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 Uma Reflexão sobre a naturalidade da cor legítima no Brasil Wilma Baía Coelho INTER FACE 8 5 U UMA REFLEXÃO SOBRE A NATURALIZAÇÃO DA COR LEGÍTIMA NO BRASIL AUTORA  Wilma Baía Coelho Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Professora Colaboradora do Programa de Pós-graduação em Educação/ Universidade Federal do Pará/UNAMA. Endereço: Rua Flor de Maio, 3505  Candelária  Natal/RN CEP: 59065-520 Telefone: (84) 3231-8604 / 8811-1769 Email: [email protected] m.br

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Refletir sobre naturalização das ações humanas

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  • Uma Reflexo sobre a naturalidade da cor legtima no Brasil

    Wilma Baa Coelho

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    UUMA REFLEXO SOBRE ANATURALIZAO DA COR

    LEGTIMA NO BRASIL

    AUTORA

    Wilma Baa CoelhoDoutora pelo Programa de Ps-Graduao em Educao daUniversidade Federal do Rio Grande do Norte. ProfessoraColaboradora do Programa de Ps-graduao em Educao/Universidade Federal do Par/UNAMA.Endereo: Rua Flor de Maio, 3505 Candelria Natal/RNCEP: 59065-520Telefone: (84) 3231-8604 / 8811-1769Email: [email protected]

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    RESUMO

    Este ensaio apresenta, criticamente, a polmica e a ambigidade sobre acor dos brasileiros no-brancos na contemporaneidade e como aconstruo de uma representao negativa sobre o segmento negro temsido naturalizada por parte da sociedade, a despeito das discusses emtorno dessa temtica. Para esta inteno, so apresentadas as relaesentre os dados oficiais e os oficiosos. Conclui-se que, apesar de toda adiligncia do Movimento Negro e das discusses acadmicas em tornodesta questo, a cor continua sendo sutil, ostensiva e negativamentedemarcadora na hierarquia social, em relao ao segmento negro, noBrasil, embora neste pas a maioria esteja constituda por negros e pardos,que tm vivido situaes de discriminao em decorrncia da cor.

    PALAVRAS-CHAVESNegro. Cor. Naturalizao.

    ABSTRACT

    Reflection on naturalization of legitimate color in brazil

    This essay critically presents the current polemic ambiguity on non-white Brazilian color and how the negative representation constructionon the negro segment has been naturalized by society, going far beyondthe discussions on this theme. Within this intention, relation betweenofficial and officious dada is presented. It is concluded that, even thoughthere is diligence in the Negro Movement and academic discussions onthese issues, color is a subtle, ostensive and negatively that demarcatessocial hierarchy, all of which related to the negro segment in Brazil, eventhough the great majority is composed by negros and medium brownpeople, that have experienced discriminative situations related to color.

    KEYWORDSNegro. Color. Naturalization.

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    Negro Forro

    Minha carta de alforria

    No me deu fazendas,

    Nem dinheiro no banco,

    Nem bigodes retorcidos.

    Minha carta de alforria

    Costurou meus passos

    Aos corredores da noite

    De minha pele

    Ado Ventura, 2001, p. 275.

    Para entender o sentido do uso de cor aqui apresentado, veremoscomo essa impreciso de ver e ser visto, a chamada identidade tnico-racial, mais complexa do que a cor da pele, a textura do cabelo, otamanho da boca ou do nariz podem suscitar. Este constitui o nossoobjetivo neste ensaio. Que cor essa, afinal, a do brasileiro? Da Cordo Pecado?1 Muitos estudos intentaram perfilar a cor do brasileiro apartir dos censos e pesquisas relevantes acerca do assunto. Entre osestudos mais antigos (cf. HARRIS, 1964; WAGLE, 1952; entre outros.)e os mais recentes (cf. TELLES; LIM, 1998; PINTO, 1996; GUIMARES,1999; PETRUCELLI, 2000; PIZA; ROSEMBERG, 2002; entre outros.),muitos investigaram a heteroidentificao e a auto-identificao, asquais, em dada medida, influenciam as pesquisas sobre as relaesraciais no que dizem respeito cor, no Brasil, no momento atual.

    A COR NOS CENSOS OFICIAIS

    No censo de 1872, primeiro recenseamento geral da populaobrasileira, a cor foi definida para todos os quesitos como subtpico dacondio social, ento divida entre livres e escravos, cuja base declassificao orientou a cor da populao naquele perodo. Os termosutilizados para a classificao foram branco, preto, pardo2 e caboclo.Os pardos foram compreendidos, neste censo, como resultantes daunio de pretos e brancos.

    O segundo censo, em 1890, passou a empregar as terminologiasbranca, preta, cabocla e mestia. O critrio empregado foi misto,reutilizando o critrio do censo anterior. Neste caso, alterou-se aconcepo das duas ltimas nomenclaturas: mestio (aquelesresultantes da unio de pretos e brancos) e caboclo, que estovinculados descendncia (PIZA, 2002, p. 94). Os dados dos doisprimeiros censos indicaram quase o mesmo percentual de populaomestia. O maior percentual de pardos, superando o de brancos,indicou no somente o alto ndice de mestiagem, mas, sobretudo, as

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    prticas de declarao de cor e os seus desdobramentos, em virtude damudana no status social de uma parte da populao negra3.

    O 3 censo, realizado em 1900, no incluiu cor em sua coleta dedados, do mesmo modo que o 4 censo, que, em virtude de, em 1910,no ter havido coleta censitria, s sucedeu em 1920. Estes censosfazem parte da era estatstica (PIZA, 2002, p. 96), e o censo de 1920,ao no abarcar este quesito, afirmou que:

    [...] as respostas [ocultam] em grande parte a verdade,especialmente com relao aos mestios, muito numerososem quase todos os estados do Brasil, e de ordinrio os maisrefratrios cor original a que pertencem [...] sendo que osprprios indivduos nem sempre podem declarar suaascendncia, atendendo a que em geral o cruzamento ocorreuna poca da escravido ou em estado de degradao social daprogenitora do mestio. Alm do mais, a tonalidade da cor dapele deixa a desejar como critrio discriminativo, por ser

    elemento incerto [...] (apud LAMOUNIER, 1976, p. 18).

    Esta impreciso e ambigidade dos respondentes persistem, aindahoje, nos censos oficiais. O 5 censo sucedeu em 1940, em decorrnciade no ter havido em 1930. Esta coleta estabeleceu as designaesbranco, pardo e amarelo, sob forte influncia das idias de Freyre eda poltica da nacionalidade morena (PIZA, 2000, p. 101). Istofacilitou a passagem de uma linha de cor por mudanas de caracteresfenotpicos de uma populao que passou invisvel pelorecenseamento por mais de cinqenta anos, pois a evidncia dasclassificaes e das autoclassificaes se associaram s caractersticasfenotpicas.

    O 6 censo, o de 1950, seguiu as cores empregadas no censoanterior. As nomeaes acerca da cor e o procedimento de coletaforam aqui determinadas por meio da autoclassificao e mantidasat hoje pelos censos oficiais, no que tange s instrues e sdefinies. Essas coletas professadas no estiveram imunes ao possvelmascaramento da cor nos procedimentos oficiais do primeiro aoltimo censo.

    O 7 censo, o de 1970, em plena ditadura militar, no coletou cor.Os motivos foram, intencionalmente, velados, porm no deixaramde ser notados. Em verdade, quela poca, evitou-se ensejar conflitosraciais, pois, paradoxalmente, vivamos num paraso racial, portanto,o suscitar do debate sobre desigualdades raciais estava longe dasexpectativas do conjunto hegemnico dominante no Brasil quelemomento porque se sustentava o mito da democracia racial. Afinal,em terra de democracia racial no se deveria falar em racismo(DAMASCENO, 2000, p. 193). A tendncia foi a de forjar uma auto-imagem do pas, ao dirigir-se ao contingente negro e indgena, bem

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    como aos seus descendentes, com a sua incorporao simblica aopas. Essa disseminada idia de integrao dos diferentes tipos debrasileiros sensibilizava os brasileiros brancos com a idia de igualdadede oportunidade existente entre pessoas de todas as cores, isentando-os de qualquer responsabilidade pelos problemas sociais dos no-brancos (HASENBALG, 1991, p. 188). Por conseguinte, romper comessa representao poria em risco a ordem nacional de ento. No queconcerne s classificaes do ltimo censo, estas se reeditaram emrelao ao stimo, sem apresentar significativas diferenas no que tanges linhas de cor. No Censo 2000, a investigao da cor ou raa ocorreude acordo, tambm, com a autoclassificao da pessoa em branca, preta,amarela, parda, indgena. Nesse perodo, o Brasil possua umapopulao de 170 milhes de habitantes, dos quais, 91 milhes seclassificaram como brancos (53,7%), 10 milhes como pretos (6,2%),761 mil como amarelos (0,4%), 65 milhes como pardos (38,4%) e 734mil indgenas (0,4%) (IBGE, 2000). Atualmente h uma polticaimplementada pela presidncia do IBGE de incentivo produoestatstica que evidencie o problema do segmento negro no Brasil,cujas snteses dos indicadores sociais so mostradas em captulo parte,com os dados referentes desigualdade racial no Brasil.

    Vimos, portanto, que mais importante do que responder a umapergunta sobre cor suscitar uma categoria social, ainda que no sedesconhea a sua ambivalncia, uma vez que cor no uma categoriaobjetiva. Concordamos com Guimares (1999), para quem, cor umacategoria racial, porque a idia de raa que orienta a classificaodos sujeitos como negros, mulatos ou pardos. De acordo com esteautor, ao refletir sobre cor, como categoria que expressa um modo declassificao baseado na idia de raa, podemos assegurar que estamoslidando com um conceito sociolgico, seguramente, no realista, nosentido ontolgico, pois ref lete algo presente na realidade.(GUIMARES, 1999). Esse conceito tem orientado e orquestrado umdiscurso sobre a vida social. Assim, independentemente do fato deque todos os grupos humanos considerem naturais as suascaractersticas, eles se diferenciam uns dos outros e, a despeito deencontrarem-se todos envolvidos em situaes de desigualdades depoder, de direitos e de cidadania, as teorias e os critrios aplicadospara caracterizar os grupos no so sempre os mesmos, to poucotm as mesmas bases e as mesmas conseqncias (GUIMARES, 1995).Deste modo, apesar da nossa negao ao sentido de raa, construdopelas teses europias do racismo cientfico (fins do sculo XIX e inciodo XX) que pregavam a superioridade e inferioridade das raas , ecientes do aval da Antropologia fsica, pois, defendiam aimpossibilidade de civilizao por parte do segmento negro brasileiro,no se pode negar a fora que o termo tem adquirido nas prticas

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    discursivas na contemporaneidade, assegurando a hegemonia raciale social do segmento branco da populao(GOMES, 1995, p. 69).Mesmo aps o desmonte cientfico dessas teses e em pleno sculoXXI, seus vestgios, no raras vezes, ainda so difundidos ereproduzidos, de forma sutil, ostensiva e negativamente por parte dasociedade brasileira.

    A PADRONIZAO DA COR-LEGTIMA NO BRASIL

    O processo de naturalizao est presente em todas as hierarquiassociais, conforme afirmou Bourdieu (1990), como uma dascaractersticas das relaes de dominao. Tais reflexos so orquestradospela lgica social legitimadora dessas hierarquias e ressoam emcontingente relativamente estigmatizado e discriminado, como o casoaqui examinado, o segmento negro. Com base nesse conjunto de fatores,entre outros, no podemos ignorar o modo como os brasileiros no-brancos se autodenominam. A sua inclinao por assemelharem-se aopadro legitimamente aceito e validado por essas relaeshierarquizadas no ao padro majoritrio da sociedade brasileira4 mostra-se uma recorrncia na nossa sociedade. Assim, estabelece-seum indicador social de negao dos portadores desses antipadres,que incorporam, de certo modo, essa negao de si e do seu padro.

    Essa negao tnica, simbolicamente expressa pelaautodenominao de si, submersa numa rede de relaes quaseinquestionvel, apresenta a capacidade de revelao de um poder deconsagrar ou de revelar coisas que j existem (BOURDIEU, 1990, p.166-7). Conseqentemente, esse fenmeno traz vestgios longnquosde presso cultural exercida pela hegemonia branca, logo aps aabolio da escravatura, para que o negro negasse a si mesmo, noseu corpo e na sua mente, como uma espcie de condio para seintegrar (ser aceito e ter mobilidade social) na nova ordem social(BENTO & CARONE, 2002, p. 14).

    Esses vestgios foram reeditados e incorporados por uma parte dasociedade composta por brancos e no-brancos que reproduzem edifundem tais representaes. Uma amostra disto encontrada naPesquisa Nacional por Amostragem de Domiclio, de 1976, em queso apresentadas cento e trinta e seis nuanas de cor por brasileirosno-brancos, falando de si mesmos:

    [...] acastanhada, agalegada, alva, alva-escura, alvarenta alva-rosada, alvinha, amarelada, amarela-queimada, amarelosa,amorenada, avermelhada, azul, azul-marinho, baiano, bembranca, bem clara, bem morena, branca, branca-avermelhada,branca melada, morena, branca plida, branca sardenta, brancasuja, branquia, branquinha, bronze, bronzeada, bugrezinha-

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    escura, burro-quando-foge, cabocla, cabo verde, caf, caf-com-leite, canela, canelada, carvo, castanha, castanha clara,cobre corada, cor de caf, cor de canela, cor de cuia, cor deleite, cor de ouro, cor de rosa, cor firme, crioula, encerada,enxofrada, esbranquicento, escurinha, fogoi, galega,galegada, jambo, laranja, lils, loira, loira clara, loura, lourinha,malaia, marinheira, marrom, meio amarela, meio branca, meiomorena, meio preta, melada, mestia, miscigenao, mista,morena bem chegada, morena bronzeada, morena canelada,morena castanha, morena clara, morena cor de canela,morenada, morena escura, morena fechada, moreno,morena prata, morena roxa, morena ruiva, morena trigueira,moreninha, mulata, mulatinha, negra, negrota, plida, paraba,parda, parda clara, polaca, pouco clara, pouco morena, preta,pretinha, puxa para branca, quase negra, queimada, queimadade praia, queimada de sol, regular, retinta, rosa, rosada, tostada,trigo, trigueira, turva, verde, vermelha, alm de outros que

    no declararam a cor. (PNAD, 1976, p. 63).

    Este resultado indica no s a riqueza de definies da cor, mastambm a dificuldade de determin-la com preciso (SCHWARCZ,2001, p. 71). Nesta perspectiva, estamos mais prximos do queNogueira (1955) nos indicou sobre o preconceito de marca e node origem. A primeira suposio se aproxima mais da realidadebrasileira do que a segunda, que se faz prpria das relaes raciaisestadunidenses. Foi neste quadro social que SCHWARCZ (1998)refletiu sobre esse antigo dilema racial brasileiro e f-lo de modoeloqente, ao afirmar que o tema raa evidencia-se:

    [...] ainda mais complexo na medida em que inexistem nopas regras fixas ou modelos de descendncia biolgicaaceitos de forma consensual. Afinal, estabelecer uma linhade cor no Brasil ato temerrio, j que essa capaz devariar de acordo com a condio social do indivduo, o

    local e mesmo a situao (SCHWARCZ, 1998, p. 182).

    Ainda hoje, os vestgios da negatividade rodeiam a cor preta eaparecem nos procedimentos, nas prticas e nos discursos quotidianosde uma parte dos brasileiros. Constantemente, vimos sujeitos nototalmente brancos e no completamente negros se autodeclarandopardos, num comportamento de semiconscincia de naturalizaodessas estigmatizaes estruturantes, impetradas socialmente, mesmosem desconhecer a vulnerabilidade com que o termo pardo constituiquase um libi para esse contingente nem branco nem preto. Sobreesse termo classificatrio, concordamos que um verdadeiro saco degatos. Tudo o que no se enquadra nas outras categorias jogado ldentro. a lata de lixo do censo (FELINTO, 1995, p. 7), ou seja, pardo

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    se enquadra como um curinga, j que tudo que no cabe em outroslugares ali se encaixa (SCHWARCZ, 2001, p. 67). Assim, noconseguimos definir a nossa cor e criamos um verdadeiro carrefourde termos e nomes (SCHWARCZ, 2000, p. 34), para nomear o que noconseguimos expressar diante da nossa impreciso neste campo,criando uma infindvel escala cromtica, na tentativa frustrada detornar invisvel o visvel.

    No Brasil, essa autodefinio, no raras vezes, passa a existir comouma sada dos no-brancos para uma iludida e pouco provvelmobilidade social. Essa posio se torna mais aguda sobretudo, se estesfizerem parte de uma esfera social e economicamente mais elevada.Por este motivo, alguns autores questionam a validade dos censos, poisacreditam que o dinheiro embranquece, de acordo com o sensocomum. Ratificando esta crena, Harris (1964) defendeu em suapesquisa que, em alguns dos casos investigados, pardos com condiosocial mais elevada eram classificados e autoclassificados como brancos,e brancos com situao econmica baixa eram classificados comopardos. Tal constatao que no est distante da representao dasociedade como um todo no discrepa da atualidade. Porm, estaclassificao tambm depende do ponto de vista do pesquisadorencarregado pelo levantamento.

    A despeito dessa sada, os no-brancos no esto isentos dadiscriminao racial, como enfatizamos, uma vez que esta maisexcludente que a discriminao social, como bem nos alertaramHasenbalg (1991) e Silva (1996; 1980), que, ao analisarem os dadosproduzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE),constataram que as desigualdades econmicas e sociais entre brancose no-brancos aqueles que se autodefinem como brancos, emborano o sejam, e como pretos e pardos no podem ser justificadas maispelo passado escravista, nem podem ser explicadas pela pertena dessessegmentos a classes distintas, porque tais desigualdades so resultadode diferenas de oportunidade de vida e de formas de tratamento muitodistintas a esses segmentos pela sociedade (SILVA, 1980, p. 21-44). Porisso, urge uma tomada de deciso, a fim de demonstrar que o racismo sereproduz cotidianamente, sob as mais variadas formas, as quais tm nacor um modo privilegiado de se esconder dos agentes [sociais] e se mostrarsimetricamente aos socilogos (GUIMARES, 1995, p. 58).

    Entre os estudos mais recentes sobre a cor no Brasil, Piza eRosemberg (1997), ao refletirem sobre a coleta censitria no Brasil,explicitam como as pessoas se classificam racialmente e classificam asoutras. O estudo aponta que, no nosso pas, as nomeaes estoestritamente ligadas s caractersticas fenotpicas. No entanto, osbrancos aparecem racialmente neutros, pois no precisam denomeaes, representam a si mesmos e no a um grupo. Ao contrrio,os negros so nomeados como tais, principalmente pelo movimento

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    que os representa. Recentemente, eles vm sendo renomeados,sobretudo pelos antroplogos, de afro-brasileiros ou afro-descendentes.

    Entendemos, contudo, que essa polionomasia no torna estesegmento isento de discriminao. Na verdade, tornar-se visvel nonome e politicamente correto, mas conviver com uma invisibilidadesimblica. So, de fato, necessrias mudanas estruturais na sociedade,sobretudo na alterao da representao negativa sobre o negro, queprecisa sobrepujar e desvencilhar-se de determinados vnculos quepassaram de fsicos para simblicos. Em geral, a nomenclatura paraautoclassificar-se e classificar o outro ainda se constitui um dilema a ser,inesgotavelmente, estudado. Percebemos um fosso evidente nacompreenso da aplicabilidade da terminologia racial dos censos e a suareinterpretao pelos sujeitos na incessante troca entre o olhar de si e oolhar do outro que (in) formam o campo da identidade racial (PIZA,2002, p. 93). De tal modo, identidade tnica no Brasil se restringe morenidade5 ou ao amarronzamento (SKIDMORE, 1992, p. 30), todecantados em prosa e verso, ainda hoje.

    No Brasil, o ser ou no ser negro constitui-se numa posiopoltica, fruto de uma construo social, que se configura em processosmuito alm de uma tez clara ou escura. O sentimento de identificaosocial do indivduo, de pertencimento a uma etnia ou raa, associa-se, inevitavelmente, ao coletivo. Porm, incisivamente ecoam osprocessos pelos quais a sociedade define e reconhece o sujeito, o queconsiste nas chamadas lutas de classificao impostas pela percepodo todo social. Esse discurso

    passa a funcionar como um discurso de consagrao quediz, por dizer autorizado que autoriza, que o que deveser: ele est por isso condenado a aparecer como crticoou cmplice. [...] Na luta pela imposio da viso legtimado mundo social, [...] Os agentes detm um poder proporo do seu capital, quer dizer, em proporo aoreconhecimento que recebem de um grupo. A autoridadeque fundamenta a eficcia performativa do discurso sobreo mundo social, a fora simblica das vises e das previsesque tm em vista impor princpios de viso e de diviso

    desse mundo (BOURDIEU, 2000, p. 118; 145).

    A representao do negro sobre si mesmo, ao ser nomeado nasociedade e ao ver-se tomado por esse ideal, ou seja, pelo que legitimado socialmente, passa a existir daquele modo ou o faz tornar-se invisvel, inclusive, por conta dessas incorporaes reproduzidasnos campos sociais. Portanto, pertencimento e sentimento depertencimento so ligados identificao, sem com ela confundir-se (LEDRUT, 1983, p. 88-90).

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    ALGUMAS PALAVRAS GUISA DE CONCLUSO

    Da Cor do Pecado, no diferentemente de alguns dos preceitos dasteses do racismo cientfico e de seus desdobramentos histricos dofinal do sculo XIX e incio do XX, no que tange ligao da cor, nestecaso a preta, constitui-se em associaes vinculadas ao negativo, aoerotismo, excessiva sexualizao6. No entanto, essas idias, entremuitas outras, so difundidas e pulverizadas sob o manto das sutilezasque as convenincias sociais e o politicamente correto permitem. Aindaassim, deixam transparecer as representaes sobre o significado esobre o peso que a cor assume para muitos dos brasileiros no-brancos.Conseqentemente, definir-se menos negro7 do que se realmente resultante, tambm, de incorporaes das rejeies sociais quela cor8,pois demarca uma estreita relao com o nosso passado e,principalmente, com as relaes culturais, sociais e econmicasdominantes e hierarquizadas, presentes na contemporaneidade,reeditadas e letalmente atingveis. Na verdade, percebemos aqui ainterseco de nossas vidas cotidianas com as relaes econmicas epolticas de subordinao e dominao (RUTHERFORD, 1990).

    As relaes idlicas entre brancos e no-brancos difundidas peloiderio de Freyre, o tal mito ednico (CARVALHO, 2002, p. 47-75), eentendidas como harmnicas, um paraso aberto a todos , em verdade,so fundadas numa hierarquia desigual e excludente. Esse sistema sebaseia na lgica de um lugar para cada coisa, cada coisa em seu lugar(Da MATTA, 1987, p. 83). As portas desse paraso podem at estarabertas aos ditos brancos da sociedade brasileira, mas, seguramente,esto entreabertas para o contingente negro, no que concerne mobilidade social e aos seus desdobramentos efetivos, no mbito dasociedade mais global.

    Tal fator se processa, para o segmento negro, independentementede uma tez mais escura ou mais clara, rico ou pobre, ou, ainda, que essecontingente esteja dentro ou fora dos meios acadmicos, nos quais seproduz massa crtica e, por conseguinte, o conhecimento (COELHO,2003).

    A cor torna-se um entrave que o acompanha em qualquer camposocial por que venha a transitar, sob qualquer condio social eprofissional9, fora daqueles j naturalizados como o seu lugar, porexemplo, o futebol e o carnaval.

    O segmento negro, em alguma medida, parece submetido a umadominao simblica, imposta a partir das representaes negativasproduzidas por parte da sociedade, em decorrncia da cor. Disso,advertem-nos os versos do poeta Ventura, referidos no incio deste ensaio.Infelizmente, h uma certa anuncia simblica da sociedade, para queessa representao continue a ser legitimada, incorporada e, porconseguinte, reproduzida pelos agentes sociais. Apesar dessa

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    aquiescncia, a sociedade como um todo deve opor-se a essa mesmarepresentao, em nome da responsabilidade social e da busca efetiva dacidadania independentemente da epiderme.

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    NOTAS

    1 Ttulo de novela global, veiculada em 2004, com maior ndice de audincia emseu horrio de transmisso, cuja protagonista negra, sendo que o ttulo aparece,em relevo, na chamada da novela, cujo fundo revela o colo de uma negra: aluso,portanto, ao segmento negro.

    2 Para Borges Pereira, so sujeitos que no se vem (ou no so vistos) nemcomo negros e nem como brancos, pois podem ser mestios do branco-negro(mulato), do branco-ndio (mameluco) ou do ndio-negro (cafuzo). (BORGESPEREIRA, 1983). A despeito das dificuldades na aferio da cor, a distribuiogeogrfica desigual, por exemplo, representa um dos grandes marcadores naanlise da conformao brasileira. Praticamente metade da populaoclassificada sob o termo parda encontra-se na regio Nordeste (48%), sendoa correspondente frao branca apenas de 15,1%. Ao contrrio, as reas doSudeste e do Sul somam 64,9% da populao branca e apenas 22,4% da

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    INTERFACE - Natal/RN - v.2 - n.2 - jul/dez 2005

    populao parda. Ver em SHWARCZ (2001), especialmente nos captulosintitulados Nomes, cores e confuso e Frgil democracia: na dana dosnmeros.

    3 O movimento negro tem empregado o termo negro para definir a populaobrasileira constituda de descendentes de africanos (pretos e pardos); para designaresta mesma populao como aquela que possui traos culturais capazes de identificar,na sociedade brasileira, os que descendem de um grupo cultural diferenciado ecoeso, tanto quanto o dos amarelos; para reportar a condio de minoria polticadesta populao e a situar dentro de critrios inclusivos de pertinncia dos indivduospretos e pardos ao seu grupo de origem (MUNANGA, 1986; 1990). A populaonegra composta pelas categorias do IBGE pretos e pardos.

    4 O Brasil a segunda maior populao negra depois da Nigria (BORGES, 2002).

    5 N. Silva (1996, p. 79-95) discute a viabilidade ou no da mudana nos critrios declassificao de cor de pesquisas de carter estatstico no Brasil, nos quais, segundoele, se alteraria a classificao de pardo para moreno, polmica levantada numadas mais recentes pesquisas sobre a questo racial no pas.

    6 O trabalho de PEREIRA (apud FONSECA, 2000, p. 113) retrata, criticamente, essarepresentao das imagens da mulata exuberante e a do negro viril, apropriao eretomada do mito da potncia sexual e da virilidade que o corpo sugere: o negoviril, diz o autor, est associado esteticamente de modo a no significar ameaapara o observador, mas, ao contrrio, para oferecer-se a ele como objeto do desejo.

    7 A despeito de o momento atual suscitar a assuno do ser negro em virtude doregime de cotas para a insero no ensino superior, ainda assim, pois o pseudodilemapersiste. A Universidade de Braslia, por exemplo, ao intentar implantar o sistema decotas, lanou uma proposta para identificar quem preto e pardo, afora a identificaoque o sujeito faz de si prprio, ao mesmo tempo, contrariando a prpria forma deidentificao oficial dos censos: a auto-identificao. Depois da auto-identificao, oscandidatos foram submetidos a uma heteroidentificao, feita por uma comisso deespecialistas no assunto, para decidirem com base na cor da pele e caractersticasgerais da raa negra quem preto e pardo.(SANTOS; MAIO, 2004).

    8 Damasceno faz uma anlise de prticas culturais, como, a questo da boa aparncia,que apenas uma forma de identificar o branco ou de como o conceito branco construdo no Brasil, ou nas relaes feitas entre cor e classe, ou por meio de visespessoais sobre como as questes de raa e cor operam no Brasil, facilitando amobilidade de uns e impondo dificuldades a outros (DAMASCENO, 2000).

    9 Entre profissionais liberais com a mesma formao e mesmo nvel socioeconmico,cabe aos negros uma remunerao menor do que mdia dos brancos (EGHRARI,2002).

    TRAMITAORecebido em:10/04/2005Aprovado em: 25/10/2005