emergência de impulsões inaceitáveis

• Uma situação intolerável gerando afetos impossiveis de lidar

• Sentimentos de impôtencia traumática

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Estresse traumático Estresse traumático (Anna Freud, 1969)(Anna Freud, 1969)

• Um evento devastador que muda o desenvolvimento da criança

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Definições do conceito Definições do conceito de traumatismode traumatismo

“Traumatismo como um evento além da gama das experiências humanas habituais”

(DSM-III, 1980)

“Um evento tal que a morte, real ou ameaçada, ou uma ferida séria ou uma ameaça à integridade física de si mesmo ou de outros”

(DSM-IV, 1994)

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Types de traumatismeTypes de traumatismeLenore TerrLenore Terr

TRAUMATISME TYPE I

Description : Évènement singulier, dangereux, subit, isolé

Réponse : Souvenirs intensément vécus, récupération plus rapide,

meilleur pronostic

Exemples : Accident de voiture, témoin d’homicide ou de suicide

TRAUMATISME TYPE II

Description : Multiples, chroniques, répétés

Réponse : Souvenirs vagues, impuissance, dissociation, changement de caractère, les problèmes persistent

Exemples : Institutionalisation, abus physique ou sexuel, guerre, attentat, violence sociale

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Types de traumatismeTypes de traumatismeJudith HermanJudith Herman

ESPT du DSM-IV (1994) : PTSD

(TYPE I de Terr)

Description : Évènement singulier, dangereux, subit, isolé

Exemples : Accident de voiture, témoin d’homicide ou de suicide

ESPT Complex de Herman (1992) : C-PTSD

(TYPE II de Terr)

Description : Multiples, chroniques, répétés

Exemples : Abus physique, emotionnel ou sexuel, violence conjugale, accumulation de stress chez les thérapeutes et guérisseurs

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Letters to a Young TherapistLetters to a Young TherapistCartas a Um Jovem TerapeutaCartas a Um Jovem Terapeuta

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ReflexõesReflexões

Do sistema à cultura familiar

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ReflexõesReflexões

Na soleira entre o mundo que conhecemos e o mundo que vira, devemos construir novas definições da pessoa (do ser humano ou seja da identidade), da família e dos problemas até repensar as soluções … incluindo a terapia

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ReflexõesReflexões

Na soleira entre paises, culturas, realidades e epistemologías*

o que significam identidade, família e terapia?

Veja: Boaventura de Sousa Santos –

“Epistemologías do Sul”

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Epistemologías do SulEpistemologías do SulUma epistemología do Sul assenta em três orientações:

• aprender que existe o Sul;

• aprender a ir para o Sul;

• aprender a partir do Sul e com o Sul.1

1. Boaventura de Sousa Santos, Toward a New Common Sense: Law, Science and Politics in the Paradigmatic Transition. New York: Routledge, 1995.

Citado por Maria Paula Meneses, “Introdução: Epistemologías do Sul.” Revista Crítica de Ciências Sociais, 80, Março 2008: 5-10.

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ReflexõesReflexões

A saudé é antes de tudo social pelo qual:

• identidade é plural

• comunicação é dialógica

• ação comunitária é relacional

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ReflexõesReflexões

Trauma e evento

• Trauma destroi as possibilidades da vida

• O evento abre essas possibilidades

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ReflexõesReflexões

Trauma e evento

• Trauma cultural

(transformação – “trauma como evento”)

• Transtorno pos-traumático

(destruçao – “evento como trauma”)

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ReflexõesReflexões

Enfim, essa é um resumo de minhas preocupações

como psiquiatra infantil e transcultural,

psicólogo e terapeuta relacional,

como poeta e filósofo

repensando a definição do self e

a definição da terapia.

Essas preocupações são documentadas nos meus escritos (veja em baixo).

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– – José Gil,José Gil, Em Busca da Identidade: Em Busca da Identidade: O Desnorte O Desnorte (2009)(2009)

• Tudo isto está a esboroar-se, com a crise global a acelerar bruscamente o processo.

• Adquirir uma percepção de longo alcance, sentir ao longe prolongamentos da nossa existência local exige um esforço doloroso.

• É abrir portas ao desconhecido, a encontros inesperados, a emoções e afectos excessivos (tornar-se “angustiado” ou “entrar em pânico,” deixando de “estar triste” ou “saudoso” – nas expressões usuais de léxico comum – implica uma mudança radical no clima afectivo de uma sociedade).

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– – José Gil,José Gil, Em Busca da Identidade: Em Busca da Identidade: O Desnorte O Desnorte (2009)(2009)

• É a ameaça psicótica de não ter limites especiais corporais.

• De perder a imagem de si, ou a identidade. De desaparecer, enfim.

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AgradecimentosAgradecimentos

• Instituto de Psicologia e a Clínica de Atendimento Psicológico, UFRGS

•AGATEF

• Dra. Maria Aparecida Kruse Dib

• Dra. Mara Lúcia Rossato

• Dra. Olga Falceto Garcia

• Dr. Alberto Stein

• Dra. Maria Inês Santos Rosa

• Revista Pensando Famílias – Dra. Helena Centano Hintz Turku, Finlândia Photo : V Di Nicola

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Referências BibliográficasReferências Bibliográficas

• Di Nicola, V.F. Le Tiers-monde à notre porte : Les immigrants et la thérapie familiale, Systèmes Humains, 1(3), 1985, pp. 39-54.

• Di Nicola, V.F. De l’enfant sauvage à l’enfant fou : A prospectus for

transcultural child psychiatry. In Grizenko, N., et al. (ed.), Transcultural issues in child psychiatry. Montréal, Éditions Douglas, 1992, pp. 7-53.

• Di Nicola, V.F. Ethnocultural aspects of PTSD and related disorders among children and adolescents. In Marsella, A.J., Friedman, M.J., Gerrity, E.T. & Scurrfield, R.M. (eds.), Ethnocultural aspects of posttraumatic stress disorder: Issues, research, and clinical applications. Washington, DC, American Psychological Association, 1996, pp. 389-414.

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Referências BibliográficasReferências Bibliográficas• Di Nicola, V. A Stranger in the family : culture, families and therapy.

New York, W.W. Norton & Co., 1997.

• Versão portuguêsa: Um Estrahna na Família: Cultura, Famílias e Terapia. Tradução por Maria Adriana Veríssimo Veronese. Porto Alegre: Artes Medicas, 1998.

• Di Nicola, V. Famiglie sulla soglia. Città invisibili, identità invisibili. In: Andolfi, M. (ed.), Famiglie immigrate e psicoterapia transculturale. Milan, FrancoAngeli, 2004, p. 34-47.

• Di Nicola, V. Letters to a Young Therapist: Relational Practices for the Coming Community. Foreword by Maurizio Andolfi. NY: Atropos Press, 2011.

• O primeiro capítulo traduzido em português: Carta a um jovem terapeuta: “Pessoas iniciam terapia para não mudar.” Revista Pensando Famílias, 2012, 16 (1): 15-27.

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Referências BibliográficasReferências Bibliográficas

• Di Nicola, V. Family, psychosocial, and cultural determinants of health. In: Sorel, Eliot, ed., 21st Century Global Mental Health. Burlington, MA: Jones & Bartlett Learning, 2012, pp. 119-150.

• Foucault, M. A Ordem do Discurso. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 1997.

• Gil, José. Em Busca da Identidade: O Desnorte. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 2009.

• Mollica, R.F. Healing Invisible Wounds: Paths to Hope and Recovery in a Violent World. New York: Harcourt, International, 2006.

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Referências BibliográficasReferências Bibliográficas

• Pedneault, C., Ammara, G., Raphaël, F., Major, A., Fouquet, J., Di Nicola, V. et Rashed, S. Un pas vers des soins mieux adaptés: l’expérience de la Clinique de pédiatrie transculturelle de l’Hôpital Maisonneuve-Rosemont. In: De Plaen, S. (ed.), Soins aux enfants et pluralisme culturel. Montréal, Éditions de l’Hôpital Sainte-Justine, 2004, p. 79-86.

• Sousa Santos, B. Um Discurso Sobre as Ciências. 16a edição. Porto: Edições Afrontamento, 2010.

• Terr, L. Too Scared to Cry: Psychic Trauma in Childhood. New York: BasicBooks, 1990.

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